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ISSN: 2359-1072
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Conselho Editorial
Prof. Dr. Wagner Pinheiro Pereira (Editor Chefe) — Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Instituto de História (IH), Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
Prof. Ms. Leandro Couto Carreira Ricon (Editor Executivo) — Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto de História (IH), Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
Prof.ª Ms. Priscila Henriques Lima — Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ),
Departamento de História, Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
Conselho Consultivo
Nacional:
Prof. Dr. Alexander Martins Vianna – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ)
Prof. Dr. Alexandre Busko Valim — Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Prof.ª Dr.ª Ana Paula Torres Megiani — Universidade de São Paulo (USP)
Prof. Dr. Antônio Pedro Tota – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-
SP)
Prof. Dr. Carlos Alberto Sampaio Barbosa – Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP/Assis)
Prof. Dr. Flávio Vilas-Boas Trovão – Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)
Prof. Dr. Francisco Cabral Alambert Júnior — Universidade de São Paulo (USP)
Prof. Dr. José D’Assunção Barros — Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ)
Prof.ª Dr.ª Maria Helena Rolim Capelato — Universidade de São Paulo (USP)
Prof.ª Dr.ª Mariana Martins Villaça — Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Prof.ª Dr.ª Mary Lucy Murray Del Priore — Universidade Salgado de Oliveira
(UNIVERSO)
Prof. Dr. Osvaldo Luis Angel Coggiola — Universidade de São Paulo (USP)
Prof.ª Dr.ª Priscila Ribeiro Dorella — Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Profa. Dra. Yone de Carvalho — Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-
SP)
Prof. Dr. Pere Gallardo Torrano — Universitat Rovira i Virgili / Universitat de Lleida
A Revista Poder & Cultura é uma iniciativa que nasceu dos cursos, produções
historiográficas e debates realizados pelos pesquisadores do Laboratório de Estudos
Históricos e Midiáticos das Américas e da Europa (LEHMAE), coordenado pelo Prof.
Dr. Wagner Pinheiro Pereira (IH/UFRJ), desde o ano de 2011. Demarcando seu campo
de investigação na pluralidade de experiências históricas travadas pela relação entre
Poder e Cultura, a Revista pretende ser um canal de expansão da temática e de
divulgação de artigos, resenhas, entrevistas e ensaios de crítica histórica, estando aberta
a abordagem de questões e conceitos acerca de todos os campos disciplinares,
especialidades, períodos e temas históricos.
(Veyne, 1989:33)
***
*
Doutor em História Social (FFLCH-USP). Professor Adjunto de História da América no Instituto de
História e no Programa de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (IH/PPGHC-UFRJ).
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1
No livro La Razón de Mi Vida (A Razão de Minha Vida), Eva Perón faz a seguinte distinção: “Lembre-
se, mais, que eu não era apenas a esposa do Presidente da República. Era também e, acima de tudo, a
mulher do condutor máximo dos argentinos. À dupla personalidade de Perón devia por força
corresponder em mim uma dupla personalidade: uma, a de Eva Perón, mulher do Presidente, a quem
incumbe uma tarefa simples e agradável de dias festivos, de honrarias, de funções de gala; a outra, a de
‘Evita’, mulher do Líder de um povo que nele depositara toda a sua fé, toda a sua esperança, todo o seu
amor. Somente uns poucos dias ao ano represento o papel de Eva Perón. E creio que desse papel, porque
simples e agradável, me desincumbo cada vez melhor. Em compensação, toca-me, os mais dos dias,
desempenhar o papel de Evita, primeira peronista argentina, ponte estendida entre as esperanças do
povo e as mãos realizadoras de Perón. E esse sim, é-me deverás difícil, ao ponto de que nunca me sinto
totalmente satisfeita do modo por que o desempenho... Quando escolhi o papel de ‘Evita’, fí-lo
plenamente consciente de estar optando pelo caminho do povo... Ninguém, a não ser o povo, me chama
de Evita. Somente os descamisados aprenderam a me chamar assim... De resto, eu própria me apresentei
assim, no dia em que saí ao encontro dos humildes do meu país, alegando que ‘preferia ser Evita a ser a
esposa do Presidente da República, desde que, sendo Evita, pudesse mitigar uma dor ou enxugar uma
lágrima...’[...] Sim. Confesso que tenho uma única ambição, uma única e grande ambição pessoal:
quisera que o nome de ‘Evita’ ficasse inscrito para sempre na história de minha pátria. Quisera que dela
se dissesse, numa pequena nota inscrita ao pé do capítulo maravilhoso que a história certamente
dedicará a Perón, algumas poucas palavras: ‘Houve junto a Perón, uma mulher que foi o veículo das
esperanças do povo, que Perón mais tarde convertia em realidades...’ E me sentiria sobejamente
compensada se essa pequena nota terminasse assim: ‘Dessa mulher sabemos apenas que o povo a
chamava carinhosamente de: ‘Evita’”. PERÓN, Eva. A Razão de Minha Vida. Rio de Janeiro: Edições
Freitas Bastos, sd., pp.87-88; 90-91 e 94.
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Tendo-se em mente a importância política e cultural que Eva Perón possui em seu
país, o presente texto pretende realizar uma análise da representação de Eva Perón e da
Argentina peronista apresentada no filme Eva Perón – A Verdadeira História (Eva
Perón: La Verdadera Historia, dir. Juan Carlos Desanzo, Argentina, 1996). Este filme
argentino, realizado como uma resposta ao filme americano Evita (Evita, dir. Alan
Parker, EUA, 1996), configura-se enquanto fonte para a análise acerca das controvérsias
do Mito Eva Perón e do período peronista na cultura midiática contemporânea: Eva
Perón – A Verdadeira Historia é um exemplo de como na Argentina, Eva Perón tem
sido tema de alguns filmes de estilo documentário, marcados pelo realismo e por certa
solenidade para com a inesquecível heroína. Nele, vemos uma Eva Perón combativa,
hábil líder política e condutora de massas, sendo também a Eva da renúncia e da agonia
2
Evita fez a seguinte avaliação sobre a sua carreira artística: “No cinema, má; no teatro, medíocre; no
rádio, passável”. O seu papel político, no entanto, teria outra qualificação. Cf. NAVARRO, Marysa.
Evita. Buenos Aires: Corregidor, 1981. p.78.
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EVA PERÓN: A greve contra o governo peronista é uma greve contra o movimento
operário. Uma greve contra vocês mesmos! Ouçam bem, companheiros, quem faz greve é um
carneiro da oligarquia! Entendam bem, companheiros! ... Não sei se quero dizer ‘carneiro’ da
oligarquia.... Procuro outras palavras mas não encontro. Greve contra Perón é antipatriótico!
EVA PERÓN: Não. Isso não é justo. E há muitas coisas que ainda não são justas. Os
salários serão aumentados para 500 pesos, eu juro. Mas também juro que só faremos isso, se
suspenderem essa greve rapazes! .... Mas companheiros, estamos só falando de salários, o que é
que há? E a moradia? E os direitos sociais? E as aposentadorias e as férias pagas? Como é
companheiro? Já se esqueceram disso? Quem lhes deu tudo isso? ... Foi Perón! E contra Perón
estão fazendo essa greve? O que teriam se tivesse ganhado a União Democrática? Menor salário
e nenhuma conquista social! Comeriam lixo, lixo da oligarquia!
EVA PERÓN: Então, entenda. Eu e Perón esperamos coisas dos peronistas. Antes de
tudo, que não nos façam greves e que não deem mau exemplo aos companheiros. Não queremos
greves na Argentina de Perón! Está Claro!
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EVA PERÓN: Sim. Socialista dos puxas-sacos, da oligarquia e do ianque Braden! Dos
canalhas da União Democrática! Ouça-me bem, na Nova Argentina quem defende os operários
é Perón, e quem é contra Perón, está contra os operários por mais socialista que se diga!
EVA PERÓN: Não te permito nada... Sabe quem defende esta greve, companheiro
socialista? O jornal La Prensa! O que houve? Viraram socialistas os Gaunza Paz, que esbanjam
grana quando vão para Europa? Ou será que certos operários, obtusos como você, estão fazendo
o jogo dos inimigos do povo? Uma greve operária apoiada pelo jornal da oligarquia. Onde já se
viu isso? Só idiotas caem nessa, companheiro!
EVA PERÓN: Sim, claro que começou! Mas com projetos que passaram anos nas
gavetas do congresso. Nós os tornamos leis! Desafiamos a oligarquia, metemos medo e
ensinamos a respeitar os operários! E vocês nos fazem uma greve! Por 200 pesos de droga!
EVA PERÓN: Sim, são! 200 pesos ao lado da política social do peronismo, ao lado do
amor do General para seu povo, são droga. Suspendam esta greve. A greve tem de ser suspensa!
Entendem? Está não é uma greve operária. Por última vez, companheiros, suspendam esta
greve! Depois não digam que não avisei. Se tivermos que ir pro pau, vamos pro pau,
companheiros. Caia quem caia e custe o que custe!
