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A Volta do Medo

Esperamos que eles chegassem até nossa margem. Podíamos ver os rostos. Parecia
gente comum. Tínhamos imaginado algodiftrente. Bem, eram americanos!
Liubova Kozinchenka,
Exército Vermelho, 58' Divisão de Guardas

Acho que não sablamos o que esperar dos russos, mas quando a gente olhou bem
para eles, podiam ser uma coisa ou outra, sabe? Se botar um uniforme americano
neles, podiam ser americanos!
AI Aronson,
Exército dos EUA, 69" Divisão de Infantaria'

ERAASSIMQUEA GUERRADEVIAACABAR:com vivas, apertos de mão,


bebida, dança e esperança. A data era 25 de abril de 1945, o local a
cidade de Torgau sobre o Elba, leste da Alemanha; o evento, primei-
ro encontro entre os dois exércitos que tinham cortado a Alemanha
nazi em duas, convergindo de extremos opostos da terra. Cinco dias
depois, Adolf Hitler estourou os miolos debaixo dos escombros que
eram tudo que restara de Berlirn. Cerca de uma semana depois, os
alemães se renderam incondicionalmente. Os líderes da vitoriosa Gran-
de Aliança, Franklin D. Roosevelt, Winston Churchill e Iosef Stalin
já tinham trocado seus apertos de mão, brindes e esperanças de um
mundo melhor em duas reuniões de cúpula durante a guerra - Teerã,
em novembro de 1943, e Yalta, em fevereiro de 1945. Todavia, estes
gestos pouco significariam se as tropas que comandavam não fossem
capazes de faz.er suas próprias e ruidosas celebrações onde realmente
importava: nas linhas de frente de um ca~p~ ele batalha d~'qual o
inimigo agora dcs2,párecia.
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I
7
A volta do medo
G História da Guerra Fria

Por que motivo, então, os exércitos Se aproxim2.ram um do outro tão


cuidadosamente em Torgau, como se estivessem esperando encon,trar
I e, naquele momento, eram o primeiro e o terceiro maiores países do
mundo. E ambos tinham entrado na guerra em resultado de ataques
de surpresa: a invasão alemã da União Soviética começada em 22 de
visitantes interplanetários? Per que a semeihança qlle nota:am lhes
junho de 1941 e o ataque japonês a Pearl Harbor de 7 de dezembro
pareceu tão surpreendente e reconfortante? Por qEe, apesar disso, seus
de 1941, que Hider usou como escusa para declarar guerra aos Es-
comandantes insistiram em cerimônias de rendição separadas, uma
· 7 dee m.uo,
mai ç tados Unidos, quatro dias mais tarde. As semelhanças, no entanto
para o ocidente, em Reirns, França, dua e o,utra para ~ ~r.en-
ficariam nisto. As diferenças, que qualquer observador habitante d~
te leste, em Berlim, dia 8 de maio? Por que as autOridades SOV1etlCaS
Terra apontaria rapidamente, eram muito maiores.
tentaram conter as manifestações pró-americanas espontâneas que
A revolução americana, ocorrida mais de um século e meio antes,
surcriram em Moscou depois do anúncio oficial da capitulação alemã?
refletiu uma grande desconfiança da concentração de autoridade.
PorOque as autoridades americanas. na semana seguinte, suspen~er~~
Liberdade e justiça, tinham insistido os Fundadores, só viriam pela
abruptamente embarques críticos da ajuda do Lend-Leas,e,para a União
constrição do poder. Graças a uma constituição engenhosa, a seu dis-
Soviética e depois os retomaram? Por que Harry Hopkins. assessor-
tanciamento geográfico dos rivais em potencial e à magnífica dotação
chave de Roosevelt, que desempenhara papel crucial na criação da
de recursos naturais, os americanos puderam construir um estado ex-
Grande Aliança, em 1941, teve que correr a Moscou seis semanas
traordinariamente poderoso, fato que ficou óbvio durante a Sezunda
após a morte de seu chefe para tentar salvá-Ia? Por que, aliás, anos
Guerra Mundial. Porém chegaram a este resultado limitando °forte~
mais tarde, Churchill intitularia suas memórias desses acontecimentos
mente a capacidade do governo de controlar a vida quotidiana, fosse
Triunfo e Tragédia? pela difusão de idéias, pela organização da economia ou peja conduta
J\ resposta a rodas estas perguntas é praticamente a mesma: venceu
da política. Apesar da herança da escravidão, do quase extermínio dos
a guerra uma coalizão cujos membros mais impo~t,antes já estavam e~
americanos nativos e de persistente discriminação racial, sexual e social,
guerra _ ideológica e geopoliticamente, se não I~ÜJtarment~ - entre Si.
os cidadãos dos Estados Unidos podiam perfeitamente proclamar, em
Quaisauer que fossem os triunfos da Grande Aliança na pnmavera de
1945, que viviam na mais livre sociedade da face da Terra.
1945, seu êxito sempre dependera da busca de objetivos compatíveis
A revolução bolchevique, que ocorrera apenas um quarto de século
por sistemas incompatÍveis. A tragédia foi esta: aquela vit~ri~ exigiria
antes, tinha, em contraste, adotado a concentração da autoridade
que os vencedores deixassem de ser o que eram ou desist1ssem de
como forma de derrubar os inimigos de classe e consolidar uma base
muito do que esperavam atingir com aquela guerra.
da qual a revolução proletária se pudesse espalhar pelo mundo. Karl
I ~1arx asseverou, no Manifesto Comunista de 1848, que a industria-
lização que os capitalistas haviam desencadeado expandia e explorava
Houvera de verdade um visitante extraterrestre nas margens do Elba
ao mesmo tempo a classe operária, que, mais cedo ou mais tarde. se
em abril de 1945, ele ou ela ou a coisa poderia, de fato, ter notado
li~e~taria. Não querendo esperar que isso acontecesse, Vladirnir Il;ich
semelb;::,nç8s superficiais nos exércitos ~er~ano c russo--.sue aI} ~e
Lênin procurou acelerar a história em 1917, assumindo o controle da
cncomraraID, bem como nas sociedades de que provinham. Ambos.
Rússia e impondo o marxismo, ainda que o país estivesse contrariando
Estados Unidos e União Soviética, nasceram em revoluções. Ambos
.
abraçararrl
.'lCCOlOgla5
~ . COITí asplraçue~
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g!ÜJ/..-iis. () 'iuc
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rl rred.jç~() dt; Marx, sé'gundo ~_(~1f.1~.I
~_revolução só ~.deri8. acontecer., __
em uma sociedade industrial avançada. Por sua vez, Stalin resolveu .-
eles em casa, r~resumiram os líderes, funcionaria para o resto do mun-
este problema redescnhando a Rússia a fim de caber na ideolocia '-)bj~
avancaram por extensas fronteiras
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A volta do medo
8 História da Guerra Fria

vitoriosos estavam mais equilibrados do que esta assirnctria poderia


marxista-leninista: [Oi'ÇO\1 um país eminentemente a~rário c~r~.p',}~ca
indicar. Os Estados Unidos não tinham compromisso de reverter sua
u:laieão de liberdade a virar urna naç.ão [ortemenrc mdustr1;:-Jizao.,te
longa tradição de alheamenro dos assuntos europeus. Roosevelr che-
abs<)i~l(ameIíte sem liberdade. Em conseqüência, J. União das Re~~-
gara a gar3.ntir a Stalin, em Teerã, que as tropas americanas voltariam
blicas Socialistas Soviéricas era, ao final da Segunda Guerra Mundial.
para casa dentro de dois anos após o fim da guerra.3 Tarnpouco, em
~Lsüciedade mais autoritária da tzce da Terra, face da depressão que caracterizara os anos 30, podia haver certeza de
Se as nações vitoriosas não podiam ser mais diferentes, o mesmo
que a expansão econômica do tempo de gueria persistiria, ou que a
se pode diz~r com relação às guerras que travaran"l en~re 1941 e 1945.
democracia lançaria raízes além das relativamente poucas nações em
Os Estados Unidos enfrentaram guerras separadas SImultaneamente
que ainda existia. A rematada verdade de que os americanos e ingleses
_ conua os japoneses no Pacífico e os alemães na Europa - m.as sofr~-
não teriam derrotado Hitler sem a ajuda de Stalin significou que a
rarn baixas notavelmente pequenas: pouco menos de 300 mil arneri-
Segunda Guerra Mundial foi só uma vitória sobre o f<:scismo - não
canos morreram em todos os teatros de operações. Geograficamente
sobre o autoritarismo e suas perspectivas para o futuro.
distante de onde' ocorriam os combates, o país não sofreu grandes
Já a União Soviética contou com vantagens, a despeito das imensas
ataque::, cc'c exceção do primeiro, em Pearl Harbor. Com sua aliada,
perdas. Sendo parte da Europa, suas forças militares não se retirariam
a In~laterra (que teve cerca de 357 mil mortos de guerra), os Estados
b d' A da Europa. Sua economia dirigida mostrara-se capaz de manter o pleno
Unidos foram capazes de escolher onde, quan o e em que crrcunstan-
emprego, enquanto as democracias capitalistas, nos anos anteriores
cias combateriam, fato que reduziu muito os custoS e riscos de entrar
à guerra, tinham fracassado neste intento. Sua ideologia gozava de
na luta. Mas, ao contrário dos ingleses, os americanos emergiram da
amplo respeito na Europa, pois lá os comunistas tinham comandado a
guerra com sua economia próspera: as despesas ele guerra tinham
n:aior parte da :esistência aos alemães. Finalmente, a carga desprcpor-
~ausado a qU8.seduplicação do produto interno bruto em menos de
cional que recaru sobre o Exército Vermelho para derrotar Hitler deu
quatro anos. Se já houve uma coisa chamada "boa" guerra, esta, para
à URSS a reivindicação moral de uma influência substantiva, talvez
v:; E::t::Jos Unidos, chegou perto.
predominante, na formulação dos acordos de pós-guerra. Em 1945, foi
A União Soviética não teve tais vantagens. Travou apenas uma
no mínimo tão fácil acreditarque a onda do futuro ~ra o comunismo
zuerra mas talvez a mais terrível da história. Com grandes e pequenas s.
b ' autoritário quanto crer que era o capitalismo democrático.
cidades e o interior devastados, suas indústrias arruinadas ou transfe-
ridas às pressas para além dos Urais, a única opção, afora render-se, . A.União S~viética teve ainda a vantagem de ser a única das nações
era J. resistêDCia desesperada, em terreno e circunstâncias escolhidos vitorrosas a sair da guerra com uma liderança experimentada. A morte
pelo inimigo. As estimativas de baixas, incluindo civis e militares, são de Ro~sevelt em 12 de abril de 1945 carapultara seu inexperiente e
notoriamente inexatas, mas é provável que uns 27 milhões de cidadãos pouco informado vice-presidente Harry S. Truman para a Casa Branca.
soviéricos tenham rnorrido em conseqüência direta da guerra, isto é, !rês meses depois, a inesperada derrota de Cuurd;ill na. eleição geral
quase noventa vezes mais do que os monos americanos. A vitória não inglesa fez primeiro-ministro o líder do Partido Trabalhista, Clement
Dodena rer preço mais alto: em 1945, a URSS era um país destruido, f....ttlee, homem de muito menos estarura. A União Soviética, em con-
feliz só por sobreviver. A guerra, disse um observador da época, era traste, tinha Stalin, seu indiscutível chefe desde 1929, o homem oue
"tanto ?__":3i·; étpaVorante como a mais orgulhosa lembrança do povo reconstruíra o país e o trouxera à vitória na Sezunda Guerra Mund~ai
A -=- .... . .. -"" .. .
I' 10 . • •
,'.StuClOSO, ternrvet e apaf."entanoo calma determinação, (; ditador do
russo."2
Chegada a hora de dar forma aos acertos de pós.-guerr;i, porém, ():'.
10
História da Guerra Fria

Kremlin sabia bem o que queria após a guerra. Truman, Attlee e as


nações que eJes governavam pareciam muito menos fixos.

