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ORGANIZAÇÃO

ADICLECIO FERREIRA DIAS


JOSÉ CARLOS FERRAZ

Serra/ES
1ª Edição - 2019
Ser professor do ensino religioso se
resume numa paixão inesperada pela
filosofia, ao memso tempo sentir o amor
do sagrado invadir seus pensamentos,
culminando em pura misericórdia...

– Danilo Dias Leal - Pedagogo Teólogo/MG.

3
Copyright©2019 by Adiclecio Ferreira Dias

Capas & Diagramação: Enoque F. Cardozo


(Trupe serviços editoriais Freelancer -
http://trupeservicoseditoriais.blogspot.com.br/)
Editoração: Adiclecio Ferreira Dias

DIAS, Adiclecio Fereira. FERRAZ, José Carlos.


A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO
BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA – 1ª ed –
Serra/ES. EDIÇÃO DO AUTOR, 2019.
110 p.: il.
1. Teologia. 2. Ensino Religioso.
LIVRO BRASILEIRO. I Título

ISBN: 978-85-5990-170-2

Impresso pelo autor – 2019.

Elaboração do editor.
Índice para catálogo sistemático.
Copyright "©" 2019. Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução parcial ou total, por qualquer meio.
Lei Nº 9.610 de 19/02/1998 (Lei dos direitos autorais).

2019. Escrito e produzido no Brasil.


EDITORA KOINONIA
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Belo Horizonte - MG - CEP 30421-428
TEL: (31) 3657-5799
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em banco de dados sem a expressa autorização do autor.
A todos que se dispuseram
a participar desta magnífica obra.

5
SUMÁRIO
A P R E S E N T A Ç Ã O .............................................................. 09
P R E F Á C I O .............................................................................. 11
ENSINO RELIGIOSO E A PROMOÇÃO DA LIBERDADE
RELIGIOSA ................................................................................... 13
Herika Christina Scalzer Gama Cazoni
Adiclesio Ferreira Dias

DIDÁTICA DO ENSINO RELIGIOSO: DE QUE MANEIRA


TRABALHAR A TRADIÇÃO RELIGIOSA NO ENSINO
FUNDAMENTAL ......................................................................... 26
Jane Cristina Souza de Oliveira
Joselina Souza de Oliveira

O ENSINO RELIGIOSO PELOS ANOS: IMPORTANTES RELATOS


PARA A COMPREENSÃO DO CONTEXTO ATUAL ...................... 35
Marli Trabach
José Carlos Ferraz
Heverson Pereira Miranda

DIVERSIDADE RELIGIOSA E O ENSINO RELIGIOSO NO


CMEI PROFESSORA LEILA THEODORO .............................. 55
Marli Trabach
José Carlos Ferraz
Antônio do Rosário

OS DESAFIOS DO PROFESSOR DE ENSINO RELIGIOSO NA


EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL .................................................. 76
Enailda Santos da Silva
José Fábio Bentes Valente
Adiclesio Ferreira Dias
José Carlos Ferraz

AS RELIGIOSIDADES INDÍGENAS NO CURRÍCULO DO ENSINO


RELIGIOSO ESCOLAR: SUGESTÕES DE LITERATURA .............. 96
David Mesquiati de Oliveira
APRESENTAÇ Ã O
O presente livro A DIVERSIDADE DO ENSINO
RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA
CONTEMPORÂNEA, organizada por Adiclecio Ferreira Dias e
José Carlos Ferraz, insere-se de forma oportuna na caminhada em
prol do Ensino Religioso em nossas escolas, trazendo um olhar
contemporâneo, circunspecto e propositivo em termos do Ensino
Religioso no País. Ao olharmos de forma antropológica filosófica,
que nota o chamado fenômeno religioso com consequência de sua
característica humana, de sua condição essencial, na qual se adota
uma forma peculiar de abordagem mais particular e de nossos
próprios interesses que vem a ser a de ordem pedagógica, na qual
pode se dizer que o principal do religioso para o Ensino Religioso
é colaborar para que o aluno busque ter uma posição e ao mesmo
tempo se relacionar da melhor forma possível com as diversas
realidades que o circundam. Em primeiro momento em relação
aos seus próprios limites e em seguida quanto às mais diversas
linguagens simbólicas.
O Ensino Religioso é, assim sendo, é um assunto que está
diretamente ligado à vida, e que acaba refletindo-se na conduta, na
direção que orienta a sua própria ética.
Sabemos que ouve sem dúvida avanços importantes ao
direcionamento pedagógico desde questões reflexivas e lutas para a
inserção do Ensino Religioso, garantido na Constituição Federal
(cidadã) de 1988 – ―O Ensino Religioso ocupa-se com a educação
integral do ser humano as razões mais íntimas e transcendentais,
fortalecendo nele o caráter de cidadão, desenvolvendo seu espírito
de participação, oferecendo critérios para a segurança de seus
juízos e aprofundando as motivações para a autêntica cidadania.‖.
Entretanto, a agitação de como se deve fazer é algo que continua
sendo crucial.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

O ambiente de sala de aula não anseia em ser uma


comunidade de fé, mas sim um ambiente de reflexão que busque
tratar sobre limites e superações. Isto sugere uma necessidade de
buscar edificar uma pedagogia que beneficie tal esperança, porque
o que temos como objetivo é obra de uma experiência pessoal, na
busca incansável de respostas para as diversas questões
existenciais. Na qual se faz necessário a interpretação de teoria e
prática.
Nesse caminho, a preparação de uma linguagem seja ela
simbólica ou não busque favorecer a descoberta e ao mesmo
tempo a experiência dessa realidade, assim, é necessário avaliar
quanto aa questões essenciais que buscam orientar a ação
pedagógica do Ensino Religioso a própria pedagogia do limite, aos
livros sagrados, a linguagem simbólica, e a própria dimensão dos
valores.
A questão da prática é algo que vai acontecer na ordem da
linguagem simbólica, buscando desenvolver o aluno na capacidade
de interpretar a linguagem simbólica e na própria compreensão das
experiências metafísicas e do transcendente.

José Carlos Ferraz


Docente e Mestrando em Ciências das Religiões

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

PREFÁCIO O presente livro A Diversidade do Ensino Religioso no


Brasil: uma leitura contemporânea, organizada por Adiclecio Dias e
José Carlos Ferraz, introduz de forma adequada na visão
contemporânea do Ensino Religioso em nossas escolas, apresentando
as várias facetas em termos de Educação Religiosa no País, que
compreende desde questões históricas e legais até mesmo reflexões
pedagógicas, na qual os autores fazem parte dessa realidade e da
própria história do Ensino Religioso no Brasil.
No primeiro capítulo, intitulado ―Ensino Religioso e a
promoção da liberdade religiosa‖, de autoria dos pesquisadores
Herika Christina e Adiclecio Dias, como o próprio nome indica, situa
o Ensino Religioso na valorização da liberdade religiosa.
Relacionando às diversas culturas educacionais na vida
contemporânea. Enfatizando que a disciplina contribui para uma
educação que vise o respeito às diferenças e manifestações religiosas
de nosso país.
Os pressupostos e as concepções da didática do Ensino
Religioso no Brasil são abordados e analisados no segundo capítulo,
em ―Didática do Ensino Religioso: de que maneira trabalhar a
tradição religiosa no ensino fundamental‖, de autoria das docentes e
pesquisadoras Jane Cristina e Joselina Souza, analisando qual a
importância de se trabalhar a tradição religiosa no ensino
fundamental, apresentando a importância que a escola e o professor
possuem e como deve ser o desempenho através da transmissão dos
valores tradicionais para que se construa um paralelo social entre ideal
e histórico-cultural.
No terceiro capítulo, intitulado ―O Ensino Religioso pelos
anos: importantes relatos para a compreensão do contexto atual‖,
texto elaborado pelos docentes e pesquisadores Marli Trabach, José
Carlos Ferraz e Heverson Miranda, traz de forma clara e objetiva

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

como o Ensino Religioso vem contribuindo para um ambiente


saudável em sala de aula e da importância do professor no que se
refere ao trabalho pedagógico e quanto à posição que deve exercer,
possibilitando aos alunos que sejam sujeitos com liberdade no que diz
respeito a sua religiosidade.
No quarto capítulo, ―Diversidade religiosa e o Ensino
Religioso no CMEI Professora Leila Theodoro‖, os docentes Marli
Trabach, José Carlos Ferraz e Antônio do Rosário apresentam de que
forma se deve compreender e como ocorre a diversidade religiosa e
suas implicações pedagógicas na Educação Infantil em particular na
escola de Educação Infantil pública do município de Serra, no
Espírito Santo.
No quinto, ―Os desafios do professor de Ensino Religioso na
Educação Fundamental‖, os pesquisadores Enailda Santos, Adiclecio
Dias, José Carlos Ferraz e José Fábio analisam a contribuição do
professor, na construção de valores éticos. E sua formação
mostrando na prática que o ensino religioso tem pouca relevância nas
escolas, devido nosso país ser laico.
E por fim, temos a contribuição do pesquisador Prof. Doutor
David Mesquiati, onde o autor traz de forma clara os desafios
enfrentados pelos docentes que atuam no ensino religioso com à
comunidade indígena.
Assim, a presente obra A Diversidade do Ensino Religioso
no Brasil: uma leitura contemporânea cumpre o seu objetivo de
mostrar de forma ímpar o trabalho que vem sendo realizado em
alguma das realidades do nosso Brasil.
Quero encerrar esta apresentação pedindo a cada leitor e
leitora que busque se engajar em prol de um Ensino Religioso de
qualidade no Brasil, na qual colabore com os docentes e discentes na
formação em nossas escolas em todo o País. Parabéns a todos os
autores e autoras desta história que com toda a certeza, contribuíram
e muito na defesa em prol do Ensino Religioso como um direito
assegurado de todo cidadão.
Os organizadores

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

ENSINO RELIGIOSO
E A PROMOÇÃO
DA LIBERDADE RELIGIOSA
Herika Christina Scalzer Gama Cazoni1
Adiclesio Ferreira Dias2

1 Licenciatura Plena em Pedagogia pela Faculdade Espirito Santense (FAESA), Especialista em


Psicopedagogia (CESAP) e Mestrando em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória.
2 Historiador pelo Centro Universitário UNINTER, Bacharel em Teologia pela FABRA,
Especialista em Ensino Religioso pela Faculdade Unida de Vitória e Mestrando em Ciências das
Religiões pela Faculdade Unida de Vitória.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

RESUMO: Este artigo pretende introduzir o leitor a importância


de se trabalhar em sala de aula a valorização da liberdade religiosa.
Buscamos trabalhar as questões relacionadas às culturas, tema
central das discussões educacionais na vida contemporânea. A
complexidade das relações, tensões e conflitos na sociedade atual,
leva-nos a pesquisar de forma mais profunda as possibilidades de
atuação dos docentes em incorporarem as identidades plurais,
políticas e inter-religiosas no ambiente de educação. O Brasil é um
país rico em diversidade étnica, cultural, religiosa e imigrante.
Contudo, ao longo de nossa história, têm existido preconceitos,
relações de discriminação e exclusão social que impedem muitos
brasileiros de terem uma vivência plena de cidadania plural crítica e
participativa. Assim, enfatizamos que a disciplina de Ensino
Religioso, ensinada através da concepção da liberdade religiosa
pode contribuir para uma educação que vise o respeito às
diferenças.

Palavras-chave: Liberdade Religiosa. Ensino Religioso.


Diversidade Religiosa.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

INTRODUÇÃO
A educação religiosa chegou em solo brasileiro através de
seis missionários conhecido como jesuítas, subordinados a Manuel
da Nóbrega, funda assim a escola companhia de Jesus em
Salvador, no ano de 1549, com o intuito de catequizar os nativos e
escravos.3 Esta pesquisa consiste em abordar a importância de se
trabalhar em sala de aula a valorização da liberdade religiosa, pois
hoje a educação estar submetida ao regime de Estado Laico, ou
seja, o Estado não tem religião própria.4 Temos por objetivos
demonstrar ao leitor as diversidades religiosas no Brasil e como os
educadores precisam de liberdade laico, ou seja, precisam de
liberdade para trabalharem a diversidade religiosa sem
proselitismo. Agora sobre a metodologia aplicada nesta pesquisa
foi do tipo revisão bibliográfica, em livros e artigos. Nesse sentido,
a relevância desse estudo está em refletir sobre as contribuições da
proposta da diversidade no processo pedagógico do Ensino
Religioso no espaço escolar público e laico da educação básica,
especificamente no ensino fundamental, cuja finalidade é
desenvolver o respeito e a valorização às diferenças, sejam elas
religiosas, étnicas, sociais, etc. e estimular nos alunos ações
conscientes, e promova uma geração que possa conviver e
transformar o seu meio e desenvolver uma sociedade mais justa e
equilibrada em todos os âmbitos, social, político, econômico e
religioso.

ENSINO RELIGIOSO: A LAICIDADE E A


DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL
Entende-se que a laicidade procura defender a liberdade
absoluta das religiões e outras crenças, e protege o direito de
3 Informações disponíveis em: <https://gestaoescolar.org.br/conteudo/728/as-leis-brasileiras-e-
oensino-religioso-na-escola-publica>. Acesso em 21 jun. 2019.
4 Informações disponíveis em:< https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10722157/inciso-i-do-

artigo-19-da-constituicao-federal-de-1988>. Acesso em 14 de mai, de 2019.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

manifestar na medida em que não colide com os direitos e


liberdades de outros. A autora Domingos5 afirma que é a laicidade
―permite a convivência pacífica entre as religiões e o respeito aos
indivíduos que optam por não professar nenhuma religião‖. E
neste âmbito reitera que ―a escola é o espaço onde esses universos
culturais se encontram, onde os conflitos podem se acirrar ou
serem desarmados‖.6
Conforme os estudos realizados pelo filósofo francês
Ricoeur7 a laicidade é observada em dois posicionamentos, seja
através dos ditames propostos pelo Estado e o da sociedade em
geral. Quando se fala em laicidade estatal, tem-se, como explica o
autor ―a abstenção e separação entre Igreja e Estado‖.8 Em
segundo plano, do ponto de vista da sociedade é uma questão de
debate e discussão de caráter público. Assim como proclama o
autor: Numa sociedade pluralista, como a nossa, as opiniões, as
convicções, as profissões de fé, exprimem-se e publicam-se
livremente‖, expressando os seus melhores argumentos. A escola
se encontra numa posição intermediária, entre o Estado, enquanto
serviço público e a sociedade civil, que a investe com uma das suas
funções mais importantes: a educação.9
Partindo-se deste argumento, o autor faz uma elucidação
dos questionamentos de outros autores, pesquisadores e inclusive
pedagogos, pois, a grande parte apenas dá margem e sobrepõe
questões preponderantes respeito da laicidade do Estado em razão
daquela advinda da sociedade, e não permite a existência de outras
fontes e perspectivas sobre o assunto.
Não obstante aos conceitos de laicismo, é importante
fundamentar que, por vezes, o mesmo pode confundir-se com
5 DOMINGOS, Marília de F. N. Escola e laicidade. O modelo Frances, interações cultura e comunidade.
Vol. 3. N.4. Uberlândia. Universidade Católica, 2008. p. 153-170
6 DOMINGOS, 2008, p. 154.
7 RICOEUR, Paul. A crítica e a convicção. Lisboa: Edições 70, 1997. P.176-177
8 RICOEUR, 1997, p. 176.
9 RICOEUR, 1997, p. 176, 177

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

secularismo, porém na literalidade o dicionário etimológico


eletrônico ―informal‖ define que ―o laicismo pode ser conceituado
como a doutrina filosófica que defende e promove a separação do
Estado das igrejas e comunidades religiosas‖,10 contrário a este
pensamento o secularismo ―partia da ideia de que os sacerdotes e
as instituições religiosas não devem ter poder político nem
influenciar nas leis‖11. Logo, mínima intervenção e separação de
poderes não possuía o mesmo significado, porque aquela busca
equilibrar a diversidade em si, fazendo com que não haja uma
―monarquia religiosa‖, contrário disto o secularismo busca apenas
diminuir a influência da religião sem entrar na questão da
diversidade.
Denota-se deste ponto a importância de tratar sobre o
tema laicidade, em especial no Brasil, quando se trata de ensino
religioso, quanto a isto o autor Ricoeur ao tratar deste assunto
divide-o em dois aspectos: ―a escola e o ensino religioso‖12, pois a
instituição de ensino assume um papel de desenvolvimento da
pessoa, e se equipara aos aspectos essenciais da religião que é
também ampliar a capacidade humana trazendo novas reflexões
sobre o seu próprio eu e sua finalidade específica. Assim, por este
movimento nasce a ―laicidade civil‖, que trata a respeito da
preparação do indivíduo para a sociedade, como ele destaca:
Em suas palavras, se a laicidade da sociedade civil é uma
laicidade de confrontação entre convicções bem pensadas, então é
preciso preparar as crianças para serem bons debatedores; é
preciso iniciá-las na problemática pluralista das sociedades
contemporâneas, talvez ouvindo argumentações contrárias
conduzidas por pessoas competentes13
10 INFORMAL, Dicionário. Laicismo. Disponível em:
<https://www.dicionarioinformal.com.br/laicismo/>. Acesso em 14 de mai, de 2019.
11 SOUZA, Josias Jacinto de. Separação entre Religião e Estado no Brasil: Utopia Constitucional? Tese de

doutorado na área de concentração de Direito, Estado e Sociedade pela Pontifica Universidade Católica de
são Paulo, 2009. p. 50
12 Ricoeur, 1997, p. 178
13 RICOEUR, 1997, p. 178

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Diante deste fundamento, a sua aplicação no Brasil enseja


um confronto de ideais e ideias, principalmente porque a grande
maioria entende que a religião não deve ter caráter público, bem
como o Ensino Religioso apenas deve ser de cunho privado, e isto
permitiria a manutenção de duas esferas, a primeira do poder
público e a segunda da religião em si, permitindo a independência
destas.
O quesito iminente que opera sobre a religião e seu aspecto
laico e/ou sua laicidade é em respeito à intolerância, tendo como
base a própria instituição escolar que ao invés de possibilitar o
estudo mais aprofundado da religião acaba fomentando ideologias
individuais que inviabilizam ao acadêmico a desenvoltura da sua
consciência autônoma e plena a respeito da liberdade religiosa.
E, assim, questiona-se a eficácia da adoção da disciplina
religiosa nas escolas e como o sistema metodológico pedagógico
seria aplicado, e ainda, como o Estado assumiria o papel de
fiscalizador quanto aos temas religiosos expostos em ambientes
públicos. Argumenta-se no sentido de que não é função do poder
público ter a responsabilidade de abranger assuntos que possuem
caráter particular, pois ele não conseguiria adentrar sobre
parâmetros da laicidade, ademais, não cabe a um sistema laico essa
inserção.
Embora, existe esse argumento contrário pode-se
mensurar que o Ensino Religioso é deveras necessário nas
instituições escolares, como elucida Pieper ―o Estado deve assumir
papel de neutralidade em relação à religião e, consequentemente,
às instituições religiosas‖14. Segundo Ricouer apud Pieper existe o
fenômeno do ―agnosticismo estatal‖, que permite separar as ideias
do Estado e da Religião e supõem-se que fosse necessário manejar
este viés filosófico dentro do Ensino Religioso.
14PIEPER, Frederico. Laicidade, escola e ensino religioso. Considerações a partir de Paul Ricoeur. Revista
Estudos da Religião. vol. 28. n. 2. Universidade Metodista de São Paulo, São Paulo: 2014.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