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Tendo êxito em sua missão, Cooke faz as seguintes considerações à Eva Perón:
“Nossos inimigos enchem a boca com a palavra democracia. Mas acho que se nos
derrubarem, não serão muito democráticos conosco. Senhora, Apold e eu coincidimos em
querer fechar o jornal La Prensa. Ele quer fazê-lo porque quer o peronismo como ditadura. Eu
quero que o peronismo seja uma revolução. Perguntou se é ditadora, como dizem seus
inimigos. Ouça-me bem, senhora: Se uma ditadura é uma revolução, se justifica. Se não é uma
revolução, então é uma ditadura e nada mais. Apenas isso, lamentável isso”.
A cena seguinte retrata uma conversa de Perón com Eva, no jantar, onde ela
explica a sua razão de querer ser vice-presidente:
EVA PERÓN: É uma jogada política minha. Política e pessoal. Sobretudo pessoal.
EVA PERÓN: Minha mãe levou-nos ao velório e nos barraram. Aí, surgiu uma chata,
filha legítima do meu pai... Gritava como louca: ‘Com que direito!?!’... Você pode imaginar?
Comigo sempre foi assim: ‘Com que direito esta atriz de segunda categoria anda com o Coronel
Perón?’, ‘Com que direito acompanha-o aos desfiles de 9 de julho?’, ‘Ao Teatro Cólon no 25 de
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Todavia, Perón ao ser perguntado se iria apoiá-la, respondeu apenas que ela
continuasse fazendo seu jogo, pois não havia sido a ele que ela doutrinou na Escola
Superior Peronista, mas sim aos outros, então era deles que ela deveria buscar o apoio.
Uma Lição Peronista: Eva Perón ministrando curso na Escola Superior Peronista.
EVA PERÓN: Vocês se perguntarão: ‘Por que outra vez o mesmo?’, ‘Por que insisto
em falar-lhes sobre a ética peronista?’ É muito simples, companheiros. Porque ainda há
peronistas no afã de obterem privilégios, mais parecem oligarcas do que peronistas. Quero
dizer-lhes, e o que digo é com a paixão de peronista e de mulher, que o peronismo que nasceu
no dia 17 de outubro, é uma vitória do povo contra a oligarquia! Vou dar-lhes um exemplo. O
funcionário que serve-se do seu cargo é oligarca! Não serve ao povo, serve a sua desmesurada
ambição! Esses não são peronistas, são oligarcas! Ídolos de barro! A oligarquia que derrotamos
em 17 de outubro está morta! Ou está agonizando nos estertores do fracasso! Por isso, tenho
mais medo da oligarquia que possa haver entre nós! Do que ela possa fazer cotidianamente! A
cada dia entre nós! Perdão. Perdoem-me, que eu insista tanto com isso. Mas quero que levem
isso profundamente gravado no coração. É fundamental para o nosso movimento! É
fundamental que os peronistas não destruam o peronismo!
A relação direta e carinhosa de Santa Evita com os descamisados na Fundação Eva Perón.
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O primeiro encontro entre Juan Domingo Perón e Eva Duarte durante o espetáculo
beneficente para socorrer as vítimas do terremoto de San Juan.
3
Pertencer ao povo não dependia, para o peronismo, da condição social ou profissional. Neste sentido,
por exemplo, ao propor como modelo do povo argentino o descamisado, o peronismo retirou o sentido
pejorativo do termo, elevando-o a condição de “amigo do líder”. Genericamente descamisado significava
povo / massa, mas no peronismo o termo tornou-se mais preciso e revelou-se com clareza na afirmação de
Eva Perón: “Para mim os trabalhadores, homens e mulheres, são sempre, e antes de tudo, descamisados.
E, o que são, para mim, os descamisados? Não posso falar deles sem que venha a minha memória os dias
de minha solidão em outubro de 1945. [...] Descamisados foram todos os que estiveram na Plaza de
Mayo em 17 de Outubro de 1945; os que cruzaram a nado o Riachuelo, vindos de Avellaneda, da Boca e
da Província de Buenos Aires, os que em colunas alegres, mas dispostos a tudo, inclusive a morrer,
desfilaram naquele dia inesquecível pela Avenida de Mayo e pelas diagonais que conduzem à Casa do
Governo, fizeram calar a oligarquia e a aquele que disse “yo no soy Perón”; os que todo o dia
reivindicaram a presença do Líder ausente e prisioneiro; os que acenderam fogueiras com os jornais da
La Prensa que havia se vendido a um embaixador estrangeiro por trinta moedas, ou talvez menos! Todos
os que estiveram naquela noite na Plaza de Mayo são descamisados! Ainda se houve ali alguém que não
o fosse, materialmente falando, um descamisado, esse ganhou o título por ter sentido e sofrido naquela
noite com todos os autênticos descamisados; e para mim, esse foi e será sempre um descamisado
autêntico. [...] Para mim, descamisado é aquele que se sente povo. É importante que nos sintamos povo,
que amemos, soframos e nos alegremos como faz o povo, embora não nos vistamos como o povo,
circunstância puramente acidental. [...] Nem todos os descamisados são trabalhadores, mas para mim,
todo trabalhador é um descamisado; e eu jamais esquecerei que a cada descamisado devo um pouco da
vida de Perón”. Através dessa definição de Eva Perón conclui-se que descamisado é sinônimo de
peronista. PERÓN, Eva. La Razón de Mi Vida. Buenos Aires: Ediciones Peuser, 1951. pp.115-117.
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EVA PERÓN: Companheiros, pelo carinho que nos une! Eu lhes peço, por favor, não
me façam fazer o que não quero fazer! Peço a vocês como amiga, como companheira, que se
desconcentrem. Companheiros, quando Evita lhes enganou?
EVA PERÓN: Eu só lhes peço uma coisa, que esperem até amanhã!
JUAN D. PERÓN [discretamente para Eva]: Diga que sim, sem dizer sim!
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EVA PERÓN: Companheiros, o mínimo que posso pedir é que me deem, ao menos,
quatro horas para anunciar minha decisão pelo rádio a todo país!
EVA PERÓN: Companheiros, como diz o Coronel Perón: farei o que diga o povo!
Após essa grande concentração, Juan D. Perón encontra-se com Eva e discutem
o que foi decidido na Reunião de Gabinete. Neste momento, Perón explica para Eva os
motivos que impossibilitaram-na de aceitar o cargo de vice-presidente. Não somente os
militares não aceitaram, mas, principalmente, Eva havia sido derrotada pelo câncer.
Incontrolável, Eva entra em pânico e desesperada quebra um espelho, gritando que não
queria se ver morrendo.
Mais tarde, renuncia sua candidatura pelo rádio, com as seguintes palavras:
A preservação da imagem: A doença não impediu Eva Perón de continuar mantendo uma
preocupação constante com a sua beleza e aparência física.
As últimas cenas do filme apresentam uma Eva Perón, que mesmo doente e
fraca, mantêm-se combativa e preocupada com Perón e com o destino da Argentina.
Para Perón, expressa seu imenso desejo de poder votar nele e se pudesse nela também; e
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Os últimos conselhos políticos de Evita: A doença não impediu Eva Perón de continuar
atuando – mesmo que nos bastidores – politicamente. Temendo o enfraquecimento político
peronista ou um golpe militar, a principal preocupação de Eva Perón era planejar uma
forma de proteger a manutenção de Perón no poder após a sua morte.
Enquanto a oposição faz a festa com a doença de Eva, escrevendo nos muros,
“Viva el Cancer!”, Eva fazia um de seus últimos discursos, carregado de tom agressivo:
O último discurso público de Eva Perón em 17 de Outubro de 1951: Eva Perón debilitada
fisicamente precisa ser amparada e segura pela cintura por Juan D. Perón.
EVA PERÓN: É o povo humilde da pátria que segue e seguirá Perón. Porque Perón
levantou a bandeira da redenção e da justiça, das massas trabalhadoras! Por isso, o povo o
seguirá contra os traidores de dentro e de fora! E eu peço a Deus que não permita a esses
insensatos, levantar a mão contra Perón! Porque aí desse dia! Porque nesse dia, meu General, eu
sairei com os descamisados da pátria, morta ou viva, para não deixar em pé, sequer um tijolo
que não seja peronista!
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Celebração peronista nas ruas: Eva Perón acompanha Juan Perón na posse de seu
segundo mandato presidencial.
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O martírio de Santa Evita: Agonia e revolta de Eva nos momentos finais de sua vida.
Nos momentos finais de sua vida, Eva faz seu último pedido a Perón,
advertindo-o a nunca abandonar os pobres, pois eles são os únicos que sabem ser fiéis.
O cinema nos faz ter saudade de Evita no próprio processo de ungi-la com
uma auréola de arte e santidade, por meio do registro fotográfico. Evita em
cores distancia-se do real, é como um suvenir do suvenir. As décadas e os
piores avatares políticos arrasaram seu legado. Sobraram três sílabas, logo
para ela, que empreendeu sua saga pessoal de nomes próprios: a conquista
do sobrenome do pai, a conquista do sobrenome do marido e, com este, todo
o poder. Uma vez conquistados, preferiu perdê-los para ter seu verdadeiro
nome e, assim, dever toda a glória a si mesma. Evita, um diminutivo no
tempo. Os heróis populares não têm sobrenome nem biografia. Eles os
28
BIBLIOGRAFIA:
ELIA, Tomás de. & QUEIROZ, Juan Pablo. Evita: An Intimate Portrait of Eva
Perón.Nova York: Rizzoli, 1997.
DECHANCIE, John. Os Grandes Líderes – Perón. São Paulo, Nova Cultural, 1987.