II

Bem, e daí? Que queria Stalin? Faz sentido começar por ele, pois só
ele, entre os três líderes do pós-guerra, tivera tempo com autoridade
para identificar e escolher suas prioridades. Com sessenta e cinco anos
de idade ao final da guerra, o homem que governava a União Soviética
estava fisicamente exaurido, rodeado de sicofantas, pessoalmente soli-
tário _ mas ainda no controle de modo firme, amedrontado r. Como
assinalou um diplomata americano, o bigode mal cuidado, os dentes
manchados, o rosto com marcas de varíola e os olhos amarelos "da-
vam-lhe o aspecto de um tigre velho curtido na luta. (...) Um visitante
Moscou.
desinformado não imaginaria o quanto de maquinação, ambição, amor
ao poder, desconfiança, crueldade e dissimulada índole vingativa se
escondiam por trás daquela aparência despretensiosa."4 Por uma série
de expmgos na década de 30, havia muito Stalin tinha eliminado todos
os seus rivais. Um arquear de sobrancelha ou estalar de dedos, como
UNIÃO
sabiam seus subordinados, poderia ser a diferença entre vida e morte. SOVIfTICA
Surpreendentemente baixo - apenas 1,63m - apesar disso o homen-
zinho barrigudo era um gigante que dominava um país gigantesco. .IGC\'

Os objetivos de Stalin no pós-guerra eram segurança para si mesmo,


para seu regime, para seu país e para sua ideologia, exatamente nesta
ordem. Procurou se assegurar de que nenhum desafio no plano inter-
no pudesse jamais pôr em risco seu governo pessoal e que nenhuma
ameaça externa pudesse algum dia pôr de novo em risco seu país. O
interesse de comunistas noutras partes do mundo, admiráveis como
fossem, nunca poderia se sobrepor às prioridades do estado soviéti-
co como ele as estabelecera. Narcisismo, paranóia e poder absoluto
juntaram-se em Sralin:" dentro da União Soviética e do movimento
comunista internacional, ele era tremenoamente temido - mas ao
mesmo tempo, idolatrado.
r> i' i,
oraun dCllaVô.que J
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guerr;H":-:Ovicas I·
e bens rievia
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ditar,
após a guerra, quem ficava com que: logo, a União Soviética ficaria
com muito." Não apenas retom3ria os territórios perdidos durante a
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A volta do medo
12 História da Guerra Fria

quando a guerra chegava ao fim. "No futuro, estaremos contra essa


Segunda Guerra, mas reteria aqueles que tomara em ~azão do oportu-
facção dos capitalistas rarnbérn.:"
nista porém míope Pacto de "não-agressão". q~e S~alm ce:e~:a~a com
A idéia de uma crise interna do capitalismo era até certo ponto
Hirler em agosto de 1939 - porções da Fmlan~l~,. da Polôriia e da
plausível. Afinal, a Primeira Guerra Mundial fora uma guerra entre
Romênia, além dos estados bálticos inteiros. EXlgma q~e oSAest~dos
capitalistas; e veio por ali a oportunidade para surgir o primeiro
além destas fronteiras expandidas ficassem na esfera de mfluenCla = esta.do .comunista do mundo. A Grande Depressão deixou os países
Moscou. Queria concessões territoriais às custas do Irã e da TurqUl.a
capitalistas restantes engalfinhados entre eles para salvar-se em vez de
(inclusive o controle dos Estreitos turcos), assim como bases navais
cooperar na reabilitação da economia global e em vez de sustentar o
no Mediterrâneo. Finalmente, uma Alemanha derrotada e devastada
acordo de pós-guerra: como resultado, surgiu a Alemanha nazi. Com
ele puniria com ocupação militar, expropriaçio de bens, pagamento
o fim da Segunda Guerra Mundial, achava Stalin, a crise econômica
de indenizações e transformação ideológica. .' , ressurgiria. Então, os capitalistas precisariam da União Soviética e
Contudo, havia aqui um penoso dilema para Stalin. PreJulzos
não o contrário. Eis porque ele esperava firmemente que os Estados
desproporcionais durante a guerra podiam perfeitamente valer par~ a
Unidos emprestassem à União Soviética vários bilhões de dólares para
União Soviética ganhos desproporcionais no pós-guerra, mas também
a reconstrução: os americanos de outra forma não teriam mercado
retiravam do país o poder indispensável para garantir unibteralmente
para seus produtos durante a crise que se avizinhava."
esses o-anhos. A URSS precisava de paz, de ajuda econômica e do
Seguia-se daí, naturalmente, que a outra potência capitalista, a
assencimento diplomático de seus antigos aliados. Por ora, não teve
Inglaterra - cuja fraqueza Stalin nunca percebeu bem - mais cedo ou
escolha a não ser buscar a cooperação de americanos e ingleses; tanto
mais tarde romperia com seu aliado americano em função de rivali-
quanto eles tinham dependido de Stalin para derrotar H~t1er, ;;.gora
dades econômicas. "A inevitabilidade de uma guerra entre os países
Sralin dependia da constante boa-vontade anglo-amencana para
capi.talistas continua," insistiu ele, já em 1952.10 Da perspectiva de
alcançar seus objetivos de pós-guerra a um custo. razoá;rel. Port~nto,
Stal111,as forças históricas de longo prazo compensariam a catástrofe
não queria uma guerra, quente ou fria.? Se ele serra há~Il o sufiCiente
que a Segunda Guerra Mundial fora para a União Soviética. Não
para evitar estas alternativas, era outra questão bem diferente.
seria preciso confrontar diretamente americanos e ingleses a fim de
Pois a compreensão de Stalin dos seus aliados do tempo da guerra e
alcançar seus objetivos. Podia simplesmente esperar que os capitalistas
dos objetivos deles se baseava mais no que ele desejava que foss.em do
começassem a brigar uns com os outros e que os europeus desgostosos
que numa avaliação criteriosa das prioridades co~forme .Washlt~g~on
abraçassem o comunismo como alternativa.
e Londres as enxergavam. Foi aqui que a ideologia marxlsta-Ien111lsta
Portanto, a meta de Stalin não era restaurar o equilíbrio de poder
influenciou Sralin, pois suas ilusões derivaram dela.
A mais importante foi a crença, que recuava até Lênin, de que os n~ Europ~, mas dominar o continente tão completamente quanto
Hitler qUIsera. Ele reconheceu, num pensativo comentário muito
capitalistas nunca seriam capazes de cooperar entre si por muito tem-
revelador, feito em 1947, que "se Churchill retardasse mais um ano a
po. A ganância inerente ao capitalismo - a irresi:tívelnecessidade ~e
abertura dasegunda frente no norte da França, o Exército Vermelho
pôr o lucro acima da política - mais cedo ou ~als tarde p~~va~ecena,
teria chegado à França. (...) Chegamos a entreter a idéia de entrar em
exigindo simplesmente que os comunistas tivessem paClenCla para pans.. "11 A o contrano ae H·I
" "A aI'lança entre no:, e
r •• ,
rt er, porém, Stalin não tinha um calen-
eSFti8r ,; ;;";jLcdest:-c:.~çi0 de ~e1!S a d versarios.
dáriü,íi~o. Ac~lheu satisfeito os desembarques do Dia-D, apesar do-='
a facrão democr::hica dos capitalistas está dando certo porque eles
fato de impedirem o Exército Vermelho de chegar em pouco tempo
tinham interesse em impedir o domínio de Hider," comentou Sralin
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A volta do medo
14 História da Guerra Fria

primeiras quatorze décadas de independência, em dar conseqüência a


à Europa ocidental: a derrota da Alemanha era a primeira p~io.ridade.
essa assertiva, Os Estados Unidos lá estavam como exemplo; o resto do
Também não ia abandonar a diplomacia na conquista do objetivo, em
mundo que decidisse como e em que circunstâncias seguiria o exemplo.
boa parte porque esperava - ao menos pelo momento - ~ cooperação
"Nossa nação deseja a liberdade e independência de todas as outras,"
americana para alcançá-lo. Pois não havia Roosevelt dado a.ente:'ld~r
declarou o ministro do Exterior John Quincy Adams em 1821, mas
que os Estados Unidos não procurariam ter ~ma esfer~ ~e lllfluenCla
"é paladina e vindicante da idéia apenas para si mesrna.t'" Apesar de
própria na Europa? Visão grandiosa a de Stallll: o domínio da E~ropa
ostentarem uma ideologia internacional, portanto, as práticas america-
atingido pacificamente mas determinado historicamente. Defe.lt~osa
nas eram isolacionistas: a nação ainda não chegara à conclusão de que
visão também, pois deixou de levar em conta os desdobrados objetivos
sua segurança requeria o transplante de seus princípios. Sua política
americanos de pós-guerra. externa e militar era muito menos ambiciosa do que se poderia esperar
III de uma nação de tal tamanho e força.
Só com a Primeira Guerra Mundial os Estados Unidos quebraram
Que queriam os americanos após a guerra? Sem dúvida, também
o padrão. Temeroso de que a Alemanha imperial pudesse vencer a
"~ segurança, só que, ao contrário de Sralin, tinham muito .menos cer-
Inglaterra e a França, Woodrow Wilson convenceu seus compatriotas
teza do que fazer para isso. A razão tinha a ver com o dilema q~e a
de que o poderio militar americano era necessário para restaurar o
~.' Segunda Guerra Mundiallhes armara: os Estados Unidos não podiam
equilíbrio de poder na Europa - mas ele mesmo justificou este objetivo
conrÍnuar servindo de modelo para o resto do mundo e, ao mesmo
geopolírico em termos ideológicos. O mundo, insistiu ele, tinha de se
tempo, permanecerem isolados do re~to do mundo. . r
tornar "seguro para a democracia." 14 Wilson foi além ao propor, como
Exatamente o que ao longo da maior parte de sua história os ame-
~ase p~ra um acordo de paz, a criação de uma Liga de Nações que
ricanos tentaram. Não tinham de se preocupar muito com segurança
lmpona aos estados algo semelhante ao império da lei que os estados
porque oceanos separavam-nos de todos os outros países que pudessem
- ao menos os esclarecidos - impunham aos seus cidadãos. A idéia de
representar eventual ameaça. Sua própria independênc~a da Ing~aterra
que "só força cria direito" devia, esperava ele, desaparecer.
resultou, tal como Thomas Paine predisse em 1776, da impropriedade
ilh "12 Tanto a visão quanto a restauração do equilíbrio foram prematuros.
de "um continente ser governado perpetuamente por uma I a.
A vitória na Primeira Guerra Mundial não fez dos Estados Unidos
Malgrado sua superioridade naval, os ingleses jamais conseguiram
unia potência global: ao contrário, para muitos americanos confirmou
projetar suficiente poder militar por 3 mil milhas de água para manter
o perigo d~ excesso de comprometimento. Os planos de Wilson para
os americanos no império ou para impedi-los de dominarem o con-
uma organização de segurança coletiva no pós-guerra iam muito além
tinente norte-americano. A probabilidade de outros europeus virem
~o que seus compatriotas estavam dispostos a ir. Enquanto isso, a de-
a fazê-lo era ainda mais remota, pois sucessivos governos em Londres
sd~~ão com os aliados - ao lado da mal concebida e tíbia intervenção
concordaram com os americanos que não haveria qualquer outra co-
militar contra os bolcheviques na Sibéria e no norte da Rússia, em
lonização no hemisfério ocidental. Os Estados Unidos desfrutavam,
1918-1920 - azedou os frutos da vitória. A conjuntura externa estimu-
portanto, o luxo de manter uma vasta esfera de influência sem o risco
lou um retorno ao isol~cionismo: as visíveis iniqüidades do Tratado de
de, com isso, reptar os interesses de qualquer outra grande potência.
Paz de Versalhes, os primeiros sinais de ~ma depressão global, depois,
Os americanos buscararr= inRuênci2 gk~?!n()rbno das idéias: sua
a ascensão de estados agressores na Europa e na Asia oriental tiv~ram
Declaração de Independência, afinal, promovera a radical afirmação de
o dom de convencer os americanos de que melhor estariam evitando
que todos os homens nascem iguais. Mas não mostraram empenho, nas
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A .volta do medo
16 História da Guerra Fria

