Você está na página 1de 30

SEBEMGE - SEMINÁRIO BATISTA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

APOSTILA DE NOVO TESTAMENTO 3

CARTAS GERAIS E APOCALIPSE – PARTE 3

I PEDRO, II PEDRO, I JOÃO

PROFESSOR: Anísio Renato de Andrade

ANO: 2001/ 1o semestre - TURMA: 2o ano - 3o período.

O APÓSTOLO PEDRO

A autoria da primeira epístola de Pedro não está envolta em dúvidas e questionamentos


como acontece com outros escritos bíblicos. O autor começa o texto se apresentando:
"Pedro, apóstolo de Jesus Cristo" (I Pd.1.1). A seu respeito, o Novo Testamento nos
fornece muitas informações. Seu nome original era Simão, abreviatura de Simeão, nome
hebraico que significa "famoso".

Simão foi pescador (Mt.4.18), até o dia em que, conduzido por seu irmão André
(João1.40), conheceu o Senhor Jesus, o qual lhe chamou "Pedro" (Petros), nome grego que
significa "pedra", o mesmo que "Cefas" em aramaico (João 1.42). Era chamado também de
"Simão Barjonas", ou seja, Simão, filho de Jonas (Mt.16.17), ou filho de João (Jo.21.15).
Devido ao uso de mais de um idioma, era comum as pessoas possuírem mais de um nome.
Um hebraico, outro grego; ou um em latim, outro em aramaico, ou até mesmo dois nomes
numa mesma língua.

O caso de Simão é bastante peculiar. Jesus lhe deu um novo nome: Pedro. Não lhe
bastaria ser "famoso". Precisava ser firme e inabalável. Afinal, firmeza era o que mais lhe
faltava naqueles primeiros anos de serviço ao Mestre. Em seus momentos de debilidade, era
chamado de "Simão" (Lc.22.31; Mc.14.37; João 21.15-17). Era o "velho homem" em ação,
com toda a sua fraqueza natural.

Quando conhecemos o Senhor Jesus, ele muda o nosso nome. Muitos, antes de se
converterem, eram chamados de "mentirosos", "enganadores", etc. Depois, passam a ser
conhecidos como honestos, trabalhadores, bons cidadãos, etc. Quando o suposto convertido
não vive à altura do evangelho, então fica conhecido como "crente desonesto", "crente
mentiroso", etc. Tornou-se o seu "último estado pior do que o primeiro".

Pedro era casado e morava em Cafarnaum, cidade situada ao noroeste do Mar da


Galiléia (Mc.1.21,29,30). Jesus exerceu nessa região uma parte considerável do seu
ministério. Pedro se tornou discípulo e apóstolo de Jesus (Mt.10.2). Seu ministério foi mais
dedicado aos seus próprios compatriotas, os judeus. Foi considerado "apóstolo à
circuncisão" (Gál. 2.8). Foi grande o seu destaque entre os apóstolos quando andavam com
Jesus e também na igreja, depois da ascensão do Senhor.

Pedro pronunciou a mais célebre declaração dita por um discípulo: "Tú és o Cristo,
o Filho do Deus vivo." (Mt.16.16). E também: "Para quem iremos nós, Senhor. Tu tens as
palavras da vida eterna." (João 6.68). Por outro lado, cometeu grave erro ao repreender o
Mestre dizendo: "Senhor, tem compaixão de ti. Isso de modo nenhum te acontecerá."
(Mt.16.22). Imediatamente, ouviu a mais severa repreensão de Cristo: "Para trás de mim,
Satanás!" (Mt.16.23).

Observamos que Simão Pedro saía na frente dos discípulos em qualquer situação,
fosse para errar ou acertar. Com isso, conseguia grandes elogios e também repreensões.
Pedro teve experiências ímpares, maravilhosas, e também fracassos vergonhosos. Vejamos
alguns exemplos:

EXPERIÊNCIAS MARAVILHOSAS FRACASSOS VERGONHOSOS

Andou sobre as águas (Mt.14.29) Duvidou e começou a afundar (Mt.14.30).

* Testemunhou a ressurreição da Filha de Repreendeu o Senhor Jesus. (Mt.16.22).


Jairo (Lc.8.51)

* Testemunhou a transfiguração de Cristo Negou a Cristo três vezes (Mc.14.66-72).


(Mt.17.1).

* Testemunhou a agonia de Cristo no Cortou a orelha de Malco (João 18.10-11).


Getsêmani (Mt.26.37)

Pescou um peixe que tinha uma moeda na Foi temporariamente contrário à


boca (Mt.17.27). evangelização dos gentios (At.10).

Pregou no dia de Pentecostes (At.2). Apresentou duplo comportamento (Gál.


2.11-12).

Curou um coxo na porta do Templo (At.3).  

Talvez enfermos tenham sido curados sob a  


sua sombra (At.5.15).
Mediante a sua palavra, morreram Ananias  
e Safira (At.5.1-10).

Curou um paralítico (At.9.34).  

Ressuscitou Dorcas (At.9.40).  

* Alguns episódios da vida de Cristo foram testemunhados apenas por Pedro, Tiago
e João. Até a ordem em que esses nomes aparecem no texto nos mostra a preeminência de
Pedro (Lc.8.51; Mt.17.1; Mt.26.37).

Durante algum tempo, sua vida foi muito contraditória. Se Pedro vivesse nos nossos
dias e tivéssemos de formar uma comissão na igreja, ou uma equipe para um trabalho
especial, talvez não o escolheríamos. Contudo, Jesus o escolheu. E não acontece assim
também conosco? Num momento estamos "andando sobre as águas" e, "no próximo
versículo" já começamos a afundar. Talvez também tenhamos muitas vezes negado a Cristo
através das nossas ações e palavras. Contudo, Jesus nos escolheu e já nos conhecia antes
que pudéssemos acertar ou errar. O mais importante é o conserto. Se caímos precisamos
nos levantar rapidamente, seguir adiante, e procurar evitar novas quedas. Pedro negou a
Cristo três vezes. Confrontado por sua consciência e pelo olhar do Mestre, chorou
amargamente, arrependido do seu fracasso (Lc.22.61-62). Passados cinqüenta dias, Pedro
estava pregando a respeito da ressurreição de Cristo. Afinal, sua vocação não foi cancelada
pelo pecado. No dia de Pentecostes, Pedro estava entre os que foram cheios do Espírito
Santo, inaugurando assim a igreja do Senhor Jesus.

O registro dos erros de Pedro são bastante oportunos pois, além de evidenciarem a
sinceridade dos escritores bíblicos, servem para derrubar a tese de uma suposta
infalibilidade apregoada por alguns.

Tantas falhas deveriam ter sido suficientes para que Pedro não viesse a ser
idolatrado por tantas pessoas. Contudo, todos os seus erros não foram bastantes.

O escritor de Atos dos Apóstolos concentrou-se na pessoa e nas obras de Pedro até o
capítulo 12. Afinal, foi considerado como uma das "colunas da igreja" (Gálatas 2.9).

Além de ter trabalhado em Jerusalém, atuou também na Babilônia (I Pd.5.13). Não


se sabe ao certo se Pedro esteve na Babilônia que ficava às margens do Eufrates, ou se isso
foi uma referência velada à cidade de Roma.
Segundo Orígenes, Pedro foi morto sob as ordens do Imperador Nero depois do
incêndio em Roma. Sabendo que seria crucificado, Pedro pediu que o fosse de cabeça para
baixo, pois não se julgava digno de morrer na mesma posição que o Mestre. A data de sua
morte estaria situada entre os anos 64 e 68 d.C.

A PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PEDRO

ESBOÇO

1 - Natureza da salvação - 1.1-21

2 - Crescimento do cristão - 1.22 - 2.10.

3 - Vida cristã prática - 2.11 - 3.22.

4 - Exortações diversas - 4.1-19

5 - Admoestações aos líderes - 5.1-14.

Texto chave - 4.1

Palavra chave - sofrimento (1.11; 2.20; 3.17; 4.19; 5.1,9,10)

Autoria

Apesar de ter sido considerado homem inculto e iletrado (At.4.13), Pedro escreveu uma
epístola de alto nível. Talvez aquele rótulo advenha do fato de Pedro não ter freqüentado as
universidades gregas da época, nem ter sido um escriba ou doutor da lei. Contudo, isso não
significa que ele fosse analfabeto e ignorante. Se lhe faltava muito da vasta cultura grega, o
mesmo não se pode dizer quanto ao idioma, pois o grego era falado por todas as classes
sociais. Além disso, falava o aramaico e talvez o hebraico.

