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A Evolução Da Engenharia Na Arbitragem Em Busca De Garantir Uma Disputa Justa E

Eficiente

Não há dúvidas de que a arbitragem tem se consolidado como uma alternativa viável na
resolução de conflitos, sendo que seu atual sucesso é tamanho “que o Brasil já figura entre os
países que mais recorrem a essa modalidade”. Porém, ainda existem discussões e críticas
relacionadas a precisão e imparcialidade das informações apresentadas ao longo do
Procedimento, principalmente em casos que envolvem discussões complexas de Engenharia.

Em pesquisa recente da Queen Mary – University of London (“International Arbitration Survey


– Driving Efficiency in International Construction Disputes”), foi relatado que cerca de 33% dos
entrevistados já teriam deixado de prosseguir com uma arbitragem devido à questionamentos
em relação a sua eficiência. Por trás desse dado, verificam-se as seguintes justificativas: (i) 53%
alegam que as estratégias de disputa adotadas pelas partes contribuem para a ineficiência do
procedimento, (ii) 51% apontaram falhas de condução do caso por parte dos árbitros e (iii)
42% se preocupam com a quantidade excessiva de evidências apresentadas pelas Partes.

Especificamente no que concerne os aspectos técnicos abordados ao longo de uma


arbitragem, tem-se observado no mercado uma crescente insatisfação com a condução da
produção de provas por parte dos agentes técnicos envolvidos em função da falta de
objetividade nas análises, eventuais extrapolações da análise com a inclusão de pontos que
fogem às matérias técnicas controversas, uma falta de disponibilidade dos agentes principais
para dedicação ao caso, além da apresentação de pareceres que no final são inconclusivos ou
não contribuem efetivamente para a resolução da controvérsia.

Ambos os conjuntos de problema tem sido mitigados de forma efetiva nos casos em que o
papel do expert é expandido, através de uma nomeação adiantada. A este respeito, a
assistência técnica inclusive durante a fase de preparação do caso é considerada mais um
benefício para a gestão rentável do procedimento.  Essa assistência é prestada, em termos
reais, no momento da consolidação os pedidos, através da revisão das declarações das
testemunhas, quando os advogados e demais envolvidos se preparam para inquirições e, de
um modo geral, durante a audiência.  Além disso, os relatórios conjuntos de assistentes e
peritos poderão restringir as questões a serem ouvidas – tudo economizando tempo e custos.

Ainda na pesquisa da Queen Mary – University of London (“International Arbitration Survey –


Driving Efficiency in International Construction Disputes”), verificou-se um consenso entre os
entrevistados de que a contratação de peritos numa fase inicial conduziu a uma melhor
compreensão do caso e à clareza das provas, inclusive reduzindo os custos.

Reconhece-se que o especialista nomeado deve ser "um homem de ciência dentro de sua
própria ciência".  Nada deve mudar no futuro; o perito deve ter experiência na matéria e deve
demonstrar profissionalismo, compreensão, clareza de pensamento, flexibilidade, resiliência e
ser um membro de equipe; sendo este último de grande benefício para as partes.

Além do crescimento desta prática de nomeação antecipada, o mercado em geral tem focado
em construir novas práticas e diretrizes com o objetivo de solidificar a atuação dos
profissionais durante o procedimento arbitral, buscando garantir a sua eficiência e precisão.

Um bom exemplo de publicação nesse sentido é o “Código de Ética do Perito e do Assistente


Técnico em Processos” elaborado por Beatriz Vidigal e Renato Herz e divulgado na 70ª edição
da Revista Brasileira de Arbitragem. O Código foi elaborado após extensa pesquisa e análise de
diferentes Códigos de Ética, objetivando construir um referencial que reduzisse as incertezas
que envolvem o tema da imparcialidade e independência dos profissionais técnicos que atuam
em arbitragens.

O Código aborda temas importantes relacionados às perícias de Engenharia, como a


participação necessária do Assistente Técnico junto ao Perito com o objetivo de melhorar a
compreensão do Laudo, além de diretrizes mais claras a respeito de vedações e impedimentos
que possam interferir na atuação do Perito ou dos Assistentes Técnicos de forma imparcial e
irrepreensível, em conformidade com os padrões éticos.

Também tem sido objeto de discussão a necessidade de atualização da “NORMA TÉCNICA


PARA AVALIAÇÃO DO DESEQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO DE CONTRATOS DE OBRAS DE
ENGENHARIA” publicada pelo IBAPE em 2011. Uma revisão contribuiria para o
estabelecimento de diretrizes mais claras e objetivas às análises aplicáveis em caso de
desproporcionalidade entre as prestações originalmente contratadas e aquelas efetivamente
executadas. A atualização também é necessária para que a Norma se mantenha atualizada em
relação ao mercado, incorporando metodologias e práticas que estejam em vigor no momento
da atualização.

Além de novas práticas e publicações, também tem sido incentivada a utilização de normas e
práticas nacionais e internacionais que confiram maior rastreabilidade e embasamento às
análises apresentadas, o que também contribui para a garantia da objetividade e da
imparcialidade. Dentre essas práticas, merecem destaque as Práticas Recomendadas da AACE
(Associação para o Desenvolvimento da Engenharia de Custos), que abordam temas diversos,
como custos, estimativas, análises de cronograma, diretrizes de planejamento, pleitos, entre
outros.

Existem também algumas medidas que apesar de buscarem inovação, aparentemente andam
na contramão do avanço, como é o caso de algumas das alterações propostas pelo projeto de
reforma da Lei de Arbitragem (PL 3.293/21), que ao sugerir limitações à atuação do árbitro
contraria os princípios da liberdade contratual e da igualdade.

A formação de profissionais mais completos também tem sido impulsionada com o surgimento
de uma gama mais extensa e abrangente de especializações que focam em perícias,
arbitragens e desequilíbrio contratual.

Futuramente, a tendência é que tais práticas se intensifiquem, solidificando a importância da


atuação de profissionais técnicos nos diferentes papéis de uma arbitragem. A definição do
método mais apropriado para atuação do expert também tem se tornado fundamental, com
um aumento da adoção de métodos que extrapolam a prova pericial exercida por perito
nomeado pelo tribunal arbitral, se intensificando a prática da arbitragem que se direciona no
sentido de dispensar o uso de um terceiro técnico para auxílio do tribunal arbitral, cabendo às
próprias partes a demonstração de seu direito, por meio do uso de seus próprios peritos.

A delimitação de forma mais clara do que se espera da análise do expert também tem se
intensificado com a adoção de termos de referência, tópicos para perícia, entre outros, que
seja em substituição ou complementação aos quesitos, também contribuem para a condução
mais eficiente e eficaz da prova pericial.
Apesar da existência de um longo caminho a ser percorrido para que as incertezas
relacionadas às disputas arbitrais sejam completamente dizimadas, é notável a inquietação do
mercado, que continuamente busca adotar estratégias que contribuam para um resultado
justo e alcançado de forma eficiente. Na Engenharia, o papel do profissional técnico tem
ganhado importância e tem se tornado essencial nesse caminho próspero e evolutivo.

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