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Factores da Percepção Visual Humana na Visualização de Dados

Article · January 2007


Source: OAI

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Joao Manuel R. S. Tavares


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CMNE/CILAMCE 2007
Porto, 13 a 15 de Junho, 2007
© APMTAC, Portugal 2007

FACTORES DA PERCEPÇÃO VISUAL HUMANA NA


VISUALIZAÇÃO DE DADOS
Dulclerci Sternadt Alexandre1, João Manuel R. S. Tavares2*

1: Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto


Porto, Portugal
e-mail: mtm05036@fe.up.pt

2: Departamento de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial,


Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Lab. de Óptica e Mecânica Experimental,
Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial
Porto, Portugal
e-mail: tavares@fe.up.pt url: www.fe.up.pt/~tavares

Palavras-chave: Visualização, Percepção Visual, Gestalt, Factores Humanos.

Resumo. Actualmente, são cada vez mais comuns conjuntos de dados de elevada
dimensão e complexidade, para os quais os métodos tradicionais de visualização e
análise de dados tornam-se insuficientes e, por vezes, ineficientes. Através do sistema
visual, a percepção humana desempenha um papel importante na área da visualização,
auxiliando os processos cognitivos. Considerar factores da percepção visual humana no
desenvolvimento de ferramentas computacionais de visualização de dados complexos e
elevada dimensão, assume um papel fundamental. Este artigo apresenta conceitos
fundamentais da percepção visual humana aplicáveis à visualização, identificando os
principais factores a serem considerados aquando da implementação de sistemas
computacionais para tal propósito.
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares

1. INTRODUÇÃO
Actualmente, a quantidade de dados disponíveis é incrementada de forma contínua e
considerável, sendo usual atingir-se milhões (se não biliões) de elementos de dados, podendo
cada elemento ter os mais variados atributos. Tal ocorre em muitos domínios do saber, fazendo
com que as aplicações dos métodos tradicionais para a visualização e análise de dados se
tornem insuficientes, complexos e ineficientes, [7].
A área de Visualização Cientifica é normalmente focada em representar
adequadamente na forma de imagens dados brutos, e assim fornecer meios de analisar
visualmente conjuntos de dados de elevada dimensão e complexos, sendo uma mais-valia na
descoberta de relacionamentos e dependências existentes nos mesmos. Isto porque as
visualizações, por intermédio das referidas representações visuais, fornecem apoio cognitivo
através de vários mecanismos que exploraram as vantagens da percepção humana, assim como
a rapidez do processamento visual. No entanto, a forma como os humanos percebem e reagem
ao resultado da visualização, ou seja às imagens geradas, influenciam fortemente o seu
entendimento sobre os dados e a sua utilidade. Assim, factores humanos podem contribuir
significativamente no processo de visualização e devem ter um papel importante no projecto e
na construção de ferramentas computacionais adequadas de visualização e análise de dados.
Deste modo, a análise dos dados torna-se mais rápida e exploratória, permitindo inclusive
novas inferências e descobertas quando os resultados exibidos se estabeleceram usando
técnicas de visualização, baseadas em regras perceptivas, principalmente as que exploram o
poder do sistema visual humano.
Recentemente, vários trabalhos de investigação começaram a explorar fortemente os
factores humanos na visualização e análise de dados, e são potencialmente promissores. No
entanto, ainda há muito a fazer nesta área; principalmente, se consideramos que o futuro da
computação estará na ubiquidade e nas suas interfaces adaptadas às pessoas e aos contextos,
[20].
Este artigo está organizado da seguinte forma: na secção 2, são apresentados os
conceitos que envolvem a visualização; na secção seguinte, são referidas algumas das
principais considerações teóricas da percepção humana aplicáveis à visualização e análise de
dados; na secção 4, é apresentado um modelo da percepção visual humana válido em termos
de visualização e em seguida, uma abordagem a este modelo de referência; a última secção
apresenta a conclusão deste trabalho.

