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0 LONGO INVERNO
Tradução de
BERILO VARGAS
E D I T O R A
* R E C O R D
R IO DE JA N E IR O • SÃO PAULO
2008
S U M Á R IO
Agradecimentos 9
Membros do Pelotão de Inteligência e Reconhecimento, 394° Regimento
de Infantaria, 99a Divisão de Infantaria na Batalha do Bulge 11
P arte U m : Se n t in el a no Re n o
1 A Toca do Lobo 17
2 Camp Maxey 23
3 Wacht am Rhein 43
4 A Frente-Fantasma 53
5 Soldados-Fantasmas 71
Pa r te D o is : A B atalha de L anzerath
6 Sturm! 91
7 O Último Pôr-do-Sol 117
8 O Café Scholzen 131
9 Terror 139
15 Moosberg 251
16 Verão de 1945 271
17 Justiça 279
18 O Encontro 287
Notas 305
Lista de Medalhas: Pelotão de Inteligência e Reconhecimento,
394° Regimento de Infantaria, 99a Divisão
de Infantaria, e a Citação Presidencial de
Unidade para o Pelotão de IÓR do 394° 331
Bibliografia 333
índice 339
Mapas
Front ocidental, dezembro de 1944 52
Área de operações do pelotão de I&R do 394° Regimento 73
A batalha de Lanzerath, 16 de dezembro de 1944 90
Campos alemães de prisioneiros de guerra 166
PARTE UM
Sentinela no Reno
1
A Toca do Lobo
* 0 complô para assassinar Hitler vinha sendo tramado desde 1942, com o apoio tácito de von
Runstedt e Rommel, entre outros generais importantes. Esperava-se que, depois de afastar
Hitler, e talvez Gõring e Himmler, a democracia fosse restaurada, a paz pudesse ser nego
ciada com os Aliados, e a Alemanha travasse uma guerra bem-sucedida com os russos.
18 O LONGO INVERNO
Beck apontou a pistola para o crânio e disparou, mas a bala apenas o feriu
de raspão. Ele caiu na cadeira, o sangue a escorrer-lhe da cabeça. Fromm
olhou para Beck com desprezo, voltando-se para Stauffenberg e os demais.
“Agora, senhores, se quiserem escrever cartas vou lhes dar uns minutos.”8
Fromm voltou cinco minutos depois. Anunciou que, em nome do Führer,
eles deveriam ser executados.
Um sargento alemão arrastou Beck, inconsciente, para fora da sala. Ou-
viu-se um tiro: Beck estava morto, atingido por uma bala que lhe atravessou
a nuca. Poucos minutos depois, Stauffenberg e os outros conspiradores
enfileiraram-se diante de um monte de areia num pátio. Era meia-noite, me
nos de 12 horas depois que a bomba explodira na sala de chá de Hitler.
— Vida longa a nossa sagrada Alemanha!9 — gritou Stauffenberg, quan
do o pelotão de fuzilamento apontou suas armas. Em poucos segundos, o corpo
crivado de balas caía por terra.
Fromm passou em revista o pelotão de fuzilamento. Satisfeito com o tra
balho, gritou “Heil Hitler!” e deixou o pátio.
Trinta minutos depois, Otto Skorzeny chegou com seus homens e obteve
de oficiais da Gestapo a confirmação de que os quartéis da Bendlerstrasse es
tavam protegidos.
Passavam alguns segundos da uma da manhã de 21 de julho de 1944,
quando uma rajada de música militar interrompeu todas as transmissões de
rádio na Alemanha.
— Escapei de um destino que, para mim, não inspira horror, mas que
teria terríveis conseqüências para o povo alemão — declarou solenemente
Adolf Hitler. — Vejo nisso um sinal da Providência de que preciso continuar
a minha obra e portanto vou continuar.10
Em 25 de julho de 1944, a BBC anunciou que a guerra só acabaria com
a rendição total e incondicional da Alemanha. Para Hitler a única opção era
lutar até o amargo fim. Enquanto se recuperava naquele fim de julho, come
çou a desenvolver o plano mais audacioso de sua carreira — uma última e
desesperada tentativa de derrotar os Aliados no Ocidente.
Camp Maxey
*A expressão “maravilha dos noventa dias”, de significado um tanto pejorativo, era usada para
designar os jovens aprovados na escola de treinamento de oficiais em poucos meses.
* * 0 programa ASTP destinava-se a criar um fluxo contínuo e acelerado de técnicos e especia
listas de alto grau para atender às necessidades do exército. Com esse objetivo, soldados ti
nham ordem de selecionar colegas para receber treinamento especializado. Embora
freqüentassem a faculdade, viviam sob disciplina militar e, formalmente, estavam no serviço
ativo. Recebiam o soldo regular do exército. A última coisa que lhes passava pela cabeça era
ir para unidades regulares de infantaria como soldados rasos.
CAMP MAXEY 25
corda. O pior trecho eram os túneis de arame farpado, pouco mais largos do
que o corpo humano.
— Todas as manhãs — disse-lhes Bouck — nos encontraremos aqui às
seis horas e eu os conduzirei pela pista de obstáculos. Quem não conseguir
acompanhar o ritmo será convidado a retirar-se do programa. Na realidade,
os que não quiserem fazer esse tipo de treinamento podem sair agora.10
Ninguém se manifestou.
O soldado Vernon Leopold juntou-se aos outros antes do primeiro obstá
culo. De todos os membros do pelotão, era o menos atlético — um rapaz de
20 anos, alto, meio desajeitado, com cabelos cacheados e tez morena. *
Leopold chegara aos Estados Unidos com a família em 1938, fugindo da
perseguição na Alemanha nazista. “Quando Hitler assumiu o poder em 1933”,
lembra Leopold, “nós, meninos judeus, fomos barrados nas escolas, mas eu
me livrei por causa dos antecedentes militares de meu pai. Isso não impediu
que fosse atormentado. O negócio era tão feio que até o nosso professor de
educação física chamou um colega judeu que não conseguia saltar um obs
táculo de judeuzinho aleijado... Minha família descobriu um jeito de me fazer
estudar na Inglaterra, com a ajuda do Conselho da Comunidade Judaica de
Londres. Lá, freqüentei a escola até julho de 1938, quando me reuni a meus
pais e a meu irmão mais novo para fugirmos de Düsseldorf... Chegando a
Nova York, mudamo-nos novamente, para a parte oeste de Detroit. Eu queria
me alistar, mas não pude, porque, tecnicamente, era estrangeiro. Inimigo es
trangeiro ou não, consegui alistar-me em junho de 1943, apresentando-me
como voluntário na convocação.”11 Mais do que qualquer outro do pelotão,
Leopold odiava os nazistas e entendia que as potências do Eixo tinham de ser
derrotadas. “Eu não precisava assistir aos filmes de doutrinação, como os
demais. Eu sabia por que estava indo à guerra.”12
*Risto trabalhava com o pai desde que se tornara fisicamente capaz de cumprir longas e du
ras horas em canteiros de obras, e herdara do pai a estrita ética do trabalho, o rígido código
moral e a propensão à violência. Quando menino, viu um operário mexicano ameaçar o pai
com uma picareta. Risto correu para o homem que ameaçava o pai, determinado a "acabar
com o filho-da-puta”. “Não se meta nisto!”, gritara-lhe o pai. O pai de Risto tomou a picareta
do mexicano, tirou a peça de metal e espancou-o com o cabo de madeira. Noutra ocasião,
durante uma reunião na igreja, foi chamado de mentiroso diante de todos. O pai de Risto
passou pelo meio da igreja cheia de gente e esmurrou o outro no rosto, derrubando-o. "Se
chamassem meu pai de mentiroso", contou Risto, “era assim que ele reagia. Aquele sujeito lá
na igreja custou a recobrar a consciência.” Entrevista de Risto Milosevich com o autor.
30 O LONGO INVERNO
'Outros dois ex-estudantes do ASTP, que tinham sido transferidos para o pelotão, os soldados
Rueter e Vic Adams, também tinham conhecimento de alemão. Mas nenhum falava fluente
mente a língua, porque pertenciam a famílias de imigrantes de segunda ou terceira geração,
e falavam alemão com sotaque americano. Logo depois que o pelotão foi reconstituído, Rueter
foi transferido para o Escritório de Serviço Estratégico (OSS).
CAMP MAXEY 31
*Como o pai, que chegara aos Estados Unidos em 1905, Kalil tinha trabalhado numa fábrica
de borracha depois de completar o ensino médio. Jogara futebol avidamente, candidatando-
se a uma vaga em Notre Dame antes de alistar-se em 1942, aos 19 anos.
**Havia outro Adams no pelotão — um ex-aluno do ASTP chamado Robert Adams.
CAMP MAXEY 33
Kalil não gostava de ouvir Adams gabar-se de servir há mais tempo, dan
do a entender que era mais patriota e “melhor soldado”. “Ninguém ligava
para ele", lembrou Kalil. “Irritava todo mundo. Julgava-se melhor do que to
dos nós porque era soldado regular.”27
Kalil também suspeitava que, na hora do aperto, Adams daria um jeito de
esquivar-se.28Antes de serem mandados para uma zona de combate, Adams
estava sempre se queixando ou bancando o esperto.*
Para seu ajudante, o tenente Bouck escolheu um imigrante grego agressi
vo e ansioso, o soldado Bill “Tsak” James,** jovem de 19 anos, rosto largo,
físico atarracado que queria ser advogado e tinha participado do programa
ASTP na Faculdade Estadual John Tarleton, no Texas, com o soldado de pri
meira classe Risto Milosevich. Excelente batedor e atirador, especialmente
com uma submetralhadora, James logo estabeleceu uma boa relação com
Bouck.29 “Bill era um sujeito excelente, do tipo deixa que eu faço”, lembra
Bouck. “Estava sempre disposto. Pensei comigo: ‘Esse é o tipo do sujeito de
que eu preciso. Provavelmente há muita coisa que não vou querer fazer e é só
falar com ele que estará pronto para fazer.’”30
James era querido por outros no pelotão, que passaram a vê-lo como uma
espécie de mascote macho sempre pronto para tudo.
— Não vejo a hora de ir lá e quebrar os cornos daqueles filhos-da-mãe —
dizia James.51
*Numa noite quente de verão, contou Adams, ele se envolvera num exercício de reconheci
mento executado pela divisão. Outros soldados que falavam alemão, incluindo Leopold, re
ceberam ordem para vestir uniformes quentes de lã do Afrika Corps e tentar confundir as
manobras noturnas. “De repente aparecíamos falando alemão. Finalmente, quase de manhã,
nos deixamos 'capturar'. Aquilo os deixou imensamente confusos e ninguém sabia o que fa
zer. Os oficiais ficaram loucos quando lhes dissemos, em inglês, que estávamos cansados e
famintos, e pedimos uma carona de volta para nossa unidade. Sabiam que tinham sido 'apa
nhados'. Uma das poucas fotos que sobrevivem de membros do pelotão em Camp Maxey
mostra o soldado Adams e o soldado Leopold rindo timidamente em seus uniformes alemães.
Vic Adams a Will Cavanagh, 26 de junho de 1987.
**Bill James recebeu ao nascer o nome de William Tasakanikas e trocou-o por James depois
da guerra. Em todo o livro seu nome é James, para evitar confusão. Para outros membros do
pelotão, que tinham dificuldade de pronunciar seu sobrenome, ele era “Tsak”. O pelotão
sabia que James era zelosamente orgulhoso de sua herança grega, e que tinha três irmãos e
sete irmãs nas forças armadas.
34 O LONGO INVERNO
‘ Enquanto estava no 60° Regimento da 9a Divisão combatendo perto de Mknassey, Kriz foi
atingido por estilhaços de morteiro e passou semanas indo de hospital a hospital. Quando
ficou bom, voltou para sua unidade no meio da campanha contra Bizerte. Logo depois se
ofereceu como voluntário na perigosa missão de encontrar um pelotão que perdera contato
com o seu batalhão, e foi dado como desaparecido perto das posições inimigas. Com dois
guarda-fios do regimento e um telefone, Kriz partiu em busca do pelotão desaparecido. Du
rante a busca, encontrou uma companhia presa num campo minado. Kriz assumiu o coman
do da companhia e conduziu os homens pelo campo, até o seu objetivo. Por esse ato heróico
e por sua coragem excepcional, Kriz foi condecorado com a Estrela de Prata. Posteriormente,
ele explicaria sua indicação como S-2 com a modéstia de hábito, dizendo que, quando se
recuperou do ferimento na perna, “eles [o exército] não sabiam o que fazer comigo e me
transformaram num oficial de inteligência”. Recorte de jornal sem título. Arquivos pessoais
de Lyle Bouck.
36 O LONGO INVERNO
*Para surpresa do tenente Lyle Bouck, o trem passou por sua cidade natal, St. Louis, no
Missouri. Infelizmente, não lhe deram permissão para saltar. Quando o trem saía de St. Louis,
ele deve ter pensado na família e nos lugares que freqüentou quando menino e que talvez
râ » Notasse a ver. Também deve ter pensado que, se um dia voltasse, faria tudo para ser al
guém na vida.
38 O LONGO INVERNO
estamos preparando, no mais absoluto segredo, uma missão na qual você de
verá desempenhar um dos papéis principais. Em dezembro, o exército ale
mão lançará uma grande ofensiva de suprema importância para o futuro do
nosso país.4
Hitler explicou melhor: os líderes aliados, tendo até agora penetrado com
facilidade e rapidez a França e a Bélgica até as fronteiras da Alemanha, ao
longo da Muralha Ocidental, acham que a guerra estará terminada no Natal.
A acreditarmos nos boletins de notícias dos Aliados, cabe ao general Dwight
Eisenhower escolher quando quer sepultar o “cadáver” alemão. Os inimigos
foram complacentes e confiantes em excesso; suas linhas de suprimento se
estenderam demais; e eles negam a existência de um ponto fraco importan
te, as Ardenas, e em particular o desfiladeiro de Losheim, uma passagem de
15 quilômetros de largura numa cadeia de montanhas terrivelmente fria e
inóspita chamada Schnee Eifel.
— Na opinião de Hider — contou Skorzeny — nem o povo inglês nem
o povo americano queriam mais a guerra. Por isso, se o “cadáver alemão” se
erguesse para desferir um golpe mortal no Ocidente, os Aliados, sob pres
são de uma opinião pública enfurecida por ter sido enganada, talvez se dis-
pusessem a assinar um armistício com esse cadáver que, afinal, continuava
tão vivo. Então ele lançaria todas as nossas divisões, todos os nossos exérci
tos numa batalha na frente ocidental e, em poucos meses, liquidaria a amea
ça que pairava sobre a Europa. Além disso, por quase mil anos a Alemanha
tinha montado guarda contra as hordas asiáticas e não falharia nessa missão
sagrada.5
Em seguida, Hitler esclareceu a missão de Skorzeny. Queria que ele es
colhesse os melhores homens que encontrasse e os treinasse para se fazerem
passar por americanos. Esse grupo de elite atuaria atrás das linhas inimigas,
usando uniformes americanos, dirigindo jipes americanos, ocupando pontes
vitais no rio Meuse e dando falsas ordens aos americanos para provocar o caos
e o pânico. A missão de Skorzeny teria o codinome de “G reif', em homena
gem a um mítico pássaro alemão.
— Seus preparativos devem estar concluídos em I o de dezembro —
enfatizou Hitler. — Sei que o tempo é curto, mas conto com você para con
46 O LONGO INVERNO
terra. A cidade grande mais próxima onde havia uma U SO,* em que garotas
inglesas serviam chá com biscoitos, era Beaminster.
Nos pubs da cidade, o pelotão bebia cidra e a forte cerveja inglesa quente,
comia incontáveis porções de peixe e batatas (servidas, para sua surpresa,
em jornais), bife, rins e tortas; tentavam se divertir com moças do exército
inglês; jogavam dardos e coçavam a cabeça para entender a confusa moeda
britânica, com seus xelins, meio-xelins e meia-coroas na hora de pagar a
conta.
Aquele outono Bouck tinha dinheiro para gastar. Ávido fã de beisebol,
que jogara quando criança no mesmo bairro de St. Louis onde jogara o len
dário Yogi Berra, tinha apostado cinqüenta dólares, com um oficial superior
do 394°, que St. Louis venceria a World Series. O dinheiro da aposta foi con
fiado ao capelão do regimento. Então o jornal Stars and Stripes anunciou que
os Cardinais de St. Louis e os Browns de St. Louis disputariam a final da World
Series. O oficial tentou cancelar a aposta, mas o capelão, pondo-se do lado
de Bouck, que não especificara qual dos times de St. Louis ganharia, recu-
sou-se a devolver o dinheiro do oficial.10
Em muitas noites membros do pelotão voltavam bêbados para o pavilhão
Quonset. Os ingleses do lugar eram lentos bebedores, capazes de ficar horas
acariciando uma caneca. Mas os mais novos do pelotão, em muitos sentidos
ainda colegiais, viravam a cerveja em segundos, com resultados previsíveis
— um quartilho de cerveja inglesa era quatro vezes mais forte do que o “mijo”
a que estavam acostumados em Camp Maxey.
Um dos bebedores mais sedentos era o soldado James Silvola, que ganha
va um dinheiro extra para a cerveja como barbeiro do pelotão. Quase chegou
a trocar socos com o soldado Carlos Fernandez numa noite em que urinou
na cama de Fernandez, confundindo-a com a latrina.
— Porra, se não consegue segurar a cerveja — gritou o soldado Louis
Kalil — não saia à noite.11
As brincadeiras continuavam de manhã, antes da chamada. O sargento
George Redmond encostava o pênis no travesseiro de um homem qualquer
*“À noite, os Comandos Piccadilly safam à rua durante o blecaute e sujeitos ingênuos como
eu tinham de defender sua honra”, escreveu o sargento Dick Byers da 99a Divisão, ardoroso
anglófilo que acompanhara a Batalha da Inglaterra, em 1940, escutando com a família, em
Cleveland, Ohio, os boletins radiofônicos da BBC. “As calçadas viviam cheias desses ‘coman
dos’, que abordavam soldados e tentavam passar-lhes cantadas. Cinco libras por uma noite
inteira; duas libras para ir num táxi; uma libra para ira uma ruela. Era quase preciso derrubá-
las para se livrar delas. Muitas vezes fui agarrado pelo braço, e eu tive de lutar para escapar de
um ‘destino pior do que a morte!’. No começo era engraçado, mas depois sua impudência
deixava de ser novidade. Algumas eram bem bonitas, o que tornava tudo ainda mais revoltan
te. Muitos soldados americanos esqueciam-se da beleza da Inglaterra, e do sofrimento e do
terror que os ingleses tinham vivido, e só se lembravam das prostitutas de Piccadilly Circus.
É uma pena.” Dick Byers, memórias inéditas.
50 O LONGO INVERNO
Siegfried, que era diretor da empresa de produtos para pés Dr. Scholl, tinha
tomado conta dele. Ao saber que Leopold estava a caminho da linha de fren
te, Sigfried lhe deu como presente de despedida uma lata de talco para os
pés. Disse-lhe que aquilo evitaria bolhas e feridas nos buracos dos abrigos,
problema comum e debilitante entre os soldados na frente ocidental.17
Quando Leopold e Fort voltaram para o acampamento, os colegas de pe
lotão escutaram com ansiedade seus “relatos de guerra” em Londres. O sol
dado John Creger nunca ouvira o nome Siegfried a não ser com relação à
Linha Siegfried — o famoso baluarte defensivo ocidental da Alemanha, que
a divisão deveria em breve atacar. Infernizou Leopold e Fort sem parar, pe-
dindo-lhes que descrevesse com detalhes esse generoso “Tio Siegfried” que
se despedira de Leopold dando-lhe de presente uma lata de talco para os pés.
Ele e outros deram boas gargalhadas quando Leopold descreveu o primo do
pai como um “bem tratado” executivo do Dr. Scholl.
— Bem tratado?
Tanto quanto sabiam, só cavalos e cães eram tratados, e portanto “bem
tratado” acabou se tornando no pelotão uma dessas expressões que todos
repetem.
No dia seguinte, o pelotão foi informado de que a 99a Divisão embarcaria
novamente, desta vez para as linhas de frente. Os jogos e brincadeiras tinham
acabado. Em 24 de outubro de 1944, apenas duas semanas depois de terem
chegado à Grã-Bretanha, os homens ficaram restritos ao acampamento, en
quanto policiais militares varriam a área em busca de AOWLs (soldados au
sentes sem licença) que tinham abusado do passe de três dias, demorando-se
mais do que deviam em vilarejos e cidades. Em 3 de novembro, os soldados
do 394° Regimento subiram em caminhões e foram levados para uma esta
ção ferroviária deserta. Fazia tanto frio que alguns homens acenderam uma
fogueira com bancos para se aquecerem.18
Pouco depois do alvorecer, o tenente Lyle Bouck e seus homens embar
caram num ferry em Southampton. “Acho que eu pensava como os outros
rapazes”, contou o soldado Louis Kalil. “Naquele momento calculei que a
chance de voltar para casa era de cinqüenta por cento.”19
4
A Frente-Fantasma
não havia tempo para parar e confraternizar. Os jipes seguiram adiante, sem
ligar os faróis à noite, correndo aos solavancos pelas pistas com marcas pro
fundas de pneus, em direção à fronteira belga. Numa aldeia, um morador
ofereceu uma garrafa de conhaque. O soldado Vernon Leopold aceitou-a,
satisfeito, bebeu um trago e o jipe prosseguiu, antes que pudesse devolvê-la.
Aquele foi, de acordo com diversos relatos de viagem da 99a, um raro ges
to de generosidade. “Ao passarmos pelas ruas estreitas de uma pequena cida
de à noite”, lembrou um companheiro do 395° Regimento, “achamos que
estava chovendo. Mas eram os moradores esvaziando penicos em nossas ca
beças, e não estou falando de nada em estado líquido.”2
A primeira parada foi na cidade belga de Aubel, a área de concentração
destinada à 99a, logo depois da fronteira francesa. Ali deveriam aguardar or
dens específicas, antes de seguirem para a bem fortificada Linha Siegfried,
ao longo da fronteira germano-belga, que os alemães chamavam de Muralha
Ocidental.
Em 7 de novembro de 1944, os homens do pelotão novamente armaram
suas barracas, resignando-se a passar outra noite horrível, desta vez num campo
lamacento perto de Aubel.
Leopold falava um francês sofrível e pôs-se a conversar com o agricultor
dono do campo. Logo o agricultor ofereceu o celeiro para que o pelotão usas
se como abrigo. “Nem é preciso dizer”, lembra Leopold, “que Lyle imediata
mente aceitou a hospitalidade. Mais do que isso, em uma hora todo o pelotão
de I&R tinha água quente para barbear-se, leite fresco para beber e outras
regalias. Descobri, para minha grande alegria, que falar a língua do lugar era
uma enorme vantagem.”5
O prestígio de Leopold no pelotão cresceu ainda mais quando o agricul
tor os convidou para tomar o café da manhã na cozinha.
Mas ficou demonstrado que o talento de Leopold “também tinha suas
desvantagens”.4 Em poucas horas, o coronel Donald Riley, comandante do
394°, soube dos talentos diplomáticos de Leopold e lhe ordenou que fosse
com ele, três guarda-costas e o major Robert Kriz fazer uma visita a outras
unidades acampadas na vizinhança.
No começo do dia, as companhias do 394° formaram fila no posto do ofi
cial intendente, contíguo ao quartel do regimento, para receberem galochas.
A FRENTE-FANTASMA 55
O pelotão chegava cada vez mais perto da Linha Siegfried. De seus jipes, os
homens miravam sombriamente a paisagem que passava, a caminho de
Schnee Eifel — floresta impenetrável, como o Hürtgen, e margeada por cam
pos inclinados, onde fardos de feno compunham figuras geladas, e não tinha
havido colheita nas lavouras, devido aos acirrados combates do outono. Esta-
vam numa região da Bélgica que pertencera à Alemanha antes do Tratado de
Paz de Versalhes, e onde cinco entre seis bravos e reservados moradores só
falavam alemão.
Ao se aproximarem de Hünningen, passaram pela pequena cidade de
Malmedy, lugar de aspecto agourento, com suas fuliginosas estruturas medie
vais e suas gélidas ruas de paralelepípedos. Viram denso nevoeiro e cercas
vivas cobertas de gelo ao subirem os últimos quilômetros em direção a
Hünningen. Finalmente, ao anoitecer de 11 de novembro, os jipes pararam
em frente ao prédio de pedra de uma escola, ao lado de outro edifício separa
do para sediar o posto de comando do 394° Regimento.
Felizmente não iam passar a noite numa barraca ou num buraco, como
as companhias de infantaria do 394°. Ao explorar os novos alojamentos, os
homens do pelotão descobriram, com satisfação, que as adegas do prédio es-
tavam cheias de batatas. Alguém liberou rapidamente um bloco de gordura
de cozinha de um sargento, acendeu um fogo, improvisou um fogão rudi
mentar e pôs-se a fritar batatas. Talvez a vida na linha de frente não fosse tão
58 O LONGO INVERNO
soldado alemão perdido, que levássemos para casa como troféu, um prisio
neiro de guerra a ser submetido a interrogatório.15
A neve fresca cobria o chão. Em alguns lugares, urina humana e animal
maculara a neve com manchas amarelas brilhantes.
A equipe rastejou em direção às linhas alemãs. De repente, Leopold co
meçou a tossir. Bouck voltou de quatro.
— Porra — sibilou Bouck. — Fique quieto! Chupe um pouco de neve!16
— Mas não da amarela — brincou alguém.17
Leopold certificou-se de que era branca:
— O punhado de neve era um maná do céu — desapareceu, momenta
neamente, a coceira na garganta, o peso no peito e, com isso, a vontade de
tossir. Enquanto seguíamos em fila indiana pela floresta densa e coberta
de neve, eu ia enchendo a mão de neve macia e branca e enfiando na gar
ganta o mais rápido que conseguia. Fiz isso durante as quatro horas, mais ou
menos, de duração da patrulha — sem tossir uma única vez.18
Cansados e aliviados, Leopold e os outros voltaram para as linhas ameri
canas, disseram a senha num posto e retornaram a Hünningen para comer
batata frita e dormir.
