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(semana nº 4)
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Boletim Criminal Comentado 170-
Fevereiro de 2022
Procurador-Geral de Justiça
Mário Luiz Sarrubbo
Assessores
Fernanda Narezi P. Rosa
Ricardo Silvares
Rogério Sanches Cunha
Valéria Scarance
Paulo de Palma (descentralizado)
Danilo Orlando Pugliesi (descentralizado)
Analistas Jurídicos
Ana Karenina
Victor Gabriel Tosetto
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SUMÁRIO
AVISO....................................................................................................................................................4
DIREITO PENAL....................................................................................................................................11
2- Tema: Excesso de exação. Art. 316, § 1º, do Código Penal. Comprovada dificuldade exegética da
legislação de custas e emolumentos. Conduta resultante de equívoco na interpretação da norma
tributária. Ausência de comprovação do elemento subjetivo. Atipicidade..........................................12
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AVISOS
1- Sobre tramitação direta dos inquéritos policiais e TCOs entre a Delegacia de Polícia e o MP
Considerando as fases de implantação da tramitação direta dos inquéritos policiais e TCOs entre a
Delegacia de Polícia e o MP, cumpre destacar que desde a primeira fase (implantada em 10 de
novembro de 2021 em algumas Promotorias de Justiça), o CAOCRIM e o CTIC vêm contando com o
apoio da equipe de servidores da Barra Funda, para sanar dúvidas dos colegas, em conjunto com
servidores do TJSP. O fluxo vem sendo cumprido sem problemas.
Os servidores das Promotorias de Justiça que participam da segunda fase de implantação, iniciada
em 1º. de fevereiro de 2022, receberam por e-mail um material de apoio atualizado, o qual pode ser
acessado pelo link https://bit.ly/3oA3Mm3. Confiram.
Reforçamos que o CAOCRIM se coloca à disposição para sanar eventuais dúvidas, que ainda podem
ser registradas no CAO ATENDE
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ESTUDOS DO CAOCRIM
ENUNCIADO 1
O crime de violência psicológica não está restrito aos âmbitos da Lei Maria da Penha e compreende
condutas no âmbito comunitário ou em instituições públicas e privadas, tais como violência
institucional, violência obstétrica, no âmbito do trabalho, em comunidades religiosas.
ENUNCIADO 2
A prática de revitimização por parte de autoridade pública que importe em dano emocional pode
configurar crime de violência psicológica.
ENUNCIADO 3
Para os crimes que estão fora do âmbito da Lei Maria da Penha, em tese compatíveis com os
benefícios da Lei 9.099/95, deve-se atentar para a proteção da mulher, estabelecendo-se medidas
que garantam sua segurança.
ENUNCIADO 4
O dano emocional equivale ao sofrimento causado para a vítima (tristeza, crises de choro, angústia,
insônia, pesadelos, medo de iniciar relacionamentos) e prescinde da realização de laudo pericial, que
somente é necessário para o crime de lesão corporal à saúde por dano psíquico (transtorno mental).
ENUNCIADO 5
O crime se consuma com o dano emocional, que pode ser demonstrado pelo depoimento da vítima,
depoimentos de testemunhas, relatórios de atendimento e quaisquer elementos que comprovem o
impacto da conduta para o pleno desenvolvimento, controle das ações, autodeterminação e saúde
da vítima.
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ENUNCIADO 6
ENUNCIADO 7
O crime de violência psicológica é habitual impróprio, podendo ser praticado mediante uma ou
sucessivas condutas, não desnaturando, no caso de reiteração, e desde que presente o mesmo
contexto fático, a unidade do crime, devendo a pluralidade de comportamentos ser considerada na
fixação da pena-base.
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DESTAQUE:
A modificação de competência promovida pela Lei n. 14.155/2021 tem aplicação imediata, contudo,
por se cuidar de competência em razão do lugar, de natureza relativa, incide a regra da perpetuatio
jurisdicionis, quando já oferecida a denúncia.
Nos termos do art. 70 do Código de Processo Penal, "a competência será, de regra, determinada pelo
lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o
último ato de execução".
O delito de estelionato, tipificado no art. 171, caput, do Código Penal, se consuma no lugar onde
aconteceu o efetivo prejuízo à vítima.
Por essa razão, a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no caso específico de estelionato
praticado por meio de depósito em dinheiro ou transferência de valores, firmara a compreensão de
que a competência seria do Juízo onde se auferiu a vantagem ilícita em prejuízo da vítima, ou seja, o
local onde se situava a conta que recebeu os valores depositados.
