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PROLÓGO

“O número de mortes após a explosão aumenta para 20 mil apenas 24 horas


após atentado. ”
“50 anos do início das sanções econômicas contra os Estados Unidos. ”
“Destruição ambiental: “Ainda estamos há décadas de uma recuperação
significativa da Flórida”, dizem especialistas.
“A nova colônia americana nada mais é que um lixão radioativo”.
“ Protestos contra o governo agravam a situação civil de diversos países
europeus”.
“Testes na Rússia causam problemas além da fronteira”.

TÍTULO ENTREVISTA
POR: James Martinez
Quando fui abordado a alguns meses, através de fontes próximas sobre
alguém que estava em busca de contar sua história e expor um esquema que
envolve política, manipulação, tecnologia e aparentemente uma trama digna de
ficções cientificas, a desconfiança se fez presente. Entretendo, após provas
serem apresentadas eu sabia que essa história deveria ser contada.
Sentado em uma modesta mesa de madeira, em uma cozinha simples e com
um copo de café na mão, eu observo a figura até então misteriosa. Mais jovem
do que eu imaginava, provavelmente nos 60 anos e com olhos que parecem ter
vivido cinquenta vidas, a postura do homem na minha frente, que vamos
chamar de Sr. X por questões de segurança, mostra certa hesitação. Com os
ombros curvados e mãos inquietas ele observa tudo ao seu redor, claramente
desconfortável no ambiente desconhecido. Ambiente esse que foi
cuidadosamente escolhido, para servir como território neutro e seguro. Porém,
antes de entrarmos em detalhes da história de Sr. X, devemos dar o contexto
sobre fatos que se sobrepõem a sua história.
A história de Sr. X se esbarra com o período da Grande Guerra Nuclear, onde
após um ataque ao sudeste dos Estados Unidos, ele declarou guerra à URSS e
em seguida já lançou bombas nucleares em praticamente todas as instalações
militares de ponta russas, minando o poder de fogo do país, que acabou se
tornando em pouco tempo colônia dos EUA, se tornando completamente
submissa as decisões do governo estadunidense. No decorrer dos anos
seguintes à colonização, os Estados Unidos utilizaram o território soviético para
testar e desenvolver bombas nucleares e tecnologias armamentistas
extremamente devastadoras, o que causou comoção global e retaliação
através de inúmeras sanções econômicas para o país, e desse modo tornou o
país ao longo de poucos anos subdesenvolvido e pobre. Tudo isso causou uma
aliança entre países de todos os continentes, que conseguiram minar os
Estados Unidos do seu poder através de sanções econômicas. E agora quase
cem anos depois desse fato, o mundo ainda luta para se recuperar da
destruição.
Segundo Sr. X, o principal motivo desses fatos terem ocorrido foi uma viagem
no tempo ocorrida em 2051 no antigo território russo. Há uma década atrás, a
possibilidade de algo assim acontecer poderia parecer risível, entretanto, com
os resultados de pesquisas dos últimos tempos em relação a realidades
paralelas e viagens pelo tempo como o do Centro Científico de Sydney, essa
possibilidade não parece mais tão irreal. Agora, sentado com o Sr. X, lhe
entrevisto em busca de mais detalhes que possam esclarecer sua história.
Primeiramente Sr. X, como você se envolveu nessa história?
Sr. X: Eu morava na capital da Rússia, Moscow, em 2051. Fui criado por
familiares que me ensinaram desde pequeno a ter orgulho da minha nação.
Familiares esses que sempre compartilharam com seu círculo de amigos a
mesma insatisfação com o fim da URSS após a Guerra Fria.
Você poderia explicar o que seria a Guerra Fria?