2. VISUALIZAÇÃO
Num contexto mais geral, o termo Visualização significa construir uma imagem visual na
mente humana, e isto é mais do que uma representação gráfica de dados ou conceitos. Assim,
uma visualização pode funcionar como uma ferramenta cognitiva; tornando-se um artifício
externo para a construção de conhecimento utilizando as capacidades perceptivas e cognitivas
humanas. Isto vem de encontro ao referido por Stuart Card, em [2], que define, de forma mais
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares

específica, a visualização como sendo “o uso de representações visuais de dados abstractos,


suportadas por computador e interactivas para ampliar a cognição”.
A visualização contribui de maneira mais significativa no processo de análise de dados
do que na simples observação dos mesmos. Ao organizar dados segundo critérios específicos,
com o objectivo final de visualizá-los, acaba-se por obter informações e possibilitar a
construção de novos conhecimentos sobre as mesmas. Assim, ferramentas computacionais de
visualização e análise podem dar apoio aos seus utilizadores em todo o processo de análise dos
dados envolvidos. Tipicamente, podem apoiar três actividades:

Análise exploratória – O utilizador pretende descobrir novos conhecimentos contidos


nos dados: através de um processo analítico, explora a representação visual e procura
indícios que possam sugerir indicações sobre tendências particulares e relações que
podem levar a alguma hipótese sobre as mesmas.
Análise de Confirmatória – O utilizador tem uma hipótese e o objectivo é, através da
exploração visual, determinar a evidência para aceitação ou rejeição dessa mesma
hipótese.
Apresentação – É utilizada para representação gráfica e apresentação do
relacionamento, estrutura, comportamento e outras características intrínsecas aos dados
em questão

Nos últimos quinze anos a Visualização vem destacando-se como uma área de estudo
autónoma, mas que recebe fortes contribuições de outras áreas do saber, como as ciências da
computação, psicologia, semiótica, design gráfico, cartografia, artes, e outras. Assim, a
Visualização é pertinente em vários campos de investigação mas tendo sempre um objectivo
comum: o uso da metáfora visual para a representação da estrutura e dos relacionamentos entre
os dados, [19].
O processo de representação visual de dados pode ser considerado quase interpretativo,
na medida que deverá, a partir de determinado conjunto de dados originais, gerar uma
interpretação visual dos mesmos. Modelos gráficos e representações visuais de dados deverão
ser usados para a análise e aquisição de informações úteis subjacentes aos mesmos, suportando
para isso a interacção directa do utilizador com as representações geradas.
Tipicamente, em Visualização Científica, os modelos gráficos são construídos com
dados medidos ou simulados, associados a fenómenos de natureza física, que frequentemente
carregam de forma intrínseca a componente do posicionamento espacial e/ou temporal que
permitem a representação de objectos ou conceitos do mundo físico e simulações
computacionais. As representações visuais geradas são derivadas dos dados originais e podem
considerar duas, três ou mesmo quatro dimensões, [4].
Na visualização da informação, os modelos gráficos acabam por representar conceitos e
relacionamentos abstractos, muitas vezes caracterizados por dados com múltiplos atributos
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares

relacionados, sendo que não se caracterizam nem pela sua natureza espacial nem temporal,
embora tais atributos também possam existir. Isto torna ainda mais complexa a tarefa de
representá-los visivelmente de forma adequada. Assim, os atributos associados aos dados a
representar devem ser caracterizados de acordo com diferentes critérios. A identificação
adequada desses critérios é determinante para caracterizá-los visualmente e por isso é
considerada uma das principais fases, e talvez a mais importante e complexa, de um processo
de visualização computacional no qual são considerados os principais conceitos da percepção
humana.