A natureza laica da educação pública está longe de violar a


religião, pelo contrário, estabelece um quadro de convivência e
respeito entre os diferentes sistemas de crença religiosos, sem
impor qualquer obrigatoriedade de dogmas. O fato de que agora a
educação é laica e de que a religião é uma questão assumida
exclusivamente pelo indivíduo, é um avanço democrático porque
implica que o Estado de Ensino respeite consistentemente a
liberdade de religião e pensamento de cada família e de todo
cidadão.
A educação laica foi uma das bandeiras levantadas pelo
Iluminismo burguês contra o papel retrógrado e obscurantista
desempenhado pela Igreja Católica como parte da ordem feudal da
sociedade. Como já mencionado a laicidade buscou a
independência do Estado contra a religião e isto foi uma luta
necessária porque permitiu o desenvolvimento científico-técnico
contemporâneo sobre as outras esferas do conhecimento durante a
Idade Média. A nova sociedade do conhecimento e da
informação, caracterizada por ser plural e heterogênea, coloca
novas demandas à educação. O sistema educacional religioso não
pode se limitar apenas à transmissão de conhecimento, mas a
coexistir na diferença.
O Ensino Religioso em geral e seus reflexos da laicidade
tem parâmetros propostos contra os setores religiosos que temem
perder sua capacidade de controle e influência social. O laicismo
implica ter o caráter emancipatório presente diante de qualquer
influência ou imposição religiosa ou eclesiástica nas relações
sociais que ocorrem nos espaços públicos. Implica também em
reconhecer, por um lado, sua fundamentação religiosa, política,
histórica, antropológica e filosófica; por outro, como sendo
necessário assumi-lo como conhecimento e prática no diálogo e na
convivência social e educacional.
Abre-se um amplo debate sobre o caráter laico nos
sistemas educacionais, pois, não corresponde a uma nacionalidade

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

específica em um contexto de pluralidade de crenças religiosas e


filosóficas de um mundo influenciado pelos efeitos da globalização
e do multiculturalismo.
As relações socioeducativas religiosas nos espaços
escolares devem ser abordadas desde o início do que é comum a
todos, além das diferenças. Assim, um dos principais objetivos da
educação amparada pelo laicismo é o fortalecimento da
convivência escolar sob os princípios da liberdade de consciência e
da igualdade. Observa-se que a laicidade na educação religiosa
atende às necessidades das pessoas, que aspiravam a garantia da
liberdade, para fortalecer, através da educação, uma forma de
governo e um sistema de vida democrático, em que o pluralismo
social é expresso dentro da própria política e educação do país,
visando respeitar plenamente as garantias individuais e os direitos
humanos de todas as pessoas.
A educação religiosa no sentido laico é uma condição para
o livre desenvolvimento dos indivíduos, que assegura a autonomia
de pensamento a todas as pessoas, tanto aqueles que adotam
qualquer religião como aqueles que não o fazem. Além disso,
quando da laicidade, ainda que permaneça alguns sinais de
intolerância, vislumbra-se que foi possível superar alguns conflitos
sociais, respeitando a liberdade de crenças. Por outro lado, ainda
há a necessidade de reconhecer a diversidade.
O autor Ricoeur dispensa as pretensões dogmáticas e
apenas coloca em pauta no sentido latu sensu a liberdade
pedagógica da religião, ao denotar que a função do Estado fosse
uma neutralidade, não quis induzir a aplicação de uma educação
ateísta ou agnóstica, mas sim que quando de sua manifestação pela
adoção do ensino religioso o mesmo fosse independente, não
sobrepondo qualquer religião.
Considera-se assim, que educação laica não deve assumir o
fardo antirreligioso, embora a separação absoluta entre conteúdo
escolar e qualquer culto religioso seja clara, ainda sim, não se deve

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

negar aos estudantes uma informação elementar e bem graduada


sobre a história das religiões e sua presença no mundo
contemporâneo, porque isso faz parte do simbolismo humano.
A globalização do conhecimento exigido pelo nosso tempo
implica que, em igualdade de circunstâncias, o mapa religioso,
antigo e atual, seja exposto aos alunos, e que cada uma dessas
opções seja tratada com respeito e objetividade. Significativamente,
a melhor prevenção contra qualquer visão avassaladora da
globalização é o conhecimento de histórias e razões nacionais e
locais, incluindo cultos e crenças.
Em termos gerais, a maioria das constituições latino-
americanas apresenta a educação do Estado sob este princípio:
"Educação Laica, Gratuita e Obrigatória", e isto pode ser vista
como uma declaração típica dos movimentos liberais
independentes.

A LAICIDADE DO ESTADO BRASILEIRO


Um estado laico não significa um estado que não aceita
religião. O princípio da laicidade é afastar-se do controle do
Estado religião, e respeitar o direito de cada cidadão de ter ou não
ter uma convicção religiosa e professar dentro dos limites da lei,
conforme estabelecido pela Constituição Federal.
Como já mencionado anteriormente, existem várias
abordagens conceituais e doutrinárias que podem ser identificadas
quanto ao conceito de secularidade. Entre os aspectos mais
relevantes que se destaca na maioria das abordagens conceituais, é
a ligação existente entre o secularismo e a democracia, esta é a
concepção da laicidade do Estado como um elemento essencial
para a democracia. Na mesma ordem de ideias, a autonomia da
política e da ética pública desprovida de pretensões ou concepções
religiosas, a inadmissibilidade de uma concepção teológica da

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

política Peces-barba Martínez15. No mesmo sentido, o conceito de


secularidade está relacionado a outros conceitos, como pluralismo,
e com certos direitos (o direito à igualdade) ou liberdades
fundamentais (liberdade individual de consciência e expressão) e,
consequentemente, com o Estado.
Isto é apresentado como uma garantia da igualdade de
oportunidades quanto a professar livremente as convicções
(religiosas ou não) no quadro do campo da liberdade de ação que
se insere na dimensão privada da existência, no âmbito da
proteção dos direitos humanos16. Resgatada assim, a associação
direta e imediata entre o laicismo, a liberdade de consciência e a
dimensão desta como defesa da pluralidade perante posições que
buscam impor concepções únicas e totais17.
Para o conceito de laicismo, sempre implicará dois
princípios essenciais como: antidogmatismo e tolerância, enquanto
o pensamento da laicidade reivindica a capacidade e o direito de
cada pessoa de (i) desenvolver ou aderir a valores e próprias
crenças, para "dar leis a si mesmo" no exercício, precisamente, sua
autonomia moral; e (ii) pensar sem limitações ou imposições
dogmáticas heterônomas18.
O princípio baseia-se na igualdade na diversidade, no que
diz respeito às particularidades e na exclusão de antagonismos. O
laicismo no ensino religioso não exclui a religião e manifestações
públicas, nem a instrução religiosa, muito menos interferir com as
convicções pessoais daqueles que optam por não professar
qualquer religião. A disciplina não possui uma formação religiosa
15PECES-BARBA, MARTINEZ. Historia de los Derechos Fundamentales. Tomo II: Siclo XVIII.
Madrid: Dykinson, 2001. p. 95.
16 BAREIRO, Line y DOBRÉE, Patricio. Estado Laico, Base del Pluralismo. In: NUGENT, Guillermo

et al. La Trampa de la moral única. Lima: Fundación Ford/IWHC, 2005. P. 105


17 SALAZAR UGARTE, Pedro. La laicidade: antídoto contra la discriminación. Cidade do México:

Consejo Nacional para Prevenir al Discriminación y Comisión de Derechos Humanos del Distrito
Federal, 2007. p. 70
18 SALAZAR UGARTE, Pedro. 2007. p. 72

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

específica, mas a apresentação da diversidade do espírito religioso,


a formação da cidadania, que considera as diferenças.
O caráter laico do Ensino Religioso visa respeitar e ter
respeitada a liberdade de crença, com base no princípio da
neutralidade, respeito, portanto, a individualidade do aluno e as
convicções de suas famílias. Ao trazer seus espaços para as várias
manifestações de cada religião ensina o princípio da tolerância e
exercício de rotina na escola e na sala de aula.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir desses argumentos caberia então perguntar qual
seria o fundamento epistemológico ou metodologia que deveriam
ser utilizados, pelos docentes, para que o Ensino Religioso
resguarde essa laicidade. Ricoeur, Junqueira e Rodrigues, pensam
que o fundamento epistemológico para o Ensino Religioso deveria
estar baseado na fenomenologia da religião, pois ―trata-se de
conferir ao fenômeno religioso o status de matéria relevante à
formação do cidadão por meio de um tipo de conhecimento que
poderá contribuir à construção de sua identidade‖ 19, seria uma
proposta que tem ―como principal característica à mudança do
campo religioso para o secular do Ensino Religioso, dando um
caráter científico, epistemológico, destituído de proselitismo‖ 20.
Destarte, Pieper, autor que articula com as ideias de
Ricouer, diz que ―toda a dificuldade do tema do Ensino Religioso
em escolas públicas existe em razão do lugar em que ela se insere:
na encruzilhada entre Estado e Sociedade‖, sendo assim, para o
autor, na abordagem fenomenológica-hermenêutica há indícios
para evitar duas modalidades de Ensino Religioso extremas:
19 RODRIGUES, Elisa. A formação do Estado secular brasileiro: notas sobre a relação entre religião,
laicidade e esfera pública. Horizonte, Belo Horizonte, v. 11, n. 29, p. 149-174, jan./mar. 2012, p.
170.
20 JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo. TEÓFILO, Debora Nascimento. Secularização e sua relação

com o ensino religioso. Teocomunicação, Porto Alegre, v. 42, n. 1, p. 82-97, jan./jun.2012, p. 96

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

eliminação do debate sobre religião na escola ou ―afirmações


proselitistas da religião num espaço laico‖21.
Sabe-se que as discussões em torno da validade do Ensino
Religioso ainda são constantes, entretanto sobre a questão da
laicidade, já existem fortes argumentos, baseados, principalmente
no modo como o estado brasileiro foi constituído, que há um
espaço legitimo para o Ensino Religioso na escola. Uma vez que
este não seja confessional e não proselitista e como indica na
legislação22, resguardando a diversidade cultural e religiosa
brasileira. Acredita-se então, que o método amplamente divulgado
e praticado da fenomenologia da religião garanta essa laicidade
escolar fornecendo ao discente conhecimento e gerando cidadãos
mais respeitosos e tolerantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAREIRO, Line y DOBRÉE, Patrício. Estado Laico, Base del
Pluralismo. In: NUGENT, Guillermo et al. La Trampa de la moral
única. Lima: Fundación Ford/IWHC, 2005.

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JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo (org.). Ensino Religioso no


Brasil. Florianópolis: Insular, 2015.

21PIEPER, 2014, p. 144


22 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9475.htm> Acesso em 03 de
agosto de 2016

24
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

_____. TEÓFILO, Debora Nascimento. Secularização e sua relação


com o ensino religioso. Teocomunicação, Porto Alegre, v. 42, n. 1, p.
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SOUZA, Josias Jacinto de. Separação entre Religião e Estado no Brasil:


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Universidade Católica de são Paulo, 2009.

25
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

DIDÁTICA DO ENSINO RELIGIOSO:


DE QUE MANEIRA TRABALHAR
A TRADIÇÃO RELIGIOSA
NO ENSINO FUNDAMENTAL
Jane Cristina Souza de Oliveira23
Joselina Souza de Oliveira

23Possui graduação em CIÊNCIAS CONTÁBEIS pelo CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO


AMAPÁ (2002) e graduação em LICENCIATURA EM LETRAS pela UNIVERSIDADE
ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (2008). Mestranda em Ciência das Religiões. Atualmente é
professora do GOVERNO DO ESTADO DO AMAPÁ.

26
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

RESUMO: O Paper analisa didática do ensino religioso: de que


maneira trabalhar a tradição religiosa no ensino fundamental,
assim, através de pesquisas bibliográficas, buscou-se analisara
legislação brasileira sistematizadora do ensino religioso, as
abordagens teóricas sobre o ensino religioso e da tradição religiosa,
e apresentar maneiras para o professor de ensino religioso
trabalhar a tradição religiosa. Concluiu-se que o educador deve
entender o aluno como um indivíduo que constrói seu
conhecimento, um ser real e não um ser imaginário, observar que a
escrita não resulta de uma simples cópia de um modelo externo,
mas sim a partir do momento em que se dá a liberdade e o
incentivo de se expressar, que a tradição, por assim dizer, é fruto
da transmissão da história, da música e das culturas dos
antepassados para as gerações futuras. A escola deve desempenhar
esse papel de transmissão dos valores tradicionais para que se
construa um paralelo social entre ideal e histórico-cultural.

Palavras-chave: Ensino religioso. Tradição. Social.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

INTRODUÇÃO
Pretende-se nesse artigo apresentar pareceres sobre o
processo de organização e didática do ensino religioso no ensino
fundamental brasileiro. Salientando, de modo específico modos e
maneiras para os professores dessa disciplina trabalharem a
tradição religiosa nessa modalidade de ensino. Justifica-se a escolha
dessa temática, salientando que o processo de ensino religioso tem
a finalidade de manter a história cultural contada nos livros
sagrados, salientando o conteúdo da grade curricular de ensino
religioso, de forma didática, lúdica e aguçadora da criatividade nos
alunos. O conteúdo do trabalho está organizado em tópicos, os
quais abordam: a legislação brasileira sistematizadora do ensino
religioso, análise das abordagens teóricas sobre o ensino religioso e
da tradição religioso, e apresenta-se maneiras para o professor de
ensino religioso trabalhar a tradição religiosa.

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SISTEMATIZADORA DO


ENSINO RELIGIOSO
Em relação ao ensino religioso, o artigo 33 da Lei 9394/96 diz:
Art. 33:

O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte


integrante da formação básica do cidadão e constitui
disciplina dos horários normais das escolas públicas de
ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade
cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
proselitismo; § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão
os procedimentos para a definição dos conteúdos do
ensino religioso e estabelecerão as normas para a
habilitação e admissão dos professores, e § 2º Os
sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída
pelas diferentes denominações religiosas, para a definição
dos conteúdos do ensino religioso.
(BRASIL, 1996).

28
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

A Lei n.º 9475/97 que reformulou o artigo 33 da Lei


9394/96 e na sua inovação redigida concede caráter
interdisciplinar com contextualidade religiosa por se estabelecer
uma componente curricular do Ensino Religioso. Com a criação
dos Parâmetros Curriculares do Ensino Religioso (PCNER),
elaborado por pessoas de várias tradições religiosas, tinha o
propósito de trabalhar o Transcendente. Como o próprio
documento averba, ―Na escola o Ensino Religioso tem a função
de garantir a todos os educandos a possibilidade deles
estabelecerem diálogo, e, como o conhecimento religioso está no
substrato cultural‖ (Brasil, 2009, p. 3 8), E assim, faz o educador
entender as Tradições Religiosas como sistematização do
fenômeno religioso a partir de suas raízes orientais, ocidentais e
africanas (BRASIL, 2009).
De acordo com Muraro (2012), as aulas de ensino religioso
não podem ser aulas de catequese. A elaboração de um currículo
depende em muito da realidade vivencial (contexto) em que está
sendo elaborado. Quando se pensa em ensino religioso pode-se
seguir a linha da história das religiões, das doutrinas religiosas, da
teologia cristã, da ética e cidadania. A eventual concessão do
espaço escolar a um representante de confissão religiosa obrigaria
a escola a concedê-lo a todas as outras que assim solicitarem.
Garrido (2012) ao abordar o livro didático no contexto do ensino
religioso, argumenta que é um assunto caracterizado por um
histórico complexo, envolto em lacunas legais, omissões
institucionais e interesses corporativos de toda ordem. Se o ensino
religioso nas escolas públicas brasileiras deve promover a
diversidade e vedar o proselitismo, conforme determina a
Constituição Federal e a LDB, os livros didáticos da disciplina
estão reprovados. É nesse sentido que as implicações do livro
didático na formação do professor de Ensino Religioso haverão de
ser repensadas. Pois, formar-se significa antes de tudo a
capacidade de medir-se na inquietude da busca.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE TRADIÇÃO


RELIGIOSA
Segundo Rodrigues (2008), o contraste entre o sagrado e o
profano é o traço que distingue o pensamento religioso. Seres,
lugares, objetos e forças sobrenaturais são sagrados, em face do
significado que tem para o crente; as coisas sobrenaturais
consideradas más são ímpias. Proscrições e tabus cercam o
sagrado, e a violação das regras é considerada profanação. Todo
lugar, ser, coisa ou ato que não é sagrado e profano, secular.
Profano é tudo aquilo considerado útil, prático ou familiar, que
pertence ao mundo cotidiano, sem possuir o significado emocional
característico do sagrado. A escola tem um papel muito importante
na transmissão e construção destes valores cabendo-lhe, juntos
com os professores, aplicar metodologias em sala de aula que
priorizem manifestações peculiares de cada aluno, ou seja,
identificando valores que foram herdados da cultura e tradições
familiares ainda em sua infância que poderão sofrer influências
para terem ou não continuidade ou valor histórico para o
indivíduo ao entrar na adolescência ou na vida adulta (SILVEIRA,
2001). Segundo Arantes (2004, p. 7) a cultura possui muitos
significados heterogêneos e variáveis os eventos que essa
expressão recobre. Remete a concepções e pontos de vistas que
vão deste a negação (implícita ou explicita) de que os fatos por ela
identificados contenham alguma forma de ―saber‖ de resistência
contra dominação de classe: em consequência, os significados
culturais não são compreendidos através da contemplação passiva
do objeto significante, mas com referência ao universo de
significado próprio de cada grupo social.

MANEIRAS PARA O PROFESSOR TRABALHAR A


TRADIÇÃO RELIGIOSA
O Ensino Religioso, tal como proposto na LDB, parte de
uma visão mais ampla que reúne todas as áreas do conhecimento,

30
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

numa abordagem fenomenológica que observe as diversas


manifestações religiosas de forma cultural, seja por meio do estudo
das Religiões Comparadas, seja buscando as histórias das Religiões.
Não menos importante, a LDB no art. 32 ―também valoriza o
fortalecimento dos vínculos familiares, dos laços de solidariedade e
de respeito à diversidade cultural e religiosa em que se assenta a
vida social‖. Assim, o professor deve apresentar os conteúdos de
Ensino Religioso a partir das tradições dos alunos e de seu
contexto social. Firmar a identidade religiosa do aluno e as marcas
de sua cultura é importante, pois a renúncia dessas marcas pode
levar a uma desvalorização das novas culturas que lhe apresentadas
(RODRIGUES, JUNQUEIRA, VOSGERAU, 2009).
Em relação à música, Reck (2010) esboçou que o professor
atento a essas tensões, ao conhecer mais sobre a realidade musical
do aluno pode abrir-se ao diálogo, propondo outras possibilidades
de repertório ou instrumentais, por exemplo. Esse diálogo
necessita, ao menos de uma maneira geral, de um distanciamento
da música secular e em outros uma aproximação, apontando
variáveis em respeito ao comportamento musical de diferentes
denominações religiosas e sociais. No que tange a história, o
ensino religioso, não tem nenhuma pretensão de passar doutrina
de uma determinada religião, simplesmente ela vai estimular no
aluno um processo de conhecimento e vivência de sua própria
religião, como também despertar o interesse em outras formas de
religiosidade. Assim, tanto escrita e oralidade podem se referenciar
no ensino, tratado sob o enfoque do discurso, e dessa maneira,
Andrade (2005) diz que deve ser visto como uma unidade de
comunicação associada a condições de produção determinadas, ou
seja, depende de um gênero de discurso específico: romance,
editorial, crônica, artigo jornalístico, hagiografia etc.
O texto é um objeto moral, é o escrito enquanto parte do
contrato social, exige que o observem e respeitem, mas em
contrapartida marca a linguagem com um predicado raro, que esta

31
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

não possuía: é irrevogável. O discurso, enquanto fenômeno


fundamentalmente oral, desenvolve a memória do tema, já o texto
trabalha com a memória da palavra, ou seja, da escrita enquanto
estilo. O livro manuscrito era suporte do discurso falado: O
educador deve entender o aluno como um indivíduo que constrói
seu conhecimento, um ser real e não um ser imaginário, observar
que a escrita não resulta de uma simples cópia de um modelo
externo, mas sim a partir do momento em que se dá a liberdade e
o incentivo de se expressar. Para discutirmos os fenômenos da
oralidade e da escrita, é preciso abordarmos sobreo papel dessas
duas práticas em nosso cotidiano. Todos os povos,
indistintamente, têm ou tiveram uma tradição oral, mas
relativamente poucos tiveram ou têm uma tradição escrita. Não se
trata, com isto, de colocar a oralidade como mais importante, mas
de perceber que a oralidade tem uma ―primazia cronológica‖
indiscutível (ANDRADE, 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vivemos um momento em que muito se discute a questão
da multiculturalidade. Entretanto, a diversidade religiosa muitas
vezes é tratada como um tabu no espaço escolar. Por isso, se
evidencia a importância de oportunizar acesso ao conhecimento
das diferentes religiões professadas no mundo globalizado em que
vivemos, considerando que a intolerância religiosa promove
diversos tipos de discriminação, que em muitas ocasiões podem
levar a graves conflitos. Na abordagem pedagógica do Ensino
Religioso o tema da tradição revela-se através da diversidade e tem
se tornado um elemento central, constituindo o despertar do
diálogo entre diferentes culturas religiosas que podem promover
atitudes de respeito e compreensão da alteridade. Desse modo, a
abordagem em torno da pluralidade religiosa precisa enfocar as
diferentes religiões e não apenas um ou dois segmentos religiosos
predominantes na sociedade ocidental.