Como todo bom judeu, Pedro tinha todo o conhecimento da lei de Moisés e demais
Escrituras do Velho Testamento.

A forma do seu texto pode também ter sido influenciada pela mão de Silvano, que foi seu
amanuense (I Pd.5.12).
A autoridade do autor fica evidente. Além de ser apóstolo (I Pd.1.1), Pedro foi "testemunha
das aflições de Cristo" (I Pd. 5.1). Seu ensino estava, portanto, bem fundamentado, sendo
digno de aceitação.

Além de Silvano, também Marcos estava na companhia de Pedro quando escreveu a


primeira epístola (I Pd.5.13).

Data - Os comentaristas sugerem datas entre 63 e 68 d.C. O ano mais indicado é 64.

Destinatários - cristãos dispersos na Ásia Menor (judeus e gentios) - 1.1; 2.10.

Durante algum tempo, Pedro foi contrário à evangelização dos gentios. Vemos, portanto
que, por ocasião do envio dessa epístola, tal problema já tinha sido superado. Agora Pedro
já aceita os gentios e os considera tão dignos do evangelho e do reino de Deus quanto os
judeus.

O apóstolo chega a tomar palavras ditas a Israel no Velho Testamento, aplicando-as aos
gentios que fazem parte da igreja. "...Antes não éreis povo, mas agora sois povo de
Deus...". (I Pd.2.9-10). Outros textos desenvolvem esse paralelismo entre a igreja e Israel,
citando o sacrifício e o templo numa nova perspectiva (I Pd.1.19; 2.4-5).

A epístola foi dirigida aos irmãos que moravam em regiões por onde Paulo passou e fundou
igrejas. Por quê Pedro escreveria para eles? Isso faz com que alguns entendam que, quando
essa epístola foi produzida, Paulo já teria morrido. O fato Silvano e Marcos, antigos
companheiros de Paulo, estarem com Pedro também é usado como argumento a favor dessa
hipótese.

Circunstância – A carta foi escrita numa época de grande perseguição imperial contra a
igreja após o incêndio em Roma. No livro de Atos, os principais perseguidores eram os
judeus. No período em que Pedro escreveu, os perseguidores passaram a ser os gentios
(4.3,4,12).

Características – O livro é exortativo, consolador, cristológico, "cristocêntrico".


Observamos que Tiago quase não cita Jesus em sua carta. Pedro, porém, cita-o a todo
momento. Aquele que o havia negado, agora tem no seu nome a base de sua doutrina.

Pedro apresenta Jesus como:

Fonte de esperança - 1.3

Cordeiro do sacrifício - 1.19.

Pedra angular - 2.6


Exemplo perfeito - 2.21-23.

Aquele que levou nossos pecados - 2.24.

Sumo pastor - 2.25.

Bispo das nossas almas – 2.25.

Aquele que está assentado à destra de Deus - 3.22.

Coisas preciosas para Pedro

Provas - 1.7

Sangue - 1.19

Pedras - 2.4

Cristo - 2.6

Espírito manso - 3.4

Propósito da carta - firmar, orientar, confortar.

Para os irmãos atribulados, Pedro oferece uma palavra de esperança, menciona os


fundamentos da fé cristã e o que Deus tem para nós no futuro. Quando as tribulações se
multiplicam, é bastante oportuno que essas verdades sejam mencionadas para renovação da
fé e do ânimo. A obra de Cristo no passado (1.3) e a herança cristã no futuro (1.4-5) são
mencionados como estímulo para se enfrentarem as dificuldades presentes (1.6).

Em tais circunstâncias, é necessário que nos lembremos de quem somos. Nossa identidade
pode estar sendo questionada pelos homens, pelo diabo (Mt.4.2) ou até mesmo por nós
mesmos. Pedro então enfatiza essa realidade espiritual que, muitas vezes, é desafiada por
uma realidade aparente adversa. Ele utiliza enfaticamente o verbo ser: "Não éreis povo...";
"Agora sois... povo de Deus, geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido..."
(2.9-10). "Sois guardados, mediante a fé, para a salvação." (1.5). "Sois edificados como
casa espiritual." (2.5).
O autor lembra aos seus leitores o que Cristo fez por eles (1.2,3,19; 2.5,21; 3.18). Nos
momentos difíceis é bom lembrarmos o que Jesus fez por nós e qual é o nosso vínculo com
ele. O inimigo procura colocar tudo isso em dúvida na hora da tentação.

ESBOÇO COMENTADO

Podemos delinear uma seqüência de pensamento na epístola, embora os temas às vezes se


intercalem.

1 - Natureza da salvação - 1.1-12

Salvos pela obra de Cristo

O autor começa sua epístola falando sobre a salvação e a herança no céu. Os irmãos que
estavam padecendo perseguições poderiam questionar sobre o efeito de sua conversão.
Talvez alguns estivessem esperando uma herança na terra, uma vida tranqüila e próspera.
Deus pode nos dar todo tipo de bênção material, mas isso não é uma promessa de Cristo
para todo aquele que nele crê. Isso depende da vontade de Deus para cada pessoa. O que ele
promete a todos nós é a vida eterna, uma herança nos céus.

Não podemos esperar conquistas materiais como efeito obrigatório do evangelho. O


resultado pode ser a frustração. Por outro lado, nada impede que o cristão trabalhe para
conseguir o que lhe for lícito, assim como também fazem os não salvos. Entretanto, a busca
material não se tornará o objetivo principal da nossa vida ou da nossa fé.

2 - Crescimento do cristão - 1.13 - 2.10.

O que somos e o que devemos ser

Tendo falado da salvação, Pedro poderia agora expressar palavras comemorativas e


congratulatórias para seus destinatários como se tudo estivesse resolvido. Contudo, não é
assim. Agora que estamos salvos, precisamos do crescimento espiritual, que só é possível
mediante o legítimo alimento espiritual: a palavra de Deus (1.23-25; 2.1-2). A palavra
"portanto", de 1.13, liga as duas seções do texto. O "portanto" indica que considerando tudo
o que foi dito antes, seriam apresentadas, a seguir, admoestações que estariam relacionadas
às conseqüências naturais ou necessárias ao bom andamento da questão anterior. Como
dissemos, Pedro utiliza bastante o verbo "ser". Observamos principalmente as conjugações:
"sois" e "sede" em referência ao que já "somos" pelos méritos de Cristo e por nosso
compromisso com ele, e o que devemos "ser". Observe na palavra "sede" o modo
imperativo indicando uma ordem. Pedro já disse que somos salvos... portanto... precisamos
ser:
- Santos (separados da corrupção do mundo) 1.15-16.

- Sóbrios (conscientes, atentos e vigilantes) (1.13).

- Obedientes (1.14).

Essas poucas palavras resumem tudo o que Deus espera de nós.

3 - Vida cristã prática - 2.11 - 3.22.

O risco do pecado; vigilância; oração; serviço; comportamento; sofrimento e


glória.

Após a conversão, temos um caminho pela frente: é a vida cristã prática. Pedro
menciona situações e relações do cotidiano. O pecado é mencionado como um risco
constante (2.11-12; 4.1-6; 1.13-16). Pedro, que um dia disse que não negaria a Cristo e
acabou negando três vezes, está bem consciente de que o pecado pode acontecer, embora
não deva. Diante desse risco real, o autor nos aconselha a orar e vigiar (4.7; 5.8-9) .

Contudo, a vida cristã apresentada por Pedro não é apenas espiritual. Não se resume
à oração e à vigilância. Ele ensina o serviço cristão, exemplificado através da hospitalidade
e do ministério (4.9-11). Não basta orar; é preciso agir, trabalhar.

Outro item abordado é o comportamento. As falhas nesta área podem invalidar


nossas orações (3.7) e nosso serviço. Pedro menciona então a vida social e civil (2.12-17),
familiar (3.1-7), profissional (2.18). Aconselha maridos, esposas e servos.

