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A IMPORTÂNCIA DA INSERÇÃO DO NUTRICIONISTA NA UNIDADE

BÁSICA DE SAÚDE: PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE


THE IMPORTANCE OF NUTRITIONIST'S INCLUSION IN BASIC UNIT
HEALTH: PERCEPTION OF HEALTH PROFESSIONALS

Helder Cardoso Tavares, Patrícia Alencar Pereira, Jeanderson Soares Parente, José
Lucas Souza Ramos, Amanda de Andrade Marques, Maryldes Lucena Bezerra de
Oliveira, Italla Maria Pinheiro Bezerra

Revista e-ciência

Volume 4

Número 1

Artigo 11

V.4, N.1, OUT. 2016


ARTIGO DE ORIGINAL rev. e-ciênc. v.4, n.1, 2016, p.89-98

A IMPORTÂNCIA DA INSERÇÃO DO NUTRICIONISTA NA UNIDADE BÁSICA DE


SAÚDE: PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
THE IMPORTANCE OF NUTRITIONIST'S INCLUSION IN BASIC UNIT HEALTH:
PERCEPTION OF HEALTH PROFESSIONALS
Helder Cardoso Tavares1, Patrícia Alencar Pereira¹, Jeanderson Soares Parente2, José Lucas Souza Ramos¹,
Amanda de Andrade Marques3, Maryldes Lucena Bezerra de Oliveira4, Italla Maria Pinheiro Bezerra5

DOI: http://dx.doi.org/10.19095/rec.v4i1.154
RESUMO
O nutricionista é um profissional importante na realização de ações de promoção, tratamento e reabilitação da saúde. No entan to,
sua contribuição na Atenção Básica é limitada. O presente estudo objetivou compreender a atuação dos nutricionistas nas equipes
de saúde sob a perspectiva dos profissionais da Atenção Primária. Estudo descritivo de abordag em q ua litativ a r e aliz ad o c o m
técnicos em enfermagem, enfermeiros e agentes comunitários de saúde. O instrumento utilizado foi um roteiro semiestruturado e
para a análise dos dados, utilizou-se a técnica segundo o agrupamento de estratégias para a análise do conteúdo de acor do c om
Bardin, a partir da qual foram formados os discursos-sínteses. O referente estudo tem como base as instruções da Resoluçã o nº
466/12, do C onselho Nacional de Saúde. Foram entrevistados 15 (quinze) profissionais, tod os p e rte nce nte s a o m unicíp io d e
Juazeiro do Norte-CE. Com relação ao gênero, houve predominância do sexo feminino, correspondendo a 93,3% (n = 14) d o s
participantes entrevistados. Os resultados mostraram que os profissionais que atuam na UBS acham-se preparados para orienta r
quanto à nutrição, embora não se sintam capacitados para isso, mas também relataram sobre o q ua nto é im po rta nte te r um
nutricionista inserido na UBS para orientar os usuários especificamente sobre alimentação e atribuíram a ausência do nutricionista
na UBS a problemas de gestão política. Como foi visto os profissionais da saúde se sentem um ta nto c a pa ze s p a r a a b or da r a
nutrição, mas não com a mesma habilidade que o nutricionista tem, pois seus conhecimentos são limita do s, c o nsta ta nd o um a
falta de informação quanto ao papel do nutricionista.
Palavras-chave: Atenção básica. Nutricionista. Saúde pública. Promoção da saúde.

ABSTRACT
The dietitian is an important professional in carrying out promotion, treatment and rehabilitation. However, his c o ntr ibutio n in
Primary is limited. This study aimed to understand the role of nutritionists in the health teams from the perspective of
professionals Primary. Descriptive qualitative study carried out with the nursing technicians, nurses and community health
workers. The instrument used was a semi-structured and the data analysis, we used the technique a c c or ding to the g r o up ing
strategies for content analysis according to Bardin, from which the speech-synthesis were formed. The referent study is based o n
the instructions of Resolution No. 466/12 of the National Health Council. We interviewed 15 (fifteen) professionals, all b e lo ng ing
to the municipality of Juazeiro do Norte-CE. Regarding gender, there was a predominance of females, corresponding to 93.3% (n
= 14) of those surveyed participants. The results showed that the professionals working in the UBS find themselves pr ep ar ed t o
advise on nutrition, though not feel able to do so, but also reported on how important it is to have an inserted nutritionist at UB S
to guide users specifically about food and They attributed the absence of the nutritionist at UBS political management p r o b le ms.
As seen health professionals feel somewhat able to address nutrition, but not with the same skill that the nutritionist has, because
knowledge is limited, noting a lack of information about the role of the nutritionist.
Keywords: Primary care. Nutritionist. Public health. Health promotion.

