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Boletim informativo ilustrado da Escola Waldorf Querência | nº 01/2020

Querida comunidade querenciana:


Estamos passando por um momento de
grande desafio enquanto humanidade. A rotina
de milhares de pessoas foi rapidamente
alterada e isso trouxe inúmeros desafios de
reorganização do dia a dia. A escola assume
grande papel no ordenamento da rotina das
crianças e das famílias, ainda mais se tratando
de uma escola como a nossa, em que há um
grande envolvimento. Todas as nossas
instâncias encontram-se engajadas para que, da
melhor maneira possível, nossa comunidade Aquarela da professora Gabriela Duran (8º ano)
seja mantida unida e, de algum modo,
possamos levar um pouco da rotina da escola
para dentro de nossos lares. Assim, Pedagogia Waldorf.
conseguimos preservar em nossas crianças a Nesta primeira publicação de 2020,
nossa chama acesa. Uma das ações que está traremos uma dica de leitura a respeito da
sendo realizada é a renovação do nosso Quero- importância da manutenção de um ritmo diário
quero, que durante o período de 2010 a 2013 com nossas crianças, cuja necessidade se faz
foi o boletim informativo periódico da nossa imperativa em tempos de isolamento social.
escola. Ele vem agora complementar a nossa Também preparamos, com muito carinho, um
tradicional Circular Mensal, mas com o enfoque material a respeito da época de Páscoa, tão
diferenciado de compartilhar, na forma de um importante em nossas celebrações dos ritmos
informativo ilustrado, artigos, versos e anuais.
orientações com base na Antroposofia e na Boa leitura!

Uma rotina com ritmo organiza a vida e promove a saúde


Filipe Duarte, Professor Auxiliar do 3º ano

Em 2015, a tutora de nossas jardineiras, rotina e ritmo, alimentação, limites e autoridade,


Rosemeire Laviano, a querida Rose, publicou um sexualidade e festas do ano. Ou seja, a obra
livro chamado A arte de educar em família - os abrange uma quantidade enorme de temas
desafios de ser pai e mãe nos dias de hoje, junto importantíssimos para nossa educação.
com a psicóloga Sandra Stirbulov. A obra é uma Recomendamos a leitura!
ótima opção como introdução aos fundamentos da Hoje daremos atenção especial ao capítulo
Pedagogia Waldorf, que podem ser seguidos em que fala sobre o ritmo como grande organizador da
casa por toda a família. O livro está recheado de vida e promotor da Saúde.
dicas e temas superimportantes. Fala sobre o Com a mudança brusca em nossas rotinas,
desenvolvimento do ser humano, com atenção imposta pela necessidade de isolamento social,
especial ao desenvolvimento da criança, sobre parece que o tema do ritmo se impôs. Afinal, já
estávamos começando a entrar em novo mediadas pela pausa. Tudo funciona como um
movimento enquanto comunidade escolar, em que grande respirar. Além disso, outra questão
pela primeira vez iniciamos o ano com todas as importante é a repetição, como as estações do ano
turmas em nossa sede definitiva na Ponta Grossa. demostram também. Esta repetição dos ritmos é de
Estávamos todos pela primeira vez em nosso lugar. extrema importância, pois promove segurança para
Apesar de estarmos ainda em processo de a criança, tornando-a mais tranquila e equilibrada.
aprendizagem das novas atividades que o próprio Portanto é possível organizar uma rotina que não
ambiente demandava, já tínhamos internalizado seja monótona, mas sim orgânica e revitalizante,
uma rotina que envolvia a escola durante o período bastando para isso prestar atenção no ritmo e em
das manhãs. Estávamos apenas começando a nos suas repetições.
acostumar com a ideia de aprender com aquele "Graças à sua dinâmica, uma vida com
novo espaço. Por isso, a quebra drástica de nossas rotina ritmada traz mais maleabilidade, ou seja, o
rotinas pode ter desorganizado bastante a vida de que chamamos de "jogo de cintura". No caso da
todas as famílias. Nossos professores e demais criança, a rotina com ritmo diminui a ansiedade e
instâncias da escola sempre estiveram em debate a traz segurança. Toda situação nova gera um
respeito da organização de uma nova rotina que "friozinho na barriga". Imagine, no dia a dia, a
envolvesse a escola. Com certeza, a melhor maneira criança nunca saber o que vai acontecer em
está sendo feita entre cada turma e seu professor. seguida. Ficará o tempo todo com essa sensação: "o
No entanto, a questão do ritmo vai além da que será que vem agora?". A criança que possui
escola. Por este motivo, o livro da professora Rose uma vida com rotina ritmada se sente segura e tem
traz uma grande contribuição para este nosso uma possibilidade maior de adaptar-se as
momento. Neste capítulo, as autoras nos lembram novidades, quando surgem (p. 63)".
de que o tempo e espaço são as dimensões em que Nossa rotina escolar leva em consideração
os seres humanos são determinados e estes princípios. Tanto em nossas aulas diárias
direcionados. Inicialmente, a criança aprende quanto em nosso calendário, assim como durante a
noções referentes às dimensões espaciais, como execução de alguma atividade, observamos as
altura, largura, direita, esquerda, encima, embaixo. alternâncias entre contração e expansão. Como
Somente após um período ela começa a anda o ritmo em nossos lares? Estamos
desenvolver a noção de tempo. É esta relação entre conseguindo promover uma rotina saudável para
o tempo e espaço que nos dá o ritmo. O melhor nossas crianças? E os adultos, conseguem manter
exemplo é aquele que é encontrado na própria um ritmo para suas próprias demandas também?
natureza, como podemos observar no dia e noite, Por estes motivos, indicamos aqui a leitura
em nossos batimentos cardíacos, nas fases da lua, deste capítulo para todas as famílias. Durante a
marés, etc. No ritmo ocorre a alternância entre semana teremos mais dicas a respeito dessa
duas polaridades: a contração e a expansão, temática.

