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FICHA RESUMO

CHALMERS, Alan. O que é ciência afinal? 1. ed. 7 tir. São Paulo: Brasiliense,
2009, capítulos VIII e XII

Capítulo VIII

Chalmers apresenta noções introdutórias para entender o pensamento de Thomas


Kuhn, que será utilizado para a exposição do autor. Assim, destaca-se que tal
pensamento possui duas características proeminentes: o caráter revolucionário da
ciência e a importância dos traços sociológicos em grupos científicos.

Apresenta-se o esquema de Kuhn sobre como opera a ciência, de modo que este se
organiza assim: pré-ciência, ciência normal, crise-revolução, nova ciência normal,
nova crise. A partir do momento em que a comunidade científica se pauta em um único
paradigma, tem-se uma atividade estruturada que se diferencia daquela existente
antes da formação da ciência.

Para Kuhn, trabalhar alinhado a um único paradigma consiste na chamada ciência


normal. Ao desenvolver tal paradigma em suas pesquisas, os cientistas vão se
deparar – invariavelmente – com adversidades e aparentes falsificações. Se essas
adversidades não puderem ser controladas pelos cientistas, um estado de crise irá se
manifestar. Essa crise tem solução quando surge um paradigma absolutamente novo
que conquista a atenção de um contingente crescente de cientistas, a ponto de que o
antigo paradigma seja abandonado. A alternância descontínua estrutura uma
revolução científica. Assim, o novo paradigma guia as atividades da nova ciência
normal – até que surjam novas dificuldades e se origine uma nova revolução.

Chalmers afirma que é comum paradigmas iludirem a existência de uma definição


exata, contudo, existem componentes frequentes que podem ser descritos. Assim, a
ciência normal resulta em tentar, especificamente, vincular um paradigma à finalidade
de masterizar a relação entre ele e a natureza. Para Khun, a ciência normal seria uma
prática de solução de problemas guiada pelas normas de um paradigma, de modo que
cientistas normais devem crer que um paradigma lhes forneça os recursos para a
resolução de problemas contidos em seu interior. Caso haja insucesso na solução do
problema, encara-se isso como fracasso do cientista, e não insuficiência do
paradigma. Problemas que permanecem são encarados mais como anomalias do que
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falsidade do paradigma, de modo que Kuhn reconhece que paradigmas sempre irão
conter certas anomalias, sendo que estas não implicam necessariamente em
falsificação do paradigma. Logo, um cientista normal não deve criticar o paradigma
que orienta seu trabalho, pois isso atrapalharia seu desempenho e, também, porque
esse ímpeto divergente é o que diferencia ciência normal e madura da pré-ciência
imatura – que se caracteriza pelo questionamento sobre os fundamentos.

Kuhn também constata que não é possível clarear absolutamente um paradigma, pois,
ao tentar fazer isso, sempre é obtida a impressão de que algo interno ao paradigma
viola sua caracterização. Mas há o conceito de paradigma e, apesar de não haver tal
clareamento conceitual evidente, os cientistas obtêm conhecimento de um paradigma
por meio de sua educação científica. Então, trata-se de treino prático – como
experiências e pesquisas – para que se obtenha o conhecimento, sendo que,
posteriormente, serão adquiridas noções teóricas sobre o paradigma.

Caso fracassos na resolução de problemas alcancem um certo nível de seriedade, é


provável que uma crise relativa ao paradigma vigente se inicie, de modo que pode
haver rejeição – e posterior substituição –, ao modelo em questão. Ressalta-se que
tais problemas, denominados anomalias, apenas caso ameacem os princípios
internos do paradigma e resistam – de modo que esse tempo de resistência também
influencia um possível início de crise – às tentativas de remoção são considerados
sérios. Isso ocorre, também, se as anomalias forem significativas para alguma
demanda social urgente. A partir do momento em que os adeptos de tal paradigma
desconfiam do modelo que adotam, inicia-se o tempo da revolução. Assim, o novo
paradigma será distinto e incompatível com aquele que estava vigente e foi
substituído; afinal, cada paradigma visualiza o mundo de uma forma única.