Já nos casos de estelionato praticado por meio de cheque adulterado ou falsificado, o efetivo prejuízo
se dá no local do saque da cártula, ou seja, onde o lesado mantém a conta bancária.
Entretanto, a Lei n. 14.155/2021, incluiu o § 4º ao art. 70 do Código de Processo Penal, com a seguinte
redação:"§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente
provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência
de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade
de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção."
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consolidada por esta Corte Superior, devendo ser reconhecida a competência do Juízo do domicílio
da vítima.
A lei processual penal tem aplicação imediata. Contudo, por se cuidar de competência em razão do
lugar, de natureza relativa, incide a regra da perpetuatio jurisdicionis, quando já oferecida a denúncia,
nos termos do art. 43 do atual Código de Processo Civil, aplicável por força do art. 3º do Código de
Processo Penal.
Processo: CC 181.726-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
08/09/2021, DJe 17/09/2021.
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM
Dadas as diversas circunstâncias em que o estelionato pode ser cometido, não raro surgem dúvidas
a respeito do juízo competente para julgamento, pois nem sempre quem sofre o prejuízo e quem
obtém a vantagem se encontram no mesmo local e, em tais situações, pode haver certa dificuldade
para estabelecer com precisão onde o estelionatário realmente alcançou o proveito de seu ardil.
O Superior Tribunal de Justiça julga incontáveis casos dessa natureza. Em seus julgamentos, a
Terceira Seção do Tribunal sempre diferenciou as situações em que a fraude é cometida por meio de
saque ou compensação de cheque das situações em que a vítima efetua depósito ou transferência
de valores para uma conta corrente designada pelo estelionatário:
“[...] 2. Nos termos do art. 70 do CPP, a competência será de regra determinada pelo lugar em
que se consumou a infração e o estelionato, crime tipificado no art. 171 do CP, consuma-se no
local e momento em que é auferida a vantagem ilícita. De se lembrar que o prejuízo alheio,
apesar de fazer parte do tipo penal, está relacionado à consequência do crime de estelionato
e não à conduta propriamente. De fato, o núcleo do tipo penal é obter vantagem ilícita, razão
pela qual a consumação se dá no momento em que os valores entram na esfera de
disponibilidade do autor do crime, o que somente ocorre quando o dinheiro ingressa
efetivamente em sua conta corrente. 3. Há que se diferenciar a situação em que o estelionato
ocorre por meio do saque (ou compensação) de cheque clonado, adulterado ou falsificado, da
hipótese em que a própria vítima, iludida por um ardil, voluntariamente, efetua depósitos e/ou
transferências de valores para a conta corrente de estelionatário.
Quando se está diante de estelionato cometido por meio de cheques adulterados ou
falsificados, a obtenção da vantagem ilícita ocorre no momento em que o cheque é sacado,
pois é nesse momento que o dinheiro sai efetivamente da disponibilidade da entidade
financeira sacada para, em seguida, entrar na esfera de disposição do estelionatário. Em tais
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casos, entende-se que o local da obtenção da vantagem ilícita é aquele em que se situa a
agência bancária onde foi sacado o cheque adulterado, seja dizer, onde a vítima possui conta
bancária.
Já na situação em que a vítima, induzida em erro, se dispõe a efetuar depósitos em dinheiro
e/ou transferências bancárias para a conta de terceiro (estelionatário), a obtenção da
vantagem ilícita por certo ocorre quando o estelionatário efetivamente se apossa do dinheiro,
seja dizer, no momento em que ele é depositado em sua conta. Precedentes: CC 169.053/DF,
Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/12/2019, DJe
19/12/2019; CC 161.881/CE, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
13/03/2019, DJe 25/03/2019; CC 162.076/RJ, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 13/03/2019, DJe 25/03/2019; CC 114.685/RS, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/04/2014, DJe 22/04/2014; CC 101.900/RS,
Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/08/2010, DJe 06/09/2010; CC
96.109/RJ, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/08/2009,
DJe 23/09/2009. 4. Tendo a vítima efetuado transferências bancárias para contas de pessoas
físicas cujas agências bancárias localizam-se todas no Município de Guarulhos/SP, é de se
reconhecer que a competência para condução do inquérito policial é do Juízo de Direito da 4ª
Vara criminal de Guarulhos/SP, o suscitado” (AgRg no CC 171.632/SC, j. 10/06/2020).
