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Gabriela Rodrigues
Curitibanos
2019
Curitibanos
2019
Gabriela Rodrigues
Este Trabalho Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de “Bacharel
em Medicina Veterinária” e aprovado em sua forma final pela Banca Examinadora.
________________________
Prof. Dr. Alexandre de Oliveira Tavela
Coordenador do Curso
Banca Examinadora:
________________________
Prof. Dr. Alexandre de Oliveira Tavela
Orientador
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof.ª Dr.ª Rosane Maria Guimarães da Silva
Avaliadora
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Dr. Rogério Luizari Guedes
Avaliador
Universidade Federal de Santa Catarina
Dedico este trabalho à todos aqueles que me apoiaram na
realização deste sonho. Especialmente, aos meus pais, meu
namorado, minha família, meus amigos, meus professores, meus
filhos de quatro patas, como também à todos os animais, estes
são os responsáveis por eu nunca ter desistido.
AGRADECIMENTOS
A obstrução do ducto biliar comum é de uma afecção que pode estar relacionada com diversas
causas, sendo que os processos inflamatórios do trato biliar, pâncreas, duodeno ou a
associação dos três estão entre as causas mais comuns. As manifestações clínicas são
inespecíficas e dependem do grau da obstrução, sendo as mais frequentes anorexia,
emagrecimento, vômitos, diarreia e icterícia. O diagnóstico é realizado por meio de avaliação
laboratorial e ultrassonografia. Quando não há resposta com tratamento clínico, é indicado
uma intervenção cirúrgica. O objetivo do presente trabalho é relatar um caso de obstrução do
ducto biliar comum submetido ao procedimento cirúrgico de colecistectomia de um felino
acompanhado durante a realização do estágio curricular obrigatório. As imagens sonográficas
sugeriram colestase biliar, severa pancreatite com acentuada linfadenomegalia mesentérica e
doença inflamatória intestinal. A partir disso, correlacionando com os outros exames e os
sinais clínicos apresentados pela paciente, chegou-se a um diagnóstico sugestivo de tríade
felina. Como não houve resposta ao tratamento clínico e havia sinais de obstrução, o animal
foi encaminhado para a cirurgia. Durante o procedimento cirúrgico, foi realizada a exposição
da vesícula biliar, onde constatou-se obstrução do colédoco e dilatação dos ductos hepático e
cístico. Foi realizada uma dissecção romba para retirada da vesícula biliar e para liberação dos
ductos cístico, hepático e colédoco que apresentavam-se repletos de conteúdo e com presença
de aderências, até próximo a sua junção coledocoduodenal. Foram realizadas ligaduras na
porção distal à obstrução do colédoco e no ducto hepático. Em seguida, foi realizada a secção
dos ductos distalmente às ligaduras e removeu-se a vesícula biliar e o fragmento do ducto
biliar obstruído. A paciente obteve alta após acentuada melhora do quadro clínico. Na semana
seguinte, a paciente retornou e apresentava-se alerta, porém ictérica, com o apetite reduzido e
episódios de vômito ao defecar. A ultrassonografia controle mostrou leve pancreatite. Foi
recomendada observação e realização de perfil básico e ultrassonografia controle em 15 dias.
O caso aqui relatado mostrou alguns resultados positivos, visto que a paciente teve melhora
no seu quadro clínico. Porém, a icterícia não apresentou a resolução esperada e o surgimento
de uma hepatopatia a esclarecer indicam que a paciente precisa de acompanhamento
cuidadoso e possivelmente novas intervenções.
The obstruction of the common bile duct is a disease that can be related to multiple causes,
and the inflammatory processes of the biliary tract, pancreas, duodenum or the association of
the three are among the most common causes. The clinical manifestations are nonspecific and
dependent on the degree of obstruction, being the most frequent anorexia, weight loss,
vomiting, diarrhea and jaundice. The diagnosis is made through laboratory evaluation and
ultrasonography. When there is no response with the clinical treatment, a surgical intervention
is indicated. The objective of this study is to report a case of obstruction to the common bile
duct submitted to the clinical procedure of cholecystectomy of a feline accompanied during
the mandatory curricular internship. The sonographic images suggested biliary cholestasis,
severe pancreatitis with marked mesenteric lymphadenomegaly and inflammatory bowel
disease. From this, correlating with the other exams and the clinical indicators of the patient, a
diagnosis was reached suggestive of a feline triad. The animal was transplanted for surgery.
