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Trabalho, Saúde

e Sustentabilidade

Maria Rosilene Cândido Moreira


Francisco Elizaudo de Brito Júnior
José Auricélio Bernardo Cândido
Organizadores
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

Reitor
José Jackson Coelho Sampaio

Vice-Reitor
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Editora da UECE
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Trabalho, Saúde
e Sustentabilidade

1a Edição
Fortaleza - CE Maria Rosilene Cândido Moreira
2019 Francisco Elizaudo de Brito Júnior
José Auricélio Bernardo Cândido
Organizadores
Trabalho, Saúde e Sustentabilidade
© 2019 Copyright by Maria Rosilene Cândido Moreira, Francisco Elizaudo de Brito
Júnior e José Auricélio Bernardo Cândido

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Coordenação Editorial
Erasmo Miessa Ruiz

Capa
José Auricélio Bernardo Cândido

Diagramação
Narcelio Lopes

Revisão de Texto
Lorna Etiene Castelo Branco Reis

Ficha Catalográfica
Lúcia Oliveira CRB - 3/304

T758 Trabalho, saúde e sustentabilidade [recurso eletrônico] / Maria


Rosilene Cândido Moreira, Francisco Elizaudo de Brito Júnior,
José Auricélio Bernardo Cândido (Organizadores). - Fortaleza:
EdUECE, 2019.
Livro eletrônico.
ISBN: 978-85-7826-721-6 (E-book)
1. Saúde. 2. Saúde ambiental. 3. Desenvolvimento sustentável.
I. Moreira, Maria Rosilene Cândido. II. Brito Júnior, Francisco
Elizaudo de. III.Cândido, José Auricélio Bernardo. IV. Título.
CDD: 363.7
APRESENTAÇÃO

O exercício da docência no magistério superior,


cotidianamente, nos impulsiona a promover debates,
produzir saberes e instigar as pessoas a refletirem sobre
as relações entre o homem e a natureza, permeadas pelos
grandes desafios da contemporaneidade.
Os impactos sociais, econômicos e ambientais do
modo de produção e consumo atual vêm ameaçando a
saúde e a vida no planeta e destacando a importância de
se incorporar a sustentabilidade como conceito-chave de
interação entre distintos campos do conhecimento e ação.
A relação entre trabalho, saúde e ambiente está no
centro da Agenda global contemporânea, do ponto de
vista teórico-conceitual e prático, especialmente na pers-
pectiva da sustentabilidade socioambiental. Esse tema
vem saindo dos círculos mais restritos da academia e
dos ambientalistas para ganhar espaço na proposição de
políticas que incorporam a sustentabilidade e afirmam
novos paradigmas e princípios.
Os autores nos informam que o binômio saúde-
-doença, na sua aparente separação e mal compreendida
dualidade, não se resume exclusivamente ao que pode
ocorrer com o nosso corpo, como se fora um ente vivo

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autômato, mas que deve ser percebido enquanto parte
de um ecossistema integrado a todos os demais. De-
monstra, nos estudos, o quão somos parte inseparável
tanto do mundo natural quanto do mundo cultural,
ambos com uma história de bilhões de anos, integra-
dos a este sistema complexo e dele recebendo influências
positivas ou negativas, dependendo do estado do meio
ambiente, dos processos de trabalho aos quais estamos
submetidos e da nossa mentalidade.
Nessa perspectiva, a interface saúde, trabalho e
sustentabilidade, delineia pontos críticos e emergentes
que suscitam reflexões acerca do nosso papel enquanto
educadores, mediadas pelo ensino, pesquisa, extensão e
cultura, expressas nos construtos bibliográficos próprios
do mundo universitário.
Este livro, uma produção de elevada magnitude, traz
a compilação de textos diversos, elaborados com base em
conhecimentos igualmente diversificados, que provocam
o leitor a transitar pelos aspectos interdisciplinares e co-
letivos atinentes ao debate epistemológico que envolve a
saúde, o trabalho e a sustentabilidade.
Constitui, portanto, uma realização científica, la-
pidada por múltiplas mãos, organizada e disposta como
fonte de inspiração aos que habitam o vasto mundo uni-
versitário, cujo alcance transcende os muros da acade-
mia, indo ao encontro do ambiente social no qual todos
estão inseridos.

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Almejamos que esta obra possibilite aos leitores as
inspirações iniciais na busca pela produção e transfor-
mação do conhecimento, impactando positivamente na
compreensão sobre a indissociabilidade entre saúde, tra-
balho e sustentabilidade.

Professora Dra. Maria Rosilene Cândido Moreira


Coordenadora geral de pós graduação da Universidade Federal
do Cariri - UFCA

Professor Dr. Francisco Elizaudo de Brito Júnior


Coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Apoio ao Servidor
da Universidade Regional do Cariri - URCA

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PREFÁCIO

“Não sabemos para onde estamos indo. Só sabemos que


a história nos trouxe até este ponto e por quê. Contu-
do uma coisa é clara. Se a humanidade quer ter um
futuro reconhecível, não pode ser pelo prolongamento
do passado ou do presente. Se tentarmos construir o
terceiro milênio nessa base, vamos fracassar. E o preço
do fracasso, ou seja, a alternativa para uma mudança
da sociedade, é a escuridão” .
Eric Hobsbawn

Ao receber o convite para prefaciar o livro Traba-


lho, Saúde e Sustentabilidade, sem muito refletir, aceitei
de pronto. Enquanto percorria os 15 artigos da obra,
fazia anotações daquilo que mais me chamava a atenção.
Chamou-me logo a atenção a origem dos autores. Entre
eles, representantes das Universidades Federal do Cea-
rá (UFC), Federal do Cariri (UFCA), Federal do Piauí
(UFPI), Estadual do Ceará (UECE), Regional do Cariri
(URCA) e Instituto Federal do Ceara (IFCE), oriundos,
portanto, das mais importantes instituições públicas de
ensino superior do estado do Ceará, do vizinho Piauí
e do nosso Cariri. A destacar também profissionais da
Escola de Saúde Pública do Ceará - ESP/CE. Tal cons-

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tatação, como bom agouro, prenunciava, a qualidade
dos artigos e a profícua produção que tinha em mãos.
Além de docentes, muitos ex-alunos e atuais alunos dos
programas de pós-graduação das instituições citadas es-
tão entre os autores dos capítulos. Entre os programas
a mencionar, temos o Programa de Pós-graduação em
Desenvolvimento Regional Sustentável - PRODER da
UFCA, o Programa de Mestrado Acadêmico em En-
fermagem – PMAE da URCA, Mestrado Profissional
em Saúde da Família – RENASF/URCA. Pela natureza
do tema do livro, por óbvio, predominam, como au-
tores, profissionais da área da saúde: da Enfermagem,
Fisioterapia, Odontologia e Psicologia. Todavia, outra
constatação para mim relevante foi a participação de
profissionais de outras áreas, como da Administração,
Agronomia, Biologia, Ciências Econômicas, Direito,
Educação Física, Engenharias, Pedagogia, Recursos
Hídricos, Serviço Social e Sociologia. Os resultados da
eclética reunião do conhecimento manifestados nos ar-
tigos compilados traçam caminhos seguros para a sus-
tentabilidade. O resultado de desejável e difícil trabalho
interdisciplinar, a título de exemplo, de profissionais dos
ramos da Engenharia Civil, Elétrica, Química, junto
a profissionais de Fisioterapia e Enfermagem aparece
na avaliação de indicadores de saúde ambiental. Nou-
tro artigo, são apresentados os resultados do trabalho,
conduzido por expertos do Direito, Ciências Contábeis,
Psicologia, Enfermagem e Odontologia, sobre a contri-
buição da aprendizagem cooperativa na UFCA para o

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desenvolvimento sustentável. Em um terceiro artigo,
novamente engenheiros e fisioterapeutas avaliam aspec-
tos ergonômicos da atividade laboral do trabalhador da
construção civil. Quero salientar com essas observações
que muitos dos artigos vem ao encontro da premissa
atual que as respostas aos problemas complexos da nossa
sociedade não podem mais ser elaboradas com aborda-
gens fracionadas e com predominância do conhecimen-
to especializado. Nesse aspecto destaca-se a exemplarida-
de do livro. Além dos temas abordados nos artigos men-
cionados, muitos outros destacam as relações da saúde e
do trabalho com a sustentabilidade. Podemos encontrar
referências à formação profissional de saúde à luz do
desenvolvimento de competências, com mobilização
de conhecimentos, habilidades e atitudes, voltados para
a promoção da saúde e a sustentabilidade. Um outro
estudo possibilitou a compreensão sobre a Abordagem
Ecossistêmica em Saúde, como uma importante forma
de produção de conhecimentos sobre a relação saúde-
-ambiente-trabalho, objetivando promover participação
social/comunitária e transdisciplinaridade. Em um dos
artigos aparece a proposta de discutir a relação Trabalho,
Saúde e Sustentabilidade na Educação, circunscrevendo
as relações de trabalho ao contexto acadêmico; relacio-
nando saúde e sustentabilidade na educação, buscando
identificar os fatores que geram satisfação no trabalho.
Um preocupante problema: a realidade da saúde mental
na universidade e possíveis desdobramentos de forma a
incorporar esta temática nas discussões sobre sustentabi-

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lidade é apresentado por psicólogas da UFCA. O empre-
go decente, o trabalho digno e trabalho escravo à luz de
um confronto entre o princípio da dignidade humana e
o 8º objetivo da ODS é tratado com profundidade num
dos artigos. Economistas discutem em outro artigo as
diferenças e inter-relações entre crescimento econômico
e desenvolvimento. Nele o desenvolvimento sustentável
emerge como preenchimento da lacuna entre cresci-
mento e desenvolvimento. A preocupação de alunos e
professores do Curso de Mestrado Acadêmico em En-
fermagem da URCA com o gerenciamento dos Resíduos
de Serviços de Saúde (RSS) provenientes da insulinote-
rapia na Atenção Básica manifesta-se num outro artigo
na forma de uma revisão de literatura. Fica destacada a
lacuna da falta de pesquisas que abordem como se dá
o gerenciamento desses RSS a nível local. Partindo do
conceito de território, com base na elaboração de uma
matriz ecossistêmica tendo como modelo o quadro de
força Motriz-Pressão-Estado-Exposição-Efeito-Ação -
modelo FPEEEA da OMS, num dos artigos é proposto
um modelo para reorganização do processo de trabalho
em vigilância à saúde no âmbito da atenção básica, com
o intuito de instituir uma atenção programada voltada
para as prioridades de saúde da comunidade. Abordan-
do as perspectivas de trabalho e permanência dos jovens
no meio rural caririense uma pesquisa apresentada no
livro mostra que a influência das políticas públicas e ar-
ticulação das ONGs nas comunidades rurais do Cariri
cearense, em conjunto com vários parceiros da socieda-

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de civil vêm transformando o “Sair do Campo” em uma
perspectiva de vida cada vez mais digna e valorizada,
buscando meios sustentáveis de permanência no campo.
Uma revisão bibliográfica abordando a contaminação
ambiental pelo uso de agrotóxicos e seu impacto na saú-
de humana apontou para a necessidade de se integrar os
setores saúde e ambiente em torno da garantia da qua-
lidade de vida das populações do campo e da cidade,
tendo como conceito norteador a sustentabilidade am-
biental. O crescimento populacional da terceira idade e
a preocupação com o preparo de cuidadores de idosos
levou docentes e graduandos do Curso de Enfermagem
da UFPI a conduzir uma pesquisa. Ficou constatada a
carência de profissionais cuidadores, a atividade de fa-
miliares leigos não capacitados no cuidado de idosos e
da necessidade de mais pesquisas com a temática. Con-
tribuições filosóficas e estéticas aos processos de trabalho
e pesquisas em saúde são abordadas num dos artigos. O
trabalho aponta para a primordialidade de se manterem
diálogos que estimulem a formação de profissionais mais
reflexivos e dedicados a tecer pesquisas, que reverberam
ações práticas, ancoradas nos conceitos epistemológicos
procedentes de teorias sistêmicas. Esse é o livro que te-
nho a satisfação e a honra de prefaciar. Finalizo parabe-
nizando os organizadores dessa edição, estimulando-os
a não pararem com um só volume. A amplitude das di-
mensões da sustentabilidade e a diversidade das pesqui-
sas desenvolvidas nos programas de pós-graduação das
instituições envolvidas se unem em oportunidades para

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a compilação da produção científica em volumes temá-
ticos. Com certeza um passo importante para a qualifi-
cação dos programas de pós-graduação, de seus docentes
e alunos foi dado com essa publicação.

Professor Dr. Ricardo Luiz Lange Ness


Reitor da Universidade Federal do Cariri – UFCA
Coordenador local do doutorado interinstitucional em
desenvolvimento sustentável UnB/UFCA

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Sumário
APRESENTAÇÃO............................................................................. 5

PREFÁCIO........................................................................................ 8

APRENDIZAGEM COOPERATIVA: CONTRIBUIÇÃO NA CONS-


TRUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL................. 17
Cícero Marcelo Bezerra dos Santos, Milena Silva Costa, José Ferreira Lima Junior,
Verônica Salgueiro do Nascimento e Suely Salgueiro Chacon

ABORDAGEM ECOSSISTÊMICA EM SAÚDE NO ENFRENTA-


MENTO À PROBLEMÁTICA AMBIENTAL COMO CAMINHO
PARA SUSTENTABILIDADE......................................................... 37
Rhavena Maria Gomes Sousa Rocha, Maria do Socorro Vieira Lopes, Karla Jimena
Araújo de Jesus Sampaio, Célida Juliana de Oliveira e Ana Maria Parente Garcia Alencar

PENSAMENTO ECOSSISTÊMICO: CONTRIBUIÇÕES FILOSÓ-


FICAS E ESTÉTICAS AOS PROCESSOS DE TRABALHO E PES-
QUISAS EM SAÚDE....................................................................... 60
Sofia de Moraes Arnaldo, Rayane Moreira de Alencar, Cícera Luciana da Silva Sobreira,
Alissan Karine Lima Martins e Francisco Elizaudo de Brito Junior

SATISFAÇÃO NO TRABALHO E SUSTENTABILIDADE............. 81


Liana de Andrade Esmeraldo Pereira, Mirna Fontenele de Oliveira, Cícera Aldevania
Pereira de Oliveira, Suzana Kramer de Mesquita Oliveira e Simone Maia Pimenta
Martins Ayres

SAÚDE MENTAL E SUSTENTABILIDADE NO AMBIENTE UNI-


VERSITÁRIO: DESAFIOS E PROPOSIÇÕES................................ 98
Liana de Andrade Esmeraldo Pereira, Yane Ferreira Machado, Cicera Mônica da Silva
Sousa Martins e Moema Alves Macêdo

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TRABALHADORES NA CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO:
CONTOS DA TRAMA QUE AINDA NÃO SE ENCERROU..............117
Alana Maria Brito Lucas, Ane Caroline Rodrigues Leite, Selton David Cavalcante
Sobral, Francisca Laudeci Martins Souza e Victoria Régia Arrais de Paiva

DA GÊNESE DAS MAZELAS HUMANAS: PRELÚDIO DA ANUN-


CIAÇÃO DO CAPITAL SOBRE O MEIO AMBIENTE................ 138
Ane Caroline Rodrigues Leite, Selton David Cavalcante Sobral, Francisca Laudeci
Martins Souza e José Micaelson Lacerda Morais

JOVEM RURAL: FICAR OU SAIR DO CAMPO?........................ 158


Francier Simião da Silva Junior, Cláudia Araújo Marco, Vanessa Oliveira Teles, Silvério
de Paiva Freitas Junior, Francisco Gauberto Barros dos Santos e Verônica Salgueiro do
Nascimento

TERRITORIALIZAÇÃO E MATRICIAMENTO EM SAÚDE COLE-


TIVA: PROCESSO DE TRABALHO ECOSSISTÊMICO COM BASE
NA CLASSIFICAÇÃO DE RISCO................................................ 178
Lívia Monteiro Rodrigues, Nara Juliana Santos Araújo, Valmir Wanderson Tomé da Silva,
Edilma Gomes Rocha, Alissan Karine Lima Martins e Francisco Elizaudo de Brito Junior

INTERFACE ENTRE AMBIENTE, PROMOÇÃO DA SAÚDE E


SUSTENTABILIDADE NOS CURSOS DE FORMAÇÃO PROFIS-
SIONAL EM SAÚDE..................................................................... 202
Antonia Priscila Pereira, Samyra Paula Lustoza Xavier, Maria de Fátima Antero Sousa
Machado e Maria Rosilene Cândido Moreira

DIABETES E SUSTENTABILIDADE: GERENCIAMENTO DOS


RESÍDUOS PROVENIENTES DA INSULINOTERAPIA NA ATEN-
ÇÃO BÁSICA................................................................................ 227
Sofia de Moraes Arnaldo, Eloíza Barros Luciano Rolim, Emiliana Bezerra Gomes e Ana
Maria Parente Garcia Alencar

SAÚDE, TRABALHO E SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO


CIVIL: UMA ANÁLISE ERGONÔMICA...................................... 251
Maria Iderlania de Freitas Sousa, Ana Patrícia Nunes Bandeira, Otávio Rangel de
Oliveira e Cavalcante, Josafá Justino Barbosa, Maria Gorethe de Sousa Lima Brito e
Paula Hemília de Souza Nunes

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 15


INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL RELACIONADOS ÀS
CONDIÇÕES DE EXTRAÇÃO DO CALCÁRIO LAMINADO NO
SUL DO CEARÁ........................................................................... 269
Paula Hemília de Souza Nunes, Maria Gorethe de Sousa Lima, Flavio Cesar Brito
Nunes, Maria Iderlania de Freitas Sousa e Ana Patrícia Nunes Bandeira

PANORAMA DE CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL PELO USO DE


AGROTÓXICOS E SEU IMPACTO NA SAÚDE HUMANA........ 289
Geovanna Maria Sales Monteiro e Eline Mara Tavares Macêdo

AVALIAÇÃO DO PREPARO DE CUIDADORES DE IDOSOS PARA


REALIZAÇÃO DO CUIDADO..................................................... 311
Simone Santos Sousa Mendes, Andressa Santos Rodrigues, Lisandra Ravena Veloso da
Silva, Maria Laíse de Lima Leal, Edina Araújo Rodrigues Oliveira e Laura Maria
Feitosa Formiga

ORGANIZADORES...................................................................... 331

AUTORES..................................................................................... 333

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APRENDIZAGEM COOPERATIVA:
CONTRIBUIÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Cícero Marcelo Bezerra dos Santos


Milena Silva Costa
José Ferreira Lima Junior
Verônica Salgueiro do Nascimento
Suely Salgueiro Chacon

INTRODUÇÃO
A expansão urbana das cidades brasileiras é uma
realidade marcada por problemas estreitamente relacio-
nados entre si, e que tem como consequência fatores
que potencializam a destruição dos recursos naturais,
urbanização desordenada, comprometimento da saúde e
qualidade de vida das pessoas, dentre outros.
Com esse cenário, as discussões sobre o Desenvolvi-
mento Sustentável passaram a ser prioridade nos debates
acadêmicos e na sociedade. O termo Desenvolvimento
Sustentável emergiu no Relatório da primeira-ministra
da Noruega Gro Haralen Brundtland, denominado de
“Nosso Futuro Comum”, em 1987, e teve sua consoli-
dação no encontro Rio-92, mas o seu conceito correla-
ciona-se com o que Maurice Strong denominou de Eco-
desenvolvimento, em 1972, um desenvolvimento para

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o bem-estar das pessoas que se satisfaçam sem destruir
o meio ambiente. Posteriormente, o Ignacy Sachs, no
ano de 1986, reforçou com sua obra Ecodesenvolvimento:
crescer sem destruir (GADOTTI, 2012).
Sachs (1994) explicou, em sua obra, as dimensões
que abrangem a sustentabilidade, que são: 1) Sustenta-
bilidade social: trata-se de uma sociedade mais justa, que
diminua as discrepâncias entre ricos e pobres, principal-
mente redistribuindo rendas e bens; e não deixando os
ricos mais ricos e os pobres em condições miseráveis; 2)
Sustentabilidade econômica: leva a uma alocação mais efi-
ciente dos recursos, inclusive entre as nações e deve ser
medida em termos macrossociais, e não apenas no âmbito
das empresas; 3) Sustentabilidade ecológica: para alcançá-la
deve-se usar de forma criativa, responsável, não devastá-
-la ou agredi-la, saber utilizar o potencial de recursos da
Terra; limitar o uso de recursos não renováveis e aumen-
tar o uso adequado dos renováveis; diminuir a poluição e
aumentar a reciclagem; conscientizar para a limitação do
consumo por países e indivíduos; aumentar as pesquisas
para descobrir tecnologias limpas; normatizar, institucio-
nalizar e instrumentar a proteção ao meio ambiente.
Como últimas dimensões, tratou o mesmo autor,
sendo: 4) Sustentabilidade espacial: conseguida através de
um equilíbrio entre as zonas rurais e urbanas, distribuin-
do melhor por estas, as atividades econômicas e huma-
nas. 5) Sustentabilidade cultural: promover o desenvolvi-
mento local, levando-se em conta os saberes locais.

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Para Chacon (2007), as cinco dimensões propostas
por Sachs são complementares e inseparáveis. Entretan-
to, imaginar que os níveis de desigualdade social, geram
uma sociedade violenta e desacreditada de mudanças, de
prosperidade e harmonia fica estranho desenhar as de-
mais dimensões da sustentabilidade (cultural, espacial,
econômica e ecológica), porque o provedor configura-se
desempoderado. Então, resta a educação transformado-
ra e libertadora para empoderar o ser humano, e fazer
modificações benéficas à coletividade e não apenas aos
detentores do saber.
A educação ajuda no Desenvolvimento Sustentável
por proporcionar o pensar globalmente, os sentimentos,
a identidade pessoal e a consciência planetária (GA-
DOTTI, 2006). É meio para disseminação de valores
e conhecimentos capazes de criar o ambiente propício
à consecução de um desenvolvimento comprometido
com os interesses da coletividade (BARRETO; CHA-
CON; NASCIMENTO, 2012).
Nessa perspectiva, a Organização das Nações Uni-
das (ONU) editou no ano de 2002, a Resolução 57/254,
a qual ficava estabelecida a Década da Educação para o
Desenvolvimento Sustentável (DEDS), antes disto, em
Estocolmo, no ano de 1972, já se trabalhava a cultura
para a sustentabilidade. No final da década de 1970, o
assunto foi discutido pela ONU, na Rússia. Duas dé-
cadas depois, noutra conferência mundial, realizada na
Grécia, restou a introdução da sustentabilidade na edu-
cação formal (GADOTTI, 2012).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 19


Consistindo a educação num elemento indispen-
sável para o Desenvolvimento Sustentável, o ensino su-
perior se configura na última etapa da educação formal
do cidadão e o elo entre a ciência e os profissionais. A
educação é preponderante para construir um desenvol-
vimento sólido, eficaz e equitativo, do contrário será re-
ducionista ao treino do mercado de trabalho.
A Universidade aduz transformações na formação
profissional, a partir de metodologias contextualizadas, a
fim de promover a capacitação dos discentes, não só no
que se refere ao preparo profissional/técnico, mas de levá-
-los ao pensamento crítico e reflexivo sobre suas práticas.
A graduação, em um curso universitário, deve ser mais que
o simples aprender uma profissão, é preciso compreender
o mundo, profissão, mercado, discutir valores etc.
A educação que se busca atingir pelas universidades
é a tecida por Nascimento (2009), como a possibilidade
que o povo pode ter de gerar transformações e possibili-
dades culturais, criando estratégias comprometidas com
a edificação de sociedades justas e solidárias, constituin-
do, assim, possibilidade mais concreta para saciar os an-
seios de uma sociedade pelo, e com, o Desenvolvimento
Sustentável.
E, nesta seara, a Aprendizagem Cooperativa vem
contribuir com a construção de ensino na universidade,
desmistificando e não persistindo aquela sedução por
resultados imediatos, em se publicar aprovações, certifi-
cações, reconhecimentos e medalhas. Ela consiste numa

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 20


metodologia de ensino-aprendizagem, em que os alunos
se reúnem para estudar os conteúdos e interagem entre
si, desmitificando a figura do professor como principal
fonte do saber. Essas células estudantis contemplam a
possibilidade de ajudar os acadêmicos à conclusão dos
seus cursos, motivá-los à mudança de paradigmas e pode
resultar nas atitudes em prol de um Desenvolvimento
Sustentável (ANDRADE NETO, MAZZETTO, 2007).
Esse método de ensino foi recepcionado na Uni-
versidade Federal do Cariri (UFCA), por meio do Pro-
grama de Aprendizagem Cooperativa em Células Estu-
dantis (PACCE), após seu desmembramento da Univer-
sidade Federal do Ceará (UFC) no ano de 2013. Ele tem
como proposta estimular o protagonismo estudantil,
dissipando o individualismo e oportunizando um sen-
timento de coletividade, ideal para trilhar o caminho da
sustentabilidade.
Na perspectiva de se averiguar a articulação entre a
Aprendizagem Cooperativa ofertada pela UFCA através
do PACCE com o Desenvolvimento Sustentável, sur-
giu a ideia de desenvolver essa pesquisa, que tem como
questão norteadora: Como a Aprendizagem Cooperativa
da UFCA contribui para construção do Desenvolvimen-
to Sustentável? O estudo se justifica pela importância de
averiguar se esta metodologia poderá lograr êxitos na pro-
moção do Desenvolvimento Sustentável. Portanto, objeti-
vou-se conhecer a contribuição da Aprendizagem Coope-
rativa para a construção do Desenvolvimento Sustentável.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 21


PERCURSO METODOLÓGICO
Trata-se de um estudo de caso com abordagem
qualitativa, a qual descreve a complexidade de um de-
terminado problema, analisa sua interação, compreen-
de e classifica processos dinâmicos experimentados por
grupos sociais, apresenta contribuições no processo de
mudança, forma opiniões de grupos e permite a inter-
pretação de comportamentos e atitudes individuais psi-
cossociais (PRESTES, 2004). O estudo de caso é uma
investigação empírica que permite o estudo de um fenô-
meno contemporâneo dentro de seu contexto da vida
real, especialmente quando os limites entre o fenômeno
e o contexto não estão bem definidos (GIL, 2009).
A pesquisa teve como lócus, o Campus da UFCA se-
diado no município de Juazeiro do Norte, que tem uma
população de aproximadamente 250 mil habitantes
(IBGE, 2010) e está distante das principais capitais do
Nordeste. A UFCA possui 13 cursos de graduação dis-
tribuídos em cinco Campi localizados nos municípios de
Barbalha, Brejo Santo, Crato, Icó e Juazeiro do Norte.
Os sujeitos do estudo foram os alunos inseridos no
PACCE no ano de 2014. Esse Programa está vinculado à
Pró-Reitoria de Ensino (PROEN) da UFCA e é composto
por alunos regularmente matriculados nos cursos de gra-
duação desta universidade e por um tutor (UFCA, 2014).
A seleção para ingressar no PACCE acontece de
forma anual, mediante Edital oriundo da PROEN/
UFCA. Os alunos interessados são selecionados a partir
de atividades de formação sobre aprendizagem coope-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 22


rativa, análise de histórico acadêmico e disposição para
desenvolver autonomia para a aprendizagem. Para in-
gressar no PACCE, eles precisam dispor de 12 horas
semanais, não exercer atividade remunerada ou possuir
bolsas; não ter reprovação por falta nos componentes
curriculares e/ou por nota nos últimos dois semestres
letivos; não estar cursando outra graduação. Os alunos
selecionados dentro do número de vagas ofertadas rece-
bem um auxílio financeiro (bolsa) para ajudar no custeio
dos estudos (UFCA, 2014).
Em 2014, o PACCE contou com 15 alunos bol-
sistas, um voluntário e 27 integrantes das células estu-
dantis, totalizando, assim, 43 alunos envolvidos e distri-
buídos nos seguintes cursos: Comunicação Social – Jor-
nalismo (03 alunos), Medicina (18 alunos), Engenharia
Civil (05 alunos), Agronomia (04 alunos), Engenharia
de Materiais (06 alunos), Biblioteconomia (04 alunos),
Administração Pública (03 alunos).
Esses alunos compuseram 16 células estudantis e
tinham suas reuniões semanais. Na ocasião, eles estu-
davam assuntos do curso e temas transversais. Os alu-
nos bolsistas, além dessa atividade, reuniam-se durante
quatro horas semanais para os encontros de formação,
com objetivo de estudarem a metodologia da aprendiza-
gem cooperativa, temas interdisciplinares, compartilhar
as ações desenvolvidas nas células estudantis, bem como
socializar as angústias, limitações e novas propostas. As
reuniões com os bolsistas, voluntário e tutora aconte-
ciam mensalmente para socializarem os resultados das
atividades das células estudantis e planejar as ações.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 23


Para seleção dos sujeitos do estudo, adotaram-se
os seguintes critérios de inclusão: ser aluno bolsista ou
voluntário do PACCE no ano de 2014; ser aluno nova-
to ou veterano do PACCE. Como critério de exclusão,
aplicou-se para os alunos que foram convidados a serem
integrantes das células estudantis, mas que não passaram
pela seleção do Edital do PACCE em 2014. Este critério
se justifica pelo fato que estes alunos desenvolveram uma
menor carga horária dentro do Programa e não aprofun-
daram sobre a metodologia da aprendizagem cooperati-
va durante os encontros. Assim, 16 alunos estavam aptos
a responderem ao instrumento de coleta de dados.
Para tanto, utilizou-se um questionário autoaplica-
do que contemplou perguntas sobre: perfil acadêmico e
seus saberes sobre a contribuição da Aprendizagem Coo-
perativa para o Desenvolvimento Sustentável.
Após anuência da UFCA para iniciar a pesquisa,
os pesquisadores procuraram os referidos alunos na reu-
nião geral do Programa ocorrida no mês de outubro de
2014, explicaram os objetivos da pesquisa, apresentaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
entregaram o questionário aos 16 alunos e agendaram
a devolução em um prazo de 15 dias. Após o prazo e
sua prorrogação, 15 alunos devolveram o questionário
preenchido junto com o TCLE, encerrando assim a co-
leta, em novembro de 2014.
Os dados foram organizados e categorizados con-
forme análise temática de conteúdo, tendo como orien-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 24


tação Bardin (2011), que divide e descreve essa fase do
estudo nas etapas de: Pré-análise, que consistiu na lei-
tura das respostas dos questionários, procurando-se res-
ponder aos objetivos propostos.
A segunda etapa é denominada de exploração do
material, que possibilitou a classificação dos dados com
vistas a alcançar o núcleo de compreensão do texto. Para
operacionalizar esta etapa, foram estabelecidas as temáti-
cas baseadas nas expressões ou palavras significativas que
os alunos descreveram nos questionários.
A terceira etapa é descrita como tratamento dos
resultados obtidos e interpretação, abordando a análise
do estudo. Neste estudo foi feita uma análise descritiva
em cada unidade de análise para extrair das mensagens,
as informações pertinentes ao assunto pesquisado. Para
tanto, considerou-se como Unidade de Registro (UR),
a frase ou parágrafo que serviram de unidade de com-
preensão (BARDIN, 2011).
As respostas dos alunos foram analisadas com base
nos princípios teóricos da aprendizagem cooperativa e
pesquisas sobre o tema. O estudo seguiu os preceitos éti-
cos e legais da pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os pesquisados eram acadêmicos com idades entre
18 e 53 anos de idade; cinco alunos eram do sexo mas-
culino e 10 do sexo feminino; um aluno estava matri-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 25


culado no curso de Administração Pública, um cursava
Comunicação e Jornalismo, um era da Agronomia, dois
cursavam Engenharia Civil, dois estavam no curso de
Biblioteconomia, dois alunos no curso de Engenharia de
Materiais e seis alunos, no curso de Medicina.
Percebeu-se que houve uma maior procura ao PAC-
CE pelos alunos do Curso de Medicina. É comum ob-
servar que, neste curso, as relações de amizade construí-
das pelos alunos parecem ser mais sólidas, ultrapassando
a simples interação de sala de aula. Há uma divisão entre
eles de moradia, com isto, é comum compartilharem as
tarefas, as contas, estudos, dentre outros; o que, de certa
forma, facilitou a inserção dos acadêmicos ao PACCE,
por já serem fortes suas convivências estudantis idênticas
aos Princípios da Aprendizagem Cooperativa.
Com a convivência mais próxima, acontece uma
separação de responsabilidades, nas quais umas são indi-
viduais e outras são coletivas ou sociais, e nenhuma des-
tas é superior ou melhor que a outra. Qualquer afirma-
ção de responsabilidade social que substitua a individual
só pode ser contraproducente. Caso inexista a responsa-
bilidade individual, a social não pode ser bem-sucedida
(SEN, 2010).
No tocante a análise das respostas dos alunos, en-
controu-se a classe temática: A contribuição da Aprendi-
zagem Cooperativa para o Desenvolvimento Sustentável, a
qual resultou em 13 UR distribuídas em três categorias.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 26


CATEGORIA 1 - DEFINIÇÃO DE DESENVOLVI-
MENTO SUSTENTÁVEL
Na pergunta sobre o que os acadêmicos entendem
ser Desenvolvimento Sustentável, as respostas convergi-
ram ao significado de uma forma de desenvolver sem
agredir o meio ambiente. Noutra perspectiva, respon-
deram que é saciar as necessidades com responsabilida-
de. Foi dito que se podem conciliar interesses coletivos
com as limitações naturais, e que é preciso a interação do
homem com o mundo, porém, preservando os recursos
sem comprometer as futuras gerações. Sustentabilidade
estava associada não só com a questão ambiental, mas
também com a energética e a social.
Envolve o uso racional de matérias-primas e recur-
sos energéticos e gestão administrativa. (Aluno 02)
É o desenvolvimento da sociedade humana que alia
suas necessidades à aplicação de medidas responsá-
veis, levando em consideração os interesses coletivos
e respeitando as limitações que o ambiente, em que
vivemos nos impõe. (Aluno 07)
Ser sustentável ou sustentabilidade consiste na in-
teração do homem com o mundo, preservando o
meio ambiente sem comprometer os recursos natu-
rais das gerações futuras. Sustentabilidade está asso-
ciada não só com a questão ambiental, mas também
com a energética e social. (Aluno 08)
É o Desenvolvimento que leva em consideração
tanto o meio ambiente, o uso consciente das ma-
térias-primas, como o lado econômico. E, também,
a contribuição de todos para o bem da sociedade.
(Aluno 11)

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 27


O Desenvolvimento Sustentável também aborda as
áreas econômicas, sociais e políticas. Para o alcance
do mesmo é necessário mudar muitas questões es-
truturais, principalmente a econômica. (Aluno12)
Por ser um tema transversal e que exige aponta-
mentos oriundos de mais uma ciência, tecnicamente as
definições podem conter deslizes, mas aduzem pontos de
realces, os quais merecem atenção. Quando se respondeu
que interesses coletivos e necessidades são contidos por
medidas responsáveis, já se mostra que responsabilidade
é preciso para galgar um compartilhamento de vitórias,
as quais nutram a coletividade. Está implícito nesta afir-
mativa que se houver irresponsabilidade, não se poderá
abastecer a todos, sendo assim haverá desigualdade.
É oportuno lembrar que há nas afirmações uma
importante frase a qual diz que o ambiente impõe li-
mites ao homem. Assim, não é o homem quem atribui
limitações ao meio, conforme a prática tem demonstra-
do. E isto caracteriza respeito e consciência, foge-se do
antropocentrismo, onde tudo está a serviço do homem.
Adentra-se noutra visão, a biocêntrica, na qual todos os
seres vivos e recursos naturais do planeta são compreen-
didos como partes constituintes de um delicado sistema
equilibrado, resultando num organismo vivo que é o
planeta Terra.
Contribuindo para o debate, nesta categoria resta-
ram partes importantes nas quais ficam bem evidentes
que o tema perpassa pelo: uso racional de matérias-pri-
mas e recursos energéticos e gestão administrativa. É ne-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 28


cessário viver respeitando as limitações que o ambiente
nos impõe. É preciso saber da interação do homem com
o mundo e que Sustentabilidade está associada, não só
com a questão ambiental, mas também com a energética
e social.

CATEGORIA 2 - POSSIBILIDADES DO ALUNO


DO PACCE PARA UMA SOCIEDADE JUSTA E
SOLIDÁRIA
Na interrogação lançada sobre as possibilidades dos
alunos integrantes ao Programa para construir uma so-
ciedade mais justa e solidária, adveio respostas as quais
demonstraram que a Aprendizagem Cooperativa deixa
os alunos mais preocupados com o próximo e, por isso,
faz com que as pessoas estejam propensas a serem mais
justas e solidárias umas com as outras.
Os pilares da Aprendizagem Cooperativa são ca-
pazes de produzir ações de coletividade, responsa-
bilidade, proatividade, capacidade de ter diálogos,
aceitar ideias, maior conhecimento entre as pessoas
e etc. Essas aquisições são fundamentais para se
chegar ao que alguns dizem ser a “utopia” de uma
sociedade justa e solidária. (Aluno 01)
Os princípios da Aprendizagem Cooperativa incorpo-
rados, no nosso dia a dia, auxiliam no nosso compor-
tamento com relação ao nosso próximo. (Aluno 03)
A palavra cooperação é muito importante e vivida
no dia a dia dos bolsistas e participantes das células.
A partilha do conhecimento, a troca de experiências

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 29


ajuda nos vínculos criados na Universidade. Gera
um ser mais sensível e mais humano. (Aluno 10)
Na medida em que trabalhamos os cinco princípios
da Aprendizagem Cooperativa, tais como interde-
pendência social e habilidade social, percebemos
que a visão capitalista competitiva, individualista,
refletida no paradigma cartesiano de ensino, em
nada contribui para a nossa transformação da estru-
tura social. Os princípios da Aprendizagem Coope-
rativa contribuem para desconstruirmos essa visão
capitalista e, por conseguinte, formar profissionais
protagonistas de mudanças. (Aluno 12)
Durante esses três anos, aprendi a conviver e tra-
balhar com pessoas de diferentes cursos, diferentes
personalidades, diferentes objetivos. Aprendemos
a dividir tarefas e funções, dividir recompensas,
compartilhar saberes. Fomos treinados a ouvir o
próximo, a criticar ideias e não pessoas. Se esses
princípios fossem executados por todos, acredito
que teríamos uma sociedade mais justa e solidária.
(Aluno 14)
Na visão dos discentes pesquisados são fortes e reais
as chances de um mundo melhor, humano, contendo
justiça, onde a solidariedade seja recorrente, conforme o
aprendido nas células da Aprendizagem Cooperativa. E
vai parecer utópica sim, mas é desta utopia que se deve
buscar aproximação, iniciando com a aceitação de ideias
divergentes, uma compreensão maior dos outros, do res-
peito às outras pessoas e a colaboração para atividades
que se complementam.
Freire (2011, p. 42) apregoa que “a solidariedade
social e política de que precisamos para construir a so-
ciedade menos feia e menos arestosa, em que podemos

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 30


ser mais nós mesmos, tem na formação democrática
uma prática de real importância”. Nesse sentido, a edu-
cação para a sustentabilidade não faz do educando um
depósito de conhecimentos como um mero objeto do
processo educativo, mas um ser pensante que constrói
junto com o professor o conhecimento necessário para
evitar o discurso fatalista, neoliberal e pragmático tipi-
camente capitalista.
Como boa ajuda ao presente estudo ficou que o
PACCE tem permitido a alteração das pessoas para um
ser mais sensível e mais humano e o que os princípios
da Aprendizagem Cooperativa são fundamentais para se
chegar ao que alguns dizem ser a “utopia” de uma socie-
dade justa e solidária, fazendo a sociedade conviver e tra-
balhar com pessoas diferentes, mas que possam vencer as
desigualdades e consiga dividir tarefas e funções, dividir
recompensas, compartilhar saberes. E que os alunos pes-
quisados foram treinados a ouvir o próximo, a criticar
ideias e não pessoas.

CATEGORIA 3 - EXPECTATIVA DOS ALUNOS


DO PACCE EM FOMENTAR O DESENVOLVI-
MENTO SUSTENTÁVEL
Feita pergunta direta, sobre a expectativa dos alu-
nos do PACCE em fomentar o desenvolvimento susten-
tável, os acadêmicos sinalizaram uma convergência ao
resultado positivo, o qual descreve boa esperança.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 31


[...] Colocar-se no lugar do outro e pensar nas pró-
prias atitudes que afetam outras pessoas. (Aluno 03)
Na Aprendizagem Cooperativa aprende-se a se pre-
ocupar mais com o próximo e isso faz com que as
pessoas sejam mais justas e solidárias. (Aluno 04)
Espera-se que ele se empodere dos fundamentos da
Aprendizagem Cooperativa e do Desenvolvimento
Sustentável para então fazer um nexo entre esses
campos, o que é totalmente possível. O aluno, além
de protagonista de mudanças em sua célula de estu-
do, também será um ator de mudanças na socieda-
de, quando se fala de Desenvolvimento Sustentável,
pois a Aprendizagem Cooperativa o fortalece para
trabalhar com outros atores sociais, formar redes e
arranjos institucionais, canalizando esforços, geren-
ciando os conflitos e diferenças para o alcance de
um determinado objetivo. (Aluno 12)
Alteridade e empatia são ações que podem estar em
desuso, para parte da sociedade, mas para estes alunos é
algo comum. É de forma simplória em colocar-se na posi-
ção alheia e tentar entender sentimentos, as necessidades,
satisfações e frustrações dos amigos (os quais eram desco-
nhecidos nesta seara particular) para compreender, de for-
ma mais humana, as interações. Esta qualidade e virtude
de um maior cuidado com o outrem aduzem mudanças
importantes, atitudes simples, mas com efeitos perma-
nentes que, se cultivadas, podem ser seguidas e ensinadas.
A preocupação com as dificuldades alheias é prática
recorrente dos sujeitos pesquisados, os quais já se acostu-
maram em ajudar mutuamente os amigos a conviverem
e vencerem, conjuntamente, as limitações individuais
com o apoio e auxílio dos amigos.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 32


A referência sobre a prática da justiça e da solidarie-
dade repousa nas atitudes dos alunos de se respeitar nas
diferenças e com as limitações de cada um, excluindo
da relação possíveis pontos, fatos ou situações ocultadas
nas amizades hodiernas. E com esta maneira algumas
deficiências são suprimidas e as potencialidades superam
de forma a não tornar a amizade superficial.
São através dos fundamentos da Aprendizagem
Cooperativa que brotam o protagonismo e o empodera-
mento individual, entretanto, estes estão consubstancia-
dos na melhoria para um conjunto coletivo.
Como já dito por eles mesmos, a sustentabilidade
está associada não só com a questão ambiental, mas tam-
bém com a energética e social. Espera-se que o aluno,
que já teve a experiência com o PACCE, colabore com
seus conhecimentos, trabalhando em grupo, mostrando
e aplicando os princípios da Aprendizagem Cooperativa,
sempre no intuito de aprimorar a dinâmica coletiva.
Ao debate restou, ofertados pelos acadêmicos,
colocar-se no lugar do outro, assim como pensar nas
próprias atitudes que afetam outras pessoas. O compro-
misso assumido de se preocupar mais com o próximo, a
dedicação de sentir-se e desejar serem pessoas mais justas
e solidárias. A esperança do jovem oriundo do PACCE
ser protagonista de mudanças e um ator de mudanças
na sociedade.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 33


CONSIDERAÇÕES FINAIS
O momento para se discutir Desenvolvimento,
Sustentabilidade e Ensino Superior no Cariri é acertado
em virtude da eclosão de cursos de graduação instalados,
aliado às criações e expansões das Instituições de Ensino
Superior e a política do governo que, nos últimos anos, es-
timulou a permanência dos alunos com programas de au-
xílio aos universitários, tal como a instalação de uma Uni-
versidade Federal que trabalha ensino, pesquisa, extensão
e cultura, como a UFCA, o que já a difere das demais.
O auxílio da metodologia da Aprendizagem Coo-
perativa nos espaços universitários contribui para o
encorajamento dos alunos para vencerem um sistema
arcaico de ensino, no qual os conhecimentos provêm,
exclusivamente, do professor.
No que é pertinente ao conhecimento sobre o De-
senvolvimento Sustentável, traçaram o uso racional de
matérias-primas, recursos energéticos e gestão adminis-
trativa. Disseram que a Sustentabilidade está associada,
não só com a questão ambiental, mas, também, com a
energética e social.
O PACCE tem permitido a alteração dos envolvi-
dos para um ser mais sensível e humano. A “utopia” de
uma sociedade justa e solidária pode ser alcançada com
o uso dos princípios da Aprendizagem Cooperativa,
segundo os universitários. Como expectativa dos pes-
quisados em fomentar o Desenvolvimento Sustentável,
eles sugeriram pensar nas próprias atitudes que afetam
outras pessoas.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 34


Diante dos resultados obtidos percebe-se a real
possibilidade do contributo da Aprendizagem Coope-
rativa para a construção da Sustentabilidade, e o papel
preponderante da Universidade em conduzir o ensino
de modo acertado.
Por fim, é mister o desenvolvimento de linhas de
estudos e pesquisas que aprofundem a relação entre en-
sino e desenvolvimento sustentável para fomentar a cria-
ção de uma sociedade mais justa e solidária.

REFERÊNCIAS
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estudantes como estratégia de inclusão através da educação. Per-
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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 35


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das Letras, 2010.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI – UFCA. Anexo IV da
Resolução nº 01/2014/CONSUP. Dispõe sobre a regulamentação
do Programa de Aprendizagem Cooperativa em Células Estudantis
(PACCE) no âmbito da Universidade Federal do Cariri. Juazeiro do
Norte, 2014.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 36


ABORDAGEM ECOSSISTÊMICA EM
SAÚDE NO ENFRENTAMENTO À
PROBLEMÁTICA AMBIENTAL COMO
CAMINHO PARA SUSTENTABILIDADE

Rhavena Maria Gomes Sousa Rocha


Maria do Socorro Vieira Lopes
Karla Jimena Araújo de Jesus Sampaio
Célida Juliana de Oliveira
Ana Maria Parente Garcia Alencar

INTRODUÇÃO
A Abordagem Ecossistêmica em Saúde pode ser
entendida como um enfoque fundamentado no casa-
mento da ideia de ecossistema & saúde humana, a partir
do vínculo entre estratégias de gestão integral do meio
ambiente com uma abordagem complexa da promoção
da saúde. Objetiva desenvolver novos conhecimentos
sobre a relação saúde, ambiente, trabalho, em realidades
concretas, de forma que permita ações adequadas, apro-
priadas e saudáveis das pessoas, e para as pessoas que aí
vivem (MINAYO, 2006).
Tal abordagem inovadora, também chamada de
Ecossaúde, surge para responder a uma lacuna na atua-
lidade e frente a incertezas apresentadas no processo di-
nâmico de interação entre os seres vivos e a ação humana
(SANTOS, 2009). É fundamental compreender a inter-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 37


-relação existente entre o ser humano e o ecossistema e,
consequentemente, entre meio ambiente e a determina-
ção de estados de saúde ou de doença. Este deve ser enten-
dido como elemento que influencia diretamente na saúde
das populações, a partir da compreensão de que o binô-
mio ser humano-ecossistema tem um elo indissociável.
Em seu estudo, Beserra et al. (2010) evidencia uma
visão de meio ambiente como espaço de interação e local
para a existência humana; o que demonstra compreen-
são acerca da ligação entre os diferentes aspectos que in-
tegram e fazem interagir o social, o cultural e o natural
em uma mesma noção formal de meio ambiente. Assim,
a atividade humana, os processos produtivos, exercem
influências sobre a natureza, e esta traz impactos para a
saúde humana, já que esses elementos são interligados
em diversos aspectos e interagem entre si.
Para Santos (2009), é imprescindível encontrar no-
vas possibilidades para solucionar os problemas de saúde
nas comunidades, a partir do conhecimento de suas vi-
vências e práticas cotidianas, contribuindo, assim, para
a sustentabilidade. Nesse sentido, o fazer em saúde deve
dar conta das interações complexas da vida social e dos
desafios epistemológicos de integração de sua diversidade.
A Abordagem Ecossistêmica em Saúde baseia-se
em três pilares fundamentais: transdisciplinaridade, par-
ticipação social e equidade de gênero. A transdisciplina-
ridade, que consiste em trabalhar em diversas áreas do
conhecimento; a participação social, que abrange todos

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 38


os atores sociais envolvidos e a equidade de gênero, que
leva em consideração os diferentes papéis relacionados
ao gênero (GOMÉZ; MINAYO, 2006).
Diante da insuficiência do enfoque unidisciplinar
na abordagem à problemática ambiental e da necessida-
de de construir um conhecimento integrado das ciências
naturais e humanidades, destaca-se a interdisciplinarida-
de. Para Weihs (2013), trata-se de romper com as fron-
teiras historicamente construídas entre as disciplinas,
buscando integrar dados, métodos, ferramentas, concei-
tos e teorias e incorporar o saber informal e a participa-
ção social e lidar com relações de poder e conflitos.
Reforça-se a relevância da participação social nesse
processo. Silva & Peliccioni (2013), corroboram com
esta afirmativa, ao assegurar que a participação em que as
pessoas interagem com o meio na condição de sujeito é
aquela que cria possibilidades para a transformação social,
portanto, deve ser ativa e deliberativa, ou seja, o sujeito
não será simplesmente um espectador, ele deverá interpre-
tar, analisar, dialogar e agir sobre a realidade em que está
inserido, estimulando, também, a cooperação coletiva.
Evidenciando a importância da compreensão de
enfoques integrativos e participativos, e baseando-se na
necessidade de enxergar o meio ambiente como elemen-
to complexo e interconectado ao ser humano, deparou-
-se com a seguinte questão: Como a Abordagem Ecossis-
têmica em Saúde tem sido utilizada no enfrentamento à
problemática ambiental?

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 39


Sendo assim, este estudo objetivou compreender
através do levantamento da produção científica nacio-
nal e internacional como se tem realizado a Abordagem
Ecossistêmica em Saúde no enfrentamento à problemá-
tica ambiental, considerando os impactos da ação das
pessoas sobre a natureza e como esses impactos afetam
a saúde humana, os ambientes de trabalho, além de vis-
lumbrar que a utilização da abordagem ecossistêmica em
si, por ser um processo transdisciplinar e participativo
contribui sobremaneira com a sustentabilidade de ecos-
sistemas naturais e socioculturais.

METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, a
qual pode ser considerada como uma pesquisa que bus-
ca sintetizar estudos realizados acerca de determinado
assunto. A revisão integrativa é um dos métodos de pes-
quisa utilizados na prática baseada em evidências e que
possibilita a incorporação das evidências na prática clí-
nica. Tendo como referencial estudiosos desse método,
é preciso percorrer seis etapas distintas: Identificação do
tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa, esta-
belecimento de critérios de inclusão e exclusão e busca
na literatura, definição das informações a serem extraí-
das, avaliação dos estudos, interpretação dos resultados
e apresentação da revisão integrativa (Mendes, Silveira e
Galvão, 2008).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 40


A busca dos artigos aconteceu no período de junho
a julho de 2014, a partir das bibliotecas BVS (Biblioteca
Virtual de Saúde) e PubMED (US National Library of
Medicine National). Acessou-se à página da BVS, sele-
cionando as bases de dados LILACS (Literatura Latino-
-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e BDE-
NF (Bases de Dados de Enfermagem) e na PubMED,
todos os artigos encontrados eram indexados à base de
dados MEDLINE (Medical Literature Analysis and Re-
trieval System Online).
Para a localização de artigos na BVS, a busca foi
realizada utilizando-se uma palavra-chave e dois Descri-
tores em Ciências da Saúde (Decs): “Abordagem ecossis-
têmica” (Palavra-chave) AND “Saúde ambiental” (Decs)
OR “Saúde” (Decs). O uso da palavra-chave “Abordagem
ecossistêmica” se justifica pelo restrito número de artigos
que contemplavam os objetivos da pesquisa quando se
utilizaram descritores similares, como “Ecossistema”. As-
sim, optou-se por utilizar esse termo, visando ampliar o
número de pesquisas encontradas. Os critérios de inclusão
foram contemplar os objetivos do estudo, estar disponível
como texto completo de forma gratuita, publicado nos
últimos dez anos. Como critério de exclusão, foram omi-
tidos da pesquisa as dissertações, teses, trabalhos de con-
clusão de curso e resumos de anais e livros, assim como
artigos que estavam indexados em mais de uma base de
dados. Então, os artigos repetidos eram desconsiderados.
Na BVS, após busca integrada avançada, encon-
trou-se 34 artigos em seguida, após aplicação dos filtros,

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 41


obteve-se o número de 18 artigos. Depois de leitura na
íntegra e exclusão dos artigos repetidos, chegou-se ao to-
tal de sete artigos, sendo cinco indexados pela LILACS
e dois pela BDENF.
Na PubMED, o levantamento dos artigos foi fei-
to utilizando-se os seguintes Mesh: “Environmental
health” AND “Ecosystem” AND “Health”. Para seleção
dos artigos utilizou-se os seguintes critérios de inclu-
são: contemplar os objetivos do estudo, estar disponível
como texto completo de forma gratuita, publicado nos
últimos dez anos e pesquisas realizadas somente com hu-
manos. Foram encontrados 94 artigos, após aplicação
dos filtros foram pré-selecionados 11 artigos. Ao final da
leitura, restaram cinco artigos, todos indexados na base
de dados MEDLINE.
Desse modo, somando-se os artigos encontrados
nas três bases, que atendiam aos objetivos do estudo,
chegou-se ao número final de 12 artigos.

Figura 1. Fluxograma mostrando a seleção dos artigos para revisão: estratégia de


pesquisa, número de registros identificados e artigos incluídos.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 42


RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 12 artigos, no período compreendido entre
2005 e 2013, cinco (41,6%) eram do ano de 2013, três
(25%) do ano de 2007, e os anos de 2005, 2009, 2010
e 2012 contaram com apenas um artigo cada (8,3%).
Quanto ao país de origem, a maioria dos estudos foi
realizado no Brasil, sendo oito nacionais e quatro inter-
nacionais, distribuídos entre os seguintes países: Colôm-
bia, Itália e Canadá (dois artigos).

