Você está na página 1de 10

DOI: 10.1590/1413-81232022271.

39502020 399

Estratégias adotadas para a garantia dos direitos da pessoa

temas livres free themes


com câncer no âmbito Sistema Único de Saúde (SUS)

Strategies adopted to ensure the rights of people with cancer


in the Brazilian Unified Health System (SUS)

Mario Jorge Sobreira da Silva (https://orcid.org/0000-0002-0477-8595) 1


Claudia Garcia Serpa Osorio-de-Castro (http://orcid.org/0000-0003-4875-7216) 2

Abstract This study was based on Giddens’ Resumo Este estudo, fundamentado na Teoria
Structuration Theory and aimed to analyze strat- da Estruturação de Giddens, buscou analisar as
egies adopted to ensure the rights of people with estratégias adotadas para garantir os direitos das
cancer in five Brazilian municipalities, anchored pessoas com câncer em cinco municípios brasi-
on the experience of managers and health pro- leiros, a partir da experiência de gestores e pro-
fessionals within the Brazilian Unified Health fissionais de saúde no contexto do Sistema Único
System (SUS). A multiple-case study design was de Saúde. Foi conduzido um estudo de casos múl-
conducted. The municipality was the unit of anal- tiplos. A unidade de análise foi o município e a
ysis and oncology care-certified facilities were es- subunidade foi a unidade habilitada de atenção
tablished as analytical sub-units. We analyzed the oncológica. Foi realizada a análise de conduta
strategic behavior of ten managers and 15 health estratégica de dez gestores e 15 profissionais de
professionals from interviews. The results were saúde, a partir de entrevistas. Os resultados foram
systematized according to care, legal and social sistematizados em três dimensões: assistencial,
dimensions. The relevant elements expressed were judicial e social. Destacaram-se: a necessidade de
the need to expand and organize the diagnostic expansão e organização da rede assistencial diag-
and therapeutic cancer care network; the concern nóstica e terapêutica; a preocupação com o grande
with the large number of lawsuits, both in light of número de demandas judiciais, tanto pela susten-
economic sustainability of the health system and tabilidade econômica do sistema de saúde, quanto
because of the promotion of inequalities; and the pela promoção de iniquidades; a pouca resolutivi-
low resoluteness of social benefits, as they do not dade dos benefícios sociais, uma vez que não aten-
meet all people’s needs. The adopted measures are dem a todos aqueles que necessitam. A percepção é
considered insufficient to ensure the rights of peo- de que as medidas adotadas são insuficientes para
ple with cancer in the Brazilian Unified Health garantir os direitos da pessoa com câncer no siste-
System. ma de saúde brasileiro.
1
Instituto Nacional
de Câncer. Praça Cruz Key words Patient rights, Neoplasms, Case re- Palavras-chave Direitos do paciente, Câncer, Es-
Vermelha 23, Centro. ports, Health care, Unified Health System tudo de casos, Assistência à saúde, Sistema Único
20230-130 Rio de Janeiro de Saúde
RJ Brasil.
mario.silva@inca.gov.br
2
Escola Nacional de Saúde
Pública, Fundação Oswaldo
Cruz. Rio de Janeiro RJ
Brasil.
400
Silva MJS, Osorio-de-Castro CGS

