Você está na página 1de 17

doi: 10.13037/gr.vol31n93.

2637

CONSTRUÇÃO DE MERCADOS: UM ESTUDO NO MERCADO DE NOTEBOOKS


PARA BAIXA RENDA
MARKET CONSTRUCTION: A STUDY ON NOTEBOOK MARKET FOR LOW INCOME
POPULATION
Vitor Koki da Costa Nogami
Doutorando em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Data de recebimento: 16-01-2015
da Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brasil Data de aceite: 28-05-2015
Francisco Giovanni David Vieira
Professor associado do Departamento de Administração e do Programa de Pós-Graduação em
Administração da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá (PR), Brasil
Juliana Medeiros
Doutoranda em Administração pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba (PR),
Brasil

RESUMO
Este artigo busca investigar a construção de mercados sob a perspectiva da literatura de market-making, focando especifi-
camente em práticas de mercado – representadas pelas práticas de troca, práticas normativas e práticas representacionais
– e na relação entre as organizações e o mercado – representada pela cocriação de valor entre os diferentes agentes. Como
recorte empírico foi escolhido o mercado de notebooks para baixa renda. A coleta de dados foi realizada in loco com con-
sumidores, varejistas e fabricantes, por meio de entrevistas survey e observação de lojas e websites. Os resultados apontam
que a formatação desse mercado acontece em polos comerciais de ruas devido à concentração de lojas e alto fluxo de pes-
soas, e o principal valor cocriado por esses agentes é o prazo de pagamento. Ademais, o artigo contribui com uma pesquisa
teórico-empírica utilizando a literatura de market-making, ainda inicial na área de marketing.

Palavras-chave: Construção de mercado; formatação de mercado; práticas de mercado; baixa renda; notebooks.

ABSTRACT
This study aims to investigate how markets are constructed from the perspective of market-making literature, specifically
focusing on the market practices – represented by exchange, normative and representational practices – and on the rela-
tionship between organizations and market – represented by the co-creation value of both agents. The market of notebooks
for low-income customers was chosen as empirical cutting. Data collection was performed in loco with consumers, retailers
and manufacturers, by survey interview as well as websites and stores observation. The results show that the market for-
matting happens in commercial street poles, due to the concentration of shops and high flow of people, and the main co-
-created value by these agents is the payment deadline. Furthermore, the paper contributes with a theoretical and empirical
research using the literature of market-making, still early in the marketing area.

Keywords: Market construction; market formatting; market practice; low-income; notebooks.

Endereço dos autores:


Vitor Koki da Costa Nogami Francisco Giovanni David Vieira Juliana Medeiros
vitornogami@gmail.com fgdvieira@uem.br julianamedeiros84@gmail.com

Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015 59


Vitor Koki da Costa Nogami et al.

1. INTRODUÇÃO condição de que a área de marketing é responsá-


vel por ligar a organização ao mercado.
Este artigo aborda o processo de constru- A proposta de Araujo, Finch e Kjellberg (2010)
ção de mercados. A literatura que o susten- consiste em diferenciar as tarefas e ferramentas de
ta está fundamentada nas práticas de mercado marketing das práticas de mercado. É frequente
(KJELLBERG; HELGESSON, 2006; ARAUJO, 2007; encontrar atividades gerenciais de marketing com
ANDERSSON ; ASPENBERG; KJELLBERG, 2008; caráter pontual e unilateral, onde não são consi-
ARAUJO; FINCH; KJELLBERG, 2010; HAGBERG; derados todos os componentes do mercado. Essas
KJELLBERG, 2010), representadas pelas práticas atividades gerenciais são equivocadamente chama-
de troca, práticas normativas e práticas represen- das de práticas. As práticas de mercado no senti-
tacionais, bem como na relação entre as organi- do da “práxis” não são atividades pontuais, mas
zações e o mercado (PRAHALAD; RAMASWAMY, ações praticadas por agentes que colaboram para
2004; PEÑALOZA; VENKATESH, 2006; PAYNE et a formatação de mercados (FINCH; GEIGER, 2011;
al., 2008; HAMMERVOLL; TOFTEN, 2010; FINCH; STORBACKA; NENONEN, 2011). Tais práticas, por-
GEIGER, 2011), representada pela cocriação de va- tanto, são responsáveis por formatar e modelar o
lor entre os diferentes agentes de mercado. mercado (FINCH; GEIGER, 2011).
É comum encontrar literatura abordan- Uma das consequências das práticas de merca-
do aspectos de marketing, contudo, raramen- do entre os diversos agentes é a cocriação de valor.
te estão relacionados diretamente ao mercado O valor de um produto ou serviço não é cocriado
(ANDERSSON ; ASPENBERG; KJELLBERG, 2008). apenas por uma organização e seus respectivos
Essa afirmativa parece paradoxal, porém, visto consumidores, mas também por outros agentes,
que as pesquisas em marketing têm se tornado tais como fornecedores, distribuidores, varejistas
cada vez mais específicas, procurando solucionar e terceirizados (HAMMERVOLL; TOFTEN, 2010).
problemas muito restritos, consequentemente a Nesse sentido, são fundamentais três processos, os
abrangência do mercado acaba se tornando es- quais são relativos ao consumidor, à organização e
quecida pelos praticantes e principalmente pe- ao encontro entre o consumidor e a organização
los acadêmicos de marketing. Por outro lado, (PAYNE et al., 2008). Ainda, cada agente de merca-
apesar da estreita relação entre a disciplina de do também possui seu processo de cocriação.
marketing e as atividades dos profissionais de No que se refere ao recorte empírico, este arti-
mercado, a literatura existente não tem enfoca- go enfoca a compra de notebooks pela população
do práticas que são desenvolvidas com o sentido de baixa renda. É possível observar que no Brasil
de conectar marketing ao mercado (ANDERSSON as empresas cada vez mais procuram oferecer pro-
; ASPENBERG; KJELLBERG, 2008). Isso faz com dutos e serviços para essa parcela da população,
que, paradoxalmente, o termo mercado esteja uma vez que tanto a quantidade de pessoas como
em todo lugar e em lugar nenhum na literatu- o poder de consumo desse segmento têm aumen-
ra (ARAUJO; FINCH; KJELLBERG, 2010). Uma tado significativamente nos últimos anos (BARKI;
forma de encaminhar essa questão do ponto de PARENTE, 2010). Não obstante tal importância de-
vista teórico, conforme propõem Araujo, Finch e mográfica e mercadológica, o mercado de baixa
Kjellberg. (2010), consiste em estudar os agen- renda ainda se encontra em fase inicial de estudo
tes no mercado com base em suas práticas, por e algumas lacunas ou dificuldades conceituais têm
um lado, e suas relações interorganizacionais, sido encontradas nas pesquisas relacionadas a esse
por outro. Desse modo, estaria caracterizada a mercado, iniciando-se pela própria classificação ou