Quadro 1: Distribuição dos artigos selecionados, período de 2005-2013, segun-


do título, autor, ano de publicação, país de origem, periódico e bases de dados.
País
Base de
Título Autor/Ano de ori- Periódico
Dados
gem
Os desafios da
geração do co-
WEIHS; Ciência &
nhecimento em
MERTENS. Brasil Saúde Co- LILACS
saúde ambiental:
2013 letiva
uma perspectiva
ecossistêmica
An ecosystem SUAREZ;
perspective in GONZÁLEZ;
the socio-cultural CARRAS- Co- Cad. Saúde
LILACS
evaluation of QUILA; lômbia Pública
dengue in two QUINTERO.
Colombian towns 2009
Abordagem
ecossistêmica:uma SVALDI;
possibilidade para ZAMBER- Esc. Anna
construir conheci- LAN; SI- Brasil Nery LILACS
mento sustentável QUEIRA.
em enfermagem/ 2013
saúde

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 43


Ecosystem ap-
proach and the
CANAVESE;
Fuzzy logic: a
ORTEGA;
dialectical propos- Brasil EngSanitAm- LILACS
GIATTI
al for information bient
2012
on Environmental
Health
Modelo mul-
tidimensional
para o controle
SANTOS; Revista de
da dengue: uma
AUGUSTO. Brasil Saúde Co- LILACS
proposta com base
2010 letiva
na reprodução
social e situações
de riscos
Abordagem
ecossistêmica em PARCIANE-
R. pesq.: cuid.
terapia intensiva: LO et al. Brasil BDENF
Fundam
conhecimento dos 2013
enfermeiros
Nursing, environ-
ment and health
conceptions:
CEZAR-VAZ Rev Latino-
an ecosystemic
et al. Brasil -am Enferma- BDENF
approach of the
2007 gem
collective health
production in the
primary care
Convergence of
ZINSSTAG. Cana- MEDLI-
Ecohealth and EcoHealth
2013 dá NE
One Health
Salute de glieco- CECCHI;
Ann Istsuper- MEDLI-
sistemi e salute MANCINI. Itália
sanità NE
umana 2005
Ecosystem ap-
FREITAS
proaches and Cad. Saúde MEDLI-
et al. Brasil
health in Latin Pública NE
2007
America

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 44


Letter from
the New IAEH
President Jakob ZINSSTAG Cana- MEDLI-
EcoHealth
Zinsstag: Health 2013 dá NE
& Ecology: Let us
Join Forces
Compreensões
integradas para
a vigilância da AUGUSTO;
saúde em ambien- Cad. Saúde MEDLI-
GOÉS 2007 Brasil
te de floresta: o Pública NE
caso da Chapada
do Araripe, Ceará,
Brasil.

Em relação aos periódicos, os artigos foram pu-


blicados nos seguintes: Ciência & Saúde Coletiva (um
artigo), Caderno de Saúde Pública (três artigos), Escola
Anna Nery (um artigo), Revista Engenharia Sanitária
(um artigo), Revista de Saúde Coletiva (um artigo), Re-
vista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental (um artigo),
Revista Latino-americana de Enfermagem. (um artigo),
EcoHealth (dois artigos), Ann IstSuperSanità (um arti-
go). Dos 12 artigos, cinco eram indexados na LILACS,
dois na BDENF e cinco na MEDLINE.
No quadro 2, estão dispostas as formas de utiliza-
ção da Abordagem Ecossistêmica em Saúde e os prin-
cipais resultados das pesquisas. A partir da análise dos
estudos, emergiram quatro categorias temáticas: “Abor-
dagem Ecossistêmica em Saúde”, “Transdisciplinarida-
de”,“Participação social” e “Equidade de gênero”.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 45


Dos 12 artigos estudados, sete abordaram a trans-
disciplinaridade, como proposta de alcançar uma maior
compreensão dos problemas de saúde. Destaca-se que
um dos autores (artigo 7) mencionou, também, a inter-
disciplinaridade. Os artigos 1, 4, 5, 9, 10, 12, enfatizam
a relevância da participação social no enfoque ecossistê-
mico. Dos artigos estudados, quatro mencionam a equi-
dade (3, 5, 8 e 12) e, destes, dois referem-se, especifica-
mente, às relações de gênero.
Importante mencionar que alguns estudos abor-
daram desafios a serem superados nessa perspectiva, em
que podemos enfatizar incompatibilidade entre as medi-
das em direito ambiental e a abordagem ecossistêmica e
a dificuldade de apropriação por parte dos usuários das
informações e instrumentos apresentados.
Estão evidenciadas a seguir as quatro categorias:

Abordagem Ecossistêmica em Saúde


Reconhece-se cada vez mais a ligação indissolúvel
da saúde das pessoas e dos animais e seus ecossistemas,
e compreende-se que não existe vida saudável em um
ambiente ameaçado, incapaz de fornecer subsídios para
a sobrevivência e promoção da saúde humana. Surge,
então, a necessidade de uma estratégia abrangente para
as questões de saúde do ecossistema e da saúde huma-
na, uma estratégia capaz de superar a perspectiva redu-
cionista e abraçar as complexas dinâmicas que ligam o

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 46


ambiente ao ser humano (CECCHI; MANCINI, 2005;
ZINSSTAG, 2013). Tal proposta deve recuperar a rela-
ção saudável do ser humano com a natureza (AUGUS-
TO; GOÉS, 2007).
O pensamento sistêmico compreende-se pelo en-
tendimento de que sistemas complexos interagem com
vários outros sistemas e níveis, não havendo separação
entre os seus componentes. Assim sendo, todas as par-
tes do conjugado sistêmico de um arranjo específico
precisam estar presentes para garantir o funcionamen-
to eficiente e conseguir alcançar o seu propósito. Nes-
sa perspectiva, torna-se necessário considerar o espaço
como um sistema social dinâmico, com uma diversidade
de elementos inter-relacionados (SVALDI; ZAMBER-
LAN; SIQUEIRA, 2013; PARCIANELO et al., 2013).
Assim, entende-se a realidade não mais como uma
relação de causa e efeito, de forma linear, mas através de
uma complexa rede de relacionamentos interconectada
e incorporada a redes maiores, isto é, a partir das inte-
rações. Compreendendo esse raciocínio, e consideran-
do pessoas e natureza como elementos de um mesmo
sistema, depreende-se que não existe separação entre o
ambiente natural e o social, não apenas por ser difícil
distinguir, mas porque funcionam inter-relacionados,
formando um todo (SVALDI; ZAMBERLAN; SI-
QUEIRA, 2013).
A Abordagem Ecossistêmica em Saúde despon-
ta como uma possibilidade de integrar conhecimentos

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 47


de diferentes áreas, onde pesquisadores, gestores e pro-
fissionais estão dispostos ao diálogo e a experimentar
novas abordagens neste conceito, a fim de promover a
saúde e o desenvolvimento sustentável. Esta possui nos
seus princípios a capacidade de aproximar todos os ele-
mentos que a integram, saúde e o ambiente por meio
da ciência e tecnologia. Baseia-se em uma atenção in-
tegral/holística e não somente assistencialista e tecnicis-
ta com enfoque na doença (SVALDI; ZAMBERLAN;
SIQUEIRA, 2013; CANAVESE; ORTEGA; GIATTI,
2012; PARCIANELO et al., 2013; ZINSSTAG, 2013).

1. Transdisciplinariedade
A transdisciplinariedade emerge na abordagem
ecossistêmica como fruto da superação da insuficiência
teórica dos enfoques unidisciplinares em explicar as per-
turbações advindas da relação ser humano-ecossistema.
Implica em visão ampla dos problemas de saúde, a partir
de um processo de investigação que não esteja restrito à
ciência, mas que os conhecimentos adquiridos em ou-
tras esferas possam integrar-se à vida das pessoas, pos-
sibilitando poder de transformação social (SANTOS;
AUGUSTO,2010; CEZAR-VAZ et al., 2007). Trata-se
de romper com as fronteiras historicamente construídas
entre as disciplinas (WEIHS; MERTENS, 2013).
Os esforços destinados a amenizar os sintomas da
mudança planetária, decorrentes dos impactos das pes-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 48


soas sobre o ecossistema, não obtém êxito quando reali-
zados por meio de uma única disciplina. Faz-se necessá-
rio a realização de estudos com métodos participativos
e integradores, abrindo caminhos de pesquisa em todas
as disciplinas acadêmicas, ligando ciência e sociedade.
Desafia-se, assim, o reducionismo unidisciplinar (CA-
NAVESE; ORTEGA; GIATTI, 2012; PARCIANELO
et al., 2013; ZINSSTAG, 2013).
Vale salientar que os saberes e práticas são construí-
dos considerando-se o ambiente como um todo, sobre
o atento olhar de diferentes disciplinas, diferentes tra-
balhadores da saúde, em que a saúde não é vista como
descolada do ambiente físico/social, associado aos sabe-
res da comunidade. Assim, cientistas de diversas áreas
abrem espaço para a participação dos indivíduos (SAN-
TOS; AUGUSTO, 2010; CEZAR-VAZ et al., 2007).
Apesar da relevância da transdisciplinaridade para
a abordagem ecossistêmica, alguns autores evidenciaram
limitações, como o desafio de estabelecer o diálogo entre
o saber informal e a participação popular ao conheci-
mento científico, os processos produtivos e lidar com re-
lações de poder ou situações conflituosas ao tentar criar
vínculos entre os problemas e solução destes. Além disso,
o pesquisador divide-se entre valorizar sua especialidade
enquanto cede a outras linguagens, métodos e conheci-
mentos distintos dos seus (WEIHS; MERTENS, 2013).
Em vista disso, a edificação do saber da complexi-
dade ambiental requer um processo dialógico, com base

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 49


na troca de conhecimentos, hibridação da ciência e in-
serção de saberes populares. Assim, a adoção de métodos
transdisciplinares trazem à tona o surgimento de novos
conceitos. (CEZAR-VAZ et al., p.9, 2007).

2. Participação social
A partir de uma perspectiva de saúde pública, é
primordial identificar e reduzir os determinantes sociais
que favorecem a reprodução de doenças, indo além de
suas origens biológicas, tanto visando amenizar a sua
frequência como influenciar a mudança de comporta-
mento da comunidade. Para tanto, incentiva-se o uso
de estratégias participativas, que juntamente com uma
abordagem interdisciplinar, resultaram em uma maior
capacidade organizativa para resolver as questões locais
(WEIHS; MERTENS, 2013; SUAREZ; GONZÁLEZ;
CARRASQUILA; QUINTERO, 2009).
É pertinente pensar que o processo de mudança
da realidade só se torna possível se os indivíduos que a
vivenciam são capazes de conhecê-la, refletir criticamen-
te sobre ela e compreender a necessidade de mudança.
Desta maneira, consideram-se os atores sociais indis-
pensáveis nesse processo, sendo os mesmos instigados à
participação e envolvimento nas questões ambientais, a
partir da identificação de problemas e busca de soluções
(SVALDI; ZAMBERLAN; SIQUEIRA, 2013; CANA-
VESE; ORTEGA; GIATTI, 2012).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 50


A participação social tem a finalidade de se chegar
a um acordo nas decisões tomadas entre os membros da
comunidade e com os cientistas. A proposta remete à
necessidade de estudar e promover intervenções parti-
cipativas na resolução de problemas complexos, apreen-
dendo desde questões da saúde humana a aspectos so-
cioambientais. Assim, o diálogo entre pesquisadores e
comunidades viabiliza a transformação de resultados
de pesquisa em conhecimentos para a ação (WEIHS;
MERTENS, 2013; SANTOS; AUGUSTO, 2010).
Na abordagem ecossistêmica em saúde, a partici-
pação do público é considerada um elemento integral.
O pesquisador procura agregar as diversas partes inte-
ressadas (pesquisadores, gestores e comunidade) na for-
mulação de hipóteses e análise dos resultados, a partir
da parceria e colaboração de especialistas e atores locais,
que conduzem ao controle da problemática. Nota-se
que embora muitas empresas reconheçam a importân-
cia do envolvimento das comunidades locais, muitas
vezes as ferramentas disponíveis são insuficientes para
implementar a resolução (CECCHI; MANCINI, 2005;
FREITAS et al., 2007).
Logo, admite-se que o comportamento de cada in-
divíduo no ecossistema afeta a vida e a saúde de todos os
outros. Assim, o sucesso da comunidade depende do su-
cesso de cada membro, e vice-versa. Isso se explica pelo
fato de que todos são elementos de um mesmo sistema,
sendo influenciados de forma mútua. Por isso, é necessá-
rio promover o empowerment da comunidade, pois uma

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 51


vez detentora do conhecimento, esta compreenderá que
tem um importante papel na resolução dos problemas
do seu meio (SANTOS; AUGUSTO, 2010; PARCIA-
NELO et al., 2013).

3. Equidade de gênero.
No que diz respeito à equidade de gênero, percebe-
-se que cabe ao homem o papel de provedor, relaciona-
do à sua masculinidade e promovendo a reprodução dos
padrões de comportamento de gênero. Assim, desde a
infância, os garotos são cobrados quanto ao sustento do
lar através do trabalho. Já a ocupação das mulheres, por
sua vez, foi tida como um obstáculo para os cuidados
da família. Almeja-se, portanto, a equidade de gênero
por meio do empoderamento da mulher no papel da
reprodução, no cuidado com a saúde, na ação política
e no mercado de trabalho (AUGUSTO; GOÉS, 2007;
SVALDI; ZAMBERLAN; SIQUEIRA, 2013).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 52


Quadro 2. Distribuição dos artigos selecionados descritos quanto à forma de utilização da Abordagem Ecossistêmica e principais resultados.

Como foi utilizada/abordada a “Aborda-


Título Principais resultados
gem Ecossistêmica em Saúde”

Os desafios O projeto brasileiro denominado CARUSO No projeto Caruso, o diálogo entre pesquisadores e saberes lo-
da geração do e um conjunto de projetos desenvolvido no cais (transdisciplinariedade), bem como a participação social,
conhecimento em Nepal foram revisados quando à aplicação da permitiu compreender a dinâmica integral do local e identificar
saúde ambiental: interdisciplinaridade e transdisciplinariedade, soluções para o problema.
uma perspectiva segundo uma perspectiva ecossistêmica, sendo As estratégias participativas e inter/transdisciplinares resulta-
ecossistêmica abordada também a participação comunitária. ram em uma maior capacidade organizativa para resolver as
questões locais.
An ecosystem Foi realizado um estudo transdisciplinar para A ocorrência da doença está ligada a percepções sociais de saú-
perspective in avaliar as ligações entre fatores eco-bio- de e doença, dependendo de determinados ambientes para seu
the socio-cultural -sociais e da situação atual da dengue em desenvolvimento e sendo associada pela população às classes
evaluation of duas cidades da bacia do rio Magdalena, na mais baixas, tendo estas muito mais risco de ter as formas dos
dengue in two Colômbia. vetores da dengue. Há a necessidade de uma abordagem ecos-
Colombian towns sistêmica.
Abordagem ecos- Aborda de forma teórica as considerações O pensamento/abordagem ecossistêmica desponta como uma
sistêmica:uma sobre a abordagem ecossistêmica e a constru- possibilidade de construção de conhecimento ao permitir a
possibilidade para ção de um conhecimento sustentável. emergência de ideias coletivas e inovadoras. Metodologica-
construir conheci- mente, é agregadora e promove a emergência das respostas, não
mento sustentável sendo prescritiva nem determinística. Essa forma metodológica
em enfermagem/ pode permitir que o ser humano encontre outra maneira de pen-
saúde sar, de construir conhecimento/ciência.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 53


Como foi utilizada/abordada a “Aborda-
Título Principais resultados
gem Ecossistêmica em Saúde”

Ecosystem Aborda de forma teórica o enfoque ecossistê- A abordagem ecossistêmica contribui para a produção de infor-
approach and the mico e as novas abordagens para a Saúde Am- mação científica. A situação dos atuais problemas ambientais
Fuzzy logic: a di- biental e os desafios no uso da informação sob e de saúde requer pesquisas com metodologias participativas
alectical proposal a ótica ecossistêmica. e integradas, com uma proposta transdisciplinar e participação
for information de atores sociais. No entanto, existem desafios como a incom-
on Environmental patibilidade entre as medidas em direito ambiental e a aborda-
Health gem ecossistêmica e a dificuldade de apropriação por parte dos
usuários dos instrumentos apresentados.
Modelo multidi- Aborda um modelo compreensivo/explicativo O marco conceitual da abordagem ecossistêmica se emprega
mensional para de caráter ecossistêmico, a partir da identifi- para analisar os vínculos entre os ecossistemas e a saúde hu-
o controle da cação das situações de risco envolvidas com mana. Essa abordagem considera essencial entender as formas
dengue: uma pro- a da Dengue nos níveis de micro e macro- de participação social e equidade existentes nos contextos
posta com base na contexto. locais, com base na transdisciplinaridade.
reprodução social
e situações de
riscos
Abordagem Realiza uma investigação visando identificar A abordagem ecossistêmica em saúde humana objetiva desen-
ecossistêmica em o conhecimento dos enfermeiros sobre a abor- volver perspectivas acerca da relação saúde do ser humano e
terapia intensiva: dagem ecossistêmica em Unidade de Terapia ambiente, permitindo ações adequadas e saudáveis de todos os
conhecimento dos Intensiva. indivíduos, a partir de um trabalho transdisciplinar. A saúde é
enfermeiros intrinsecamente relacionada com a qualidade de vida em um
ambiente capaz de oferecer aos indivíduos uma assistência
contínua e integral. Destaca-se a relação interativa entre o pro-
fissional de enfermagem e o usuário/cliente, tornando-o mais
participativo de sua própria saúde.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 54


Como foi utilizada/abordada a “Aborda-
Título Principais resultados
gem Ecossistêmica em Saúde”

Nursing, environ- Abordar teoricamente os principais delinea- O sentido de ambiente claramente é compreendido como cole-
ment and health mentos de significados expressos de ambiente tivo em sua dimensão sociobiológica e o desafio é apreendê-lo
conceptions: na relação com o trabalho desenvolvido pelas numa dimensão ecológica ampliada de promoção da saúde
an ecosystemic enfermeiras da rede básica de atenção à saúde, humana. Os saberes e práticas dos enfermeiros não devem se
approach of the com base na abordagem ecossistêmica na pro- restringir a um fenômeno único (saúde descolada do ambiente
collective health dução de saúde. físico e/ou social), são conhecimentos que devem se construir
production in the e desenvolver de forma integrada (interdisciplinariedade).
primary care.
Convergence of Compara-se dois tipos distintos de abor- Ambas as abordagens enfatizam uma compreensão holística
Ecohealth and dagem: A abordagem ecossistêmica e One da saúde para além da puramente biomédica, baseando-se no
One Health. Health, buscando compreender as divergên- pensamento sistêmico como uma maneira de alcançar uma
cias entre eles. maior compreensão dos problemas de saúde, ambas defendem
a inter e trans-disciplinariedade nas pesquisas e participação
colaborativa.
Salute deglieco- Aborda dois estudos de caso em que foi Uma abordagem ecossistêmica nas minas e pedreiras requer
sistemi e salute utilizada a Abordagem Ecossistêmica: Minas a participação de atores sociais, como governos ou os gover-
umana. e pedreiras, DDT e malária. nos locais, empresas, comunidades locais e ecossistemas. Os
problemas causados pelo uso de DDT trazem a necessidade
de uma estratégia abrangente para as questões de saúde do
ecossistema e à saúde humana, capaz de superar a perspectiva
reducionista e abraçar as complexas dinâmicas que ligam o
ambiente para o homem. Dá-se destaque aos métodos transdis-
ciplinares, a partir da epidemiologia.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 55


Como foi utilizada/abordada a “Aborda-
Título Principais resultados
gem Ecossistêmica em Saúde”

Ecosystem Contribuição teórica sobre o desenvolvimento Uma abordagem ecossistêmica necessariamente envolve uma
approaches and de Abordagem ecossistêmica no contexto combinação de diversas informações (conhecimento inte-
health in Latin latino-americano. grado), a participação do público e de todos os atores sociais
America envolvidos, sendo considerados elementos integrais.
Letter from Aborda teoricamente a importância da As tentativas de mitigar essas síndromes de mudança global
the New IAEH Abordagem ecossistêmica na compreensão não podem ser alcançadas por uma única disciplina (inter
President, Jakob- da relação entre alterações ecossistêmicas e e transdisciplinariedade) e devem ser de forma reflexiva e
Zinsstag: Health efeitos na saúde. sistêmica.
& Ecology: Let
us Join Forces.
Compreensões Aborda as relações sociais decorrentes das Deve-se recuperar a relação saudável do ser humano com a
integradas para interações de grupos humanos com o ambien- natureza, que só poderá acontecer mediante políticas públicas
a vigilância da te de floresta em face do processo produtivo estabelecidas com essa intencionalidade aliadas à participação
saúde em ambien- extrativista vegetal e identificar os decorrentes da comunidade. Consideram-se as relações de gênero.
te de floresta: o problemas ambientais e sociais, que são
caso da Chapada importantes para orientar ações de vigilância
do Araripe, Ceará, da saúde
Brasil.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 56


CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo possibilitou a compreensão sobre
a Abordagem Ecossistêmica em Saúde, como uma impor-
tante forma de produção de conhecimentos sobre a relação
saúde-ambiente-trabalho, objetivando promover parti-
cipação social/comunitária e transdisciplinaridade.
No que diz respeito à participação social, é ainda
um desafio envolver os principais atores sociais, que
são os pesquisadores, gestores, funcionários públicos e
membros da sociedade, na busca por soluções dos pro-
blemas ambientais, especialmente devido à dificuldade
de integrar saber informal e conhecimento científico.
Há, também, a dificuldade em utilizar uma abor-
dagem transdisciplinar, visto que os profissionais/traba-
lhadores veem-se divididos entre considerar sua especia-
lidade, ao mesmo tempo em que precisam render-se a
outros conhecimentos, linguagens, conceitos e métodos.
Entretanto, mesmo diante de tais obstáculos, é pri-
mordial avançar nesta área ambiental, em busca de no-
vas perspectivas acerca do elo indissociável saúde, meio
ambiente e trabalho, considerando as relações entre as
condições de saúde e seus determinantes culturais, so-
ciais e ambientais, sendo assim a abordagem ecossistê-
mica propicia a sustentabilidade socioambiental.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 57


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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 59


PENSAMENTO ECOSSISTÊMICO:
CONTRIBUIÇÕES FILOSÓFICAS E
ESTÉTICAS AOS PROCESSOS DE
TRABALHO E PESQUISAS EM SAÚDE

Sofia de Moraes Arnaldo


Rayane Moreira de Alencar
Cícera Luciana da Silva Sobreira
Alissan Karine Lima Martins
Francisco Elizaudo de Brito Junior

INTRODUÇÃO
A visão sistêmica da vida expõe-se como uma ma-
neira de refletir sobre a realidade como um processo
contínuo de fluxo e mudança, que se desdobra mediante
o interacionismo das partes de um todo. Os fenômenos
cósmicos, dentro desta perspectiva, mostram-se dinâ-
micos, adquirindo uma natureza cíclica, de modo que
todos os processos se encontram integrados em prol de
um equilíbrio constante (CAPRA, 1983).
Frente ao delineamento de uma visão sistêmica,
as contribuições do pensamento ecossistêmico se fir-
mam nas interações entre homem, sociedade e meio,
tendo como um de seus pilares de sustentação os con-
ceitos epistemológicos procedentes de teorias sistêmicas
e apontando a necessidade de repensar a configuração
dessas interações e de que modo vão de encontro à ma-
nutenção do meio (SANTOS, 2010).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 60


Questiona-se o quanto as pesquisas em saúde vêm
contribuindo para melhoria das atividades profissionais,
percebe-se o quão restrito encontra-se o conhecimento
advindo desses estudos, onde a realização de pesquisas,
muitas vezes, encontra-se restrita aos ambientes univer-
sitários, vinculadas, em sua maioria, aos programas de
pós-graduação, refletindo o vínculo indissociável entre
pesquisa e ensino na saúde, o que se caracteriza como
sendo uma barreira a ser vencida para que essas pesquisas
possam alcançar ambientes além daqueles onde os cui-
dados são prestados (FORTUNA; MISHIMA, 2012).
Mas, como ampliar essa visão fragmentada das pes-
quisas e das práticas no campo da saúde e que limitam
a assistência prestada ao ser humano e suas particulari-
dades em um contexto tão complexo? Eis aí o grande
desafio para pesquisa na atualidade: vencer as barreiras
da fragmentação dos conteúdos em profissões que se
propõem a reconhecer as necessidades humanas.
A compreensão dos fenômenos cósmicos e do pró-
prio ser em frações isoladas não atinge as reais neces-
sidades do conhecimento, fazendo-se necessário com-
preender bem mais que as partes, indo de encontro à
visualização do espaço e do indivíduo como um todo,
um constructo que integra homem e meio dentro de um
mesmo sistema (PARCIANELLO et al., 2011).
O modelo da Matriz de Força Motriz-Pressão-Esta-
do-Exposição-Efeito-Ação (FPEEEA) proposto por Cor-
valán (1996, p. 28) se reproduz como um fenômeno do-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 61


tado de aspectos que envolvem as nuances do pensamen-
to ecossistêmico e permite trabalhar na perspectiva da
vigilância em saúde, confluindo as pesquisas em saúde,
as ações correspondentes e seus indicadores correlatos.
O Ministério da Saúde passou a utilizar no Bra-
sil esse modelo para subsidiar as ações de Vigilância em
Saúde Ambiental, parte do Sistema Nacional de Saú-
de Pública. Essa metodologia foi desenvolvida para o
levantamento de indicadores mais apropriados para o
programa, o qual permite considerar a relação dinâmica
do processo econômico e social, bem como as respostas
à saúde humana e ao ambiente, conferindo essa relação
entre as partes (ARAÚJO-PINTO, 2012).
Esta análise e reflexão justifica-se pelo contexto de
imersão dos autores, que compõem o quadro de discen-
tes e docentes do Curso de Mestrado Acadêmico em En-
fermagem de uma Instituição de Ensino Superior, assim
discutiam sobre a temática no percurso da disciplina de
Teoria do Conhecimento em Enfermagem. Os impulsos
emergidos articularam-se com o aprofundamento das lei-
turas e, teoricamente, diante das evoluções sociais apresen-
tadas na atualidade, a temática em questão faz-se relevante
e imperativa como norteadora dos caminhos a serem per-
corridos para o presente e futuro da pesquisa em saúde.
Esse tema pode ser abordado de diversas perspec-
tivas, então, optamos pela elaboração de um ensaio teó-
rico reflexivo que objetiva estimular as discussões acerca
das contribuições filosóficas e estéticas do pensamento
ecossistêmico à pesquisa em saúde.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 62


O PENSAMENTO ECOSSISTÊMICO
A primazia da racionalidade na denominada Era
Científica distanciou os indivíduos da ideia de orga-
nismo total e, consequentemente, do meio ambiente
natural. Assumindo uma visão cartesiana de natureza,
a separação da matéria e do espírito contribuiu para a
redução do universo a um sistema mecânico, onde seus
componentes vivos foram reduzidos a um conjunto de
peças segregadas, simplificando fenômenos complexos a
componentes básicos (CAPRA, 1983).
Diferentemente da ideia atribuída a um sistema
mecânico, tem-se que um sistema é considerado uma
organização aberta e complexa, na qual as partes consti-
tuintes do mesmo encontram-se interligadas, de modo
que não se pode limitar essa totalidade integrada a uma
simples análise das partes. O pensamento sistêmico, tido
como processual, considera que as inter-relações estabe-
lecidas dentro desse sistema não são lineares e que há
processos infinitos de trocas e interações interdependen-
tes (SEVERO; SIQUEIRA, 2013).
O entendimento do conceito de sistema mostra-
-se variante conforme o referencial teórico, que embasa
as ideias expostas, transitando entre o reducionismo e a
malha da complexidade. No plano conceitual do sistema
como uma organização aberta e complexa, há uma tra-
ma intrínseca e extrínseca entre os fenômenos, além de
uma plasticidade constante mediante as interações dos
mesmos, mantendo a capacidade de autoprodução e au-
torregulação (FREITAS; LOPES, 2016).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 63


Um contraponto que se faz necessário ao pensa-
mento sistêmico é o pensamento ecossistêmico, que
permite uma visão de pensar a realidade e as interde-
pendências dos fenômenos com o ecossistema. Não se
limita aqui a compreensão das substâncias básicas, mas
sim das organizações e suas configurações. O pensa-
mento ecossistêmico considera a imprevisibilidade dos
ecossistemas, de modo que os mesmos sofrem mudanças
constantemente, devido sua dinamicidade e capacidade
de auto-organização (MILIOLI, 2007).
Atribuir às organizações humanas o conceito de
sistemas vivos e de redes não lineares é apontado como
um desafio, sabendo-se que, ao se fazer uso desse concei-
to, acrescentas-se a ideia de que todos os sistemas vivos
devem seguir os princípios de organização dos ecossiste-
mas, dando subsídios para a manutenção da sustentabi-
lidade (CAPRA, 2002). Ressalta-se que a busca pela sus-
tentabilidade se configura como uma atividade de cunho
social e coletivo, cabendo às organizações humanas o
papel de guiarem suas práticas com esse direcionamento.
A mudança de paradigma aponta a transição do
pensamento, valores e percepções que se direcionam à
realidade. A ideia de uma evolução humana pautada na
competitividade social e no avanço tecnológico e cien-
tífico, tal como a abordagem do universo como um sis-
tema mecânico, apresentou-se como limitada e rígida, o
que desencadeou uma crise coletiva, no qual indivíduos
e instituições sociais partilham do mesmo sentimento de
colapso (CAPRA, 1983).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 64


A necessidade de um novo paradigma que respon-
da a essa crise e cesse o estado de colapso instaurado
torna-se pontual, considerando que a humanidade con-
tinua a trilhar seus passos em um terreno marcado pela
ausência da alteridade, onde o individualismo destaca-se
e o desejo de dominação do todo impera.
Discute-se, assim, sobre a necessidade de uma não
fragmentação ou redução dos fenômenos e relações, de
maneira que a dimensão humana não se afaste do meio
ambiente. Nessa perspectiva de pensamento complexo
e sistêmico, entende-se que a complexidade não se im-
põe como um método ou ferramenta para dar conta da
totalidade, até porque há um reconhecimento dessa im-
possibilidade de alcance por parte da mesma, mas sim
busca o respeito a todas as dimensões dos fenômenos
(MORIN, 2015).
Retomando a ideia da fragmentação do todo, sa-
lienta-se que esta também refletiu nas estruturas acadê-
micas e governamentais, de maneira que o meio ambien-
te se tornou alvo dos estudos de grupos distintos que, ao
tomar para si o fragmento que julgam importante, não
consideram suas conexões, assim como as relações de in-
terdependência (CAPRA, 1983).
No âmbito acadêmico, o exercício de uma educa-
ção guiada pelos fundamentos da complexidade pro-
picia uma aprendizagem que reintegra o indivíduo ao
ecossistema, compreendendo que este último é tido
como um sistema aberto de trocas e interações contí-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 65


nuas (SANTOS, 2010). A abordagem de uma academia
que estimula a formação de indivíduos que se reconhe-
cem como integrante de um sistema e que norteiam suas
ações em prol da manutenção de um meio ecológico
saudável, mostra-se como uma possibilidade de matu-
ração do pensamento ecossistêmico. Portanto infere-se
que, refletir sobre uma nova forma de produção do co-
nhecimento que se enraíza no solo do pensamento ecos-
sistêmico como um desafio educacional emergente.

(RE)PENSANDO O TRABALHO EM SAÚDE A


PARTIR DAS PESQUISAS CIENTÍFICAS
A reflexão acerca da importância das pesquisas na
saúde são significantes para seu crescimento enquanto
ciência, sendo essenciais à melhoria e à valorização das
práticas realizadas nesse campo do conhecimento. Inde-
pendentemente do tipo e natureza das pesquisas, estas
contribuem para a saúde de forma direta, através das te-
rapias, intervenções, diagnósticos e tecnologias que me-
lhoram a qualidade da atenção, de forma indireta, por
meio dos benefícios econômicos resultantes da melhoria
da saúde (BRASIL, 2007).
Entende-se, assim, que é essencial a formulação
de pesquisas capazes de inserir e aproximar a produção
científica aos serviços de saúde, de forma a influenciar e
disseminar nos profissionais uma visão mais ampliada
do ser humano, compreendendo suas singularidades e

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 66


pluralidades, tal como associando sua relação com a co-
letividade, de forma a considerar seus contextos sociais,
culturais, econômicos e espirituais e a inter-relação exis-
tente entre essas dimensões (SALVIANO et al., 2016).
Vencer as barreiras da fragmentação dos conteúdos
na área da saúde se constitui um grande dilema, prin-
cipalmente no que se refere ao alcance dos objetivos de
reconhecimento das necessidades humanas dos clientes.
No entanto, diante de tantas inquietações busca-se ainda
compreender como realizar a reformulação da visão e do
modo de pensar dos profissionais da saúde que os tor-
nem capazes de vislumbrar essas necessidades e propor-
cionar a esses clientes uma assistência mais qualificada.
Ademais, a complexidade se constitui como sendo
uma possibilidade à pesquisa na saúde, considerando
que essa área de conhecimento tem como objeto de es-
tudo o ser humano e a coletividade. Pensar complexo
se relaciona a uma forma de compreender o mundo de
forma integral, vislumbrando uma realidade que con-
sidere as relações existentes entre os seres no universo
e do universo com os seres. Os profissionais da saúde
necessitam compreender a complexidade existente entre
o ser humano e a coletividade, com outras disciplinas e
com o meio ambiente, reconhecendo de forma aberta e
contextualizada, a totalidade da realidade que se apre-
senta (SANTOS, 2003).
As abordagens de incrementação da teoria da com-
plexidade e seus afluentes (pensamento ecossistêmico)

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 67


no cotidiano dos profissionais será possível a transgres-
são da visão fragmentada que não permite reconhecer a
realidade encoberta pelo véu da superficialidade presen-
te na maioria das profissões no âmbito da saúde. Então,
sob esse ponto de vista articulado, insere-se a importân-
cia da figura do trabalho em saúde como mola propulso-
ra dessas práticas integradoras e promotoras de um olhar
mais holístico e invasor da interface da sustentabilidade.
Nesse âmbito, prioriza-se um conjunto de elemen-
tos responsáveis por constituir e estruturar os ecossiste-
mas vigentes, que podem ser essenciais na construção de
redes de cooperação e de interligação que sejam capazes
de otimizar o trabalho e, desta forma, corroborar para a
tomada de decisões que viabilizem ações direcionadas à
sustentabilidade (SANTOS; SIQUEIRA; SILVA, 2009).
Portanto, a adoção de ações ecossistêmicas no fa-
zer cotidiano dos profissionais de saúde tem como foco
a realização de um trabalho voltado para integralidade
do ser humano, evitando, assim, a realização de recortes
e a sua fragmentação, oportunizando ações de caráter
ambiental, ecológicas, físicas, psicológicas, espirituais,
sociais, entre outras, e criando as possibilidades de um
assistência integrativa e inter-relacional capaz de abarcar
as necessidades do cliente como um todo ( ZAMBER-
LAN et al., 2013).
Outrossim, as abordagens ecossistêmicas à saúde
humana promovem e implantam uma pesquisa cientí-
fica integradora, que permite analisar as relações entre

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 68


os vários componentes do ecossistema e definir e avaliar
as propriedades determinantes da saúde e do bem-estar
humano, sendo guiadas pela inter e transdisciplinarida-
de nos processos de pesquisa, envolvendo a comunidade
científica, a sociedade civil e os gestores públicos (LE-
BEL, 2003; WALTNER-TOEWS, 2001; FORGET;
LEBEL, 2001 apud LAWINSKY, 2011).
Torna-se essencial uma reforma no próprio modo
de pensar dos profissionais, capaz de fazer com que o
mesmo seja atrelado e associado ao contexto onde os
seres estão inseridos, de modo a contemplar a comple-
xidade existente dentro da visão ecossistêmica. Assim,
devem-se implementar esses conhecimentos, reduzindo
a distância entre o saber e o fazer e investindo no desen-
volvimento de pesquisas que considerem a complexida-
de existente entre a variedade de fatores que interferem
na prestação da assistência à saúde (BRASIL, 2007).

AS ESSÊNCIAS ADOTADAS
Diante das novas perspectivas na pesquisa, ema-
nadas por intermédio do avanço do pensamento ecos-
sistêmico, outras abordagens se destacaram e aspiraram
algumas de suas características para se fazerem presentes
e angariarem vantagens também à pesquisa em saúde,
dando-lhe um ar analítico mais holístico e sensível às in-
ter-relações do ser com seu ambiente. A exemplo, temos
a etnografia e a pesquisa-ação.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 69


A essência da etnografia
O ser humano constitui-se como sendo um ser so-
cial, produtor de cultura e dotado da capacidade de ex-
pressar opiniões sobre o contexto em que está inserido,
tornando-se imperativo pensar em métodos de pesquisa
que valorizem tal fato. Nesse sentido, entendemos que
torna-se necessário uma revisão nos métodos e técnicas
de pesquisa empregados de forma a permitir que essas
abordagens favoreçam uma reflexão aprofundada e críti-
ca que possa conduzir a uma visão unitária do ser huma-
no, capaz de romper com a visão fragmentada (COSTA;
GUALDA, 2010).
Na área da saúde, a compreensão do processo saú-
de-doença só é possível através da articulação do ser hu-
mano com o contexto social no qual ele está inserido,
levando-se em consideração que esse fenômeno se ca-
racteriza como um processo sociocultural influenciado
pelos significados socialmente construídos. Logo, para
compreensão do processo saúde-doença de forma inte-
gral não podem ser desvinculadas as estruturas sociais
que permeiam as sociedades.
Nas últimas décadas houve um incremento no
campo da saúde de estudos que têm como proposta
um enfoque etnográfico, especialmente no campo da
saúde coletiva, que se caracteriza pela necessidade de
compreender o ser humano em todas as suas dimensões.
Nesse contexto, entende-se que a etnografia se caracteri-
za como uma estratégia rica para a realização de estudos
que se preocupem em analisar os processos e interações

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 70


sociais. Na medida em que possibilita, por todas as suas
características, acessar a complexidade e a singularidade
que constituem as atividades no convívio social (TRAD,
2012; SATO; SOUZA, 2001).
É importante ressaltar que a descrição etnográfica
vai além da percepção exclusivamente visual, tendo em
vista sua capacidade de mobilizar a totalidade da inteli-
gência e da sensibilidade do pesquisador. A etnografia
é um mergulho numa verdadeira aculturação de uma
sociedade. Percebe-se que esse tipo de estudo não consi-
dera somente as evidências exteriores, mas preocupa-se
em conhecer as significações que os próprios indivíduos
expressam através de seus comportamentos (MAIA,
2009).
Partindo desse pressuposto, entendemos que os
estudos etnográficos possibilitam muitas contribuições
aos profissionais da saúde, pois permitem aos mesmos
compreender processo de saúde-doença na ótica dos
usuários dos serviços de saúde (LENARDT, MICHEL,
MELO, 2011).
Por isso, ratifica-se que devido à necessidade de va-
lorização da subjetividade humana e das condições so-
ciais nas quais se desenvolve o fenômeno do cuidado em
saúde, esses estudos possibilitam inúmeros benefícios às
diversas profissões, podendo influenciar, de forma di-
reta, no processo de humanização e na qualidade dos
serviços prestados.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 71


A essência da pesquisa-ação
Em nossas vidas, nos diversos lugares que convi-
vemos, passamos a maior parte do tempo observando
os acontecimentos superficialmente, ou realmente não
prestando atenção. Nosso hábito de facilitar algumas
ações sem exercitar o raciocínio nos impede de descobrir
o real sentido das coisas, das relações e dos fatos. Portan-
to, nosso esforço para descobrir as pequenas diferenças
observando mais de perto, refletindo, pedindo ajuda,
comparando quebra do ciclo vicioso do descaso e apro-
funda-se ao íntimo das conectividades das inter-relações.
A pesquisa-ação assemelha-se a isso, começa com
uma avaliação, leva a um estudo de si mesmo, dos recur-
sos, das pessoas que trabalham em conjunto, do ambien-
te ao redor. Se pensarmos que a pesquisa é basicamente
coleta de informações ou a produção de conhecimento,
estamos enganados e não acompanhamos as perspectivas
atuais. A pesquisa envolve informação e conhecimento,
mas, com mais frequência, é a associação a outras pes-
soas em um ambiente social para compreender melhor
como algo funciona (STAKE, 2011).
A pesquisa-ação possui etapas de desenvolvimento
previsíveis: iniciação, conhecer os outros pesquisadores
e participantes, um período de aprofundamento e inves-
tigação mútua, etapa de fechamento. Pesquisadores-ação
compreendem que o produto não é o processo e que o
processo tem enormes efeitos secundários nos partici-
pantes (OSLEN, 2015).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 72


Nesse cenário, os dados secundários, as novas in-
formações são úteis e enriquecem o processo de pesqui-
sa-ação. Os dados sociais podem ser um processo rico e
vigoroso que critica e refuta hipóteses, avança para novas
alegações, desenvolve uma teoria explicativa e descreve
conflitos onde ninguém antes reconhecera a existência
de um problema (OSLEN, 2015).
Partindo dessa ótica, manter a organização dos
conteúdos com a escrita de memorandos exige minu-
ciosos cuidados e faz-se necessário, também, dar um re-
torno aos envolvidos com o fornecimento de feedbacks,
a distribuição de cartazes, a produção de um vídeo e
a própria redação do estudo. A problemática pode ir
além, pois nesse tipo de abordagem dá-se crédito e au-
toridade às vozes de pessoas comuns, e a confusão da
busca pela causalidade dos fatos propõe diferenças sutis
no tipo e na finalidade dos discursos que, por vezes, os
despersonalizam e, assim, devem ser tratadas com res-
peito e ética.
A pesquisa-ação é também o estudo da ação, quase
sempre com a intenção de conseguir aprimorá-la, mas é
especial por ser realizada pelas pessoas diretamente res-
ponsáveis pela ação, configurando-se como uma abor-
dagem que insere a parte (o eu-ação) nas relações que
modulam o todo (contexto de imersão) e agregam-se no
rol dos modelos que foram salpicados pelas propostas do
pensamento ecossistêmico.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 73


POR UMA PESQUISA MAIS HOLÍSTICA: MO-
DELO MATRIZ FPEEEA
O advento do paradigma da promoção da saúde
trouxe consigo uma descrição ampliada do conceito saú-
de a intercalando com diversas dimensões que perpas-
sam a existência e a vida do ser humano. Nesse sentido,
a perspectiva holística dessas inter-relações ganha forças
nas ideias sobre o pensamento ecossistêmico e a neces-
sidade de uma visão mais integral das situações sociais e
seus contextos ambientais, corroborando ao conexo de
iminências sobre a temática e das carências que precisam
de ampliadas discussões.
Então, a monitoração dos possíveis agravos à saúde
decorrentes das constantes e intensas mudanças sociais
econômicas e ambientais aflora como pontos a serem
tratados, pois vivenciam a combinação entre diferentes
condições físicas, químicas, biológicas, sociais, culturais
e econômicas que se divergem quanto ao horário do dia,
à atividade de trabalho exercida, à estação, à infraestru-
tura e à localização geográfica, compondo uma complexa
relação entre a saúde humana, o meio ambiente e o tra-
balho (ARAÚJO-PINTO; PERES; MOREIRA, 2012).
Os indicadores de saúde ambiental representam
um meio para atender às necessidades de melhoria e pre-
cisão no quadro holístico informacional, pois represen-
tam mais do que os dados brutos, fornecendo um meio
de dar o valor agregado de dados convertendo-os em
informações de uso direto para o tomador de decisão.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 74


Assim, um indicador de saúde ambiental pode ser visto
como uma medida que resume algum aspecto da relação
entre meio ambiente e saúde (CORVALÁN; BRIGGS;
KJELLSTROM, 1996).
Nessa ótica, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) desenvolveu e vem apoiando a aplicação de uma
estrutura para descrever e analisar os diferentes aspectos
envolvidos nessa complexa relação – além da necessida-
de de propor ações e indicadores de Saúde Pública espe-
cífica para cada passo. Essa estrutura recebeu o nome de
quadro de FPEEEA (ARAÚJO-PINTO; PERES; MO-
REIRA, 2012).
Esses modelos oferecem ao governo e à sociedade a
compreensão de determinações de riscos, contribuindo
como ferramenta importante na tomada de decisão, de-
finição de políticas e estratégias intersetoriais, estratégias
de prevenção e controle dos riscos, promoção da saúde.
São instrumentos importantes, não apenas para embasar
as decisões no âmbito do setor saúde, como também nos
demais setores de políticas públicas (OLIVEIRA; FA-
RIA, 2008).
A Matriz FPEEEA (Figura 1) permite uma com-
preensão integrada e abrangente de como “forças mo-
trizes”, geradas por processos de desenvolvimento,
resultam em “pressões” associadas ao uso intensivo de
determinados recursos naturais, que contribuem para a
geração de “situações/estados” (ambiente contaminado
ou deteriorado) que, caso ocorra “exposição” humana,

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 75


podem causar “efeitos” na saúde. Para cada uma dessas
categorias e situação local específica, são construídos in-
dicadores e propostas ações, em um procedimento que
favorece uma compreensão mais integral do problema
e a visualização das decisões a tomar, em cada nível de
complexidade do modelo (OLIVEIRA; FARIA, 2008).

Figura 1 – Modelo FPEEEA

Fonte: BRASIL, 2011

Ao considerar a saúde como valor social, o modelo


agrega o conhecimento da sociedade acerca do proble-
ma, relevando, com isso, o saber e as experiências dos
mesmos e buscando conduzir a saúde, a proteção e a
promoção de mudanças, bem como facilitar a tomada
de decisões (BRASIL, 2011).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 76


Então, podem-se tomar ações em cada passo da
matriz, e a definição de indicadores é realizada em todos
os níveis da estrutura. Em curto prazo, as ações foca-
lizam os efeitos na saúde, e em longo prazo são mais
eficazes, buscando a eliminação ou redução dos efeitos
das forças motrizes ou das pressões que produzem os pe-
rigos. As intervenções no nível das forças motrizes, fre-
quentemente, possuem implicações múltiplas, porque
grandes forças motrizes exercem influência por meio de
vários caminhos causais (QUINTINO, 2009).
A estrutura se denomina complexa, porém é de fá-
cil entendimento desde que se tenha acurácia nos cami-
nhos da observação, da análise, da reflexão e das ações
a serem adotadas e efetuadas aos diferentes atores do
processo, sendo utilizada para identificar diferentes “re-
des de conexões” ou “caminhos”, segundo os interesses
e necessidades de seus usuários, através do qual permite
uma eficiência na análise de tais problemas em compara-
ção a outros modelos de causa-efeito, pois proporciona a
compreensão dos processos de forma não lineares graças
às suas inúmeras interações estabelecidas (ARAÚJO-
-PINTO; PERES; MOREIRA, 2012).

A TÍTULO DE CONCLUSÃO
Digamos que quanto à estética, o pensamento
ecossistêmico intervém às novas abordagens metodoló-
gicas da pesquisa, com a observação mais sensível, uma

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 77


reflexão contextual e holística das situações. Os sentidos
do ser imerso, dominado e dominante de seu ambiente,
que tanto move quanto é movido dentro da engrenagem
da vida, as conexões que ele faz para se fazer sentir e
tornar-se sensível com seu meio social-econômico-cul-
tural-ambiental, afloram as perspectivas filosóficas.
Ademais, ressaltamos que essas reflexões não pos-
suem o intuito de esgotar a necessidade de discussão que
emerge frente à temática, considerando a dimensão dos
assuntos discutidos, bem como suas implicações. Assim,
aponta-se a primordialidade de manter diálogos que es-
timulem a formação de profissionais mais reflexivos e
dedicados a tecer pesquisas, que reverberam ações práti-
cas, ancoradas nos conceitos epistemológicos proceden-
tes de teorias sistêmicas.

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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 80


SATISFAÇÃO NO TRABALHO E
SUSTENTABILIDADE

Liana de Andrade Esmeraldo Pereira


Mirna Fontenele de Oliveira
Cícera Aldevania Pereira de Oliveira
Suzana Kramer de Mesquita Oliveira
Simone Maia Pimenta Martins Ayres

INTRODUÇÃO
As transformações vividas pela humanidade ao lon-
go dos anos, sejam nas relações interpessoais ou nas rela-
ções homem e natureza, refletiram na capacidade de su-
prir as necessidades humanas e de resiliência do ambiente.
Ao mesmo tempo em que se descreve o momento
atual como tendo alcançado o progresso nas ciências e
tecnologias, aumento da longevidade e diminuição da
mortalidade, vivencia-se uma crise ambiental que amea-
ça a própria vida do planeta (BURSZTYN e PERSEGO-
NA, 2008). E isso se deve, em parte, pelas alterações ge-
radas pela globalização, como a migração de grande par-
cela da população para a área urbana nas últimas décadas,
e a exploração sem compromisso do meio ambiente.
No contexto deste progresso, muitas vezes o ho-
mem se posiciona como espectador, dada a omissão so-
cial a qual veio assumindo, a quem nada pode acontecer,

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 81


experimentando uma emoção estética, sem a compreen-
são dos fatos passados, significados e conexões com o
presente e, portanto, sem compromisso com o futuro
(ROSSI, 2000).
Esta sociedade progressista, revolucionária, indus-
trializada, tecnológica, na busca do aumento da produ-
tividade, encurtou o tempo social, contribuiu para o
adoecimento do trabalhador, ao mesmo tempo em que
acelerou a degradação do meio ambiente e o consumo
de meios não renováveis. Na dinâmica das relações do
homem com seu meio e com seu trabalho, sua subje-
tividade, identidade e conscientização são modificadas,
muitas vezes gerando ruptura do equilíbrio intra-indi-
víduo ou entre o indivíduo e o cosmos (SPINK, 2003).
Na expropriação do homem do produto do seu tra-
balho e na exclusão vivida nas relações sociais, criam-se
desigualdades sociais que podem ser injustas e evitáveis,
transforma-se a sociabilidade e restringe-se o encontro.
Geram-se, muitas vezes, iniquidades, como o adoeci-
mento social, que também é físico, mental, político e
cultural, na medida em que o homem não se reconhece
como pertencente a determinado ambiente, prejudican-
do sua vinculação, identificação e apropriação.
O ritmo alucinante do trabalho, as exigências in-
tangíveis, a banalização do sofrimento psíquico são
riscos tangíveis que se refletem muitas vezes em conse-
quências invisíveis. Os danos orgânicos e psíquicos estão
entrelaçados. Até a década de 40 não havia estudos que

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 82


revelassem que fatores sociais e emocionais eram inter-
venientes na Qualidade de Vida no trabalho (MAYO,
1945).
A partir de então, reconhece-se a importância da
valorização do indivíduo e, portanto, de investir em
práticas que gerem satisfação, motivação e comprome-
timento com o trabalho.
A variável satisfação no trabalho é “o conjunto de
sentimentos que uma pessoa possui em relação ao seu
trabalho” (ROBBINS, 2005, p.23). Essa atitude tem
reflexos no absenteísmo e rotatividade, demonstrando
a importância de que as organizações invistam em traba-
lhos estimulantes e gratificantes.
A questão da saúde do trabalhador perpassa tanto
aspectos fisiológicos, como psicológicos e socioeconô-
micos. Diante da sociedade pós-moderna individualis-
ta, onde o tempo, espaço e trabalho são vivenciados de
forma diferente, como pensar no futuro, se não se tem
expectativa, esperança, onde só existe o presente? Falar
e desenvolver uma cultura de sustentabilidades nas or-
ganizações requer adaptabilidade e estratégia de valores
que considerem o desenvolvimento sustentável como
um valor a ser perseguido e alcançado.
Diante deste contexto, este trabalho se propõe a
discutir a relação Trabalho, Saúde e Sustentabilidade na
Educação, articulando, inicialmente, questões contem-
porâneas com as relações de trabalho em geral; em se-
guida, discute a saúde do trabalhador, circunscrevendo

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 83


as relações de trabalho ao contexto acadêmico; e, por
fim, relaciona saúde e sustentabilidade na educação,
apontando para alguns elementos de cuidado com os
atores-trabalhadores do campo acadêmico através de um
estudo realizado para identificar os fatores que geram
satisfação no trabalho. A pesquisa foi desenvolvida por
amostragem com alguns servidores (26) da Universidade
Federal do Cariri – UFCA, no Campus Barbalha através
da aplicação da escala de satisfação com o trabalho que
exerciam. Foi entregue um questionário a cada servidor
para que pudessem responder sobre o quanto se sentiam
satisfeitos com sua atividade laboral. O questionário ti-
nha vinte e cinco (25) perguntas. A opção de resposta
era uma escala que variou de 1 a 7, sendo 1 (totalmente
insatisfeito) e 7(totalmente satisfeito). No quadro 1 es-
tão descritas as questões da escala de satisfação no traba-
lho e as médias obtidas.

