Você está na página 1de 9

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA - UEL

GRADUAÇÃO EM DIREITO

João Pedro Semeghini Salioni

Artur Nardi

Caetano Veloso

ESTIGMATIZAÇÃO DOS SEXOS NO MOMENTO DE ESCOLHA DE UM


CURSO SUPERIOR

Projeto de Trabalho.
LONDRINA

2023

1. RESUMO

O projeto incluirá uma revisão da literatura para entender a base teórica sobre
estigmatização de gênero e suas implicações na educação superior. Além disso, serão
coletados dados por meio de pesquisas, entrevistas ou análise de dados existentes para
identificar padrões de estigmatização de gênero na escolha do curso superior.

Com base nas descobertas, o projeto buscará propor estratégias e recomendações


para reduzir a estigmatização de gênero e promover a igualdade de oportunidades na
educação superior, incentivando os estudantes a fazerem escolhas de cursos alinhadas
com seus interesses e habilidades, em vez de ceder a estereótipos de gênero.

Palavra-chave: Conservadorismo. Estigma. Faculdade

2. TEMA

Este projeto de pesquisa busca explorar a relação entre a dominação masculina e


a violência simbólica dentro do meio acadêmico na sociedade contemporânea. A
pesquisa envolverá uma análise crítica da forma como as estruturas de poder de gênero
são mantidas dentro do mercado de trabalho e das universidades.

A pesquisa será conduzida por meio do levantamento de documentos


bibliográficos, examinando a obra de Pierre Bourdieu que aborda a dinâmica de poder e
a hierarquia de gênero. Será realizada uma análise das maneiras pelas quais as práticas
sociais, culturais e simbólicas perpetuam a dominação masculina e a violência
simbólica, bem como as possíveis formas de resistência e transformação dessas
estruturas.

Ao adotar uma perspectiva crítica, este projeto de pesquisa tem como objetivo
contribuir para o entendimento das relações de gênero no meio acadêmico e promover
um debate informado sobre a necessidade de desestigmatizar os gêneros dentro do meio
acadêmico. A pesquisa também pretende examinar como as teorias de Bourdieu podem
ser aplicadas para analisar e desconstruir as hierarquias de gênero, promovendo uma
perspectiva mais inclusiva e igualitária no ambiente universitário

3. PROBLEMA
A pesquisa se propõe averiguar a pressão externa e os fatores que levam as
jovens brasileiras a optar menos pelos cursos de exatas, como engenharia e correlatos e
em cursos de computação, e mais pelos cursos de humanas. E assim, ela busca
relacionar os fatores estruturais e culturais da sociedade que levam a isso, relacionando
esse fenômeno social com a teoria da dominação masculina de Bourdieu.

a) Qual é a influência dos fatores estruturais e culturais na decisão das jovens


brasileiras de optar por cursos de humanas em detrimento dos cursos de exatas e
computação, e como essa escolha se relaciona com a teoria da dominação masculina
de Bourdieu?

4. RELEVÂNCIA

A relevância do estudo da estigmatização do sexo no momento da escolha de um


curso superior reside na necessidade de compreender como as normas de gênero afetam
as decisões dos estudantes ao escolherem suas áreas de estudo. Em um contexto em que
a igualdade de oportunidades e o respeito pelos direitos e dignidade de todos são valores
fundamentais, a análise da estigmatização de gênero na escolha de cursos superiores é
essencial para identificar e combater as barreiras que impedem a inclusão dos sujeitos
no ambiente acadêmico.

A pesquisa adota uma abordagem que examina como as expectativas de gênero,


os estereótipos e as pressões sociais podem influenciar as decisões dos estudantes em
relação às carreiras acadêmicas. Este estudo visa evidenciar como tais influências
podem restringir a liberdade de escolha dos estudantes e contribuir para concepções de
dominação e exclusão dos sujeitos.

Para tanto, o projeto de pesquisa visa investigar as origens, manifestações e


impactos da estigmatização de gênero no processo de escolha de cursos superiores,
destacando a necessidade de promover uma abordagem mais inclusiva, emancipada e
justa no momento da seleção de carreiras. A análise se insere no contexto de uma
sociedade que busca promover a igualdade de gênero e a livre escolha profissional,
reconhecendo e superando as barreiras de gênero que possam surgir nesse processo.

5. VIABILIDADE
A possibilidade da pesquisa se deu por meio do levantamento bibliográfico e dos
sujeitos inseridos no meio acadêmico do ensino médio e superior. Além de notícias e
busca de dados que confirmam a tese discutida no projeto de pesquisa em questão.

6. OBJETIVOS

6.1 OBJETIVOS GERAIS

Analisar os compostos sociais que influenciam os jovens no momento da escolha


de um curso superior, por meio da teoria da dominação masculina de Pierre Bourdieu,
com vistas a identificar os pressupostos de dominação advindos do machismo estrutural,
verificando a possibilidade de uma necessidade de mudança no âmbito acadêmico e
escolar.

6.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1.1 Compreender como um estudante pensa e as influências sociais sobre as escolhas


dele sobre o futuro.