Sr. X: O período que todos conhecem como Grande Guerra Nuclear, na
verdade era conhecido como Guerra Fria, já que apesar de ameaças de
ataques existirem, não aconteceu nenhum ataque oficialmente. Os dois países
continuaram se ameaçando até que em 1989 ocorreu a queda do muro Berlim,
um final simbólico para a Guerra. Com o fim da guerra, a URSS, foi declinando
até chegar ao fim em 1991. Foi uma perda dolorosa que seguiu gerações. Em
2051, eu e mais 19 pessoas passamos a trabalhar para a empresa
farmacêutica chamada Alkaev. Essa empresa financiava, em segredo,
pesquisas armamentistas e compartilhava com o nosso grupo as mesmas
ideologias e o ódio pelos Estados Unidos. Nosso grupo buscava uma forma de
reverter tudo o que aconteceu. Nós sabíamos que o momento da Guerra dos
Mísseis seria essencial para o nosso plano.
Porque a Guerra dos Mísseis foi essencial?
A crise dos mísseis, como você sabe, foi um momento de tensão extrema
antes da Guerra Nuclear iniciar, O que foi feito pelos Estados Unidos foi um
bloqueio naval à Cuba, apoiado pela OTAN, pois viram um crescente número
de embarcações soviéticas circulando naquele território, e fazendo um
reconhecimento aéreo do local puderam perceber que haviam mísseis
nucleares no país apontando para território estadunidense. Com a tecnologia
da Alkaev, conseguimos voltar no tempo para esse momento e realizamos o
ataque aos EUA, completando nossa missão e logo após voltamos para 2051.
Então 113 anos depois, finalmente sabemos quem foram os responsáveis
por esse ataque. Como essa viagem no tempo funcionou?
Sr. X: Então, eu fazia parte desse grupo, que era formado por militares
socialistas russos, entre engenheiros nucleares, físicos e fuzileiros do exército
russo. Nós éramos chamados de Formovshchiki Vremeni, e tínhamos a missão
de infiltrar na base em Cuba que continha as ogivas nucleares e disparar os
mísseis em estados diferentes do território dos EUA, para desse modo afetar
largamente o país e causar outra guerra, que nós esperávamos ser mais
vantajosa para a URSS. Como eu havia dito, o projeto da Alkaev foi realizado
com sucesso e foram criadas sob sigilo tecnologias de viagem no tempo para o
passado e para o futuro, na forma de um dispositivo portátil que foi acoplado a
um tipo de veste que modifica o espaço-tempo num raio pequeno, permitindo
que a viagem temporal seja realizada, mas como era muito caro fabricar essa
tecnologia, cada veste só tinha 2 cargas, e um algoritmo determina a distorção
que elas realizam no espaço-tempo e pode assim moldar a data de cada
viagem. É determinado previamente pelo algoritmo um momento no passado e
o momento atual, para que após cumprir a missão, nós pudéssemos voltar para
o momento presente. Aí após a gente se preparar, nós ativamos o dispositivo
para o dia 20 de outubro de 1962, antes do governo soviético pedir a retirada
dos mísseis, e assim atravessamos o espaço-tempo para esta data e com o
nosso sucesso, nós partimos para infiltrar na base cubana, usando uniformes e
pseudônimos de oficiais soviéticos que nós sequestramos, e assim
aproveitamos o momento de ânimos inflamados para lançarmos as ogivas.
Ok, então vocês viajaram para 1962 e iniciaram o ataque, mas como
fizeram para voltar para 2051? Vocês usaram a carga restante da veste?
Sr. X: Sim, era esse o nosso plano. Após cumprirmos a missão de lançar os
mísseis nucleares no território estadunidense e iniciar uma outra guerra,
usamos a carga restante e voltamos para o tempo presente, com esperança
sobre o que nosso ato havia ocasionado, só que nós descobrimos
imediatamente o destino fatídico que a nossa querida União Soviética havia
levado, pois ao contrário do que pensamos, nosso país não levou adiante o
ataque e tentou amenizar a situação, mas os Estados Unidos se recusou a
aceitar paz.
Todos voltaram?