60 Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015


CONSTRUÇÃO DE MERCADOS: UM ESTUDO NO MERCADO DE NOTEBOOKS PARA BAIXA RENDA

compreensão do que seja base da pirâmide e baixa mercados pela perspectiva de market-making, não
renda (RANGAN et al., 2011). Portanto, estudá-los tradicionalmente utilizada nas publicações conven-
sob a perspectiva teórica de construção de mer- cionais em marketing. O referencial teórico deste
cado é uma oportunidade para se avançar tanto artigo está fundamentado em dois desses elemen-
na compreensão do consumo por consumidores tos: formatação de mercado, especificamente no
de baixa renda, quanto na construção de mercado que se refere às práticas de mercado; e na relação
baseada em práticas de mercado e na cocriação entre as organizações (agentes) e o mercado base-
de valor. Essa é uma das principais contribuições ada no conceito de cocriação de valor.
do artigo, envolvendo um aparato teórico não con-
vencional na área de marketing com foco de mer- 2.1. Práticas de mercado na formatação de
cado emergente. mercados
Desse modo, o objetivo deste artigo é investi-
gar como os agentes formatam práticas para co- Estudar mercados implica estudar as ações que
nectar o consumidor de baixa renda ao mercado ocorrem continuamente, as quais podem modificar
de notebooks, bem como identificar quais práticas relações, remodelar estruturas e redefinir intera-
entre os agentes cocriam valor para o mercado de ções. Essas ações, aqui, são tratadas como práticas
notebooks construído para a baixa renda. No sen- de mercado que possibilitam formatar mercados.
tido de sua apresentação, o artigo expõe teorica- Dessa maneira, três pressupostos direcionam as
mente os conceitos de práticas de mercado (trocas, práticas de marketing com intuito de formatar
normas e representações), cocriação de valor (criar mercados: (a) não existe um conjunto estável de
valor entre diferentes agentes do mercado) e baixa práticas ou ideias que podem ser chamadas de ati-
renda. Posteriormente, são descritos os indicativos vidades ou técnicas de marketing, sem que haja
metodológicos abordando como os dados da pes- controvérsias, consequentemente, devem-se levar
quisa foram coletados e analisados. Em seguida, em consideração as contingências locais e as cons-
os resultados são apresentados e analisados sob tantes mudanças do meio ao relacionar marke-
os dois aspectos principais tratados no referencial ting e mercado; (b) o processo de formatação de
teórico. Ao final, são tecidas considerações acerca mercado é complexo e exige múltiplos esforços
do estudo, destacando suas contribuições e propo- de marketing, por isso, o esforço de apenas um
sições para futuras pesquisas. agente na realização de atividades de marketing
não é suficiente para explicar toda a construção
2. PRÁTICAS DE MERCADO E COCRIÇÃO do mercado; e (c) o mercado regularmente é re-
DE VALOR NA BAIXA RENDA sultado de alta variedade de formas, portanto, não
há nenhum resultado único para a formatação de
O suporte teórico que norteia a literatura pro- mercados (ARAUJO ; FINCH; KJELLBERG, 2010), ou
posta por Araujo, Finch e Kjellberg (2010) envolve seja, o resultado é coerente com o meio em que o
cinco elementos chaves no que diz respeito à cons- mercado está inserido.
trução e formatação de mercado: (a) trocas eco- A expressão “prática” assume diversos signi-
nômicas e sociais; (b) formatação de mercados; (c) ficados em diferentes campos de pesquisa e, por
valores e conhecimento especializado de mercado; isso, antes de iniciar a discussão teórica, é impor-
(d) desestabilização e limites de mercado; e (e) a tante caracterizar o que significa “prática” neste
relação entre as organizações e o mercado. Essa li- estudo. Prática, aqui, refere-se à práxis (practice)
teratura busca estudar a relação entre marketing e e não à praktik. A prática como “praktik” diz

Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015 61


Vitor Koki da Costa Nogami et al.

respeito ao hábito, costume, rotina e praticidade. de mercado: trocas, normatização e representação


Esta não é a ideia da prática que será utilizada no (HAGBERG; KJELLBERG, 2010, FINCH; GEIGER,
presente artigo. A prática como “práxis” envolve 2011; STORBACKA; NENONEN, 2011; GEIGER;
mais do que este simples elementos, a práxis está KJELLBERG; SPENCER, 2012).
diretamente relacionada com a formatação dos
mercados, noção de movimento e continuidade 2.1.1. Práticas de trocas
que permite modelar o mercado (FINCH; GEIGER,
2011). Está associada com a noção de ordenamen- Estudar o mercado não consiste simplesmente
to e reprodução do mercado, ou seja, a ação de em compreender os aspectos econômicos envolvi-
cada agente no mercado colaborando com a re- dos nas relações de trocas, pois estão fundamenta-
produção do próprio mercado, reprodução no sen- das em mais do que uma simples relação de troca
tido de formação continuada (ARAUJO ; FINCH; entre comprador e vendedor. Tais trocas envolvem
KJELLBERG, 2010). mais do que os interesses financeiros, há fatores so-
O conceito de prática é utilizado equivocada- ciais envolvidos nas relações de troca entre diversos
mente pela maioria dos profissionais de marketing agentes de mercado. Essa estrutura social, na qual
(ANDERSSON; ASPENBERG; KJELLBERG, 2008). É os agentes estão imersos, é composta por valores
comum encontrar atividades, ferramentas e tarefas e interesse que impactam diretamente nos resulta-
de marketing definidas como práticas de marke- dos econômicos das organizações (GRANOVETTER,
ting. São executadas unilateralmente, ou seja, não 1985; SWEDBERG, 2003). Por isso, os elementos
considerando a participação dos diferentes agen- sociais estão cada vez mais presentes na literatura
tes de mercado, mas apenas o consumidor e a or- de management, uma vez que estão sendo utiliza-
ganização. Por este motivo, é pertinente repensar dos para compreender e alcançar melhores resulta-
marketing reconectando-o ao mercado (FINCH; dos econômicos e sociais.
GEIGER, 2011), pois as atividades de marketing co- Antes de discorrer especificamente sobre os
nhecidas como práticas de marketing, não estão fatores econômicos e sociais que estão envolvidos
totalmente conectadas ao mercado (MASON; nas trocas de mercado, é oportuno ressaltar como
SPRING, 2011). a sociologia econômica está relacionada aos seus
Desta maneira a prática de mercado deve fatores econômicos, uma vez que os fatores so-
ser compreendida como o conjunto das ativida- ciais são componentes fundamentais nas trocas de
des que contribuem para a formatação do mer- mercado (GRANOVETTER, 2005). Desse modo, as
cado (KJELLBERG; HELGESSON, 2006; ARAUJO; práticas baseadas nas trocas envolvem quais custos
KJELLBERG; SPENCER, 2008; STORBACKA; e benefícios serão trocados entre os agentes. De
NENONEN, 2011; GEIGER; KJELLBERG; SPENCER, maneira geral, ao se tratar de trocas, a literatura re-
2012). Estas práticas podem ser classificadas em mete primeiramente às trocas econômicas, ou seja,
três categorias: práticas de trocas, práticas norma- à simples relação de oferta e demanda de um pro-
tivas e práticas de representação, que ocorrem por duto ou serviço (STORBACKA; NENONEN, 2011).
um processo de “performativity” – performativi- A troca como prática tratada no presente artigo
dade. A performatividade é a prática como “prá- vai além desta simples e unilateral concepção. Os
xis” refletida no mercado baseada na teoria, ou valores pessoais, sociais e culturais, bem como os
seja, é a ideia refletida na realidade (KJELLBERG; significados também fazem parte das trocas, desta
HELGESSON, 2006). Para a ideia ser refletida na re- forma a simples troca de um produto ou serviço
alidade, a performatividade percorre pelas práticas por moeda não é o suficiente para suprir a troca