A primeira patrulha do pelotão foi uma lição.”1Os longos e penosos me
ses de treinamento não tinham preparado os homens para se moverem em
silêncio e sem serem vistos, em condições tão adversas, e num terreno tão
difícil. Sabiam agora que iam precisar de cada grama de resistência e força
física, assim como de todo o descanso e alimentação decente que pudessem
conseguir.
Dois homens bastariam para a próxima patrulha, e Bouck levou com ele
seu imediato, o soldado Bill James. Um cadáver alemão fora visto não muito
longe das linhas de frente alemãs.
— Veja se dá para inspecionar o corpo em busca de possíveis informa
ções vitais — ordenara Kriz. — Não deixe de levar arame para prender a
uma das pernas e puxá-lo e arrastá-lo para ter certeza de que não esconde uma
granada.19
*Logo depois da primeira patrulha, Bouck e vários outros do pelotão foram dos primeiros do
394° a receber a insígnia de Combatente de Infantaria, valorizada pelos veteranos porque
significava participação em perigosas ações na linha de frente.
A FRENTE-FANTASMA 63
Redmond não ficou muito satisfeito, mas saiu sem reclamar para dar a
notícia aos subordinados. Na noite seguinte, sua equipe, incluindo os solda
dos Leopold e Louis Kalil, saíram em condições terríveis; em pouco tempo
os homens estavam encharcados até os ossos. “Até os alemães foram espertos
e não saíram”, lembra Kalil. “Mesmo assim, sabíamos que nem todos talvez
voltassem. O medo não nos deixava, o tempo todo.” Finalmente, a equipe do
sargento Redmond zanzou de volta para o quartel em Hünningen. “Estáva-
mos arrasados, rosto afogueado, com frio, e cadê a comida?”, contou Kalil.
“Ficamos putos. Houve muito palavrão e eu disse a Buck que enfiasse sua
comida quente no rabo. Não comemos nada a noite inteira. De tão cansados
trocamos de roupa e caímos na cama.”25
Os nervos dos homens estavam por um fio. Fleumaticamente chamavam
suas excursões de “tiro ao alvo”, mas isso era para esconder o fato de que esta
vam envolvidos num esporte letal, que exigia nervos de aço, como dizia o
major Kriz.26
Dormir bem era crucial para se manterem tão lúcidos e atentos quanto
possível.
Certa noite, quando o pelotão ajeitava seus “sacos de peido” — sacos de
dormir — para tirar um cochilo de algumas horas antes da patrulha da meia-
noite, Bouck ouviu os gritos de bêbado de um subtenente do 394°, de nome
Montgomery. Furioso com a insensibilidade e falta de profissionalismo do
colega oficial, ele foi até a escada que levava ao andar térreo da casa.
— E você, Montgomery?... Estamos tentando dormir um pouco, já va
mos sair para fazer uma patrulha.
Montgomery respondeu com um palavrão.
— Escute aqui, se você não calar a boca eu vou aí embaixo e faço você
calar.
— Não precisa descer. Pode deixar que eu vou aí em cima — ameaçou
Montgomery.
— Pois venha.
Bouck começou a descer a escada. Viu a figura descarnada de Montgomery
se aproximar. Olhava para os degraus na luz fraca. Bouck atingiu-o no maxi
lar, fraturando-o em dois lugares e nocauteando Montgomery.
— É melhor alguém tirá-lo daqui — ordenou Buck.27
66 O LONGO INVERNO
que atravessasse o Rio Grande depois do ataque a Pearl Harbor, para evitar o
alistamento. Identificando-se como americano, Fernandez recusou-se a fugir.52
No começo do dia 18 de novembro de 1944, o major Kriz partiu no ne
voeiro, com quarenta homens do Primeiro Batalhão do 394°, usando o mapa
de Fernandez para chegar a Losheim. Naquela manhã, em outra localidade,
o regimento teve seus primeiros mortos em combate. O primeiro-tenente
Charles M. Allen, S-2 do 3o Batalhão, foi crivado, da cabeça à virilha, por
fogo de metralhadora MG-42. Dois outros homens morreram quando tenta
vam recuperar o corpo de Allen. Em comparação com isso, o ataque de Kriz
foi um êxito extraordinário. Segundo os registros da 99a Divisão, “a patrulha
não sofreu baixas e matou dois inimigos. Além disso, cumpriu sua missão ao
capturar dois prisioneiros num posto avançado inimigo, numa casa do lado
ocidental da cidade”.55
Milosevich viu Kriz voltar da missão. O que mais o impressionou foi ver
Kriz trazer todos vivos.
Durante o interrogatório, descobriu-se que os prisioneiros pertenciam à
3a Companhia do 989° Regimento de Granadeiros da 277a Divisão Volksgre-
nadier. Seu regimento chegara não mais que 24 horas antes àquele setor, depois
de uma longa viagem de trem a partir da Hungria.
Os prisioneiros não sabiam por que tinham viajado mais de 1.600 quilô
metros pela Europa até as Ardenas com tanta pressa. Aquele era o segredo
mais bem guardado do Terceiro Reich. Faltavam poucas horas para ataca
rem o setor da 99a Divisão quando os principais oficiais da 277a descobriram
por quê. Os soldados que Kriz capturara eram, é claro, parte da grande con
centração de tropas alemãs que, logo depois, dariam início à maior batalha
que o exército americano já lutara.
de levar seu Kampfgruppe para uma pequena cidade do Reno, Dueren, arra
sada num bombardeio aéreo à luz do dia pela Oitava Força Aérea dos EUA.
Peiper tinha distribuído a sua cota de morte e horror em mais de quatro
anos de guerra, mas ao ordenar a seus homens que ajudassem civis a desocu
parem Dueren, ficou estarrecido com a dimensão da carnificina. Corpos de
mulheres e crianças atulhavam as ruínas fumegantes. “Tivemos de raspá-los
das paredes, a coisa chegara a esse ponto!... Eu seria capaz de castrar, com
um caco de vidro, os canalhas que fizeram aquilo com o povo inocente de
Dueren.”54
Por volta de dezembro de 1944, Jochen Peiper se tomara o garoto-propa-
ganda ideal das Schutz Staffel — as SS. De estatura mediana, com longos
cabelos negros penteados para trás, olhos azul-claros e um sorriso cativante,
que expunha os dentes alvos, ele ingressara na Juventude Hitlerista em 1933
e fora aceito no quadro de elite das SS aos 19 anos. Tendo mudado seu nome
original, Joaquim, de inspiração bíblica, para Jochen, porque as SS não ti
nham a Bíblia como texto sagrado, sobrevivera ao curso de treinamento de
oficial das SS em Dachau, lugar do primeiro campo de concentração do Ter
ceiro Reich. Para endurecer os jovens super-homens do Terceiro Reich, os
instrutores colocavam granadas de impacto na cabeça dos recrutas — basta
ria um leve movimento para que a granada caísse e explodisse.
Peiper logo se destacara como um fanático SS, muito inteligente, arro
gante e impetuoso. Mas não se filiou ao Partido Nazista, alegando que não
queria avançar na carreira por ser membro do partido, mas pelos próprios
méritos. Era, entretanto, seguidor entusiástico de Hitler, e o objeto que mais
se orgulhava de possuir era um exemplar autografado de Mein Kampf.
Mascando os melhores charutos cubanos, Peiper percorrera a Polônia
derrotada no começo de 1940, ao lado do chefe das SS, Heinrich Himmler.
Depois de servir como leal ajudante no quartel-general de Hitler na Polônia,
ingressara na guarda pretoriana do Führer, a Leibstandarte Adolf HiÜer, da
Primeira Divisão Panzer das SS, e durante a invasão da França na primavera
de 1940 foi condecorado com a Cruz de Ferro de Primeira e Segunda Classe.
A Primeira Divisão Panzer das SS foi, originariamente, a unidade “Cabe
ça de Morte”, responsável pela administração dos campos de concentração,
mas fora transformada numa unidade de combate na linha de frente quando
A FRENTE-FANTASMA 69
Tinha acabado de amanhecer quando o major Kriz parou num jipe em fren
te ao quartel do pelotão.
— Preciso que você faça uma coisa muito importante — disse ele a Bouck.
— Venha comigo.
Bouck entrou no jipe e os dois partiram para umas colinas próximas, pela
estrada que conduzia à fronteira alemã. Passaram por densa floresta, atraves
sada por um aceiro de ferrovia, seguiram aos solavancos por estradas com pro
fundas marcas de pneus e pararam perto de uma fila de árvores que dava para
uma cidadezinha chamada Lanzerath, a menos de dois quilômetros da Li
nha Siegfried.
Lanzerath era pouco mais do que um grupo de 15 apagadas casas de ma
deira, ao redor de uma pequena igreja e de uma construção de pedra chama
da Café Scholzen, onde os moradores se concentraram antes da desocupação
geral da área pelo Primeiro Exército dos EUA em outubro. Mas tinha vital
importância estratégica: ficava numa estrada de norte a sul, com um cruza
mento que conduzia à área de descanso da 99a Divisão em Honsfeld, a oeste.
Uma unidade de ataque que tomasse o vilarejo teria acesso a uma excelente
rota de apoio para tanques, passando por um setor mal defendido da frente
americana.
72 O LONGO INVERNO
suficiente poder de fogo para defender uma posição no caso de um forte ata
que alemão. E Bouck sabia que seus homens não iam gostar de ser designa
dos para desempenhar tarefas de um pelotão regular de infantaria, depois de
terem sido longamente treinados para funções bem diferentes. Mas ordens eram
ordens, além do que o major Kriz era homem de palavra. Muito tempo se pas
saria antes que o pelotão voltasse a desempenhar suas obrigações normais.
— Você tem alguns homens em operações regimentais e outros no quar-
tel-general — disse Kriz. — Pegue o resto do pelotão e ponha nesses abrigos
[de Lanzerath]. Parece que podem ser melhorados.2
para o
Campo de
Elsenborn
linha de
y frente
Loshelmergraben
iombardeada?\i oshejm
para Manderfeld
Cavar a nova trincheira não lhes tomou muito tempo, com o robusto
MeGehee manejando a pá — tinha braços da grossura das toras que corta
ram para reforçar os outros abrigos. Apelidado de “Schnoz” por seus colegas
de escola, por causa do nariz grande, MeGehee começara a sentir saudades
desesperadas da jovem mulher, Agnes, chefe de torcida de sua escola se
cundária em McComb, Mississippi. Casaram-se em 1943, quando MeGehee
conquistou Agnes, ao vender um velho conversível Ford Modelo T para pre
senteá-la com uma caixa de música de madeira que tocava “Eu te amo” inde
finidamente.5
Robinson, Silvola e MeGehee ocupariam o abrigo recém-cavado à fren
te e à esquerda da posição. O sargento Redmond e Kalil ficariam no de trás,
e o sargento Slape e Milosevich estariam à sua direita. Bouck ajudaria a guar
necer o abrigo seguinte, com James. O operador de rádio Fort, Fansher, Creger
e Adams tomariam posição ao longo do centro da linha defensiva, enquanto
Jenkins e Preston ficariam juntos num abrigo no flanco direito. Bouck insta
lou seu posto de comando atrás da linha de abrigos, perto da cabana (ver mapa
na página 90).
Em caso de ataque, Sam Jenkins e o veterano Robert Preston, nascido
em Maryland, do pelotão de I&R original, operariam um fuzil automático
Browning, calibre 30, a arma portátil padrão dos pelotões de infantaria.
“Preston era um sujeito muito tranqüilo, muito popular entre os soldados”,
lembra Jenkins. “Sua farta cabeleira lhe valera o apelido de ‘Esfregão’. Só ao
ocuparmos juntos aquela trincheira nos tomamos íntimos.”6
Ao preparar sua posição, Preston adotava a mesma espécie de cinismo
comum à maioria dos soldados da linha de frente, naquele com eço de
dezembro, sabendo que a guerra não acabaria tão cedo, apesar das previsões
de generais americanos acometidos de excesso de confiança, nenhum dos
quais tinha visitado sequer uma posição nas linhas de frente nas Ardenas para
ver como era impiedosa a vida nos abrigos cavados no chão, em temperaturas
abaixo de zero.* As vezes fazia tanto frio à noite que os homens tinham medo
até de cochilar nas trincheiras — podiam morrer congelados durante o sono.
‘ Naquele outono, Eisenhower apostara com Montgomery que a guerra acabaria no Natal.
SOLDADOS- FANTASMAS 77
Outro que não tinha ficado exatamente entusiasmado com suas novas
obrigações era o soldado Joseph McConnell, que costumava contar piadas
cáusticas a uma distância segura de Lyle Bouck ou do sargento Slape.
McConnell fora criado em algumas das ruas mais violentas da Filadélfia.
Muito inteligente e ligeiro, tinha pouco apreço pela vida militar. Havia um
trabalho a ser feito. Quanto mais depressa se desincumbisse, mais rapidamente
poderia tirar o uniforme e esquecer o exército. Lamentar-se era inútil e só
piorava as coisas.
O pelotão esperava estar de volta a seus deveres normais no Ano-novo,
reunindo-se entre uma patrulha e outra na adega em Hünningen e comendo
batata frita. Além disso, as coisas poderiam piorar, pois estavam numa área
sossegada, diferentemente das unidades de combate da 99a, que lutavam ape
nas oito quilômetros ao norte, num impasse sangrento, tentando romper a
Linha Siegfried e chegar às barragens do rio Roer.
‘ Adams seria dispensado com honra em setembro de 1945, depois de meses em hospitais
militares.
SOLDADOS- FANTASMAS 83
Peiper tinha uma grande preocupação além das estradas ruins. Onde con
seguir suprimento extra de combustível? O combustível destinado a seu
Kampfgruppe estava longe de ser suficiente para chegar ao Meuse em 24 horas,
como previa o plano de Hitler.
Mohnke disse que Peiper poderia obter combustível extra no caminho,
especificamente num grande depósito de suprimento americano em
Mürringen, o quartel-general da 99a Divisão, de codinome “Destemido”.
Mohnke encerrou a reunião repetindo palavras de um discurso de HiÜer
a seus generais: “A batalha decidirá se a Alemanha vai viver ou morrer. Seus
soldados devem lutar implacavelmente. Nada de piedade. O inimigo precisa
ser derrotado, agora ou nunca. Assim nossa Alemanha viverá! Avante para o
Meuse!”31
Poucos oficiais do grupo ficaram impressionados com a oratória de HiÜer.
“Era a retórica de sempre, mais para motivar os soldados”, contou Otto
Skorzeny, “na maioria jovens recrutas impressionáveis, do que para conven
cer comandantes endurecidos na batalha e meio cínicos. Acho que, raposas
velhas como éramos, mal escutamos o que disse Mohnke, visivelmente rubro
do esforço que fazia.”32
Mas Jochen Peiper ouvira muito bem Mohnke. Ele ficaria com o peso da
responsabilidade do êxito ou fracasso do Sexto Exército Panzer. Precisava fa
zer tudo ao seu alcance para “obter o máximo de rapidez e de força”.33
Em perfeito inglês, Peiper recordava-se posteriormente: “Resolvi que meus
blindados iriam o mais rápido possível, até encontrar resistência. Depois viriam
os tanques para destruir a resistência e os meia-lagartas avançariam novamen
te. Esperava que se tudo desse certo eu só precisaria que os Mark IV e Panthers
seguissem pelas montanhas e alcançassem o rio Meuse, com uma companhia
panzer. Assim eu poderia, mais tarde, entrar com os pesados tanques Tiger.”34
O operador de rádio James Fort olhou pela estreita abertura do seu abrigo.
De repente, um corajoso cervo se aproximou das posições do pelotão.35 “Ele
atravessou o campo e Robinson atirou com um M -l”, lembrou Fort. “Não o
86 O LONGO INVERNO
matou. Então pegou seu fuzil automático Browning e atirou de novo, dessa
vez o bicho saiu rolando. Limpamos o cervo, penduramos na árvore e, é cla
ro, ele congelou. íamos começar a cortá-lo e comê-lo no dia seguinte.”36
Aquela caça fresca seria uma bela mudança de cardápio, um substituto
perfeito das barras de chocolate, apelidadas de “Arma Secreta de Hitler” por
muitos soldados.
O incidente do cervo foi apenas uma distração temporária. Os homens
estavam inquietos. Os mais céticos não gostaram de que uma ração de álcool
tivesse sido distribuída na noite anterior. Isso era sempre sinal de que algo iria
acontecer. Ninguém estava a fim de falar do Natal que se aproximava, ou do
21° aniversário do tenente Lyle Bouck, a apenas dois dias.
Como de hábito, Lyle Bouck examinou os pés de alguns homens naque
le dia. Fazia mais de um mês que o soldado Leopold tivera a ulceração, mas
trocando constantemente de meias e mantendo-se seco dera um jeito no pro
blema. No entanto, a obrigação de ficar em pé na trincheira nos últimos dias
piorara seu estado. Leopold pediu que não se preocupassem com ele, mas
Bouck não quis arriscar.
— Você vai voltar no jipe do rango — ordenou.
O jipe que trazia correspondência e alimento chegou logo depois de es
curecer, às quatro da tarde. Quando os homens acabaram de comer, o soldado
Carlos Fernandez saiu com o soldado Leopold para Hünningen. “Aparen
temente, os homens que desenharam os mapas de patrulha para as companhias
na linha de frente tinham adoecido”, contou Fernandez. “Fiquei encarrega
do de traçar esses mapas aquela noite e voltar com o jipe do café da manhã,
de manhã cedo.”37
Depois da ceia, Bouck disse aos restantes 18 membros do pelotão que de
veriam ficar de vigília aquela noite. O major Kriz queria que eles redobras
sem a vigilância: haveria outro ataque da 99a Divisão às barragens do Roer.
Os homens deveriam ficar atentos à possibilidade de um contra-ataque.38 Os
serviços de informação de Kriz indicavam que o contra-ataque poderia ser
sério.
Por volta da meia-noite, um cerrado nevoeiro baixou sobre a posição. Sen
tinelas se deslocavam das trincheiras à cabana da retaguarda e voltavam. A
senha daquela noite era “pôr-do-sol”. A resposta seria “chuva”. Várias vezes o
SOLDADOS-FANTASMAS 87
pelotão ouviu ruídos na área de Losheim, sendo que agora os ruídos eram
muito mais altos do que antes. Eram como o tilintar e o deslocar-se de equi
pamentos e veículos pesados.
James Fort passou uma mensagem pelo rádio para o quartel-general do
regimento em Hünningen, informando dos ruídos inusitadamente altos. No
quartel-general, Robert Lambert recebeu a mensagem de Fort: “Meus cole
gas de pelotão informam que ouviram ruídos de veículos inimigos. Acham
que os ruídos eram causados pelo movimento de veículos pesados, talvez
tanques, numa estrada em território inimigo. Desnecessário dizer que essa
informação foi devidamente registrada e divulgada.”39
Em Lanzerath, homens da equipe de observação de artilharia também
relataram os ruídos à sua bateria. “Informamos que havia todo tipo de luz e
de barulho, e de coisas acontecendo em Losheim”, contou o sargento Peter
Gacki, “mas ninguém quis saber.”-10
No quartel-general do 394° em Hünningen, o major Kriz passou a noite
inquieto, convencido de que os alemães se concentravam para um ataque
em larga escala. “Estava claro para mim, e para muitos outros, que algo ia
acontecer. Ouvia-se o movimento de veículos blindados... Tudo indicava que
alguma coisa estava acontecendo e eu sei que meus superiores também sa
biam. Passei por cima da divisão várias vezes, para ver se alguém me escutava.”41
Mas ninguém ouviu. E, ao amanhecer, seria tarde demais.
PARTE DOIS
A Batalha de Lanzerath
Posicionamento estratégico do
< -f\ ^ íedlved
c A ^ ^Tnetros, ae
200-30°/
25o ^
pelotão de I&R, do 394° Regimento, ^ de Inclinação, /
da 99a Divisão de Infantaria, em para a borda/ r-
16 de dezembro de 1944 ------------ da mata L
LANZERATH
4 *0 i'oo ibomffhas
Desenho de CA Fernandez, abrt de 1901, B Paso, Texas
____ p jfg l
Mapa dos combates em Lanzerath desenhado à mão pelo membro do pelotão
Carlos Fernandez anos depois, em 1981.
Sturm!
— Esperávamos que aquilo fosse apenas uma ação de patrulha [dos ale
mães] — contou Fernandez. — Eu temia por meus amigos que estavam per
to de Lanzerath.18
No escritório S-2, Fernandez encontrou o major Kriz e Robert Lambert
tentando, freneticamente, avaliar a escalada e a extensão do avanço das tro
pas alemãs. De repente, um mensageiro da companhia de fuzis do Primeiro
Batalhão entrou correndo e entregou a Lambert um documento tomado dos
alemães. Lambert repassou-o a um especialista em interrogar prisioneiros de
guerra para que fosse imediatamente traduzido.19
O documento era a ordem do dia do marechal-de-campo Von Rundstedt
— a mesma ordem do dia que Vinz Kuhlbach lera para seus homens antes
do amanhecer. Era claro que não se tratava de uma pequena contra-ofensiva,
mas de uma ofensiva geral do exército alemão, “cujo objetivo era dividir as
forças aliadas e chegar ao mar”.20
Lamberth suspeitou vagamente que o documento poderia ser falso. Mas
tinha a redação e a aparência de autêntico. Entregou-o a Kriz, que por sua
vez passou a informação a Riley.*
Riley ordenou a todas as unidades estrategicamente situadas, inclusive o
pelotão de I&R, que mantivessem suas posições. A todo custo, o 394° deveria
tentar conter o avanço dos alemães. Era especialmente importante que o
crucial entroncamento rodoviário de Lanzerath fosse defendido. Se o pelo
tão caísse, o flanco direito da 99a, já seriamente desfalcado de homens, esta
ria em situação crítica.21
sido treinados para lutar numa posição estática. Esperavam que, quando Bouck
voltasse, recebessem ordem para se retirarem.
O operador de rádio James Fort acocorou-se dentro do seu abrigo. Ao ter
minar a barragem, ele correra do posto de comando de Bouck e começara a
transmitir em seu rádio SCR-24 instalado num jipe poucos metros atrás do
abrigo.26 Com a maior parte dos fios de terra cortados, Fort sabia que o desti
no do pelotão dependia da comunicação com Lambert e os outros, no quar
tel-general do regimento em Hünningen. Para cada mensagem radiofônica,
ele usava um código especial. Toda resposta tinha um código correspondente,
para evitar interceptação pela inteligência alemã. Fort esperava que os ale
mães não houvessem decifrado o código e não estivessem lendo suas mensa
gens e enviando, em resposta, ordens falsas. Não havia como ter certeza de
que os alemães não escutavam cada transmissão sua.
Fort girou o dial do rádio. O barulho estridente de música marcial alemã
entrou de repente em sua freqüência normal. Os alemães confundiam seus
sinais de rádio. Ele passou rapidamente para o aparelho de rádio 393, menor,
e começou a transmitir em código Morse.27 Do lado de fora do abrigo, o céu
começou a clarear. Em 16 de dezembro, o dia amanheceu nas Ardenas pou
co depois das oito.
Bouck lhe perguntou o que fazia ali. Dava informações aos alemães? An
tes, o homem estava em pé, junto a uma janela, de onde se via a aldeia. Não
entendia inglês.
— Você tem razão — disse Bouck. — Coisa boa não estava fazendo. Mas
vamos soltá-lo. Não temos lugar para prisioneiros.*’
E, virando-se para o homem:
— Raus mit dir! (Cai fora!)52
James deu um passo para trás e o homem saiu às pressas, passando por
Slape ao pé da escada e saindo para a rua.
— O que aconteceu? — gritou Slape.
— Nada, só um espião — disse Bouck.
— Um espião. Está me gozando?
— Venha aqui em cima. Quero que você e Creger instalem aqui o seu
posto de observação.55
Bouck foi até a janela onde o homem estivera e olhou para fora. De fato,
era um excelente ponto de vigia. Via-se claramente a estrada vital que entra
va em Lanzerath pelo sudeste.
Bouck tinha uma visão perfeita. Ao longe, viu, subitamente, tropas ale
mãs avançarem sobre a cidade.
— Alemães!
Era fácil reconhecer os capacetes. Bouck lembrou-se do que vira no ma
nual de treinamento — aqueles lá eram pára-quedistas e estavam entre as
melhores tropas de combate alemãs.
Bouck virou-se para Slape.
— Você e Creger ficam aqui. Liguem para a posição e me digam o que
estão fazendo. Podem parar, prosseguir, afastar-se da cidade. Me digam.54
Bouck e James desceram as escadas correndo e voltaram para a posição
desenrolando o fio de comunicação. Em poucos minutos, correu de boca em
boca, de abrigo em abrigo, a notícia de que os alemães marchavam direta
mente sobre eles, às centenas.
ENQUANTO ISSO, o SOLDADO C r e g e r foi até uma janela da casa que tinha
sido ocupada pela unidade antitanque e olhou para fora. Havia pelo menos
um pelotão de pára-quedistas alemães na rua. Traziam as armas penduradas
no ombro — obviamente não esperavam encontrar americanos. Mas com
certeza sabiam que Lanzerath fora, até poucos minutos antes, controlada por
americanos. Teria o espião belga informado pelo telefone que a unidade
antitanque abandonara a posição?
Slape girou a manivela do telefone do pelotão em sua pesada caixa de
couro.
— Os alemães estão aqui.