A Lei 14.155/21 inseriu no art. 70 do CPP o § 4º para dispor o seguinte:
“Nos crimes previstos no art. 171 do Código Penal, quando praticados mediante depósito,
mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com
o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida
pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-
se-á pela prevenção”.
A partir da nova Lei 14.155, portanto, grande parte da controvérsia envolvendo a competência do
estelionato plurilocal está resolvida: o crime cometido mediante depósito, emissão de cheques sem
suficiente provisão de fundos ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores
deve ser julgado segundo o domicílio da vítima.
Nota-se que a solução trazida pela nova Lei diverge um tanto da orientação firmada pelo STJ. Para o
tribunal, como vimos, o estelionato em que a vítima efetua depósito ou transferência bancária deve
ser julgado no local em que se localiza a agência na qual o criminoso recebe o dinheiro. Mas o § 4º
do art. 70 determina que, também nesse caso, a competência deve ser determinada pelo domicílio
da vítima.
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Nos casos de pagamento por cheque, as decisões do STJ fazem referência ao local em que situada a
agência bancária na qual a vítima mantém sua conta corrente. Embora, na grande maioria dos casos,
a vítima mantenha a conta bancária no mesmo lugar de seu domicílio, é possível que isso não ocorra.
Pela regra do § 4º do art. 70, importa o domicílio da vítima, não o local em que se situa a instituição
financeira.
É provável que o legislador tenha concebido a regra pensando também nas contas bancárias digitais,
operadas por instituições financeiras que têm apenas uma agência – a sede, a qual na maioria das
vezes está muito distante do local em que o crime é cometido.
O novo parágrafo acaba tornando sem eficácia as súmulas 244 STJ e 521 STF.
Por fim, debate que já nota no dia a dia (e antevisto pelo CAOCRIM no boletim 141, onde comentou
a nova Lei) consiste em averiguar a competência para as ações penais que se encontrem em
andamento. É dizer: em curso um processo envolvendo estelionato por meio de cheque sem fundos,
iniciado antes da vigência da Lei 14.155, deve ele prosseguir perante o juízo de origem, do local da
conta bancária, ou, ao revés, cumpre sua imediata remessa ao juízo do domicílio da vítima (quando
diversos)? Entendemos que deve ser mantido no juízo de origem. Impõe-se a chamada perpetuatio
juridicionis, pela qual a competência se firma, definitivamente, quando do registro ou distribuição da
ação, não mais podendo ser modificada, segundo o art. 43 do Código de Processo Civil (com aplicação
ao processo penal nos termos do art. 3º do CPP).
O perpetuatio jurisdicionis traz uma ressalva, que ocorre quando as mudanças “alterarem a
competência absoluta”. Ora, na hipótese vertente, a competência é territorial, relativa (e não
absoluta), e, como tal, não se enquadra na exceção prevista no art. 43 do CPC.
Em suma: a retroatividade da norma do §4º, do art. 70 do CPP, deve ser observada se o crime ainda
está na fase de investigação. Existindo processo, deve ser notado o instituto da “perpetuatio
iurisdictionis”, necessário para a estabilidade da competência de foro. Uma vez determinada e fixada
esta, quaisquer modificações de fato ou de direito supervenientes são irrelevantes em sua
estabilidade.
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DIREITO PENAL:
DESTAQUE:
De início, convém analisar a Lei n. 14.132, de 31 de março de 2021, a qual acrescentou o art. 147-A
ao Código Penal, para prever o crime de perseguição, conhecido como stalking, e revogou o art. 65
da Lei das Contravenções Penais.
Segundo o art. 147-A do Código Penal, constitui crime "perseguir alguém, reiteradamente e por
qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de
locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade". A pena é de reclusão de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
Como já dito, a par de criar um novo tipo penal, a Lei n. 14.132/2021 revogou expressamente o artigo
65 da Lei das Contravenções Penais, cuja redação era a seguinte: "Artigo 65 - Molestar alguém ou
perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável: Pena - prisão simples, de quinze
dias a dois meses, ou multa".
De fato, a parte final do art. 147-A do Código Penal prevê a conduta de perseguir alguém,
reiteradamente, por qualquer meio e "de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de
liberdade ou privacidade", circunstância que, a toda evidência, já estava contida na ação de "molestar
alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável", quando cometida de
forma reiterada, porquanto a tutela da liberdade também abrange a tranquilidade.
