RESENHA CRÍTICA ACERCA DO DOCUMENTÁRIO “RAÇA HUMANA”
O documentário produzido pela TV Câmara tem como principal tema o discorrimento
da questão de cotas raciais em universidades, tratando acerca da Universidade de Brasília - UnB, e a comoção a partir do momento em que a medida é adotada na instituição de ensino superior no ano de 2004, medida essa que o ponto principal foi bastante desvirtuado por quem era oposto à ela, alegando “favorecimento racial” e contra a meritocracia. Primeiramente, há o relato do acadêmico cotista do curso de pedagogia João Nogueira, que diz já conhecer os programas de ampliação de acesso ao ensino superior Prouni e FIES, e a motivação que o levou a se inscrever no processo seletivo da UnB por meio das cotas raciais. Tal política tratada pelo acadêmico, segundo ele, tem como finalidade a equidade entre as pessoas brancas e as pessoas pretas. Segundo Lowi (1994) apud Secchi (2020), as políticas de cotas raciais se encaixam na classificação de política redistributiva, em que nesta tipologia são incluídas políticas públicas que concedem benefícios concentrados e implicam custos concentrados sobre outras categorias de atores. Uma influência que também contribui para a adoção de cotas foi a Conferência de Durban, em 2001, que promovia mais direitos e acessos a negros as instituições de Ensino Superior. No documentário, o contraponto tratado pela professora Roberta Fragoso Kaufmann, alguns estudantes anti-cotistas, o professor Marcelo Hermes e outros entrevistados é que as políticas de cotas raciais, na verdade, incitam a racialização e disseminam o racismo, alguns entrevistados defendem a ideia de cotas sociais como maneira de reduzir as desigualdades apresentadas dentro da UnB. Durante o vídeo, é apresentado que a ideia de cotas tornou-se pauta após um episódio ocorrido no ano de 1999 também na Universidade de Brasília, chamado “Caso Ari”, relatando sobre um aluno negro que reprovara numa determinada matéria obrigatória da universidade sem antecedentes de reprovações até então, e mesmo que ele tentasse recorrer à uma nova avaliação, o professor não o daria esse direito. O docente não conseguiu apresentar justificativa plausível. Na entrevista, é evidenciado o conflito na definição do termo “raça”, em que os entrevistados consideram que há apenas uma raça, a intitulada “raça humana”, o que causa confusão no objetivo central da cota racial, esse conflito de definição é elemento crucial para o embate entre os que aprovam e desaprovam as cotas raciais, visto que, os que desaprovam a entendem como forma de desigualdade racial, já os que aprovam entendem-a como elemento para equidade de uma sociedade que possui estruturas históricas escravocratas e racistas. A professora Roberta Fragoso Kaufmann, que é contra as cotas, chega a comparar a entrevista imposta para alunos cotistas com o “Tribunal de Nuremberg”, do período da Alemanha nazista. Já o reitor da UnB, José Geraldo Sousa Júnior considera que negros e pardos são excluídos do seu melhor desempenho, concluindo o entendimento da desigualdade imposta estruturalmente. No ano de 2009, surgiu na Câmara dos Deputados a votação para aprovação do Estatuto de Igualdade Racial, possuindo no seu texto original a obrigatoriedade de criação de cotas raciais em todas as universidades brasileiras, causando bastante repercussão, o que logo depois fez com que a obrigação fosse retirada do estatuto, no entanto, esse estatuto recebeu maioria dos votos do agentes políticos e foi encaminhado para o Senado Federal, evidenciando o papel do Poder Legislativo como o principal ator político porta-voz das demandas dos cidadãos. O apelo social para implementação da Política Pública de Cotas Raciais também vai de encontro à terceira categoria da ação coletiva: o grupo organizado, que segundo Torres (2007), esse grupo possui mecanismos de decisão e capacidade de ação coletiva, atestando possuir habilidades para demandar políticas públicas. Conclui-se que, as cotas raciais surgiram como maneira de equiparar as oportunidades que são naturalmente deturpadas por conta da assimetria histórica existente e evidenciada pelo professor José Jorge, co-autor do projeto de cotas da UnB. Segundo Ferreira (1999) o conceito de equidade é a “Característica de algo ou alguém que releva senso de justiça”, neste contexto, as cotas raciais servem como um mecanismo que evidenciam esse conceito na sociedade. REFERÊNCIAS FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
SECCHI, Leonardo. Políticas públicas: conceitos, esquemas de análise, casos
práticos. 3ª Ed. São Paulo: Cengage, 2020.
TORRES, Marcelo Douglas de Figueiredo. Estado, democracia e administração
pública no Brasil. FGV, 2004
TV CÂMARA. Raça humana. TV Câmara, 2010. 1 vídeo (40min 42s). Disponível
em: https://youtu.be/ovZVqvkyBbo. Acesso em 02 jan. 2023.