O documento discute como modelos científicos podem ajudar a abordar sistematicamente a questão de como ficções podem ser científicas. Ele usa o exemplo do modelo do éter de Maxwell para ilustrar como modelos falsos podem levar a descobertas, e argumenta que modelos devem ser interpretados de forma heurística e contextualizada. Além disso, defende que modelos científicos têm capacidade representacional, apesar de teorias gerais sobre representação serem inviáveis.
O documento discute como modelos científicos podem ajudar a abordar sistematicamente a questão de como ficções podem ser científicas. Ele usa o exemplo do modelo do éter de Maxwell para ilustrar como modelos falsos podem levar a descobertas, e argumenta que modelos devem ser interpretados de forma heurística e contextualizada. Além disso, defende que modelos científicos têm capacidade representacional, apesar de teorias gerais sobre representação serem inviáveis.
O documento discute como modelos científicos podem ajudar a abordar sistematicamente a questão de como ficções podem ser científicas. Ele usa o exemplo do modelo do éter de Maxwell para ilustrar como modelos falsos podem levar a descobertas, e argumenta que modelos devem ser interpretados de forma heurística e contextualizada. Além disso, defende que modelos científicos têm capacidade representacional, apesar de teorias gerais sobre representação serem inviáveis.
Esses capítulos discutem como os modelos científicos podem nos ajudar a
abordar sistemicamente a questão de como as “ficções” podem ser científicas.
A evidência da utilidade de modelos científicos inclui argumentos de o que é uma estratégia de pesquisa produtiva, significativa para a prática científica e tem precedente histórico.
A sua forma de ilustrar este ponto logo no capitulo 3 é através do modelo
mecânico do éter a que Maxwell recorreu como ferramenta para facilitar a sua investigação dos fenómenos eletromagnéticos, modelo que ele próprio sabia que não poderia ter uma ligação direta com a natureza, mas que era muito mais fácil de pesquisar. O importante - de acordo com Morrison - não é que Maxwell pudesse ter derivado suas equações de um modelo falso, mas que as restrições em jogo em seu modelo mecânico provinham das teorias que ele sabia aplicadas ao caso que estava modelando e não meramente de sua imaginação. “Qualquer avaliação do papel investigativo desta classe de modelos deve considerar especificamente quais recursos desempenham um papel na transmissão de informações”, que apenas neste caso, foi a capacidade do modelo de representar a função corresponde à corrente de deslocamento, à qual Maxwell recorre alguns anos depois quando publica sua equação de onda eletromagnética. Os modelos científicos devem ser interpretados de forma heurística, ou seja, de forma pessoal, e sempre no seu contexto particular, tendo o cuidado de os distinguir dos modelos idealizados e daqueles que recorrem à abstração.
Dando continuidade ao quarto capítulo, no qual pode-se perceber uma defesa
do papel representacional dos modelos científicos, apesar do fato de que uma teoria filosófica geral dessa capacidade seria tão inviável quanto uma teoria similar para a representação científica simples. Morrison irá buscar um modelo para a aplicação da teoria. Qualquer teoria que se propusesse tão sofisticada a ponto de alcançar algo semelhante não teria a capacidade de nos esclarecer quando queremos encontrar os prós e contras de um modelo específico. Novamente, o argumento é que a análise epistêmica sempre depende do domínio da ação e de seus usos pretendidos. Ora, isso vem acompanhado de uma aposta na centralidade da representação, a tal ponto que Morrison parece sugerir que se um modelo não representa – necessariamente com certo grau de imprecisão – ele não pode ser considerado um modelo em si. Para reafirmar esse ponto Morrison critica a interpretação de Cartwright (1999) do modelo BCS de supercondutividade em termos de modelos interpretativos e modelos representacionais, nos quais Cartwright dá prioridade ao primeiro. Uma cuidadosa reconstrução dos avanços que levaram ao modelo BCS permite defender que, embora existam algo como "modelos interpretativos", desde que façam parte de um referencial teórico, eles só podem cumprir esse papel após um modelo.
Em "Tirar o melhor proveito" — título do quinto capítulo —, encontramos outro
complemento à discussão sobre a representação, lado a lado com os casos em que um mesmo fenômeno tem muitos modelos que podem ser incompatíveis entre si, o que imediatamente nos leva a nos obrigar a nos perguntar sobre a veracidade com que esses modelos tão diferentes estariam falando do mundo, para além do sucesso preditivo ou explicativo que eles possam ter por si mesmos. O debate filosófico gira em torno do perspectivismo proposto por Ronald Giere para dar conta dessa multiplicidade de perspectivas, enquanto o debate científico gira em torno de duas circunstâncias em que modelos diferentes são usados, mas cuja interpretação é muito diferente: fluxos turbulentos e física nuclear. No primeiro caso estamos diante de um fenômeno extremamente difícil de tratar, pois as equações de Navier-Strokes são um tanto complicadas e sem soluções analíticas para a grande maioria dos casos. Embora o problema seja geralmente superado recorrendo a diferentes modelos, não estaríamos diante de um caso de incompatibilidade, pois o que se faz é descrever diferentes seções do fluido em estudo com modelos separados; cada um representa seções nas quais o fluido não tem as mesmas propriedades. Como não há mudança fundamental nas suposições sobre a natureza do que está sendo modelado, poderíamos falar de “modelos complementares”. É o que não ocorre com os diferentes modelos de núcleo atômico, que devem ser interpretados como incompatíveis. Por exemplo, um modelo que tem a capacidade de explicar muitas propriedades dos núcleos atômicos é o modelo da gota líquida, originalmente desenvolvido por George Gamow e posteriormente ampliado por Bohr e Wheeler, no qual o núcleo é interpretado como uma gota de fluido de altíssima densidade nuclear, ou seja, como um objeto clássico. Isso o deixa como um modelo claramente incompatível com os modelos que pretendem dar conta do núcleo descrevendo sua estrutura interna. Para além de um problema de níveis de análise ou perspectivas, Morrison encontra nesses casos um exemplo claro de um problema epistêmico que mostra uma tensão na forma como é abordado por filósofos e cientistas, além de ser aquele em que nenhuma posição filosófica pode ser resolvida, pois não é um problema interpretativo, mas puramente científico. O fato de existirem cerca de 30 modelos do átomo com pressupostos muito diferentes faz com que eles se contradigam e a complexidade do fenômeno simplesmente não permite que a cromo dinâmica quântica defina quais são os corretos. Não há nada a ganhar com o perspectivismo, posição que Morrison descreve como parte da própria atividade científica. Diante desses modelos incompatíveis, enquanto o problema científico é resolvido, ele sugere tomar partido de um instrumentalismo. Tudo isso indica que Morrison subscreve uma espécie de realismo fraco, mas apenas nos casos em que temos motivos para acreditar que nossos melhores modelos reconstroem o mesmo mundo. UERJ – UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
DFNAE – Departamento de Física Nuclear e Altas Energias.
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