Esse processo, para Kuhn, assemelha-se a uma “conversão religiosa”, e não há


argumentos essencialmente lógicos que expliquem a superioridade de um paradigma
sobre outro, pois a mudança de modelos se relaciona com fatores subjetivos – no
sentido de prioridade destinada a certos critérios – a cada cientista e paradigmas rivais
possuem distintos conjuntos de padrões e princípios metafísicos. Há, portanto, certa
quantidade de motivos relacionados entre si para que, diante do conflito de
paradigmas, não exista um argumento lógico que seja determinante para a mudança.
Kuhn atribuirá aos paradigmas rivais a denominação “incomensuráveis”, e também se
evidencia que a revolução se dá mediante ao abandono coletivo de um paradigma.
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Chalmers, então, afirma ser um erro julgar a contribuição de Kuhn apenas descritiva,
pois este inclui explicações sobre a função dos componentes em sua teoria. A etapa
de ciência normal possibilita aos cientistas o estudo sobre os detalhes minuciosos de
uma teoria, as revoluções devem romper um paradigma para outro melhor e os
paradigmas podem ser aplicados e interpretados de formas diferentes por variados
grupos de cientistas, o que tende a multiplicar o número de estratégias possíveis.

Capítulo XII

Chalmers explica certas ideias de Feyerabend para iniciar sua exposição, destacando-
se a afirmativa de que nenhuma das metodologias das ciências até então propostas
foram bem-sucedidas. Feyerabend afirma que tais metodologias têm insucesso ao
fornecer regras para guiar as práticas dos cientistas, sendo implausível cogitar que a
ciência possa ser explicada com base em algumas regras metodológicas elementares.
Logo, toda metodologia tem limitação e a única que regra que vale é a do “vale tudo”.

Chalmers concorda com esse posicionamento de Feyerabend, pois, devido à


complexidade inerente à ciência e a impossibilidade de previsões relacionadas ao
desenvolvimento desta, não é coerente esperar uma metodologia exata. Assim, para
Feyerabend, a metodologia presente em pesquisas não deve ditar regras, mas possuir
padrões que auxiliem o cientista a analisar a situação em questão; portanto, este não
deve ser limitado às regras da metodologia e, assim, vale tudo.

Porém, esse “vale tudo” não deve ser interpretado de forma demasiadamente ampla.
Disso decorre a distinção, segundo Feyerabend, entre o cientista razoável e o
charlatão, a qual se localiza na pesquisa efetuada, após a determinação de um ponto
de vista. O charlatão não se preocupa em ir além, pois contenta-se na defesa do ponto
de vista na forma não desenvolvida, de modo que, às vezes, nem admite a existência
de um problema; enquanto o cientista tem ciência das dificuldades e objeções.

Chalmers sintetiza tais ideias ao afirmar que, na ciência, o vale tudo não se dá sem
nenhum limite, de forma que não é necessário conhecimento sobre as metodologias,
mas a ciência dos aspectos sobre assunto investigado é imprescindível.

O autor cita o conceito de incomensurabilidade, de Feyerabend, e estabelece sua


origem na relação dependente entre observação e teoria; sendo sentidos,
interpretações dos conceitos e proposições de observação dependentes do contexto
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teórico. Em certos casos, duas teorias rivais possuem princípios básicos tão distintos
que nem é possível compará-las; configurando-se, então, como incomensuráveis.

Contudo, duas teorias incomensuráveis não necessariamente são incomparáveis.