Cabe uma palavra sobre os objetivos ingleses. Churchill definiu


de todo envolvimentos internacionais. Para um estado poderoso, foi
que eram muito mais simples: sobreviver ao custo que fosse, mesmo
uma retirada insólita de responsabilidades além-fronteiras.
que significasse renunciar à liderança da coalizão anglo-americana em
Chegado à Casa Branca em 1933, Franklin D. Roosevelt se esfo~çou
favor de Washington, mesmo que significasse enfraquecer o Império
sempre _ muitas vezes por vias tortuosas ~ .para levar ~s ~s~a~?s.Unidos
Britânico e até mesmo que significasse colaborar com a União Soviéti-
a um papel mais ativo em política mundIal. Não fOIfa~tl: S1llto-~e
ca, regime que Churchill mais jovem quisera esmagar após a revolução
tateando por uma porta na parede nua."15 Mesmo depOISque o Japao
bolchevique.'? Os ingleses tentariam influenciar os americanos o mais
foi à guerra com a China, em 1937, e da eclosão da Segunda Guer~a
possível- aspiravam ao papel dos gregos tutelando os romanos - mas
Mundial, em 1939, FDR fez apenas mínimo progresso em persuadIr
em hipótese nenhuma ter com eles qualquer rixa. A idéia de Stalin
a nação de que Wilson estava certo: a segurança do país podia ver-se
de uma Inglaterra independente capazde resistir aos Estados Unidos
ameaçada pelo que sucedia na outra metade do mundo. Foram neces-
ao ponto de ir à guerra, teria parecido realmente estranha aos que
sários os terríveis acontecimentos de 1940-1941 - a queda da França,
formulavam a grande estratégia inglesa de guerra e de pós-guerra.
a Batalha da Inglaterra e, por fim, o ataque japonês a Pearl Harbor
_ para causar um retorno dos americanos à .tar,e~ade .restabel:cerum IV
equilíbrio de poder fora dos limites do hemisfério oc~dental. Apren-
Em vista dessas prioridades, que perspectivas havia de se chegar a um
demos com nossos erros no passado," assegurou o presidente em 1942.
acordo capaz de preservar a Grande Aliança? Roosevelt, Churchill e
"Desta vez, saberemos fazer pleno uso da vitória."!" .'
Stalin sem dúvida ansiavam por esse desfecho e nenhum deles tão
Roosevelt teve quatro grandes prioridades na guerra. A pnmelra
cedo queria novos inimigos, depois de ter vencido aqueles. Mas desde
roi sustentar aliados - principalmente a Inglaterra, a União Soviética
o começo a coalizão fora simultaneamente uma forma' de cooperação
,> e (com menos sucesso) a China nacionalist:l - porque não havia .ou-
para derrotar o Eixo e um instrumento pelo qual cada um dos vito-
tro caminho para chegar à vitória: os Estados Unidos não. poderIam
lutar sozinhos contra a Alemanha e o Japão. A segunda fOI assegurar riosos procurava ter o máximo de influência no mundo de pós-guerra.
a cooperação aliada em dar forma ao acerto de pós-guerra~ poi.s, sem Nem poderia ser doutra forma. Apesar de os "três grandes" declararem
isso haveria pouca esperança de paz duradoura. A terceira unha a que não se podia pensar em política com a guerra em curso, nenhum
ver ~om a natureza de tal acerto. Roosevelt esperava que seus aliados deles acreditava neste princípio ou pensava em obedecê-Ia. O que
endossassem um arranjo que afastasse as causas mais prováveis de realmente fizeram - em comunicados e conferências, quase sempre
guerras futuras. Isto queria dizer um novo órgão de segurança coletiva s~m conhecimento público - foi tentar conciliar objetivos políticos
com poder para dissuadir e se necessário p~nir agressão, ~em como divergentes, tal como se visassem a uma operação militar de interesse
o restabelecimento de um sistema econômICO global eqmpado para comum. Em grande parte fracassaram, e foi este fracasso que originou
prevenir nova depressão mundial. Finalmente, o .acordo .deveria ser a Guerra Fria. Os principais problemas foram os expostos a seguir.
"vendável" ao povo americano: FDR não pretendia repetir o erro de
Wilson levando a nação além do que queria ir. Não haveria reversão A ~EGUNDA F.RENTE E UMA ~AZ EM SEPARADO. À parte uma derrota pro-
ao isolacionismo, então, depois da Segunda Guerra Mundial. Mas pnamente dita, o que os anglo-americanos mais temiam era que 8.
os Estados Unidos t8.rnpouco estavam dispostos - não mais do que União Soviética celebrasse de novo um acordo com a Alemanha nazi,
a União Soviética - a aceitar um mundo pós-guerra que lembrasse o como já fizera em 1939, pondo grande parte da Europa-sob controle
autoritário. Daí a importância que Roosevelt e Churchill atribuíam
mundo de antes da guerra.
18
História da Guerra Fria
A volta do medo 19

à manutenção da União Soviética na guerra. Significava d~r-lhe ~oda


Itália, em setembro de 1943. O fato deu a Stalin o pretexto para algo
ajuda possível em alimento, roupa e armas, mes~o por meios arrisca-
que provavelmente teria feito de qualquer jeito, isto é, negar papel
dos e de alto' custo: não era fácil mandar comboios para Murmansk e
relevante a americanos e ingleses na ocupação da Romênia, Bulgária
Archangel evitando ataques de submarinos. Ta~~é~ signi~cava não
e Hungria, quando o Exército Vermelho entrou nesses territórios em
contrariar a exigência de Stalin de recuperar ternrorios perdidos, ape- 1944-45.
sar do fato inconveniente de alguns deles - estados bálticos, Polônia
Em outubro de 1944, Stalin eChurchiIl tinham concordado sem
oriental, parte da Finlândia e Romênia - terem fi~ado so~ domínio
dificuldade que a União Soviética deveria ter inBuência predominante
soviético unicamente em razão do pacto com Hitler, Finalmente,
naqueles países, em reconhecimento da preponderância inglesa na
evitar uma paz em separado implicava criar uma segunda frente no
Grécia. Sob a superfície, porém, as preocupações persistiram. Roose-
continente europeu tão cedo fosse militarmente possível, embora em
velr protestou por não ter sido consultado sobre o acerto entre Stalin
Londres e Washington se entendesse que isso requeria o adiamento da
e Churchill e, quando ingleses e americanos começaram a negociação
operação até o sucesso se afigurar provável ~ a u~ custo aceitável.
para a rendição das forças alemãs no norte da Itália, na primavera
Em conseqüência, a segunda frente - mais preCIsamente, as segun-
de 1945, Stalin teve uma reação que beirou o pânico. Alerrou seus
,"c das frentes - se materializaram gradativamente, fato queabor~eceu ~s
comandantes militares de que poderia ser um acordo para que os ale-
russos arolados na guerra, que não se davam ao luxo de reduzir o nu-
mães cessassem os combates no Ocidente e continuassem a resistir no
mero de baixas. A primeira foi aberta no norte da África sob controle
Leste." Desta forma, revelou a profundidade de seus temores de uma
de Vichy, onde as forças americanas e inglesas desembarcaram em
p~ em separado. O fato de admitir, depuis de tanto tempo, que seus
, novembro de 1942. Seguiram-se as invasões da Sicília e do sul da Itália
aliados fossem capazes de celebrar acordo desse tipo mostra o pouco
'. no verão de 1943. Mas só em j unho de 1944, com os desembarques
que as segundas fremes serviram para despreocupá-lo _ e como era
na Normandia, as operações militares anglo-americanas começaram mínima sua disposição em confiar.
a retirar pressão significativa sobre o Exército Vermelho, que havia
muito já virara a maré da guerra na frente oriental e agora expulsava
ESFERASDEINFLU.êNCIA. A divisão da Europa em esferas de inBuência
de vez os alemães do território soviético. Stalin cumprimentou seus
- como transpareceu do acordo entre Stalin e Churchill _ deixaria
aliados pelo sucesso do Dia-D, mas permaneceu a suspeita de qu~ o
pouco espaço para os europeus decidirem sobre seu futuro: Dor isso
atraso fora deliberado, visando a deixar o peso da luta desproporcio-
Roosevelt estava preocupado. Por mais que justificasse para 'si mes-
nalrnente sobre a URSS.I8 O plano, como mais tarde escreveu um
mo a guerra em termos de equilíbrio de poder, ele explicara ao povo
analista soviético, fora os Estados Unidos participarem "apenas no
americano ~omo Wilson poderia ter feito - como uma luta pela
último minuto, quando poderiam influir com facilidade no desfecho
. "19 autodetermlOação. ChurchiU concordara com esta idéia em 1941 ao
da guerra, assegurando plenamente seus interesses.
aceita.r a Carta d~ Atlântico, uma reafirmação por FDR dos princí~ios
A importância política das segundas frentes foi pelo m~n~s. tão
de ~I!son. Um. Importante objetivo anglo-americano era, portanto,
grande quanto sua expressão militar, pois significavam que arrienc~nos
conciliar estes Ideais com as exigências territoriais de Stalin, bem
e ingleses estariam presentes, ao lado da União Soviética, na rendição
como com sua insistência numa esfera de influência que assegurasse
e ocupação Gá Alemanha e :;.~.;:~.s;'.:::+tes. Mais p0r razões de conve-
a presel!:.~~_denações "á~úg~" ao longo das fronteiras soviéticas após
niência do que qualquer outra, o comando militar anglo-america~o
a guerra. Roosevelt e Churêhill insistiram repetidamente com Stalin
deixou os russos fora deste processo por ocasião da capitulação da
para que permitisse eleições livres nos estados bálticos, na Polônia
21
A volta do medo
20 História da Guerra Fria