3. OS SENTIDOS E A PERCEPÇÃO
Os sentidos são a base da percepção humana, o sistema sensorial humano é constantemente
estimulado por um fluxo contínuo de acontecimentos envolventes. O resultado é uma excitação
neural chamada de sensação.
A peculiaridade da resposta de cada órgão sensorial depende dos receptores periféricos,
e cada uma dessas respostas são pertinentes à área neurológica onde terminam as vias aferentes
provindas destes receptores.
As percepções diferem em função das características físicas do estímulo e interpretam-
no em função das experiências anteriores a ele associado, possibilitando assim ao cérebro a
extracção de conhecimento. Este fluxo contínuo de sensações desencadeia o que é designado
por percepção.
As sensações externas são aquelas que reflectem as propriedades e os aspectos,
humanamente perceptíveis, do que se encontra no mundo exterior. Para tal, valem-se dos
sistemas sensoriais: visual, auditivo, gustativo, olfactivo e táctil, [5]. A resposta específica de
cada órgão dos sentidos aos estímulos que agem sobre os mesmos, é consequência da sua
adaptação ao tipo de estímulo envolvido. Por isso, é esperado que haja concordância entre as
sensações e os estímulos que as produzem.
Para maior eficiência, os vários órgãos sensitivos devem funcionar de forma integrada.
Geralmente, os sentidos funcionam associados e complementam-se; sendo que uma
determinada qualidade perceptiva, como por exemplo a grandeza, pode ser considerada para
vários sentidos em simultâneo.
A disposição para a integração, cooperação e concordância entre os vários sentidos é de
tal amplitude que, em situação de disparidade consensual, o sistema sensorial humano procura
ajustar-se para que a situação se adeqúe. Por exemplo, quando vamos ao cinema, as vozes que
ouvimos prevêem dos altifalantes dispostos em diferentes lugares na sala, mas acabamos por
mentalmente associar os sons como vindo directamente dos lábios em movimento dos actores,
embora tal não ocorra na realidade.
A visualização explora principalmente o sentido humano que possui maior aptidão para
captação de informação temporal: a visão. Além de ser o primeiro componente do sistema
sensorial, a visão é o sentido adquirido mais rapidamente pelo cérebro e possui ainda
capacidade de paralelismo; isto é, mesmo tendo a atenção focada num determinado ponto de
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares

uma cena visual, o que lhe circunvizinha, num raio bastante largo, também é alvo do sistema
de visão.
O sistema visual começa a operar quando um estímulo luminoso é detectado por um
neurónio sensitivo, o primeiro receptor sensorial, no caso em causa a retina. Este receptor
converte a manifestação física do estímulo, transformando-o em sinais eléctricos que serão
conduzidos a uma área de processamento primário no cérebro, gerando assim as características
iniciais de informação: cor, forma, distância, tonalidade, e outras.
Em termos da percepção, representações adequadas não são obtidas de forma arbitraria
e devem considerar muitas das propriedades do sistema visual humano, [21]. Assim, os bons
conhecimentos teóricos com directrizes científicas testadas devem ser a base fundamental para
ferramentas computacionais de visualização e análise de dados, [18].

3.1 Percepção da Forma


Uma das teorias da percepção mais largamente conhecida e adoptada em várias áreas, é a da
Gestalt. A Teoria da Gestalt * baseia-se no seguinte princípio: Não se pode ter conhecimento do
todo através das partes, e sim das partes através do todo; Que os conjuntos possuem leis
próprias e estas regem os seus elementos, e não o contrário, tal como se pensava
anteriormente; E que só através da percepção da totalidade é que o cérebro pode de facto
perceber, descodificar e assimilar uma imagem ou um conceito.
Na teoria de Gestalt a mente humana configura as informações através dos canais
sensoriais, percepção e/ou da memória (pensamento, cognição e resolução de problemas). Na
nossa experiência do meio ambiente, esta configuração tem um carácter primário sobre os
elementos que a conformam, e assim a soma destes últimos por si só não poderia levar-nos à
compreensão do todo. Esta delineação ilustra o axioma usado pela Gestalt: de que o todo é
mais do que a soma das partes, [16]. Vindo de encontro com o mantra da Visualização,
introduzido por um dos pioneiros desta área, Ben Schneiderman, [14]: “Overview first, zoom
and filter, then details-on-demand” (Primeiro, visão global, zoom e filtragem, posteriormente
os detalhes requeridos).
Segundo a teoria de Gestalt a actividade perceptiva está subordinada a um factor básico
de Pregnância. Um objecto é pregnante desde que exprima uma característica qualquer, de
maneira suficientemente forte para destacar-se, impor-se e ser de fácil evocação. As
características que determinam a pregnância de uma imagem são observadas nas Leis da teoria
de Gestalt, que são princípios estruturais e funcionais do campo perceptivo. Estas leis
estabelecem a forma como os elementos constitutivos de uma imagem podem vir a ser
percebidos em termos organizacionais, seguindo os princípios:

*
A Psicologia da Gestalt é uma corrente de pensamento dentro da psicologia moderna, surgida na Alemanha nos
princípios do século XX; o termo Gestalt provem do alemão e foi introduzido pela primeira vez por Christian von
Ehrenfels. Não tem uma tradução única, mas entende-se geralmente como forma; no entanto, também poderia
traduzir-se como figura, configuração, estrutura ou aspecto. É importante distinguir da Terapia Gestalt, terapia
expoente da corrente humanista, fundada por Fritz Perls, e que surgiu nos Estados Unidos, na década de 1960.
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares

Proximidade: estabelece que os elementos que se encontram próximos espacialmente e


temporalmente tendem a ser agrupados perceptivamente num conjunto, mesmo que não
possuam grande similaridade entre si.

Semelhança: os elementos que possuem características semelhantes ou iguais tendem a


ser agrupados em conjuntos; a similaridade dá-se principalmente em termos de cor,
forma e textura. A semelhança normalmente não se sobrepõe à proximidade.

Fechamento: elementos dispostos de maneira a formar um contorno fechado ou formas


incompletas tendem a ganhar maior grau de regularidade ou estabilidade, podendo a vir
ganhar unidade; isto refere-se à tendência da percepção humana em perceber formas
completas.

Simplicidade: elementos são percebidos mais facilmente quando apresentam simetria,


regularidade e não possuem texturas.

Continuidade: a percepção humana tende a orientar os elementos que parecem construir


um padrão ou um fluxo na mesma direcção; pois, pela continuidade da direcção e os
ligamentos contínuos entre elementos, são mais fáceis de perceber do que abruptas
modificações de direcção.

Figura/fundo: afirma que qualquer campo perceptivo pode dividir-se numa figura sobre
um fundo. A figura distingue-se do fundo por características como: tamanho, forma, cor
e posição. O objecto como figura só é percebido em primeiro plano com o fundo
devidamente separado da mesma.

3.2 Percepção Espacial


Considerando que muitas das representações visuais utilizadas na Visualização de dados
consideram três dimensões, é importante ter em conta a percepção espacial, mesmo esta seja
apenas simulada computacionalmente.
A percepção espacial não é associada a um órgão específico e é usualmente
considerada como supra-modal e vale-se de elementos da percepção visual, auditiva e
temporal. Em termos visuais, a percepção espacial é principalmente afectada pela distância
entre os objectos e o tamanho relativo dos mesmos; a combinação destes dois factores com
outros agentes pode ser especialmente útil na percepção e simulação espacial. Neste sentido,
destacam-se os seguintes aspectos a serem observados, [10]:

a. Dominância da verticalidade: Uma linha vertical parecerá mais longa que uma linha
horizontal, mesmo quando as mesmas têm tamanhos idênticos. A ideia desse
comprimento maior deve-se à dominância da vertical na estrutura do campo perceptivo
humano.
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares

b. As partes e a totalidade: A percepção das partes é afectada pelas relações


estabelecidas entre os objectos no campo perceptivo, não dependendo apenas dos
estímulos individuais dos mesmos.

c. Superfícies: A percepção de diferentes superfícies está relacionada com as


composições heterogéneas das mesmas. Na ausência dessas diferenças não é possível a
sua aquisição nem a sua localização.

d. Volume e Profundidade: Neste caso, existem algumas particularidades:

Sobreposição: se um objecto está sobreposto a outro, cobrindo-o parcialmente,


o primeiro será percebido como mais próximo e o último como mais distante.

Tamanho: entre dois objectos de tamanhos distintos, mesmo que postos lado a
lado, o maior tende a parecer mais próximo e o menor mais distante.

Paralaxe de movimento: diferentes direcções podem ser percebidas de acordo


com a posição dos objectos, os mais distantes parecem acompanhar o
movimento do observador, enquanto os mais próximos podem ser percebidos
em movimento segundo a direcção oposta.