During the surgical procedure, exposure of the gallbladder was performed, where it was
observed choledochal obstruction and dilation of the hepatic and cystic ducts. A blunt
dissection was performed for the removal of the gallbladder and for the cystic, hepatic and
colonic duct dosage, which was full of contents and with adhesions until close to its
coledocoduodenal junction. Ligatures were distal to choledochal obstruction and in the
hepatic duct. Thereafter, a section of the ducts was performed distally to the ligatures and a
gallbladder was removed and the bile duct fragment clogged. The patient presented a
markedly elevated clinical picture. The following week, the patient returned and presented
itself alert, but icteric, with reduced appetite and episodes of vomiting when defecating. The
ultrasonography control showed pancreatitis. It was recommended observation and basic
profile and ultrasonography control in 15 days. The case reported here was positive in results,
since the patient had an improvement in its clinical condition. However, jaundice did not
present an expected response and the onset of hepatitis to be clarified indicates that the patient
needs careful follow-up and possibly new interventions.
Figura 1 - Vesícula biliar (seta branca) e ductos dilatados (seta preta) repletos de conteúdo
biliar in situ observados durante procedimento de colecistectomia em felino, fêmea, da raça
Persa. ........................................................................................................................................ 27
Figura 2 -Vesícula biliar (seta branca) e fragmento obstruído do DBC (seta preta) após o
procedimento de colecistectomia em felino, fêmea, da raça Persa. ......................................... 27
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Resultado do hemograma realizado no dia 26/04/2019 em felino, fêmea, raça Persa
.................................................................................................................................................. 20
Tabela 2 - Resultado da bioquímica sérica realizada no dia 26/04/2019 em felino, fêmea, da
raça Persa .................................................................................................................................. 21
Tabela 3 - Resultado da urinálise realizada no dia 26/04/2019 em felino, fêmea, da raça Persa
.................................................................................................................................................. 21
Tabela 4 - Resultado do hemograma realizado no dia 29/04/2019 em felino, fêmea, da raça
Persa ......................................................................................................................................... 23
Tabela 5 - Resultado da bioquímica sérica realizada no dia 29/04/2019 em felino, fêmea, da
raça Persa .................................................................................................................................. 23
Tabela 6 - Resultado do hemograma realizado no dia 09/05/2019 em felino, fêmea, da raça
Persa ......................................................................................................................................... 25
Tabela 7 - Resultado da bioquímica sérica realizada no dia 09/05/2019 em felino, fêmea, da
raça Persa .................................................................................................................................. 25
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 13
2 OBJETIVO ............................................................................................................... 14
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 15
3.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA HEPATOBILIAR DOS FELINOS .. 15
3.2.3 Tratamento................................................................................................................ 18
1 INTRODUÇÃO
Os felinos domésticos representam um grande desafio para área clínica nos casos em
que as suas particularidades não são adequadamente identificadas. Além dos diferentes
aspectos associados a sua anatomia e fisiologia, seus hábitos e comportamento são únicos e
característicos (JERICÓ, 2015).
Com relação às desordens hepáticas que afetam os felinos, as de maior prevalência
são as doenças do trato biliar (CENTER, 2009). Fatores como causas, manifestações clínicas
e prognóstico das afecções hepatobiliares no gato são diferenciados quando comparados aos
dos cães. Ainda, doença concomitante do trato biliar, pancreatite e doença inflamatória
intestinal podem ocorrer em ambas as espécies, porém são mais frequentes nos felinos
(NELSON; COUTO, 2006).
A obstrução do ducto biliar comum pode estar associada a diversas afecções, sendo
sempre um sinal secundário de uma determinada enfermidade. Dentre estas, as mais
frequentes são: colangites, infestação por tremátodas, neoplasias, compressões extrínsecas,
pancreatite, tríade felina e colélitos (JERICÓ, 2015).
Segundo Lehner & McAnulty (2010), as manifestações clínicas são inespecíficas e
dependem do grau da obstrução, da complacência do trato biliar e dos casos em que
agregados da lama biliar possam estar obstruindo o ducto. As principais características
clínicas observadas envolvem anorexia, icterícia, vômitos, depressão, colestase grave e
hepatomegalia. Nos casos de obstrução total do ducto, as fezes podem se apresentar acólicas
ou pálidas (NELSON; COUTO, 2006).