A Semana Santa viva em nós


Michele Melos, Professora de Classe do 2º ano

Há muitos mistérios contidos nos ação de duas forças principais: uma que nos quer
acontecimentos da assim chamada “Semana prender à vida puramente espiritual, sem nenhuma
Santa”, a semana que ocorreu entre a entrada de ação no plano terreno, e outra que nos quer
Jesus em Jerusalém e sua ressurreição (do domingo prender à vida puramente terrena, sem qualquer
de Ramos ao domingo de Páscoa). Uma visão ligação com o espírito. Assim, é possível perceber
interessante, apresentada por Emil Bock (um dos Cristo como símbolo de uma nova consciência, um
fundadores da Comunidade de Cristãos), diz novo passo para a forma como a humanidade pode
respeito às qualidades planetárias que se se relacionar com seus processos de tomada de
apresentam nos eventos e nas pessoas envolvidas decisão, apropriando-se cada vez mais de si mesmo,
em cada dia. Igualmente intrigante é o que Rudolf do desenvolvimento de seu Eu – que aponta para a
Steiner nos traz no conjunto de palestras possibilidade de uma construção social - em
denominado “O Quinto Evangelho”. Nele, Steiner detrimento do ego – que isola o ser humano em
reflete a respeito de momentos não muito pequenos universos individuais, separados.
conhecidos da vida de Jesus, bem como sobre a Assim, no domingo, dia do Sol, Cristo chega
à cidade de Jerusalém e é festejado e aclamado. As todo, atingir o supremo nível de altruísmo, com a
pessoas julgavam enxergar a luz em Cristo, mas na cerimônia do lava-pés e a doação de si mesmo na
verdade estavam cegas pelas próprias ilusões, santa ceia. Surge aí a figura do líder que não só
buscando um “salvador” externo. Aí fica evidente indica caminhos, mas atua junto dos seus e lhes dá
uma das forças que acompanham a humanidade, a suporte quando falham. A sexta-feira, fatídico e
da busca por uma iluminação completamente triste dia, traz as qualidades de Vênus em sua
divina, excluindo o que é humano, terreno. magnitude: o amor, o acolhimento e o cuidado
Qualquer um poderia ter se deixado levar pela aparecem, mesmo que em pequenos atos em meio
euforia coletiva e compactuado com essa ilusão, à barbárie e ao sofrimento – além do ato de doação
mas Jesus passa humilde e sereno pela multidão, suprema ao outro, com a crucificação. O sábado
dando início a sua jornada de maior dor. Para nós chega com o típico movimento de saturno,
essa dor equivale a reconhecer o que em nós é ego mergulhando profundamente nos mistérios. É o
e fuga e começar a entrar em contato com nosso momento em que já não podemos ver as ações de
verdadeiro Eu, sem máscaras ou enfeites. Na Cristo na terra, mas podemos perceber através de
segunda-feira, dia da Lua, Jesus desafia as antigas uma visão retrospectiva o que sua ação causou no
tradições. É hora da humanidade deixar de lado o mundo e em nós. No sábado é quando, mais
aspecto lunar, em que se respeitam as tradições claramente, Cristo luta com as forças do que nos
sem questionamento, sem reflexão acerca do que prende à existência material. Se tudo o que dá
nos é posto. A partir de agora, nada mais nos será sentido à nossa vida estiver ligado apenas à
dado – tudo será fruto de nossas escolhas. Na matéria, como enxergaremos a morte, única
terça-feira um novo aspecto de Marte surge a certeza que carregamos enquanto seres humanos
partir da ação do Cristo. Não mais se lutará com que somos?
espadas: a verdadeira batalha é no campo da Quando chega finalmente o domingo de
palavra, mas tampouco com o frio e cortante Páscoa, se passamos por todos esses
intelecto – ele usa o poder da argumentação questionamentos com coragem e verdade diante de
através de imagens ligadas à vida. A quarta-feira nós mesmos, é possível que tenha surgido o ser
chega com as características de Mercúrio: muita solar verdadeiro, aquele que passou pela morte do
movimentação, rapidez, comunicação. Através das ego e de suas crenças fantasiadas de certezas e que
interações com Marta, Maria Madalena e Judas, já não se deixa levar pelos desejos de viver fora do
diversos aspectos mercuriais são postos à prova, mundo, em um paraíso eterno. Há, aí, a
disso surgindo a possibilidade de transformação e possibilidade de ressurreição, de uma nova
a cura das relações, inclusive entre os gêneros – existência a partir do equilíbrio entre as forças do
cada uma dessas personagens seguirá um caminho espírito e da matéria. No centro da cruz que há em
diverso, assim como nós também seguimos, muitas cada um de nós quando abrimos nossos braços,
vezes inconscientemente. Na quinta-feira, dia de emanando a força que equilibra e é ponte do fluxo
Júpiter, vemos o aspecto de liderança, de visão do entre o pensar e o fazer, vive o ser solar.

