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FACULDADE SETE DE SETEMBRO – FASETE

LICENCIATURA EM LETRAS – HABILITAÇÃO EM


PORTUGUÊS

AIANE TÁCIA DA SILVA

ASPECTOS INTERTEXTUAIS DA OBRA AUTO DA


COMPADECIDA DE ARIANO SUASSUNA

PAULO AFONSO - BA
DEZ / 2013
AIANE TÁCIA DA SILVA

ASPECTOS INTERTEXTUAIS DA OBRA AUTO DA


COMPADECIDA DE ARIANO SUASSUNA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para


a obtenção do título de Licenciatura em Letras
com Habilitação em Português e Inglês, da
Faculdade Sete de Setembro - FASETE, como
requisito para avaliação conclusiva.

Orientadora: Prof. Msc. Maria do Socorro P.


Almeida.

PAULO AFONSO - BA
DEZ /2013
PAULO AFONSO - BA
DEZ /2013
Dedico este trabalho aos meus pais - Ana Neide e
Antônio Francisco, que me compreenderam e
sempre estiveram ao meu lado, em todos os
momentos, principalmente na realização desse
processo de aprendizagem.
AGRADECIMENTO

O Deus, pelo dom da vida e sabedoria infinita.

Aos meus pais, Ana Neide Matias Silva e Antônio Francisco da Silva; aos meus
irmãos Aline Tarcísia e Alexandro Matias que incentivaram meus estudos e não me
deixaram desistir dos meus sonhos.

Ao meu namorado, Gilmar Bezerra Sandes por incentivar e colaborar na execução


deste projeto.

Aos meus amigos e colegas, pelo incentivo nos momentos de dificuldades e por
terem acreditado e me ajudado durante esse período da minha vida.

À minha orientadora, Maria do Socorro P. Almeida por compartilhar e colaborar seu


conhecimento maior sobre o assunto.

A todos os meus professores e coordenador do curso, por terem proporcionado um


maior aperfeiçoamento dos meus conhecimentos.

À faculdade sete de setembro, que proporcionou a realização deste curso.

A todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para realização deste trabalho.


Acho que o dever de todos nós, escritores
brasileiros, é colocar, mesmo que a
realidade seja dura e cruenta, um sonho
mais belo e alto que possa mover o povo,
porque que se perdermos até a esperança
não haverá mais caminho para nós.

Ariano Suassuna
SILVA, Aiane Tácia da. Aspectos Intertextuais da Obra Auto da Compadecida de Ariano
Suassuna. 2013. Monografia (Licenciatura em Letras - Graduação). Faculdade Sete de Setembro,
FASETE. Paulo Afonso-BA.

RESUMO

Este trabalho de pesquisa tem como objetivo a análise intertextual da obra Auto da
Compadecida, de Ariano Suassuna. Alguns trechos da peça foram utilizados na
comparação com outros que lhe deram origem. Para isto, emprega-se como
metodologia o estudo analítico da obra Auto da Compadecida e de teóricos
relacionados à área e das obras que serviram de fonte para Suassuna. Para o
melhor desenvolvimento da pesquisa, estão relacionadas da seguinte forma: O
primeiro capítulo buscou apresentar conceitos e considerações sobre o termo
intertextualidade e os tipos de intertextualidade literária. No segundo capítulo
apresenta dados biográficos sobre o autor e fortuna crítica sobre a obra. E
finalmente o último capítulo apresenta a análise comparativa das intertextualidades
presentes na obra com outras que de alguma forma lhe influenciaram. O tema é
relevante por contribuir, tanto para uma reflexão critica social, quanto para aumentar
a valorização da Literatura Nordestina favor da identidade nacional comum em todos
os habitantes de sertão Nordestino.

Palavras-chave: Intertextualidade. Ariano Suassuna. Estilo Literário. Critica Social.


SILVA, Aiane Tácia da. Intertextual Aspects of the Auto da Compadecida work by Ariano
Suassuna. 2013. Monograph (Bachelor of Arts - Graduation). Sete de Setembro College, FASETE.
Paulo Afonso-BA.

ABSTRACT

This research work aims intertextual analysis of the Auto da Compadecida work, by
Ariano Suassuna. Some excerpts of the play were used in comparison with others
who originated it. For this, it is used as methodology the analytical study of the Auto
da Compadecida work and theorists related to the area and works that served as the
source for Suassuna. For a better research development, are related as follows: the
first chapter aims to present concepts and considerations term about intertextuality
and the types of literary intertextuality. The second chapter presents biographical
information about the author and critical merit of the work. And finally the last chapter
presents a comparative analysis of intertextuality present in the work with others that
somehow influenced him. The topic is relevant for contributing both to reflect social
criticism, and to increase the appreciation of the Northeastern Literature in favor of
common national identity in all inhabitants of Northeastern backwoods.

Keywords: Intertextuality. Ariano Suassuna. Literary Style. Social Criticism.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

1 INTERTEXTUALIDADE: CONCEITOS E CONSIDERAÇÕES........................... 12


1.1 Conceituando Intertextualidade ................................................................ 12
1.2 Tipos de Intertextualidade ......................................................................... 18

2 ARIANO SUASSUNA: DADOS BIOGRÁFICOS E FORTUNA CRÍTICA. ......... 27


2.1 Ariano Suassuna: Estilo e Estética. ......................................................... 29

3 A INTERTEXTUALIDADE NA OBRA O AUTO DA COMPADECIDA. ............... 34


3.1 Intertextualidade entre Ariano Suassuna e Leandro G. Barros. ............ 36
3.2 Intertextualidade Estilística do Julgamento Celeste. .............................. 49
3.3 Intertextualidade da Compadecida. .......................................................... 52
3.4 Interferências de João Grilo. ..................................................................... 56

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 57

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 59
LISTA DE ILUSTRAÇÃO

Figura 1- Obra Mona Lisa ........................................................................................ 14


Figura 2- Mona Lisa MonBijou. ............................................................................... 15
Figura 3 - Capa do Livro Auto da Compadecida. .................................................. 21
Figura 4 – Caricatura da Mini Série da Globo. ....................................................... 21
Figura 5 – Capa do Catalogo de A Pedra Do Reino. ............................................. 28
Figura 6 - Cordel de Leandro de Gomes Barros.................................................... 41
10

INTRODUÇÃO

Diante da realidade pós-moderna na literatura, em que se percebe um hibridismo


artístico que se funde com varias expressões de artes, inclusive na literatura dos
tempos anteriores e atuais é perceptível os traços intertextuais em todas as formas
de artes. Assim, é interessante comentar como estão representados os aspectos
intertextuais na obra Auto da Compadecida de Ariano Suassuna.

Os aspectos intertextuais políticos, religiosos, modernos e populares da obra em


questão contribuíram para inúmeras análises críticas e sociais para uma sociedade
acadêmica contemporânea, além de uma vasta riqueza cultural e teórica.

Para entender o processo da pesquisa, foi necessário recorrer ao estudo e análise


de textos utilizados na criação da peça. Entre elas as principais encontradas estão:
O enterro do cachorro, trecho do cordel O dinheiro, de Leandro Gomes de Barros; O
cavalo que defecava dinheiro, de Leandro Gomes de Barros; O Auto da Barca do
Inferno, de Gil Vicente; O cangaço e O castigo da Soberba, de Ariano Suassuna. A
partir delas conhecemos melhor a criação literária utilizada pelo autor, para criar esta
repercutida obra.

A metodologia utilizada neste trabalho é explicativa, por que visa identificar os


fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos, nesse
caso o estudo está nos aspectos sociais, que requer o uso do método observacional
dos personagens envolvidos. Quanto aos procedimentos, essa pesquisa é
bibliográfica por que será fundamentada em estudos de teóricos com os de: KOCH
(2004); FILHO (2005); IVANDA e ALMEIDA (2008); KRISTEVA (1974) e FARACO
(1999) entre outros. Quanto à abordagem é qualitativa, porque irá analisar a
interpretação das ações da obra e ou sua atribuição de significados, utilizando a
análise dos dados intuitivamente, bem como identificar a crítica social envolvida nos
acontecimentos da peça.

Para melhor compreensão desta pesquisa, foi dividida nos seguintes capítulos: o
primeiro capítulo buscou apresentar conceitos e considerações sobre o termo
intertextualidade e os tipos de intertextualidade literária. No segundo capítulo
11

apresenta dados biográficos sobre o autor e fortuna critica sobre a obra dele. E o
último capítulo apresenta a análise comparativa das intertextualidades presentes na
obra com outras que, de alguma forma, lhe influenciaram.

Podemos concluir que este trabalho visa aumentar a valorização da Literatura


Nordestina através de uma análise dos aspectos intertextuais envolvidos na obra
Auto da Compadecida, considerada uma das obras mais conceituadas de Ariano
Suassuna. Sua obra atemporal proporciona uma reflexão a favor da identidade
nacional comum em todos os habitantes de sertão Nordestino.
12

1 INTERTEXTUALIDADE: CONCEITOS E CONSIDERAÇÕES

1.1 Conceituando Intertextualidade

Para entendermos a origem do termo teremos que levar em conta a trajetória


histórica em outros conceitos previamente existentes como: dialogismo,
intertextualidade. O conceito de dialogismo é anunciado na obra de Mikhail Bakhtin,
teórico russo que estudou o conceito em suas diversas manifestações na linguagem.

A orientação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo


discurso. Trata-se da orientação natural de qualquer discurso vivo.
Em todos os seus caminhos até o objeto, em todas as direções, o
discurso se encontra com o discurso de outrem e não pode deixar de
participar, com ele, de uma interação viva e tensa. (BAKHTIN, 1988
apud FIORIN, 2006, p.18)

Percebe-se que o fenômeno intertextual se dá naturalmente em qualquer forma de


discurso, na interação de ideias que se reporta na forma oral, escrita e nas demais
formas de arte.

As propriedades do dialogismo tornaram-se, posteriormente, focos de estudos para


pesquisadores como Julia Kristeva, Robert Stam, Diana da Luz e José L. Fiorin,
adquirindo também a denominação de intertextualidade. O dialogismo para Bakhtin
é “a língua, em sua totalidade concreta, viva, em seu uso real, tem a propriedade de
ser dialógica.” (FIORIN, 2006, p. 18). Ainda segundo Bakhtin o único indivíduo cujo
discurso pode evitar a orientação dialógica fora Adão mítico ao chegar ao paraíso.
Ao pensar na ideia podemos observar que o único que não sofreu influência
dialógica foi Adão, o primogênito de Deus ao chegar ao paraíso, por ter sido o
primeiro a iniciar a criação da linguagem humana.

O mundo que nos cerca é repleto de intertextos, seja na música, nas artes ou na
literatura, cabe somente o conhecimento profundo para sua reflexão. De acordo com
Fiorin:

O dialogismo são as relações de sentido que se estabelecem entre


dois enunciados. (...) Não há nenhum objeto que não apareça
cercado, envolto, embebido em discursos. Por isso, todo discurso
que fale de qualquer objeto não está voltado para a realidade em si,
mas para os discursos que o circundam. (2006, p.19)
13

O diálogo pode ser considerado como a primeira experiência vivenciada entre duas
ou mais pessoas em um determinado ambiente. As crianças, por exemplo,
aprendem desde cedo à utilização de um diálogo através de um condicionamento
comportamental assistido dos falantes. Tiramos o exemplo de uma criança
aprendendo a falar, quando elas querem água apontam para um copinho que as
mães geralmente lhes oferecem água, depois algumas dizem “acum”, “ala” ou
somente “ar”, as mães insistem para que digam, pelo menos, o nome água e assim
elas vão evoluindo para “quero água” e “mainha! Bote água pra mim”.