O Sofrimento é o tema principal da epístola. Esse elemento também faz parte da vida cristã.
Esta era a situação vivida pelos destinatários da carta. O autor diz que não devemos
estranhá-lo, como se fosse algo anormal (4.12). Então, devemos concluir que o mesmo faz
parte do plano de Deus para nós, pois ele assim o quer (3.17). Trata-se de algo necessário
(1.6). Tais afirmações podem ser chocantes. Por quê Deus quer que soframos? Não é que
ele queira o sofrimento em si, mas sim o resultado do processo. Existem virtudes que não
serão adquiridas de outra forma. O sofrimento tem grande força didática. "Te deixei ter
fome... para te dar a entender que nem só de pão viverá o homem..." (Dt.8.3).

Pedro menciona dois tipos de sofrimento: um pelo evangelho (perseguição, tentações e


perseguições) e outro pelo pecado (conseqüências e punições). O autor adverte que se
sofremos como cristãos, sem culpa, então somos bem-aventurados. Se sofrermos
merecidamente, então nenhuma honra receberemos (2.19-20; 4.14-16). Lembremo-nos do
Calvário. Dois tipos de sofrimento ali aconteciam: Jesus morria inocente, enquanto que os
ladrões morriam em conseqüência dos seus próprios erros.

O sofrimento pela causa do evangelho trará como conseqüência a glória. Esta é outra
palavra importante na epístola, indicando glória presente na vida do cristão, glória futura e
também a vanglória (1.24); (1.7,8,11,21; 2.12,20; 4.11,13,14,16; 5.1,4,10). O sofrimento é
de pequena duração quando comparado com a glória eterna que nos aguarda (1.6; 5.10.
Veja também Rm.8.18).

Queremos a glória (e às vezes até mesmo a vanglória), mas sofrimento... jamais. Queremos
colher o fruto sem plantar sua erva. Queremos participar da glória de Cristo em sua vinda,
mas não queremos participar dos seus sofrimentos. Pedro vincula tais elementos (1.11;
4.13; 5.1). Para justificar a necessidade e a utilidade do sofrimento, Pedro cita Cristo como
exemplo (2.21; 3.18). O mesmo apóstolo se diz testemunha das aflições de Cristo e
participante da glória. Com isso, ele deixa subentendida sua própria participação nos
sofrimentos pelo evangelho.

Diante do sofrimento somos levados a procurar seus motivos. Perguntamos: por quê está
acontecendo isso? O que eu fiz para merecer isso? Assim, olhamos para trás em busca da
causa. O sofrimento pelo pecado pode ser assim compreendido. Podemos olhar para trás e
reconhecer nossa falha. Muitas vezes, porém, não conseguimos ligar o fato presente ao erro
cometido. No caso do sofrimento permitido por Deus sem que tenhamos pecado, devemos
olhar para frente e perguntar: para quê está acontecendo isso? Mesmo que não possamos,
em muitos casos, saber o propósito específico, sabemos, de modo geral, que toda
adversidade que nos ocorre vem para o nosso próprio crescimento. Todo exercício físico,
corretamente realizado, contribui para o desenvolvimento e manutenção da boa forma
muscular. Tais exercícios não são leves nem suaves. Se assim fossem, seriam inúteis.
Assim são as provações e adversidades que enfrentamos. São exercícios para o espírito e
para o caráter. Por meio deles nossa fé cresce, nossa paciência e nossa experiência se
desenvolvem. O produto do sofrimento faz com ele se justifique e seja até mesmo
valorizado por escritores bíblicos como Pedro e Paulo (Rm.5.3-5).

O ouro é retirado da jazida em estado bruto, cheio de sujeira e deformidades. Contudo, não
será rejeitado por isso. Da mesma forma Deus nos resgata: sujos e deformados. Ele não
rejeita a sua vida, por mais sujo que você esteja. Podemos até lavar aquela pepita de ouro,
mas isso não será suficiente. Algumas impurezas estão encrustadas no metal. Então, o
ourives precisa levá-lo ao fogo (Malaquias 3.2). Pedro compara o fogo às tribulações e diz
que assim como o ouro precisa passar pelo fogo, da mesma forma nossa fé precisa ser
provada para que sejamos aprovados (I Pd.1.7). O fogo, por mais destruidor que seja, só
destrói as impurezas do ouro. No final do processo, o metal está limpo, brilhante, e muito
mais valorizado. Assim acontece conosco.

Em sua primeira epístola, Pedro menciona muitos termos negativos e muitos outros
positivos. Pode parecer conflito ou paradoxo, mas não é. Nossa vida é assim. Todos os
elementos negativos do processo são necessários para que os positivos se manifestem. É
uma relação necessária. Sem morte não haverá ressurreição. Primeiro vem o fogo, depois o
brilho e o valor. Só não é necessário o pecado nem o sofrimento que dele advém, já que não
produz nenhum benefício, exceto uma lição que deveria ter sido aprendida de outra forma.

Vejamos então as palavras negativas e positivas encontradas em I Pedro

NEGATIVAS

Sofrimento - 5.9

Fogo - 1.7.

Provação - 4.12

Tristeza - 1.6; 2.19.

Aflição - 4.13; 5.1

Vitupério - 4.14

Padecimento - 5.10

POSITIVAS

Fé - 1.21; 5.9

Glória, honra - 1.7,8,21; 2.17,20;


4.11,14; 5.1,10
Esperança - 1.21

Alegria, exultação, gozo inefável -


1.8; 4.13

Amor - 1.20,22; 2.17; 3.8; 4.8

Misericórdia - 1.3; 2.10

Paz - 1.2; 3.11; 5.14.

Graça - 1.2; 5.5,12

Louvor - 1.7; 2.14

Dias felizes - 3.10

Muitas vezes, as experiências negativas são presentes, enquanto que o benefício está
indicado para o futuro (I Pd.1.4-5; 4.13; 5.1,4,6,10). Contudo, já no tempo presente
experimentamos a esperança, a paz, a alegria, o amor, a misericórdia, etc. A glória, ou
exaltação, é o principal elemento localizado no futuro, vinculado à segunda vinda de Cristo.

4 - Exortações diversas - 4.1-19

Nesse bloco são incluídos diversos conselhos sobre comportamento, amor mútuo, serviço e
novamente sobre o sofrimento.

5 - Admoestações aos líderes - 5.1-14.

Pedro se dirige especialmente aos anciãos, os presbíteros da igreja, dizendo que os


mesmos deviam ser exemplo para o rebanho e não dominadores. O líder não deve agir
como se fosse dono das ovelhas, como se fosse senhor de suas vidas. Liderança não é
manipulação nem opressão, mas orientação amável. A ovelha deve ser vista como alvo de
cuidado e proteção e não como fábrica de leite e lã, embora ela os produza.

DESTAQUES DA CARTA
 

PEDRAS VIVAS

O texto de Mateus 16.16-18 tem sido objeto de muitas discussões. Seria Pedro a
pedra fundamental da igreja? Em sua primeira epístola, o apóstolo diz que todos os cristãos
são "pedras vivas" e que Cristo é a principal pedra da construção que é a igreja. Se é assim,
então Pedro continua pedra, como é o significado do seu nome. A igreja está firmada sobre
o fundamento dos apóstolos e profetas. Eles foram as pedras fundamentais da igreja.
Porém, Cristo é a pedra principal. Sem ele, a construção não existiria.

Qual é a relação entre tais pedras e a igreja? Tal fundamento está diretamente ligado
às vidas, obras e ensinamentos desses homens, os apóstolos e profetas. Eles foram os
primeiros a compor a igreja do Senhor. O próprio Jesus, por sua vez, é a pedra principal
pois deu sua própria vida para que a igreja existisse. Foi ele quem resgatou com seu sangue
todos aqueles que fariam parte dessa construção espiritual.

Voltando às palavras de Pedro, todos nós somos pedras vivas, fazendo parte da
igreja. Não fazemos parte do fundamento, pois a igreja já existia antes de nós. Porém,
fazemos parte da obra, estando apoiados sobre os que nos antecederam e servindo de base
para os que se inspiram em nosso testemunho e palavra ( I Pd.2.4-8; I Cor.3.11; Ef.2.20-
22).

A PREGAÇÃO AOS MORTOS

"Porque também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos,
para levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no espírito; no
qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes,
quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé, enquanto se preparava a
arca; na qual poucas, isto é, oito almas se salvaram através da água." (I Pd.3.18-20).