_________. O Poder das Imagens: Cinema e Política nos Governos de Adolf Hitler e
Franklin D. Roosevelt (1933-1945). São Paulo: Alameda, 2012.
______. A Razão de Minha Vida. Rio de Janeiro: Edições Freitas Bastos, s.d.
***
*
Graduado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é mestrando do
Programa de Pós-Graduação em História Comparada (PPGHC/UFRJ). É professor da educação básica.
30
1
Também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança, Guerra Grande e Maldita Guerra.
2
Francisco Solano López também é chamado de López II, devido ao seu pai, Carlos López. Para este
trabalho esta distinção não se faz necessária – López se refere a Solano.
3
Brasil, Argentina e Uruguai formaram a Tríplice Aliança, contra o Paraguai.
31
4
Esta é uma das questões mais polêmicas da guerra e explicita o quão difícil é trabalhar com o tema. Os
números variam, chegando a apresentar diferenças exorbitantes, isto se deve à falta de dados confiáveis
acerca do tamanho da população paraguaia antes da guerra. O historiador brasileiro Francisco Doratioto
faz um balanço dos números apresentados por autores e sua pesquisa estipula que a população Paraguai
antes do confronto girava em torno dos 450 mil habitantes, havendo uma redução de 60% a 69% com a
guerra. Algo bem distinto do apresentado por Chiavenatto, que desenvolve a tese de que a população
paraguaia girava em torno de 800 mil pessoas e que ao término da guerra, apenas 194 mil habitantes,
sendo estes na maioria mulheres e crianças com menos de 10 anos. Ou seja, segundo ele 96,50% da
população masculina do Paraguai foi morta com o confronto.
5
Rafael Franco estabeleceu o dia 1º de março – dia da morte de Solano López em 1870 – como feriado
nacional e declarou-o herói máximo.
6
A chegada dos colorados ao poder marcou o início da hegemonia do partido, que dominaria a
presidência por mais de 60 anos. Somente com a eleição de Fernando Lugo, em 2008, os colorados
deixam de comandar o Paraguai, entretanto, a recente crise política paraguaia depôs Lugo e, em eleições
realizadas no início de 2013, recolocou os colorados no cerne do poder no país, com a vitória de Horácio
Cartes.
32
Juan Emiliano O’Leary, citado por Brezzo, se destaca como um dos maiores
propagadores desta reabilitação histórica acerca de Solano López. Autor de importantes
livros8, alguns dos principais sobre a Guerra do Paraguai e sobre o presidente paraguaio,
o historiador O’Leary sempre buscou defender a imagem de Solano López das
acusações que sofria: “O grito feroz de seus inimigos só serviu para dar ressonância à
seu nome” (O’LEARY, 1970, p.11)9.
Apesar deste trabalho não ter como foco central um debate acerca das correntes
historiográfica já produzidas acerca do tema, é fundamental que sejam tragos à tona
algumas interpretações das principais correntes historiográficas já produzidas sobre o
tema. Esta ação visa orientar o leitor e ressaltar como a Guerra do Paraguai tem gerado
intensos debates ao longo dos anos, desde o término do conflito.
7
“Es también en los años entre siglos cuando en Paraguay principian a manifestarse recatados impulsos
por oferecer um construcción intelectual diferente, pressagiando el complejo derrotero que viviría durante
el siglo XX. Comenzaron a publicarse en Assunnción los periódicos La Patria, orientado por Enrique
Solano López y Manuel Dominguez, quienes irían articulando una lectura alternativa del pasado nacional
centrada en la exaltación de la figura del Mariscal López y que se alimentaba en la derrota sufrida en la
Guerra Grande. Esta campaña revisionista contó con la adhesión de muchos afiliados al flamante Partido
Colorado, como Juan Natalicio Gonzalez, e incluso atrajo a intelectuales identificados con el Partido
Liberal, como Justo Pastor Benítez, Pablo Max Ynsfrán, Facundo Recalde y Anselmo Jover Peralta, que
se unirían para conformar lo que pasaria a denominarse lopizmo. Al comenzar la segunda década del
siglo, la Guerra Grande y el mito guerrero que encarnaba Francisco Solano López – aún siendo reprimido
en el ambito académico y entre el público culto – demostraba haber sobrevivido en la memoria de buena
parte de la sociedad paraguaya, sobre todo entre sus sectores populares.”
8
Destaque para as suas obras: El centauro de Ybicuí: a vida heroica del general Bernadino Caballero en la
Guerra del Paraguay. Paris: Le Livre Libre, 1929. El libro de heroes; páginas históricas de la Guerra del
Paraguay. Assunção: Libreria Mundial, 1922. El mariscal Solano López. Madrid: Imprenta de Félix
Molinos, 1925.
9
“La grita feroz de sus enemigos sólo há servido para dar ressonância a su nombre”.
33
10
Destacam-se nesta corrente os seguintes trabalhos: CERQUEIRA, Dionísio. Reminiscências da
Campanha do Paraguai. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1980. 341 p. e FRAGOSSO, Tasso. A
História da Guerra entre a Tríplice Aliança e Paraguai. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1956.
11
Destacam-se nesta corrente os seguintes trabalhos; POMER, León. La Guerra del Paraguai: gran
negocio!. Buenos Aires: Caldén, 1968. e CHIAVENATTO, Júlio José. Genocídio americano: a Guerra
do Paraguai. São Paulo: Brasiliense, 1979.
12
Destacam-se nesta corrente os seguintes trabalhos; DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: Nova
história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 617 p. IZECKSOHN, Vitor. O
cerne da discórdia: a Guerra do Paraguai e o núcleo profissional do Exército brasileiro. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército, 1997. e SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na
formação do Exército. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. 165 p.
34
13
Luís Alves de Lima e Silva tonou-se Barão de Caxias em 1841, Visconde de Caxias em 1843, Conde de
Caxias em 1845, Marquês de Caxias em 1852 e Duque de Caxias em 1869, após retornar dos campos de
batalha.
35
14
Os rios Paraná, Paraguai e Uruguai, com seus respectivos afluentes, formam a Bacia do Prata – a
segunda maior do Brasil.
15
Destaque para o seu livro, recentemente publicado. MAESTRI, Mario. A Guerra no papel: História e
historiografia da Guerra no Paraguai (1864-1870). Passo Fundo: PPGH/UPF, 2013.
36
37
Este movimento patriótico também esteve no cerne de “Cerro Corá”, já que este
foi o primeiro filme produzido totalmente no Paraguai, por um diretor – Guillermo Vera
– e por atores – Roberto de Felice, Rosa Ros e Pedro Ignácio Aceval – nacionais.
“Cerro Corá” também foi o primeiro longa-metragem de ficção dirigido por Guillermo
Vera, que mais tarde iria participar da produção binacional de “A cafetina de meninas
virgens” (1981)16, junto com o Brasil. O diretor também se destaca como o autor de
uma série de filmes sobre o Paraguai, produzidos para a televisão. Durante a década de
1970, Vera, que havia estudado durante alguns anos na Espanha, tornou-se um diretor
de ponta no Paraguai, dirigindo “Paraguay, tierra de progresso” (1970), “Crisol de
glória” (1971) e “La voluntad de un Pueblo” (1973). Entretanto, nenhuma destas
produções alcançou o sucesso de “Cerro Corá” (1978), filme que tornou-se um símbolo
para o país, e que, até os dias atuais, é considerado uma obra canônica.17
No que diz respeito ao cinema e à propaganda política, o historiador Wagner
Pinheiro Pereira faz um importante relato:
16
Este filme foi gravado no Paraguai, onde recebeu o nome de “Kapanga”.
17
http://www.imdb.com/name/nm0893539/ acesso em 23/01/2013.
39
BIBLIOGRAFIA:
LIZEIRO, Priscila; BRITO, Tabita. Ressentimentos de uma Guerra. São Paulo: Uniban,
2008.
PEREIRA, Wagner Pinheiro. O Poder das Imagens: Cinema e Política nos Governos de
Adolf Hitler e Franklin D. Roosevelt (1933-1945). São Paulo: Alameda, 2012.
POMER, León. La Guerra del Paraguai: gran negocio!. Buenos Aires: Caldén, 1968.
ROSENSTONE, Robert. A história nos filmes, os filmes na história. São Paulo: Paz e
Terra, 2010.
41
42
Rebeca Gonzalez*
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo mostrar como a obra literária A
Esperança (L’espoir, 1937), de André Malraux tratou a Guerra Civil Espanhola, em
particular a política de Não-Intervenção. Segundo o autor, esta política foi decisiva para
a derrota da República Espanhola, visto que as potências democráticas liberais não
ofereceram ajuda, participando do pacto de Não-Intervenção, mas países como
Alemanha e Itália participaram ativamente da guerra espanhola, inclusive com tropas
próprias.
ABSTRACT: This article aims to show how the literary work Man’s Hope (L’espoir,
1937), by André Malraux treated the Spanish Civil War, particularly the policy of Non-
Intervention. According to the author that policy was decisive to the defeat of Spanish
Republic, since the liberal democrats powers didn't offer help, participating with the
Non-Intervention agreement, but countries like Germany and Italy actively participated
in the Spanish war, including their own troops.