Essa evolução acelera principalmente quando estão na escola, pois estão


constantemente se esforçando para tentar se comunicarem com outros colegas,
trocando, assim, suas experiências. A troca de experiências equilibra o ser social
existente no comportamento humano. De acordo com o Aurélio:

Diálogo. (Do gr. Diálogos, pelo lat. Dialogie.) S.m. 1. Fala entre duas
ou mais pessoas; conversação, colóquio. (...) 3. Troca ou discussão
de idéias (sic), de opiniões, de conceitos, com vista á solução de
problemas, ao entendimento ou a harmonia; comunicação. (...) (Cf.
dialogo, do v. dialogar).

Dialogismo. (Do gr. Dialogismo pelo lat. Tard. Dialogismu.) S.m. 1.


Arte do diálogo. 2. E. Ling. Figura que reproduz em diálogo as ideias
das personagens. (1999, p.676).

Observa-se então que o dialogismo proposto por Bakhtin nada mais é que o diálogo
entre discursos, independente do meio utilizado para a expressão. Por exemplo, se
pode ver uma ideia colocada em um filme e a mesma ideia observada numa música,
ou em um poema ou ainda entre uma imagem e a palavra escrita entre outras
expressões.

No caso da expressão oral ou verbal escrita, o que delimita a utilização dos diálogos
são as unidades da língua (palavras) nos enunciados (frases). Todos os enunciados
são utilizados no processo de comunicação, repassados pelas palavras escritas ou
ditas retiradas de outrem. Dessa forma, “todo texto se constrói como mosaico de
citações, todo texto é absorção e transformação de um ou outro texto”. (KRISTEVA
apud PROENÇA, 1974. p.72).
14

A presença de um diálogo com fim comunicativo pode transmitir emoções,


sensibilizar ou até mesmo criticar. Tendo em vista este fim, as propagandas utilizam
o meio de oferecer e estabelecer um sentimento de desejo tão forte que pode
persuadir crianças, jovens ou adultos. Para Bakhtin (1981, p.225), o "Discurso não
reflete uma situação, ele é uma situação. Ele é uma enunciação que torna possível
considerar a performance da voz que anuncia e o contexto social em que é
anunciado".

Como podemos observar, na figura 1(abaixo) está o quadro de Mona Lisa, a obra
mais conhecida do pintor Leonardo da Vinci (1503), O quadro representa uma
mulher com uma expressão introspectiva e um pouco tímida. O seu sorriso restrito,
porémmuito sedutor, mesmo que um pouco conservador. O seu corpo representa o
padrão de beleza da mulher na época de Leonardo. Alguns críticos em arte atribuem
à posição do corpo dela voltada para esquerda mais que pela direita que
historicamente, são os conceitos de masculino e feminino, estão ligados aos lados -
o esquerdo é feminino, o direito é o masculino1.

Figura 1- Obra Mona Lisa

Fonte: Obra Mona Lisa exposta no Lovre2.

1
Priscila de Souza Moreira (2006). O sagrado feminino no Código da Vinci. Revista
Psicanálise e Barroco. <www.wikipedia.org/wiki/Mona_Lisa>. Página visitada em 03 de
setembro de 2013.
2
Disponível em: <www.wikipedia.org/wiki/Mona_Lisa.com.br> Acesso em Setembro de
2013.
15

Na figura 2, podemos observar que se trata de um intertexto, uma vez que o produto
“MonBijou” (onde Carlos Moreno se veste de Mona Lisa) é usado juntamente com
uma paródia da pintura de DaVinci para colocar esse produto como um excelente
amaciante, ou seja, como na obra tão valiosa e duradora de Da Vince. As
propagandas utilizam enunciados de efeito que facilitam a memorização do produto
ofertado. De acordo com a propaganda, “MonBijou deixa sua roupa uma perfeita
obra-prima.”

Figura 2- Mona Lisa MonBijou.

Fonte: Imagem de propaganda da Bombril. Produção Gráfica: Sônia Sanchese e


fotógrafo: Rafael Define3.

As unidades da língua são neutras, porém seus enunciados carregam emoções,


juízos de valor e paixões. “Não são as unidades da língua que são dialógicas, mas
os enunciados.” (FIORIN, 2006). A palavra “ignorante” não parece ser endereçada a
ninguém, está disponível para caracterizar qualquer um. Quando é assumida por
alguém dirigida ao outro, deixa de ser uma unidade da língua e com acabamento
torna-se um enunciado com significação, transformando-se assim em xingamento
“ignorante!”. De acordo com Fiorin:

Não é a dimensão que distingue uma unidade da língua de um


enunciado, pois este pode ir desde uma réplica constituída de uma
única palavra (por exemplo, “não”) até uma obra em vários volumes.
(...) O que delimita, pois sua dimensão é a alternância dos falantes.

3
Propaganda da Bombril. Disponível em: <www.direitobemfeito.wordpress.com> Acesso em
03 de setembro de 2013, às 16h52min.
16

(...) Um enunciado ocupa sempre uma posição numa esfera de


comunicação sobre um dado problema. (2006, p.21)

Os diálogos utilizados caminham de formas divergentes, pois onde há interação há


conflito, como já vimos é uma relação comunicativa entre dois falantes de uma
mesma língua, porém não só a língua em si, como também suas cargas culturais e
sociais. De acordo com Fiorin:

As relações dialógicas tanto podem ser contratuais ou polêmicas, de


divergência ou de convergência, de aceitação ou de recusa, de
acordo ou de desacordo, de entendimento ou de desinteligência, de
avença ou de desavença, de conciliação ou de luta, de concerto ou
de desconcerto. (...) A relação contratual com um enunciado, a
adesão a ele, a aceitação de seu conteúdo fazem-se no ponto de
tensão dessa voz com outras vozes sociais. Se a sociedade é
dividida em grupos sociais, com interesses divergentes, então os
enunciados são sempre o espaço de luta entre vozes sociais, o que
significa que é inevitavelmente o lugar da contradição. (2006, p.25)

Quanto à intertextualidade, de acordo com Koch (2007, p.17) “ocorre quando, em


um texto, está inserido outro texto (intertexto) anteriormente produzido, que faz parte
da memória social de uma coletividade ou memória discursiva (...) dos
interlocutores.” Esses aspectos podem ser vistos no exemplo acima das figuras da
Moraliza. E se atribui ainda a outras formas de artes que permite a presença de
outros textos lhe influenciando como ainda nas imagens, novelas, peças de teatros,
poemas, trabalhos científicos, artigos, canções, etc.

O conceito introduzido na década de 1960, pela critica literária Júlia Kristeva que
substitui o termo dialogismo por intertextualidade. Ao se referir à Kristeva, FIORIN
(2006, p.51) observa “Como ela vai chamar “texto” o que Bakhtin denomina
“enunciado”, ela acaba por designar por intertextualidade a noção de dialogismo.
Qualquer relação dialógica é denominada intertextualidade.” Através do diálogo
origina-se um texto escrito, nessa constante troca de enunciados os discursos se
repetem perceptíveis ou não. Corroborando as palavras de Fiorin Proença faz a
seguinte afirmação:

O conceito de intertextualidade foi proposto por Julia Kristeva como


substituto de dialogismo, conceito lançado pelo teórico soviético
Mikhail Bakhtin (1895-1975). Bakhtin chama a esses dois níveis de
dialogo e ambivalência a que a Kristeva prefere denominar
intertextualidade. (2005, p. 70)
17

A palavra intertextualidade ainda se originou da palavra intertexto, ou seja, a


presença de um texto em outro. Veja a definição do termo, segundo o Dicionário
Aurélio:

Intertexto (ês). (De inter + texto.) S.m. Liter. Texto literário


preexistente a outro texto.

Intertextualidade (ês). (De inter + textualidade.) S.f. Liter. 1.


Superposição de um texto a outro. 2. Na elaboração de um texto
literário, a absorção e transformação de uma multiplicidade de outros
textos. (1999, p.1128)

O texto pode ser utilizado na íntegra ou somente sua história adaptada em outra
época para outra realidade. Tiramos o exemplo das novelas que são produzidas
ainda hoje, baseadas em obras literárias adaptadas para atualidade. A novela O
cravo e a rosa, escrita por Walcyr Carrasco e Mário Teixeira, possui um contexto
intertextual com a obra A megera domada de William Shakespeare. O enredo da
novela tem em comum com a obra shakespeariana os personagens: Catarina,
Petrucio, Bianca e Batista, de onde gira o conflito central. Catarina é uma bela moça
de classe media alta que possui um temperamento forte, que espantava todos os
seus pretendentes. Catarina é a filha mais velha de Batista. A mais nova era Bianca
que, ao contrário de Catarina, possuía muitos pretendentes. Porém, Batista, o pai
das duas, só oferece a mão de Bianca em casamento depois que Catarina se casar.
Nisso, aparece Petrúcio que ignora as ofensas de Catarina e ela acaba se casando
com ele, no fim ela se submete ao marido.

Na obra de Shakespeare que consegue, com sucesso, expressar a personalidade


da mulher, que até certo ponto, contradiz o comportamento das mulheres na época.
Ao final, Catarina se submete à Petrucio, mas não por ele ser homem e ter
autoridade, mas por ele amá-la e fazer de tudo para que ela seja feliz.

Ainda no contexto intertextual, podemos ver que um texto não nasce do nada, que,
geralmente, um texto do presente tem sempre uma ligação com outro do passado ou
até mesmo de um presente brevemente anterior, mas que são contemporâneos
ideologicamente. Dessa forma, de acordo com Ingedore Vilaça Koch (2001), Barthes
(1974) vê no intertexto uma forma de redistribuição da língua, como se pode ver a
seguir:
18

O texto redistribui a língua. Uma das vias dessa reconstrução é a de


permutar textos, fragmentos de textos, que existem ao redor do texto
considerado, e, por fim, dentro dele mesmo; todo texto é um
intertexto; outros textos estão presentes nele, em níveis variáveis,
sob formas mais ou menos reconhecíveis. (BARTHES, apud KOCH,
2001, p.46)

Como podemos concluir, na intertextualidade é necessária à presença do intertexto


que é a fonte explicitamente mencionada nos discursos, pois nela está contido um
repertório partilhado em uma comunicação oral entre falantes ou escrita entre textos
e ainda simbólica entre imagens e textos e vice versa, portanto, ela não se construí
do nada, está presente nas trocas de experiências vivenciadas entre as diversas
formas de discursos existentes.

1.2 Tipos de Intertextualidade

Para um melhor reconhecimento das intertextualidades existentes nas obras como


poemas ou imagens, veremos os tipos mais utilizados, são eles, segundo Koch
(2001) em sentido amplo e em sentido restrito.

A intertextualidade em sentido amplo, para Koch (2001, p.47) é a “condição de


existência do próprio discurso, pode ser aproximada do que, sob a perspectiva da
Análise do Discurso, se denomina interdiscursividade (...)”. A palavra é derivada de
(inter + discursividade), ou seja, relação entre discursos falados, no caso do
intertexto é quando as duas vozes se encontram no interior de um mesmo texto.