Este é um dos textos mais misteriosos das Sagradas Escrituras. As polêmicas em


torno do seu significado não têm fim. Procuraremos expor resumidamente as principais
linhas de interpretação do assunto em questão. Leia também I Pd.4.5-6, Rm.10.7, Salmo
16.10 e Ef.4.9. Neste assunto, além dos católicos não concordarem com os protestantes,
estes últimos não concordam entre si. Encontramos posições diferentes de uma
denominação evangélica para outra.

A pergunta inicial é: Jesus foi ao inferno? O texto de Pedro não está dizendo isso,
mas esta tem sido, muitas vezes, a interpretação adotada, principalmente por causa de
outros textos bíblicos, dos credos da igreja católica e dos livros apócrifos, alguns dos quais
mencionam explicitamente a descida de Cristo ao inferno entre sua morte e sua
ressurreição. Por exemplo podemos citar o chamado "credo dos apóstolos" e os apócrifos:
"Evangelho de Bartolomeu" e "Evangelho de Nicodemos". Um paralelo entre tais escritos e
os textos bíblicos mencionados produzem a interpretação correspondente.

Questão Respostas encontradas nos comentários

Jesus foi ao Sim Não


inferno?

Como ele foi? Em seu espírito em carne e espírito Através do Espírito Santo De jeito
humano nenhum.

A quem ele Aos justos Aos ímpios (todos ou A justos e Aos anjos A ninguém
pregou? só aos da época de ímpios. caídos.
Noé)

O que ele O evangelho Sua vitória O evangelho e sua vitória Nada


pregou?

Sofrer
Com que Salvar os justos Salvar os ímpios Salvar a Declarar Nenhum
objetivo? todos sua vitó- (batismo
ria de
fogo?)

Qual foi o Salvação e Salvação dos ímpios. Salvação de Conde-   Nenhum


efeito? ressurreição dos todos. nação
justos. dos ím-
pios

O quadro apresentado assemelha-se a uma prova de múltipla escolha onde existem


alternativas para todos os gostos, inclusive para quem não gosta de nenhuma. Contudo,
trata-se apenas da exposição das diversas interpretações do texto de I Pedro 3.18-20,
juntamente com uma série de pressupostos considerados em cada caso.

Cada alternativa traz uma série de conseqüências naturais (?) ou teologicamente


necessárias, formando assim um intrincado conjunto de perguntas intrigantes, respostas
incertas e dúvidas crescentes. Uma vez que o próprio texto bíblico não foi claro sobre o
assunto, torna-se muito improvável que possamos sê-lo. Contudo, tal exposição poderá
ajudar o estudante a tirar suas próprias conclusões.
Algumas alternativas apresentadas podem ser refutadas pelo simples retorno ao
texto de I Pedro. A passagem não diz que ele foi pregar aos justos e nem que teria sido a
todos os mortos ou a todos os ímpios. São mencionados apenas os ímpios que viveram nos
dias de Noé. Alguns comentaristas estendem tal pregação a todos os mortos, utilizando o
texto de I Pedro 4.5-6, onde isso fica mais evidente.

Dizer que Cristo foi em carne e espírito ao inferno, seria o mesmo que ele estava
vivo antes da ressurreição. Se carne e espírito estão juntos, então não estamos falando de
Cristo durante seus três dias em estado de morte.

Dizer que o Espírito Santo foi ao inferno resgatar alguém é fazer uma grande
confusão entre as funções das pessoas da trindade. Tal equívoco se dá pelo fato de que
algumas traduções usam a palavra "Espírito" com letra maiúscula em I Pd.3.18.

Aqueles que dizem que Cristo não foi ao inferno, afirmam que ele foi se apresentar
ao Pai após sua morte. Mencionam como argumento as palavras de Jesus ao ladrão
crucificado: "Hoje estarás comigo no paraíso." (Lc.23.43 e 46). Como explicariam então o
texto de Pedro? Calvino chegou a afirmar que a cruz foi o "inferno" experimentado por
Cristo. Para os anabatistas, este mundo foi o "inferno" ao qual Cristo desceu ao encarnar.

Pelo que ficou registrado nos livros, até o século IV d.C. era plenamente aceita a
idéia de que Cristo tenha mesmo descido ao inferno, assim identificado como o "lugar dos
mortos". Somente a partir do século V é que passou-se a questionar tal sentido. Nesse
tempo, Agostinho propôs o seguinte entendimento para o texto de Pedro: o evangelho teria
sido anunciado aos mortos no tempo em que os mesmos estavam vivos. Assim, os
contemporâneos de Noé teriam ouvido a pregação antes do dilúvio. O espírito de Cristo,
mencionado em I Pd.3.18, estaria agindo através de Noé, o pregoeiro da justiça. Tal
interpretação, bastante inteligente, não explica o texto de I Pd.4.5-6, onde todos os mortos
parecem estar envolvidos. Além disso, o texto de I Pd.3.18-20 fala que a pregação foi
dirigida a "espíritos em prisão" e não a pessoas vivas.

O texto de Atos (2.27-31) talvez seja o mais claro para que se conclua que Cristo foi
ao inferno. O autor utiliza a palavra Hades. Esta palavra estaria sendo usada em referência a
um lugar espiritual? ou simplesmente à sepultura? (2.29) ou apenas ao estado de morte?
(2.31). Algumas versões usam a palavra "hades" (A.R.C.) enquanto outras a traduzem
como "morte" (Thompson e A.R.A). A versão católica dos Monges de Maredsous
menciona "região dos mortos", o que não indica um sentido estritamente físico ou
espiritual. A bíblia das Edições Loyola utiliza a expressão "mansão dos mortos". A versão
do padre Antônio Pereira de Figueiredo traduz "hades" como "inferno".

A palavra "hades" é grega e se origina da mitologia dos gregos, sendo utilizada para
identificar o lugar espiritual para onde vão os mortos. O hades estaria divido em duas
partes: O "elísio" para os bons e o "tártaro" para os maus. Os hebreus tinham uma
concepção semelhante sobre a região dos mortos. Chamavam-na de seol, ou sheol, também
com um lugar para os justos e outro para os ímpios. Entretanto, sheol também significa
sepultura. Como o Novo Testamento foi escrito em grego, então foram usadas as palavras
gregas que mais se aproximavam do conceito hebraico. Assim, a dúvida sobre lugar físico
ou espiritual prevalece.

Sheol (ás vezes traduzido como inferno ou sepultura): Gn.37.35; Nm.16.30; Jó


21.13; Salmo 9.17; Pv.5.5; 7.27; 9.18; 15.24; 23.14; Dt.32.22; Jó 26.6; Pv.15.11; 27.20; II
Sm.22.6; Salmo 18.5; 116.3; Os.13.14.

Hades (às vezes traduzido como inferno): At.2.27,31; Mt.11.23; 16.18; Lc.10.15;
Lc.16.23; Ap.1.18; 6.8; 20.13-14.

Geena (às vezes traduzido como inferno): Mt.5.22,29,30; 10.28; 18.9; 23.15; 23.33;
Lc.12.5; Tg.3.6; Mc.9.43-48.

Tártaro (às vezes traduzido como inferno): II Pd.2.4.

O Velho Testamento passa a idéia de que o Sheol é um lugar para onde vão todos os
mortos, bons e maus. É normalmente identificado com o hades do Novo Testamento. Veja
que em Atos 2, a citação do Salmo 16, troca Sheol por Hades.

Os luteranos interpretam hades como sinônimo de inferno e seio de Abraão como


paraíso. Utilizam a passagem de Lucas 16.22-25. O paraíso seria o lugar para onde o cristão
iria imediatamente após a morte, a encontrar-se com Cristo (Filipenses 1.23).

Os católicos romanos dividem o hades em: inferno, purgatório, limbus patrum e


limbus infantum. Eles entendem que Cristo tenha ido ao limbus patrum ou seio de Abraão,
onde estariam os justos do Velho Testamento aguardando a salvação cristã. Apesar da boa
organização de idéias, tal teoria não tem apoio bíblico, já que a Bíblia não menciona
purgatório nem limbus.