1.2. Identificar os fatores que fazem a continuidade do machismo estrutural que


influência nessas escolhas e relaciona-los com a teoria de Bourdieu.

1.3. Desenvolver estratégias de médio e longo prazo que mitiguem esse problema social
e que busque maior inclusão para as próximas gerações.

7. HIPÓTESE

Quando Pierre Bourdieu estrutura a teoria da Dominação Masculina, ele teoriza


que a violência misógina é absorvida pelas mulheres e aprendida pelos homens. Logo
em seus estudos, ele encontra as violências sexuais mascaradas por ações culturalmente
normalizadas. Este estudo busca aprofundar-se em mais uma dessas violências
resultantes da dominação masculina, que sutilmente impõe às mulheres o que elas
devem escolher de rumo profissional e, afunilando, assim, as opções delas por meio
dessa violência simbólica. Logo, a hipótese desse estudo é averiguar a possibilidade de
encontrar e criticar o machismo enraizado nas escolhas acadêmicas dos brasileiros.
8. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No âmbito dos estudos sobre democracia, a teoria da filósofa belga Chantal


Mouffe se destaca pela crítica a democracia liberal e aos modelos democráticos de John
Rawls e Jürgen Habermas. Mouffe aponta a ausência do político, conceito de sua teoria
que indica uma relação entre poder e construção democrática. No desenvolvimento da
crítica, aponta a deficiência de tal conceito em concepções de esfera pública pensadas
por democratas deliberativos, uma vez que tais modelos de democracia estão pautados,
segundo sua visão, no abuso de pressupostos de legitimidade e racionalidade.

A crítica a Rawls e a Habermas é dirigida ao espectro conciliatório de


constituição da ordem democrática proposto por estes teóricos democráticos. Se Rawls
tenta eleger uma visão de liberalismo político abrangente como fundamento para sua
teoria de justiça, Habermas segue no sentido de estabelecer uma concepção de esfera
pública que forma opiniões públicas de forma intersubjetiva, com o objetivo de
construir um consenso racional sobre determinada questão da sociedade (MOUFFE,
1999).

Mouffe rejeita a possibilidade da racionalidade ser parâmetro universal para


uma concepção democrática, pois em sua visão, um conceito de acordo racional na
construção da política significa a destruição da dimensão do poder, que é inerente à
formação das vontades sociais (MOUFFE, 1999).

Ainda que Habermas reconstrua o projeto da Modernidade, superando os


reflexos nocivos da razão instrumental com a proposição de uma razão comunicativa,
Mouffe aponta que não é a racionalidade de meios-fins que está no centro do problema
das instituições democráticas, mas sim:

[...] a constituição de um conjunto de práticas que façam possível a criação de


cidadãos democráticos [...] Ao privilegiar a racionalidade, tanto a perspectiva
deliberativa como a agregativa deixam de lado um elemento central, que é o
papel crucial desempenhado por paixões e afetos na garantia da fidelidade a
valores democráticos (MOUFFE, 2006).”

Mouffe aponta que as sociedades da democracia liberal enfrentam um déficit


democrático oriundo de uma não-identificação dos cidadãos com importantes
concepções de cidadania democrática. Isto se dá, principalmente pelo fato de que
indivíduos democráticos só são possíveis com a “[...] multiplicação de instituições,
discursos, formas de vida que fomentem a identificação com valores democráticos
(MOUFFE, 2006).”

Neste ponto, a teoria de Mouffe constitui uma interseccionalidade com o tema


do presente estudo, uma vez que a popularização do discurso conservador na educação
brasileira e sua relação com parâmetros de exclusão social, demonstra um indício de que
as concepções de cidadania estão sendo substituídas por fundamentalismos morais.

Mouffe já denunciara que o fundamentalismo moral é uma das consequências


do afastamento de concepções importantes de cidadania:

De outro modo, desprovidos da possibilidade de identificaram-se com


concepções preciosas de cidadania, muitas pessoas estão em um crescendo;
procurando formas de identificação que podem muito frequentemente colocar
em risco o laço cívico que deveria unir a associação político-democrática. O
crescimento de várias religiões, bem como de fundamentalismos morais e
étnicos, é a meu ver a consequência direta do déficit democrático que
caracteriza a maior parte das sociedades liberal-democráticas (MOUFFE,
2006).

Além disso, a questão conservadora no Brasil esbarra em um problema


enfrentado por Mouffe: o pluralismo da sociedade democrática.

Tanto Rawls quanto Habermas traçam uma separação de público e privado na


constituição da esfera pública de deliberação. No caso de Rawls a coisa pública se
sobreporia a coisa privada, visto ser impossível estabelecer um consenso racional em
meio a diferentes visões morais. Nisto, as instituições liberais devem adotar visões
abrangentes, declarando-se neutras ao meio do processo democrático, a fim de que se
constitua um acordo político que firme a justiça, independente do pluralismo de valores
existente no âmbito privado. Habermas, de outra forma, estrutura sua teoria no mesmo
sentido, estabelecendo uma separação clara entre ética e moralidade de forma a alocar o
pluralismo a uma esfera não-pública (MOUFFE, 2006).