Quadro 1- Média de satisfação no trabalho de funcionários de uma Universida-


de Federal (2014), Barbalha-Ceará
Média de satisfação
Variáveis de satisfação no Trabalho
(variação de 1 a 7)
Espírito de colaboração entre os colegas de trabalho 5,3
O modo com o chefe organiza o trabalho no setor 5,1
Números de vezes que foi promovido 4,3
Garantias que a empresa oferece para promoção 3,9
Salário comparado com o nível de trabalho exercido 3,7
Amizade no ambiente de trabalho 5,4
O interesse que minhas atividades despertam 5,3

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 84


Média de satisfação
Variáveis de satisfação no Trabalho
(variação de 1 a 7)
Comparação do meu salário com minha capacidade 3,8
profissional
Interesse do meu chefe pelo meu trabalho 4,8
A maneira como a empresa realiza promoções de seu 3,3
pessoal
Como o meu trabalho me absorve 4,0
O meu salário comparado ao custo de vida 3,0
Oportunidade de fazer o trabalho 4,9
Relacionamento interpessoal no trabalho 5,7
A quantia que recebo no final do mês 3,5
Oportunidade de ser promovido 3,7
Amigos entre os colegas de trabalho 5,0
Preocupações pelo meu trabalho 4,0
Entendimento com o meu chefe 5,3
O tempo de espera por uma promoção 3,8
Salário comparado com meu esforço no trabalho 3,6
A maneira como meu chefe me trata 5,5
Variedade de tarefas que realizo 4,8
Confiança em meus colegas de trabalho 5,0
Capacidade profissional do meu chefe 5,3
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

As perguntas do questionário foram distribuídas


em cinco categorias temáticas, de acordo com a conver-
gência entre elas, resultando na seguinte classificação: 1.
Relacionamentos interpessoais no ambiente de trabalho
(média total obtida: 5,28); 2. Crescimento profissio-
nal (média total obtida: 4,0); 3. Benefícios financeiros
(média total obtida: 3,5); 4. Motivação com a ativida-
de laboral (média total obtida: 4,5); e 5. Chefia (média
total obtida: 5,22). Nota-se que o mais baixo grau de

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 85


satisfação esteve relacionado a benefícios financeiros, ao
passo que o mais alto nível de satisfação direcionou-se
a relacionamentos interpessoais no ambiente de traba-
lho, o que nos mostra a importância de refletir acerca de
clima organizacional, e como este pode influenciar na
saúde do trabalhador.

1 CLIMA ORGANIZACIONAL E SAÚDE DO TRA-


BALHADOR
O Brasil tem vivenciado, nas últimas décadas, um
complexo processo de reformas em sua estrutura, trans-
formações tecnológicas, culturais, científicas, sociais e
político-institucionais, decorrentes da nova ordem eco-
nômica mundial. É perceptível que o modelo buro-
crático já não atende às demandas impostas pelo novo
cenário, sendo necessário reorganizar a administração
pública, uma vez que as práticas de gestão ainda são ba-
lizadas por uma visão cartorial e burocrática (PINHEI-
RO, 2000). Trata-se de um cenário que suscita o de-
senvolvimento do compromisso dos servidores públicos
com a construção de uma sociedade mais preparada para
enfrentar as novas demandas, com o objetivo de tornar
os serviços públicos mais eficientes.
Ainda, o modelo de gestão proposto para ser apli-
cado na “era gerencial” da administração pública, deve
reconhecer, na força de trabalho, um dos maiores recur-
sos organizacionais. Assim, identificar a percepção que

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 86


os servidores têm sobre o ambiente de trabalho, passa a
ser fundamental às organizações, em especial para as que
compreendem que o trabalhador satisfeito é imprescin-
dível ao alcance da eficácia e da eficiência administrativa
(TEIXEIRA, FRANÇA, 2013).
A satisfação com o trabalho envolve os conceitos
de resultado, tratamento e procedimentos justos (TA-
VARES, CRUZ, 2016). Em concordância com Robbins
(2002, p. 75), a satisfação no trabalho é “(...) um estado
emocional agradável que resulta da percepção de que o
trabalho ajuda a pessoa a atingir resultados valorizados”.
Segundo o autor, colaboram para essa sensação de bem-
-estar a interação com os colegas e chefes, as condições
que apoiam o cumprimento das tarefas, assim como a
percepção de estar envolvido na elaboração das metas
setoriais. De acordo com Brown & Huning (2010), a
satisfação no trabalho pode ser definida como o prazer
que os funcionários experimentam na realização de seu
trabalho.
Dessa forma, depreende-se que a mensuração da
satisfação e/ou insatisfação do servidor torna-se uma ta-
refa complexa, uma vez que envolve muitos aspectos,
tais como a convivência do indivíduo dentro da orga-
nização, as relações interpessoais, o respeito às normas
e regras, o reconhecimento pela chefia, a aceitação dos
padrões de trabalho, as recompensas, entre outros. Para
Davis & Newstrom (1992), a satisfação no trabalho
envolve sentimentos favoráveis ou desfavoráveis, depen-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 87


dendo da visão que os colaboradores possuem do seu
trabalho, sendo, portanto, um sentimento relativo. Ro-
bbins (2005), afirma que o interesse das chefias quanto à
satisfação no trabalho costuma ser centralizado nos seus
efeitos sobre o desempenho dos funcionários.
Nesse contexto, um dos fatores que deve ser repen-
sado é a conscientização dos dirigentes das organizações,
quanto à necessidade de desenvolvimento de métodos
e técnicas de melhoria contínua do ambiente de traba-
lho, de forma a proporcionar um clima organizacional
favorável aos servidores, pois um trabalho de desenvolvi-
mento do clima organizacional influencia de forma sig-
nificativa e efetiva o comprometimento e o engajamento
dos colaboradores nas organizações (EWIS, 2015).
Luz (2003) entende que o clima organizacional é o
reflexo do grau de satisfação dos colaboradores de uma
organização, em um dado período. A eficiência da orga-
nização pode ser aumentada por meio da criação de um
clima organizacional que satisfaça as necessidades dos
colaboradores e, ao mesmo tempo, canalize esse com-
portamento na direção dos objetivos da organização. Já
Siqueira (2008), ressalta que o clima organizacional é
importante para compreender o ambiente de trabalho e
como o mesmo está relacionado ao comportamento das
pessoas, assim como sua qualidade de vida e o reflexo
que isso terá no desempenho das organizações.
O estudo do clima organizacional apresenta indi-
cadores do que possivelmente está insatisfatório ou satis-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 88


fatório e que são apresentados por meio de variáveis e/ou
propriedades organizacionais, que não são definidas de
forma única, haja vista a complexidade envolvida, não
existe uma definição “universal” das categorias a serem
investigadas no clima organizacional. Ao longo das últi-
mas décadas, muitos autores desenvolveram e validaram
modelos de pesquisa de clima organizacional, conforme
alguns exemplos apresentados no Quadro 2.
Conforme exposto no Quadro 2, são diversas as
dimensões pelas quais pode-se estudar o clima organi-
zacional. Percebe-se que os instrumentos desenvolvidos
para mensurar o clima organizacional apresentam dife-
rentes variáveis, que foram criadas com a finalidade de
avaliar seus respectivos construtos. Além dos exemplos
citados, existem vários outros modelos na literatura
acadêmica. Alguns modelos foram desenvolvidos para
órgãos específicos, outros, podem ser aplicados mais ge-
nericamente pelas organizações, a exemplo dos modelos
de Sbragia (1983) e Kolb (1986).

Quadro 2 - Autores X Indicadores de Pesquisa de Clima organizacional


AUTOR (MO-
INDICADORES PROPOSTOS
DELO)
LIKERT Liderança – Comunicação – Tomada de decisão –
(1961) Objetivos – Interação-Influência – Controle
SCHNEIDER Apoio gerencial – Conflito interno – Estrutura ge-
E BARTLETT rencial – Interesse por novos empregados – Inde-
(1968, 1970) pendência do agente de seguros – Satisfação geral

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 89


AUTOR (MO-
INDICADORES PROPOSTOS
DELO)
LITWIN E Estrutura e normas – Padrões e responsabilidade
STRINGER –Recompensa e punição – Risco e envolvimento –
(1966) Cordialidade e apoio – Cooperação e conflito
Estado de Tensão – Ênfase na Participação – Proxi-
midade da Supervisão – Consideração Humana –
Autonomia Presente –Prestígio Obtido – Tolerân-
SBRAGIA
cia Existente – Clareza Percebida - Justiça Predomi-
(1983)
nante – Condições de Progresso – Apoio Logístico
Proporcionado – Reconhecimento Proporcionado
– Forma de Controle.
Conformismo – Responsabilidade – Padrões – Re-
KOLB (1986) compensas – Clareza organizacional – Apoio e ca-
lor humano – Liderança
Fatores internos de influência: Ambiente de tra-
balho – Assistência aos funcionários – Burocracia
– Cultura organizacional – Estrutura organizacio-
nal – Nível sociocultural – Incentivos profissionais
– Remuneração – Segurança profissional – Vida
BISPO (2006)
profissional.
Fatores externos de influência: Convivência fa-
miliar – Férias e lazer – Investimentos e despesas
familiares – Saúde – Segurança Pública – Situação
financeira – Time de futebol – vida social.
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

O modelo elaborado por Rizzatti (2002), avaliou


o clima organizacional nas universidades federais do
Sul do Brasil e trouxe como contribuições dados im-
portantes para a reavaliação e reestruturação de diversos
aspectos organizacionais como: políticas e estratégias de
recursos humanos, política de assistência e benefícios,
estrutura organizacional, tecnologias educacionais, esti-
los de liderança, capacitação profissional, planejamento

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 90


institucional, processo decisório, comunicação, confli-
tos de interesse, avaliação institucional, qualidade do en-
sino e autonomia universitária, entre outros. Trata-se,
portanto, de um modelo adequado para o levantamento
do clima organizacional em universidades públicas, mas
não pode ser aplicado genericamente nas empresas, pois
foi adaptado a um tipo específico de organização pública
(BISPO, 2006).
Independente da multiplicidade de posicionamen-
tos de diferentes autores, grande parte dos pesquisadores
acede que a percepção de clima organizacional reflete
o significado que as pessoas atribuem ao seu ambiente
de trabalho e como eles interpretam os acontecimentos
organizacionais (NASCIMENTO, CANDATTEN,
MACIEL, 2004). Para que as organizações se desenvol-
vam e possibilitem a melhoria na qualidade de vida no
trabalho, é fundamental conhecer as pessoas e as equipes
de trabalho, por meio do seu grau de satisfação, suas ne-
cessidades e expectativas, o que esperam e o que necessi-
tam (SIQUEIRA, 2008). Investir na promoção de ações
que valorizem os colaboradores em sua integralidade,
certamente promoverão melhor integração entre a orga-
nização e o servidor, o que impactará significativamente
na motivação e satisfação individual, gerando melhor
desempenho e consequente alcance dos objetivos orga-
nizacionais, o que levará à construção de uma sociedade
mais preparada para enfrentar as novas demandas, com
o objetivo de tornar os serviços públicos mais eficientes.
Sem dúvida, uma verdadeira relação ganha-ganha!

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 91


Diversos estudos têm apontado a situação de estresse
no trabalho por parte de docentes na educação em geral.
Campos (2011), da Universidade Federal do Pará, por
exemplo, avalia, no contexto da crise trabalho e estado, as
tensões da educação superior, ressaltando os adoecimen-
tos mentais em docentes, e analisando as suas implicações
na ordem das relações sociais que se estabelece no contex-
to acadêmico. Citando Dejours (2008), mostra que
[...] para libertar-se, ainda que de maneira imperfei-
ta, do peso das relações sociais, o sujeito faz uso, e
de forma privilegiada, do trabalho como mediador e
forma de subversão. Pela maneira como ele assume as
dificuldades que o trabalho lhe causa, o indivíduo, às
vezes, chega a subverter a ordem das relações sociais
para introduzir “a sua marca”, a sua contribuição
pessoal, lutando desta forma para o reconhecimento
de sua identidade no campo social [...] (DEJOURS,
2008, p. 196, apud CAMPOS, 2001, p. 90).

Por outro lado, para ampliar o olhar sobre os pro-


cessos de saúde e adoecimento no contexto acadêmico,
é fundamental entender a experiência docente como um
desafio contemporâneo, que precisa ser refletido à luz de
perspectivas inovadoras, como a sustentabilidade.

2 SUSTENTABILIDADE E SAÚDE
O desenvolvimento sustentável da sociedade tem
por objeto principal a preservação e disponibilização dos
seus recursos voltados para a melhoria da qualidade da

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 92


vida humana, sem detrimento das gerações posteriores.
O meio ambiente do trabalho equilibrado, inserido nes-
se contexto, é direito constitucional de todos os cidadãos
brasileiros, para uma qualidade de vida saudável.
A ideia de um ambiente de trabalho saudável é fa-
tor essencial para a qualidade de vida do trabalhador,
do ponto de vista físico e psíquico. Além do que um
ambiente de trabalho seguro e sadio é um cenário pro-
pício para que os empregados possam alcançar as metas
estabelecidas pelas empresas, além da melhoria do clima
organizacional.
O trabalhador se relaciona com a satisfação em
desenvolver sua carreira e vida pessoal através do am-
biente profissional. É sempre importante enfatizar que a
qualidade de vida nas empresas impacta no desempe-
nho dos funcionários. Qualidade de vida e bem-estar
também são benefícios almejados pelo desenvolvimento
sustentável e para que possa ser alcançado, necessita ser
incorporado como prática na cultura das organizações.
Atualmente, no mundo globalizado e tecnológico
em que vivemos, o consumismo toma conta da vida hu-
mana, tudo é voltado para o trabalho, instrumento de
produção de riquezas que será usado para a continuação
do ciclo de perpetuação do capitalismo e manutenção
desse sistema alienador que passa despercebido da classe
trabalhadora, cuja vida está atrelada ao tempo do traba-
lho, gerando, muitas vezes, o adoecimento do trabalha-
dor. E as relações adoecidas perpetuam intolerância em

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 93


todos os sentidos, pois não temos tempo para escutar o
outro; vivemos a aceleração do movimento da vida onde
tudo tem que ser para ontem e, apesar da tecnologia,
continuamos no mesmo ritmo frenético e alucinante.
Não esperamos o timing da própria natureza.
Para refletir sobre saúde e trabalho na educação,
apresentaremos os dados da pesquisa realizada na Uni-
versidade Federal do Cariri, com 22 servidores do Cam-
pus de Barbalha, Ceará. O questionário fazia menção à
importância da qualidade de vida no trabalho e conti-
nha quatro perguntas sobre fatores importantes para ad-
quirir ou continuar com uma qualidade de vida eficaz,
tais como: riscos/doenças mais comuns ao seu ambiente
de trabalho; Como prevenir/evitar esses riscos/doenças
ocupacionais?; Demandas para ter um ambiente de tra-
balho melhor; e Sugestões.
Sobre os riscos/doenças mais comuns ao seu am-
biente de trabalho foram citadas doenças virais, alergias,
dor de cabeça, lesão por esforço repetido, problemas
oftalmológicos, exposição solar, contato com produtos
químicos e picadas de insetos.
Em relação a prevenir/evitar esses riscos/doenças
foram mencionadas a manutenção do ambiente seguro,
atividade física laboral, mobiliário adequado, realização
intervalos periódicos, maior número de funcionários, e
reforma da infraestrutura.
As necessidades apontadas para termos um am-
biente de trabalho melhor e com mais qualidade de vida

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 94


para os servidores foram: bons relacionamentos entre os
colegas de trabalho, projetos relacionados a assistência e
saúde do servidor.
As sugestões mais mencionadas foram sala de en-
tretenimento, capacitações, iluminação dos espaços, ar-
borização, acessórios que previnam ou amenizem a L. E.
R. (Lesão por Esforço Repetido).

CONCLUSÃO
Conclui-se que as questões referentes à saúde e à
qualidade de vida nas instituições de trabalho precisam
ser revistas, os cenários de trabalho precisam ser revisi-
tados e o modo de fazer cotidiano precisa ser reavaliado,
no sentido de otimizar tempo, recurso e motivação hu-
mana. Acredita-se que não exista um manual pronto,
mas que as ações de melhoria precisam ser implemen-
tadas e otimizadas continuamente, no sentido de pro-
mover satisfação no trabalho e um ambiente de saúde e
qualidade de vida para as pessoas envolvidas.

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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 97


SAÚDE MENTAL E SUSTENTABILIDADE
NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO:
DESAFIOS E PROPOSIÇÕES

Liana de Andrade Esmeraldo Pereira


Yane Ferreira Machado
Cicera Mônica da Silva Sousa Martins
Moema Alves Macêdo

INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, um novo tema tem perpas-
sado as discussões acadêmicas, reflexo dos alertas glo-
bais como as mudanças climáticas, escassez energética
e problemas de controle do crescimento demográfico.
Aliado a estas dimensões que conectam o homem com
a natureza, discute-se o papel da educação na busca pelo
desenvolvimento sustentável, onde se possa conectar os
homens entre si, na disseminação de valores e de uma
cultura que incentive a mudança de estilo de vida.
Conforme destaca Morin (2011), a educação tem
a função de prover valores, atitudes e comportamentos
que confrontem os desafios como pobreza, desigualdade
e violência. Esta nova mentalidade é um desafio para as
universidades, atualmente engessadas em metodologias
e práticas arcaicas que enrijecem as relações de recipro-
cidade, ou melhor, muitas vezes somente há espaço para
trocas objetivas, reprimindo-se a vinculação socioafeti-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 98


va, tão importante quanto a anterior e, portanto, geran-
do adoecimento (SABOURIN, 2011a).
O desenvolvimento de um novo modelo de pensar
requer uma desconstrução e reconstrução sociopolítica
que se fundamente em políticas de ações que incorpo-
rem o que a ciência diz, ao mesmo tempo em que se
constrói uma nova teoria. Diante de uma universidade
segmentada em diversas ciências, trabalhar o meio am-
biente e a qualidade de vida, em uma perspectiva in-
terdisciplinar e, ao mesmo tempo, gerando discussões
transdisciplinares é um grande desafio. (MORIN,2011;
BURSZTYN, 2001).
A universidade, enquanto ambiente de formação
e de desenvolvimento da sociedade, influencia o com-
portamento da coletividade. As interações, conexões e
atitudes de seus atores precisam ser compatíveis com as
exigências de um mundo sustentável. O Desenvolvi-
mento Sustentável, conceito ainda em construção, pre-
cisa dialogar de forma interdisciplinar, interinstitucional
e intergeracional. Superar, portanto, as dificuldades de
diálogo entre as disciplinas na academia e de conexão do
mundo acadêmico com o real.
Nessa perspectiva, o diálogo sobre sustentabilidade
precisa versar sobre as dimensões político-econômicas e
também socioafetivas. Dados divulgados pela mídia re-
velam o aumento de transtornos mentais na universidade
(CAMBRICOLI; TOLEDO, 2017). Essas informações
são corroboradas nos encontros anuais dos setores de as-
sistência estudantil das universidades federais, Fórum Na-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 99


cional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estu-
dantis (FONAPRACE) em que se discute a problemática
da saúde mental com agravos como tentativas de suicídio.
Este trabalho, portanto, busca refletir sobre a rea-
lidade da saúde mental na universidade e possíveis des-
dobramentos de forma a incorporar esta temática nas
discussões sobre sustentabilidade; e legitimar ações e
regulações, ancoradas em políticas, que integrem poder
público e sociedade civil na produção de conhecimentos
e práticas ambientalmente mais sustentáveis. Introduzi-
remos nossa discussão, apresentando a política pública
e sua atuação na saúde e sustentabilidade; em seguida,
discutiremos esses conceitos à luz da Psicologia Social e
Saúde; e finalizaremos refletindo sobre o sujeito inseri-
do no ambiente universitário, apresentando o perfil dos
estudantes acompanhados na UFCA. Trata-se, portanto,
de um estudo de caso, utilizando-se de pesquisa docu-
mental, de natureza exploratória, do tipo quantitativo.

1 POLÍTICA, SAÚDE MENTAL E SUSTENTABI-


LIDADE
A Política Nacional de Assistência Estudantil
(PNAES), no âmbito do MEC, criada em 2008, tem
como finalidade ampliar as condições de permanência
dos jovens no ensino superior público federal através do
decreto 7.234 de 19/07/2010, oferecendo assistência em
algumas áreas e, dentre elas, a saúde. Na Universidade

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 100


Federal do Cariri (UFCA), criada em 2013, os progra-
mas de assistência estudantil sempre foram considerados
importantes aliados estratégicos na garantia da perma-
nência e combate à evasão. Anualmente, discute-se e
implementam-se novas metodologias para o alcance de
condições mais igualitárias para os estudantes de forma
a promover a inclusão social e os direitos de cidadão.
A terminologia de política e de políticas públicas
remete a poder social, entretanto, enquanto a primei-
ra refere-se ao poder de um modo geral, a segunda faz
referência ao manejo dos assuntos públicos, sendo a ex-
pectativa de que a política pública tenha foco no bem
comum, ou seja, eticamente esteja direcionada ao desen-
volvimento sustentável, ao atendimento das demandas
sociais da população e à melhoria das condições de vida.
Por bem comum, entende-se um conjunto de condições
sociais capazes de promover o desenvolvimento integral
de todos os seres humanos da comunidade. Assim, cabe
ao Estado criar mecanismos utilizando recursos, muitas
vezes escassos, que amenizem as desigualdades sociais
resultantes do próprio modo de produção capitalista.
Mesmo sendo essa função do Estado, salienta-se que as
decisões tomadas são resultantes da articulação dos di-
versos atores sociais dispostos nos diferentes grupos so-
ciais e nas suas representatividades políticas, o que Lowi
(1964, 1972) nomeou de arenas decisórias, pois cada
decisão agrega em si apoios e vetos de grupos específicos
(DIAS; MATOS, 2012; HOCHMAN, ARRETCHE;
MARQUES, 2007; SILVA; SOUZA-LIMA, 2010).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 101


Disso resulta que os atores sociais com maior poder
mobilizador para o Governo, conseguem levar as suas
pautas para a agenda governamental as quais se firmam
em Leis, decretos e portarias que regulamentam a ação
do Estado no âmbito das instituições e das relações civis
e definem as prioridades e metas das políticas públicas
em cada contexto histórico.
De acordo com Dias e Matos (2012) as políticas
públicas receberam diferentes classificações, a saber:
conforme as arenas decisórias tipificam-se em regulató-
rias, constitutivas, distributivas e redistributivas; quanto
à finalidade agrupam-se em preventivas, compensatórias
e sociais stricto sensu; em relação ao alcance das ações
distribuem-se em focalizadas ou universalistas.
Em se tratando da finalidade, as políticas públicas
sociais preventivas visam prevenir a existência de pro-
blemas sociais, a exemplo da saúde pública, enquanto
as compensatórias visam remediar problemas inerentes à
ineficiência das políticas preventivas, mas como não resol-
vem a causa do problema tendem a ter pouco impacto. Já
as sociais stricto sensu visam à redistribuição de renda e de
benefícios sociais de modo a diminuir as desigualdades.
No que concerne ao alcance das ações, as univer-
salistas se direcionam a todos que compõem a comu-
nidade indistintamente. Já as focalizadas se destinam
a grupos definidos pelas necessidades específicas, com
vistas a equidade.
Em relação às arenas propostas por Lowi em 1964 e
1972, as regulatórias estabelecem padrões de comporta-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 102


mento, de regulamentação e controle, tais como o códi-
go de trânsito e de defesa do consumidor. As constituti-
vas ou políticas estruturadoras estabelecem as regras para
que as outras políticas sejam propostas e selecionadas,
tais como a distribuição de competências entre as esferas
do governo. As distributivas são aquelas financiadas pelo
conjunto da sociedade, mas geram benefícios a grupos
individualizados, tais como renúncias fiscais. Por fim,
as redistributivas criam mecanismos de diminuição das
desigualdades por meio de redistribuição de finanças,
direitos e outros benefícios entre os grupos sociais, tais
como programas de seguro desemprego e previdência.
Assim, considerando as definições de Dias e Ma-
tos (2012) e as características da Política Nacional de
Assistência Estudantil, pode-se classificá-la em: política
pública social stricto sensu, focalizada e redistributiva.

2 SAÚDE E SUSTENTABILIDADE: PERSPECTI-


VAS ADVINDAS DA PSICOLOGIA SOCIAL E DA
SAÚDE
O conceito de Desenvolvimento Sustentável surge
a partir de inquietações de estudiosos, ambientalistas e
integrantes de grandes cúpulas de discussão na década
de 1990. Sachs (2002) afirma que este modelo desenvol-
vimentista tem uma perspectiva endógena, levando em
consideração as potencialidades locais, é autossuficiente,
pois não está presa ao modelo econômico vigente, e orien-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 103


tado para necessidades locais, onde os recursos naturais e
humanos são utilizados de forma racional e harmônica.
O mesmo autor afirma que para entender como se
dá esse processo é preciso entender as cinco dimensões
inerentes a ele: sustentabilidade social, que diz respeito
à visão de um modelo pautado em ações que objetivem
promover a redução da desigualdade econômica e social
na população; econômica, que se refere ao gerenciamen-
to de recursos sob uma perspectiva macroeconômica;
ecológica, que trata da utilização consciente dos recursos
naturais; espacial, que elucida a importância do equilí-
brio entre a distribuição territorial entre espaços rurais e
urbanos; e cultural, que foca na produção de mudanças
estruturais no ato de pensar desenvolvimento, trazendo
a importância de valorizar este processo sob um enfoque
sustentável (SACHS, 1993).
Chacon (2007) observa que para que sejam efeti-
vadas estratégias pautadas no desenvolvimento sustentá-
vel, é necessário superar a visão impregnada na socieda-
de, onde o consumismo desenfreado e a falsa noção de
progresso comandam os modos de vida da população,
e a partir disto promover ações onde o sujeito entenda
como corresponsável da manutenção da sua espécie na
Terra, promovendo ações que visem o bem-estar inte-
gral, não só da população humana, como também de
todos que compõem o bioma onde vivem.
Trazendo tais princípios para a atuação no campo
das ciências da saúde, pode-se considerar a dimensão saú-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 104


de é deveras importante para ser levada em conta quando
se fala em práticas sustentáveis, partindo do entendimen-
to das mesmas como estado resultante da interação entre
fatores biológicos, sociais e psicológicos inseridos em de-
terminado contexto histórico (BRASIL, 2011).
O contexto atual do padrão de saúde, diretamente
relacionado ao modelo de crescimento econômico pre-
datório existente, demonstra a necessidade de se pen-
sar em práticas de saúde que possuam um olhar para
além da perspectiva clássica saúde-doença. É visto um
aumento significativo de doenças relacionadas a relações
de trabalho precárias, doenças ocasionadas de problemas
de ordem ambiental, como a falta de saneamento básico,
exposição a substâncias tóxicas, seja por meio de alimen-
tos contaminados por agrotóxico ou por contato com
produtos contaminados e, em especial, adoecimentos de
ordem psicológica, como o estresse, a depressão, entre
outros (BRASIL, 2011).
Para compreensão da importância de se compreen-
der o contexto sócio-histórico nas práticas em saúde, é
preciso falar sobre equidade em saúde, um dos princí-
pios doutrinários do Sistema Único de Saúde. De acor-
do com a lei 8.080, que institui o SUS, é assegurado
como direito de todos e dever do Estado o acesso iguali-
tário dos serviços de assistência à saúde, sem distinções.
Segundo Escorel (2009), a noção de equidade remete
à percepção da heterogeneidade da população, onde se
considera que grupos populacionais diversos possuem

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 105


demandas diferenciadas, logo, é necessário que a atuação
do profissional da saúde seja pautada num olhar diferen-
ciado para as populações em estado de vulnerabilidade.
A autora relata que este princípio é operacionalizado no
SUS sob duas vertentes: observação das condições de
saúde e acesso aos serviços de saúde (ESCOREL, 2009).
Na carta divulgada pelo Ministério da Saúde du-
rante a Conferência Rio +20, um dos maiores eventos
de discussão sobre Desenvolvimento Sustentável, o
princípio da Equidade em Saúde é referido como algo
“essencial para um desenvolvimento sustentável e para
uma melhor qualidade de vida e bem-estar, contribuin-
do para a paz e a segurança” (BRASIL, 2011, p.3).
O documento versa sobre a necessidade de se com-
preender o contexto, no qual o sujeito se encontra para po-
der traçar estratégias de promoção e manutenção da saúde.
No que se refere à percepção dos processos de saú-
de, a partir do enfoque na Psicologia Social, o conceito de
equidade é visto como fundamental para romper o mo-
delo hospitalocêntrico de atenção à saúde. Spink (2003)
reitera a percepção de que a vertente mais comum nas
casas de saúde é a prática profissional centrada no pacien-
te/cliente/usuário dessa instituição, onde o psicólogo se
volta para a manutenção do status quo no paciente. Esse
modelo péssimo se adéqua às necessidades do local de
trabalho, como trabalhar melhor a dinâmica social em
que está incluído o cliente e a adaptação do terapeuta ao
contexto onde seu paciente reside (alteridade).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 106


Ao perceber essa problemática, o psicólogo frustra-
-se por ver que as técnicas centradas à individualidade são
frágeis, considerando a demanda, e passa a adotar refe-
rências embasadas na sociologia, abalando, também, seus
ideais específicos por saber que a interação é bem mais
complexa nessas instâncias sociais. Assim, o profissional
passou a ter uma visão política das problemáticas, traba-
lhando em movimentos de conscientização e reivindica-
ções por melhorias nas condições de vida (SPINK, 2003).
Isso trouxe uma herança negativa, no qual o profis-
sional se culpa com o privilégio do individual sobre o so-
cial, e uma herança positiva, onde o psicólogo reconhece
que o meio social faz parte da formação desse indivíduo,
e se compreende que tudo é aprendido socialmente. Ao
refletir sobre esta última instância, o psicólogo sai de sua
“zona de conforto” de um atendimento voltado às suas
normas, para ter que lidar com a vivência social da de-
manda, compreendendo que a individualidade e fruto
do processo de socialização de cada comunidade, promo-
vendo, assim, práticas mais equitativas (SPINK,2003).

3 O CONTEXTO UNIVERSITÁRIO E SUAS NU-


ANCES
A universidade possui o papel de promover o de-
senvolvimento através da educação e o ensino superior
gratuito possibilita a democratização do acesso e a inclu-
são social através de programas de expansão Reestrutu-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 107


ração e Expansão das Universidades Federais (REUNI)
e políticas de inclusão como no Programa Nacional de
Assistência Estudantil (PNAES) e as cotas. Entretanto,
após o ingresso na universidade, cada estudante preci-
sa se “incluir” neste ambiente habitual que fará parte
do seu cotidiano e que influencia e é influenciado pelo
modo como as pessoas percebem, sentem e se compor-
tam neste contexto específico.
Algumas pesquisas realizadas na própria univer-
sidade elencam determinadas dificuldades vivenciadas
pelos estudantes, que podem contribuir para evasão,
tais como: dificuldade financeira, problemas de relacio-
namento docente-discente e identificação com o curso;
reprovações e carga horária elevada apareceram como
fatores que desestimulam a permanência no curso.
A subjetividade é constitutiva do conhecimento,
portanto, este sujeito que aprende necessita de aporte
pedagógico, psicológico, físico, social, ambiental e espi-
ritual, de modo a lidar com as pressões cotidianas para
alto desempenho, competitividade, jornadas longas,
além da distância da família, enquadre atual de migração
promovido pelo modelo do Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM). Cada sujeito, portanto, precisa se “in-
cluir” naquele lugar, naquela cidade, naquele espaço. E,
muitas vezes, desenvolver o sentido de pertencer a deter-
minado ambiente é uma luta para a vida toda.
O mesmo conceito se aplica na construção de um
ambiente e de relações sustentáveis, pois a perspectiva

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 108


de futuro não se aplica a quem só percebe o presente; e
quando este presente somente mostra dor e sofrimento,
a vida perde o sentido. A maioria dos estudantes que
entram na universidade são jovens, adolescentes ainda,
passando pelo processo de escolha profissional, imatu-
ridade emocional, luto pela vivência da infância e, lan-
çados na formação para o mercado de trabalho, geração
de resultados, busca da excelência, mérito acadêmico,
e tantas cobranças internas e externas, que somadas a
outros fatores, podem desencadear depressão e suicídio.
Estudo feito por acadêmicos de medicina da UFCA
apontam principais preditores de suicídio neste grupo:
depressão, sono reduzido, faixa etária muito jovem, de
localização, dificuldades amorosas e falta de suporte so-
cial (SANTOS, K.C. et al., s. d.).
Tendo em vista o conhecimento relativo à pro-
blemática educação e saúde e por compreendermos
a educação como sendo para formação integral do ser
humano, as ações e práticas da Pró-Reitoria de Assun-
tos Estudantis da UFCA, além dos auxílios e bolsas que
asseguram moradia, alimentação e transporte, também
viabilizam a atenção à saúde, um dos eixos do PNAES.

4 O PERFIL DOS ALUNOS ATENDIDOS PELO


SERVIÇO DE PSICOLOGIA NA UFCA
A promoção e a assistência à saúde mental do
público universitário vem cada vez mais demandando

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 109


atenção dos gestores nas universidades federais no Brasil.
A saúde do estudante, uma das pautas do PNAES, é um
aspecto fundamental para cumprimento dos seus obje-
tivos, principalmente no tocante à redução das taxas de
retenção e evasão acadêmica.
A partir da análise do perfil dos alunos que busca-
ram o serviço de Psicologia nos anos de 2015, 2016 e
2017 (até o mês de setembro do corrente ano) é possível
verificar que ocorre uma procura maior pelo atendimen-
to psicológico entre discentes do sexo feminino, na faixa
etária de 19 a 21 anos, seguida por discentes entre 22 a
25 anos, conforme observamos nos gráficos 1 e 2 a seguir:

Gráfico 1: Atendimento por Gênero.

Fonte: Autores (2017).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 110


Gráfico 2: Atendimento por Faixa Etária.

Fonte: Autores (2017).

Bleicher e Oliveira (2016) trazem dados de várias


pesquisas (CERCHIARI, CAETANO e FACCENDA,
2005; ALMONDES & ARAÚJO, 2003; CERCHIARI
& cols., 2005; CERCHIARI & cols.; NEVES, 2007)
que corroboram com alguns dados encontrados no le-
vantamento feito na UFCA, entre os quais pode-se des-
tacar a não convivência com a família e a maior incidên-
cia de transtorno mental entre o público feminino. As
pesquisas citadas pelas autoras também correlacionam
a alta incidência de transtornos mentais no público
universitário, ao excesso de atividades, a exposição a si-
tuações de ansiedade mais frequentes, e a preocupação
com a perspectiva de futuro em relação à formação e ao
papel social (idem). Essa investigação ainda necessita
de aprofundamentos, a fim de que possa ser desenhado
com mais clareza o perfil dos estudantes que apresentam
alguma queixa de sofrimento psíquico, tendo em vista

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 111


que inúmeras variáveis precisam ser levadas em conta,
para que essa compreensão da saúde mental na UFCA
possa ser o mais fidedigna possível.
Em relação à origem ou à naturalidade dos alunos
que buscaram o serviço, constatou-se que a maioria des-
tes são oriundos de municípios que compõem a região
do Cariri cearense, contrariando a hipótese levantada a
priori, de que o serviço era mais acessado por estudantes
de municípios mais longínquos, em virtude do distan-
ciamento com a família e outras variáveis que podem
contribuir para a fragilização emocional desses sujeitos.
Essa hipótese é confirmada apenas no tocante aos dis-
centes do curso de Medicina, onde os fatores emocionais
relacionados à mudança de ambiente atuam como um
fator importante para a formulação de queixas de sofri-
mento psíquico. A disposição geral desses dados pode
ser melhor observada no gráfico 3 a seguir:

Gráfico 3:Perfil de atendimentos por origem dos alunos.

Fonte: Autores (2017).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 112


Em relação à necessidade de integrar esforços para
uma atenção maior à saúde do estudante nas universi-
dades federais, Bleicher e Oliveira (2016) afirmam que:
Como não há metas a serem cumpridas e nem me-
canismos de avaliação da política, poucos gestores
encamparam a necessidade da mudança de atuação,
no sentido de voltar as ações para promoção e pre-
venção em saúde e integração dos serviços à rede
municipal pública de Saúde (p. 545).
Nesse sentido, apesar da universidade estar contri-
buindo para o desenvolvimento regional ao promover a
formação de profissionais em diversas áreas de conhe-
cimento, torna-se muito importante que a instituição,
também, possa ser uma promotora da qualidade de vida
e que as intervenções relacionadas à saúde do estudante
tenham a possibilidade de gerar uma repercussão positi-
va na rotina acadêmica destes.

5 CONCLUSÃO
Dessa forma, é possível perceber que não se trata
apenas de oferecer atendimentos pontuais em determi-
nadas áreas da saúde, é necessário pensar em estratégias
para torná-la autossustentável, investindo no empodera-
mento do estudante como promotor da sua saúde biop-
sicossocial, em uma visão holística, capaz de promover
mudanças e adaptações no seu meio ambiente a fim de
manejar fatores protetores em seu favor. Diante da gran-
de demanda de serviços de saúde, também se faz neces-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 113


sário promover o acesso dos estudantes às políticas pú-
blicas e outros serviços que são ofertados em instituições
filantrópicas e privadas, como clínicas-escola, grupos de
autoajuda e de práticas esportivas, entre outros, os quais
podem atuar como parceiros. Outra questão essencial
é promover o constante acesso às inovações em saúde e
práticas alternativas que possam melhorar a qualidade
de vida dos estudantes.

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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 116


TRABALHADORES NA CONDIÇÃO
ANÁLOGA À DE ESCRAVO: CONTOS DA
TRAMA QUE AINDA NÃO SE ENCERROU

Alana Maria Brito Lucas


Ane Caroline Rodrigues Leite
Selton David Cavalcante Sobral
Francisca Laudeci Martins Souza
Victoria Régia Arrais de Paiva

INTRODUÇÃO
A precarização do trabalho, em decorrência da
busca desenfreada pelo lucro, é um dos problemas mais
graves da atualidade. Nesse contexto, erige-se a prática
do trabalho com a redução do homem à condição aná-
loga de escravo. O trabalho escravo não é só um evento
do passado, mas também um problema bastante atual,
substancialmente nos países em desenvolvimento, situa-
ção na qual o Brasil se encontra. Tem-se a falsa ideia
de abolição do trabalho escravo no Brasil, decorrente da
sanção da Lei Áurea em 1888. Diz-se falsa, porque basta
uma leitura nos relatórios da Organização Mundial do
Trabalho – OIT e do Ministério do Trabalho e Empre-
go – MTE para compreender que esta prática nefasta e
desumana está longe de ser afastada de nossa realidade.
Hodiernamente, encontramo-nos no século XXI,
mais de cem anos após a abolição da escravatura no Bra-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 117


sil, é de se esperar, com isso, que de Chuí ao Oiapoque,
o cenário da prole estivesse, no mínimo, longe de qual-
quer indício de trabalho não decente à pessoa humana.
No entanto, este quadro não representa a realidade.
Diariamente, nos deparamos com notícias jornalísticas
informando/denunciando a existência de exploração de
trabalhadores à condição análoga à de escravo, ferindo
o princípio da dignidade da pessoa humana, que está
expressamente disposto na Lei Maior em seu art. 1º, in-
ciso III.
Sob a égide de uma Constituição democrática de
direito (CF/1988), tal fato representa, ao mesmo tem-
po, a inobservância aos direitos fundamentais e o co-
metimento de conduta criminosa, uma vez que fere o
Código Penal e desrespeita o princípio da dignidade da
pessoa humana.
Logo, a necessidade de se tratar dos problemas do
homem e deste sobre o planeta, especificamente, nun-
ca foi tão válida. Seu início se deu por entre os anos
de 1972, quando do reconhecimento internacional
do conceito de Desenvolvimento Sustentável (DS), na
Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre o Meio
Ambiente, sediada em Estocolmo, na Suécia.
Tendo em vista essa preocupação, é que a ONU
(2016) lançou mão do 8º objetivo, que trata da promo-
ção do crescimento econômico sustentado, inclusivo e
sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho de-
cente para todos e todas. Assim sendo, defrontando a

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 118


vertente do supracitado objetivo aos focos de trabalho
análogo à condição escrava presentes no Brasil, surge a
seguinte reflexão: como o Princípio da Dignidade Hu-
mana face ao 8º objetivo da ODS reverbera sobre esse
cenário nada sustentável nas condições de trabalho en-
contradas no território brasileiro?
A fim de compreender esta e outras indagações que
por ventura surjam no transcorrer da discussão, a pesqui-
sa, ora proposta, tem como objetivo geral apontar onde
estão ocorrendo os focos de trabalho análogo à condição
escrava no Brasil, à luz de um confronto entre o princí-
pio da dignidade humana e o 8º objetivo da ODS.
Metodologicamente, utilizou-se dados de nature-
za secundária, ou seja, dados preexistentes compatíveis
ao objeto de estudo em questão, disponíveis no site do
Ministério do Trabalho e Previdência Social, especifica-
mente no Cadastro de empregadores que tenham sub-
metido trabalhadores à condição análoga a de escravo,
divulgado em 23 de março de 2017, e revisão bibliográ-
fica em livros e artigos, bem como análise da legislação,
doutrina e jurisprudência vigente.
Dessa maneira, a fim de se atingir a problemática
proposta, discorreu-se sobre o tema em três seções, sem
contar a introdução e a conclusão, são estas: a primeira
sobre o princípio da dignidade da pessoa humana; a se-
gunda sobre os Objetivos do Desenvolvimento Susten-
tável (ODS), especificamente com foco no oitavo; e, por
último, a análise e discussão dos resultados.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 119


REFERENCIAL TEÓRICO

O princípio da dignidade da pessoa humana à luz


da problemática da exploração de trabalhadores em
condição análoga à de escravo
Kant – precursor do debate acerca da dignidade –
afirma que o ser humano já nasce digno e que a digni-
dade repudia toda e qualquer espécie de coisificação e
instrumentalização do ser humano. Se contrapondo a
ele, Hegel defende que o ser humano não nasce digno,
mas torna-se a partir do momento que assume a condi-
ção de cidadão, ou seja, impõe um condicionamento.
Noutra perspectiva, Frei Betto afirma que tal dignidade
da pessoa humana advém de sua criação à imagem e se-
melhança de Deus (NETO, 2014).
Nota-se, portanto, a dificuldade em se conceituar
dignidade. No entanto, não resta dúvida, que o princípio
da dignidade da pessoa humana tornou-se um consenso
ético expressivo somente após a Segunda Guerra Mun-
dial, quando o mundo sai desta experiência atroz deci-
dido a buscar valores a fim de estabelecer direitos fun-
damentais e direitos humanos universais. As principais
Constituições modernas, a começar com a da Alemanha,
passaram a consagrar a dignidade da pessoa humana
como um de seus valores centrais. (BARROSO, 2010)
No âmbito global, a Organização Internacional do
Trabalho (OIT), desde o seu nascedouro em 1919, tem
como um dos principais objetivos a proteção a condi-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 120


ções dignas de trabalho, isto é, a preocupação humani-
tária é acompanhada de perto, de modo a impedir que
as deploráveis condições de trabalho ocorridas durante
a Revolução Industrial no século XVIII não viessem/ve-
nham a reincidir. (OIT, 2017)
Outrossim, é notório que o principal documento
que trata sobre a importância da dignidade como um
valor universal é a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (DUDH) de 1948 que já em seu preâmbulo
destaca: “Considerando que o reconhecimento da dig-
nidade inerente a todos os membros da família humana
e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fun-
damento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”.
Inaugura o seu primeiro artigo assim: “Artigo 1°- Todos
os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e
em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem
agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.
E no artigo quarto, veda expressamente qualquer forma
de escravatura, in verbis: “Artigo 4°- Ninguém será man-
tido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o
trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos”.
Logo, é possível afirmar que a DUDH (1948) ni-
velou o entendimento sobre dignidade da pessoa huma-
na ao menos para os países integrantes da Organização
das Nações Unidas (ONU), haja vista ser uma conditio
sinequa non para se tornar membro a concordância com
todos os preceitos de tal declaração. Assim, o relativismo
em relação ao significado da dignidade da pessoa huma-
na findou neste instante, pois, independente da cultura

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 121


de cada país, a partir do disposto na DUDH a dignidade
deve ser observada como um valor universal.
No Brasil, o princípio da dignidade da pessoa hu-
mana está disposto expressamente na Lei Maior em seu
art. 1º, inciso III, in verbis: “Art. 1º A República Federa-
tiva do Brasil [...] constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II
- a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; [...]”.
Tal princípio é, por óbvio, um valor moral e espiritual
inerente a todas as pessoas, apenas pela sua condição de
ser humano.
Sendo assim, tendo em vista toda abstração e, até
mesmo, banalização e vagueza na interpretação do con-
ceito de dignidade da pessoa humana, Barroso (2010),
na tentativa de tornar este conceito operacional, desta-
cou três conteúdos essenciais da dignidade: valor intrín-
seco, autonomia e valor social da pessoa humana.

Dos objetivos da agenda de 2030 aos desafios do de-


senvolvimento sustentável: o 8º objetivo no âmago
da discussão
A necessidade de se tratar dos problemas do ho-
mem, e deste sobre o planeta não é recente, sua preconi-
zação teve início lá por entre os anos de 1972, quando
do reconhecimento internacional do conceito de Desen-
volvimento Sustentável (DS), na Conferência das Na-
ções Unidas (ONU) sobre o Meio Ambiente, sediada
em Estocolmo, na Suécia.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 122


Veiga (2010) chamou o DS de “caminho do meio”
para designar o desenvolvimento sustentável como re-
sultado das contradições apresentadas pela experiência
prática do processo de desenvolvimento econômico
que, como tal, constitui-se como ponto de inflexão no
diálogo entre desenvolvimento e meio ambiente, com a
introdução de dimensões de caráter social e ambiental
no conceito de desenvolvimento econômico (CASTE-
LO-BRANCO, 2010).
Nessa perspectiva, vários eventos têm ocorrido ao
redor do mundo reunindo cidadãos e líderes de gover-
nos nacionais para discutir sobre o DS, ancorando-se nas
várias conferências realizadas pela ONU, como o foi a
Rio+20, em 2012. Realizada no Brasil, a Conferência da
ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável ou Rio+20,
como é mais conhecida, reuniu um total de 193 represen-
tantes de países, na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil.
Em 2015, os Estados-Membros das Nações Unidas
adotaram a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável. Assim, 193 países membros [...] se com-
prometeram em fornecer os meios e recursos neces-
sários para cumprir as metas estabelecidas 17. Aque-
les que se concentram em cinco áreas principais:
pessoas, planeta, prosperidade, paz e alianças. As
organizações internacionais, setor privado, sociedade
civil e governo devem trabalhar juntos para alcançar
as metas e objectivos da nova Agenda 2030 (GON-
ZÁLEZ-CABRERA, p. 147, 2017, tradução nossa).

Entretanto, só em 2002, através da Rio+10 realiza-


da em Johanesburgo, na África do Sul, é que foi lançado

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 123


mão da conservação dos recursos naturais consoante à
reafirmação dos Objetivos de Desenvolvimento do Mi-
lênio (ODM), os quais foram promulgados dois anos
antes dessa conferência. Inclusive, foi nesta mesma oca-
sião que as críticas sobre a falta de posicionamento e
resultados concretos sobre os problemas ambientais to-
maram corpo e “engrossaram o caldo” para que os deba-
tes continuassem a ser realizados lado a lado da lúgubre
face das desigualdades sociais. É por essa razão que os
argumentos ficam restritos a uma espécie de caráter me-
ramente ideológico, à medida que o desenvolvimento
humano e o direito ao desenvolvimento – não qualquer
desenvolvimento, mas o desenvolvimento sustentável –
parece estar submetidos à conversão de uma “fé social”,
cujas discussões caminham da seguinte maneira: con-
quanto seja dificílima a realização do desenvolvimento
humano e do desenvolvimento sustentável, todos devem
acreditar, piamente, nele (REZENDE, p. 31, 2016a).
A esperança é aviltada e postergada, transferida para
2030, pretende “cumprir” aquilo que os ODM não conse-
guiram atingir. Esses 17 objetivos podem ser resumidos em:
[...] acesso à água limpa e saneamento; energia
a preços acessíveis e não contaminante; promo-
ver o trabalho decente e crescimento econômico,
indústria, inovação e infraestrutura; consumo e
assegurar produção sustentável; tomar medidas
urgentes para combater a mudança climática e os
seus efeitos; conservar e utilizar de forma susten-
tável oceanos; preservar vida ecossistemas mari-
nhos e terrestres; tornar as cidades e comunidades

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 124


sustentáveis; promover a paz, a justiça; construir
instituições fortes e fortalecer as parcerias para
atingir as metas (GONZÁLEZ-CABRERA,
p. 147, 2017, tradução nossa).

Os 17 objetivos da Agenda de 2030 fazem parte


de uma demanda que vem sendo encomendada pelas
Nações Unidas aos Relatórios de Desenvolvimento hu-
mano (RDHs) desde 1990, quando da tentativa de ten-
tar inserir na agenda pública um agregado de ações que
pudessem envolver lideranças políticas, governantes,
intelectuais, técnicos e organizações da sociedade civil
(REZENDE, p. 487, 2015b).
Dentro desse conjunto composto por 17 objetivos,
está o 8º objetivo (foco da presente pesquisa), que trata
do tema: promover o crescimento econômico sustenta-
do, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e
trabalho decente para todos e todas. Este é mais um en-
tre os tantos outros objetivos que buscam alicerçar metas
e estratégias para erradicar alguns dos problemas sociais
atuais, que podem ser denominados de mal-estar social,
como discorre Amaro (p 11, 2003), como por exemplo,
o desemprego, trabalhos análogos à condição de escravo,
salários indevidos abaixo do mínimo legal, dificuldades
físicas e mentais em relação ao ambiente de trabalho,
jornada de trabalho exaustiva, hiperexploração da mais-
-valia etc. Prover emprego formal, salários dignos, am-
biente de trabalho saudável são uma das preocupações
do DS, em conformidade com as orientações dispostas
na dimensão econômica e social da sustentabilidade.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 125


RESULTADOS E DISCUSSÕES
De forma esperada, no Brasil, as transformações,
sejam elas econômicas, sociais ou políticas, acompanha-
ram o cenário global, mesmo tais acontecimentos não
sendo simultâneos ao ocorrido nas economias externas.
A sociedade brasileira conquistou um estado de direito e
igualdade que já na primeira república implementou-se
bases com maiores consistências nos anos que seguiram.
Neste sentido, a legislação representa uma culminância
destes direitos, materializando estas garantias, entretan-
to, existe um hiato entre as referidas conquistas sociais e
a aplicação das mesmas, para tanto, o trabalho na con-
dição análoga à de escravo é arquétipo desta contradição
entre direitos já adquiridos e a aplicabilidade destes. Para
tanto, esta seção objetiva-se demonstrar à luz dos dados
ofertados pelo Ministério do Trabalho e Previdência So-
cial os estados que existem indivíduos atuando em con-
dição análoga à de escravo.

Trabalho Escravo no Brasil


O trabalho, enquanto questão social, isto nos mol-
des conceituais de Castel (2013), gera no Brasil uma dis-
cussão jurídica desde 1824, elogio este que nos rodeia
até os dias atuais. Isso porque a colonização do territó-
rio brasileiro pelos Portugueses objetivava-se apenas na
obtenção de renda para a Coroa. Considerando que a
categoria trabalho era compreendida naquele período
como uma prática inferior, sendo destinado apenas para
as populações menos providas de renda, forçando estes

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 126


indivíduos a submeter-se a práticas braçais pesadas e
desprezíveis. Nesse sentido, a importância do trabalho se
constituía na elevação de renda dos colonos, já que esse
período constituía-se por ser uma economia escravagista.
Para além da alusão institucional, as terminologias
trabalho e trabalho escravo, estiveram presentes nas dis-
cussões de cunho político, econômico e social. Tendo
como marco inicial a colonização brasileira aludida no
parágrafo anterior. Inicialmente, escravizar os indígenas
e os negros representava práticas naturais para a época,
já que estes eram entendidos como “indivíduos sem pá-
tria, sem dono, sem estrutura social, econômica e polí-
tica que os detivessem como protegidos por uma nação
e os categorizassem como seres humanos”, na sequência
colocar o indivíduo, de qualquer natureza, como escravo
passou a ser um efeito “normal” do avanço capitalista.
Ora de “fio a pavio” o aprendizado com o ressurgimento
da escravidão no século XXI, sob o título de escravidão
contemporânea, é que o modelo mental capitalista é
inexequível com a erradicação do trabalho escravo. No
baluarte do capitalismo, as formas de exploração no tra-
balho humano são reinventadas e ressurgem a cada pe-
ríodo, sem nunca ter desaparecido completamente.
No curso da história das Constituições brasileiras,
vislumbra-se a trajetória de conquistas no campo do tra-
balho com um sistema de proteção social. Porém, no
ínterim da “vida real”, do cotidiano de cada um dos “li-
bertos” pela Lei Áurea, o significado da palavra “livre”

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 127


foi carregado pela sombra privação. Privação fisiológica
à privação de cunho econômico e social.
As privações cotidianas fizeram com que uma par-
cela da população brasileira, “deixados à sua própria
sorte”, buscasse outras formas de “ganhar seu sustento”.
Em um cenário onde as terras pertenciam a fazendei-
ros detentores de grandes propriedades, que possuíam
as condições financeiras para empregar a mão de obra
livre e que ainda representavam, no consciente social, a
imagem de “patrão/dono”, os cidadãos que foram liber-
tados, por lei, na prática, continuaram vinculados aos
mesmos padrões econômicos e sociais. A submissão e
servidão foram as novas formas de relação econômica,
com o fim da escravidão, encontradas nos campos da
lavoura do café, da extração mineral e de outras organi-
zações econômicas que estavam em evidência na época.
O trabalhador escravo e seu senhor de antes trans-
formaram-se no servo e patrão, no “morador” e senhor
de engenho (cultivo da cana-de-açúcar no Nordeste), no
colono e fazendeiro (cultivo do café do Sudeste), como
revela Garcia Jr.:
Até 1888, os senhores de engenho possuíram escra-
vos negros de origem africana. ... Os senhores de
engenho se apoiavam sobretudo sobre o trabalho
de todos aqueles que estavam submetidos a eles
pelo simples fato de residirem em seus domínios,
os moradores. Depois da abolição da escravatura a
parte essencial do trabalho nos engenhos era efe-
tuada por moradores. ... Ser morador ou tornar-se
morador significava se ligar ao senhor do domínio

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 128


de uma maneira muito específica, numa relação que
supunha residência e trabalho simultaneamente. ...
Quem se apresentava ao senhor de engenho não
pedia trabalho, pedia uma morada. (GARCIA JR.,
1988, p. 4)

O trabalho escravo contemporâneo, no Brasil,


contudo surge de uma história “mal contada” desde a
abolição da escravatura até os dias atuais. “Mal conta-
da” porque historicamente o “trabalho escravo” ou “tra-
balho forçado”, não deixou de existir. Seja sob a forma
de “moradores”, “colonos”, contratos de imigração para
fins de parceria agrícola, mantidos sob coação armada
ou por endividamento, uma parcela da população brasi-
leira sempre esteve vulnerável à escravidão. A exploração
do homem, inerente ao sistema econômico capitalista
e explicado por Karl Marx, coexiste mesmo numa apa-
rente prosperidade das condições sociais possibilitadas
pelo acúmulo de riqueza num sistema político no qual o
presidente é eleito pelo voto de todos os cidadãos.