Introdução controle social (advocacy)3. Por outro lado, o não


atendimento aos dispositivos legais pode se cons-
O câncer tem se configurado como um impor- tituir em instrumento para judicialização, am-
tante problema de saúde pública, sendo previsto pliando as iniquidades na atenção oncológica14.
para 2030 a ocorrência global de, aproximada- Este estudo objetivou analisar as estratégias
mente, 22 milhões de novos casos e de 13 milhões adotadas para garantir os direitos das pessoas
de mortes1. Em que pese sua relevância epide- com câncer em municípios brasileiros, a partir
miológica, observa-se um baixo investimento na da experiência de gestores e profissionais de saú-
formulação de políticas de prevenção e controle, de no contexto do SUS, tendo a quimioterapia/
e disparidades socioeconômicas que contribuem hormonioterapia para o tratamento do câncer de
para grandes iniquidades no acesso aos sistemas mama como condição marcadora.
de saúde, do diagnóstico ao tratamento2,3. Com
o intuito de minimizar os impactos provocados
pelas desigualdades, estratégias para garantir os Método
direitos dos pacientes e sobreviventes do câncer
vêm sendo debatidas4-6. Trata-se de um estudo qualitativo fundamenta-
Existe uma variedade de documentos sobre do na Teoria da Estruturação de Giddens, que
direitos dos pacientes, mas apenas na Europa foi reconceitua a possível oposição existente entre o
desenvolvida e publicada uma declaração de di- objetivismo e o subjetivismo, presente em deter-
reitos das pessoas com câncer7,8. Esse documento minadas teorias sociais, em “dualidade da estru-
está fundamentado em três princípios: i) o direi- tura”15. De acordo com O’Dwyer16, a sistematiza-
to ao acesso à informação e ao envolvimento do ção dos elementos conceituais que compõem a
paciente com o seu tratamento; ii) o direito ao teoria permite o emprego desta abordagem para
acesso, em tempo oportuno, do diagnóstico ao a análise das práticas do SUS, subsidiadas por
tratamento; iii) o direito ao cuidado integral e normas e regulamentos, e que são contextuali-
de qualidade no sistema de saúde8. Segundo Ja- zados por circunstâncias da ação. Considerando
cobson et al.6, os países devem desenvolver suas a dualidade da estrutura, as políticas podem ser
declarações de direitos das pessoas com câncer. analisadas quanto: i) à estrutura disponível, com
O direito à saúde no Brasil é considerado um seu implícito caráter limitador ou facilitador,
direito social consagrado pela Constituição Fede- relativo à formulação, correspondendo a uma
ral de 1988 e regulamentado pela Lei Orgânica “análise institucional”; ii), ao discurso e à ação do
da Saúde9. Em 2009, foi publicada a Carta de Di- agente, relacionados à implantação, equivalendo
reitos dos Usuários do Sistema Único de Saúde a uma “análise de conduta estratégica”16.
(SUS) com o intuito de garantir o acesso univer- Neste estudo foi realizada a análise de con-
sal e igualitário dos cidadãos brasileiros às ações duta estratégica15 dos gestores e dos profissionais
e serviços de saúde10. No intuito de garantir direi- de saúde. Embora a investigação tenha enfatizado
tos à pessoa com câncer no SUS, três normativas as práticas, foram considerados os elementos da
podem ser destacadas: a Política Nacional para estrutura, especialmente as normativas relacio-
Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC)11, a nadas aos direitos da pessoa com câncer. Apoia-
Lei nº 12.732/2012, que estabelece o prazo de 60 do nesse referencial, foi conduzido um estudo de
dias para que o paciente oncológico diagnostica- casos múltiplos do tipo integrado17. A unidade de
do receba o seu primeiro tratamento12 e a Lei nº análise principal (caso) foi o município e como
13.896/2019, que define um prazo de 30 dias para subunidade de análise foi eleita a unidade habili-
que sejam realizados exames confirmatórios nos tada de atenção oncológica.
indivíduos que apresentarem neoplasia maligna Para selecionar os casos, considerou-se todos
como principal suspeita diagnóstica13. Além dis- os municípios que tinham serviços de quimiote-
so, são garantidos às pessoas com câncer alguns rapia para tratamento de pacientes com câncer
direitos previdenciários, tributários, financeiros, de mama. Os casos foram caracterizados quanto
administrativos e judiciais, que buscam minimi- à macrorregião geográfica e ao tipo de região de
zar as vulnerabilidades acarretadas pelo adoeci- saúde (RS) em que estavam inseridos (grupos 1
mento9. ao 5)18. A tipologia utilizada se fundamenta na
A existência de normativas específicas para análise da situação socioeconômica e da oferta
pacientes oncológicos constitui-se importante e complexidade dos serviços de saúde na região,
ferramenta de garantia ao direito constitucional reunindo municípios com características comuns
à saúde e pode funcionar como uma estratégia de e reduzindo o número de casos sem comprome-
401

