Capítulo 2 – Interseccionalidade como investigação e práxis críticas
Patrícia é uma mulher negra, estadunidense com uma trajetória voltada a
pensar na formação de conhecimento de resistência desde a academia, Já a Sima tem um outro contexto, em está relacionado ao global, mas é uma mulher com trajetória imigrante e que tem outros atravessamentos, e ai com esses atravessamentos se dialoga com o livro Interseccionalidade, em que elas buscam conceitualizar a interseccionalidade. E para Colins a interseccionalidade é relacionada com poderes. Com a interseccionalidade que podemos perceber as nossas diferenças e como afetam o nosso cotidiano, por isso que a Collins, num determinado momento do livro fala que a interseccionalidade é uma práxis (trabalho teórico e trabalho prático) do cotidiano. E relatam a interseccionalidade como: A interseccionalidade investiga como as relações interseccionais de poder influenciam as relações sociais em sociedades marcadas pela diversidade, bem como as experiências individuais na vida cotidiana. Como ferramenta analítica, a interseccionalidade considera que as categorias de raça, classe, gênero, orientação sexual, nacionalidade, capacidade, etnia e faixa etária – entre outras – são inter- relacionadas e moldam-se mutuamente. A interseccionalidade é uma forma de entender e explicar a complexidade do mundo, das pessoas e das experiências humanas. E como a sociedade de controle vão ter um desdobrando da imagem das mulheres negras. O Capítulo “A Interseccionalidade como investigação e práxis críticas” analisa dois pontos organizacionais centrais para o uso da interseccionalidade como ferramenta analítica. Como forma de questionamento a interseccionalidade passou a ter mais visibilidade no mundo acadêmico e, na década de 1990, começou a ser utilizada dentro e fora das disciplinas tradicionais e da academia. Inicialmente essa investigação era especialmente crítica, pois desafiava corpos de conhecimento, teorias, epistemologias, metodologias e pedagogias existentes, especialmente aquelas ligadas à desigualdade social. Quando utilizada de força práxis crítica, a interseccionalidade se refere às maneiras pelas quais as pessoas, como indivíduos ou parte de um grupo, produzem, recorrem ou aplicam estruturas interseccionais na vida cotidiana. Na família e no emprego, como atores institucionais em escolas públicas, faculdades, universidades e organizações religiosas, como lideranças comunitárias e de movimentos de base, cidadãs e cidadãos comuns recorrem às ideias da interseccionalidade para orientar a prática. Então, a práxis crítica da interseccionalidade pode ocorrer em qualquer lugar dentro e fora do mundo acadêmico. A interseccionalidade pode ocorrer em qualquer lugar, contudo os principais lugares para dissolvê-la são as universidades, através dos estudos. Quando utilizada de maneira crítica a interseccionalidade se refere as maneiras como as pessoas produzem ou aplicam as estruturas interseccionais na vida cotidiana. A prática crítica da interseccionalidade pode ocorrer de qualquer lugar, não precisa necessariamente ocorrer na esfera acadêmica. A interseccionalidade subestima as práticas que tornam possível o conhecimento interseccional principalmente para aquelas que envolvem crítica, rejeição e tentativa de corrigir os problemas sociais gerados por desigualdade sociai complexa. Contudo, também é uma importante característica da investigação interseccional, que está ligada a relação de poder é vital para resistir a desigualdade social. Assim como o pensamento crítico não se encontra apenas no mundo acadêmico, o engajamento político não se encontra apenas nos movimentos sociais ou nos movimentos sociais comunitários. E, as pessoas normalmente não relacionam uma com a outra, elas costumam diferenciá-las, e não ver que estão interconectadas. E esta sinergia que há entre ambas produz novos conhecimentos e/ou práticas importantes. Sendo mais benéficas juntas. A interseccionalidade como práxis crítica requer o uso do conhecimento adquirido por meio da prática para orientar ações subsequentes na vida cotidiana, ou seja, a solução do problema esta no cerne da práxis da interseccionalidade e os tipos de problemas sociais gerados pelos sistemas interseccionais de poder prestam-se ao conhecimento desenvolvido pela práxis, razão pela qual os atores da linha de frente que dão respostas aos problemas sociais são: docentes, assistentes sociais, mães, pais, defensores e defensoras de políticas públicas, equipe de apoio de universidade, profissionais do direito, lideranças comunitárias, membros do clero, estudantes graduados e profissionais da enfermagem. A práxis entende que o pensar e o fazer, ou a teria e a ação, estão estritamente ligados e moldam um ao outro, portanto, ela rejeita concepções binárias que olham para os estudos acadêmicos como fonte de teorias e estruturas e relega a prática às pessoas