32
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, T. C. I. Análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o
Ensino Religioso nas Escolas Públicas Brasileiras. 2003. 117f.
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2003.

ANDRADE Filho, Ruy de Oliveira (org.) Relações de poder, educação e


cultura na Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Solis, 2005, p. 47-55.

ARANTES, Antônio Augusto. O que é Cultura Popular. São Paulo:


Brasiliense, 2004.

BRASIL. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as


diretrizes e bases da educação nacional.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso.


Florianópolis/SC: FONAPER, 9º Ed, 2009. Disponível em:
Acesso em 7 de agosto de 2018.

GARRIDO, Bruno Sampaio. Livros didáticos de ensino religioso: análise


da construção da polêmica no discurso da mídia. Acta Scientiarum.
Languageand Culture Maringá, v. 34, n. 2, p. 207-215, Jul.- Dez.,
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MURARO, Celia Cristina. O ensino religioso nas escolas, breves


comentários. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 103, agosto de
2012. Disponível em: Acesso em: 7 de agosto de 2018.

RECK, André Müller. Educação musical e identidades religiosas:


reflexões sobre o ensino de música nas escolas públicas e a música

33
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

evangélica. Rio Grande do Sul: Universidade Federal de Santa


Maria, 2010.

RODRIGUES, Edile M. Fracaro; JUNQUEIRA, Sérgio Rogério


Azevedo; VOSGERAU, Dilmeire Sant‘Anna Ramos. Em Riscos e
Rabiscos: Concepções de Ensino Religioso dos Docentes do Ensino
Fundamental do Estado do Paraná. Revista de Estudos da
Religião, setembro, 2009, pp. 19-44.

SILVEIRA, Nise da. Jung, vida & obra. 18 ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2001.

34
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

O ENSINO RELIGIOSO PELOS ANOS:


IMPORTANTES RELATOS
PARA A COMPREENSÃO
DO CONTEXTO ATUAL
Marli Trabach24
José Carlos Ferraz25
Heverson Pereira Miranda26

24 Mestranda em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória. Especialização em


Coordenação Pedagógica. Especialização em Educação de Jovens e Adultos (EJA). Especialização
em Administração Escolar. Graduação em Licenciatura em Pedagogia (2006).
25 Mestrando em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória. Bacharel em Teologia e

Pós-Graduado em Filosofia e Ensino de Filosofia, pelo Centro Universitário Claretiano. É


atualmente professor da disciplina de Ciências Humanas nos cursos da área da saúde, administração,
nutrição e comunicação social da IESRIVER (Faculdade Objetivo) de Rio Verde – GO.
26 Mestrando em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória. Especialização em

Educação Física Escolar, Especialização em Educação de Jovens e Adultos, Especialização em


Educação Inclusiva. Graduação em educação Física (2008).

35
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

RESUMO: Este artigo apresenta o tema: O ensino religioso pelos


anos: Importantes relatos para a compreensão do contexto atual,
trazendo os diversos momentos históricos no que cercam o ensino
religioso durante os anos. Traz averiguações sobre este ensino no
ambiente escolar e para tal relaciona as responsabilidades
existentes entre a escola, as implicações sociais, e o aluno inserido
neste contexto. Analisa-se o papel do professor nesta área de
ensino quanto do trabalho pedagógico e quanto à posição que
deve exercer, possibilitando aos alunos que sejam sujeitos com
liberdade no que diz respeito a sua religiosidade. As análises foram
escolhidas em função da sua relevância, tendo em vista a
necessidade da compreensão das relações concebidas na escola
afim de que não se imponha esta ou aquela religião aos alunos. Os
docentes estando preparados para essa nova realidade se sentirão
mais capacitados para buscarem alternativas e enfrentar as
situações que ocorrerão no cotidiano. Acredita-se que estudar a
história do ensino religioso possa possibilitar entendimento da
realidade atual e as marcas que anos de imposições deixaram a fim
de acertar possíveis erros. Relacionam-se as leis que garantem ao
aluno as possibilidades educacionais presentes que respeitem sua
fé, sua crença, suas escolhas. Enfim através de leituras e estudos e
percepções, pode-se inferir ao artigo, questões que cercam o tema
em questão.

Palavras-chave: Contexto Histórico. Ensino religioso. Ética.


Novos paradigmas.

36
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 consagra como direito
fundamental a liberdade de religião, prescrevendo que o Brasil é
um país laico. Conforme a Constituição Federal, o Estado deve se
preocupar em proporcionar a seus cidadãos um clima de perfeita
compreensão religiosa, sem intolerância e fanatismo. (BRASIL,
2005).
Neste sentido deve existir uma divisão muito acentuada
entre o Estado e a Igreja, não podendo existir nenhuma religião
oficial, devendo, porém, o Estado prestar proteção e garantia ao
livre exercício de todas as religiões. Desde o início da colonização
o Ensino Religioso está presente na educação brasileira, vigorava
no Brasil um ensino religioso com ênfase na doutrina da religião
oficial do Império, a religião católica romana No Brasil colônia
aparece um acordo entre o rei de Portugal e o Sumo Pontífice a
respeito da formação do povo brasileiro. Esse acordo tinha como
objetivo fomentar um catecismo tradicional. No que diz respeito à
ética compreende-se que cada pessoa é livre e é capaz de articular
o certo com o errado, entre o bem e o mal e entre a verdade e a
mentira. Enfim a escola tem a tarefa de desenvolver atividades e
aprendizagens significativas para a vida.
Através da constituição federal de 1988, da Lei de
Diretrizes e Bases e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
mostra-se as leis que já vigoraram durante os anos no ensino
religioso e as vigentes e orientações de suma importância para
ações nesta disciplina.

RELIGIÃO CONSTITUIÇÃO NO BRASIL


Em se falar em ensino religioso importa conhecer um
pouco a história das religiões que desde a antiguidade despertou o
interesse do homem, porém foi somente no século XIX que surgiu
uma ciência das religiões como disciplina autônoma (HERMANN,
1997).

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Durkheim (2003) afirma que a religião é um aspecto


essencial e permanente da existência humana ele afirma que para
aquele que ver na religião uma manifestação natural da existência
humana, todas as religiões são instrutivas, sem exceção, pois todas
exprimem o homem a sua maneira e podem assim ajudar a
compreender melhor esse aspecto de nossa natureza. Ele ressalta
ainda que a religião seria uma espécie de especulação sobre tudo o
que escapa à ciência, e de maneira mais geral ao pensamento claro.
Percebe-se que a cada dia surgem mais e mais religiões no
Brasil nos últimos anos, vê-se que cada uma delas tem sua crença,
seu modo de viver e de agir, cada uma delas buscando mais
adeptos. A religião no Brasil aparece com grandes diferenças. Nas
décadas passadas o catolicismo era predominante, com o crescente
número de denominações, religiões e seitas, deu-se lugar a uma
grande e cada vez mais cotidiana discussão sobre a eficácia de suas
doutrinas e dogmas.
Aparecem com força também no Brasil nas últimas
décadas as religiões orientais, como o budismo e o taoísmo.
Disputa, diga-se de passagem, feita pelos homens, e não pelas
divindades. De acordo com Lui (2006, p.82):
O valor da Religião para a construção da cidadania inclui
uma consideração etnocêntrica dos valores morais que o ER
poderia transmitir e solidificar nos alunos. Etnocêntrica porque
está calcada sobre valores cristãos que projetou para a totalidade
das religiões.‖ É evidente que os valores morais que serão
exaltados e transmitidos nas aulas de ensino religioso são valores
morais vinculados ao cristianismo.
Infere-se que todas as leis educacionais se baseiam na
constituição para que sejam redigidas. Necessita-se que se
conheçam os direitos e deveres descritos nos documentos legais
aos profissionais de educação, bem como a todos os envolvidos,
para que na prática docente no dia a dia da escola, jamais os
cidadãos atendidos possam ser violados em seus direitos.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

A Constituição Federal, no artigo 5º, VI, estipula ser


inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o
livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e as suas liturgias.
No inciso VII vê-se afirmado que é assegurado, nos termos
da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e
militares de internação coletiva.
O artigo 5º inciso VII, estipula que ninguém será privado
de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei.
Já no artigo 19, I, veem-se vedado aos Estados,
Municípios, à União e ao Distrito Federal o estabelecimento de
cultos religiosos ou igrejas, embaraçar-lhes o funcionamento ou
manter com eles ou suas representantes relações de dependência
ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse
público.
O artigo 150, VI, veda à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios a instituição de impostos sobre templos
de qualquer culto, salientando no parágrafo 4º do mesmo artigo
que as vedações expressas no inciso VI, alíneas b e c,
compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços,
relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas
mencionadas.
O artigo 120 assevera que serão fixados conteúdos
mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar a
formação básica comum e respeito aos valores culturais e
artísticos, nacionais e regionais, salientando no parágrafo 1º que o
ensino religioso, de matéria facultativa, constituirá disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

RELATOS DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL


PELOS ANOS
No Brasil colônia, o governo de Portugal queria divulgar a
fé cristã nas colônias conquistadas, com essa finalidade
desenvolveu o processo de evangelização e catequização das
populações indígenas e dos africanos.
De acordo com Ranquetat (2007) foi de certa maneira uma
espécie de ensino religioso, de educação e de formação religiosa
nos moldes da doutrina católica. Nesse período surge as
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia (1707), esse foi o
primeiro documento oficial que tratou da educação religiosa aqui
no Brasil e previa a obrigação dos senhores proprietários cuidarem
da educação religiosa de seus escravos.
Cabia aos párocos ensinar a doutrina cristã aos escravos e
aos meninos, porém vale destacar que não se falava ainda do
ensino religioso como uma disciplina, se tratava de uma formação
religiosa (OLIVEIRA citado por RANQUETAT, 2007).
Os párocos eram sacerdotes encarregados da direção
espiritual e da administração de uma paróquia e as crianças nesta
época aprendiam a ler e escrever através de livros religiosos. E
então junto com a alfabetização ocorria a doutrinação das crianças
de acordo com os princípios da religião católica, a preocupação
das autoridades da época era conciliar o ensino das letras, da
matemática com o ensino da religião.
A Igreja Católica sempre submissa ao Estado funcionava
como um departamento. A esfera da educação era comandada pela
Igreja Católica e os padres eram os professores e os
catequizadores.
Os jesuítas permaneceram como mentores da educação
brasileira durante duzentos e dez anos, até 1759, quando foram
expulsos de todas as colônias portuguesas por decisão de Sebastião
José de Carvalho, o marquês de Pombal, primeiro-ministro de
Portugal de 1750 a 1777. No momento da expulsão os jesuítas

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

tinham 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além


de seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas em
todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus. A
educação brasileira, com isso, vivenciou uma grande ruptura
histórica num processo já implantado e consolidado como modelo
educacional. (BELLO, 1998).
No século XIX, o Brasil assume a condição de império e o
estado brasileiro passa a ter o Catolicismo como religião oficial, a
união entre Estado e Igreja é firmada na Constituição de 1824,
nesse contexto o ensino religioso na educação brasileira se afirma
através da lei de 15 de outubro de 1827 que estabelecia em seu
artigo 6° que os professores deveriam ensinar a ler e escrever, as
operações aritméticas, as noções de geometria, a gramática e os
princípios de moral cristã e da fé católica (CURY, 1993).
Já final do Império, muitas mudanças ocorreram, os alunos
não católicos foram excluídos da obrigatoriedade de assistir as
aulas de ensino religioso de orientação católica e o ensino religioso
passa a ser substituído pela disciplina de educação moral e cívica,
que visava transmitir e incutir nas novas gerações, os valores
republicanos e seculares.
A disciplina ensino religioso então ganhou força após a
proclamação da república em 1889, pois nesse momento se
estabelece a secularização do estado brasileiro. Mais tarde A
Constituição de 1891 consagra a separação entre Igreja e Estado,
assim o ensino religioso deixou de existir nas escolas brasileiras,
fato gerou inúmeras críticas:
Os bispos brasileiros e a intelectualidade católica de
orientação conservadora reagiram à secularização promovida pela
constituição republicana. Pretendiam uma distinção entre o poder
espiritual e o poder temporal, mas discordavam com a total
separação entre Igreja e Estado.
Para estes, caberia ao poder espiritual tudo aquilo que se
relaciona com as questões espirituais, sobrenaturais. Já o poder

41
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

temporal deveria se preocupar com as questões naturais e de


ordem política e social. Ambos os poderes tinham suas
responsabilidades e competências específicas, mas deveriam viver
em clima de harmonia e aliança (MOOG, apud RANQUETAT,
2007, p. 165).
Para os intelectuais católicos a ausência do ensino religioso
nas escolas públicas representava um preconceito laicista contra a
religião católica, enquanto os liberais, maçons, positivistas,
socialistas, e alguns grupos protestantes afirmavam que a existência
do ensino religioso significava a presença do elemento eclesial na
escola servindo aos interesses da Igreja Católica e indo de
encontro à separação do poder temporal e do poder espiritual.
No ano de 1931, por meio do decreto federal n° 19. 941
tornou-se facultativa a oferta do ensino religioso nos
estabelecimentos de ensino, cabia aos pais ou responsáveis
optarem ou não pela dispensa dos alunos, a organização dos
conteúdos e a escolha dos livros ficavam sob a responsabilidade
dos ministros dos respectivos cultos e os professores eram
escolhidos pelas autoridades do culto a que se referia o ensino
religioso que nesse caso era confessional (CURY, 1993).
Mesmo com as críticas e protestos dos laicistas aliados a
representantes das igrejas protestantes, a Constituição Federal de
1934 assegurou o ensino religioso nas escolas públicas. O artigo
153 da referida lei estabelecia que a frequência às aulas de ensino
religioso era facultativa e que as mesmas seriam ministradas de
acordo com a confissão do aluno.
A disciplina tornou-se matéria dos horários normais das
aulas, e nas aulas o objetivo era catequizar, rezar, falar de bem e
mal. O ensino religioso nas escolas públicas nas décadas de 30 e 40
do século passado teve grande importância estratégica, servindo
aos interesses do Estado e da Igreja [...] ao mesmo tempo em que
servia de instrumento para a formação moral da juventude,

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

tornava-se também um mecanismo de cooptação da Igreja


Católica e uma arma poderosa na luta contra
Nas Constituições federais, leis e decretos nacionais era
percebido a importância que se dava ao ensino religioso visto a
presença de grande parte do poder das lideranças católicas que se
aliaram ao estado brasileiro. No entanto com o fim do Estado
Novo, as relações entre Igreja e Estado se enfraquecem, pois o
regime de 1946 restabelecia a tradição republicana de afastamento
entre Estado e Igreja.
A Constituição Federal de 1988, no art. 19 sobre o estado laico
estabelece:

Art. 19 - É vedado à união, aos Estados, ao Distrito


Federal e aos municípios:

I – Estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-


los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles
ou suas representantes relações de dependência ou
aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de
interesse público;

A Constituição Federal de 1988, ao falar de educação,


determina que o ensino Religioso, mesmo facultativo para o aluno,
esteja obrigatoriamente presente como disciplina dos horários
normais das escolas públicas de Ensino Fundamental (art. 210), a
Lei LDB no seu art. 33.
No dia 22 de julho de 1997, foi promulgada a Lei 9.475,
que alterou o artigo 33 parágrafo 1º da LDB 9394/96 retirando o
termo ―sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos‖ e
dando outros dispositivos:
O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte
integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos
horários normais das Educações Básica, assegurado o respeito à

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas


de proselitismo. (BRASIL, 1997)
Com esta lei a disciplina passa a ser considerada como
parte integrante da formação do cidadão, visando a não
permanência do Ensino Religioso confessional e interconfessional
nas escolas públicas. A disciplina agora deveria ser oferecida e
ministrada nos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamenta e é assegurado o respeito à diversidade cultural e
religiosa do Brasil.

MODELOS DO ENSINO NO RELIGIOSO NO BRASIL


O ensino religioso atualmente vem com a proposta que
visa a comprensão da identidade pluralista do Brasil, mas vale
ressaltar dos diversos modelos de ensino,já utilizados e ainda
vigentes nesta disciplina visando a comprreensão geral da história
do ensino religioso e perceber as que ainda vigoram na pratica
diaria.
Com a redemocratizaçao do Brasil, o ensino religioso passa
a ter uma temática bem polêmica, o que mostra a primeira versão
do artigo 33 da LDB. Assim relata a lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, em seu texto antigo:

Art. 33 - O ensino religioso, de matrícula facultativa,


constitui disciplina dos horários normais das escolas
públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem
ônus para os cofres públicos, de acordo com as
preferências manifestadas pelos alunos ou por seus
responsáveis, em caráter:

I - Confessional, de acordo com a opção religiosa do


aluno ou do seu responsável, ministrado por professores
ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas
respectivas igrejas ou entidades religiosas; ou

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

II - Interconfessional, resultante de acordo entre as


diversas entidades religiosas, que se responsabilizarão
pela elaboração do respectivo programa.