Segundo o pensamento de FIORIN (2006, p.58), “ocorre na medida de uma relação


dialógica, estabelecendo-se uma relação de sentido.” Há uma a incorporação de
temas, ideias e figuras do outro que podem ser negadas ou aceitas. Por isso a
noção de intertextualidade não pode ser considerada somente na verificação do
processo discursivo, mas também o cultural e estilístico. De acordo com Koch:

É também por meio da comparação de textos produzidos em


determinada cultura que se podem detectar as propriedades formais
ou estruturais, comuns a determinados gêneros ou tipos
(intertextualidade de caráter tipológico), que são armazenadas na
memória dos usuários sob a forma de esquemas textuais ou
superestruturas. (...) Tais esquemas, que são socialmente
19

adquiridos, desempenham papel de grande relevância no


processamento (produção/intelecção) textual. (2001, p.48)

Dessa forma, percebe-se que a intertextualidade em sentido amplo pode se dar em


áreas diferentes de conhecimento, ou seja, se pode perceber aproximação
discursiva em obras de áreas diferentes como é o caso da telenovela e da peça
teatral de Shakespeare que são dois tipos de artes diferentes, mas que dialogam
essencialmente.

A intertextualidade em sentido restrito, para Koch (2001) é “a relação de um texto


com outros previamente existentes, isto é, efetivamente produzidos.” Entre eles
apresentam-se de diversas formas, ela cita alguns tipos:

 Temática – intertextualidades entre textos de uma mesma área do saber ou


uma mesma corrente de pensamento que partilham o mesmo pensamento.
Vejamos o exemplo abaixo, do poema original Canção do Exílio de Gonçalves
Dias:

Canção do exílio4

Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,


Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,


Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

4
Disponível em <http://www.horizonte.unam.mx/brasil/gdias.html>Acesso em 10 de
Setembro de 2013.
20

Não permita Deus que eu morra,


Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

De primeiros cantos (1847)

Agora veja a versão do poema Canção do Exílio de Murilo Mendes:

Canção do exílio5

Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza.

Os poetas da minha terra


São pretos que vivem em torres de ametista,
Os sargentos do exército são monistas, cubistas,
Os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
Com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.

Eu morro sufocado em terra estrangeira.


Nossas flores são mais bonitas
Nossas frutas mais gostosas
Mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade


E ouvir um sabiá com certidão de idade!

De poemas. (1925 – 1931)

Algumas palavras podem ter mudado nos poemas, mas o sentido é o mesmo como:
a saudade da sua terra; a esperança de retorno à valorização do seu País; etc.

 Adaptação – conterem a mesma essência e título, porém, adaptados para


outro veículo de comunicação. Como se ver no exemplo a seguir da obra de
Ariano Suassuna e sua adaptação para a televisão para o cinema. Vejamos
agora a imagem da capa do livro do Auto da Compadecida:

5
Disponível em <http://www.horizonte.unam.mx/brasil/murilo1.html> Acesso em 10 de
Setembro de 2013.
21

Figura 3 - Capa do Livro Auto da Compadecida.

Fonte: Capa do livro. Ilustrada por Ricardo Gouveia de Melo.6

Vejamos a imagem abaixo de uma caricatura dos personagens do filme e da


minissérie produzida pela Rede Globo.

Figura 4–Caricatura da Mini Série da Globo.

Fonte: Cartaz ilustrado pelo Rogério Soud.7

6
Disponível em: <www.pelasletrasdavida.blogspot.com.br> Acesso em 04 de setembro de
2013.
7
Cartaz ilustrado do cinema brasileiro foi criado pelo ilustrador Rogério Soud. Disponível em
<www.cartazilustrado.blog.terra.com.br/> Acesso em 04 de setembro de 2013.
22

Embora não tenha sido mencionado por Koch em sua obra, as adaptações estão
constantemente presentes nos veículos de comunicação, as obras clássicas estão
se tornando filmes, minisséries e ate novelas, porém, nem sempre são fieis.

 Estilística – ocorre quando o produtor do texto, de diferentes formas, com


objetivos variados, repete, imita, parodia certos estilos reconhecíveis.
Vejamos o exemplo abaixo, da oração do Pai nosso:

Oração Do Pai Nosso8.

Pai Nosso, que estais no Céu


Santificado seja o Vosso Nome
Venha a nós o Vosso Reino
Seja feita a Vossa Vontade,
Assim na Terra como no Céu
O Pão-Nosso de cada dia nos daí hoje
Perdoai-nos as nossas ofensas
Assim como nós perdoamos a
Quem nos tem ofendido
E não nos deixeis cair em tentação
Mas livrai-nos do Mal.

Amém.

Agora vejamos outra versão da oração do Pai Nosso, com outro tema:

Oração Dos Viciados Na Net9

Satélite nosso que estás no céu,


Acelerado seja o vosso link,
Venha a nós o vosso texto,
Seja feita a vossa conexão,
Assim no virtual como no real,
O download nosso de cada dia nos dai hoje,
Perdoai o café sobre o teclado,
Assim como nós perdoamos os nossos provedores,
Não nos deixeis cair à conexão,
E livrai-nos de todos os vírus

Amém !

Podemos perceber que o estilo é reconhecido mais os objetivos e o público alvo é


diferente.
8
Disponível em <www.padrepiocatholicwebservices.com.br/> Acesso em 04 de setembro de
2013.
9
Disponível em <www.vivitumblr.blogspot.com.br/>Acesso em 04 de setembro de 2013.
23

 Explícita x Implícita – Explicita é quando o texto é claramente identificado em


outros textos. Ex: citações em trabalhos que geralmente apresenta autor, ano
e página. Implícita ocorre sem apresentação aberta em um texto, cabendo ao
leitor recuperá-la de sua memoria para construir o sentido do texto. Vejamos:

Ser ou não ser: eis a questão.


William Shakespeare

Namorado: ter ou ñ ter eis a questão


Arnaldo Jabour

 Das semelhanças x das diferentes – Nas semelhanças utiliza o texto para


argumentar e dar fundamento ao que é comentado. Vejamos novamente o
exemplo abaixo utilizado a Canção do Exílio de Gonçalves Dias:

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,


Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,


Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,


Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

De primeiros cantos (1847)


24

Agora vejamos outra versão de Canção do Exílio de Carlos Drummond de Andrade


intitulada Nova Canção do Exílio:

Nova Canção do Exílio10

Um sabiá na
palmeira, longe.

Estas aves cantam


um outro canto.

O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.

Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.

Onde tudo é belo


e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
na palmeira, longe.)

Ainda um grito de vida e


voltar
para onde tudo é belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.

Poemas de Gonçalves Dias11.

Os poemas referem-se à mesma coisa como: a saudade da sua terra; a esperança


de retorno à valorização do seu País; etc.

10
Disponível em <http://www.ufrgs.br/proin/versao_1/exilio/index07.html> Acesso em 10 de
Setembro de 2013.
11
RAMOS, Péricles Péricles Eugenio da Silva. Poemas de Gonçalves Dias. São Paulo:
Cultrix, 1969.
25

 Nas das diferenças o texto incorpora o intertexto para ridicularizá-lo, mostrar


sua improcedência ou pelo menos colocá-lo em questão. Vejamos o exemplo
abaixo da música Águas de Março, de Tom Jobim:

Águas de Março12

É pau, é pedra, é o fim do caminho


É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol

É peroba do campo, é o nó da madeira


Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira


É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira


Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

(...)
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho.

Vejamos o exemplo da versão da música Águas de Março, de Jessier Quirino


intitulada Secas de Março.

Secas de Março13

É pau é pedra é o fim do caminho


É um metro é uma légua é um pobre burrinho
É um caco de vida é a vida é o sol
É a dor, é a morte, vindo com o arrebol.

É galho de jurema é um pé de poeira


Cai já, bambeia é do boi a caveira.
É pé de macambira invadindo a cocheira
É vaqueiro morrendo é a reza brejeira

12
Disponível em: <http://www.vagalume.com.br> Acesso em 03 de Setembro de 2013.
13
Disponível em: <http://www.luizberto.com> Acesso em 03 de Setembro de 2013.
26

É angico é facheiro é aquela canseira


É farelo é um cisco é um resto de feira
É a fome na porta é um queira ou não queira

Na seca de março é a fuga estradeira


Éo pé é o chão é a terra assadeira
É menino na mão e mais dez na traseira
É um Deus lá no céu Padre Cíço no chão
É romeiro rezando dentro dum caminhão
É o filho disposto partindosozinho
(...)
É a seca de março torrando o sertão
É a promessa devida da outra eleição

É pau é pedra é o fim do caminho.

BERTO, Luiz. De Cumpade pra Cumpade.

Podemos ver um poema é o oposto do outro, mostrando as controvérsias das


palavras e do sentido nos poemas, um exemplo está no titulo, Águas de Março e
Secas de Março.

 Com intertexto alheio. Atribui a enunciações que têm por origem um


enunciador indeterminado, ou seja, que faz parte de contexto popular. Os
provérbios e ditos populares são ótimo exemplos. Vejamos:

"Quem com ferro fere... não sabe como dói".


“Quem colhe ventos... fica despenteado”
“A união faz... açúcar.”
"Alegria de pobre... é impossível "14.

Podemos concluir sobre o conceito de intertextualidade que se originou do conceito


de dialogismo de Bakhtin, que contribuiu para os estudos sobre os textos utilizados
ainda hoje em suas manifestações diversas, pois tudo o que nos cerca está repleto
de intertextos alheios. Além de que nossa primeira experiência dialógica está
determinada pelo ambiente.

Todos os enunciados são usados no processo de comunicação reproduzidas da


palavra de outrem, que transmite emoções e paixões, enfim, os intertextos são
representativos atualmente em diversos tipos perceptíveis ou não que cabe somente
um conhecimento profundo para seu reconhecimento.
14
Disponível em: <http://www.piadas.com.br/piadas/perolas/corrigindo-20-velhos-ditados>
Acesso em 4 de Setembro de 2013.
27

2 ARIANO SUASSUNA: DADOS BIOGRÁFICOS E FORTUNA CRÍTICA.

O romanceiro, dramaturgo, professor, poeta e escritor, Ariano Suassuna nasceu em


16 de junho 1927 em Nossa Senhora das Neves (atual João Pessoa - Paraíba).
Filho de João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna e Rita de Cássia Dantas
Villar. Criado em uma família numerosa e unida, sua vida foi carregada de
esperança, festa, graça e recordações (mesmo que entre essas lembranças,
estivesse a dor causada pela perda do pai). Fez o curso primário no município de
Taperoá, PB e Faculdade de Direito em Recife, capital de Pernambuco. Hoje com 86
anos – é Secretário de Cultura em Pernambuco - é um dos mais importantes
defensores da cultura nordestina.