que aplicam essas ideias em contextos da vida real ou a problemas da vida real. Nesse sentido, o conhecimento baseado na práxis considera que a teoria e a prática são interconectadas. A práxis interseccional tem estudado a maneira que grupos locais, movimentos de base e/ou grupos pequenos recorrem a interseccionalidade para orientar suas ações. A prática de solidariedade, por exemplo, se encaixa no centro central de interseccionalidade, assim como o de relacionalidade. Para além, a defesa dos direitos humanos constitui outra área de extrema importância para a interseccionalidade como práxis crítica, considerando que as ideias de práxis crítica e interseccionalidades estão alinhadas com a ética dos direitos humanos, o uso da interseccionalidade como ferramenta analítica pode ser uma lente crítica importante para as iniciativas em favor dos direitos humanos. As salas de aula das faculdades podem ser o local onde se aprende sobre interseccionalidade, mas as experiências cotidianas são onde a interseccionalidade realmente é vivenciada, no interior da universidade, em contato com funcionários, com colegas, com grupos estudantis, com o corpo docente etc. Coletivamente, estudantes, docentes, quadros administrativos e de suporte podem usar a interseccionalidade como importante ferramenta analítica para moldar a sua práxis crítica. A autora afirma que pensar sobre a pedagogia interseccional mostra que as diferenças entre a investigação crítica e a práxis crítica raramente são tão evidentes quanto se imagina. Quando se trata de interseccionalidade, a produção acadêmica pode construir uma forma de ativismo intelectual, pois o avanço da interseccionalidade como investigação crítica requer a construção de uma base estudantil de graduação e pós- graduação que se envolve com textos seminais sobre interseccionalidade. Além disso, a autora apresenta o uso da interseccionalidade como ferramenta analítica que resultou em entendimentos complexos da violência, já que a violência contra a mulher foi um poderoso catalisador da própria interseccionalidade e que ela parece cada vez mais onipresente no contexto global. O uso da interseccionalidade como ferramenta analítica promove uma ideia maior de como a violência contribui para a desigualdade e a injustiça social. A autora afirma que o artigo de Kimberlé Crenshaw “Mapeando as margens: interseccionalidade, política identitária e violência contra as mulheres de cor” argumenta que a investigação e a práxis interseccionais são necessárias para abordar o problema social da violência contra as mulheres de cor, já que soluções para a violência contra as mulheres continuarão improváveis se esse problema for tratado através das lentes exclusivas de gênero, raça ou classe. Quando se trata de violência, o uso da interseccionalidade como ferramenta analítica mostra a relação sinérgica entre investigação e práxis crítica. Uma análise interseccional revela não apenas como a violência é entendida e praticada dentro de sistemas fechados de poder, mas também como constitui um fio comum que liga racismo, colonialismo, heteropatriarcado, nacionalismo e capacitismo, portanto, a investigação e a práxis interseccionais oferecem uma compreensão mais sólida da violência. E, também, a autora traz, a partir da práxis interseccional, o trabalho de Muhammad Yunus como a interseccionalidade em um local improvável, semelhante ao caso das mulheres afro-brasileiras que avançaram com as ideias da interseccionalidade antes do surgimento do próprio termo, pois o termo não é necessário para a abordagem. Assim, ela afirma que o trabalho do economista Muhammad Yunus, embora não relacionado com a interseccionalidade, tem uma abordagem interseccional para trabalhar com pessoas pobres de áreas rurais e seus estudos, em que promove uma nova maneira de conceituar e remediar a pobreza, tem implicações potenciais para a práxis crítica da interseccionalidade. Por fim, a autora afirma que ser crítico, a livro termo, é criticar, rejeitar e/ou tentar corrigir problemas sociais que surgem em situações de injustiça social. Entretanto, também expõe que ser crítico não é necessariamente o mesmo que ser progressista, embora os termos apareçam em conjunto. “Ser progressista (ou conservador) não significa carregar de uma situação para outra uma caixa de ferramentas cheia de crenças “críticas” predefinidas e aplicá- las mecanicamente. Isso pode levar a uma crítica dogmática que se baseia em ideias de policiamento. Em contrapartida, se as ações sociais específicas são, de fato, críticas, não se mede por fórmulas ideológicas abstratas (sejam conservadores, progressistas, liberais ou radicais), mas pela maneira como as ideias são usadas em contextos históricos e sociais específicos.”
A Face Invisível da Violência Escolar: um estudo da violência institucional e dos mecanismos de pacificação de conflitos no âmbito da Escola Disciplinadora atual