***
*
Rebeca Gonzalez, mestranda do Programa de Pós-graduação em História Comparada da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
43
1
SOARES, Daniela. Anarquistas na Guerra Civil Espanhola: Uma abordagem a partir das obras
literárias de Ernest Hemingway e André Malraux. 2010. Monografia [Graduação] – Curso de História,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. p 57
2
FREITAS, Maria Teresa. “Ficção e História: Malraux e a Guerra Civil Espanhola”. Revista brasileira de
história. São Paulo: Associação Nacional de História, 1986/1987. v.7 n.13 set/fev. p. 145.
3
Ibid. p. 145.
4
Ibid. p. 146
5
OLIVEIRA, Clarissa Laus Pereira. A Condição Crítica de Malraux no Brasil e na Espanha: recepção
crítica das obras La Condition humaine, L’Spoir e Antimémoires. Tese de Doutorado. Programa de Pós
Graduação em Letras/UFRGS, Porto Alegre: 2006. p. 90
44
6
FREITAS, Maria Teresa. Op. cit. p. 149.
7
CERQUEIRA, João. Arte e literatura na Guerra civil de Espanha. Porto Alegre: ZOUK, 2005. p. 10.
45
8
Ibid. p.10.
9
Ibid. p. 10.
10
Ibid. p. 110.
11
FREITAS, Op. cit., p. 138.
12
SOARES, Op. cit., p. 15.
13
FREITAS, Op. cit., p.139.
46
Essa geração engajada estava disposta a arriscar suas vidas por seus ideais –
Miguel Unamuno e Federico Garcia Lorca, foram dois que perderam a vida por se
colocarem contra os fascistas. Muitos deles não eram comunistas, mas como se unir ao
comunismo significava fazer frente ao fascismo, se vinculavam aos partidos de esquerda
– que nem sempre era comunista, mas também anarquista, por exemplo – para lutar na
guerra da Espanha. Alguns imaginavam que seria como uma aventura estar na Espanha,
enquanto outros, não aguentaram a disciplina e privações que lhes eram impostas nas
Brigadas Internacionais. Questão curiosa levantada por João Cerqueira é que os
escritores estavam convencidos da superioridade moral da sua causa, por isso não
14
BUÑUEL, Luís. Meu último suspiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p.203.
15
CERQUEIRA, Op. cit., p.118.
16
Ibid. p. 117.
17
FREITAS, Op. cit., p.138.
18
OLIVEIRA, Op. cit., p.77.
47
19
CERQUEIRA, Op. cit., p.118.
20
Ibid., p. 119.
21
Ibid., p.111.
22
Palavras ditas durante o Festival da Raça em 12 de outubro de 1936, realizado no salão de honra da
Universidade de Salamanca. Neste evento Unamuno retirou seu apoio aos nacionalistas e foi preso até sua
morte em 31 de dezembro de 1936.
48
A obra de André Malraux aborda – ainda que não durante todo o livro – um
tema de grande importância para entender o desenvolvimento do conflito espanhol. Em
algumas passagens A esperança menciona questão da política de Não-Intervenção, que
na verdade foi uma fraude. Neste trecho vemos exatamente a sensação de abandono que
os republicanos sentiam:
23
CERQUEIRA, Op. cit., p. 118.
24
Ibid., p.121.
25
Ibid., p.122.
26
Ibid., p.124.
27
MALRAUX, André. A esperança. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2000. p. 361.
28
Ibid., p. 161.
49
Além do que foi apresentado, a França tinha interesse que a Frente Popular
permanecesse no governo espanhol, pois seria um aliado ao sul de sua fronteira32. Uma
vitória nacionalista seria hostil ao governo francês e estaria cercada por três países
hostis33. Porém, a posição do governo francês muda, já que o governo britânico,
temendo uma nova guerra europeia, pressiona a neutralidade francesa.
Ao contrário do que ocorria com a França, a administração britânica tinha mais
simpatia pelos rebeldes. Mesmo que a Grã-Bretanha fosse uma democracia, assim como
a Espanha, não apoiaria o governo da Frente Popular, porque se tratava de um governo
esquerdista e na Inglaterra os conservadores estavam no poder. Por isso, “desde os
primeiros dias, relatórios diplomáticos e de inteligência confirmam os sentimentos anti-
republicanos já dominantes no governo britânico”34.
Assim sendo, devido a pressões inglesas, a França foi persuadida a quebrar o
acordo de envio de armas a Espanha, já que o cumprimento deste acordo colocaria em
risco as relações entre Londres e Paris. Dessa forma, em 9 de agosto de 1936, a França
proíbe a exportação de equipamentos militares, inclusive transações feitas por
29
SALVADÓ, Francisco. A Guerra Civil Espanhola. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p. 95.
30
THOMAS, Hugh. A Guerra Civil Espanhola. Vol. 1 . Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.
p.257.
31
SALVADÓ, Op.cit., p.96.
32
Ibid., p 96.
33
THOMAS, Op. cit. V. 1., p.259.
34
SALVADÓ, Op.cit., p.98.
50
35
Ibid., p. 106.
36
VILAR, Pierre. A Guerra da Espanha, 1936-1939. São Paulo: Paz e Terra, 1989. p.103.
37
SALVADÓ, Op. cit., p.107
38
MATTHEWS, Herbert Lionel. Metade da Espanha morreu: uma reavaliação da Guerra Civil
Espanhola. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. p.136.
39
Ibid. p.136.
40
VILAR, Op. cit., p.101.
41
Ibid., p.102.
42
SALVADÓ, Op. cit., p.104.
43
Sigla de Acordo de Não-Intervenção em inglês.
44
SALVADÓ, Op. cit., p.108.
51
Considerações Finais
André Malraux esteve envolvido na guerra até o seu final, ainda que não como
combatente todo este tempo, mas sempre buscando ajudar a causa republicana na
Espanha, sendo um exemplo disso o próprio romance A Esperança, que por ter sido
lançado ainda durante a guerra, constituiu, segundo Sartre, uma literatura engajada por
excelência51. Por conta disso, esta obra foi, muitas vezes, classificada como “romance-
reportagem”, já que seria de cunho jornalístico e autobiográfico, ainda que, não trate de
45
MATTHEWS, Op.cit., p.174.
46
THOMAS, Opcit. V. 2., p.27.
47
MATTHEWS, Op.cit., p.176.
48
Ibid., p.173.
49
THOMAS, Op. cit., p.36.
50
CERQUEIRA, João. Arte e literatura na Guerra civil de Espanha. Porto Alegre: ZOUK, 2005. p.117.
51
Ver: FREITAS, Op.cit.
52
BIBLIOGRAFIA:
AMARAL, Aracy. Arte para quê?. Rio de Janeiro: Studio Nobel, 2003.
BUÑUEL, Luís. Meu último suspiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
52
Ibid. p. 140.
53
Ibid. p. 140.
54
Ibid. p. 142.
53
FERREIRA, Antonio. A fonte fecunda. In: PINKY, C.; LUCA, T..(Orgs.)O historiador
e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009.
SALVADÓ, Francisco. A Guerra Civil Espanhola. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
54
VILAR, Pierre. A Guerra da Espanha, 1936-1939. São Paulo: Paz e Terra, 1989.
55
Quezia Brandão*
RESUMO: O presente artigo se propõe a discutir o papel da obra literária Nossos Anos
Verde-Oliva, de Roberto Ampuero, para pensar as experiências autoritárias dos
governos do General Augusto Pinochet, no Chile, após o Golpe de 1973 que derrubou o
governo da Unidade Popular de Salvador Allende e do líder revolucionário Fidel Castro,
em Cuba, após a vitória da Revolução Cubana de 1959, sobretudo com o acirramento do
governo de Castro na década de 1970. Assim, o texto abordará as questões atinentes à
memória, a legitimação, consenso e consentimento sociais acerca de tais regimes
políticos, partindo das contribuições deixadas por Roberto Ampuero em seu romance
biográfico.
ABSTRACT: This article aims to discuss the role of literary Roberto Ampuero’s
Nuestros Años Verde-Olivo, to think the of authoritarian government’s experiences of
General Augusto Pinochet in Chile after the 1973 coup that overthrew the Popular Unity
Governements Salvador Allende and revolutionary leader Fidel Castro in Cuba after the
triumph of the Cuban Revolution in 1959, especially with the growth of Castro's
government in the 1970s. Thus, the text will address the issues relating to memory,
legitimation, social consensus and consent about such political regimes, starting from
the left by Roberto Ampuero contributions in his biographical novel.
***
*
Graduanda em História pelo Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Pesquisadora no Laboratório de Estudos Históricos e Midiáticos das Américas e da Europa e no
Laboratório de Imagem, Arte e Metrópoles. Bolsista de Iniciação Científica – Jovem Cientista - Faperj.
56
Introdução
Todo trabalho que pretenda analisar obras literárias coloca, em si, uma difícil e
árdua tarefa. Ao pensar uma produção literária do ponto de vista das suas implicações
políticas e sociais estamos indo além da crítica literária e construindo uma complexa
teia de compreensões e caminhos interpretativos sobre aquilo que, grosso modo,
Hayden White problematizou com as noções de representação histórica e o papel da
imaginação histórica1. Embora White estivesse preocupado em pensar o problema da
escrita da história pelos historiadores e daquilo que se pode ou não chamar de “real”,
suas reflexões, em um primeiro momento, tornam-se úteis para pensarmos como o devir
histórico de certos eventos é representado socialmente a partir da literatura, que é
associada diretamente à ideia de uma narrativa eivada de subjetividades, simbolismos e
posições sobre determinado acontecimento ou conjunto de acontecimentos. Nesse
caminho, o historiador Antônio Celso Ferreira em A Fonte Fecunda2implica que
1
WHITE, Hayden. Meta-História: A imaginação histórica no século XIX. São Paulo: EDUSP, 1995.
