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INTRODUÇÃO
Existe, em todos os graus da objetivação da vontade, uma luta recorrente entre as
espécies de todos os homens que vivem na terra, decorre daí um grande conflito da própria
vontade humana consigo mesmo, destaca Schopenhauer na abertura do § 61 do tomo I do
Mundo como Vontade e Representação (MVR I). Dentre todas as motivações que englobam
os conflitos oriundos desses indivíduos humanos Schopenhauer propõe a investigação de um
fenômeno que acredita ser o ponto de partida que dá origem a toda essa luta entre os homens,
a saber, o EGOÍSMO.
A vontade está contida nas aparências de toda a multiplicidade dos homens de modo
que é possível “vê-la” reproduzida em seus mínimos resquícios nas ações humanas. Mas a
essência da vontade ao qual é o “uno” das multiplicidades “vistas” nas aparências dos homens
mediante suas ações é instituída no interior de cada um. 3 É a partir disso que o filósofo alemão
conclui: o egoísmo é a “causa primeira”, isto é, enquanto princípio originário do fenômeno,
promotor de toda a vontade do homem para si, em suma, o homem sempre deseja tudo para si
1
Disciplina: História da Filosofia Moderna II 2022/02.
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Graduando do curso de Licenciatura plena em Filosofia da Universidade Federal do Acre (UFAC) sob número
de matrícula: XXXX.
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“Todavia, tal pluralidade não concerne à vontade como coisa em si, mas exclusivamente às suas aparências: a
vontade encontra-se por inteiro indivisa em cada aparência, e em torno de si vê a imagem inumeráveis vezes
repetida de sua própria essência.” (SCHOPENHAUER, 2015, p. 385).
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e por conta dessa vontade avassaladora promove conflitos entre si para a conquista desses
desejos.
Nesse sentido, o presente trabalho pretende lançar luz sobre a temática do egoísmo que
na visão schopenhauriana é responsável pelos conflitos entre os homens levando em
consideração o § 61 do tomo I do MVR do filósofo alemão e destacar as consequências do
egoísmo e ao mesmo tempo mapear minimamente os conceitos schopenhauriano no que
concerne à vontade de vida e a perpetuação do sofrimento no mundo.
O homem está disposto a sacrificar-se para alcançar tais objetivos (da vontade de vida)
e pra isso, se necessário, destrói o próprio mundo. A natureza do sentimento egoísta leva o
homem a destruição de si próprio na medida em que as consequências de suas ações são
reflexos da prioridade que se dá a sua própria existência em detrimento da manutenção do
próprio universo em seus aspectos de equilíbrio mais diversos 4. A partir da realidade das
ações humanas se dá dentro do contexto do tempo e do espaço é que é possível constatar a
reprodução ilimitada das consequências do egoísmo a partir da vontade e representação.
Ressalta-se aqui, no entanto, que cada indivíduo se ver e enxerga-se como vontade completa
ao passo que os outros indivíduos apenas nos são de conhecimento enquanto à sua
representação respectiva.
Cada indivíduo enxerga seu próprio fim como sendo o fim do mundo – pois é para ele
que tudo acaba – e a morte dos outros é encarada como indiferença, se não houver uma
ligação tênue (relação de parentesco ou amizade) entre a pessoa que morreu e ele mesmo.
Nesse contexto, Schopenhauer esclarece que o egoísmo atingiu o ápice no ser humano,
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“Eis aí a mentalidade do EGOÍSMO, o qual é essencial a cada coisa da natureza. É exatamente através dele que
o conflito interno da vontade consigo mesma alcança temível manifestação.” (SCHOPENHAUER, 2015, p.
386).
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gerando sentimentos terríveis que resultam dos conflitos internos a partir dessa manifestação
egoísta5. A capacidade “instintiva” humana que o leva a destruir a própria humanidade
(residente em si mesmo e nos outros) para obter resultados positivos quanto aos seus desejos
egoístas é inerente para estes que desejam tomar para si tudo que é dos outros, a vontade de
vida faz com que o homem seja destrutivo em prol da conquista pela própria felicidade.
Vimos que o egoísmo é fonte originária das ações que perpetuam o querer oriundos da
vontade de vida dos indivíduos, nesse aspecto essa vontade de vida é mantenedora dos
conflitos que fazem com que os homens destruam uns aos outros. É a partir do querer
insaciável que também surge o impulso sexual – pois é da natureza egoísta humana perpetuar
o sofrimento por meio da reprodução – e na medida em que os impulsos (sexuais ou não) são
recusados de forma voluntária o indivíduo atinge o 3º estágio da contemplação e vontade de
nada: sendo uma autodeterminação voluntária dos nossos desejos que culmina no estágio do
QUIETISMO7.
CONCLUSÃO
A vontade de vida é o que mantém a conservação do corpo, é o que faz com que se
afirme a própria existência por meio do saciamento dos desejos animalescos. É daí que o
egoísmo gera os conflitos, porque não é possível atingir os objetivos oriundos desses desejos
da vontade de vida sem que com isso pense em si mesmo de forma exacerbada. No entanto, a
negação do querer de forma voluntária, na qual é desprovida de motivação, pode combater a
afirmação da vontade de vida, se tornando assim um aceta.
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“Ora, exatamente porque essa renúncia é negação ou supressão da Vontade de vida, ela é uma autossuperação
difícil e dolorosa.” (SCHOPENHAUER, 2015, p. 387).
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REFERÊNCIAS: