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A escolha dos materiais na arquitetura em tempos de Covid-19

A escolha dos materiais na arquitetura em tempos de Covid-


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A escolha dos materiais na arquitetura em tempos de Covid-19, Products with natural germ-
repelling properties—like certain woods and copper—and those with textures that help avoid
bacterial growth will be common materiality considerations for commercial interiors specification
following the COVID-19 pandemic.. Image Courtesy of Marin Architects

Escrito por Amanda Schneider | Traduzido por Vinicius Libardoni 31 de Julho de 2021

No artigo desta semana publicado pela Metropolis Magazine, a presidente do ThinkLab Amanda
Schneider nos convida a refletir sobre “como nós, arquitetos e arquitetas, podemos colaborar com a
criação de espaços interiores mais saudáveis e seguros em tempos de pandemia”. Questionando vários
aspectos relacionados à higienização e desinfecção dos espaços habitáveis, a autora tangencia uma
série de questões relativas à materialidade na arquitetura, apontando possíveis soluções para quem
busca criar espaços mais seguros e saudáveis.

Em meio ao caos causado pela pandemia ao longo dos últimos anos, enquanto a maioria das
empresas teve de enfrentar sérios desafios para manter-se de pé, algumas poucas industrias
registraram um aumento considerável em suas vendas, florescendo e expandindo a uma velocidade
jamais vista antes—obviamente estamos falando do mercado de produtos de limpeza. Em novembro
de 2020, a Clorox Company, um dos principais fabricantes de produtos de limpeza dos Estados Unidos,
registrou o trimestre mais lucrativo da empresa nas últimas duas décadas, impulsionando um ganho
de até 36% no valor de suas ações na bolsa de valores ao longo daquele ano. Isso porque, da noite
para o dia, cada um de nós passou a tomar uma série de novas precauções em relação à higienização
dos espaços onde vivemos, dos objetos que carregamos consigo e todas aquelas superfícies nas quais
apoiamos nossas coisas.

Entretanto, não são todas as superfícies que podem ser lavadas regularmente com água sanitária ou
outros produtos abrasivos. De fato, a maioria das superfícies em espaços comerciais e empresariais,
excluindo aquelas que se encontram em ambientes hospitalares, não podem nem devem ser lavadas
com frequência. E a medida que o número de pessoas vacinadas continua a aumentar, e pouco a
pouco vamos retomando nossas antigas práticas cotidianas, muito se fala sobre como adaptar nossos
espaços de convívio e trabalho para que os mesmos possam ser mais seguros e higiênicos em tempos
de pandemia. Então, o que é exatamente que os comerciantes e empresários precisam mudar para
garantir uma maior segurança de seus clientes e empregados? E como é que esta nova situação recai
sobre o trabalho dos arquitetos e designers de interiores, ou seja, o que é que deve mudar na forma
como projetamos e especificamos os materiais e revestimentos de nossos espaços interiores? Para
responder a estas perguntas, nos encontramos com Walter Marin, fundador e diretor da Marin
Architects, escritório com sede em Nova Iorque, quem procura esclarecer estas dúvidas nos contando
um pouco mais sobre como a sua empresa incorporou os novos protocolos de critérios de segurança
recomendados pela Organização Mundial da Saúde, e como as pesquisas do ThinkLab têm contribuído
com este processos e adaptação dos processos de projeto e especificação de materiais em seu
escritório.

O que precisa mudar?

Quando no final do ano de 2020 o ThinkLab publicou o resultado de sua primeira pesquisa sobre o
impacto da pandemia no trabalho de arquitetos e designers, 62 por cento dos
entrevistados acreditavam que a pandemia aumentou muito a necessidade de se especificar materiais
laváveis e assépticos em espaços interiores, sendo que 55 por cento deles disseram que passaram a
especificar  materiais antimicrobianos para o acabamento de superfícies depois do início da pandemia
e 48 por cento, começaram a optar por materiais antivirais e antibacterianos.

Isso significa dizer que, o atual debate sobre a questões da materialidade na arquitetura centra-se
substancialmente em critérios de limpeza e higienização. Antes do início da pandemia, os materiais de
acabamento e revestimento de superfícies comumente vinham acompanhados de especificações
básicas de limpeza—mas praticamente nenhum deles contava com instruções para a higienização. De
acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, “a limpeza é o processo
responsável pela remoção do pó, germes, sujeira e demais impurezas de superfícies ou objetos”
enquanto a “higienização é um método de limpeza empregado para desinfectar estas
mesmas superfícies ou objetos de microorganismos, bactérias e vírus”. Isso significa dizer que, “a
higienização serve para minimizar o risco de contágio entre as pessoas que utilizam um
determinado espaço, conforme rigorosos critérios e requisitos de saúde pública”.