De acordo com Adriana Victor e Juliana Lins (2007), o pai de Ariano deixou de
herança, consideradas por ele, verdadeiros tesouros, “os livros” de onde ganhou
gosto pelas cantorias de viola, peças de mamulengo e as farsas de teatro, o que fez
de Suassuna tornando-se assim um verdadeiro devorador de livros. Em sua
cabeceira não podia faltar: Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas, os clássicos
brasileiros de Monteiro Lobato, um exemplar de Os Sertões, de Euclides da Cunha,
Cantadores, Sertão Alegre, Violeiros do Norte, de Leonardo Mota, Don Quixote de
La Mancha, de Miguel de Cervantes, entre outros. De acordo com Victor e Lins:

O menino que descobriu aos 12 anos o desejo de ser escritor


começou, primeiro, admirando os personagens das histórias que lia.
Logo passou a admirar as autores daquelas histórias, eles também
misteriosos personagens. Por fim, Ariano passou a querer
transformar-se em um grande personagem-escritor. Se aos 17 anos
o Jornal Literário já publicava suas primeiras tentativas de poemas,
aos 18 teria início, oficialmente, a carreira literária do jovem escritor
brasileiro. (2007, p.47)

Membro da Academia Brasileira de Letras, desde 1990, Ariano foi o idealizador do


Movimento Armorial que tem como objetivo criar uma arte erudita a partir de
elementos da cultura popular do Nordeste Brasileiro. Tal movimento procura orientar
para esse fim todas as formas de expressões artísticas: música, danças, literatura,
artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, entre outras expressões, que nas
28

palavras de Suassuna (1970, p.190) “Mas, se isso é verdade, não é menos verdade
que, em mim, a imaginação criadora sente a necessidade de trabalhar com raízes
fincadas nessa inesgotável e rica fonte de brasileira que é o romanceiro Popular
Nordestino.”

Desde cedo, o interesse de Ariano por diversas formas de arte era visível em sua
vida. Na pintura produziu alguns quadros, na música, aprendeu a tocar violão e
piano, e tempo depois criou as iluminogravuras15 que enfeitavam as páginas de seu
romance (Romance d’A Pedra do Reino), unindo gravura e poesia numa só obra de
arte.

Figura 5 – Capa do Catalogo de A Pedra Do Reino.

Fonte: Ilustração de Eric Lenat16.

Por levar as manifestações artísticas muito a sério, Ariano achou que precisava
escolher e dedicar-se a apenas uma delas, a literatura. Foi assim que Ariano virou
escritor, sem deixar de se encantar pelas diversas formas de arte e encantando
também seus admiradores, conquistando inúmeros amigos em sua vida artística.

15
Gravuras a partir da ideia das iluminuras medievais. A primeira ilustrada por ele foi
lançada em 1980 sob o nome de Sonetos de mote alheio.
16
Disponível em: <http://www.elfikurten.com.br/> Acesso em 01 de outubro de 2013.
2.1 Ariano Suassuna: Estilo e Estética.

Tenhamos em vista a trajetória literária de Ariano, explicada por teóricos, que levará
a identificar sua estilística. Segundo Victor e Lins (2007) As lembranças vividas ao
lado do pai iniciou seu gosto pela poesia, e assim, um traço vindo posteriormente
passa a fazer parte de seu estilo. De acordo com Souza:

O mundo mágico de Suassuna deixa-se conhecer por meio das


palavras. As palavras são sua matéria prima, e sem elas o
comunicador, Suassuna, não trabalha e não transmite a sua alma de
poeta e romancista do sertão. O mundo dos sonhos infantis em que o
Rei era o seu Pai, e este Rei tornou-se a inspiração de toda a sua
obra, onde Ariano utiliza a palavra para persuadir o leitor dialogar e
trocar experiências. (2003, p. 77)

No que se refere à poesia, segundo Victor e Lins (2007) No entender de Ariano, a


palavra Pai, com letra maiúscula, ainda que não esteja iniciando uma frase ou nome
próprio pode ser utilizada para enfatizar a importância dada ao termo. Assim, depois
faria com outras palavras como é o caso de Rei, Luz, Noite, Mar. Tendo João
Suassuna (seu pai) como tema, Ariano escreveu prosas e muitos versos, que como
mesmo explica Suassuna (2011 p.1) "A poesia seria o espírito criador que se
encontra por trás de todas as artes literárias, sejam estas realizadas através da
prosa ou do verso".

Nos poemas antológicos da poesia contemporânea Brasileira17, constantes na seleta


publicada por Carlos Newton Junior,em 1999, se pode ver temas como a saudade e
a orfandade e mostrasua preferência gramatical com relação às letras maiúsculas
mostradas anteriormente como se ver no poema de Suassuna abaixo:

17
Em 1974 foi publicada Seleta em prosa e verso e, em 1999, Carlos Newton Junior que
organizou e publicou dezenas de poemas do escritor.
30

A Acauhan18

A malhada da onça19 com mote de Janice Japiassu.

Aqui morava um Rei, quando eu menino:


vestia ouro e Castanho no gibão.
Pedra da sorte sobre o meu Destino,
pulsava, junto ao meu, seu Coração.

Para mim, seu Cantar era divino,


quando, ao som da Viola e do bordão,
cantava com voz rouca o Desatino,
o Sangue, o riso e as mortes do Sertão.

Mas mataram meu Pai. Desde esse dia,


eu me vi, como um Cego, sem meu Guia,
que se foi para o Sol, transfigurado.

Sua Efígie me queima. Eu sou a Presa,


Ele, a Brasa que impele ao Fogo, acesa,
Espada de ouro em Pasto ensanguentado.

Logo após sua inspiração poética e melancólica, resolve se inspirar em autores


estrangeiros, mesmo que defensor da valorização popular, seu cunho erudito está
constantemente presente. Em uma entrevista ele defende sua opção - na sétima
edição do Bancarte20- em 28 de abril de 2011, na Capital paraibana, o próprio
Suassuna explica:

As pessoas pensam que eu sou contra a cultura universal e eu seria


um ingrato porque devo muito a Cervantes, Tosltói e Dostoievski. O
que eu bato é contra a uniformização da cultura do gosto médio, da
ditadura do consumo e do gosto que nos quer impor como modelo.

Segundo um amigo dele, o diretor artístico Hermilo Borba Filho, entre as obras de
Suassuna que dirigiu estão: A farsa da boa preguiça, A pena e a lei, A caseira e a
Catarina e o Auto da Compadecida e, após anos, fundam juntos o TPN – Teatro
Popular do Nordeste, em 1959. De acordo com Victor e Lins, em 21 de julho de

18
Pássaro sertanejo de canto sonoro e nome dado a Fazenda Acauhan, no município de
Souza no Sertão da Paraíba. Onde a família de Suassuna viveu em 1928. Saíram da cidade
devido ao país estar vivendo um momento de apreensão, a beira da revolução de 30.
19
Disponível em: <www.laudioulpiano.org.br. > Acesso em 01 de outubro de 2013.
20
É o festival de arte e cultura promovido pelo Sindicato dos Bancários da Paraíba, o
“Bancarte 2011”, teve como foco a cultura popular. Ariano Suassuna fará sua aula-
espetáculo como forma de colocar seu pensamento sobre a cultura popular.
1949, ao apresentar o ilustre amigo em um discurso na Faculdade de Direto, Borba
Filho o descreve nas seguintes palavras:

Este aqui é o poeta Ariano Suassuna, que já escreveu três peças e


muitos versos, gosta de falar na sua terra ainda virgem que é o
Sertão e recita de memória os sonetos de Camões e as canções de
Frederico Garcia Lorca. (2007, p.61)

A estética de Suassuna está marcada pelo trágico e cômico. O trágico representado


pela condição do sertanejo em sua terra seca e árida e o cômico representa nas
artimanhas do matuto. “Nossa vida é uma mistura de riso e choro” SUASSUNA,
(2012, p.1). Para ele, esta necessidadede representar tanto o cômico quanto o
trágico é uma de suas características, para que haja um equilíbrio entre tristeza e
riso. Se para ele a literatura é missão, vocação e festa, e é festa o que se vê nesse
cenário:

Uma festa; uma dança que, como a dos espetáculos populares


brasileiros, tenha seus mantos e golas recobertos de vidrilhos e
lantejoulas; alegra e ensolarada aqui, noturna, sagrada e bela acolá;
religiosa e compassiva, em sua profundidade; luzida e intrépida em
sua vitória sobra a feiura, o sofrimento e a injustiça. Uma festa na
qual caibam às coisas mais diferentes: o brilhante e o monstruoso; o
sólido e o trivial; o grotesco e o terrível; o trágico e o cômico; a
emoção e a bufonaria. (SUASSUNA, 1981 apud VICTOR E LINS,
2007, p.122)

Na sua infância, na Rua de Taperoá, seu principal encantamento era o circo


“Bastava que alguém dissesse „o circo chegou‟ que começava a desencadear-se um
estado de tensão poética dentro de mim”, confessou Ariano (2012, p.2). Todos
gostavam de tudo que possuía no circo, que provocava o esquecimento
momentâneo de suas tristezas, mas tinham uma coisa que para ele não podia faltar,
o palhaço. Segundo Victor e Lins:

E, entre todos os palhaços, o mais inesquecível era Gregório, astro


do circo Stringhini. A lembrança de Gregório está, até hoje, marcada
na literatura brasileira: é ele o palhaço-narrador do Auto da
Compadecida, obra mais consagrada de Ariano Suassuna. (2007,
p.28)
32

Ariano se dedicou, em suas obras, a supervalorizar qualquer coisa que pertencesse


a sua cultura e seu querido Sertão. O ambiente que ele cria era totalmente fictício.
Muitos estudiosos da obra de Suassuna dizem, que Taperoá descrita por ele nos
livros nunca existiu. De acordo com Victor e Lins:

Porque tem festa demais, beleza demais, cores demais, arte demais,
em meio a um Sertão que, para muitos, deve ser cinzento e sofrido.
Seria então uma cidade sertaneja imaginária, criada pela fantasia do
escritor, afirmam. (2007, p.101)

Além do ambiente, também ele valoriza a linguagem popular utilizada, por exemplo,
os termos: “pamonha21”, “frouxo” ou ainda “amarelo safado”, fazem parte de
características nordestinas. Se um estrangeiro que estivesse aprendendo o
português e lesse suas obras, dificilmente o entenderia. A utilização do cômico
tratando, de forma crítica, assuntos referentes à realidade social vívida por eles,
como veremos um trecho do livro Auto da Compadecida de Suassuna:

João grilo
Qual, quem sou eu, um pobre Grilo que não vale nada... É bondade
de Vossa Reverendíssima.

Padre
É mesmo, é bondade minha, porque você não passa de um amarelo
muito safado!

João Grilo
Está ouvindo Chicó? Eita, eu, se fosse você, reagia.
(...)

Chicó
Eu, não. Reaja você.

João Grilo
Você não é homem não, Chicó?

Chicó
Eu sou homem, mas sou frouxo!
(2008, p.64)

A utilização da literatura de cordel está constantemente presente em suas obras,


que utiliza a oralidade e elementos característicos da cultura sertaneja para facilitar o

21
Pamonha é uma comida típica do nordeste, derivada de uma pasta milho cozinhada em
sua própria palha. Pamonha, pessoa medrosa ou covarde.
entendimento dos leitores. Muitos desses aspectos do cordel, é que vai dar à obra
de Suassuna a característica da intertextualidade. Segundo Souza:

A linguagem é o veiculo das representações ideológicas. É através


da linguagem que o povo pode transmitir sem opressões seu
pensamento e a maneira de ver o mundo através da literatura de
cordel. A linguagem vem carregada, embutida do pensamento
ideológico. Na Literatura de Cordel, o povo pode expressar sua
ideologia, sua forma de ver o mundo e pode, assim, expressar-se.
(2003, p.81)

Na realidade, sua intenção estética está na necessidade de demostrar que a cultura


Nordestina também pode ser culta, vinda das raízes populares, ou seja, nascida
apartir da criatividade do Povo, mas com qualidade artística que não deixa a dever à
literatura elitizada. Segundo Santigo:

Situar e compreender a contribuição de Ariano Suassuna para a


literatura brasileira atual nos leva obrigatoriamente a repensar o
sentimento de nativismo e ao mesmo tempo o papel das fontes
populares na elaboração do projeto literário. (2007, p.3)

A obra de Ariano Suassuna traz em seu bojo muito do que foi escrito por grandes e
inesquecíveis escritores, como Shakespeare, Tolstoi, Dostoievski, Miguel de
Cervantes e muitos escritores populares do Brasil, a exemplo de Leandro Gomes de
Barros. É diante desse contexto que pretendemos mostrar a obra de Ariano,
buscando desvendar em O Auto da Compadecida alguns desses intertextos que
povoam a obra do autor.
34

3 A INTERTEXTUALIDADE NA OBRA O AUTO DA COMPADECIDA.

Falar de intertextualidade na contemporaneidade parece até redundante visto que


vivemos hoje o que poderíamos chamar de era da intertextualidade, pois dificilmente
não encontramos marcas do passado nas obras produzidas atualmente.

