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Síntese dos capítulos 1 e 2 do livro:

“A formação do espírito científico” de Gaston Bachelard

Estudante: Karine Angélica de Deus

Bachelard inicia o primeiro capítulo, explicitando que os obstáculos


epistemológicos, são aqueles que causam a estagnação, a inércia das investigações.
Acredita-se que é através do ato de conhecer que surgem os conflitos e os obstáculos, e,
no entanto, este ato “dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos
mal estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização”
(p. 17). É impossível anular todo nosso conhecimento anterior de uma só vez, pois,
“aquilo que cremos saber com clareza ofusca o que deveríamos saber” (p. 18).

O autor comenta sobre a relação entre a ciência e a opinião/subjetividade. A


ciência não aceita a opinião, na verdade a proíbe, interpretando-a sempre como errada.
“A opinião pensa mal; não pensa: traduz necessidades em conhecimentos” (p. 18). A
partir do momento que determina o objeto pela necessidade, cria-se um obstáculo para
conhecê-lo. A opinião é vista como um primeiro obstáculo a ser destruído e superado.

Na vida científica é necessário saber perguntar e formular problemas, pois, se não


há pergunta não há conhecimento. A partir do momento que os conhecimentos se
naturalizam se transformando em discursos pré-construídos, não se questiona mais esses
conhecimentos, e o obstáculo epistemológico se agarra a isso. “Nosso espírito tem a
tendência irresistível de considerar como mais clara a ideia que costuma utilizar com
frequência” (BERGSON apud BACHELARD, p. 19). Esses conhecimentos acabam
ganhando uma clareza abusiva, e se supervalorizam indevidamente. “O conhecimento
empírico (...) envolve o homem sensível por todas as expressões de sua sensibilidade”
(p. 19). Mas quando este conhecimento se racionaliza não se pode garantir que ele não
vá interferir.

“A noção de obstáculo epistemológico pode ser estudada no desenvolvimento


histórico do pensamento científico e na prática da educação” (p. 20). Muito do que se
encontra na história do pensamento científico está longe de contribuir para com a
evolução do pensamento, uma vez que conhecimentos embora corretos interrompam
cedo demais as pesquisas. Poder-se-ia descobrir novos conhecimentos. O epistemólogo
deve tomar os fatos com se fossem ideias. Se o fato for mal interpretado em
determinada época, este se transformará num obstáculo. Dessa forma, “é o esforço de
racionalidade e de construção que deve reter a atenção do epistemólogo” (p. 22).

No que se refere a educação, “a noção de obstáculo pedagógico também é


desconhecida” (p. 23). O aluno ao entrar em sala de aula carrega consigo conhecimentos
empíricos já formulados, logo, não se deve fazê-lo adquirir um novo conhecimento, mas
mudar os conhecimentos já formulados derrubando os obstáculos já consolidados. No
entanto não é isso o que ocorre realmente. Segundo o autor, toda cultura científica deve
começar pelos conhecimentos prévios.

Segundo o Bachelard a primeira observação de um fenômeno, que se coloca


antes da crítica, sempre se constitui em um obstáculo inicial, pois, basta descrevê-la que
nos parece que já a compreendemos, sendo um perigo generalizarmos situações a
primeira vista. Bachelard então irá caracterizar este obstáculo, e mostrará que há ruptura
entre a observação e experimentação e nos alerta que devemos abandonar o empirismo
imediato, pois, este é falso. No entanto, serve para desprender o pensamento.

O autor afirma que “o espírito científico deve formar-se contra a Natureza, contra
o que é, em nós e fora de nós, o impulso e a informação da natureza, contra o
arrebatamento natural, contra o fato colorido e corriqueiro. O espírito científico deve
formar-se enquanto se reforma” (p. 29).

Os livros de ensino científico moderno estão desligados das observações


primeiras, o que não ocorria no período pré-científico, no século XVIII. O livro de
ensino científico moderno comanda o aluno, formula suas próprias perguntas, enquanto
os livros científicos do século XVIII dialogavam com o aluno, e este e o autor
pensavam num mesmo nível, além disso, tinham por ponto de partida a natureza, e se
interessava pela vida cotidiana, divulgava conhecimentos populares, sem se preocupar
com rigor ou vulgarização. A partir desse momento o autor faz observações gerais sobre
os livros didáticos para mostrar as diferenças nos dois períodos que deseja caracterizar.

Segundo o autor, as ciências experimentais ao “oferecer uma satisfação imediata


à curiosidade, de multiplicar as ocasiões de curiosidade, em vez de benefício pode ser
um obstáculo para a cultura científica. Substitui-se o conhecimento pela admiração, as
ideias pelas imagens” (p. 36). È muito fácil limitar-se ao empirismo, considerar que um
fato é um fato e proibir as buscar de leis, não se faz necessário compreendê-lo basta vê-
lo.

O pensamento pré-científico procura pela variedade, o que leva o espírito de um


objeto a outro sem método, com objetivo de apenas ampliar conceitos. É dada muito
mais atenção, ao natural, por achá-lo mais rico que o artificial.

Outro aspecto que o autor destaca é a “ficção científica”, em que as considera


como divertidas, mas nunca instrutivas, uma vez que se apoiam na forma concreta se
esquecendo da abstrata do fenômeno, criando muitas vezes aberrações. “Chega-se, por
meio de imagens tão simplistas, a estranhas sínteses” (p. 46). Nesse sentido, o autor
aponta a não aceitação de imagens pela ciência.

Segundo o autor, sem a devida racionalização da experiência determinado por um


problema, pode acabar surgindo o “inconsciente do espírito científico” (p. 51). Para que
isso não ocorra deve-se reavivar a crítica e sempre voltar continuamente a origem de seu
problema, pois este é o “estado de vigor psíquico, ao momento em que a resposta saiu
do problema” (p. 51). Para que se possa falar em racionalização a experiência deve ser
“inserida num jogo de razões múltiplas” (p. 51), sendo que estas se opõem as primeiras
percepções, ao imediatismo, a necessidade e a crença de partir do certo.

Através de vários exemplos Bachelard nos mostra que “o que existe de mais
imediato na experiência primeira somos nós mesmos, nossas surdas paixões, nossos
desejos inconscientes” (p.57). Romper com esse primeiro paradigma é condição para
que o pesquisador consiga mover-se assintoticamente a verdade. O autor destaca ainda
que os professores, ao propiciarem a experiência primeira aos seus alunos deve garantir
que a observação não pare por ai. Nesses primeiros capítulos, Bachelard deixa claro que
existem outros obstáculos epistemológicos que serão tratados nos próximos capítulos de
sua obra.

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