— Caiam fora daí! — disse Bouck. — Vou ver se consigo ajuda para
vocês.56
Bouck gritou para Robinson, McGehee e Silvola na trincheira à frente:
— Atravessem a estrada e vejam se podem ajudá-los.57
Os três correram para Lanzerath, mas ao se aproximarem da estrada vi
ram que os alemães bloqueavam a entrada da aldeia. Outros soldados se des
locavam para o seu flanco. Logo estariam cercados. Decidiram seguir para o
quartel-general do Primeiro Batalhão em Losheimergraben, a cinco quilô
metros de distância, e pedir reforço.
Os homens foram para o norte, as botas rangendo na neve congelada. Jim
Silvola, de Minnesota, levava um incômodo fuzil automático Browning. De
repente, se viram à beira de um barranco na estrada de ferro que seguia
de leste para oeste até a Estação Buchholz, passando pela floresta ao redor de
Lanzerath. O barranco tinha uns setenta metros de altura e em alguns pontos
era quase vertical. A ponte próxima fora destruída por bombas. Os homens
desceram escorregando e começaram a escalar o outro lado. Nesse instante,
viram tropas alemãs ao longe, nos trilhos. Os alemães atiraram. Silvola e seus
companheiros rapidamente se abrigaram nos pinheiros ao longo da estrada.
Os alemães pertenciam ao 27° Regimento de Fuzileiros e tentavam flan
quear o Primeiro Batalhão em Losheimergraben. Robinson viu quando se
102 O LONGO INVERNO
D e SUA CASA NOS ARREDORES da cidade, Adolf Schur viu uma fila de solda
dos alemães de uniformes de camuflagem entrarem na aldeia dos dois lados
da estrada. De repente, vários soldados saíram da coluna e correram para a
casa de Adolf, onde encontraram ração americana deixada pela unidade
antitanque. A mãe de Adolf guardava-a para o Natal. Os alemães pegaram as
caixas de ração e voltaram correndo para a coluna.59
‘ Alguns homens do pelotão se enfureceram com a ordem de resistir a qualquer custo. Mas
ninguém se recusou a cumpri-la. O soldado Joseph McConnell também estava convencido
de que ò pelotão seria eliminado, mas ainda assim preparou sua M -l e suas granadas, tentan
do manter a calma. “Achei a ordem estúpida. Sem dúvida alguma. Era uma maldita ordem
estúpida. ‘Resistam a qualquer custo’ — e contra todos aqueles alemães.” Joseph McConnell,
entrevista com o autor.
106 O LONGO INVERNO
Kalil sabia que Redmond tentava dar a impressão de que o ferimento era
muito menos severo do que de fato era. Sentia os dentes cravados no céu da
boca, cortando a língua.86
A batalha prosseguia. Tiros de armas leves soavam como estática de rádio
durante uma tempestade, um estalar constante e agudo. Os dedos de Redmond
não tremiam, apesar do medo que sentia enquanto enrolava a gaze no queixo
de Kalil. Sabia que os alemães podiam entrar em sua posição a qualquer mo
mento. Para ter alguma oportunidade de defesa, precisavam atirar de volta o
mais rápido possível.
Redmond atou o último pedaço de gaze e viu que Kalil olhava para ele.
— Não se preocupe — disse Redmond para tranqüilizá-lo.
— Se as coisas chegarem ao ponto de você ter de ir embora, vá embora
— respondeu Kalil.
— Ficaremos aqui, juntos.
— Está bem.87
Redmond pegou sua M -l e começou a atirar. Kalil sentia dores terríveis,
mas fez o mesmo, mirando com um olho só as figuras que avançavam pela
maldita encosta. Fazia tanto frio que Kalil sentia o sangue gelar-lhe a face,
estancando o sangramento da ferida. O maldito frio afinal servia para alguma
coisa. No deserto, teria sangrado até morrer.88
— Na cabeça!89
Finalmente, sob fogo intenso e preciso, os alemães recuaram, protegen-
do-se atrás das construções de fazenda.
Era quase meio-dia.
Slape se recusou, dizendo que havia muitos outros alemães na frente de
les. Milosevich explicou o que o paramédico fazia — falava pelo rádio para
orientar os disparos de morteiro.
— Aquele filho-da...92
Houve três disparos e o paramédico caiu morto.95
Pouco depois, durante uma rápida pausa no tiroteio, Milosevich desco
briu dois buracos de bala em seu casaco. Milagrosamente, não estava ferido.94
Havia mais alemães. Voltou a atirar com sua carabina. Foi pura carnificina,
como se estivesse atirando contra patos de barro num parque de diversões na
Califórnia.
Slape assumiu novamente o controle da metralhadora calibre 50 e pôs-se
a atirar. Rapidamente, a arma esquentou95 e começou a disparar mesmo quan
do Slape tirava o dedo do gatilho. De repente, emudeceu.96 O cano finalmente
queimara e entortara, formando um ligeiro arco.
Os alemães continuaram investindo morro acima, alguns atirando sem
mirar. Muitos receberam tiros no coração ou na cabeça, abatidos de perto.
Nenhum passou da cerca de arame farpado. Em pouco tempo os corpos se
acumularam atrás dela.97
Subitamente, o observador de artilharia Billy Queen, de pé ao lado de Joseph
McConnell num abrigo, soltou um grito de dor e caiu por terra. Pôs-se a gemer,
sangue escorrendo de um grave ferimento na barriga. Nada havia que McConnell
pudesse fazer; ele não dispunha de suprimentos médicos. Queen começou a
perder consciência. Em uma hora estaria morto, o corpo congelando.’1'
*Billy Queen foi deixado onde caiu. Seu corpo congelado foi descoberto semanas depois,
quando os americanos retomaram Lanzerath. Alegou-se que Queen foi morto pelas costas ao
tentar correr depois de abandonar o abrigo. Compreensivelmente, os sobreviventes do grupo
de observação de artilharia ressentem-se da implicação de que Queen perdeu a vida em cir
cunstâncias ignóbeis. Joseph McConnell, que estava na trincheira com Queen, tem a seguinte
versão: “Eu disse a Queen para ficar agachado. Mas ele não conseguiu, tinha de se levantar
para ver contra o que estava atirando. Então um tiro atingiu-lhe o peito. Dizem que foi atin
gido pelas costas. Mentira. Vi-o morrer. Levou um tiro no peito e caiu.” Na opinião de cama
radas observadores de artilharia, Queen não deveria estar na encosta, ou em qualquer lugar
nas proximidades do combate. O sargento Peter Gacki achava que Queen “teria sido mais
útil onde pudesse fazer uso de sua instrução. Era muito inteligente, vivia com uma régua de
cálculo, e era capaz de solucionar qualquer quebra-cabeça que lhe propusessem. Parecia ino
fensivo, usava óculos, tinha cabelos cacheados e era um sujeito rechonchudo e legal”. Joseph
McConnell e Peter Gacki, entrevista com o autor.
114 O LONGO INVERNO
COM O CAIR DA TARDE FICOU óbvio para todo mundo que seria impossível
resistir por muito tempo. A maioria tinha poucos pentes para carregar suas
M -l. Bouck pensava num jeito de o pelotão abandonar a posição. Por seu rádio
SCR-300 pediu mais uma vez apoio de artilharia e novas ordens.
No quartel-general do regimento em Hünningen, Fernandez ouviu Bouck
falar pelo rádio com o tenente Buegner, assistente de Kriz. Bouck disse que
estava cercado. Ouviam-se disparos ao fundo.
Bouck escutou um forte estalo perto da orelha. A bala de um franco-atira
dor tirou o telefone da sua mão. O rádio também foi atingido. Bouck caiu
por terra.99
Na trincheira ao lado, o operador de rádio James Fort ouviu “coisas que
brando dentro do rádio”.100 Olhou para fora do buraco e viu Bouck esparra
mado na neve, ao lado de um jipe.
Do outro lado da linha em Hünningen, Fernandez ouviu um assobio, cada
vez mais alto, seguido de “um barulho e o rádio ficou mudo”.101 Fernandez
temeu que o pior tivesse acontecido, que Bouck e o rádio tivessem ido pelos
ares.102
Mas, segundos depois, Bouck voltou a si. Atordoado, ajeitou-se e levan
tou. Aos poucos a audição voltou ao normal. A bala que atingiu o receptor
explodira a poucos centímetros do seu ouvido. Olhou para o rádio — com
pletamente destruído.
Bouck perdera a última linha de comunicação. Não haveria mais ordens.
Toda decisão agora seria de sua responsabilidade.
Bouck retornou, zonzo, para seu abrigo, decidido a encontrar um jeito de
o pelotão sair dali no escuro da noite.
Mas resistiriam por tanto tempo?
O Último Pôr-do-Sol
‘ Explicação de Slape: “Acho que é da natureza humana sentirmos que aquilo acontece com
os outros mas não conosco." Recorte de jornal sem título. Arquivos de Lyle Bouck.
O ÚLTIMO PÔR-DO-SOL 119
— Não tinha nada contra eles, depois que eram atingidos — contou.44
Alguns homens do pelotão começaram a usar suas capas como macas.
Era trabalho para arrebentar a coluna, devido à quantidade de alemães feri
dos e à distância — uns duzentos metros — até a aldeia.
James Fort segurou na ponta de uma capa. Milosevich pegou a outra e
começaram a carregar dois alemães feridos pela encosta.
Fort logo se sentiu tão cansado que achou que fosse desmaiar.
— Risto, não consigo dar mais um passo. E pesado demais.
— Ao contar até três, largue-os — disse Milosevich.
Ao contar até três, soltaram a maca improvisada e caíram na neve.
Um alemão ferido gritou.
Um pára-quedista alemão chegou correndo.
— Levantem-se! — ordenou.45
Milosevich e Fort se ergueram. Quando o pára-quedista se afastou, eles
soltaram a maca novamente.
Springer foi levado para o café ao lado. Ao entrar, viu Bill James sentado
num banco ao lado de Bouck. James tinha sido atendido pelos médicos ale
mães. Viam-se apenas um olho e o nariz através da atadura de papel marrom,
usado em lugar da gaze. Springer juntou-se a seus homens num canto.
Lyle Bouck percebeu que o sangue começava a atravessar o seu casaco.
Examinou o lado de dentro — uma bala raspara-lhe a parte de cima do cor
po. Olhou para as pernas. O ferimento não era tão grave: coxeara da posição
até o café sem que a dor o subjugasse.
Lá fora, enquanto isso, membros do pelotão tinham sido postos em fila
contra a parede. “Apesar de [os alemães] serem nossos inimigos”, lembra John
Creger, “demonstraram respeito por nossa valorosa atitude. Um deles disse:
Amerikaner é excelente soldado... Um oficial alemão tomou meus cigarros,
ofereceu um a cada um de nós e ficou com o resto do maço.”47
Um por um, o soldado Creger e seus companheiros foram levados para o
café. Bouck viu o sargento George Redmond carregar um homem ferido:
como acontecia com James, só os olhos e o nariz eram visíveis por causa das
ataduras.48
Bouck se deu conta de que aquele era o soldado Louis Kalil.49
O sargento Redmond deitou-o no chão. Outros homens do pelotão se
aproximaram para saber da gravidade do ferimento. “Eu olhava com o olho
direito, e isso era tudo, o resto da face estava coberto”, lembrou Kalil. “Fica
ram sem saber como era grave. Nem eu sabia.”50
Kalil ainda não recebera morfina. Os dentes encravados doíam de enlou
quecer. Mas ele se sentia feliz de estar vivo e não conseguia acreditar que não
o tivessem matado. Graças a Deus seus captores não eram das SS. Estavam
nas mãos do exército alemão. Talvez isso explicasse o fato de não terem sido
executados.51
Os alemães trouxeram o soldado Joseph McConnell. Seu casaco fora cor
tado e ele tinha um corte feio no ombro. Foi posto perto de pára-quedistas
alemães feridos. O café parecia uma estranha combinação de posto de co
mando e ambulatório.
Bouck perguntou a um alemão, que parecia investido de certa autorida
de, se James poderia ficar deitado perto de Louis Kalil. Era cansativo segurar
O ÚLTIMO POR-DO-SOL 127
O Café Scholzen
Dentro em pouco Bouck e seus homens estavam na rua fria, fora do café.
Bouck enfiou as mãos nos bolsos. Num dedo, ainda tinha o anel da escola de
treinamento de oficiais em Fort Benning. Era agora uma recordação agrido-
ce de tudo que de repente se perdera: a condição de servir ao seu país, a liber
dade, a esperança e o orgulho.
Os alemães distribuíram ordens. Bouck e os outros prisioneiros de guerra
deveriam ficar em pé contra a parede. O tenente Warren Springer achou que,
definitivamente, seriam executados. Mas os alemães só queriam que entras
sem em formação antes de saírem marchando da aldeia.
Bouck viu um caminhão cinza parar ali perto. Os alemães tiraram o sol
dado Bill James, depois Louis Kalil, do café. James estava inconsciente. Kalil
parecia transtornado.
— Por que não vou com você? — perguntou Kalil a Bouck.
— Eles têm de nos separar. Mantenha o ar superior — disse Bouck, en
tre lágrimas. — Vai superar isto. Não era para acontecer, mas aconteceu.30
Kalil começou a soluçar. Os dentes cravados no céu da boca doíam mui
to, mas não tanto quanto a compreensão repentina de que não voltaria a ver
o pelotão. Convivera com alguns quase três anos. Como sobreviveria sozinho?
O sargento George Redmond foi até ele e se ajoelhou ao lado do compa
nheiro de abrigo. Seu hálito enevoou o ar quando tentava acalmar Kalil.
— Não é tão ruim assim. As coisas se arranjam.
Lágrimas corriam do olho visível de Kalil.
— A gente se vê de novo, Lou — disse Redmond, tentando tranqüi
lizá-lo. — E claro que sim.
— Está bem.
— Se cuide.31
Redmond voltou para o pelotão.
Kalil soluçou de novo ao ver “Red” e os companheiros marcharem.
Quando o pelotão dobrou a esquina, Lyle Bouck olhou para trás uma úl
tima vez e viu Kalil estendido numa maca. Os alemães colocavam James no
caminhão.32
“É o fim daqueles dois”, pensou.33
Em poucos minutos Bouck e seus homens partiram de Lanzerath, mar
chando para o leste. Perto do importante entroncamento fora da aldeia passa-
O CAFÉ SCHOLZEN 137
ram por cadáveres de pára-quedistas alemães, sem dúvida mortos pelo fogo
de artilharia da noite anterior.54 Como os companheiros mortos no pasto
acima de Lanzerath, tinham os rostos adolescentes pálidos e contorcidos
de terror. O pelotão tomou a direção oposta, pela estrada que Peiper usara
na noite anterior — a que serpenteava três quilômetros e meio pelas flores
tas de Schnee Eifel e por fundas ravinas, e cruzou a Linha Siegfried, para
dentro do Terceiro Reich.
9
Terror
‘ Posteriormente, Lambert diria: “Sempre me pergunto se o soldado que veio correndo para o
posto de comando não seria um alemão com uniforme americano.” Robert Lambert, entre
vista com Stephen Ambrose, Centro Eisenhower.
140 O LONGO INVERNO
das janelas do outro lado da cidade. Um morteiro americano fez fogo contra
nós também. Nosso comandante de tanque virou o seu canhão contra um
ninho de metralhadoras dos inimigos e abriu fogo. De súbito, bombardeiros
americanos de mergulho apareceram no céu. Quase de imediato, nossa arti
lharia antiaérea móvel aceitou o desafio, à medida que eles desciam zunin
do. O ar encheu-se de projéteis de 20mm. Tudo era confusão e morte súbita.”2
O tenente Buegner assistiu àquele mesmo ataque aéreo, maravilhado.
“Percebi a assombrosa força do ataque alemão quando vi o volume de fogo
antiaéreo que suas colunas avançadas dispararam contra nossos aviões”, lem
brou ele. “A cada investida que nossos aviões faziam para lançar bombas era
como se tentassem voar na chuva sem se molhar.”5
Quando os aviões americanos arremetiam contra os homens de Peiper
em Honsfeld, a artilharia alemã começava a intensificar o bombardeio de
Hünningen.
Um projétil caiu no quintal do escritório de inteligência S-2, mas, para
alívio de Lambert e Fernandez, os sobreviventes de plantão, não explodiu. À
medida que a manhã avançava, viram de binóculos quando os tanques ale
mães começaram a cercar Hünningen, tomando posição silenciosamente a
oeste e atrás da cidade.4
Enquanto os alemães apertavam o cerco, Lambert recebeu ordem para
reunir sete ou oito homens do quartel-general da companhia e fazer uma pa
trulha na direção de Honsfeld.
A visibilidade era boa, quando a patrulha de Lambert saiu. De repente,
tanques alemães fizeram fogo perto de Honsfeld. Lambert e sua patrulha ti
nham sido localizados. Atraíam fogo direto e foram obrigados a uma definição.
Lambert e seus homens correram para se proteger no subsolo de uma casa
de fazenda, mas os alemães centraram fogo ali também. Não havia opção a
não ser recuar para Hünningen. Um Lambert perturbado informou ao major
Kriz: os alemães tinham tomado Honsfeld e fechavam rapidamente o cerco
sobre Hünningen. Dispunham de considerável poder de fogo; logo os panzers
estariam rolando para dentro da aldeia.5
Lambert tinha sido alvejado por tanques de Kampfgruppe Peiper. Mas o
próprio Peiper não tinha intenção de tomar Hünningen, ainda que, estrategi
TERROR 141
camente, fizesse sentido para ele invadir a aldeia e depois seguir para o oeste
através do monte Elsenborn, que formaria uma linha de defesa natural para
os americanos, se os americanos conseguissem recuar a tempo e se reagrupar
ali. Tal manobra — potencialmente letal para toda a 99a Divisão — não se
encaixava no projeto bem mais ambicioso de Peiper: alcançar o Meuse o mais
rápido possível. Desse modo, ele insistiu em ir para o sul — e não para o oeste
— em direção a Stavelot, deixando para outras unidades a tarefa de cuidar de
Hünningen e do monte Elsenborn.
Graças a Lyle Bouck e a seu pelotão, Peiper sofrerá considerável atraso.
Mas agora avançava bastante, por estradas melhores. Antes do amanhece1-
partira de Lanzerath sem encontrar um único americano no caminho, con
firmando sua suspeita de que os inexperientes pára-quedistas simplesmente
morriam de medo de fazer o reconhecimento da área. Sabendo que o atraso
do dia anterior reduzira seriamente seu suprimento de combustível, Peiper
tinha avançado velozmente para Büllingen, onde ficavam o quartel-general
da 99a Divisão e um depósito de combustível de cinqüenta mil galões.* En
contrando mínima resistência, Peiper se apropriara do combustível.
Eram onze da manhã. Agora Peiper rodava rumo a um cruzamento vital
no vilarejo de Baugnez, a cerca de três quilômetros de Malmedy.
‘ Posteriormente, Lambert sustentaria esta tese: “O tempo que o pelotão de I&R do 394° fez
as forças americanas ganharem deve ter sido mais valioso do que a captura da ponte Ludendorf,
sobre o rio Reno em Remagen, por uma unidade da Divisão Blindada Americana em março
de 1945. O general do exército Eisenhower, suponho, teria dito que a ponte valia o seu peso
em ouro para as forças aliadas.” Robert Lambert, relato sobre as ações do pelotão.
142 O LONGO INVERNO
— Fico muito grato. Foi um dia e tanto para mim. Pode ir.11
Bouck virou-se para sair.
— Vê aqueles tanques? — disse o major. — Tem alguma idéia do que o
seu exército vai fazer para conter este ataque? Temos jatos capazes de acabar
com sua força aérea. Armas secretas para levar a guerra a uma conclusão rá
pida. Estaremos em Paris no Natal. Você voltará para casa, mas não como
vitorioso.12
Bouck foi conduzido por uma porta dos fundos de volta ao terrível frio lá
fora. Para seu alívio, encontrou o resto do pelotão em fila, de costas voltadas
para o abrigo. Soldados alemães sentados em tanques a poucos metros de dis
tância “gritavam e berravam” para seus homens.13
Um dos alemães ordenou a Bouck e seus homens que tirassem as galochas
e as entregassem. Bouck recusou-se a obedecer. Um soldado alemão saltou
de um panzer. Bouck protestou dizendo que era oficial. Pela Convenção de
Genebra, era proibido tirar dos soldados essas proteções essenciais contra frieira
e ulcerações provocadas pelo frio. O alemão não deu importância ao que ele
disse e pôs-se a gritar.
O sargento Slape percebeu que a situação poderia piorar.
— Entregue-lhe as galochas, senhor. O senhor não manda aqui. Sere
mos todos mortos.14
Bouck tirou uma galocha. Depois puxou a outra até ficar no bico da bota
e chutou-a na neve, com desdém.
Outro alemão saltou do panzer, correu para Bouck e golpeou-o no pesco
ço com uma grande chave de fenda. Bouck estatelou-se na neve, atordoado
pelo golpe.15
Poucos segundos depois, levantou-se. O pelotão assistia àquilo com
admiração, inspirando-se na atitude desafiadora do líder. Os soldados alemães
começaram novamente a zombar deles, esperando obviamente que dessem
um passo em falso para abrirem fogo. Bouck se controlou. Tinham percorri
do uma longa distância para acabarem mortos em conseqüência de uma pro
vocação idiota.16 O pelotão de I&R foi posto em fila com outros americanos.
Recomeçaram a marcha para o leste, vigiados por soldados das SS. “Não en
tendo por que não nos mataram”, lembrou o soldado Joseph M cConnell.
TERROR 145
‘ Leopold está convencido de que, se Lyle Bouck não o tivesse mandado buscar socorro mé
dico fora do posto avançado na noite anterior ao ataque alemão, ele muito provavelmente
teria feito parte dessa coluna de prisioneiros de guerra. Acha também que os oficiais das SS
não teriam feito dele apenas uma mula de carga. Como judeu alemão em uniforme america
no, ele teria sido morto no ato, ou mandado para um campo de concentração. Vemon Leopold,
entrevista com o autor.
146 O LONGO INVERNO
coronha do fuzil. Chutavam corpos, para ter certeza de que estavam mortos.
Perguntavam se alguém precisava de socorro médico. Alguns feridos respon
diam e eram mortos.”
Durante duas horas, Merricken ficou deitado debaixo do compatriota
morto, enquanto tanques e veículos alemães, da coluna de Peiper, que se es
tendia por 15 quilômetros, passavam pelo campo. De vez em quando, alguns
veículos disparavam contra os cadáveres.
Quando o retumbar dos caminhões finalmente acabou, Merricken tirou
o morto de cima dele e, acompanhado por um camarada da Companhia B
que milagrosamente escapara de ser atingido, rastejou mais de três quilôme
tros até uma fazenda, onde uma idosa senhora belga o escondeu no sótão e o
ajudou a voltar para as linhas americanas. Os companheiros de Merricken,
da Companhia B, ficariam congelados e sepultados sobre camadas cada vez
maiores de neve por mais dois meses, antes de serem encontrados.26
^Enquanto o tenente Buegner, assistente de Kriz, corria pela estrada em direção ao prédio de
uma escola onde serviam comida quente, projéteis caíam tão perto que ele mergulhou na
neve ou na lama em busca de proteção. Quando chegou à escola, projéteis de 88 voltaram a
explodir nas proximidades, quebrando as janelas do prédio e espalhando estilhaços de vidro.
Ele e outros homens ansiosos por comida quente desceram para o porão e ficaram meia hora
sentados no escuro esperando o bombardeio acabar. Não havia como saber quando teriam
outra oportunidade de se alimentar.
TERROR 151
tivos que tinha cerca de cem veículos, pára-choque contra pára-choque, pela
estreita estrada de Krinkelt. Buegner, Kriz e Lambert iam de jipe na reta
guarda da coluna. Estavam a menos de dois quilômetros de Mürringen
quando veio uma ordem para abandonarem os veículos. Muitos motoristas
de caminhão saíram correndo. “Mas alguns de nós não viram motivo para
correr”, contou Buegner. “Ficamos e tentamos descobrir por que tinham
dado a ordem... Lambert e eu nos oferecemos para encabeçar uma patrulha
de reconhecimento.”
Em meia hora, Lambert e o tenente Buegner toparam com homens da
99a deixando outras posições ao longo da estrada. Aparentemente, a estrada
ainda estava livre até Krinkelt. Qualquer um que soubesse dirigir recebeu or
dem para entrar nos caminhões abandonados e continuar rumo a Krinkelt.
As três e meia da manhã, o último veículo da coluna tinha chegado a Krinkelt
e marchava para Elsenborn.* “Cada quilômetro que viajávamos para oeste e
para um lugar mais seguro”, contou Buegner, “era como se tirassem um pe
sado fardo das nossas costas pouco a pouco.”52
Quando a estrada entrou na aldeia de Elsenborn, a coluna foi detida por
homens da Companhia H, 38° Regimento, 2a Divisão. Os comandos de Otto
Skorzeny tinham espalhado o caos por toda a região; todo jipe que entrasse
em Elsenborn era detido, e os ocupantes identificados e cuidadosamente
examinados.”
Vic Adams, Carlos Fernandez e Sam Oakley provaram que eram legíti
mos GIs, e Oakley entrou dirigindo na aldeia de Elsenborn. Não consegui
ram localizar o posto de comando do 394° e resolveram procurar um local
decente para um posto de observação na elevação mais próxima, o monte
Elsenborn. Logo encontraram uma trincheira de metralhadora. Oakley esta-
•Muitos homens do 394° Regimento não chegaram a Krinkelt. “Nosso regimento sofreu bai
xas no campo e foi confundido com os alemães que atacavam”, contou Buegner. “Da mesma
forma, alguns dos nossos soldados foram mortos ou feridos quando se retiravam por soldados
da 2‘ Divisão [rumo a Krinkelt]. Atiraram neles sem aviso — regra geral observada nos abri
gos das linhas de frente. Assim foi morto um sargento da equipe de Interrogadores de Prisio
neiros de Guerra do tenente Melford [que traduzira o documento capturado por Lambert no
dia 16], logo depois de abandonar seu veículo numa coluna motorizada, na estrada de
Mürringen para Krinkelt, quando foi dada a ordem de ‘cada um por si’." Tenente Edward
Buegner a Lyle Bouck, 5 de setembro de 1966.