2
FERREIRA, Antônio Celso. A fonte fecunda. In: PINSKY, Carla Bassanezi & LUCA, Tânia Regina de.
Os Historiadores e suas Fontes. São Paulo: Contexto, 2009. pp.61-91.
3
Ibidem.
57
4
Roberto Ampuero é um dos autores mais significativos de toda a América Latina. Ampuero nasceu em
Valparaíso, no Chile, ano de 1953. Permaneceu exilado em Berlim Oriental após o Golpe que instaurou a
ditadura de Augusto Pinochet, radicou-se em Cuba, até mudar-se para os Estados Unidos da América. É,
atualmente, embaixador do Chile no México e professor de escrita criativa e redação na Universidade de
Iowa (EUA).
5
Apesar do presente esforço historiográfico aqui proposto perpassar pela noção de memória, afinal de
contas, a obra literária em discussão é um romance biográfico e, portanto, parte importante do que
Michael Pollak em Memória, Esquecimento, Silêncio (Rio de Janeiro. Revista de Estudos Históricos, Vol.
2, n.3, 1989, páginas 3 - 15) irá chamar de memória coletiva e memórias subterrâneas, a construção de
memória não é discussão principal.
6
As discussões sobre a conceituação acerca da natureza das diversas experiências políticas do século XX
partem das reflexões teóricas de Hanna Arendt em Origens do Totalitarismo: anti-semitismo,
imperialismo e totalitarismo (Companhia das Letras. São Paulo, 1998). Neste trabalho, Hanna Arendt
toma o conceito de totalitarismo e o considera como definição de um sistema político no qual o Estado
detém o domínio completo sobre a sociedade a qual está imposto e mesmo à vida particular dos
indivíduos constituintes da mesma. O conceito de totalitarismo, entretanto, foi construído a partir de uma
discussão que teve, como horizonte principal de observação, a Alemanha Nazista de Adolf Hitler (1933 -
1945) e o governo de Josef Stálin na Rússia Soviética. A partir de então, diversos estudiosos do tema
começaram a considerar a necessidade de novos eixos e paradigmas conceituais para tentar determinar a
essência e dinâmica de diversas experiências autoritárias, sobretudo na América Latina. Logo, hoje é
possível e necessário trabalhar com os conceitos de ditadura, autoritarismo e totalitarismo, tendo em vista
as especificidades de cada regime político-social posto em análise.
7
ROLLEMBERG, Denise & QUADRAT, Samantha Viz. A construção social dos regimes autoritários.
Legitimidade, consenso e consentimento no século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
58
Da Obra
Nuestros años verde olivo (título original da obra) teve sua primeira edição em
1999, pela editora Planeta, no Chile. No Brasil teve sua primeira edição no recente ano
de 2012 pela editora Benvirá, traduzido por Luis Reyes Gil. A publicação dessa obra de
Roberto Ampuero é significativa do ponto de vista do momento de fala. O fim do século
XX presenciava todo tipo de deflagração aos regimes ditatoriais; estava em pauta (e
ainda está até os dias de hoje) o debate sobre consentimento, legitimação e consenso,
bem como as questões em torno da memória. Precisamos lembrar também que o fim do
regime de Augusto Pinochet era recente (1990).O romance biográfico de Ampuero é
importante pois, além de aludir a ditadura chilena de Pinochet, retrata, às próprias
impressões, a ilusão do Regime Castrista após a Revolução Cubana de 1959.
Roberto Ampuero faz parte dos escritores da escola literária pós-moderna. Ainda
há uma discussão entre literatos e intelectuais sobre situar ou não as obras pós-
modernas como uma escola literária. Existem várias vertentes de escrita dentro da
escola pós-moderna. Enquanto o Concretismo consolidava suas características na
poesia, a prosa pós-modernista seguia por diferentes estilos, marcada por tendências
diversas: regionalista, urbana, intimista, política, realista-fantástica, além de crônicas e
contos. O pós-modernismo, em todas as áreas da cultura, se configura uma mistura, um
“boom” de diversos assuntos, estilos e interesses. É sintomático do mundo que emerge
8
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro. Ed.: Ouro sobre Azul, 2006.
9
CANDIDO, Op.cit., p.29.
59
60
Com o passar dos dias, fui descobrindo com angústia que, embora me
esforçasse para escolher bem as palavras e dar descrições precisas, era
incapaz de transmitir de forma cabal a meus pais o que significava viver no
socialismo. Só aqueles que viveram nele e experimentaram na própria carne
as penúrias provocadas pela escassez cotidiana, a regulamentação extrema
de todas as esferas da vida e a mensagem messiânica de um governo sem
oposição entendem o que é o socialismo e a dolorosa marca que imprime na
pessoa para sempre13.
12
AMPUERO, 2012.
13
AMPUERO, Op.cit., p.210.
62
14
AMPUERO, Op.cit., p.70.
15
Mario Vargas Llosa é um importante intelectual latino-americano. Muitas de suas obras refletiram sob
o espectro político, social e cultural dos países latino-americanos. Sua obra mais recente é o livro A
63
Civilização do Espetáculo: Uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura, publicado no Brasil em
2013, pela editora Objetiva. O livro discute as metamorfoses que incidiram sobre a noção/conceito de
cultura, trazendo o advento da mídia e seus diversos desdobramentos para o centro do debate. Os regimes
autoritários de toda natureza (populistas, regimes militares, ditaduras personalistas, etc.), que eclodiram
por toda a América Latina no século XX, e existem ainda hoje no século XXI, são elencados como
principais espaços de metamorfoses da cultura, propiciando uma cultura midiática que os favoreceu.
16
Heberto Padilha aparece enquanto personagem do romance de Roberto Ampuero. O autor narra e dá
vida, em seu livro, às experiências do poeta Padilha. Nossos Anos Verde-Oliva conta o drama de Heberto
Padilha em seu exílio, durante quase uma década, dentro de Cuba, a proibição que lhe era imposta quanto
ao seu exercício de poeta e marginalização de suas obras, como foi o estopim com o livro de poemas
Fuera del Juego. Heberto Padilha – conta Ampuero – conseguiu sair da Ilha contando com a intervenção
do senador norte-americano Edward Kennedy junto a Fidel Castro. Nos EUA, Heberto Padilha lecionou
em diversos colégios e universidades. Morreu em 25 de setembro de 2000, no estado do Alabama.
17
AMPUERO, Op.cit., p.479.
18
POLLAK, Op.cit., p.8.
64
Assim, o regime político cubano sob Raúl Castro relegou a obra a ilegalidade,
sendo proibida a circulação em Cuba apesar de ter posado para fotografia junto à ex-
presidente do Chile – Michelle Bachelet – na feira do Livro em Havana, 200921.
Roberto Ampuero afirma, em capítulo dedicado à construção da obra Nossos Anos
Verde-Oliva
Essa proibição se dá por razões óbvias: o relato contido no livro revela uma face
do regime cubano dos anos 1970 que expõe seu caráter autoritário e repressivo, como
significou para Ampuero e muitos outros indivíduos, constituinte de um Estado de
Exceção.
19
OLIEVENSTEIN, Claude. Les non-dits de l'émotion, Paris. Odile Jacob, 1988. Apud: POLLAK,
Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 2. n. 3, 1989, p.3- 15.
20
POLLAK, Op.cit., p.8.
21
Na foto mencionada, Raul Castro (irmão de Fidel Castro), está com Nuestros Años Verde-Olivo em
mãos, junto à ex-presidente chilena Michele Bachelet (reeleita à presidência do Chile no ano de 2013), na
feira do Livro de Havana, em 2009. O livro está censurado em Cuba e Roberto Ampuero não pode entrar
na Ilha desde a publicação de seu romance. Apesar da situação o governo cubano tenta mostrar à
imprensa internacional que o livro circula livremente no território cubano. “(...)Os exemplares do livro se
esgotaram em questão de minutos no estande do Chile daquela feira, adquiridos, segundo a imprensa,
por leitores entusiastas e por discretos indivíduos de cabelo curto, óculos e guayabera, que agiam de
maneira previamente combinada.” (Apud. AMPUERO, Roberto. “Iconografia/Documentos”. In: Nossos
Anos Verde-Oliva. São Paulo: Benvirá, 2012)
22
AMPUERO, Op.cit., p.473.