1 Graduandos da Faculdade de Juazeiro do Norte - FJN


2 Graduado em Enfermagem, Faculdade de Juazeiro do Norte - FJN
3 Mestre em Nutrição - UFPB
4 Mestre em Ciências da Saúde - FMABC
5 Doutora em Ciências da Saúde – FMABC

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INTRODUÇÃO adequada orientando as pessoas a evitar a in g e st ão


inapropriada de alimentos, com elevado consumo d e
Em 1990, implementou-se o Sistema Único de produtos menos saudáveis ou a carência de
Saúde (SUS) com o propósito de mudar a alimentos causa a insegurança alimentar, que no
desigualdade social na saúde da população brasileira, Brasil está ligada ao acesso privativo, que é o dire it o
objetivando modificar o modelo medicalocêntrico com de cada indivíduo (MATTOS; NEVES, 2009).
o intuito de recompor a atividade da atenção à saúde Sendo assim, problematizar a inclusão do
para outro modelo de incorporação interdisciplinar nutricionista na atenção primaria à saúde vai além de
(CERVATO-MANCUSO et al., 2012). uma questão de valorização profissional, e sim de
As condutas de alimentação e nutrição no preservar o direito das pessoas que são us uária s d o
ambiente da Atenção Básica almejam o crescimento SUS a uma atenção integral, tal como um método
da qualidade dos métodos que interfiram as doen ças para promover e prevenir as complicações da saúde a
e agravos não transmissíveis, no crescimento e partir de uma política governamental produzida de
desenvolvimento na infância, na gestação e no forma legal com uma extensa participação da
período de amamentação, comprovando que a sociedade (NEIS et al., 2012).
promoção de práticas alimentares saudáveis comp õ e Os serviços de saúde do Brasil podem
um item essencial em todas as fases da vid a . De s s a continuar não apenas disponíveis, mas ca p a z d e t e r
forma, socializando o conhecimento sobre os as demandas e oferta-las de modo total e co mp le t o
alimentos e tornando ações que articulam a as ações para promover à saúde e dar uma melhor
segurança alimentar e nutricional que é vital à qualidade de vida as pessoas que as utilizam. De s s a
população (BRASIL, 2008). forma, trata-se sobre a questão e observação da
Contudo, mesmo sendo a formação do precisão em refletir o formato do retrato recente d a s
nutricionista voltada para atuação no SUS, seria equipes de Saúde da Família, articulando a colocação
coeso que os mesmos estivessem totalmente de profissionais capacitados e em quantidade
alocados nele, o que, de fato, não acontece. A acertada para o gerenciamento e a efetivação das
participação do nutricionista é mais regular nos práticas de nutrição e alimentação, causando
hospitais, porém na Rede Básica de Saúde o adaptações nos serviços oferecidos, proporcionando a
profissional de nutrição ainda é ausente (BRASIL, cobertura da ampliação e o melhoramento das
2004; PÁDUA; BOOG, 2006). práticas de nutrição e alimentação desenvolvid a s n a
A frequente transição epidemiológica, ABS (PIMENTEL et al., 2014).
nutricional e demográfica e as maldades sociais Diante do exposto questiona -se: Como os
podem levar a uma posição de insegurança alimentar profissionais da saúde percebem a importância de
e nutricional que são decisivas no estado de saúde da inserir o nutricionista na UBS? Como está sendo a
população brasileira que requerem ressalto na interação dos nutricionistas nestas equipes?
argumentação da importância do nutricionista no Frente ao exposto, entendendo da importância
âmbito da ABS (GOMES; MARTINS, 2013). de ter o nutricionista na composição da equipe
A insegurança alimentar pode levar ao interdisciplinar nas unidades básicas d e s a úd e p a ra
sobrepeso, obesidade, desnutrição e doenças um integral cuidado com a saúde dos indivíduos,
crônicas, dessa forma é vital um modelo de atenção à tem-se como hipótese deste estudo: Os nutricionistas
saúde no eixo do Sistema Único de Saúde (SUS), que são profissionais importantes para promoção da
relacione essas características para intervir de fo rma