1152 O LONGO INVERNO
"Robert Lambert relatou como era a situação no monte Elsenborn. “Ocupamos um buraco
no chão por uns quarenta dias. Estávamos logo atrás de algumas companhias de fuzis. Se
alguém penetrasse sorrateiramente, nossa sentinela teria de pegá-lo. Certa manhã acordei e
vi o corpo de um alemão perto da minha trincheira. Alguém o matara de noite. Não sei como
aconteceu ou o que aconteceu... Acho que só restaram uns mil homens em nosso regimento,
depois dos primeiros três dias.” Robert Lambert, entrevista com Stephen Ambrose, Centro
Eisenhower.
TERROR 153
Mas isso não teria sido possível sem a teimosa bravura de pequenas uni
dades, amplamente superadas em número de homens, que permaneceram e
resistiram até a morte ou a captura, contendo o massacre alemão de 16 de
dezembro e ganhando tempo precioso para que a 99a e outras divisões pudes
sem se retirar, se reagrupar e defender as linhas reformadas. Ainda não sa
biam, mas a corajosa atitude do tenente Lyle Bouck e seus homens em
Lanzerath não fora em vão — longe disso. “Aquele pequeno grupo de ameri
canos”, escreveria posteriormente o major Kriz, “se uniu para fazer algo que
se importavam de fazer, sob a liderança do tenente Bouck, [e] ao darem tan
to de si deram a grande número de soldados americanos mais tempo para
mudar posições, abrir trincheiras, lutar e resistir para lutar outro dia.”58
sinal para virar a chave sumira. Chapin procurou de novo. De repente, avis
tou o tenente, que acenava para ele.
O cabo Chapin virou a chave.
Houve um clarão azulado e depois um estrondo de tijolos quando a pon
te desabou no Lienne. A última ponte fora destruída e, com ela, fechou-se o
único portão de entrada de Peiper para o Meuse. De acordo com seus ho
mens, Peiper esmurrou o joelho, frustrado.
— Malditos engenheiros — murmurou. — Malditos engenheiros!59
Quando Jochen Peiper retirou os tanques de Habiemont, sua força de ata
que — contida antes em Lanzerath — finalmente perdera o gume.
Slape ficou feliz de ver Jenkins e Preston. “Eles me contaram que tinham
conseguido chegar a Hünningen e ao prédio do quartel-general do regimen
to”, lembra Slape. “Mas o quartel-general já tinha sido evacuado. Foi um alívio
encontrá-los, pois eram os únicos dos meus homens que estavam faltando.”44
dinária velocidade pela Europa, enquanto ele era idolatrado. Durante meses
a manchete “PATTON AVANÇA!” aparecia com estardalhaço no alto das
primeiras páginas dos jornais do mundo.
Mas entre seus próprios soldados Patton era conhecido como “Sangue e
Coragem... A coragem dele, o sangue nosso!”.46 Segundo eles, aquele anti-
semita mulherengo armado de pistola, com crescentes ilusões de grandeza,
era corajoso, sem dúvida, o último general guerreiro americano. Mas muitos
suspeitavam de que por trás da bazófia havia um coração insensível. Na Sicília
ele, notoriamente, estapeara um homem acometido de extrema fadiga de
combate, chamando-o aos berros de covarde, atitude que lhe valeu uma re
preensão do furioso Eisenhower.
Descrevendo a si mesmo como “fazedor de viúvas”, Patton era de fato
uma figura controvertida, capaz de provocar as emoções mais desencontradas.
Mas todos concordavam que era um mestre na arte da guerra móvel. Apoia
do por comandantes altamente experientes e taticamente brilhantes, Patton
movimentava suas unidades blindadas com incrível rapidez, muitas vezes
obtendo o efeito da surpresa total, rapidamente rompendo as linhas alemãs,
às vezes penetrando dezenas de quilômetros num dia.
Tendo imposto o ritmo da grande corrida para a Linha Siegfried, Patton
estava ansioso para voltar a agir. Como Eisenhower, via o contra-ataque ale
mão nas Ardenas como uma grande oportunidade, não apenas para desferir
um golpe mortal no que restava da Wermacht na frente ocidental, mas tam
bém para se tornar novamente o general do momento, e em seguida marchar
rumo ao poderoso Reno.
Patton achava que HiÜer cometera enorme erro ao lançar suas melhores
divisões e seus blindados nas Ardenas. Na saliente seção setentrional, a 99a
Divisão começava a controlar o monte Elsenborn. Se o Terceiro Exército de
Patton pudesse ser açulado rapidamente, atacaria a seção meridional, perto
de Bastogne, cortaria as linhas de suprimento de HiÜer, cercaria os alemães
e os destruiria.
— Quando poderá atacar? — perguntou Eisenhower a Patton.
— Na manhã de 21 — respondeu Patton. — Com três divisões.
Os outros generais riram.
TERROR 159
— Não seja tolo, Georgie — disse Eisenhower. — Se for tão cedo, não
poderá contar com três divisões e será feito em pedaços. Você começa no
dia 22.47
Patton concordou e todos saíram da conferência impregnados de renova
da confiança.
O que outros não sabiam era que Patton já começara a movimentar seu Ter
ceiro Exército, ou mais de trezentos mil homens, rumo às Ardenas. Imediata
mente depois da reunião de Verdun, ele ordenou à 26a e à 80a Divisões de
Infantaria, e a sua 4a Divisão Blindada, que chegassem o mais rápido possível.
A 4a Divisão Blindada, o grupo preferido de Patton, rendera ao general
de três estrelas os maiores aplausos desde o desembarque na Normandia, na
quele mês de julho. Por volta das 11 horas daquela noite, estaria a caminho
de Bastogne, partindo do rio Saar, na fronteira franco-alemã, para o sul. Um
de seus jovens oficiais já submetidos ao teste das batalhas era o capitão Abe
Baum, de 24 anos, um judeu do Brooklyn de fala rápida que pertencia ao 10°
Batalhão de Infantaria Blindada da 4a. “Estávamos na frente”, contou Baum,
que recebera duas Estrelas de Bronze e uma Estrela de Prata em menos de
três meses. “As estradas estavam congeladas e as lagartas de metal dos tan
ques escorregavam. Mas não encontramos resistência e percorremos 240
quilômetros em 19 horas.”48
Chegando às Ardenas, Baum seria chamado a comandar a força-tarefa de
quatrocentos homens e blindados rumo a Bastogne, onde a 101a Aerotrans-
portada instalara fortes defesas, mas sofria um cerco feroz. A força de Baum
chegaria a Bastogne, mas se retiraria pouco antes de a cidade ser completa
mente cercada pelos alemães.'"
*A 99a Divisão perdeu três mil homens em quatro dias — perda espantosa para uma divisão
inexperiente em batalha. Mas se reagrupou magnificamente. O Io Batalhão do 394° Regi
mento, por exemplo, voltou para a linha em 19 de dezembro, mas só com 139 dos 700 ho
mens que tinha no início.
TERROR 163
Hóspedes do Reich
‘ Depois da guerra, Leopold lembrou-se de que um dos seus colegas do I&R, John Creger,
era de uma pequena cidade da Virginia. Talvez a cidade fosse tão pequena que uma carta não
precisava ter endereço de rua. Escreveu a Creger para saber o que tinha acontecido com ele
e com os outros colegas do pelotão. Mas, não recebendo resposta, concluiu que ninguém
tinha sobrevivido.
HÓSPEDES DO REICH 171
Louis Kalil também estava num trem-hospital, mas foi levado na direção
oposta — para leste, rumo ao Vale do Ruhr — e seus companheiros de via
gem não eram soldados americanos sortudos, mas alemães gravemente feri
dos. Kalil não foi atendido por paramédicos dentro de um vagão. Em vez disso,
apesar de o ferimento que sofrerá no rosto representar risco de vida, foi posto
entre os vagões, do lado de fora, onde achou que fosse morrer congelado.
Ninguém lhe administrou analgésicos. Enquanto as horas passavam e raja
das de vento frio e de nevada castigavam o trem, ele se convenceu de que só
Deus poderia salvá-lo.
Do casaco sujo de sangue, Kalil tirou a Bíblia de bolso e foi passando as
páginas até encontrar o Salmo 23. Gotas de sangue caíam na página en
quanto ele dizia uma prece e lia o salmo em voz alta, para ouvir as palavras
de conforto:
Kalil leu o salmo diversas vezes. Foi seu único anestésico. E funcionou:
ele teve forças para atravessar as 14 horas de escuridão daquela noite e de
manhã conseguiu pedir um cobertor a um dos captores. “Acabaram me aten
dendo”, contou ele. “Mas eu continuava sem comida e sem água. Comecei a
sentir febre. A atadura de 16 de dezembro congelara em meu rosto. Não fora
trocada. Os alemães finalmente conseguiram um intérprete e um médico
alemão me disse que o ferimento gangrenara.”12
Kalil sabia que provavelmente seria executado. Esperavam talvez que ele
se jogasse do trem quando a agonia dos ferimentos se tornasse insuportável.
Outro pensamento o obcecava: como reagiriam seus pais ao inevitável tele
grama anunciando que desaparecera em combate?*
Guardas passavam por ele. Um chutou-o cruelmente, como se ele fosse
um cachorro doente que devia ter sido morto e não deixado ali atrapalhando
*“Minha preocupação era o sofrimento dos meus pais quando soubessem que eu tinha desa
parecido em combate”, disse Kalil. “Eles finalmente receberam um telegrama, na véspera do
Àno-novo, dizendo que eu era dado como desaparecido, o que, é claro, foi uma notícia terrí
vel.” Louis Kalil, entrevista com o autor.
172 O LONGO INVERNO
a passagem. “Um ou dois dias depois, fazia tanto frio que eu tremia o tempo
todo”, contou Kalil. “Os alemães continuavam me chutando. Eu nada podia
fazer. Mas o pior eram os dentes cravados no céu da boca. Eu não conseguia
tirá-los. Até que uma hora caíram e senti certo alívio.”
O trem-hospital acabou parando numa estação nos arredores da cidade.
Kalil estava muito fraco quando o puseram numa maca. Não fazia idéia de
onde estava. Foi posto numa ambulância e, quando saía da estação, olhou
pela janela.
— Meu Deus! — exclamou, perplexo.
Diante dos seus olhos desfilavam os efeitos do bombardeio aliado num
centro de civis.
— Ruína total. Não havia uma construção em pé. Absoluta destruição.
Kalil olhou para os restos de entulho e para as crateras enegrecidas, onde
um dia se erguiam casas.
— Quantas mortos? — perguntava-se. — Afinal, talvez isso seja justo.
Eles provocaram.15
As ruas eram agora vielas nos quarteirões arrasados. Esquálidas mulheres
alemãs esquadrinhavam as ruínas, com seus filhos descalços, à procura de
objetos de valor, removendo entulhos e tijolos para entrar em porões cheios
de água, onde pudessem se esconder no próximo bombardeio. Outras emer
giam em estado letárgico dos esqueletos de cinzas de suas antigas casas, o ros
to pálido de horror.
Até o fim da guerra, 131 cidades alemãs sofreriam idêntica destruição.
Mais de seiscentos mil civis morreriam — o dobro das baixas americanas em
combate durante toda a Segunda Guerra Mundial. Quase oito milhões de
alemães ficariam desabrigados. Haveria mais de trinta metros cúbicos de entu
lho para cada sobrevivente alemão em muitas cidades. Tal foi o nível de des
truição, e sem precedentes na história, que até hoje a força do seu impacto
ainda não foi amplamente compreendida na própria Alemanha.14
A ambulância de Kalil parou na frente do único prédio inteiro que ainda
se via. Os dentes cravados no céu da boca tinham caído, mas o queixo doía
como nunca quando o levaram para o hospital e puseram no quinto andai.
Ali também não lhe deram analgésico. Durante dois dias, ficou sozinho numa
enfermaria, antes que outros aliados feridos chegassem.
HÓSPEDES DO REICH 173
O soldado Bill James não se lembraria de nada dessa viagem para o hospital
em Frankfurt. Mas se leníbrava de perder e recuperar a consciência enquan
to jazia numa maca, “num mundo frio e marrom-escuro” onde tudo parecia
irreal. De repente, uma maca o levou da escuridão para a luz ofuscante. Es
tava num quarto cheio de mesas brancas, equipes de figuras fantasmagóricas
agrupadas ao redor das mesas.O cheiro de éter impregnava o ar.
James tinha vaga consciência de que várias figuras vestidas de branco
murmuravam entre si ao pé de uma mesa de operação.
Um médico alemão inclinou-se sobre James e perguntou-lhe a idade.
HÓSPEDES DO REICH 175
— Dezenove.
— Pois bem, agora você vai morrer!
O alemão sorriu e pôs uma máscara de éter perto do rosto de James.
— Daqui a cinqüenta anos.20
James ouviu a voz do médico tomar-se um eco, quando o éter fez efeito:
— Daqui a cinqüenta anos, daqui a cinqüenta anos... a cinqüenta anos.21
Mais ou menos no momento em que James era operado, sua família em
White Plains, Nova York, recebeu um telegrama. A irmã Ana se lembra de
ver abrirem o telegrama: “Meu Deus, que dia horrível. Tínhamos visitas e
de repente recebemos aquela notícia: seu filho desapareceu em combate.
Todos nós choramos. Ficamos histéricos.”22
Uma semana depois que partiram de Lanzerath, Lyle Bouck e os outros pri
sioneiros finalmente receberam água para beber e um pequeno pedaço de
pão preto lambuzado de geléia amarga. O soldado Kurt Vonnegut poste
riormente descreveria como, para os guardas alemães naquela noite, o trem
parecia tomar forma humana: “Cada vagão era um único organismo que
comia, bebia e evacuava através de respiradouros. Falava de algo que berra
va pelos respiradouros, também. Nele entravam água e pão preto... e dele
saíam merda, mijo e palavras... As pernas dos que lá estavam eram como
postes de cerca fincados numa terra morna, contorcida, peidorrenta e
suspirante. A terra esquisita era um mosaico de dorminhocos, que se acon
chegavam como colheres.”23
Algumas dessas colheres humanas eram capelães, como o padre Paul
Cavanaugh, do 422° Regimento da 106a Divisão, que em breve ofereceria
importante apoio espiritual a Lyle Bouck e muitos outros naquele trem.
Cavanaugh, indomável padre jesuíta, fora capturado com milhares de com
panheiros do batalhão “Golden Lions” — assim chamados por causa da divi
sa no ombro — da 106a Divisão em 19 de dezembro de 1944.
A luz começara a esmorecer.
176 O LONGO INVERNO
McCown. “Mas pensamos no grande bem que Hitler tem realizado. Estamos
acabando com a ameaça comunista, combatendo o mesmo que vocês.”25
Peiper já não parecia tão confiante quando ele e o major McCown, seu
único prisioneiro americano, seguiam aos trancos pela densa floresta. Desde
que saíram de La Gleize, Peiper e seus homens só tinham parado alguns mi
nutos para tomar fôlego.
Naquela noite atravessaram uma pequena ponte. De súbito, a artilharia
traçadora de pára-quedistas da 82a Aerotransportada riscou o céu. “Fogo de
morteiro caía por toda parte e estilhaços derrubavam as árvores ao redor”,
contou McCown. “O fogo de metralhadora e de fuzil dos americanos era su
perior ao da força de proteção.”26
Quando os disparos terminaram, McCown se viu sozinho, deitado de cara
na neve. Fora abandonado pelos alemães. Levantou-se, cauteloso, e rumou
para as linhas americanas. Era quase Dia de Natal quando finalmente che
gou a lugar seguro.
Jochen Peiper seguiu em frente. Tinha sido ferido de leve no tiroteio com
a 82a Aerotransportada — seu primeiro ferimento em mais de quatro anos de
combate feroz. Finalmente perdeu as forças e caiu na neve. Dali em diante,
seus homens precisaram carregá-lo.
O último obstáculo era sério — o rio Salm, que estava cheio. O que res
tara do Kampfgruppe Peiper começou a atravessar, os mais altos e fortes do
lado de cima, ajudando os feridos. Fazia tanto frio que poucos agüentavam
mais de um minuto na água.
Finalmente, o Kampfgruppe Peiper chegou são e salvo à aldeia de Wanne,
em poder dos alemães. Puseram Peiper deitado num posto de socorro e ele
mergulhou em sono profundo. Tinha trazido de volta quase oitocentos
soldados de ponta das SS, para lutar de novo. Enquanto dormia naquele
Natal de 1944, seu oficial superior já o recomendava para a Cruz de Cava
leiro da Cruz de Ferro com Folhas de Carvalho — a mais alta honraria do
Terceiro Reich.27
178 O LONGO INVERNO
Os Stalags
luzes” durante o reide. Gacki ficou indignado com a acusação: “Teria sido
burrice fazer isso quando a cidade inteira estava no escuro ”4
Os homens foram informados de que o ataque aéreo destruíra as instala
ções de fornecimento de água. O oficial comandante de Gacki, o tenente
Warren Springer, em breve rasparia neve para matar a sede.5
Depois da chamada do dia, os homens receberam ordens para remover o
entulho e cavar sepulturas. Segundo uma estimativa, 1.794 alemães e refu
giados foram mortos no reide de 2 de janeiro, e 29.500 casas foram destruídas.6
“Muitos de nós participamos de pequenos destacamentos para [também] pro
curar corpos”, contou Lyle Bouck. “Um civil alemão me deu um ungüento
escuro para aplicar nos meus ferimentos, e isso parece ter curado o tecido em
cerca de dez dias.”7
Fazer a limpeza após a visita do Comando de Bombardeiros à Alemanha foi
uma tarefa trágica naquele inverno. “Corpos horrivelmente desfigurados jaziam
por toda parte”, segundo W. G. Sebald, um dos poucos escritores alemães que
descreveram o impacto real do bombardeio em seus compatriotas. “Pequenas
chamas fosforescentes azuis ainda ardiam perto de muitos; outros tinham sido
tão queimados que apresentavam uma coloração marrom ou púrpura, e foram
reduzidos a um terço do tamanho normal. Estavam no chão, encolhidos em poças
de sua própria gordura derretida... Outras vítimas foram de tal modo carboniza
das e incineradas pelo calor de pelo menos mil graus, que o que sobrara de famí
lias inteiras poderia ser carregado num cesto de lavanderia.”8
Uma semana depois, em 10 de janeiro de 1945, anunciou-se que o cam
po de Nuremberg seria evacuado. Lyle Bouck e seu pelotão receberam or
dens para voltar à estação ferroviária da cidade, consertada às pressas depois
do bombardeio de 2 de janeiro. Mais uma vez embarcaram em vagões fe
chados para retomar a jornada.
belga que lhe curou uma difteria.20“Naquela época, eu passava a maior parte
do dia no alojamento, era frio demais”, contou Silvola. “Os alemães não que
riam ver ninguém do lado de fora tentando fazer sinal para os aviões aliados.
O ferimento em meu braço esquerdo sarara lentamente, sem que ninguém
cuidasse. Não recebi qualquer tratamento médico.”21
Os médicos que havia entre prisioneiros, como Kalil logo descobriu, mal
podiam ajudar os homens. Só trabalhavam com o material de que dispunham
quando foram capturados, e com o que colhiam entre os paramédicos presos
— se estes tivessem tido a sorte de preservar seus comprimidos de sulfa, sua
morfina e suas ataduras. Cirurgias eram feitas sem anestésicos, com lâminas
de barbear contrabandeadas. Cauterizavam-se ferimentos com objetos de
metal aquecidos. Os homens recorriam a suas reservas interiores, mais do que
à medicina, para suportar e sobreviver. Toda semana, naquele inverno, pelo
menos dez prisioneiros morreram em Fallingbostel, a maioria vitimada por
tifo, difteria, gripe e outras doenças agravadas pela desnutrição.
Só com muita sorte se escapava da disenteria, que deixava os doentes
severamente desidratados, muitas vezes provocando fatal perda de peso,
porque os homens eram incapazes de segurar o pouco alimento que lhe da
vam, ou de fazer a digestão adequadamente. Na maior parte das barracas e
das alas, os alemães deixavam apenas dois penicos à noite. De manhã, os dois
transbordavam.
Fallingbostel, como todos os campos de prisioneiros de guerra alemães,
era uma gigantesca placa de petri de infecções: “Esfregávamos o rosto com as
mãos imundas, depois lambíamos os lábios e pronto, estávamos infectados”,
contou um prisioneiro. “Com disenteria, perde-se o respeito próprio. Nada
mais nos constrange. Se sentimos um movimento intestinal, baixamos as cal
ças e soltamos. Eu me sentia um animal. Éramos tratados como gado e agía
mos como gado.”22
Piorréia, uma forma de escorbuto causada pela falta de vitaminas, afeta
va de um modo ou de outro a maioria dos homens. Os doentes mais crônicos
sofriam de insuficiência hepática e renal. A maioria dos homens padecia de
hemorragia e inflamação da gengiva. Alguns perdiam os dentes. Hepatite e
anemia — outras doenças que acompanham a má nutrição — demoravam
OS STALAGS 191
*A infreqüência das entregas de pacotes da Cruz Vermelha não ajudou em nada. Muitos pa
cotes com suprimento médico eram desviados para uso dos alemães, ou simplesmente fica
vam embargados. O fato de que os governos aliados puseram o bem-estar de mais de duzentos
mil homens exclusivamente nas mãos da Cruz Vermelha, que enfrentava insuperáveis difi
culdades logísticas, ainda é objeto de acirradas discussões entre os sobreviventes. De modo
geral, o destino dos prisioneiros aliados na Alemanha em 1945 continua a ser uma das gran
des tragédias não divulgadas da Segunda Guerra Mundial. Na imaginação popular, a expe
riência dos prisioneiros tem sido mitificada em filmes como The Great Escape e Colditz. Mas,
na realidade, o irredutível e fleumático cativo, obcecado com a idéia de fugir, era figura rara.
Para a imensa maioria dos “hóspedes” de Hitler durante o inverno de 1944-45, tudo se re
sumia a tentar manter-se vivo, sabendo que a guerra poderia não durar muito tempo mais.
Para milhares, a guerra não terminou a tempo: morreram dolorosamente e foram sepulta
dos em caixões de madeira preparados às pressas, em desolados cemitérios espalhados pelo
Terceiro Reich.
**No campo madeireiro de McConnell, os americanos logo descobriram maneiras de tirar o
máximo possíyel do comandante alemão. “Ele vivia furioso”, contou McConnell. “Dizíamos
que só voltaríamos ao trabalho quando recebêssemos nossos pacotes da Cruz Vermelha. Mi
nha nossa! O homem ficava maluco! Trouxe um pelotão de soldados para tomar conta de
nós... Fazia a chamada usando o punhal, brandindo-o, berrando insultos em alemão. Não
sabíamos que diabos estava dizendo, e não fazia a menor diferença. Recusamo-nos a traba
lhar e finalmeíite recebemos nossos pacotes.”Joseph McConnell, entrevista com o autor.
192 O LONGO INVERNO
isso era o pior que faziam. Cozinhávamos para nós mesmos, pelo menos tí
nhamos certeza de que dava para comer. O sujeito que nos chefiava, um
polonês que fora obrigado a ingressar no exército alemão, era bom para nós,
simpatizava conosco.”24
McConnell de fato teve sorte. Para o resto do pelotão, o pesadelo do cati
veiro mal começara.
* 0 Stammlager era um inferno, mas ao mesmo tempo era o céu em comparação com os
vagões fechados. A maioria dos recém-chegados ficava satisfeita de ter um beliche e um teto
sobre a cabeça, onde assinalava-se as letras P-O-W (de prisoners ofwar) para impedir ataques
dos aviões aliados. “Puseram-nos num velho estábulo de cavalaria”, contou um aliviado sar
gento Peter Gacki, o observador de artilharia avançada capturado com o pelotão de I&R. “O
térreo tinha beliches com duas ou três camas; eles haviam instalado um teto e alguns de nós
foram postos no sótão. Piolhos infestavam as camas de baixo, mas em cima dormíamos no
chão e não éramos muito incomodados pelos bichos.” Peter Gacki, entrevista com o autor.
OS STALAGS 193
*Em 23 de janeiro de 1945 havia 453 oficiais, todos eles capturados nas Ardenas entre 16 de
dezembro e 22 de dezembro de 1944. No fim de março, eram 1.291. Esse número incluía
423 oficiais que chegaram ao campo provenientes do Oflag 65, na Polônia.
194 O LONGO INVERNO
uma estranha luz crepuscular, tão cinzenta quanto o rosto dos homens. E só
havia um fogão. Era impossível aquecer o alojamento — apenas 48 briquetes
eram distribuídos a cada três dias. E a temperatura média naquele inverno
era bem abaixo do ponto de congelamento: por volta de cinco graus negati
vos. Logo os homens se puseram a remexer tudo à procura de lenha.
Cada um escolheu seu beliche. Reid e Bouck dividiram um beliche, mas
não tardaram a descobrir que teriam de improvisar algo para combater o frio
à noite — não havia cobertores para todos. E, assim, Reid, Bouck e outros
juntaram os beliches, formando uma espécie de cama de casal para dividir
cobertores e o calor do corpo.
Aquela primeira noite, enquanto a luz dos holofotes varria o recinto, hou
ve uma rápida reunião em torno do fogão. Os prisioneiros esfregavam as mãos
para se aquecerem, apresentaram-se uns aos outros e contaram histórias. De
pois se amontoaram nos beliches, vestidos da cabeça aos pés, e caíram no sono.
De manhã, quando a claridade permitia ver, Bouck e todo o alojamento
foram acordados por guardas alemães aos gritos de “Raus!”.