O diagnóstico das doenças hepatobiliares é complexo. Para a sua determinação deve-
se considerar o histórico clínico, manifestações clínicas, avaliação laboratorial, exames de
imagem e patológicos (STONEHEWER, 2006). Em obstruções parciais deve-se instituir o
tratamento clínico, sendo essencial tratar a sua causa primária(WATSON; BUNCH, 2009).
De acordo com Nelson e Couto (2015), cirurgias maiores do trato biliar no gato
levam a maiores morbidade e mortalidade e devem ser realizadas somente quando necessárias
para aliviar uma obstrução completa. O prognóstico para obstrução parcial é bom quando
instuti-se um tratamento clínico adequado e as cirurgias podem não ser necessárias. No
entanto, se não houver melhora após vários dias de tratamento ou desenvolverem sinais de
obstruçãocompleta, a intervenção cirúrgica é indicada e, caso precise de
colecistoenterostomia, o prognóstico é reservado.
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2 OBJETIVO
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O sistema hepatobiliar é formado pelo fígado, vesícula biliar, ducto cístico, ducto
biliar comum (DBC), ductos hepáticos, ductos interlobulares e intralobulares, dúctulos
biliares e canalículos hepáticos. Os quais, são responsáveis pela produção, armazenamento e
secreção da bile para o trato gastrointestinal (JERICÓ, 2015; SCHMELTZER;
NORSWORTHY, 2012).
A secreção da bile é feita pelos hepatócitos para os canais biliares que a direciona por
meio de ductos até a vesícula biliar, onde fica armazenada. O conteúdo presente na vesícula é
drenado, através do ducto cístico seguido pelo ducto biliar comum, para o duodeno
(RICHTER, 2005; LEHNER; McNAUTY, 2010).
Os felinos, além de possuírem o ducto biliar mais longo e sinuoso que dos caninos,
possuem uma particularidade anatômica, onde ocorre a fusão, em mais de 80% dos gatos, do
DBC com o ducto pancreático principal antes da sua entrada no duodeno. Alterações
inflamatórias, neoplásicas, fibróticas, edematosas ou obstrutivas, em decorrência dessa
característica, que envolvam o DBC podem modificar e prejudicar tanto a árvore biliar como
o pâncreas (JERICÓ, 2015). Por isso, a coexistência de afecções do trato biliar e pancreáticas
são tão comuns neste espécie (STONEHEWER, 2006).
A obstrução do ducto biliar comum é descrita como uma síndrome que pode ser
correlacionada com causas primárias, as quais são divididas de acordo com a frequência de
ocorrência. Dentre as causas comuns, a mais frequente é por inflamação de um órgão ou uma
combinação deles, envolvendo pâncreas, duodeno ou trato biliar, mais conhecido por tríade
felina (WATSON, 2015). A segunda causa mais comum trata-se de neoplasias que envolvam
pâncreas ou árvore biliar (HARVEY et al., 2007). Já as causas menos comuns envolvem:
estenose do ducto biliar decorrente de inflamação, cirurgia ou trauma; disfunção do esfíncter
de Oddi, parte terminal do DBC, decorrente de duodenite ou neoplasia; colelitíase, rara em
gatos, associada à colangite; cistos que causam compressão da árvore biliar; infestação por
16
3.2.2 Diagnóstico
3.2.3 Tratamento
O tratamento irá depender da doença primária que está causando a obstrução do DBC
e, também, do grau de obstrução, se é parcial ou total. Nas obstruções parciais, se as fezes não
se apresentarem acólicas ou pálidas e houverem indícios de fluxo biliar para o duodeno, pode-
se realizar o tratamento medicamentoso com coleréticos, como ácido ursodesoxicólico na
dose de 15mg/kg SID VO, e antioxidantes, como S-adenosilmetionina na dose 20 mg/kg ou
200-400mg diariamente em jejum, a fim de proteger os hepatócitos dos danos oxidativos
biliares (NELSON; COUTO, 2015; WATSON; BUNCH, 2009).
Nos casos em que não houver melhora com o tratamento, mesmo após vários dias, ou
houverem indícios de uma obstrução completa, como fezes acólicas, o tratamento cirúrgico é
indicado (NELSON; COUTO, 2015).