No caso, está consignado que o acusado, mesmo depois de processado e condenado em primeira
instância pelo mesmo crime (art. 65 da LCP), cometido contra a mesma vítima, voltou a tentar
contato ao lhe enviar três e-mails e um presente.
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Assim, considerando que o comportamento é reiterado - ação que, no momento atual, está contida
no art. 147-A do Código Penal, em razão do princípio da continuidade normativo-típica -, de rigor, no
caso, a incidência da lei anterior mais benéfica (art. 65 do Decreto Lei n. 3.688/1941).
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM
2- Tema: Excesso de exação. Art. 316, § 1º, do Código Penal. Comprovada dificuldade exegética da
legislação de custas e emolumentos. Conduta resultante de equívoco na interpretação da norma
tributária. Ausência de comprovação do elemento subjetivo. Atipicidade.
DESTAQUE:
A mera interpretação equivocada da norma tributária não configura o crime de excesso de exação.
O tipo do art. 316, § 1º, do Código Penal, pune o excesso na cobrança pontual de tributos (exação),
seja por não ser devido o tributo, ou por valor acima do correto, ou, ainda, por meio vexatório ou
gravoso, ou sem autorização legal. Ademais, o elemento subjetivo do crime é o dolo, consistente na
vontade do agente de exigir tributo ou contribuição que sabe ou deveria saber indevido, ou, ainda,
de empregar meio vexatório ou gravoso na cobrança de tributo ou contribuição devidos.
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Nesse palmilhar, a relevância típica da conduta prevista no art. 316, § 1º, do Código Penal depende
da constatação de que o agente atuou com consciência e vontade de exigir tributo acerca do qual
tinha ou deveria ter ciência de ser indevido. Deve o titular da ação penal pública, portanto,
demonstrar que o sujeito ativo moveu-se para exigir o pagamento do tributo que sabia ou deveria
saber indevido. Na dúvida, o dolo não pode ser presumido, pois isso significaria atribuir
responsabilidade penal objetiva ao registrador que interprete equivocadamente a legislação
tributária.
Ademais, frisa-se que os elementos probatórios delineados pela Corte de origem evidenciam que,
embora o réu possa ter cobrado de forma errônea os emolumentos, o fez por mero erro de
interpretação da legislação tributária no tocante ao método de cálculo do tributo, e não como
resultado de conduta criminosa. Temerária, portanto, a sua condenação à pena de 4 anos de reclusão
e à gravosa perda do cargo público.
Outrossim, oportuno relembrar que, no RHC n. 44.492/SC, interposto nesta Corte, a defesa
pretendeu o trancamento desta ação ainda em sua fase inicial. A em. Ministra Laurita Vaz, relatora
do feito, abraçou a tese defensiva assentando que "não basta a ocorrência de eventual cobrança
indevida de emolumentos, no caso, em valores maiores do que os presumidamente devidos, para a
configuração do crime de excesso de exação previsto no § 1.º do art. 316 do Código Penal, o que
pode ocorrer, por exemplo, por mera interpretação equivocada da norma de regência ou pela
ausência desta, a ensejar diferentes entendimentos ou mesmo sérias dúvidas de como deve ser
cobrado tal ou qual serviço cartorial. É mister que haja o vínculo subjetivo (dolo) animando a conduta
do agente."
E arrematou que "a iniciativa de acionar o aparato Estatal para persecução criminal de titular de
cartório, para punir suposta má-cobrança de emolumentos, em um contexto em que se constatam
fundadas dúvidas, e ainda sem a indicação clara do dolo do agente, se apresenta, concessa venia,
absolutamente desproporcional e desarrazoada, infligindo inaceitável constrangimento ilegal ao
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acusado." (RHC n. 44.492/SC, relatora Ministra LAURITA VAZ, relator para acórdão Ministro MOURA
RIBEIRO, QUINTA TURMA, julgado em 21/8/2014, DJe 19/11/2014).
A em. relatora ficou vencida, decidindo a Turma, por maioria, pelo prosseguimento da ação penal em
desfile, desfecho esse que desconsiderou que, em observância ao princípio da intervenção mínima,
o Direito Penal deve manter-se subsidiário e fragmentário, e somente deve ser aplicado quando
estritamente necessário ao combate a comportamentos indesejados.