Bouck e Reid saltaram, cansados, calçaram as botas e se arrastaram para
o frio lá fora.
Na Hermann Gõring Strasse — a divisória central do alojamento — guar
das berravam: “Fünferreihen!” (De cinco em cinco!) Os Kriegies eram agrupa
dos em fileiras de cinco para serem contados. Os guardas, na maioria de
meia-idade, usavam uniformes de lã e longos sobretudos. Os Kriegies vestiam a
roupa com a qual tinham sido capturados, em geral uniformes esfrangalhados.
A maioria perdera sobretudos, luvas, chapéus — isso quando os inimigos, vio
lando a Convenção de Genebra, não lhes tinham roubado esses objetos.*
■“Todos os dias, às oito da manhã e às cinco da tarde, os alemães contavam os homens, fossem
quais fossem as condições do tempo. “As vezes sentíamos o vento frio passar por nossos braços
finos, e nossos membros esfriavam até os ossos, enquanto o campo era vasculhado à procura
de Kriegies ausentes”, contou padre Paul Cavanaugh, que chegara ao campo no mésmo dia
e u que chegaram Bouck e Reid. “Em dias quentes prolongávamos a contagem no sol, quan
do por pura travessura os menores se escondiam atrás dos maiores, para que faltasse gente no
fi ti da contagem; ou deixavam-se espaços vagos para que parecesse haver mais homens do
que o número registrado. Risos de deboche marcavam as faces enquanto os guardas conta
vam e recontavam os espólios da guerra, cada vez chegando a um total diferente, até ficarem
tãD confusos que começavam a xingar uns aos outros na presença dos prisioneiros.” Padre
Cavanaugh, American Priest in a Nazi Prisont manuscrito inédito, p. 70.
OS STALAGS 195
‘ Durante a evasão das Ardenas, Kriz foi elogiado novamente por bravura e profissionalismo. Num
relato que descrevia a ação do batalhão de Kriz na evasão, ele foi mencionado por seus “feitos
heróicos, sua coragem extraordinária e sua capacidade de liderança”. Relato preparado depois da
batalha por Edward L. Brady, 394° de Infantaria, do álbum de recortes de Barbara Anderson.
OS STALAGS 197
para educar dois filhos pequenos? “Eu ficava a noite inteira deitada ouvindo
os boletins da Cruz Vermelha pelo rádio, na esperança de que mencionas
sem o nome dele”, disse a sra. Creger.56 Seu sistema nervoso jamais se recu
peraria da preocupação.57
*“Os oficiais da 106a Divisão de Infantaria estavam em ligeira desvantagem do ponto de vista
do moral”, contou o major Albert Bemdt, cirurgião que dirigia a enfermaria americana do
Oflag. “Nos primeiros dias da Batalha do Bulge, o Quinto Exército Panzer de Manteuffel
[tinha] cercado Schnee Eifel e rendido os 422° e 423° Regimentos de Infantaria, que se ren
deram com seu pessoal quase intacto.” Individualmente, eram pessoas ótimas, mas coletiva
mente carregaram uma cruz que os afligiu durante todo o período de cativeiro. “Em particular,
o ônus da rendição pesou mais sobre os ombros do coronel Cavender, que era, em virtude da
idade e patente, o mais alto oficial americano no campo de prisioneiros. Durante o tempo
que passou no campo, Cavender vivia transtornado e tenso. Não podia esquecer que capitu
lara com um regimento intacto. Tinha quase como certo que seria levado à corte marcial se
sobrevivesse ao cativeiro. A perturbação do coronel Cavender não passava despercebida aos
alemães, assim como aos oficiais americanos no campo. Ele não exercia controle firme sobre
os americanos e suas relações com o general comandante alemão não eram as melhores pos
síveis.” Albert Bemdt, The Last 100 Days of World War II, manuscrito inédito, pp. 11-12.
200 O LONGO INVERNO
seavam em toda a Alemanha, a ração caiu para apenas 1.070 calorias. Um jo
vem capitão do alojamento de Bouck, que jogara futebol em West Point, pare
cia um esqueleto, pesando menos de cinqüenta quilos. Três meses antes, ao ser
capturado, pesava quase cem.44 O próprio Bouck caíra para menos de setenta
quilos, tendo perdido quase vinte desde 16 de dezembro de 1944.
Uma apatia tomara conta de todo o campo; a única atividade de grupo
era freqüentar o serviço religioso na igreja, comandado pelo padre Cavanaugh.
Nada de esportes, nem mesmo um programa de exercícios físicos. Os ho
mens viviam cansados demais para reunir a força de vontade necessária,
menos ainda força física. Quando os alemães puseram à sua disposição al
guns instrumentos musicais, quase ninguém se aproximou deles. Ninguém
tinha vontade de tocar.45
Era crucial que os homens ocupassem a mente com qualquer coisa, em
vez de pensar em suas aflições. Percebendo isso, Lyle Bouck e outros resolve
ram se distrair o melhor que pudessem da fome e do frio. Um dia um homem,
em seu alojamento, encontrou uma sobra de madeira plana e um pedaço de
arame, e preparou uma tábua para jogar cribbage. Logo o jogo de cartas virou
mania. As cartas encardidas, de pontas viradas, foram cortesia dos sérvios.
Bouck também se juntou ao “Clube do Brinde” do Oflag XIIIB e sob a
liderança do tenente Robert King, natural de Los Angeles, praticou a arte de
falar em público. Com reuniões duas vezes por semana, ele e seus compa
nheiros faziam discursos, de improviso ou preparados de antemão.46 Outro
oficial obrigou todo o alojamento de Bouck a fazer um curso avançado de
ortografia. Outro era especialista em geografia. Bouck logo decorou o nome
de todos os estados dos EUA e de suas capitais.47
As mesmas condições prevaleciam no campo dos não-oficiais. Um homem
contou as farpas de um pedaço de cerca de arame e calculou o número total de
farpas em tomo do acampamento. Quando anunciou o número, seus colegas
formaram equipes para verificar se estava certo, contando farpa por farpa.48
O tédio e o medo solapavam oficiais ou soldados. As relações entre os pri
sioneiros e seus captores eram, entretanto, melhores do que no campo dos
oficiais. E os castigos costumavam ser menos severos. Um dia, alguns prisio
neiros foram flagrados violando as regras. Seus nomes foram anotados. A pu
nição seria distribuída na hora da chamada na manhã seguinte.
202 O LONGO INVERNO
•Milosevich também refletiu amargamente sobre os prisioneiros de guerra alemães que vira
quando esteve em Camp Maxey, no Texas. Naquele estágio da guerra, os prisioneiros ale
mães nos Estados Unidos escreviam para os parentes pedindo que não desperdiçassem ali
mentos e outros recursos preciosos enviando-lhes pacotes — estavam longe de precisar disso
para se manterem. “Eu me lembro de ver aqueles prisioneiros alemães”, contou Milosevich.
“Eram uns filhos-da-puta grandes e gordos. Nós os alimentávamos com dietas de g ourmet.”
Houve queixas generalizadas sobre o tratamento leniente que os prisioneiros alemães rece
biam nos EUA. Parentes de prisioneiros como Milosevich argumentavam furiosos que os ini
migos se alimentavam melhor, em alguns casos, do que os americanos comuns. Apesar disso,
o governo americano continuou tratando bem os alemães, sabendo que se espalhara entre
unidades de combate alemãs a idéia de que ser prisioneiro de guerra era algo desejável, prin
cipalmente se comparado com a sorte dos capturados pelos russos, que tratavam os prisionei
ros de guerra alemães com a mais absoluta brutalidade, matando a tiros ou de fome centenas
de milhares nos primeiros meses de 1945. As autoridades também esperavam que os prisio
neiros americanos fossem mais bem tratados pelos alemães, se tratassem decentemente os
prisioneiros alemães. Mas aquilo não fez diferença alguma, como Lyle Bouck e seus homens
acabaram aprendendo. Risto Milosevich, entrevista com o autor.
OS STALAGS 203
O Rio
terra arrasada adotada por Hitler no leste — destruindo tudo no rastro da re
tirada da Wehrmacht — agora seria aplicada na Alemanha: Hitler pretendia
levar a Pátria consigo, quando caísse.
E se algumas centenas de milhares de prisioneiros de guerra precisassem
ser sepultados com milhões de outros sob os escombros? Que assim fosse.
*A essa altura Kriz tinha um apelido entre os seus soldados: “Crazy, Crazy Kriz”. Os homens
usavam-no respeitosamente, porque acima de tudo Kriz era admirado pela capacidade de re
duzir as baixas. Mas seu interesse por brigas de cachorro é que lhe deu a reputação de figura
pitoresca. Depois de evadir-se das Ardenas, Kriz arranjou um pastor alemão, que conseguiu
numa unidade alemã capturada. O cão era na verdade uma cadela gigante e Kriz levava-a
para brigar em qualquer parte, com uma condição — o outro cão tinha de ser macho. No
meio da briga, o macho parava para cheirar a querida mascote de Kriz — erro fatal, pois numa
fração de segundo a cachorra de Kriz atacava. Kriz ganhou uma pequena fortuna e ficou
inconsolável quando teve de desíazer-se da cadela ao terminar a guerra. Barbara Anderson,
entrevista com o autor.
208 O LONGO INVERNO
cada vez mais perto era encorajador. Um dia, soubemos que tinham chegado
ao Reno e aquilo nos deixou realmente animados. Nossas tropas estavam a
apenas 160 quilômetros. Isso nos deu coragem.”11
Faltava uma hora, mais ou menos, para a meia-noite quando o coronel Kriz
ordenou a seu 2o Batalhão que saísse. Sua missão era passar o mais rapida
mente possível pela ponte Lundendorff, em Remagen, enquanto a primei
ra unidade da 99a Divisão atravessava o Reno. Dois trilhos corriam pela
ponte, ladeados por passarelas de pedestres. Torres gêmeas de pedra erguiam-
se em cada extremidade. Em 1939, os alemães tinham instalado uma com
plexa rede de explosivos, para que pudessem destruir a ponte antes de
qualquer avanço aliado.*
O coronel Kriz e seu oficial executivo, Boyd McCune, se aproximaram
da ponte, a pé, por Remagen. Cada um encabeçava uma fila de homens, de
um lado e de outro de uma rua sem iluminação. De repente bombas come
çaram a cair, matando, ferindo e provocando o pânico. Kriz reagrupou os ho
mens enquanto paramédicos cuidavam dos feridos. E o avanço para a ponte
foi retomado.
“Levamos o 2o Batalhão, do 394° Regimento de Infantaria, para o outro
lado da ponte, debaixo de fogo de artilharia esporádico e intermitente”, lem
*Três dias antes, em 7 de março de 1945, homens do 27° Batalhão de Infantaria Blindada
tinham aberto caminho lutando até a extremidade ocidental da ponte. Após diversas tentati
vas fracassadas de explodir a ponte atrás deles, um sargento alemão tinha corrido, debaixo de
intenso fogo, para acender um fio preso a uma maciça carga de explosivos na própria ponte.
Depois de um terrível estrondo, pedras e paus voaram pelos ares. Mas, quando a poeira assen
tou, para espanto de alemães e americanos, a ponte continuava inteira. Imediatamente solda
dos americanos começaram a atravessar, enfrentando o fogo de tanques Pershing. O primeiro
americano a pôr os pés na margem oriental do Reno foi um assistente de líder de equipe,
sargento Alex Drabnik. A notícia de que Drabnik e outros tinham tomado a ponte Ludendorff
logo chegou aos ouvidos dos mais altos comandantes aliados. Para o general Eisenhower, foi
a notícia mais agradável de toda a guerra. Junto com o general Hodges, do Primeiro Exército
dos EUA, e com o general Bradley, ele ordenara que todas as divisões de infantaria disponí
veis tentassem a travessia — a primeira delas a 99a Divisão.
212 O LONGO INVERNO
*Mais tarde da noite, um dos médicos alemães que trabalhavam no Hammelburg Lager, um
certo major Seisser, voltou às pressas à cidade e encontrou seu consultório domiciliar e todo
o seu equipamento médico destruídos, e o pai gravemente ferido. Regressou na manhã se
guinte e avisou a Berndt que não mais ajudaria com suprimentos médicos extras, como o
fizera até então. Albert Berndt, The Last 100 Days o f World War II in a German Prison Camp,
manuscrito inédito, p 31.
214 O LONGO INVERNO
alimento por nicotina. Certa manhã, Milosevich viu seu corpo macilento ser
carregado do alojamento pelos alemães.15
Lyle Bouck sabia que, se os americanos demorassem, ele também defi
nharia. Pesando menos de 60 quilos, a pele amarela de icterícia, seu estô
mago começara a doer de novo. Ainda não se dera conta de que, como
Milosevich, já apresentava os primeiros sinais de hepatite aguda. Duvidava
que fosse capaz de sobreviver àquela primavera, se não conseguisse obter
comida e socorro médico adequado.16
O operador de rádio James Fort sonhava toda noite com bacon e ovos.
Mas quando ia comer, acordava.17Até mesmo a refeição mais trivial se trans
formava em obra-prima da culinária, enfeitando as noturnas fantasias alimen-
tares de todos os homens.
Apesar dos pés ulcerados pelo frio, o cabo Sam Jenkins passava as horas
do dia com um Arbeitskommmando (pequeno destacamento) que cortava le
nha numa floresta perto de Hammelburg. “Foi de longe o inverno mais lon
go que já passei”, contou Jenkins. Inicialmente, ele se sentira grato pelos curtos
dias de inverno, quando o sol se punha por volta das quatro e meia, mas agora
os dias se alongavam, com a aproximação da primavera. Jenkins e os outros
prisioneiros do destacamento de lenhadores se sentiram encorajados, entre
tanto, ao verificarem que os guardas também quase não tinham o que comer.18
O Terceiro Reich, isso era claro, estava à beira do colapso.
Era uma bela manhã de sol quando o general George S. Patton marchou, de
cabeça erguida, para uma plataforma flutuante no Reno. Dois dias antes, seu
Terceiro Exército atravessara com êxito, antecipando-se a Montgomery por
questão de horas. Passeou com seus principais ajudantes, entre eles um rude
veterano da Primeira Guerra Mundial, o major Alexander Stiller, em direção
ao meio do rio.
— Hora de fazermos uma ligeira pausa — disse Patton.
O grupo parou exatamente no meio da travessia.
O RIO 215
cou que havia uma razão para “O Velho” estar tão decidido a mandar uma
força-tarefa: John Waters, genro de Patton, era um dos prisioneiros.
No começo de fevereiro, três oficiais do Oflag 64 tinham escapado, indo
parar em Moscou. Ali informaram ao general John Deane que Waters e seus
companheiros prisioneiros estavam sendo forçados a marchar para oeste,
distanciando-se dos russos. Deane passara a informação para o general
Eisenhower, que por sua vez a transmitira a Patton.21
Como Patton concluiu que Waters estava em Hammelburg é até hoje
um mistério. Sua mais provável fonte de informação foi a Cruz Vermelha suíça
em Genebra, onde os nomes dos prisioneiros de guerra eram registrados quan
do chegavam aos campos.
Relutantemente, Hoge pôs-se em contato com Creighton Abrams, de trin
ta anos, talvez o mais brilhante dos talentosos cavaleiros de Patton, que im-
pusera o ritmo do avanço da 4a Divisão Blindada, quando ela rumou às pressas
para o Reno.
Hoge sabia que Abrams ficaria ainda menos entusiasmado com a ordem
de Patton.
— Oitenta quilômetros é muito — disse Abrams quando Hoge lhe resu
mira a missão. — Se é para ir tão longe, quero levar todo o meu comando
[cerca de quatro mil homens].
— Não, tem de ser uma força pequena — insistiu Hoge. — E diz o Exér
cito que ela precisa partir esta noite.
— Eu gostaria de conversar com o Exército, senhor.
— Não se preocupe. Você terá uma oportunidade de fazê-lo. Patton está
vindo ao seu posto de comando.22
Os ataques aéreos aliados cada vez mais intensos em Würzburg e outras cida
des alemãs da Baviera enraiveceram muitos guardas de Hammelburg que ti
nham família na região. Alguns mal controlavam a raiva dos Amerikaner sob
sua guarda. Por volta do meio-dia de 25 de março de 1945, a sirene alertou
para um ataque aéreo. Dentro de minutos, um tenente americano chamado
O RIO 217
como se tivesse uma bola de ferro no estômago. Peguei uma hepatite que você
não ia acreditar. Com isso, o assunto morreu. Mas sei que teria conseguido,
viajando à noite, dormindo de dia. Sei que conseguiria.”28
A certa altura daquele anoitecer de 26 de março de 1945, espalhou-se um
boato no Oflag de Hammelburg: uma força blindada americana aproximava-
se. A história talvez tenha sido espalhada por um guarda, ou por um prisio
neiro que escutava trocas de mensagens pelo rádio alemão. Fosse qual fosse a
origem, teve impacto eletrizante nos que a ouviram: os camaradas america
nos estavam chegando. Com certeza em questão de horas, e não de semanas,
o socorro chegaria na forma dos tanques Sherman do general Patton.
13
A Força-tarefa Baum
um poste de telégrafo”, lembra Waters. “Não sentia dor. E não sentia porque
tudo ficou entorpecido da cintura para baixo.”5
O soldado alemão aproximou-se com cuidado de Waters, que se estendia
esparramado na estrada.
— Seu filho-da-puta — gritou Waters. — Você estragou minha pescaria.6
Fuchs conseguiu explicar sua missão ao guarda, que lhes ordenou que
voltassem para Hammelburg. Os dois oficiais levaram Walters de volta para o
campo enrolado num cobertor.
*Graças à habilidade e à presteza do coronel Radovan Danich, médico sérvio de grande re
nome em Belgrado antes da guerra, a vida de Waters foi salva. Danich dispunha apenas de
bandagens de papel e uma mesa de cozinha para fazer o serviço.
22 4 O LONGO INVERNO
havia uma semana que não me barbeava e estava coberto de graxa. Todos eles
tinham sido doutrinados por aquele lixo de propaganda.”27
Nutto tentou dobrar a manga para mostrar a pele branca.
— Não, eu não sou negro.28
O oficial saiu andando.
“Acho que ele teria me dado um tiro no rabo, se eu fosse”, contou Nutto.29
Mais tarde Nutto seria levado para um hospital alemão em Würzburg.
Entretanto, seus tanques e meia-lagartas restantes voltavam por onde ti
nham vindo.
O tenente Lyle Bouck pulou para cima de um dos tanques.
A estrada margeou uma floresta e começou a subir uma ladeira íngreme.
Conduzia a uma clareira semicircular num pequeno platô, ladeado a oeste e
a norte por densa floresta. O tanque de Bouck parou perto de um celeiro de
paredes de pedra.
Anunciou-se que a Força-tarefa Baum ali se reagruparia antes de ten
tar prosseguir pouco depois do amanhecer. Os homens de Baum rapidamen
te começaram a transferir gasolina, em alguns casos cortando as borrachas
e despejando o combustível dos Shermans em latas de gasolina, para pou
par tempo.
Na COLINA 427, Lyle Bouck percebeu que a luz do dia se aproximava. E viu
uma cruz vermelha pintada no celeiro de paredes de pedra onde os feridos
jaziam, gemendo.
Bouck continuou olhando, enquanto todos os seus companheiros, me
nos 12, formaram uma coluna com o coronel Goode à frente, levando uma
bandeira branca. Desamparadamente, os homens marcharam de volta para
o campo. Bouck acompanhou-os com o olhar, sabendo que, provavelmente,
agiam com bom senso. Mas já tomara a sua decisão. Lutaria agora, aconte
cesse o que acontecesse. Fora feito prisioneiro uma vez. Não agüentaria mais
entrar por vontade própria no cativeiro.34
POR VOLTA DAS OITO DA MANHÃ, Baum convocou os oficiais que lhe restavam.
— Desta vez não vamos parar em nenhuma barreira — disse-lhes. —
Vamos tirá-las. Se toparmos com uma posição defensiva, vamos destruí-la. Se
encontrarmos tanques alemães, vamos enfrentá-los. Se alcançarmos uma cor
rente larga, quero que um meia-lagarta avance como uma ponte para os
232 O LONGO INVERNO
tanques. Seguiremos reto como uma flecha até acabar o combustível. Lem
brem-se, precisamos derrubar os Krauts. Subam!35
Os oficiais e soldados de Baum embarcaram nos meia-lagartas e tanques
restantes. Baum entrou em seu jipe e seguiu para a beira de uma clareira an
tes de virar para o sul.
— Liguem as máquinas — gritou, fazendo sinal para que se pusessem
em marcha.36
Os tanques e meia-lagartas começaram a funcionar. De repente, um “fogo
infernal”37 de artilharia, metralhadoras e morteiro caiu sobre eles, vindo de
todas as direções.
Toda a clareira pareceu romper em chamas. Parecia que todos os tanques
e meia-lagartas tinham sido atingidos. Os tiros eram incrivelmente precisos:
os alemães os tinham cercado durante a noite e aguardaram o primeiro sinal
de movimento para lançar o ataque.
Abe Baum viu um dos seus operadores de rádio num meia-lagarta. Ele
ignorava as explosões e os gritos dos feridos enquanto batucava furiosamente
em código Morse: “Força-tarefa cercada. Debaixo de fogo intenso. Solicita
cobertura aérea.”38
Foi o último comunicado da Força-tarefa Baum.
Lyle Bouck via alemães por todos os lados.
— Salve-se quem puder — gritou Baum.39
As metralhadoras pipocavam.
Bouck e Reid pularam do meia-lagarta, atiraram a esmo e correram abai
xados para a mata.40
Oitenta homens, aproximadamente, tinham conseguido chegar às árvo
res, a maioria desarmada.
— Espalhem-se — ordenou Baum, enquanto homens aterrorizados se
arrastavam entre as plantas rasteiras. — Não me sigam. Formem grupos de
dois ou três e se virem.41
Os homens tomaram diferentes direções. Ouviram-se latidos. Os alemães
se aproximavam com cães farejadores.
Baum escondeu-se com o major Stiller e um operador de rádio chamado
John Sidles, e foram localizados.
— Raus! Raus! — gritou um alemão.
A FORÇA-TAREFA BAUM 233
semana, mal parando para limpar e comer um prato quente, sem tempo para
pôr a correspondência em dia.
A viagem de Lanzerath para Gemünden deixara marcas em todos os que
sobreviveram. Como os oficiais seus companheiros, Kriz endurecera, mas
a guerra tinha meios de se impor novamente ao espírito dos homens, mes
mo daqueles que supunham ter estancado para sempre a fonte da emoção.
Uma imagem em particular permaneceria com Kriz durante cinqüenta anos:
uma enfermeira americana a chorar com um granadeiro das SS morrendo
em seus braços.1
Talvez tenha sido em Gemünden que Kriz recebeu uma carta espanto
sa, datada de 30 de março de 1945, do soldado Bill James, gravemente fe
rido. Começava com o relato detalhado do que acontecera em 16 de
dezembro em Lanzerath. James não conseguia se lembrar de nada que acon
tecera entre o momento em que caiu, inconsciente, no fim da noite de 16
de dezembro, e sua chegada ao hospital militar alemão de Underach, na
margem ocidental do Reno, em 21 de dezembro. Passara semanas no hos
pital. E cada dia imaginava o avanço americano, até o começo de março,
quando decidiu que as linhas de frente estavam perto o suficiente para que
tentasse alcançá-las.
“Quando ouvi dizer que os ianques estavam chegando”, explicou James,
“tentei fugir em 4 de março. Eu era o único americano no hospital e conse
gui sair da cidade, [mas fui] preso. Na manhã seguinte, [os alemães] me leva
ram para Montabaur, do outro lado do Reno. Havia ali uma centena de
ianques num alojamento de madeira cercado de arame farpado. Um capitão
médico americano cuidava de nós. Segunda-feira, 26 de março, à uma e meia
da tarde, a 9a Divisão Blindada de Reconhecimento nos libertou. À noite
nossos médicos montaram um posto de socorro onde estávamos. Nenhuma
infantaria entrara na cidade. Não houve resistência, mas dois [ex-]prisionei-
ros ajudaram os poucos policiais militares a tomarem conta dos prisioneiros
alemães. Todos estavam dispostos a se livrar de alguma coisa, e eu juntei al
guns suvenires.
“E um maldito boato começou a circular de que 300 soldados das SS
marchavam sobre a cidade para eliminar a população, como castigo por ela
não ter resistido. Boato ou não, eu e alguns outros decidimos ir embora com
OS ÚLTIMOS DIAS DO REICH 239
a primeira seção de médicos que ia sair com uma leva inicial de feridos na
linha de frente. Dois de nós pulamos na parte de trás de uma ambulância e
nos seguramos. Viajamos assim até que a ambulância parou para examinar
a rota onde uma ponte fora destruída. Então nos deixaram ir na frente, um
em cada ambulância. Levaram-me de volta para o 102° Hospital de Eva
cuação e depois para o 48° Hospital Geral, onde aguardo transporte para os
Estados Unidos.