Ciência & Saúde Coletiva, 27(1):399-408, 2022


ter a variedade de informações analisadas. Foram Resultados e discussão
selecionados cinco casos, sendo um município de
cada tipo de RS diferente, situados em macrorre- As três dimensões de análise que emergiram da
giões geográficas distintas. pesquisa estiveram centradas, especialmente,
Cada município incluiu uma unidade habi- em dois princípios fundamentais do direito à
litada de atenção oncológica. Nos casos em que pessoa com câncer, um relacionado ao acesso e
havia mais de um serviço, foram selecionados os outro relativo ao cuidado integral e de qualidade
estabelecimentos que realizavam maior número no sistema de saúde7,8,11. Esses aspectos ganham
de procedimentos de quimioterapia, segundo o importantes contornos na análise da conduta es-
Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS tratégica, uma vez que na Teoria da Estruturação
(SIA-SUS). as práticas são socialmente construídas, porém
Os roteiros de entrevista empregados no estu- pautadas por estratégias de controle definidas
do foram elaborados com o intuito de apreender por limites contextuais15.
as subjetividades e de conhecer a experiência dos
sujeitos. Em cada município foram entrevistados Dimensão Assistencial
o representante da gestão municipal da rede de
atenção em oncologia, o gestor da assistência far- Nessa dimensão, um dos pontos mais destaca-
macêutica municipal e os profissionais da equipe dos foi a necessidade da expansão da rede, como
mínima de terapia antineoplásica (médico, far- importante estratégia para ampliação do cuidado
macêutico e enfermeiro) da unidade habilitada em oncologia, com impacto coletivo e social. A
selecionada. No total, foram realizadas 25 entre- restrição de cenários de atendimento aos pacien-
vistas com agentes que estavam em posição estra- tes oncológicos pode resultar em diminuição im-
tégica para fornecer informações fundamentais portante na sobrevida e na qualidade de vida dos
para compreensão do fenômeno investigado. sobreviventes do câncer2. Dificuldades relaciona-
Para evitar a identificação dos sujeitos, foram das aos diversos serviços necessários ao controle
utilizadas siglas de correspondência com a fun- do câncer têm sido apontadas na literatura, tais
ção (GR: representante da gestão municipal da como: i) a distância a ser percorrida até um cen-
rede de atenção; GAF: gestor da assistência far- tro de tratamento oncológico, significando uma
macêutica; MED: médico; FARM: farmacêutico; grande barreira de acesso19; ii) o longo tempo de
ENF: enfermeiro), seguidas do número corres- espera para se realizar o diagnóstico da doença,
pondente ao tipo de RS onde o município estava devido à sobrecarga do limitado número de labo-
inserido. ratórios de anatomopatologia e histopatologia20;
A análise ocorreu em três fases. O material foi iii) a escassez de profissionais capacitados para
lido e organizado para identificar os elementos atuar na atenção ao câncer, nos diversos níveis de
mais frequentes, as similaridades e as divergên- atenção21. Suplantar essas e outras dificuldades
cias. A seguir, buscou-se reconhecer os núcleos de para expandir a rede é um desafio necessário:
sentido, identificando os componentes de análise Mas a gente tem dado uma resposta legal com a
mais representativos dos temas destacados, por expansão da rede da atenção básica. Pelo menos es-
meio do uso do software QSR NVivo 11®. Os ses diagnósticos tão sendo cada vez maiores e mais
resultados foram sistematizados em três dimen- precoces. [...] Por outro lado, preocupa, porque ...
sões: assistencial, judicial e social. Por fim houve não adianta só o diagnóstico. Você cria expectativa
interpretação de resultados e inferência analítica, e não dá continuidade. Então tem que vir junto,
com a finalidade de dar significado e validade aos diagnóstico e tratamento e acompanhamento pos-
achados. terior (GR4).
A pesquisa obedeceu aos pressupostos da Apesar da expansão apontada pelo entrevis-
Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº tado, a preocupação apresentada é legítima. Para
466/2012, que regulamenta pesquisas envolven- se garantir o direito da pessoa com câncer é fun-
do seres humanos. O estudo foi aprovado pelo damental que se estruture o todo e não apenas
Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional uma parte da rede de atenção11,18. De acordo com
de Saúde Pública Sérgio Arouca, registrado sob a Teoria da Estruturação dois processos estariam
nº 55992716.8.0000.5240. envolvidos na realização da ação: a racionaliza-
ção e a motivação15. O primeiro se refere à com-
preensão teórica dos atores (que subsidia a ação)
e o segundo ao potencial para a ação, que não se
vincula à sua continuidade16.
402
Silva MJS, Osorio-de-Castro CGS