É bastante antiga a idéia de que alguém pudesse descer ao hades com alguma
missão. De acordo com a mitologia grega, Hércules teria ido até lá. Histórias semelhantes
são encontradas na literatura babilônica, egípcia, e romana. Conforme Orígenes, houve
entre os judeus a crença de que os profetas do Velho Testamento tenham ido ao seol, onde
continuariam seu ministério de pregação. Tal suposição aparece também no Talmude.
Assim, a crença de que Cristo teria ido ao inferno não seria de difícil aceitação. Alguns,
como Clemente de Alexandria, chegaram a dizer que os apóstolos também teriam ido ao
hades após suas mortes para pregar e que também os demais cristãos teriam essa missão.
Isso seria usado por alguns para justificar mortes de pessoas jovens (J.Paterson Smith).
Afinal, segundo essa tese, essas pessoas teriam grande trabalho a executar na região dos
mortos.

 
Apresentamos, a seguir, outro quadro comparativo sobre o assunto, destacando a
posição denominacional e de alguns líderes e teólogos.

Cristo foi e Cristo foi e Cristo não foi Cristo foi mas Cristo salvou
salvou os justos salvou a todos ao inferno. não salvou apenas algumas
ninguém pessoas

Defendido por Algumas igrejas Anabatistas Luteranos Lutero, mais


católicos reformadas tarde assumiu
essa posição.

Algumas igrejas Arminianos * Calvinistas Flacius  


reformadas.

Zwínglio   Agostinho Calov  

Marcion     Wolf  

Tertuliano     Buddeus  

      Aretius  

      * Calvino  

Encontramos duas posições distintas atribuídas a Calvino em relação à ida de Cristo


ao inferno. Não sabemos se ele mudou de idéia como ocorreu com Lutero. Uma das fontes
consultadas foi escrita por um calvinista e nega a ida literal de Cristo ao inferno.

Alguns livros apócrifos afirmam que Cristo esvaziou o inferno, salvando todos os
que ali estavam. Essa idéia serve bastante aos que pregam o "universalismo", que consiste
na crença em uma salvação universal. Tais teólogos afirmam que ninguém escapará do
alcance da graça de Deus e, finalmente, todos serão salvos, até mesmo os anjos caídos. Se
assim fosse, então não precisaríamos pregar o evangelho.

Para o melhor entendimento possível a respeito desse assunto é fundamental que


consideremos o ensino geral da Bíblia. Qualquer suposição deve ser confrontada com
outros textos das escrituras para que se conclua sobre sua prevalência ou não.
Jesus teria ido pregar aos mortos para que estes se salvassem? Tal entendimento não
parece coerente com outras passagens das escrituras. Se, depois de viverem e morrerem no
pecado, todos os ímpios ainda pudessem se salvar, então de nada teria valido a vida de
justiça dos justos, já que todos acabariam no mesmo lugar e na mesma situação: salvos.

É bem provável que Jesus tenha anunciado o evangelho aos justos do Velho
Testamento, embora o texto de I Pedro 3.18-20 não os mencione. O fato é que muitos deles
ressuscitaram após a ressurreição de Cristo, conforme está em Mateus 27.51-53. Davi disse:
"Não deixarás minha alma no hades." Além de estar profetizando sobre Cristo, ele não
poderia também estar falando sobre sua própria alma, conforme uma interpretação literal do
Salmo?

Os ímpios mortos também teriam ouvido a respeito do evangelho mas não poderiam
ser salvos. Contudo, tal conhecimento serviria para legitimar a autoridade de Cristo para
julgá-los no último dia. "... Áquele que está preparado para julgar os vivos e os mortos.
Pois é por isto que foi pregado o evangelho até aos mortos..." (I Pd.4.5-6).

Jesus teria descido para tomar as chaves da morte e do inferno das mãos do Diabo?
Os calvinistas dizem que isso não faz sentido, já que o Diabo nunca teve tais chaves. Por
outro lado, podemos também questionar: quem disse que o Diabo mora no inferno? Pelo
que sabemos, ele habita o planeta terra e circula pelas regiões celestiais. Muitas vezes o
inferno é mencionado pelas pessoas como um lugar onde o Diabo mora e faz suas reuniões
estratégicas com os seus demônios. Em algumas dessas supostas reuniões, eles estão
eufóricos com seus planos e realizações. Não estaríamos alimentando um folclore religioso
com tudo isso? Afinal, a bíblia mostra o inferno como um lugar de tormento e não de
reuniões satânicas. Se o Diabo lá estivesse, estaria sofrendo tormentos e não fazendo
planos.

SEGUNDA EPÍSTOLA DE PEDRO

Autoria

No primeiro versículo, o autor já se apresenta como "Simão Pedro, servo e apóstolo de


Jesus Cristo." Pouco adiante, Pedro menciona que presenciou o episódio da transfiguração
(I Pd.1.16-18; Mt.17.5). No capítulo 3, versículo 1, o autor se refere à primeira epístola.

Data – 64 d.C.

Destinatários – por 3.1 entendemos que os destinatários são os mesmos da sua


primeira carta: cristãos dispersos na Ásia Menor. O primeiro versículo do livro parece
sugerir que o autor pretendia que seu escrito tivesse um alcance maior: ele se dirige "aos
que conosco alcançaram fé igualmente preciosa..."

Temas e Objetivos – Animar os irmãos (cap.1); Denunciar os falsos mestres


(cap.2); Falar sobre a segunda vinda de Cristo.

Textos chave – 2.1 e 3.1-4.

ESBOÇO

1. Caminho 1 - A vida cristã - uma palavra de estímulo – 1.1-21.


2. Caminho 2 – Os falsos mestres – denúncia - 2.1-22.

3- A segunda vinda de Cristo e o juízo – 3.1-18.

A segunda epístola de Pedro nos fala de dois caminhos. O primeiro, apresentado no


capítulo 1, é chamado de "caminho da verdade" (2.2), "caminho direito" (2.15) e "caminho
da justiça" (2.21). Embora essas expressões estejam no capítulo 2, é no início da carta que o
autor fala sobre o procedimento do cristão. O outro caminho, o dos falsos mestres, é
apresentado no capítulo 2 e chamado "caminho de Balaão" (2.15). É interessante notarmos
que, ao falar do caminho de Balaão, Pedro não está se referindo àqueles que nunca
conheceram o Senhor, mas ele fala de pessoas que foram resgatadas (2.1), mas desviaram-
se das veredas da justiça (2.15,20,21,22). O próprio Balaão era um profeta verdadeiro até
que, pelo interesse financeiro, desviou-se da verdade.

Em cada um desses caminhos temos: ponto de partida, modo de caminhar e ponto de


chegada, conforme fica evidente na epístola.

1 - Caminho 1 - A vida cristã - uma palavra de estímulo – 1.1-21.

O capítulo 1 está falando da trajetória cristã. O ponto de partida está em 1.4:


"...havendo escapado da corrupção que pela concupiscência há no mundo". Trata-se da
conversão. Quem se converte não pode achar que já tem tudo o que Deus pode oferecer. A
partir do versículo 5, o autor apresenta uma lista de qualidades ou capacidades que devem
ser alcançadas pelo cristão. Aquele se converte tem fé. A fé foi alcançada (1.1), mas ela não
é um fim em si mesma. Pelo contrário, é o início de uma jornada. Com diligência (ou zelo)
(1.5), o cristão deve buscar: virtude (bondade ou bom procedimento), conhecimento,
temperança (ou domínio próprio), paciência (ou perseverança), piedade, amor fraternal
(fraternidade), amor (ágape).
Essas qualidades são mutuamente dependentes e complementares. Pedro está propondo um
plano de crescimento, o qual deve ser o alvo de todo cristão. É desse modo que a natureza
divina se desenvolve em nós (1.4).

A fé sem conhecimento pode resultar em fanatismo e heresia. O conhecimento sem fé é


intelectualismo ou legalismo. Imaginemos que alguém tem fé, conhecimento, mas não tem
amor. Tal pessoa pode ser perigosa, tornando-se um manipulador e até mesmo agressor.
Quando Tiago e João quiseram pedir fogo do céu para destruir os samaritanos, eles
demonstraram que tinham conhecimento e muita fé, mas nenhum amor ao próximo,
nenhuma bondade, nenhuma paciência, nenhum domínio próprio. Felizmente, Jesus
impediu aquela tragédia e, mais tarde, aqueles discípulos aprenderam a amar.

No relato de toda essa experiência cristã, Pedro utiliza diversas palavras que podem
ser divididas em dois grupos: ações divinas e ações humanas. O início da nossa caminhada
se dá pela operação do "divino poder" do Senhor (1.3). A partir daí, o homem tem muito a
fazer.