Ariano Suassuna começa sua vida artística ainda antes da metade do século XX,
isso significa que ele ainda estava imbuído pelo contexto de rebeldia advindo do
movimento modernista e a esse contexto, juntam-se ao seu estilo de buscar as
raízes do povo brasileiro no contexto artístico e também mostrar a arte universal
dentro da arte popular o que ele faz com genialidade. Por outro lado, ele busca no
universo popular o motivo, a temática para fazer sua arte. É assim que podemos
observar os intertextos nas obras de Ariano, como ele mesmo observa:

Mas, se isso é verdade, não é menos verdade que, em mim, a


imaginação criadora sente verdadeira necessidade de trabalhar com
as raízes fincadas nessa inesgotável e rica fonte brasileira que é o
Romanceiro Popular Nordestino. É que também acredito – tanto na
cabeça quanto no sangue – que só assim é que tenho garantia da
aprovação coletiva, que o povo brasileiro dá aos folhetos, e a
segurança de estar ligado a uma corrente literária que me identifica,
ao mesmo tempo, com o povo e com a tradição mediterrânea e
ibérica que forma o núcleo da Cultura Brasileira. (1970, p. 190).

Em 1955, o autor escreve Auto da Compadecida, uma obra em forma de peça teatral
com raízes locais e elementos da cultura popular como: o teatro, o circo, o cunho
religioso e a literatura de cordel. Através dela observaremos a presença dos
intertextos e das literaturas utilizadas por Suassuna para criação dessa obra. “Esta
peça projetou Suassuna em todo o país e foi considerado, em 1962, por Sábato
Magaldi22, o texto mais popular do moderno teatro brasileiro"23.

22
Sábato Antonio Magaldi (Belo Horizonte, 9 de maio de 1927) é um crítico teatral,
teatrólogo, jornalista, professor, ensaísta e historiador brasileiro. Seus prefácios às peças
são verdadeiros ensaios sobre a obra do dramaturgo.
23
Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Auto_da_Compadecida> Acesso em 12 de
outubro de 2013.
Em o Auto da Compadecida encontram-se a história de João Grilo e Chicó, dois
sertanejos pobres, vindos de classes consideradas inferiores pelo contexto da
sociedade dominante. O primeiro com aspectos de esperteza e o outro de modo
mais passivo. Os dois formam uma dupla em se percebe que um completa o outro
como se fosse duas faces de uma mesma pessoa, que pode está se referindo a ele
mesmo. Segundo Suassuna:

Posso concluir, portanto, dizendo que, de fato, como aconteceu


sempre na criação literária, é um pedaço do meu mundo interior que
está no Auto da Compadecida – mesmo sendo o Teatro a menos
subjetiva das Artes literárias. Todo aquilo é exteriorização de
impulsos, invenções e aspirações que vivem dentro de mim. (1970,
p. 190)

João Grilo e Chicó trabalham numa padaria e a mulher do padeiro tem uma cachorra
que ela mima bastante, a ponto de dá a ela comida melhor do que a que comem os
dois empregados. É nesse momento que percebemos um primeiro contexto
intertextual, pois o modo como ocorre a morte da cachorra na obra de Suassuna e
todos os fatos que cercam este evento nos remete ao folheto de Cordel intitulado O
dinheiro, de Leandro Gomes de Barros (1865-1918), o cordel possui um trecho que
encena o enterro de um cachorro, do qual, segundo Ariano, serviu realmente de
base para esse episódio da peça do autor. Segundo o depoimento de Suassuna, no
livro Literatura Popular Em Verso- Estudos:

Os cordelistas me influenciaram tanto quanto Lorca, que tem um


mundo de cavalo, boi, cigano e romanceiro popular parecido com o
meu, ou Calderón de La Barca; para mim o príncipe dos poetas
brasileiros é Leandro Gomes de Barros, autor de dois dos três
folhetos em que me inspirei para escrever o Auto da Compadecida:
O Enterro do Cachorro e O Cavalo que Defecava Dinheiro. (1986, p.
182)

Essa foi à homenagem que Ariano utilizou para valorizar ainda mais a cultura
popular de seu País, utilizando os intertextos temáticos das artimanhas de um
matuto engenhoso dos cordéis criativos de Leandro G. de Barros.
36

3.1 Intertextualidade entre Ariano Suassuna e Leandro G. Barros.

Os intertextos das obras de Barros e Suassuna possuem estilos diferentes, mas


temas parecidos. Veremos um trecho do cordel de Leandro Gomes, no enterro do
cachorro e o de Suassuna na peça Auto da Compadecida em que se percebem as
intertextualidades nas duas histórias, onde acontece um enterro de cachorro
encomendado à igreja.

(...)
Mandaram dar parte ao bispo
Que o vigario tinha feito
O enterro do cachorro.
Que não era de direito,
O bispo alhifallou muito
Mostrou-se mal satisfeito.

Mandou chamar o vigário:


Promto vigário chegou.
As ordens sua excelencia...
O Bispo lhe perguntou:
Então, que cachorro foi
Que seu vigario enterrou?

Foi um cachorro importante,


Animal de intelligencia
Elle antes de morrer
Deixou á vossa excellencia
Dois contos de reis em ouro...
Se eu errei tenha paciencia.

Não foi erro, sr.vigario,


Você é um bom pastor
Desculpe eu incomodál-o,
A culpa é do portador,
Um cachorro como esse.
Já vê que é merecedor!

O meu informante disse-me


Que o caso tinha se dado
E eu julguei que isso fosse
Um cachorro desgraçado.
Elle lembrou-se de mim
Não o faço desprezado.

Fragmento de O dinheiro (1909).24


Acervo digital da casa Rui Barbosa.25

24
Disponível em <www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/leandro> Acesso em 21 de outubro de
2013.
Agora vejamos o enterro da cachorra de Suassuna na peça Auto da Compadecida:

João Grilo
Essa de padre e sacristão se juntarem pra enterrar um cachorro em
latim!
(...)

Bispo
Então houve isso um cachorro enterrado em latim?

João Grilo
E então é proibido?

Bispo
Se é proibido? É mais que proibido! Código Canônico, artigo 368,
parágrafo terceiro, letra b.

João Grilo
Vossa Excelência Reverendíssima vai suspender o padre?

Bispo
Vou, por que não? Acha pouco o que ele fez? Uma vergonha! Uma
desmoralização!
(...)

João Grilo
É mesmo, é uma vergonha! Um cachorro safado daquele se atrever
a deixar três contos de réis para o sacristão, quatro para o padre e
seis para o bispo, é demais.

Bispo
Como?
(...)

Padre
Animando-se
Sim. O cachorro tinha um testamento. Maluquice de sua dona!
Deixou três contos de réis para o sacristão, quatro para a paróquia e
seis para a diocese.

Bispo
É por isso que eu vivo dizendo que os animais também são criaturas
de Deus. Que animal inteligente! Que sentimento nobre!
(2008, p.67)

25
A casa Rui Barbosa é uma Fundação oferece um espaço reservadoà preservação e
divulgação do legado de Rui Barbosa e à formação, conservação e difusão de acervos
bibliográficos, documentais e arquitetônicos, com o apoio de laboratórios técnicos.
38

Antes de o dito padre consentir enterrar o cachorrinho em latim, ele havia se


recusado a benzer o animal enfermo por não considerá-lo digno de sua bênção, só
após João grilo mencionar que o cachorro pertencia ao coronel Antônio Moraes, um
influente fazendeiro da cidade, foi que ele resolveu consentir sua bênção. Suassuna,
assim como Leandro Gomes de Barros, faz uma sátira social à ambição, cobiça e
soberba presentes nos personagens da igreja como: o Bispo, o Padre, e o sacristão,
que mostram ser o oposto de pessoas com as características atribuídas às pessoas
devotas a Deus como: o desapego por coisas materiais, compaixão, caridade,
misericórdia e a preservação da fé. Veja esse fragmento na hora do julgamento,
após o aparecimento de um Cristo (Manuel) negro, que desconstrói a imagem do
Cristo socialmente idealizado.

Manuel
Cale-se você. Com que autoridade está repreendendo os outros?
Você foi um bispo indigno de minha Igreja, mundano, autoritário,
soberbo. Seu tempo já passou. Muita oportunidade teve de exercer
sua autoridade, santificando-se através dela. Sua obrigação era ser
humilde porque quanto mais alta é a função, mais generosidade e
virtude requer. Que direito tem você de repreender João porque falou
comigo com certa intimidade? João foi um pobre em vida e provou
sua sinceridade exibindo seu pensamento. Você estava mais
espantado do que ele e escondeu essa admiração por prudência
mundana. O tempo da mentira já passou. (2007, p.128)

João livra o padre de ser suspenso, utilizando suas artimanhas e esquemas


arranjados por pagamentos. O que Leandro Barros vem a comentar em seu cordel O
dinheiro, que não existe um elemento mais poderoso que a influência do dinheiro e o
que ela pode causar. Vejamos a parte inicial do cordel:

O Dinheiro

O dinheiro neste mundo


Não há força que o debando.
Nem perigo que o enfrente
Nem senhoria que mande.
Tudo está abaixo delle.
Só ele alli é o grande.
(...)

Como todo bom matuto, Chicó adora contar histórias ilógicas que deixava João Grilo
indignado, pois quando perguntava o porquê ele respondia “num sei, só sei que foi
assim” entre elas tem: “o cavalo bento”, a “assombração do cachorro na passagem
do Riacho de Cosme Pinto”, “o pirarucu do Amazonas”, eoutras. Suassuna utilizou-
se de intertextos dos contos ou lendas populares, que teve origem do Folclore
Brasileiro. Como todos sabem, o folclore é os costumes e tradições desenvolvidas
pelo povo e repassadas de geração em geração. No entanto, as lendas possuem a
característica de histórias que misturam fatos reais e históricos com acontecimentos
que são frutos da fantasia e que procuraram dar explicação a acontecimentos
misteriosos ou sobrenaturais. Vejamos o causo de Miltinho de Carvalho26.

Vou Contar Uma História Que Aconteceu Com Um Amigo, Em Um


Dia De Pescaria:

Um dia um amigo foi pescar, jogou o anzol e pegou um tubarão! E


não foi nem de dentro do barco, foi da praia mesmo! Mas rapaiiiz! O
negócio foi bão e não termina aí não. O "pobrema" começou quando
ele retirou o tubarão da água e puxou pra areia, não é que veio um
jacaré nadando de dentro do mar, saiu da água e tentou abocanhar o
tubarão na praia!!!!!!! Aí, um amigo do meu amigo deu uma paulada
na cabeça dele e botou o bicho pra correr...
Cê acredita?!?!
Não!