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saúde da população sob a percepção da equipe de alfabeto de A a T, e foi iniciado após a assinatu ra d o
saúde. Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE)
A realização desta pesquisa é resultado de pelos sujeitos da pesquisa. A coleta de dados foi
relatos sobre a dificuldade da equipe interdiscip lin a r efetuada através de entrevistas semiestruturada,
em realizar avaliação nutricional e prescrição constituídas por seis perguntas abertas para os
dietética em indivíduos, e sobre a necessidade da profissionais. Estas foram gravadas e tran scrit a s d e
comunidade com relação à nutrição vista no forma íntegra. A análise foi efetuada a partir da
cotidiano, revelando, assim, a importância do metodologia qualitativa, com a aplicação de
profissional nutricionista na composição desta equipe. informações estudadas segundo o a g ru pa men t o d e
Portanto, a pesquisa sobre a inclusão do estratégias para a análise do conteúdo de Bardin
nutricionista na UBS tem sua relevância , pois pode (2009), que permitiu encontrar categorias.
dar visibilidade à importância do papel dos
nutricionistas e sua contribuição como educador, RESULTADOS E DISCUSSÃO
favorecendo na reorientação de práticas de saúde
voltadas para aspectos nutricionais e, por vez, no Os resultados obtidos foram organizados em
repensar da organização dos serviços inserindo os duas partes: o perfil socioeconômico dos suje it o s d a
profissionais nutricionistas como essencial nestas pesquisa. A segunda parte dos resultados foi
equipes. O objetivo dessa pesquisa foi compreender a composta por uma entrevista semi-estruturada, onde
atuação dos nutricionistas nas equipes de saú de s o b foram transcritas os depoimentos dos sujeitos da
a perspectiva dos profissionais da Atenção Primária. pesquisa.
Foram entrevistados 15 (quinze) profissionais ,
MÉTODOS três enfermeiros, três técnicos de enfermagem e
nove agentes comunitário de saúde, todos
A pesquisa é de abordagem qualitativa, que pertencentes ao município de Juazeiro do No rt e -C E .
possibilita uma análise crítica e interpretativa a partir Com relação ao gênero, houve predominância do
das percepções dos profissionais e us u ário s d o SUS sexo feminino, correspondendo a 93,3% (n = 14) dos
sobre a importância da inserção do nutricionista na participantes entrevistados, informações que também
Unidade Básica de Saúde. Os sujeitos que foram encontradas em alguns estudos que tiveram
participaram dessa pesquisa são quinze profissio n ais uma tendência à feminilização entre os profis sion ais
sendo três enfermeiros, três técnicos em da saúde (GIL, 2005; OTENIO, 2008; PIMENTEL et
enfermagem e nove agentes comunitários d e s aú de al., 2014). Em relação à idade, 60% (n = 9) dos
que fazem parte de quatro Unidades Básicas de profissionais entrevistados encontram-se na faixa-
Saúde da cidade de Juazeiro do Norte/CE, no período etária entre 26-39 anos, e 40% (n = 6) estão entre
de maio de 2016. Com relação aos aspectos éticos e as faixas de idade de 40-53 anos. Quanto a o t e mp o
em conformidade com a Resolução nº 466/12, do de serviço, dentre os profissionais que resp on dera m
Conselho Nacional de Saúde, a pesquisa foi aprovada 53,3% (n = 8), está entre 05 a 09 anos, e 46 ,6 % (n
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de = 7) tem de 10-24 anos, valor este que mostra o
Juazeiro do Norte e autorizada pela Secretaria de número de profissionais que já estão trabalhando h á
Saúde do Município de Juazeiro do Norte (SESAU). mais de 20 anos, o que permite visualizar uma
Para garantir o anonimato e a confidencialidade, o entrada considerável de profissionais no serviço de
nome dos sujeitos da pesquisa foi alterado para o saúde, promovendo a renovação de profiss ion ais . A

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renda dos entrevistados foi de um salário mínimo a sem abordar a alimentação porque, por
três ou mais salários mínimos. exemplo, quando eu vou atender um
diabético ou um hipertenso não adianta só ir
1. Categorização das falas dos sujeitos pra ele e ah tome medicamento e tchau não
num tem isso a gente fala de todas as
1.1. Categoria 1 – Orientação alimentar: o papel do s vertentes da hipertensão e da diabetes e que
profissionais. a alimentação é uma das principais, então a
orientação básica inicial a gente tem que dá
Em várias UBS e UBSF o nutricionista ainda né, e tem que tá buscando cada vez mais se
não tem espaço garantido, desse modo os atualizando, porque eu vejo que faz parte de
profissionais de saúde normalmente realizam a todos os profissionais dá orientação
função de coadjuvar, tomando como papel que não nutricional”. (Enfermeiro C)
lhe compete (SANTOS, 2005). Já o nutricionista por
ser o único profissional capacitado através de “Acredito que sim, boa parte nós tivemos
formação acadêmica e que por meio de treinamento e enfatizava justamente é... Essa
conhecimentos específicos da área da nutrição ele vai parte de alimentação, mas mais para o idoso,
conceder segundo diagnósticos e reflexão de voltada para a pessoa adulta, crianças nós
princípios socioculturais de cada cliente, oferecer as tivemos crianças de zero até menores de
devidas prescrições nutricionais adaptando-as para as dois, mas o restante não”. (ACS E)
condições de cada família, se tornando um
profissional fundamental para o modelo de atenção a Dessa forma, percebe-se que alguns
saúde no Brasil (ASSIS et al., 2002). profissionais se sentem capazes de realizar
No entanto, conforme depoimentos abaixo orientações nutricionais visando de forma bem
existem profissionais que atuam na UBS que falam superficial e limitada que se caracterizam apenas e m
ser capacitados para desempenhar orientação de recomendações gerais, sem de fato contemplar ações
competência do nutricionista, como ilustram os de um nutricionista.
depoimentos abaixo. O nutricionista detém conhecimentos
adequados para melhorar o desenho epidemiológico e
“Sim, não tão quanto o profissional nutricional da população. A ausência do nutricion is ta
nutricionista, mas sim com certeza”. dá oportunidade para que outros profissionais se
(Enfermeiro A) apropriem de modo superficial de seus
conhecimentos acerca da alimentação e nutrição,
“Sim, porque de acordo com os embora saibam que não apresentam formação
conhecimentos que eu tenho, com os cursos especifica (MATTOS; NEVES, 2009).
que eu fiz, e se é só de alimentação, porque De acordo com um estudo efetuado por
pelo pouco que eu aprendi eu posso passar, Campos e Boog (2006), com relação às enfermeiras
apesar de não ter feito nutrição”. (Tec. em foi certificado a complexidade em trabalhar com os
enfermagem A) dilemas sociais da alimentação. As profissionais
concederam isso à formação deficiente e
“[...] na atenção básica dentro dos programas especificamente técnica do ensino da nutriçã o o q u e
não tem como a gente fazer uma consulta impossibilitava o tratamento de temas sociais.

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Para Silva e colaboradores (2002), que total desequilíbrio, uns morrem por desnutrição e
procuraram percepções de 481 profissionais da saúde outros por excesso de peso. Com a falta de
a respeito de alimentação saudável, conclu íra m q u e conhecimentos técnicos a respeito da alimentação
os sujeitos dessa pesquisa abordados, relatara m s e r torna-se bem complicado, praticamente impossível o
um tema muito difundido pela mídia e que se regresso desse estado, pois é preciso uma ação
percebiam insuficientes com relação aos eficiente de nutricionistas para poder promover a
conhecimentos em nutrição. saúde através da alimentação (GEUS, 2011).
A educação em saúde é uma das competências Porém, apesar de ser essencial a pre s e nça d e
atribuídas aos profissionais que compõem o PSF. um profissional nutricionista na UBS, pois é o local
Cabe aos profissionais debaterem sobre o tema em que se caracteriza pela grande existência da
saúde em suas consultas a partir de orientações população carente e que necessita de atenção na
adequadas, compondo dessa forma grupos alimentação que por sua vez estar diretamente ligada
educativos sobre patologias específicas, pertencen do a problemas fisiopatológicos, a presença desse
ao nutricionista à concessão de informações para profissional ainda é escassa. Pode -se observar a
uma boa alimentação prevenindo doenças. (ALVES; partir dos depoimentos dos profissionais da UBS q u e
NUNES, 2006 apud MATTOS, 2009). é necessário a sua inserção do nutricionista para
É claro que os outros profissionais da saúde garantir a qualidade de vida das pessoas.
não possuem formação específica para intervir na
área de alimentação e nutrição nas comun id ad es s e “Enorme. Grande, eu acho que já deveria ter
não o nutricionista e que a sua participação só viria a esse profissional há muito tempo, porque por
colaborar para promover a saúde da população. Uma mais que você faça palestras, explique pro
vez que o nutricionista está absolutamente paciente e tudo, nada como um profissional
capacitado para intervir na ESF e sua inexistência da área capacitado pra dá... Tirar as dúvidas
confronta-se com o princípio da integralidade do SUS mais minuciosas, então é importantíssimo,
(GEUS, 2011). não sei por que ainda não incluiu, mas que é
Dessa forma, ressaltam-se outras funções para importante é. Não só pra unidade de saúde,
compartilhar com os profissionais da equipe, sendo mas pra outras unidades que precisam”.
capaz o nutricionista em assumir as atribuições de (Enfermeiro A)
profissional-referência para desenvolver os trabalhos,
se responsabilizando em orientar a forma mais “Toda, toda importância do mundo e assim eu
adequada, determinando protocolos de atend ime n to sou uma das que falando de uma coisa bem
nutricional, de referência e contra referência, sob pessoal, eu sou uma das que mais luta
condição de preservar as suas competências quando é pra formar o plano municipal de
(JUNQUEIRA; COTTA, 2014). saúde, desde o início da formação do NASF a
minha luta como profissional de saúde era
1.2 Categoria 2 – Importância do nutricionista na que incluísse o nutricionista no NASF [...] a
UBS. gente sabe que a alimentação ela poder ser
também o seu remédio como pode ser
Sobre a importância da existência do também o seu veneno né, então assim se a
nutricionista da ESF, é ressaltada quando o estado gente tivesse um profissional nutricionista
nutricional da população brasileira se encontra em disponível capacitado né ali pra tá é indo

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além das orientações nutricionais que a gente Brasil. A sua participação e composição na saúde
dá porque a gente dá o básico [...]”. básica são determinadas em sua formação acadêmica
(Enfermeiro C) o torna apto a executar diagnósticos nutricionais d a s
pessoas, passando a ser o único profissional a
“Na minha opinião é importante porque fica adquirir um conhecimento especifico permitindo
mais fácil o acesso a população”. (Tec. em recomendar as apropriadas orientações dietéticas,
enfermagem C) segundo o diagnóstico e da percepção dos valores
socioculturais, adaptando a vida das famílias
“Ah tamanha, é necessário mesmo, porque (MATTOS; NEVES, 2009).
nem todo mundo tem condições financeiras Segundo Cervato-Mancuso (2012), um e s t u d o
pra ir até o nutricionista, e tem a questão das realizado no município de São Paulo, a inclusão do
dificuldades pra marcar exames, pra nutricionista colabora na atenção a saúde da
conseguir uma vaga pro profissional e ter um comunidade a partir de atividades que promovem e
na unidade é o básico é o ideal seria se toda assistem a eles, e que em certo ponto, está sendo
unidade tivesse um nutricionista”. (ACS F) feita. Isso é referente aos serviços municipais, o q u e
se torna uma vantagem, na medida em que se
De acordo com os discursos dos sujeitos pode - mostra uma postura proativa diante as atuais
se notar que eles percebem a importância de t e r u m exigências de um modelo de atenção completo.
profissional nutricionista inserido nas UBS, p a ra q u e Nas políticas públicas de caráter
possa ajudar a auxiliar a comunidade no t o ca nt e d a interdisciplinar precisa ser anexada à questão da
alimentação, uma vez que os mesmos podem aju d a r alimentação e nutrição, concedendo a comunicação
na orientação de práticas alimentar saudáveis que entre as diversas áreas quebrando a separação
previnam e tratam de condições crônicas não econômica versus social (YASBEK, 2004). Em um
transmissíveis, pois são capacitados para essa função estudo feito por Santos (2005), foi observa do q u e o
e também devido ao poder aquisitivo das pessoas profissional de nutrição ainda é notado como um
que muitas vezes não podem arcar com uma consulta profissional direcionado a atender a classe elit iz ada ,
particular com o nutricionista dificultando dessa evidenciando nitidamente a divergência entre as
forma o contato com a população carente. classes sociais no Brasil. Dessa forma a sua inclu s ã o
Para mostrar a importância que o nutricionis ta na UBS é fundamental para apoio da comunidade
tem em compor os recursos humanos na ABS alg u n s carente que não pode realizar consultas particulares.
estudos têm sido feitos (PÁDUA, 2006). É indiscutível Pimentel et al. (2014), relataram que a
que a importância de incluir outros profissionais de atenção básica a saúde, a partir da estratégia de
saúde, inclusive o nutricionista, na APS e no NASF saúde da família, é um local apropriado para a
possa assistir a demanda. No entanto, sendo uma realização de ações alimentares e nutricionais com
iniciativa nova, a expectativa é que com o grandes repercussões nas famílias assistidas. Um
crescimento na implantação das atividades sobre exemplo disso é a contenção da desnutrição primária
alimentação e nutrição seja assim fortalecida a part ir e da insuficiência de micronutrientes tendo como
da estabilização da atenção primaria no Brasil exemplo a anemia e hipovitaminose A.
(JAIME, 2011).
O nutricionista é um profissional habilitado 1.3 Categoria 3 – Motivos da não inserção do
para validar o modelo de atendimento a saúde no nutricionista