Caracterização do trabalho em condição análoga à de


escravo no Brasil
A definição de condição análoga à de escravo en-
contra-se na Lei nº 10.803/2003, que trouxe uma nova
redação ao art. 149 do Código Penal, in verbis:
Art. 149 - reduzir alguém à condição análoga à de
escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados
ou a jornadas exaustivas, quer sujeitando-o a con-
dições degradantes de trabalho, quer restringindo,

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 129


por qualquer meio, sua locomoção em razão de
dívida contraída com o empregador ou preposto.
(BRASIL, 2003)

O fundamento legal desta medida é a Emenda


Constitucional 1981 que, ao alterar o disposto no art.
243 da Carta Magna, inovou a ordem jurídico-constitu-
cional ao determinar que, da mesma forma que o cultivo
ilegal de plantas psicotrópicas, a exploração de trabalho
escravo seja fato gerador de expropriação confiscatória,
in verbis:
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qual-
quer região do País onde forem localizadas culturas
ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de
trabalho escravo na forma da lei serão expropria-
das e destinadas à reforma agrária e a programas de
habitação popular, sem qualquer indenização ao
proprietário e sem prejuízo de outras sanções pre-
vistas em lei, observado, no que couber, o disposto
no art. 5º.
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor
econômico apreendido em decorrência do tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins e da explora-
ção de trabalho escravo será confiscado e reverterá a
fundo especial com destinação específica, na forma
da lei.

Destarte, mesmo com uma sanção tão severa devi-


do, justamente, pela inobservância de um direito funda-
mental, ainda nos deparamos com empregadores explo-
rando o trabalhador em condição análoga à de escravo
nos diversos estados brasileiros.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 130


Quadro 1 - Distribuição pelo número de estabelecimentos que exploram traba-
lhadores em condições análogas às de escravo por estado de 2011 a 2016.
ESTADO QUANT. DE ESTABEL.
MG 25
SC 5
MA 3
AC 1
PA 10
MT 6
SP 2
RO 2
TO 3
BA 4
RS 4
GO 2
MS 1
TOTAL: 68
Fonte: Elaboração própria com base em Ministério do Trabalho (2017).

Em 23 de março de 2017, o Ministério do Tra-


balho – através da Portaria Interministerial nº 4, de 11
de maio de 2016 – publicou a relação de empregadores
que submeteram trabalhadores à condição análoga à de
escravo e não celebraram ou não cumpriram acordo ju-
dicial ou Termo de Ajustamento de Conduta nos termos
da Portaria MTb/SDH-MJC n.4/2016. Isso é a prova
de que, apesar da nossa Carta Magna de 1988 assegu-
rar direitos fundamentais, como: liberdade, igualdade
e, sobretudo, dignidade humana, lamentavelmente, na
prática, isto ainda é inobservado, vejamos:

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 131


Como se depreende no quadro 1, Minas Gerais é
o estado com mais estabelecimentos que exploram tra-
balhadores em condição análoga à de escravo de 2011 a
2016. Dos 68 estabelecimentos ao todo, 37% ficam em
Minas Gerais.

Quadro 2 - Distribuição pelo número de trabalhadores encontrados na condi-


ção análoga à de escravo por estado de 2011 a 2016.
ESTADO QUANT. DE TRAB.
MG 348
SC 30
MA 22
AC 3
PA 81
MT 40
SP 44
RO 5
TO 17
BA 59
RS 25
GO 17
MS 4
TOTAL: 695
Fonte: Elaboração própria com base em Ministério do Trabalho (2017).

Mais uma vez, Minas Gerais é o estado com maior


número de trabalhadores submetidos às condições aná-
logas à de escravo. No total de 695 trabalhadores em
todo o Brasil, há 50% somente em Minas Gerais. Esse
dado é bastante preocupante, o que enseja outras pes-
quisas que busquem identificar as causas e as formas de

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 132


combate mais efetivas. Pode-se adiantar que este desem-
penho de liderança do ranking por Minas Gerais já vem
se repetindo nos últimos anos, e segundo AMP-MG
(2014):
O chefe da Divisão de Fiscalização para a Erradica-
ção do Trabalho Escravo do MTE, Alexandre Lyra,
explica que o grande número de autuações em Mi-
nas Gerais deve-se ao fato de o Estado ter um grupo
focado nesta atividade. Em Minas, são seis auditores
fiscais atuando desde o fim de 2012 nessa atividade.

A fiscalização intensiva é apontada como uma das


causas do grande número de autuações em Minas Ge-
rais. O que nos faz deduzir o quanto a fiscalização é im-
portante para impedir essas transgressões à dignidade da
pessoa humana e, também, que se outros estados fisca-
lizarem de forma semelhante, os resultados poderão ser
ainda mais alarmantes.
Apesar disso, o aumento da fiscalização não tem
desestimulado os empregadores de Minas Gerais, uma
vez que AMP-MG (2014) afirma que se detectou neste
estado 21% desses trabalhadores no ano 2013, sendo
que no ano de 2016, este percentual já atingiu os 50%,
ou seja, mais que duplicou.
Arrematando uma iniciativa relevante do Ministé-
rio Público do Trabalho (2017) de Minas Gerais, foi a
disponibilização do Disk Denúncia, para que qualquer
cidadão acesse o respectivo site e denuncie este tipo de
prática.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 133


CONCLUSÃO
Ainda que tenhamos a falsa impressão de abolição
da escravatura por consequência da sanção da Lei Áurea
em 1988, o trabalho escravo não é somente um evento
do passado, já que da busca desenfreada pelo capital,
erige-se a prática escravocrata contemporânea. A escravi-
dão clássica deixou uma herança, uma marca que ainda
persiste na atualidade. Ainda que a luta pela sua aboli-
ção tenha sido intensa no Brasil, o modelo de escravidão
persiste nos dias atuais. Oficialmente deu-se fim ao re-
gime escravocrata, mas na prática é sabido que a escra-
vidão não é coisa de outrora. Persistente nos dias atuais,
com uma nova roupagem, é claro, mas em sua essência,
igual. Vulnerabiliza a pessoa, trata-a como objeto, no in-
tuito de auferir lucro para quem escraviza.
A analogia entre a escravidão antiga e a contempo-
rânea não se encontra nas correntes e na restrição de liber-
dade, mas no tratamento do ser humano como coisa. A
senzala moderna encontra-se dissimulada, mas o escravo
moderno não se encontra menos explorado. A proprieda-
de de um ser humano por outro deixou de ser permitido
no Brasil, assim como a superexploração de trabalhado-
res, País que tem entre seus fundamentos a dignidade da
pessoa humana e os valores sociais do trabalho.
À vista disso, ademais da liberdade que lhe é supri-
mida, por conseguinte, sua dignidade resta prejudicada
pelo tratamento de desprezo à sua condição humana. O
ser humano trabalhador fica reduzido à uma condição
pior que a de animais. E é necessário deixar claro que

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 134


o consentimento do indivíduo para trabalhar nessas si-
tuações lúgubres é irrelevante, uma vez que só é possível
falar em consentimento quando se pode optar por algo.
Assim, a escravidão contemporânea é um conjun-
to de ações que tendem a limitar a vontade da pessoa,
por qualquer meio apto para tanto, aproveitando da
vulnerabilidade da vítima e de sua fragilização social,
impondo-lhe condições degradantes de trabalho e, por
conseguinte, de vida, que envilece a dignidade humana,
solapam direitos, destroem vidas, e deixam marcas físi-
cas e psíquicas para o resto das vidas desses pobres seres
que no melhor dos seus intentos, queriam, de toda a
forma, melhorarem de vida e, assim, e principalmente, a
de suas famílias e dependentes.
O trabalho escravo no Brasil do 3º Milênio merece
uma nova análise jurídica, uma vez que sua roupagem
não mais corresponde aos antigos (clássicos) conceitos
de escravatura e, dessa forma, fornece um estudo digno
dessa área pouco desenvolvida em análises jurídicas con-
vencionais, tornando-se uma área propícia para o desen-
volvimento de novas pesquisas.

REFERÊNCIAS

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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 135


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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 136


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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 137


DA GÊNESE DAS MAZELAS HUMANAS:
PRELÚDIO DA ANUNCIAÇÃO DO
CAPITAL SOBRE O MEIO AMBIENTE

Ane Caroline Rodrigues Leite


Selton David Cavalcante Sobral
Francisca Laudeci Martins Souza
José Micaelson Lacerda Morais

INTRODUÇÃO
É sabido que, superado o período em que se acha-
va que desenvolvimento era equivalente ao crescimento
econômico, o desafio agora seria diferenciá-los. E foi isso
o que vários autores fizeram. Focado no intuito de dis-
tinguir um termo do outro, Souza (1999) afirma que
crescimento não é sinônimo de desenvolvimento, mui-
to embora aquele seja condição indispensável para este
último, não é condição suficiente. Logo, nem tudo que
cresce é desenvolvido.
Conforme aborda Chenery (p. 7, 1981) sobre o de-
senvolvimento, pode-se compreender que “o desenvol-
vimento econômico [também] é um conjunto de trans-
formações intimamente associadas, que se produzem
na estrutura de uma economia, e que são necessárias à
continuidade de seu crescimento”. Isso abre uma fenda
na sensibilidade dos que acreditam que crescimento é o

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 138


mesmo que desenvolvimento, embora já ter sido bas-
tante discutido o fato de que ambos não são sinônimos
entre si. Portanto, o desenvolvimento só cumpre seu pa-
pel na medida em que os objetivos do desenvolvimento
vão bem além da mera multiplicação da riqueza material
(SACHS, 2008).
Sobre crescimento, Lipsey (1986) crava que o mes-
mo está associado à capacidade de o investimento in-
tervir na renda nacional, de modo a elevar a capacidade
produtiva em potencial de um determinado país. Por
isso, o crescimento econômico pode ser compreendido
como sendo o aumento continuado de uma unidade
econômica durante um ou vários períodos longos de
tempo. Sua análise é feita por meio dos índices: Produto
Interno Bruto (PIB) ou Produto Nacional Bruto (PNB),
os quais medem o nível de produção e de renda perten-
cente a um determinado país.
No lado extremo da via que conduz ao crescimento
econômico, existe outra via que conduz ao “caminho do
meio”, como propôs Veiga (2010). Este “caminho do
meio” é o que chamamos de desenvolvimento susten-
tável, um conceito, aliás, que surge como sendo uma
nova matriz discursiva e interdisciplinar no campo das
ideias. Assim sendo, o desenvolvimento sustentável re-
vela-se como resultado das contradições apresentadas
pela experiência prática do processo de desenvolvimento
econômico que, como tal, constitui-se como ponto de
inflexão no diálogo entre desenvolvimento e meio am-
biente, com a introdução de dimensões de caráter social

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 139


e ambiental no conceito de desenvolvimento econômico
(CASTELO-BRANCO, 2010).
Desse modo, o desenvolvimento sustentável emer-
ge como preenchimento da lacuna entre crescimento e
desenvolvimento, de modo a recuperar a passagem que
leva à preservação e otimização dos recursos naturais, co-
locando-se como a maneira mais recomendada para se
alcançar a proteção desses recursos e o bem-estar social,
contemplando, enfim, a sustentabilidade das gerações
atuais e, especialmente, das que virão.
À guisa da reflexão sobre desenvolvimento susten-
tável, este trabalho se propõe a examinar o debate sobre
a referida temática, qual seja, a rispidez do capitalismo/
crescimento econômico (sobre a) face do desenvolvi-
mento sustentável, atentando-se para um embasamento
teórico das raízes daquele primeiro e suas reverberações
sobre este último, bem como os desdobramentos provo-
cados. No campo da metodologia, esta pesquisa é de ca-
ráter reflexivo, qualitativo, sustentada a partir da aborda-
gem bibliográfica por meio de livros e periódicos. Refle-
xivo e qualitativo por se propor a analisar e compreender
os conceitos em torno do embate teórico e bibliográfico,
por ter seu fundamental teórico construído à luz de li-
vros e artigos científicos nacionais afins com o assunto.
Além dessa introdução e da conclusão, este artigo
discute no referencial teórico o diálogo que segue entre
os autores sobre os fatores que legitimaram as bases para
o capitalismo, seguindo com o arremate do Desenvolvi-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 140


mento Sustentável face às consequências do capital e a
necessidade de se pensar em um novo paradigma.

MODERNIDADE E CAPITALISMO
A primeira impressão transmitida da ideia de mo-
derno é que as melhorias vêm, automaticamente, imbuí-
das nesse processo. Bauman (1999) fala que a moderni-
dade pode significar muitas coisas. E Cruz (2001) con-
corda com aquele autor, ao corroborar que, justificar sua
definição, pode ser considerado tarefa difícil. Por outro
lado, podemos considerar que a modernidade funciona
como uma espécie de avanço temporal produzido pelo
homem e para o homem, em que este, ao se colocar no
centro como ser pensante e, portanto, dotado da razão,
torna-se capaz de modificar a realidade ao seu redor por
meio do uso do conhecimento, superando, por sinal, os
signos que antes compunham o período do renascimen-
to; o indivíduo que antes era considerado figura passiva,
passa agora a ser sujeito – o fato de ser colocado no cen-
tro, já o reconhece como sendo sujeito ativo (ou apenas
sujeito, o que não interfere no seu sentido).
Ele mesmo (o indivíduo), à luz da razão, elabora o
scriptim social com base na sua verdade. Doravante, te-
mos a passagem do antigo para o novo, do atrasado para
o avançado, do homem velho para o homem moderno.
Aliás, foi na modernidade o grito que proclamou o iní-
cio de muitas mazelas as quais podemos constatar hoje.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 141


Momentos históricos como as Grandes Navega-
ções, o Renascimento e a Reforma Protestante marcam
os exatos momentos em que o indivíduo, seja no âmbito
político como no religioso, se reconhece como agente
que transforma e é transformado, evocando o redesco-
brimento de novas possibilidades e formas de se fazer
conhecimento, distante é claro, do que propunha o for-
jo da Idade Média. Logo, emerge dessa compreensão,
a importância de se assimilar a modernidade como o
momento crucial em que foi descoberta a concepção de
sujeito como agente dominador, aquele que veio para
conquistar a natureza a todo custo o seu quinhão, torná-
-la seu espaço e chamar de seu (CRUZ, 2011).
“A modernidade começa quando o espaço e o tem-
po são separados da prática da vida e, entre si, podem
ser teorizados como categorias distintas e mutuamente
independentes da estratégia e da ação”, o que leva a crer
que a modernidade está relacionada com a superação
dessas duas variáveis (espaço e tempo). Por exemplo, foi
dessa maneira que “a distância percorrida numa unidade
de tempo passou a depender da tecnologia, de meios ar-
tificiais de transporte, [onde] todos os limites à velocida-
de do movimento, existentes ou herdados, poderiam, em
princípio, ser transgredidos” (BAUMAN, p.9, 2001).
Logo, sendo para compreender a infusão da mo-
dernização à sociedade, faz-se necessário desenvolver
uma percepção atenciosa capaz de observar e identificar
que:

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 142


O movimento de modernização começa a aconte-
cer quando uma parcela significativa de um grupo
põe em prática uma atitude crítica, que questiona o
que está posto até então. Ou seja, a modernidade se
instaura quando os valores e a organização cultural
e social são questionados e se gestam novos valores,
que se contrapõem aos antigos. Assim, é preciso
identificar o que caracteriza o tradicional, para que
se perceba o que significa a modernidade em um
dado momento (CHACON, 2007, p. 72).

Esses valores dos quais fala Chacon (2007), podem


ser notados a partir da nossa concepção de homem como
ser histórico, onde ele mesmo, sujeito da ação, constrói,
derruba, conserta, danifica, instala, desinstala, conserva
e degrada. O homem de outrora, aquele que atravessou
o rio, do qual fala Heráclito, não é mais o mesmo de hoje
(se quiser atravessar o mesmo rio novamente, ele, como
ser histórico que é, já se modificou involuntariamente).
Um exemplo disso é se compararmos o homem do siste-
ma feudal com o homem do sistema capitalista, a dife-
rença entre eles é assombrosa, muito embora estejamos
falando do mesmo sujeito, não estamos lidando com a
mesma pessoa. Uma vez que na sociedade feudal não
havia a mercadoria, o homem não se via preocupado
em produzir muito para adquirir demasiadamente. O
motivo é simples: eles produziam para viver, o contrário
de hoje – no sistema capitalista – onde os homens vi-
vem para produzir; não somente produzir, mas também,
consumir, degradar e extirpar tudo aquilo que estiver ao
seu alcance ou, que por ventura, se mostre contrário à

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 143


força universal que domina, conhecida por sinal de força
capitalista de produção.
Desse modo, ao interferir na natureza, o processo
civilizatório transforma-a. Ao mesmo tempo trans-
forma o próprio homem. Eis que este, original-
mente também um ser natural, pela vida das suas
relações com o meio ambiente e com o outro, o seu
semelhante, transmuda-se no ser cultural. As suas
necessidades também se modificam. E a pauta das
requisições daquilo que a ecologia e a economia
podem lhe proporcionar já não reflete apenas os
cuidados com a preservação de sua vida animal, pu-
ramente biológica. Tem a ver, crescentemente, com
a satisfação de aspirações e desejos criados, “necessi-
dades” cultivadas - culturais e cultuais. Mais e mais,
são elas a expressão da ânsia de respostas a inquie-
tações de distintas índoles, nos planos mental, inte-
lectual, moral, espiritual. Uma procura para além
do ter, a do ser - a do ver. É ainda a busca do mais,
mas é ao mesmo tempo a busca da verdade, do belo,
do bom e do justo. A emergência do eidético, do
estético, do ético (BURSZTYN, p. 16, 1993).

Bursztyn é feliz ao retratar as consequências huma-


nas sobre o espaço ecumênio1 do qual retrata na obra
por ele organizada e intitulada Para Pensar o Desenvol-
vimento Sustentável, de 1993. Justaposto, vê-se que o
homem criou suas necessidades e seus desejos, ao passo
que, a modernidade, ampliando o campo da economia,
permitiu ao homem explorar suas potencialidades den-
tro do restrito plano limitado e denominado de nature-
1 Neologismo oriundo da junção dos substantivos “ecólogo” e “ecônomo”. O vocábulo
ecúmeno é utilizado para expressar “a área habitável” ou “habitada da Terra”, ou ainda, “o
geral”, “o universal”, isso pode ser constatado nos dicionários. Ver Burzstyn, 1993.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 144


za. É fato, que o homem não está apenas na busca por
sobrevivência – assim como faziam os homens da era re-
mota – sobrepuja um modelo cultural, político, econô-
mico, social e ambiental jamais visto, em conformidade
com a realidade factual (se é que fora alcançada) ou com
alguma que possa ser inventada, que segue, a propósito,
um comportamento inacabado e ininterrupto, dado que
o fim último desse atual modelo ainda não foi alcança-
do, se é que será. Bursztyn (p. 15, 1996) completa: “na
verdade, o ecúmeno é sempre um produto inacabado in
fieri. É um construto. Um processo. O Processo civili-
zatório”.
Isso elimina qualquer possibilidade que alie ao ca-
pitalismo aquela imagem dotada de uma devoção vir-
ginal, daquele que trouxe ao mundo sórdido, na forma
de uma oferenda perfeita, a mundialização (ou globali-
zação, como queira chamar) como prova de todo o seu
amor por tudo e todos. É fato, que o capitalismo trouxe
muitos benefícios ao conjunto da humanidade, por ou-
tro lado, é certo também que a sua atuação é pertinente
quanto ao contexto que retrata o massacre pelo qual tem
sofrido a natureza – inclui-se, também aqui, e, sobretu-
do, a espécie humana, ao passo que, ingênua ou passi-
vamente, tem atuado como marionetes na ciranda do
capital e, dessa forma, contribuído para a eliminação de
várias espécies animais, contaminação do solo, das águas
e poluição do ar. Esta é, por excelência, o ponto excelso
que a função da divindade do capital assumiu. Dizer que

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 145


chegou ao fim (este massacre) é um erro porque ainda
não conhecemos sua forma acabada e, muito menos, sua
cartada final.
Partindo das instituições sistemáticas que domi-
nam os sujeitos dentro desse complexo emaranhado do
capital, vê-se um ávido desejo pelo consumo, um enga-
jamento demasiado em tribos e/ou grupos como forma
de aceitação, uma idolatria desconcertante em torno dos
ditames da moda etc. Esses são uns dos vários escalpelos
que contribuíram e, ainda contribuem, para que a úlcera
bem do lado mais sensível do ego humano, a identidade,
seja cada vez mais dilatada e inflamante. Conseguir fazer
com que as forças do Homo sapiens vençam as do Homo
demens vai ser o grande desafio da época2.
Não menos incisivo, a modernidade tem criado
[...] uma redistribuição e realocação dos “poderes
de derretimento” da modernidade. Primeiro, eles
afetaram as instituições existentes, as molduras que
circunscreviam o domínio das ações-escolhas possí-
veis, como os estamentos hereditários com sua alo-
cação por atribuição, sem chance de apelação. Con-
figurações, constelações, padrões de dependência e
interação, tudo isso foi posto a derreter no cadinho,
para ser depois novamente moldado e refeito; essa
foi a fase de “quebrar a forma” na história da mo-
dernidade inerentemente transgressiva, rompedora
de fronteiras e capaz de tudo desmoronar (BAU-
MAN, 2001, p. 7).

2 Ver Leonardo Boff em sua obra intitulada de Nova Era: a civilização planetária; desafios
à sociedade e ao capitalismo, p. 87, ano de 1994.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 146


A citação mencionada anteriormente (BAUMAN,
2001) apresenta e denuncia o papel assumido pelas ins-
tituições, ao passo que, destacadamente, se colocaram
como coadjuvantes no papel que tem o capitalismo
como protagonista e as instituições como subordinadas.
Ele é, por sinal, a figura cardinal dessa presunçosa cena,
aliás, é diretor e ator, pois não só escreve e dirige a pró-
xima cena, como dita quem com ele vai contracenar a
ação e/ou assumir o papel de figurante, e como se não
bastasse admite, pragmaticamente, os “contemplados” a
comporem a plateia, supervisionada.
O Estado, é ele o principal coadjuvante daquele
outro, alimentando a fogueira que tem mantido acesa a
chama que une modernidade ao capitalismo nesse enla-
ce quase “romântico”, se não fosse os desastres aparente-
mente escondidos por entre o tapete da morada que os
une e comporta o pó escondido do niilismo da globa-
lização. Como diria Bauman em sua Globalização - As
Consequências Humanas, publicada em 1999, o panóp-
tico assumido pela figura do Estado – o cetro de ferro
do capitalismo – tem colocado os indivíduos na fúnebre
marcha rumo ao capitalismo.
É a partir daí, que a modernidade toma a forma de
uma “desordem”:
A tarefa de construir uma ordem nova e melhor
para substituir a velha ordem defeituosa não está
hoje na agenda - pelo menos não na agenda daquele
domínio em que se supõe que a ação política resida.
O “derretimento dos sólidos” traço permanente da

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 147


modernidade, adquiriu, portanto, um novo senti-
do, e, mais que tudo, foi redirecionado a um novo
alvo, e um dos principais efeitos desse redireciona-
mento foi a dissolução das forças que poderiam ter
mantido a questão da ordem e do sistema na agenda
política. (BAUMAN, 2001, p. 7).

Porto-Gonçalves (2012) comunga da mesma con-


cepção de Bauman, quando em sua obra A Globaliza-
ção da Natureza e a Natureza da Globalização, enfatiza
que essa (nova) ordem gerou uma desordem da qual
deixou “um séquito de devastação e desordem ecológi-
ca e social”, essa espécie de ordem-desordem mundial
desaguou na dominação da natureza, que, por sua vez,
implode como sendo consequência cronológica da im-
pregnação capitalista que, para tanto, se firmou na mo-
dernidade e encontrou sustentação.
A propósito, sobre o capitalismo o que se pode afir-
mar é que teve o “prelúdio do seu revolucionamento”, lá
no último terço do século XV e nas primeiras décadas do
século XVI na Inglaterra (MARX, p. 264, 1984). De lá
para cá muita coisa mudou, inclusive se aprofundaram
as relações dos mais ricos sobre os mais pobres, mas o
corolário desse lúgubre conto sobre exploração está por
vir, aliás, emerge quando o homem toma sua presa e se
torna tal como um animal predador, que para civilizar
o termo aqui adotado, passou-se a se utilizar o termo
“dominador da natureza”.
As imbricações e reflexos dessa rede de conexão que
vêm dominando a natureza podem passar por desperce-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 148


bidas se não for assumido o fato de que o homem não
só está retirando da natureza o que precisa, como tam-
bém o que não precisa, levando à exaustão essa relação
biunívoca entre homens e natureza. A questão é que o
mesmo capitalismo que produz e satisfaz as necessidades
humanas é também o que destrói e extingue a fauna e
a flora, em todas as suas potências e possibilidades; que
não se intimida com restrições porque se julga ser capaz
de superá-las (NAGALLI, 2014).
Portanto, modernidade e capitalismo comungam
entre si a partir do momento em que o sujeito, devoran-
do o planeta, superou o limite físico natural e intelectual
a ponto de conseguir extrapolar as barreiras entre tempo
e espaço, segregando os povos a viver no enredo o qual
deram o nome de globalização. Essa “globalização tan-
to divide como une; divide enquanto une” (BAUMAN,
1999), no mesmo tempo em que dita a velocidade com
que a humanidade deve ou não evoluir, de acordo, é cla-
ro, com a sagacidade do capital.

CRESCIMENTO ECONÔMICO E DESENVOL-


VIMENTO SUSTENTÁVEL: A EMERGÊNCIA DE
UM PARADIGMA
O conceito de desenvolvimento sustentável surge
como sendo uma nova matriz discursiva e interdiscipli-
nar no campo das ideias. Assim sendo, revela-se como
resultado das contradições apresentadas pela experiên-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 149


cia prática do processo de desenvolvimento econômico
que, como tal, constitui-se como ponto de inflexão no
diálogo entre desenvolvimento e meio ambiente, com a
introdução de dimensões de caráter social e ambiental
no conceito de desenvolvimento econômico (CASTE-
LO-BRANCO, 2010).
A Revolução Industrial favoreceu para que hou-
vesse um crescimento econômico acelerado nos países,
especialmente os do primeiro mundo, uma vez que
elevando as variáveis econômicas, estimulou, também,
o acréscimo na exploração dos recursos naturais, carac-
terizados como um verdadeiro ecocídio3. No entanto,
vale ressaltar que esse “progresso”, disfarçado por entre
a depredação dos recursos naturais, reservou aos países
desenvolvidos a primazia na maior fatia do bolo, o que
evidencia a desigualdade nessa relação metrópole-colô-
nia, centro-periferia ou desenvolvimento-subdesenvol-
vimento no atual Sistema-mundo-moderno-colonial4
(PORTO-GONÇALVES, 2012). O que se pode verifi-
car com isso é que houve uma globalização na explora-
ção da natureza, que se faz de forma unânime, por meio
de uma espécie de distribuição desigual dos rejeitos en-
tre as partes envolvidas, em especial com aqueles países
menos desenvolvidos e beneficiados com esse pacto no
Sistema-mundo-moderno-colonial.
O que emerge sobre isso é a degradação que o cres-
cimento econômico vem causando ao planeta, uma vez
3 Ver Porto-Gonçalves (2012) em A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização.
4 Idem, ibdem.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 150


que, a partir do surgimento da moeda como acelerador
no processo de trocas e, da Revolução Industrial na me-
dida em que possibilitou ao homem a dinamização dos
processos produtivos e produzir mais em menos tempo,
aumentou o uso e a apropriação dos recursos naturais
industrializados (LEONARD, 2011; PORTO-GON-
ÇALVES, 2012; NAGALLI, 2014).
Porto-Gonçalves (2012) chama atenção para a
questão que emerge com o período de globalização neo-
liberal, quando afirma que este já nascera sob o signo do
desafio ambiental, desafio esse que não se colocara para
nenhum dos períodos anteriores da globalização. Igual-
mente, o desafio ambiental está no centro das contradi-
ções do mundo moderno-colonial, pois este se tornou
a via obrigatória pelo qual todos os países teriam que
passar para poder sofrer os sinais do progresso, lembran-
do que essa roupagem mais atual de desenvolvimento,
o qual se nomeia de “progresso”, nada mais é do que
sinônimo de dominação da natureza.
A princípio, o termo sustentável tem origem do
latim, sustentare, que significa sustentar, conservar, favo-
recer. A palavra sustentável passou a ser difundida, mun-
dialmente, em 1972, quando foi realizado em Estocolmo
a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambien-
te e Humano – United Nations Conference on the Hu-
man Environment (UNCHE). Com base nesse aconte-
cimento, sustentabilidade passou a fazer parte do dialeto
e dos debates em torno da problemática relacionada à
conservação do planeta e à preservação da humanidade.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 151


Ainda sobre a sustentabilidade, o que se pode notar
é que, apesar de ser um termo ainda recente, já alcançou
um vasto campo no conjunto das ideias e das ciências
sociais. Uma vez que, apesar de seu significado estar
estreitamente relacionado ao meio ambiente, também
está relacionado a outros setores, como o da economia,
política, cultura, educação etc. Assim sendo, o que se
sabe é que a palavra sustentabilidade surgiu há pouco e
já é parte trivial no discurso das entidades, dos órgãos,
das empresas e da sociedade em geral. Contudo, mesmo
sendo tão difundida e discutida a sua relevância, o modo
como o capitalismo está sendo gerido nunca foi tão in-
sustentável (LEONARD, 2011).
Partindo da definição anterior do termo susten-
tabilidade, voltamos a atenção para o desenvolvimento
sustentável como ferramenta moderna e imprescindível
para a sustentação do capital. Ou será do planeta? Por
enquanto, o desenvolvimento sustentável ainda não foi
alcançado na sociedade em sua forma mais precisa e no-
tória; não se conhece suas vestes, tão pouco sua face. Po-
rém, sabe-se que o mesmo é benéfico e precisa de aten-
ção o quanto antes, dado o ritmo que a humanidade está
reverberando no planeta.
Sobre isso, aponta Veiga (2005) que é necessário
criar um desenvolvimento sustentável para o século XXI
que construa paradigmas e ajude a quebrar o domínio
do discurso político dos países centrais sobre os países
periféricos. A força do capital se revela mais voraz e pas-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 152


sível de realização do que aquele. Seu arranque imita a
força de um trator, sua devastação, a de um foco de in-
cêndio em uma floresta.
Dessa maneira, apesar do ceticismo que rodeia as
teorias contrárias ao desenvolvimento sustentável (ou
qualquer outra nomeação que resigne a este), o mesmo
emerge como preenchimento da lacuna entre cresci-
mento, de modo a acender a via que conduz à preser-
vação e otimização dos recursos naturais, propondo o
caminho mais recomendado para se alcançar a defesa
do meio ambiente, o que desnuda, por conseguinte, no
bem-estar humano a partir do instante em que se pensa
nas consequências futuras oriundas dos danos causados
sobre o meio, no presente.

CONCLUSÕES
Como foi mostrado, é nítido que o homem foi su-
cumbido por um processo que veio conjunto à moder-
nidade. A possibilidade de almejar melhorias em todos
os quesitos da vida, seja social, econômico ou político,
trouxe aos indivíduos que vivem em sociedade, a capaci-
dade de lograr – principalmente em termos econômicos
– uma mobilidade social que lhes fosse, imediatamente,
mais favorável. Sendo difícil imaginar como seria tudo
que os cerca se não fosse os atributos advindos com a
modernidade, como a possibilidade de assistir televisão,
usar o aparelho de celular, roupas da moda, consumir

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 153


enlatados, viajar em transportes aéreos ou terrestres...
entre uma enésima variedade de possibilidades que só
foram possíveis devido ao alcance do homem à tecnolo-
gia. Modernização ou morte!
Com a modernidade veio e o anseio do homem
pelo consumo extravagante e supérfluo. Consumo em
grande escala, que alimenta a matriz industrial. Aliás, é
com a industrialização que um país sobrepuja o cresci-
mento econômico e, consequentemente, populacional.
Mas, também, é neste processo, que mazelas sociais co-
meçam a surgir – como foi destaque nesta pesquisa – a
exemplo, da falta de acuidade ambiental.
O crescimento que nos acompanhou até hoje, po-
de-se dizer que foi uma espécie de crescimento que se
mostrou mais preocupada com as variáveis econômicas,
do que propriamente com o homem, longe, mais ainda,
da natureza. Diga-se de passagem: crescer não é desen-
volver.
Na ótica econômica, o crescimento é entendido
como sendo um processo de sistemática acumulação de
capital e de incorporação do progresso técnico ao tra-
balho e ao capital que leva ao aumento sustentado da
produtividade ou da renda por habitante. Enquanto que
o vocábulo desenvolvimento remete à ideia de transfor-
mação, crescimento, progresso; evolução de um status
para outro, um estado novo caracterizado por ser qua-
litativamente, e não apenas quantitativamente, superior
ao anterior.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 154


Ainda assim, mesmo após os inúmeros debates em
torno da definição de um termo pelo outro, o proble-
ma persiste em continuar na forma de degradação am-
biental, dilapidação dos recursos naturais, poluição das
águas e dos solos, excesso de constructos e dispersão de
resíduos sólidos e orgânicos, entre outros. Foi aí que o
Desenvolvimento sustentável surgiu como “caminho do
meio” entre aqueles dois, se mostrando a mais “correta”,
no entanto, a mais difícil operação a ser realizada em se
falando de pleno auge da modernidade, da urbanização,
do crescimento, por fim, do capitalismo. Percebe-se com
isso que o homem, julgando-se dotado de razão, não al-
cançou razões suficientes para diminuir o passo na trilha
que é preciso regredir para progredir.
Em síntese, notando que o capitalismo ganhou
força não somente pela facilidade com que o homem
encontrou nele chances de acumular, o mesmo foi re-
forçado desde a modernidade, sendo conduzida aos li-
miares do crescimento econômico por meio da explosão
populacional, o qual ganhou bastante força e ajudou
a reforçar a exaustão ambiental. Então, todos os pon-
tos abordados na presente reflexão, foram entrelaçados
como forma de sincronizar o percurso inicial do capital
até chegar à forma que o concebemos hoje, onde é la-
tente o risco que tem o homem colocado à sua espécie,
ao passo que põe ao fio da espada o planeta. Até chegar a
forma que temos hoje, o capitalismo se refez várias vezes,
inclusive, se trajou de verde para passar por entre os que

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 155


achavam que era impossível ser magnata e sustentável.
É preciso saber distinguir, sobretudo, mudar o rumo do
barco em busca de um estilo de vida que traga de fato
qualidade de vida para a geração atual e vindoura.

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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 157


JOVEM RURAL: FICAR OU SAIR DO CAMPO?

Francier Simião da Silva Junior


Cláudia Araújo Marco
Vanessa Oliveira Teles
Silvério de Paiva Freitas Junior
Francisco Gauberto Barros dos Santos
Verônica Salgueiro do Nascimento

INTRODUÇÃO
Durante a realização de assembleias da ONU, na
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento, em 1987, o termo desenvolvimento sustentável
tornou-se uma nova perspectiva do conceito de desen-
volvimento, formalizado no Relatório de Brundtland
(1991). O Relatório considera como desenvolvimento
sustentável “atender às necessidades da atual geração,
sem comprometer a capacidade das futuras gerações em
prover suas próprias demandas”.
As organizações da sociedade civil desenvolvem
inúmeros projetos, nas mais variadas temáticas e cam-
pos: na educação, geração de renda, captação de água,
beneficiamento da produção, bancos de sementes, assis-
tência técnica agroecológica etc. Muitos projetos são fi-
nanciados por organizações de apoio do exterior, outros
pelo governo brasileiro, por empresas ou pelo próprio
grupo que o desenvolve, buscando, principalmente,

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 158


atender às classes de baixa renda e vulnerabilidade (Arti-
culação no Semiárido Brasileiro, 2011).
Entre os diversos estudos sobre a temática abor-
dada no trabalho, dois são de grande recorrência nessa
questão, um deles é a tendência imigratória dos jovens,
em grande parte justificada por uma visão relativamente
negativa da atividade agrícola e dos benefícios que ela
propicia e outra se refere às características ou problemas
existentes na transferência dos estabelecimentos agríco-
las familiares à nova geração (BRUMER, 2006).
Em 1996, Paulo Freire, no livro Pedagogia da Au-
tonomia, destaca a utilização do diálogo como meio da
socialização de ideias capazes de gerar nos indivíduos
uma mudança comportamental, ou seja, a ação. Eviden-
temente, o diálogo é uma alternativa de aproximação
com esses jovens, é uma comunicação bidirecional na
qual todos os envolvidos têm direito à voz. Esse tipo de
voz é o que buscamos dentro da pesquisa, chamamos
de participativa aqueles envolvidos dentro da constru-
ção da experiência, em que cada um/uma entra com a
importante parcela dos resultados de sua produção no
campo, ou seja, unindo teoria e prática com participa-
ção integral dos envolvidos, trazendo o fazer “conjunto”.
Descartando a frase: “Eu te ensino e tu tentas fazer”. E
outras que ainda encontramos em uma assistência mol-
dada na voz opressora.
Considerando a complexidade da agricultura atual
e a relevância dos jovens enquanto atores fundamentais

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 159


para o processo de desenvolvimento desta, verifica-se
que a comunicação é a alternativa para interação e
construção de um fazer diferenciado para obter mu-
danças significativas nesse cenário, entre permanecer
no meio rural, e dar continuidade nas atividades agro-
pecuárias desenvolvidas pela família. Essa alternativa
de diálogo é uma forma de troca de saberes entre faci-
litadores (técnicos) e os atores principais (agricultores)
e, assim, é constituído a construção do conhecimento,
com base no diálogo e o fazer coletivo (CARNEIRO e
CASTRO, 2007).
As discussões acerca da juventude rural vêm sen-
do retratadas há décadas e provocaram várias reflexões.
Segundo Carneiro e Castro (2007), a trajetória de vida
desses jovens até a formação de suas raízes familiares no
seu meio é sempre impreciso, sendo referida ao fim dos
estudos, ao início da vida profissional, à saída da casa pa-
terna ou à constituição de uma nova família ou, ainda,
simplesmente a uma faixa etária.
Em 2004, em colocação de Zagury, a juventude é
considerada como uma fase do desenvolvimento huma-
no que requer direito e deveres específicos. Para Abramo
et al. (2000), são bem mais específicos, a juventude ca-
racteriza-se por dois períodos: adolescência e juventude
relativa à maioridade. O marco da adolescência inicia-se
aos 15 anos de idade e estendem-se até os 19 anos, aos
20 anos há início de uma nova fase de decisões e incerte-
zas que vai até 24 anos chamados de fase “adulta”.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 160


O Brasil segue o padrão de análise da Organização
Ibero-Americana da Juventude (OIJ), considerando jo-
vens as pessoas que se encontram na faixa etária de 15
a 29 anos. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS)
considera jovens as pessoas em idades entre 10 a 24 anos.
Em outros aspectos mais tradicionais, a juventu-
de parte de cinco abordagens: faixa etária, ciclo de vida,
geração, cultura ou modo de vida e representação social
(OLIVEIRA, 2006). Para esta pesquisa, estes aspectos
tornam-se imprescindíveis, juntamente aos quintais
agroecológicos. Somado a isto, apresenta-se a aborda-
gem da agricultura familiar, na qual o jovem do meio
rural tem a oportunidade de evidenciar o seu fazer dian-
te do mundo que está inserido e, assim, ressignifican-
do suas decisões de permanecer ou não no campo. Tais
representações, no resgate de seus contextos sociais, na
relação entre o campo e a cidade, como também em
seus projetos de vida, passam a ser tema de investigações
quanto ao futuro desses sujeitos (JÚNIOR, 2007).
As limitações que ainda persistem com raízes em
várias dimensões da vida das comunidades afetam di-
retamente a juventude. A agricultura com todas as difi-
culdades que tem e praticada de forma tradicional não
consegue responder aos anseios de uma vida com mais
dignidade no campo. A reação da juventude diante des-
ses problemas está diretamente ligada à capacidade de
enfrentar ou não os desafios do tempo presente. Sem ex-
pectativas, alguns terminam enveredando por caminhos

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 161


nem sempre saudáveis, envolvendo-se com o uso abusi-
vo de álcool e de drogas na maioria das vilas e povoados
rurais, aumentando com isso os índices de violência e
criminalidade.
As relações dessa faixa etária perante esse paradig-
ma e os questionamentos da juventude rural supõem o
entendimento de dupla dinâmica social. Por um lado, a
dinâmica territorial que relaciona a sua família, a vizi-
nhança da comunidade e a cidade, colocando em vista
a zona urbana – industrial. Além de espaços distintos e
sobrepostos, trata-se fundamentalmente dos espaços de
vida que se entrelaçam e que dão substância à experiên-
cia dos jovens rurais e à sua inserção na sociedade (CAR-
NEIRO e CASTRO, 2007).
Carneiro e Castro (2007) colocam em suas falas,
que por outro lado, nestes espaços, a vida cotidiana e
as expectativas para o futuro são constituídas de uma
dinâmica temporal: o passado das tradições familiares,
que inspira práticas e as estratégias do presente e do en-
caminhamento do futuro; o presente da vida cotidiana,
focalizado na educação, no labore e na sociabilidade lo-
cal; e o futuro, que se proclama, sobretudo, por meio das
preferências práticas de herança, sucessão e das estraté-
gias de migração temporária ou definitiva.
Dentre as dificuldades encontradas para a formação
de novas unidades produtivas estão o desejo de muitos
jovens de não dar continuidade ao processo reprodutivo
social das propriedades semelhante ao de seus pais nas

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 162


atividades rurais. Isso significa dizer que o êxodo rural
em que predomina a agricultura familiar hoje, atinge as
populações jovens com muito mais ênfase que em mo-
mentos anteriores (JÚNIOR, 2007).
Em decorrência do processo de êxodo rural está
o processo de envelhecimento da população. Percebe-
-se recentemente um severo processo de masculinização
do campo, já que as moças estão deixando a zona rural
antes e numa proporção maior que os rapazes (ABRA-
MOVAY et al., 1998).
Dentre as principais implicações dos processos su-
pracitados que vêm se agravando nos últimos anos está o
que se pode denominar de “problema da questão suces-
sória” na agricultura, que acontece quando a formação
de uma nova geração de agricultores perde a naturali-
dade com que era vivida até então pelas famílias e pelos
indivíduos envolvidos nos processos sucessórios.
Percebe-se, em vários estudos, que quem perma-
nece no campo é o filho que possui menor grau de es-
colaridade (SILVA, 2006). Essa estimativa tem pontos
positivos, que é habilidade dos mesmos em lidar com a
terra, faltam apenas as técnicas que potencializem seus
plantios.
Com tais considerações, ficar ou sair do campo
constitui um assunto complicado e polêmico, já que tra-
ta de indivíduos em fase de mudança psicossocial, isto é,
pessoas que estão deixando de ser criança e partindo para
a fase adulta. Abordando-se os jovens no meio rural, sur-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 163


gem questionamentos quanto à permanência na proprie-
dade e consequente continuidade dos afazeres da família
ou ao abandono da propriedade rural familiar com vistas
à mudança do modo de vida nas cidades. Elementos que
remetem ao entendimento das “novas” ruralidades.
Durante essa mudança de estágio, muitas vezes,
sem motivação para continuar estudando, os jovens
abandonam a escola antes de concluir o ensino médio e
apenas poucos destes chegam à universidade. Os jovens
que se desafiam a permanecer em suas comunidades de
origem estão cientes do seu papel social, procuram par-
ticipar dos espaços de decisão política tais como sindica-
tos de trabalhadores/as rurais, associações comunitárias,
grupos de jovens e das pastorais das igrejas. Uma de suas
tarefas tem sido enfrentar a cultura de massa que forta-
lece o capitalismo e o individualismo, em detrimento
dos valores humanos construídos e difundidos há sécu-
los pelas famílias e grupos de tradição popular na região
(Associação Cristã de Base, 2013).
Para Champagne (1986), o termo migração pode
ser entendido como rejeição às atividades no campo.
Assim, filhos não sucedem as atividades cotidianas dos
pais, ou seja, recusa do modo de vida dos pais. Desvalo-
rizando tanto a si como, também, aos seus semelhantes
por estar em um ambiente indesejado por eles.
Dessa forma, as estratégias familiares voltadas para
a reprodução da atividade agrícola centram-se na aquisi-
ção de novas terras, para que haja a instalação dos filhos

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 164


homens na agricultura. É detectado que os filhos mais
jovens, da segunda geração, são influenciados pelos pais
a buscarem novas alternativas.
É importante a inversão da questão do êxodo rural,
principalmente da juventude, procurando examinar as
condições que favorecem sua permanência, ganha rele-
vância os estudos que analisam o modo de vida, as rela-
ções sociais, as condições estruturais, as oportunidades
de lazer e acesso a atividades agrícolas e não agrícolas,
para jovens de ambos os sexos (BRUMER, 2006).
Na perspectiva da participação conjunta e constru-
ção do conhecimento, se reflete em uma metodologia da
teoria-prática valorizando os saberes dos agricultores/as
em seu fazer cotidiano. O conhecimento da realidade é
necessário a partir da visão dos atores envolvidos. Cada
pessoa carrega consigo seu saber e este deve ser valoriza-
do para que se sensibilize o ator inserido, a fim de que se
estabeleça a comparação, a construção de experiência, a
troca e o crescimento de cada ser, no contexto que possa
debater sobre as questões de melhorias (Associação Cris-
tã de Base, 2011).
A nossa fala e a daqueles e daquelas que conosco
dialogam deve ser instigante, ao invés de apassi-
vadora. “[...] quem tem o que dizer deve assumir
o dever de motivar, de desafiar quem escuta, no
sentido de que, quem escuta diga, fale, responda”
(FREIRE, 1996, p.117). É preciso que falemos para
obter respostas pelo desafio expresso em nossa fala,
e não para provocar reações meramente submissas
ou impostas.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 165


O enfoque sobre a realidade dos jovens e suas fa-
mílias de agricultores/as em cada comunidade ou espaço
inserido, problematizando os fatos concretos vivenciados
nas comunidades e ao seu redor. Na região do Cariri, cada
jovem de muitas das comunidades rurais em desenvol-
vimento, busca uma interação dentro da comunicação,
focando cada vez mais na ação participativa de temas so-
ciais e ambientais, a maneira em que eles/elas estão son-
dando melhorias para seu meio, de fato, explica cada vez
mais a presença do jovem dentro das associações comu-
nitárias, sindicatos de trabalhadores rurais, cooperativas e
grupos de mulheres. Nessa metodologia de comunicação,
a ênfase maior é dada na prática constante do diálogo que
facilita a animação, os processos coletivos de construção
do conhecimento, a elevação da autoestima das famílias e
a criação de grupos de jovens nas comunidades.
Cada vez mais eles/elas ganham espaços nos de-
bates de decisões dentro das comunidades, um avanço
muito satisfatório dentro do diálogo entre líderes comu-
nitários. Freire (1996) ressalta a importância do silêncio
no espaço da comunicação, quando envolvemos essa
questão do jovem no seu meio, na conquista de seu es-
paço, pois quem ouve como sujeito e não como objeto,
a fala de quem comunica, virando linguagem e de outra
forma, torna possível a quem fala escutar a indagação, a
dúvida e a criação de quem escutou. Assim, para Freire
(1996) o diálogo nesses meios de debates só é possível
quando se dá espaço à resposta para construção das ex-
periências.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 166


Essa metodologia teoria-prática, através do diálogo
aberto entre jovens os/as agricultores/as, possibilitando a
abordagem de temas sociais, de gênero, e políticas públicas
de que trata a proposta de convivência com o semiárido.
Objetivou-se observar neste estudo as questões li-
gadas à juventude rural em cima do dilema “ficar ou sair
do campo” de quatro municípios do Cariri cearense.

PERCURSO METODOLÓGICO
A metodologia da pesquisa baseia-se no conheci-
mento popular por meio de entrevista e avaliação visual,
com o envolvimento de mais de 124 famílias com par-
ticipação de 132 jovens com idades variando entre 14 a
29 anos, em 26 comunidades rurais.
As comunidades foram selecionadas em quatro
municípios: Crato; Cariri Central, Nova Olinda; Cariri
Leste, Santana do Cariri e Milagres; Cariri Oeste, sen-
do essas escolhidas por representar tanto o projeto de
ATER, como também, permitiu uma pesquisa diversifi-
cada do Território da Cidadania do Cariri cearense.
Os dados qualitativos buscaram comparar as vivên-
cias da juventude na atual conjuntura da zona rural. As
comunidades estudadas são beneficiadas com políticas
públicas de convivência com o semiárido, que frisam
bons resultados na preservação do meio ambiente, no ge-
renciamento dos recursos hídricos, segurança alimentar

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 167


e geração de renda através das produções dos quintais,
questão social dos jovens e suas relações com a sociedade.
Para primeira coleta de dados, foram aplicadas fichas
para seleção das comunidades e das famílias que fizeram
parte dos projetos de Assistência Técnica Rural - ATER e
Políticas Públicas de convivência com o semiárido.
As informações das fichas e critérios adotados para
seleção das comunidades e das famílias foram: (I) Dados
pessoais (Nome, idade, quantidade de pessoas morando
na casa, escolaridade), tipo de moradia (casa de taipa ou
alvenaria), renda familiar, endereço etc.; (II) Quantida-
des de jovens inseridos na família com idades de 14 a
29 anos; (III) Possuir água para produção ou tecnologia
social de produção (cisterna de placas); (IV) Situação da
terra (posseiro/a, arrendatário/a ou proprietário/a), ta-
manho (tarefas ou hectares), culturas plantadas, criações
de animais, entre outros aspectos da propriedade; (V)
Participação em capacitações; (VI) Acesso a outras po-
líticas públicas.
Os principais métodos de coleta de dados empre-
gados nas atividades de campo foram as entrevistas, os
questionários e as análises visuais e/ou fotográficas. Esses
questionários denominados de Diagnóstico Participati-
vo Familiar (DPF) podem ser interpretados como uma
tentativa de maximizar as coletas de informações da ju-
ventude em seu envolvimento com as atividades rurais,
buscando uma relação ao conhecimento da realidade,
especialmente quando envolve a realidade socioeconô-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 168


mica e ambiental desses jovens em suas comunidades e
municípios.
O trabalho utilizou o método da triangulação que
pode combinar métodos e fontes de coleta de dados
qualitativos e quantitativos (entrevistas, questionários,
observação e notas de campo, documentos, além de
outras), assim como diferentes métodos de análise dos
dados: análise de conteúdo, análise de discurso, méto-
dos e técnicas estatísticas descritivas e/ou inferenciais
etc. Seu objetivo é contribuir não apenas para o exame
do fenômeno sob o olhar de múltiplas perspectivas, mas
também enriquecer a nossa compreensão, permitindo
emergir novas ou mais profundas dimensões. Ela con-
tribui para estimular a criação de métodos inventivos,
novas maneiras de capturar um problema para equili-
brar com os métodos convencionais de coleta de dados
(DUARTE, 2009).
Para cada DPF coletou-se as assinaturas de atesto
de participação na pesquisa com a disponibilidade da
livre publicação de falas e dados coletados de cada caso
estudado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo nos municípios envolvidos destaca repre-
sentações dos jovens agricultores nas três partes do ter-
ritório da cidadania do Cariri cearense; Oeste, Centro e
Leste. O que nos permitiu um bom diagnóstico sobre as
ações, e que tratou de fato a construção das identidades

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 169


desses jovens, tal como elas se mostram com suas arti-
culações nos “modos de ser, de sentir e de se represen-
tar” nesse novo fazer agroecológico. A partir dos depoi-
mentos e “observação participante” foi possível verificar
como a juventude está cada dia em dinâmica com seu
seio familiar e no ambiente rural, atribuindo cada vez
mais sentido às suas vidas mediante os cruzamentos de
expectativas e frustrações.
Quando nos referimos ao ambiente familiar dos
jovens favoráveis a permanência no campo, várias são
as questões que envolvem a dimensão do papel social, a
relevância de ser homem ou mulher de bem, íntegro/a.
A família exerce uma função educativa que está muito
além da dimensão exclusivamente produtivo-econômi-
ca, pois tem no presente o projeto de reprodução fa-
miliar. O seio familiar exerce influências sobre ações de
todos os membros, em todas as decisões dos mesmos e,
em geral, refletem nas estratégias de decisão buscando
a perpetuação da unidade doméstica (LENOIR, 1998).
A participação direta e os avanços nas produções
diversificadas agrícolas e não agrícolas na zona rural, em
todos os aspectos, semeia importantes visões na juven-
tude, gerando opiniões e reflexões sobre seu papel na
sociedade e nas suas perspectivas de permanência no
campo. A panorâmica da comunidade na antiga con-
cepção destaca-se a devastação das matas, uso do fogo e
a degradação do solo, ano após ano, é a mesma cultura
agrícola que faz presente. A observação através do envol-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 170


vimento dos jovens à frente dos projetos comunitários
é, de fato, o ponto importante e impacta uma mudança
repentina de opinião dos atores envolvidos e no cenário
da comunidade.
A juventude dos municípios de Milagres e Crato
se mostraram bem mais envolvidos nos projetos exe-
cutados na sua comunidade e são atores principais no
fomento de ações que envolvem a preservação do meio
ambiente e produção de alimentos mais saudáveis. Nos
dados e depoimentos coletados, esse fato está inteira-
mente relacionado com o grau de instrução dos pais,
ou seja, as famílias em que tiveram um estudo ou capa-
citações formativas de opiniões estão incentivando seus
jovens a participarem mais das atividades comunitárias.
A fala do agricultor Zé Abílio, no sítio Oitis em
Milagres-CE, marca uma reflexão que ajuda a entender
o caminho para incentivar seus filhos e filhas a sentir essa
atração pela permanência no campo:
[...] tudo que nasce na terra e para ficar na terra, a
vegetação em volta à minha casa segura o molhado
da terra por mais tempo, minhas cabras estão gor-
dinhas e minhas galinhas estão pondo bastante [...]
quando quero mel, vou ali em minha abelhas. [...]
quando quero uma fruta vou lá e pego no pé de
laranja, goiaba, banana, limão e até coco [...] quan-
do preciso de uma estaca tem as de sabiá ou faço
uma poda nas outras que estão maiores [...] fogo na
minha terra faz tempo que não uso. Minha horta
estou plantando de tudo, pois a diversidade é que
o segredo. Até minha água que sai da pia serve para
aguar minhas canas caianas e fitas [...] sim, e tudo

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 171


que produzo uma parte fica em casa, outra parte eu
levo para feira da ACB em Milagres e ainda estou
vendendo aqui na comunidade [...] e quando tenho
um tempo chamo amor (a esposa) e os parentes
para uma voz de violão [...].