Então, caso seja preciso escolher uma teoria desse tipo, manifesta-se um obstáculo
referente a quais critérios de comparação devem ser adotados nos momentos de
divergência e, para Feyerabend, a seleção destes, e por consequência da teoria
incomensurável, é, de certa forma, subjetiva. Chalmers aceita o argumento de que
essas teorias não podem ser comparadas de forma lógica, mas afirma que os fatores
subjetivos não estão imunes a alegações racionais, pois estão vulneráveis à crítica e
à mudança guiadas pela argumentação e modificação das condições materiais

Chalmers destaca que Feyerabend demonstra como algumas metodologias


assumem, injustificadamente, que a ciência forma o paradigma da racionalidade, de
modo que seus defensores a consideram melhor do que outras formas de
conhecimento, mesmo sem analisar adequadamente essas outras. Além disso, tal
autor rejeita a concepção de que há um fator decisivo a favor da ciência em relação a
formas de conhecimento incomensuráveis a ela. Caso se deseje comparar a ciência
a outro modo de conhecimento, é preciso analisar os componentes desse outro modo.

Entretanto, Chalmers discorda de Feyerabend em certo aspecto, pois este não foca
em obstáculos sociais imediatos, mas confronta ciência, vodu, astrologia e coisas
semelhantes; elementos cujos estudos específicos Chalmers – denominando isso um
preconceito – desacredita terem objetos bem definidos e modos de alcançá-los, e
afirma não serem problemas imediatos no meio social vigente.

Feyerabend defende uma “atitude humanitária”, que valoriza a liberdade destinada


aos indivíduos, de forma que Chalmers destaca que isso valida a ideia anarquista
relativa à ciência por parte de tal autor, já que se trata de um aumento da liberdade
dos indivíduos – seja pela supressão de regras metodológicas ou pela possibilidade
de escolher entre ciência e outras formas de conhecimento.

O autor também pontua que, para Feyerabend, a ciência não deve ter preferência
sobre outros modos de conhecimento e o Estado, na sociedade ideal, deve ser neutro,
de forma que o indivíduo tenha liberdade para decidir conforme suas próprias
concepções. Sobre isso, Chalmers afirma que a liberdade individual está submetida à
posição que o indivíduo ocupa na organização social, sendo que as ações e vontades
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individuais estão relacionadas aos meios que estão à sua disposição. Logo, conclui-
se que todos os indivíduos devem seguir suas inclinações e fazer aquilo que desejam.

CONSIDERAÇÕES PESSOAIS

As noções de Kuhn sobre a mudança de paradigmas e uma revolução constante em


âmbito científico são proveitosas pois clareiam a ideia de que a ciência não é estática
e, de fato, se altera – por mais que de forma lenta, na maior parte das vezes –, o que
contribui para compreender que o argumento de Gregory Bateson de que a ciência
nunca prova nada (BATESON, 1986)* se relaciona ao caráter relativamente provisório
das leis e normas científicas vigentes. Também é interessante que o autor afirme a
existência das anomalias, as quais admitem a impossibilidade de se obter um modelo
científico impecável e absolutamente definitivo, evidenciando que a ciência não é
perfeita. Por fim, destaca-se a consideração de Kuhn sobre a subjetividade na escolha
dos critérios em relação à seleção de um paradigma, que demonstra a impossibilidade
de se construir um conhecimento totalmente neutro como queriam os positivistas.

As contribuições de Feyerabend sobre o vale tudo – considerando a ponderação sobre


este não ser ilimitado –, de fato, resultam em uma concepção mais flexível e acessível
da ciência. Juntamente a isso, a “atitude humanitária” do autor valoriza a liberdade do
indivíduo e, assim, abre-se um leque referente à possibilidade de escolhas individuais.
Contudo, o argumento de Feyerabend de que a ciência não deve ter preferência frente
a outras formas de conhecimento parece equivocado. Isso é claro ao se analisar a
forma como o Covid-19 tem sido enfrentado em diferentes localidades, fato que torna
evidente a necessidade de se preferir a ciência. Já a posição de Chalmers sobre a
liberdade estar submetida à estrutura social em que o indivíduo está inserido e
localizado é correta, pois o contexto e a dinâmica sociais são determinantes das
condições previamente existentes e, assim, a liberdade não é absoluta.

*BATESON, Gregory. Mente e Natureza. 1. Ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986.

Brusque, 22 de outubro de 2021

Matheus Ideta Bergamo

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