No modelo Confessional o ensino religioso é dado de


acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável e
ministrado por professores preparados e credenciados pelas
respectivas entidades religiosas.
O Inter-confessional é resultante de um acordo entre as
diversas entidades religiosas, que se responsabilizarão pela
elaboração dos respectivos programas. Desenvolvido, em geral,
por grupos de confissões cristãs, considera o que é comum às
diferentes Igrejas ou confissões e respeita a especificidade de cada
uma das demais tradições religiosas.
O Modelo Supra-confessional não admite qualquer tipo de
proselitismo religioso, preconceito ou manifestação em desacordo
com o direito individual dos alunos e de suas famílias de professar
um credo religioso ou mesmo o de não professar nenhum,
devendo assegurar o respeito a Deus, à diversidade cultural e
religiosa, e fundamenta-se essencialmente em princípios de
cidadania, ética, tolerância e em valores humanos universais
presentes em todas as culturas existentes.
A disciplina curricular é um modelo de ensino religioso
pensado como área de conhecimento, a partir da escola e não das
crenças ou religiões e tem como objeto de estudo o fenômeno
religioso.
Independente do posicionamento ou opção religiosa, os
educandos são convidados a cultivar as disposições necessárias
para a vivência coerente de um projeto de vida profundamente
humano e pautar-se pelos princípios do respeito às liberdades
individuais; tolerância para com os que manifestam crenças
diferentes e convivência pacífica entre as diversas manifestações

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

religiosas que compõem a pluralidade étnica e cultural da nação


brasileira.
Sabe-se que a oferta do Ensino Religioso pela Constituição
Federal de 1988, artigo 210 parágrafo 1, como disciplina escolar, é
reconhecida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN) nº 9.475 e pela Resolução 02/98 do Conselho Nacional
de Educação. Essas leis definem o Ensino Religioso como área de
conhecimento.
A lei de diretrizes e bases traça algumas definições para o
ensino religioso no o artigo 33, de 1997, da LDB - Diretrizes e
Bases da Educação Nacional do MEC sobre o ensino religioso:

Art. 33 - O ensino religioso, de matrícula facultativa, é


parte integrante da formação básica do cidadão e
constitui disciplina dos horários normais das escolas
públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à
diversidade cultural e religiosa do Brasil, vedadas
quaisquer formas de proselitismo.
I - Os sistemas de ensino regulamentarão os
procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e
admissão dos professores.
II - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil,
constituída pelas diferentes denominações religiosas, para
a definição dos conteúdos do ensino religioso.

É importante ressaltar quanto da expressão proselitismo


descrito na lei, entende-se que por muitos anos perdurou na
história da educação brasileira, e principalmente na história do
ensino religioso, este proselitismo. Acredita-se que isto provém
também da propensão do ser humano, de ser partidário e de
querer inserir no outro suas próprias crenças.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

NOVOS PARADIGMAS EDUCACIONAIS E A ÉTICA NO


ENSINO RELIGIOSO
A Constituição Federal de 1988 (artigo 210) e a LDB nº
9.394/1996 (artigo 33, alterado pela Lei nº 9.475/1997)
estabeleceram os princípios e os fundamentos que devem alicerçar
epistemologias e pedagogias do Ensino Religioso, cuja função
educacional, enquanto parte integrante da formação básica do
cidadão é assegurar o respeito à diversidade cultural religiosa, sem
proselitismos.
Assim, atualmente há uma busca, por uma nova maneira
de pensar, retomando pressupostos básicos, como valores
humanos onde o trabalho haja uma busca pelo desenvolvimento
integral do indivíduo como cidadão.
Construir um modelo educacional capaz de gerar novos
ambiente de aprendizagem em que o ser humano fosse
compreendido em sua multidimensionalidade como um ser
indiviso em sua totalidade, com seus diferentes estilos de
aprendizagem e suas distintas formar de resolver problemas.
(MORAES, 1997, p.17)
Nota-se que a organização dos alunos, professores e
comunidade em geral em uma instituição educativa que tenha
como objetivo formar indivíduos participativos, críticos e criativos,
adquire papel central, como mecanismo de participação em
processos decisórios, assim para a formação do ser humano, a
escola desenvolverá através da disciplina ensino Religioso, temas
que despertem na criança e no adolescente o sentido da própria
vida.
A escola tem um papel preponderante na preparação das
crianças e jovens no desenvolvimento desta capacidade, necessária
para a convivência social e auto realização. Segundo a base
Nacional Comum Curricular –BNCC:

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Cabe ao Ensino Religioso tratar os conhecimentos


religiosos a partir de pressupostos éticos e científicos, sem
privilégio de nenhuma crença ou convicção. Isso implica
abordar esses conhecimentos com base nas diversas
culturas e tradições religiosas, sem desconsiderar a
existência de filosofias seculares de vida. Por isso, a
interculturalidade e a ética da alteridade constituem
fundamentos teóricos e pedagógicos do Ensino Religioso,
porque favorecem o reconhecimento e respeito às histórias,
memórias, crenças, convicções e valores de diferentes
culturas, tradições religiosas e filosofias de vida.
(BRASIL, 2016, P.432)

Na educação os professores precisam compreender sobre


tais diferenças usando estas inferisses, como uma potencialidade
de aprendizagem. A educação é um momento moral e ético para
desenvolver a potencialidade do bem, do certo e da verdade.
A história nos traz momentos passíveis de reflexão no que
diz respeito a característica deste professor, em seus aspectos mais
diversos, desde daquele que impunha a forma de pensar e de agir
de um certo grupo, até aquele que entende e respeita a
religiosidade de cada aluno e que concebe a escola como laica e
com a característica de levar o aluno a ser um sujeito pensante e
livre para fazer suas escolhas ,inclusive as religiosas.
O desafio, portanto, está numa formação de professores de
Ensino Religiosa pautada nos diversos aspectos da condição
humana e de suas potencialidades e que considere dialeticamente a
realização pessoal do sujeito e de seu contexto social. Uma
formação construída, avaliada e reconstruída para articular no
espaço escolar o processo de educação que promova o reencontro
da razão com a vida, e que considere as necessidades vitais, as
aspirações e os conhecimentos de todos os sujeitos envolvidos
nesse processo de educação (RODRIGUES, 2008, p.64)

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

O Conselho Nacional de Educação, no seu Parecer de


11/03/97, entende a necessidade de um professor habilitado e não
representante de uma denominação religiosa, segundo o Artigo 33
da LDB 9394/96 sancionada em 22/07/97 e que em seu parágrafo
1° prevê o profissional capacitado para essa área.
―Na atualidade o ensino Religioso é integrado a área de
Ciências Humanas, na Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
realçando o seu caráter histórico e filosófico‖ (MEC, 2015, p.236).
E ainda: ―o Ensino Religioso contribui para o estudo da
diversidade cultural e religiosa na perspectiva dos direitos
humanos‖ (MEC, 2015, p.238). Seria inviável falar sobre ensino
religioso, um assunto tão complexo dentro da educação, sem citar
a ética, este assunto traz tais complexidades visto que envolve os
sentimentos de cada pessoa, das escolhas de vida, suas crenças, seu
modo de ser.
Nas práticas docentes diárias do ensino religioso por
muitos anos foram percebidos momentos que se criticavam as
atitudes, crenças e conhecimentos de outros, impondo a esta ou
aquela pessoa o que está errado, ou o que está certo. Neste sentido
a BNCC (2017) afirma:

Cabe ao Ensino Religioso tratar os conhecimentos


religiosos a partir de pressupostos éticos e científicos, sem
privilégio de nenhuma crença ou convicção. Isso implica
abordar esses conhecimentos com base nas diversas
culturas e tradições religiosas, sem desconsiderar a
existência de filosofias seculares de vida.

E dentro da discussão da ética aborda-se a questão da visão


do certo e do errado, da verdade e da mentira, do bem e do mal
que podem ser analisados dentro da questão em busca de uma
ação docente que respeite a religiosidade e forma de pensar de
cada indivíduo.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

O estudo dos conhecimentos religiosos na escola laica, a


partir de pressupostos científicos, estéticos, éticos, culturais e
linguísticos, visa à formação de cidadãos e cidadãs capazes de
compreender as diferentes vivências, percepções e elaborações
relacionadas ao religioso e ao não religioso, que integram e
estabelecem interfaces com substrato cultural da humanidade
(BRASIL, 2015, p.285).
Respeito e ética fazem parte do cotidiano escolar. Muitos
dizem que cada pessoa tem a sua verdade, mesmo quando se diz
respeito à religião algumas pessoas têm base dizendo que só aquilo
que acreditam é a verdade e tais ações podem trazer muitas
discussões.
A escola passa a ser o espaço onde se encontram e se
refletem todos os conflitos e todas as contradições das sociedades,
a entrada na escola permite à criança começar a defrontar a
sociedade. Aprender é essencialmente crescer humanamente.
Neste sentido a BNCC insere dos objetivos no ensino religioso.
a) Proporcionar a aprendizagem dos conhecimentos
religiosos, culturais e estéticos, a partir das manifestações religiosas
percebidas na realidade dos educandos;
b) Propiciar conhecimentos sobre o direito à liberdade de
consciência e de crença, no constante propósito de promoção dos
direitos humanos;
c) Desenvolver competências e habilidades que contribuam
para o diálogo entre perspectivas religiosas e seculares de vida,
exercitando o respeito à liberdade de concepções e o pluralismo de
ideias, de acordo com a Constituição Federal;
d) Contribuir para que os educandos construam seus
sentidos pessoais de vida a partir de valores, princípios éticos e da
cidadania.
Assim compreende-se então que a ideia de transformação
seja a mais adequada e pertinente aos indivíduos, porque faz o ser
humano pensar na sua prática cotidiana, agindo como mediadora

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

para uma sociedade mais aberta a sugestões, a críticas sempre


construtivas à coletividade e para a formação do ser humano, a
escola desenvolverá, através da disciplina Ensino Religioso, temas
que despertem no aluno as percepções críticas, e que tornem este
aluno um sujeito pensante e capaz. A BNCC (Brasil, 2017) ainda
traz que:
O ser humano se constrói a partir de um conjunto de
relações tecidas em determinado contexto histórico-social,
em um movimento ininterrupto de apropriação e
produção cultural. Nesse processo, o sujeito se constitui
enquanto ser de imanência (dimensão concreta, biológica)
e de transcendência (dimensão subjetiva, simbólica).

Entende-se que a escola foi pensada e formada para outros


tempos para uma sociedade regulamentada, uma família
estruturalmente estável e indivíduos relativamente bem
socializados. A escola era uma função das famílias, respondendo às
suas expectativas, e uma função da sociedade, preparando para um
mundo previsível e estável, encontram-se nela atualmente várias
mudanças.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que na história do ensino religioso as questões
que envolvem esta disciplina têm causado controvérsia e
discussões. Ensino confessional, escola laica, direitos, ética.
Acredita-se que na prática o estado brasileiro não teria se
separado da igreja com a proclamação da república em 1889.
Depois de mais de três séculos de domínio ideológico sobre a
sociedade, a igreja católica não perdeu toda a influência devido
principalmente a sua forte presença no cenário político.
Compreende-se que o ensino religioso à luz da
Constituição Federal de 1934 e nas demais constituições
republicanas, como percebido nas primeiras décadas do período

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

republicano, inseriu um ensino religioso não mais centrado no


catolicismo. Todas as leis referentes ao assunto defendiam que o
ensino religioso seria ministrado de acordo com a religião do aluno
sendo também facultativo.
O Ensino Religioso ainda é assunto que causa muita
controvérsia e controvérsias, pois, os modelos da prática dessa
disciplina ainda apresentam aspectos do ensino confessional de
outrora mesmo que a legislação atual preconize o não-
proselitismo.
Acima de tais questões pode ainda considerar que no Brasil
começa a serem criadas oportunidades de sistematizar o Ensino
Religioso como disciplina escolar que não seja doutrinação
religiosa e nem se confunda com o ensino de uma ou mais
religiões. O objetivo e a compreensão da busca do transcendente e
do sentido da vida, que dá critérios e segurança ao exercício
responsável de valores universais, base da cidadania. Esse processo
é anterior a qualquer opção religiosa.
A disciplina de Ensino Religioso espera de seus
profissionais uma ação educativa, na qual o conhecimento
religioso seja trabalhado na escola, mas considerando sua
complexidade inserida na pluralidade da cultura brasileira.
Acredita-se que com o cumprimento das leis vigentes, tais como a
BNCC, somando a qualificação do professor desta área, o ensino
religioso pode se livrar dos antigos paradigmas e promover um
ensino onde se proporcione um espaço passivo de ocorrer a
descoberta progressiva do outro ser, visando sempre o respeito as
suas especificidades.
Acredita-se que também no ensino religioso a escola que se
apresenta como ideal é aquela voltada para a construção de uma
cidadania, onde propicie aos alunos alicerces que lhes
proporcionem identificar e posicionar-se, transcendendo da
consciência ingênua para a consciência crítica, em busca da
transformação da sociedade.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

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53
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

DURKHEIM, E. As formas elementares da vida religiosa: o sistema


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Papirus, 1996.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

DIVERSIDADE RELIGIOSA
E O ENSINO RELIGIOSO NO CMEI
PROFESSORA LEILA THEODORO

Marli Trabach27
José Carlos Ferraz28
Antônio do Rosário29

27 Mestranda em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória. Especialização em


Coordenação Pedagógica. Especialização em Educação de Jovens e Adultos (EJA). Especialização
em Administração Escolar. Graduação em Licenciatura em Pedagogia (2006).
28 Mestrando em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória. Pós graduado em Filosofia

e Ensino de Filosofia (2015) pelo Claretiano Centro Universitário e Graduado em Filosofia (2007)
Claretiano Centro Universitário e Teologia (2014) pelo Claretiano Centro Universitário. Atualmente
é professor universitário na Área de Ciências Humanas e no ensino médio.
29 Mestrando em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória. Mestrando em Ciências das

Religiões pela Faculdade Unida de Vitória. Especialização em Gestão Integrada: supervisão,


inspeção e orientação – (2010) pela Faculdade de Educação Regional Serrana. Especialização em
Arte e Educação – (2012) pela Faculdade Unida de Vitória. Graduado em Pedagogia – Supervisão
Escolar –Faculdade de Ciências Aplicadas Sagrado Coração - (2007), Licenciado em Artes Visuais –
(2013) Centro Universitário de Jales.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

RESUMO: Esse artigo é um recorte da pesquisa intitulada


―Diversidade religiosa e o ensino religioso no CMEI Professora
Leila Theodora‖. A relevância da pesquisa deve – se a percepção
da importância que a comunidade escolar dá à religião para
alcançar uma sociedade mais fraterna e menos agressiva, sabendo
que os valores perpassam pela relação humanas, respeitando a
diversidade existente entre os indivíduos e assim contribuir para a
formação das crianças. O objetivo do trabalho foi compreender
como ocorre a diversidade religiosa e suas implicações pedagógicas
na Educação Infantil. O estudo realizado adotou uma abordagem
descritiva e qualitativa utilizando o método Estudo de Caso. A
coleta de dados deu-se por meio de questionário semiaberto com
vinte e dois profissionais de uma escola de Educação Infantil
pública do município de Serra, Espírito Santo. Os dados foram
analisados qualitativamente dividindo por blocos, segundo a
divisão realizada previamente na elaboração do questionário.

Palavras-chave: Diversidade. Religião. Ensino Religioso. Escola.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

INTRODUÇÃO
Como a diversidade religiosa e o ensino religioso
influenciam professores, pais e alunos dentro da educação? A
construção de valores sociais e culturais inicia desde que nascemos,
na relação com a família, em um primeiro momento, para se
estender aos vizinhos, amigos e colegas de escola. E é na
Educação Infantil que ocorre os primeiros encontros com o
―diferente‖ do nosso meio familiar. E é nessa fase, também, de
crianças muito pequenas que os pais e/ ou responsáveis estão mais
presentes e representam as crianças, colocando o seu ponto de
vista, sua forma de ser, ver e suas exigências em relação a
diversidade religiosa na escola e no cotidiano escolar.
Esta é uma questão que envolve toda a comunidade escolar
e, em particular o docente, que tem a responsabilidade legal de
trabalhar de forma laica, porém respeitando a religião de cada
criança/família dentro da escola em um país em que há uma
diversidade religiosa grande. Além do contraponto de laicidade
legal e diversidade religiosa das pessoas que compõem o universo
escola: pais/responsáveis, corpo docente e técnico e funcionários
de apoio, há a diversidade étnica, cultural e de gênero que se inter-
relacionam. Portanto, é um problema que necessita de um olhar
atento, por interferir na construção da criança e da sociedade
futura ao estabelecer modelos de convivência com o outro.
Em agosto de 2017, um painel montado em uma unidade
de educação infantil do município de Vitória, no estado Espírito
Santo, virou notícia na imprensa local e nacional30 e suscitou
discussões sobre o que é arte, o que é religião, o estado laico, a
presença da religiosidade na educação e possíveis conotações
racistas na atitude do religioso. O fato ocorreu no Centro
30LOPES, Raquel. Pastor retira boneca afro em creche de Vitória e diz ser 'símbolo de macumba‖. Disponível em
<g1.globo.com> Acesso em 07 jul. de 2018.
GOSPELPRIME. Pastor retira boneca afro em creche de Vitória e diz ser 'símbolo de macumba‖. Disponível em
<noticias.gospelprime.com..br> Acesso em 07 jul. de 2018.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Municipal de Ensino Infantil – Cmei – Professora Cida Barreto,


em um espaço alugado pela prefeitura municipal à Igreja Batista
para funcionar a unidade de ensino.
O pastor João Brito, da Igreja Evangélica Batista de Vitória,
pediu que um painel feito por crianças que contém bonecas negras fosse
retirado de uma creche de Jardim da Penha, na capital do Espírito Santo.
Segundo o religioso, a boneca é ―símbolo de macumba por se originar de
uma religião africana‖. (LOPES, 2017) 31
O evento descrito se trata de uma situação sui generis, mas
se percebe fatos rotineiros em que o respeito à crença alheia e à
laicidade da educação são postos a prova constantemente,
situações que envolvem a religiosidade na educação ocorrem no
cotidiano escolar. A partir do fato32 e aliada à observação da
grande diversidade religiosa no interior de uma escola de Educação
Infantil em Serra, município pertencente a região metropolitana da
Grande Vitória, no Espírito Santo, cujos alunos e suas respectivas
famílias possuem costumes e crenças que influenciam no dia a dia
da escola, surgiu o interesse por investigar presença do sacro na
educação.
Mas, como trabalhar o aspecto religioso na escola? E,
especificamente, como trabalhar a religiosidade com crianças na
Educação Infantil, que compreende crianças de zero a cinco anos?
Pois, ainda que sejam pequenos fazem parte de uma estrutura
familiar, social em que o aspecto religioso é comum e Educação
Infantil faz parte da Educação Básica, sendo a sua primeira etapa.
O dicionário Michaelis de língua portuguesa 33, em sua
versão on-line, traz a seguinte definição para religião:

31 LOPES, 2017.
32 Sem entrar na discussão, também pertinente, sobre a estrutura da educação no Brasil, ou falta de
estrutura, que faz com que uma unidade de ensino funcione em um espaço provisório, sem
condições adequadas e passível de situações que prejudique a prática pedagógica.
33 Religião. MICHAELS ON-LINE. Disponível em <michaelis.uol.com.br/moderno-
portugues/busca/portugues-brasileiro/religião/> Acesso em 15 de nov. de 2018.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

1. Convicção da existência de um ser superior ou de


forças sobrenaturais que controlam o destino do
indivíduo, da natureza e da humanidade, a quem se
deve obediência e submissão.
2. Serviço ou culto a esse ser superior ou forças
sobrenaturais que se realiza por meio de ritos, preces e
observância do que se considera mandamentos divinos,
geralmente expressos em escritos sagrados.
3. Ato de professar ou praticar uma crença religiosa.
4. Veneração às coisas sagradas; crença, devoção, fé.
5. Tudo o que é considerado obrigação moral ou dever
sagrado e indeclinável.
6. FIG Causa, doutrina ou princípio defendidos com
ardor, devoção e fé: A democracia é sua religião.
7. Ordem ou congregação religiosa.
8. FIG Caráter sagrado ou virtude especial que se
atribui a alguém ou a alguma coisa e pelo qual se lhe
presta reverência.