Os gatos com obstrução do DBC podem apresentar coagulopatias. Decorrente disso,
é essencial para a intervenção cirúrgica que se faça uma determinação dos tempos de
coagulação e suplementação com vitamina K, na dose de 1mg/kg SC BID, por no mínimo três
aplicações antes da realização da cirurgia. Ainda, a utilização de antibióticos de amplo
espectro no pré-operatório é imprescindível (JERICÓ, 2015).
A colecistectomia é indicada em casos de colecistite sem resposta ou com recidivas à
antibioticoterapia, colelitíse associada à doença, neoplasia primária ou ruptura da vesícula
biliar (FOSSUM, 2014).
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Nos casos onde não existam alterações que impossibilitem a preservação da vesícula
biliar ou a obstrução seja no ducto biliar comum, o procedimento de eleição é a
colecistoduodenostomia, por ser mais fisiológica que a colecistojejunostomia (JERICÓ,
2015).
20
4 RELATO DE CASO
No dia 26 de abril de 2019 foi atendido um felino, fêmea, raça Persa, de pelagem
preta, com 2,2 kg e de aproximadamente 15 anos. A paciente era castrada e mastectomizada.
O tutor relatou que a paciente estava com urina alaranjada há uma semana, bem
como mudanças no comportamento, estando mais apática e com redução do apetite e ingestão
hídrica. Apresentou, ainda, salivação e um episódio de vômito.
Ao exame físico o animal apresentou frequência cardíaca de 180 bpm e temperatura
retal de 38,3°C. Na palpação abdominal, não apresentou dor. A paciente estava com icterícia
intensa, onde a pele e as mucosas oral e ocular estavam amareladas. Foi indicado
internamento do animal e realização de exames como hemograma (Tabela 1), bioquímica
sérica (Tabela 2), teste rápido de FIV e FeLV, urinálise (Tabela 3) e ultrassonografia
abdominal.
Tabela 1 - Resultado do hemograma realizado no dia 26/04/2019 em felino, fêmea, raça Persa
Eritrograma Resultados Valores de referência
Hemácias (milhões/µL) 8,9 5 – 10,0
Hemoglobina (g/dL) 11,4 8 – 15
Hematócrito (%) 34,4 24 – 45
VCM (fL). 38,5 39 – 55
HCM (pg) 12,7 13 – 17
CHCM (g/dL) 33,0 30 – 36
RDW (%) 15,3 11 – 21
Leucograma Resultados Valores de referência
(milhões/µL)
Leucócitos totais 18,0 5,5 – 19
Neutrófilos. 15,6 3,0 – 11,5
Monócitos - 0,15 – 1,35
Basófilos - RAROS
Linfócitos. 1,7 1 – 4,8
Eosinófilos 0,7 0,1 – 1,25
Contagem de plaquetas 126 200 – 500
PPT (g/dL) 6,2 6,0 – 8,0
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Tabela 3 - Resultado da urinálise realizada no dia 26/04/2019 em felino, fêmea, da raça Persa
Análise física Resultados Valores de referência
Cor Alaranjado Amarelo claro à âmbar
Volume 3 mL 100 a 200 mL/dia
Aspecto Límpido Límpido
Densidade 1,040 1,020 a 1,040
Análise bioquímica Resultados Valores de referência
pH 5,0 5,5 a 7,5
Nitrito Ausente Ausente
Sangue Ausente Ausente
Proteínas 12,4 Traços até 2+
Glicose Não detectável
Cetona Ausente Ausente
Urobilinogênio - Não detectável
Bilirrubina Ausente Ausente
Análise microscópica Resultados Valores de Referência
Leucócitos Ausente 0 a 5 /campo
Eritrócitos Ausente 0 a 10 /campo
Cél.Epit. transicionais 0 – 1 / campo Ocasionalmente
Cél Epit. escamosas 0 – 1 / campo Ocasionalmente
Cristais Raros / campo Ausentes
Cilindros hialinos Ausente 0 a 2 / campo
Cilindros granulosos Ausente 0 a 1 /campo
Bactérias Ausente Ausentes
Gordura Ausente Ausente
Espermatozóides Ausente Ausentes
Muco Ausente Ausente
Parasitas Ausente Ausentes
Observação: Cristais de bilirrubina
22
relevante com relação ao exame anterior foi a proteína plasmática total (PPT) que apresentou-
se diminuída (5,6 g/dL).
apresentar sinais de obstrução. Ficou decidido que seria realizada uma colecistectomia afim
de tentar desobstruir o ducto biliar comum através deste procedimento.