Coluna Sertaneja.27 Publicada em 03 de fevereiro de 2012.

Agora vejamos o causo de Chicó na obra:

Chicó
Foi quando eu estive no Amazonas. Eu tinha amarrado a corda do
arpão em redor do corpo, de modo que estava com os braços sem
movimento. Quando ferrei o bicho, ele deu um puxavante maior e eu
cai no rio.

João Grilo
O bicho pescou você!...

Chicó
Exatamente, João, o bicho me pescou. Para encurtar a história, o
pirarucu me arrastou rio acima três dias e três noites.

João grilo
Três dias e três noites? E você não sentia fome não, Chicó?

Chicó

26
Miltinho de Carvalho, um São Carlense amante da cultura sertaneja, escreve sobre a
História da Cultura da Música Sertaneja Raiz, contando vários causos e mostrando o talento
dos artistas e toda a nossa região.
27
Disponível em <www.colunasertaneja.blogspot.com.br/p/causos-caipira.html.br> Acesso
em 12 de outubro de 2013.
40

Fome não, mas era uma vontade de fumar danada. E o engraçado


foi que ele deixou para morrer bem na entrada de uma vila, de modo
que eu pudesse escapar. O enterro foi no outro dia e nunca mais
esqueci o que o padre disse, na beira da cova.

João grilo
E como o avistaram da vila?

Chicó
Ah, eu levantei um braço e acenei, acenei, até que uma lavadeira me
avistou e vieram me soltar.

João grilo
E você não estava com os braços amarrados, Chicó?

Chicó
João, na hora do aperto, dá-se um jeito a tudo.

João grilo
Mas que jeito você deu?

Chicó
Não sei, só sei que foi assim.
(2008, p. 44)

Tanto Chicó quanto João Grilo, são especialistas em mentiras, que para eles
funcionam como uma defesa contra as injustiças que eles sofrem em uma sociedade
capitalista. De acordo com o depoimento Suassuna, publicado em Junho de 2002,
denominado - Um brasil que resiste:

Na minha peça mais conhecida, e considerada mais engraçada (O


Auto da Compadecida), morre todo mundo. Só quem escapa é Xicó.
Esse eu não tive coragem de matar porque tenho uma simpatia
danada por mentirosos. Há duas raças de gente que eu simpatizo:
mentiroso e doido, porque eles são primos legítimos dos escritores.
O que é um mentiroso? É um camarada que não se conforma com o
universo e inventa outro. Ora, isso é um escritor, eu também sou
assim. Na minha vida não acontece nada, se eu não mentir o que é
que eu vou contar? (2004, p.20)

Além de uma defesa contra as injustiças Suassuna insere contexto Nordestino para
valorizar ainda mais a diversidade cultural do País, mostrando como o folclore ainda
está presentesem todas as situações e épocas.

Após o complicado enterro da cachorra pertencente à mulher do padeiro, resolvido


por João, após o pagamento de 13 contos de reis, a patroa, apesar de estar triste
pela cachorrinha morta, fica interessada em um suposto gato após saber que ele
descome28 dinheiro, porém era mais uma artimanha do Grilo para entrar no
testamento e ganhar dinheiro. Então ele a seduz com as duas coisas que ela mais
gosta: bichos e dinheiro.

Este episódio foi baseado no cordel O cavalo que defecava dinheiro, de Leandro
Gomes de Barros. Em vez do original cavalo do cordel, Suassuna substituiu pelo
gato que seria mais fácil de encenar. Tanto na história do gato quanto na do cavalo,
contadas pelos respectivos autores, os matutos na condição de pobres, conseguiam
usar sua esperteza e criatividade para ganhar dinheiro. Veja a imagem da capa do
cordel de Leandro G. Barros:

Figura 6 - Cordel de Barros.

Fonte: Site ABLC.

A história do cavalo que defecava dinheiro, de Leandro G. Barros ocorreu numa


cidade do interior chamada Macaé, onde tinha um fazendeiro muito invejoso que se
gabava de ser o mais rico da região. Certo dia uma matuto que era seu compadre
voltou de um trabalho fora da cidade e voltou com cavalo velho e maltratado. O
matuto que por ser muito pobre e passar necessidades resolveu aplicar um golpe,
para ver se alguém queria comprar o cavalo, enfiou três cruzados no “fiofó” (no reto)
do animal e saiu espalhando que ficou muito rico. O fazendeiro, ao saber do animal
que dava lucro, deu um jeito de comprá-lo do matuto, que logo negociou o cavalo

28
“Desconde” expressão utilizada por Suassuna para explicar o oposto de come, ou seja,
em vez do gato comer ouro vai liberar ouro pelas nádegas.
42

valioso que possuía. Veja a seguir o trecho do cordel de Leandro Gomes de Barros29
retirado do site - Academia Brasileira de Literatura de Cordel30:

O Cavalo que Defecava Dinheiro

Na cidade de Macaé
Antigamente existia
Um duque velho invejoso
Que nada o satisfazia
Desejava possuir
Todo objeto que via

Esse duque era compadre


De um pobre muito atrasado
Que morava em sua terra
Num rancho todo estragado
Sustentava seus filhinhos
Na vida de alugado.

Se vendo o compadre pobre


Naquela vida privada
Foi trabalhar nos engenhos
Longe da sua morada
Na volta trouxe um cavalo
Que não servia pra nada

Disse o pobre à mulher:


_ Como havemos de passar?
O cavalo é magro e velho
Não pode mais trabalhar
Vamos inventar um "quengo"
Pra ver se o querem comprar.

Foi na venda e de lá trouxe


Três moedas de cruzado
Sem dizer nada a ninguém
Para não ser censurado
No fiofó do cavalo
Foi o dinheiro guardado

Do fiofó do cavalo
Ele fez um mealheiro
Saiu dizendo: _ Sou rico!
Inda mais que um fazendeiro,

29
Leandro Gomes de Barros nasceu em Pombal (Recife) em 19 de novembro de 1865 e
faleceu em 4 de março de 1918. Foi um poeta de literatura de cordel brasileiro. É
considerado como o primeiro escritor brasileiro de literatura de cordel, tendo escrito
aproximadamente 240 obras.
30
Disponível em <www.ablc.com.br> Acesso em 5 de novembro de 2013.
Porque possuo o cavalo
Que só defeca dinheiro.
Quando o duque velho soube
Que ele tinha esse cavalo
Disse pra velha duquesa:
_Amanhã vou visitá-lo
Se o animal for assim
Faço o jeito de comprá-lo!

Dai o fazendeiro descobre que o tal cavalo não dava dinheiro e foi tirar satisfações
com seu compadre, nisso o matuto executa o segundo golpe planejado para se
safar, compra uma bexiga de borracha e a enche com sangue de galinha,
prendendo no pescoço de sua esposa respondona, para que o fazendeiro que vinha
chegando o visse matando sua esposa e em seguida ressuscitando-a tocando uma
rabeca mágica. Novamente o plano dá certo e o fazendeiro fica louco para comprá-
la. Veja o trecho do cordel que mostra este episódio:

Quando findou-se a conversa


Na mesma ocasião
O velho ia chegando
Aí travou-se a questão
O pobre passou-lhe a faca,
Botou a mulher no chão.

O velho gritou a ele


Quando viu a mulher morta:
_Esteja preso, bandido!
E tomou conta da porta
Disse o pobre: _Vou curá-la!
Pra que o senhor se importa?

_O senhor é um bandido
Infame de cara dura
Todo mundo apreciava
Esta infeliz criatura
Depois dela assassinada,
O senhor diz que tem cura?

Compadre, não admito


O senhor dizer mais nada,
Não é crime se matar
Sendo a mulher malcriada
E mesmo com dez minutos,
Eu dou a mulher curada!

Correu foi ver a rabeca


Começou logo a tocar
44

De repente o velho viu


A mulher se endireitar
E depois disse: _Estou boa,
Já posso me levantar...
O velho ficou suspenso
De ver a mulher curada,
Porém como estava vendo
Ela muito ensanguentada
Correu ela, mas não viu,
Nem o sinal da facada.
(...)
O velho que tinha vindo
Somente propor questão,
Por que o cavalo velho
Nunca botou um tostão
Quando viu a tal rabeca
Quase morre de ambição.

O fazendeiro convencido que teria comprado uma rabeca que ressuscita gente,
chega a sua casa e conta para a mulher, ela furiosa repreende-o pela escolha
errada que o marido faz em comprar a Rabeca, o fazendeiro mata a esposa e toca
para ela reviver, quando viu que o instrumento não funcionava, se revolta e manda
matar o matuto. Nisso, o matuto escapa e ainda retorna com uma boiada valiosa,
que pertencia a um rapaz rico que passava na hora e troca com o matuto de lugar
com ele na esperança de casar com uma moça rica, mas uma mentira do matuto. O
fazendeiro então cai no terceiro golpe do matuto que mente dizendo que no final da
serra em que ele foi jogado para morrer teria uma mina de ouro, o fazendeiro se joga
da serra e morre.

O cordel passa a mensagem que a ambição cega uma pessoa, mostrando que o
desejo pelo poder, dinheiro e bens materiais é atemporal na sociedade desde
sempre. O tema da ambição é muito repercutido em histórias diversas, que como
vimos também está presente do enterro do cachorro das duas obras. Enfim “quem
tudo quer, sem nada fica” como já dizia a Bíblia Sagrada “Aquele que ama o dinheiro
nunca se fartará, e aquele que ama a riqueza não tira dela proveito”
(ECLESIASTES, Cap.5 V.9.). Vejamos agora a moral da história que o cordel de
Leandro G. Barros quis nos passar:

Este livrinho nos mostra


Que a ambição nada convém
Todo homem ambicioso
Nunca pode viver bem,
Arriscando o que possui
Em cima do que já tem.

Cada um faça por si,


Eu também farei por mim!
É este um dos motivos
Que o mundo está ruim,
Porque estamos cercados
Dos homens que pensam assim.
FIM.

Após conhecermos a versão do cordel O cavalo que defecava dinheiro, ficará fácil
identificar o intertextos nas obras. Grilo na obra de Suassuna vem fazer o mesmo
golpe, porém em vez de outro cachorrinho para substituir o que morreu, resolve usar
um gato. Ao saber que o gato descomia dinheiro, a patroa quis comprá-lo
imediatamente e até ameaçou demitir João da Padaria se ele não o vendesse a ela
por um valor menor do era pedido. Veremos a seguir no trecho da obra que mostra
esse plano:

João Grilo
Ah, mas aquilo é porque foi o cachorro. Com meu gato é diferente...

Mulher
Diferente por quê?

João Grilo
Porque, em vez de dar despesa, esse gato dá lucro.

Mulher
Fora vaca, cavalo e criação, bicho que dá lucro não existe.

João Grilo
Não existe se não... Eu fico meio encabulado de dizer!

Mulher
Que é isso, João, você está em casa! Diga!

João Grilo
É que o gato que eu lhe trouxe, descome dinheiro.

Mulher
Descome dinheiro?

João Grilo
Descome, sim.
46

Mulher
Essa eu só acredito vendo. (...)

Mulher
Sim, quero ver o dinheiro sair do gato.

João Grilo
Pois então veja

Mulher
Depois da nova retirada.
Nossa Senhora, é mesmo. João, me arranje esse gato pelo amor de
Deus. (...)