Cada uma das definições do dicionário possibilita uma


discussão aprofundada que resultaria em várias páginas de análise
se este fosse o objetivo deste artigo. Porém, por não ser este o
objeto de estudo, o verbete transcrito, serve para conceituar o que
é religião e as diferentes concepções que adquire segundo o
contexto. Destacando-se a primeira e a segunda acepção da palavra
para efeito deste texto.
O medo do desconhecido e a necessidade de dar sentido
ao mundo que o cerca levou o homem a fundar diversos sistemas
de crenças, cerimônias e cultos, muitas vezes centrada na figura de
ente superior, que o ajudam a compreender o significado último de
sua própria natureza. Mitos, superstições ou ritos mágicos que as
sociedades primitivas teceram em torno de uma existência
sobrenatural inatingível pela razão, equivaleram à crença em um
ser superior e ao desejo de comunhão com ele nas primeiras
formas de religião.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

O Brasil é um país multicultural e com liberdade religiosa,


sendo o Estado laico, sem religião oficial. Segundo dados do
último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE -, de 2010 há predomínio do cristianismo, com 86,8 de
cristão – que se dividem em católicos e evangélicos, e estes se
dividem em evangélicos pentecostais e neopentecostais,
evangélicos de missões e evangélicos não determinado -, presença
de espiritas, umbandistas e candomblecistas, sem religião e outras
religiões – judeus, mulçumanos, budistas. 34 Diante da concepção
de religião destacada anteriormente, a partir do contexto brasileiro
– que forma um mosaico religioso35 – e considerando a
importância da Educação Infantil como primeira etapa escolar, o
primeiro contato da criança com outros grupos, outras referências
que não a do seu meio familiar, a presente pesquisa sobre como
pensam os professores da Educação Infantil sobre aspectos
religiosos na prática pedagógica cotidiana.

METODOLOGIA - DELINEAMENTO DA PESQUISA


O estudo realizado caracterizou-se como estudo descritivo
de natureza investigativa, qualitativa e descritiva, pois é um tipo de
pesquisa de levantamento, que tem como objetivo a descrição das
características de determinada população ou fenômeno36·. Além
disso, optou-se pelo método Estudo de Caso, uma vez que este se
caracteriza: Pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos
objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e
detalhado, tarefa praticamente impossível mediante os outros tipos
de delineamentos considerados.37
34CENSO 2010. Disponível em <censo2010.ibge.gov.br>. Acesso em 20 de agosto de 2018.
35 ANDRADE. Maristela Oliveira de Andrade. A Religiosidade Brasileira: o pluralismo religioso, a
diversidade de crenças e o processo sincrético. CAOS - Revista Eletrônica de Ciências Sociais.
Número 14 – setembro de 2009. Disponível em < http://www.cchla.ufpb.br >. Acesso em 10 jul.de 2018.
36ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso. Estudo de caso em pesquisa e avaliação educacional:
Editora Liber Livros: Brasília, 2008. 68 p. (Série Pesquisa: Vol. 13)
37 GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. Disponível em <

http://www.revistas.ufg.br >. Acesso em 10 jul.de 2018. p. 72-73

60
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

PARTICIPANTES
Foram entregues vinte e cinco questionários
semiestruturado ao corpo docente do Centro Municipal de
Educação Infantil – CMEI Professora Leila Theodoro, no
município de Serra, no Espírito Santo, acompanhados dos termos
do termo de Consentimento Livre e esclarecido. Houve uma
devolutiva de 88,5% dos questionários, totalizando 22 professoras
respondentes da unidade de ensino. A seguir quadros com os
perfis das professoras participantes da pesquisa.

IDADE NÚMERO DE PROFISSIONAIS


20-30 2
30-40 7
40-50 9
50-60 4
Quadro 1 - perfil por faixa etária das professoras participantes
da pesquisa.

FORMAÇÃO ACADÊMICA NÚMERO DE PROFISSIONAIS


Licenciatura em pedagogia 20
Licenciatura em pedagogia e outra 1
licenciatura
Licenciatura que não seja pedagogia 1
Licenciatura e especialização (lato sensu) 16
Quadro 2 - perfil por formação acadêmica das professoras participantes da pesquisa.

ÁREA DE ATUAÇÃO NA NÚMERO DE PROFISSIONAIS


EDUCAÇÃO
Professor regente 18
Professor de área 1
Professor regente e de educação 1
especial
Professor regente e pedagogo 2

Quadro 3 - perfil por área de formação das professoras participantes da pesquisa.

61
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

ÁREA DE ATUAÇÃO NESTE CMEI NÚMERO DE PROFISSIONAIS


Professor regente 17
Professor de área 1
Pedagogo 2
Professor de educação especial 2
Quadro 4 - perfil por área de atuação das professoras participantes da pesquisa na
unidade de ensino Professora Leila Theodoro.

NÍVEL E/OU MODALIDADE DE ENSINO NÚMERO DE PROFISSIONAIS


EM QUE ATUA NA EDUCAÇÃO
Educação Infantil 20
Educação Infantil e Fundamental I 1
Educação Infantil e Educação Especial 1
Quadro 5 - perfil por nível e/ou modalidade ensino das professoras participantes da
pesquisa na unidade de ensino Professora Leila Theodoro.

IDENTIFICA-SE COM NÚMERO DE PROFISSIONAIS


ALGUMA RELIGIÃO
Sim 21
Não 1
Quadro 6 - perfil por identificação religiosa das professoras participantes da pesquisa.

FREQUENTA ALGUM NÚMERO DE PROFISSIONAIS


ESPAÇO RELIGIOSO
Sim 20
Não 2
Quadro 7- perfil por frequência a espaço religioso das professoras participantes da
pesquisa.

A idade das professoras variou entre vinte e oito e


cinquenta e três anos, com predominância entre trinta e cinco e
cinquenta anos. Quanto à formação acadêmica, com exceção de
uma professora, a de Educação Física – professora de área
específica -, todas possuem curso de Pedagogia, sendo que uma,
além do curso de pedagogia tem o de Letras. O que se é de esperar
pois, um dos requisitos básicos para atuar na Educação Infantil é a
graduação no curso de Pedagogia com habilitação para esse nível
de ensino. Em tratando de formação acadêmica, o nível maior é o

62
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

de especialização, não tendo nenhuma das entrevistadas o de


mestrado. A pós-graduação lato sensu é comum a 72% das
entrevistadas, destacando-se as especializações na área da educação
especial. Nenhuma apresentou formação na área de religião. A
área de atuação das profissionais se limita à Educação Infantil,
com uma exceção, que atua no Ensino Fundamental I, sendo em
sua maioria exclusivamente na regência de sala.
Por estar sendo objeto de pesquisa o aspecto religioso na
prática escolar, incluiu-se a identificação quanto a identificação
religiosa e a frequência a estes espaços de fé. Com uma exceção, as
demais professoras afirmaram identificar-se com uma
denominação religiosa e frequenta algum local de religiosidade,
também, neste quesito, houve uma única respondente que afirmou
pertencer a uma denominação religiosa, porém não frequenta
nenhum espaço. Das vinte e uma respostas afirmativas, houve uma
diversidade religiosas coerente com os estudos, tanto de estudiosos
da religiosidade no Brasil, quanto com os dados do censo do
IBGE38.

CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA
O Centro Municipal de Educação – CMEI - Professora
Infantil Leila Theodoro está localizado no bairro Novo Horizonte,
no munícipio de Serra, município que faz parte da região
metropolitana da Grande Vitória, Espírito Santo.
A unidade de ensino atende crianças de dois a cinco anos –
a partir dos seis anos são matriculados no ensino fundamental -,
em meio período, funcionando no turno matutino e vespertino
totalizando trezentas e noventa e seis crianças matriculadas.
Localizado em um bairro com carências sociais, econômicas e
culturais e com um número expressivo de moradores em situação
de risco social. O bairro originou-se em 1958, desenvolvendo-se
38 IBGE 2010.

63
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

em na década de 70 como um centro de prostituição, que atraia


prostitutas e clientes de toda a Grande Vitória. Na década de 90,
houve um declínio da exploração do comercio do sexo no bairro e
seu nome, até então São Sebastião, passou a ser denominado
Novo Horizonte. Estima-se uma população de mais de doze mil
habitantes.39

INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS PARA


COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados a partir de um questionário
semiaberto, que foi aplicado às professoras participantes, sem
identificação nominal das mesmas, divididas em quatro blocos:
perfil etário, acadêmico, experiência profissional e religioso; o
segundo bloco compreendeu a relação religião e educação, com
questionamentos sobre a relação do estado laico e a abordagem
religiosa no interior da escola, inclusive, se as crenças religiosas das
crianças e de seus familiares, assim como dos docentes possuem
algum impacto nas práticas escolares, se há alguma orientação
normativa e/ou pedagógicas quanto a como abordar o assunto, em
particular em datas comemorativas de cunho religioso e na relação
étnica-religiosa; o terceiro bloco foi relacionado ao Cmei, lócus de
estudo. Questionou-se a participação dos responsáveis no
cotidiano escolar, as manifestações religiosas das crianças, o
trabalho realizado referente à diversidade religiosa e às datas
comemorativas e símbolos religiosos e o quarto e último bloco, foi
sobre a posição da respondente quanto ao ensino
religioso/educação religiosa fazer parte das disciplinas curriculares.

39NOVO HORIZONTE. Disponível em < /www.facebook.com/novohorizonteserraesoficial. > Acesso


em 20 de jul. de 2018.
CONHEÇA A HISTÓRIA DO BAIRRO NOVO HORIZONTE NA SERRA, ES. Disponível em <
g1.globo.com/espirito-santo/estv-1edicao > Acesso em 20 de jul. de 2018.

64
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

ANÁLISE DOS DADOS


Os dados foram analisados segundo os blocos dos
questionários já definido em sua elaboração. O perfil das
professoras foram tabulados e agrupados em tabelas40. As questões
fechadas foram agrupadas e as abertas analisadas considerando
aspectos relevantes ao tema da pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A proposta não é estabelecer o que certo ou errado, mas
ouvir o que os docentes têm a dizer. Os resultados são
apresentados de acordo com blocos temáticos elaborados
previamente - exceto o primeiro, que se refere ao perfil dos
respondentes e cujas informações quando se fizerem necessárias
serão correlacionadas aos dados coletados. Algumas respostas das
questões abertas foram transcritas para ilustrar determinadas fala e
estabelecer um diálogo com o referencial teórico.

A RELIGIÃO E A EDUCAÇÃO
O Brasil é um país com uma diversidade religiosa muito
grande, com um Estado laico, como consta na Constituição
Federal comprincípios deigualdade e liberdade assegurados no
Capítulo I em seu art. 5º:41

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, grantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolbilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, dando contonuidade no texto mensionando
o direito de liberdade de conciência e de crença e o livre
exercício de culto. De acordo com a agumentação
40Ver quadro 1 a 6 em 2.2 PARTICIPANTES.
41BRASIL. Constituição (1988) Constituição da República Federativa. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, 05 out. 1988. Disponível em
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>>. Acesso em 05 de abril de 2018.

65
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

ninguém pode ser constrangido em razão de sua crença.


[...]
Art. 19 - É vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios:

I – Estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-


los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles
ou suas representantes relações de dependência ou
aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de
interesse público.

E na Lei nº 9.304/2016, Lei e Diretrizes de Bases (LDB) 42,


em seu artigo 2º, dos princípios da Educação:

A educação, dever da família e do Estado, inspirado


nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo par o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.

O fato da lei máxima do país garantir direitos iguais a


todos e a separação entre Estado e religião, caracteriza-o como
laico, laicidade que se estende à educação, por ser esta subordinada
à Constituição e a própria LDB – uma lei infraconstitucional-
afirma que a mesma está baseada no princípio da liberdade. Mas,
será que no cotidiano a Educação Brasielira é laica? Esta pergunta
foi feita na pesquisa e 52,5% (doze) responderam que sim, a
educação é na prática laica e outros 47,5% (dez) responderam que
não.
As respostas negativas giraram em torno da relação entre
cultura e religião:

42BRASI. Palácio do Planalto Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível


em:<http://www.planalto.gov.br/Ccivi/03/leis/L9394.htm>. em 04 de abril de 2018.

66
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Porque muitos hábitos, festas e comemorações acontecem por influência


religiosa.
A maior parte das escolas ainda fazem festas juninas com reverencia
a alguns santos.

Porque na educação trabalhamos a cultura e os custumes nossos e de


outras sociedades e a religião está presente na forma de vida de todos os povos.
E o fato de o ser humano, inclusive o docente, carregar
consigo seus valores:
Cada um trás para dentro de seu espaço escolar sua cultura, suas
crenças e suas práticas cotidianas.
Porque somos humanos e falhos, então de uma forma ou de outra
expressamos a fé no que cremos.
As resposta afirmativas basearam se no fato de a escola
não ensinar religião, não doutrinar, mas de abordar todas as
religiões. Quando questionadas sobre a presença de simbolos
religiosos nas unidade escolares 75% (oito) das que reponderam
que a educação é laica é a favor da proibição de simbolos
religiosos; dos que responderam que a educação na prática não é
laica, somente um afirmou que não deve ser proibido, mas, sim,
permitido que seja expostos todos os símbolos religiosos, mesma
resposta dos três que foram contra a proibição, mesmo
considerando que a educação é laica na prática.
Uma questão central é ―como deve ocorrer a abordagem
do aspecto religioso no interior das escolas?‖ Foram
disponibilizadas cinco opções de resposta , tendo a opção de uma
resposta que não estivesse sido contempladas nas sugeridas. A
opção ―falar sobre todas as religiões: suas origens,
manifestações...‖ foi a escolha da maioria 57,5% (treze), 23,5%
(cinco) responderam que ―o tema religioso deve ser excluído do
interior da escola‖, um optou por não responder e 15% (três)
definiram a própria resposta:
Acho válido trabalhar valores e não religião.

67
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Religião deve ser trabalhada apenas por professores especializados na


área.
De acordo com o assunto a ser trabalhado. Por exemplo, se o assunto
é cultura africana, a religiosidade fará parte do conteúdo a ser trabalhado.
Interessante observar que a maioria compreende a
laicidade como a pluralidade de ideias, o respeito às diferentes
religiões e, não a proibição da religião no espaço escolar. Milot
(2012) afirma que:
As diferenças religiosas ainda são frequentemente, fontes
de tensões, de incompreensão e de discriminação. A
tomada de consciência da diversidade religiosa na
educação intercultural pode constituir uma contribuição
preciosa a uma cultura de paz, a uma abertura para
outras culturas, à tolerância e ao respeito dos direitos do
homem.43

A RELIGIÃO NO CMEI PROFESSORA LEILA


THEODORO
Ainda que a maioria das professoras não more no bairro
onde está localizado a unidade de ensino – somente três moram
no bairro ou em seu entorno-, 75% conhecem o espaço em que
reside seus alunos. E uma característica de Novo Horizonte é a
diversidade de espaços religiosos. Ao serem questionadas a que se
atribui tal diversidade de templos, as respostas predominantes são
―Tradição e costumes diferentes‖ e ―Porque há muitas pessoas de
fora do município que trazem diferentes religiões‖. Respostas que
estabelecem um diálogo com o que foi encontrado no tópico
anterior, em que se relaciona a identidade religiosa à cultural. Uma
observação pertinente a se fazer quanto à escolha de resposta é o
MILOT, Micheline. A educação intercultural e a abertura à diversidade religiosa.
43

Visão Global, Joaçaba, v. 15, n. 1-2, p. 355-368, jan./dez. 2012, p. 01. Disponível
em:<https://editora.unoesc.edu.br/>. Acesso em 04 de abril de 2018.

68
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

fato do município de Serra ter uma população de imigrantes,


diversificada, com moradores oriundos do norte do Espírito
Santo, Sul da Bahia, de diferentes estados do nordeste, sul de
Minas e outras regiões.
A questão central foi ―Como deve ser feita referências a
crenças religiosas na Educação Infantil‘, foi aberta. As respostas,
como era de se esperar, foram diversificadas, porém, predominou
o enfoque cultural e o respeito à diversidade em uma abordagem
lúdica, particularmente por causa da idade das crianças – de dois a
seis anos incompletos. Algumas professoras defenderam não
abordar religião, mas valores éticos, mesmos por ser um assunto
complexo para idade. A seguir algumas falas que sintetizam o
pensamento expresso pelas docentes, que se posicionaram a favor
de se trabalhar o tema religião com os pequenos:
Deixando a cultura falar mais alto. Enfocando o lado
lúdico e cultural.
Somente através de atividades lúdicas e no aspecto
cultural.
Somente abordando a diversidade cultural e respeitar a
religião de cada um.
Por meio de músicas, histórias e conversas, quando as
crianças relatam suas crenças, sempre respeitando-as.
Deve ser neutro, sem escolha de religião. Tem que ser
abordada de forma a pensar sem conteúdos religiosos
conflitantes. Desempenhar papel na promoção da
liberdade religiosa e no combate a intolerância religiosa.

As que são contrárias apresenta os argumentos da laicidade


do Estado e a pequena idade dos alunos.
Não deve ser feito referência à religião e sim aos valores de
modo geral.
Meu trabalho é totalmente laico.

69
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Vejo que é um assunto complexo para ser trabalhado na


Ed. Infantil.
Não acho que deve ser feito.
Não se pode ignorar nas falas das professora, novamente, a
relação cultura-religião e a enfase dada ao desenvolvimento da
tolerancia e ao respeito para com o outro. Ainda que pequena as
crianças fazem parte de uma sociedade, estão inseridas em
contexto culural e a Base Nacional Comum Curricular – BNCC44-
afirma que:
Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação
Infantil é o início e o fundamento do processo
educacional. A entrada na creche ou na pré-escola
significa, na maioria das vezes, a primeira separação
das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se
incorporarem a uma situação de socialização
estruturada. [...]
É na interação com os pares e com adultos que as
crianças vão constituindo um modo próprio de agir,
sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros
modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de
vista. Conforme vivem suas primeiras experiências
sociais (na família, na instituição escolar, na
coletividade), constroem percepções e questionamentos
sobre si e sobre os outros, diferenciando-se e,
simultaneamente, identificando-se como seres individuais
e sociais. Ao mesmo tempo que participam de relações
sociais e de cuidados pessoais, as crianças constroem sua
autonomia e senso de autocuidado, de reciprocidade de
interdependência com o meio.

BRASIL.
44 Base Comum Curricular Nacional. P. 35; 38. Disponível em:
<http://www.mec.gov.brl>. Acesso em 02 de abril de 2018.

70
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Mas, como as crianças manifestam seus valores religiosos


no interior da escola, em tão tenra idade? Segundo os professores,
principalmnte por meio de relatos, como a informação de que
foram à igreja e de vivências religiosas em suas famílias; negando-
se a participar de atividades culturais, alegando que ―a igreja não
deixa‖; pelo modo de se vestir; repreendendo um colega, quando
julgam que ele fez algo errado, afirmando que é pecado o que fez
ou falou e pelas músicas, expressões e termos religiosos.
Interessante considerar que um terço dos professores
afirmaram que as crianças não manifestam crenças religiosas.

O ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS


A nova redação do artigo 33 da LDB 9394/96 (a lei nº
9.475)45 afirma que:

O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte


integrante da formação básica do cidadão e constitui
disciplina dos horários normais das escolas públicas de
ensino fundamental, assegurando o respeito à diversidade
cultural religiosa do Brasil, vetadas qualquer forma de
proselitismo. (Grifo nosso)

E a BNCC46:

Cabe ao Ensino Religioso tratar os conhecimentos


religiosos a partir de pressupostos éticos e científicos, sem
privilégio de nenhuma crença ou convicção. Isso implica
abordar esses conhecimentos com base nas diversas
culturas e tradições religiosas, sem desconsiderar a
existência de filosofias seculares de vida.
45As leis brasileiras e o ensino religioso na escola pública. Disponível em:
https://gestaoescolar.org.br/.../as-leis-brasileiras-e-o-ensino-religioso-na-escola-publica. em
10/04/2018
46Base Comum Curricular Nacional, p.434.

71
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Ainda que o Ensino Religioso não faça parte da Educação


Infantil, foi questionado às professoras se este contribui na
formação de um aluno pensante e se auxilia na resolução de
problemas pertinentes à diversidade religiosa existente no espaço
escolar. Em relação à contribuição do Ensino Religioso para
formação de um sujeito pensante 92,5% concordam que a
disciplina leva o aluno a pensar, elaborar hipóteses, procurar novos
conhecimentos. Sobre a segunda questão a metade optou por não
responder argumentando que não tem opinião formada,
principalmente por atuar somente na Educação Infantil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa realizada teve como objetivo ouvir professores
sobre suas prospecções quanto à presença de aspectos religiosos
em um Centro de Educação Infantil, assim como as suas práticas
pedagógicas relacionadas a este universo. A partir dos dados
levantados foi possível visualizar como as crianças expressam sua
religiosidade na infância e conhecer como os professores
trabalham estas demonstrações e identificar as próprias ideias dos
docentes em relação religião, religião e educação, a laicidade do
Estado dentre outras informações. A partir das informações
fornecidas por este grupo de professoras, percebe-se que as
crianças ainda que pequenas trazem para a escola um universo
cultural e religioso, que não é percebido da mesma forma por
todos os professores; o respeito a liberdade religiosa deve ser
desenvolvido desde a Educação Infantil, na perspectivas dos
docentes e há uma associação entre religião e cultura o que remete
as acepções 1 e 2 do verbete religião do dicionário Michaels.

72
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

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ANDRADE. Maristela Oliveira de Andrade. A Religiosidade
Brasileira: o pluralismo religioso, a diversidade de crenças e o
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73
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

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74
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

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e Formação Docente. Revista de Estudo da Religião São Paulo: PUC,
2009.

75
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

OS DESAFIOS DO PROFESSOR
DE ENSINO RELIGIOSO
NA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL

Enailda Santos da Silva47


José Fábio Bentes Valente48
Adiclesio Ferreira Dias49
José Carlos Ferraz50

47 Graduada em Ciências Teológica pela Faculdade Boas novas – FBN. Licenciada do 6 ° período
Pedagogia por essa mesma instituição. E-mail: ensantoct42@gmail.com
48 Graduado em Ciências Teológicas pela Faculdade Boas Novas, Mestrando em Ciências de

Religião pela Faculdade Unida do Espírito Santo e Pós-graduando em Docência do Ensino Superior
pela Uniasselvi. E-mail: fbarmas@gmail.com
49 Historiador pelo Centro Universitário UNINTER, Bacharel em Teologia pela FABRA,
Especialista em Ensino Religioso pela Faculdade Unida de Vitória e Mestrando em Ciências das
Religiões pela Faculdade Unida de Vitória.
50 Mestrando em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória. Pós graduado em Filosofia

e Ensino de Filosofia (2015) pelo Claretiano Centro Universitário e Graduado em Filosofia (2007)
Claretiano Centro Universitário e Teologia (2014) pelo Claretiano Centro Universitário. Atualmente
é professor universitário na Área de Ciências Humanas e no ensino médio.

76
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

RESUMO: Este artigo tem como objetivo compreender os


desafios do professor no Ensino Religioso quanto ao seu
profissionalismo na Educação Básica. Valorando o desempenho
do professor e satisfação quanto as suas aulas ministradas na
disciplina de ensino religioso. Tem como linha de pesquisa
bibliográfica. Tendo como proposta avaliar a contribuição do
professor, na construção de valores éticos. E sua formação
mostrando na prática que o ensino religioso tem pouca relevância
nas escolas, devido nosso país ser laico básica e fundamental da
educação. E quanto a disciplina, nas redes públicas, a LDB, diz
que o ensino religioso é uma disciplina de horário normal, porem
o aluno participa se ele quiser, pois existem várias religiões,
desafios do professor, tendo por relevância que o mesmo, respeite,
e venha destacar que o sagrado de um poderá ser diferente para o
outro, sempre mostrando, que temos que ser tolerantes quando o
assunto é religião. Nesta caminhada de docência e discentes é
fundamental o professor sentir-se satisfeito e entusiasmado no seu
trabalho, porque o mestre, como mediador e como uma ponte, na
vida dos seus alunos, deixará os pontos positivos e as marcas de
suas aulas que foram ensinadas com amor. Também conterá um
breve relato sobre a influência europeia, na nossa cultura, quanto a
religião. Destaca-se também a formação do professor, e quais os
professores que ministram a disciplina. E as estratégias do
professor, em uma sala de diversidades, de pensamentos, e o
respeito, juntamente com a tolerância, para com o próximo.

Palavras-chave: formação. Professor. Currículo. Ensino religioso.

77
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é mostrar quais os desafios que o
professor de ensino Religioso enfrenta na educação fundamental,
principalmente no último ano do ensino fundamental II. Mostrar a
relevância da disciplina e os desafios do professor, e sua influência,
tendo em vista que o país é laico, e que existem várias religiões no
Brasil. O que dizer da família que tem seus dogmas valores, que
foram passados de pai para filho, tem a constituição para ampara-
la e no ato da matricula deixa a observação na secretaria, aqui é
somente um exemplo: meu filho não vai assistir a disciplina de ER,
como ficaria o professor vendo seu aluno nota dez, e ao mesmo
tempo se retirando da sala de aula momento que seu colega,
professor ministrar sua aula?
Um desafio com certeza para o professor teria a ser
enfrentado. Segundo JUNQUEIRA (2009, p.11)

Em 1997, o Fórum Nacional Permanente do Ensino


Religioso (Fonaper) publicou os parâmetros Curriculares
Nacionais do Ensino Religioso (PCNER), liberdade
de aprender, de ensinar, de pesquisar e de divulgar a
cultura, o pensamento, a arte e o saber.

Mesmo sendo uma disciplina facultativa, a mesma terá a


mesma relevância que as outras disciplinas, pois a mesma faz parte
do crescimento intelectual, formação do cidadão, no meio que o
mesmo está inserido, porem o professor em sua formação como
cientista da religião, fara sua aula respeitosa, mostrando para a sala
que o respeito com o sagrado do próximo é o caminho para uma
vida harmoniosa na sociedade.
Vive-se que estamos no século XXI, as mudanças, estão
sempre acontecendo, como ficaria a Educação sem a disciplina, e o
que diz a constituição a respeito do ensino religioso? E como é
direcionada a Educação Básica quanto a LDB.

78
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

O ENSINO RELIGIOSO
Ao deparar com a disciplina do Ensino Religioso, nas
series iniciais, temos a figura do professor formado em Pedagogia,
segundo SANTOS (2009), ―a formação desses professores busca
abranger desde a docência da Educação Infantil até dos anos
iniciais do ensino fundamental‖
Então a LDBN n⁰ 9.394/1996, em seus artigos 61 e 67,
assegura a formação continuada como um direito do profissional
da educação um dever do estado. Porem no fundamental II, nas
ultimas series do ensino fundamental, se observa que os
professores que ministram a disciplina de ensino religioso, são
formados em história, ciências sociais e filosofia.
Nisto observa a formação continua do docente, o que se
observa dos teólogos que tem sua formação em um bacharelado,
dificultando os mesmos, a exercerem sua função, pois precisam de
uma licenciatura e outras formações, o que faz esse docente ser o
professor adequado para a disciplina que está sendo analisada, é
que na sua matriz curricular, eles estudam diversas religiões,
passando a ter uma ótica diferenciada. Segundo SANTOS os
PCNER (Parâmetros Curriculares Nacional Ensino Religioso)
ressaltam que:

Importa ressaltar que o professor de Ensino Religioso da


educação infantil e dos anos iniciais do ensino
fundamental, por uma questão ética, necessita perceber,
que seu aluno traz na sua formação e socialização
primarias uma iniciação religiosa, sua fé, sua crença,
sua cultura, incluísse crendices e mitos que devem ser
respeitados de tal maneira que sua disciplina não se
confunda com a tentativa de se formar adeptos de uma
ou de outar forma de expressões as da fé, mas que possa
perceber a pluralidade, sem imposições, preconceitos
,exclusões etc.( SANTOS,2009,p.95).

79
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Então a formação do professor é muito relevante, é


necessário que o mesmo tenha postura, quanto seus alunos, sua
sala, tendo a ótica que cada aluno tem uma bagagem, ensinos e
culturas que as vezes, são repassados de pai para filhos. A
deferência tem que ser notável, e isso parte do professor, que
sempre será alvo dos seus alunos. E o mesmo sempre olhara uma,
duas, quantas vezes for necessária, pois o significado da palavra
respeito é este: ‖ olhar outar vez‖ e este segundo olhar é algo
digno de respeito.

O ENSINO RELIGIOSO NA EDUCAÇÃO BÁSICA


A formação continuada do professor, fara o diferencial,
tanto no seu currículo, quanto na sala de aula e na sociedade, a
busca pelo conhecimento, pelas manifestações religiosas,
consciente segundo Santos, que existe uma complexidade religiosa
e sensível a diversidade cultural.
Na educação infantil o desenvolvimento é notório, vários
teóricos relatam aspectos relevantes no desenvolvimento fase
escolar, segundo SANTOS (2009, p.39)

Erick Erikson e James Fowler, dois estudiosos do


desenvolvimento humano, contribuíram com suas teorias
para melhor compreensão dos desenvolvimentos
psicossocial e religioso do ser humano, respectivamente.
Na presente obra, tem-se a intenção de estabelecer uma
relação entre duas teorias, abordando as principais
características dos estágios do desenvolvimento
psicossocial e do desenvolvimento religioso correspondente
até a fase escolar dos anos iniciais do ensino
fundamental.

Para esses teóricos, a criança passa por várias fases, vale


ressaltar que a fase escolar, a mesma desenvolvera suas habilidades,
na faixa etária de seis anos de idade, desenvolvera escrita, leitura e

80
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

várias outras habilidades, nestas fases estão a fase da fé, isto é


notório, nesta fase pois a criança passa a desenvolver confiança,
fase fantasiosa imitativa segundo SANTOS. Deus passa a fazer
parte das fantasias da criança. Então não basta conteúdos e mais
conteúdo, e sim uma sondagem para saber todo um contexto a
partir de aulas informais, e a partir de uma aula informal, elaborar
os assuntos que irão contribuir para o desenvolvimento da criança,
isto nas series iniciais.
Até atualidade, os desafios são grandes em relação ao ER
(Ensino Religioso), para o professor e para o discente, vejamos a
licenciatura, de pedagogia, da qual Santos relata que a formação do
professor, de pedagogia está apto para ministrar conteúdos como:
Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia,
Arte, Educação Física, e Educação Religiosa (Ensino Religioso).
Então especialista se diferencia, pois o mesmo se apropria das
disciplinas, e na sua matriz curricular, estudam.
A educação está atrelada, a família e a escola e ao estado,
isto está na nossa constituição de 1988: ― a educação é
compreendida como o direito de todos e dever do estado e da
família em colaboração com a sociedade, tendo em vista o
desenvolvimento pessoal, o exercício da cidadania e a qualificação
para o trabalho‖. Nisto compreende-se que a educação nacional
organizada nas modalidades básica e superior, segundo SANTOS
(2009), nisto a educação básica inicia-se na educação infantil,
ensino fundamental e o ensino médio. Especifica o fundamental
II, e tem uma pequena amostra das series iniciais o ensino religioso
tem uma relação com o desenvolvimento humano, e uma das fases
de da fé intuitivo-projetiva, pois a criança tende a ser fantasiosa.
Se a educação é direito de todos, e o dever de o estado
assegurar, que os alunos estejam na sala de aula, da mesma forma
passa a ser direito da família, juntamente com a escola, da qual o
professor trabalha o ensino de maneira bem sucinta, respeitando
cada religião, cada sagrado que cada um acredita. Ressaltando

81
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

sempre na sala de aula que o país é laico e que a diversas religiões e


que o respeito, começa a ser ensinado na escola, assegurado na
família, vários grupos sociais estão inseridos na sala de aula. Neste
segundo caso a família ensina seus princípios aos seus filhos, suas
culturas aqui, entra a religião como uma realidade que está em
constante mudanças, segundo POZZER (2015, p.206):

Tomando essa linha de discussão, vamos trabalhar com


ideia de religião como uma condição inerente ao ato de
construir a realidade. O ser humano está a todo o
momento construindo sua realidade e para tal usa
inúmeras ferramentas, que chamamos de conhecimentos,
e, em minha „opinião‟, um grupo desses conhecimentos é
denominado de religião.

Nisto o papel da família é de grande relevância para aquele


aluno que tem acesso a sala de aula cinco dias e um tempo de aula,
é dedicado ao ensino religioso, mesmo sendo uma facultativa.
Mostrando sempre que o professor respeita, cada aluno e de
maneira nenhuma levara a sua religião, mostrando que é a correta.
Levaram o ensino, é evidente que cada um passara conhecimento
de uma maneira, no caso da mãe, levara para seu valores e dogmas,
enquanto as escolas, juntamente com o professor, levaram o
ensino mesmo em formas de contos e historias, para o lado do
estudo, algo mais elevado, saindo do empírico, do comum, para
um lado digamos acadêmico.
Uma pergunta que não quer calar: é necessário a disciplina
de ER? A resposta é que é necessário, pois bem antes da escola
existir a religião já caminhava com a sociedade, então segundo
Junqueira (2009) o ser humano constrói sua história, quando
integrado em seu contexto histórico-social. Notemos que algumas
escolas, principalmente privada, nas séries iniciais o ensino
religioso já é ensinado, embora não seja obrigatório. De acordo
com POZZER (2007 apud OLIVEIRA; 2015, p.183)

82
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

E a parte integrante da formação do cidadão. Ou seja, a


disciplina alicerça-se nos princípios de uma cidadania
planetária, no respeito ao outro como tal e na formação
integral dos estudantes; é disciplina nos horários
normais, assegurando o respeito à diversidade cultural e
religiosa e as suas verdades, sendo vedada quaisquer
formas de proselitismo (art.33 da LDBEN
9.394/1996; Lei 9.475/1997);

O professor de Ensino Religioso, tem sua formação, na


atualidade em ciências da religião uma licenciatura que o capacita
para exercer o cargo ou dizendo o educado preparado para atuar
com o respeito ao seus alunos e a sociedade em geral. E sim dando
a oportunidade para o professor que se qualificou na sua área a
exercer a função. Isto se observa a própria LDBEN 9.394/ 1996
assegurando nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
Religioso (PCNER), um dos tópicos é proporcionar o conhecimento dos
elementos básicos que compõem o fenômeno religioso. Diante das leis, temos
visto que o trabalho educativo é complexo diante das propostas
oferecidas aos discentes. Os desafios são grandes para o professor,
porém, muito gratificante, principalmente. No Art. 210.

Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino


fundamental, de maneira a assegurar formação básica
comum e respeito aos valores culturais e artísticos,
nacionais e regionais. § 1⁰ O ensino religioso, de
matricula facultativa, constituirá disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental.

Segundo a constituição, o ensino religioso, não é


obrigatório, a LDB, determina que o ensino religioso, oferecido
aos alunos do ensino fundamental, nas escolas públicas, é
opcional. Nisto o proselitismo é combatido, pois a lei proíbe,
devido ao País ser laico. E o que vem ser o proselitismo segundo o

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Aurélio ―pagão que abraçava religião diferente da sua. (A tentativa


de converter alguém a uma religião em detrimento de outras)

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE ENSINO


RELIGIOSO
Então o Ensino Religioso, é primordial na educação básica,
quando se fala do professor na sala de aula, entende-se, a
importância da sua formação, pela necessidade faixas etárias. Nesta
experiência bibliográfica, observa que a formação do professor, as
vezes fica sem entender. Então podemos dizer que ―O papel do
professor é o de mediador, que tem a função de propiciar o
contato com materiais escritos, bem como o de questionar e
problematizar situações para os alunos pensarem e elaborarem
suas próprias hipóteses‖ (ROSENAU 2008, p.77). Então o
professor, precisa buscar, cada dia mais informações. O
profissional da educação, tem que se qualificar, cada dia, assim
como a história.
O professor de Ensino Religioso (ER), são geralmente
professores que são formados em filosofia, história. Segundo
POZZER (2015, p.182), o Ensino Religioso, ―nunca foi assumido
efetivamente pelas políticas públicas na normatização para
educação superior no Brasil. Esse autor relata que a mesma
situação do ER, ela é crítica relacionado as outras áreas da
educação. Nisto se observa a graduação do acadêmico em ciências
teológica, na região norte, que tem o bacharelado, e terão que
correr atrás de uma licenciatura para posterior exercerem a função
de professores de Ensino Religioso.
O Fórum Nacional do Permanente do Ensino Religioso
FONAPER, segundo Pozzer, é o que tem assumido e ocupado
com formações, que posteriormente na faculdade Dom Bosco, foi
criada a Rede Nacional das Licenciatura em Ensino Religioso
(RELER).

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Segundo Passos, que á um acumulo de estudos de Ciências


da Religião, nos cursos de pós-graduação, isto tem sido notório
nos seminários, que o curso é recente, porem vem tomando
espaços, nisto as barreiras, vão pouco a pouco sendo vencida. Isto
é observado na região Norte como uma conquista, principalmente
para o professor que luta por uma vaga de concurso na semed
seduc, e nos requisitos se do edital, o candidato tem que ter um
curso de licenciatura.
A relevância do ER segundo PASSOS (2005) diz que a
disciplina centra-se na educação do cidadão para viver como tal na
sociedade e o mesmo crescera profissionalmente. Nisto observa a
relevância da disciplina, no currículo do aluno. Mesmo que o
nosso País venha a ser um País laico, sempre a religião andara lado
a lado com o homem e a sociedade. O professor é claro, segundo
o autor citado, não irá transferir conhecimentos, pois em uma sala
de aula existem várias religiões, com seus costumes e crenças a
serem respeitados
Então, assim a Educação Infantil no Brasil teve sua origem
no século XIX, ressaltando, que as mães precisavam trabalhar e
em seguida necessitavam deixar com alguém começando pela
educação infantil e pela formação inicial dos professores, da qual
entende-se que isso foi se modificando com o passar dos séculos
segundo ROSENAU (2008), então houve todo um avanço, e
continua, professores que continuam lutando por seus direitos,
professores se especializando, até chegar na educação básica, e no
assunto relacionado ensino religioso, que ainda lutam, para
obterem melhores êxitos, na área da educação.

Um profissional habilitado a atuar no ensino, na


organização e gestão de sistemas, unidades e projetos
educacionais e na produção e difusão do conhecimento,
em diversas áreas de educação, tendo à docência como
base obrigatória de sua formação e identidade

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

profissional (ceep,1999, p apud SCHEIBE, 2000,


p.13).