62 Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015


CONSTRUÇÃO DE MERCADOS: UM ESTUDO NO MERCADO DE NOTEBOOKS PARA BAIXA RENDA

como prática de mercado (HAGBERG; KJELLBERG, próprias ideias e ser capaz de agenciar no mercado
2010). com as práticas provenientes do mundo das ideias
A abordagem da sociologia econômica não tra- é a performativity que diferencia uma organização
ta os conceitos da economia e da sociologia como de outras (Idem, 2010).
excludentes, mas complementares. Conceituar tro- Por fim, a concepção de significado das e para
cas de mercado apenas com o mainstream da eco- as organizações no mercado exerce papel funda-
nomia não é totalmente errôneo, pois a perspec- mental nas práticas representacionais, que estão
tiva econômica efetivamente faz parte das trocas intimamente relacionadas com as imagens e sím-
do mercado. A questão está no caráter de comple- bolos reproduzidos nos e pelos agentes de mer-
mentaridade que deve ser considerado, adotando cado (PEÑALOZA; VENKATESH, 2006). Em outras
também a perspectiva sociológica. palavras, consumir não é apenas um ato de com-
pra e venda de um produto, consumir também é
2.1.2. Práticas normativas uma forma de comunicar e representar as manei-
ras como as pessoas e os grupos se comunicam e
As práticas normativas são práticas funda- constituem significados dentro e entre a sociedade
mentadas em leis, regras, regulamentações, certi- (BELK, 1988; 2005).
ficações, normas, proibições, permissões entre ou-
tras práticas que regulam o mercado (KJELLBERG;
HELGESSON, 2006). É comum encontrar nas prá-
ticas normativas lutas políticas influenciando no
mercado. O Estado, apesar de possuir caráter pú-
blico, exerce fortes impactos no mercado privado.
Sendo assim, a prática de mercado baseada em
normas constitui, além de organizações públicas,
também organizações privadas, incluindo agên-
cias reguladoras, secretarias municipais e estadu-
ais, ministérios federais entre outras instituições.
Encontra-se esse tipo de prática especificamente
quando existem interesses no desenvolvimento de
mercados específicos (Idem, 2007).

2.1.3. Práticas representacionais Figura 1 – Transações e Intermediários na Prática


de Mercado
As práticas que contribuem para a descrição e Fonte: Traduzido de Kjellberg e Helgesson (2007, p. 151).
representação dos mercados e que explicam como
os mercados trabalham são chamadas de práticas A Figura 1 ilustra a descrição de prática de mer-
representacionais (KJELLBER; HELGESSON, 2007). cado considerando as trocas, normas e representa-
Partindo do pressuposto de que os mercados são ções. A ação de um componente interfere na e é
entidades abstratas e cada indivíduo/agente execu- interferida pela ação de outro componente. Esses
ta atividades que resultam no mercado, a capaci- três conceitos estão interligados, e juntos movem
dade de performativity (performatividade) nas prá- as práticas executadas no mercado. O conceito de
ticas representacionais é fundamental. Dominar as rede interorganizacionais refletindo nos resultados

Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015 63


Vitor Koki da Costa Nogami et al.

econômicos (GRANOVETTER, 2005), também pode envolvem essa atividade são os valores, os costu-
ser claramente percebido na Figura 2 adiante, uma mes, o conhecimento, o comportamento e a cog-
vez que cada agente está ligado direta ou indireta- nição que estão presentes no indivíduo. O processo
mente a inúmeros outros agentes de mercado. não deve ocorrer de maneira linear e sequencial,
mas de forma dinâmica, envolvendo os diferentes
2.2.
Cocriação de valor entre as interesses do consumidor. Nesse caso, o valor não
organizações no mercado. é o objeto de consumo em si, mas as experiências
de consumo adquiridas pelo consumidor. A cada
Mercados são resultados de práticas que per- compra realizada o consumidor adquire essa ex-
mitem que valores sejam cocriados (ARAUJO; periência que é revertida em aprendizado, que é
FINCH; KJELLBERG, 2010). Já existe literatura di- acumulado e internalizado na memória do consu-
fundida sobre a cocriação de valor por parte do midor (Idem, 2008). Tal processo de interação en-
consumidor com as empresas, ou seja, dois agentes tre as características e o perfil do consumidor com
(PRAHALAD; RAMASWAMY, 2004; HAMMERVOL; o produto e a organização, aliado às experiências
TOFTEN, 2010). Esse conceito de cocriar valor é adquiridas nas compras, resultando no aprendiza-
essencial, uma vez que os aspectos sociais são le- do do consumidor, é o processo de cocriação de
vados em consideração nas trocas entre os agen- valor por parte do consumidor como indivíduo
tes de mercado. Contudo, o conceito de cocria- (CALLON; MÉADEL; RABEHARISOA, 2002).
ção de valor geralmente é trabalhado de maneira O processo de cocriar valor por parte da orga-
bidirecional, ou seja, apenas entre o consumidor nização se inicia com a compreensão de como o
e a organização (HAMMERVOLL; TOFTEN, 2010; consumidor cocria valor, ou seja, o valor cocriado
RINALLO; GOLFETTO, 2011). No entanto, a propos- pela organização depende diretamente do valor
ta adotada pela literatura escolhida neste trabalho cocriado pelo consumidor. Depois de conhecer
implica considerar todos os agentes possíveis nas a concepção de valor do consumidor, a organi-
relações de transações de mercado. Desse modo, zação deve envolver seus valores no processo.
a cocriação de valor deve conter a participação de Essa cocriação está baseada na oportunidade, no
todos esses agentes, ou seja, ser multidimensional. planejamento e no desenvolvimento de métricas
Visto que não é comum encontrar o conceito de para avaliar se a organização realmente propõe
cocriação de valor por parte de mais agentes de valor coconstruído com seu consumidor (PAYNE
mercado, o presente referencial teórico tratará da et al., 2008; RINALLO; GOLFETTO, 2011). Desse
cocriação de valor encontrada na literatura (consu- modo, o aprendizado por parte da organização
midor-organização) buscando fazer analogias com está relacionado com a gestão do conhecimento.
a cocriação de valor entre mais agentes de merca- A cada experiência acumulada, a organização a
do, conforme ilustrará a Figura 2 adiante. retém e transforma em conhecimento, que deve
A cocriação de valor envolve três processos fun- ser acumulado com os já adquiridos pela organi-
damentais: o processo do consumidor, o processo zação, refletindo na cocriação de valor da orga-
da organização e o processo de encontro entre o nização com seus consumidores (HAMMERVOLL;
consumidor e a organização (PAYNE; STORBACKA; TOFTEN, 2010).
FROW, 2008). O processo de cocriação de valor do O terceiro processo de cocriação de valor está
consumidor pode ser definido como seguidas ativi- baseado no ponto de encontro entre os processos
dades realizadas pelo consumidor com o intuito de de cocriação anteriores. De acordo com Azimont
atingir seus objetivos particulares. Elementos que e Araujo (2007), a noção de mercado é o ponto

64 Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015


CONSTRUÇÃO DE MERCADOS: UM ESTUDO NO MERCADO DE NOTEBOOKS PARA BAIXA RENDA

de encontro entre a heterogeneidade das agências. considerado como uma organização. Cada orga-
Este ponto de encontro da cocriação de valor pode nização realiza suas atividades baseadas em inte-
ser identificado na Figura 2 e 3 pela intersecção resses particulares, e consequentemente tais ativi-
dos círculos. Em ambas as figuras, cada círculo é dades possuem relações com outras organizações.

consumidores varejistas

fabricantes

Figura 2 – Cocriação de valor baseada nas práticas Figura 3 – Cocriação de valor baseada nas práticas
dos diferentes agentes do mercado dos agentes de mercado de notebooks
Fonte: Elaborado pelos autores. Fonte: Elaborado pelos autores.