No dia 09 de maio de 2019, a paciente realizou exames pré-cirúrgicos como
hemograma (Tabela 6), onde não foram observadas alterações significativas, e bioquímica
sérica (Tabela 7) que apresentou aumento de FA (1641,3 UI/L) e ALT (354,2 UI/L). A
paciente foi classificada como ASA III.
A MPA foi realizada com dexmedetomidina (1,8 µg/kg) + metadona (0,2 mg/kg) IM.
A indução foi realizada com propofol (2 mg/kg) IV e manutenção com propofol em infusão
contínua. Como medicações transanestésicas, foram aplicados fentanil (3 µg/kg) em bolus IV
e ceftriaxona (30 mg/kg) 0,24 mL IV. Durante o procedimento o animal foi mantido em
decúbito dorsal.
A incisão foi realizada com um bisturi pela linha média na região pré-umbilical, em
seguida o tecido subcutâneo foi divulsionado e a cavidade abdominal foi aberta. Foi realizada
a exposição da vesícula biliar (VB), onde constatou-se obstrução e extrema dilatação do
colédoco, que encontrava-se tortuoso, e dilatação dos ductos hepático e cístico (Figura 1), e
parte do fígado, realizando o envolvimento dos mesmos com compressas estéreis. Com uma
tesoura Metzenbaum, foi realizada uma dissecção romba por toda extensão do peritônio
visceral que unia a vesícula biliar ao fígado, executando também uma leve tração, para
retirada da VB. A dissecção romba também foi utilizada para liberação dos ductos cístico,
hepático e colédoco que apresentavam-se repletos de conteúdo e com presença de aderências
em seus entornos, até próximo a sua junção coledocoduodenal. O controle do sangramento na
fossa hepática foi realizado com gazes e compressas estéreis. Foram realizadas ligaduras no
ducto hepático e na porção distal à obstrução do colédoco, com auxílio da pinça hemostática
de Crile e ligados com fio de sutura não absorvível Nylon 3-0. Em seguida, foi realizada a
secção dos ductos distalmente às ligaduras e removeu-se a vesícula biliar e o fragmento do
ducto biliar obstruído (Figura 2). O fígado foi reposicionado e iniciou-se o fechamento da
cavidade. A sutura da parede muscular e peritônio foi realizada com padrão simples contínuo
com fio absorvível Vycril 2-0. A aproximação do tecido subcutâneo foi realizada com padrão
Cushing com fio absorvível Vycril 2-0. A sutura da pele foi realizada com padrão simples
contínuo com fio não absorvível Nylon 3-0.
27
Figura 1 - Vesícula biliar (seta branca) e ductos dilatados (seta preta) repletos de conteúdo
biliar in situ observados durante procedimento de colecistectomia em felino, fêmea, da raça
Persa.
Figura 2 -Vesícula biliar (seta branca) e fragmento obstruído do DBC (seta preta) após o
procedimento de colecistectomia em felino, fêmea, da raça Persa.
5 DISCUSSÃO
definindo assim a tríade felina (JERICÓ, 2015). As mesmas não foram realizadas devido a
condição financeira do tutor.
Casos de obstrução do ducto biliar comum decorrente de pancreatite podem não
necessitar de intervenção cirúrgica, embora poucos respondem ao tratamento clínico e podem
necessitar de um procedimento de drenagem, onde é realizada uma descompressão
percutanea da vesícula biliar guiada através de ultrassom. A aspiração pode ser necessária
mais de uma vez e não elimina a necessidade de cirurgia em todos os casos (FOSSUM, 2014).
Esta tentativa, que poderia evitar a realização do procedimento cirúrgico, não foi realizada
neste caso.
Outra alternativa seria a realização de uma coledocotomia onde, segundo Fossum
(2014), realiza-se uma incisão direta na ducto biliar nos casos em que o ducto encontra-se
excessivamente dilatado e quando a obstrução pode ser removida. Inicialmente deve ser
realizada uma tentativa de reverter a obstrução por meio de uma lavagem do DBC através de
um cateter colocado por enterotomia ou colecistomia. Esta técnica também não foi
considerada uma opção no caso em questão.