Outro ponto destacado se refere a uma ini- dos pacientes atendidos no município A pelo
ciativa institucional, realizada no município 3, município B, ou conhecimento sobre a forma
que inclui a divulgação de ações de prevenção, a com que o município A faria o seguimento dos
realização de diagnóstico precoce e a dissemina- pacientes atendidos pelo município vizinho; não
ção de informações sobre o fluxo de atendimento foi relatada esta necessária parte do acordo entre
institucional: os entes. O farmacêutico, do município 4, mostra
Tem a [iniciativa institucional] [...] que vai a essa inquietude:
equipe multiprofissional, [...] a gente pega um mu- ... é muita cidade do interior, a maioria dos
nicípio, [...] entra em contato com a Secretaria de pacientes é do interior. Às vezes, vem motorista
Saúde, [...] aí a gente vai dar palestras no auditório de ambulância pegar, eu não tenho contato com o
para essa comunidade, [sobre] prevenção de câncer paciente [...] vem pegar remédio pra dez pacien-
[...]. Inclusive, a partir desse projeto, a gente teve tes. Então que garantia que eu vou te afirmar [...]
alguns pacientes que a gente conseguiu trazer para que esse remédio tá sendo entregue para o paciente?
vir para o centro de oncologia para tratamento... Que o paciente tá tomando direito? Eu não sei. Eu
(ENF3). já fiquei sabendo de caso que o paciente estava com
A realização desse projeto demonstra o quan- três caixas em casa, não queria tomar (FARM4).
to a unidade habilitada reconhece o seu papel na A fala da entrevistada se aproxima do que
rede de atenção11, não sendo apenas uma execu- Giddens15 denomina de monitoramento reflexi-
tora do tratamento. Cumpre com o que foi con- vo. Trata-se de uma característica crônica da ati-
tratualizado mas amplia as suas ações para for- vidade rotineira e envolve a conduta do agente,
talecimento da linha de cuidado em oncologia. e dos demais. Os atores controlam e regulam as
De acordo com Giddens15, o agente é capaz de suas atividades, frente ao contexto e esperam que
fazer a diferença. Presume-se que uma ação, que os outros façam o mesmo, por conta própria16.
se utiliza de recursos para se concretizar, é dotada Na perspectiva dos direitos da pessoa com câncer,
de poder, no sentido de capacidade de mudança. é fundamental que esse tipo de atividade ocorra
No âmbito do direito da pessoa com câncer, esse de forma estruturada, uma vez que não se pode
tipo de estratégia é fundamental. O acesso à in- negar o risco de desvio da hormonioterapia en-
formação possibilita ao indivíduo compreender caminhada, considerando que a entrega não foi
a necessidade de adotar medidas de prevenção e/ realizada diretamente ao paciente:
ou de se envolver com o seu tratamento6-8,11. Já teve caso de paciente vir aqui, falar: “ó, eu
Uma iniciativa, também destacada, foi o “de- vim buscar meu remédio”. [E eu responder:] “Não,
livery da hormonioterapia” para pacientes que o seu remédio já saiu” (FARM4).
residem em outros municípios. Utilizar as far- A ‘terceirização informal dos serviços’ foi
mácias das unidades básicas de saúde para dar uma outra estratégia enunciada pelos profis-
suporte para os centros de oncologia parece ser sionais do município 2. O relato mostra o que
uma estratégia importante para continuidade do pode ser considerado como “desvio de processo”,
cuidado ao paciente com câncer e no processo de a partir da significação institucional15. Segundo
estruturação da rede de atenção em oncologia, os entrevistados, quando faltam medicamentos
principalmente por minimizar possíveis barrei- para realizar o tratamento quimioterápico, os
ras de acesso geográficos21: pacientes são encaminhados para um serviço
A gente tem municípios próximos e a gente da iniciativa privada, não contratualizado pelo
separa as medicações. [...] a gente separa todas as SUS, para a realização do procedimento. A uni-
pacientes que são dessa região, a gente põe o nome dade pública habilitada preenche a Autorização
em cada caixinha [...] a gente coloca no container e de Procedimento de Alta Complexidade (APAC)
a prefeitura busca a medicação. Então a prefeitura e o valor ressarcido é cambiado para o serviço
pega essa medicação, leva pra farmácia, e o pacien- privado:
te de lá busca na própria instituição (FARM1). O nosso serviço ele tem um... contrato com uma
Do ponto de vista do acesso ao tratamen- clínica particular, que também fornece serviço de
to, um aspecto enseja reflexão: a responsabili- quimioterapia. Quando falta medicação no estado,
dade do tratamento deve ser compartilhada11, o paciente é referenciado pra esse serviço privado.
não apenas a provisão dos medicamentos. Não [...] Há época em que, [...] 60% dos nossos pacien-
é possível saber se os pacientes estão utilizando tes estão lá. E há época que 90% dos nossos pacien-
os medicamentos de forma apropriada ou apre- tes estão aqui. Então é muito sazonal, por culpa do
sentando efeito adverso que precise ser manejado processo de aquisição, da medicação... (FARM2).
adequadamente. Não há seguimento “remoto” Embora se compreenda a intenção de evitar
403