“Major Kriz, ninguém teve mais sorte do que eu. Ainda assim, eu gosta
ria de poder voltar para o senhor (ou devo dizer para nossa unidade?). Por
favor, major Kriz, mande-me os endereços de todos os velhos companheiros
e me dê notícias, se houver. Dê lembranças aos que ainda restam e acabe
com os alemães. Boa sorte, e rezo para que tudo termine logo.”2
A carta deve ter sido uma surpresa maravilhosa para Kriz. Se James, com
ferimentos tão graves, sobrevivera, talvez outros que tinham lutado por tanto
tempo naquele dia de dezembro também estivessem vivos em algum campo
de prisioneiros, entre eles Lyle Bouck. Não era esperar demais, era?
pés de Peter Gacki ainda estavam bastante ulcerados pela exposição ao frio e
ele preferiu ficar no trem. Felizmente, não houve outro ataque. “Depois des
cobrimos que os alemães não tinham marcado o trem com a insígnia da Cruz
Vermelha”, lembrou Gacki. “Deixaram-nos viajar para Schweinfurt com as
portas abertas, para sua segurança e nossa também. Quando chegamos a
Schweinfurt, vimos que a cidade fora arrasada. As fábricas tinham fornecido
a maioria das bolas de rolamento e outros materiais de guerra. Mais tarde
fiquei sabendo que nossa força aérea pagara um preço terrível por aqueles
bombardeios. Era opinião corrente que aquilo ajudou a abreviar a guerra. Em
Schweinfurt, todo mundo voltou para o trem e prosseguimos viagem.”4
No começo do dia 5 de abril de 1945, o transporte de prisioneiros de
Hammelburg chegou a Nuremberg. Desde a última visita do pelotão em ja
neiro, a cidade fora repetidamente bombardeada. Moradores cuspiram nos
prisioneiros, quando a coluna lotou a estação ferroviária. E antes de atraves
sar a cidade em ruínas, cada homem recebeu uma tigela de sopa. Alguns des
cobriram, enojados, que a sopa continha besouros negros.5 Os prisioneiros
mais recentes foram incapazes de engolir uma colher. Mas muitos outros
tomaram a sopa sem resmungar.
Os prisioneiros foram obrigados a marchar para o sul numa coluna que
passou pela enorme arena onde Hitler e os nazistas tinham realizado grandes
comícios: uma gigantesca suástica ainda estava hasteada sobre o arco à entra
da do estádio. Os prisioneiros prosseguiram sua lenta marcha. Viram um es
tranho carro antigo, com motor a lenha. Finalmente, quase ao meio-dia,
chegaram a uma área industrial nos limites meridionais da cidade. Algumas
fábricas ainda funcionavam, apesar dos intensos bombardeios do inverno e
da primavera.
Os homens descansaram durante uma hora, desembrulhando peque
nos sacos de comida que tinham guardado. Por volta do meio-dia, ouviram
uma sirene antiaérea — uma Vorwamung — seguida de imediato por uma
série de apitos indicando a aproximação iminente de aviões aliados. Os
guardas alemães olharam para o céu claro, na esperança de ver “jabos”—
caças-bombardeiros como os Mosquitos e Typhoons. De repente, centenas
de operários alemães saíram das fábricas nas imediações e correram em
direção aos prisioneiros.
OS ÚLTIMOS DIAS DO REICH 241
O cabo Sam Jenkins dependia cada vez mais do cabo Aubrey McGehee.
Certa manhã em Hammelburg, escorregaram juntos no gelo. Jenkins caiu
de mau jeito sobre o cóccix, com McGehee esparramado por cima dele.
A dor nas costas custou a ceder.7 “Eu não conseguia calçar as botas, os pés
doíam demais”, lembra Jenkins. “Não podia andar. McGehee se ofereceu para
me carregar. Salvou minha vida. Àquela altura ele já deveria ter perdido uns
15 quilos, pelo menos, dos 113 que pesava antes. Sabíamos que os america
nos estavam chegando pelo leste. Não parecia que os alemães seriam capa
zes de agüentar muito tempo.”8
Então veio o 12 de abril de 1945. Nessa manhã, os cabos Jenkins e
McGehee viram alguns civis alemães em pé à beira de uma estrada, olhando
as colunas de prisioneiros passarem.
— Roosevelt ist tot! (Roosevelt morreu!) — gritavam os alemães, jubi
losamente.9
A notícia da morte de Roosevelt mergulhou os homens novamente na
depressão. O pesar se abateu sobre todos, uns mais, outros menos. Alguns se
lembraram dos anos difíceis e estéreis da Grande Depressão, e da esperança
que Roosevelt passara a encarnar desde que foi eleito em 1933. Era mais do
que um simples presidente para aqueles homens, e lamentaram a sua morte
como se um parente próximo tivesse, de repente, desaparecido.
que fosse branca e pudesse ser vista por nervosos e vitoriosos soldados ameri
canos à caça de suvenires, bebidas alcoólicas e, em alguns casos, vingança.
Na manhã de 16 de abril, às 11 horas, todas as guarnições alemãs na se
ção da 99a tinham deposto suas armas. Só os defensores de Iserlohn ainda
não desistiram. Entre eles estava o tenente Albert Emst, comandante feroz
mente orgulhoso do que restava do Panserjãger Abteilung 512, batalhão de
antitanques. Ernst e seus últimos oficiais — apelidados de “ases” porque cada
um destruíra pelo menos 25 tanques americanos — ainda tinham em seu
poder armas formidáveis: Jagdtigers de setenta toneladas, equipados com ca
nhões de 128 mm.
O coronel Kriz já se entendera com Ernst aquela manhã. “A primeira vez
que vi Ernst ele estava debaixo de uma bandeira branca”, lembrou ele. “Du
vidou que eu estivesse no comando e achou que eu estivesse pregando uma
peça nele porque não tinha insígnia, além do capacete — que eu cobrira
deliberadamente de lama. Lembro-me de ter tirado minha túnica de soldado
para lhe mostrar minha patente antes que ele começasse a falar por meio de
um intérprete. Ele pediu duas horas para desocupar. Tínhamos travado esca
ramuças com seus Jagdtigers durante dias, quando avançávamos para o Bolsão
do Ruhr. Eu nunca vira aquele tipo de tanque. Os nossos eram incapazes de
colocá-los fora de combate. Eu queria poupar vidas, por isso dei [a Ernst] duas
horas para sair. Eu não sabia para onde ir, mas não queria mais nada com
aqueles tanques.
“[Aquela tarde] nos aproximamos dos limites de Iserlohn”, prosseguiu Kriz,
“onde milhares de soldados alemães se renderam, inclusive muitos generais
— mas não Albert Ernst e seus Jagdtigers. Aquela era a única cidade do Bolsão
do Ruhr ainda em poder dos alemães. Peguei meu jipe, pus dois generais ale
mães no banco de trás com uma bandeira branca e entrei em Iserlohn. Na
praça da cidade encontrei Ernst com três tanques. Disse a ele que seria me
lhor evitarmos um derramamento de sangue inútil e que as tropas e os ofi
ciais alemães tinham se rendido. Ele exigiu uma cerimônia formal de
rendição, com a condição de que só seus tanques participassem. A exigência
foi atendida, pondo fim à campanha no Bolsão do Ruhr.”17
Ainda aquela tarde, Kriz postou-se orgulhosamente para ver um grupo de
empedernidos soldados alemães, chefiados por Ernst, entrarem em forma
OS ÚLTIMOS DIAS DO REICH 247
ção na praça, os tanques alinhados em perfeita ordem atrás deles.18 Emst fez
um breve discurso, virou-se para Kriz e bateu continência. Era uma rara hon
ra, que só alguns oficiais tenazes como Kriz receberiam naquela primavera
no Bolsão do Ruhr.
Com o Bolsão do Ruhr finalmente limpo, Kriz sabia que ele e seus solda
dos logo marchariam para o sul a fim de se juntarem à maciça ponta-de-lan-
ça de Patton, que penetrava a Baviera, rumo a Munique, e depois para o último
reduto dos nazistas — os Alpes. Os nazistas que ainda restavam se renderiam
como Ernst, com a retidão e certa dose de honra ainda intactas, ou lutariam
até o último homem? Se preferissem oferecer uma resistência final, com um
número significativo de homens, Kriz sabia que uma coisa estava garantida:
bons soldados sob seu comando ainda morreriam antes que o Terceiro Reich
chegasse ao fim.
PARTE QUATRO
Últimas Batalhas
15
Moosberg
Depois de uma exaustiva marcha de três semanas, Lyle Bouck e seus compa
nheiros de Hammelburg chegaram ao esparramado Stalag VIIA, perto de
Moosberg, 65 quilômetros ao norte de Munique. Moosberg era o fim da li
nha. Stalag VILA era o pior campo no que restava do Terceiro Reich.
Os recém-chegados foram mandados para um banho de descontaminação.
Alguns prisioneiros de guerra, informados da Solução Final pelos terríveis
boletins da rádio BBC naquele mês de abril, acharam que iam ser executa
dos a gás. Para alívio deles, os chuveiros não emitiram o gás Cyclon B usado
em Auschwitz e outros campos da morte para matar milhões de judeus. De
les escorreu apenas água morna.
Ao verem homens que tinham chegado a Moosberg de outros campos da
Alemanha, os prisioneiros se espantavam com seu estado físico. Um homem
emitia um som gutural, como um animal, e mostrou a boca: não tinha lín
gua, os alemães a tinham cortado. Outros estavam terrivelmente magros. A
carne dos braços caíra para baixo dos cotovelos e a pele das coxas fora parar
abaixo dos joelhos.1
Depois do banho, Bouck e seus companheiros de Hammelburg eram le
vados para alojamentos ou tendas levantadas às pressas para acomodar as on
das de prisioneiros que chegavam de Lagers espalhados por toda a Alemanha.
Em abril de 1945, havia, segundo estimativas, cem mil prisioneiros aliados
252 O LONGO INVERNO
num campo projetado para dez mil. Mais de um terço eram franceses.
Quatorze mil eram americanos e britânicos.
Bouck e Reid foram conduzidos do portão principal para o outro extremo
do campo e instalados num beliche num frágil alojamento de madeira. Mais
12 homens foram espremidos no cômodo, que dispunha apenas de um beli
che com três camas. Quase todos os pedaços de madeira, até lascas do beliche,
tinham sido usados como combustível para os fogareiros, feitos de latas ve
lhas e vasilhas de ração.
Ao escurecer, o campo adquiria um aspecto surreal e sinistro, com ho
mens emaciados e sujos amontoados ao redor de pequenas fogueiras trocan
do qualquer coisa por um pouco de comida. Uma primitiva lei da selva
prevalecia, com castigos selvagens para os ladrões de comida, e cada qual
cuidando de si. Os guardas alemães davam as costas enquanto os homens fa
ziam o que julgavam necessário para se manterem vivos. As duas chamadas
diárias eram inúteis — ninguém, nem mesmo os alemães, sabiam quantos
homens havia no campo.*
Poucos dias após a chegada a Moosberg de Bouck e do contingente de
Hammelburg, correu o boato de que os prisioneiros de guerra aliados detidos
na Baviera seriam finalmente transferidos para Berchtesgarten e usados como
reféns.2 O tenente americano Joe Lovoi fora baleado num bombardeio de
B-17 em dezembro de 1944 e se mudara de um campo para outro como Bouck
e seu pelotão, antes de chegar a Moosberg mais ou menos na mesma época.
“A disenteria era generalizada, e o temor de um surto de tifo também. As filas diante das
latrinas a céu aberto às vezes se estendiam por cinqüenta metros; ir à latrina era uma tortura.
A dieta dos homens não ajudava a evitar as múltiplas doenças digestivas e intestinais que afli
giam milhares de presos. Na maior parte do tempo, não havia mais do que chucrute — geral
mente azedo — tirado com conchas de imensas barricas. A maioria vomitava se tomasse mais
de duas ou três colheradas, e todos os que o provavam pela primeira vez, como Lyle Bouck e
seu pelotão, lutavam para conservar na barriga aquela gororoba, às vezes infestada de larvas
de inseto. Tudo que se mexesse em Moosberg e não fosse humano era morto para servir de
comida. No setor russo do campo, onde as condições ainda eram piores, havia rumores de
que alguns tinham recorrido ao canibalismo — cadáveres foram encontrados com marcas de
dentadas. Um dia, logo depois de chegar, Peter Cacki viu dois homenstentarem capturar um
gato: “Não sei se queriam um animal de estimação ou comida. O gato, obviamente, andava
pelo campo há algum tempo, porque não se deixou apanhar. Não éramos um grupo amisto
so. Cada qual tinha um ou dois amigos e todos andavam sempre juntos." Peter Gacki, entre
vista com o autor.
MOOSBERG 253
risco de vida dormiam nos gélidos pisos de concreto dos banheiros usados no
tratamento contra piolho.
No desespero da fome, alguns se arriscavam a morrer para vasculhar cam
pos e fazendas. Quando os guardas passaram a ignorar essas incursões fora da
cerca do perímetro, levas de prisioneiros cortavam o arame e saíam em busca
de qualquer coisa que os mantivesse vivos. Ervilhas estragadas e batatas bolo
rentas tornaram-se a única fonte de sustento de muitos homens.
Certa noite, um Hawker Typhoon da RAF disparou foguetes contra o cam
po, matando pelo menos 35 prisioneiros russos, que talvez tivessem deixado
uma luz acesa. Apressadamente, cruzes brancas foram pintadas no teto dos
alojamentos de Fallingbostel para indicar que era um campo de prisioneiros
de guerra e não uma base inimiga.
Longas colunas alemãs atravessavam o campo todos os dias, marchando
indiferentes aos prisioneiros e tentando salvar a própria pele. Outros caças
britânicos passaram atirando. Aos poucos, os guardas do Exército do Interior
começaram a desaparecer. E uma imensa explosão sacudiu o campo — o
depósito de munição foi pelos ares e mais guardas fugiram. Segundo algu
mas versões, outros preferiram se render e foram levados para uma área do
campo, quando os soldados aliados assumiram o controle, apreendendo ar
mas alemãs e organizando grupos de soldados para manter alguma aparência
de ordem e distribuir alimento.
A busca por alimento ficou mais difícil quando os prisioneiros russos que
tinham sido tratados com inacreditável brutalidade — supõe-se que milhares
morreram em Fallingbostel — deixaram o campo e vasculharam todas as fa
zendas, estuprando e saqueando em sua marcha para o leste, ao encontro do
Exército Vermelho. Eles haviam visto companheiros sendo mortos a paula
das, reduzidos a esqueletos e baleados sem motivo, por isso tinham sede de
vingança.
Em 16 de abril de 1945, os soldados Louis Kalil e James Silvola ouviram
um longínquo rumor de combate. Homens correram para fora dos alojamentos
e viram um tanque do Segundo Exército britânico entrar pelo portão da fren
te, seguido de perto por transportadores Bren. No hospital do campo, a en
fermaria de Louis Kalil explodiu de alegria. Kalil, Robbie e Roy Burke ainda
MOOSBERG 255
que ela lhe aplicou finalmente o fizeram sentir-se limpo. Outra sensação,
quase tão boa quanto aquela, foi deitar-se num colchão usando roupas de
hospital cor de mostarda novas e cheirosas. Kalil disse brincando a Robbie
que com aquelas roupas pareciam estudantes ingleses.
Kalil ainda não sabia que em Indiana, duas semanas antes de sua liberta
ção, seus pais de origem libanesa tinham sido informados de que ele era pri
sioneiro de guerra. A euforia inicial logo cedeu à preocupação, quando
souberam que tinha sido ferido. Kalil esperava poder telefonar dentro em breve
para tranqüilizá-los e dizer-lhes que estava bem. Tinha decidido que jamais
contaria em detalhes o que lhe acontecera — pois talvez não agüentassem.6
Para Louis Kalil e James Silvola, a guerra acabara. Agora iam iniciar uma
longa campanha para recuperar peso (Silvola perdera quase 17 quilos) e
curar os ferimentos. Kalil precisava de uma séria cirurgia de reconstituição
do maxilar; o ferimento no braço esquerdo de Silvola sarara, mas os múscu
los lhe doíam quando usava o braço, e precisava cumprir intenso programa
de fisioterapia. Quando se recuperava em Bruxelas, Silvola mandou um
cartão-postal para os pais em Minnesota. “Foi a primeira vez que souberam
que eu estava vivo”, contou. “Estavam convencidos de que eu morrera qua
tro meses antes.”7
LYLE B o uck SENTIA-SE mais fraco do que nunca, deitado num colchão em
sua barraca. “Isto finalmente está acabando comigo”, disse a si mesmo, as úl
timas reservas de adrenalina rapidamente se esvaindo.
Pouco depois da meia-noite Bouck julgou ter ouvido alguém chamá-lo
pelo nome. Depois teve certeza. Esforçou-se para levantar, com seus cinqüenta
quilos de pele e osso, e caminhou, atordoado, para o escuro da noite.
— Bouck, alguém quer vê-lo aqui.
Bouck viu um homem perto de um jipe. Era Kriz.
MOOSBERG 261
Bouck deitou-se na ala dos doentes para dormir um pouco. Enquanto isso,
Kriz tomou providências para que um avião de transporte baixasse o mais perto
possível de Moosberg, para que Milosevich e outros doentes graves do 394°
fossem levados para a França. Graças à pronta intervenção de Kriz, Milosevich
foi transportado para o Hospital Militar 36 em Reims, onde rapidamente se
restabeleceria.27
Aqueles homens do pelotão de Bouck que ainda tinham condição de le
vantar-se — sargento William Slape, operador de rádio James Fort, cabo Sam
Jenkins, e os sulistas soldado John Creger e cabo Aubrey McGehee — se reu
niram em seus alojamentos em Moosberg e aguardaram ordens de ir para
casa. Em pouco tempo receberam ordem para entrar em formação diante de
banheiros construídos às pressas. “Entramos juntos e, cara, aquilo foi legal”,
lembra Fort. “Não nos limpávamos havia tanto tempo e estávamos tão fracos
que quase não conseguimos suportar a água quente. Mas todo mundo estava
muito feliz, brincando, contando piadas.”28
Quando finalmente acabaram de esfregar a sujeira de meses, alguns se
admiraram da palidez da pele. E todos receberam roupas limpas.
Eram mais ou menos seis da manhã quando Adolf HiÜer, cabelos grisalhos,
rosto pálido e profundamente marcado pelo estresse, convocou o general
Wilhelm Mohnke, o oficial das SS incumbido de defender o último posto de
*Em comparação, outro homem da 99a libertado em Moosberg, o sargento Vernon McGarity,
líder de equipe da Companhia L, 393° Regimento de Infantaria, estava em condição de pres
tar informações. Ele seria o único membro da 99a a receber a Medalha de Honra. Em 16-17
de dezembro, apesar de gravemente ferido, destruíra ninhos de metralhadoras, salvara cole
gas da 99a sob fogo intenso e finalmente fora capturado, mas só depois que sua equipe dispa
rou o último tiro. Ordens Gerais n° 6, Departamento de Guerra, Washington, D. C ., 11 de
janeiro de 1946. A 99a Divisão foi agraciada com 24 medalhas da Cruz por Distinção em
Serviço.
266 O LONGO INVERNO
Verão de 1945
la de que estava sendo mandado para Cleveland, a fim de fazer uma plástica.
Sessenta anos depois, sua irmã mais nova, Anna Tsakanikas, ainda se lembra
va vividamente da conversa telefônica: “Choramos, todo mundo chorou... Só
minha mãe foi vê-lo em Cleveland. Quase o dera como morto na época em
que foi prisioneiro, mas pedia em suas orações que voltasse para casa. Na vol
ta ela nos contou da gravidade dos ferimentos. Foi doloroso demais para ela
ver o filho naquele estado.”11
O último do pelotão a pisar solo americano naquele ano foi o soldado
Joseph McConnell, que chegou em 19 de novembro de 1945. Perdera quase
vinte quilos, desde que ingressara no exército, e tinha o corpo coberto de fu
rúnculos. “No dia em que cheguei não havia multidões, nem comemoração”,
lembra ele. “Era como se uma pessoa qualquer descesse do avião.”12
Depois da dispensa do exército, McConnell foi ser motorista da Greyhound
em 1948. Em 1966, mudou-se com a família para Phoenix. McConnell e sua
mulher, Treva, têm três filhos e três netos.13
QUANDO A GUERRA ACABOU, o soldado Louis Kalil tinha sido levado para a
Inglaterra com dois colegas prisioneiros de guerra, Roy Burke e o pára-quedista
britânico Robbie, posteriormente transferido para um hospital que cuidava
de soldados britânicos. Foi difícil para os três se separarem depois de viverem
experiências tão intensas como as de prisioneiros de guerra. Nessa altura já se
sentiam irremediavelmente unidos, tão íntimos uns dos outros como de qual
quer outra pessoa que conheciam.
— Se tudo correr bem, talvez eu venha vê-lo na Inglaterra — disse Kalil
a Robbie. — E se algum dia for aos Estados Unidos, será mais do que bem-
vindo. É um convite.
— Eu talvez não vá nunca aos Estados Unidos.
Robbie tinha razão. Nunca mais se veriam.
Burke e Kalil passaram outro mês na Inglaterra, se recuperando. Depois
foram levados para a Escócia e finalmente marcaram a data da partida.
Os dois se sentaram lado a lado num avião C-54 adaptado, que os levaria
para casa. Estavam quase atravessando o Atlântico quando Burke cutucou Kalil.
— Louis, dê uma olhada na porra daquele motor.
Kalil olhou pela janela. O motor vazava óleo. Não demorou a pegar fogo.
VERÃO DE 1945 277
Justiça
N
O FIM DE 1945, JOCHEN Peiper foi transferido de sua “jaula” e interna
do como prisioneiro de guerra em Dachau, o campo da morte que o
trem de Lyle Bouck visitara rapidamente no começo do ano. Os investigado
res se apressaram, ansiosos por descobrir, do próprio Peiper, o que acontece
ra em 17 de dezembro de 1944, no cruzamento rodoviário de Baugnez. O
massacre de Malmedy agora recebia maciça divulgação, transformando-se no
mais notório episódio de atrocidade de que os americanos foram vítimas no
Teatro de Operações Europeu.
Peiper e outros de seu Kampfgruppe foram acusados oficialmente pelo
massacre e pela morte de muitos, principalmente de indefesos civis belgas.
Em maio de 1946, Peiper foi um dos setenta homens a se sentarem num tri
bunal militar, com números pendurados no pescoço. Peiper era o número
42; Sepp Dietrich, o 11. Foram descritos pela promotoria como desalmados
fanáticos das SS que não hesitaram em praticar as maiores atrocidades para
realizar o último e desesperado contra-ataque de HiÜer. Para algumas teste
munhas, era como se o mal em estado bruto estivesse sentado no banco dos
réus. Jornais do mundo inteiro citaram horríveis detalhes tirados de relató
rios de autópsia: soldados americanos mutilados, baleados no rosto à queima-
roupa, abatidos impiedosamente com as mãos para o alto. A defesa de Peiper
alegou que ele jamais ingressara no Partido Nazista e apenas lutara pela pá
tria e pelo Führer.
280 O LONGO INVERNO
ria. “O material é deprimente”, disse ele ao filho. “Está claro, para mim, que
essas recaídas na barbárie se deram não apenas sob o mando de Hitler, mas
sempre aconteceram. O ser humano é que é falível. Sempre tentou matar o
próximo para assegurar a sua sobrevivência e a de sua família... O resultado
desse entendimento das coisas é a resignação.”6
Mesmo em Traves, a reputação de Peiper o alcançou. Três anos depois
que se mudou para lá, um jornalista local — informado por comunistas —
tomou público que o notório Peiper, das SS, o açougueiro de Malmedy, vivia
escondido na aldeia. “Se estou aqui”, respondeu Peiper, com arrogância, “é
porque em 1940 os franceses que estavam aqui não tinham coragem. Agora
ameaçam queimar minha casa. Pensei que a França fosse um país democrá
tico, que respeitasse os direitos humanos.”7
O Encontro
A PESAR DE AINDA SER UM JOVEM na casa dos vinte anos, por um bom
tempo depois de voltar para St. Louis Lyle Bouck continuou sendo a
sombra do que fora. Padecia de seqüelas da hepatite e sentia dores quase cons
tantes. Só depois de uma visita a um quiroprático começou a recuperar a
saúde.
Bouck tencionava permanecer no exército e preencheu formulários para
garantir a patente de primeiro-tenente. Para sua consternação, recebeu uma
carta informando-o de que fora aceito no exército regular, mas como segun-
do-tenente. “Naquele dia, recebi outra carta”, contou ele. “Continha o paga
mento de minha dispensa, e era muito menos do que eu esperava. Reclamei
e fui informado de que, pelo regulamento, quem serve como recruta por qual
quer período é remunerado de acordo com essa tabela de soldo. Fiquei tão
furioso que mandei tudo para o inferno e rasguei minha patente.”1
Bouck pensou em ser advogado, mas depois de conhecer um quiroprático
numa festa e de se lembrar do quanto essa profissão o ajudara a curar-se resol
veu tomar-se ele próprio um quiroprático. De início teve dificuldade para
formar uma clientela, mas com os anos acabou sendo reconhecido como um
dos melhores quiropráticos.de St. Louis.
Nas duas décadas seguintes, houve poucos contatos entre Bouck e seu
antigo pelotão. Mas Bouck visitou o tenente-coronel Kriz em Grand Island,
Nebraska, onde seu ex-mentor se tornara empresário de sucesso e, depois,
prefeito da cidade.
288 O LONGO INVERNO
dade, a dor era tão grande o tempo todo que ele precisava tomar cada vez
mais analgésicos, e os médicos cortaram os nervos para tentar amortecer a
área. Com isso perdeu a sensibilidade no lugar, como acontece quando o
dentista injeta novocaína. Ao comer, em casa ou fora, nunca percebia quan
do a comida lhe escorria pelo queixo e tínhamos de avisá-lo para que se
limpasse.”8
— Lyle, não sabíamos que você estava aqui... que coragem tremenda
demonstrou o soldado americano naquele dia.21
Em 13 de dezembro, os americanos e alemães se reuniram num cemité
rio nos arredores da aldeia de Stadkyll. “Um padre ministrou o serviço”, contou
um dos veteranos da 99a Divisão. Coroas foram depositadas pelos america
nos e alemães, com a corneta tocando “Ich hatt einen Kamerad.” [Tive um
camarada].