  

PARTE DIVINA PARTE HUMANA

Seu poder (1.3) Empregando diligência (zelo) (1.5)

Seus dons (1.3) - ele nos deu tudo. Acrescentai bondade, conhecimento,
temperança, paciência, piedade, amor fraternal,
amor ágape. (1.5)

Sua glória (1.3) Procurai confirmar vossa vocação e eleição


(1.10)

Sua virtude (1.3)  

Suas promessas (1.4)  

Sua natureza (1.4)  


Sua vocação (1.10) – ele nos chamou  

Sua eleição (1.10) – ele nos elegeu  

Se Pedro estava exortando (1.12-15) os irmãos a fazerem a sua parte no que diz
respeito ao crescimento espiritual, é porque eles poderiam, depois de tudo o que Deus fez,
ter cruzado os braços e parado no meio da estrada. Nesse caso, o resultado seria: a visão
curta ou mesmo a cegueira espiritual, o esquecimento das primeiras experiências com Deus
e o tropeço que poderia levar à queda (1.9-10; 3.17).

Os tempos e modos dos verbos encontrados no texto nos ajudam a ver uma
trajetória traçada e uma ordem de avanço. Alguns verbos estão no passado, indicando o
lugar de onde saímos e aquilo que Deus já fez por nós. Alguns deles, no pretérito perfeito,
indicam ações consumadas por Deus. È algo que foi feito e não se vai se repetir. Outros
verbos estão no gerúndio e indicam uma ação constante. É presente, mas ainda não foi
encerrada. São ações contínuas de Deus a nosso favor e ações contínuas da nossa parte em
busca do alvo. Outros verbos estão no futuro e apontam para o resultado desejado.
Destacam-se também aqueles que estão no modo imperativo e indicam ordem para que
avancemos em nosso caminho com Deus.

PASSADO PRESENTE IMPERATIVO FUTURO


CONTÍNUO

Alcançaram fé (1.1) Nos tem dado Acrescentai (1.5) Não vos deixarão
promessas (1.4) ociosos (1.8).

Nos deu tudo (1.3) Empregando Procurai (1.10) Jamais tropeçareis


diligência (1.5) (1.10)

Nos chamou (1.3)     Vos será concedida


entrada no reino
(1.11).

Havendo escapado      
da corrupção (1.4)

 
Lendo o quadro anterior, cada coluna, da esquerda para a direita, percebemos a idéia
de movimento, de progresso com o passar do tempo.

No caminho da vida cristã, o modo de caminhar se define por alcançar, praticar e


manter as qualidades e capacidades já mencionadas. Esse deve ser o nosso modo de vida
(3.11).

O ponto de chegada ou objetivo a ser alcançado pode ser compreendido através das
expressões: "para que por elas vos torneis participantes da natureza divina" (1.4), ".. não
vos deixarão ociosos nem infrutíferos" (1.8) e "vos será amplamente concedida a entrada no
reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (1.11).

2 - Caminho 2 – Os falsos mestres – denúncia - 2.1-22.

No capítulo 2, o autor muda para um assunto extremamente oposto ao que estava


sendo tratado até então. Seu conteúdo é muito semelhante à epístola de Judas.

Enquanto que no capítulo 1, Pedro falava a respeito dos cristãos fiéis, agora ele passa a se
referir aos falsos mestres, seu caráter, suas obras e o conseqüente castigo. Esses são os que
andam pelo "caminho de Balaão" (2.15). Sabendo de sua morte iminente (1.14), o autor
está preocupado com aqueles que talvez o sucederão e aos demais apóstolos na liderança da
igreja.

Os falsos mestres:

 Foram resgatados mas desviaram-se (2.1,15,19,20,21,22).


 Contudo, continuam dentro das igrejas (2.1,13).

 Estão na liderança (2.2 – muitos os estão seguindo).

 Seu interesse primordial é o dinheiro. Assim como Balaão (2.3,14,15).

 São comparados aos anjos caídos, aos contemporâneos de Noé e aos habitantes de
Sodoma e Gomorra (2.4,5,6).

O ponto de partida desse caminho é o mesmo daqueles mencionados no primeiro capítulo.


Já que foram resgatados (2.1), o lugar de onde saíram está identificado como as
"contaminações do mundo", de onde escaparam mediante o conhecimento do Senhor e
Salvador Jesus Cristo (2.20). Contudo, desviaram-se da rota traçada pelo Senhor (2.15),
sendo envolvidos e vencidos pelo mundo, terminando por se afastarem do santo
mandamento de Deus (2.20-21).
O seu modo de caminhar é identificado através de seu comportamento. O texto apresenta
verbos e adjetivos que nos fazem compreender o caráter desses homens:

- Falsos, dissimulados, hereges, destruidores, negam a Cristo, libertinos, avarentos,


mentirosos, fazem comércio de vidas, são carnais, seguem paixões imundas, são rebeldes,
atrevidos, obstinados, como animais irracionais, blasfemos, injustos, luxuriosos,
enganadores, adúlteros, insaciáveis, malditos, vaidosos, arrogantes, inconstantes, escravos
da corrupção (2.1,2,3,10,12,13,14,18,19; 3.3). Tais palavras variam um pouco de uma
versão bíblica para outra.

- Apesar de todo esse conteúdo maligno, tais homens apresentam uma aparência positiva.
Afinal, são líderes, são mestres, e prometem liberdade aos seus seguidores (2.1,2,19). São
fontes... sem água. São nuvens .... também sem água (II Pd.2.17; Jd.12). O aspecto é
promissor mas não produzem nada de positivo.

Dentre tantas características apresentadas, percebemos que se destacam as atitudes desses


falsos mestres em relação à autoridade, ao dinheiro e ao sexo. Eles são rebeldes, avarentos e
adúlteros, entre outros adjetivos a estes relacionados.

O ponto de chegada desse caminho está demonstrado pelas expressões:

 "... a sentença..." (2.3).


 "... a perdição..." (2.3).

 "... inferno..." (2.4).

 "... cadeias da escuridão..." (2.4).

 "... juízo.." (2.4).

 "... destruição..." (2.6).

 "... o dia do juízo, para serem castigados." (2.9).

 "... a negridão das trevas" (2.17).

 "... o último estado pior do que o primeiro" (2.20).

 "... juízo e destruição..." (3.7).

3 - A segunda vinda de Cristo e o juízo – 3.1-18.

Pedro encerra sua obra com um capítulo escatológico. Após ter falado sobre dois
caminhos, dois tipos de vida, o apóstolo fala sobre a segunda vinda de Cristo (3.4) e,
novamente, trás à tona o tema do juízo, comparado ao dilúvio dos dias de Noé (3.7). Está
em destaque a aparente demora da "parousia".

Pedro adverte que o tempo de Deus é diferente do nosso. "Um dia para Deus é como
mil anos e mil anos como um dia". (3.8).

Sobre a segunda vinda precisamos de duas atitudes: fé e paciência. A aparente


demora de Deus é manifestação da sua misericórdia. Ele está dando tempo para muitos
ainda se arrependam e se convertam (3.9).

Enquanto que o dilúvio foi a destruição dos ímpios e suas obras através da água,
Pedro nos diz que o fim desta nossa era se dará por meio de um "dilúvio de fogo". O
apóstolo "desenha" um cenário "apocalíptico" iluminado pelas chamas da ira divina. O fogo
abrasará (3.10,12), destruirá (3.7) e fará derreter (3.12). Serão atingidos: os céus
(3.7,10,12), a terra (3.7,10) e todas as coisas que nela há (3.10-11). Semelhantemente ao
texto de Apocalipse 21.1, Pedro também fala de novos céus e nova terra (II Pd.3.13;
Is.65.17).

  

Primeira Epístola de João


 

AUTORIA – João, o apóstolo. Seu nome não é mencionado em suas três epístolas. Não
obstante, sua autoria foi confirmada por Policarpo, Papias, Eusébio, Irineu, Clemente de
Alexandria e Tertuliano. O nome "João" significa "graça de Deus". Era judeu, pescador
(Mt.4.21), irmão de Tiago, filho de Zebedeu e Salomé (Compare Mt.27.56 e Mc.15.40). Foi
chamado de discípulo amado – Jo.13.23; 19.26; 21.20. Foi o discípulo mais íntimo do
Mestre. Até no momento da crucificação, João estava presente. Isso mostra sua disposição
de correr risco de vida para ficar ao lado de Jesus. Apesar de ter fugido no momento da
prisão de Cristo, João voltou pouco tempo depois.