A licenciatura habilita o profissional da área da educação e


principalmente a pedagogia a exercerem suas funções como uma
formação de qualidade que favorecem o desenvolvimento da
criança nesta fase da educação infantil. Segundo MANFREDO
Carlos Wachs et al o ensino religioso, e suas dificuldades, no
currículo tem trazido críticas imensas, principalmente nas escolas
públicas, como mencionado, uma vez que o país é laico e cada um
tem direito e deveres de respeitar o próximo, pois a constituição,
embasa e assegura cada aluno e cada cidadão.
Observa-se que até os materiais como livros, é bem
carente, na rede pública, pois nas redes privadas, o embasamento
na sua maioria é crista. Uma sociedade patriarcal em que o
cristianismo é mencionado de maneira que o país ao ponto
positivo, parece cristão. Então partindo desse pressuposto, as
pessoas deixam de respeitar seu próximo, seu colega de profissão,
e principalmente na escola onde passam aproximadamente, quatro
horas e quinze minutos, se observa colegas de profissão e
professores que não se toleram, e principalmente, quando o
assunto, é religião ou a disciplina de ensino religioso.

ASPECTOS LEGAIS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES


Quanto a formação do professor, segundo
ROMANOWSKI, (2006 p.16) é preocupante pois o mesmo fala
que a inovação e mudanças parte do professor, então entende-se
que o professor é o responsável como o próprio autor relata no
seu livro, a modo grosso, isto quer dizer, a responsabilidade é do
professor e de mais ninguém. Isto tem gerado várias discussões,
quanto a sua formação, segundo ROMANOWSKI (2006)

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Desde de 1997, estamos em processo de organização do


ensino no brasil em função das políticas advindas de
reforma de ensino proposta na lei de Diretrizes e Base
da Educação Nacional, LDBEN- Lei 9394 ⁄ 96.
Soma-se as determinações legais a reestruturação social.

Então este processo de organização tem uma exigência


ainda maior, pois exige um profissional que seja qualificado, que
procure se qualificar, que busque o desenvolvimento e que possa
valorizar o aprender a aprender. Então nessas perspectivas as
formações dos professores serão diferenciadas.
Então para exercício do magistério, hoje a uma exigência,
que o professor tenha o superior completo, segue de suas
formações como pós-graduação, segue para o mestrado, e até para
o doutorado, o professor, não pode de maneira nenhuma estagnar,
na sua caminhada, que é voltada a educação, o profissional,
voltado a educação, precisa ser valorizado e até mesmo amparado
pelas leis que embasa CERVI (2005, p.155)

Tem-se como conquistas irreversíveis dos profissionais da


educação nos sistemas de ensino, desde a reforma de
1971 e agora confirmadas, a imprescindibilidade de
ESTATUTO e da projeção da carreira, o ingresso
exclusivo por concurso público de provas e títulos, a
garantia de aperfeiçoamento e atualização continuados e
da PROGRESSAO FUNCIONAL baseada na
titulação ou habilitação.

O CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL


Para que hoje a disciplina e ensino religioso, fosse
reconhecida, com uma disciplina relevante quanto as outras no
currículo do aluno. Ressaltando que todas trazem vários benefícios
para o aluno, quanto para sociedade, os conhecimentos que são
construídos, na família, na escola, e na sociedade, tudo isso

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

segundo Pozzer que a uma construção compartilhada de


conhecimento.
Mesmo sendo uma disciplina facultativa, o ER, traz uma
enorme contribuição, para a sociedade, por isso, que segundo o
autor citado acima, relata, a religião assegura a ser um fenômeno,
que a escola e os professores revessem seus olhares a respeito do
ensino religioso. Pois religião e a ciências permeiam a vida das
pessoas, dos alunos e por se tratar de educação básica, cada escola
tem suas maneiras de abordar o ER, na vida escolar do aluno,
segundo POZZER (2015, p.209)

Há uma generalização que busca tencionar esses


argumentos de forma que possamos repensar o diálogo
epistemológico entre ciência e religião, entretanto percebo
quem a escola, por meios dos seus currículos, exclui e
hierarquiza conhecimentos. Claro que inúmeros
conhecimentos são colocados para fora dos portões das
escolas e em nome da cientifizacão e da secularização da
sociedade, se constroem argumentos que,
preconceituosamente, alijam a compressão de mundo das
classes populares dos currículos.

Então como foi relatado que as crianças nas series iniciais


passam por fase, e que o professor não necessariamente tem que
ter os conteúdos e sim olhar um todo para seus alunos na sala de
aula, que são pessoas que trazem uma cultura que aos poucos são
construídas pela família, pela sociedade e que também terão papeis
principais nas suas vidas que serão os professores ,e que nessa fase
eles fantasiam, sonham e isto é fase segundo Santos, que deverá
ser respeitada e ensinada com todo o zelo para não prejudicar e
nem levar o proselitismo na vida escolar da criança. Hoje á uma
necessidade de professores especialista no fundamental dois,
mesmo para saberem lidar com as diversas religiões, e também

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

trazendo para sala o respeito por cada aluno, pois o País é laico, e a
constituição ampara o aluno, o cidadão, as religiões.

A LEI 969394/96 O PAPEL RENOVADO DO PROFESSOR


E sabido do avanço quanto a lei mencionada acima, nisto
observa que a profissionalização do professor avançou , nos
últimos tempos, é possível ver os professores participando no
contexto escolar, hoje o professor faz seu plano de aula segundo
CERVI professor é integrado na gestão, tem liberdade para fazer
seus planos de aula, planejamento, além de participar da
comunidade, segundo o autor mencionado, isto sem dúvida deu
início, á várias conquistas e de tudo isso contribuiu para uma
gestão democrática da escola, e principalmente do sistema.
Quando se fala do papel renovado do professor vale ressaltar o
que o autor CERVI (2005, p.155)

A expansão do sistema de ensino combinada à


afirmação de suas modalidades, a doutrina dos
parâmetros curriculares e a adstrita renovação
metodológica, a reestruturação organizacional e ao
redicionamento do trabalho escolar, as metas de
qualidade e as avaliações que incidem sobre todas as
circunstâncias, escolares, entre outros fatores presentes no
contexto reformado, deslocam a função docente do seu
isolamento para um processo cooperativo e projetam
expectativas de novas ,e por esses motivos, desafiantes.
(p 155)

A grande pauta do momento, são essas inovações na


educação, que também, com uma renovação metodológica, a
didática e o papel do professor que antes era somente de sala de
aula, hoje já possível devido os avanços da lei mencionada acima,
na atualidade, os educadores, não andam sozinhos, ou no

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

isolamento, e sim colaboram com a escola, com a comunidade, e


principalmente quem ganha é o aluno.
Ressaltando que o a educação ainda precisa avançar mais,
pois hoje o professor não, é mais considerado um professor e sim
um educador, que fica as quatro horas com seus alunos, não
somente ensinando, porém, educando, que isso antes era o papel
dos pais. Nisto podemos até ressaltar a LDB, que, assegura que é
dever do estado e da família, no estado, inclui o professor que as
vezes ficam mais tempo na sala de aula do que os próprios
responsáveis, que na vida corrida, acabam não tendo tempo para
educação, porem isso é dever dos responsáveis, amparados os
alunos são por leis, pela nossa constituição. Nisto vale ressaltar o
professor de Ensino Religioso, não com suas crenças e sim com
sua ética e ensinos não que levem o proselitismo.

O QUE ENSINAR NO ENSINO RELIGIOSO


Quando se fala de uma disciplina na matriz curricular, o
ensino religioso, segundo MANFREDO, diz que o objeto de
estudos, está relacionado com o fenômeno religioso, com o
transcendente, com as experiências religiosas, que as pessoas têm
em suas comunidades, então para MANFREDO (2010 p.24) diz
que:

Os parâmetros Currículos Nacionais para o Ensino


Religioso (PCNER) do FONPER, asseguram que o
conhecimento religioso é patrimônio humano e, estando
disponível, a escola “não pode recusar –se a sociabilizá-
la”. Por outro lado, deixam claro que não é função da
escola “propor aos educandos a adesão e vivencia desses
conhecimentos, enquanto princípios de conduta religiosa
confessional”

Como em questões acima que já foram discutidas, o ensino


religioso, e a disciplina, sabendo que o nosso país é laico, e que

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

temos que respeitar qualquer religião, essa é a base para um país


melhor, uma cidadania, respeitada, e principalmente no âmbito
escolar. Então a citação acima diz que os PCNER,(1997) que eles
asseguram, o conhecimento religioso, como ―patrimônio
humano‖, ou seja, tem que socializar, tem que incrementar,
mesmo sendo uma disciplina facultativa, sabemos que o homem
em si, precisa do transcendente, que isto é comprovado que traz
saúde, traz esperança. Imaginar o homem, na sociedade sem
acreditar em alguma coisa, ou em alguém, traz para o homem, para
a sociedade e para os alunos, uma desesperança para continuar
vivendo.
Então a fé, é uma dimensão profunda do humano,
segundo Leonardo Boff, a esperança de Deus, no termo hebraico
Ruach, nisto é observado que o homem precisa de uma forca ou
até mesmo de Deus, para continuar vivendo, para continuar
acreditando, fé seria a palavra, que as tribos, grupos, reuniões, seja
o que for, relatariam, sua fé, suas experiências, suas crenças, seus
temores, e suas esperanças. Neste ponto de vista, espiritualidade se
diferencia de religião, pois quando se fala de ensino religioso, na
sala de aula, não é a religião em si, e sim fenômeno religioso,
vivencias
E no ensino religioso, fica a pergunta, ensinar o que? Para
Manfredo (2010, p. 28) ressalta que

Ensinar o que no ensino religioso? A resposta que se


busca e a proposta que se faz é educar a fé e a
espiritualidade do educando. Por que educar? De acordo
com o Dicionário Houaiss, educar é:1. Dar a (alguém)
todos os cuidados necessários ao pleno desenvolvimento de
sua personalidade;2. Transmitir saber a; dar ensino a;
instruir; mais adiante:5 procurar atingir um alto grau
de desenvolvimento espiritual; cultivar-se; aperfeiçoar-se.
Etimologicamente, educar [...]

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Então o último significado na citação, relata o educar, isto


é relevante para o ensino religioso, mostrando, que mesmo os
conteúdos, que trabalham com ideia do Transcendentes, da fé, dos
ritos, e muitas coisas que podemos relatar na disciplina do ER,
ressalta o respeito com o próximo e sua religião vai além da sala de
aula. O educar vai além da sala de aula, além das classes sociais,
além das religiões, vai do educar, do ensinar, o educar é acima de
tudo, respeitar, o sagrado, de cada pessoa, de cada tribo, de cada
nação, das escolas, das faculdades, universidades. Para alguns
educadores, acham que ensino religioso, é levar seus
conhecimentos de religiões, ou de experiências, o proselitismo fica
fora da sala de aula, por isso que a uma necessidade de um uma
graduação voltada a ciências da religião.
Ressaltando que as discussões sobre tolerância religiosa, se
torna um assunto pedagógico, da qual se respeita o que frequenta a
umbanda, ou o terreiro de macumba, ou até mesmo os irmãos
católicos, as diversidades religiosas deveram ser trabalhadas dentro
da sala de aula, com cautela e zelo de ambas partes segundo Klein
―Os diferentes encaminhamentos pedagógicos mencionados como
possibilita de abordagem da temática no ensino religioso como
uma área de conhecimento da educação básica [...]‖(
KLEIN,2008,p.73)

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de vários desafios na Educação Fundamental, o
professor de ensino religioso, tem enfrentado vários desafios,
começando pelas series iniciais, que procuram sondar as crianças
sempre olhando para a família a sociedade e a própria criança
nessa série de tantas relevâncias, que conforme vai passando as
series, as fases vão mudando.
Ressaltando a constituição, que também ampara os alunos,
criança e o cidadão, que o País é laico, assegurado pelas leis que
rege o País, cabe cada um, principalmente o professor, seja ele das

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

series inicias até o termino da educação básica o respeito. Diante


disso, o professor de ensino religioso tem lutado pelos seus
espaços, [procurando se especializar, em ciência da religião, pois o
mesmo, não foca sua religião, porem tem o privilégio de conhecer
as outras culturas e outras religiões.
Então a religião, necessita ser compreendida como o todo
segundo POZZER, (2015, p.350) ― é necessário entender a religião
como um processo de construção de conhecimentos das
pessoas...‖ Para compreender como um todo é necessário ter uma
compreensão de todos os lados, tanto da escola, professor e
alunos, e sociedade. É necessário, que haja um respeito de todos,
pois nossa constituição, nos embasa, com um país laico, nação que
tem várias religiões, mais ao mesmo tempo parece que as pessoas,
até mesmo dentro das próprias escolas e instituições, se
internalizam, nação patriarcal.
Que infelizmente tem gerado muitos constrangimentos,
portanto para excelente resultados, nas escolas e sociedade, é
necessário respeito, e reciprocidade e com certeza, nossas escolas
serão melhores, nosso pais, e quem ganha com tudo isso é o
professor, o aluno e a sociedade. Dias melhores viram para a
educação para os professores de ensino religioso.
Novas metas serão avaliadas, novos desafios e muitas
conquistas serão alcançadas pelos professores que se formaram
como cientistas da religião, e pelos novos desafios da licenciatura
em ciências da religião. Portanto o ensino Religioso, nas escolas
tem uma grande relevância, além da formação do professor, o
currículo e os valores que são agregados na vida do professor e na
relação, entre o professor e aluno, da qual o principal valor é trazer
valores, crescimento, e um aprendizagem relevante, quanto ao
ensino religioso na educação básica.

93
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

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Diálogo, 2015. p.181 a198.

94
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

OLIVEIRA, Z. R. Educação infantil: fundamentos e métodos. São


Paulo: Cortez, 2002.

ROSENAU, Luciana dos Santos. Pesquisa e prática profissional:


educação infantil. Curitiba: Ibpex, 2008.

ROMANOWSKI, Joana Paulin. Formação e profissionalismo docente. 2


ed. Revista e atualizada / Joana Paulin Romanowski. Curitiba:
Ibpex, 2006.

SANTOS, Silvana Fortaleza dos. Ensino Religioso: uma perspectiva


para a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental.
Curitiba: Ibpex, 2009.

95
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

AS RELIGIOSIDADES INDÍGENAS
NO CURRÍCULO DO ENSINO
RELIGIOSO ESCOLAR:
SUGESTÕES DE LITERATURA51
David Mesquiati de Oliveira52

51 Este texto foi publicado originalmente na Revista Unitas do PPGCR da UNIDA: OLIVEIRA,
David Mesquiati. ―Ensino religioso escolar e religiosidades indígenas‖. Unitas – Revista Eletrônica de
Ciências das Religiões [online]. Vitória-ES, vol. 2, jul.-dez., 2014, p. 126-139. Disponível em: <
http://revista.faculdadeunida.com.br/index.php/unitas>.
52 David Mesquiati de Oliveira, Doutor em Teologia (PUC-Rio) com estudos de pós-doc na PUC-

Rio, Faculdades EST e no Princeton Theological Seminary. É docente do PPGCR da Faculdade


Unida de Vitória (UNIDA).

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

INTRODUÇÃO
O Ensino Religioso Escolar (ERE) enfrenta vários
desafios. Um deles é a de material adequado para sala de aula,
especialmente dos que tratam a questão indígena. A tese deste
texto é que os avanços na legislação brasileira na temática da
questão indígena – pese ser fruto de intenso debate em várias
instâncias – ainda não se plasmaram na prática educativa, seja em
relação ao ERE ou em relação às demais disciplinas. Avançou-se
na legislação, mas não se logrou efetivar a implantação ou
manifesta-se timidamente nas salas de aula. Este texto é apenas
uma provocação, um convite à reflexão sobre o tema.

INDÍGENA, NATIVO, ORIGINÁRIO, ABORÍGENA...


A palavra ―índio‖ é resultante de um erro histórico,
quando os colonizadores confundiram o ―novo‖ continente com a
região das Índias, na Ásia. Os primeiros encontros romantizados
com os locais logo cederam ao preconceito, passando de ―índios
que pareciam da Índia‖ para ―índios selvagens‖. Motivados por
uma superioridade não justificável, os invasores passaram a usar o
termo ―índio‖ em tom pejorativo. Mesmo na academia, durante
muito tempo falou-se em ―índio‖ como se fosse uma categoria
genérica, única, biológica, sem levar em conta a realidade cultural.
É um ―engavetamento‖ do outro, uma classificação arbitrária que
invisibiliza as diferenças. Tal prática reducionista de classificação é
ainda uma tentação nas análises acadêmicas apressadas.
Na verdade, o que existe é uma variedade enorme de
povos com histórias e culturas diferentes (PREZIA, 2003). Sem
esse pressuposto, os recém-chegados agiram como se os nativos
fossem ―sem fé, sem lei, sem rei‖. Assim imaginaram a sociedade
local em termos daquilo que lhe faltava na ótica dos europeus – e
quiseram a todo custo impor sua cultura e religião (CLAUDINO,
2008, p. 16-19). Como os recém-chegados professavam a religião
cristã, impuseram sua cosmovisão e categorias próprias. É preciso

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

ressaltar que não se trata de um efeito direto do cristianismo como


tal, mas da perspectiva que se tinha (ou tem) da religião. Caso
professassem outra religião, é muito provável que o mesmo
comportamento se repetisse.
Optamos neste texto pelo termo ―indígena‖, que vem do
latim e significa ―o habitante primitivo de uma terra‖, no sentido
de ―originário‖, ―nativo de um lugar‖. Também usaremos como
sinônimos as palavras aborígenes, povos originários ou povos autóctones.
Mas nada impede usar o termo ―índio‖ resinificado. Aliás, a jesuíta
zapoteca Eleazar López Hernández afirma que alguns líderes
indígenas preferem ser chamados de índios (LÓPEZ
HERNÁNDEZ, 2000). Em protesto ao uso pejorativo eles teriam
afirmado: ―Se foi com esta alcunha que nos rebaixaram, com ela
conquistaremos nossa liberdade e reconhecimento‖. Por isso a
teologia cristã que busca dialogar respeitosamente com as religiões
indígenas assumiu esse paradigma. Seus textos são conhecidos
como ―teologia índia‖53.
Para esses povos nunca houve um ―descobrimento‖, pois
eles já viviam há séculos nessa região e têm mais de 20 mil anos de
história. Ignorar a história desses povos e/ou ignorá-los hoje é um
erro grave. No entanto, é impossível dar conta de toda essa
diversidade cultural em um único texto (ou mesmo em vários). Por
isso vamos nos concentrar nas características religiosas que lhes
são comuns ou encontradas em muitos povos, sem cair na visão
preconceituosa e generalista do recente passado colonial.
Outro termo que não respeita a perspectiva do mundo
indígena e que precisa ser resinificado é a designação desse
continente como ―América‖. O termo vem do navegador italiano
Américo Vespucci, e homenageia a conquista da região, e em nada, é
motivo de orgulho para os nativos que tiveram suas terras
invadidas e sua religião anulada e demonizada pelo conquistador.
53É o caso da extensa obra bibliográfica dos jesuítas Eleazar López, Xavier Albó, Manuel Marzal,
entre outros.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

É preferível usar o termo nativo ―Abya Yala‖, de origem Kuna


(indígena da região do Panamá), que foi sugerida pelo líder aymará
Takir Mamani, quem propunha que todos os indígenas o
utilizassem em seus documentos e declarações orais
(ESTERMANN, 2007, p. 126). Abya Yala significa ―terra em plena
maturidade‖ ou simplesmente ―nossa Terra‖, referindo-se a toda
extensão do continente ―americano‖. É justamente na questão da
terra, do espaço vital para viver, que os indígenas mais sofreram ao
longo desses 500 anos.