65
Para começar aqui uma discussão que imediatamente se propôs devemos pensar,
ademais, sobre as categorias conceituais exploradas no trabalho de Denise Rollemberg e
Samantha Quadrat23. Nunca houve, entre os historiadores, um horizonte comum quanto
ao entendimento em relação a um regime – se era autoritário ou mesmo uma ditadura. A
Cuba castrista, por exemplo, é um bom exemplo desse problema. Uma ditadura alude
um sistema repressivo, coercitivo, sem nenhuma representação e perspectivas sobre ela;
remete, sobretudo, a algo imposto, manipulado e imoral. A partir das definições de
Newman24poderíamos ter, para o caso chileno, uma ditadura tipicamente simples, onde
o governo tem o controle da polícia, do exército, da burocracia e do judiciário, somando
se a características da ditadura cesarista, onde o apoio ao governo e o culto ao líder são
indispensáveis. Logo, em Cuba haveríamos de ter uma ditadura cesarista. Em
contrapartida, o trabalho de Stoppino25classificaria o governo chileno de ditadura
reacionária e, o cubano, ditadura revolucionária. No entanto, ao analisar as
experiências cubana e chilena – a primeira ainda mais que a segunda – percebemos que
as aspirações em torno da chegada ao poder por tais governos/governantes estiveram
todo tempo legitimada pela participação social. Portanto, o que se quer entender aqui é
como chegamos a ditas conjunturas históricas e como se conformou a fisionomia desses
regimes ao suceder dos anos; não se trata de estabelecer semelhanças e diferenças, entre
Cuba e Chile, no plano conceitual. Como bem podemos observar, nos amparando
mesmo no relato da obra de Ampuero, Fidel e Pinochet galgaram o poder em
conjunturas (guardadas as devidas proporções e momentos históricos) muito semelhante
do ponto de vista estrutural, marcado pela insatisfação/contestação dos governos
anteriores.
O trabalho de Daniel Aarão Reis26 é muito importante para trabalharmos a
questão do consenso em torno do regime cubano. Como o historiador aponta o processo
revolucionário esteve apoiada sobre os mais variados setores sociais. A proposta da
23
ROLEMBERG, Denise & QUADRAT, Samantha Viz. A construção social dos Regimes Autoritários.
Legitimidade, Consenso e consentimento no século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
24
Idem.
25
Idem.
26
REIS, Daniel Aarão. A Revolução e o socialismo em Cuba: ditadura revolucionária e construção do
consenso. In: ROLEMBERG, Denise & QUADRAT, Samantha Viz. A construção social dos Regimes
Autoritários. Legitimidade, Consenso e consentimento no século XX. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2010. pp.364.
66
29
AMPUERO, Op.cit., p.459.
68
BIBLIOGRAFIA:
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. Ed.: Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul,
2006.
30
AMPUERO, Op.cit., p.477.
69
SADER, Emir & FERNANDES, Florestan. Fidel Castro - Política. São Paulo: Ática,
1986.
70
***
*
Doutorando e Mestre em História pelo Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(PPGHC-IH-UFRJ), na linha de Poder e Discurso. Especialista em História Social pela Universidade
Norte do Paraná (UNOPAR). Graduado em História pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP).
Interessado em pesquisas acerca de Teoria e Filosofia da História, Historiografia e da relação música-
sociedade a partir do século XVIII. Este trabalho conta com o apoio da CAPES.
71
1
Cf.: Paul Ricoeur: les sens d’une vie (1913-2005). Paris : La Decouverte, 2008. Michel de Certeau: el
caminante herido. Buenos Aires: Universidad Iberoamericana, 2000.
2
Madélenat, buscando uma conciliação teórica entre a Biografia e a História, divide as biografias em três
momentos: em primeiro lugar, se prolongando desde a Antiguidade até o século XVIII, encontramos as
biografias clássicas, que possuem uma instrumentalidade e finalidade determinadas; em segundo lugar,
encontra-se o paradigma romântico, preferindo uma leitura das personagens mais fiel à ‘verdade’, se
estendendo entre a transição do século XVIII-XIX e o momento em torno da Primeira Guerra Mundial;
por último, localizamos as biografias modernas, que são aquelas nas quais se encontra o direito à
imaginação, mesclando características de objetividade científica e narratividade ficcional, sofrendo
interferências, portanto, da sociologia e da psicanálise.
3
As vidas ilustres
4
A vida dos doze Césares
72
5
Plutarco chega a marcar determinadas curiosidades dos indivíduos já que, segundo ele, estas também
vão construindo os atores, seu pensamento e seu espaço de atuação.
6
Tratado em louvor de Dante
73
7
Sobre a vida dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos.
74
8
São representativos, neste sentido, o História de Carlos II de Voltaire e a autobiografia de Hume.
9
Vida do Dr. Samuel Johnson.
75
10
A consolidação do modelo biográfico heroico deve-se, em certa medida, às formulações individualistas
pelas quais o século XIX passou. Ocorre, destarte, o privilégio do ‘eu’ (indivíduo) sobre o ‘nós’ (grupo).
Esse fenômeno se iniciou no contexto da Revolução Francesa com a consolidação da burguesia na
Europa. O problema de se privilegiar apenas os indivíduos é esquecer-se que ele apenas pode ser
compreendido numa configuração social. Ainda são características deste processo, no caso da arte o
Romantismo e, no caso da historiografia, o Historicismo (BARROS, 2010).
11
Devemos levar em conta que, neste mesmo momento, existem, também, a prática biográfica não-
heróica, que acaba focando nos sentimentos humanos, seara antes mais resguardada mesmo que já
demonstradas em outros momentos históricos. Foca-se a biografia, então, no personagem de tipo médio,
no geral, o mesmo tipo do biógrafo, como é o caso da biografia que o pianista Franz Liszt escreveu para
seu amigo Frederic Chopin após a morte deste. (MADÉLENAT, Op. Cit.)
12
Jacob Burckhardt buscou, também, aspectos emocionais resgatando aquilo que é durável através de seu
indivíduo patológico.
76
13
Dicionário de Biografia Nacional.
14
Pai da escritora e, também, biógrafa inglesa Virginia Woolf.
77
78
15
Respectivamente: (1) Martinho Lutero, um destino; e (2) O problema da incredulidade no século XVI,
a religião de Rabelais. Para mais debates feitos por Febvre, cf: Combats pour l’histoire. Paris: Armand
Collin, 1953.
16
Vale marcarmos, porém, que, mesmo sem a biografia estar inserida nos estudos históricos, o estudo de
cartas e autobiografias ainda era fonte para uma escrita da História.
17
Vale notar que as biografias ganham tanto interesse popular ao longo do século XX que até mesmo
Winston Churchill (1941) publicou ensaios biográficos – incluindo personagens como o próprio Adolf
Hitler, seu futuro inimigo durante a Segunda Guerra Mundial. Este também é o contexto de autores como
Emil Ludwig e André Maurois.
79
18
O idiota da família: Gustave Flaubert.
80
19
Lembremos, no entanto, que o próprio Braudel teve estudos acerca da prática biográfica.
20
Como crítica consolidada pela historiografia contemporânea a essa micro-história italiana lembramos
que pode ocorrer um interpretativismo exacerbado e pode-se, também, cair na supervalorização das
exceções, na análise de quesitos insignificantes e na busca pelos indivíduos comuns o que inviabiliza ou,
ao menos, dificulta a perspectiva de estudos mais amplos e estruturais ou mesmo comparativos. Cf.
PALLARES-BURKE, 2000.
81
21
Podemos lembrar que em determinados países da América Latina, como o México e a Argentina, a
produção biográfica continuou sendo uma das principais características da historiografia.
82
22
Vale lembrarmos que o debate iniciado por Bourdieu, apesar de extremamente relevante para a
produção historiográfica contemporânea é iniciado ainda na década de 1980, momento no qual, como
vimos, ocorre ainda uma série de questionamentos acerca da abordagem biográfica enquanto gênero
histórico.
83
E continua:
A partir de cem testemunhos diferentes e até contraditórios, o biógrafo
acaba por elaborar uma face compósita, na qual há algumas
probabilidades de podermos encontrar o personagem integral, que os
seus contemporâneos provavelmente não conhecem. (p.42)
23
Devemos notar que a utilização de uma pluralidade de documentos explorados com ampla erudição
somados a uma problematização errônea e uma narrativa mal construída, no geral aquela que busca uma
linearidade desmedida – a vida humana raramente é linear – acabam gerando finalismos históricos que
impossibilitam a classificação deste gênero como História.
24
O já mencionado Oireux (s/d) afirmou, acerca desta lógica: “Processo de reanimação de um testemunho
só tem valor com a condição de jamais nos abandonarmos ‘àquilo que poderia ou deveria ter sido’. É
preciso respeitar o personagem tal e qual ele nos surge nos fatos” (p.44). Assim sendo, é necessário,
acima de tudo o afastamento de uma pedestalização do indivíduo biografo.
84
25
Acerca das análises que sugerem a utilização de abordagens psicológicas em conjunto com as
históricas, podemos citar as proposições do historiador Peter Gay em seu célebre texto Freud para
historiadores.
85
BIBLIOGRAFIA:
26
Chamada de prosopografia nos estudos históricos, esse gênero considera alguns dados variáveis para a
reconstituição do perfil de determinado grupo.
86
BRAUDEL, Fernand. Reflexões sobre a história. São Paulo: Martins Fontes, 1992
DEL PRIORE. Mary. Biografia: quando o indivíduo encontra e história. TOPOI, v.10,
nº19, 2009, p.7-16.
DOSSE, François. O desafio biográfico: escrever uma vida. São Paulo: EDUSP, 2009.