Já que os poloneses jamais elegeriam um governo pró-soviético,


e noutras áreas da Europa oriental. Na Conferência de Yalt~, Stalin
Stalin lhes impôs um. O preço, entretanto, foi uma Polônia perma-
concordou em fazê-lo, mas sem a menor intenção de cumprir o p:o-
nentemente rancorosa, assim como, entre seus aliados americanos e
metido. "Não se preocupem," acalmou.ele seu ministro d? Exterior
ingleses, uma crescente sensação de que não podiam mais confiar nele.
Vyacheslav Molotov. "Implementaremos à nossa moda mais tarde. O
Como disse um decepcionado Roosevelt duas semanas antes de sua
- d L "21
cerne da questão é a corre 1açao e torças. .' . morte: "Stalin quebrou todas as promessas feitas em Yalta."22
E assim, Sralin conseguiu 2.S aquisições terntonalS e a esfer~ ?e
influência que queria: os limites da União Soviética andaram van~s
INIMIGOS DERROTADOS. Em contraste com o controle unilateral soviéti-
centenas de milhas para oeste e o Exército Vermelho implantou regi-
co sobre a Europa oriental, nunca restou qualquer dúvida - pelo menos
mes subservientes por todo o restante da Europa oriental. Nem todos
depois do Dia-D - de que a Alemanha seria ocupada em conjunto.
eram ainda comunistas - o chefe do Kremlin, por ora, estava flexível
Entretanto, a forma como isso aconteceu deu aos russos a impressão
neste ponto _ mas nenhum prejudicaria a projeção da influência so-
de que tinham sido trapaceados. Os Estados Unidos, a Inglaterra e
viétic; para a Europa central. Americanos e i~gles~s tinh~m esperado
(graças à generosidade anglo-americana) a França terminaram contro-
um desfecho diferente em que os europeus onentaiS, particularmente
lando dois terços da Alemanha, não como decorrência da quantidade
.,.,., ~os poloneses _ primeiras vítimas da Segunda <?u_erra Mu~dial- es-
d.e s~ngue derramado durante a guerra, mas em conseqüência da pro-
colheriam seus próprios governos. As duas posiçoes podenam ter se
xirnidade geográfica da vanguarda de seus exércitos, além do fato de
ajustado se os países da Europa oriental estivessem ~ispostos a ~le~er
Stalin ter dado substancial parte da Alemanha oriental aos poloneses.
líderes que atendessem às exigências de Mosc~u, COisa que ~ ~i~l~i~-
Em~ora a zona soviética de ocupação envolvesse os setores da capital
dia e a Tchecoslováquia fizeram. Para a Polôma, contudo, ror diEClI
Berlim ocupados pelos aliados, cobria apenas um terço da população
seguir este caminho, pois as próprias ações de Stalin tinham hav~a
alemã e percentual ainda menor das instalações industriais.
muito eliminado qualquer possibilidade de que um governo polones
Por que Stalin aceitou esta divisão? Provavelmente por acreditar que
subserviente à União Soviética contasse com apoio popular.
o governo rnarxisra-leninista que planejava implantar na Alemanha
As afrontas incluíam o Pacto Nazi-Soviético de 1939, que extin-
oriental funcionaria como "ímã" para alemães nas zonas ocidentais de
guira a independência da Polônia, somado à subs~qüen.t~ descoberta
ocupação, levando-os a escolherem líderes que acabariam por unificar
de que os russos tinham massacrado cerca de 4 ~1l1 ohciais ~oloneses
todo o país. sob controle soviético. A longamente atrasada revolução
na Floresta de Karyn, em 1940, além de 11 mil desapareCidos sem
do proletanado que Marx previra para a Alemanha então acontece-
explicação. Sralin rompeu com o governo polonês no ~xílio de Londres
ria. "Toda a Alemanha deve ser nossa, isto é, soviética, comunista,"
em torno desta auestão, em 1943, passando a apOiar um grupo de
comentou Sralin em 1946. 23 Porém, havia dois grandes problemas
comunistas polo~eses baseados em Lublin. Depois, nada fez quando
nessa estratégia.
os nazis esmagaram brutalmente o levante de Varsóvia de 1944 or-
O primeiro tinha a ver com a brutalidade com que o Exército Ver-
ganizado pelos poloneses de Londres, embora o Ex~rcito ye:melho,
melho ocupou a Alemanha oriental. As tropas soviéticas não apenas se
naquele momento, já estivesse nos subúrbios da capital ~olone~a: .
apossaram de propriedades e exigiram indenizações em escala indis-
A insistência de Stalin em se apossar de um terço ao terntono
h. . ri . - cri minada, mas também perpetraram maciçamente violações sexuais.
polonês ciepcis G;;' g;C!::u:!Ej;;;.CC;-._C~ ;l.!n~2.mais :l naçao; sua pr(),~;.ssa
Cerca de dois milhões de mulheres alemãssofreram esse desti~w entre
de co m pensação às custas da Alemanha pouco fez para reparar o dano
1945 e 1947.24 Este fato provocou o repúdio de todos os alemães e,
causado.
~~~.,;;"'~'*~~~~_._-
F
História da Guerra Fria
22

portamo, uma assimetria que persistiria ao longo de toda a Guerra


Fria: o regime implantado por Stalin no leste carecia da legitimidade
que seu correspondente do ocidente rapidamente conquistou.
O segundo problema tinha a ver comos aliados. O modo unilateral
com que os soviéticos levaram as questões na Alemanha e na Europa
oriemal fez ingleses e americanos mais relutantes em confiarem na
cooperação com Moscou, ao ocuparem o restante da Alemanha. Deste
modo, aproveitaram todas as oportunidades para consolidar a ocupa-
ção em suas próprias zonas, assim como a dos franceses, aceitando de
antemão a divisão do país. A idéia foi preservar o máximo possível
de território alemão sob controle ocidental, em vez de correr o risco de
deixar todo o país cair em mãos soviéticas. A maioria dos alemães, à
medida que tomOU consciência do que significava a dominação por
Stalin, apoiou relutante essa política anglo-americana.
O que aconteceu na Alemanha e Europa oriental, por sua vez, dei-
xou os Estados Unidos pouco dispostoS a incluírem a União Soviética
na ocupação do Japão. A URSS não tinha declarado guerra ao Japão
apóS Pearl Harbor e tampouco os aliados esperavam isto justamente
. quando o exército alemão estava nos subúrbios de Moscou. Contudo,
Stalin prometera entrar na guerra do Pacífico três meses depois da ALEMANHA
rendição alemã e, em retribuição, Roosevelt e Churchill concordaram ORIENTAL

em devolver aos soviéticos as ilhas Kurilas, pertencentes aos japoneses,


assim como a metade sul da ilha Sakalina e os direitos territoriais e
bases navais na Manchúria, tudo perdido por ocasião da derrota da
Rússia na guerra russo-japonesa de 1904-05.
A opinião dominante em Washington e Londres era que a ajuda
do Exército Vermelho - principalmente na invasão da Manchúria
ocupada pelos japoneses - seria vital para apressar a vitória. Mas isto
foi antes de os Estados Unidos testarem com sucessO sua primeira
bomba atômica em julho de 1945. Tão logo ficou claro que osarperi-
canos possuíam esta arma, desapareceu a necessidade de apoio militar
soviético.25 Consciente do precedente do uni1ateralismo soviético na
Europa, o HU.;,~.~c-..crnc Tr~rr:a!:. !!§n se mostrOU disposto a ::dmitir
F~nkfurt
o mesmo no nordeste da Ásia. Nesta região, os americanos adotaram o
princípio do próprio Stalin que estabeiecia a correlação entre sangue

J
25
A volta do medo
24 História da Guerra Fria

portanto, impedindo os russos de terem um papel relevante na derrota


derramado e influência. Tinham arcado com a maior parte dos sacrifí-
e ocupação do Japão, Stalin também encarou a bomba atômica como
cios na guerr.a do Pacífico e, por conseguinte, deviam ocupar sozinhos
um meio de os Estados Unidos tentarem extrair concessões da União
o país q~e a iniciara. . Soviética no pós-guerra: "A política americana é chantagear com a
bombaA."28 Havia uma certa dose de verdade nisso. Truman usara
A BOMBA ATÔMICA. Entrementes, a bomba aumentava a desconfiança
a bomba principalmente para terminar a guerra, mas ele e seus assesso-
mútua entre soviéticos e americanos. Os americanos e os ingleses
res realmente esperavam que a nova arma produzisse uma atitude um
tinham criado secretamente a arma para empregá-Ia contra a Alema-
pouco mais conciliatória por parte da URSS. Não formularam uma
nha mas os nazis se renderam antes que estivesse pronta. O segredo
estratégia a fim de chegar a este resultado, mas Stalin imediatamente
do Projeto Manhattan não se mantivera o sufici.ente para. impedir
pensou em uma estratégia para contrapor-se. Adotou uma linha ainda
que o serviço de informações soviético, por meio de esplOnag~m,
mais dura do que a anterior na consecução dos objetivos soviéticos,
descobrisse bastante a seu respeito. Houve pelo menos três tentativas
quando mais não fosse, para deixar patente que não podia ser intimi-
soviéticas bem sucedidas para penetrar a segurança de Los Alamos,
dado. "Está óbvio," disse a seus mais importantes assessores no fim
onde a bomba estava sendo fabricada.26 O fato de Stalin ter montado
de 1945, "que (...) não podemos conseguir nada sério se começarmos
,', . ';':uma importante operação para espionar seus aliados em meio a uma
a ceder à intimidação ou a demonstrar incerteza."29
";"0' auerra que travavam lado-a-lado é outra forte indicação da falta de
As raízes da Guerra Fria na guerra mundial, ajudam, portanto, a
~onfiança entre eles - embora se deva reconhecer que os pr6prios
explicar porque este novo coníliro veio à tona tão rapidamente depois
anglo-americanos só preferiram informar Sralin a respeito. da bomba
que o anterior acabou. Mas rivalidades de grandes potências de há
quando foi testada com sucesso no deserto do ~ovo México.
muito eram pelo menos um padrão tão normal no comportamento
, o "'~' Assim, o chefe soviético não se mostrou muito surpreso qu~ndo
de nações quanto alianças de grandes potências. Até um visitante
Trurnan lhe deu a notícia na Conferência de Potsdain- ele sabia da
extraterrestre que soubesse disto poderia muito bem esperar o que
. bomba havia muito mais tempo que o novo presidente americano.
aconteceu. Certamente um teórico de relações internacionais esperaria.
Mas reagiu fortemente quando os Estados Unidos foram em frente e
A pergunta interessante é por que os próprios líderes do tempo da
usaram a bomba contra os japoneses três semanas depois. Um teste
guerra se surpreenderam e até se alarmaram com a ruptura da Grande
no deserto era uma coisa, usar realmente a arma era outra. "A guerra é
uma barbárie, mas usar a bomba atômica é superbarbárie," reclamou Aliança. Suas esperanças de um desfecho diferente eram reais, ou não
teriam se empenhado tanto, enquanto os combates ainda rugiam, num
Stalin ao saber da destruição de Hiroshima. A descoberta americana
acordo sobre o que aconteceria quando cessassem as hostilidades. Suas
era uma nova objeção à sua insistência em que sangue derramado
esperanças eram paralelas - as visões não eram.
era conquista de influência: subitamente, os Estados Unidos tinham
Pondo a questão em seus termos mais elementares, Roosevelt e
atinzido uma capacidade militar que independia do desdobramen.to
de exércitos num campo de batalha, Cérebro - e a recnologiamilitar Churchill anteviam um acordo pós-guerra que garantisse equilíbrio
de poder, observados certos princípios. A idéia era evitar uma nova
aue podia criar - agora valia o mesmo. "Hiroshima abalou o mundo