INDÍGENAS SEM ESPAÇO


Oscar Beozzo salienta que no Brasil a prática de forçar a
retirada dos indígenas para áreas mais remotas ficou conhecida
como ―limpeza‖ da área (BEOZZO, 1992). Em nome do
progresso, grandes áreas habitadas e que promoviam o sustento de
várias etnias foram simplesmente e sistematicamente
desempossadas.
No início da colonização precisava-se de terra e a estratégia
foi deslocar seus ocupantes. Isso não ocorre pacificamente. Ao
contrário, fez-se guerra aberta, normalmente com massacre. Essa
―limpeza‖ da área gerava outro problema, pois era necessário mão-
de-obra. Então, os que não foram exterminados eram
reintroduzidos na terra. O trabalho a que eram submetidos era
compulsório, escravo, e gerava revoltas. Em resposta veio a dura
repressão. Beozzo cita alguns exemplos marcantes na história do
Brasil: a) em Belém promoveram essa ―limpeza‖ por volta de 1621
com o extermínio de cerca de 30 mil indígenas; b) em Vitória,
cerca de 20 a 25 mil para liberar o espaço onde se criou a cidade de
Vitória, atual capital do estado; c) o massacre no Rio de Janeiro; d)
o massacre na Bahia, onde são destruídas dezenas de aldeias
(BEOZZO, 1992, p. 12s.).
Pode-se pensar que este expediente foi utilizado somente
no passado. No entanto, tais práticas tornaram-se processo

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

―normal‖ e vem se repetindo até hoje. Como exemplos locais e


recentes no Espírito Santo podemos citar as disputas dos
indígenas Tupiniquim e Guarani com a então Aracruz Celulose
(hoje Fibria) ou com a Cia Vale do Rio Doce, hoje Vale. Beozzo
vaticina: ―o índio sempre esteve submetido a este processo, para
que se liberasse espaço para o ‗progresso‘, seja da cana de açúcar,
seja para instalar colônias de imigrantes, seja para o avanço do
café‖. E continua: ―todos os procedimentos de deslocamentos de
fronteiras através de frentes pioneiras, no Brasil, sempre se deram
através da ‗limpeza‘ da área‖ (BEOZZO, 1992, p. 14).
A pergunta é: como essa história chega às salas de aula? As
demandas desses povos reverberam? No caso da cidade de Vitória,
fundada a partir daquilo que veio a ser o segundo maior massacre
de indígenas do país, como isso é tematizado? O nome ―Vitória‖ é
na perspectiva do invasor, daquele que ceifou milhares de vidas
(quase 25 mil em uma única batalha). De acordo com dados
oficiais, do Censo do IBGE de 2010, vivem atualmente no estado
do Espírito Santo apenas 9.585 indígenas, sendo que 90% estão
concentrados no norte do estado. Que espaço têm as religiões
indígenas nas salas de aula? Vejamos um pouco mais sobre elas.

RELIGIOSIDADE INDÍGENA
A religiosidade indígena tem sua forma própria de
interpretar o sobrenatural. Não está apoiada em uma
sistematização teológica ou em uma estrutura eclesial. Sua relação
com o divino ou Grande Espírito é aberta e inclusiva. Sua forma
de adoração ―não é direcionada por nomes, estruturas ou
proselitismo, mas pela aceitação do culto do outro, que procura
sempre somar, nunca dividir‖ (FLORES, 2003, p. 12, 13). O índio
terena Lucio Flores sugere que essa é a chave para se entender os
povos indígenas.
Adorar é desfrutar plenamente a natureza. E isso acontece
andando na mata, deitado na rede, assistindo um culto católico,

100
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

protestante ou qualquer outro. É a forma como vivem, de


sacralizar o mundo, que define sua espiritualidade e religiosidade:
forma aberta de adoração é adorar na plenitude, independente do
local ou de quem está ao lado.
Os povos indígenas são heterogêneos: são centenas de
povos e línguas diferentes. Há uma grande diversidade no campo
religioso: muitos rituais, calendários sagrados, locais e formas de
culto, além de muitos nomes para Deus. É de fato, uma
religiosidade includente e ―ecumênica‖. Os indígenas ouvem o
outro, cultuam com o outro, e aceitam o outro, seja esse outro
índio, padre, pastor ou místico. Em suma, a vida do índio está
impregnada de religiosidade (FLORES, 2003, p. 13).
Essa religiosidade favorece a interculturalidade. Da parte
deles, o que se sugere é o que de alguma forma já praticam. Da
parte do cristianismo e das demais religiões, muita coisa mudou
em nível da reflexão, mas pouco em nível da prática nas
comunidades. Ao que parece, as religiões globalizadas não têm
dado mostras de que a interculturalidade é uma possibilidade em
curto prazo. Sobretudo pelas consequências teológicas que
acarreta, sem contar o enfraquecimento da instituição eclesiástica –
talvez, não como organismo, mas enfraquecimento da organização
e das lutas pelo poder.
Lucio Flores comenta: ―a religiosidade indígena sempre
esteve aberta ao diálogo com outras religiões; em alguns
momentos se retraiu e até se calou, mas sempre existiu, resistiu e
se fortaleceu, em plena clandestinidade‖. E acrescenta:

a mídia vive mesmo é de dramas, catástrofes, epidemias,


bug do milênio, entre outros; a ideia que se tem
normalmente das aldeias é de um povo amedrontado,
inseguro e em extinção. Não se busca aqui negar tudo
isso, que de fato existe, mas não é só. Se em 1500
éramos cerca de 5 milhões de índios no Brasil, na década
de 1950 éramos 170 mil e hoje 330 mil, houve um

101
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

declínio e há uma reação; se há alguns anos atrás os pais


evitavam ter filhos, temendo confrontos, expulsões,
perseguições e grandes caminhadas para fugir dos
colonizadores, a realidade hoje é outra. Uma nova
consciência tem sido formada: primeiro a reação que vem
da própria comunidade, que resistiu por tanto tempo,
está viva e que é preciso assegurar o bem-estar às futuras
gerações. Segundo, é preciso reconhecer que ao longo do
tempo foram realizadas ações importantes, em nível
oficial que possibilitaram certa tranquilidade em muitos
territórios tradicionais dos povos indígenas (FLORES,
2003, p. 17 e 24).

CARACTERÍSTICAS DAS RELIGIÕES INDÍGENAS


De acordo com Viveiros de Castro as principais
características das religiões indígenas são (CASTRO, 1999, p. 17-
24):

a. Anti-monopolistas, anti-ortodoxistas, caracterizadas por uma


enorme margem de liberdade aos seus praticantes;
b. Vem de sociedades ágrafas: não são religiões escritas, de
sociedades que possuem tradição escrita. Essa é uma das razões
por que ali não há possibilidade do dogma. Não tem uma
referência única (ortodoxia), nem heresia, nem proselitismo, nem
especialistas (existem alguns grupos que tem teólogos e filósofos,
mas estão dirigidos para o grupo, que não se distingue por quem
seguem, ou seja, dificilmente há disputas doutrinárias);
c. A falta do livro (norma) escritas, imutáveis, códigos de leis (não
há instrumentos de normatização do comportamento religioso ou
qualquer outro), não é apenas uma carência, mas ―uma
característica estrutural essencial das religiões indígenas‖;
d. Dificuldade da língua (idioma) para exprimir questões
complexas gerou equívocos de tradução. Não é possível dialogar
sem conhecer o idioma do outro: ―muito do que foi escrito sobre

102
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

as religiões indígenas não vale rigorosamente nada, porque essas


pessoas simplesmente não falavam a língua dos índios ou os índios
falavam um português muito ruim, incapazes em muitos casos, de
exprimirem na língua portuguesa toda a complexidade da sua vida
religiosa, que só são capazes de exprimir na sua língua nativa‖;
e. A aproximação à religião indígena é essencialmente indireta;
f. Estreita relação com a natureza: o homem é parte da natureza e
a natureza é parte do homem. ―Nós nos opomos à natureza,
enquanto as concepções cosmológicas e filosóficas indígenas
tendem a ver natureza e sociedade como parte de um sistema
social única‖. Nós pensamos na natureza como relação ―natural‖
(leis da física). Eles pensam como relação social. É uma herança
do judaísmo, que ensinou a dominar sobre a natureza. Na
sociedade industrial o homem é tratado como objeto. Nas
indígenas, os objetos como se fossem humanos;
g. A religião de cada grupo tende a ser hegemônica, pois
geralmente são pouco numerosos em relação a nossas sociedades e
vivem isolados entre si. Para se criar teologias tão diferentes como
o cristianismo e o hinduísmo são necessários milênios de distância
e história própria;
h. A divindade é politeísta (várias divindades), enoteístas
(acreditam nas suas próprias divindades), pluralistas (reconhecem
as divindades de outros grupos) e raras são as que tem a noção de
uma entidade superior individual: não criadoras, são
transformadoras (―a mitologia em geral começa com o universo
informe e a divindade conforma o universo, distingue montes de
planícies, humanos de animais, etc.‖
i. Acreditam em um mundo invisível composto de várias entidades
espirituais, sem uma entidade hierarquicamente suprema ou
responsável pela criação das demais. Maiormente as entidades são
antropomorfas. Mesmo os espíritos dos animais são fisicamente
humanos (―é como se a noção de espiritualização e a noção de
humanização fossem sinônimas‖);

103
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

j. Sobre o culto, pouca reificação do sagrado em objetos ou cultos,


pouca objetivação do sagrado. ―A imagem clássica da religião
primitiva como uma religião fetichista, de objetos, pedras, animais,
é muito mais típica da África e da Ásia, do que da América do Sul
indígena‖. E continua: ―O sagrado em geral é muito mais
concebido numa relação de ordem mística, de experiência visual,
experiência onírica, experiência do transe e, sobretudo, pela
palavra‖.
É desalentador perceber que sabemos tão pouco sobre a
riqueza cultural dos povos que habitam nosso país e continente.
Pela via da ignorância operam outros problemas como
preconceito, perpetuação das diferenças etc. A educação tem papel
protagônico na transformação dessa realidade.

A TEMÁTICA INDÍGENA E O ENSINO RELIGIOSO


Ser índio depende da consciência da identidade indígena e
de pertencimento a um grupo diferenciado dos demais segmentos
populacionais brasileiros e do reconhecimento por parte dos
membros do próprio grupo. O tema indígena no Brasil ampara-se
no Estatuto do Índio (Lei 6.001/1973), na Constituição
Federal/1988, na Convenção 169 da Organização Internacional do
Trabalho - OIT (Convenção sobre os Povos Indígenas e Tribais),
adotada em Genebra, em 27 de junho de 1989), e, mais
recentemente, na lei 11645/08, sancionada pelo então presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
A referida lei foi uma alteração na Lei 9394/96 (LDB) que
incluiu no currículo das escolas públicas e particulares de nível
fundamental e médio, o ensino obrigatório de ―história e cultura
indígena brasileira‖. Vejamos:

Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de


dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte
redação:

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino


fundamental e de ensino médio, públicos e privados,
torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-
brasileira e indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo
incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
caracterizam a formação da população brasileira, a
partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da
história da África e dos africanos, a luta dos negros e
dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena
brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade
nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas
social, econômica e política, pertinentes à história do
Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-
brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em
especial nas áreas de educação artística e de literatura e
história brasileiras.” (NR)
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua
publicação.

Para que essa iniciativa não fique apenas no cumprimento


estrito da lei e mero desencargo de consciência, algumas ações
devem ser implantadas. Na falta de reflexão sobre a temática as
disciplinas restringem-se a fazer menção dos indígenas nas datas
comemorativas, pinturas nos alunos, mostra de fotos e vídeos de
aldeias e indígenas, instrumentos e utensílios etc. O Ensino
Religioso não é expressamente citado na lei, mas tem papel
importante no regaste e reflexão sobre a religião desses povos.
Uma das primeiras coisas a serem superadas é o modo de
narrar o indígena tomando a si como referência e o outro como
diferente. Essa postura é conhecida na antropologia como
etnocentrismo. Promove relações subalternas e assimétricas. Desse
comportamento surgem os preconceitos e estereótipos. É preciso

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

trabalhar a temática indígena de uma maneira crítica para que os


estudantes se aproximem dessas culturas e aceitem a possibilidade
de convivência simultânea e harmônica com as diferenças. Não é
uma questão de objeto de estudo. Pensar essa temática na escola
na perspectiva da compreensão da cultura e da religiosidade do
outro, auxiliando na construção de caminhos diversos para chegar
a uma interpretação crítica da realidade (RIETH, 2008, p. 178-
183).
Também se faz necessário repensar os currículos escolares
e práticas pedagógicas diante da questão indígena. Maria Rieth
afirma:

Não podemos falar da religiosidade indígena de uma


maneira homogênea, pois cada povo possui seus ritos,
mitos, cantos e expressões. Existem elementos e
cosmovisões que se assemelham a seus mitos e ritos.
Nesse sentido, é importante percebermos como a
religiosidade indígena á abordada na disciplina do
Ensino Religioso. Como a temática é trabalhada em
sala de aula? Por exemplo, as histórias infantis são
sagradas também para as pessoas indígenas adultas
[...]. Diante disso, faz-se necessário desenvolver uma
atitude de respeito com os povos indígenas, percebendo
sua diversidade cultural e religiosa e tendo o cuidado de
não estereotipar sua realidade. A escola pode contribuir
nesse sentido ajudando a perceber, considerar e trazer a
religiosidade indígena no currículo, no material didático
e nas suas ações pedagógicas (RIETH, 2008, p. 182-
183).

É necessário investir em pesquisas sobre cada povo e sua


respectiva religião. E que esse conteúdo tenha espaço nos
currículos escolares. Outro desafio é investir em livros sobre o
tema indígena. O acervo nas bibliotecas é defasado e insuficiente

106
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

(SILVA, 2012, p. 39-49). Edson Silva faz uma lista com indicações
de bibliografia pertinente que poderiam compor uma biblioteca
mínima para atender as demandas na escola:

ALMEIDA, Maria R. C. de. Os índios na História


do Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2011.
ATHIAS, Renato. (Org.). Povos indígenas de
Pernambuco: identidade, diversidade e conflito. Recife,
EDUFPE, 2007.
BANIWA, Gersem dos Santos Luciano. O índio
brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos
indígenas no Brasil de hoje. Brasília:
MEC/Secad/Museu Nacional/UFRJ, 2006.
CUNHA, M. C. (Org.). História dos índios no
Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.
FAUSTO, Carlos. Os índios antes do Brasil. Rio de
Janeiro: Zahar, 2000.
FERREIRA, Maria Kawall Leal. (Org.). Ideias
matemáticas de povos culturalmente distintos. São
Paulo: Global, 2002.
GRUNEWALD, Rodrigo de A. (Org.). Toré: regime
encantado do índio do Nordeste. Recife: Fundação
Joaquim Nabuco/ Massangana, 2005.
GRUPIONI, Luís Donizete Benzi; SILVA, Aracy
Lopes da. (Orgs.). A temática indígena na escola. São
Paulo: Global, 2008.
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL/ISA. Povos
Indígenas no Brasil 2001/2005. São Paulo: ISA,
2001.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito
antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.
LIMA, Antonio Carlos de Souza. Um grande cerco de
paz: poder tutelar, indianidade e formação do Estado no
Brasil, Petrópolis: Vozes, 1995.

107
A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

MACEDO, Ana Vera L. S.; NUNES, Ângela;


SILVA, Aracy Lopes da. Crianças indígenas: ensaios
antropológicos. Rio de Janeiro, Global, 2002.
MELATTI, Júlio César. Índios do Brasil. São Paulo:
Edusp, 2008.
MONTEIRO, John M. Negros da terra: índios e
bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Cia.
das Letras, 1994.
OLIVEIRA, J. P. de. (Org.). A presença indígena no
Nordeste: processos de territorialização, modos de
reconhecimento e regimes de memória. Rio de Janeiro:
Contra Capa, 2011.
OLIVEIRA, J. P. de. (Org.). A viagem de volta:
etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste
indígena. 2ª ed. Rio de Janeiro: Contra capa, 2004.
POMPA, Cristina. Religião como tradução. São
Paulo: Edusc, 2003.
SANTILLI, Marcio. Os brasileiros e os índios. São
Paulo: Senac, 2001.
SILVA, Aracy Lopes da; FERREIRA, Mariana
Kawal Leal (Orgs.). Antropologia, História e
Educação: a questão indígena e a escola. São Paulo:
Global, 2001.
SILVA, Edson. Expressões da cultura imaterial
indígenas em Pernambuco. In, GUILLEN, Isabel C.
M. (Org.). Tradições & traduções: a cultura imaterial
em Pernambuco. Recife: EDUFPE, 2008, p. 215-
230 (SILVA, 2012, p. 7-9).

Além de livros, há bons sítios na internet:

Índio Educa: http://www.indioeduca.org


http://temaindigena.blogspot.com
Índios online: www.indiosonline.net
Instituto Socioambiental: www.isa.org.br

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

Conselho Indigenista Missionário/CIMI:


www.cimi.org.br
Os índios na História do Brasil:
http://www.ifch.unicamp.br/ihb (SILVA, 2012, p.
10).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As diferentes religiões indígenas devem ser respeitadas e
valorizadas como as demais religiões no espaço público. Trata-se
de religiões práticas, que fazem sentido para seu povo e cultura
local. Estão voltadas para a experiência do sagrado em detrimento
de uma fundamentação teórica em termos da moderna ciência.
Apesar disso, pode-se dizer que a estrutura das diferentes religiões
indígenas é sólida culturalmente e muito bem elaborada, com
códigos próprios, permitindo o equilíbrio da pessoa em sua vida
interior, psíquica e com o meio em que vive, isto é, uma proposta
de que seria o bem-viver. Romper com o preconceito e com o
etnocentrismo permitirá um mútuo aprendizado, além de propiciar
uma convivência simultânea e harmônica entre diferentes religiões.
Neste quesito o ERE tem papel fundamental. Que a temática
indígena nas escolas supere a mera recreação com tintas na pele e
enfeites de plumagem restritos a dias especiais e quando muito, a
uma semana com painéis coloridos colados em murais.

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A DIVERSIDADE DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: UMA LEITURA CONTEMPORÂNEA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEOZZO, José Oscar. Brasil 500 anos de migrações: povos indígenas,
escravos africanos e brasileiros, imigrantes europeus e asiáticos.
São Paulo: Paulinas, CEM, 1992.

CLAUDINO, Zaqueu Kay. Tupe gosta de todos: justiça e paz na


religião indígena. Diálogo - Revista de Ensino Religioso. a. 13, n. 52
(out-dez). São Paulo: Paulinas, 2008, p. 16-19.
ESTERMANN, José. Equilibrio y cuidado: concepción indígena de
una comunidad solidaria y diaconal. DE LA TORRE, M. e
ZWETSCH, R. (Orgs.). Diaconía y solidaridad desde los pueblos
indígenas. São Leopoldo: Sinodal; EST; CETELA, 2007.

FLORES, Lucio Paiva. Adoradores do Sol: reflexões sobre a


religiosidade indígena. Petrópolis: Vozes, 2003.

LÓPEZ HERNÁNDEZ, Eleazar. Teología india. Antología.


Cochabamba: UCB; Guadalupe; Verbo Divino, 2000.

PREZIA, Benedito. Caminhando na luta e na esperança: 30 anos do


Cimi e 60 anos da pastoral indigenista. São Paulo: Loyola, 2003.

RIETH, Maria Cristina. A temática indígena e o Ensino Religioso.


KLEIN, Remí BRANDENBURG, L. E. e WACHS, M. C.
(Orgs.). Ensino religioso: diversidade e identidade. V Simpósio de
ensino religioso 2008. São Leopoldo: Sinodal; EST, 2008, p. 178-
183.

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