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All content following this page was uploaded by Joao Manuel R. S. Tavares on 27 July 2014.
Resumo. Actualmente, são cada vez mais comuns conjuntos de dados de elevada
dimensão e complexidade, para os quais os métodos tradicionais de visualização e
análise de dados tornam-se insuficientes e, por vezes, ineficientes. Através do sistema
visual, a percepção humana desempenha um papel importante na área da visualização,
auxiliando os processos cognitivos. Considerar factores da percepção visual humana no
desenvolvimento de ferramentas computacionais de visualização de dados complexos e
elevada dimensão, assume um papel fundamental. Este artigo apresenta conceitos
fundamentais da percepção visual humana aplicáveis à visualização, identificando os
principais factores a serem considerados aquando da implementação de sistemas
computacionais para tal propósito.
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares
1. INTRODUÇÃO
Actualmente, a quantidade de dados disponíveis é incrementada de forma contínua e
considerável, sendo usual atingir-se milhões (se não biliões) de elementos de dados, podendo
cada elemento ter os mais variados atributos. Tal ocorre em muitos domínios do saber, fazendo
com que as aplicações dos métodos tradicionais para a visualização e análise de dados se
tornem insuficientes, complexos e ineficientes, [7].
A área de Visualização Cientifica é normalmente focada em representar
adequadamente na forma de imagens dados brutos, e assim fornecer meios de analisar
visualmente conjuntos de dados de elevada dimensão e complexos, sendo uma mais-valia na
descoberta de relacionamentos e dependências existentes nos mesmos. Isto porque as
visualizações, por intermédio das referidas representações visuais, fornecem apoio cognitivo
através de vários mecanismos que exploraram as vantagens da percepção humana, assim como
a rapidez do processamento visual. No entanto, a forma como os humanos percebem e reagem
ao resultado da visualização, ou seja às imagens geradas, influenciam fortemente o seu
entendimento sobre os dados e a sua utilidade. Assim, factores humanos podem contribuir
significativamente no processo de visualização e devem ter um papel importante no projecto e
na construção de ferramentas computacionais adequadas de visualização e análise de dados.
Deste modo, a análise dos dados torna-se mais rápida e exploratória, permitindo inclusive
novas inferências e descobertas quando os resultados exibidos se estabeleceram usando
técnicas de visualização, baseadas em regras perceptivas, principalmente as que exploram o
poder do sistema visual humano.
Recentemente, vários trabalhos de investigação começaram a explorar fortemente os
factores humanos na visualização e análise de dados, e são potencialmente promissores. No
entanto, ainda há muito a fazer nesta área; principalmente, se consideramos que o futuro da
computação estará na ubiquidade e nas suas interfaces adaptadas às pessoas e aos contextos,
[20].
Este artigo está organizado da seguinte forma: na secção 2, são apresentados os
conceitos que envolvem a visualização; na secção seguinte, são referidas algumas das
principais considerações teóricas da percepção humana aplicáveis à visualização e análise de
dados; na secção 4, é apresentado um modelo da percepção visual humana válido em termos
de visualização e em seguida, uma abordagem a este modelo de referência; a última secção
apresenta a conclusão deste trabalho.
2. VISUALIZAÇÃO
Num contexto mais geral, o termo Visualização significa construir uma imagem visual na
mente humana, e isto é mais do que uma representação gráfica de dados ou conceitos. Assim,
uma visualização pode funcionar como uma ferramenta cognitiva; tornando-se um artifício
externo para a construção de conhecimento utilizando as capacidades perceptivas e cognitivas
humanas. Isto vem de encontro ao referido por Stuart Card, em [2], que define, de forma mais
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares
Nos últimos quinze anos a Visualização vem destacando-se como uma área de estudo
autónoma, mas que recebe fortes contribuições de outras áreas do saber, como as ciências da
computação, psicologia, semiótica, design gráfico, cartografia, artes, e outras. Assim, a
Visualização é pertinente em vários campos de investigação mas tendo sempre um objectivo
comum: o uso da metáfora visual para a representação da estrutura e dos relacionamentos entre
os dados, [19].
O processo de representação visual de dados pode ser considerado quase interpretativo,
na medida que deverá, a partir de determinado conjunto de dados originais, gerar uma
interpretação visual dos mesmos. Modelos gráficos e representações visuais de dados deverão
ser usados para a análise e aquisição de informações úteis subjacentes aos mesmos, suportando
para isso a interacção directa do utilizador com as representações geradas.