Depois os alemães se demoraram no cemitério, limpando a neve de
túmulos de companheiros caídos, pronunciando nomes há muito tempo es
quecidos, e se reuniram para prestar um tributo.22
Antes de voltar para os Estados Unidos, Bouck e a mulher Lucy visitaram
a colina de Lanzerath. Os buracos ainda estavam lá. A mata próxima fora
cortada e replantada. De repente, Bouck tinha 20 anos de novo. O lugar pa
recia o mesmo de tempos atrás.23
Agora com 46 anos, Bouck se deu conta de que talvez um fator acima de
todos — sua juventude — explicasse por que ele e seus homens resistiram,
sabendo que poderiam pagar pela obstinação com a própria vida. Eram tão
extraordinariamente jovens, tão inexperientes em tantas coisas. Homens de
mais idade — pais, adultos mais sábios e prudentes — certamente teriam
recuado quando os alemães apareceram em números tão superiores.
Nenhum outro do pelotão voltou à Bélgica naquele dezembro. “Já me cansei
de ver aquele lugar”, disse Jordan “Pop” Robinson. “Não deixei nada lá, a não
ser um pequeno pedaço da perna, e com certeza não conseguiria achá-lo.”24
*Agora o pelotão fazia piadas até mesmo com as piores experiências. Um incidente, narrado
por Slape, provocou ruidosas gargalhadas. “Um alemão de capa impermeável correu ao lon
go da cerca de arame farpado em frente à posição deles, com medo de levar um tiro se parasse
para pular a cerca. Todos atiraram nele, mas ninguém acertou. Até que alguém pôs uma car
ga de traçadores em seu fuzil, as balas voaram em direção ao alemão e o atingiram no meio
das nádegas. O sujeito pulou imediatamente a cerca e o pelotão nunca mais o viu.” Mike
Slape, entrevista com o autor.
298 O LONGO INVERNO
*Na noite seguinte, Vernon Leopold conseguiu que o pelotão visse um musical da Broadway,
Sweeney Todd. “Um barbeiro que tinha uma barbearia no segundo andar”, contou Bouck,
“cortava a garganta dos fregueses e jogava os corpos pelo alçapão. Embaixo, a namorada do
barbeiro mofa os corpos três vezes e servia como torta de carne em sua cervejaria. Nossa! Isso
é que é um programa de classe em Nova York.” Lyle Bouck, “How It Happened”, artigo iné
dito, 17 de maio de 1979.
300 O LONGO INVERNO
levado à corte marcial sob acusação de covardia. Kriz tinha visto o homem
subir num tanque inimigo para jogar uma granada lá dentro. Recomenda
ções ou condenações oficiais não o impressionavam. Bastava dizer que os
homens do pelotão cumpriram com o seu dever.
— Eles se portaram bem.42
As audiências do Congresso finalmente resultaram numa recomendação
para que o secretário de defesa concedesse a Medalha de Honra do Congres
so a Bill James. Tanto o Exército dos EUA como a Força Aérea apoiaram a
recomendação, mas depois de revista pelos Fuzileiros Navais dos EUA a con
decoração foi negada, porque James não demonstrara suficiente “intrepidez”.43
A família de James não desistiu e acabou mandando mais de mil cartas a con
gressistas e até mesmo ao presidente Reagan. “Somos gregos. Somos lutado
res”, explicou Peter Tsakanikas, irmão de James, acrescentando que o nome
da família, Tsakanikas, significa “campeão dos lutadores”.44
Lamentavelmente, os esforços resultaram inúteis. Mas Bill James não dei
xou de ser reconhecido. Em 14 de dezembro de 1979, as audiências do Con
gresso culminaram com a assinatura, pelo presidente Carter, da Lei Pública
96-145, suspendendo a limitação do prazo de condecorações exclusivamente
para membros do pelotão de I&R. Dois dias depois, o ex-tenente-coronel Robert
Kriz sugeriu que o pelotão recebesse a comenda Citação Presidencial de Uni
dade e que Lyle Bouck fosse condecorado com a Cruz por Distinção em Servi
ço, a segunda mais alta condecoração concedida pelo Exército dos EUA. No
dia seguinte, Lyle Bouck recomendou a concessão de condecorações para to
dos os homens do seu antigo pelotão.
Finalmente Lyle Bouck e seus homens receberam o reconhecimento
formal.
Em 2 de julho de 1980, o Exército dos EUA concedeu cinco Estrelas de
Prata e nove Estrelas de Bronze por Bravura. Em 12 de agosto, aprovou a con
cessão póstuma da Cruz por Distinção em Serviço para Bill James e de uma
Cruz por Distinção em Serviço para Risto Milosevich. “Disparando à quei
ma-roupa uma pistola,” dizia a comenda, “e de uma posição de metralhadora
exposta, ele infligiu pesadas baixas ao inimigo.”45 Milosevich também foi con
decorado por “extraordinário heroísmo... os destemidos esforços de Milosevich
e o fogo por ele sustentado durante todo o dia contribuíram imensamente
O ENCONTRO 301
* 0 repórter do Washington Post perguntara a vários homens o que achavam das medalhas.
“Nossa guerra era patriótica, a do Vietnã é política’’, disse o soldado James Silvola. “Eu estava
no lugar errado na hora errada”, disse Sam Jenkins ao jornal de El Paso. Jenkins disse ainda
que sua mulher pensava em pendurar a Estrela de Bronze para exibi-la. Mas ele preferia guardá-
la numa gaveta. “Não chamem Samuel Jenkins de herói. Por favor, não usem essa palavra.
Muita gente fez muito mais do que eu e nunca foi reconhecida.”
O soldado Joseph McConnell foi igualmente modesto. Uma lesma alemã alojada em seu
ombro esquerdo e o casaco furado de balas eram as únicas lembranças de guerra que esse
motorista de ônibus quieto e de fala mansa conservava. “Não sou herói. Fiz apenas o que era
meu dever. Nunca falei a esse respeito e nunca perdi o sono por causa disso. Cada um reage
de um jeito.” McConnell pôs a Estrela de Bronze numa gaveta, junto com a sua Purple Heart
e o casaco do exército que usava quando foi atingido.
O ENCONTRO 303
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Vernon Leopold, à esquerda, trajando farda da Wehrmacht com outros soldados do 394°
Regimento de Infantaria que falavam alemão, em Camp Maxey, Texas, 1944. Cortesia de
Vernon Leopold.
O Soldado Louis Kaíil,
em Camp Maxey, 1944.
Cortesia de Louis Ka !il.
Lyle Bouck, segundo da esquerda para a direita na primeira fila, logo depois de ingressar na
Guarda Nacional em 1938, aos quatorze anos de idade. O irmão de Bouck, Robeit, de
dezenove anos, o quinto da direita para a esquerda na primeira fila, pertencia à mesma
unidade da Guarda Nacional.
Acima: Joseph M cC onnell, com a
sabedoria e a experiência que adquiriu
nas ruas de sua cidade, Filadélfia.
Cortesia de Joseph M cConnell.
Lili Marlene. A atriz de cinema Marlene Dietrich, escalada para animar a 99a Divisão em 17
de dezembro de 1944 - o dia seguinte ao ataque alemão. Cortesia do Exército dos EL A
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WUX Washington DC 785 PM 1/5/45
Mrs Magdelene Bouck
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Valley Park Mo
The secretary of war desires me to express his deep regret that your
son First Lt.Lyle J Bouck Jr has been reported missing in action
since elghteen Deceçber ln Belgium if further details or other
Information are received you will be promptly notified
Dunlop Acting the Adjuntant General
VR 935 am
TIIK COMPANY WILL APPIUSCIATE 8DOOE8TION8 KROM IT8 PATRON8 CONCERNI NO 1T8 BERVtCE
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T H I c o m pa nt w il l m n K i i i i u x x m n o m m o » m » n o n ( n a u m n» a
“Está vivo.” Telegrama informa à mãe de Lyle Bouck que ele é prisioneiro de guerra.
Recebido quatro meses depois de sua captura. Cortesia de Lyle Bouck Jr.
Croquis de um típico campo de prisioneiros Stalag. Desenhos de Robert Neary, Lehigh
Acres, Flórida. Cortesia de Dauntless, publicado porTaylor Publishing Company, 1994.
Tenente-Coronel Robert Kriz, segundo da esquerda para a direita, em posição de
sentido depois que o comandante da 99a Divisão, General Walter Lauer, primeiro
à esquerda, o condecorou com a Cruz de Altos Serviços, em março de 1945
Cortesia de Barbara Anderson.
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0 |ff/ ü068|iuuteK-W '-#) ,
Apenas um número. Plaqueta de identificação do prisioneiro de
guerra Lyle Bouck. Cortesia de Lyle Bouck Jr.
A caminho da recuperação: Louis Kalil, sem camisa, recupera-se de uma cirurgia plástica,
em Cleveland, verão de 1945. Cortesia de Louis Kalil.
A dor se agrava. O Soldado Bill James com o autor John S. D. Eisenhower e o
Dr. Lyle Bouck, em Gettysburg, setembro de 1968. Cortesia de Lyle Bouck Jr.
Reencontro de velhos
camaradas. Risto
Milosevich e Carlos
Fernandez, Nova York,
1979. Cortesia de Lyle
Bouck Jr.
4 £»
Capítulo 1
1. The Third Reich at War (Nova York: Time-Life Books, 1997), p. 529.
2. John Toland, Adolf Hitler (Nova York: Doubleday, 1976), p- 796.
3. Ibid., p. 798.
4. Ibid., p. 799.
5. Otto Skorzeny, Skorzenyfs Secret Mission (Nova York: Dutton, 1950), pp. 153-54.
6. Ibid. p., 159.
7. Toland, Adolf Hitler, p. 809.
8. Ibid.
9. William Casey, The Secret WarAgainst Hitler (Nova York: Berkeley Publishing, 1989),
p. 292.
10. Ibid.
Capítulo 2
1. Gerald Astor, A Blood-Dimmed Tide: The Battle o f the Bulge by the Men Who Fought It
(Nova York: Donald I. Fine, 1992), p. 29.
2. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
3. Ibid.
4. Vernon Leopold, entrevista com o autor.
5. Dick Byers et a l , Dauntless: History o f 99th Infantry Division (Dallas: Taylor Publishing,
1994), p. 42.
6. Vernon Leopold, entrevista com o autor.
7. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
8. Ibid.
9. Ibid.
10. Ibid.
11. Vernon Leopold, entrevista com o autor.
12. Ibid.
13. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
14. Vernon Leopold, entrevista com o autor.
15. Louis Kalil, entrevista com o autor.
306 O LONGO INVERNO
Capítulo 3
1. John Toland, Adolf Hitler (Nova York: Doubleday, 1976), p. 824.
2. John Toland, Battle: The Story o f the Bulge (Nova York: Random House, 1959), p. 25.
3. Ibid.
4. Otto Skorzeny, Skorzeny's Secret Missions (Nova York: Dutton, 1950), p. 219.
5. Ibid., p. 220.
6. Ibid., p. 223.
7. Toland, Battle , p. 25.
8. Ibid. p. 26.
9. Ibid.
10. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
11. Louis Kalil, entrevista com o autor.
12. Vemon Leopold, entrevista com o autor.
13. Ibid.
14. Risto Milosevich, entrevista com o autor.
15. Ibid.
16. Vemon Leopold, entrevista com o autor.
17. Ibid.
18. Dick Byers et a i , Dauntless: History o f 99th Infantry Division (Dallas: Taylor Publishing,
1994), p. 54.
19. Louis Kalil, entrevista com o autor.
Capítulo 4
1. Robert Lambert, entrevista com o autor.
2. Astor, A Blood-Dimmed Tide, p.24.
3. Vernon Leopold, relato por escrito das ações do pelotão, 30 de abril de 1981, arquivo
pessoal de Lyle Bouck.
4. Ibid.
5. Vernon Leopold, entrevista com o autor.
6. Dick Byers et al., Dauntless: History o f 99th Infantry Division (Dallas: Taylor Publishing,
1994), p. 60.
7. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
8. Charles Whiting, The Battle ofthe Hürtgen Forest (Nova York: Pocket Books, 1989), p. 59.
308 O LONGO INVERNO
Capítulo 5
1. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
2. Ibid.
3. Lyle Bouck, relato por escrito de ação em Lanzerath, arquivo pessoal de Lyle Bouck.
4. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
5. Agnes McGehee, entrevista com o autor.
6. Sam Jenkins, entrevista com o autor.
NOTAS 309
7. John Toland, Battle: The Story ofthe Bulge (Nova York: Random House, 1959), p.30.
8. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
9. Sam Jenkins a Lyle Bouck, comentário pessoal, 5 de junho de 1966.
10. Carlos Fernandez, relatório por escrito de ações em Lanzerath, arquivo pessoal de Lyle
Bouck.
11. Stepehn Rusiecki, The Key to the Bulge, Introdução de Lyle Bouck (Westport, CT:
Greenwood Press, 1996), p. xi.
12. Vic Adams a Will Cavanagh, comentário pessoal, 26 de junho de 1987.
13. James Fort, relatório por escrito sobre as ações do pelotão, arquivo pessoal de Lyle Bouck.
14. Ibid.
15. Citado em www.chuckallan.com.
16. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
17. Ibid.
18. Citado em www.chuckallan.com.
19. Rusiecki, The Key to the Bulge, pp. 87-88.
20. Warren Springer, entrevista com o autor.
21. Peter Gacki, entrevista com o autor.
22. Ibid.
23. Vic Adams a Will Cavanagh, comentário pessoal, 26 de junho de 1987.
24. Stephen Ambrose, Citizen Soldiers (Nova York: Touchstone, 1997), p. 187.
25. James Fort, entrevista com o autor.
26. Dick Byers et al., Dauntless: History o f 99th Infantry Division (Dallas: Taylor Publishing,
1994), p. 68.
27. Leo Kessler, SS Peiper (Londres: Leo Cooper e Secker & Warburg, 1986), p. 73.
28. Ibid., p. 78.
29. Astor, A Blood-Dimmed Tidef p.98.
30. Entrevista de inteligência, por Kenneth Hechler, de Obst Jochen Peiper, 12 de julho
de 1949, p. 6.
31. Kessler, SS Peiper, p. 79.
32. Ibid., p. 80.
33. Entrevista de inteligência, por Kenneth Hechler, de Obst Jochen Peiper, 12 de julho
de 1949, p. 7. Arquivo pessoal de Lyle Bouck.
34. Ibid.
35. Knoxville News-Sentinel, 27 de setembro de 1981.
36. James Fort, entrevista com o autor.
37. Carlos Fernandez, relato por escrito das ações do pelotão, arquivo pessoal de Lyle Bouck.
38. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
39. Robert Lambert, relato por escrito das ações do pelotão, arquivo pessoal de Lyle Bouck.
310 O LONGO INVERNO
Capítulo 6
1. Charles Whiting, Death o fa Division (Nova York: Stein and Day, 1980), p. 35.
2. Michael Reynolds, The Devils Adjutant (Nova York: Sarpedon, 1995), p. 68.
3. Phoenix Gazette, 30 de setembro de 1981.
4. Robert Lambert, relato das ações do pelotão, arquivo pessoal de Lyle Bouck.
5. Ibid.
6. Gunther Holz, “Panzerjager 12 in the Battle ofthe Bulge”, Parte II, DerAlte Kameraden,
n.° 12,1972.
7. Saddleback Valley Newsx, 28 de outubro de 1981.
8. Whiting, Death o f a Division, p. 37.
9. Peter Gacki, entrevista com o autor.
10. Warren Springer, entrevista com o autor.
11. Stephen Rusiecki, The Key to the Bulge (Westport, CT: Greenwood Press), p. 83.
12 Ibid., p. 84.
13. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
14 Ibid.
15. Whiting, Death o f a Division, p.38.
16. Rusiecki, The Key to the Bulge, p. 84.
17. Carlos Fernandez, relato por escrito sobre as ações do pelotão, arquivo pessoal de Lyle
Bouck.
18. Ibid.
19. Robert Lambert, relato por escrito das atividades do pelotão, arquivo pessoal de Lyle
Bouck.
20. Ibid.
21. Robert Lambert, relato por escrito das ações do pelotão, arquivo pessoal de Lyle Bouck.
22. John Eisenhower, The Bitter Woods (Nova York: G. P. Putnam’s Sons, 1969), p. 229.
23. Rusiecki, The Key to the Bulge, p. 88.
24. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
25. William Slape a Lyle Bouck, comentário pessoal, 7 de setembro de 1966.
26. James Fort, entrevista com o autor.
27. Ibid.
28. Rusieki, The Key to the Bulge, p. 90.
29. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
30. Ibid.
31. Rusiecki, The Key to the Bulge, p. 90.
NOTAS 311
Capítulo 7
1. National Archives, arquivos do 394° Regimento, 99a Divisão.
2. Stephen Rusiecki, The Key to the Bulge (Westport, CT: Greenwood Press), p. 103.
3. Ibid.
4. Ibid.
5. John Eisenhower, The Bitter Woods (Nova York: G. P. Putnam’s Sons, 1969), p. 235.
6. Sam Jenkins, entrevista com o autor.
7. Charles B. MacDonald, A Time for Trumpets (Nova York: William Morrow, 1985),
p. 178.
8. Ibid.
9. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
10. Página 1, Arquivo de Recortes de Jornal, Departamento do Exército, enviado a mem
bros do pelotão em 30 de novembro de 1981.
11. William Slape a Lyle Bouck, comentário pessoal, 7 de setembro de 1966.
12. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
13. Ibid.
14. John Creger a Lyle Bouck, comentário pessoal, 11 de fevereiro de 1967.
15. Jim Fort a Lyle Bouck, comentário pessoal, 20 de novembro de 1966.
16. Ibid.
17. James Fort, entrevista com o autor.
18. Ibid.
19. Rusiecki, The Key to the Bulge, p. 104.
20. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
21. Birmingham News, 31 de dezembro de 1979.
22. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
23. Ibid.
24. Rusiecki, The Key to the Bulge, p. 104.
25. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
26. Warren Springer, memória fornecida ao autor, “Action at Lanzerath”, 26 de janeiro de
2003.
27. Risto Milosevich, entrevista com o autor.
28. Ibid.
29. Shreveport Times, 4 de novembro de 1981.
30. Risto Milosevich, entrevista com o autor.
31. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
32. Bill James, “And Now You Die”, memória inédita, arquivo pessoal de Lyle Bouck.
33. Ibid.
34. Ibid.
314 O LONGO INVERNO
35. Ibid.
36. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
37. Gerald Astor, A Blood-Dimmed Tide: The Battle ofthe Bulge by the Men Who Fought It
(Nova York: Donald I. Fine, 1992), p. 110.
38. Rusiecki, The Key to the Bulge, p. 21.
39. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
40. Ibid.
41. MacDonald, A Time for Trumpets, p. 179.
42. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
43. Warren Springer, entrevista com o autor.
44. Ibid.
45. Risto Milosevich, entrevista com o autor.
46. Warren Springer, entrevista com o autor.
47. John Creger a Lyle Bouck, comentário pessoal, 11 de fevereiro de 1967.
48. Astor, A Blood-Dimmed Tide, p. 110.
49. Lyle Bouck, relato narrativo das ações do pelotão, 17 de dezembro de 1979, arquivo
pessoal de Lyle Bouck.
50. Louis Kalil, entrevista com o autor.
51. Ibid.
52. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
53. Risto Milosevich, entrevista com o autor.
54. Nick Pappas, “Affairs of Honor", GreekAccent, março de 1981.
55. Tenente Edward Buegner, S-2, 394°, 99a Divisão, a Lyle Bouck, comentário pessoal, 5
de setembro de 1966.
56. Robert Lambert, relato por escrito das ações do pelotão, arquivo pessoal de Lyle Bouck.
57. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
58. Bill Slape a Lyle Bouck, comentário pessoal, 7 de setembro de 1966.
59. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
60. Ibid.
61. MacDonald, A Time for Trumpets, p. 193.
Capítulo 8
Capítulo 9
1. Tenente Edward Buegner a Lyle Bouck, comentário pessoal, 5 de setembro de 1966.
2. Leo Kessler, SS Peiper (Londres: Leo Cooper e Secker & Warburg, 1986), pp. 87-88.
3. Tenente Edward Buegner a Lyle Bouck, comentário pessoal, 5 de setembro de 1966.
4. Ibid.
5. Robert Lambert, relatório por escrito das ações do pelotão, arquivo pessoal de Lyle Bouck.
6. Saddleback Valley News, 28 de outubro de 1981.
316 O LONGO INVERNO
mais tarde, dados como mortos, mas a maioria prisioneiros de guerra); 51 oficiais e 864
soldados feridos em combate. Cerca de 600 oficiais e soldados passaram pelo posto de
recolhimento de feridos da divisão, antes de 20 de dezembro, como baixas ocorridas fora
de batalha; metade eram casos de frieira.” Dick Byers et al ., Dauntless: History o f 99th
ínfantry Division (Dallas: Taylor Publishing, 1994), pp. 174-75.
35. Robert Lambert, relato por escrito das ações do pelotão, arquivo pessoal de Lyle Bouck.
36. Soldado Vic Adams a Will Cavanagh, comentário pessoal, 26 de junho de 1987.
37. Tenente Edward Buegner, relato das ações do pelotão.
38. Major Kriz a Lyle Bouck, comentário pessoal, 14 de setembro de 1966.
39. MacDonald, A Time for Trumpets, p. 244.
40. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
41. Sam Jenkins, entrevista com o autor.
42. Ibid.
43. Ibid. Preston confirmou para o autor a versão de Jenkins.
44. Bill Slape a Lyle Bouck, comentário pessoal, 7 de setembro de 1966.
45. Stephen Ambrose, Citizen Soldiers (Nova York: Touchstone, 1997), p. 208.
46. Charles Whiting, Pattons Last Battle (Nova York: Jove Books, 1987), p. 7.
47. John Eisenhower, The Bitter Woods (Nova York: G. P. Putnams Sons, 1969), p. 368.
48. Astor, A Blood-Dimmed Tide, p. 233.
49. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
50. Paul Cavanaugh, American Priest in a Nazi Prison, manuscrito inédito, p. 25.
51. Warren Springer, entrevista com o autor.
52. Astor, A Blood-Dimmed Tidef p. 340.
53. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
54. Ibid.
55. Kurt Vonnegut, entrevista com o autor.
56. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
57. MacDonald, A Time for Trumpets, p. 459.
Capítulo 10
1. Gerald Astor, A Blood-Dimmed Tide: The Battle ofthe Bulge by the Men Who Fought It
(Nova York: Donald I. Fine, 1992), p. 344.
2. Paul Cavanaugh, American Priest in a Nazi Prison, manuscrito inédito, p. 28.
3. Peter Gacki ao autor, comentário pessoal, 4 de outubro de 2003.
4. Comando de Bombardeiros, Website do 60° aniversário, diário de bombardeios, 23 de
dezembro de 1944, www.raf.mod.uk/bombercommand/diary/dec44.htmL
5. Citado em Astor, A Blood-Dimmed Tide, pp. 343-44.
6. Ibid.
318 O LONGO INVERNO
7. Ibid.
8. Kurt Vonnegut, entrevista com o autor.
9. Warren Springer, entrevista com o autor.
10. Kurt Vonnegut, entrevista com o autor.
11. Vernon Leopold, relato por escrito das ações do pelotão, 6 de julho de 1979, arquivo
pessoal de Lyle Bouck.
12. Louis Kalil, entrevista com o autor.
13. Ibid.
14. W. G. Sebald, On the Natural History ofDestruction (Nova York: Random House, 2003),
pp. 3-4. O livro de Sebald é o primeiro a discutir em profundidade a amnésia que os
alemães, com poucas exceções, se impuseram enquanto lutavam para reconstruir sua
sociedade em ruínas.
15. Apenas 2.163 dos colegas britânicos de Robbie, de uma divisão de dez mil homens,
conseguiram escapar atravessando o Reno. Stephen Ambrose, Citizen Soldiers (Nova
York: Touchstone, 1997), p. 130.
16. Louis Kalil, entrevista com o autor.
17. Sebald, On the Natural History ofDestructiony p. 43.
18. Ibid., p. 21.
19. Louis Kalil, entrevista com o autor.
20. Bill James, “And Now We Die”, memória inédita, arquivo pessoal de Lyle Bouck.
21. Ibid.
22. Anna Tsakanikas, entrevista com o autor.
23. Kurt Vonnegut, Slaughterhouse Five (Nova York: Dell Publishing, 1988), p. 70.
24. Citado em Astor, A Blood-Dimmed lid e , p. 344.
25. Anexo ao XVIII Corpo (AB), G-2 Relato Pessoal n° 11, Observações de um Oficial Ame
ricano que Escapou da Ia Divisão Panzer “Adolf Hitler” das SS.
26. Depoimento de Hal McCown, 6 de janeiro de 1945, registros do julgamento de Malmedy.
27. Leo Kessler, SS Peiper (Londres: Leo Copper e Secker & Warburg, 1986), pp. 91-92.
28. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
29. Warren Springer, entrevista com o autor.
30. James Fort, entrevista com o autor.
31. Kay Summersby, Eisenhower Was My Boss (Nova York: Dell Publishing, 1948), p. 204.
32. Dwight Eisenhower, Crusade in Europe (Nova York: Doubleday, 1948), p. 359.
33. Summersby, Eisenhower Was My Boss, p. 204.
34. Otto Skorzeny, Skorzenfs Secret Missions (Nova York: Dutton, 1950), p. 249.
35. Louis Kalil, entrevista com o autor.
36. Ibid.
37. Peter Gacki ao autor, comentário pessoal, 4 de outubro de 2003.
38. Ibid.
NOTAS 319
Capítulo 11
1. Comando de Bombardeiros, Website do 60° aniversário, “January 1945 Campaign
Bombing”, www.raf.mod.uk/bombercommand/diary/jan45.htmi
2. James Fort, entrevista com o autor.
3. Peter Gracki ao autor, comentário pessoal, 4 de outubro de 2003.
4. Ibid.
5. Warren Springer, entrevista com o autor.
6. Ian Kershaw, Hií/er, 1936-1945; Nemesis (Nova York: Norton, 2000), p. 764.
7. Lyle Bouck, questionário de prisioneiros de guerra do Departamento de Guerra.
8. W. G. Sebald, On the Natural History ofDestruction (Nova York: Random House, 2003),
p. 28.