Ciência & Saúde Coletiva, 27(1):399-408, 2022


o risco de descontinuidade do tratamento, frente de se garantir os direitos da pessoa com câncer,
ao desabastecimento de medicamentos, é impor- demandando mudanças que possam minimizar
tante ponderar o atendimento realizado em um o número de demandas judiciais. Considerando
serviço não habilitado pelo SUS. Não é possível o contexto da judicialização, no qual prevalecem
saber se as mesmas condições estão sendo aten- a regulação normativa e o princípio da legitima-
didas. Ademais, a desorganização do sistema traz ção, o que Giddens15 denomina de instituições
situações conflituosas para os pacientes, atendi- legais, é fundamental que as regras sejam ade-
dos por profissionais diferentes, em estruturas fí- quadamente estabelecidas, evitando possíveis
sicas e operacionais distintas18. Do ponto de vista distorções.
prático, é um plano de contingência ineficiente, Do ponto de vista dos profissionais, as falas
uma vez que não promove soluções definitivas ao estiveram mais centradas nas motivações15, e sur-
problema identificado – a falta de medicamen- gem a partir da prescrição médica (na perspectiva
tos – e favorece o uso inadequado dos recursos clínica), e que podem constituir-se força motriz
públicos. da judicialização. O médico vê sua “responsabili-
dade” profissional como quase antagônica frente
Dimensão Judicial à sua atuação no sistema:
Normalmente, a gente como médico, tem que
A judicialização aparece, pela concepção dos esclarecer para o paciente quais são as possibilida-
entrevistados, como uma consequência esperada des que existem na comunidade científica, é nossa
da desorganização da rede e da falta de acesso, obrigação. A gente não pode omitir, assim, banir
sendo entendida como uma forma de garantir o paciente de ter o benefício de uma medicação
os direitos da pessoa com câncer. Essa dimensão porque o SUS não cobre, né? [...] A partir daí o
foi abordada por todos os sujeitos. Na perspec- paciente, se tiver interesse, eles entram via judicial
tiva dos gestores, três apontam aspectos que se para conseguir a medicação. O que vem se tornan-
destacam: do uma coisa muito frequente no SUS, no Brasil
i) produção de iniquidade pela realidade do inteiro... (MED2).
sistema paralelo22: As questões destacadas apontam para a atua-
... eu sempre digo que eu sou contra a judicia- lização científica, que na área da oncologia é bas-
lização [...]. Ela não faz parte do SUS. É um siste- tante dinâmica e significativa6. Em 2018, havia
ma paralelo. [...] e você não sabe o resultado dis- mais de 1.000 pesquisas clínicas em andamento
so, como é que funciona e pra quem que funciona somente com fármacos antitumorais25. É pratica-
(GR4). mente impossível para qualquer sistema de saúde
ii) escolhas trágicas entre atender as necessi- do mundo manter todas as novas terapias acessí-
dades individuais frente as coletivas23: veis para a população, devido a insuficiência de
... aparecem esses [processos] judiciais...Às informações sobre efetividade e segurança dos
vezes, por exemplo, a gente tá com recurso para novos medicamentos, como também pelo alto
fazer... cirurgia de catarata de 300 pessoas. [...] custo das novas tecnologias.
Ficam 300 pacientes esperando a cirurgia de cata- Não obstante, a decisão médica é sempre, ou
rata, enquanto tem um paciente recebendo trata- quase sempre, o iniciador da demanda judicial de
mento oncológico que não tem um custo-efetivida- medicamentos. Como a prescrição é aceita como
de aprovado (GAF1). soberana pela Justiça22, a necessidade real do pa-
iii) judicialização como estratégia mercado- ciente pode não ser questionada, especialmente
lógica14: no câncer, face às questões psicossociais subja-
... quando não se faz uma política com mais centes, à complexidade e à urgência da atenção.
consistência e que se antecipe a algumas situações, Os profissionais apontam, ainda, as distor-
a gente fica à mercê do mercado e das ações de judi- ções que podem advir do trâmite judicial, do
cialização (GAF3). processo em si, relativos ao início do tratamento:
As preocupações são claras: o dispendioso [As demandas judiciais] promovem atrasos,
investimento, que paradoxalmente reflete em porque a gente fornece o laudo pro paciente expli-
desassistência de diversos usuários do SUS23, e a cando qual o remédio, qual a indicação, porque ele
não integralidade do cuidado à pessoa com cân- deve tomar, e qual o estudo que a gente referenciou
cer11,24. nisso. Então ele vai no Ministério Público ou na
Outro aspecto relevante se refere a importân- Defensoria Pública, dá entrada no processo. Aí eles
cia da aplicabilidade integral e constante dos dis- reconhecem, pegam o laudo, vêm aqui na secreta-
positivos normativos existentes10-13, com intuito ria. Pedem uma notificação da secretaria se eles
404
Silva MJS, Osorio-de-Castro CGS