87
______; NORA, Pierre. (org). História: novos problemas. 3ed. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1988.
______; ______. (org). História: novas abordagens. 3ed. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1988.
______; ______. (org). História: novos objetos. 3ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1988.
LE GOFF, Jacques. São Luís: biografia. Rio de Janeiro: São Paulo: Record, 1999
88
LORIGA, Sabina. A biografia como problema. In: REVEL, Jacques (org). Jogos de
escalas: a experiência da microanálise. Rio de Janeiro: FGV Editora, 1998,
p.225-250.
ORIEUX, Jean. A arte do biógrafo. In: DUBY, Georges; ARIÈS, Philipe; LADURIE,
Emmanuel Le Roy; LE GOFF, Jacques. História e Nova História. 3ed. Lisboa:
Teorema, s/d.
89
90
ABSTRACT: By analyzing the process of the Spanish Conquest of America and the
mechanisms that made it possible, through classical and revisionist historiography on
the subject, as well as Hispanic and Native textual and pictographic sources, a dispute
may arise: before 1492 – i.e., before the arrival of the conquerors, colonizers and
microorganisms from the Old World to the American continent – were or weren’t
Amerindians plagued by epidemic diseases? In this paper, we will try to deconstruct the
so-called “myth of the earthly paradise”, which states that before the arrival of
Europeans and their “portable biota” to the New World, the Native Americans were not
hit by epidemic diseases. For this, we present and discuss a number of native textual
sources, archaeological evidence and paleopathologist and paleodemographic studies
that ultimately overthrow this myth.
***
*
Mestrando em História pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada do Instituto de
História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/IH/UFRJ). Pesquisador do Laboratório de
Estudos Históricos e Midiáticos das Américas e da Europa (LEHMAE), participando do projeto “Política,
Cultura e Comunicação nas Américas e na Europa Contemporâneas: Circulação de Ideias, Imagens e
Práticas Políticas (Sécs. XX-XXI)”, coordenado pelo Prof. Dr. Wagner Pinheiro Pereira. Atualmente
desenvolve sua pesquisa com a bolsa oferecida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES).
91
1
Sobre o termo “conquista”, Ruggiero Romano lembra-nos das disposições reais publicadas em 1556 que
proibiam seu uso, assim como o termo “conquistadores”, devendo ser substituídos por “descobrimento” e
“colonos”. Além disso, o autor busca compreender o porquê dessas interdições, afirmando, dentre outras
motivações, que “o essencial da América está ocupado, inserido num sistema. A partir desse momento,
não há mais nada para conquistar, apenas terras descobertas para colonizar. A pax hispanica triunfa”
(ROMANO, 1995, p. 54). Contudo, ressalta Romano, o estabelecimento dessa data pode ser criticado,
uma vez que esse processo não se encerrara por completo: o autor cita, por exemplo, os casos argentino e
chileno para comprovar a sua tese (Ibidem, p. 55) e chega a afirmar que a conquista estendeu-se ao longo
do século XX. Matthew Restall, em Sete Mitos da Conquista Espanhola, retorna a tese de Romano,
denominando-a de “o mito da conclusão” (cf. RESTALL, 2006, pp. 125-146) e, após apresentar as sete
dimensões que compõem o quadro geral da incompletude da conquista, sentencia: “[...] a Conquista das
regiões cruciais dos Andes e da Mesoamérica foi mais prolongada do que asseveraram a princípio e
mais tarde vieram a crer os espanhóis; quando os conflitos chegavam efetivamente a um fim nessas
áreas, eram tão-somente deslocados para as fronteiras da América espanhola, jamais pacificadas e em
permanente expansão. No âmbito interno, a violência da Conquista também sofreu uma transposição,
assumindo uma miríade de formas de dominação e repressão; nem por isso, entretanto, deixou de
enfrentar, em caráter permanente, um conjunto de métodos também diversificado de resistência nativa.
As conquistas espiritual e cultural foram igualmente complexas e prolongadas, desafiando seu resultado
a ponto de o próprio conceito de conclusão tornar-se irrelevante” (Ibidem, p. 145). Por fim, gostaríamos
de destacar o artigo de Richard N. Adams, “The Conquest Tradition of Mesoamerica”, publicado na
revista The Americas, no qual afirma que “a conquista psicológica da Mesoamérica ainda prevalece, e
continua sendo reproduzida hoje na área onde as altas culturas pré-colombianas tiveram domínio”
(ADAMS, 1989, p. 129, tradução nossa).
92
2
Cf. NUNES, Danilo de Lima. A conquista epidemiológica: as doenças e os medos sociais no processo da
conquista espanhola da Mesoamérica (1492-1650). Rio de Janeiro: UFRJ, 2012.
3
Ao início do século XX, antes da criação desse termo, estudiosos alemães, particularmente Eduard Seler
(1849-1922), em Eine archaölogische Forschungsreise in Süd-und Mittelamerika (1910), cunharam a
expressão Mittelamerika para designar a região onde floresceu uma alta cultura ameríndia no México
central e meridional e no território contíguo dos países do norte da América Central. Em 1943, o filósofo
e antropólogo alemão Paul Kirchhoff (1900-1972), em seu texto “Mesoamérica: seus limites geográficos,
composição étnica e caracteres culturais”, desenvolveu, com base nas reflexões de outros estudiosos que
desde o século XIX se dedicavam aos estudos das antigas civilizações do México e da América Central, o
conceito de Mesoamérica, para designar as áreas de agricultura estável situadas no México – ao sul dos
desertos setentrionais –, Guatemala, Belize, oeste de Honduras, sudoeste da Nicarágua, e a península de
Nicoya na Costa Rica. Em “A Mesoamérica antes de 1519”, publicada no primeiro volume da coletânea
93
História da América Latina (The Cambridge History of Latin America), organizada por Leslie Bethell,
Miguel León-Portilla apresenta-nos uma longa descrição geográfica dessa região (cf. LEÓN-PORTILLA,
2005, pp. 26-27).
4
O Reino da Morte: uma história comparada das doenças e dos medos sociais na conquista espanhola
da Mesoamérica e da América Andina (1492-1590), desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em
História Comparada, do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(PPGHC/IH/UFRJ), tendo por orientação o Prof. Dr. Wagner Pinheiro Pereira.
5
Para a discussão sobre o conceito de “mito”, torna-se interessante citar a obra do francês Mircea Eliade,
Mito e realidade (Myth and Reality). O autor atenta-nos para o fato desse termo se encontrar atualmente
sendo utilizado em duas acepções, tornando-o dúbio e ambíguo: “ficção” ou “invenção” e “uma história
sagrada, portanto uma história verdadeira, porque sempre se refere a realidades” (ELIADE, 1991, p.
12). Em nosso artigo, ao nos referirmos a “mito”, estamo-nos utilizando da primeira acepção.
94
96
6
Sobre os códices, no artigo “Un trayecto por los signos de escritura”, publicado na revista eletrônica
Destiempos.com, afirmam Maria del Carmen Herrera M., Perla Valle P., Bertina Olmedo V. e Tomás
Jalpa Flores: “Os códices elaborados pelos povos que habitavam o centro do México nos séculos XVI e
XVII são manifestações tardias dos sistemas de escrita desenvolvidos na Mesoamérica. Para entender a
lógica que organiza a textualidade dessa documentação é preciso identificar, descrever e ler em náhuatl
os signos empregados na maior parte dos códices que chegaram até nós, assim como entender as normas
que ordenavam o discurso, dependendo do gênero em que se encontra escrito o documento” (HERRERA
M. et al., 2009, p. 361, tradução nossa).
97
Os incas, seus monarcas, seus povos, tanto como a gente antiga destes
reinos, viviam vidas longas e sãs, e muitos deles chegavam a idade de
150 e 200 anos porque tinham um regime de vida e de nutrição bem
ordenado e metódico (POMA DE AYALA, [1615] 1956, v. 1, p. 89,
tradução nossa).
7
Miguel León-Portilla discorda dessa tese, afirmando que “[...] as velhas cidades [maias] começaram a
ser gradativamente abandonadas. Não se encontraram vestígios de ataques externos, nem de destruição
por fogo. Os centros foram apenas abandonados, quando seus habitantes procuraram outros locais onde
se fixar. E seria difícil provar que foi isso o resultado de uma mudança climática violenta e generalizada,
de uma catástrofe agrícola ou de uma epidemia geral” (LEÓN-PORTILLA, op. cit., p. 32.).
100
101
Mais adiante, Poma de Ayala escreveu que os incas associavam “a praga das
pulgas” com a morte, indicando que talvez houvessem associado estes ectoparasitas
com a aparição do tifo (cf. POMA DE AYALA, Op. cit., p. 77. Apud. ALCHON, Op.
cit., p. 213).
Dois elementos são interessantes de se destacar no relato de Poma de Ayala:
primeiro, as epidemias ajudaram os próprios incas na conquista de novos territórios na
América do Sul; mais tarde, eles sofreriam do mesmo golpe pelas mãos dos espanhóis.
Segundo, a eclosão do tifo deu-se em um cenário de guerra e fome, confirmando-se a
mesma tese descrita por nós para o caso da disseminação da tuberculose no solo
americano. Essa associação fez-se também presente no território mesoamericano
8
Essa estimativa de vida acaba por desmentir a afirmação de Felipe Guamán Poma de Ayala que
apresentamos anteriormente, ao escrever que os seus ancestrais, antes da conquista espanhola, chegavam
a viver por mais de 150 anos.