A devida atenção em relação a esse “quero ficar


no campo” que resgata um olhar de esperança sobre os
avanços na zona rural. Segundo Silva (2006), a dimi-
nuição da dependência afetiva/decisória dos jovens se dá
paralelamente a uma maior “autonomia de circulação”,
isso revela a existência de uma nova visão sobre seu meio.
Nas opiniões fornecidas nas entrevistas, o jovem
conquista um papel de destaque no processo decisório à
medida que se envolve mais intensamente nas atividades
dos projetos da comunidade em suas várias etapas.
Foi observada uma valorização da opinião (que
tem o caráter de recomendação técnica) dos jovens. No
campo político e ideológico, a experiência participati-
va possibilitou uma dinâmica de autorreconhecimento
dos jovens em sua identidade, enquanto agricultores se
identificavam como agricultores e filhos de agricultores.
Entre esses jovens foi despertado um sentimento de
valorização do meio rural e dos saberes dos pais. A opção
pela continuidade do estudo é a expectativa mais forte
da maioria dos envolvidos, vem por meio de melhorar
cada vez mais o seu meio de convivência e permanência
no campo. Isso mostrou o bom desempenho das relações
e das entrevistas participativas de todos/as envolvidos/as.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 172


Para Passador (2006), quando tentarmos entender
como a experiência participativa dos pais na conjuntura
rural se reflete na formação dos jovens, observou que as
influências mudam conforme quem as descreve. Exemplo
disso ocorre quando os pais falam das influências da for-
mação técnica/universitária, mas muitas vezes, eles repu-
diam sua própria atividade como última opção para seu
filho, sendo que essa influência é transformada inversa-
mente pelo próprio entendimento dele sobre a realidade.
É importante assinalar que para os que não que-
rem ficar no campo, em dados coletados na comunidade
Catolé no município de Santana do Cariri e sítio Sol-
zinho em Nova Olinda, frisaram algumas conjunturas
culturais de resistência à mudança e de incertezas sobre
a tensão entre ficar e sair do campo. Isso apareceu como
uma espécie de “disputa” não revelada, mas que pôde ser
caracterizada, muitas vezes, pelo desinteresse por parte
dos pais na continuidade dos filhos no próprio campo.
Sendo que, em determinadas áreas do rural, esteve mais
presente entre os pais com pouca escolaridade e dos que
não participam dos projetos envolvimento comunitário
e de assistência. Esses revelaram o seguinte raciocínio:
[...] Sofremos muito no campo, não quero essa vida
para meu filho [...]. Ou entre os filhos (jovens) que
abandonaram a zona rural:[...] se meu pai ou minha
mãe sofreram tanto aqui, então devo buscar outro
caminho [...]. Ou entre alguns jovens que nunca mi-
graram, mas que também não conseguiram avançar
nos estudos, em que se observa o sentimento mútuo
de vergonha entre pais e filhos. Como no dizer de
uma mãe: [...] meu filho não dá para os estudos [...].

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 173


Isso ocorreu com alguns agricultores entre 25 a
29 anos, que não aceitaram participar dos projetos na
comunidade, mas aceitaram participar do estudo em
questão.
Em outro contexto, mas na mesma sequência de
“sair do campo”, para alguns jovens a saída para estudar
constitui-se em projeto para ascensão financeira e profis-
sional. Alguns parecem perceber que o trabalho na terra
da família não tem condição de gerar o dinheiro necessá-
rio para o investimento numa mudança de atividade. É
preciso estudar fora, conseguir um emprego para inves-
tir na terra. Muitas vezes essa estratégia é compartilha-
da com os pais. Esses, por outro lado, apresentam certa
frustração, pois o que de fato almejam é ter a família
reunida (estratégia de recomposição).
Seria oportuno e urgente investigações mais apro-
fundadas sobre o desempenho de projetos, por exemplo,
em diferentes regiões de um mesmo estado, de tal sor-
te que se refletisse sobre o “sucesso” e o “insucesso” em
determinadas localidades, com vistas a uma análise dos
“alfabetizados” que estão sendo gerados no Brasil e os
alfabetizados que não estão; assim como pensar projetos
vinculados a iniciativas sociais e tecnológicas, a escola e a
família, uma vez que em regiões como a que foi estuda-
da ou que sejam pouco desenvolvidas (socioambiental),
econômico e a educação informal tem um grande peso
para o encaminhamento dos estudos.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 174


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao refletirmos sobre o papel dos jovens na unidade
familiar, vimos que não existem papéis prontos e/ou aca-
bados, mas papéis que estão sendo ou que podem vir a
ser, conforme as expectativas dos sujeitos. Constatou-se,
ainda, que os jovens rurais nos municípios de Santana
do Cariri, Nova Olinda, Crato e Milagre, sobretudo
aqueles cujas trajetórias de vida se dão entre o rural e o
urbano, estão vivendo experiências de elaborar e reela-
borar práticas, valores dos dois universos culturais.
Para os que pretendem “sair do campo”, como ob-
servamos em alguns casos, os jovens estão sendo agri-
cultores num contexto de instabilidade, de não identifi-
cação com a identidade rural. Não podemos pensar em
influências dos pais como se elas existissem por si mes-
mas. As influências emergem de interações com outros
aspectos, seja da estrutura familiar, seja das condições
socioeconômicas do meio envolvente, das relações so-
ciais, dentre outros.
Enfim, com a influência das políticas públicas e ar-
ticulação das ONGs nas comunidades rurais do Cariri
cearense, em conjunto com vários parceiros da socieda-
de civil vêm transformando o “Sair do Campo” em uma
perspectiva de vida cada vez mais digna e valorizada,
buscando meios sustentáveis de permanência no campo.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 175


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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 177


TERRITORIALIZAÇÃO E
MATRICIAMENTO EM SAÚDE
COLETIVA: PROCESSO DE TRABALHO
ECOSSISTÊMICO COM BASE NA
CLASSIFICAÇÃO DE RISCO

Lívia Monteiro Rodrigues


Nara Juliana Santos Araújo
Valmir Wanderson Tomé da Silva
Edilma Gomes Rocha Cavalcante
Alissan Karine Lima Martins
Francisco Elizaudo de Brito Junior

INTRODUÇÃO
A Atenção Primária à Saúde (APS) constitui-se
no sistema público de saúde, como principal porta de
entrada dos usuários, assumindo, assim, a coordenação
do cuidado, responsabilizando-se por um conjunto de
ações de caráter individual e coletivo voltado para pro-
moção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tra-
tamento e reabilitação.
Nesse sentido, destaca-se o caráter estruturante
que a APS tem na constituição das Redes de Atenção
à Saúde (RAS), visto que, segundo Mendes (2011), as
RAS dependem que a APS seja efetiva desde o primeiro
contato, assumindo particularidades como a integrali-
dade, coordenação, centralização na família, orientação

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 178


comunitária, como também exercendo as funções de
responsabilização, coordenação dos fluxos e resolução
dos problemas da população.
Contudo, apesar de mostrar-se fundamentada
nos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde
(SUS), o modelo de gestão da oferta de serviços na APS,
tem se mostrado deficitário, por ter seu foco na oferta de
serviços e não nas necessidades de saúde da população,
onde ela resume-se a uma soma de indivíduos sem vín-
culo e responsabilização dos profissionais com os usuá-
rios (CEARÁ, 2017).
Assim, para que ocorra o fim desse modelo, é ne-
cessário que um novo processo de trabalho se estruture a
partir do conceito de promoção da saúde da população
vinculada a APS, reforçando, assim, alguns macropro-
cessos básicos como territorialização, cadastramento de
famílias, classificação de risco, onde torna-se possível a
identificação dos determinantes individuais, biopsicos-
sociais, como também a estratificação de risco das con-
dições crônicas, envolvendo, então, intervenções sobre
os determinantes sociais da saúde (CEARÁ, 2017).
Partindo do conceito de território que se configu-
ra no espaço geográfico que agrega tanto o espaço fí-
sico como características socioeconômicas, ambientais,
culturais e de vida das pessoas, fica clara a importância
de explorá-lo na APS, visto que este é o cenário onde
serão desenvolvidas as atividades da estratégia de saúde
da família (ESF) e proporciona a caracterização da po-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 179


pulação e seus problemas de saúde, bem como permite
a compreensão do contexto social, econômico, político,
cultural e ideológico (MATOS, et al., 2013).
Assim, a territorialização permite a identificação de
prioridades em saúde através da compreensão dos deter-
minantes sociais do processo saúde-doença, avançando,
desse modo, na efetivação de uma atenção programada
e sustentável, voltada para as necessidades de saúde da
população (TEIXEIRA; PINTO, 1993).
Reconhecendo o quanto as condições de vida e
trabalho dos indivíduos e grupos populacionais relacio-
na-se com sua situação de saúde, torna-se relevante um
conhecimento mais aprofundado sobre os Determinan-
tes Sociais de Saúde, que são fatores exatamente através
dos quais as condições sociais afetam a saúde e que estes
podem ser modificados por meio de ações baseadas em
indicadores de vigilância em saúde (BUSS; PELLEGRI-
NI FILHO, 2007).
Na perspectiva de um melhor conhecimento so-
bre o território, determinantes, condicionantes sociais e
ambientais como estes influenciam no desenvolvimento
dos agravos de saúde da população, surgem novos mo-
delos epidemiológicos de abordagem ecossistêmica asso-
ciados a geotecnologias com a finalidade de reconhecer
indicadores e estabelecer prioridades em saúde no con-
texto da atenção básica.
Diante do exposto, propomos um modelo para
reorganização do processo de trabalho em vigilância à

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 180


saúde no âmbito da atenção básica, tendo como referên-
cia o trabalho das equipes de estratégia da saúde da famí-
lia e seus territórios adscritos, com o intuito de instituir
uma atenção programada voltada para as prioridades de
saúde da comunidade. Esse modelo parte da territoriali-
zação e classificação de risco dos sistemas familiares, com
a construção de mapas georeferenciados e geoprocessa-
dos discutidos por grupos de trabalho intersetoriais,
onde são elencadas as prioridades de cada território, a
partir das quais são construídas matrizes ecossistêmicas
de dados e indicadores conforme a metodologia propos-
ta pela OMS (modelo FPEEEA). A partir desse modelo
são estruturados planos de trabalho com o planejamen-
to de intervenções que possam suprir as prioridades na
atenção à saúde da comunidade.
Para fortalecer o arcabouço teórico do tema aborda-
do no presente trabalho, faz-se necessário levantar jun-
to à literatura, definições e especificações importantes
sobre os temas: Determinantes Sociais em Saúde, Indica-
dores em Saúde, Modelo Ecossistêmico e Matriz FPEEEA.

ENFOQUE EPIDEMIOLÓGICO ECOSSISTÊMI-


CO EM SAÚDE
Entende-se ecossistema como sendo uma comuni-
dade de organismos que interagem e mantêm relações
entre si e que são capazes de construir redes de convi-
vência harmoniosa. Esse conceito também é aplicável ao

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 181


espaço/território de práticas ecológicas urbanas (SAN-
TOS, et al., 2009).
É consenso bem difundido que os fatores am-
bientais afetam a saúde humana. Essa é uma demanda
complexa que necessita de uma integração de disciplinas
para sua compreensão completa, e precisa de profissio-
nais completos, capazes de promover corretamente essa
integração, avançando na transdisciplinaridade e esti-
mulando a prática de estudos com abordagens ecossis-
têmicas (WEIHS; MERTENS, 2013).
O conceito epidemiológico clássico parte da ideia
de que para cada doença existe um agente específico
(unicausal). Este princípio foi útil para prevenção e tra-
tamento de doenças. Porém, o aumento na complexida-
de do modo de vida, das relações sociais e de trabalho
exigiu a necessidade de ampliação do entendimento do
processo saúde-doença fortalecendo as teorias multicau-
sais, onde fatores ambientais e sociais são indispensáveis
na análise epidemiológica. Nesse contexto, a ideia de
causa é substituída pelo conceito de fator de risco.
A multicausalidade passa a ser entendida como
uma rede de causalidade, sob uma perspectiva mais
ampla e abrangente da relação saúde-doença, acolhen-
do fatores sociais e ambientais mais complexos e, com
isso, dando origem a uma concepção ecossistêmica para
a vigilância epidemiológica (AUGUSTO et al., 2014).
É no âmbito das comunidades, usualmente, que a
dimensão ecossistêmica do setor saúde é percebida com

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 182


maior clareza, na forma dos binômios: saúde-saneamen-
to, saúde-ambiente, saúde-economia e saúde-sustenta-
bilidade. A saúde, nesta perspectiva, está diretamente
relacionada à problemática do acesso à água e ao sanea-
mento; à saúde dos trabalhadores; ao manejo sustentável
dos resíduos sólidos; às condições de habitação; ao uso
e ocupação do território; ao controle dos riscos de saú-
de relacionados com o ambiente e à condição de vida e
hábitos relacionados ao estilo de vida individual (GRI-
SOTTO, 2011).
O paradigma ecológico sugere que o estudo inte-
grado dos determinantes socioambientais, econômicos,
institucionais e políticos – e, com efeito, da distribui-
ção geográfica das doenças, dos fatores etiológicos e so-
cioambientais – é de grande relevância para as ações de
vigilância à saúde, planejamento intersetorial e proposi-
ção de estratégias para promoção da saúde no contexto
dos territórios.
Estudos dessa natureza baseiam-se na transdiscipli-
naridade, na participação social e na igualdade de gêne-
ro. São frutos da inquietação prática e conduzem a uma
estratégia integrativa (GOMÉZ; MINAYO, 2006). Eles
denotam a importância do trabalho social a ser desen-
volvido junto com a comunidade, apoiando-se em ações
coletivas, nas trocas entre pessoas, no convívio, no res-
peito e no cuidado (WEIHS; MERTENS, 2013).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 183


DETERMINANTES SOCIAIS EM SAÚDE
As condições socioeconômicas influenciam decisi-
vamente na saúde da população e são responsáveis por
grande parte das condições que afetam a vida humana
durante todas as suas fases. Essas condições são agrupa-
das em fatores que são chamados de determinantes so-
ciais de saúde e possuem importância variável na análise
de saúde. É essa diferença de importâncias que geram
a estratificação social e demonstram a necessidade de
tratamentos distintos para os indivíduos (CARVALHO,
2003).
No Brasil, a Comissão de Determinantes Sociais em
Saúde (CNDSS), utiliza os determinantes sociais como
base para a realização de estudos para o combate à iniqui-
dade. Estes estudos devem ser baseados na conscientiza-
ção e na mobilização social, de forma que obriguem os
diversos setores do governo a fazerem parte do processo.
O modelo de estudo adotado pela CNDSS é o modelo de
Dahlgren e Whitehead (Figura 1), elaborado em 1991.
A escolha deve-se a fatores como a sua simplicidade e
facilidade de compreensão. Esse modelo é disposto em
camadas, que representam desde os determinantes indi-
viduais, até os macrodeterminantes. (BRASIL, 2008a).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 184


Figura 1: Modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e
Whitehead (1991)

Fonte: Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais em Saúde

CONSTRUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE IN-


DICADORES EM SAÚDE
Definimos indicadores sociais como instrumentos
que organizar, sintetizar e utilizar informações, úteis ao
planejamento, ao estabelecimento de metas e ao con-
trole do desempenho, viabilizando, assim, a análise de
decisões estratégicas e a tomada de decisão (KLIGER-
MAN, et al., 2007).
A construção de um sistema de indicadores é es-
sencial para a vigilância à saúde e, principalmente, numa
perspectiva ecossistêmica. Os indicadores subsidiam o
processo de definição de estratégias e prevenção de
controle de riscos, bem como de promoção de saúde.
Eles devem voltar-se para aspectos específicos de políti-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 185


cas (OLIVEIRA; FARIA, 2008). Essa construção varia
desde uma contagem direta de fatores até o cálculo de
proporções, de taxas e de índices sofisticados como a ex-
pectativa de vida ao nascer de um indivíduo (SOARES,
et al., 2005).
Os indicadores são classificados em seis subconjun-
tos temáticos: demográficos, socioeconômicos, mortali-
dade, morbidade e fatores de risco, recursos e cobertura.
Cada um é caracterizado na matriz pela sua denomi-
nação, conceituação, método de cálculo, categorias de
análise e fontes de dados e sua qualidade dependem da
qualidade dos componentes usados em sua formulação
e da precisão do sistema empregado. Sua excelência é
definida por sua validade, confiabilidade, sustentabili-
dade, mensurabilidade, custo-efetividade e relevância
(BRASIL, 2008B).

MATRIZ FPEEEA
Pinto e colaboradores (2012) definem a matriz
FPEEEA como sendo uma ferramenta que analisa pro-
blemas originados na relação saúde/ambiente/trabalho
e que identifica indicadores e propõe ações que possam
resolver os problemas identificados. O modelo consiste
da construção de uma matriz, em seis estágios que são a
força motriz, a pressão, a situação, a exposição, o efeito
e a ação e tem como precursores os modelos PER (pres-
são-estado-resposta) e o PIER (pressão-estado-impacto-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 186


-resposta) muito utilizados anteriormente (OLIVEIRA;
FARIA, 2008).
O Ministério da Saúde do Brasil, utiliza esse mode-
lo para desenvolver estratégias de vigilância ambiental.
Ele auxilia o gestor a conseguir uma visão macro para
iniciar o processo produtivo até os efeitos no indivíduo
(QUINTINO, 2009).
Entre as vantagens que o modelo apresenta, uma
das mais importantes é o fato dele permitir flexibilida-
de para análise de inter-relações dos diferentes níveis da
matriz e ao mesmo tempo, incorpora indicadores de
saúde na avaliação ambiental (BRASIL, 2011).
O modelo aqui descrito apresenta algumas limita-
ções. A principal delas é relacionada à utilização do mé-
todo em si, tendo em vista que a falta de familiaridade
com o mesmo pode levar o mediador a conduzir o grupo
de forma errada e gerar uma construção inadequada de
problemas e indicadores (QUINTINO, 2009).

METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência da aplicação
de um modelo ecossistêmico de vigilância em saúde na
atenção básica, por meio da territorialização, classifica-
ção de risco familiar e construção participativa de matri-
zes ecossistêmicas e indicadores.
A área de estudo do presente trabalho foi o mu-
nicípio do Crato-CE. Ele situa-se na microrregião do

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 187


Cariri e é a segunda cidade mais importante da mesma.
Possui uma população estimada em aproximadamente
130 mil habitantes. Destaca-se no comércio e na agri-
cultura (MENDONÇA, 2017). Possui uma ampla rede
de saúde composta por hospitais, clínicas, laboratórios e
unidades básicas de saúde distribuídas em pontos estra-
tégicos de sua extensão. Dentre os programas de qualifi-
cação de profissionais de saúde, pode-se citar a Residên-
cia Multiprofissional em Saúde Coletiva da Universida-
de Regional do Cariri (URCA).
A residência é um programa de Pós-Graduação latu
sensu caracterizada por ensino em serviço. Ela é desen-
volvida em parceria com gestores e trabalhadores dos
serviços de saúde do município e conta com a colabora-
ção de componentes do corpo docente da Universidade.
Tem como objetivos principais o aperfeiçoamento pro-
gressivo do padrão profissional e científico dos residen-
tes e a melhoria da assistência à saúde da comunidade
nas áreas profissionalizantes.

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA ECOSSISTÊ-


MICA: PROCESSO DE TRABALHO
Os discentes do Programa de Residência em Saú-
de Coletiva da URCA realizaram, em parceria com as
Unidades Básicas de Saúde onde estão desenvolvendo
suas atividades, um processo de trabalho epidemiológi-
co de caráter ecossistêmico, a partir da territorialização

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 188


associada ao georreferenciamento, seguido de uma es-
tratificação e classificação de risco familiar e o posterior
desenvolvimento de matrizes ecossistêmicas de dados e
indicadores (Figura 2).

Figura 2. Representação esquemática da metodologia

Fonte: elaboração própria

O processo de territorialização deu-se mediante re-


união prévia com os membros da equipe da Estratégia
em Saúde da Família, que com ajuda de mapas dispo-
nibilizados na base Google Earth Pro, demarcaram os
limites do território que foi posteriormente visitado para
identificação das unidades de sistemas familiares e equi-
pamentos sociais, de lazer e de saúde. Os dados obtidos
foram agrupados de forma a montar um mapa estático,
que serviu como base para traçar as estratégias das próxi-
mas etapas da metodologia.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 189


Paralelo a esse processo, utilizou-se da ferramenta
do georreferenciamento para a localização espacial dos
determinantes identificados e que possibilitou a confec-
ção de um mapa dinâmico, com informações sobre o
território. O termo georreferenciamento refere-se a uma
tecnologia que utiliza técnicas matemáticas e computa-
cionais para o tratamento da informação geográfica. No
âmbito da saúde, tem sido importante para investigar e
sugerir hipóteses de causalidade. Os estudos de agravos
em saúde se enriquecem com esse tipo de descrição, po-
dendo fornecer informações fundamentais para a com-
preensão, previsão, busca etiológica, prevenção e moni-
toramento de doenças e avaliação do impacto de inter-
venções em saúde de uma população (CAVICCHIOLI
NETO et al., 2014).
Na etapa de estratificação do risco familiar foi uti-
lizado um questionário para coleta de dados das famílias
do território adscrito das equipes de ESF. Este instru-
mento foi composto por uma parte para agrupar dados
socioeconômicos e outra com dados de condições clí-
nicas relacionadas aos membros das famílias em todas
as faixas etárias. Ele foi acompanhado de um protocolo
operacional padrão que possui os códigos referentes a
todas as informações a serem registradas e a pontuação
a ser atribuída para cada condição, e de um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido que foi assinado
pelo entrevistado, a quem foi cedida uma cópia. Os da-
dos obtidos pelos questionários permitiram a identifica-
ção do grau de risco familiar.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 190


Para modelagem das matrizes, foram realizadas ofi-
cinas com os residentes, ministradas por tutores da Uni-
versidade Regional do Cariri, objetivando uma melhor
compreensão do processo, em seguida houve a formação
do grupo focal para apresentação do perfil epidemioló-
gico para com isso apontar as prioridades e, finalmente,
elaborar as matrizes a serem apresentadas à gestão atra-
vés de um seminário intersetorial.

RESULTADOS
O estudo foi baseado na experiência realizada na
cidade de Massaranduba-SC (BOGER et al., 2007). Os
idealizadores do projeto utilizaram um instrumento de
classificação de risco construído pelas redes de saúde lo-
cal e composto por fatores socioeconômicos e clínicos
que receberam pontuações que classificam a família con-
forme o risco que elas apresentam.
O referido instrumento foi adaptado para ade-
quar-se à realidade do território a ser analisado. Entre
as modificações realizadas pode-se citar: a inclusão de
uma análise referente a condições crônicas presentes na
sociedade e a avaliação de ocorrência de arboviroses. A
renda familiar foi atualizada com base na definição do
banco mundial (EBC, 2017) que estabelece a linha de
pobreza ou hipossuficiência constituída por pessoas que
vivem com renda mínima inferior a US$ 1,25 por dia.
Esse valor foi convertido para reais e o divisor de linha

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 191


de pobreza adotado no presente trabalho ficou definido
como R$ 125,00/mês.
No aspecto socioeconômico foram avaliados fato-
res que coloquem a família em situação de risco, como:
a escolaridade do cuidador, a renda, a qualidade da água
e o tipo de destinação de dejetos humanos. Nos aspectos
clínicos foram englobadas condições clínicas diversas de
risco elencadas de acordo com a faixa etária dos indi-
víduos em grupos de crianças, adolescentes, adultos e
idosos.
A classificação das famílias foi realizada com base
na pontuação obtida após o preenchimento do questio-
nário, que na primeira parte é representada pelos fatores
socioeconômicos e foi atribuída da seguinte maneira: 0
para nenhum fator de risco, 1 para um fator de risco, 2
para dois ou três fatores de risco e 3 para quatro fatores
de risco socioeconômico. Nos fatores clínicos, a pontua-
ção obedeceu aos seguintes critérios: 0 para nenhuma
condição, 1 para famílias em que apenas um compo-
nente tem uma condição clínica, 2 para famílias no qual
dois ou mais componentes têm uma condição clínica
e 3 para famílias onde um ou mais componentes têm,
concomitantemente, duas ou mais condições clínicas.
Para avaliação do resultado final somou-se os fato-
res socioeconômicos e os clínicos e a classificação obede-
ceu à pontuação final que variou de 0 a 6, definida da
seguinte maneira: 0-sem risco, 1-baixo risco, 2 a 3- mé-
dio risco, 4 a 5- alto risco e 6- altíssimo risco.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 192


No processo de estratificação, as informações foram
agrupadas em categorias e depois tabuladas. A primeira
categoria foi a de informações gerais sobre os partici-
pantes, onde se registraram a quantidade de membros
de cada família, as porcentagens de sexo masculino e fe-
minino, a idade, a escolaridade e a profissão. A segunda
categoria de análise foi composta pelos determinantes
socioeconômicos, onde se avaliou a percentagem de fa-
mílias que recebe auxílio do programa Bolsa Família, a
renda geral e a renda per capita, a escolaridade do cui-
dador da família e a qualidade de água e esgoto do do-
micílio. A terceira categoria foi composta pela análise de
critérios clínicos que foram subdivididos de acordo com
a faixa etária (criança, adolescente, adulto e idoso). Essa
categoria foi seguida pela análise de outras patologias.
Esse segundo grupo refere-se a situações clínicas que
não constavam no instrumento e que foram menciona-
das durante a entrevista. A última categoria de estudo
é destinada à quantificação de casos de arboviroses que
ocorreram nos últimos dois anos dentro do território.
Além dessas categorias, as famílias foram agrupadas
conforme o risco que apresentavam. Essa informação
foi adicionada ao mapa do território em que constam
o número da casa, o número de cadastro da família na
unidade de saúde, o risco que a família apresenta, repre-
sentando pela cor e quais os preditores que levaram à
identificação desse risco.
Os mapas foram construídos no programa de Google
Earth®. Os dados nele inseridos constavam de informações

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 193


cartográficas georreferenciadas pelo aplicativo de celular
SW MAPS®. O mapa elaborado é dinâmico, inteligente e
passível de modificações. Muller e colaboradores (2010)
definem o Sistema de Informação Geográfica (SIG)
como uma ferramenta de processamento de dados que
permite a captura, o armazenamento, a manipulação, a
análise, a demonstração e o relato de dados referenciados
geograficamente.
No mapa, pode-se encontrar o número do cadastro
da família, compatível com o que consta na unidade de
saúde, o risco que ela está sujeita e os preditores que
originaram esse risco.
O processo de elaboração das matrizes se deu nas
seguintes etapas: definição de um grupo de trabalho
composto por membros da Estratégia de Saúde da Famí-
lia, atores sociais (membros do conselho local de saúde
e/ou moradores influentes do território) e os membros
da residência, com número de participantes variando
entre 10 e 20 pessoas. Após a formação do grupo, foi
organizada uma apresentação com todos os dados ob-
tidos na estratificação de risco das famílias e com base
nos resultados apresentados, prioridades em saúde fo-
ram elencadas evidenciando os determinantes sociais e
clínicos responsáveis pelo risco.
Em seguida, foram selecionadas as problemáticas
para elaboração da matriz ecossistêmica (Figura 3), ten-
do como metodologia o modelo FPEEEA da OMS. O
grupo de trabalho de construção da matriz elencou os

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 194


determinantes que foram organizados e distribuídos nos
níveis de complexidade, conforme o modelo FPEEEA, a
saber: Forças Motrizes (FM); Pressão (P); Estado/Situa-
ção (Es); Exposição (Ex) e Efeitos (E).
Depois de selecionados e dispostos na matriz, os
determinantes foram descritos e analisados, e também
foram relacionadas ações de atenção e vigilância para
controle da ocorrência dos agravos.
Os dados obtidos durante a pesquisa, desde a análise
individual de informações até a classificação de risco fami-
liar e matrizes elaboradas, foram apresentadas e discutidas
num seminário intersetorial de pactuação de ações, que
objetiva o planejamento intersetorial junto à Secretaria
de Saúde Municipal de Saúde e demais setores da admi-
nistração municipal acerca da realidade das áreas estuda-
das e firmar parcerias para a realização das intervenções.
As intervenções junto aos mecanismos de estratificação
social são de grande importância para ajudar no comba-
te às iniquidades em saúde, listar e aplicar políticas que
sejam capazes de diminuir os diferenciais de exposição a
riscos (BRASIL, 2008a).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 195


Figura 3. Representação esquemática da Matriz FPEEEA/OMS

Fonte: OMS(1994)

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com vista aos novos processos de qualificação da
atenção à saúde, o modelo desenvolvido neste estudo
ganha uma maior visibilidade visto que tudo o que foi
realizado apresenta um alinhamento com as políticas de
saúde atuais, como exemplo, o QualificaAPSUS, que
objetiva, prioritariamente, a qualificação da Atenção
Primária à saúde, reorganizando o modelo de atenção
dando ênfase a alguns processos básicos, como a territo-
rialização, cadastramento e diagnóstico local.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 196


O modelo utilizado, FPEEEA (OMS), visto como
modelo ecossistêmico e de planejamento participativo,
permite a contribuição dos atores sociais como forma de
revelar a problemática que vivenciam, dá subsídio para
a contextualização das relações entre meio ambiente e
saúde, possibilita intervenções no âmbito da promoção
da saúde e prevenção de doenças, abrangendo todas as
dimensões.
No entanto, trata-se de um estudo com muitos
desafios a enfrentar, visto que relata uma experiência
pioneira no sentido de associar territorialização, classi-
ficação de risco das famílias e geotecnologias no âmbito
da saúde. Concomitantemente, tem muito o que acres-
centar, uma vez que esse modelo elabora indicadores a
partir de determinantes sociais e se apresenta como fon-
te para elaboração de ações de vigilância em saúde.
Sob um olhar ecossistêmico, outro ponto a ser en-
fatizado é a intersetorialidade, pois ao serem identifica-
das as prioridades em saúde de uma forma abrangente,
é possível trabalhá-las de forma a propiciar o comparti-
lhamento de ações e saberes.
Experiências como esta podem contribuir na ela-
boração de políticas públicas na saúde uma vez que per-
mitem o conhecimento dos agravos que afetam as pes-
soas e possibilitam que as ações sejam programadas para
o que realmente necessita de intervenção.
Espera-se que este estudo possa estimular no-
vas pesquisas mais aprofundadas, e contribua para dar

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 197


maior visibilidade a experiências como esta que vêm
cada vez mais explorando as relações entre saúde hu-
mana, ambiente e trabalho, subsidiando conhecimento
para definição de prioridades em saúde e intervenções
efetivas de atenção, promoção da saúde e prevenção de
agravos como também intervir nos causadores de danos
ambientais.

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INTERFACE ENTRE AMBIENTE,
PROMOÇÃO DA SAÚDE E
SUSTENTABILIDADE NOS CURSOS DE
FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE

Antonia Priscila Pereira


Samyra Paula Lustoza Xavier
Maria de Fátima Antero Sousa Machado
Maria Rosilene Cândido Moreira

INTRODUÇÃO
É crescente a inclusão do tema sustentabilidade nas
discussões em todo o mundo e, especialmente, no am-
biente de formação das profissões, pode ser compreendi-
do como um novo paradigma a ser implementado para
a valorização do trabalho e do trabalhador (CIRINO,
2014). Nesse sentido, compreende-se que a sustentabi-
lidade deve ser o objetivo comum, que reúne esforços e
ações de todos em prol de um mundo melhor, podendo
constituir uma estratégia curricular formadora de atitu-
des por parte dos profissionais que a praticam, na dire-
ção do bem-viver.
No cenário mundial, as discussões em torno do
Desenvolvimento Sustentável, provocadas pela Orga-
nização das Nações Unidas (ONU), resultaram em um
documento intitulado Agenda 2030, na qual foram
elencados 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentá-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 202


vel (ODS), dispostos em 169 metas que versam sobre o
fim da pobreza e da fome; promoção da vida saudável;
educação inclusiva e de qualidade; igualdade de gênero e
empoderamento; trabalho digno; redução das desigual-
dades e preservação da biodiversidade. Esses objetivos
estimularão a ação de vários países em áreas de impor-
tância crucial para a humanidade e para o planeta nos
próximos 15 anos (ONU, 2016).
No Brasil, tais assuntos foram inicializados durante
a realização da Conferência das Nações Unidas sobre De-
senvolvimento Sustentável (CNUDS) ocorrida no Rio
de Janeiro, em 1992, conhecida como Cúpula da Terra,
quando inseridos diretamente na agenda pública do país.
Mais recentemente, foi realizada a Conferência denomi-
nada de Rio+20, ocorrida vinte anos depois, objetivando
identificar os progressos alcançados e os novos desafios
para a promoção do desenvolvimento saudável e susten-
tável (BRASIL, 2011; CNUDS, 2012). Nessa direção,
a Rio+20 abordou o reconhecimento de que a saúde é
condição sine qua non para o desenvolvimento econô-
mico, social e ambiental do indivíduo e da coletividade,
realçando que políticas de proteção, promoção e atenção
à saúde representam prioridade para a sustentabilidade
no cenário nacional e internacional (BRASIL, 2011).
Com efeito, a Promoção da Saúde, enquanto polí-
tica transversal, integrada e intersetorial, na qual é pos-
sível articular sujeito/coletivo, público/privado, estado/
sociedade, clínica/política, setor sanitário/outros setores,
emerge como estratégia fundamental para o desenvol-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 203


vimento saudável e sustentável, priorizando, entre suas
diretrizes, a formação e a educação permanente para
ampliar o compromisso e a capacidade crítico-reflexiva
dos gestores e trabalhadores de saúde, bem como o in-
centivo ao aperfeiçoamento de habilidades individuais
e coletivas, voltando-se para o fortalecimento do desen-
volvimento humano sustentável (BRASIL, 2014).
Nesse sentido, e considerando as discussões nacio-
nais e mundiais sobre Saúde e Desenvolvimento Susten-
tável, emerge a premência de que o processo de formação
do profissional de saúde assegure o desenvolvimento de
competências, com mobilização de conhecimentos, ha-
bilidades e atitudes, redirecionando suas práticas na bus-
ca de um trabalho integrado, voltado para a promoção
da saúde e a sustentabilidade. Para isso, é fundamental
que durante o processo formativo em saúde esses con-
ceitos sejam conhecidos e amplamente discutidos, com
vistas a capacitá-los a enfrentarem problemas complexos
em sua futura práxis, na lógica da intersetorialidade e
interdisciplinaridade, do trabalho digno, da consciência
global e da preservação do planeta (BRASIL, 2014).
Face ao exposto, o presente estudo pauta-se nas se-
guintes questões norteadoras: durante o processo de for-
mação do profissional de saúde, os conteúdos relacionados
ao ambiente, promoção da saúde e sustentabilidade estão
contemplados em seus currículos? Há expressão de suas
interfaces nas disciplinas que a contemplam? Tais conteú-
dos corroboram com os Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável e a Política Nacional de Promoção da Saúde?

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 204


Considerando que um ambiente saudável constitui
requisito para a promoção da saúde individual e coleti-
va, e que ambos se coadunam na interface estruturante
dos processos formativos de trabalhadores da saúde para
agirem em prol do desenvolvimento e da sustentabilida-
de global, o presente estudo teve como objetivo central
averiguar como se estabelecem as interfaces entre os con-
teúdos relacionados ao ambiente, promoção da saúde e
sustentabilidade nos currículos dos cursos de graduação
em saúde.
Pretende-se, com este trabalho, contribuir para cla-
rificar as discussões em torno das relações entre saúde
e desenvolvimento sustentável/sustentabilidade nos am-
bientes de formação de trabalhadores de saúde, vislum-
brando que tais debates auxiliarão na formulação de es-
tratégias cada vez mais alinhadas ao que prevê os planos
de ação existentes nos documentos temáticos mundiais,
que orientam os países a buscarem um planeta mais sau-
dável e sustentável, na direção do melhor viver.

MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa documental, com abor-
dagem mista e natureza descritiva.
Para responder aos questionamentos norteadores, a
pesquisa teve início com a verificação, no site do Ministé-
rio da Educação (MEC), de quais universidades públicas
federais oferecem cursos na modalidade presencial, com

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 205


sede nas capitais no país. Em seguida, foram seleciona-
das aquelas que possuíam projetos pedagógicos de curso
disponíveis em meio eletrônico (site da universidade). O
próximo passo foi a leitura das matrizes curriculares dos
cursos, com vistas a identificar disciplinas/módulos que
abordassem os temas ambiente, saúde e sustentabilidade
em seus enunciados e/ou ementas.
A coleta de dados ocorreu no mês de agosto de
2017. Durante a construção do banco de dados, foram
capturadas as informações quanto às seguintes variáveis:
região do país na qual está sediada a universidade, nome
do curso de graduação, nome da disciplina/módulo e
modalidade da disciplina (obrigatória ou optativa). As-
sim, os dados coletados referem-se ao estudo das emen-
tas de 40 disciplinas, sendo 25 delas obrigatórias e 15
optativas, distribuídas em 38 cursos de graduação.
As ementas foram transcritas na íntegra no Pro-
grama LibreOffice Writer, versão 5.4, sendo codificadas
conforme a linha de comando indicada para possibilitar
análise com o auxílio do software IRAMUTEQ (Interfa-
ce de R pour L Analyses Multidimensionnelles de Textes
L de Questionnaires), versão 0.7 alfa 2, desenvolvido
por Ratinaud no ano de 2009 e introduzido em pesqui-
sas brasileiras no ano de 2013 (CAMARGO; JUSTO,
2013). Esse programa informático viabiliza diferentes
tipos de análise de dados textuais, desde aquelas bem
simples, como a lexicografia básica (cálculo de frequên-
cia de palavras), até análises multivariadas (classificação
hierárquica descendente e análise de similitude).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 206


A análise interpretativa das ementas se deu pela
classificação hierárquica descendente e análise de si-
militude, apoiadas pela análise de conteúdo temática
(MINAYO, 1996), à luz da Agenda 2030 e da Política
Nacional de Promoção da Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre as 62 universidades federais brasileiras lista-
das no site do MEC, que oferecem cursos na modalidade
presencial, optou-se por eleger somente aquelas que car-
regam os nomes dos estados nos quais estão localizadas
(26 universidades). A partir disso, foram consultadas
suas respectivas páginas oficiais, e listadas aquelas que
detinham cursos na área de saúde, cujos currículos es-
tavam disponíveis para domínio público, compondo o
elenco das 18 universidades listadas no Quadro 1.
As universidades que concentraram maior núme-
ro de cursos foram: Universidade Federal de São Paulo
(cinco cursos), Universidade Federal de Pernambuco
(quatro cursos) e as Universidades Federais do Acre, do
Tocantins, de Sergipe e do Rio de Janeiro (três cursos
em cada). Dos 38 cursos identificados, o que teve maior
destaque foi o de Nutrição (nove cursos), seguido de
Medicina (sete cursos), Enfermagem (seis cursos) e Edu-
cação Física (cinco cursos).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 207


Quadro 1 – Universidades federais e respectivos cursos de graduação em saúde que compuseram a análise deste estudo.
CURSOS

REGIÃO

TOTAL
UNIVERSIDADE E
N SC E M BM F O GS TO FT
F
Univ. Federal do Acre x x x 3
NORTE
Univ. Fed. de Roraima x x 2
Univ. Fed. de Rondônia x 1
Univ. Fed. de Tocantins x x x 3
Univ. Federal do Piauí x x 2
Univ. Federal do Ceará x 1
NORDESTE

Univ. Fed. do R.G. do Norte x 1


Univ. Fed. do Pernambuco x x x x 4
Univ. Federal de Sergipe x x x 3
Univ. Federal da Bahia x 1
Univ. Fed. de Brasília x 1
TRO-O-
CEN-

ESTE

Univ. Fed. do Mato Grosso x 1


Univ. Fed. do M.G. do Sul x x 2
Univ. Fed. de São Paulo x x x x x 5
SUDES-

Univ. Fed.do Rio de Janeiro x x 3


TE

Univ. Fed. de Minas Gerais x x 2


Univ. Fed. do Paraná x 1
SUL

Univ. Fed. de S. Catarina x 1


TOTAL 5 9 3 5 7 1 2 1 1 2 1 38
Legenda: EF (Educação Física); N (Nutrição); SC (Saúde Coletiva); E (Enfermagem); M (Medicina); BM (Biomedicina); F (Farmácia); O
(Odontologia); GC (Gestão em Saúde Pública); TO (Terapia Ocupacional); FT (Fisioterapia).
Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 208


As disciplinas analisadas foram: Saúde e Meio Am-
biente (seis); Direitos Humanos e Meio Ambiente; Saú-
de ambiental (quatro); Natureza, Cultura e Sociedade
(quatro); Educação ambiental (duas); Gestão Ambien-
tal (duas); Ecologia e Qualidade de Vida na Amazônia;
Gestão ambiental em saúde; Higiene, Saúde e Meio Am-
biente; Saúde, Cultura, Ambiente e Trabalho; Desenvol-
vimento, Meio Ambiente e Poder Local; Saneamento
Ambiental e Saúde; Direito Ambiental; Doenças resul-
tantes da agressão ao Meio Ambiente; Epidemiologia e
Saúde Ambiental; Vigilância em Saúde Ambiental e do
Trabalhador; Ecologia; Educação Física Escolar e Meio
Ambiente; Ecologia e Saúde Humana; Saúde, Ambiente
e Sociedade; Sociedade, Meio Ambiente e Sustentabili-
dade; Ciências do Ambiente; Ecologia Humana; Gené-
tica e Ambiente; Vídeo e Meio Ambiente; Saúde, Socie-
dade e Meio Ambiente; e Patologia Ambiental.

2. Análise do conteúdo das ementas


O processamento do corpus textual reconheceu 40
unidades de textos, correspondendo às ementas obtidas
na análise dos projetos pedagógicos de curso, com 1.775
ocorrências e 645 formas, das quais 528 eram ativas,
com 82,50% de retenção.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 209


Figura 1. Dendrograma da CHD do corpus Ambiente, Promoção da Saúde e
Sustentabilidade.

O dendrograma da CHD ilustra que o corpus foi


dividido em cinco classes, sendo, em um primeiro mo-
mento, a repartição em dois subcorpus (de um lado a
classe 5 em oposição ao outro lado - classes 1, 2, 3 e
4); em seguida, a classe 1 foi separada das classes 2, 3 e
4; no terceiro momento, foram geradas as classes 2 e as
futuras classes 3 e 4; e por último, houve a repartição
entre essas últimas.
A leitura das classes na CHD possibilitou identifi-
car e categorizar, conforme a literatura revisada, a exis-
tência de cinco categorias, que apontam para as inter-
faces temáticas deste estudo, proporcionando, assim, a
análise de conteúdo temática proposta neste trabalho.
Considerando a polissemia dos termos – desen-
volvimento sustentável e sustentabilidade – associada à
má compreensão destes conceitos, além da confluência
sinonímica destes para muitos autores (SARTORI; LA-
TRONIO; CAMPOS, 2014), nesta análise serão ado-
tados ambos os termos como a taxonomia mais difun-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 210


dida no campo da saúde e dos processos formativos dos
profissionais da área, sendo o objeto central na interface
deste trabalho.

Categoria 1 – Interface Ambiente e Desenvolvimento


sustentável
A classe 3, que obteve maior representatividade
do conteúdo estudado, com 24,2% das ocorrências,
evidencia o grau de importância que os cursos confe-
rem à temática do desenvolvimento sustentável, que
emergiu como vertente principal, tendo ocorrência ex-
tremamente significativa (x2=22,92; p<0,0001), seguido
dos termos ecológico (x2=14,22; p=0,00016), impacto
(x2=6,39; p=0,011), meio ambiente (x2=4,59; p=0,032)
e desenvolvimento (x2=4,1; p=0,042).
Essa categoria trata dos aspectos relacionados ao
meio ambiente e a preocupação com o processo de de-
gradação ambiental no contexto brasileiro, buscando,
desta forma, um perfil de egressos conscientes da im-
portância da gestão e preservação dos recursos naturais,
necessários ao desenvolvimento sustentável, sinalizando
ainda quais medidas devem ser tomadas para amparar a
natureza das ações antrópicas. Incita uma maior reflexão
sobre a evolução das práticas da sociedade enquanto de-
pendentes da interação com a natureza.
Isto expresso, verifica-se que os cursos consideram
o ambiente e o desenvolvimento sustentável como fun-
damentais para preservação da saúde e da vida e, dessa

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 211


forma, buscam formar profissionais que corroborem
com essa compreensão. O texto a seguir apresenta a
preocupação em construir uma consciência crítica e re-
flexiva nos alunos, subsidiando decisões assertivas para
preservação dos recursos naturais e, consequentemente,
para melhoria da sua qualidade de vida e da coletividade:
Esta disciplina visa à construção do conhecimento
sobre as relações entre o homem e o meio ambiente,
enfocando particularmente o impacto deste último
sobre a saúde e qualidade de vida da população,
pretende-se despertar no graduando a consciência
ambiental, propiciando a reflexão crítica sobre a
importância do desenvolvimento sustentável e a
necessidade de monitoração dos recursos naturais
renováveis (Disciplina 6, curso 3).

Verifica-se, a partir o exposto, que os cursos estão


direcionados a atingir o objetivo sete da Política Nacional
de Promoção da Saúde (PNaPS), que trata, especifica-
mente, da importância de “promover o empoderamento e
a capacidade para a tomada de decisão e a autonomia de
sujeitos e coletividades por meio do desenvolvimento de
habilidades pessoais e de competências em promoção e
defesa da saúde e da vida” (BRASIL, 2014, p.13). Alinha-
do a isso, promover sociedades pacíficas e inclusivas para o
desenvolvimento sustentável constitui um dos Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2016).
Considera-se, portanto, que esta abordagem nos
cursos de formação dos profissionais de saúde conduz
a um processo de ressignificação e ampliação conceitual
entre ambiente e sustentabilidade, provocando a opor-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 212


tuna revisitação epistemológica que esta interface requer,
e desperta para um processo de mudança de paradigma
em relação à visão ampliada da interface ambiente e de-
senvolvimento sustentável.

Categoria 2 – Interface Ambiente e Promoção da Saúde


A classe 2, com 24,2% das ocorrências, traz
como termos mais significantes o humano (x2=22,92;
p<0,0001), saneamento (x2=18,42; p<0,0001), in-
teração (x2=14,22; p=0,0001), promoção da saúde
(x2=10,31; p=0,001), políticas públicas (x2=6,39;
p=0,01) e interdisciplinaridade (x2=6,39; p=0,01), evi-
denciando, principalmente, fatores sanitários que inter-
ferem no processo saúde e adoecimento, e a necessidade
de políticas públicas de desenvolvimento sustentável,
que venham a promover ambientes limpos e saudáveis,
com saneamento básico e manejo adequado de resíduos,
trazendo bem-estar social:
Abordam os conceitos gerais de saúde ambiental,
suas elaborações teóricas e sociais, discutindo a in-
terdisciplinaridade desse campo de estudo, assim
como conceitos de promoção da saúde humana e
meio ambiente, estímulo à saúde, ecologia social e
à cultura de paz, saneamento e manejo ambiental
para a promoção da saúde e suas interações com o
meio ambiente, as condições sanitárias e as políticas
públicas relacionadas e princípios de sustentabilida-
de, educação permanente e do educador à preser-
vação do meio ambiente e da vida (Disciplina 2,
curso 8).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 213


Nesse sentido, importante destacar o disposto na
Constituição Federal de 1988, no Art. 225, no qual está
assegurado que todos têm direito ao meio ambiente eco-
logicamente equilibrado, bem de uso co­mum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
-lo para as atuais e as futuras gerações (BRASIL, 1988).
Sob este ponto, sinaliza-se, ainda, a importância
da Promoção da Saúde e da educação ambiental como
estratégias imprescindíveis para garantir o potencial de
saúde da população, considerando que a PS, ao capaci-
tar a comunidade para atuar na melhoria da sua saúde e
qualidade de vida, estabelece que os indivíduos e grupos
devem saber identificar aspirações, satisfazer necessida-
des e modificar favoravelmente o meio ambiente (OMS,
1986). Sob outro olhar, assegurar uma vida saudável e
promover o bem-estar para todos constitui um dos Ob-
jetivos do Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2016).
A análise desta categoria permite inferir, portanto,
que as propostas curriculares analisadas neste estudo
buscam incorporar, em seu arcabouço, o conceito de
promoção da saúde, e apresentam o ambiente e o desen-
volvimento sustentável como agentes determinantes do
processo saúde e doença.

Categoria 3 – Interface Saúde e Ambiente


A classe 1, com 21,2% das ocorrências, mantêm
maior proximidade com a classe 2, trazendo um conjun-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 214


to de palavras, tais como doença (x2=16,91; p<0,0001),
método (x2=12,26; p=0,0004) e ambiental (x2=6,82;
p=0,009), que embora semelhantes e complementares,
sinalizam para a abordagem investigativa do enfoque
interdisciplinar entre saúde e ambiente. Assim, a explo-
ração dessas temáticas, sob o marco da sustentabilidade,
compreen­de a multiplicidade de forças interativas ge-
radas em torno da promoção do bem-estar e da saúde
humana, considerando a interferência do ambiente na
sociedade como um todo: saúde, política, educação, eco-
nomia, cultura, entre outros (BRASIL, 2007), disparan-
do a premência do olhar científico sobre suas interfaces:
Introdução à questão ambiental, instrumentos de
gestão e suas implementações, conceitos e prática,
planejamento e gestão ambiental, estudo de impac-
to ambiental como instrumento de planejamento
e gerenciamento de riscos ambientais, sistemas de
gestão ambiental, estudos aplicados à gestão am-
biental (Disciplina 32, Curso 4).

Sinaliza-se, assim, a importância de uma formação


que habilite os profissionais de saúde a exercerem ati-
vidades de pesquisa, como capacidade diagnóstica para
identificar o impacto da ação humana sobre o ambiente
e as questões de saúde, fomentando ações estratégicas
e políticas públicas para o desenvolvimento sustentável
e a sustentabilidade, assim como ações gerenciais que
promovam a redução de danos ao planeta.
Essa categoria aponta, também, que as disciplinas
estão alinhadas à preocupação mundial em proteger, re-
cuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 215


terrestres, do combate aos processos de desertificação e,
assim, reverter a degradação da terra, com vistas a pre-
servar sua biodiversidade, alinhados aos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2016).
Sob esta ótica, no processo de formação dos profis-
sionais da saúde os cursos devem contemplar o raciocínio
científico como requisito para o adequado planejamento
e gerenciamento das questões emergentes que envolvem
o planeta, considerando suas ferramentas específicas de
estudos de impacto geoambientais, cujos diagnósticos
possibilitem conferir competência para o planejamento
e a tomada de decisões dos futuros atuantes em saúde.

Categoria 4 – Interface Educação ambiental e Pro-


moção da Saúde
Fazendo uma análise da classe 4, com 15,2% das
ocorrências, é possível identificar, através dos termos as-
pecto (x2=19,28; p<0,0001), comunidade (x2=12,68;
p=0,0003) e educação ambiental (x2=4,3; p=0,03), que
os cursos buscam abranger a integralidade dos seres, ao
compreenderem que o indivíduo vive em comunidade,
dentro de um contexto social, ecossistêmico, político
e cultural, necessitando de educação e saúde, dentre
outros pontos. Esta preocupação está contemplada na
PNaPS, como um tema transversal, no qual busca-se
reforçar a ação comunitária, a participação e o controle
social, promovendo reconhecimento e diálogo entre as

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 216


diversas formas do saber (populares e científicos), cons-
truindo, desse modo, práticas pautadas na integralidade
do cuidado e da saúde (BRASIL, 2014).
Os cursos, portanto, vislumbram uma formação
com vistas à interdisciplinaridade e à integralidade em
saúde, possibilitando aos profissionais uma visão mais
global do que seja o conceito de saúde e de ambiente:
Conservação ambiental, aspectos da lei de educação
ambiental, a educação física e o meio ambiente, sua
história e seus atores, o que são problemas ambien-
tais no Brasil, a temática ambiental, a educação e a
escola, a comunidade e o meio, interdisciplinarida-
de, meio ambiente, ética e cultura, consumo, meio
ambiente e educação (Disciplina 21, Curso 2).

A abordagem desses temas na formação dos profis-


sionais de saúde conduz a um olhar ampliado da condi-
ção humana e possibilita ações que valorizem o controle
social, corroborando para o alcance de um dos Objeti-
vos do Desenvolvimento Sustentável que é o de assegu-
rar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, me-
diante condições favoráveis de aprendizagem para todos
(ONU, 2016), consistindo requisito indispensável ao
desenvolvimento sustentável e sobrevivência humana.