Sr. X: Não. Não todos. Nós perdemos quatro. Sabíamos que imprevistos
poderiam acontecer, mas... Enfim, o plano era “simples”. Nos programamos
para chegar a um local relativamente perto do perímetro onde os soldados
fariam a ronda noturna mais distante da base. Depois de imobilizarmos e
tomarmos as identidades desses soldados, tudo parecia ir de acordo com os
planos. Nós conseguirmos criar uma distração e chegar perto da sala de
controle. Entretanto, de alguma forma a base foi alertada. Quatro membros da
equipe se sacrificaram para segurem os soldados de entrar na sala. Depois do
lançamento, nós sabíamos que eles não conseguiriam tempo o suficiente para
ativar o dispositivo, eles já estavam cercados e eles sabiam o que iria
acontecer no momento que se deixaram para trás. Eles iam morrer.
Entendo. Você poderia falar um pouco da relação entre os membros da
equipe?
Sr. X: Nós éramos próximos, tínhamos que ser. Um grupo como o nosso, com
a nossa missão, dependia inteiramente do nosso relacionamento. É claro que
alguns eram mais próximos que os outros. Começou com um grupo de amigos
e outros membros foram recrutados, sendo na maior parte pessoas já
conhecidas. Era necessárias três coisas: ter as habilidades necessárias,
compartilhar os mesmos ideais e ser alguém que teria a missão como principal
prioridade. Durante o tempo que trabalhamos juntos, relações se tornaram
mais fortes e novas surgiram. Uma perda como aquela... A morte deles, foi
doloroso. Muito doloroso.
Após seu retorno, como foi a sua reação ao novo mundo que vocês foram
apresentados?
Sr. X: Nós ficamos perdidos. Eu levei um tempo para digerir. Não havia nada
naquele lugar que lembrasse a minha Rússia. Só havia destruição e pessoas
tentando sobreviver naquele terror. Respirar era difícil, o próprio ar parecia que
iria me sufocar. Não havia nada que eu reconhecesse. Durante os primeiros
dias, nós só tentamos sobreviver e procurar pelas pessoas e lugares que
pudessem ser ou nos levar até onde estaríamos a salvo. Alguns tinha famílias
com esposas e filhos, mas não tiveram qualquer notícia em relação a eles. Não
poderíamos dar a notícia da morte dos que ficaram para trás, já que não
sabíamos nem se existia alguém para dar a notícia. Depois de um tempo,
conseguimos mais algumas informações sobre os acontecimentos que nós
causamos. Tivemos que aprender a viver em uma nova realidade. Não
demorou até algumas pessoas nos olharem diferente, desconfiando que
poderíamos ser parte de algum tipo de resistência ou rebeldes. Nós
destoávamos demais por mais que tentássemos nos camuflar. Ficou cada vez
mais perigoso e tivemos que fugir. Com o tempo fomos nos separando, era
mais seguro assim. Eu li na adolescência livros que contavam sobre distopias,
passar a viver numa realidade como aquela era como estar preso em um
pesadelo.
Suas ações não afetaram somente a Rússia e os EUA. Seus atos levaram
o mundo para um rumo de mais destruição que havia antes, causando
perdas irrecuperáveis para o mundo todo, pois a catástrofe da destruição
nuclear provocou danos irredutíveis na crosta e atmosfera do planeta, e
principalmente na região europeia e asiática, fazendo que por
consequência os países situados naquela região também
empobrecessem. Porque assumir a culpa agora?
Sr. X: Remorso. Eu sinto remorso, como um veneno que corroeu todo o meu
corpo. Por anos eu pensei em tentar novamente, desfazer toda essa bagunça.
Mas como saber o resultado? Eu não poderia arriscar novamente. Não sei nem
se o que nós estamos vivendo é uma nova realidade separada, ou se tudo faz
parte da mesma linha do tempo. Poderá levar décadas para uma pesquisa
sobre esse assunto ser concluída e termos uma resposta concreta. Como um
fugitivo como eu poderia ter acesso a isso? E se isso acontecer, eu
provavelmente já estarei morto.

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