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Amigo sem palavras

No alto de uma montanha havia um pequeno castelo e nele morava um senhor


idoso cujo nome era Rosalvo que vivia apenas na companhia de um bichano de
cor acinzentada. O bichano era um gato muito amável ao qual fora dado o nome
de linguinha, pois ele vivia a lamber a perna de Rosalvo durante a noite antes
que este caísse no sono. Senhor Rosalo se sentia muito só por não ter com
quem dialogar, então, para tentar aplacar um pouco essa tristeza, conversava
por longas horas com linguinha, mesmo não tendo uma recíproca, a não ser uns
poucos miaus que o meigo gatinho fazia olhando nos olhos de seu amado dono.

Apesar da solidão, Rosalvo se sentia amado por aquela inocente criatura que
mesmo sem qualquer tipo de glossa, conseguia falar com o olhar e transmitir um
pouco de alegria ao solitário idoso. Linguinha era um gato esperto, peralta e
carinhoso e não desgrudava de seu senhor por um instante sequer.

Certo dia, Linguinha foi acometido de uma doença e mesmo com todo cuidado
de Seu Rosalvo, o pobre bichano não resistiu e veio a morrer. Rosalvo, chorou
amargamente e fez um túmulo ao pé da porteira de seu castelo onde depositou
seu amigo de tantos anos. Os dias se passavam e Rosalvo se sentia cada vez
mais só e era abatido por tanta saudade daquele que toda noite lhe acariciava
com sua pequena língua.

Numa noite fria de outono, a lua estava cheia e embelezava o céu do pequeno
castelo. Rosalvo já estava deitado e quase pegando no sono quando de repente
ouviu lá no fundo um doce miado. Levantou-se apressadamente e foi até a janela
que dava frente para a porteira de entrada. Com os olhos meio embaçado
pensou que estava vendo coisa, mas não, era seu amado gatinho que viera
fazer-lhe uma rápida visita apenas para matar um pouquinho da saudade do seu
dono. Parece que linguinha ouvia lá de seu túmulo os tristes lamentos de
Rosalvo por ter perdido um amigo tão querido. Porém, após alguns poucos
miados para matar a saudade, linguinha desaparecia repentinamente.

Rosalvo foi deitar-se alegre por ter visto seu amigo, ainda que ameia distância,
mas foi o suficiente para alegrar seu coração. Assim, todas as vezes que Rosalvo
era tomado por profunda tristeza advinda da solidão que o abraçava, Linguinha
saía de seu túmulo, subia na porteira entoava cânticos de miados para alegrar
aquele que durante anos fora seu melhor amigo.

Senhor Rosalvo descobriu que o melhor amigo não é aquele que se expressa
com palavras, mas sim aquele que fala com o coração cujas palavras saem da
sinceridade de um olhar.

Erick Leite

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