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Intolerância

Escrito por: João Gabriel da Silva Sanches


Um homem alto vai até à sala do chefe da polícia de sua cidade para
relatar um crime. Chega na sala após conseguir uma alta forçada do
hospital, que se recusava a liberar o paciente. Com o rosto levemente
desfigurado com alguns hematomas e com o braço esquerdo enfaixado,
entra na sala mais uma vítima das condições as quais as minorias são
obrigadas a conviver.
O policial bem trajado sentado em sua pequena mesa, em seu
apertado escritório mal percebe a entrada de determinada pessoa, pensando
apenas ser mais uma pessoa que foi averiguar se a situação estava
controlada na sala. Se surpreendendo ao ver que estava errado em sua
dedução, logo se arruma a postura e se levanta para cumprimentar o
homem lesionado.
- Por favor sente-se. Agradeço por vir aqui. Qual o problema com o
senhor? Claro, além da briga que o senhor teve.
- Este é o problema senhor, não foi uma briga.
- Então o que foi?
- Foi uma agressão, onde eu não fiz nada para aquelas quatro pessoas,
mesmo assim elas me agrediram só pelo fato da minha sexualidade não ser
a mesma delas. Pelo que eu sei isto pode entrar como crime de ódio, então
eu gostaria de denunciá-las por este crime.
- Como assim pela sua sexualidade, eles não concordavam pelo fato de
você ser homossexual?
- Sim senhor. Eu estava com meu namorado em um bar e nós havíamos
percebido ter um grupo sentado em uma mesa um pouco afastado de nós e
não paravam de nos olhar. Depois que acabamos e saímos de lá, este grupo
de homens saíram junto conosco e começaram a nos seguir e pouco tempo
depois eles já estavam nos cercando. Nós tentamos falar para eles que não
queríamos confusão e que só queríamos sair para se divertir, mas eles não
nos escutaram. Mesmo antes de deixarem nós terminarmos de falar, um
deles foi direto ao meu namorado e começou a bater nele, depois disto foi
só aumentando.
- E onde está seu namorado?
- Está no hospital, em uma situação pior que a minha.
Impressionado com a história, o policial se levanta e vai até um dos
pequenos armários que fica próxima a parece ao seu lado e dentro dele
retira um pequeno papel retangular, o qual tem seu nome e número, logo
em seguida o entrega para o homem com quem estava conversando.
O homem então pega o cartão, se levanta e agradece a atenção que o
policial lhe deu.
Saí então da delegacia e começa a voltar para o hospital ver se seu
namorado havia melhorada e se há previsão de uma alta dele. Porém, ao
chegar no local percebe outra realidade, seu namorado não está mais em
seu quarto, no seu lugar há outro homem que está um estado visivelmente
melhor. Sem entender a situação decide então procurar um enfermeiro para
ele saber onde seu cônjuge está. Ele então recebe a informação que ele
havia sido transferido para outro quarto menor já que o estado dele era
melhor que o atual paciente que está usando do quarto. Questionando a
decisão, ele ouve que o doutor Roberto havia pedido pessoalmente para
fazer isto.
Impressionado com tal decisão de um profissional, a vítima das
agressões decide procurar pelo doutor, porém não tem sucesso. Decide
então procurar por seu amado e não o encontra em nenhum dos quartos do
hospital, nem nos grandes, nem nos menores que o enfermeiro havia dito.
Desesperando-se, decide procurar pelo nome doutor Roberto na
internet e o que encontra o surpreende. Este doutor havia sido processado
diversas vezes por seus pacientes por serem submetidos a condutas
extremas, como o remanejamento para salas minúsculas e mal ventiladas,
viu também que a maior parte destas denúncias vinham exclusivamente de
grupos menores como homossexuais e alguns grupos religiosos como a
comunidade judaica, cigana e de religiões africanas. Estes processos
absolvidos por Antônio, o chefe da polícia local.
Completamente chocado com o que havia descoberto. E sem
entender o motivo que levaria o chefe da polícia a agir de maneira de sutil
com ele, sem o discriminar e o tratando normalmente. Vai então à procura
desesperada de seu namorado, visto que ele poderia estar com problemas
nas mãos de um médico tão intolerante com este.
Vendo a situação do homem, se aproxima dele outro enfermeiro
tentando ajudá-lo.
- O senhor precisa se acalmar. Do que o senhor precisa.
- Eu preciso achar meu namorado, ele está em perigo.
- Vou fazer o possível para lhe ajudar. Mas visto que provavelmente ele
está com o doutor Roberto, é provável que ele tenha sido transferido.
- Vocês sabem de tudo isto e mesmo assim nada fazem, vocês não têm
vergonha de trabalhar com uma pessoa como ele?
- Tenho vergonha de trabalhar para ele sim. Por isso não podemos falar
nada. Ele nos ameaça se contarmos, fala que pode estragar nossa carreira.
Não posso dizer nada, contudo seu namorado está no segundo andar dentro
de uma sala do faxineiro.
O enfermeiro então se afasta rapidamente e vai em direção a outra
sala um pouco mais distante do homem. O rapaz sobe correndo as escadas
e vai à procura da sala do faxineiro, a encontrado após alguns minutos de
corrida pelos corredores do hospital. Chegando lá, vê o corpo de seu
namorado completamente estirado em sobre uma maca, com vários cortes
sobre todo o corpo. Perplexo com a visão que acabou de ter, o homem
então vai em direção ao seu namorado que nada faz, tenta o chamar pelo
nome, mas já não vê reação nenhuma. Escuta alguns passos na distância se
aproximando, ele então tira seu celular do bolso e fotografa o corpo de seu
amado, a publicando em suas redes rapidamente, avisando dos males da
opressão havia sofrido nas mãos de algumas pessoas que não conseguem
entender o lado dele. Mostrou também todo um esquema de corrupção na
cidade envolvendo o chefe da polícia e o gerente do maior hospital da
cidade. Porém, esta é uma conclusão que ele não verá, até porque o
Roberto chegou e infelizmente colocou as mãos no pobre homem.
Sua postagem teve uma alta repercussão, conseguido mostrar ao país
os males escondidos sobre algumas pessoas. Com isto, alguns milhares de
pessoas pararam de sofrer com pessoas que pensam de forma parecida a do
médico, porém isto custou-lhe a vida.

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