Portanto, não havendo previsão para a punição do crime em tela na modalidade culposa e não
demonstrado o dolo do agente de exigir tributo que sabia ou deveria saber indevido, é inviável a
perfeita subsunção da conduta ao delito previsto no § 1º do art. 316 do Código Penal.
Processo: REsp 1.943.262-SC, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, por unanimidade,
julgado em 05/10/2021.
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM
No crime de excesso de exação (art. 316, §1º., CP), pune-se -se o funcionário que se exceder na
cobrança de tributo ou contribuição social, seja porque cobra, demandando imperiosamente o que
não é devido, ou, mesmo que devido, utiliza-se de meio vergonhoso (vexatório) ou que traz ao
contribuinte maiores ônus.
Percebam que o Estado, mesmo enriquecido com o crime, repudia, com veemência, as
arbitrariedades do seu servidor.
Parcela da doutrina ensina que o delito, em sua primeira parte, pune também a modalidade culposa,
conforme se extrai da expressão “deveria saber indevido”.
Tal entendimento, contudo, é contestado pela maioria, para quem o legislador, ao empregar a
referida expressão, buscou punir a conduta dolosa, porém do tipo eventual, desconsiderando a
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forma culposa. Guilherme de Souza Nucci ensina que o elemento subjetivo do tipo “é o dolo, nas
modalidades direta (‘que sabe’) e indireta (‘que deveria saber’).
O mesmo raciocínio é encontrado na lição de Antonio Pagliaro e Paulo José da Costa Jr., para quem
“o elemento subjetivo do crime é representado por um dolo genérico reforçado.
Utilizando uma técnica legislativa reservada a poucos crimes, o art. 316, § 1º, exige, além dos normais
requisitos do dolo com relação aos elementos de fato, o ‘saber’ que a exação é indevida.
Logo, o agente deverá ter ciência plena de que se trata de imposto, taxa ou emolumento não
devido”3.
O entendimento presente na decisão em comento não é inédito. De acordo com o STJ, se há dúvida
interpretativa a respeito da legislação tributária que fundamenta a cobrança, afasta-se o crime, que
só se tipifica se o agente tem consciência de que atua em excesso.
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Autos n.º 1506733.68.2021.8.26.0228 – MM. Juízo da 2.ª Vara Criminal da Comarca de Jaú
Réus: VINÍCIUS GABRIEL SILVA CANOSSA e DIOGO RODRIGUES PEREIRA QUINTILIANO
Assunto: revisão de recusa ministerial em aditar a denúncia – manutenção.
Cuida-se de ação penal movida pelo Ministério Público em face de VINÍCIUS GABRIEL SILVA
CANOSSA e DIOGO RODRIGO PEREIRA QUINTILIANO, imputando-lhes o crime previsto no art. 157, §
3º, inciso II (latrocínio), c.c. o art. 61, II, j, do Código Penal.
Narra a peça acusatória que no dia 17 de março de 2021, na Rua César Sancinete, na cidade
e comarca de Jaú, os acusados VINÍCIUS e DIOGO, em concurso de agentes, subtraíram, para si,
mediante emprego de violência exercida com facas, contra a vítima Ricardo Luís Nicola, uma televisão
de 32 polegadas, um telefone celular da marca Samsung, dois pares de tênis (marca Mizuno), uma
bermuda jeans, e o veículo Honda/Civic, preto, placas EQUOG21, bens esses apreendidos (fls. 21/23),
e avaliados em R$ 115.530,00 (cento e quinze mil quinhentos e trinta reais); da violência empregada,
resultou a morte da vítima, conforme laudo necroscópico (fls. 161/165).
Apurou-se dos autos que VINÍCIUS era conhecido da vítima, pois já havia frequentado a casa
de Ricardo, havendo, ainda, evidências, de que eles mantinham ou tivessem mantido algum tipo de
relacionamento mais estreito. Na data dos fatos, pretendendo subtrair bens e valores lá existentes,
VINÍCIUS dirigiu-se até a casa de Ricardo, junto com o seu comparsa DIOGO. Na casa do ofendido,
permaneceram por algumas horas; consumiram bebidas alcoólicas e comidas, havendo,
aparentemente, uma confraternização. Em determinado momento, passaram então a agredir a
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vítima com a intenção de matá-la para subtrair seus bens. Desferiram golpes com uma faca; foram
desferidas, pelo menos, 33 (trinta e três) facadas. Consumada a morte, os agentes se apoderaram
dos objetos, inserindo-os no veículo da vítima, e evadiram-se do local, em direção à cidade de São
Paulo.