inteiro,"disse Stalin a seus cientistas ao autorizar a implantação de um
guerra, não incorrendo nos erros que levaram à Segunda Guerra
_1~-~G Q' '0"":" ..•.-1" " -I~~ ~r~" Mundial. Para tanto, assegurariam a cooperação entre as grandes po-
progranla sovietico V1VJCU,
, r Ó:

"L•••~~'....- c'.""'''~'~' _0-. ~"Estados


:

•.• .. -
AC
- 1.'Jn idos •
tências, reviveriam a Liga criada por Wilson I1a forma de uma n~va
"O equilíbrio foi destruído (.. ,) Isso não pode ser."27
Ademais, ao ver a bomba abreviando daquela forma a guerra e, organização de segurança coletiva das Nações Unidas e incentivariam
27
A volta do medo
26 História da Guerra Fria

o que considerava vulnerabilidades no sul. Um relato descreve sua


ao máximo a autodeterminação política e a integração econômica, satisfação com um mapa das novas fronteiras da União Soviética,
de modo que as causas de guerra, como as viam, desaparecessem no mas apontando para o Cáucaso e reclamando: "Não me agrada nossa
devido tempo. A visão deStalin eramúito diferente: um acerto que fronteira nesta região!":" Seguiram-se três iniciativas: Stalin retardou
garantisse sua própria segurança e a de seu país e sir:nultaneamente a retirada das tropas soviéticas do norte do Irã, lá estacionadas desde
estimulasse as rivalidades entre os capitalistas que levanam a uma nova 194~ como parte de um acordo anglo-soviético para evitar que o
guerra. O fratricídio capitalista, por sua vez, perrn.itiria o e;,entual supnmento de petróleo daquele país caísse em mãos alemãs; exigiu
domínio soviético da Europa. A primeira era uma visão mulnlateral, concessões territoriais da Turquia bem como bases que dariam à União
que presumia a possibilidade de interesses c~mpatíveis m~smo entre Soviética o efetivo controle dos Estreitos turcos; e reivindicou o papel
sistemas incompatíveis. A segunda não considerava tal COisa. de administrador de ex-colônias italianas no norte da Mrica, tendo em
v vista assegurar uma ou mais bases navais adicionais no Mediterrâneo
oriental.
, Os cientistas políticos gostam de falar em "dilemas de segurança," Porém, logo ficou evidente que Stalin fora longe demais. "Eles não
situações em que um estado age para aumentar a própria segurança, permitirão," seu habitualmente condescendente ministro do Exterior
t'mas, ao fazê-lo, diminui a de um ou mais outros estados, que, por sua Molotov alertou em relação aos Estreitos. "Vá em frente, pressione-os
j'·vez, rentam reparar o Jano sofrido por meio de medidas que redu- ~or uma posse conjunta!" - replicou seu chefe, irritado. - "Exija!"32As-
zem a segurança do primeiro estado. A conseqüência é um remoinho SI~ fez Molotov, sem resultado. Truman e Attlee rejeitaram netamente
cada vez mais fundo de desconfiança do qual os líderes mais bem
a J~gada soviética por um reajuste de fronteiras às custas da Turquia,
'intencionados e dotados de visão mais longa acham difícil escapar, aSSImcomo bases navais mediterrâneas e turcas. Surpreenderam Stalin
3o
'de vez que as suspeitas passam a se auto-realimentar. Como as re- ao submeter ao conselho de segurança das Nações Unidas, já em 1946,
lações anglo-americanas com a União Soviética tinham caído nesse
a ~~estão da ocupação do norte do Irã pelos soviéticos, na primeira
padrão bem antes do fim da Segunda Guerra Mundial, fica difícil
utilização expressiva da nova organização mundial no trato de uma
dizer precisamente quando começou a Guerra Fria. Não houve ata-
C1:isei~t~rnacional. Vendo suas forças militares diluídas em tão amplo
ques de surpresa, não houve declarações de guerra, sequer ameaças de
dispositivo e suas ambições reveladas, Stalin ordenou, vários meses
rompimento de relações diplomáticas. Todavia, surgiu uma cr.escente
~epois, uma silenciosa retirada do Irã. Àquela altura, porém, Truman
sensação de insegurança nos mais altos escalões em Washmgton,
tinha reforçado sua própria posição estacionando a 6a Esquadra ameri-
Londres e Moscou, diante do esforço dos aliados do tempo da guerra
cana - em caráter definitivo - no Mediterrâneo oriental. Foi um sinal
no sentido de cada um garantir a própria segurança no pós-guerra ..
~nconfundível de.q~e Stalin chegara ao limite do que podia conseguir
Com seus inimigos derrotados, pouco incentivo houve para que estes
Invocando a tradicional cooperação do tempo de guerra.33
ex-aliados, como passaram a considerar a si mesmos, continuassem
Esta nova postura firine de Washington coincidiu com a busca
mantendo suas ansiedades sob controle. Cada crise surgida alimentou
de explicações para o comportamento soviético: por que se desfez a
a seguinte, resultando a realidade de uma Europa dividida. " ..
Grande Aliança? Que mais queria Stalin? A melhor resposta veio de
• '_o-o ,,_, _,. ~ -.. ••••••••••••••••••••••••• , ,.~ T/. -"- J 1....t:...l~ ....s ~f'Orge,~ K~J1D::tn; rl"~ri:'it:ldo m.'ls ::!ind:l membro júnior do 5.nviço
IRÃ, TURQUIA, MEDITERRANEO - t. fi CV1~ LÜ"c,.~(). J<i LC!!'..!.O Ou ",,_O'''
diplomático na embaixada amencana em Moscou, No que ele mais
concessões territoriais que desejava na Europa oriental e no nordeste
tarde admitiu ter sido uma "atroz obstrução do processo telegráfico,"
da Ásia,a primeira prioridade de Scalin depois da guerra era eliminar
F~""·"'='''''·=·=,.."",,,,,··-·..,?,,,!.-:;~,<-·!} ••••.~~ú~..,.: ~",~~;m~~~"",;~c;:;)~;;;:;::fjQ::t.:ff;:t:.:':~;~r-:'-,<~:::-"
?""·_~:~~i~~!~:~;;C~~~:::<:.~~~:~j~~;;;;:_~;;;;
__ .

~!;' ~~!Q;~i~ç~·~:.~·
~'; 29
A volta do medo
-o _'.

28 História da Guerra Fria

suas despesas militares, abrindo bases bem além de suas fronteiras e


Kennan respondeu à úlcima.deuma longa série de. indagações d~
tinham chegado com a Inglaterra a um acordo para a divisão do mundo
Departamento de Estado com um telegrama de 8 mil palavras red~-
em esferas de influência. Mas a cooperação anglo-americana estava
gido de umimpulsoe (remetido:em22:deJevereiro de 19.46. Seria
"contaminada por grandes contradições internas e não poderia durar
pouco dizer que o documento causou impacto em Washmgton: o
(...) É bem possível que o Oriente Próximo venha a se transformar em
"longo telegrama" de Kennan tornou-se o fundamento da estratégia
foco de contradições anglo-americanas que implodirão os acordos a
dos Estados Unidos em relação à União Soviética por todo o restante
que chegaram agora os Estados Unidos e a Inglaterra."3?
da Guerra Fria.il;
A avaliação de Novikov - que refletia o pensamento de Stalin e o
A intransigência de Moscou, insistiu Kennan, não resultava de
próprio Molotov reviu e refez38- explica perfeitamente a autoconfiança
qualquer iniciativa do Ocidente: decorria das necessidades in:ernas
tranqüila com que o líder do Krernlin recebeu o recém-nomeado secre-
do regime stalinista e nada que o Ocidente pudesse fazer num ruturo
tário de Estado de Truman, George C. Marshall, quando os ministros
previsível iria alterar este fato. Os líderes soviéticos tinham que tratar
de relações exteriores americano, inglês, francês e soviético tiveram
o mundo exterior como hostil porque isso lhes dava o único pretexto
uma reunião em Moscou, em abril de 1947. Era um velho costume
"para a ditadura sem a qual não sabiam governar, para as crueldades
de Stalin, ao receber visitantes importantes, desenhar cabeças de lobo
que não ousavam deixar de infligir e para os sacrifícios que se achavam
em um bloco com lápis vermelho e isso ele fez quando assegurou a
. obrigados a exigir." Seria ingênuo esperar reciprocidade a concessões:
Marshall que o fracasso em assentar o futuro da Europa. de pós-guerra
não haveria mudança na estratégia da União Soviética até que ela
não era grande problema: não havia pressa. Marshall, o sereno, la-
encontrasse um acúmulo suficientemente granrte de fracassos que
cônico, mas arguto general que, mais de que ninguém, dera forma à
convencesse algum futuro chefe do Kremlin - Kennan tinha pouca
estratégia militar americana durante a Segunda Guerra Mundial, não
-,esperança que Sralin jamais notasse isto - de que a conduta do país não
se sentiu reconfortado. "Em toda a viagem de volta," lembrou mais
estava favorecendo seus interesses. Não seria necessária uma guerra para
produzir este resultado. O que seria preciso, como assinalou Kennan tarde um de seus auxiliares, falou sobre "a importância de encontrar
em uma versão de suas idéias publicada no ano seguinte, era "uma alguma iniciativa para evitar o colapso da Europa ocidental."39
contenção de longo prazo das tendências expansivas russas, paciente
A DOUTRlNA DE TRUMAN E o PLANO MARSHALL. Se Stalin tivesse prestado
mas firme e vigilame. ":15
Kennan não podia saber, na época, que um de seus mais aten- aos relatórios da inteligência sobre a conferência de ministros do exte-
toS lei cores era o próprio Stalin. O serviço soviético de inteligência rior a mesma atenção que prestara aos que informaram sobre a bomba
rapidamente tomou conhecimento do "longo telegrama" - tarefa atômica e o "longo telegrama" de Kennan, poderia ter previsto o que
relativameme fácil porque o documento, embora sigiloso, teve ampla estava para acontecer. Marshall e seus colegas da Inglaterra e da França
circulação.3G Para não ser ultrapassado, Stalin mandou que seu em- passaram muitas horas em Moscou - quando não estavam em infrutí-
baixador em \Y!ashington, Nikolai Novikov, redigisse ele próprio um feros encontros com Molotov - discutindo a necessidade de cooperar
"telegrama," que foi enviado para Moscou em 27 de setembro de 1~46. na reconstrução da Europa. As salas em que se reuniam sem dúvida
"A política exterior dos Estados Unidos," afirmava Novikov, "reflete estavam grampeadas. Mas a ideologia se sobrepôs à escuta na mente
c:. ~c"dênc!a imperialista 00 Gtpiralisl1}-_()_
monopolista americano, e se de Stalin. Lêni_~_n2.odemonstrara que capitalistas jamais cooperavam
caracteriza (...) por um esforço pela supremacia mundial." Como conse- por muito tempo? O "telegrama""éie Novikov não confirmara isso? O
qüência, os Estados Unidos estavam aumentando em escala "colossal" chefe do Kremlin tinha suas razões para estar aurocorihante.
::,:;".
...

30 História. da Guerra Fria


A volta do medo 31

Porém não eram razões sólidas. Truman já tinha anunciado, em .12


relações com eles; e, finalmente, que os Estados Unidos poderiam,
de março de 1947, um programa: de 'assistência militar e.econômica
então, assumir a iniciativa tanto geopolftica quanto moral na Guerra
à Grécia e à Turquia, motivado pelo inesperado pronunClam~nto d.o Fria que vinha à tona.
governo inglês, apenas duas semanas antes, de que não podia ,m~Is
Stalin caiu na armadilha lançada pelo Plano Marshall, que consistia
agüentar o custo do apoio àqueles países. Truman fizera seu anuncio
em levá-Io a construir ele mesmo o muro que dividiria a Europa. Apa-
em termos notavelmente amplos, insistindo em que, daquele momento
nhado de guarda baixa pela proposta de Marshall, ele enviou grande
em diante, "a política americana deve apoiar povos livres que es~ão
delegação a Paris a fim de discutir a participação soviética, depois