Jesus chamou João e Tiago de boanerges, "filhos do trovão", referindo-se ao seu


temperamento indócil, tempestuoso, violento (Mc.3.17; Mc.9.38; Lc.9.54).

São várias as citações a respeito de João nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Seu
nome é omitido no seu evangelho (João 20.2; 19.26; 13.23; 21.2). Encontram-se referências
ao apóstolo também em At.4.13; 5.33,40; 8.14; Gl.2.9; 2 Jo.1; 3 Jo.1; Apc.1.1,4,9. Na
segunda e na terceira epístola, ele se apresenta como "o presbítero". Podendo se apresentar
como apóstolo, demonstrou humildade ao utilizar título mais simples. Em Apocalipse,
apresenta-se como "servo".
Após o exercício do seu ministério em Jerusalém, João foi pastor em Éfeso, onde morreu
entre os anos 95 e 100. Policrates (ano 190), bispo de Éfeso, escreveu: "João, que se
reclinara no seio do Senhor, depois de haver sido uma testemunha e um mestre, dormiu em
Éfeso."

Palavras chave: Conhecimento (ou saber) , amor e comunhão.

Data de escrita da primeira epístola – Final do primeiro século, entre os anos 95 e 100.

Local de origem – Éfeso

Destinatários – Por não conter saudações, despedidas ou menção de nomes, tem-se


considerado que a carta foi destinada à igreja em geral. O apóstolo trata carinhosamente os
destinatários como "meus filhinhos" (2.1,18,28; 3.7,18; 4.4; 5.21) e "amados" (3.2,21;
4.1,7,11). Isso parece indicar que, embora não tenha vinculado a epístola a uma
comunidade específica, o autor tem em mente pessoas conhecidas, as quais seriam as
primeiras a receberem aquela mensagem.

  

CARACTERÍSTICAS

A carta apresenta denúncia contra os falsos e incentivo aos verdadeiros cristãos. O autor é
incisivo, direto, totalmente convicto. Sua afirmações são muito fortes no sentido de apontar
o erro e a verdade.

O propósito da carta está bem definido com também vimos no evangelho (João 20.31). A
epístola foi escrita:

1 - "Para que a nossa alegria seja completa" - 1.4

2 - "Para que não pequeis" - 2.1.

3 - Para advertir contra os enganadores - 2.26.

4 - "Para que saibais que tendes a vida eterna" - 5.13.

Entendemos que o autor estava bastante preocupado com a igreja, em seu estado presente e
futuro. Os demais apóstolos já haviam morrido e falsos mestres apareciam por toda parte.
Alertando os irmãos, o apóstolo ficaria mais tranqüilo e sua alegria seria completa (1.4).
Seu alerta é contra o pecado (2.1) e contra as heresias (2.26). São duas portas para o diabo
entrar nas vidas e nas igrejas. Embora as duas coisas estejam intrinsicamente ligadas, as
heresias apresentam um elemento muito perigoso. Todo tipo de pecado deve ser evitado,
mas se, eventualmente, cometermos algum, confessaremos e seremos perdoados (1.7,9;
2.1). A heresia entretanto, constitui-se num caminho de afastamento de Deus. A heresia, do
tipo mencionado por João, leva à apostasia. Então, tem-se uma situação muito perniciosa
em que a pessoa está errada mas pensa que está certa. Trata-se de um estado de pecado sem
reconhecimento, sem confissão, sem arrependimento e, consequentemente, sem perdão.
Aquele que passa a crer numa doutrina contrária à cruz, como pode ser perdoado? Não é
que Deus se recuse a perdoá-lo, mas a própria pessoa não acredita na única solução divina,
que é o sacrifício de Cristo. A reversão desse quadro é possível, mas muito difícil. O
melhor é a prevenção contra as heresias e isso se faz através do conhecimento e apego à
Palavra de Deus.

CENÁRIO OBSERVADO POR JOÃO

A situação da igreja inspirava cuidados. Notamos isso pelo que se lê nas cartas às sete
igreja da Ásia (Apc.2 e 3). As heresias grassavam em muitas comunidades. Em Apocalipse,
livro escrito na mesma época, João menciona as expressões "sinagoga de Satanás" (Ap.2.9),
"nicolaítas" (Ap2.6,15), "doutrina de Balaão"(Ap.2.14), etc.

O gnosticismo, sistema que mistura idéias filosóficas, crenças judaicas e cristãs, era uma
das principais fontes de heresias da época. Assim, muitos cristãos se tornaram gnósticos.
Criam em Jesus mas negavam a realidade de sua encarnação e morte. O fato de se
denominarem cristãos criava uma situação confusa. Quem eram os verdadeiros cristãos? Os
que criam de uma forma ou os que criam de outra?

João observou a necessidade de identificação, discernimento, definição e posicionamento.


Observemos as perguntas-chave que autor apresenta:

1 – "Quem é o mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo?" (I Jo.2.22).

2 – "Quem é o que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é o Filho
de Deus?" (I Jo.5.5).

O autor se mostra bastante interessado em mostrar "QUEM É O QUÊ". São usados


pronomes demonstrativos e indefinidos para apresentar especificações bem definidas que
permitem identificar os indivíduos em relação a Cristo. João usa repetidamente a fórmula:
"Quem não faz isso não é aquilo". ou "Quem faz tal coisa é outra coisa".

Aquele - 2.6,11,17,22,23,26,29; 3.4,6,17; 5.1,5,16,18 (Veja também II João 1.9).

Alguém – 2.1,15,27; 4.20; 5.16.

Quem – 4.7,8,9,10.

O mentiroso e o verdadeiro precisam ser identificados. Essa é a missão de João em sua


primeira epístola. O autor ajuda a identificar os personagens do cenário e a situação dos
próprios leitores no contexto da verdade e da mentira. O exemplo clássico utilizado é o de
Caim e Abel (I Jo.3.11-12), representando dois grupos de pessoas que estavam dentro da
igreja. O autor identifica quem está em comunhão com Deus e quem não está. No quadro a
seguir, listamos diversas expressões da epístola através das quais se traça uma linha
divisória entre os dois grupos. Vamos chamá-los, alegoricamente, de "grupo de Abel" e
"grupo de Caim".

"Grupo de Abel" "Grupo de Caim"

Vida (1.1,2; 2.16,25; 3.14,15,16; Morte (3.14; 5.16-17)


5.11,12,13,16,20)
Mentira – 1.6,10; 2.4,21,22,27; 4.20; 5.10
Verdade – 1.6,8; 2.4,5,8,21,27; 3.18,19; 4.6;
5.7,20. Erro – 4.6 Engano - 1.8; 2.26; 3.7

Verdadeiro (2.8,27; 5.20) Falso ou mentiroso (2.22)

Espírito da verdade (4.6) espírito do erro (4.6)

Cristo (1.3, etc) Anticristo (2.18,22)

Amor ao irmão (2.10) Amor ao mundo (2.15)

Sofre ódio do mundo (3.13) Ódio ao irmão (2.11; 3.15)

Luz - 1.5,7; 2.8,9, 10. Trevas – 1.5,6; 2.8,9,11.

É possível passar de um lado para o outro. Esse trânsito pode ser chamado
conversão ou, no sentido contrário, apostasia. João disse que "passamos da morte para a
vida." (3.14). E o seu cuidado era para que não acontecesse o processo contrário com
alguns irmãos que, envolvidos pela heresia, pudessem passar da verdade para a mentira.

 
 

IDENTIFICANDO A DOUTRINA, O MESTRE E O ESPÍRITO

A heresia é uma doutrina errada, mas isso pode não estar tão claro no início. O que
chega até nós é simplesmente uma doutrina. Esta deve ser então identificada. Por meio dos
parâmetros encontrados na epístola, o autor identifica a doutrina, o mestre e o espírito que
está por trás (2.22-23, 4.1-6). As chaves identificadoras são:

 Relação com Cristo (2.22-23);


 Relação com os irmãos. (3.10,17).

 Relação com o mundo (2.15).