Categoria 5 – Interface Saúde, Sociedade e Ambiente


A classe 5, com 15,2% das ocorrências, com as pala-
vras modo (x2=33,0), etnocentrismo (x2=33,0), cultura
(x2=26,52), sociedade (x2=21,89), natureza (x2=21,89),
diferença (x2=19,28), cultural (x2=19,28), ambiente

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 217


(x2=18,42), relação (x2=11,79) e vida (x2=9,98), todas
extremamente significantes para esta classe (p<0,0001),
foi a que mais se distanciou das demais, porém, mantém
relações próximas, haja vista que, quando das palavras
evidenciadas, compreende-se o olhar diferenciado para
os sujeitos, que devem ser vistos de forma integral, imer-
sos em uma sociedade multicultural.
Assim, a expressão dos termos etnocentrismo, rela-
tivismo cultural, diferença, cultura, sociedade, relação,
vida, possibilita a compreensão da diversidade social, e
que isto implica em uma postura ética e humana para
com o outro, devendo o profissional estar sensível a es-
sas possibilidades, contemplando no cuidado à saúde,
as diferenças culturais, étnicas, sociais, espirituais, entre
outras e, ao mesmo tempo, estar sensível, no sentido de
perceber a singularidade do indivíduo. A expressão des-
ses termos confirma que essas questões já constam como
preocupações curriculares dos cursos de saúde:
Formação sociopolítica e econômica de sociedades,
cultura e saúde, relação natureza, cultura e socieda-
de, etnocentrismo e relativismo cultural, organiza-
ção capitalista da sociedade contemporânea, modo
capitalista de produção ideologia, as relações de
gênero e a saúde, ambiente e sustentabilidade (Dis-
ciplina 26, Curso 8).

Vale destacar que os cursos se aproximam dos ob-


jetivos propostos pela PNaPS e pela ONU, no tocante
à busca de se construir uma sociedade livre de discri-
minação, com respeito às diferenças de classe social, de

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 218


orientação sexual e identidade de gênero, entre gerações,
étnico-raciais, culturais, territoriais e relacionadas às pes-
soas com deficiências e necessidades especiais (BRASIL,
2014). Além disso, alcançar a igualdade de gênero cons-
titui um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
(ONU, 2016).
Coadunando os aspectos abordados nas categorias
temáticas, a análise de similitude possibilitou identificar
a estrutura, o núcleo central e o sistema periférico da
interpretação sobre o contexto semântico relacionado ao
tema sob estudo.
O diagrama oferecido no formato de árvore (Fi-
gura 2), oriundo da interface dos resultados, tornou
possível a identificação da coocorrência entre as pala-
vras, bem como seus indicativos de conexidade entre os
termos: ambiental, meio ambiente, saúde, ambiente
e relação, auxiliando na identificação de conceitos que
melhor representam os assuntos abordados nas ementas
analisadas.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 219


Figura 2. Análise de similitude do corpus Ambiente, Promoção da Saúde e Sus-
tentabilidade.

Verifica-se que a palavra saúde é o léxico agregador


que emerge no eixo central da árvore de similitude e in-
dica que esta sofre e provoca uma variedade de interfe-
rências no ambiente e nas relações com a natureza. Sua
maior centralidade na árvore e sua relação com outros
elementos dão suporte para a compreensão de que a co-
munidade, o humano e o social, também dão sustenta-
ção à sua interface com a sustentabilidade.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 220


Sendo a saúde um completo bem-estar físico, men-
tal e social, a doença se manifesta como uma desarmonia
ocasionada por diferentes fatores, dentre eles, o ambien-
te. A relação entre a saúde e o ambiente afeta diretamente
o processo saúde-doença no indivíduo, que deixa de ser
um fator externo ao homem e passa a ser uma condição
de interdependência com as demais dimensões da vida
do ser humano (BUSATO, FERRAZ, FRANK, 2015).
Para uma melhor compreensão da relação saúde
e meio ambiente, é necessário conhecer o conceito de
meio ambiente, que segundo Jacobi (1995) apud Bu-
sato, Ferraz e Frank (2015, p. 461), “é o espaço físico
alterado pela atividade humana”. O documento do
Ministério do Meio Ambiente sobre Vulnerabilidade
Ambiental, também conceitua meio ambiente como o
resultado das ações passadas e, como esta sofre constan-
tes mudanças, será diferente no futuro (BRASIL, 2007).
De acordo com Meira e Carvalho (2010), a inte-
ração entre ambiente e saúde é muito mais íntima do
que o que se imagina, estima-se que 20% das doenças
nos países industrializados sejam decorrentes de fatores
ambientais, o que torna cada vez mais intensa a preo-
cupação dos cidadãos com os potenciais impactos do
ambiente sobre a saúde.
A relação entre saúde e ambiente vem sendo cada
vez mais frequente e ganhando mais espaço em even-
tos científicos, como exemplo a I conferência Nacio-
nal de Saúde Ambiental, que teve como tema central

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 221


“a saúde ambiental na cidade, no campo e na floresta:
construindo cidadania, qualidade de vida e territórios
saudáveis” (BRASIL, 2010). Além deste, vários outros
eventos aconteceram e tiveram como foco principal dis-
cutir as temáticas de saúde ambiental, educação ambien-
tal como foco para o redirecionamento das ações que
melhorem o ambiente e a saúde (BUSATO, FERRAZ,
FRANK, 2015).
Os problemas ambientais também podem ser con-
siderados como problemas de saúde por afetarem dire-
tamente a qualidade de vida e saúde dos seres humanos,
tanto individual quanto coletivamente. A crise ambiental
e os debates em torno desta têm ganhado cada vez mais
espaço nos últimos 40 anos, tendo em vista as ameaças
dela advindas que colocam a manutenção da vida no pla-
neta em risco (PERES, CAMPONOGARA, 2015).
Nessa perspectiva, compreender e promover deba-
tes sobre saúde e ambiente é de fundamental importân-
cia na promoção da saúde do indivíduo e da coletivida-
de, tal como na construção de ambientes e sociedades
mais sustentáveis. No entanto, para que isso aconteça,
é preciso que os profissionais estejam preparados para
intervir nesses aspectos, na medida em que ao incorpo-
rarem uma visão integradora e ampliada sobre a saúde,
possam executar ações com vistas a diminuir os proble-
mas de saúde e melhorar a qualidade de vida.
Neste sentido, é preciso incorporar a dimensão am-
biental à saúde, a qual devem estar presentes desde a for-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 222


mação do profissional de saúde. De acordo com os dados
apresentados na árvore de similitude, a saúde permeia a
formação dos profissionais de saúde como eixo central
no tocante às questões relacionadas às relações entre ho-
mem e ambiente, na dimensão das práticas saudáveis que
visam à sobrevivência humana e à sustentabilidade.
A relação dos aspectos que envolvem saúde e am-
biente deve acontecer de forma integrada, tendo em vista
a transdisciplinaridade do conhecimento que estas áreas
envolvem, e que deve ser baseada no diálogo entre os di-
versos saberes, com vistas a superar as diferenças e adver-
sidades. Dessa forma, a capacitação profissional é impres-
cindível para a consolidação de práticas em saúde que
atendam às atuais exigências sociais e políticas no país.
Bruzos et al. (2011) apud Busato, Ferraz e Franco
(2015) afirmam que é fundamentalmente importante
discutir a temática ambiental entre os profissionais de
saúde para que eles se empoderem desse conhecimento
e consigam intervir na vida da população, a partir da
identificação de questões do ambiente que estejam in-
terferindo na qualidade de vida da população cuidada,
propondo ações resolutivas e preventivas, amenizando
os riscos a que estes estão expostos.
Os profissionais de saúde devem, portanto, estar
aptos para trabalharem de forma multiprofissional e in-
terdisciplinar na mobilização de práticas educativas em
saúde que capacitem os indivíduos para compreenderem a
relação entre o ambiente e a saúde, com vistas à sua cons-
cientização na adoção de práticas saudáveis e sustentáveis.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 223


CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ambiente é, indubitavelmente, um vetor na re-
lação entre saúde e sustentabilidade. O trabalho e seus
agentes executantes só poderão promover o desenvolvi-
mento sustentável se esta articulação com a questão am-
biental for incorporada nas políticas e práticas cotidianas.
Os processos formativos em saúde necessitam am-
pliar seus modus operandis no sentido de tornarem coti-
dianos os debates em prol da sustentabilidade, trazendo
às discussões de sala de aula algo que supere a lógica tri-
dimensional do desenvolvimento sustentável, posto que
este raciocínio teórico não é suficiente para contemplar
as demandas contemporâneas.
No presente estudo, foi possível vislumbrar que os
cursos de graduação em saúde das universidades públi-
cas federais estudadas já atentam para alguns aspectos
desta interface; entretanto, ainda foram identificados
currículos tradicionais, que reduzem as abordagens da
sustentabilidade a aspectos já esgotados pelas novas dis-
cussões mundiais, especialmente quando se considera a
multidimensionalidade do desenvolvimento sustentável.
Entretanto, é importante salientar que as emen-
tas analisadas neste trabalho possibilitam uma reflexão
inicial sobre a temática estudada, mas não esgotam as
inúmeras possibilidades formativas existentes, tão pouco
seus aspectos pormenorizados, que não são possíveis de
serem visualizados nos documentos pedagógicos utiliza-
dos nesta análise.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 224


Almeja-se que os programas de formação dos
profissionais da saúde consigam alcançar o debate am-
pliado, com foco na interface existente entre ambiente,
promoção da saúde e sustentabilidade, com vistas a em-
ponderá-los na direção de que os mesmos sejam atores,
mediadores e protagonistas de ações que visem a melho-
ria das condições de vida das gerações futuras, condições
necessárias a um desenvolvimento humano sustentável.

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em: 03 de out. de 2017.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 225


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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 226


DIABETES E SUSTENTABILIDADE:
GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS
PROVENIENTES DA INSULINOTERAPIA
NA ATENÇÃO BÁSICA

Sofia de Moraes Arnaldo


Eloíza Barros Luciano Rolim
Emiliana Bezerra Gomes
Ana Maria Parente Garcia Alencar

INTRODUÇÃO
O diabetes mellitus consiste em um importante
problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Em
2015, a prevalência de adultos com diabetes no mundo
era de 8,8% e em 2040 estima-se que chegará em 10,
4%. O Brasil ocupa o quarto lugar dentre os dez primei-
ros países com maior número de adultos com diabetes
com um total de 14,3 milhões de pessoas com a doença
e uma prevalência de 10,2%, ficando atrás apenas da
China, Índia e Estados Unidos da América (INTERNA-
TIONAL DIABETES FEDERATION - IDF, 2015).
As principais abordagens terapêuticas para o diabetes
mellitus consistem na mudança no estilo de vida, medica-
mentos orais e insulina. O uso de insulina é imprescin-
dível no tratamento do diabetes mellitus tipo 1 (DM1) e
deve ser instituído assim que o diagnóstico for realizado.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 227


A utilização da insulina no diabetes mellitus tipo 2 (DM2)
é menos frequente do que deveria e seu início tende a ser
tardio, devido ao receio infundado, por parte de médicos
e pacientes, quanto a alguns dos possíveis efeitos colaterais
da insulina, como a hipoglicemia e o ganho de peso. To-
davia, essa abordagem pode se tornar necessária a qualquer
momento durante a evolução natural do DM2, quando
se constatar um descontrole glicêmico acentuado com o
tratamento apenas com os medicamentos orais (SOCIE-
DADE BRASILEIRA DE DIABETES - SBD, 2017).
Dessa forma, como consequência do tratamento
com insulina, em ambos os tipos de diabetes mellitus,
originam-se resíduos de origem biológica, química e
perfurocortantes, classificados pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) como Resíduos de Ser-
viços de Saúde (RSS), decorrentes de ações de cuidado à
saúde (BRASIL, 2004).
Todos os perfurocortantes e contaminantes resul-
tantes da aplicação de insulina, dos testes de glicemia,
bem como dos insumos usados na bomba de infusão de
insulina (cateter, cânula e agulha guia) gerados no do-
micílio, devem ser descartados em coletores específicos
para perfurocortantes, como os utilizados nos serviços
de saúde. Na ausência desse coletor, o profissional deve
orientar o uso de recipiente com características seme-
lhantes (material inquebrável, paredes rígidas, resisten-
tes à perfuração, boca larga e tampa) e a sua devolução
às unidades básicas de saúde (UBS) quando atingirem a
capacidade recomendada (SBD, 2017).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 228


No entanto, o que se observa na realidade é que
esses resíduos acabam sendo descartados junto com o
lixo doméstico, sem nenhum cuidado específico, mui-
tas vezes indo parar em lixões (STACCIARINI; HAAS;
PACE, 2008). A ausência de diretrizes ou orientação
técnica e legal favorece o acondicionamento e disposição
final inadequados, colocando em risco a saúde da co-
munidade e contribuindo para a degradação ambiental
(SILVA-ANDRÉ; TAKAYANAGUIB, 2015).
Ademais, o descarte incorreto pode expor pacientes,
familiares, vizinhos, e trabalhadores ligados à coleta de
lixo, à contaminação com agentes biológicos envolven-
do perfurocortantes. Além de lesões propriamente ditas,
a grande preocupação em um acidente dessa natureza é a
possibilidade de infecção com um patógeno de transmis-
são sanguínea, especialmente o vírus HIV e da hepatite B
e C (GOLD; SCHUMANN, 2007). Além disso, desta-
cam-se, também, os agravos provocados ao meio ambien-
te como a contaminação da água, do solo, da atmosfera e
a proliferação de vetores que apontam para uma questão
de maior importância com a biossegurança e a sustentabi-
lidade (GARCIA; ZANETTI-RAMOS, 2004).
Diante dessa problemática, o foco de algumas dis-
cussões atuais está pautado na questão da saúde ambien-
tal, em especial sobre a geração de lixo e seu manejo
adequado. O lixo produzido em serviços de saúde repre-
senta uma peculiaridade importante, pois quando ge-
renciados inadequadamente oferecem risco potencial ao
ambiente. Essa problemática vem sendo cada vez mais

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 229


objeto de preocupação de órgãos de saúde, ambientais,
prefeituras, técnicos e pesquisadores da área, tendo em
vista a quantidade de legislações e referências existen-
tes, que preconizam condutas de gerenciamento dos
resíduos nos locais onde são prestados serviços à saú-
de (TAPIA, 2009; GOVENDER; ROSS, 2012). Nesse
sentido, surge o seguinte questionamento que norteou
a realização desta pesquisa: Como acontece o geren-
ciamento dos RSS provenientes da insulinoterapia na
Atenção Básica (AB)?
Assim, compreendemos que o estudo desta temá-
tica é relevante para o campo da saúde, especificamente
para a AB, uma vez que poderá suscitar reflexões por
parte dos profissionais de saúde sobre a necessidade de
garantir o acondicionamento e destino adequado dos
RSS. Ademais, poderá subsidiar futuras investigações,
visto que ainda é pouco explorada no âmbito da acade-
mia e da prática assistencial. Dessa forma, o estudo ob-
jetivou analisar a produção científica acerca do gerencia-
mento dos RSS provenientes da insulinoterapia na AB.

MÉTODOS
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, se-
guindo-se o percurso metodológico subdividido em seis
fases: escolha e definição do tema seguida da seleção da
questão de partida; amostragem ou busca na literatu-
ra; critérios para categorização dos estudos para coleta

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 230


de dados; avaliação dos estudos incluídos; interpretação
dos resultados e síntese do conhecimento ou apresen-
tação da revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO,
2008). Para nortear o estudo, elegeu-se a seguinte ques-
tão norteadora: Como acontece o gerenciamento dos RSS
provenientes do uso de insulina na AB?
Adotou-se como critério de inclusão: estudos ori-
ginais e revisões, disponíveis eletronicamente na ínte-
gra, publicados após janeiro de 2004 até maio de 2017,
nos idiomas espanhol, inglês e português, realizados na
Atenção Básica. Foram excluídos capítulos de livros, te-
ses de doutorado, dissertações de mestrado, relatórios
técnicos, notas informativas e estudos relativos a outras
áreas temáticas.
Realizou-se a busca nas bases de dados Scopus, CI-
NAHL, LILACS, BDENF, Medline via Pubmed, Web
of Science, na respectiva ordem de acesso, utilizando os
descritores controlados: diabetes mellitus (diabetes mel-
litus), insulina (insulin), resíduos de serviços de saúde
(medical waste), eliminação de resíduos de serviços de
saúde (medical waste disposal), gerenciamento de resí-
duos (waste management) e eliminação de resíduos (refu-
se disposal); e não controlado: diabetes (diabetes), inter-
calados com os operadores booleanos AND e OR.
O levantamento foi realizado no mês de maio de
2017, obtendo-se 76 estudos na Scopus, 18 na CI-
NAHL, 02 na LILACS, 01 na BDENF, 54 na Medline
e 06 na Web of Science, totalizando 157 publicações.
Desses, foram incluídos 52 artigos para a seleção, consi-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 231


derando potencialmente elegíveis os estudos após a lei-
tura dos títulos e resumos que continham informações
sobre os descritores mencionados; 16 publicações foram
eleitas e seguimos com a leitura integral do manuscrito.
Após esta etapa, 01 estudo foi excluído por repetição e
foi considerado apenas uma vez, 06 estudos foram ex-
cluídos, pois foram realizados em hospitais e fugiram
da temática central, selecionando ao final e incluído na
amostra desta revisão nove estudos, sendo dois da Sco-
pus, dois da CINAHL, dois da LILACS e três da Medli-
ne. O processo de seleção das publicações foi desenvol-
vido de forma pareada e independente.
Na obtenção dos dados, foi utilizado um formu-
lário de coleta elaborado pelas autoras, contendo infor-
mações sobre o título, ano de publicação e país que foi
realizado o estudo; base de dados e periódicos; objetivos,
resultados e conclusões. A síntese de apresentação final
desenvolveu-se na forma descritiva, no que se refere aos
objetivos, resultados e conclusões obtidos de cada um
dos estudos. Tais dados foram agrupados por semelhan-
ça, organizados em categorias temáticas e interpretados
com base na literatura.

RESULTADOS
O universo do estudo foi composto por 52 pu-
blicações referentes à temática investigada, das quais 9
compuseram a amostra. Não houve predominância em

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 232


relação ao ano de publicação dos estudos, com exceção
de 2011 que tiveram duas publicações, comparado aos
demais que tiveram apenas uma. A maioria dos estudos
era de origem internacional (77,8%), com predomínio
das publicações americanas (três) e britânicas (duas).
Dois dos estudos têm origem nacional. Com relação ao
periódico, observaram-se seis periódicos diferentes, des-
tacando-se a Revista Baiana de Saúde Pública, o Journal
of Diabetes Science and Technology e o British Journal of
Community Nursing, que publicaram dois artigos cada.
O Quadro 1 mostra a síntese dos estudos incluídos nesta
revisão.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 233


Quadro 1 – Síntese dos estudos incluídos sobre gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde provenientes da utilização de insulina – Juazeiro
do Norte, CE, 2017.
Título Ano/país Base/Periódico Objetivos Resultados Conclusões
As atividades de cuidador rea-
Gerenciamento lizadas por PSC na CBC geram Necessidade de incorporar o
de resíduos de RCS. Os membros da família desenvolvimento da capacidade
cuidados de realizam práticas inadequadas dos trabalhadores comunitários de
saúde (GRCS) de GRCS. Alguns PSC usaram saúde no GRCS na atual iniciativa
em cuidados ba- suas mãos nuas para lidar com de cuidados de saúde primários na
seados na comu- Explorar como RCS devido à falta de luvas. Os África do Sul. Os resultados têm
nidade (CBC): o RCS é geren- PSC não segregaram o RCS nas implicações mais amplas para os
experiências de 2017/ Scopus/BMC ciado na CBC casas, conforme estipulado pelos programas nacionais de saúde da
profissionais de África do Sul Public Health da perspectiva padrões nacionais da África do comunidade em CBR. Para que
saúde comuni- dos PSC Sul. O treinamento fornecido as CBR desenvolvam programas
tários (PSC) em aos PSC está limitado à segrega- efetivos de PSC, há necessidade
comunidades ção dos RCS de resíduos domés- de sinergias nas políticas de APS
de baixa renda ticos e nenhum treinamento foi e GRCS
(CBR) na África fornecido sobre como segregar
do Sul RCS de acordo com o risco que
ele representa
Os sites de autoridades locais
foram notáveis pela
​​ falta geral
de informações sobre os arranjos
para a coleta de resíduos clínicos
de instalações domésticas. Muitas
Resíduos clínicos Scopus/Else- Avaliar os Foram analisados 526
​​ sites autoridades locais não apresen-
na comunidade: vier-Journal arranjos para acessíveis ao público. Apenas taram informações com precisão
gerenciamento 2008/ of the Royal coleções de 262 (50%) das autoridades ou completamente. Há evidências
local de resíduos Reino Unido Institute of resíduos clíni- locais forneceram informações claras da necessidade de melhoria
clínicos de insta- Public Health cos resultantes em seus sites sobre a coleta de substancial nos padrões de coleta
lações locais de cuidados resíduos clínicos de instalações e disposição de resíduos clínicos
domiciliários domésticas pelas autoridades locais

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 234


Implementar Reconhecem a necessidade de me-
e manter lhorar a segurança dos trabalhado-
uma cultura res de saúde e fornecem recomen-
Novas reco- e ambiente dações seguras com o manejo dos
mendações para 2013/ Cinahl/British de trabalho dispositivos perfurocortantes
a segurança Europa Journal of seguro para os
da injeção do Healthcare profissionais de
diabetes Management saúde cuidando
pessoas com
diabetes
Os funcionários que administram
injeções subcutâneas na comuni-
dade precisam garantir que sejam
Injeções subcutâ- atualizados sobre os últimos
neas: prevenção Reino Unido Cinahl/British desenvolvimentos em dispositivos
de lesões por Journal of de agulhas de segurança, a fim de
agulha na comu- Community fornecer cuidados seguros, efica-
nidade Nursing zes e individualizados para seus
pacientes
Identificar as Maior porcentagem de descarte A falta de orientação influencia
Orientações so- orientações inadequado foi das fitas reagen- no descarte dos RSS. Importância
bre o descarte de 2015/ Lilacs/ Revista recebidas pelos tes e frascos de insulina, coinci- do estabelecimento de um pro-
resíduos gerados Brasil Baiana de Saú- usuários de dindo com o número de usuários tocolo sobre o manejo dos RSS
em domicílios de Pública insulina sobre que não receberam orientações em domicílio para direcionar as
de usuários de o descarte dos sobre o descarte desses tipos de ações e orientações aos usuários
insulina diferentes tipos resíduos de insulina
de resíduos em
seus domicílios

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 235


Conhecer a
Resíduos gerados realidade do
em domicílios de Lilacs/ manejo de Há uma inadequação do manejo Necessidade de ampliar as ações
indivíduos com 2009/ resíduos perfu- e descarte dos resíduos oriundos educativas em saúde no sentido de
Revista Baiana
diabetes melli- Brasil rocortantes e de do tratamento e monitoramento minimizar riscos de exposição aos
de Saúde
tus usuários de origem química do DM no domicílio de usuários agentes ambientais
Pública
insulina e biológica em de insulina
domicílios de
pessoas com
DM, usuários
de insulina
Eliminação de Abordam a A sustentabilidade ambiental Como isso afeta o meio ambiente,
resíduos no questão do cres- tornou-se parte do processo de é necessária uma análise mais
século XXI e Medline/ cente interesse avaliação de muitos produtos, aprofundada e uma avaliação das
tecnologia do Journal of Di- pelo impacto sua avaliação arroja alguma luz variações regionais na prestação
diabetes: um 2011 abetes Science dos produtos de interessante sobre o impacto de cuidados de saúde, bem como
pouco de café and Technology saúde descar- de um grupo de dispositivos nas práticas de gerenciamento de
(copo) ou cerveja tados no meio quando comparada e contrastada resíduos em regiões específicas
(pode) com essa ambiente com com outros tipos de insumos
infusão de insuli- sua avaliação produzidos
na (conjunto) do impacto
ambiental dos
conjuntos de
infusão de
insulina com
base na perda
de recursos com
resíduos

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 236


Existem mais de 7,5 bilhões de A Coalition for Safe Community
agulhas e seringas usadas fora Needle Disposal está trabalhando
do sistema de saúde a cada ano para estabelecer uma solução
Analisar o por indivíduo. Quando gerados satisfatória para todas as partes
Análise: o im- Medline/ impacto da em casa, esses insumos não têm interessadas
pacto da agulha, Journal of Di- eliminação eliminações reguladas. Os resí-
da seringa e 2011 abetes Science inadequada das duos médicos gerados em casa
da eliminação and Technology agulhas, serin- são rotineiramente colocados
de lancetas na gas e lancetas no lixo da calçada, aumentando
comunidade. na comunidade. o risco pessoal de lesão por
agulha.
Perigos de agu- 2007/EUA Medline/ Home Discutir melho- Formação de organizações sem Conscientização dos governos,
lhas usados no Healthcare res alternativas fins lucrativos com parcerias dos profissionais de saúde e dos
lixo doméstico: Nurse para ajudar a entre empresas, comunidade e usuários na manutenção de práti-
implicações para mudar a forma governos. cas de gerenciamento adequadas
cuidados domici- como os objetos dos RSS. Modelos de orientação
liários perfurocortan- comunitários e individuais
tes provenientes
do manejo
com o diabetes
mellitus são
descartados

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 237


DISCUSSÃO
Após leitura criteriosa dos estudos selecionados,
análise e agrupamento das informações, emergiram duas
categorias temáticas: Categoria temática I - Manejo dos
RSS provenientes da insulinoterapia; Categoria temática
II - Modelos de orientação e Educação em saúde.

Manejo dos RSS provenientes da insulinoterapia


Os resíduos provenientes da insulinoterapia in-
cluem os frascos de insulina, as seringas, agulhas e cane-
tas utilizadas para a aplicação e as fitas reagentes e lance-
tas utilizadas para a monitorização glicêmica. O descarte
inadequado desses resíduos acarreta inúmeros riscos não
só aos pacientes, mas também a qualquer outra pessoa
que possa vir a entrar em contato com eles e ao ambiente
onde são incorretamente depositados.
O local recomendado para o depósito desse mate-
rial no domicílio é em recipientes industrializados apro-
priados e, na falta desses, em recipientes rígidos, com
boca larga e tampa (GARCIA; ZANETTI-RAMOS,
2004). Mesmo assim, ainda há o problema do descarte
em lixo doméstico, o que faz esse material ir para os li-
xões e continuar a oferecer riscos à população e ao meio
ambiente (STACCIARINI; HAAS; PACE, 2008).
Bidone (2001, p. 35) intensifica a questão afir-
mando também que os RSS são fontes potenciais de
disseminação de doenças, e Gold e Schumann (2007, p.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 238


604) potencializam exemplificando que “as agulhas in-
devidamente descartadas podem espalhar patógenos de
doenças infecciosas, representando um grave risco para
a saúde”.
Um estudo realizado na Europa, que traz novas re-
comendações para a injeção segura em diabetes, aponta
que as lesões por agulhas são um dos riscos ocupacionais
mais frequentes enfrentados por enfermeiros, médicos
e outros profissionais de saúde, bem como aqueles que
trabalham em outras funções como limpeza e elimina-
ção de resíduos. Tais lesões são particularmente perigo-
sas, tendo em vista o seu potencial de transmissão de
mais de 30 patógenos pelo sangue, incluindo hepatite B
(HBV), hepatite C (VHC) (STRAUSS, 2013).
Somam-se a esses riscos à saúde dos seres humanos,
os riscos ao meio ambiente. Outro estudo sobre o geren-
ciamento dos resíduos de serviços de saúde cita vários
problemas ambientais decorrentes do destino inadequa-
do desses resíduos como a contaminação da água, do solo,
da atmosfera e a proliferação de vetores que também afe-
tam a saúde da população e apontam para uma questão
de maior importância com a biossegurança (GARCIA;
ZANETTI-RAMOS, 2004).
Tanto a questão humana como a ambiental pos-
suem seus devidos norteamentos de necessidades, entre-
tanto, trabalhar em conjunto e produzir normatizações e
orientações corretas para tal manejo com os RSS garan-
tirá a manutenção da saúde, a diminuição das doenças

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 239


infectocontagiosas e a preservação do meio ambiente,
aspectos que são favoráveis à vida em sociedade.
É notável, nas pesquisas, o aumento da preocupa-
ção com o gerenciamento dos RSS provenientes do uso
da insulina no contexto da AB, pois além das conhecidas
abordagens à saúde ambiental e à sustentabilidade co-
munitária, com o passar dos anos a tendência da geração
desses insumos será apenas crescente, tendo em vista o
envelhecimento populacional e, consequentemente, o
aumento das doenças crônicas não transmissíveis e den-
tre elas o diabetes mellitus, florescendo a necessidade de
uma atenção diferenciada.
Um estudo abordando a eliminação dos resíduos
relacionados ao diabetes promove a discussão da temáti-
ca relacionada ao século XXI, afirmando que a questão
do crescente interesse pelo impacto dos produtos de saú-
de específicos do tratamento ao paciente com diabetes
que são descartados no meio ambiente converge com
a avaliação do real impacto ambiental que os mesmos
provocam. Os autores ainda pontuam essa atenção aos
países de alta renda, sendo esses responsáveis pela in-
trodução e implementação de programas relacionados à
coleta desses resíduos (KRISIUNAS, 2011).
Na Europa, foram lançadas recomendações com
objetivo de implementar e manter uma cultura e am-
biente de trabalho seguro para os profissionais de saúde
que cuidam de pessoas com diabetes. Nessas, os focos
principais são a educação e a formação na criação de

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 240


uma cultura de segurança, a responsabilidade dos fabri-
cantes dos materiais em oferecer treinamento com seus
dispositivos, bem como a importância da realização fre-
quente de campanhas de conscientização contra lesões
para melhorar a segurança dos profissionais de saúde e
dos usuários (STRAUSS, 2013).
Os governos têm papel fundamental na dissemina-
ção das práticas corretas no gerenciamento desses RSS,
assim, observamos que os de alguns países aprovam
guias instrucionais de como realizar esse manejo adequa-
do, desde sua utilização primária até o descarte e disposi-
ção final, demonstrando que a visão política referente ao
assunto está na agenda das necessidades globais. Apesar
de cada país ter seus próprios regulamentos relativos à
eliminação de resíduos potencialmente perigosos, todas
as pessoas em contato com os mesmos devem assumir a
responsabilidade de garantir sua eliminação segura.
Nesse cenário, a conscientização deve partir tanto
dos profissionais envolvidos como também dos usuá-
rios, validando o quanto que as visões desses dois com-
ponentes devem convergir de conhecimentos para se
trabalhar melhor o assunto. Assim, um estudo realizado
no Brasil permitiu entender que as orientações ofertadas
pelos profissionais aos usuários de insulina em domicílio
apresentam falhas no quesito descarte dos RSS, uma vez
que as autoras observaram uma maior porcentagem de
descarte inadequado das fitas reagentes e frascos de insu-
lina. Além disso, as mesmas verificaram uma diversidade

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 241


no conteúdo das orientações recebidas pelos usuários,
suscitando a importância do estabelecimento de um
protocolo sobre o manejo de RSS em domicílio para
direcionar as ações e as orientações (SILVA-ANDRÉ;
TAKAYANAGUIB, 2015).
Outrossim, pesquisadores internacionais indaga-
ram: “Você está dando a informação correta aos seus
pacientes?”. Esse questionamento foi tópico inicial do
estudo realizado nos Estados Unidos sobre perigos de
agulhas usadas no lixo doméstico: implicações para cui-
dados domiciliários, no qual apontaram que o interes-
se para melhorar as disposições sobre a temática deve
partir de todas as partes, focando nos profissionais de
saúde em ajudar a mudar a forma como esses objetos
potencialmente perigosos e outros objetos afiados são
descartados. Os autores salientam, ainda, sobre a im-
portância do envolvimento desses profissionais no papel
vital da promoção da conscientização sobre a eliminação
segura de perfurocortantes, a formulação de parcerias e
a mudança de leis, políticas e regulamentos para aumen-
tar o acesso a programas de eliminação segura (GOLD;
SCHUMANN, 2007).
Na África do Sul, apesar de receberem orientações,
os profissionais ainda sentem necessidades constantes de
atualizações e um reforço maior de orientações, apon-
tam as autoras de um estudo sobre o gerenciamento dos
RSS em uma comunidade (HANGULU; AKINTOLA,
2017).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 242


Nas UBS, o maior contato dos pacientes se dá pelo
profissional de enfermagem. O binômio enfermeiro-u-
suário dispõe um link direto entre as partes e potenciali-
za a educação na prática do descarte adequado dos RSS.
Portanto, essa relação torna-se ainda mais oportuna ao
conselho/orientação consciente que deflagrará em ações
ambientalmente corretas e saudáveis, valendo-se aqui da
necessidade de que cada profissional deste nível detenha
conhecimento acerca da legislação específica de seu país,
estado e município.
Vários estados e/ou municípios possuem legislações
próprias específicas sobre o gerenciamento dos RSS, es-
tabelecendo normas para a classificação, segregação, ar-
mazenamento, coleta, transporte e disposição final dos
mesmos. Contudo, algumas legislações em vigor não são
claras e muitas vezes são conflitantes, o que provoca dú-
vidas e impossibilita a adoção de normas práticas efica-
zes para o gerenciamento correto nos países (GARCIA;
ZANETTI-RAMOS, 2004).
As legislações existentes são gerais e também es-
pecíficas para seus determinados lugares de ação e tra-
zem as reais preocupações que devem ser tomadas com
a questão do lixo proveniente do manejo na utilização
da insulina e nos cuidados com o DM, porém suas dis-
cordâncias apontam como uma das dificuldades de se
trabalhar com os RSS.
Em 2013, algumas recomendações globais para ga-
rantir o uso seguro de injeções no tratamento do diabetes
foram publicadas pelo WISE (Workshop sobre Injeção

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 243


de Segurança em Endocrinologia), da União Europeia,
para a segurança de pacientes, profissionais e todas as
pessoas em contato potencial com objetos afiados uti-
lizados no tratamento da condição (STRAUSS, 2013).
No Brasil, os serviços de saúde devem seguir as
recomendações técnicas e legais definidas pela Agên-
cia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pelo
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
Porém, não há definição técnica e legal sobre o mane-
jo de resíduos gerados nos domicílios (SILVA-ANDRÉ,
2012). A fragilidade de articulação entre algumas polí-
ticas destinadas a esses assuntos gera impasses e brechas
nos trâmites legais que envolvem o gerenciamento des-
ses resíduos. Muitas vezes, a inexistência de protocolos
torna debilitado o assunto e fomenta maiores riscos à
saúde da população, dos profissionais de saúde, dos tra-
balhadores e do ambiente.
O estudo sobre resíduos clínicos na comunidade:
gerenciamento local de resíduos clínicos de instalações
locais, realizado no Reino Unido (Inglaterra, Irlanda do
Norte, Escócia e País de Gales) verificou que as informa-
ções disponibilizadas em sites governamentais apresenta-
ram notáveis falhas gerais sobre os arranjos para a coleta
de resíduos clínicos de instalações domésticas, sendo que
muitas autoridades locais não apresentaram informações
completas ou precisas (BLENKHARN, 2008). Na África
do Sul, como em muitos outros países africanos, os RSS
são gerenciados indevidamente, também devido a falhas
nos processos legais (HANGULU; AKINTOLA, 2017).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 244


A não existência ou a falha de regulamentos federais,
estaduais e municipais que regem a eliminação segura dos
RSS iminentemente perigosos, corroboram nas intenções
de que as legislações devem ser congruentes para se defi-
nir quais são as reais necessidades, como se trabalhar esse
gerenciamento, sempre definindo os papéis de cada ser
envolvido no processo de geração desses resíduos.

Modelos de orientação e Educação em saúde


As pesquisas, principalmente as internacionais,
apontaram iniciativas que ajudam na manutenção cor-
reta do gerenciamento dos RSS em duas categorias: com
programas comunitários e individuais por paciente, que
trabalham com governos locais, estaduais e federais dis-
postos a alterar leis, regulamentos e políticas para garan-
tir que a segurança da eliminação de objetos cortantes es-
teja disponível e que não sejam mais descartados no lixo
ou em locais públicos (GOLD; SCHUMANN, 2007).
Pesquisa realizada nos Estados Unidos postula as
principais necessidades exigidas pela temática: políticas
federais que incentivem a eliminação segura de objetos
cortantes por indivíduos; leis estaduais e locais que for-
neçam programas seguros de eliminação de objetos afia-
dos à comunidade; soluções de disposição disponíveis,
acessíveis e discretas baseadas na comunidade; e educa-
ção pública efetiva sobre a disposição segura de agulhas
para todos os usuários domiciliares (GOLD, 2011).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 245


Outro estudo realizado nos países do Reino Uni-
do propõe que a eliminação correta de objetos cortantes
seja parte integrante do processo de administração de
insulina e é essencial para evitar lesões de agulhas. Ao
descartar as agulhas e seringas usadas, estas devem ser
colocadas diretamente em uma caixa de objetos perfu-
rocortantes, uma vez que esse compartimento esteja no
máximo de sua capacidade, deve ser fechado, assinado
e substituído (AZIZ, 2011). Acredita-se que um dire-
cionamento resolutivo à questão dos RSS é à prática do
bom senso, convergindo com a educação e o treinamen-
to dos profissionais de saúde.
O setor da enfermagem tem papel fundamental
no gerenciamento dos RSS, considerando-se que está
diretamente envolvido na sua geração, sendo frequente-
mente designado para a gestão administrativa das UBS
por compreender a complexidade e a organização desses
serviços. Conhecimentos sobre os aspectos normati-
vos referentes à gestão dos RSS são fundamentais para
que o enfermeiro possa avaliar as condições do local de
trabalho, treinar sua equipe e alertar todos os demais
profissionais envolvidos quanto aos riscos inerentes e à
necessidade do descarte adequado dos diferentes tipos
de RSS (MOREIRA; GUNTHER, 2016).
Dessa forma, pontua-se a necessidade urgente de
adequação nas orientações ofertadas nas atividades de
educação em saúde realizadas com as pessoas dependen-
tes de insulinoterapia. O sucesso dessa educação exige
a capacitação e sensibilização de equipes multiprofissio-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 246


nais de modo a atender às reais necessidades e possibi-
lidades desses sujeitos, no intuito de oferecer melhora à
sua condição de vida (ARAÚJO et al., 2009).
A institucionalização de uma cultura educativa nos
es­paços de trabalho significará a reorientação do proces-
so de trabalho. Assim, as capacitações, na figura da edu-
cação permanente em saúde, são de suma importância
para o desenvolvimento dos trabalhadores que, estando
em posse de uma cultura edu­cativa de qualidade, po-
dem propor e implementar ações educativas perenes aos
usuários, com vistas à prevenção de doenças e agravos
e, de igual modo, à promoção da saúde e preservação
do ambiente (SILVA et al., 2017). Potencializar essas
atividades configuram a robustez das informações di-
fundidas, garantindo redimensionamento adequado dos
processos que envolvem o gerenciamento dos RSS.
O enfermeiro, dispondo de capacitação para essa
questão, poderá preencher a lacuna do déficit de infor-
mações, pela educação continuada dos pacientes com
diabetes e pelo exercício do bom senso, sempre instruin-
do o cliente sobre o fato de que a seringa e a agulha
devem ser descartadas em recipientes adequados. O
processo educativo possibilita um maior nível de conhe-
cimento e promove esclarecimentos importantes sobre
a forma adequada de descarte, proporcionando a pre-
venção de danos ao meio ambiente e mais qualidade de
vida aos indivíduos que estão envolvidos nesse processo
(SILVA et al., 2013).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 247


Desse modo, acreditamos que as mudanças dese-
jadas em nível nacional, podem ser captadas diante das
exitosas experiências internacionais com relação ao ge-
renciamento dos RSS, provenientes da utilização de in-
sulina e dos cuidados com o DM. Apontamos, também,
a necessidade de uma releitura nas legislações vigentes
com a finalidade de especificar tais demandas para que
seus respectivos atores possam direcionar as orientações
corretas e com qualidade.

CONCLUSÃO
As abordagens que os estudos dessa revisão trou-
xeram apontam para a importância de realizar um ge-
renciamento adequado com os RSS provenientes da
insulinoterapia e dos cuidados com o diabetes mellitus
agrega potencialidades tanto à crescente preocupação
mundial com a temática ambiental como aos governos,
profissionais de saúde, pessoas com a doença e todos os
envolvidos. Nesse sentido, as experiências exitosas de-
monstradas nos estudos como modelos de orientação
também são válidas, porém urge a necessidade do desen-
volvimento de novas pesquisas que abordem como está
sendo realizado o gerenciamento desses resíduos nas suas
específicas localidades, angariando maior conhecimento
e expansão das boas práticas.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 248


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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 250


SAÚDE, TRABALHO E
SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO
CIVIL: UMA ANÁLISE ERGONÔMICA

Maria Iderlania de Freitas Sousa


Ana Patrícia Nunes Bandeira
Otávio Rangel de Oliveira e Cavalcante
Josafá Justino Barbosa
Maria Gorethe de Sousa Lima Brito
Paula Hemília de Souza Nunes

INTRODUÇÃO
Desde os tempos mais remotos da história da huma-
nidade o homem edifica espaços para o desenvolvimento
de suas atividades: moradia, trabalho, desenvolvimento
da espiritualidade, manutenção da saúde e locais de lazer.
Essas atividades requerem espaços adequados e, indepen-
dente da tecnologia utilizada, toda edificação é um pro-
duto da construção civil, esta é uma das atividades mais
antigas que remete à própria evolução do homem.
A construção civil apresenta-se como um grande
gerador de empregos, com expressiva contribuição para
o desenvolvimento econômico do país, sendo caracte-
rizada como um setor estratégico para o crescimento
nacional pelas suas características estruturais e os efeitos
favoráveis sobre a geração de renda, emprego e tributos
(IPECE, 2013).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 251


De acordo com o IPECE (2013), a economia cea-
rense teve um crescimento de 8% em 2010, ficando um
pouco acima da média nacional (7,5%), tendo como
responsáveis por este aquecimento, as atividades de co-
mércio, construção civil e alojamento/alimentação.
Além da importância econômica, a indústria da
construção civil tem relevante papel social, especialmen-
te em função de sua capacidade de geração de empre-
gos com a utilização massiva de mão de obra, sobretudo
aquela de baixa qualificação formal (SILVEIRA et al.,
2005). O salário médio dos trabalhadores da constru-
ção civil é em torno de 2,6 salários mínimos mensais
para serventes e pedreiros, no entanto a remuneração é
bastante variável pela rotatividade do setor e de acordo
com a atividade exercida na própria obra (IBGE, 2010).
A construção civil promove emprego para grande
parte da população masculina das camadas mais po-
bres. Por ser uma atividade que expõe constantemente
os trabalhadores a diversos riscos, ela é responsável pela
elevação nas taxas de acidentes de trabalho letais, não le-
tais e anos de vida perdidos (SANTANA e OLIVEIRA,
2004). No Brasil, são registrados, em média, 700 mil
casos de acidentes de trabalho todos os anos. O país gas-
ta por volta de R$70 bilhões com esse tipo de acidente,
estando fora desses registros os acidentes não notificados
(INSS, 2013).
O trabalho na construção civil é uma atividade
que possui tarefas árduas e complexas, com um gasto

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 252


energético elevado, aliado às ferramentas pouco ergonô-
micas para a realização das tarefas, tornando o trabalho
exaustivo e expondo o operário a diversos tipos de lesões
(KROEMER e GRANDJEAN, 2005). De acordo com
o IBGE (2011), a construção civil apresentou quase 60
mil acidentes ocupacionais durante o ano de 2011; e
957 doenças do trabalho. Este quadro reflete a imen-
sa necessidade de atuação de medidas preventivas neste
setor da indústria para a promoção da saúde laboral. O
reconhecimento dos riscos inerentes ao trabalho levou a
formulação de normas regulamentadoras, que tem sua
existência jurídica no inciso I do artigo 200 da CLT, que
obriga o Ministério do Trabalho a estabelecer medidas
de caráter protecionista.
Devido aos grandes índices de acidentes e doenças
laborais, com repercussão aos cofres públicos, houve um
empenho do governo federal em estabelecer normas de
segurança relacionadas à construção civil, como a NR 6,
NR 9, NR 17, NR 18, a CIPA e, mais recentemente, a
portaria 1.823, de 23 de agosto de 2012, na qual institui
uma política nacional de saúde do trabalhador, buscan-
do, entre outros objetivos, fortalecer a vigilância em saú-
de do trabalhador; identificar as necessidades, demandas
e problemas de saúde no território; realizar a análise da
situação de saúde dos trabalhadores e intervenção nos
processos e ambientes de trabalho (BRASIL, 2012).
A Ergonomia é contemplada na NR 17, presente
na CLT pelos artigos 198 e 199 e estabelece parâmetros
que permitem a adaptação das condições ocupacionais

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 253


às características psicofisiológicas dos trabalhadores, vi-
sando proporcionar conforto, segurança e eficiência no
processo do trabalho. De acordo com esta norma, cabe
ao empregador realizar análise ergonômica do trabalho,
incluindo aspectos voltados ao levantamento, transpor-
te e descargas de material, o mobiliário, equipamentos,
condições ambientais e também a organização do traba-
lho (BRASIL, 1978).
A ergonomia é uma ciência relativamente nova,
para Iida (2005) é o estudo das interações das pessoas
com a tecnologia, a organização e o ambiente, objetivan-
do intervenções e projetos que visem melhorar, de forma
integrada e não dissociada, a segurança, o conforto, o
bem-estar e a eficiência das atividades humanas.
Os objetivos básicos da ergonomia situam-se na
saúde, segurança e satisfação do trabalhador. Delibera-
to (2002) afirma que, conforto, segurança e eficiência
representam uma tríade indissociável, pois qualquer
estudo ergonômico que privilegie um ou dois em de-
trimento do terceiro resultará numa concepção ergonô-
mica inadequada.
Para a ergonomia, o ambiente de trabalho represen-
ta um conjunto interdependente de fatores que atuam
sobre a qualidade de vida e no próprio resultado do
trabalho. A análise ergonômica busca compreender não
apenas as características do posto de trabalho ou do am-
biente (ruído, temperatura, ventilação etc.), mas procura
conhecer as peculiaridades de cada atividade, o método
de trabalho e os resultados esperados (ABERGO, 2013)

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 254


Os acidentes no setor produzem grande impacto
social, econômico e sobre a saúde pública, mostrando
a necessidade da adoção de políticas públicas voltadas à
prevenção e proteção contra os riscos relativos às ativi-
dades laborais, de maneira a contribuir de forma signi-
ficativa para o desenvolvimento sustentável de uma re-
gião. Sendo assim, o estudo da interface saúde, trabalho
e sustentabilidade neste setor é, sem dúvida, essencial,
pois trata-se de um conjunto de medidas adotadas que
visa prevenir acidentes e doenças ocupacionais, bem
como proteger a integridade e a capacidade de trabalho
do profissional; implicando em esforços para melhorar a
saúde tanto no ambiente de trabalho como na comuni-
dade como um todo.
Diante da necessidade de entender a saúde laboral
dos trabalhadores da construção civil, o estudo apre-
sentado neste capítulo possui grande importância, por
se tratar de um estudo pioneiro na Região do Cariri,
podendo contribuir para o desenvolvimento de políti-
cas mais eficazes na prevenção de acidentes na Região e
em outras localidades, concedendo melhores condições
de trabalho e reduzindo a possibilidade de desenvolver
doenças relacionadas ao trabalho.
A adoção de medidas preventivas busca reduzir os
riscos e evitar acidentes, afastamentos, absenteísmo, alta
rotatividade e os serviços executados inadequadamente;
favorecendo a disposição e a motivação para o trabalho
e reduzindo os gastos públicos com aposentadorias por

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 255


invalidez ou pagamento de benefícios sociais por aciden-
tes laborais, agregando às empresas, valores humanos tão
requisitados atualmente. Essas medidas facilitam a dinâ-
mica organizacional do trabalho e culminam para um
processo de desenvolvimento sustentável.
O estudo apresentado neste capítulo teve como
objetivo estimar o risco de desordens corporais que os
trabalhadores da construção civil se expõem e recomen-
dar maneiras de adequação do ambiente ao trabalhador,
com vista na sustentabilidade.

MÉTODO
A pesquisa seguiu um modelo analítico, transver-
sal, de natureza quantitativa (APPOLINÁRIO, 2012).
O estudo foi realizado durante os meses de agosto de
2012 a setembro de 2013, em canteiros de obras da
construção civil que estavam instalados nos municípios
de Crato e Juazeiro do Norte, no sul do Ceará, para fins
do desenvolvimento da dissertação de mestrado de Sou-
sa (2014). Foram analisados trabalhadores que se encon-
travam em atividade nas obras de edificações de grande
porte e também de pequeno porte, como moradias, fo-
calizando apenas a etapa de elevação das edificações, ou
seja, a etapa de levantamento de alvenaria.
A amostra foi composta por 100 trabalhadores
que obedeceram aos seguintes critérios de inclusão: sexo
masculino, idade superior a 18 anos, mínimo de 01 ano

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 256


de serviço prestado na construção civil e realizar ativida-
des de pedreiro. O estudo foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da Universidade Regional do Cariri
sob o parecer 251.742.
Para a realização deste trabalho utilizaram-se os
seguintes materiais: câmera fotográfica semiprofissional
14 megapixels, tripé, questionário para avaliação de can-
saço e dor ao final da jornada de trabalho e o software Er-
golândia, cuja ferramenta de análise foi o método Rapid
Entire Body Assessment (REBA).
O método Rapid Entire Body Assessment (REBA),
foi criado por Hignelt e McAtamney (2000) para esti-
mar o risco de desordens corporais que os trabalhadores
se expõem. Atualmente, é encontrado como uma fer-
ramenta do software Ergolândia. Trata-se de um instru-
mento para avaliar a quantidade de posturas forçadas
nas tarefas envolvendo carga.
A avaliação do risco é feita a partir de uma obser-
vação sistemática dos ciclos de trabalho e pontuam-se
as posturas do tronco, pescoço, pernas, braços, antebra-
ços e punho. Gera-se, então, uma pontuação final para
determinação dos níveis de risco (numa escala variando
de 0 a 4) e tomadas de ação, onde corresponde a uma
intervenção posterior à análise e indica a necessidade
da intervenção. É útil na prevenção de riscos, alertando
sobre as condições inadequadas do trabalho (SHIDA E
BENTO, 2012). O Quadro 1 mostra o nível de ação e
intervenções possíveis pelo método REBA.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 257


Quadro 1- Ações e intervenções pelo método Reba.
Nível de Valor Nível de Descrição da ação e
ação REBA risco investigação
0 1 Muito baixo Não necessária
1 2-3 Baixo Pode ser necessária
2 4-7 Médio Necessária
3 8-10 Alto Necessária brevemente
4 11-15 Muito alto Necessária e urgente: imediata
Fonte: Adaptado de Hignett e Mcatamney (2000).