Acionada a polícia militar, já na cidade de São Paulo, o veículo roubado foi notado pelo Radar,
trafegando pela Avenida Marques de São Vicente; na abordagem policial, VINÍCIUS conduzia o carro
e vestia uma bermuda e um par de tênis de propriedade da vítima; DIOGO, por sua vez, era o
passageiro do carro e usava um par de tênis do ofendido. No interior do carro, foram encontrados os
demais objetos, como o telefone celular, uma carteira e 20 (vinte) cartões bancários (cf. denúncia de
fls. 1/4).
Os acusados foram presos em flagrante na cidade de São Paulo, mas, como se tratava de
crime de latrocínio consumado na comarca de Jaú, requereu-se a remessa dos autos à comarca de
Jaú, nos termos do art. 70 do CPP (fls. 134/135).
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de polícia Homero Paulo Pires Lacorte Júnior apresenta imagens dos pedágios em que se observa o
carro de propriedade da vítima sendo conduzido, bem como fotos da prisão dos acusados, já na
cidade de São Paulo (fls. 179/202).
Bem observa a autoridade policial que a versão do acusado VINÍCIUS era fantasiosa, uma vez
que, segundo o proprietário da mencionada choperia, as atividades do comércio se encerraram no
dia 16/03/2021, às 14 horas, em razão da pandemia, de modo que a choperia estava fechada no
período noturno. Ademais, o registro de imagens do carro demonstra que o automóvel da vítima saiu
da residência dela às duas horas e 16 minutos do dia 17/03/2021, e se deslocou diretamente para a
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cidade de São Paulo. Obtempera o delegado de polícia que todas as alegações de VINÍCIUS em seu
interrogatório foram refutadas pelas investigações.
Diogo em seu interrogatório apenas disse não ter conhecimento que o veículo era roubado.
Laudo de local (laudo necroscópico), encartado com fotos, descreve os pacotes de papel de
lanchonete; gotejamento sucessivo dinâmico de sangue, na cama, armário, parede e chão. Na sala,
substância hematoide por empoçamento. A hipótese mais provável da dinâmica do crime é a de que
a vítima tenha recebido os primeiros golpes com instrumento pérfuro-cortante no interior do quarto,
seguiu pelo corredor do imóvel, em direção à sala e caiu sobre o chão (fls. 140/164).
Foram cadastrados no banco de dados de perfil genético, colhidos no dia da prisão de DIOGO
e VINÍCIUS; no IML, de Jaú, foram retirados, novamente, os materiais genéticos dos indiciados, a fim
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de que fossem confrontados com os materiais colhidos no corpo da vítima (fragmentos de pele e
exame das unhas) (fls. 291/293).
Em nova oitiva, VINÍCIUS, em sede policial, ante a exposição das diversas contradições de seu
interrogatório anterior, acabou assumindo a autoria do crime sozinho, descartando a participação de
DIOGO, o qual teria encontrado apenas em São Paulo. VINÍCIUS então admite um relacionamento
com a vítima e que, no dia dos fatos, se desentenderam. Ricardo o teria agredido, após o
desentendimento movido por ciúme; admite ter desferido diversos golpes de faca em Ricardo,
descartando a participação de DIOGO na morte. Segundo a autoridade policial, VINÍCIUS conhecia a
vítima há mais de cinco anos, colaborando com as investigações, inclusive participando
espontaneamente da reprodução simulada dos fatos, revelando, em detalhes, como teria agredido
a vítima com diversas facadas. Quanto ao investigado DIOGO, este negou a prática do crime, e que
vive em um albergue em São Paulo. Disse que não tinha conhecimento dos fatos ocorridos
anteriormente, e que indagou VINÍCIUS a respeito, e ele lhe disse que o veículo era produto de roubo,
e que teria matado a vítima, após ter entrado na casa dela, essa ter reagido ao assalto.
Reprodução simulada dos fatos, com fotos, encartada a fls. 330/407, em que o próprio
indiciado VINÍCIUS participa.
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Resposta à acusação em nome da Defesa de DIOGO a fls. 420/427, em que se faz detalhada
análise das provas do processo, pugnando-se pela concessão de liberdade provisória.
O exame tendo por objeto a análise genética dos resíduos orgânicos no local do crime
apontou para a existência, nas amostras de goma de mascar, mordida, pelo e subungueal coincidente
com o perfil genético da vítima Ricardo Luis Nicolas; no copo II foi obtido o perfil genético de VINÍCIUS
(fls. 533/541).