Segundo Fossum (2014) a colecistectomia deve iniciar com a exposição da vesícula
biliar e utilizando uma tesoura Metzenbaum, deve-se incisar o peritônio visceral por toda
extensão que une a vesícula biliar ao fígado e executar uma leve tração na vesícula biliar a
partir de uma dissecção romba para desprendê-la do fígado. O ducto cístico deve ser liberado
até sua junção com o DBC. A técnica, neste caso foi modificada devido à extrema dilatação
dos ductos, sendo realizada a liberação dos mesmos, que apresentavam-se repletos de
conteúdo, tortuosos e com presença de aderências, até próximo a sua junção
coledocoduodenal.
Ainda, segundo Fossum (2014), nos casos de necessidade, pode-se realizar a
identificação do DBC através da colocação de um cateter macio 3,5 ou 5 French através da
papila duodenal; o ducto ainda deve ser irrigado para garantir a sua desobstrução. Em seguida,
deve-se clampear e ligar duplamente a artéria e ducto císticos com fio de sutura não
absorvível (2-0 a 4-0) e por fim, seccionar o ducto distal às ligaduras afim de remover a
vesícula biliar. Neste caso, com a modificação da técnica empregada, não foram realizados
estes passos descritos na literatura, assim como as ligaduras foram realizadas em dois pontos
distintos, sendo uma no ducto hepático e outra próximo à junção coledocoduodenal.
Com relação aos exames realizados, é válido destacar que os hemogramas realizados
não foram submetidos a uma análise de esfregaço sanguíneo, apenas a uma contagem total de
31
células em aparelho hematológico veterinário. Segundo Thrall (2015), não é possível definir a
causa da neutrofilia apresentada, podendo ser por estresse crônico induzido por cortisol,
estresse agudo induzido por adrenalina ou inflamação, que não pode ser descartada por não
ser observada toxicidade, além de também não serem detectados bastonetes através desta
avaliação.
As plaquetas, abaixo do valor de referência, também podem se tratar de um problema
do aparelho, pois este não detecta agregação plaquetária e acaba demonstrando uma
diminuição das plaquetas, podendo-se tratar de uma pseudotrombocitopenia, nestes casos o
esfregaço sanguíneo deveria ser examinado por um patologista clínico para que esse achado
fosse confirmado (TRHALL, 2015). A análise do esfregaço sanguíneo sanguíneo seria de
grande importância para uma melhor interpretação destes resultados.
Os exames relacionados a bioquímica sérica recomendados para doenças hepáticas
incluem a mensuração da atividade sérica de enzimas hepáticas, além das concentrações de
albumina, ureia, bilirrubina, colesterol e glicose (NELSON; COUTO, 2015).
De acordo com Center (2009), há aumento das atividades das enzimas transminases,
ALT e AST, e enzimas colestásicas, FA e GGT, na maioria das desordens do sistema biliar,
podendo estar associada ou não com hiperbilirrubinemia ou icterícia. Corroborando com a
literatura, o animal apresentou todas estas alterações, com exceção da GGT a qual não foi
solicitada.
O aumento da ALT e AST ocorre em situações de citólise do hepatócito, o que
significa que elas extravasam do interior do hepatócito. Já o aumento da FA e GGT ocorre
devido a inabilidade que as enzimas têm em serem excretadas pelo sistema biliar, ou seja, em
casos de colestase (RICHTER, 2005). Para ser significativo, segundo Thrall (2015), o
aumento de ALT e AST deve ser três vezes maior que o valor superior de referência para a
espécie. Neste caso, apenas o aumento de ALT foi significativo e indicou a presença de lesão
hepatocelular.
Com relação ao aumento de FA, segundo Thrall (2015), ela possui três isoenzimas,
podendo estar aumentada por colestase, por enzima óssea ou enzima cortisólica. Neste caso,
descarta-se a possibilidade de ser por enzima óssea, pois o animal não está em crescimento,
nem possui osteossarcoma, mas seu aumento pode ter duas contribuições, pela isoenzima
cortisólica, aumentada quando o gato está estressado cronicamente, o que pode estar
associado a tríade felina, e pela isoenzima colestática, como já suspeitado.
32
6 CONCLUSÕES
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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