Estes são os "instrumentos" que nos farão identificar a verdade e a mentira. Tais
indicadores são complementares entre si. Se alguém negar que Cristo é o Filho de Deus,
estará reprovado. Não está na verdade. Se alguém afirma que Cristo é o Filho de Deus mas
nega sua encarnação e morte, estará reprovado. Se alguém diz ter uma fé correta a respeito
de Cristo, então o próximo teste é a relação com os irmãos. Se a pessoa odeia os irmãos ou
lhes nega auxílio nas necessidades, então estará reprovada. Se a pessoa ama o mundo, anda
segundo o mundo, vive de modo agradável ao mundo, pecando habitualmente, então está
do lado da mentira. A relações com os irmãos e com o mundo constituem evidências
visíveis do tipo de relação que temos com Cristo, uma vez que esse vínculo é espiritual e
invisível.

O objetivo dessas colocações não é sairmos julgando as pessoas dentro da igreja. Em


primeiro lugar, cada um deve julgar e purificar a si mesmo (I Jo.3.3; 5.10; I Cor.11.28,31;
II Cor.13.5; II Jo.1.8). Depois, é preciso que saibamos julgar as profecias e as doutrinas que
recebemos (I Cor.14.29; I Tess.5.20-21; I Cor.10.15). Se uma doutrina é contrária a Cristo,
contrária à comunhão dos irmãos ou favorável ao mundanismo, então deverá ser rejeitada.
Finalmente, a vida de um mestre deverá ser avaliada para que se decida sobre a sua
doutrina. "Pelos seus frutos os conhecereis." (Mt.7.15-16). Muitos irmãos podem apresentar
uma série de erros e até mesmo pecados por uma questão de imaturidade, fraqueza,
ignorância, etc. Não devem ser alvos de julgamentos mas de orientação. O objetivo de João
era alertar contra aqueles que se colocavam como mestres da igreja.

ESTAR E PERMANECER - POSIÇÃO E PERSEVERANÇA

 
No cenário da verdade e da mentira precisamos nos localizar. Onde estamos? João usa
diversas vezes o verbo "estar". Em algumas delas, ele se preocupa em "localizar"
espiritualmente as pessoas. Se guardamos a palavra e amamos os irmãos, isso indica que
"estamos" em Cristo. Quem não ama seu irmão, "está" nas trevas. Finalizando, o autor diz
que "estamos" em Cristo, que é o verdadeiro Deus. (I Jo.2.5,6,9; 5.20).

Podemos ter nossa posição muito bem definida. Entretanto, vamos mantê-la? Um outro
verbo muito importante para João é "permanecer". Lembre-se do capítulo 15 do evangelho
de João: "Permanecei em mim e eu permanecerei em vós". "Se alguém permanece em mim
e eu nele, esse dá muito fruto." "Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora."
"Se vós permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós pedireis o que
quiserdes e vos será feito." "Permanecei no meu amor...", etc.

Na primeira epístola, a ênfase continua nos seguintes textos: 2.10,14,17,19,24,27,28;


3.6,9,14,15,17,24; 4.12,13,15,16. Em todos esses versículos aparece o verbo "permanecer".
Isso demonstra a preocupação do autor com a perseverança dos irmãos no caminho da
verdade. (Veja também II João 1.2,9).

COMBATE AO GNOSTICISMO

João se mostrou bastante combativo em relação ao gnosticismo. Esta palavra vem


do termo grego "gnosis" que significa "conhecimento". Os gnósticos criam e ensinavam
que a salvação da alma dependia do conhecimento de alguns mistérios só revelados aos que
participavam de seus rituais de iniciação. O apóstolo usou então a mesma palavra,
"conhecimento", para combater as heresias gnósticas. Tanto no evangelho como na
primeira epístola, ele mostrou o que realmente importa conhecer: A verdade, que é o
próprio Cristo e o amor, que é o próprio Deus.

O conhecimento sem amor pode causar tragédias. A bomba atômica é um exemplo clássico.

O verbo "conhecer" aparece nos seguintes versículos: I Jo. 2.3,13,14,18,20;


3.1,6,16,19,20,24; 4.2,6,7,8,13,16; 5.2.20. (II João 1.1).

A carta destaca também a palavra "luz", que também é um símbolo do


conhecimento: 1.5,7; 2.8,9, 10.

Outro verbo similar é o "saber". Essa palavra tem um sentido muito forte, pois não admite
dúvida, insegurança, medo nem ignorância. O comentário da Bíblia Thompson chama a
primeira epístola de João de "a carta das certezas". O autor usa o verbo "saber" de uma
forma bastante clara e determinada. (I Jo.2.3,5,11,21,29; 3.2,5,14,15; 5.15). Ele diz:
"Sabemos que somos de Deus." Não estamos perdidos nem confusos. SABEMOS quem
somos, onde estamos e para onde vamos.

O gnosticismo afirmava que o mal residia na matéria. Portanto, negavam que Deus
pudesse se encarnar. Em relação a Cristo, João escreveu: "nós ouvimos, vimos,
contemplamos, nossas mãos tocaram..." (I Jo.1.1-3). Ou seja, o apóstolo estava afirmando
insistentemente que o corpo de Cristo era matéria, pois poderia ser tocado, como de fato o
foi. Não se tratava de um espírito, uma aparição, como os gnósticos afirmavam. (I Jo.4.2;
5.6)

OUTRAS PALAVRAS, EXPRESSÕES E CONCEITOS EM DESTAQUE

VIDA - 1.1,2; 2.16,25; 3.14,15,16; 5.11,12,13,16,20

Vida de Deus para nós por meio de Cristo.

MUNDO - nosso posicionamento: não amamos o mundo; somos odiados por ele;
haveremos de vencê-lo (I Jo.2.2,15,16,17; 3.1,13,17; 4.1,3,4,5,9,14,17; 5.4,5,19).

VERDADEIRO - Mandamento – 2.8. Luz – 2.8. Unção – 2.27. Jesus – 5.20. Deus – 5.20.

AMOR ( e verbo amar) 2.5,10,12,15; 3.1,10,14,16 (x Jo.3.16). 3.17,18,23;


4.7,8,9,10,11,12,16,17,18,19,20,21; 5.1,2,3. (Obs. II Jo.1,3,6 III Jo.1,6,7 Apc.2.3,4,19;
3.9,19). São da autoria de João alguns dos mais famosos versículos bíblicos sobre o amor:
"Deus é amor" e "Porque Deus amou o mundo de tal maneira..."

Na primeira epístola, o autor usa o verbo amar em diversas conjugações: ama,


ameis, amamos, amemo-nos, amado, amados, amou, amar-nos, amo, amar, ame, amemos.

O amor vem de Deus, através de Jesus. "Ele nos amou primeiro". Daí em diante, o amor
deve ter livre curso em direção aos irmãos, mas não em direção ao mundo. O amor deve
"circular como sangue" no Corpo de Cristo, que é a igreja.

COMUNHÃO - 1.3,6,7.

MANDAMENTO(s) - 2.3,4,7,8; 3.22,23,24; 4.21; 5.2,3.

O QUE SE DIZ E O QUE SE É - 1.6,8,10; 2.4,6,9; 4.20;

MANDAMENTOS NEGATIVOS

NÃO AMEIS o mundo - 2.15.


NÃO CREIAIS a todo espírito – 4.1.

O amor e a fé só são positivos quando bem direcionados.

  

BIBLIOGRAFIA

LOHSE, Eduard, Introdução ao Novo Testamento – Editora Sinodal.

TIDWELL, J.B., Visão Panorâmica da Bíblia – Edições Vida Nova.

MEYER, F.B., Comentário Bíblico Devocional – Editora Betânia.

TURNER, Donald D., Introdução do Novo Testamento - Imprensa Batista Regular.

CULLMANN, Oscar, A Formação do Novo Testamento - Ed. Sinodal.

ELWELL, Walter A. , Manual Bíblico do Estudante - CPAD.

BOYER, Orlando S., Pequena Enciclopédia Bíblica – Ed. Vida.

BERKHOF, Louis – Teologia Sistemática – Editora Luz para o Caminho.

Conciso Dicionário Bíblico – Imprensa Bíblica Brasileira

Bíblia de Referência Thompson - Tradução de João Ferreira de Almeida - Versão


Contemporânea - Ed. Vida

Bíblia Sagrada – Tradução de João Ferreira de Almeida – Versão Revista e Atualizada -


Sociedade Bíblica do Brasil.

CHAMPLIN, R.N. ; BENTES, J.M. - Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo -

Uma Análise da Expressão "Desceu ao Hades" no Cristianismo Histórico – Heber Carlos de


Campos.

Você também pode gostar