Sendo o mercado resultado das práticas de no mercado (KJELLBERG; HELGESSON, 2007;


inúmeros agentes, a intersecção dos círculos é o ARAUJO; FINCH; KJELLBERG, 2010).
resultado das práticas de mercado provenientes da
cocriação de valor entre os diferentes agentes do 2.3. O mercado da baixa renda no Brasil
mercado. A Figura 2 representa como as práticas
de mercado podem ser cocriadas por diferentes Depois de passar por um momento turbulento
agentes do mercado. A Figura 3 representa espe- na economia, com altas taxas de inflação no final
cificamente como foram cocriadas, de acordo com dos anos 1980 e começo dos anos 1990, a vida dos
as evidências empíricas da presente pesquisa, que brasileiros começou a melhorar com a criação e es-
envolve os fabricantes, o varejo e o consumidor de tabilização do plano real aliado às políticas públicas
baixa renda de notebooks. Partindo do pressupos- de redução das desigualdades sociais (HEMAIS;
to de que os mercados não devem ser encarados CASOTTI; ROCHA, 2010). O fenômeno resultou
como distintos e estáveis, mas como sobrepostos na melhora na qualidade de vida da população e
e mutáveis, é preciso compreender como as práti- refletiu/está refletindo no aumento do poder de
cas entre os agentes modelam mercados, uma vez compra da população. Desse modo, os consumi-
que as ações organizacionais refletem em reações dores que têm chamado a atenção das empresas

Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015 65


Vitor Koki da Costa Nogami et al.

nos últimos anos são os pertencentes à classe C, de consumidores com perfil de baixa renda, onde
e os da classe D também começaram a ser per- se usa o transporte público com regularidade, tan-
cebidos como potenciais consumidores. O merca- to para ir ao trabalho quanto para fazer compras.
do formatado para este perfil de consumidor tem O público pesquisado se enquadra no intervalo de
como características polos comerciais de rua, que renda familiar mensal de R$1.032,28 (classe D) até
são centros comerciais de convergência de serviço, R$2.214,80 (classe C2). Como a proposta assumi-
comércio, transporte, instituições financeiras entre da no trabalho está baseada na construção do mer-
outros (BRANDÃO; PARENTE, 2012) cado a partir das práticas dos agentes (ARAUJO;
A literatura sobre a Base da Pirâmide tem ga- FINCH; KJELLBERG, 2010; FINCH; WAGNER; HINES,
nhado cada vez mais espaço no meio acadêmico 2012), ou seja, em estudar o consumo sem neces-
nacional e internacional, principalmente após os sariamente estudar o consumidor em si (COCHOY,
trabalhos de Prahalad e Hammond (2002) aliado 2010), o consumidor não é o principal foco da pes-
ao trabalho de Prahalad e Hart (2002). Contudo, quisa, de modo que a quantidade de questionários
a concepção de base da pirâmide ou baixa ren- aplicados não foi tão grande.
da, como vêm sendo tratado no Brasil, é ainda Essa etapa da pesquisa se preocupou em in-
bastante controversa, uma vez que a base da pi- vestigar informações como: o objetivo da compra,
râmide, apesar de apresentar homogeneidade na a importância de possuir um notebook, a funcio-
renda, também apresenta diferentes segmentos nalidade do produto e o valor simbólico do produ-
(RANGAN et al., 2011). Sendo assim, o foco do to. Tais informações foram analisadas sob o prisma
presente estudo se baseia na realidade brasileira da literatura de práticas de mercado (KJELLBERG;
onde o poder de consumo que mais cresceu e cha- HELGESSON, 2007; ARAUJO, 2007) e cocriação de
ma a atenção das empresas são as classes C e D, valor (PAYNE et al., 2008; HAMMERVOLL; TOFTEN,
tendo uma renda familiar mensal variando entre 2010). Informações sociodemográficas, forma de
R$1.000,00 e R$2.500,00. Assim, os consumidores pagamento, marca, preço e loja onde o produto
de baixa renda e os notebooks foram escolhidos foi comprado também compuseram essa etapa da
para verificar empiricamente as discussões teóricas coleta de dados.
propostas neste trabalho. Por outro lado, a coleta de dados com os va-
rejistas que ofertam notebooks para baixa ren-
da (classe C e D) foi exaustiva. Foram visitadas
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 31 empresas, in loco e via website: 22 lojas de
departamento, 3 hipermercados e 6 lojas espe-
Para alcançar o objetivo do trabalho, respei- cializadas. Existem 26 lojas de departamento na
tando os pressupostos teóricos propostos pela li- cidade, 4 são posicionadas para alta renda, já as
teratura utilizada, foram realizadas pesquisas com outras 22 foram pesquisadas estão posicionadas
três agentes do mercado de notebooks: os con- para baixa renda. Quanto aos hipermercados, to-
sumidores, os varejistas e os fabricantes de note- dos os 3 que vendem notebooks na cidade foram
books. A pesquisa aconteceu em uma cidade na visitados. Em relação às lojas especializadas, exis-
região sul do Brasil, que possui aproximadamente tem inúmeras, porém a pesquisa foi interrompi-
400 mil habitantes. da, uma vez que durante as visitas identificou-se
Primeiramente foram realizadas 40 entrevistas que o público alvo destes pequenos varejistas são
do tipo survey com consumidores no terminal de os consumidores com maior renda, não contem-
ônibus central da cidade – local de concentração plando o foco desta pesquisa.