realmente não têm esse remédio, para depois dar dicação, sabe no papel que tá escrito 1 mg, mas ele
entrada no processo. Isso leva no mínimo [...] 30 não entende; ele não tem acesso ao sistema de com-
dias. Então assim, para o paciente começar a usar a pra, ele não sabe de quem comprar (FARM2).
medicação vai ser 60 dias... (MED2). O paciente não tem conhecimento técnico
E à continuidade do cuidado: e nem administrativo suficiente para realizar a
A gente processa o estado. [...] O estado vem aquisição, pois existem questões de ordem sani-
trazendo vários empecilhos, fica pegando detalhe tária, relacionadas ao transporte, ao armazena-
de relatório, ou às vezes até libera, mas aí o pro- mento, às características do produto e à falsifica-
curador vem com uma liminar e suspende o tra- ção, dentre outras, que precisam ser observadas
tamento do paciente. Então, o paciente começa e no momento da compra de um medicamento28.
daqui a pouco para o tratamento na metade... Por outro lado, mesmo que o paciente tenha con-
(MED5). seguido adquirir, onde será preparado para infu-
Atraso e descontinuidade dos tratamentos são são ou dose? Riscos importantes são agregados
condições preocupantes, pois podem promover ao preparo de um produto sem garantia de que
o agravamento dos casos, aumentar a chance de todos os requisitos de boas práticas foram rigo-
recidiva em situações já controladas e elevar o ris- rosamente cumpridos, configurando atitude pe-
co de mortalidade19. De acordo com a análise de rigosa e desprovida de responsabilidade sanitária.
conduta estratégica, o uso do poder em sistemas Três municípios (1, 3 e 5) relataram experiên-
sociais, nesse caso, a judicialização, pressupõe re- cias exitosas relacionadas à resolução de conflitos
lações reguladas de autonomia e dependência en- por meio de estratégias extrajudiciais:
tre diferentes atores em um cenário de interação Nós temos um grupo de trabalho com um juiz
social15. Nesse sentido, apesar de ser uma prática federal, juiz estadual, pessoal do estado, tem o pes-
recorrente e intencionada a suplantar barreiras, soal da Advocacia da União, Defensoria Pública,
os profissionais compreendem que o trâmite ju- todos os hospitais ..., filantrópico, particular ou
dicial não é o caminho mais adequado para que SUS... E a gente tem feito reuniões mensais para
o paciente exerça o seu direito de acesso ao tra- tentar verificar fluxos de encaminhamentos, traba-
tamento. lhar de que forma a gente pode fazer um trabalho
Duas outras situações foram apontadas. A melhor, envolvendo juízes, envolvendo secretaria de
primeira se refere à instituição abonando a con- saúde e secretaria de estado (GAF5).
duta médica e adotando medidas para que os pa- A estratégia destacada aponta para a constru-
cientes acionem a justiça: ção de consensos e de exercício de advocacy3, com
Aqui é assim, o hospital me dá total autonomia o intuito de garantir o acesso, a continuidade e
para eu solicitar o que eu quiser para o paciente qualidade do cuidado prestado ao indivíduo com
meu. [...] A gente dispõe de um advogado que não câncer11, com dinâmica de integração social que se
é contratado do hospital, ele vem aqui de forma vo- estabelece a partir das interações entre os diversos
luntária e ele faz ações para os pacientes de SUS atores envolvidos promovendo mudanças signifi-
(MED5). cativas nos sistemas15. Nessas experiências predo-
As relações duvidosas estabelecidas na impe- minam ênfase na negociação, pactuação e conces-
tração de demandas judiciais em oncologia vêm são; se estabelecem estratégias de implementação
sendo analisadas em outros estudos, que eluci- de políticas públicas mais consistentes; incorpora-
dam interesses particulares em detrimento dos se a perspectiva da sociedade civil e da instituição
coletivos24,26,27. Institucionalizar esse tipo de práti- na construção dos consensos e interpretação dos
ca pode ampliar iniquidades, propiciando maio- direitos constitucionais; e se consideram os dife-
res dificuldades para o sistema responder adequa- rentes contextos em que as demandas estão inse-
damente às necessidades de saúde da população. ridas para adoção de medidas mais efetivas para
A segunda é que, em havendo parecer favo- sua resolução29. Pela sua dinâmica, pluralidade e
rável pelo Ministério Público para a ação judi- intencionalidade é importante estratégia para se
cial impetrada, os pacientes recebem, dos entes garantir o direito da pessoa com câncer.
federados, o valor financeiro para a compra dos
medicamentos, transferindo para o paciente a Dimensão social
responsabilidade da aquisição do produto:
Ele entra na justiça, ele ganha, como o estado A garantia da saúde, como um direito cons-
não consegue comprar, o estado deposita o dinheiro titucional reconhecido, alberga um conjunto de
na conta desse paciente. O paciente que tem que benefícios sociais que podem ser requeridos pe-
efetuar a compra. O paciente mal conhece a me- los cidadãos em situações de doença10. No caso
405