Saiba mais:
Para quem quiser conhecer e/ou se aprofundar nos acontecimentos da Semana Santa, indicamos a
leitura do material disponível no seguinte endereço: http://www.festascristas.com.br/semana-
santa/semana-santa-textos-comunidade-de-cristaos/555-os-acontecimentos-da-semana-santa-emil-bock)
Outras referências e possibilidades de aprofundamento, além da supracitada:
* Steiner, Rudolf. O Quinto Evangelho: revelações da crônica do Akasha. (Tradução: Bernardo
Kaliks). São Paulo: Antroposófica, 1996.
* Rodas de Amigos – encontros regulares sobre as festas cristãs e a vivência do ano promovidos no
Espaço Vivo, com a mediação da euritmista Margrethe Skou Larsen.
* https://www.adigodesenvolvimento.com.br/qualidades-animicas/
* https://www.euritmiaviva.com/rodas-de-amigos
A Páscoa em casa
Daniela Leal, Professora de Manualidades (1º a 5º ano)

Estamos recolhidos em família e surge a oportunidade de vivenciar a época da Páscoa com calma.
Uma bela ocasião para criar em casa, a partir das imagens, uma atmosfera calorosa, para as crianças
vivenciarem o renascimento interior, a força da compaixão e do amor.
Trabalhos manuais, músicas, receitas, tudo é válido para trazer o clima de união.
Separamos algumas sugestões que podem ser feitas em família. As crianças pequenas adoram, os
maiores, inicialmente tímidos, se juntam, e os adultos despertam a criança interior. Dessa forma, trazemos
calor à alma e os sentimentos fraternos nos auxiliam a enfrentar essa realidade que ainda não sabemos até
quando será necessária.

TRABALHOS MANUAIS

Enfeitar um pouquinho nossa casa nessa época, criando um pequeno espaço


para colocar os símbolos que trazem essas qualidades. Um galho seco com casulos de lã ou
algodão; alpiste plantado no Domingo de Ramos para brotar no Domingo de Páscoa;
coelhinhos de tricô ou feltro; ovos pintados, colados, coloridos; guirlandas com galhos
secos, desenhos nas janelas.
Usando nossa criatividade e o que dispomos em casa, podemos criar uma boa
atmosfera, e as crianças jamais esquecerão essas vivências. O importante nesse momento
é o gesto, a iniciativa, e a integração em família. Nossos pequenos têm muito a ensinar.
Basta que estejamos atentos e disponíveis.
MÚSICA
Uma sugestão é o resgate de músicas da nossa infância para entoar em família.
As crianças do 4º ao 9º ano estão cantando em casa uma música preparada pelo professor
Lucas e os pequenos do 1º ao 3º ano estão cantando uma música preparada pela
professora Ana Lascano e Professoras de Classe.

A lagarta e a borboleta
Olha lá como a lagarta
vai andando, se arrastando
E no escuro do casulo
vai se enrolando
E quando o sol vem esquentar
Uma linda borboleta vai voar
E de flor em flor ela vai passear

CULINÁRIA
No Jardim de Infância, quinta-feira é dia de visita do Senhor Padeiro, e os
pequeninos e pequeninas são bons ajudantes. Na época de Páscoa, as jardineiras trazem a
atmosfera e os pãezinhos tem formato de coelho, orelhinhas, cenouras, conforme as
imagens vão surgindo. Experimentem!