Nitidez relativa: entre dois objectos que possuem graus diferenciados de nitidez,
o mais nítido parece mais próximo sendo mais rapidamente percebido.

Luz e Sombra: indicações distintas de profundidade podem ser obtidas a partir


de combinações de modelos de luz e sombra.

Perspectiva linear: regulam a impressão de distância o grau de convergência


entre figuras e o tamanho das mesmas.

Gradiente de textura: devido a geometria da situação espacial, uma textura


uniforme é projectada na retina de uma forma tal que, quanto maior a distância,
maior a densidade da textura na imagem.

4. MODELO DA PERCEPÇÃO VISUAL HUMANA


Todas as observações até agora referidas sobre o sistema de percepção humano podem ser
aplicadas de maneira a obter o maior proveito possível das visualizações geradas. No entanto,
a fim de suscitar novas informações, destacar outras ou induzir o utilizador a perceber
propositadamente determinadas informações a partir dos dados, deve-se considerar ainda
outros conceitos, tornando-se necessário entender adequadamente todas as fases do
processamento perceptível. É relevante salientar que em cada uma das fases envolvidas pode-
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares

se aplicar, de maneira distinta, os princípios da percepção visual; sendo que existem muitos
trabalhos de investigação que abrangem apenas uma destas fases.
Um modelo simplificado do sistema de processamento de informação através da
percepção visual humana é usualmente útil como ponto de partida para análises mais
detalhadas. Uma visão geral da estrutura englobada no sistema de visão humano é de extrema
valia para a compreensão dos processos envolvidos. O referido sistema é usualmente dividido
em três fases, [21]:

1. Processamento paralelo para extrair propriedades de baixo nível da cena visual em


causa;

2. Percepção de padrões na imagem formada;

3. Processamento sequencial dirigido.

4.1 - Processamento paralelo


A informação visual é a primeira a ser processada por biliões de neurónios que
trabalham em paralelo para extrair características de partes da imagem visual considerada;
sendo que determinados neurónios são dedicados a extrair certas informações como:
orientação dos contornos, cor, textura e padrões de movimento. É nesta fase que literalmente é
determinado ao que se deve dar atenção; assim, nesta fase as informações são essencialmente
de natureza transitória, [21].
Durante alguns anos, a forma como o sistema visual humano analisa imagens foi tema
de vasta investigação. Um dos resultados iniciais mais importantes foi a descoberta de um
conjunto de propriedades visuais que são detectadas de forma precisa e muito rápida pelo
sistema visual de baixo nível. Esta propriedade foi inicialmente designada por preattentive,
correspondendo ao momento anterior à nossa atenção estar focalizada. Em Visualização, o
termo preattentive continua a ser usado e traduz a noção da velocidade e de facilidade com que
certas propriedades são identificadas pelos humanos nas imagens visualizadas. A lista de
características que se processam de forma preattentive pode ser dividida em quatro categorias
básicas: cor, forma, movimento e localização espacial. Sendo que dentro de uma determinado
espaço de visualização, qualquer modificação das características preattentive de um objecto
em relação às demais, poderá alterar foco de atenção, [6].

4.2 Percepção de Padrões


Na segunda etapa, processos activos decompõem rapidamente o campo visual em
regiões e padrões simples; tais como contornos contínuos, regiões de cor semelhante e regiões
com textura idêntica. Os padrões de movimento são extremamente importantes; contudo, em
Visualização Cientifica é relativamente negligenciado o uso de movimento como informação.
A etapa de determinação de padrões no processamento visual é extremamente flexível e
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares

influenciada pelas informações disponibilizadas pela primeira etapa de processamento


paralelo.
Nesta segunda etapa o processamento é mais lento e envolve: a memória a longo prazo;
maior ênfase a aspectos proeminentes; mecanismo de atenção, tanto top-down quanto bottom-
up; e movimentos visualmente guiados, através de diferentes caminhos, para reconhecimento
de objectos, [21].