Mulher
Mas ele pode morrer. Só dou quinhentos e se você não aceitar será
demitido da padaria.
(2008, p. 78)

No segundo golpe, também utilizado do cordel de Leandro G. Barros, João e Chicó


resolvem deixar o plano preparado, para que quando os patrões descobrissem a
trapaça do Grilo, ele tentaria escapar matando Chicó e depois ressuscitando-o,
porém não deu tempo de botar o segundo plano em ação contra eles, por que a
cidade estava sendo invadida por um cangaceiro chamado Severino de Aracaju, que
vem a iniciar a terceira parte da obra: o julgamento. Mas vejamos a parte em que
João e Chicó prepararam a bexiga que retiraram da cachorra antes de enterrá-la e
encheram de sangue de galinha.

Chicó
Você ainda se desgraça numa embrulhada dessas. Eles viram a
bexiga?

João Grilo
exibindo-a
Que nada, está aqui.

Chicó
Se a mulher do padeiro descobrir que você tirou a bexiga do
cachorro antes do enterro...

João Grilo
Que é que tem isso? Eu estava precisando dela para um negócio
que estou planejando e a necessidade desculpa tudo. O cachorro já
estava morto, não precisava mais dela, eu tirei porque estava
precisando! Ela não tem nada a reclamar.
(...)

Chicó
Não estou entendendo nada.
João Grilo
Pois vai entender daqui a pouco. Vou entrar também no testamento
do cachorro.

Chicó
Como, João?

João Grilo
Eu não lhe disse que a fraqueza da mulher do patrão era bicho e
dinheiro?

Chicó
Disse.

João Grilo
Pois vou vender a ela, para tomar o lugar do cachorro, um gato
maravilhoso, que descome dinheiro.
(2008, p. 71)

Esse segundo plano na obra de Suassuna foi aplicado em Severino de Aracaju para
se livrarem do massacre que ele fazia na igreja. A mudança que o autor fez no meio
da obra, foi uma tentativa de inserir mais um aspecto intertextual baseado em fatos
reais, utilizando fatos ligados ao cangaço31 e a luta pelos ideais.

O personagem Severino possui uma intertextualidade conhecida, pois ele está


caracterizado na obra como um famoso cangaceiro que existiu no sertão, o lendário
Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião. Este, além de
caracterizar aspectos da cultura nordestina dos cangaceiros, mostrava o movimento
social que se passava na obra. Um tempo de coronelismo, invasão e apropriação de
terras e marginalização social. Porém, Severino vem também a representar alguns
sentimentos partilhados entre os cangaceiros: à devoção e fé a santos protetores
como “padrinho Padre Cícero”, a aversão à polícia e imposição de respeito através
de violência e armas.

O massacre feito por Severino de Aracaju, após a tomada da cidade e a fuga da


polícia, fazendo todos se reunir, inconscientemente, no lugar mais apropriado para
se redimirem de seus pecados, a Igreja. Então o Bispo, que estava apavorado

31
O Cangaço foi uma luta revolucionária que contou com a participação do governo
nordestino como principal financiador. O cangaço se caracterizou por ter como principal líder
Lampião (Virgulino Ferreira da Silva) Os cangaceiros eram homens que vagavam pelas
cidades em busca de justiça e vingança pela falta de emprego, alimento e cidadania
causando o desordenamento da rotina dos habitantes do Sertão.
48

quando ele entra e planeja matar todos que estão lá, tenta bajulá-lo chamando de
Capitão, irritando ainda mais Severino, por ser o capitão uma patente da policia,
mostrando sua aversão à polícia e valorizando suas raízes e a consagração do
batismo. Vejamos o trecho que mostra isso:

Bispo
Não tenho nada, o capitão compreende...

Severino
cortante
Mesmo assim eu quero ver. E deixe de me chamar de capitão, que
eu não gosto.

Bispo
E como hei de chamá-lo então?

Severino
Severino, que é meu nome de batismo!
(2008, p. 92)

O padre também tenta novamente agradá-lo, querendo lhe dar importância, mas
como Severino não é bobo, logo percebe que o Bispo e o Padre só querem lhe
bajular por estar, ele, com a posse da arma que, se fosse ao contrario Severino seria
um individuo desprezível, vil e infame. Continuando, veremos o trecho que nos
mostra isso:

Padre
É que nós não temos coragem de chamar uma pessoa tão
importante de Severino.

Severino
Isso tudo é porque quem está com o rifle sou eu. Se fosse qualquer
um de vocês, eu era chamado era de Biu. Deixem de conversa, que
isso comigo não vai. Mostre os bolsos. (Tirando o dinheiro.) Seis
contos! Mas é possível? Já vi que o negócio de reza está
prosperando por aqui.
(2008, p. 92)

Voltando a artimanha da bexiga com sangue, Severino mata todos os seguintes


personagens: o Bispo, o Padre, o Sacristão, o padeiro e sua mulher. O frade foi
salvo por superstição, ou seja, para os cangaceiros dá um azar danado matar frade.
Na hora do cangaceiro matar João Grilo e Chicó, Grilo lembra a bexiga escondida no
pescoço de Chicó e diz a Severino que pode matá-lo e ressuscitá-lo tocando a gaita
mágica que foi abençoada pelo Padre Cícero. Como Severino de Aracaju é muito
devoto ao Padre Cícero, Grilo vai armar o segundo golpe que estava destinado a
seus patrões, dizendo ao cangaceiro que se ele morrer também pode ser
ressuscitado e que ele pode visitar o Padre Cícero e depois voltar. Para dar
credibilidade ele finge matar Chicó, enfiando o punhal exatamente onde estaria a
bexiga cheia de sangue. Chico finge está morto e quando Grilo toca a gaita ele
levanta no ritmo da música. Severino então fica convencido de que poderia conhecer
seu padrinho Cícero.

Para melhorar a história, Chicó, após “ressuscitar” disse: “Essa é a gaitinha que eu
abençoei antes de morrer. Vocês devem dá-la a Severino, que precisa dela mais do
que vocês” (2008, p.108). Severino acredita e pede ao cangaceiro que o
acompanhava, que atirasse nele e tocasse a gaita pra ele voltar, felizmente para
João Grilo e Chicó ele não voltaria. Assim que o cangaceiro percebeu a mentira os
dois o atacaram e o Grilo deu-lhe uma facada na barriga e o cangaceiro cai no chão.
Quando estava saindo da igreja o cangaceiro que ainda estava vivo, pega o rifle e
atira em João matando-o.

3.2 Intertextualidade Estilística do Julgamento Celeste com a obra O Auto da


Barca do Inferno, de Gil Vicente.

O nome da peça tem tudo a ver com o terceiro episódio, alias é o mais significativo
de intertextos que a primeira e a segunda parte. Auto em latim (actu = ação ou ato)
pode ser uma composição teatral do subgênero da literatura dramática, surgida na
Idade Média, na Espanha, por volta do século XII. Os autos são peças de conteúdo
religioso ou profano que em geral é têm elementos cômicos e intenção moralizadora.
Possui conteúdo simbólico, costuma representar entidades como a hipocrisia, a
bondade, a avareza, a luxúria, a virtude, mostrando o lado negativo ou positivo dos
sentimentos humanos. Seus personagens mais comuns são anjos, demônios,
santos.

Em Portugal, no século XVI, Gil Vicente é grande especialista desse gênero


dramático. Os autos que visavam satirizar pessoas, pois a moral é um elemento
50

decisivo nesse gênero, faz parte de uma critica a sociedade. Os autos e as farsas do
autor Gil Vicente, estão entre os mais vastos desse gênero de auto, totalizado 44
peças escritas por ele, deixando perceber claramente em suas obras a critica social
característica do gênero na época. Segundo notas de edição da obra de Gil Vicente:

Gil Vicente, desse modo, é contemporâneo da passagem do mundo


medieval para a modernidade mercantil, assistindo a chegada dos
novos valores do Renascimento. De resto, uma tensão que se reflete
em sua obra: de um lado apresenta uma posição conservadora,
medievalista, profundamente religiosa, buscando a reconstrução de
um mundo puramente cristão; e de outro, aproxima-se das ideias do
humanista holandês Erasmo, critico da nobreza corrompida e de
certas praticas da igreja na época. (2003, p. 14)

No Auto da barca do inferno, de Gil Vicente, podemos tirar dela alguma semelhança
com a obra de Suassuna. Nela conta à história de 18 personagens, entre eles 15
almas que morreram e tentam buscar sua estada eterna, serão selecionados em 2
barcas, a do anjo com destino ao céu e a do Diabo destina ao inferno. Eles
aparecem com um símbolo para simbolizar seu pecado em vida. Vejamos a
passagem do Fidalgo após ser recusado na barca do anjo por soberba e tirania e se
conformando em sua estadia na barca infernal da obra:

Anjo
Que quereis?

Fidalgo
Que me digais,
pois parti tão sem aviso,
se a barca do Paraíso
é esta em que navegais.

Anjo
Esta é; que demandais?

Fidalgo
Que me deixeis embarcar;
Sou fidalgo de solar,32
é bem que me recolhais.

Anjo
Não se embarca tirania
neste batel divinal.
(...)

Fidalgo
32
Nobre
Ao Inferno, todavia!
Inferno e o há para mim?
Oh, triste! Enquanto vivi
nunca cri que o aí havia.
Tive que era fantasia!
Folgava ser adorado,
confiei em meu estado
e não vi que me perdia.
Venha essa prancha! Veremos
esta barca de tristura.

Diabo
Embarque vossa doçura,
que cá nos entenderemos.
Tomareis um par de remos,
veremos como remais,
e, chegando ao nosso cais,
nós vos desembarcaremos.
(2003, p.71)

A barca do inferno partiu, lotada de gente e seus pecados que foram identificados
pelo: Fidalgo (soberba) – que representa todos os nobres ociosos de Portugal;
Onzeneiro (Avareza) – que simboliza o pecado da usura e a classe dos agiotas;
Frade (Luxúria) – que representa os maus sacerdotes e a quebra que do voto de
castidade; Brísida Vaz – alcoviteira ou cafetina (Luxúria) que simboliza a degradação
moral e a feitiçaria popular; Judeu – representa os infiéis, que são alheios à fé cristã;
Corregedor E Procurador (corrupção) – que encarnam a burocracia jurídica da
época. Enforcado – que é o símbolo da falta de fé e da perdição.

A barca do céu vai vazia com o Parvo – representa o povo português, rude e
ignorante, porém bom de coração e temente a Deus e os quatro cavalheiros – que
representam as cruzadas contra os mouros e a força da fé católica.

Todas as almas que iam para o inferno tentaram argumentar que eram boas em
algo, porém não perceberam que estavam se condenando aos poucos, sempre que
descobriam que o barco destinado a eles iria para terra dos danados, eles iam
recorrer à barca celestial que sem sucesso não conseguia, para a alegria do diabo
que iria ganhar remadores para seu barco. Vejamos o trecho a seguir:
52

Diabo
À barca, à barca, hou-lá!33
que temos gentil maré!
Ora, venha o carro a ré!34
Oh, que caravela esta!
Põe bandeiras, que é festa.
Verga alta! Âncora a pique!
Ó poderoso D. Henrique,
cá vindes vós? Que coisa é esta?...
(2003, p.68)

Assim como Gil Vicente que utilizava o julgamento das almas, fato que fica bem
evidente, especialmente em O auto da barca do Inferno, Suassuna atribuiu também
esse intertexto na obra Auto da Compadecida, particularmente no julgamento dos
personagens no terceiro ato. Segundo Santiago:

Tanto em Gil Vicente como em Ariano Suassuna, temos uma religião


compreensiva e humana, em que os defeitos morais são perdoados
pela compaixão, onde se assinala que até mesmo Cristo teve seu
momento de fraqueza (...) (2007, p.75)

Os autos que são de cunho religioso e sacramental, além de utiliza-se de figuras ou


personagens que representam o bem e o mal, como Jesus Cristo e o Diabo, que são
as figuras mais vista em muitas religiões do mundo, ele também vem a representar
os lados opostos de uma mesma “moeda” a alma humana. As almas, Segundo a
Bíblia35 “as almas podem perder-se, ser salva e existir após a morte do corpo. Ela
também é citada como a fonte de todas as sensações e sentimentos humanos, além
de ser a responsável da comunhão humana com Deus”. Nas duas obras, a alma
está sendo julgada de uma forma igualitária, pelos seus pecados cometidos em vida,
ou seja, nessa hora são iguais diante aos olhos de Deus.