66 Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015


CONSTRUÇÃO DE MERCADOS: UM ESTUDO NO MERCADO DE NOTEBOOKS PARA BAIXA RENDA

O objetivo da coleta com os varejistas foi identi- englobando suas práticas, como troca, normativas
ficar quais são as práticas destes agentes no merca- e representacionais. Em um segundo momento,
do de notebooks (HAGBERG; KJELLBERG, 2010). Por serão apresentados quais valores são cocriados pe-
ser um agente intermediário, entre o consumidor e las organizações no mercado de notebooks.
o fabricante, o varejo tem papel fundamental dentro
do mercado. A forma de obter os dados nessa etapa 4.1. Práticas de mercado na formatação
foi pelo método de observação, bem como interação do mercado de notebooks para baixa
com os vendedores nas lojas. As variáveis analisadas renda
foram: atendimento do vendedor, conhecimento do
vendedor em relação ao notebook e apresentação Para que se compreenda como os mercados
do produto dentro da loja. Essas três categorias de são formados, é preciso entender que não há
análise foram avaliadas pelo pesquisador em três ní- um conjunto estável de práticas no mercado. Tais
veis: Bom, Regular e Ruim nos quesitos atendimento mercados assumem formas diferentes e não há
e conhecimento; bem como Muito, Médio e Pouco como definir um resultado exclusivo do trabalho
no quesito espaço dos notebooks dentro da loja. de marketing em relação aos mesmos. O proces-
Por fim, a pesquisa com os fabricantes se deu so de construir mercados, segundo Araujo, Finch e
via internet, visitando 25 sites de marcas de note- Kjellberg (2010), é complexo e envolve multiplici-
books diferentes para análise de conteúdo. O pro- dade de esforços de marketing.
cedimento teve como objetivo identificar o que os
fabricantes oferecem para o consumidor de baixa 4.1.1. Práticas como troca
renda e, principalmente, quais práticas de mercado
os fabricantes buscam executar ou representar por Tendo em vista que as práticas de trocas de
meio da comunicação. A observação dos produ- mercado envolvem tanto os aspectos econômicos
tos em seus respectivos pontos de venda também quanto os aspectos sociais, é possível concluir que
compôs essa etapa da coleta de dados, com intui- no mercado de notebooks os consumidores apre-
to de verificar quais as características dos produtos sentam escolha por preços e formas de pagamento
posicionados para os consumidores de baixa renda. no quesito econômico; e funcionalidade, mobilida-
Na fase de coleta de dados com os varejistas e de, lazer, praticidade e estudos no quesito social
com os fabricantes também foram capturadas 105 fo- (KJELLBERG; HELGESSON, 2006). Em relação ao
tos, coletadas 13 revistas/cadernos publicitários e redi- preço, o mercado de notebooks na região onde
gidas 10 páginas de notas de campo, com intuito de os dados foram coletados apresenta certa parti-
dar suporte aos dados coletados em campo e ampliar cularidade. Por se localizar perto da divisa com o
e aprofundar a análise dos resultados. Todas essas in- Paraguai, muitos consumidores viajam até depois
formações coletadas bem como as observações dos da fronteira ou encomendam por terceiros o pro-
websites foram estudadas pela análise de conteúdo. duto que apresenta preço inferior ao encontrado
no mercado nacional, devido aos encargos atri-
buídos nos produtos. Nesses casos, os produtos
4. A CONSTRUÇÃO DO MERCADO DE geralmente são pagos à vista. Já em relação ao
NOTEBBOKS PARA A BAIXA RENDA prazo de pagamento quando os produtos não são
comprados no Paraguai e pagos à vista, é predomi-
Os dados são apresentados em dois momen- nantemente feita em parcelamentos no cartão de
tos. Primeiramente, a formatação do mercado crédito em mais de 10 vezes, ou seja, o fato de as

Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015 67


Vitor Koki da Costa Nogami et al.

empresas ofertarem prazo aos consumidores facili- consequentemente tocadas nas lojas. A influên-
ta a aquisição dos produtos. Mesmo sabendo que cia do merchandising (música, decoração e am-
vão pagar altas taxas de juros no final do parcela- biente de alta excitação) na cognição, emoção e
mento, a dívida com parcelas reduzidas proporcio- consequentemente na resposta do consumidor
na que o mercado de notebooks para baixa renda também pode ser observada nesse mercado.
seja formatado e a troca seja realizada.
Os aspectos preponderantes referentes aos va- 4.1.2. Práticas normativas
lores, significados e aspectos sociais envolvidos na
troca foram: ajudar no trabalho, nos estudos e ser Em relação às normas e regulamentações
fácil e prático para transportá-lo. Essas foram as no mercado de notebooks, foi identificado que
informações que possuíam relação com o caráter as representações legais de importação não são
social das trocas de mercado. Outra resposta que plenamente cumpridas. Justamente por estas
prevaleceu foi a possibilidade de acessar à internet regulamentações fragilizadas, o mercado ilegal
e poder interagir com amigos e familiares. Nesse que vem da fronteira com o Paraguai possui
caso, é possível observar como os elementos sociais alta representatividade no mercado regional. A
baseados na sociologia econômica fazem parte das facilidade de entrada dos produtos na frontei-
relações de troca entre os agentes do mercado de ra desvaloriza e prejudica o mercado interno em
notebooks (GRANOVETTER, 2005, KJELLBERG; diversos setores, como eletrônicos, informática,
HELGESSON, 2006). bebidas, roupas, peças automotivas, perfumes
Por parte dos varejistas, as práticas como entre outros. Dentre os entrevistados, 22,5%
trocas econômicas se baseiam na variedade de compraram seus notebooks no Paraguai, repre-
formas de pagamento oferecidas ao consumidor. sentando uma quantidade significativa de pro-
Dinheiro, cheque, cartão de crédito, cartão pró- dutos ilegais comprados na região. De acordo
prio da loja, crediário, boleto e até vale alimen- com Kjellberg e Helgesson (2006), a regras, leis e
tação em alguns hipermercados são maneiras regulamentações são essenciais para as práticas
que o consumidor pode escolher para efetuar normativas, contudo, apesar de existirem, elas
o pagamento. Em relação aos aspectos sociais não são respeitadas no contexto do mercado de
foram identificados como o mercado foi forma- notebooks para baixa renda.
tado para o público de baixa renda, uma vez
que os ambientes das lojas de departamento 4.1.3. Práticas representacionais
eram sempre tumultuados, com muitas deco-
rações, cartazes, cores e música alta, variando É comum acreditar que a população de baixa
entre sertanejo, axé e pop rock nacional. Essa renda compra determinados produtos para parecer
evidência empírica corrobora a ideia de Cetina possuir renda maior, o que ocorre pelo fato de os
(2006), que apresenta a mutação dos merca- consumidores buscarem representações e maneiras
dos de silenciosos e escondidos na idade antiga, de comunicar suas identidades (BELK, 1988; 2005).
para barulhentos e amplamente permitidos na Uma resposta comum e esperada pelos pesquisado-
idade média e moderna. Pelo fato da pesquisa res era que os entrevistados apontassem o status ou
ter ocorrido em uma cidade do interior e se ca- a imagem de sofisticação como benefício ao comprar
racterizar por possuir empresas do agronegócio, um notebook. Todavia, nenhuma resposta parecida
o caráter sertanejo e country também predomi- foi encontrada. Os elementos representacionais en-
na nas músicas ouvidas pela população, sendo contrados, de acordo com a coleta de dados com os

68 Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015


CONSTRUÇÃO DE MERCADOS: UM ESTUDO NO MERCADO DE NOTEBOOKS PARA BAIXA RENDA

consumidores, estão relacionados principalmente à o notebook representa meu mundo, tudo meu está lá
funcionalidade, entretenimento e praticidade. Quanto (Garota de 18 anos).
à funcionalidade, as respostas se direcionavam ao tra-
balho e aos estudos, e em relação ao entretenimento é coisa minha, ninguém se intromete (Garoto de 18
as respostas envolviam o acesso à internet, participa- anos).
ção em redes sociais e acesso às notícias em geral. Por
fim, o quesito praticidade continha respostas referen- Estas foram algumas evidências empíricas que
tes à mobilidade, flexibilidade e versatilidade. os consumidores como agente no mercado sinali-
Outros casos que chamam a atenção nas prá- zaram como maneiras de externalizar a performa-
ticas representacionais são: modismo, mundo vir- tividade (performativity) apontadas por Hagberg e
tual e privacidade. Os trechos a seguir apontam Kjellberg (2010). As questões de modismo, mun-
como alguns entrevistados expressavam na aqui- do virtual e privacidade são os símbolos reprodu-
sição de notebooks suas representações: zidos pelo consumo de notebooks pelos consu-
midores de baixa renda (PEÑALOZA; VENKATESH,
comprei notebook porque estava na moda, todo mun- 2006). O quadro a seguir ilustra uma síntese das
do tem, o PC de mesa, estava ultrapassado (Garoto de evidências empíricas relacionadas às práticas de
16 anos). mercado.