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ter agido em legítima defesa, e que toda a prova oral e pericial aponta que, no momento do crime,
estavam apenas VINÍCIUS e Ricardo no local dos fatos. Para o Douto Promotor criminal, a aventada
intenção de matar para roubar ou de matar roubando estaria completamente isolada, uma vez que
as graves agressões surgiram em razão de desentendimentos motivados por questões afetas ao
próprio relacionamento, não se constatando o animus furandi. Salienta, ainda, que a participação de
DIOGO não estaria minimamente confirmada, uma vez que teria se encontrado com VINÍCIUS apenas
em São Paulo. Refere que, ainda que os bens da vítima tenham sido levados por VINÍCIUS, não se
vislumbraria que o seu dolo fosse o de se assenhorear da propriedade alheia, à custa da morte da
vítima, de modo que o animus furandi, que deveria ser preexistente ao início dos atos executórios
do crime, não estaria caracterizado. Conclui, então, o ínclito Promotor, requerendo a remessa dos
autos ao 3º Promotor de Justiça de Jaú, com atribuição para atuar nos crimes dolosos contra a vida,
para aditamento da peça inicial, ou para que suscitasse o conflito de atribuição (fls. 575/577).
A pedido do Ministério Público, foi revogada a prisão do acusado DIOGO (fls. 578).
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esperança de ser injustamente absolvido pelo Tribunal do Júri. Como não existe, sob a ótima do
Douto Promotor atuante no Júri, prova inconteste de outro motivo para se matar a vítima, que não
o interesse patrimonial, não haveria motivo para se readequar a tipicidade dos fatos, até mesmo
porque o próprio réu VINÍCIUS se declara heterossexual. Em razão desse raciocínio, o Insigne
Promotor de Justiça deixou de apresentar alegações finais, deixando de aditar a denúncia, uma vez
que todas as autoridades que atuaram no decorrer da persecução penal concluíram, em uníssono,
que o crime a ser atribuído ao agente era o do latrocínio consumado (art. 121, § 3º, do CP). Requereu,
então, o retorno dos autos ao 3º Promotor de Justiça.
O fulcro da questão ora debatida é se deve ser imputada aos acusados VINÍCIUS e DIOGO,
em concurso de agentes, a prática do delito de homicídio qualificado, em concurso material com o
delito de furto, que teria sido cometido posteriormente ao crime doloso contra a vida; ou, se a
melhor adequação típica não seria a que perdurou até esse momento adiantado da marcha
processual, que é o da imputação da prática de latrocínio consumado.
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juntos, sozinhos na casa do ofendido; em razão dessa discussão, houve troca de agressões físicas, e
VINÍCIUS- segundo a sua versão- agindo em legítima defesa, matou a vítima. Segundo o nobre 1º
Promotor de Justiça, depois desse crime de homicídio, que poderia ser considerado então como
passional, VINÍCIUS deliberou furtar os objetos de propriedade do ofendido Ricardo, colocando-os
no carro da vítima, dirigindo-se para São Paulo. Segundo seu raciocínio, os agentes, especialmente
VINÍCIUS (uma vez que o Douto Promotor de Justiça não vislumbrou responsabilidade penal quanto
ao acusado DIOGO), deveria responder pela prática de homicídio qualificado, em conexão com o
delito de furto, ambos de competência do Tribunal do Júri; para tanto, seria necessário, contudo,
aditamento prévio para capitular-se o crime como sendo doloso contra a vida, com todas as
circunstâncias atinentes à essa configuração típica.
Evidente que o ânimo inicial do agente VINÍCIUS é insondável e imperscrutável, de modo que
não há como se auscultar seu espírito para se apurar sua real intenção quando entrou na casa do
ofendido Ricardo (e de onde o ofendido nunca mais saiu com vida).
Mas há elementos concretos, objetivamente auferíveis, que apontam que, com a devida
vênia ao Douto 1º Promotor de Justiça, que a intenção, o dolo, do acusado VINÍCIUS era, desde o
início, o de matar para roubar os valiosos bens da vítima.
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conhecer seu expressivo valor, justamente por já se ter privado da intimidade do lar daquele que não
esperava ser atraiçoado.