Receita do pão do Jardim


1/2 kg de farinha integral
1/2 kg de farinha branca
1/2 xícara de óleo
1 xícara de açúcar mascavo
1 pitada de sal
1 envelope de fermento para pão
2 colheres de sopa de erva-doce
2 colheres de sopa de linhaça
2 xícaras de água quente ( mais para morna)

Preparo:
Coloque o fermento com uma colher de açúcar em uma caneca e acrescente um pouco de água
morna. Deixe crescer. Misture os ingredientes secos, a água e, por último, o fermento já crescido.
Sove até a massa ficar homogênea. Se grudar na mão, polvilhe farinha. Faça bolinhas do tamanho
da palma da mão e disponha na forma polvilhada com farinha. Assar por aproximadamente 30
minutos. Servir com molho pesto, "fiozinho de ouro" (azeite de oliva), pastinhas de receita de família!
Bom apetite!
ESTÓRIA
As jardineiras enviaram uma bela estória para que as famílias contassem às
crianças. Alimento que a alma carrega para toda a vida. E em momentos necessários,
quando adultos, ajudam-nos a renascer.

Rabiti

Era uma vez dois coelhinhos... um se chamava Rabiti (R) e o outro Orelhas Aveludadas (OA).
Numa bela manhã de sol, OA dizia:
- Bom dia luz do sol, bom dia lindo dia, bom dia pé de goiaba, bom dia pé de caqui! Quem eu vejo
vindo ali? Bom dia, meu amigo Rabiti.
- Não posso te dar bom dia, um cachorro vem vindo atrás de mim querendo me pegar, e eu estou
machucado, com um espinho na pata.
- Entre rápido na minha toca, disse AO. E assim OA correu no lugar de R e o cachorro nem
percebeu que outro coelho corria à sua frente.
Correu, correu, passou por campos, prados, atravessou um rio e quando o cachorro estava para
pegar OA, Deus pai, que do céu tudo vê, disse:
- Este animal que salvou seu amiguinho Rabiti não pode ser mordido por esse cachorro.
Ele então abriu as cortinas do céu (isto é afastou as nuvens... *é um gesto muito bonito que pode
ser feito com as mãos*) e enviou para a Terra muitos raios de sol, que por um momento deixaram o
cachorro cego, sem enxergar nada... E OA pôde aproveitar para escapar e voltou para sua toca. Rabiti já
não estava mais lá.
Em seguida, Deus Pai fechou a cortina do céu e o cachorro voltou a ver. Farejou aqui e acolá, mas
não encontrou mais o coelho e foi embora para sua casa.
No outro dia, mais uma vez OA acordou e disse:
- Bom dia luz do sol, bom dia lindo dia, bom dia pé de goiaba, bom dia pé de caqui! Quem eu vejo
vindo ali? Bom dia, meu amigo Rabiti.
- Hoje posso te dar bom dia. Muito obrigado por ter salvado a minha vida. E eu tenho que te
contar o que aconteceu na sua toca, enquanto o cachorro te perseguia: eu escutei passando ali perto a
mamãe coelha da Páscoa e ela dizia para seus coelhinhos: “Meus filhinhos, agora já não vai demorar mais
tanto para a Páscoa chegar, será que as crianças sabem que já podem ir guardando casquinhas de ovos
para nós depois as escondermos?”
- É mesmo? Foi isso que ela disse? - falou AO.
E os dois saíram alegres correndo e cantando... logo a Páscoa vai chegar, logo a Páscoa vai
chegar!!

Tradução e adaptação professora Silvia Jensen – Jardim Anabá


SOLIDARIEDADE
Nossas mãos criam coisas tão belas... e podemos usá-las para ajudar aqueles que
necessitam. Nesse período de recolhimento, isolamento para uns, quarentena para outros,
nossos profissionais da área da saúde trabalham incansavelmente. Enquanto estamos em
casa, diversas pessoas em situação de vulnerabilidade, moradores de rua e trabalhadores
de atividades que são essenciais, continuam circulando pela cidade.
Convidamos a comunidade a dar uma olhadinha em seus guardados, retalhos de
tecidos, elásticos, linhas, agulhas, tudo pode se transformar em máscaras de proteção bem
simples, que podem ser costuradas à máquina ou à mão e depois entregues aos que
necessitam.

Mãos que abençoam e fazem o bem,


mãos que trabalham e não se detêm,
Mãos que, amorosas, os braços amparam,
Mãos sim, que rezam e sempre rezaram,
mãos que se ergueram num gesto profundo,
São dessas mãos que precisa o mundo.

Extraído do livro A mão Humana – Ute Craemer

O Quero-quero é uma publicação produzida pela Comissão de Comunicação,


em parceria com o Colegiado de Professores da Escola Waldorf Querência.

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