resistindo a tentativas de submissão a minorias armadas ou a pressoes
retirou-a, deixando que os representantes do leste europeu ficassem,
externas (...) Devemos ajudar os povos livres a buscar eles n:esmos seus
depois proibiu-os - mais teatralmente os tchecos, cujos líderes foram
próprios destinos. "40 Stalin deu pouca atenção ao pronunclame.nt~ ~e
levados a Moscou para receberem a ordem - de aceitarem a ajuda
Truman, embora, naquela primavera, tivesse se preocupado em lll~IStlr
proposta.v Foi uma ação inesperadamente disparatada do ditador do
que uma história da filosofia recentemente publicada fosse reescnta a
Kremlin em geral auto confiante, revelando o grau em que a estratégia
fim de minimizar a deferência que dispensava ao ocidente."
da contenção, com o Plano Marshall no centro, já perturbava seu rol
. Enquanto Stalin se voltava para esta tarefa, Mar~~all- seguindo a
-", direção de Truman - formulava uma grande estraregia para a Guerra de prioridades. Revisões adicionais dos textos de filosofia teriam que
esperar.
Fria. O "longo telegrama" de Kennan tinha diagnosticado o problema:
a União Soviética criava internamente a hostilidade contra o mundo
ocidental. Mas não apontara qualquer solução. Agora, Marshall disse TCHECOSLOVÁQUIA, IUGOSLÁVIA E O BLOQUEiO DE BERLIM.Sralin res-
pendeu ao Plano Marshall tal Como Kennan previra, aumenrando o
a Kennan que pensasse numa, e deu-lhe uma só ori.entação:. "evite
o trivial."42 A recomendação, convém reconhecer, fOI obedecida. O contr.ole o quanto pôde. Em setembro de 1947, anunciou a criação do
ComI.nfor:u, versão atualizada do velho Comintern de antes da guer-
programa de recuperação da Europa anunciado em junho de 1947
ra, cuja rrussâo fora implantar a ortodoxia no movimento comunista
por Marshall comprometeu os Estados Unidos com nada menos q~e a
internacional. "Não se meta muito nas coisas," disse Andrei Zhdanov,
reconstrução européia. O Plano Marshall, como fic.ou logo con~ecldo,
naquele momento não fez distinção entre as regiões do contrnente ~orta-voz de Stalin na nova organização a um polonês concestador.
Em Moscou sabemos melhor como aplicar o marxismo-leninismo. "44
que estavam sob controle soviético e as que n~o estavam - mas o
pensamento por trás do conceito certamente fazia, O que isto significava ficou claro em fevereiro de 1948, quando Stalin
O Plano Marshall se baseou em várias premissas: q.ue a ameaça apr~v?u u~ plano dos c~munistas tchecoslovacos para tomar o poder
mais séria aos interesses ocidentais na Europa não era a perspectiva no uruco pars europeu orienta] que seguia com um governo democráti-
de uma intervenção militar soviética, mas o perigo de fome, pobreza co. Logo depois do golpe, o corpo dilacerado do primeiro-ministro jan
e desespero levarem os europeus a porem no governo seus pr?prios Masaryk - filho de Thomas Masaryk, fundador do país após a Primeira
comunistas, que então atenderiam obedientemente os desejos de Guerra Mundial- foi achado em um pátio de Praga. Se saltou ou foi
Moscou; que a ajuda econômica americana produziria benefícios empurr~do, nunca se soube." Fazia pouca diferença, uma vez que a
psicoiógicos imediatos c, mais :.:.J.:2.!'!i:,:, benefícios ..!!':lteria~sq.ue ~e-_ perspectiva de qualquer independência dentro da esfera de influência
de Stalin tinha, ao que parece, desaparecido com Masaryk.
verteriam aquela tendência; que a União Soviética não acenaria essa
aj uda e não deixaria seus satélites aceitarem, provocando tensão nas Todavia, nem. todos os comunistas caíram n~ss~-esfera.A lugo~iávla
fora um dos mais confiáveis aliados da União Soviética desde o fim

'.
..... "
32 História da, Guerra Fria
A volta do medo 33

da Segunda Guerra Mundial; mas seu chefe, .Josi.r Broz !ito, ch~g~ra
~. O golpe.tcheco convenceu o congresso dos Estados Unidos _ que
ao poder po!" conta própria-Ele e seus guerr~e~ros e nao o Exercito
amda não tinha aprovado o programa de Truman para recuperação
Vermelho tinham expulsado os nazis; aocontranodo que .acontece~a
da .Europa - a fazê-Io rapidamente. Os acontecimentos de Praga,
em qualquer outro pais do leste europeu, Tito não dependia do a?o~o
mais o bloqueio de Berlim, convenceram os beneficiários europeus
de Stalin para se manter no poder. Tentativas de submetê-lo à ortodoxia
da assistência econômica americana de que também precisavam de
do Cominform irritaram Tiro e, no final de junho de 1948, ele rompera
proteção militar, o que os levou a pedir a criação da Organização do
abertamente com Moscou. Stalin declarou que isto não o perturba-:a.
Tratado do Atlântico Norte, que comprometeu os Estados Unidos,
"Basta mover o minguinho e não haverá mais Tito. "46 Mexeram m~lto
pela primeira vez em sua história, com a defesa da Europa ocidental
mais do que um dedo na União Soviética e no m?vimento co~umsta
em tempo de paz. Suando Stalin, a contragosto, levantou o bloqueio
internacional diante desse desafio de um comunista ao Krernlin, mas
de Berhm, em maio de 1949, o Tratado do Atlântico Norte estava
Tito sobreviveu - e logo estava recebendo ~ssistência"econômica ~o:
assinado em Washington e a República Federal da Alemanha fora
Estados Unidos. O ditador iugoslavo podia ser um filho-da-mãe,
proc1~mada.em Bonn - outro resultado que Stalin não esperava. A
admitiu acerbamente o novo secretário de Estado americano Dean
heresia de Tiro permaneceu impune, demonstrando que era possível
-Acheson, em 1949, mas agora ele era o "nosso filh 0-d a-~ae. - "47
aos próprios comunistas conseguir um certo grau de independência
Enquanto isso, Stalin se envolvera n.uma av~ntura amd~ men~s
de Moscou. E não havia qualquer sinal de divergências entre os ca-
promissora: um bloqueio de Berlim. Ainda hOJ~ se~s mot~vos na~
pitalistas - ou da guerra entre americanos e ingleses _ que as ilusões
estão claros. Talvez, tirando proveito da dependência das linhas de
ideológicas de Stalin o tinham levado a esperar. Sua eS~lfatégiapara
.. suprimento através da zona soviética de ocupação, espe~asse forçar
tomar o COntrole da Europa do pós-guerra estava em ruínas ~ mais
americanos, ingleses e franceses a desocuparem seus respectivos setores por culpa dele mesmo.
da cidade dividida. Ou talvez desejasse desacelerar-lhes o esforço de
consolidar suas respectivas zonas, que provavelmente viriam a produzir VI
um poderoso estado alemão ocidental dentro do qual Moscou não
teria a menor influência. Pelo men~s assim parece em retrospecto. Mas não pareceu na época.
Qualquer que fosse a intenção, o bloqueio de Stali~ foi um :iro pe~a Em vez diSSO,os anos de 1949 e 1950 viram uma série de reveses
culatra igual a sua tentativa de enquadrar Tito. O: ~Iados oC1d~ntals aparentes do Ocidente, nenhum deles substancial o suficiente para
reverter o processo pelo qual os Estados Unidos e seus aliados tinham
improvisaram uma ponte aérea para a cldad~ sitiada, conq~lstan-
do, desta forma, a gratidão enfática dos berlinenses, o respeito da assumid~ a iniciativa na Europa, onde era realmente importante.
maioria dos alemães e um triunfo global de relações públicas que fez Quem Viveu estes eventos, contudo, não tinha como perceber. A
com que Stalin parecesse cruel e incompetente. "S a1arrartos,
LI' "
anotou eles pareceu que as vitórias que o Ocidente teve na Europa estavam
defensivamente o velho chefe num despacho diplomático so.b,reos ultrapassadas pela inesperada expansão da Guerra Fria, quase simul-
acontecimentos. "É tudo mentira (.. ) Não é um bloqueio, é uma taneamente, em diversos fronts cada vez maiores, sem perspectivas
favoráveis em nenhum deles.
medida defensiva. "48
Úefenslva pode Ler-sido, ruas 0 Cddtcr ofensivo desta e de outras O primeiro no domínio da tecnologia militar. Os americanos
medidas adotarias por Stalin em resposta ao Plano Ma.rshall terminou _.'!~peraram que se~_monopólio da bomba atômica durasse de seis a
aumentando, em vez de diminuir, os problemas soviéticos de seguraa- oito anos: daí a desproporcional vantagem em forças convencionais
do Exército Vermelho não os preocupar muito. "Enquanto pudermos

I.
34 História da, Guerra Fria
A volta do medo 35

produzir mais do que o mundo, pudermosconr.rolaromar e atacar


nrou o secretário de Unidos iriam e~ ~rente com o projeto da "superbomba." A opção a
em terra com a b 011, ba atorruca, come
,.;» . Defesa
que !ru~an reSIstlu por mais tempo foi a de expandir as forças con-
J ames Forres~al no final de 1947, "podemos assumir certos nscos que,
"49 A venoonars americanas, principalmente devido aos custos. Produzir
.
noutras circunstâncias, serram . .,.
tnacertaveis. premIissa -fundamental
mais bombas atômicas e até as de hidrogênio ainda era mais barato
do Plano Marshall fora que os Estados Unidos poderiam se concentrar
do que seria levar exército, marinha e força aérea ao nível aproximado
com tranqüilidade na reconstrução econ~mica da Europa, ~oster-
da Segunda Guerra Mundial. Truman, que esperava um "dividendo
gando qualquer expansão militar significa:l~a que procurasse Igualar
da paz" q~e lhe permitisse equilibrar o orçamento federal depois de
a capacidade soviética. A bomba dissuadiria os russos enquanto os
anos segUIdos de déficits, assumira gigantesco risco com a adoção do
americanos levantavam - e tranqüilizavam - os europeus. .
Plano Marshall, que comprometia os Estados Unidos com a aplicação
Todavia, em 29 de agosto de 1949, a União Soviética produ~lU sua
própria bomba. Stalin não autorizou qualque~ ~úncio público do de quase 10% das despesas anuais do governo na reconstrução da
teste bem-sucedido feito no deserto do Casaquistão, mas em poucos Europa. Sem dúvida, alguma coisa - solvência fiscal, fortalecimento
dias vôos americanos de vigilância, apenas recentemente começados, militar ou fazer reviver a Europa - teria de ser posta de lado: não era
possível cumprir todas estas prioridades e ainda fazer frente à nova
. detectaram precipitação radioativa, indicação inequívoca de que .ex-
ameaça à segurança criada pela ruptura atômica soviética.
plodira uma bomba atômica em território soviético. Surpreso por Isto
ter acontecido tão cedo, mas temendo vazamentos se tentasse ocultar a Uma segunda e simultânea expansão da Guerra Fria ocorreu na
evidência, o próprio Truman revelou a existência da primeira arma nu- Ásia oriental, onde em 1 de outubro de 1949 _ uma semana depois
0

clear soviética em 23 de setembro. O Kremlin então a confirmou. de Truman ter anunciado a existência da bomba atômica soviética _ o
Para os americanos, as implicações foram assustadoras. Sem o mo- vitorieso Mao Tse-tung proclamou a República Popular da China.
nopólio atômico, o governo Truman teria que pensar na e~pansã~ de A come~oraçã.o que ele tez na Praça da Paz Celestial (Tiananmen)
suas forças convencionais, talvez desdobrando parte delas em carater em Pequim assInalou o final de uma guerra civil entre nacionalistas
permanente na Europa, contingência não prevista no Tratado do e co~unistas chineses que atravessara quase um quarto de século.