4.3 Processamento Sequencial Dirigido


Num nível mais elevado da percepção estão as imagens presentes na memória visual
através das demandas da atenção activa, e será esta memória que ajudará a responder às
pesquisas visuais.
A quando da visualização externa, o sistema humano constrói uma sequência de
pesquisas visuais que serão respondidas por estratégias visuais de procura. Neste nível, o que
está retido na memória por um determinado período de tempo permitirá a construção de
padrões, utilizando os já disponíveis, e respostas as pesquisas visuais. Por exemplo, se usamos
um mapa de estrada para procurar uma determinada rota, a pesquisa visual desencadeará uma
procura para ligar contornos vermelhos (que habitualmente representam vias importantes)
entre dois símbolos visuais (representando as cidades pretendidas), [21].
Portanto, outro factor a ser levado em conta, em termos de percepção visual, é a
experiência passada; que no caso das associações, é fundamental para o processo da percepção,
pois só podemos compreender o que já tivemos consciência prévia, tanto que a medida que
adquirimos novas informações a nossa percepção se altera. Isto faz-nos concluir que a
percepção visual é o resultado da interacção intrínseca entre: informações externas adquiridas
pelo sistema visual e informações internas baseadas no conhecimento previamente adquirido,
[11]

5. ABORDAGEM DO MODELO DE REFERÊNCIA


Considerando o modelo de referência para visualização apresentado por [2], podemos destacar
três fases do processo de visualização: preparação dos dados (usualmente designada por pré-
processamento), mapeamento e transformação visual (comummente conhecida por rendering).
Na primeira fase, temos na sua entrada os dados brutos que, após operações de formatação
e/ou normalização, deverão estar na sua saída organizados numa representação lógica e
estruturada, como, por exemplo, através de tabelas. Na fase de mapeamento, faz-se a
associação entre os dados e as representações gráficas; uma estrutura visual que suporta os
dados previamente formatados é usada na fase de rendering para a geração de uma imagem de
visualização dos dados envolvidos.
Sendo no mapeamento que se deve assinalar quais os requisitos em relação à percepção
visual que deverão ser observados e quais ainda poderão ser exacerbados intencionalmente, a
fim de facilitar a compreensão dos dados ou suscitar novas informações, o mapeamento é
considerado como crucial em Visualização Científica.
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares

A escolha de uma representação gráfica adequada para os dados, e que considere


adequadamente os princípios da percepção humana, não é uma tarefa simples, e consiste num
dos principais desafios da Visualização Científica; principalmente, na visualização de dados
abstractos, que são caracterizados pela falta da noção natural de posicionamento espacial, [19].
Esta dificuldade em implementar computacionalmente uma representação dos dados baseada
nos princípios da percepção humana, leva alguns autores a defenderem que isso nunca será
plenamente conseguido, [1]; pois existe um grande número de atributos associados aos dados
que pretendem valer-se da aplicação concorrente dos princípios da percepção, dificultando
assim as representações visuais mais adequadas.
O tema da escolha automática de uma representação gráfica adequada para a
visualização e análise de dados não é inovador. Um trabalho pioneiro foi realizado por
Mackinlay, que aplicando técnicas de Inteligência Artificial desenvolveu uma ferramenta, a
APT - A Presentation Tool, para automatizar a apresentação gráfica bidimensional de
informação extraída de uma base de dados relacional. As representações gráficas 2D são
construídas à custa de elementos gráficos, como pontos, linhas e áreas, que traduzem
informação através da sua posição, evolução no tempo, e outras propriedades perceptíveis, tais
como a cor, forma, tamanho, textura e orientação, [8].
Segundo Mackinlay, a escolha da representação adequada para um determinado
conjunto de dados, deve ser baseada em critérios de expressividade (expressiveness) e eficácia
(effectiveness). O critério de expressividade diz respeito às representações gráficas que
traduzem exactamente a informação com interesse para o utilizador, [9]. O critério de eficácia
está relacionado com a facilidade de compreender as representações e as informações que elas
expressam.
Além de manter a integridade dos dados geradores, a visualização deve ser
caracterizada tanto pela facilidade de leitura, quanto pela aptidão em fornecer o que se deseja a
partir da interpretação da imagem gerada, [3].
Para ser efectiva, uma visualização deve transmitir rapidamente as informações e não
induzir a erros; para tal, deve atender às capacidades de percepção da visão humana. Segundo
[3], tanto a expressividade como a eficácia são dependentes da percepção humana, pois não há
efectividade sem uma representação expressiva que esteja de acordo com os requisitos da
percepção humana.
Relacionado atributos visuais, Mackinlay elaborou uma tabela de prioridades de acordo
com o seu grau de acuidade em termos perceptivos e a natureza dos dados. Na Tabela 1, são
considerados três tipos de dados aos quais vão sendo apresentados por ordem decrescente os
atributos visuais perceptíveis.
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares

Percepção Dados Quantitativos Dados Ordinais Dados Nominais


Maior Posição Posição Posição
Comprimento Densidade Croma de Cor (hue)
Ângulo Saturação de cor Textura
Inclinação Croma de cor (hue) Conexão
Área Textura Delimitação
Volume Conexão Densidade
Densidade Delimitação Saturação de cor
Saturação de cor Comprimento Forma
Croma de cor (hue) Ângulo Comprimento
Textura Inclinação Ângulo
Conexão Área Inclinação
Delimitação Volume Área
Menor Forma Forma Volume
Tabela 1 – Tabela da acuidade de percepção dos atributos visuais, segundo Mackinlay, [9].
Os sombreados não são considerados relevantes para o tipo de dado em questão.

O valor de um determinado sistema computacional de visualização de dados pode ser


determinado pelas capacidades perceptíveis e do conhecimento obtido pelo seu utilizador a
partir das imagens de visualização geradas pelo mesmo sistema. No entanto, apesar de já
existir algum trabalho - por exemplo, em [21] é exposto de maneira ampla os aspectos da
percepção e como esses podem ser usados para melhorar a visualização, falta ainda uma
maneira de fazê-lo de forma mais quantitativa e que resolva adequadamente a aplicação
frequente de requisitos contraditórios, [22].

5. CONCLUSÕES
Contornar o problema da integração de requisitos da percepção humana na visualização
computacional de dados tem vindo cada vez mais a requerer esforços de diferentes áreas
científicas. Nomeadamente, quando a quantidade de dados torna-se de elevada dimensão e
com múltiplos atributos, o que torna bastante complexo o mapeamento computacional de tais
dados para a sua visualização adequada.
De forma a ultrapassar tais dificuldades existem já algumas soluções, como as
apresentadas em [18] e em [17], que procuram considerar fundamentos da teoria de
informação, de estatística, de data mining e de machine learning, de maneira a simplificar o
processo de mapeamento e representação visual tendo por base princípios de percepção visual.
A arte e o design também vêm acrescentando contribuições significativas a este domínio;
apesar do problema usual que é combinar áreas heterogéneas com o propósito de gerar
soluções genéricas e satisfatórias; no entanto, verifica-se a existência de convergências
favoráveis.
Considerando a visualização como um processo cognitivo, outros factores da percepção
humana também podem ser usados de forma a contribuir na visualização de informação;
auxiliando assim os processos cognitivos humanos na recuperação das informações contidas
Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares

nos dados. Deste modo, todos os sentidos da percepção humana tem um papel importante na
área de Visualização Científica e podem melhorar significativamente tanto a qualidade como a
quantidade de informação que é apresentada através das imagens computacionalmente geradas,
[21].
A tendência será a inclusão de outros sentidos de forma a complementar as
visualizações científicas de dados. Por exemplo, o sistema auditivo fornece uma valiosa
alternativa e um complemento interessante à compreensão de dados científicos complexos e de
difícil entendimento, e neste sentido destaca-se sonificação (sonification). A sonificação é um
termo que descreve o uso do áudio não falado para representação de dados, objectivando o
transporte de informação, [13]. Assim, pode-se destacar o uso de som para auxiliar a
representação e a análise de dados, tal como é realizado, por exemplo, em [12] e [15].
Vislumbra-se assim que a sonificação possa vir a ajudar o mapeamento de dados associados a
padrões de difícil percepção visual; nomeadamente, grandes séries de dados e de
multidimensionalidade elevada, [13].

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Dulclerci Sternadt Alexandre, João Manuel R. S. Tavares

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