9. John Roland, Battle: The Storyh o f the Bulge (Nova York: Random House, 1959), p.
333.
10. Ibid., p. 334.
11. Memórias de Charles Roland, inédito, Eisenhower Center. "O clarão e o barulho das
bombas eram incessantes”, contou o capitão Roland, subcomandante de batalhão do
394° Regimento de Infantaria da 99a Divisão. "Para todos os lados que se olhasse, a pai
sagem era um inferno dantesco de cidades e aldeias em chamas. Todos estavam cientes
de que não havia mais retirada, fossem quais fossem os custos. Além disso, pude perce
ber, no comportamento dos soldados, em todos os níveis, que essa resolução estava gra
vada no coração de cada um. Uns poucos foram incapazes de resistir à pressão do
momento, urinando-se repetidamente, chorando, vomitando.” Ibid.
12. Stephen Ambrose, Citizen Soldiers (Nova York: Touchstone, 1997), p. 211.
13. Stephen Ambrose, Eisenhower: Soldier and President (Nova York: Simon and Schuster,
1990), pp. 180-81.
14. Charles B. MacDonald, A Time forTrumpets (Nova York: William Morrow, 1985),
p. 598.
15. Gerald Astor, A Blood-Dimmed Tide: The Battle o f the Bulge by the Men Who Fought It
(Nova York: Donald I. Fine, 1992), p. 385.
16. O número exato das baixas americanas foi de 80.987. Em 2 de janeiro de 1945, quando
a contra-ofensiva americana começou para valer, mais de quatro mil homens tinham
sido mortos e 17 mil capturados.
17. MacDonald, A Time for Trumpets, p. 618.
18. Ralph Ingersoll, Top Secret (Nova York: Harcourt Brace, 1946), p. 273.
19. South Bend Tribune, 4 de abril de 1979.
20. James Silvola, entrevista com o autor.
21. Ibid.
22. John Nichol e Tony Rennell, The Last Escape (Nova York: Viking, 2003), p. 142.
320 O LONGO INVERNO
Capítulo 12
1. Gerald Astor, A Blood-Dimmed Tide: The Battle ofthe Bulge by the Men Who Fought It
(Nova York: Donald I, Fine, 1992), p. 408.
2. Comando de Bombardeiros, Website do 60° aniversário, "February 1945 Campaign
Diary”, www.raf.mod.uk/bombercommand/diary/feb4SMtml. O bombardeio de Dresden
tomou-se, provavelmente, a ação mais controvertida dos Aliados na Europa. "Bombar
deiro" Arthur Harris, chefe do Comando de Bombardeiros da RAF, foi o único alto co
mandante militar britânico a não ser feito cavaleiro depois da guerra. Já em março de
1945, Churchill tentava distanciar-se da Operação Thunderclap, sentindo a precipita
ção política do bombardeio de terror, que ele também acreditava ter ido longe demais,
apesar, é claro, de ele mesmo ter dado a ordem. Alguns pilotos do reide abrigavam sen
timentos confusos. Mas o tenente-brigadeiro americano John Morris, da Oitava Força
Aérea americana, foi um dos muitos que não tinham remorso algum. "Não me envergo
nho de ter ido a Dresden aquele dia”, contou ele. "Era uma boa estratégia para impedir
que a Wehrmacht recuasse para se reagrupar e voltar a ser uma força letal. Por isso bom
bardeamos os pátios ferroviários de concentração de tropas e entroncamentos rodoviári
os ao longo da linha de retirada da Wehrmacht, acima e abaixo da fronteira oriental da
Alemanha. Não me alegro com a morte de 35 mil alemães naquela cidade. Duvido que
houvesse muitos judeus entre eles. Os cidadãos de bem de Dresden tinham mandado
todos os judeus para Auschwitz... E verdade que a RAF provocou deliberadamente uma
tempestade de fogo, que resultou em muitas baixas. Era uma tática que empregavam
com freqüência. Mas eles, e nós, mataram mais gente em outras cidades, em outros dias.
O mesmo fizeram os russos. O mesmo fizeram os japoneses. O mesmo fizeram os ale
mães. Dresden não foi um caso único.” Gerald Astor, The Mighty Eighth: The Air War
in Europe as Told by the Men Who Fought It (Nova York: Donald Fine Books, 1997),
p. 397.
Como prisioneiro de guerra, o soldado Kurt Vonnegut testemunhou, como é notório, o
bombardeio de Dresden, que era talvez a mais bela cidade da Europa central. "Era ape
nas uma imensa chama... Não restou nada orgânico depois do incêndio.” Kurt Vonnegut,
entrevista com o autor.
Vonnegut e outros prisioneiros americanos foram obrigados a transportar alguns cor
pos. O soldado Jim Mills, da Companhia I, 423° Regimento da 106a, trabalhou com
Vonnegut num grupo que removia cadáveres do porão de matadouros. Num cômodo
do porão, Mills viu uma mesa com garrafas de bebida ao lado de um monte de corpos
carbonizados. Um dos corpos estava particularmente desfigurado.
"O guarda apontou para o corpo, indicando que devia ser removido”, contou Mills. “Sina
lizou para que eu tirasse o cinto de outro corpo e o pusesse em volta do que eu deveria
remover. É surpreendente o quanto podemos nos comunicar apenas com os movimentos
322 O LONGO INVERNO
da mão. Passei o cinto no pescoço daquele homem e comecei a arrastá-lo para a rampa,
mas [o corpo] partiu-se ao meio. Aquilo foi demais para mim. Comecei a gritar, berrar
e andar de um lado para outro. Tentei sair, mas não deixaram. Acalmaram-me, indica
ram uma das garrafas na mesa e insistiram para que eu bebesse uns goles. Foi a primeira
vez que tomei bebida alcoólica." Gerald Astor, The Mighty Eighth: The Air War in Europe
as Told by the Men Who Fought It (Nova York: Donald Fine Books, 1997), p. 397.
3. Citado em John Nichol e Tony Rennell, The Last Escape (Nova York: Viking, 2003),
p. 356.
4. General Orders n° 163, Headquarters Third United States Army, 7 de julho de 1945.
5. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
6. Charles Whiting, 48 Hours to Hemmelburg (Nova York: Jove Books, 1984), pp. 30-33.
7. Richard Baron, Major Abe Baum e Richard Goldshurst, Raid! The Untold Story ofPattorís
Secret Mission (Nova York: G. P. Putnam’s Sons, 1981), pp. 96-97.
8. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
9. Ibid.
10. James Fort, entrevista com o autor.
11. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
12. Dick Byers et al.t Dauntless: History or 99th Infantry Division (Dallas: Taylor Publishing,
1994), p. 280. As bombas teriam seu maior impacto explosivo à altura da ponte, e não
no impacto contra a água.
13. General Orders n° 123, Headquarters Third United States Army, 31 de maio de 1945.
14. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
15. Risto Milosevich, entrevista com o autor.
16. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
17. James Fort, entrevista com o autor.
18. El Paso Times, 18 de setembro de 1981.
19. John Toland, The Last 100 Days (Nova York: Random House, 1966), p. 285.
20. Baron et al.9Raid!f pp. 6-7.
21. Toland, The Last 100 Days, p. 287.
22. Baron et a i, Raid!, p. 8.
23. Ex-Report 600, Oflag 13B Alemanha, Appendix E , Secret U.S. Military Report N° 617,
submetido em 17 de maio de 1945.
24. Baron et a i, Raid!, p. 12.
25. Karel Margryh, 'T h e Hammelburg Raid", AfterThe Battle n° 91.
26. Jay Drake, “Guest of the Third Reich", memória, registros de prisioneiros de guerra da
102a Divisão de Infantaria.
27. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
28. Risto Milosevich, entrevista com o autor.
NOTAS 323
Capítulo 13
1. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
2. Citado em Karel Margy, “The Hammelburg Raid”, After the Battle, N° 91.
3. Paul Cavanaugh, American Priest in a Nazi Prison, manuscrito inédito, p. 114.
4. História oral, John K. Waters, U.S, Army Military Institute, Carlisle Barracks, 19013-
5006, p. 279.
5. Ibid.
6. Ibid.
7. Cavanaugh, American Priest in a Nazi Prison, p. 115.
8. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
9. Ibid.
10. Sam Jenkins, entrevista com o autor.
11. Abe Baum, entrevista com o autor.
12. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
13. Abe Baum, entrevista com o autor.
14. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
15. Dick Byers et al., Dauntless History of99th Infantry Division (Dallas: Taylor Publishing,
1994), p. 359.
16. Abe Baum, entrevista com o autor.
17. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
18. Byers et a l , Dauntless, pp. 359-60.
19. Robert Thompson, entrevista com o autor.
20. William Nutto, entrevista com o autor.
21. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
22. Abe Baum, entrevista com o autor.
23. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
24. Tributo ao 10° Batalhão de Infantaria Blindada, Abe Baum, capitão, Comandante dos
Prisioneiros de Hammelburg, 13 de novembro de 1998, panfleto compilado por Robert
T. Thompson. Citado mediante permissão.
25. William Nutto, entrevista com o autor.
26. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
27. William Nutto, entrevista com o autor.
28. Ibid.
29. Ibid.
30. Baron, Baum e Goldhurst, Raid!, p. 193.
31. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
32. Cavanaugh, American Priest in a Nazi Prison, p. 119.
33. Peter Gacki, entrevista com o autor.
324 O LONGO INVERNO
Capítulo 14
1. Robert Kriz, entrevista com Will Cavanagh.
2. Bill James ao major Kriz, comentário pessoal, 30 de março de 1945.
3. Peter Gacki ao autor, comentário pessoal, 4 de outubro de 2003.
4. Ibid.
5. Paynesville Press, 27 de novembro de 2002.
6. Ibid.
7. Sam Jenkins, entrevista com o autor.
8. Ibid.
9. Ibid.
10. John Toland, The Last 100 Days (Nova York: Random House, 1966), p. 377.
NOTAS 325
Capítulo 15
1. John Parsons, The Best Seat in the Housey memória publicada por conta do autor,
Lafayette, Indiana, 1998.
2. Washington Postf 21 de outubro de 1981.
3. Joseph W. Lovoi, Listen My Children (Nova York: Vantage Press, 2000), p. 143.
4. Relato das condições em Fallingbostel baseado em entrevistas do autor com James Silvola
e Louis Kalil, e no livro de John Nichol e Tony Rennell, The Last Escape (Nova York:
Viking, 2003), pp. 310-16.
5. James Silvola, entrevista com o autor.
6. Louis Kalil, entrevista com o autor.
7. James Silvola, entrevista com o autor.
8. James Fort, entrevista com o autor.
9. Sam Jenkins, entrevista com o autor.
10. Nichol e Rennell, The Last Escape, p. 282.
11. James Fort, entrevista com o autor.
12. Senior Circuit (St. Louis), 15 de fevereiro de 1995.
13. Daily Independent (Grand Island, Neb.), 12 de novembro de 1979.
14. Senior Circuit (St. Louis), 15 de fevereiro de 1995.
15. Lyle Bouck, entrevista com o autor.
16. Lovoi, Listen My Children7 p. 160.
17. Victor F. Gammon, Not A11 Glory! True Accounts o f RAF Airmen Taken Prisoner in
Europe, 1939-45 (Londres: Arms & Armour, 1990). Citado em Nichol e Rennell, The
Last Escape, p. 284.
18. Lovoi, Listen My Children, p. 162.
19. Nichol e Rennell, The Last Escapef p. 284. Isso não aconteceria, é claro, e Patton sabia
que seria assim, porque já havia um acordo entre os Aliados para que os russos tomas
sem a capital.
326 O LONGO INVERNO
Capítulo 16
1. Leo Kessler, SS Peiper (Londres: Leo Cooper e Secker & Warburg, 1986), p. 108.
2. Charles Foley, Commando Extraordinary (Costa Mesa, CA: Noontide Press, 1988),
p. 159.
3. Kurt Vonnegut, entrevista com o autor.
4. Peter Gacki ao autor, comentário pessoal, 4 de outubro de 2003.
5. Sam Jenkins, entrevista com o autor.
6. John Cichol e Tony Rennell, The Last Escape (Nova York: Viking, 2003), p. 399.
7. Página 1, Arquivos de Recortes de Jornal, Departamento do Exército, enviado a mem
bros do pelotão em 30 de novembro de 1981.
NOTAS 327
Capítulo 17
1. Gerald Astor, A Blood-Dimmed Tide: The Battle ofThe Bulge by the Men Who Fought It
(Nova York: Donald I. Fine, 1992), p. 467.
2. Ibid., p. 469.
3. James Weingartner, Crossroads ofDeath (Berkeley: University of Califórnia Press, 1979),
p. 469.
4. Charles Whiting, Jochen Peiper (Londres: Leo Cooper, 1999), p. 39.
5. Ibid., p. 245.
6. Ibid., p. 254.
7. Astor, A Blood-Dimmed Tide, p. 484.
8. Página 1, Arquivo de Recortes de Jornal, Departamento do Exército, enviado a mem
bros do pelotão em 30 de novembro de 1981.
9. Charles Whiting, Skorzeny (Conshohocken, PA: Combined Publishing, 1998), p. 111.
Capítulo 18
1. Gerald Astor, A Blood-Dimmed Tide: The Battle ofthe Bulge by the Men Who Fought It
(Nova York: Donald I. Fine, 1992), p. 480.
2. Bill James a Lyle Bouck, comentário pessoal, 9 de dezembro de 1965.
3. Walter E. Lauer a Lyle Bouck, comentário pessoal, 24 de abril de 1964.
4. Nick Pappas, “Affairs of Honor”, GreekAccentt março de 1981.
5. Ibid.
6. Anna Tsakanikas, entrevista com o autor.
7. Ibid.
8. Pappas, “Affairs of Honor”.
9. General Orders 92, QG da 99a Divisão de Infantaria, APO 449, 31 de julho de 1945.
10. Astor, A Blood-Dimmed Tidet p. 481.
11. Anna Tsakanikas, entrevista com o autor.
12. Astor, A Blood-Dimmed Tide, p. 481.
328 O LONGO INVERNO
Todos os membros do pelotão que receberam medalhas individuais receberam também a Ci
tação Presidencial de Unidade. A Estrela de Prata de Lyle Bouck foi concedida em 1945 e
suplantada e substituída pela Cruz por Distinção em Serviço.
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Wistrich, Robert. Who s Who in Nazi Germany. Londres: Weidenfeld & Nicolson, 1982.
ÍNDICE
106a Divisão de Infantaria, 72, 78, 93; ônus Allen, Charles M. (primeiro-tenente), 67
da rendição para seus oficiais, 199n Amerikaner, estereótipo alemão do, 93
27° Regimento de Fuzileiros, 101-102 Anderson, Jack, 296, 298
28a Divisão, 78 Ardenas, 38,43; 16 de dezembro de 1944,91-
29a Divisão, 209 95; 19 de dezembro de 1944,159; janei
394° Pelotão de Inteligência e ro de 1945,186-189; 11 de novembro de
Reconhecimento (I & R), 24, 25n; área 1944, 57-60
de operação durante a Batalha do Bulge Ardennes, The (Cole), 288
(mapa), 73; critérios usados para a "Arma secreta de Hitler”, 86
seleção, 25, 32; diversidade cultural e Aschaffenburg, 25 de março de 1945,217-219
étnica do, 32; ausência de relatório Axmann, Artur (chefe da Juventude Hitle-
oficial sobre suas realizações, 265;‘
rista), 266
honrarias militares conferidas ao, 300-
303, 329n. 52; reunião no Estádio dos
Bad Orb, 179
Ianques em 1979,295-299; treinamento
Baixas na Batalha do Bulge, 188-189
na pista de obstáculos, 26-27
Baum, Abraham (capitão), 159, 159n, 218-
394° Regimento de Infantaria, 23
219, 224-227, 232-233, 233n, 235; con
3a Divisão Fallschimjaeger, 124
decorado com a Cruz de Altos Serviços,
4 a Divisão Blindada, 7 8 ,1 5 9 , 159n; número
244-245
de mortos da Força-Tarefa Baum, 235.
Beaminster, 48-49
820° Batalhão Antitanque, 81
Beck, Ludwig (general), 20-21
,99a Divisão, 23, 78, 93, 114, 162n; Cruzes
Bélgica, região de Eupen-Malmedy, 58
de Altos Serviços concedidos à, 265n;
Berlim, 205
primeira divisão de infantaria dos EUA
Berndt, Albert Louis (major), 199n, 200,213,
a atravessar, por inteiro, o rio Reno, 212;
registros de guerra da, 268, 316n. 34. 217, 222
Bradley, Omar (general), 7 9 ,97n, 208,21 ln Cavanaugh, Paul (capelão), 175-176, 194n,
Brandenberger, Erich (general), 79 200, 209, 210, 222, 223, 231, 240-241
Braun, Eva, 266 Cavender, Charles (coronel), 199, 199n
Brodel, Johann, 145 Chapin, Fred (cabo), 154
Buenger, Edward (primeiro-tenente), 95-96, Chemnitz, 205
1 1 4 ,1 2 7 ,1 3 9 ,1 4 0 ,1 5 0 -1 5 1 ,150n, 151n Churchill, Winston, 188, 3 2 ln. 2
Burke, Roy (pára-quedista), 181; pós-Segun- Cohen (tenente), 218
da Guerra, 276-277 Cole, Hugh M., 288
Byers, Dick (sargento), 49n “Commandos Piccadilly”, 4 9 , 49n
ÍNDICE 341
Como era verde o meu vale (Llewellyn), 181 Eisenhower, John, 290, 292
Comprimidos de sulfa, 102 Ellis, Burton (tenente-coronel), 280
Conferência de Yalta, 205 Ernst, Albert (tenente), 246
C onvenção de Genebra, 112, 142, 144, Excelsior, 39-41
245, 265
Creger, John B. (soldado), 41, 51, 76, 80, 98, Fansher, Clifford (soldado), 64, 76
100,101,102-104,117; condecorado com Fernandez, Carlos (soldado de primeira clas
a Estrela de Prata, 302; capturado pelos se), 2 8 -2 9 ,4 8 ,5 9 ,59n, 7 9 ,8 6 ,9 6 -9 7 ,1 1 4 ,
alemães, 126; libertação do campo de pri 139, 140, 146, 150, 151, 170, 263-264;
sioneiros de guerra, 260,263; telegrama à condecorado com a Estrela de Bronze,
família dando-o como desaparecido em 302; pós-Segunda Guerra Mundial, 296;
combate, 197; pós-Segunda Guerra, 297; competência em cartografia, 66; depoi
como prisioneiro de guerra, 156 mento perante o Congresso, 299
Crone, Joseph (soldado), 200 Floresta Hürtgen, 56
Força-Tarefa Baum, 221-235, 233n; classifi
Dachau, 68, 243, 279 cada como ultra-secreta, 245; número de
Danich, Radovan (coronel), 223n mortos da, 235
“Destemido”, 85 Força-Tarefa X, 94, 98
Deane, John (general-de-exército), 216 Fort, James (técnico de quarta classe), 3 1 ,5 0 ,
Desfiladeiro de Losheim, 45 5 1 ,5 9 ,6 6 ,7 4 ,8 0 ,8 3 ,8 5 -8 6 ,8 7 ,9 9 ,1 1 4 ,
Desnutrição, 190 117, 119-120; capturado pelos alemães,
Dever, Jacob L. (tenente-general), 208 120, 125; notificação à família da sua
Diefenthal, Josef (major), 147 condição de prisioneiro de guerra, 196;
Dietrich, Marlene, 80, 81 libertação de campos de prisioneiros de
Disenteria, 167, 190, 252n guerra, 224, 257-258, 263, 264; como
Ditrich, Sepp (general), 47, 69, 78, 92, 129, prisioneiro de guerra, 1 5 6 ,1 7 8 ,1 8 5 ,1 9 2 ,
271; pós-Segunda Guerra Mundial, 279, 210, 214, 234, 242, 256
280, 281 Franco, Francisco (general), 284
Dontiz (general), 206 Frederico, o Grande, 46, 78, 256-267
Drabnik, Alex (sargento), 21 ln Frente-Fantasma, 58, 72, 77, 93
Dresden, bombardeio de, 202-203,205,206, Frente ocidental, dezembro de 1944
321-322n. 2 (mapa), 52
Dueren, 3 de dezembro de 1944, 67-69 Freuhbeisser, Rudi (soldado de primeira clas
se), 1 0 8 ,1 1 1 ,1 3 9 ; pós-Segunda Guerra
Eddy, Manton (general-de-exército), 215 Mundial, 291, 292
Eisenhower, Dwight “Ike” (general/supremo Frieira, 55, 59, 60, 82, 268
comandante dos aliados), 4 5 ,6 4 ,76n, 79, Fromm, Friedrich (general), 3, 20-21
97n, 141n, 1 5 7 -1 5 8 ,1 7 9 ,1 8 7 ,1 8 8 ,211n Fuchs (coronel), 195, 222-223
342 O LONGO INVERNO
Hasselbach, Hanskarl von (médico), 19 James, Lucille “Peg”, 288-289, 296, 298
Hepatite, 190, 214, 257, 264-265, 268 Jenkins, Sam (cabo), 2 8 ,5 9 ,59n, 7 4 ,7 6 ,1 1 0 ,
117-118, 273, 302n; condecorado com
Hightower, John M. (coronel) 128
a Estrela de Bronze, 302; capturado pe
Himmler, Heinrich (chefe das SS), 17n,
los alemães 155-157; libertação de cam
68, 242
pos de prisioneiros de guerra, 224, 263,
Hitler, Adolf, 79, 129, 180, 206, 271, 285;
264; pós-Segunda Guerra Mundial, 296;
morte de, 266; plano da operação Watch
como prisioneiro de guerra, 182, 192,
am Rhein, 43-47; política de terra arrasa
210, 214, 234, 241-242, 256
da, 54-55,206; plano para assassiná-lo, 17-
Jeter, John R. (coronel), 212
2 1 ,17n; típica retórica de batalha de, 85 Jodl, Alfred (general), 43-44, 206
Hodges (general), 211 Junkerath, 19 de dezembro de 1944,155-157
Hoffmann, Helmut von (coronel), 129,
132-133 Kalil, Louis (soldado), 3 2 ,32n, 3 4 ,3 6 ,4 0 ,4 8 ,
Hoge, William (general), 215-216, 218 51, 65, 76, 93-94; condecorado com a
ÍNDICE 343
oneiros de guerra, 216; visita a campos Prisioneiros de guerra: aliados, 191n, 193; ale
de prisioneiros de guerra, 200 mães, 202n; identificação dos pavilhões
Paris, 25 de dezembro de 1944, 179-180 de prisioneiros de guerra para evitar
Parnham House, Inglaterra, 42; outubro de ataques aéreos, 192n; identificação de
1944, 47-51 trens de transporte de prisioneiros de
Patton, George S., Jr. (general), 157-158,159, guerra para evitar ataques aéreos, 160; lo
188, 208, 214-216, 218, 221, 233n, 235, calização dos campos de prisioneiros de
259-260; morte de, 324n. 50; "Sangue e guerra alemães (mapa), 166; ração de
Coragem", 158. Ver também Força-Tare 1.700 calorias diárias, 200
fa Baum Programa de Treinamento Especializado do
"Patton’s Mistake” (Saturday Evening Post), Exército (ASTP), 24n; tira do ombro, 26n
324n. 50
Peiper, Elke, 281 "Quarenta e oito”, 160
Peiper, Jochen (tenente-coronel), 67-69, 84- Queen, Billy S. (técnico de quinta classe), 82,
85, 115, 129, 131-134, 140-141, 147, 106; morte de, 113, 113n
153-155, 176-177, 271-272; con
decorado com as Cruzes de Ferro de RAMPs, 273
Primeira e Segunda Classes, 68; conde Reagan, Ronald, 300
corado com a Cruz do Cavaleiro da Cruz Redmond, George "Pappy” (sargento, 28, 30,
de Ferro com Folhas de Carvalho, 132; 48-49, 64, 76, 94, 110-111; condecora
como "Peiper Maçarico", 69; morte de, do com a Estrela de Bronze, 202; captu
293-295; pós-Segunda Guerra Mundial, rado pelos alemães, 122,126; libertação
279-283, 290-291 do campo de prisioneiros de guerra, 224;
Peiper, Sigurd, 294 como prisioneiro de guerra, 136, 156,
Perón, Eva, 284 198, 202
Perón, Juan (coronel), 284 Reid, Matthew (tenente), 36, 38; libertação do
Poetschke, Werner (major), 147 campo de prisioneiros de guerra, 225,226;
Ponte do Lienne, 154 como prisioneiro de guerra, 155,161,192,
Ponte Ludendorff, 14ln, 211, 21 ln 194, 198, 234, 243, 251-252; na Força-
"Por que o Soldado Tsakanikas Deveria Rece Tarefa Baum, 227-229, 232, 233, 238
bera Medalha de Honra” (Anderson), 296 Remagen, 10 de março de 1945, 211-212
Preston, Robert "Mop” (soldado de primeira Remer (major), 20
classe), 76, 110, 117-118; capturado pe Ribbentrop (general), 206
los alemães, 155-157; como prisioneiro Riley, Donald (coronel), 35, 55, 9 6 , 97,
de guerra, 192, 234 149, 152
Preuss (primeiro-tenente), 133 Rio Reno, 44, 212
Primeira Divisão Panzer (unidade "Cabeça Robbie (pára-quedista britânico), 181, 189,
de Morte”), 68 254, 256
346 O LONGO INVERNO
prisioneiro de guerra, 144, 156, 192 Springer, Warren (tenente), 81-82, 94-95,