Tipicamente, em Visualização Científica, os modelos gráficos são construídos com
dados medidos ou simulados, associados a fenómenos de natureza física, que frequentemente
carregam de forma intrínseca a componente do posicionamento espacial e/ou temporal que
permitem a representação de objectos ou conceitos do mundo físico e simulações
computacionais. As representações visuais geradas são derivadas dos dados originais e podem
considerar duas, três ou mesmo quatro dimensões, [4].
Na visualização da informação, os modelos gráficos acabam por representar conceitos e
relacionamentos abstractos, muitas vezes caracterizados por dados com múltiplos atributos
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares
relacionados, sendo que não se caracterizam nem pela sua natureza espacial nem temporal,
embora tais atributos também possam existir. Isto torna ainda mais complexa a tarefa de
representá-los visivelmente de forma adequada. Assim, os atributos associados aos dados a
representar devem ser caracterizados de acordo com diferentes critérios. A identificação
adequada desses critérios é determinante para caracterizá-los visualmente e por isso é
considerada uma das principais fases, e talvez a mais importante e complexa, de um processo
de visualização computacional no qual são considerados os principais conceitos da percepção
humana.
3. OS SENTIDOS E A PERCEPÇÃO
Os sentidos são a base da percepção humana, o sistema sensorial humano é constantemente
estimulado por um fluxo contínuo de acontecimentos envolventes. O resultado é uma excitação
neural chamada de sensação.
A peculiaridade da resposta de cada órgão sensorial depende dos receptores periféricos,
e cada uma dessas respostas são pertinentes à área neurológica onde terminam as vias aferentes
provindas destes receptores.
As percepções diferem em função das características físicas do estímulo e interpretam-
no em função das experiências anteriores a ele associado, possibilitando assim ao cérebro a
extracção de conhecimento. Este fluxo contínuo de sensações desencadeia o que é designado
por percepção.
As sensações externas são aquelas que reflectem as propriedades e os aspectos,
humanamente perceptíveis, do que se encontra no mundo exterior. Para tal, valem-se dos
sistemas sensoriais: visual, auditivo, gustativo, olfactivo e táctil, [5]. A resposta específica de
cada órgão dos sentidos aos estímulos que agem sobre os mesmos, é consequência da sua
adaptação ao tipo de estímulo envolvido. Por isso, é esperado que haja concordância entre as
sensações e os estímulos que as produzem.
Para maior eficiência, os vários órgãos sensitivos devem funcionar de forma integrada.
Geralmente, os sentidos funcionam associados e complementam-se; sendo que uma
determinada qualidade perceptiva, como por exemplo a grandeza, pode ser considerada para
vários sentidos em simultâneo.
A disposição para a integração, cooperação e concordância entre os vários sentidos é de
tal amplitude que, em situação de disparidade consensual, o sistema sensorial humano procura
ajustar-se para que a situação se adeqúe. Por exemplo, quando vamos ao cinema, as vozes que
ouvimos prevêem dos altifalantes dispostos em diferentes lugares na sala, mas acabamos por
mentalmente associar os sons como vindo directamente dos lábios em movimento dos actores,
embora tal não ocorra na realidade.
A visualização explora principalmente o sentido humano que possui maior aptidão para
captação de informação temporal: a visão. Além de ser o primeiro componente do sistema
sensorial, a visão é o sentido adquirido mais rapidamente pelo cérebro e possui ainda
capacidade de paralelismo; isto é, mesmo tendo a atenção focada num determinado ponto de
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uma cena visual, o que lhe circunvizinha, num raio bastante largo, também é alvo do sistema
de visão.
O sistema visual começa a operar quando um estímulo luminoso é detectado por um
neurónio sensitivo, o primeiro receptor sensorial, no caso em causa a retina. Este receptor
converte a manifestação física do estímulo, transformando-o em sinais eléctricos que serão
conduzidos a uma área de processamento primário no cérebro, gerando assim as características
iniciais de informação: cor, forma, distância, tonalidade, e outras.