3.3 Intertextualidade da Compadecida com o Castigo da Soberba do mesmo


autor.

Percebemos que no julgamento, na peça Auto da compadecida eles teriam uma


personagem a mais, uma intercessora, uma advogada, uma mãe divina para

33
Forma de saudação.
34
Aproximem-se a ré.
35
Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Alma> Acesso em 15 de nov. de 2013.
compadecer por eles em sua estadia eterna, daí a origem da palavra Compadecida,
referindo se a Nossa Senhora Aparecida, mais conhecida como Maria mãe de
Jesus. Suassuna, além de utilizar o gênero auto, também adiciona a presença da
Compadecida. Três anos antes de escrever o Auto da Compadecida, ele escreve a
Farsa36 religiosa O castigo da soberba37, que utiliza a intervenção da compadecida
no julgamento das almas, das duas obras.

O castigo da soberba trata-se também do julgamento de uma alma. A alma em


questão é de um fazendeiro muito rico e orgulhoso, que não ligava pra fé e nem
caridade, só se preocupava consigo mesmo. Na obra podemos observar dois
trechos intertextuais em suas obras. A primeira intertextualidade da obra o castigo
da soberba está presente no modo que o Diabo chama Jesus, Manuel. Vejamos o
trecho no cordel publicado no livro, Seleta de Prosa e Verso, organizado por
Santiago:

Diabo
Manuel, é tempo perdido!
Não tem ele o que dizer,
pois, enquanto andou na terra,
ele só fez ofender!
(...) Nunca lhe veio à lembrança
que haveria de morrer!
(2007, p. 64)

Agora veja o trecho da obra, no momento em que Jesus aparece em cena e explica
o nome chamado pelo Diabo a João Grilo.

Encourado
De costas, grande grito, com o braço ocultando os olhos.
Quem é? É Manuel?

Manuel
Sim, é Manuel, o Leão de Judá, o Filho de Davi. Levantem-se todos,
pois vão ser julgados.

João Grilo
Apesar de ser um sertanejo pobre e amarelo, sinto perfeitamente que
estou diante de uma grande figura. Não quero faltar com o respeito a

36
Peça teatral de poucos atores apresentada através de um simples diálogo, ação trivial ou
burlesca, gracejos, situações cômicas, ridículas etc.
37
Farsa popular em um ato escrita por Ariano Suassuna em 1953, baseado em dois folhetos
da literatura de cordel.
54

uma pessoa tão importante, mas se não me engano aquele sujeito


acaba de chamar o senhor de Manuel.

Manuel
Foi isso mesmo, João. Esse é um de meus nomes, mas você pode
me chamar também de Jesus, de Senhor, de Deus... Ele gosta de
me chamar Manuel ou Emanuel, porque pensa que assim pode se
persuadir de que sou somente homem. Mas você, se quiser, pode
me chamar de Jesus.
(2008, p.126)

A segunda intertextualidade encontrada na obra O castigo da Soberba, está no


momento em que Nossa Senhora foi chamada para interceder pela alma quando ela
estava perto de ser condenada. Vejamos o trecho em que mostra o desdém do
Diabo ao ver a Compadecida chegar:

Diabo
Chamaram Nossa Senhora:
Vai ser dura, esta partida!
Mulher em tudo se mete:
Lá vem a Compadecida!
Pelo caminho que vai,
A sentença está perdida!
(2007, p. 66)

Agora veja o trecho da chegada da Nossa Senhora no julgamento após João Grilo
recitar um poema para chamá-la:

João Grilo
Valha-me Nossa Senhora,
Mãe de Deus de Nazaré!
A vaca mansa dá leite,
A braba dá quando quer.
A mansa dá sossegada,
A braba levanta o pé.
Já fui barco, fui navio,
Mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem,
Só me falta ser mulher.
Valha-me Nossa Senhora,
Mãe de Deus de Nazaré.

Cena igual à da aparição de Nosso Senhor, e Nossa Senhora, a


Compadecida, entra.
Encourado
Com raiva surda
Lá vem a compadecida! Mulher em tudo se mete!
(2008, p. 151)

Apesar das mudanças feitas no contexto, à utilização do sentido foi à mesma. O que
a obra Auto da Compadecida vem a acrescentar depois é somente mais elementos
da cultura nordestina e mais personagens caracterizando os níveis da sociedade
brasileira, como a igreja, os administradores, a família corrompida, o povo sofrido, a
política, e a luta do cangaço. Além de que, O castigo da soberba e O auto da
compadecida apresentam também estruturas iguais, podendo ser comparada a um
tribunal para julgamento das almas, com Juiz (Jesus), advogado de acusação
(Diabo) e advogada de defesa (Compadecida) e o réu (almas).

A compadecida por ser mãe de Jesus, é respeitada pelo seu filho que por mais que
ele desse a sentença final das almas, ele espera seu consentimento respeitando sua
autoridade divina. Veja o trecho que a Jesus coloca os cinco no purgatório, para o
contragosto do Diabo na peça Auto da Compadecida:

Manuel
Minha mãe o que é que acha?

A Compadecida
Eu ficaria muito satisfeita.

Manuel
Então está concedido.

Encourado
Não tem jeito não. Homem governado por mulher é sempre sem
confiança.
(2008, p.158)

Sem a Compadecida para interceder por compaixão a Jesus, todos seriam


condenados ao inferno por causa de seus pecados graves. Percebe-se que a obra
reforma a fé do povo como rogamos em oração, pela sua bondade infinita, e
suplicamos humildemente nossa salvação a Nossa Senhora. “(...) Santa Maria Mãe
de Deus, Rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte, Amém.”
56

3.4 Interferências de João Grilo.

Assim como personagem da Compadecida interfere nas ações da obra, o


personagem João Grilo também está muito envolvido em todos os acontecimentos
da peça, como: no enterro do cachorro; no gato que descomia dinheiro; na morte de
Severino e o julgamento. Ele desafia diversas vezes o Diabo, questiona sobre a
forma em que Jesus aparece, e ainda roga pela sua advogada, na sua interferência
no julgamento. Mas pela gravidade de seus pecados em relação aos outros, antes
que a sentença fosse proferida por Jesus, ele opina em colocar os cinco no
purgatório, para remissão. Veja o trecho dessa passagem:

João Grilo
Os cinco últimos lugares do purgatório estão desocupados?

Manuel
Estão.

João Grilo
Pegue esses cinco camaradas e bote lá.

A Compadecida
É uma boa solução, meu filho. Dá para eles pagarem o muito que
fizeram e assegura a sua salvação.
(2008, p. 157)

O caso de João Grilo estava mais difícil de resolver que dos outros, porém, sua
advogada não desistiria fácil. A solução para João Grilo foi retornar a terra como sua
segunda chance, mas antes dele ir Jesus quis desafiá-lo. Se João conseguisse fazer
uma pergunta que Jesus não conseguisse responder, então ele retornaria. E a
pergunta do Grilo era a seguinte “Em que dia vai acontecer sua segunda ida ao
mundo?” então Manuel responde “João, isso é um grande mistério.” (2008, p.163).
João então retorna para seu companheiro Chicó que estava prestes a enterrá-lo,
Chicó custa a acreditar, mas depois aceita e os dois terminam sua saga, planejando
serem os novos donos da padaria, já que seus antigos morreram no massacre. No
caso desses dois amigos, nem a morte pode separar eles, o que seria de Chicó sem
João Grilo e vice versa. O Grilo dotado de inteligência e razão e Chicó, de
compreensão e bondade, que utilizam suas habilidades na peça para sobreviverem
em um mundo desigual. Duas partes da alma que não sabemos quem seguir. Então
responda quem você prefere seguir a razão ou o coração?
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho mostrou a importância da análise da obra Auto da Compadecida


de Ariano Suassuna, a partir dos aspectos intertextuais utilizados por Suassuna para
criar sua obra. Percebemos, ao longo da pesquisa que ele está constantemente
valorizando a união da cultura popular e erudita, devolvendo ao povo as riquezas
culturais produzida no País.

Como foi dito o estudo e análise de textos utilizados na criação da peça como O
enterro do cachorro, trecho do cordel O dinheiro de Leandro Gomes de Barros, O
cavalo que defecava dinheiro, de Leandro Gomes de Barros e O castigo da Soberba
de Ariano Suassuna, atribuem mais valor popular da literatura de cordel e seus
autores.

A análise dos personagens e da temática foi imprescindível para a compreensão da


obra. Como veremos os personagens foram criados a partir da realidade vivenciada
no Sertão, e resgataremos o contexto histórico social representado pelo cangaceiro
Severino de Aracaju.

A temática geral da obra envolveu diversos temas importantes, como as


desigualdades sociais, miséria e fome, pecados capitais, religiosidade, moralidade,
justiça e existência humana.

O primeiro capítulo apresentou conceitos e considerações sobre o termo


intertextualidade e sua origem em textos importantes e os tipos de intertextualidade
literária, que a partir delas conseguimos identificar as diversas intertextualidades em
textos e imagens diversas. O segundo capítulo apresentou dados biográficos sobre
o autor e fortuna critica sobre a perspectiva de estudiosos que citam seu nome em
suas obras. E o último capítulo, apresentou a análise comparativa das
intertextualidades presente na obra com outras que de alguma forma lhe
influenciaram lhe serviam de inspiração para criação de outras obras.

Podemos concluir que este trabalho contribui para aumentar a valorização da


literatura Nordestina. A obra atemporal de Ariano Suassuna proporciona uma
reflexão a favor da identidade nacional comum em todos os habitantes de sertão
Nordestino. A obra escolhida é uma das maiores conquistas da literatura brasileira, é
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como uma tentativa de valorizar ainda mais o povo e sua diversidade cultural. Como
diz Ariano “Eu queria fazer um teatro que expressasse meu país e meu povo. (...)
Queria tentar expressar o povo brasileiro, que é meu. Povo pelo qual tenho um
entusiasmo muito grande.” (2004, p.21).

Com a pesquisa foi possível observar que a literatura não se faz em solidão textual,
ela está sempre ligada ao passado e ao presente de alguma forma, trazendo
aspectos intertextuais seja com os fatos históricos e socioculturais como também
dialoga com os discursos antes produzidos, independentemente do meio artístico
utilizado e que o futuro pode ainda não ser visto, mas já é cogitado pelo olhar
Literário.

Assim como um aprendiz e uma grande admiradora de seu trabalho é com grande
prazer que faço essa homenagem a esse grande artista e devorador de livros,
chamado Ariano Vilar Suassuna.
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