Em outras palavras, higienizar significa garantir que as pessoas que utilizam estes espaços estejam
seguras. Por outro lado, o impacto que estes novos critérios e padrões de segurança e saúde pública
poderão ter na materialidade de nossos espaços construídos—e na arquitetura de modo geral—ainda
é bastante imprevisível. Somado a isso, a aplicação de muitos dos produtos de limpeza disponíveis no
mercado nem sempre é recomendada, sendo que muitos projetistas até evitam sugerir a utilização de
produtos químicos além de serem contra a especificação de materiais antivirais ou antimicrobianos
por questões de sustentabilidade na industria da construção civil.

E qual deve ser o próximo passo?

Em meio a este oceano de incertezas, Walter Marin descobriu que alguns projetistas estão procurando
especificar materiais que repelem bactérias e germes naturalmente. Embora o cobre e a madeira
sejam conhecidos por sua qualidade antibacteriana e antiviral, Marin revela que a textura de uma
determinada superfície é tão importante quanto o material com que ela é feita—algo importante para
manter em nosso horizonte quando tratamos de especificar e detalhar materiais e acabamentos em
nossos projetos.

“Muitos arquitetos e arquitetas começaram recentemente a estudar a ciência por trás da pele de


tubarão”, explica ele. “Os tubarões costumam nadar em águas muito mais poluídas que os
demais peixes e mamíferos do oceano, isso porque a pele do tubarão possui uma textura única e
diferente das demais. Essa textura em forma de telha minimiza a área de superfície exposta,
impedindo de alguma maneira a proliferação de bactérias e microorganismos vivos. Esta descoberta
recente, por incrível que pareça, ajudou a indústria dos materiais a desenvolver novas soluções
antibacterianas. Neste momento em que todos estamos procurando soluções práticas relativas a
materiais e superfícies, o conceito da pele de tubarão virou um fenômeno entre os profissionais das
industrias da arquitetura e do design.”

Outra abordagem mais concreta, é a eliminação da maioria das áreas de superfície de alto toque. “As
portas sem maçanetas são uma realidade em ambientes hospitais há décadas”, diz ele. “Agora,
estamos vendo como outras indústrias e empresas começam a investir em soluções similares,
incorporando sensores de presença e portas automatizadas por toda parte.”

E sobre a qualidade do ar?

Além das superfícies de toque, Marin nos lembra que, no futuro próximo, precisaremos considerar a
qualidade do ar como uma das principais prioridades em nossos projetos, isso porque é pelo ar que
o vírus circula e se propaga. “Como a maioria dos arquitetos nunca trabalhou com projetos
hospitalares, eles não estão acostumados a pensar sobre os riscos de contágio em seus projetos de
arquitetura”, diz ele. “Quando projetamos um hospital ou ambiente clínico similar, uma das
principais considerações em que se ater é a qualidade do ar e os mecanismos utilizados para controlar
a sua circulação. Ao caminhar por um hospital, é muito difícil sentir qualquer cheiro, é um ambiente
extremamente esterilizado, isso porque o ar está sendo filtrado e renovado constantemente. A longo
prazo, acredito que estas soluções serão também incorporadas em muitos outros setores”.

Dado que o ciclo da industria da construção civil tende se renovar a cada três anos, Marin diz que
podemos esperar para muito em breve a instalação de filtros de ar hospitalares em muitos dos novos
projetos que estão saindo do papel hoje, e sem dúvida, esta pode ser uma ótima solução e que nos
ajudará a volta à normalidade com mais segurança.

“Acredito que, no final das contas, o que aprendemos com tudo isso é que a atenção aos detalhes e
à materialidade é crucial em nossa profissão e assim será por um bom tempo senão para sempre”, diz
ele. “É chegada a nossa hora de agir e, especificar cuidadosamente as propriedades certas dos
materiais, incorporar sistemas mais seguros de circulação de ar, e trabalhar com a consciência de que
também somos responsáveis pela saúde de todos.”

Este artigo foi publicado originalmente em Metropolis.

Convidamos você a conferir a cobertura do ArchDaily relacionada ao COVID-19, ler nossas dicas e
artigos sobre produtividade ao trabalhar em casa e aprender sobre recomendações técnicas de
projetos para a saúde. Lembre-se também de checar os conselhos e informações mais recentes sobre
o COVID-19 no site da Organização Pan-Americana da Saúde OPAS/OMS Brasil.

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