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a falta do nutricionista na UBS e como consequ ên cia


Acrescentar o nutricionista na estratégia de isso traz o aparecimento de várias condições crônicas
saúde da família é uma forma de garantir as pessoas relacionadas à má alimentação, pois a população não
serviços essenciais para propiciar uma alimentação tem instrução científica para praticar uma dieta
saudável, podendo assim obter a prevenção de saudável. A inclusão desse profissional no SUS vai
doenças, promoção e recuperação da saúde. além de realização profissional, mas da atenção pa ra
Portanto, a ESF é visivelmente um ambiente de com a comunidade menos favorecida.
atuação para o nutricionista (CARVALHO, 2005). Segundo Santos (2005), de acordo com a visão
Entretanto, a partir das falas dos sujeitos, a dos profissionais da saúde a falta ou a reduzida
participação do nutricionista na UBS é falha, o que participação do nutricionista no PSF está relacion ad a
foge ao princípio da integralidade que rege o SUS ao desejo político dos gestores públicos que por
prejudicando a saúde da população. Alguns dos enquanto não se comoveram com a relevância do
profissionais relatam serem apenas problemas papel deste profissional. A melhora do retrato
políticos. epidemiológico das pessoas está associada às a t u ais
abordagens alimentares, levando a redução dos
“Eu acho que é só questão de gastos em gastos com saúde pelo estado, sugerindo a vital
relação à folha de pagamento né... Do órgão. precisão de aumentar o fornecimento da assis t ência
Creio eu que seja apenas isso, não sei se é”. na alimentação e nutrição a população.
(Enfermeiro A) Para os municípios a inclusão dos nutricionistas
na atenção básica se torna um desafio, pois se t ra ta
“Acho que é porque o prefeito acha que não é do aumento no número de profissionais, mas
importante, porque se achasse incluía na segundo os princípios do Sistema Único de Saúde a
equipe multidisciplinar como o psicólogo, participação do nutricionista está absolutamente
fisioterapeuta, mas o prefeito não acha justificada dentro do modelo de atendimento
importante”. (Tec. em enfermagem A) multiprofissional da estratégia de saúde da fa mília e
na política nacional de segurança alimentar e
“[...] acho que é mais problema de gestão e nutricional (NEIS et al., 2012).
de política é o único motivo que eu vejo, Conforme Pádua e Boog (2006), a questão
acredito também que agora com a faculdade histórica, estrutural na política de saúde são as
formando vários nutricionistas na região e responsáveis pela falta do nutricionista na RBS.
tudo vocês possam ter uma força maior e Dessa forma essa ausência não deve ser ju s t ifica d a
cobrar [...]”. (Enfermeiro C) como um erro de competências do profissional
exposto na legislação que normatiza a profissão,
“Eu acho que não tem por falta de recursos muito menos a uma deficiência de habilidade técn ica
ou talvez falta de interesse porque recurso em integrar as equipes de saúde das regiões do país.
tem, seria até uma forma de redução de O Conselho Federal de Nutricionistas (CFN),
doenças e redução de gastos porque evitaria por saber que se alimentar de forma saudável é
doenças”. (ACS A) fundamental para a qualidade de vida d a s p e ss oas,
vem há algum tempo defendendo a inclusão do
Diante do exposto, grande parte dos sujeitos profissional de nutrição nas ESF. Para isso muitos
apontou como responsabilidade dos gestores públicos mecanismos estão sendo ampliados, uma ve z q u e o

