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Doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, Brasil (2022). Professor da Universidade
Federal do Acre, Brasil
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Graduando do curso de Licenciatura plena em Filosofia da Universidade Federal do Acre (UFAC) sob número
de matrícula: 20191770039.
“Naturalmente a circularidade resultante não torna esses argumentos errados ou
mesmo ineficazes. Colocar um paradigma como premissa numa discussão destinada a
defendê-lo pode não obstante, fornece uma mostra de como será a prática científica
para todos aqueles que adotarem a nova concepção da natureza. Essa mostra pode ser
imensamente persuasiva, chegando muitas vezes a compelir à sua aceitação. Contudo,
seja qual for a sua força, o status, do argumento circular equivale tão- -somente ao da
persuasão. Para os que recusam entrar no círculo, esse argumento não pode tornar-se
impositivo, seja lógica, seja probabilisticamente. As premissas e os valores partilhados
pelas duas partes envolvidas em um debate sobre paradigmas não são suficientemente
amplos para permitir isso. Na escolha de um paradigma, — como nas revoluções
políticas — não existe critério superior ao consentimento da comunidade relevante.
Para descobrir como as revoluções científicas são produzidas, teremos, portanto, que
examinar não apenas o impacto da natureza e da Lógica, mas igualmente as técnicas
de argumentação persuasiva que são eficazes no interior dos grupos muito especiais
que constituem a comunidade dos cientistas”. (p. 128).
“Certamente a ciência (ou algum outro empreendimento talvez menos eficaz) poderia
ter-se desenvolvido dessa maneira totalmente cumulativa. Muitos acreditaram que
realmente ocorreu assim e a maioria ainda pa129 rece supor que a acumulação é, pelo
menos, o ideal que o desenvolvimento histórico exibiria, caso não tivesse sido tão
comumente distorcido pela idiossincrasia humana. Existem importantes razões para tal
crença. No Cap. 9, descobriremos quão estreitamente entrelaçadas estão a concepção
de ciência como acumulação e a epistemologia que considera o conhecimento como
uma construção colocada diretamente pelo espírito sobre os dados brutos dos sentidos.
No Cap. 10 examinaremos o sólido apoio fornecido a esse mesmo esquema
historiográfico pelas técnicas da eficaz pedagogia das ciências. Não obstante, apesar
da imensa plausibilidade dessa mesma imagem ideal, existem crescentes razões para
perguntarmos se é possível que esta seja uma imagem de ciência”. (p.129-130).
“Contudo, se a resistência de determinados fatos nos leva tão longe, então uma
segunda inspeção no terreno já percorrido pode sugerir-nos que a aquisição cumulativa
de novidades é de fato não apenas rara, mas em princípio improvável. A pesquisa
normal, que é cumulativa, deve seu sucesso à habilidade dos cientistas para selecionar
regularmente fenômenos que podem ser solucionados através de técnicas conceituais e
instrumentais semelhantes às já existentes. (É por isso que uma preocupação excessiva
com problemas úteis, sem levar em consideração sua relação com os conhecimentos e
as técnicas existentes, pode facilmente inibir o desenvolvimento científico.) Contudo,
o homem que luta para resolver um problema definido pelo conhecimento e pela
técnica existentes não se limita simplesmente a olhar à sua volta”. (p. 130).
“Existem, em princípio, somente três tipos de fenômenos a propósito dos quais pode
ser desenvolvida uma nova teoria. O primeiro tipo compreende os fenômenos já bem
explicações pelos paradigmas existentes. Tais fenômenos raramente fornecem motivos
ou um ponto de partida para a construção de uma teoria. Quando o fazem, como no
caso das três antecipações famosas discutidas ao final do Cap. 6, as teorias resultantes
raramente são aceitas, visto que a natureza não proporciona nenhuma base para uma
discriminação entre as alternativas. Uma segunda classe de fenômenos compreende
aqueles cuja natureza é indicada pelos paradigmas existentes, mas cujos detalhes
somente podem ser entendidos após uma maior articulação da teoria. Os cientistas
dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenômenos, mas tal pesquisa visa antes à
articulação dos paradigmas existentes do que à invenção de novos. Somente quando
esses esforços de articulação fracassam é que os cientistas encontram o terceiro tipo de
fenômeno: as anomalias reconhecidas, cujo traço característico é a sua recusa
obstinada a serem assimiladas aos paradigmas existentes. Apenas esse último tipo de
fenômeno faz surgir novas teorias. Os paradigmas fornecem a todos os fenômenos
(exceção feita às anomalias), um lugar no campo visual do cientista, lugar esse
determinado pela teoria” (p. 131).
“A mudança resultante nos padrões e áreas problemáticas da Física teve, mais uma
vez, amplas consequências. Por volta de 1740, por exemplo, os eletricistas podiam
falar da “virtude” atrativa do fluido elétrico, sem com isso expor-se ao ridículo que
saudara o doutor de Molière um século antes. Os fenômenos elétricos passaram a
exibir cada vez mais uma ordem diversa daquela que haviam apresentado quando
considerados como efeitos de um eflúvio mecânico que podia atuar apenas por
contato. Em particular, quando uma ação elétrica a distância tornou-se um objeto de
estudo de pleno direito, o fenômeno que atualmente chamamos de carga por indução
pode ser reconhecido como um de seus efeitos. Anteriormente, quando se chegava a
observá-lo, era atribuído à ação direta de “atmosferas” ou a vazamentos inevitáveis em
qualquer laboratório elétrico”. (p. 140).
“Por exemplo, visto que nenhum paradigma consegue resolver todos os problemas que
define e posto que não existem dois paradigmas que deixem sem solução exatamente
os mesmos problemas, os debates entre paradigmas sempre envolvem a seguinte
questão: quais são os problemas que é mais significativo ter resolvido? Tal como a
questão dos padrões em competição, essa questão de valores somente pode ser
respondida em termos de critérios totalmente exteriores à ciência e é esse recurso a
critérios externos que — mais obviamente que qualquer outra coisa — torna
revolucionários os debates entre paradigmas. Entretanto, está em jogo algo mais
fundamental que padrões e valores. Até aqui argumentei tão-somente no sentido de
que os paradigmas são parte constitutiva da ciência. Desejo agora apresentar uma
dimensão na qual eles são também constitutivos da natureza”. (p.144).