Atlântico Norte. Teria de produzir mais bombas atômicas para manter O trIunfo de Mao surpreendeu tanto Truman quanto Stalin: eles
uma supremacia quantitativa e qualitativa sobre a U~SS' '. E ~iu~se a ach.avam q~e os nacionalistas, havia muitos anos sob a liderança de
considerar uma terceira e mais draconiana opção, cUJa existencia os ChIang Kal-s~ek, continuariam a governar a China após a Segunda
cientistas americanos só então revelaram a Truman: tentar fazer a Guerra .~undIal. ~enhum ~os dois previu que, quatro anos depois
chamada "superbornba" - bomba termonuclear.ou "de hidrogênio," da rendIçao do ]apao, os naCIOnalistas fugiriam para a ilha de Taiwan
na terminologia atual - que seria no mínimo mil vezes mais ~otente e os comunistas se aprestariam para governar a nação mais populosa
do mundo.
do que as armas que tinham devastado Hir~shim~ e ~agasaki.
Afinal, Truman aprovou as três alternativas. Sdenc!Osament~ ~u- Sig~ificava isso que a China seria agora um satélite soviético? In-
torizou uma produção acelerada de bombas atômicas: por ocasião fluenClados pelo que acontecera na Iugoslávia, Truman e seus assessores
do teste soviético, os Estados Unidos possuíam menos de 200 em acharam que não. "Moscou tem pela frente uma tarefa considerável
seu arsenal, insuficientes, segundo',,;~ estudo do Pentázono, para tentar pôr os comunIstas chineses sob seu controle absoluto" concl "
garantir a vitória sobre a União . C' . , .
00VICtlC;;'se ocorresse uma g uerr~ 50ct.,
uma anáiise do Departamento de Estado no final de 194'8, "se ~~:
Em seguida, em 31 de janeiro de 1950, anunciou que os Estados por outra, peÍa simpies razão de- que Mao Tse-túng~está encasteiado
no peder por quase dez vezes mais tempo que Til'o."5! Ambos, Mao
37
A volta do medo
36 História da Guerra Fria

invasão, aliados à sua determinação no sentido de mostrar suas cre-


e Tiro, de há muito dominavam seus partidos comunistas, ambos os
denciais revolucionárias e se igualar a Stalin como ditador, bastaram
tinham levado à vitória em guerras civis sobrepostas à guerra mundial
para fixá-Io firmemente no lado soviético. 54
e ambos tinh-am triunfado sem o auXílio dá União Soviética. Conside-
O anúncio de "ter lado," por sua vez, alimentou nos Estados Uni-
rando a inesperada vantagem decorrente do rompimento de Tiro com
dos o temor de que - ressalvada a posição de Tiro - o comunismo
Sralin, as autoridades americanas consolaram-se argumentando que a
internacional fosse realmente um movimento monolítico dirizido
D
"perda" da China para o comunismo não signi~cava u~ )anh~:' 'par:
por Moscou. Talvez Stalin pretendesse fazer da vitória comunista na
a União Soviética. Mao, pensavam, bem podena ser o Tiro asianco.
China sua própria "segunda frente" da Guerra Fria, caso sua estratégia
Em conseqüência, o governo não se comprometeu com a defesa de
na Europa não funcionasse. "Este governo chinês é realmente um
Taiwan, apesar da exigência do poderoso "lobby chinês" pr6-Chiang
instrumento do imperialismo russo," admitiu Acheson pouco depois
no congresso. Como disse o secretário de Estado Acheson, os Estados
que Mao assumiu o poder.P Não há provas de que Stalin tivesse tal
Unidos simplesmente "esperariam a poeira baixar."52
estratégia de longo prazo na Ásia, mas ele viu logo a oportunidade
Comentário imprudente, pois Mao não tinha a menor intenção de
aberta pelo êxito de Mao e procurou formas de explorá-Ia.
seguir o exemplo de Tiro, A despeito de ter conduzido seu movim~nto
A primeira iniciativa de Stalin, fora de seus hábitos, foi se desculpar
. com pouca ajuda de Moscou, o novo líder chinês era .um marx1st~-
com os camaradas chineses por tê-los subestimado: "Nossas opiniões
. leninista devotado, mais do que disposto à deferênCla com Sralin
n.e~ sempre estão certas," disse a uma delegação de Pequim que o
como chefe do movimento comunista internacional. A nova China,
V1Sltou em Julho de 1949. Em seguida, porém, propôs a "segunda
anunciou ele em junho de 1949, deve se "aliar à União Soviética (... ) e
frente" temida pelos americanos.
..". com o proletariado e as massas populares de todas as nações, formando

uma frente . al uruid a (... ) 'T'
internaClOn lemos que ter Ia d o. "53. Deve haver uma certa divisão de trabalho entre nós (...) A União
A motivação de Mao tinha a ver, inicialmente, com ideologia. O Soviétic~ não, pod.e (...) ter na Ásia a mesma influência que a posição
marxismo-Ieninismo lhe oferecia uma forma de ligar sua revolução proporcIOna a China (...) Do mesmo modo, a China não pode exercer
a mesma i~Buência que tem a União Soviética na Europa. Assim, para
à outra, que considerava a mais bem sucedida de toda a história, a
atender os interesses da revolução internacional (...)vocês podem assu-
revolução bolchevique de 1917. A ditadura de Stalin proporcionava mir maior responsabilidade no oriente (...)e nós nos responsabilizamos
outro precedente útil, pois era exatamente assim que Mao pretendia em maior grau no ocidente (...) Em síntese, esta é nossa inabalável
governar a China. Mao também se considerava traído pelos america- missão. 56
nos. Acolhera seus contatos durante a guerra, mas logo constatou que
Mao foi sensível e, em dezembro de 1949, fez uma longa viagem a
"tinham lado," o lado de Chiang Kai-Shek. quando continuaram lhe
Moscou - sua primeira fora da China - para se reunir com o chefe do
provendo assistência militar e econômica. Mao não percebeu que o
movimento .c~munista mundial, a fim de montarem uma estratégia
zoverno Truman o fazia com relutância, sob pressão do lobby chinês,
D comum. A VISIta durou dois meses e, ao final, resultou em um Tratado
mesmo depois de se convencer de que Chiang não venceria, O novo
Sino-Soviético - em linhas gerais análogo ao Tratado do Atlântico Nor-
chele chinês chegou à conclusão de que Truman preparava uma invasão
te assinado quase um ano antes - no qual os dois estados comunistas
da China concinenral para pôr os nacionalistas no poder, Preocupa-
_ , ~ • bili I d d i
nos curi!~<!.recü,nstruçac ca nurupa e aprce;-,~s!"?CS CO_~ 2. r}~ 10.10;:) » e e
se ~~~~lfJrometiam com o auxílio mútuo em caso de ataque.
1:'01exatamente neste momento - quando Mao estava em M~s~'
sua força militar convencionã.l, os supersolicitados americanos
não
' eJ' cou e Truman tomava a decisão de fazer uma bomba de hidrogênio
planejav;:un tal coisa. Mas os temores de Mao qua:lto a urna pOSSlV
39
A volta do medo
38
História da Guerra Fria

. os Estados traição nos altos escalões parecia além do plausível - até que, em 25
d . des casos de espiOnagem, um n .
-- que estouraram OISgran.:..... '71 de '~eiro,:o ex-funcionáno do de junho de 1950, a Coréia do Norte invadiu a Coréia do Sul.
Unidos e outro na Inglaterla . .r..m -: c} de nado por perjúrio ao
d E d Al er HlSS101 con VII
Departamento e sta ,o. gh 'do agente soviético durante o fim da
. mento que un a SI . lê A Coréia, como a Alemanha, foi ocupada em conjunto por forças
negar, so b )ura, . ,'. danos 40 TAres dias após , o governo mg es
década de 30 e o 101ClO os _ ,'. é Kl us Fuchs confessara ter soviéticas e americanas no fim da Segunda Guerra Mundial. A nação
. . al mao emigr , a ~ ,
revelou que um Clentlsta e d balhava no Projeto Manhattan fizera parte do império japonês 1910 e, quando a resistência
desde
espionado para os russos quan o tra japonesa subitamente desabou no verão de 1945, o Exército Verme-
durante a guerra. , não eram novidade. Ao longo da lho, que planejava invadir a Manchúria, viu caminho aberto também
Preocupações com esplOn~gem iética e por volta de 1947, para o norte da Coréia. Ao sul, a porta também se abriu para algumas
al - s de espIOnagem sovieuca c.
guerra h ouve egaçoe ara lançar um programa de con- tropas americanas cuja missão original fora invadir as ilhas japonesas,
Trurnan preocupava-se o bastante p Mas não houvera confirmação Portanto, a península foi ocupada mais por acidente que por intento:
, d "1 aldade" em seu governo. o que provavelmente explica o fato de .Moscou e \iVashington entrarem
rrote e e
d . a em, ate'quase estourarem
simultaneamente
.
clara de casos e esplOn g fi _ d F chs Não precisou muito sem maior dificuldade em acordo a respeito de o paralelo 38°, que
(" ., - d H' e a con ssao e r-ucns-
t a condenaçao e lSS b cisão como se viu - que cortava a península pela metade, servir de linha de limite à espera de
.- 1 . - com astante pre . ,
.' esforço par.a se conc UI~.
os espiões unham permlt1do, a
'União Soviética chegar tão rapidamente
bé facilitado a vitória de Mao
um governo coreano
As retiradas aconteceram
único e da retirada das forças de ocupação.
em 1948-49, mas não houve acordo so-
A' 57 Tenam tam em,
b b
à sua om a atoffilca, . ' , desastrosos demais para se bre qUem governaria o país, que continuou dividido. A República da
. hi ? O·s acon teClmentas _pareCIam
'. na C 11Oa. d ' : do governo, Coréia, apoiada pelos americanos, controlava o sul, resultado de uma
, idê 'a No pensamento ecntLCOS
. pensar em mera C010CI enCl . , eleição sancionada pela ONU, enquanto a República Democrática da
r d ontos começoU a se conectar.
um perturbado r numero e? _ d foi o senador Joseph Coréia, apoiada pela União Soviética, controlava o norte, onde não
O vetor mais visível de hgaçao os P:ttoS do Wisconsin que, houve eleição. A coisa comum aos dois países era uma guerra civil, cada
repu
McCarthy, um até então obscuro b lC:~s~ãO de como a União lado afirmando-se governo legítimo e ameaçando invadir o outro.
em fevereiro de 1950, come~ou a ate r a q b tômica quando os Mas nenhum podia fazê-lo sem o apoio de uma superpotência. Os
,, . , ;. - pldamente a bom aa ,
Soviéuca conseguira tao ra id A resposta, americanos negaram apoio aos aliados sul-coreanos, principalmente
, . China com a mesma rapi ez.
comunistaS dom1Oa~am,a d 1," do Clube Republicano de Mu- porque o governo Truman decidira abandonar todas as posições no
1 - ante a lOuslta a platela , . . di continente asiático e se concentrar na defesa de pontos-fortes insu-
acusou e e V' .' "não se devia ao inimigo inva Ir
lheres de Wheeling, West ldrgll1l~,_ na eles ( ) que desfrutavam lares como o Japão, Okinawa e as Filipinas, embora não de Taiwan.
. . e tralçao d aqu ...
nossas praias, mas aos a~os 'rl'c"a da terra tinha a oferecer, as me- O presidente da Coréia do Sul, Syngman Rhee, muito tentou em
d os b ene f"IClOS que a nacao ,
mais
.' ári e os melhores empregos
.
Washington apoio para sua ambição de libertar o norte, bem como
lh . educação unlverslt na .
lhores casas, a me or. , 'os meses seo-uintes tentou o general Douglas MacArthur, comandante das forças de ocu-
" "58 O overno Trumau passou van te>
no gov~rno. _g ~ _ s de lv1cCarthy, qUê começavam a perder pação americanas no Japão, mas nunca conseguiu. Uma das razões
respondendo as acus,~ç,oe. ~ rp,,"'! "-:-:~;;v~ de~esper8rl:lmente . para os americanosretirarem suas tropas da Coréia do Sul foi, aliás, o
i:b"'d- do à mecica que v 0~u~-,,)j L~___ • d
crecu 111 a c, , • 'pianação alezan o temor de que o imprevisível Rhee ~~s-clvesse "marchar rumo ao norte"