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nutricionista é capacitado no âmbito da nutrição e Com isso, cabe aos gestores públicos contratar
alimentação com características para servir a profissionais da nutrição com o objetivo de comp o r a
carência da população. equipe multidisciplinar na Unidade Básica de Saúde
De acordo com Junqueira e Cotta (2014), para que assim a população seja atendida com
refletir sobre a inserção do nutricionista na ABS é qualidade de forma completa garantindo a sua saúd e
acreditar em transformações de realidades, que em vários aspectos.
aconteçam regularmente a partir da graduação at é a REFERÊNCIAS
aplicação em Educação Permanente. Ao permitir mais
evidência nas atuações de nutrição e alimentação n a ALVES, V. S.; NUNES, M. O. Educação em Saúde na
atenção médica ao paciente com hipertensão arterial
ABS incentivando a sua correta gestão e efetivação no Programa Saúde da Família. Interface -
na área dos municípios do país, a Matriz de ações d e Comunicação, Saúde, Educação, v.9, n.18, p.131-
47, 2006.
alimentação e nutrição na Atenção Básica de Saúde
segue os caminhos que o SUS está nesses últimos 20 ASSIS, A. M. O.; SANTOS, S. M. C.; FREITAS, M. C.;
SANTOS, J. M.; SILVA, M. C. M. O programa Saúde
anos trilhando para municipalizar suas atuações da família: contribuições para uma reflexão sobre a
assegurando às pessoas o direito a saúde. inserção do nutricionista na equipe multidisciplinar.
Revista de Nutrição, v. 15, n. 3, p. 255-266, 2002.
Para Gomes (2013), a cobertura do serviço d e
nutrição ainda é pouco na presença da n e ces sid ade BARDIN, L. (2006). Análise de conteúdo (L. de A.
Rego & A. Pinheiro, Trads.). Lisboa: Edições 70.
epidemiológica atual, sendo assim é indispensável (Obra original publicada em 1977).
que os gestores municipais compreendam a efetiva
BRASIL. Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
relevância do nutricionista na ABS. Nutricional. Princípios e diretrizes de uma política de
segurança alimentar e nutricional. Brasília: CONSEA;
2004.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BRASIL. Portaria nº 154 de 24 de janeiro de 2008.
Cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF).
Como foi visto os profissionais da saúde se Diário Oficial da União, 24 jan, 2008.
sentem um tanto capazes para abordar a nutrição,
CAMPOS, S. H.; BOOG, M. C. F. Cuidado nutricional
mas não com a mesma habilidade que o nutricionista na visão de enfermeiros docentes. Revista de
tem, pois seus conhecimentos são limitados, pode-se Nutrição de Campinas, v. 19, n. 2, p. 145-55,
2006.
constatar uma falta de informação quanto ao papel
do nutricionista. Ao mesmo tempo eles relataram que CARVALHO, A. M. M. A inserção do profissional
nutricionista no Sistema Único de Saúde: reflexões a
há a necessidade de inclusão do nutricionista na UBS, partir da experiência de um município da região
uma vez que eles sim são portadores de metropolitana de Porto Alegre - RS [monografia].
Porto Alegre (RS): Escola de Saúde Pública do Estado
conhecimentos apropriados para educação nutricional do Rio Grande do Sul; 2005.
e os mesmos atribuíram à falta de interesse dos
CERVATO-MANCUSO, A. M.; TONACIO, L. V.; SILVA,
gestores para inclusão desse profissional na at en ção E. R.; VIEIRA, V. L. A atuação do nutricionista na
primaria. Atenção Básica à Saúde em um grande centro
urbano. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n. 12, p.
A ausência deste profissional foge ao prin cíp io 3289-3300, 2012.
da integralidade que rege o SUS, uma vez que, ele
CONSELHO REGIONAL DE NUTRICIONISTAS - 3º.
está capacitado a realizar condutas no âmbito da Região. A experiência e atuação de Nutricionistas no
alimentação e nutrição inserido nas comunidades e programa de residência multiprofissional em saúde
da família na Zona Leste do Município de São Paulo .
contribuindo para a saúde das pessoas. [acessado 2016 mar 24]. Disponível em:
atualidades/informacoes/arquivos/Programa%20de
%20saude%20da%20familia.doc

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SILVA, D. O.; RECINE, E. G. I.G.; QUEIROZ, E. F. O.


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