Quadro 1 – Quadro resumo do resultado das práticas de mercado de notebooks para baixa renda
PRÁTICAS DE
PRÁTICAS NORMATIVAS PRÁTICAS REPRESENTACIONAIS
TROCA
Preço Funcionalidade Estudo e Trabalho
Internet, Redes
Forma de Pagamento Entretenimento
Sociais e Notícias
Mobilidade,
Econômicas
Prazo Praticidade Flexibilidade e
Existem regulamentações Versatilidade
específicas de importação no
“Moda do
Distância mercado de notebooks, mas tais Modismo
momento”
normas não são plenamente
Interação com familiares respeitadas. Mundo Virtual “Meu mundo”
e amigos
Estilo de vida:
Sociais
valorização do trabalho
Privacidade “Coisa minha”
e do estudo
Música Regional
Fonte: Pesquisa de campo.

Nota-se que a interação com a família e com os interação com a família e com os amigos se torna um
amigos está presente tanto nas práticas enquanto momento de lazer. Os estudos e o trabalho também
troca quanto nas práticas representacionais. Assim, é são encontrados nas trocas sociais e práticas repre-
possível notar os elementos sociais que estão imersos sentacionais, uma vez que as atividades profissionais
nas relações de troca (GRANOVETTER, 1985). Dessa estão presentes no cotidiano das pessoas e, sendo
forma, também se torna uma atividade de entrete- assim, a aquisição do notebook tem forte representa-
nimento (práticas representacionais), uma vez que a ção funcional para os consumidores.

Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015 69


Vitor Koki da Costa Nogami et al.

4.2. Cocriação de valor nas relações entre espaço dentro da loja, uma vez que o foco está nos
as organizações e o mercado de produtos eletrônicos de informática.
notebooks para baixa renda
Tabela 2 – Tipo de Loja x Espaço na Loja
Antes de relacionar o processo de encontro da     Espaço na Loja  
    Pouco Médio Muito Total
cocriação de valor (PAYNE et al., 2008), é pertinente
Departamento 14 3 5 22
descrever algumas características das organizações Tipo de
Especializada 0 0 6 6
Loja
no mercado de notebooks de baixa renda. Durante Hipermercado 0 1 2 3
as visitas às lojas de varejo foi possível observar e Total   14 1 13 31
Fonte: Pesquisa de campo.
avaliar três categorias de análise que contribuem
para a formatação do mercado de notebooks para
baixa renda: atendimento do vendedor, conheci- Complementando as informações provenien-
mento do atendente sobre o aparelho e espaço do tes da Tabela 2, a Tabela 3 demonstra o conhe-
produto dentro da loja. Essas três variáveis estão cimento dos atendentes quanto aos notebooks.
apresentadas de acordo com o tipo de loja pesqui- Nas lojas de departamento o número de atenden-
sada, conforme apontam as tabelas 1, 2 e 3. tes com bom conhecimento sobre os atributos
dos produtos é menor do que o número de aten-
Tabela 1 – Tipo de Loja x Atendimento dentes com conhecimento regular e ruim juntos.
    Atendimento   Isso também acontece nos hipermercados, onde
    Ruim Regular Bom Total
nenhum atendente apresentou bom conhecimen-
Departamento 5 7 10 22
Tipo de to sobre os notebooks. Ainda em uma perspecti-
Especializada 0 1 5 6
Loja
Hipermercado 1 1 1 3 va de análise descritiva foi possível encontrar 25
Total   6 9 16 31 marcas de notebooks diferentes nas 31 lojas vi-
Fonte: Pesquisa de Campo.
sitadas, incluindo tanto produtos de fabricantes
nacionais quanto internacionais. Vale ressaltar
A Tabela 1 aponta que os níveis de atendimen- que em alguns casos os fornecedores das peças
to nas lojas de departamento variam entre ruim, para os notebooks são os mesmos, o que signifi-
regular e ótimo, e já nas lojas especializadas das ca que os fabricantes que rotulam seus produtos
seis empresas pesquisadas cinco apresentam bom podem ser considerados montadoras.
atendimento, enquanto nos hipermercados a dis-
tribuição foi homogênea no quesito atendimento. Tabela 3 – Tipo de Loja x Conhecimento do
Já a Tabela 2 aponta que nas lojas de departamento Atendente
não é disponível muito espaço para apresentação e     Conhecimento  
merchandising dos notebooks, o que pode ocorrer     Ruim Regular Bom Total
Departamento 6 7 9 22
pelo fato de essas lojas focarem maiores esforços Tipo de
Especializada 0 1 5 6
em produtos para a casa como um todo: produ- Loja
Hipermercado 1 2 0 3
tos para cozinha e quartos (móveis e eletrodomés-
Total   7 10 14 31
ticos). Os produtos eletrônicos também têm bas-
Fonte: Pesquisa de campo.
tante espaço, mas não os notebooks. Televisores,
aparelhos de som, celulares e DVDs possuem mais
espaço do que produtos de informática. Já nas O local onde o consumidor de baixa renda mais
lojas especializadas, todas apresentaram muito compra notebooks é nas lojas de departamento