Essa rapidez, organização e dinamismo das subtrações, escolhendo os bens mais valiosos da
casa da vítima, sua colocação no carro, a longa viagem até São Paulo, o contato com quem apontaria
o desmanche que pagasse melhor pelas peças do carro roubado, tudo está a demonstrar que a
intenção prévia de VINÍCIUS era- desde o início- a de matar para roubar; não se tratou de um furto
improvisado e desajeitado após um homicídio passional, como quer fazer crer o acusado, mas de
crime complexo contra o patrimônio e contra a vida, premeditado, fria e cruelmente, calculado e
executado.
Ademais, os fatos objetivos como a apreensão, já em São Paulo, de todos os bens da vítima,
inclusive o tênis e o carro de sua propriedade, não deixam margem à dúvida; de idêntica forma, o
próprio corréu DIOGO, quando ouvido em sede policial, disse que indagou VINÍCIUS a respeito do
ocorrido, e ele lhe disse que o veículo era produto de roubo, e que teria matado a vítima, após ter
entrado na casa dela, essa ter reagido ao assalto.
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Em nova oitiva, VINÍCIUS, em sede policial, ante a exposição das diversas contradições de seu
interrogatório anterior, e, sobretudo, com o conhecimento de que suas impressões datiloscópicas
foram identificadas na casa da vítima, nos copos e plástico da embalagem da refeição da lanchonete
(fls. 314/322), percebeu que não havia mais como manter a versão absolutamente inverossímil
anterior; como era impossível negar a sua presença na casa da vítima na noite do crime, ante a
irrefutável perícia datiloscópica, resolveu então assumir a autoria, dizendo que teria matado a vítima,
em legítima defesa, porque teria sido agredido por ela.
Sendo comprovadamente falsa a primeira versão de VINÍCIUS, resta analisar se essa segunda
narrativa, que, por sinal não é inédita e que já estava nos autos desde a fase do inquérito policial,
guarda alguma verossimilhança ou não. Pela reprodução simulada dos fatos, VINÍCIUS sustenta que
teria havido uma luta corporal entre ele e Ricardo, no entanto, alguns dados objetivos devem ser
considerados, dentre eles, o de que a vítima não apresentava nenhuma lesão de defesa.
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Ora, como não há qualquer lesão de defesa da vítima, como bem ressaltado no
laudo necroscópico de fls. 165/169, está demonstrado que a nova versão de VINÍCIUS de que teria
4
Dicionário de Medicina Legal, 2ª edição. Revista e Ampliada. Manif e Elias. São Paulo: IBRASA. 1991. Página
276
5
Manual de Medicina Legal, Um Vade Mecum da Especialidade, Volume 2, página 303.
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havido uma discussão, agressão, seguida de homicídio é, mais uma vez, mendaz, uma vez que
desacreditada pela perícia.
Com base em- mais uma- versão fantasiosa do acusado VINÍCIUS, não existe fundamento
para o aditamento da peça acusatória, a uma, porque essa narrativa não é inédita- e está nos autos
desde a fase do inquérito policial, não havendo se falar, assim, em mutatio libelli; a duas, porque, se
o Ministério Público dependesse exclusivamente da narrativa do acusado, no exercício de sua ampla
defesa em sede de interrogatório, para exercer o seu mister, mesmo que ao arrepio de toda a prova
testemunhal e pericial que a contraria, a acusação, que é pública, se transformaria em um
instrumento de vocalização dos interesses particulares do acusado em detrimento do interesse social
que só se contenta com a busca da verdade dos fatos.
E, sem dúvida, in casu, a verdade real melhor se adequa à prática do crime de latrocínio, e
não de homicídio seguido de furto; essa última classificação jurídica só foi aventada, pelo próprio
acusado, quando notou que a sua negativa restou totalmente isolada nos autos, desmentida pelas
impressões datiloscópicas e pelo exame de DNA; restava construir então, ante esse calhamaço de
provas técnicas irrefutáveis, outra versão, de crime passional, ou de legítima defesa, contando-
inadvertidamente- com eventual indevida benevolência do Tribunal do Júri, que poderia absolvê-lo,
mesmo que negando as provas dos autos.
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Para tanto, para que não haja menoscabo ao princípio da independência funcional, designa-
se outro Membro Ministerial para prosseguir na ação penal, facultada a observação do disposto no
art. 4-A da Resolução n.º 302 (PGJ/CSMP/CGMP), de 07 de janeiro de 2003, com redação dada pela
Resolução n.º 488 (PGJ/CSMP/CGMP), de 27 de outubro de 2006.
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