Em termos da percepção, representações adequadas não são obtidas de forma arbitraria
e devem considerar muitas das propriedades do sistema visual humano, [21]. Assim, os bons
conhecimentos teóricos com directrizes científicas testadas devem ser a base fundamental para
ferramentas computacionais de visualização e análise de dados, [18].
*
A Psicologia da Gestalt é uma corrente de pensamento dentro da psicologia moderna, surgida na Alemanha nos
princípios do século XX; o termo Gestalt provem do alemão e foi introduzido pela primeira vez por Christian von
Ehrenfels. Não tem uma tradução única, mas entende-se geralmente como forma; no entanto, também poderia
traduzir-se como figura, configuração, estrutura ou aspecto. É importante distinguir da Terapia Gestalt, terapia
expoente da corrente humanista, fundada por Fritz Perls, e que surgiu nos Estados Unidos, na década de 1960.
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares
Figura/fundo: afirma que qualquer campo perceptivo pode dividir-se numa figura sobre
um fundo. A figura distingue-se do fundo por características como: tamanho, forma, cor
e posição. O objecto como figura só é percebido em primeiro plano com o fundo
devidamente separado da mesma.
a. Dominância da verticalidade: Uma linha vertical parecerá mais longa que uma linha
horizontal, mesmo quando as mesmas têm tamanhos idênticos. A ideia desse
comprimento maior deve-se à dominância da vertical na estrutura do campo perceptivo
humano.
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares
Tamanho: entre dois objectos de tamanhos distintos, mesmo que postos lado a
lado, o maior tende a parecer mais próximo e o menor mais distante.
Nitidez relativa: entre dois objectos que possuem graus diferenciados de nitidez,
o mais nítido parece mais próximo sendo mais rapidamente percebido.
se aplicar, de maneira distinta, os princípios da percepção visual; sendo que existem muitos
trabalhos de investigação que abrangem apenas uma destas fases.
Um modelo simplificado do sistema de processamento de informação através da
percepção visual humana é usualmente útil como ponto de partida para análises mais
detalhadas. Uma visão geral da estrutura englobada no sistema de visão humano é de extrema
valia para a compreensão dos processos envolvidos. O referido sistema é usualmente dividido
em três fases, [21]:
5. CONCLUSÕES
Contornar o problema da integração de requisitos da percepção humana na visualização
computacional de dados tem vindo cada vez mais a requerer esforços de diferentes áreas
científicas. Nomeadamente, quando a quantidade de dados torna-se de elevada dimensão e
com múltiplos atributos, o que torna bastante complexo o mapeamento computacional de tais
dados para a sua visualização adequada.
De forma a ultrapassar tais dificuldades existem já algumas soluções, como as
apresentadas em [18] e em [17], que procuram considerar fundamentos da teoria de
informação, de estatística, de data mining e de machine learning, de maneira a simplificar o
processo de mapeamento e representação visual tendo por base princípios de percepção visual.
A arte e o design também vêm acrescentando contribuições significativas a este domínio;
apesar do problema usual que é combinar áreas heterogéneas com o propósito de gerar
soluções genéricas e satisfatórias; no entanto, verifica-se a existência de convergências
favoráveis.
Considerando a visualização como um processo cognitivo, outros factores da percepção
humana também podem ser usados de forma a contribuir na visualização de informação;
auxiliando assim os processos cognitivos humanos na recuperação das informações contidas
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nos dados. Deste modo, todos os sentidos da percepção humana tem um papel importante na
área de Visualização Científica e podem melhorar significativamente tanto a qualidade como a
quantidade de informação que é apresentada através das imagens computacionalmente geradas,
[21].
A tendência será a inclusão de outros sentidos de forma a complementar as
visualizações científicas de dados. Por exemplo, o sistema auditivo fornece uma valiosa
alternativa e um complemento interessante à compreensão de dados científicos complexos e de
difícil entendimento, e neste sentido destaca-se sonificação (sonification). A sonificação é um
termo que descreve o uso do áudio não falado para representação de dados, objectivando o
transporte de informação, [13]. Assim, pode-se destacar o uso de som para auxiliar a
representação e a análise de dados, tal como é realizado, por exemplo, em [12] e [15].
Vislumbra-se assim que a sonificação possa vir a ajudar o mapeamento de dados associados a
padrões de difícil percepção visual; nomeadamente, grandes séries de dados e de
multidimensionalidade elevada, [13].
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