70 Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015


CONSTRUÇÃO DE MERCADOS: UM ESTUDO NO MERCADO DE NOTEBOOKS PARA BAIXA RENDA

(42,5%). Além do Paraguai e dos três tipos de lo- número de empresas varejistas de grande sucesso,
jas de varejo visitadas, a internet e produtos trazi- como as Casas Bahia, Lojas Pernambucanas e o
dos do exterior também aparecem como possíveis Habib’s. [...] Essa mudança coincide com a trans-
respostas, apontando que existem outros agen- formação do perfil de cliente dos polos varejistas,
tes atuando nesse mercado. Visto que a maioria os quais passam a ser, cada vez mais, frequentados
das aquisições de notebooks ocorreu em lojas de por uma população de baixa renda, proveniente
departamento, a Figura 4 ilustra como se distri- das regiões periféricas da cidade, atraída pela dis-
buem na região. Cada ponto no mapa representa ponibilidade de transporte coletivo.
uma loja de departamento. Das 22 lojas visitadas, Assim, é possível deduzir que o mercado de
21 podem ser encontradas em um raio de 1100 notebooks para baixa renda está baseado nas lo-
metros. jas de departamento devido à variedade de marcas
e formas de pagamento aceitas pelas lojas, bai-
xos valores nas prestações ofertadas e ao formato
como essas lojas se distribuem em polos comerciais
de rua. As ponderações de Parente, Miotto e Barki
(2007) e Brandão e Parente (2012) estão relaciona-
das com as ideias de Cetina (2006), uma vez que
o varejo em polos de rua é barulhento, movimen-
tado e com oferta de muitos tipos de produtos
e serviços para os consumidores de baixa renda.
Como é possível observar na Figura 4, as lojas de
departamento muitas vezes são vizinhas umas das
outras, tendo ciência que na maioria das vezes as
Figura 4 – Lojas de Departamento na região central concorrentes oferecem os mesmos produtos que
da Cidade Pesquisada os seus, bem como prazos e formas de pagamento
Fonte: Elaborado pelos autores. parecidos, o que os caracteriza como polo varejista
de rua.
No mapa é possível observar como o mercado A figura 5 ilustra a cocriação de valor entre os
é formatado para o consumidor de baixa renda: três agentes pesquisados (fabricantes, varejistas e
em polos comerciais de rua. Principalmente para consumidores) no mercado de notebooks para bai-
os consumidores de baixa renda, o mercado de po- xa renda. Nota-se que o agente varejista é funda-
los varejistas de rua é o mais apropriado, contan- mental para ligar os fabricantes aos consumidores,
do com vasta variedade de lojas e produtos, bem pois não foi identificado nenhum valor cocriado
como fácil acesso pelo transporte público. De acor- apenas entre estes dois agentes, tornando as lojas
do com Parente, Miotto e Barki (2007, p. 50): de departamento agentes intermediários essenciais
para os segmentos de baixa renda, os polos na formatação desse mercado. O valor cocriado en-
varejistas de rua são os locais mais adequados, tre o varejo e os fabricantes se baseia no serviço de
contando com lojas de confecções e eletrodomés- entrega e na divulgação dos atributos do produto.
ticos, como também com supermercados de porte Já o valor cocriado entre consumidores e vare-
médio. [...] os polos ainda detêm a maior parte do jistas são mais congruentes. O aparelho Positivo foi
volume de vendas do varejo e continuam sendo al- um dos mais encontrados nas lojas visitadas e tam-
ternativas promissoras e preferidas para um grande bém um dos mais encontrados na pesquisa com

Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015 71


Vitor Koki da Costa Nogami et al.

os consumidores. Outro resultado é que quando das agências (AZIMONT; ARAUJO, 2007) é o prazo
são ofertados preços inferiores pelos varejistas, os no pagamento. Os consumidores valorizam quan-
consumidores de baixa renda se dispõem a pagar do podem parcelar o valor dos produtos; as lojas
à vista pelos notebooks. Outra convergência foi varejistas oferecem esse serviço de diferentes for-
encontrada nos valores entre os preços ofertados mas, como crediário, cartão de crédito, boletos e
pelas lojas e os preços pagos pelos consumidores, cheques; e as fabricantes, apesar de posicionarem
tanto no preço mínimo quanto no preço médio. o e-commerce para consumidores com maior po-
Por fim, o valor cocriado entre os três agentes der aquisitivo, ao vender produtos pela internet
de mercado de notebooks para baixa renda ou, em também concedem prazo para seus clientes. Foram
outras palavras, o ponto de encontro descrito por identificados muitos outros valores construídos pe-
Payne, Storbacka e Frow (2008), é o prazo no pa- los agentes separadamente, todavia, o objetivo
gamento. Em outras palavras, a noção de mercado deste trabalho é apresentar o valor cocriado entre
como ponto de encontro entre a heterogeneidade diferentes agentes conjuntamente.

Notebook Positivo
Preço baixo na compra à vista
Preço mínimo ofertado pelo varejo R$ 799,00 Preço mínimo pago pelo consumidor R$ 800,00
Preço máximo ofertado pelo varejo R$ 5.500,00 Preço máximo pago pelo consumidor R$ 3.000,00
Preço médio ofertado pelo varejo R$ 1.684,00 Preço médio pago pelo consumidor R$ 1.602,00

Consumidor CV Varejistas Prazo

CVF
FC VF

Não foi encontrado um


Fabricantes
valor Co-Criado apenas
entre Consumidores e Serviço de Entrega
Fabricantes Atributos do Produto

Figura 5 – Cocriação de valor no mercado de notebooks para baixa renda


Fonte: Elaborado pelos autores.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS marketing, uma vez que o mercado é formata-


do pelo resultado de muitos esforços de diferen-
Objetivou-se identificar quais são as práticas tes agentes do mercado (HAGBERG; KJELLBERG,
de mercado executadas no mercado de notebooks 2010). Utilizou-se literatura de market-making
para baixa renda e quais são os valores cocriados proposta no referencial teórico com o intuito
pelos agentes deste mercado. Desse modo, o foco de contribuir para literatura de marketing com
do artigo está no mercado e não nos esforços de uma abordagem não convencional (KJELLBERG;

72 Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015


CONSTRUÇÃO DE MERCADOS: UM ESTUDO NO MERCADO DE NOTEBOOKS PARA BAIXA RENDA

HELGESSON, 2006; ARAUJO; FINCH; KJELLBERG, Para tanto, o presente trabalho auxilia na busca
2010; HAGBERG; KJELLBERG, 2010). de evidências empíricas utilizando uma aborda-
Entre as cinco vertentes dessa literatura, gem teórica em marketing, não convencional. Os
duas foram escolhidas para a pesquisa: a for- pilares utilizados foram as práticas de mercado
matação do mercado, especificamente estudada (trocas, normas e representações) e a relação
pela perspectiva das práticas de trocas, práticas entre as organizações no mercado (cocriação de
normativas e práticas representacionais; e na re- valor). Sendo assim, o estudo buscou chamar a
lação entre as organizações (agentes) e o merca- atenção dos agentes para as diversas práticas de
do, fundamentadas na cocriação de valor entre mercado individualizadas e contextualizadas por
os agentes. Os resultados apontam que as práti- contingências locais, uma vez que tais agentes
cas como trocas são divididas em trocas econô- geralmente trabalham apoiados em dispositivos
micas e trocas sociais, considerando elementos de marketing generalizados para tentar atrair o
como preço, prazo, música regional entre outros; consumidor. Ademais, tais dispositivos se limi-
as práticas normativas não são encontradas nes- tam as práticas generalizadas de comunicação
te mercado, e as práticas representacionais são de produto.
compostas principalmente pelos quesitos funcio- Outra literatura emergente envolve o con-
nalidade, entretenimento e praticidade. Um dos sumo da base da pirâmide, que também foi
limites de mercado enfrentados no Brasil, espe- abordada neste estudo. No âmbito empresarial,
cificamente na região estudada, é representado coloca-se em evidência como o mercado de no-
pelo preço final do produto devido aos impostos tebooks para baixa renda foi construído, quais e
e à falta de barreiras políticas impedindo a entra- como as organizações atuam (praticam) no mer-
da do produto ilegal na região. cado, bem como qual o valor cocriado entre tais
Nas relações entre as organizações e o mer- organizações.
cado, foi identificado que o mercado de note-
books para baixa renda ocorre em lojas de de- 5.2. Sugestões
partamento nos polos comerciais de rua. As
lojas especializadas focam seu posicionamento Sugestões para pesquisa futuras são impor-
para consumidores com maior poder aquisiti- tantes, uma vez que a literatura é nova e ne-
vo. Quanto à cocriação de valor, o componente cessita ser legitimada na área de marketing e
compartilhado pelos três agentes pesquisados mercado. Este trabalho se baseou em duas das
é o prazo na forma de pagamento. Tanto os cinco vertentes apresentadas por Araujo, Finch e
consumidores de baixa renda valorizam o serviço Kjellberg (2010), e abordar empiricamente as ou-
quanto os varejistas e fabricantes oferecem essa tras vertentes é fundamental para legitimação da
facilidade, sendo assim um valor cocriado pelos teoria. Outros produtos, bem como outros seg-
três agentes do mercado. mentos podem ser estudados sob a perspectiva
da literatura de mercados proposta. Este estudo
5.1. Implicações teóricas e práticas inicial se baseou em três agentes de mercados
(fabricantes, varejistas e consumidores), e outros
A pesquisa buscou utilizar uma literatura agentes de mercados, como agências de publi-
emergente no meio acadêmico de marketing, a cidade e propaganda, fornecedores de peças e
qual tem como propósito estudar a construção órgãos governamentais devem ser empiricamen-
e a formatação de mercados – Market Making. te investigados.

Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015 73


Vitor Koki da Costa Nogami et al.

REFERÊNCIAS

ANDERSSON, P.; ASPENBERG, K.; KJELLBERG, H. The ARAUJO, L; FINCH, J.; KJELLBERG, H. Reconnecting
configuration of actors in market practice. Marketing marketing to markets. Oxford: Oxford University Press,
Theory, v. 8, n. 1, p. 67-90, 2008. p. 29-49, 2010.

ARAUJO, L. Markets, market-making and marketing. CETINA, K. K. The market. Theory, Culture and Society,
Marketing Theory, v. 7, n. 3, p. 211-226, 2007. v. 23, n. 2-3, p. 551-556, 2006.

ARAUJO, L.; FINCH, J.; KJELLBERG, H. Reconnecting FINCH, J.; GEIGER, S. Constructing and contesting
marketing to markets. Oxford: Oxford University Press, markets through the market object. Industrial Marketing
2010. Management, v. 40, n. 6, p. 899-906, 2011.

ARAUJO, L.; KJELLBERG, H.; SPENCER, R. Market FINCH, J.; WAGNER, B.; HYNES, N. Resources
practices and forms: introduction to the special issue. prospectively: how actors mobilize resources in business
Marketing Theory, v. 8, n. 5, p.4-14, 2008. settings. Journal of Business Research, v. 65, n. 2, p.
164-174, 2012.
ARAUJO, L; SPRING, M. Services, products, and the
institutional structure of production. Industrial Marketing GEIGER, S.; KJELLBERG, H.; SPENCER, R. Shaping
Management, v. 35, n. 7 p. 797-805, 2006. exchanges, building markets. Consumption Markets &
Culture, v. 15, n. 2, p. 133-147, 2012.
AZIMONT, F.; ARAUJO, L. Category reviews as market-
shaping events. Industrial Marketing Management, v. GRANOVETTER, M. Economic action and social structure:
36, n. 7, p. 849-869, 2007. the problem of embeddedness. American Journal of
Sociology, v. 91, n. 3, p. 481-510, 1985.
BARKI, E.; PARENTE, J. G. Consumer behaviour of
the base of the pyramid market in brazil. Greener ______. The impact of social structure on economic
Management International, v. 56, p.11-23, 2010. outcomes. Journal of Economic Perspectives, v. 19, n. 1,
p. 33-50, 2005.
BELK, R.W. Possessions and the extended self. Journal of
Consumer Research, v. 15, n. 2, p.139-168, 1988. HAGBERG, J.; KJELLBERG, H. Who performs marketing?
Dimensions of agential variation in market practice.
______. Introduction to the resonant representations Industrial Marketing Management, v. 39, n. 6, p. 1028-
issue of consumption, markets and culture. Consumption, 1037, 2010.
Markets and Culture, v. 8, n. 3, p.195-203, 2005.
HAMMERVOLL, T.; TOFTEN, K. Value-creation initiatives
BRANDÃO, M. M.; PARENTE, J. G. Brasileiro gosta in buyer-seller relationships. European Business Review,
de “muvuca”? Impacto da densidade humana no v. 22, n. 5, p. 539-555, 2010.
comportamento de compra. Revista de Administração
de Empresas, v. 52, n. 6, p. 613-627, 2012. HEMAIS, W. H.; CASOTTI, L. M.; ROCHA, E. V. P.
Hedonismo e moralismo: consumo na base da pirâmide.
CALLON, M.; MÉADEL, C.; RABEHARISOA, V. The Revista de Administração de Empresas, v. 53, n. 2, p.
economy of qualities. Economy and Society, v. 31, n. 2, 199-207, 2013.
p. 194-217, 2002.
KJELLBERG, H.; HELGESSON, C-F. Multiple versions
COCHOY, F. Reconnecting marketing to “market- of markets: multiplicity and performativity in market
things”: how grocery equipment drove modern practice. Industrial Marketing Management, v. 35, n. 7,
consumption (Progressive Grocer, 1929-1959). In: p. 839-855, 2006.

74 Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015


CONSTRUÇÃO DE MERCADOS: UM ESTUDO NO MERCADO DE NOTEBOOKS PARA BAIXA RENDA

REFERÊNCIAS

______. On the nature of markets and their practices. PRAHALAD, C. K.; HART, S. L. The fortune at the Bottom
Markerting Theory, v. 7, n. 2 p. 137-162, 2007. of the Pyramid. Strategy and Business, v. 26, p. 1-14,
2002.
MASON, K.; SPRING, M. The sites and practices of
business models. Industrial Marketing Management, v. PRAHALAD, C. K.; RAMASWAMY, V. Co-creation
40, n. 6, p. 1032-1041, 2011. experience: the next practice in value creation. Journal
of Interactive Marketing, v. 18, n. 3, p. 79-88, 2004.
PARENTE, J. G.; MIOTTO, A.; BARKI, E. Polos comerciais
RANGAN, V. K.; CHU, M. PETKOSKI, D. Segmenting the
na rua. GVexecutivo, v. 6, n. 6, p. 49-54, 2007.
base of the pyramid. Harvard Business Review, v. 89, n.
6, p. 113-118, 2011.
PAYNE, A. F.; STORBACKA, K.; FROW, P. Managing the
co-creation of value. Journal of the Academic Marketing
RINALLO, D.; GOLFETTO, F. Exploring the knowledge
Science, v. 36, n. 1, p. 83-96, 2008. strategies of temporary cluster organizers: a longitudinal
study of the EU fabric industry trade shows (1986-2006).
PEÑALOZA, L.; VENKATESH, A. Further evolving the new Economic Geography, v. 87, n. 4, p. 453-476, 2011.
dominant logic of marketing: from services to the social
construction of markets, Marketing Theory, v. 6, n. 3, p. STORBACKA, K; NENONEN, S. Scripting markets: from
299-316, 2006. value propositions to market propositions. Industrial
Marketing Management, v. 40, n. 2, p. 255-266, 2011.
PRAHALAD, C. K.; HAMMOND, A. Serving the world’s
poor profitably. Harvard Business Review, v. 80, n. 9, p. SWEDBERG, R. Principles of economic sociology.
4-11, 2002. Princeton: Princeton University Press, 2003.

Gestão & Regionalidade - Vol. 31 - Nº 93 - set-dez/2015 75

Você também pode gostar