Neste estudo foi verificada a postura do trabalha-


dor durante a execução efetiva da atividade do trabalho
e, para isso, utilizou-se a câmera fotográfica na modali-
dade de filmagens para capturar imagens do homem em
seu processo produtivo. Cada trabalhador foi filmado
por dois minutos e observou-se a postura em que eles
executavam sua atividade e os instrumentos que utiliza-
ram para tal.
As filmagens foram lançadas e analisadas através do
software Ergolândia 3.0, onde se utilizou a ferramenta
análise de vídeo e o método REBA para aferir o risco
de desordens corporais a que os trabalhadores estavam
expostos. Após averiguar as filmagens, os resultados fo-
ram discutidos com base na postura dos trabalhadores,
cinesiologia e biomecânica do movimento, tendo como
base a literatura específica do profissional fisioterapeuta,
associado ao contexto ergonômico local e às possibilida-
des de intervenção.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 258


RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para avaliação do posto de trabalho, no intuito de
analisar os riscos ergonômicos que os funcionários estão
submetidos, foi utilizado o método REBA, sendo levado
em consideração o tipo de bloco utilizado (cerâmico ou
de concreto) e a altura da parede.
Sobre o tipo de bloco manuseado pelos indivíduos na
etapa de levantamento de alvenaria, foram verificados dois
tipos básicos: o bloco cerâmico de 08 furos, com dimen-
sões 9 x 19 x 19cm, que tem peso aproximado de 2,2kg,
e o bloco de concreto com dimensões 14 x 19 x 34cm,
que tem peso aproximado de 11,5kg. No manuseio dos
blocos foi constatado que 89% dos trabalhadores estive-
ram utilizando bloco cerâmico e 11% o bloco de concreto.
Essa observação é importante, pois quanto maior a carga
manuseada na execução do trabalho, maiores serão as so-
brecargas articulares impostas sobre a coluna vertebral, o
que eleva o risco de distúrbios posturais (HALL, 2005).
Durante a execução do trabalho, foram observados
cinco tipos de posturas assumidas pelos pedreiros e que
se repetem ao longo da fase de alvenaria, como repre-
sentadas na Figura 1 (A, B, C, D, E) e descritas a seguir.
a) Postura A: o indivíduo encontra-se agacha-
do, com tronco flexionado. A parede está em
baixa altura, sendo construída por blocos de
concreto (Figura 1A). Nessa situação, o valor
obtido pelo método REBA foi 6,0, classifican-
do a situação como de risco médio, sendo ne-
cessária uma intervenção;

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 259


b) Postura B: o indivíduo encontra-se em posição
ortostática com tronco fletido. A parede está
em altura média, sendo construída por blocos
de concreto (Figura 1B). Nessa situação, o valor
obtido pelo método REBA foi 10,0, classifican-
do a situação como de risco alto, sendo necessá-
ria uma intervenção o quanto antes;
c) Postura C: o indivíduo encontra-se em posição
ortostática, com tronco em flexão, com suporte
nas duas pernas, embora o peso esteja concen-
trado apenas em uma. A parede está com altura
baixa, sendo construída por blocos cerâmicos
(Figura 1C). Nessa situação, o valor obtido pelo
método REBA foi 12, classificando a situação
como de risco muito alto, sendo necessária uma
intervenção imediata;
d) Postura D: o trabalhador encontra-se com per-
nas e tronco em total flexão. A parede encon-
tra-se em média estatura, erguida por blocos
cerâmicos (Figura 1D). Nessa situação, o valor
obtido pelo método REBA foi 5,0, classificando
a situação como de risco médio, sendo necessá-
ria uma intervenção;
e) Postura E: o indivíduo se encontra em posição
ereta, com membros inferiores em extensão, om-
bros e braços elevados. A parede está alta, sendo
elevada por meio de blocos cerâmicos (Figura
1E). Nessa situação, o valor obtido pelo método
REBA foi 6,0, classificando a situação como de
risco médio, sendo necessária uma intervenção.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 260


As posturas assumidas durante a execução da al-
venaria representam um grau de risco classificado de
médio a muito alto, indicando que o trabalhador está
sob elevado risco de acidente e de desenvolvimento de
doenças laborais. A intervenção se faz imediatamente
necessária nesta situação.
A análise de risco também revela que há movi-
mentos repetitivos mais que quatro vezes por minuto,
além de assumirem uma postura instável. O Quadro 2
descreve as posições de cada segmento corpóreo assumi-
do durante a etapa de levantamento de alvenaria. São
analisados: cabeça, tronco, braços, antebraços, punhos,
pernas e a carga submetida ao corpo.
De acordo com Deliberato (2002), se um trabalho
é realizado numa postura inadequada, que requeira um
alto gasto energético, então haverá sobrecarga articular
e muscular, desencadeando afecções músculo esqueléti-
cas conhecidas de DORTs (Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho). Através da análise dos riscos
ocupacionais, foi observado que o ambiente se encon-
tra extremamente propício à ocorrência de acidentes e
doenças relacionadas ao trabalho, como DORT e LER.
De acordo com Deliberato (2002), se um trabalho
é realizado numa postura inadequada, que requeira um
alto gasto energético, então haverá sobrecarga articular
e muscular, desencadeando afecções músculo esqueléti-
cas conhecidas de DORTs (Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho). Através da análise dos riscos

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 261


ocupacionais, foi observado que o ambiente se encon-
tra extremamente propício à ocorrência de acidentes e
doenças relacionadas ao trabalho, como DORT e LER.
Iida (2005) afirma que o posto de trabalho é a
configuração física do sistema homem-equipamento, é
a unidade produtiva. O enfoque ergonômico é basea-
do na análise biomecânica da interação homem-siste-
ma-ambiente e busca reduzir as exigências energéticas
e cognitivas, procurando colocar o trabalhador numa
posição que facilite seu trabalho, que seja confortável e
promova eficiência na tarefa.
A organização do trabalho encontrada na constru-
ção civil é um ambiente propício à ocorrência de aci-
dentes e lesões incapacitantes, desencadeado por vários
fatores, entre eles posturas antiergonômicas, ferramentas
pouco programadas, desconhecimento dos riscos ine-
rentes a cada estágio de uma obra, em cada situação de
trabalho, como também a maneira de preveni-los.
Com vistas a contribuir com as políticas de saúde
para o desenvolvimento econômico e social da Região do
Cariri cearense e de outras regiões, são recomendadas algu-
mas maneiras de adequação do ambiente ao trabalhador.
A porta de entrada para sustentabilidade é a edu-
cação que não é apenas inclusiva, mas preventiva. A
educação precede a saúde e esta reflete a condição física,
mental e psicossocial do indivíduo. Neste aspecto, pro-
gramas de prevenção ensinados aos operários; medidas
protetivas; treinamentos e aperfeiçoamentos para a tría-
de produção, qualidade e segurança se fazem necessárias.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 262


Figura 1 - Posturas assumidas durante a etapa de alvenaria e análise de risco
pelo REBA.

a b

c d

Fonte: Sousa (2014).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 263


A fim de evitar os riscos ergonômicos é imprescindí-
vel a orientação de medidas preventivas aos funcionários,
tais como: evitar que o tronco fique em flexão com torção
e/ou agachado através de uma postura inadequada; evitar
pegar peso em excesso; ao levantar cargas, sustentá-las em
pequenas quantidades por vez e próximo ao tronco; usar
um suporte como cavaletes ou mesmo as pilhas de tijolos
para apoiar os instrumentos menores e os materiais como
a argamassa, com isso evitariam abaixar-se e levantar-se
repetidas vezes; acrescentar uma tábua ao cavalete a fim
de melhorar a mobilidade (ver Figura 2).

Quadro 2 - Descrição dos segmentos corpóreos para cada postura assumida


durante a alvenaria.
Posições POSTURA
do corpo A B C D E
Entre 0 e 20º Entre 0 e 20º Mais que 20º de Entre 0 e 20º Em extensão
Pescoço de flexão de flexão flexão, com rota- de flexão com rotação
ção para o lado para o lado
0 a 20º em De 20 a 60º Em flexão maior 0 a 20º em Ereto com
Tronco flexão em flexão, que 60º rotacio- flexão com rotação
Rotacionado rotacionado e nado e inclinado rotação e
e inclinado inclinado para lateralmente inclinação
lateralmente o lado lateral
Em flexão de Entre 45 e 90º, Entre 45 e 90º Em flexão de Em flexão maior
Braços 20 a 45º com ombro de flexão com 20 a 45º que 90º, com
elevado ombro elevado ombro elevado
Antebraços De 60º a 100º Fletidos de 60 De 60º a 100º Fletidos de Em extensão
em flexão a 100º em flexão 60 a 100º entre 0 a 60º
Punhos Fletidos até 15º Até 15º de Até 15º de flexão Até 15º de Até 15º de flexão
flexão flexão
Joelhos fletidos Joelhos fletidos Flexão de joelho Flexão entre Em extensão e
entre 30 e entre 30 e entre 30 e 60º 30 e 60º apoio bipodal
Pernas 60º em apoio 60º em apoio em apoio bipodal em apoio
bipodal bipodal bipodal
Carga Maior que Maior que Menor que 5Kg Menor que Menor que 5Kg
10 kg 10 kg 5Kg
Pontuação 6,0 10,0 12,0 5,0 6,0
Fonte: Sousa (2014)

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 264


No caso do empregador seria importante incenti-
var as modificações no ritmo de trabalho, ensinando ao
operário a fazer pequenas pausas durante a realização da
atividade pelo menos, a cada duas horas, para alongar a
musculatura dos membros superiores e inferiores, mobi-
lizar a coluna cervical e fazer exercícios de flexibilidade.
Essas atividades são rápidas e eficientes, pois relaxam os
grupos musculares mais solicitados, melhoram a circu-
lação e facilitam o recrutamento de outras fibras muscu-
lares, além de preparar a musculatura para suportar as
cargas de trabalho (BARBOSA, 2009).

Figura 2- Adaptações para redução de riscos ergonômicos

Fonte: Sousa (2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os trabalhadores da construção civil estão expostos
a riscos ocupacionais destacando-se o risco ergonômico
como fator predisponente ao afastamento precoce do
trabalho. O risco ergonômico é extremamente acentua-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 265


do, devido à própria organização do trabalho, da carga
manuseada, pouca organização do ambiente, da repeti-
tividade e postura inadequada.
A execução incorreta do trabalho ou do movimen-
to é um dos fatores contribuintes no processo de adoe-
cimento humano e, consequentemente, de interferência
no processo saúde-doença. O direito à saúde representa
uma consequência constitucional indissociável do direi-
to à vida, não se constituindo uma proteção ao traba-
lhador em si mesmo, mas sim uma proteção ao cidadão.
Para mitigar o possível adoecimento são sugeridas
maneiras de adequação do ambiente ao trabalhador,
com vista na sustentabilidade econômica e social regio-
nais sendo elas: educação continuada em saúde e segu-
rança do trabalho; instrução ao trabalhador em como
pegar peso e distribuir cargas; utilização de suportes da
própria construção, como cavaletes e tijolos, utilizando
uma postura segura e confortável sem prejuízo ao tempo
de execução da obra.
A intervenção ergonômica na construção civil é
mais difícil do que nas outras indústrias, devido a vários
fatores como: mudança constante do local de trabalho;
grande rotatividade dos trabalhadores; muitos operários
são contratados por empreiteiras e os proprietários da
obra alegam não terem condições de contratarem um
especialista em ergonomia.
O desenvolvimento sustentável é possível e neces-
sário na construção civil, mas envolve as relações sociais

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 266


entre o trabalhador, a empresa e a sociedade, requeren-
do compreensão do processo político e social que deve
pensar conjuntamente o processo de desenvolvimento.

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tentável) - Universidade Federal do Ceará. Juazeiro do Norte, 2014.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 268


INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL
RELACIONADOS ÀS CONDIÇÕES DE
EXTRAÇÃO DO CALCÁRIO LAMINADO
NO SUL DO CEARÁ

Paula Hemília de Souza Nunes


Maria Gorethe de Sousa Lima
Flavio Cesar Brito Nunes
Maria Iderlania de Freitas Sousa
Ana Patrícia Nunes Bandeira

INTRODUÇÃO
A relação homem-ambiente-saúde faz parte dos
antigos registros da humanidade, no entanto, somente
no final do século XX iniciaram-se as discussões técnicas
sobre as relações entre o meio ambiente e outros seto-
res da sociedade (NUNES, 2015). Foi a partir dessas
discussões que surgiu o conceito de Saúde Ambiental,
que tem como premissa básica conhecer os reflexos das
condições ambientais na saúde humana.
A análise da saúde ambiental é muito importante
em diversas atividades realizadas pelo homem. A ati-
vidade de mineração, por exemplo, causa considerável
impacto ao meio ambiente e afeta diretamente a saúde
dos seus trabalhadores e indiretamente a população cir-
cunvizinha à área de mineração. Por muitas décadas, a
atividade mineral tem se destacado como uma atividade

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 269


que, apesar de gerar empregos e ser fonte extra de renda
para pequenos proprietários rurais, sobretudo nos locais
onde não há expectativa de outras formas de renda para
melhoria de sua qualidade de vida, causa grandes impac-
tos ambientais, muitos deles irreversíveis (BACCI et al.,
2006 apud CABRAL; PEREIRA; ALVES, 2012, p. 02).
Dentre os principais impactos gerados pela mine-
ração, destaca-se: a remoção da vegetação em todas as
áreas de extração, poluição dos recursos hídricos (super-
ficiais e subterrâneos), contaminação dos solos por ele-
mentos tóxicos, sedimentação e poluição de rios e cór-
regos pelo descarte indevido do material produzido não
aproveitado, poluição do ar, da terra e sonora e evasão
forçada de animais (NUNES, 2015). O conhecimento
da relação entre as condições ambientais e a saúde hu-
mana é, portanto, indispensável para o desenvolvimento
sustentável.
Diante do exposto, percebe-se a importância de de-
senvolvimento de pesquisas sobre indicadores de saúde
ambiental nas atividades de mineração, na busca de ob-
ter parâmetros técnicos para subsidiar o gerenciamento e
a implantação de políticas públicas, auxiliando a tomada
de decisões. Nesse sentido, apresentam-se neste traba-
lho os resultados de uma pesquisa que objetivou definir
indicadores de saúde ambiental, utilizando os escopos
ambiental, socioeconômico e de saúde, nas áreas de ex-
tração de calcário laminado, nos municípios de Nova
Olinda e Santana do Cariri, no interior do Ceará.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 270


MÉTODO
Para a realização da pesquisa utilizou-se instrumen-
tos de coleta de dados quantitativos e qualitativos. Os
dados quantitativos foram obtidos por meio de entre-
vistas estruturadas realizadas com os trabalhadores da
extração do calcário laminado; e os dados qualitativos
foram obtidos através de observações diretas da paisa-
gem geográfica e de registros fotográficos.
O número de trabalhadores entrevistados foi cal-
culado por meio da Equação 1, recomendada por Mar-
tins (2002) quando o universo da população é finito e
quando os dados coletados excedem 5% da população
da área estudada.

𝑛=𝑍².𝑝.𝑞.𝑁𝑑2(𝑁−1)+𝑍².𝑝.𝑞

Onde:
N = Tamanho da população;
Z = Abscissa da distribuição normal padrão;
Se o nível for de 95,5%, Z = 2;
Se o nível for de 95%, Z = 1,96;
Se o nível for de 99%, Z = 2,57;
p = Estimativa da verdadeira proporção de um dos
níveis da variável escolhida. Será expresso em decimais.
De forma convencional admite-se p = 0,50, gerando, as-
sim, o maior tamanho de amostra possível.
q = 1 – p;
d= Margem de erro, expresso em decimais;
n= Tamanho da amostra aleatória simples a ser re-
tirada da população.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 271


Nesta pesquisa, o tamanho da população foi obtido
a partir dos dados censitários do IBGE, o nível de con-
fiança foi de 95% e a margem de erro de 5%. A partir
desse método de cálculo, verificou-se que o tamanho
da amostra foi de 272 mineradores, correspondente a
42,5% do total de mineradores.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal do Ceará/PROPESQ,
através do Sistema Plataforma Brasil, com o Certificado
de Apresentação para Apreciação Ética com o número
CAAE 17881814.3.0000.5054.
Para seleção dos indicadores de saúde ambiental,
foi feita, inicialmente, uma análise dos indicadores de
escopo ambiental, socioeconômico e de saúde; que me-
lhor representassem a área de estudo. A partir dessa aná-
lise prévia, constatou-se que deveriam ser considerados
os indicadores de qualidade do ar, qualidade das águas
e as condições de trabalho. Os resultados apresentados
neste capítulo tratam dos indicadores relacionados ape-
nas às condições de trabalho. Esses indicadores foram
baseados no modelo proposto pela OMS, que considera
a estrutura FPSEEA (Força motriz, Pressão, Estado, Ex-
posição, Efeito e Ação).
Para Covarlan et al. (1996, p. 19-56 apud OLIVEI-
RA; FARIA, 2008, p. 04), a estrutura FPSEEA baseia-se
nos conceitos e objetivos do desenvolvimento sustentá-
vel, legados pela Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, e nos princípios e

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 272


compromissos estabelecidos na Carta de Ottawa para a
promoção da saúde, na medida em que indica a necessi-
dade de integração entre as várias políticas relacionadas
com o desenvolvimento e as necessidades sociais, de pre-
servação ambiental e de saúde.
De acordo com a OMS, este é o modelo através do
qual as forças motrizes geram pressões que modificam a
situação do ambiente e, em última análise, a saúde hu-
mana, por meio das diversas formas de exposição (MA-
CIEL FILHO et al., 1999, p. 59-65 apud CASTRO;
GOUVEIA; ESCAMILLA-CEJUDO, 2003, p. 137).
Indicadores de força motriz: Os indicadores neste
âmbito estão estreitamente relacionados ao modelo
econômico da região. Ele propicia uma visão ma-
cro sobre os problemas que possam gerar danos ao
ambiente e à saúde. O desenvolvimento econômico
funciona como a mola propulsora dos elementos
que compõem a força motriz da região (CASTRO;
GOUVEIA; ESCAMILLA-CEJUDO, 2003, p.
138).
Indicadores de pressão: os indicadores de pressão
são decorrentes dos indicadores de força motriz e
são fatores que influenciam em uma escala ampla
e que apresentam vínculos indiretos entre os riscos
ambientais e efeitos reais de saúde das populações.
São definidos em parte pelas opções tecnológicas
locais e regionais (CASTRO; GOUVEIA; ESCA-
MILLA-CEJUDO, 2003, p. 139 e MACIEL FI-
LHO et al., 1999, p. 141).
Indicadores de situação: as mudanças do meio am-
biente podem ser complexas e amplas e podem ter
consequências em escala local, regional, estadual
e nacional. São decorrentes das pressões e podem

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 273


representar um aumento na frequência e magni-
tude do risco natural. Relacionam-se neste item as
possibilidades de impactos na saúde e no ambiente
decorrente das diversas alterações produzidas no
meio ambiente pelas forças motrizes e as pressões
(CASTRO; GOUVEIA; ESCAMILLA-CEJUDO,
2003, p. 139; MACIEL FILHO et al., 1999, p. 84).
Indicador de exposições: a exposição é a condição
indispensável para que a saúde individual ou cole-
tiva seja afetada pelas causas adversas do meio am-
biente. Muitos fatores determinam se um indivíduo
será exposto, como: a poluição do meio, quantidade
de poluentes, tempo de permanência em ambientes
contaminados, bem como a forma de contato. Estes
fatores estabelecem vínculos fortes e diretos entre os
riscos ambientais e os efeitos reais de novos riscos
para a saúde (MACIEL FILHO et al., 1999, p. 84).
Indicadores de efeito: os indicadores deste nível re-
lacionam-se diretamente com a saúde da população
e dos indivíduos. Estão vinculados ao bem-estar e
ao padrão de morbimortalidade de uma popula-
ção. O impacto na saúde, em geral, é o somatório
das diversas exposições a diversos agentes, em mo-
mentos diferenciados, nem sempre fáceis de serem
expostos nos estudos epidemiológicos (CASTRO;
GOUVEIA; ESCAMILLA-CEJUDO, 2003,
p. 140).
Indicadores de ação: as ações podem ser de curto
prazo e de caráter reparador, outras, em longo prazo
e preventivas. Diversas ações podem ser tomadas,
baseadas na natureza dos riscos, sua receptividade
ao controle e da percepção pública dos riscos. As
ações podem ser implementadas em diferentes ní-
veis de gestão, como, por exemplo, em nível das for-
ças motrizes, das pressões, da situação, de exposição
ou dos verdadeiros efeitos sobre a saúde (MACIEL
FILHO et al., 1999, p. 85).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 274


A construção da lista de indicadores de saúde am-
biental relacionados às condições de trabalho de mi-
neração na área em estudo se fez essencial por serem
considerados os mais indicados para representar a saú-
de ambiental da população. Ao todo foram analisados
27 indicadores que foram classificados em uma das 03
seguintes classes (péssimo, regular ou bom). Os indica-
dores foram relacionados aos seguintes fatores: uso de
EPIs; disponibilidade de água potável para consumo
e redução de poeira; proteção para o operador contra
exposição ao sol, chuva e vento; tecnologia dos equipa-
mentos empregados; jornada de trabalho; geração de
resíduos; qualidade das vias de acessos; acesso às áreas
de operação de máquinas ou equipamentos; sinalização
dos acessos aos depósitos de estéril, rejeitos e produtos;
estocagem de materiais; assoreamento de cursos de água;
inclinação do plano de deposição do material; habili-
dade dos trabalhadores em desempenhar suas funções;
princípios ergonômicos dos postos de trabalho; capaci-
tação dos mineradores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As classificações dos indicadores de saúde ambien-
tal analisados para a atividade de extração do calcário la-
minado estão apresentadas na Tabela 1, juntamente com
alguns motivos que influenciaram tais classificações.
Desta tabela observa-se que aproximadamente 78% dos

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 275


indicadores foram classificados como ‘péssimo’, com
destaque à Tecnologia dos equipamentos empregados, à
Jornada de trabalho, ao Monitoramento e ao gerencia-
mento dos poluentes.

Tabela 1: Classificação dos indicadores ambientais associados a extração do cal-


cário laminado.
Indicadores de condições de trabalho Classificação Motivo
Uso de EPIs Regular 78% não usam
Não há estudos de qua-
Água disponível para consumo Bom
lidade da água
Equipamentos com proteção para o operador
Bom Protege parcialmente
contra exposição ao sol, à chuva e ao vento.
Imediato atendimento ao acidentado Regular Só os casos graves
Água disponível para amenizar a poeira gerada Em todas as minera-
Bom
pelo corte da rocha doras
Equipamento com dispositivos para redução
Regular Insuficiente
da poeira
Tecnologia dos equipamentos Péssimo Precária
Apenas 17,6% dos
trabalhadores realizam
Realizam exames médicos de rotina Péssimo
exames médicos roti-
neiramente
Jornada de trabalho acima de 6 horas por dia Péssimo De 8 a 10 horas
Mais de 70% da extra-
Volume de resíduos Péssimo
ção vira resíduo
Monitoramento e gerenciamento dos poluentes Péssimo Não há
Concentração de poeira Péssimo Abundante
Exposição a raios solares Péssimo Intensa (céu aberto)
Veículos mantendo distâncias mínimas entre Não seguem as normas
Péssimo
máquinas e equipamentos recomendadas
Estradas com largura mínima, duas vezes Não seguem as normas
Péssimo
maior que a largura do maior veículo utilizado. recomendadas
Vias de circulação de veículos, não pavimen-
Não seguem as normas
tadas, umidificadas de forma a minimizar a Péssimo
recomendadas
geração de poeira

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 276


Acesso às áreas de operação de máquinas ou
equipamentos permitidos a pessoas autoriza- Péssimo Acesso livre
das
Obtém o máximo de aproveitamento do mi-
Péssimo Apenas30%
nério
Os depósitos de estéril e rejeitos mantidos sob
Péssimo Não há supervisor
a supervisão de profissional habilitado
Os acessos aos depósitos de estéril, rejeitos e
produtos devem ser sinalizados e restritos ao Péssimo Não há sinalização
pessoal
A estocagem de materiais é realizada com o
Não seguem as normas
máximo de segurança e o mínimo de impacto Péssimo
recomendadas
no ambiente
Evita o arraste de sólidos para o interior de
Péssimo Não há controle
rios, riachos ou outros cursos de água
Observa a inclinação máxima em relação à ho- Não seguem as normas
Péssimo
rizontal para o plano de deposição do material recomendadas
Mineradores admitidos encontram-se aptos a
Péssimo Não há treinamento
realizar as suas funções
Trabalhadores treinados conforme a legislação
Péssimo Não há treinamento
vigente e por pessoal habilitado
Postos de trabalho projetados e instalados se- Não seguem as normas
Péssimo
gundo princípios ergonômicos recomendadas
Fonte: Nunes (2015)

Quanto aos demais indicadores, 11% foram clas-


sificados como regular e 11% como ‘bom’. Entre os
indicadores classificados como regular destacam-se:
uso de EPIs; imediato atendimento ao acidentado; e
equipamento com dispositivos para redução da poeira.
O enquadramento desses indicadores na classe regular
mostra o quanto a atividade é desenvolvida de maneira
insatisfatória, agravando a saúde ambiental dos trabalha-
dores envolvidos.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 277


Entre os indicadores classificados como ‘bom’ des-
tacam-se: a água para consumo; a água disponível para
amenizar a poeira gerada pelo corte da rocha; e equipa-
mentos com proteção para o operador contra exposição
ao sol, à chuva e ao vento. Apesar da água para consumo
ser classificado como bom, do ponto de vista de haver a
disponibilidade, é necessário examinar a qualidade dessa
água.
Apesar do indicador “Equipamentos com proteção
para o operador contra exposição ao sol, à chuva e ao
vento” ter sido enquadrado na classe “bom”, a maioria
dos trabalhadores fica exposta à radiação solar, pois a
atividade se desenvolve a céu aberto, no entanto há pro-
teção contra chuva e vento. Medidas simples como a uti-
lização de roupas adequadas, que protegem os trabalha-
dores dos raios solares, reduziriam os riscos de obtenção
de câncer de pele.
Segundo DNPM (2002), a atividade de mineração
deve seguir algumas recomendações que estão descritas
nos seguintes documentos: I) Norma Reguladora da Mi-
neração (NRM) para Circulação e Transporte de Pessoas
e Materiais e Disposição e Manutenção dos Equipa-
mentos; II) NRM para Disposição de Estéril, Rejeitos
e Produtos; e III) NRM para Organização de Locais de
Trabalho e Proteção ao Trabalhador. Tais NRM têm por
objetivo, dentre outros, a segurança e proteção ao meio
ambiente, de forma a tornar o planejamento e o desen-
volvimento da atividade minerária compatíveis com a

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 278


busca permanente da produtividade, da preservação am-
biental, da segurança e saúde dos trabalhadores.
A NR para Circulação e Transporte de Pessoas e
Materiais e Disposição e Manutenção dos Equipamen-
tos, que fazem parte da Legislação de Segurança e Saúde
do Trabalho, recomenda uma largura mínima para as
vias de acesso, sendo no valor de duas vezes a largura do
maior veículo utilizado. Outra recomendação se refere
ao minério, que deve ser aproveitado ao máximo; e as
áreas de operação de máquinas ou equipamentos devem
ser de acesso apenas ao pessoal autorizado. Nos locais
do desenvolvimento deste trabalho não foi verificado o
atendimento desses requisitos, sendo então classificados
como péssimo.
No que se refere aos cuidados com os depósitos
de estéril e rejeitos, a NRM para Disposição de Esté-
ril, Rejeitos e Produtos recomenda uma supervisão de
profissional habilitado. Na área de estudo, os depósitos
de estéril e rejeitos e a estocagem de materiais foram
enquadrados como “péssimo”, pois se verificou que nos
locais não há nenhuma supervisão de um profissional
habilitado. Os rejeitos ficam lançados nas margens das
vias de acesso, sem nenhuma sinalização que proíba a
circulação de pessoas não autorizadas. As pilhas de rejei-
tos são altíssimas, colocando em risco por desabamento
a vida das pessoas que trafegam pelo local (Figura 1).
Além disso, os materiais mais superficiais dos rejeitos são
transportados, pela ação do vento e da água, para o inte-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 279


rior dos cursos de água, podendo causar o assoreamento
dos rios e canais. Este fato é agravado pela contribuição
do fluido de lama produzido nas máquinas de serragem
(Figura 2).
Com relação ao atendimento da NRM que trata da
Organização de Locais de Trabalho e Proteção ao Traba-
lhador, recomendando o treinamento dos trabalhadores
conforme a legislação vigente e por pessoal habilitado e
sugerindo que os postos de trabalho sejam projetados e
instalados segundo princípios ergonômicos, estes fatos
não foram constatados na área de estudo; ou seja, não
foi encontrado o devido atendimento às NRM, o que
fez enquadrar esses indicadores na classe de péssimo.

Figura 1 – Rejeitos nas margens das vias de acesso (Nova Olinda-CE).

Fonte: Nunes (2015)

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 280


Figura 2 – Lama proveniente das máquinas de serragem (Nova Olinda-CE)

Fonte: Nunes (2015)

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 281


Quanto ao indicador “Jornada de trabalho”,
classificado também como péssimo, sabe-se que os
trabalhadores ganham por produção; ou seja, quan-
to maior a produção, maior a remuneração recebi-
da. Nesse caso, a remuneração representa um fator de
motivação para o aumento da jornada de trabalho,
visto que durante o horário regular da jornada de tra-
balho não é possível desenvolver uma boa produ-
ção. O Trabalho no período diurno tem duração de
8h/dia, podendo se prolongar até para 10h/dia, com
uma hora de descanso no almoço, o que caracteriza um
grande esforço físico executado pelos mineradores, de-
vido à atividade ser exaustiva, árdua e perigosa. Elevar
a jornada de trabalho implica, consequentemente, em
elevar os riscos a que eles se submetem. Nesse aspecto
Kroemer e Grandjean (2005, apud SOUSA, 2014, p.
59) afirmam que o excesso de horas trabalhadas reduz
a qualidade do trabalho, gera fadiga, exaustão, torna o
ritmo de trabalho mais lento e a produtividade horária
se torna menor.
Através dos resultados das análises qualitativas e
quantitativas foi possível montar a matriz dos indica-
dores de saúde ambiental para o monitoramento das
condições de trabalho decorrente da extração de calcário
laminado e das ações envolvidas (Tabela 2).
Os indicadores de força motriz foram: Política de
vigilância à saúde do minerador; Incentivo à mineração
local; e Fiscalização. Tais políticas, de ordem econômica,

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 282


ainda em falta ou parcialmente em falta nos municípios,
afetam os diversos processos ambientais que podem, por
sua vez, afetar a saúde humana. Esses indicadores, por
sua vez, geram pressões, tais como a falta de tecnolo-
gia dos equipamentos e a produção de grandes volumes
de rejeitos que podem causar riscos ao trabalhador e
ao meio ambiente. Esses aspectos contribuem para os
indicadores de situação como, por exemplo, a concen-
tração de poeira; a poluição ambiental e a ausência do
uso do EPI. Tais situações deixam os trabalhadores em
exposição aos riscos de adoecimento e de acidentes de
trabalho, pois a exposição é uma condição indispensável
para que a saúde individual ou coletiva seja afetada pelas
causas adversas do meio ambiente. Os efeitos na saúde
devido à exposição podem variar em função de alguns
aspectos, como: tipo, magnitude e intensidade. Esses as-
pectos, por sua vez, dependem: do nível de exposição, da
situação de saúde da pessoa, da idade, da formação gené-
tica, da poluição do meio, da quantidade de poluentes,
do tempo de permanência em ambientes contaminados,
bem como da forma de contato. Todos esses fatores en-
volvidos causam efeitos nas pessoas, que se revelam em
morbimortalidade, associadas a acidentes de trabalho e
doenças ocupacionais.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 283


Tabela 2- Matriz dos Indicadores de saúde ambiental para o monitoramento das
condições de trabalho decorrente da extração de calcário laminado.
INDICADORES AÇÕES
FORÇA • Política de vigilância à saúde • Integração da saúde e do
MOTRIZ do minerador; ambiente nas políticas do
• Incentivo à mineração; desenvolvimento;
• Fiscalização;
PRESSÃO • Tecnologia dos equipamentos; • Intervenção nas políticas
• Volume dos rejeitos; públicas na mineração;
SITUAÇÃO • Concentração de poeira; • Monitoramento e geren-
• Poluição; ciamento de poluentes.
• Ausência do uso do EPI;
EXPOSIÇÃO • Poluentes químicos; • Vigilância em saúde am-
• Acidentes de trabalho; biental;
• Fiscalização
EFEITO • Morbidade; • Tratamento e reabili-
• Mortalidade. tação
Fonte: Nunes (2015)

Quanto às ações indicadas na matriz dos Indica-


dores de saúde ambiental (Tabela 2), tem-se para a for-
ça motriz, a integração entre os setores da saúde e do
meio ambiente, de modo que essa integração seja tanto
intrasetorial e intersetorial, quanto multidisciplinar, na
construção de uma política voltada a um ambiente de
trabalho mais sustentável. Para os indicadores de pres-
são, tem-se como ações: a intervenção nas políticas pú-
blicas na mineração.
Nesse caso, enquadram-se os órgãos fiscalizadores
do meio ambiente, como a Superintendência Estadual
do Meio Ambiente (SEMACE), o Departamento Na-
cional de Produção Mineral (DNPM), o Instituto Chico

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 284


Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e
outros, já que a tecnologia dos equipamentos e o volume
dos rejeitos, tanto degradam o meio ambiente, quanto
trazem riscos à saúde.
No âmbito da situação, as ações recomendadas
são: redução de volumes de rejeito e monitoramento e
gerenciamento de poluentes, que juntas dependem da
promoção de ações em nível de força motriz para que
os mineradores fossem estimulados a, por exemplo, di-
minuir a geração de rejeitos. Quanto aos indicadores de
exposição, as ações são: vigilância em saúde ambiental e
fiscalização, realizadas por órgãos municipais. Por fim,
em nível de efeito, a ação sugerida é o tratamento e a
reabilitação para os casos de acidente de trabalho e adoe-
cimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta pesquisa demonstram a falta de
políticas públicas e de ações de gerenciamento voltados
para a atividade de mineração no sul do Ceará. As clas-
sificações dos indicadores alertam para a necessidade ur-
gente de adoção de medidas preventivas e corretivas na
atividade de extração do calcário laminado, de maneira
a obter um melhor nível de classificação. Ações simples,
como a umidificação das vias de circulação de veículos
não pavimentadas, podem reduzir significativamente a
geração de poeira. O monitoramento e o gerenciamento

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 285


dos poluentes gerados pela extração do calcário lamina-
do constituem ações indispensáveis para a segurança da
saúde dos mineradores, das pessoas que trafegam pelo
local e das pessoas que moram em seu entorno.
Enquanto houver ausência de ações específicas que
proporcionem o conhecimento e a detecção de qualquer
alteração nos fatores que determinam e condicionam
o meio ambiente e, consequentemente, interfiram na
saúde das pessoas, não haverá a garantia da saúde dos
trabalhadores.
A matriz dos indicadores de saúde ambiental, cons-
truída neste estudo, permitiu uma visão sistêmica dos
fatores ambientais, sociais, econômicos, políticos e de
saúde pública. Com este instrumento é possível planejar,
ao longo do tempo, ações nas etapas de força motriz,
pressão, situação, exposição e efeito. Ante ao exposto,
infere-se que os programas de saúde ambiental devem
contar com ações de ordem interdisciplinar, com mo-
vimentos socialmente justos, economicamente viáveis e
ecologicamente corretos, visando à perspectiva de uma
equidade social, política e econômica. Neste sentido,
ressalta-se que o desenvolvimento regional sustentável
de uma região está conectado às condições de saúde da
população, que, por sua vez, têm aspectos sociais que
as determinam e as condicionam, as quais estão articu-
lados.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 286


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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 288


PANORAMA DE CONTAMINAÇÃO
AMBIENTAL PELO USO DE
AGROTÓXICOS E SEU IMPACTO NA
SAÚDE HUMANA

Geovanna Maria Sales Monteiro


Eline Mara Tavares Macêdo

INTRODUÇÃO
A expansão do agronegócio e o uso de novas tec-
nologias no mundo globalizado provocam impactos de
ordem ambiental, com consequências na saúde humana.
A força motriz que impulsiona o agronegócio está na
hegemonia do capital dentro do modelo de desenvolvi-
mento, em detrimento da qualidade de vida do ambien-
te e das populações. Grandes são os desafios da atua-
lidade, principalmente para a saúde coletiva. A adoção
de um sistema capitalista, com a produção de bens e de
consumo por meio de uma industrialização na qual se
supervaloriza a produtividade, age como um fator con-
dicionante desta saúde (ASSUNÇÃO; ROHIFS, 2012).
Nesta lógica a exploração da natureza em sua ple-
nitude durante a extração de matéria-prima permite que
a agricultura produza de modo acelerado e sem perdas,
sem levar em consideração os fatores imprevisíveis da
natureza. Para alcançar níveis cada vez mais altos de

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 289


produção vem sendo indiscriminado o uso de produtos
químicos, na tentativa de controlar pragas e fertilizar o
solo (ARAÚJO, 2010).
O uso desses agrotóxicos tornou-se uma questão
preocupante e desafiante. Preocupante quando gera con-
sequências impactantes na saúde humana e o risco de de-
gradação ambiental. Desafiante quando se percebe a pou-
ca visibilidade social do fato e os grandes e distintos inte-
resses políticos e econômicos (CARNEIRO et al, 2012).
A contaminação por agrotóxicos se dá tanto du-
rante a administração do produto químico nas lavouras,
quanto na produção, disposição, armazenamento e des-
tino dos resíduos químicos. Em todo esse processo há o
contato humano e ambiental (CARNEIRO et al, 2012).
Para a saúde ambiental, o uso de agrotóxicos vem
sendo relacionado ao desaparecimento das matas e flo-
restas originais, devastação de fauna e flora, solos im-
produtivos e contaminação do ar, água e terra (ASSUN-
ÇÃO; ROHIFS, 2012).
Nos últimos dez anos, as produções científicas no
Brasil sobre agrotóxicos têm aumentado, justificado pela
necessidade de aumento da produção agrícola, aumento
de casos de cânceres e intoxicações exógenas, inclusive
com aumento de óbitos, e aumento de demanda para
auxílios diagnósticos (ARAÚJO, 2010).
Pelo cenário exposto, a dependência e o uso indis-
criminado de agrotóxicos vêm acarretando consequên-
cias nefastas à saúde ambiental e humana, e cada vez mais

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 290


estudos são necessários na busca da compreensão desta
relação, o que justifica nosso estudo. Buscamos descrever
o estado da arte, do conhecimento publicados na área,
por meio de levantamento bibliográfico com o objetivo
de discutir as principais manifestações e repercussões do
uso de agrotóxicos na saúde do homem e do ambiente,
indicando os principais fatores de risco envolvidos.

MÉTODO/PERCURSO METODOLÓGICO
Trata-se de um estudo descritivo bibliográfico,
traçando um panorama retrospectivo das principais pu-
blicações desenvolvidas no Brasil, relacionadas aos pro-
cessos de contaminação por agrotóxicos e seus impactos
na saúde ambiental e das populações. Para Gil (2002,
p. 42), “as pesquisas descritivas têm como objetivo pri-
mordial a descrição das características de determinada
população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de
relações entre variáveis”.
Quanto aos procedimentos, pode ser dita pesquisa
documental, que consiste na coleta, classificação, seleção
difusa e na utilização de toda espécie de informações na
forma de textos, imagens e outros (FACHIN, 2001).
A amostra da pesquisa foi obtida por uma seleção de
periódicos. Foi realizado um levantamento bibliográfico,
através de busca eletrônica realizada pela Internet na Bi-
blioteca Virtual em Saúde (BVS). Tendo em vista os ob-
jetivos do presente artigo, foram selecionados para análi-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 291


se somente os periódicos em que os títulos apresentassem
os termos; “agrotóxicos”, “agrotóxicos e contaminação”,
“agrotóxicos e meio ambiente”, “agrotóxicos e saúde hu-
mana”, “agrotóxicos e câncer”, utilizando como critérios
de inclusão artigos publicados sobre o tema no Brasil, em
idioma português entre os anos de 2004 – 2014.
Foram incluídos todos os tipos de estudos descriti-
vos e analíticos, como também estudos com uma abor-
dagem qualitativa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Impactos do uso de agrotóxicos na Saúde Ambiental


Os impactos à saúde ambiental causado pelo uso
dos agrotóxicos são de uma complexidade que incorpora
incertezas e vulnerabilidades, passando por impactos so-
bre o território, desapropriações, desmatamentos e cons-
truções, até os impactos sobre as estruturas essenciais
para a vida, água, solo e biodiversidade (MARINHO et
al., 2011). Segundo Carneiro (2014) é evidente a supe-
rexploração dos recursos naturais, associado ao processo
de queimadas, a perda da biodiversidade e intensificação
do uso de agrotóxicos, o que configura um conjunto de
fatores que provocam a morbidade ambiental e humana.
No Brasil, existem 366 princípios ativos, que for-
mam 1458 produtos químicos utilizados no agronegó-
cio, dentre eles formulações com ações inseticidas, fun-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 292


gicidas, herbicidas, nematicidas, acaricidas, rodentici-
das, moluscidas, formicidas, reguladores e inibidores de
crescimento (LONDRES, 2011). Existe uma tendência
de formulação de novos produtos químicos pela inserção
de novas pragas e resistência, resultando em aumento de
consumo e associação com outras substâncias, tornando
o agricultor dependente (LONDRES, 2011).
Segundo Augusto (2011), Ghiselli (2001) relatou a
adsorção, absorção, retenção, biodegradação físico-quí-
mica, dissolução, precipitação, lixiviação, escoamento
superficial, volatização e absorção como os principais ti-
pos de interação do meio ambiente com os agrotóxicos.
Em um estudo realizado por Costa et al. (2006)
no Baixo Jaguaribe para constatação do uso de agrotó-
xicos, foi evidenciado que estavam presentes na região
os grupos químicos dos organofosforados com 39% de
utilização na amostra de irrigantes, derivados do ácido
fenoxiacético 14%, piretroides 12%, carbamatos 7%,
organoclorados 4% (MARINHO et al., 2011).
Kussumi et al.(2011), realizaram um estudo sobre
a contaminação de águas superficiais por agrotóxicos
organoclorados em região agrícola. Segundo o estudo,
foi encontrada uma possível contaminação de hexaclo-
rociclohexano (HCH) nas águas superficiais proveniente
de poluição atmosférica e do solo. Contudo, os autores
apontam que para a conclusão do estudo de exposição da
população, seria necessário realizar o monitoramento do
ar (SISAR), do solo (SISOLO) e da água (SISÁGUA).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 293


Porto e Soares (2012) descrevem um estudo realiza-
do no cerrado brasileiro sobre fatores de risco para con-
taminação de água e solo por agrotóxico, no qual se con-
clui que a cada 10.000 hectares de lavoura temporária há
um aumento de 6% de chance de contaminação do solo.
Nos casos de poluição do ar por queimadas ou poeiras
e pulverização de agrotóxicos, o risco de contaminação
para a água aumenta em 57%, e em 7,6 vezes para o solo.
O consumo indiscriminado de químicos agrícolas
com a aplicação intercostal, como também a pulverização
de agrotóxicos por meio de aviação agrícola são as evidên-
cias mais comuns da contaminação ambiental, atingindo
diretamente ar, água e solo. Esses têm trazido modifica-
ções e efeitos tóxicos nos seres vivos (Tabela 2) e não vivos
dos ecossistemas (RIBAS; MATSUMURA, 2009). Se-
gundo TEIXEIRA et al. (2011), em um estudo realizado
no Baixo Jaguaribe sobre o percentual de uso dos agrotó-
xicos por ramo agrícola foi encontrado que em 99,1% no
ramo do agronegócio e 93,9% dos agricultores familiares
utilizavam agrotóxicos e fertilizantes nos cultivos.

Tabela 2 – Toxicidade e persistência ambiental de alguns agrotóxicos (escala


crescente de 1 a 5).
Toxicidade Persistência
Agrotóxicos
Mamíferos Peixes Aves Insetos no Ambiente
Permetrina 2 4 2 5 2
DDT 3 4 2 2 5
Lindano 3 3 2 4 4
Etil-paration 5 2 5 2 2
Malation 2 2 1 1 1
Carbaril 2 1 1 1 1
Metropene 1 1 1 2 2
Bacillustharingensis 1 1 1 1 1
Fonte: WHO, 1990; OPS/WHO, 1996, apud RIBAS; MATSUMURA, 2009.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 294


Estudos realizados por Ribeiro, Lourencetti, Perei-
ra e Marchi, (2007) revelam que a presença de resíduos
de pesticidas em amostras de água subterrânea em baixas
concentrações e dos ambientes aquáticos pode ser con-
siderada moderada no Brasil. A contaminação do solo
pode ser considerada quando existe uma interferência
no desenvolvimento de bactérias fixadoras de nitrogênio
(RIBAS; MATSUMURA, 2009).
Numa avaliação da contaminação de águas superfi-
ciais e de chuva por agrotóxicos na região de Mato Gros-
so realizada por Moreira e colaboradores, foi demonstra-
do que a contaminação das águas é o início de uma série
de eventos que podem estar comprometendo outros es-
paços, como a possível contaminação do ar, que vai levar
a contaminação para áreas não rurais. O mesmo estudo
mostrou alguns impactos na vida animal do entorno das
águas, como a má formação de anfíbios, através de análi-
ses laboratoriais realizadas (MOREIRA et al., 2011)
Em 2011, foi realizado no estado do Ceará um
amplo estudo sobre a contaminação por agrotóxicos na
região do Baixo Jaguaribe, no que se refere à água que
abastece a região, que é ofertada à população pelo Ser-
viço Autônomo de Água e Esgoto com certificação de
qualidade. Contudo, esta água passa pelo perímetro do
agronegócio da região, sofrendo contaminação provavel-
mente advinda da pulverização aérea e do descarte de
embalagens. Foi realizado estudo de 24 amostras, das
quais 100% apresentaram entre três e dez princípios ati-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 295


vos, confirmando inclusive uma multiexposição (CAR-
NEIRO et al., 2012).
Muitos agrotóxicos utilizados na região do Baixo
Jaguaribe possuem baixa volatilidade com alto poder
de contaminação das águas, atingindo lençóis subterrâ-
neos através das chuvas e da irrigação, e da infiltração no
solo, apresentando, assim, o potencial de contaminação
ambiental através das águas, cuja proporção ultrapassa
o meio ambiente das plantações (MARINHO et al.,
2011).
Durante a aplicação dos agrotóxicos nas lavouras,
existe a dispersão das partículas que não atingem seu
alvo, mas são carregadas pelos ares, contaminando águas
e comunidades vizinhas. Esse processo acontece mesmo
utilizando todos os cuidados e normas de segurança,
apresentando um percentual de dispersão estimado en-
tre 30% e 70%. Não haveria, portanto, um “uso seguro”
de agrotóxicos (LONDRES, 2012)
Num estudo realizado em 2010 pelo Programa
de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos
(PARA) com produtos agrícolas, foi descrito que 63%
das amostras de alimentos coletadas apresentavam con-
taminação por agrotóxicos, sendo que os demais 37%
apresentavam agrotóxicos dentro dos padrões permiti-
dos. As culturas que estavam acima dos limites toleráveis
são: pimentão, morango, pepino, alface, cenoura, aba-
caxi, beterraba e mamão, principalmente (CARNEIRO
et al., 2012).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 296


Toda a biodiversidade é afetada direta ou indireta-
mente, logo, a vida no planeta pode estar sendo seria-
mente comprometida pelo uso indiscriminado de quí-
micos, que vem sendo apoiado por uma política de de-
senvolvimento econômico baseado na exploração de tra-
balhadores em busca do lucro para uma pequena parcela
da população. A intensidade do uso de agroquímicos e
o não monitoramento dos impactos na saúde ambiental
são definidos pela prerrogativa da necessidade de garantir
alimentos para todos, soberania alimentar. O modelo do
agronegócio gera impactos que são pagos por todos.

A contaminação por Agrotóxicos e a Saúde Humana


Segundo Londres (2011), os efeitos provocados
por agrotóxicos à saúde humana são variados e podem
envolver sequelas muito graves, fatais, defeitos congê-
nitos ou doenças de feito crônico. Portanto, os efeitos
para a saúde podem ser agudos – causando danos num
período de 24 horas após a exposição, geralmente asso-
ciados a uma exposição a doses mais altas, ou crônicos
– resultando em uma exposição em longo prazo a doses
mais baixas, segundo Ribas e Matsumura (2009). Na
saúde humana esses efeitos conhecidos se dão através de
complexas relações entre determinantes/condicionantes
do processo de exposição e os efeitos no corpo humano
(CARNEIRO et al., 2012).
Os agrotóxicos possuem uma classificação (Tabela
3) que obedece a estudos realizados em função dos efei-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 297


tos nocivos causados à saúde humana, com base na dosa-
gem letal dos experimentos realizados. Segundo Rieder
et al. (2004) apud Rosa (2011) a classificação é feita uti-
lizando características de bioacumulação, persistência,
transporte, toxicidade a muitos organismos, potencial
mutagênico, teratogênico e carcinogênico.

Tabela 3 – Classificação dos Agrotóxicos de acordo com efeitos sobre a saúde


humana.
Classe
Toxicidade DL 50 Faixa colorida
toxicológica
I Extremamente Tóxico < 5mg/Kg Vermelha
II Altamente Tóxico Entre 5 e 50 mg/Kg Amarela
III Mediamente Tóxico Entre 50 e 500 mg/Kg zul
IV Pouco Tóxico Entre 500 e 5000 mg/Kg Verde
- Muito pouco Tóxico Acima de 5000 mg/Kg -
Fonte: WHO, 1990; OPS/WHO, 1996, apud RIBAS e MATSUMURA, 2009.

A exposição poderá se dar por contato direto, em


trabalhadores na indústria de agrotóxicos e trabalhado-
res da agricultura, ou por contato indireto, em popula-
ção de comunidades próximas às áreas de aplicação de
agrotóxicos e/ou por ingestão de alimentos ou água con-
taminados (RIBAS; MATSUMURA, 2009).
Segundo Rosa (2011), as vias de penetração dos
agrotóxicos no organismo são: digestiva, respiratória e
dérmica, sendo que a via respiratória oferece aumento
de disponibilidade pela inalação de ar contaminado; e
dérmica pelo contato direto em grandes áreas corpóreas
mais relevantes, em exposição ocupacional e ambiental.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 298


Em estudo realizado por Teixeira e colaboradores
sobre a avaliação do tipo de contato com agrotóxico ou
fertilizante por segmento, os resultados apontam que no
agronegócio 39,6% dos trabalhadores dizem ter contato
direto e 60% contato indireto, nos agricultores fami-
liares 60,1% dizem ter contato direto e 39,2% contato
indireto, no assentamento agroecológico 100% afirmam
ter contato direto e indireto (TEIXEIRA et al., 2011).
Segundo Brito et al. (2009), há relatos de expo-
sição crônica a agrotóxicos relacionada a patologias de
pele, teratogênese, carcinogênese, alterações do sistema
imunológico, entre outros. No entanto, os estudos en-
volvendo longa exposição em baixas doses, relação cau-
sa/efeito, uso de combinações químicas e os dados de
intoxicação associados ainda são insuficientes e restritos
a grupos de interesse (FARIA; FACCHINI, 2007).
Cerca de um milhão de pessoas são intoxicadas por
agrotóxicos no mundo e cerca de três mil a vinte mil vão
a óbito. Estima-se que, a cada dois e três minutos um
trabalhador se intoxique com agrotóxicos (PORTO;-
SOARES, 2012).
Os trabalhadores da agricultura que apresentam
risco elevado para contaminação direta são os aplicado-
res, preparadores de caldas e responsáveis por depósitos,
que tem contato direto com os produtos, e há também
os trabalhadores que têm contato com os venenos ao
realizar capinas, rocadas, colheitas e afins. Além destes,
os moradores das áreas circunvizinhas e os trabalhadores

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 299


das empresas fabricantes de agrotóxicos também for-
mam um grupo com grande risco (LONDRES, 2011).
Estudos realizados por Araújo (2000) em Pernam-
buco, Soares (2003) em Minas Gerais, Oliveira-Silva
(2001) no Rio de Janeiro, Pires, Caldas e Recena (2005)
no Mato Grosso do Sul e Bedor (2009) no Vale do São
Francisco relatam o quadro de intoxicações provocadas
por uso de agrotóxicos em trabalhadores da agricultura
espalhado por todo o país (AUGUSTO et al., 2011).
Em se tratando de alimentos contaminados, se-
gundo Carneiro et al., (2012), uma vez ultrapassados os
limites toleráveis para ingestão diária, pode-se verificar
consequências indesejáveis, contribuindo para a insegu-
rança alimentar. Sendo assim, os consumidores são um
grupo com potencial para desenvolver reações, seja em
decorrência do uso de substâncias proibidas, seja devido
ao desrespeito do período de carência para a aplicação e/
ou a comercialização dos alimentos (LONDRES, 2011).
A classificação descrita na tabela 4 relaciona os
agrotóxicos com sintomas observados em intoxicações
agudas e crônicas.

Tabela 4 – Classificação de efeitos e/ou sintomas dos agrotóxicos na saúde humana.


Classificação Classificação
Sintomas de Intoxica- Sintomas de intoxicação
quanto à praga quanto ao grupo
ção aguda crônica
que controla químico
Organofosforados Fraqueza, cólicas ab- Efeitos neurotóxicos retar-
e carbamatos dominais, vômitos, dados, alterações cromos-
espasmos musculares, e somiais, e dermatites de
convulsões contato

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 300


Classificação Classificação
Sintomas de Intoxica- Sintomas de intoxicação
quanto à praga quanto ao grupo
ção aguda crônica
que controla químico
Organoclorados Náuseas, vômitos, con- Lesões hepáticas, arritimias
trações musculares in- cardíacas, lesões renais e
voluntárias neuropatias periféricas
Piretróides sin- Irritações das conjunti- Alergias, asma brônquica,
téticos vas, espirros, excitação e irritações nas mucosas, hi-
convulções persensibilidade
Fungicidas Ditioicarbonetos Tonteiras, vômitos, tre- Alergias respiratórias, der-
mores musculares, dor matites, Doença de Parkin-
de cabeça son, cânceres
Fentalamidas - Teratogêneses
Herbicidas Dinitroferóis e Dificuldade respirató- Cânceres (PCP- formação
pentaciclorofenol ria, hipertermias e con- de dioxinas) e cloroacnes
vulsões
Fenoxiacéticos Perda de apetite, enjoo, Indução da produção de
vômitos, fasciculação enzimas hepáticas, cânceres
muscular. e teratogênese
Dipiridilos Sangramento nasal, fra- Lesões hepáticas, dermatites
queza, desmaios, con- de contato e fibrose pul-
juntivites monar

Fonte: OPAS/OMS, 1996; apud Carneiro et al., 2012.

Segundo Carneiro et al.(2012) não há evidências


científicas de quais seriam os efeitos da multiexposição
ou exposição combinada de agrotóxicos, mas há a evi-
dência da potencialização dos danos quando a exposição
tem várias vias de penetração (oral, inalatória e dérmica).
A exposição múltipla, segundo Londres (2011), produz
interações entre os químicos que possibilitam efeitos
mais graves do que em monoexposição. Os efeitos acar-
retam quadros sintomatológicos combinados, masca-
rando patologias, é o que afirma Rêgo et al. (2001).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 301


De acordo com Rêgo (2002), a neurotoxicidade
e alterações comportamentais são alterações causadas,
principalmente pela exposição de organofosforados, e
que são mais comuns em exposições crônicas, ou como
no caso das paralisias com uma ação neurotóxica retar-
dada.
Muitos estudos foram realizados por várias univer-
sidades no Brasil (UNISC, UNICAMP, UFRJ, UNI-
FESP, UFPR, UFMG), que relatam casos de uso de
agrotóxicos e distúrbios/transtornos psiquiátricos com
relatos de suicídio (LONDRES, 2011).

Tabela 5 - Efeito da exposição prolongada a múltiplos agrotóxicos.