:. 'fi-' _I
ca as. . . Por piores que fossem as coisas, uma ex t>
)1.LSU e arrasrá-los a uma guerra que não desejavarn.t?
41
A volta do medo
40
História da Gueria Fria.

Estes foram os fatos que levaram à invasão da Coréia do Sul pela


o congênere norte-coreano de Rh~e,~Ki~:n.,Su~~;tinha pr~!~t~ do ~orte. O que .Stalin não previu foi o inesperado ataque ter pro-
izual em relação ao sul e, por algum-tempo, viveu a mesma expe:ledn duzido nos americanos um choque tão grande quanto o de Pearl
b - . - M ito tentou o apoio e
cia com a superpotênCla que o ~parav~. Uí,. - " __- " _ . Harbor nove anos antes e seu efeito na estratégia de Washington ser
'militar:'á'fiJ:il>de'umficar'a, Corela e teve
Moscou para uma campan ha _ d pelo me.nos tão profundo. A Coréia do Sul em si era de pequena im-
sua proposta sempre rejeitada - até j:meiro de 1950, quan. o novo por~âncla para o equilíbrio global de poder; mas o fato de ser invadida
pedido recebeu resposta maisencorapdora; o que fez a dlf~rença, de forma tão acintosa - violando o paralelo 38°, limite sancionado
parece, foi a convicçã? de Stalin de que agora e~a possível abnr uma pela ONU - parecia desafiar toda a estrutura de segurança coletiva
"segunda frente" na Asia oriental por p~?~uraçao, atenuando,~ desta do pós-guerra. Foi um acontecimento exatamente assim que fizera
forma, possíveis riscos para a União SovletlCa e seu;-sofrer ~eaçao dos desmoronar a .ordem internacional nos anos 30, levando à Segunda
, Afinal eles não tinham tomado qualquer atltude para
amencanos. , Guerra Mundial. Truman não tinha muito que pensar para decidir
salvar os nacionalistas chineses e, em 12 d~ janeiro de 19~?, o,secre- o que fazer: "Não podemos abandonar as Nações Unidas," aíirmou
tário de Estado Acheson já anun~iara p~bhcamente que ~ penm~tro repetida~ v.ezespara seus assessores.f Seu governo levou poucas horas
de defesa" americano não incluía a Coréia do Sul. Stal~n le~ cuida- para decidir que os Estados Unidos defenderiam a Coréia do Sul e o
eses
dosa~ente o discurso, assim como, por cortesia de e~plões mgl , fariam não apenas no exercício da própria autoridade, mas também
o esnído ultra-secreto do Conselho de Segurança Nacional no qual o
sob mandato das Nações Unidas.
discurso se baseara, e autorizou seu ministro do Exterior Mol~t;~ a Pôde agir tão rapidamente por duas razões. Primeira, havia um
discutir o assunto com Mao Tse-tung. Em seguida, o líder s~v!et1co
e~ército ,a~ericano disponível nas vizinhanças, ocupando o Japão,
, c Kim I1-Sung que "de acordo com informação recebida dos
InlOrmou . -- circunstancia que Stalin parece ter desprezado. Segunda - outro des-
Estados Unidos (...) o ambiente que prevalece é o de não intervlr.'-
cuido de Sralin - não havia representante soviético no Conselho de
Kirn, por sua vez, assegurou a Sralin que "a ofensiva será arrasadora e
Segurança para vetar a deliberação da ONU: ele fora retirado alguns
di . "60
A

ganhamos a guerra em tres Ias. r •


meses antes em protesto contra a recusa da organização em admitir
A "luz verde" de Sralin para Kim Il-Sung fez parte de uma estrateg~a
como ~emb~os os comunistas chineses. Com aprovação da ONU, a
mais ampla, destinada a aproveitar as oportunidades surgidas ~a Ás~a
comunidade internacional se mobilizou em poucos dias para enfren-
oriental que discutira com os chineses. Logo a.pós.endo~sar a l~vasao
tar a nova ameaça à segurança internacional, embora não fosse esta a
da Coréia do Sul, também encorajou Ho Chi Mmh a mtel1S1ficara
reação prevista por Moscou.
ofensiva do Viet Minh contra os franceses na lndochina. Vitórias em
Aliás, a reação quase fracassou. As tropas americanas e sul-coreanas
ambas as áreas manteriam a impulsão gerada pelo êxito de Mao no
f~ram ob:igadas a recuar até o extremo sudeste da península e pode-
ano anterior. Compensariam os reveses sofridos pela União Soviética
nam ter SIdo totalmente evacuadas não fosse uma brilhante manobra
na Europa e o esforço cada vez maior e óbvio dosamericano~ para
mil:tardo comandante das forças das Nações Unidas, o general Mac-
incluir o Japão em seu sistema de alianças militar.es. do pós-!Suerra.
Art:l~r, surPTreendendo os norte-coreanos com audacioso desembarque
Uma vantagem especial desta estratégia era não exigir env?lvlme~t:
a~ft.bl~ em Inchou, pr?ximo a Seoul, em meados de setembro. Logo
soviético direto. Os norte-coreanos e o Viet Minh tomanam a 1111-
uni~Lh.. L'-l -" - resnectivos
..,-,-::.~.',1.J oaíses.•. Os . ele l~,O.OU o exército__ norte-coreano
,",~_ paralelo 38° e SI'~as
ao sul do __
Clat1Va~ atuando soo u 1:JicreÁ.lo'.
o • -- , ,_ • - - ~ Q
.1. ••.•. 1..l y---~' ~'--r"
1 ••••.

tro~:s a~ançaram sem ~posição na Coréia do Norte. Abalado por essa


chineses, ainda ansiosos por legitimar sua revolução pela aprovação
G1 sequencra dos acontecimentos, Stalin estava a ponto de aceitar uma
de Scalin, desejavam dar ~oJo apoio, se e quando necess;Írio.

J
42
História da Guerra Fria

guerra perdida e até mesmo a perspectiva de os americanos ocuparem


a Coréia do Norte, que confrontava diretamente com a China e a A GUERRA DA CORÉIA
1950 - 1953 .
União Soviética. "E daí?" - comentou aborrecido. "Que seja. Deixem
os americanos serem nossos vizinhos. "63 ...•
Mas faltava saber o que fariam os chineses. Mao tinha apoiado a
invasão da Coréia do Sul e mesmo antes do desembarque em Inchon
- que ele previra, alertando Kim Il-Sung para que se aprontasse para INTER.VENÇÁQ CHINESA
Our !950
enfrenta-lo - começara a movimentar tropas da costa chinesa frente
a Taiwan para a fronteira da Coréia do Norte. "Não podemos falhar
no apoio aos coreanos," disse a seus assessores no início de agosto.
"Temos de dar-lhes a mão mandando voluntários. "640 governo de
Washington ficou preocupado com a possibilidade da intervenção
chinesa e, por esta razão, Truman expediu ordem para que MacArthur
> não avançasse até o rio Yalu, limite sino-coreano.
',' . Entrementes, o Departamento de Estado, através de inúmeros
intermediários, procurava dissuadir os chineses levantando a pers-
pectiva de tremendas baixas. Por certo tempo, Mao teve dificuldade
em persuadir seus próprios assessores de que era preciso intervir,
fato que levou Stalin, no começo de outubro, a dizer a Kim Il-Sung
que seria necessário evacuar totalmente a Coréia do Norte. Porém,
pouco depois, prevaleceu a posição de Mao, permitindo-lhe informar
russos e norte-coreanos que logo os chineses estariam chegando em
socorro.F'
Assim foi que, no fim de novembro de 1950, uma vez mais dois
exércitos confrontavam-se no corte de um rio - com uma cautela que
desta vez não se dissolveu em vivas, apertos de mão, brindes, danças
e esperanças. "Pensei que tínhamos vencido a guerra," recorda um
oficial americano. "Chegou o Dia de Ação de Graças e tivemos todos
os pratos (...) que temos em casa. (...) Estávamos nos aproximando do
rio Yalu e isso queria dizer que {amos voltar para casa. "66 Acontece que
o exército no outro lado do rio tinha outras idéias. Seu comandante,
Mao Tse-tung, comentara com Sralin: "Vamos decidir o conflito (co-
reano), isto é, destruir as fOiÇ;"l~.; 2.~!.!.~.::·_:cê.i1as
na Coréia .ou expulsá-Ias,
assim como as de outros países agressores."G7 Em 26 de novembro,
cerca de 300 mil chineses começaram a cumprir este compromisso
44 História da Guerra Fria A volta do medo 4)

com ataques em sucessivas ondas h umanas, ao roque de cornetas,


levando todas as vantagens do fator surpresa. Dois dias depois Mac- Mas a visão de Orwell pelo menos presumia um futuro, desanima-
Arrhur informou junta de Chefes de Estado-Maior: "Esrarnos numa
à

dor como fosse. Kennan, no início de 1950, temia que não houuesse
guerra totalmente nova. "(,~
u~mfuturo. Num ~e.morando ultra-secrem que fez para o governo
VIII 1ruman - e que fOI Ignorado - ele disse que historicamente o uso
da força sempre fora "outro meio que não a guerra para um fim (...)
A vitória na Segunda Guerra Mundial, portanto, não gerou qualquer um fim que pelo menos não renegue o próprio princípio de vida."
sensação de segurança nos vencedores. Em fins de 1950, nem os Mas bo~~as atômicas e bombas de hidrogênio não guardavam esta
Estados Unidos, nem a Inglaterra e tampouco a União Soviética po- caractenst!ca:
diam considerar que as vidas e os recursos despendidos para derrotar
Alemanha e Japão os tinham tornado mais seguros: os membros da Elas retroc~dem para além das fronteiras da civilização ocidental,
Grande Aliança eram agora adversários na Guerra Fria. Os interesses para os conceitos de guerra em certa época familiares às hordas asiáti-
afinal eram incomparíveis: as ideologias se conservavam no mínimo cas. Realmente não podem se ajustar a um propósito político voltado
tão polarizadoras quanto antes da guerra; temores de um ataque de para a modelagem e não para a destruição da vida do adversário. Não
conseguem levar em consideração a responsabilidade final do homem
surpresa continuavam a inquietar os militares em Washington, Londres
pelo seu s~melhante e até mesmo pelos erros e equfvocos uns dos ou-
e Moscou. Urna competição pelo destino da Europa no pós-guerra
tros. Imp!lcam n~ admissão de que o homem não só pode ser mas é
agora se estendera à Ásia. A ditadura de Stalin permanecia tão cruel- e seu próprio e mais terrível inimigo. '
dependente de expurgos - quanto sempre fora; mas.com o surgimento
do rnacarthisrno nos Estados Unidos e diante de provas irrefutãveis de A lição, insistiu Kennan, vinha de Shakespeare:
que houvera espionagem nos dois lados do Atlântico; não estava muito
claro se as democracias ocidentais poderiam preservar a tolerância com Power into will, wi/l into appetite
dissidências e o respeito pelas liberdades civis que as distinguiam dos And appetite, a universal wolf,
ditadores, fossem das variedades fascista ou comunista. 50 doubly seconded with wi/l and pou/er;
"A verdade é que em cada um de nós, bem no fundo, em algum Must make perforc« a universal prcy
lugar, existe uma pequena dose do totalitário," disse Kennan aos es- And last eat himself up, 71
tagiários do National War College em 1947. "É a luz estimulante da
confiança e da segurança que mantém este gênio do mal submerso (.. ) o poder em vontade, a vontade em ambição
Se desaparecerem a confiança e a s egurança, não pensem que ele não E a ambição. lobo univcrsal,
Duplamenrc acompanhada de vontade e de poder.
estará esperando para substituí-Ias. "ú~ Este alerta partido do criador da Precisa fazer uma vírima
estratégia da contenção - de que o inimigo a ser contido podia facil- E, por fim, se aurodevorar.

mente estar tanto entre os benefici ários da liberdade quanto entre seus (Troi/IIS and Crvssida, 10 .IIG, 1.:«:11;1 J)

inimigos - demonstrou o quamo se difundira o medo numa ordem


internacional de pós-guerra na qU2J se depositavam tantas esperanças.
Isto ajuda i'explicar por que o livr-o lSü4 de 0,,,,,;::11 se tcr.iou sucesso
literário instantâneo quando tôi p-ublicado em 1949.7°

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