102
Essa concepção foi retratada por Juan de Torquemada, em sua obra Primeira
parte de los veintiún libros rituales y monarquia indígena, con el origen y guerras, de
los índios occidentales, de sus poblaciones, descubrimiento, conquista, conversión y
otras cosas maravillosas de la misma tierra, ao dizer que:
9
Trata-se de uma unidade de contagem empregada no sistema calendário maia, equivalente a 20 tunes ou
7.200 dias, contados até 20 (cf. SANTOS, Op. cit., p. 84).
104
BIBLIOGRAFIA:
10
Somente a partir da década de 1970, que um crescente número de especialistas começou a duvidar
sobre esse cenário de “paraíso terrestre” presente nas narrativas pré-colombianas e reproduzidas pelos
historiadores.
105
RECINOS, Adrian; GOETZ, Delia (eds.). The Annals of the Cakchiquels. Norman:
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ROYS, Ralph L. (Ed.). The Book of Chilam Balam of Chumayel. Norman: University of
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106
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110
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111
WATTS, Sheldon. Epidemics and History: Disease, Power, and Imperialism. New
Haven, CT: Yale University Press, 1997.
112
ABSTRACT: The practice of collectionism is old in our society over the centuries
there has been a gradual process of change in conceptions of Collectionism and
Museum, settling settings according to resignification convenient to their time. At the
arrival of the Portuguese court in Brazil, in 1808, inaugurated the concern with the
creation of cultural and scientific institutions, covering the formation of the Museu
Real. The purpose of this article is to demonstrate under what intentions and how the
collectionism developed in Brazil under the Monarchy.
***
*
Graduanda do curso de História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), bolsista do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), sob orientação da Profª. Drª. Regina
Maria da Cunha Bustamante (LHIA-UFRJ) e membro do Grupo de Estudos Kemet (GEKemet/CEIA-
UFF).
113
As origens do museu
115
116
O Museu Real
117
118
119
1
Fragmento extraído de: DEBANNÉ, Nicolas. D. Pedro II no Egypto. Revista do Instituto Historico e
Geographico brasileiro, v. 75. 1912. p. [131]-157.
120
Considerações Finais
121
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LEITE, Beatriz. A arte como expressão da glória: Napoleão Bonaparte. São Paulo:
Altamira editorial, 2011.
LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as
ciências naturais no século XIX. São Paulo: Hucitec, 1997.
__________________ Museu, História, Educação, e Ciências – Contradições e
Exclusões. Ciências e Ensino, São Paulo, n. 10, Junho de 2001.
122
123
ABSTRACT: This study aims to analyze the main action strategies made by electronic
sites Valhalla88 (http://www.libreopinion.com/members/sul88/valhalla88.htm) of Brazil
and Ciudad Libertad Opinión (www.libreopinion.com) of Argentina, during the years
2000-2005. These sites, created respectively in 1997 and 1999, while they were in
activity spread through cyberspace several messages intolerant and bigoted content, and
directly or indirectly incited the commission of violent acts. Thus, we investigated how
neo-Nazi groups have appropriated the cyberspace to disseminate their political
ideas.Our study will be conducted with reference to comparative analysis, departing
from the reflections produced by Marc Bloch . Thus, we will seek to problematize the
realities studied from perceived similarities and differences in each of the groups. Thus,
when we try to draw a profile of these groups in an attempt to understand how they
behave and act in cyberspace hope to contribute to the studies on the role of neo-Nazi
groups in the XXI century.
***
*
Mestranda em História pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ). Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES). Integrante do Laboratório de Estudos Históricos e Midiáticos das Américas e da
Europa (LEHMAE). E-mail: monica.ifcs@gmail.com. Orientador: Prof. Dr. Wagner Pinheiro Pereira
(UFRJ).
124
1
De acordo com Pierre Levy, o ciberespaço é “o novo meio de comunicação que surge da interconexão
de mundial de computadores. O termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação
digital, mas também o universo oceânico de informação que ele abriga, assim como os seres humanos que
navegam e alimentam esse universo”. Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São
Paulo: Ed. 34, 1999, p. 17.
125
126
127
128
2
A declaração dos princípios divulgada pelo Libertad de Opinión pode ser encontrada através do link:
http://web.archive.org/web/20000305233327/http://libreopinion.com acesso em 11 de abril de 2012.
3
Ciudad Libertad/Libre Opinión – Inauguración. Disponível em:
http://web.archive.org/web/20000126105831/http://libreopinion.com acesso em 11 de abril de 2012.
129
4
KALKI (Alejandro Biondini). Sólo prohíben los débiles. Revista Libertad de Opinión. Ano I, nº 5 –
dezembro de 1997. Disponível em:
http://web.archive.org/web/20010219003143/http://www.libreopinion.com acesso em 17 de junho de
2013.
130
5
As instruções de como organizar uma célula de militância estão disponível através do link:
http://web.archive.org/web/20020221142208/http://www.libreopinion.com acesso em 06 de setembro de
2012.
6
As formas de atuação foram disponibilizadas pelo Valhalla88 através do link:
http://web.archive.org/web/20031028073727/http://libreopinion.com/members/sul88/valhalla88.htm
acesso em 06 de setembro de 2012.
7
A criação do Partido Nuevo Triunfo teve como motivação o rompimento de Biondini com o Partido
Justicialista (Peronista) em 1989. Neste ano, Carlos Menem o representante do peronismo, assume o
poder na Casa Rosada e, de acordo com Alejandro Biondini, “[...] ya en el discurso de la victoria hace un
giro de 180 grados. Cuando asume, se transforma en el Judas del Peronismo [...]”. A divergência de
ideais leva Kalki a criar em 1990 o Partido Nacionalista de los Trabajadores (P.N.T.). No ano de 1991 é
acrescentado o termo Socialista ao nome do Partido que passa a ser identificado por Partido Nacionalista
Socialista de los Trabajadores. A base política que originou o Partido dos Trabalhadores surgiu em 04 de
julho de 1983 com a criação da revista “Alerta Nacional”. Mas, seria em 02 de abril de 1984 que a
“Agrupación Justicialista Alerta Nacional” faria sua apresentação oficial. Nos anos seguintes o partido
mudou de nome e passou a se chamar Partido Nuevo Triunfo. Cf. SANTANA, Monica da Costa.
Intolerância digital: Cibercultura e extrema-direita no site argentino Ciudad Libre Opinión (1999-2009).
(Monografia). Universidade Federal de Sergipe (UFS) – São Cristóvão, 2011, p. 28.
131
8
O nome Odin faz referência a um Deus mitológico – mitologia germânica. “Deus incansável que sempre
que mais combates, mais força, mais prazeres, mais mulheres; quer impor a todos e a tudo a lei de sua
vontade; à procura do poder absoluto; o arquétipo de um Fausto. É também o deus dos mortos, que
percorre os campos de batalha as vítimas às Valquírias. Símbolo da violência cega: viaja nas dobras de
um manto azul-noite, com um grande chapéu escondendo o seu rosto; só tem um olho e aparece
inesperadamente”. Cf. CHEVALIER, Jean et al. Dicionários de Símbolos: mitos, sonhos, costumes,
gestos, formas, figuras, cores, números. 18 ed. Trad de Vera da Costa e Silva. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2003.
9
Esta postagem está disponível no link:
http://web.archive.org/web/20040603041404/http://www.libreopinion.com/members/sul88/valhalla.htm
acesso em 08 de novembro de 2012.
132
10
Esta postagem está disponível no link:
http://web.archive.org/web/20001021162927/http://libreopinion.com/ acesso em 08 de novembro de
2012.
133
134
11
“Os mentirosos números de Auschwitz”. Texto encontrado no site Valhalla88 através do link artigos.
Disponível em: http://web.archive.org/web/20050516002940/http://www.valhalla88.com acesso em 26 de
junho de 2012.
12
BIONDINI, Alejandro Carlos. “Sólo prohíben los débiles”, 1997. Libertad de Opinión. Disponível em:
http://web.archive.org/web/20010219003143/http://www.libreopinion.com acesso em 17 de junho de
2013.
135
FONTES:
Ciudad Libertad de Opinión (www.libreopinion.com)
Valhalla88 (http://www.libreopinion.com/members/sul88/valhalla88.htm)
Links acessados
http://web.archive.org/web/20000305233327/http://libreopinion.com acesso em 11 de
abril de 2012.
136
http://web.archive.org/web/20010219003143/http://www.libreopinion.com acesso em
17 de junho de 2013.
http://web.archive.org/web/20020221142208/http://www.libreopinion.com acesso em
06 de setembro de 2012.
http://web.archive.org/web/20031028073727/http://libreopinion.com/members/sul88/va
lhalla88.htm acesso em 06 de setembro de 2012.
http://web.archive.org/web/20040603041404/http://www.libreopinion.com/members/sul
88/valhalla.htm acesso em 08 de novembro de 2012.
http://web.archive.org/web/20001021162927/http://libreopinion.com/ acesso em 08 de
novembro de 2012.
http://web.archive.org/web/20050516002940/http://www.valhalla88.com acesso em 26
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2010.
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39-44, fev. 2003. [tradução de Maria Elisa da Cunha Bustamante]
*
Mestre em História - Doutorando – Instituto de História e Pós-Graduação em História Comparada. E-
mail: joaoarthurfranz@gmail.com
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