Órgão/Sistema Efeito
Síndrome asteno-vegetativa, polineurite,
radiculite, encefalopatia, distonia vascular,
Sistema nervoso
esclerose cerebral, neurite retrobulbar, an-
giopatia da retina.
Traqueíte crônica, pneumofibrose, enfise-
Sistema respiratório
ma pulmonar, asma brônquica.
Miocardite tóxica crônica, insufuciência
Sistema cardiovascular coronária crônica, hipertensão, hipoten-
são.
Hepatite crônica, insuficiência hepática,
Fígado
colecistite.
Albuminúria, nictúria, alterações do clea-
Rins
rence da ureia, nitrogênio e creatinina.
Gastrite crônica, duodenite, úlcera, colite
crônica (hemorrágica, epigástrica, forma-
Trato Gastrointestinal
ções polipoides), hipersecreção e hiperaci-
dez gástrica, prejuízo da motricidade.
Leucopenia, eosinifilia, monocitose, altera-
Sistema hematopoiético
ções na hemoglobina.
Pele Dermatites, eczemas.
Olhos Conjuntivite, blefarite.
Fonte: Kaloyanova, Simeovova, 1997, apud. Matos et al.(2001).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 302


A desregulação endócrina é também descrita nos
estudos de Solomon e Schettler (2000) e Romano
(2008) como um efeito importante do uso de agrotó-
xicos, provocando desequilíbrios fisiológicos a serem le-
vados em consideração, principalmente em hormônios
estrógenos e tireoideanos. Os efeitos podem ser agudos
e crônicos e estão relacionados ao tempo de exposição,
concentração no ambiente, modo de contato e tipo de
degradação de acordo com estudos realizados por Ro-
mano (2008) (ROSA et al., 2011).
O diagnóstico da intoxicação, tanto aguda, su-
baguda como crônica, é realizado através de anam-
nese, com história ocupacional e exame clínico. Os
exames laboratoriais a serem solicitados são a do-
sagem de colinesterase, a cromatografia e outros de
diagnóstico diferencial (RÊGO, 2002). A dificulda-
de do diagnóstico de intoxicação relacionado ao uso
de agrotóxico se dá pela própria dificuldade de reco-
nhecimento dos sintomas em relação aos químicos.
Por outro lado, temos o despreparo das equipes em in-
vestigar a causa das intoxicações (LONDRES, 2011).
Souza et al. (2001) realizou um estudo com 298
entrevistados, dos quais 68,4% utilizavam agrotóxicos.
Destes, um total de 86,9% apresentavam pelo me-
nos uma doença. No estudo se propõe a associação de
agrotóxicos com doenças orais, doenças neurológicas,
síndromes dolorosas e com inter-relação possível entre
exposição crônica e doenças degenerativas do sistema
nervoso, câncer, endocrinopatias e outras.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 303


2.1 Agrotóxicos e a possível relação com o surgimen-
to de câncer
Segundo o Instituto Nacional do Câncer José de
Alencar Gomes da Silva (INCA, 2012), câncer é o nome
dado ao conjunto de células que tem em comum o cres-
cimento desordenado, que perde a sua função normal e
penetra em outros tecidos e órgãos, podendo se espalhar
pelo organismo (KOIFMAN; HATAGIMA, 2003). Da-
dos do INCA referem que, em 2012, 518.510 casos no-
vos de câncer foram estimados, dos quais cerca de 80%
estavam relacionados a fatores ambientais e que envol-
vem, também, o ambiente ocupacional (INCA, 2012).
O processo de formação do câncer, a carcinogêne-
se, é um processo complexo que pode ser desencadeada
por agentes físicos, biológicos e químicos. A carcinogê-
nese química é um processo contínuo de exposição crô-
nica, ou seja, de modo geral lenta a produtos químicos
genotóxicos ou não genotóxicos presentes, sobretudo no
ambiente laboral (INCA, 2012).
Em um estudo realizado por Lichtenstein (2000),
foi proposto que as neoplasias têm como fator principal o
ambiente em detrimento dos fatores genéticos. O estudo
foi realizado com pares de gêmeos (ROSA et al., 2011).
Os agrotóxicos podem atuar como substâncias ca-
pazes de alterar o DNA ou estimular a célula alterada a
se dividir, ou seja, são agentes químicos com condições
de desenvolver câncer. Esses compostos químicos com-
plexos são compostos por ingredientes ativos e outros

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 304


componentes, e pouco se sabe sobre sua ação nos casos
de exposições combinadas, e de multimisturas (KOI-
FMAN; HATAGIMA, 2003).
A Agência Internacional de Pesquisa de Câncer
(IARC) classificou alguns agrotóxicos em substâncias
potencialmente carcinogênicas, a saber: dichlorodi-
phenyl-trichoroethane (DDT), bifenilaspolicloradas, as
dioxinas, hexaclorociclohexano e o hexaclorobenzeno
(KOIFMAN; HATAGIMA, 2003). Estudos mostram
que essas substâncias têm como propriedade o acúmulo
no tecido adiposo, leite materno e sangue, e estão asso-
ciados ao desenvolvimento de câncer no fígado, de tra-
to respiratório e linfomas (KOIFMAN; HATAGIMA,
2003). Refere Araújo (2010) que, existem pelo menos
50 agrotóxicos que atuam com poder carcinogênico au-
mentando a possibilidade de relação entre câncer e o uso
de químicos na agricultura.
Nos estudos realizados por Pimentel (1996) e Gri-
solia (2005), os tipos de câncer com maior incidência
em agricultores são: pulmão, estômago, melanomas,
próstata, cérebro, testículos, sarcomas e no sistema he-
matopoiético: Linfoma não Hodgkin, mieloma múlti-
plo e leucemias (ROSA et al., 2011).
Conforme Pignati e Machado (2007), a correlação
de consumo de agrotóxicos e as neoplasias foram abor-
dadas nos estudos de Koifman (2002), e Stopelli (2005),
de acordo com os quais os trabalhadores de zona rural
estavam duas vezes mais propensos a desenvolver câncer
do que os que moravam em zona urbana.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 305


De acordo com Curvo et al. (2013), os estudos
realizados por Cunha (2006), Moreira (2012) e Dos
Santos (2011), descrevem a possível relação entre uso de
agrotóxicos e desenvolvimento de câncer nas respectivas
regiões estudadas, o que foi demonstrado com signifi-
cância epidemiológica. No mesmo estudo, Curvo et al.,
(2013) concluem que, a exposição aos agrotóxicos desde
o nascimento tem relação com os casos de câncer em
menores de 20 anos no estado do Mato Grosso.

CONCLUSÃO
O presente estudo possibilitou a revisão bibliográ-
fica nos bancos de dados, tendo como foco as repercus-
sões do uso dos agrotóxicos para a saúde ambiental e
humana. Os agrotóxicos são utilizados em larga escala
no Brasil de forma indiscriminada, e legalizados por
uma legislação insipiente, carente em outras estruturas
de fiscalização. O controle social não consegue, dentro
desse sistema econômico hegemônico do capital, exercer
seu papel fiscalizador e denunciatório.
Os agrotóxicos são substâncias químicas com efei-
tos tóxicos diversos na saúde ambiental e humana, com
efeito devastador amplo para a vida nos territórios. Na
saúde ambiental, comprovadamente, existe a conta-
minação da água, solo e ar em ordem decrescente de
ocorrência, o que foi demonstrado nos estudos relatados
nesta pesquisa.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 306


As repercussões no organismo dos seres humanos
vão variar pelo contato, tipo de químico, sua toxicidade,
levando em consideração a toxicocinética e a toxicodi-
nâmica, tempo de exposição e valores de concentração.
Existe um despreparo por parte de todos, profis-
sionais de saúde e sociedade em reconhecer a relação do
uso de agrotóxicos como determinantes causais de into-
xicações agudas e crônicas. No entanto, com o avanço
das pesquisas sobre o tema, já é possível ver que muitos
estudos realizados no Brasil fazem uma relação direta
entre o uso de agrotóxicos e os casos de intoxicação, até
mesmo chegando a estabelecer possível correlação com
os cânceres, principalmente em trabalhadores agrícolas.
Este estudo apontou algumas limitações para a re-
visão e completa abordagem do tema, a saber: muitos
dos estudos brasileiros referem-se a estudos mais longos
com comprovação de contaminação em outros países,
existem muito poucos estudos que avaliam as infor-
mações dos sistemas SISSOLO, SISAR e SISÁGUA e
a relação com exposição humana. Contudo, esses estu-
dos são de extrema relevância, pois suscitam o tema em
nossos territórios.
Por fim, vale ressaltar a importância de mais pes-
quisas e mais inquietações sobre esta importante matéria
de estudo dentro da Vigilância em Saúde, tendo a ne-
cessidade de se integrar os setores saúde e ambiente em
torno da garantia da qualidade de vida das populações
do campo e da cidade, tendo como conceito norteador a
sustentabilidade ambiental.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 307


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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 310


AVALIAÇÃO DO PREPARO DE CUIDADORES
DE IDOSOS PARA REALIZAÇÃO DO CUIDADO

Simone Santos Sousa Mendes


Andressa Santos Rodrigues
Lisandra Ravena Veloso da Silva
Maria Laíse de Lima Leal
Edina Araújo Rodrigues Oliveira
Laura Maria Feitosa Formiga

INTRODUÇÃO
O envelhecimento da população é um fator que
vem se consolidando no decorrer dos anos nos países de-
senvolvidos em decorrência de inúmeros indicadores de
saúde, tais como: a queda na mortalidade, a melhora da
qualidade da atenção à saúde, a velocidade na divulga-
ção de informações decorrente dos avanços tecnológicos
e melhorias nas condições de higiene e do meio ambien-
te. A soma desses fatores contribui para o crescimento
populacional da terceira idade.
Em decorrência desse processo de envelhecimento,
a maior parte dos países do mundo vem experimentando
esse aumento na proporção do número de idosos. E como
resultado, essa situação interfere em diversos setores,
como previdência e assistência social, transportes, edu-
cação, consumo de bens e serviços, habitação, segurança
pública, saúde e mercado de trabalho (BRASIL, 2017).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 311


Além das mudanças no perfil demográfico, outro
aspecto relevante, relacionado ao envelhecimento, são as
alterações biológicas que acontecem ao longo da vida, o
organismo humano fica mais vulnerável às agressões do
meio externo e interno. O processo de envelhecer está re-
lacionado a fatores genéticos e as alterações que ocorrem
em nível celular-molecular. Esses fatores levam à dimi-
nuição da capacidade funcional e sobrecarga do controle
de hemostasia do corpo, acarretando no aparecimento
de patologias. Entre essas, observa-se um aumento nas
doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão,
diabetes mellitus, doenças pulmonares obstrutivas crôni-
cas, mal de Alzheimer, dentre outras. A maioria das pa-
tologias apresentadas pelos idosos, não é responsável por
sua morte imediata, mas tendem a ocasionar complica-
ções e sequelas, que implicam na capacidade funcional
do idoso e a qualidade de vida desse, a ponto de impedir
o autocuidado, sobrecarregando a família e o sistema de
saúde. E, nesse contexto, surge o papel dos cuidadores
(OLIVEIRA, 2014).
Os cuidadores são indivíduos que terão a função de
auxiliar e/ou realizar a atenção adequada às pessoas ido-
sas que apresentam limitações para as atividades básicas
e instrumentais da vida diária, estimulando a indepen-
dência e respeitando a autonomia destas. Existem dois
tipos de cuidadores: o informal e o formal (CONCEI-
ÇÃO, 2010; MONTEZUMA, C. A.; FREITAS, M. C.;
MONTEIRO, A. R, 2008).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 312


Os cuidadores formais de idosos se enquadram na
categoria de empregados domésticos, sendo abrangidos,
pela proteção da recém-aprovada Lei Complementar
nº 150, de 2015, e demais exigências legais. Em decor-
rência desse fato, a contratação de cuidador formal de
idosos pode comprometer fortemente o orçamento das
famílias, inviabilizando a contratação desse tipo de pro-
fissional (BRASIL, 2017).
O cuidador informal é aquele que presta cuidados
à pessoa idosa no domicílio, com ou sem vínculo fami-
liar, e que não é remunerado por exercer essa função.
Os familiares costumam assumir esse papel de cuidador
informal, influenciados por valores culturais definidos
pela sociedade ou por vínculo afetivo. Na maioria das
vezes, assume essa incumbência não por opção, mas por
força das circunstâncias. Entre os familiares uma única
pessoa é eleita como o cuidador principal, sendo que
este vai ser o responsável em realizar todos os cuidados
necessários ao idoso.
Normalmente, esses não se encontram preparados
para assumir todo o cuidado e suas responsabilidades,
sendo necessário um devido preparo para assumi-las
e, ainda, o apoio para desempenhar essa função. Des-
se modo, é pertinente estudar a forma como esses cui-
dadores são preparados e orientados. Assim, através da
avaliação dos cuidadores, contribui-se para que os pro-
fissionais de saúde, de uma forma mais efetiva, prestem
assistência a essas pessoas, particularmente durante as

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 313


orientações de cuidado, importantes para o auxílio às fa-
mílias, à sua organização cotidiana e à divisão de tarefas
de cuidado ao idoso (BORGHI, 2013).
Em virtude dessa grande responsabilidade, o papel
do cuidador torna-se difícil e desgastante, por conse-
quência do processo de cuidar que requer do cuidador
atenção contínua. Portanto, é imprescindível um prepa-
ro físico, psicológico para os cuidadores com o objetivo
de atenuar o esgotamento e o estresse gerados pela con-
vivência com uma pessoa, que cada vez mais precisará de
cuidado e atenção (CARDOSO, 2015).
É enfático ressaltar que os trabalhadores informais,
de acordo com estudos realizados acerca do tema, en-
contram-se desvalidos no que se diz respeito às condi-
ções de trabalho que estes são submetidos, fato compro-
vado pela falta de contratos de trabalho, não inclusão
destes na previdência social, desamparo em planos e
acesso à saúde. De acordo com a OMS, as condições de
trabalho constituem diretamente os determinantes so-
ciais da saúde, visto que estes influenciam no bem-estar
e estabilidade, bem como no desenvolvimento humano
sustentável (WASHINGTON, 2015).
Mediante as considerações, o presente estudo é de
grande relevância para os profissionais da área de saú-
de, pois estimula a melhora na qualidade dos serviços
prestados aos responsáveis pelos cuidados da saúde do
idoso, possibilitando uma maior reflexão sobre as ações
e atitudes desempenhadas, que possam ser desenvolvidas

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 314


para a promoção de uma atenção qualificada além de
incentivar o desenvolvimento de estratégias de humani-
zação e promoção do cuidado.
Desse modo, o objetivo deste estudo é avaliar o pre-
paro dos cuidadores de idosos, identificando as necessi-
dades de ações da equipe de saúde voltadas para a prepa-
ração de cuidadores leigos, tal como investigar as orienta-
ções repassadas para os cuidadores, e analisar como eles,
os cuidadores, se sentem no processo de cuidar.
Trata-se de um estudo do tipo exploratório-descri-
tivo-transversal. Desenvolvido no período de março de
2012 a abril de 2013, com os cuidadores de idosos refe-
renciados por duas Unidades de Saúde da Família (USF)
localizadas na zona urbana do município de Picos - PI,
no sul do estado do Piauí a 325 km da capital.
A população proposta de início seria de 91 cuida-
dores de idosos, infelizmente não foi possível alcançar
esse número de pesquisados devido à resistência deles
em participar da pesquisa, além de alguns cuidadores
não atenderem aos critérios de inclusão, ou seja, não
ser o cuidador principal do idoso ou não possuir idade
igual ou acima de 18 anos. Ficando assim essa pesquisa
constituída por 41 cuidadores de idosos de ambos os se-
xos selecionados de uma população que foi identificada
pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) das duas
USF eleitas.
A coleta de dados foi realizada nos meses de fe-
vereiro e março de 2013, na residência dos cuidadores

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 315


localizados na zona urbana do município de Picos - PI,
com horários previamente estabelecidos com o consen-
timento dos sujeitos participantes, através dos ACS das
USF. As entrevistas foram registradas a próprio punho
pelo pesquisador no instrumento de coleta de dados.
Antes de iniciar as entrevistas foi lido para o pes-
quisado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), no qual os participantes da pesquisa tiveram
todas as informações sobre o intuito da pesquisa, qual a
sua importância e os benefícios que a pesquisa trará para
a melhoria da qualidade do cuidado que é prestada pelos
cuidadores aos idosos.
Os dados foram tabulados no programa Microsoft
Office Excel, e transportados para o programa estatístico
SPSS (StatiticalPackage for the Social Sciences) versão
17.0, o mesmo foi usado para o tratamento dos dados,
sendo a análise efetuada por meio de estatística descri-
tiva. A apresentação dos achados foi feita por meio de
tabelas ilustrativas e na discussão foi literatura pertinen-
te à temática.
A pesquisa foi enviada ao Comitê de Éti-
ca da Universidade Federal do Piauí (UFPI) CAAE
03756312.2.0000.5214, para análise dos preceitos éti-
co-legais (autonomia, não maleficência, beneficência e
justiça) acerca das questões éticas da pesquisa envolven-
do seres humanos, respeitando os preceitos estabelecidos
segundo as normas da Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 316


A seguir, na Tabela 1, serão apresentados os resulta-
dos encontrados nessas análises.

Tabela 1. Distribuição dos cuidadores de idosos de acordo com a faixa etária,


sexo, estado civil, escolaridade, a relação que tem com a pessoa a quem presta
cuidados, Picos-PI, 2013. (N=41).
Variáveis F %
Idade
20 a 29 12 29,8
30 a 38 10 24,3
41 a 46 06 14,5
52 a 59 09 21,9
60 a 65 04 09,5
Sexo
Feminino 34 82,9
Masculino 07 17,1
Estado civil
Casado (a) 17 41,5
Solteiro (a) 12 29,3
Divorciado /separado (a) 09 22,1
Viúvo (a) 03 07,3
Escolaridade
Analfabeto 15 36,6
Fundamental Incompleto 15 36,6
Fundamental completo 04 09,8
Médio Incompleto 04 09,8
Médio Completo 03 07,2
Tempo presta cuidado ao idoso
Mais de um ano 33 80,4
Menos de um ano 05 12,2
Um ano 03 07,4

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 317


Variáveis F %
Relação do cuidador com o idoso o qual presta o
cuidado
Mãe do cuidador 18 43,9
Esposo do cuidador 07 17,1
Pai do cuidador 04 09,8
Avó do cuidador 03 07,3
Esposa do cuidador 03 07,3
Amigo(a) 02 04,9
Vizinho 02 04,9
Avô do cuidador 01 02,4
Sogra do cuidador 01 02,4
Motivo que realiza a função de cuidador
Gosta de cuidar 24 58,5
É parente do idoso 16 39,0
Não tem outra opção 01 02,5

Mediante a amostra total, de 41 cuidadores de ido-


sos, e os quesitos apresentados na tabela 1, é possível
constatar que, dentre esta, a faixa etária predominante
compreende os cuidadores entre 20 e 29 anos, porém
não é relevância absoluta, visto que houve uma variação
dentre os cuidadores entre 20 até 65 anos e ainda rela-
tando acerca dos resultados essa predominância, tam-
bém se estende ao gênero do sexo feminino representado
por 82%.
Nas considerações quanto à faixa etária, Inuyel
(2010) em seu estudo, considerou que a idade média
dentre a classe de cuidadores era de 63,8 anos. Quanto
à predominância das mulheres como cuidadoras, esta

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 318


é justificada pela influência que as tradições e culturas
apresentam sobre a sociedade, em que há uma visão na
qual elas são naturalmente intituladas à atribuição do
cuidado ao outro, considerando-se tradicional assumi-
rem o papel de cuidador.
Pimenta et al. (2008) confirma, em estudo equiva-
lente, a grande participação feminina no cuidado com
idosos, âmbito também relatado no estudo de Orso
(2008).
A maioria dos entrevistados relataram ser casados,
fato comprovado pelos 41,5% que esses representam
dentro da amostra. De acordo com Silveira et al. (2006),
os cônjuges realizam esses cuidados alegando ter obriga-
ção de cuidar, em decorrência ao acordo matrimonial
que fizeram.
É perceptível discernir também que o grau de es-
colaridade enfático é baixo, evidenciado pelos 36,6 %
de cuidadores analfabetos e a mesma porcentagem para
os que possuem ensino fundamental incompleto. Inuyel
(2010) em seu estudo mostra predominância, também,
no analfabetismo. A alegação é que esse fator pode in-
fluir diretamente sobre a qualidade do serviço prestado
ao idoso.
No quesito tarefa do cuidar, a ênfase é relaciona-
da ao fato de que 78% dos cuidadores já desempenham
essa atividade há mais de um ano, referenciais teóricos
como Fernandes e Garcia (2009) trazem que a duração
em que os cuidadores permanecem nessa função com-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 319


porta um índice onde o seguimento dos serviços presta-
dos é relativamente longo.
Levando em consideração um aspecto diferente,
43,9 % dos cuidadores são filhos do indivíduo a ser cui-
dado. Vieira et al. (2011) afirmam que em relação ao
grau de parentesco segue a sequência, primeiro as filhas,
segundo as esposas. Nascimento (2008) afirma que as
esposas assumem esse papel, principalmente por possuí-
rem saúde um pouco melhor do que o companheiro,
mas que também mesmo estando debilitada, não dei-
xam de prestar assistência, e justifica isso relacionando
aos fatores, já mencionados nos trechos anteriores, que
dizem respeito à relação dos cônjuges com o cuidado,
dando ênfase ao compromisso dos votos matrimoniais.
Ao buscar conhecimento acerca dos motivos que
impulsionam o cuidador a prestar esse serviço o presente
estudo constatou que 58,5% dos pesquisados afirmam
prestar esse cuidado devido gostar de cuidar de idosos.
Comocho et al. (2012) confirmam essas considerações
através do seu estudo, onde obteve que 27% relacionam
o cuidado à manifestação de amor. Montezuma; Freitas;
Monteiro (2008) contrapõem as considerações anterio-
res através de seu estudo no qual revelou que a maioria
dos cuidadores assumem esse papel por obrigação.
A tabela 2 mostra o contexto da vivência dos cui-
dadores com os profissionais de saúde do serviço básico
de saúde das unidades de referência.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 320


Tabela 2. Distribuição dos dados referentes às ações dos profissionais de saúde
voltadas para a preparação do cuidador, Picos-PI, 2013. (N=41).
Variáveis F %
Recebeu orientação da equipe de saúde sobre o cuidado
no domicílio
Não recebeu 27 65,9
Sim do enfermeiro(a) 08 19,5
Sim do ACS 05 12,2
Sim do médico(a) 01 02,4
O enfermeiro da USF contribuiu na sua preparação para prestar o
cuidado ao idoso
Não me orientou 36 80,5
Deu poucas orientações 06 14,6
Orientou bastante 02 04,9
Classificação da visita domiciliar do enfermeiro da USF
Não recebeu 21 51,2
Boa 13 31,8
Regular 03 07,3
Ruim 03 07,3
Excelente 01 02,4
Participação de palestra educativa realizada sobre
cuidados ao idoso
Não participou 33 80,5
Nunca ouviu falar 05 12,2
Participou uma vez 02 04,9
Já participou de muitas 01 02,4
Quando surgem dúvidas, com quem as esclarece
ACS 26 63,4
Médico(a) 09 22,0
Enfermeiro(a) 04 09,8
Familiares 02 04,8
Se houvesse treinamento gratuito sobre cuidados ao idoso teria
interesse em participar
Sim 35 85,5
Não 06 14,5

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 321


Segundo as considerações explícitas na tabela 2, as
orientações que o cuidador recebeu dos profissionais de
saúde, representado pela porcentagem de 65,9%, esta
que compreende o não recebimento de informações
acerca do cuidado, mostram-se ausentes/ineficazes. Em
consonância à pesquisa idealizada por Marques et al.
(2013), não obteve relato da presença da equipe de saúde
na consolidação de conhecimentos acerca dos cuidados
prestados pelos cuidadores incluídos no presente estudo.
Dentre os profissionais de saúde, a enfermagem
configura uma classe profissional, principalmente no
âmbito da atenção básica, que mais implica diretamente
nas orientações de saúde prestadas à comunidade como
um todo. Diante de tais considerações percebeu-se que
80,5% dos entrevistados afirmam não ter obtido nenhu-
ma orientação do enfermeiro, bem como 51,2% relata-
ram não ter recebido visita domiciliar deste profissional,
fator que influi diretamente na qualidade da assistência
prestada aos usuários desse cuidado.
O nível de participação em palestras educativas, pe-
los cuidadores, é praticamente ausente, visto que 80,5%
dos pesquisados afirmam nunca terem participado de
nenhuma atividade deste gênero, seja ministrada pelo
enfermeiro ou por qualquer profissional que integra a
equipe multidisciplinar da atenção básica.
Conceição (2010) enfatiza que o treinamento de
pessoas que irão desenvolver cuidados direto com os
idosos é extremamente relevante e tem por objetivo ên-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 322


fase ao conhecimento acerca de suas necessidades bási-
cas, facilitando e qualificando o cuidado. Martins et al.
(2007) reafirmam essa necessidade do desenvolvimento
de ações educativas, pois estas, possibilitam a realização
do cuidado de forma participativa e integral. Diogo et
al. (2006), que realizaram um estudo da satisfação dos
cuidadores após a sua participação em programa de trei-
namento e aconselhamento/acompanhamento, identifi-
caram maior número de aspectos positivos no resultado
do programa.
O interesse dos cuidadores em participar de trei-
namento ou palestras educativas gratuitas é de equiva-
lente relevância às considerações antecedentes, dentre a
amostra 85,4 % dos cuidadores apresentam interesse de
participar de qualquer atividade que vise o melhoramen-
to dos serviços por eles prestados. Seguindo esse mesmo
limiar de raciocínio, Comacho et al. (2012) comprova-
ram os benefícios do projeto para idosos com demência.
Outro estudo consonante com o interesse do cuidador
em receber treinamento foi o de Costa et al. (2008),
onde dos 84 sujeitos entrevistados, 54% gostariam de
receber orientação sobre como lidar com os problemas
dos idosos.
Em relação às dúvidas que surgem no decorrer do
processo de cuidar do idoso os participantes do estudo
com quem eles as esclarecem 61% dos pesquisados ti-
ram as dúvidas com os ACS. Porém, no estudo de Mar-
tins et al. (2007), a maioria das cuidadoras do estudo

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 323


responderam que quando surgem dúvidas e/ou dificul-
dades os dados obtidos revelaram que essas cuidadoras
buscam o auxílio da família e dos profissionais enfermei-
ros e médicos. Cabe ressaltar que, para essas cuidadoras,
bem como para grande parte da população, não há uma
distinção entre os níveis profissionais da enfermagem,
sendo todos vistos como “enfermeiros”.
Dando continuidade, a tabela 3 traz considerações
acerca dos serviços prestados pelos cuidadores aos seus
clientes.

Tabela 3. Distribuição dos dados referentes à assistência dos cuidadores prestada


ao idoso, Picos - PI, 2013. (N=41).
Variáveis F %
Quantas refeições são oferecidas ao idoso
durante o dia
4 refeições 14 34,2
5 refeições 11 26,8
6 refeições 06 14,6
3 refeições 08 19,5
2 refeições 02 04,9
Como o idoso realiza sua higiene pessoal
Sozinho 23 56,1
Com ajuda do cuidador 15 36,6
O cuidador realiza sozinho 03 07,3
Conversa com o idoso com que frequência
Pouco 16 39,0
Muito 14 34,2
Às vezes 10 24,4
Quase nunca 01 02,4

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 324


Ao serem questionados sobre quantidade de refei-
ções oferecidas ao idoso durante o dia, 34,2% dos pes-
quisados oferecem quatro refeições para o idoso. Con-
trário a esse dado o estudo de Conceição (2010) afirma
que o idoso deve fazer de cinco a seis refeições ao dia,
mantendo intervalo de três horas entre elas.
Com isso, o Ministério da Saúde (2011), ressalta
que a produção e o acesso aos alimentos em quantidade
e qualidade suficientes para proporcionar uma boa nu-
trição estão, também, na base da sustentabilidade. As
condições laborais são, ainda, um potente condicionan-
te social, ambiental e econômico da saúde.
Segundo o Ministério da Saúde (2008), as refeições
devem ser ofertadas aos idosos em quantidades e inter-
valos menores, o cuidador deve oferecer alimentos sau-
dáveis e de sua preferência, incentivando-os a comer. Os
idosos com dificuldades em se alimentar aceitam melhor
alimentos líquidos e pastosos.
Dos idosos da pesquisa, segundo informações dos
cuidadores, 56,1% realizam sua higiene pessoal sozinho.
Assim, como no estudo de Andrade (2009) ao avaliar a
capacidade funcional das pessoas idosas nas atividades
da vida diária verificaram que apenas uma minoria delas
necessitava de ajuda.
O estudo de Vieira et al. (2011) fala da importân-
cia da realização da higiene corporal, fato que requer
do cuidador não apenas conhecimento e orientação de
como efetuá-la, mas também preparo e habilidade emo-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 325


cional para lidar com situações subjetivas inerentes ao
processo de cuidar.
Relacionados às conversas com os idosos a maioria,
39%, afirmam manter pouco diálogo com o idoso. San-
tana et al. (2005) diz em seu estudo que a ineficiente co-
municação entre cuidador e cliente pode estar condicio-
nada ao despreparo do cuidador para lidar com o cliente.
Na classificação do cuidador em relação à tarefa de
cuidar 48,8% classifica como boa, assim como em re-
lação aos sentimentos de cuidar 56,1% se sentem feliz
em cuidar do idoso. Como no estudo de Camacho et al.
(2012), quanto ao motivo de ter se tornado cuidador,
27% relataram ser por amor.
A tabela 4 consolida os quesitos pesquisados, le-
vando em consideração as relações e sentimentos envol-
vidos no processo do cuidado.

Tabela 4. Distribuição da análise dos sentimentos do cuidador no processo do cuidar,


Picos - PI, 2013. (N=41).
Variáveis F %
Como o cuidador classifica a tarefa de cuidar
Boa 20 48,8
Ótima 15 36,6
Regular 06 14,6
Recebe ajuda de outros no cuidado do idoso
Sim da mãe 18 43,9
Sim do irmão(ã) 15 36,6
Não 08 19,5
Como o cuidador se sente em relação à tarefa de cuidar
Feliz 23 56,1
Cansado(a) 15 36,6
Estressado(a) 02 04,9
Conformado 01 02,4

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 326


Quanto à ajuda de outros no cuidado do idoso
80,5% recebem ajuda de outros no cuidado ao idoso,
desses 43,9% dos participantes da pesquisa afirmam re-
ceber ajuda da mãe, ou seja, a esposa do idoso cuidado.
Marques et al. (2013) mostra que dos participantes do
estudo 13 (65%) dividem as tarefas com filhos, netos,
esposa, vizinho, genro e bisneto do idoso e 7 (35%) não
dividem o exercício dos cuidados, tendo como justifica-
tivas: “Porque não tem com quem dividir”.
Washington (2015) ressalta que é importante, tam-
bém, ter uma atenção voltada para o profissional cuida-
dor, buscando-se implementar atividades de promoção
da saúde, do bem-estar e da qualidade de vida dos pro-
fissionais mediante o enfoque de ambientes e locais de
trabalho saudáveis e respeitosos, bem como a qualidade
de vida no trabalho, para contribuir para a atenção in-
tegral do adulto trabalhador, promover os fatores prote-
tores das doenças não transmissíveis, e os programas de
apoio ao trabalhador e de retorno ao trabalho e ampliar
o acesso aos seguros de proteção contra os riscos do tra-
balho e da saúde.
Com os resultados obtidos no estudo, conclui-se
que há uma necessidade de melhorar o processo de co-
municação entre profissionais da saúde e os cuidadores
de idosos. Nota-se uma real carência por parte destes
profissionais (cuidadores) em estar desenvolvendo pes-
quisas e serviços de apoio dirigidos a essa população que
possa oferecer uma assistência de suporte que atenda às
necessidades integrais dos cuidadores de idosos.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 327


Considerando os objetivos propostos na pesquisa,
os resultados foram esclarecedores onde se percebe que
os cuidadores de idosos informais, na maioria das vezes,
são familiares leigos que não possuem nenhum prepa-
ro para realizar suas atividades de cuidado ao idoso, e
observa-se que esses cuidadores sentem necessidade de
receber treinamento, pois essa atividade tem especial im-
portância para o domínio da tarefa de cuidar.
Porém, este estudo ressalta que existe uma verda-
deira deficiência na qualidade da assistência domiciliar
que deveriam ser realizadas pela equipe de saúde da
atenção primária, com os dados da pesquisa foi identi-
ficada uma real necessidade quanto ao desenvolvimento
das ações voltadas para a qualificação dos cuidadores.
Em conseguinte, percebeu-se que a assistência ao
cuidador familiar requer um redirecionamento do olhar
daqueles que planejam e executam ações do cuidado em
seu favor, no sentido de programar intervenções que
venham minimizar o impacto da condição de depen-
dência do idoso sobre o cuidador. Percebemos que os
cuidadores se sentem felizes em poder realizar essa tarefa
de cuidar.
Diante das evidências, fica comprovado o quan-
to é indispensável e urgente uma maior investigação e
socialização de pesquisas sobre esta temática, visto que
através delas podem surgir contribuições significativas e
criativas para a promoção de um cuidado de qualidade
ofertado ao idoso.

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 328


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Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 330


ORGANIZADORES

Maria Rosilene Cândido Moreira


Enfermeira. Graduada pela Universidade Estadual do
Ceará (UECE). Especialista em Saúde Coletiva pela
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Mestra
em Saúde Coletiva pela UNIFESP. Doutora em Bio-
tecnologia pela Rede Nordeste de Biotecnologia - nu-
cleadora Universidade Federal da Paraíba (Renorbio/
UFPB). Pós-doutora pelo Programa de Pós-graduação
em Enfermagem da Universidade Regional do Cariri
(PMAE/URCA). Professora Adjunta da Universidade
Federal do Cariri (UFCA).
Email: rosilene.moreira@ufca.edu.br.

Francisco Elizaudo de Brito Júnior.


Fisioterapeuta. Graduado pela Universidade Estadual
da Paraíba (UEPB). Especialista em Acupuntura pela
Associação Brasileira de Acupuntura (ABA). Mestre em
Bioprospecção Molecular pela Universidade Regional
do Cariri (URCA). Doutor em Bioquímica Toxicológi-
ca pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Professor Adjunto dos Cursos de Graduação e Pós Gra-
duação em Enfermagem da Universidade Regional do
Cariri (URCA).
E-mail: naldobritoo2018@gmail.com

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 331


José Auricélio Bernardo Cândido
Enfermeiro. Graduado pela Universidde Estadual
do Ceará (UECE); Mestre em Saúde da família pela
(UECE); Especialista em Saúde da Família pela Uni-
versidade Federal do Ceará (UFC); em Formaçao Peda-
gógica em Saúde pela ENSP/FIOCRUZ; e em Práticas
Clínicas em Saúde da Família. Professor visitante na
Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE). Membro
do grupo de Pesquisa História, Educação e Saúde pela
UECE. Enfermeiro da Emergência do Hospital distrital
Governador Gonzaga Mota (HDGMJW). Enfermeiro
da Estratégia Saúde da Família em Horizonte, Ceará.
Email: jabcauricelio60@hotmail.com

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 332


AUTORES

Alana Maria Brito Lucas


Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade
Regional do Cariri - URCA, mestranda em Desenvol-
vimento Regional Sustentável – PRODER pela Uni-
versidade Federal do Cariri – UFCA. É integrante dos
grupos de pesquisa GENUR e ECOS.
E-mail: contato.alanalucas@gmail.com.

Alissan Karine Lima Martins


Enfermeira. Mestre em Enfermagem (UFC), Doutora
em Enfermagem (UFC), Fellow FAIMER 2013/2014,
Especialista em Docência nas Profissões da Saúde (UFC/
FAIMER BRASIL), Especialista em Saúde da Família
(FIP). Professora Adjunto da Universidade Regional do
Cariri (URCA).
Email: alissan.martins@urca.br

Ana Maria Parente Garcia Alencar


Enfermeira. Graduada pela Universidade Federal do
Pernambuco (UFPE). Licenciatura plena em Enferma-
gem pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Especialista em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo
Cruz (FIOCRUZ). Especialista em Diabetes mellitus
pela Universidade Federal do Ceará ( UFC). Mestre
em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará
(UFC). Doutora em Enfermagem pela Universidade
Federal do Ceará (UFC). Professora associada dos Cur-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 333


sos de Graduação e Pós Graduação em Enfermagem da
Universidade Regional do Cariri (URCA).
E-mail: anamalencar@hotmail.com

Ana Patrícia Nunes Bandeira


Engenheira Civil, Doutora em Engenharia Civil. Do-
cente do Curso de Engenharia Civil da Universidade
Federal do Cariri – UFCA.
Email: ana.bandeira@ufca.edu.br

Andressa Santos Rodrigues


Enfermeira. Graduada pela Universidade Federal do
Piauí (UFPI).
Email: andressa-96@hotmail.com

Ane Caroline Rodrigues Leite


Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade
Regional do Cariri - URCA, mestranda em Desenvol-
vimento Regional Sustentável – PRODER pela Uni-
versidade Federal do Cariri – UFCA. É integrante dos
grupos de pesquisa GENUR e ECOS.
E-mail: Carol.ane@live.com

Antonia Priscila Pereira


Enfermeira. Graduada pela Universidade Regional do
Cariri (URCA). Especialista em Saúde da Família pela
Universidade Regional do Cariri (URCA). Mestra pelo
Programa de Mestrado Acadêmico em Enfermagem da
Universidade Regional do Cariri (URCA).
Email: pryscyla.p_g@hotmail.com

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 334


Célida Juliana de Oliveira
Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento
de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem da Universidade Regional do Cariri, Cra-
to-CE, Brasil.
Email: celida.oliveira@urca.br

Cicera Aldevania Pereira de Oliveira


Pedagoga. Graduada pela Universidade Regional do Ca-
riri (URCA). Especialista em Psicopedagogia Clínica e
Institucional pela Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN).
Pedagoga da Universidade Federal do Cariri (UFCA).
Email: ciceraldevania@hotmail.com 

Cícera Luciana da Silva Sobreira


Enfermeira. Mestranda no Curso de Mestrado Acadê-
mico em Enfermagem da URCA. Especialista em Ur-
gência, Emergência e Cuidados Intensivos pela Faculda-
de Integrada de Patos.
Email: luciana.sob3@hotmail.com

Cícera Mônica da Silva Sousa Martins


Psicóloga. Graduada pelo Centro Universitário Doutor
Leão Sampaio (UNILEÃO). Especialista em Políticas
Públicas em Saúde Coletiva pela Universidade Regional
do Cariri (URCA). Mestranda em Psicologia pela Uni-
versidade Federal do Ceará (UFC). Bolsista da Coorde-
nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES). Pesquisadora vinculada ao Laboratório de

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 335


Pesquisa em Psicologia Ambiental (LOCUS-UFC) e ao
Laboratório Interdisciplinar de Estudos em Gestão So-
cial (LIEGS/UFCA).
Email monicamartins_sousa@hotmail.com

Cícero Marcelo Bezerra dos Santos


Graduado em Direito pela Universidade Regional do
Cariri. Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentá-
vel, pela Universidade Federal do Cariri. Doutorando
no Programa de Pós-graduação em Administração da
Universidade de São Caetano do Sul (USCS). Professor
Assistente da Universidade Federal do Cariri.
Email: marcelo.bezerra@ufca.edu.br

Cláudia Araújo Marco


Enga. Agrônoma. Mestra em Ciências pela Universida-
de Federal de Pelotas (UFPel). Doutora em Agronomia
(Fitotecnia) pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Professora Associada da Universidade Federal do Cariri
(UFCA) no curso de Curso Agronomia/CCAB. Coor-
denadora do Laboratório de Tecnologia de Produtos da
UFCA. Líder do grupo de pesquisa “Produtos Naturais
e Biotecnologia” e representante da UFCA no Conselho
Municipal de Defesa do Meio Ambiente do município
do Crato, Ceará.
Email: claudia.marco@ufca.edu.br

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 336


Edilma Gomes Rocha Cavalcante 
Enfermeira. Graduada em Enfermagem e Obstetrícia
pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Espe-
cialista em Saúde da Família pela Escola de Saúde Pú-
blica do Ceará (ESP/CE). Mestre em cuidados Clínicos
em Saúde em Enfermagem pela Universidade Estadual
do Ceará (UECE). Doutora em Ciências pela Escola de
Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP).
Professora Associada do curdo de Enfermagem da Uni-
versidade Regional do Cariri (URCA)
Email: edilma.rocha@yahoo.com.br

Edina Araújo Rodrigues Oliveira


Enfermeira. Doutoranda em Nutrição em Saúde Públi-
ca pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo (USP). Mestre em Enfermagem pela UFPI.
Professora Adjunto I do Curso de Grauduação em En-
fermagem da Universidade Federal do Piaui (UFPI).
Email: edinarasam@yahoo.com.br

Eline Mara Tavares Macêdo


Enfermeira. Graduada pela Universidade de Fortaleza
(UNIFOR). Residência em Saúde da Família e Comu-
nidade pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Especialista em Saúde do Trabalhador pela Escola de
Saúde Publica do Ceará (ESP/CE). Especialista em
Auditoria em Serviços de Saúde Público e Privado pelo
Instituto de Educação e Pesquisas (INET). Mestre em
Ensino na Saúde pela UECE. Docente da Faculdade In-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 337


tegrada da Grande Fortaleza (FGF) e ESP/CE.
Email: enfer-mara@hotmail.com

Eloíza Barros Luciano Rolim


Enfermeira. Graduada pela Universidade Regional do
Cariri (URCA). Efetiva da Secretaria de Saúde do muni-
cípio de Missão Velha/CE. Mestranda em Enfermagem
pela Universidade Regional do Cariri (URCA).
Email: eloiza_barros@hotmail.com

Emiliana Bezerra Gomes


Enfermeira. Graduada pela Universidade Regional do
Cariri (URCA). Especialista em Saúde Pública pela Uni-
versidade Estadual do Ceará (UECE). Mestre em Cui-
dados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universi-
dade Estadual do Ceará (UECE). Doutora em Cuidados
Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade Es-
tadual do Ceará (UECE). Professora Adjunto vinculada
aos cursos de de Graduação e Pós-Graduação em Enfer-
magem da Universidade Regional do Cariri (URCA).
Email: emiliana.bg@hotmail.com

Flavio Cesar Brito Nunes


Engenheiro Eletricista, Doutor em Engenharia de Pro-
cessos. Docente do Curso de Automação Industrial do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará (IFCE), Campus Juazeiro do Norte.
Email: flavio@ifce.edu.br

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 338


Francier Simião da Silva Junior
Engº Agrônomo, Mestre em Desenvolvimento Regional
Sustentável.
Email: eng.simiao@hotmail.com

Francisca Laudeci Martins Souza


Doutorado em Educação pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro.Professora Associado da Universidade
Regional do Cariri.
E-mail: laudecimartins@yahoo.com.br

Francisco Gauberto Barros dos Santos


Tecnólogo em Recursos Hídricos/Irrigação, Profº. Dr.
do Instituto Federal de Ciência e Educação (IFCE)
Email: gaubertob@gmail.com

Francisco Elizaudo de Brito Júnior.


Fisioterapeuta. Graduado pela Universidade Estadual
da Paraíba (UEPB). Especialista em Acupuntura pela
Associação Brasileira de Acupuntura (ABA). Mestre em
Bioprospecção Molecular pela Universidade Regional
do Cariri (URCA). Doutor em Bioquímica Toxicológi-
ca pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Professor Adjunto dos Cursos de Graduação e Pós Gra-
duação em Enfermagem da Universidade Regional do
Cariri (URCA).
E-mail: naldobritoo2018@gmail.com

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 339


Geovanna Maria Sales Monteiro
Enfermeira. Graduada pela Universidade Estadual do
Ceará (UECE). Especialista em Saúde do Trabalhador,
Especialista em Vigilância Epidemiológica, Especialista
em Saúde Ambiental. Professora Visitante da Escola de
Saúde Pública do Ceará.
Email: geovannasales@uol.com.br

Josafá Justino Barbosa


Fisioterapeuta, especialista em fisiologia do exercício.
Formação em terapia manual e postural. Docente do
curso de Ciências Biológicas da Universidade Regional
do Cariri – URCA.
Email: josafa.barbosa@hotmail.com

José Ferreira Lima Junior


Graduado em Odontologia pela Universidade Federal
do Rio Grande do Norte. Pós-Doutorado em Ciências
Ambientais, pelo Programa de Pós-graduação em De-
senvolvimento Regional Sustentável da Universidade
Federal do Cariri. Professor Adjunto da Universidade
Federal de Campina Grande.
Email: proferjunior@gmail.com

José Micaelson Lacerda Morais


Doutorado em Economia da Indústria e da Tecnolo-
gia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Bra-
sil(2006).Professor Adjunto da Universidade Regional
do Cariri, Brasil.
E-mail: micaelson_lacerda@yahoo.com.br

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 340


Karla Jimena Araújo de Jesus Sampaio
Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento
de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem da Universidade Regional do Cariri, Cra-
to-CE, Brasil.
Email: karla.araujo@urca.br

Laura Maria Feitosa Formiga


Enfermeira. Doutoranda pela USP. Professora Adjunto
II do Curso de Graduação em Enfermagem da Universi-
dade Federal do Piauí (UFPI).
Email: laurafeitosaformiga@hotmail.com

Liana de Andrade Esmeraldo Pereira


Professora da Universidade Federal do Cariri (UFCA).
Pró-Reitora Adjunta da Assistência Estudantil na Uni-
versidade Federal do Cariri (UFCA). Coordenadora da
Coordenadoria de Apoio ao Desenvolvimento Discente.
Docente. Doutoranda em Desenvolvimento Sustentável
pela Universidade de Brasília (UNB).
E-mail: liana.esmeraldo@ufca.edu.br

Lisandra Ravena Veloso da Silva


Enfermeira. Graduada pela Universidade Federal do
Piauí (UFPI).
Email: ravena_sousa@hotmail.com

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 341


Lívia Monteiro Rodrigues
Enfermeira. Graduada pela Faculdade Santa Maria
(FSM /Cajazeiras-PB). Especialista em Saúde da Família
pela Faculdades Integradas de Patos (FIP). Especialista
em Saúde da Pessoa Idosa pela Universidade Federal
do Ceará(UFC)/Universidade Aberta do SUS (UNA –
SUS). Residente em Saúde Coletiva pela Universidade
Regional do Cariri (URCA).
Email: liviamr.ce@hotmail.com

Maria de Fátima Antero Sousa Machado


Enfermeira. Graduada pela Universidade de Fortaleza
(UNIFOR). Especialista em Saúde Pública pela Univer-
sidade de Ribeirão preto (UNAERP). Mestre em En-
fermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do
Ceará (UFC). Pós-doutora pelo Programa de Pós-gra-
duaçã em Educação - PPGE da Universidade Estadual
do Ceará (UECE). Docente Permanente do Programa
de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Re-
gional do Cariri (URCA), Coordenadora do Mestrado
Profissional em Saúde da Família da Universidade Re-
gional do Cariri (MPSF/RENASF-URCA).
Email; fatimaantero@uol.com.br

Maria do Socorro Vieira Lopes


Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento de
Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enferma-
gem da Universidade Regional do Cariri, Crato-CE, Brasil.
Email: socorrovieira@hotmail.com

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 342


Maria Gorethe de Sousa Lima
Engenheira Química, Doutora em Engenharia de Pro-
cessos. Docente do Curso de Engenharia Civil da Uni-
versidade Federal do Cariri – UFCA.
Email: gorethe.lima@ufca.edu.br

Maria Iderlania de Freitas Sousa


Fisioterapeuta, mestre em desenvolvimento regional
sustentável, especialista em saúde da família, formação
em terapia manual e postural. Bióloga. Docente do cur-
so de Ciências Biológicas da Universidade Regional do
Cariri – URCA.
Email: iderbio@hotmail.com

Maria Laíse de Lima Leal


Enfermeira. Graduada pela Universidade Federal do
Piauí (UFPI).
Email: laiselile@gmail.com

Maria Rosilene Cândido Moreira


Enfermeira. Graduada pela Universidade Estadual do
Ceará (UECE). Especialista em Saúde Coletiva pela
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Mestra
em Saúde Coletiva pela UNIFESP. Doutora em Bio-
tecnologia pela Rede Nordeste de Biotecnologia - nu-
cleadora Universidade Federal da Paraíba (Renorbio/
UFPB). Pós-doutora pelo Programa de Pós-graduação
em Enfermagem da Universidade Regional do Cariri

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 343


(PMAE/URCA). Professora Adjunta da Universidade
Federal do Cariri (UFCA).
Email: rosilene.moreira@ufca.edu.br.

Milena Silva Costa


Graduada em Enfermagem pela Universidade de For-
taleza. Doutora em Enfermagem pela Universidade Fe-
deral da Paraíba. Professora Adjunta da Universidade
Federal do Cariri.
Email: milena.costa@ufca.edu.br

Mirna Fontenele de Oliveira


Graduação em Enfermagem (UFC). Especialista em Uni-
dade de Terapia Intensiva (UECE). Mestre em Cuidados
Clínicos (UECE). Doutora em Promoção da Saúde (UFC).
Enfermeira da Universidade Federal do Cariri (UFCA).
Gerente da Divisão de Saúde e Qualidade de Vida da Pro-
-Reitoria de Assuntos Estudantis(PRAE) da UFCA.
Email: mirna.fontenele@ufca.edu.br

Moema Alves Macedo


Psicóloga. Graduada pela Universidade Federal de Per-
nambuco. Especialista em gestão em Saúde pela Funda-
ção Oswaldo Cruz _ FIOCRUZ. Mestra em educação
na saúde pela Universidade Federal de Alagoas _UFAL.
Professora do curso de psicologia do Centro Universi-
tàrio dr. Leão Sampaio_ UNILEAO.
Email : moemaalvmacedo@hotmail.com

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 344


Nara Juliana Santos Araújo
Bióloga, Residente em Saúde Coletiva da Universidade
Regional do Cariri (URCA)
Email: narajuliana6@gmail.com

Otávio Rangel de Oliveira e Cavalcante


Engenheiro Civil, Doutor em Estruturas e Construção
Civil. Docente do Curso de Engenharia Civil daUniver-
sidade Federal do Ceará, Campus Russas.
Email: otaviorc@ufc.br

Paula Hemília de Souza Nunes


Enfermeira, mestre em Desenvolvimento Regional Sus-
tentável pela UFCA, especialista em saúde da família.
Email: paulahemilia@yahoo.com.br

Rayane Moreira de Alencar


Enfermeira. Mestranda no Curso de Mestrado Acadê-
mico em Enfermagem da URCA. Especialista em Saúde
Pública e Saúde da Família pela Faculdade Kurius.
Email: rayanealencar@hotmail.com

Rhavena Maria Gomes Sousa Rocha


Mestre em Enfermagem pela Universidade Regional do
Cariri (URCA).
Email: rhavena_mgsr@hotmail.com

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 345


Samyra Paula Lustoza Xavier - Enfermeira. Graduada
pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Especia-
lista em Urgência e Emergência pelo Centro Educacional
São Camilo. Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem no Curso de Mestrado Acadêmico em En-
fermagem da Universidade Regional do Cariri (URCA).
Email: samyralustoza@gmail.com

Selton David Cavalcante Sobral


Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade
Regional do Cariri - URCA, mestrando em Desenvolvi-
mento Regional Sustentável – PRODER pela Universi-
dade Federal do Cariri – UFCA.
E-mail: Sobralsdc@gmail.com.

Silvério de Paiva Freitas Junior


Engº Agrônomo, Profº. Dr. da Universidade Federal do
Cariri (UFCA).
Email: silverio.freitas@ufca.edu.br

Simone Maia Pimenta Martins Ayres


Administradora. Graduada pela Universidade Federal da
Paraíba - UFPB. Especialista em gestão de empreendi-
mentos turísticos pela FCAP-UPE.  Mestre em admi-
nistração pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB.
Doutoranda em administração pela Universidade de
Évora - UEVORA, em Portugal.
Email: simone.maia@univasf.edu.br

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 346


Simone Santos Sousa Mendes
Enfermeira. Graduada pela Universidade Federal do
Piauí – UFPI.
Email: simoneh-tinha@hotmail.com

Sofia de Moraes Arnaldo


Enfermeira. Graduada pelo Centro Universitário Dr.
Leão Sampaio (UNILEÃO). Especialista em Políticas
Públicas em Saúde Coletiva pela Universidade Regional
do Cariri (URCA). Mestranda em Enfermagem pela
Universidade Regional do Cariri (URCA).
Email: sofiarnaldo@hotmail.com

Suely Salgueiro Chacon


Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade
Federal do Ceará. Doutorado em Desenvolvimento Sus-
tentável pela Universidade de Brasília. Professora Asso-
ciada e Pesquisadora do Centro de Ciências Agrárias da
Universidade Federal do Ceará.
Email: suelychacon@gmail.com

Susana Kramer de Mesquita Oliveira


Psicóloga. Graduada pela Universidade Federal do Ceará
(UFC). Especialista em Educação Especial e Problemas
de Aprendizagem pela Universidade Federal do Ceará
(UFC) e em Psicodrama pela Associação Cearense de
Psicodrama (ACEP). Mestre em Psicologia Cogniti-
va pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPe).
Doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela Univer-

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 347


sidade de Brasília (UnB). PHD em Estudos Transcultu-
rais da Família pela SHIATS University. Professora do
Curso de Psicologia e Coordenadora do Laboratório de
Relações Interpessoais (L’ABRI), do Departamento de
Psicologia, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
E-mail: susanakmo@gmail.com.

Valmir Wanderson Tomé da Silva


Educador Físico, Residente em Saúde Coletiva da Uni-
versidade Regional do Cariri (URCA)
Email: wanderson.edf@hotmail.com

Vanessa Oliveira Teles


Engª Agrônoma, Mestra em Zootecnia
Email: teles@alu.ufc.br

Verônica Salgueiro do Nascimento


Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do
Ceará. Pós-Doutorado no programa de Pós-Graduação
em Psicologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Professora Adjunta da Universidade Federal do Ceará.
Email: vesalgueiro@gmail.com

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 348


Victoria Régia Arrais de Paiva
Doutorado em Programa de Pós-Graduação em Socio-
logia pela Universidade Federal do Ceará, Brasil(2015)
Professora da Universidade Federal do Cariri , Brasil.
E-mail: victoria.arrais@ufca.edu.br.

Yane Ferreira Machado


Psicóloga. Graduada em Psicologia pelo Centro Univer-
sitário Doutor Leão Sampaio (UNILEÃO). Especialis-
ta em Gestão de Recursos Humanos pela Faculdade de
Juazeiro do Norte (FJN) e em Psicodiagnóstico: avalia-
ção psicológica e testes psicológicos pelo Centro Uni-
versitário Doutor Leão Sampaio (UNILEÃO). É servi-
dora técnico-administrativa na Universidade Federal do
Cariri (UFCA), onde atua na assistência estudantil no
atendimento psicológico aos discentes.
E-mail: yane.ferreira@ufca.edu.br

Trabalho, Saúde e Sustentabilidade 349

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