Se tanto Rawls quanto Habermas tentam evitar o problema do pluralismo e do


poder no cotidiano da democracia, Mouffe se volta a estas questões, defendendo a ideia
de que não é possível uma concepção efetivamente democrática sem a instituição
naturalizada de um conflito ou de um consenso conflituoso. Isto é que sua teoria vai
chamar de agonismo.
Uma visão agonística e pluralista, segundo Mouffe, implica no reconhecimento
do poder como fato que constitui a ordem social. Se os democratas deliberativos
direcionaram suas teorias no sentido de se afastar do poder para fortalecer uma
concepção de cidadania democrática, a teoria mouffeana propõe justamente o contrário:

Se aceitarmos, contudo, que as relações de poder são constitutivas do social,


então a questão principal para a política democrática não é como eliminar o
poder, mas como constituir formas de poder mais compatíveis com valores
democráticos. Compreender a natureza constitutiva do poder implica
abandonar o ideal de uma sociedade democrática como a realização de
perfeita harmonia ou transparência (MOUFFE, 2006).

O pluralismo agonístico então surge como uma alternativa ao modelo


deliberativo, que pressupõe uma concepção de dissenso nas relações sociais,
reconhecendo a impossibilidade de um acordo puramente racional. Este dissenso,
obviamente, não deve visar a destruição do adversário, uma vez que em ambos os lados
da disputa deve haver uma lealdade aos princípios éticos-políticos da igualdade e da
liberdade, pilares de cidadania democrática (MOUFFE, 2006).

Diante disso, as críticas de Mouffe à democracia liberal e ao seu excessivo


embasamento racional e de legitimidade são relevantes para a compreensão da disputa
entre os projetos hegemônicos em voga na educação brasileira. A teoria agonística, em
outro campo, auxilia na compreensão do pluralismo de valores e de paixões existentes
na sociedade brasileira, de modo a possibilitar uma análise crítica do conservadorismo
na esfera pública nacional.

9. ESTADO DA ARTE

Estudos revelam que estereótipos e normas culturais ainda exercem influência


nas escolhas de homens e mulheres, refletindo a imposição de expectativas sociais sobre
carreiras apropriadas para cada gênero. A dominação masculina de Bourdieu é
evidenciada na sutil estigmatização enfrentada por mulheres em campos historicamente
masculinos, e vice-versa. Essa dinâmica, internalizada culturalmente, contribui para a
manutenção das desigualdades de gênero no âmbito acadêmico e profissional. Apesar
dos esforços pela igualdade de gênero, a persistência desse fenômeno destaca a
necessidade contínua de intervenções que desafiem as normas de gênero arraigadas,
alinhadas à análise de Bourdieu sobre a dominação masculina.

10. PROPOSTA DE SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

Capítulo 1 (descritivo)

O primeiro capítulo desse projeto delineia uma narrativa descritiva que explora
as manifestações de estigmatização na seleção de cursos superiores ao longo dos
últimos anos. Inicialmente, será abordada a percepção de estigma de gênero, com foco
nas influências sociais que moldam as escolhas dos estudantes, principalmente no
Ensino Médio. O estudo destacará como estereótipos de gênero podem influenciar
negativamente a decisão de cursos, refletindo-se em desigualdades educacionais.

Capítulo 2 (descritivo-analítico)

No segundo capítulo relacionamos esse estigma como uma das consequências da


teoria estudada por Pierre Bourdieu, Dominação Masculina, e analisamos de forma
crítica a forma que essa estigmatização é uma ramificação desse machismo estrutural
moldado de forma cultural e histórica na sociedade brasileira atual.

Capítulo 3 (analítico)

O terceiro capítulo deste trabalho propõe uma análise que integra a perspectiva
bourdieusiana para examinar e desconstruir os estereótipos de gênero na escolha de
cursos superiores. A abordagem visa compreender como a aplicação dessa teoria pode
oferecer uma visão aprofundada na restauração da ação política, visando uma sociedade
mais democrática e equitativa.

Considerações finais

11. METODOLOGIA

A pesquisa fundamenta-se em uma análise crítica dos conflitos presentes na


sociedade brasileira, examinando como os estereótipos de gênero afetam as escolhas
educacionais dos estudantes e repensando o papel do Direito nesse contexto.
A coleta de dados é realizada por meio de revisão sistemática da literatura,
análise documental e entrevistas proporcionando uma compreensão mais aprofundada
das dinâmicas sociais. Considerações éticas são aplicadas para garantir
confidencialidade e anonimato quando necessário, buscando representatividade e
pluralidade de perspectivas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MOUFFE, Chantal. El retorno de lo político: comunidad, ciudadanía, pluralismo, democracia


radical. Barcelona: Paidós, 1996.

MOUFFE, Chantal. Por um modelo agonístico de democracia. Rev. Socio. Polít., Curitiba, n.25.
2006. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/rsp/article/view/7071>. Acesso em 01dez2019.

Você também pode gostar