Ciência & Saúde Coletiva, 27(1):399-408, 2022


do tratamento oncológico, a Lei nº 12.732/2012 sendo um importante suporte para as institui-
estabelece, em seu parágrafo primeiro, que o pa- ções de saúde, em especial para os centros de tra-
ciente com câncer receberá, gratuitamente, no tamento de câncer32,33, buscando suprir algumas
SUS, todos os tratamentos necessários12. Um dos necessidades não atendidas pelos órgãos gover-
pontos mais destacados pelos entrevistados foi o namentais. Além do apoio social, por vezes reali-
auxílio social, que é parte de um conjunto de di- zam suporte espiritual e terapêutico32, por meio
reitos dos pacientes, inclusive para aquisição de das Organizações Não Governamentais (ONG):
medicamentos: [...] tem a casa de apoio [da ONG], onde elas
... às vezes o paciente, ele fala que não tem con- acolhem alguns pacientes do interior, principal-
dições socioeconômicas de adquirir o produto. Aí mente, quem não tem onde ficar e que precisam
nós temos o serviço social que faz uma avaliação fazer, por exemplo, um tratamento de radioterapia,
do paciente. [...] Aí ele encaminha para a nossa que são vários dias seguidos, ou uma quimiotera-
farmácia municipal. Daí nós temos um contrato pia que são vários dias seguidos (FARM3).
com a farmácia, que ele adquire o medicamento e E da ação do voluntariado:
fornece para o paciente. Enquanto perdurar a sin- As pacientes, quando elas passam por todo o
tomatologia (GAF5). tratamento, elas têm o acompanhamento de um
Muito embora seja possível perceber na fala grupo de apoio de mulheres [voluntárias] do servi-
do agente que a ação envolve processos de racio- ço de oncologia... (FARM2).
nalização e motivação15, a estratégia é pouco re- Porém, é fundamental que não se transfira
solutiva. O atendimento individualizado, embora para as entidades de apoio o papel institucional
importante, fere um princípio constitucional e legitimado15, que deve ser exercido pelos entes fe-
promove iniquidades, pois apenas usuários que derados e unidades habilitadas11.
conhecem seus direitos conseguem ter acesso ao O Tratamento Fora do Domicílio (TFD) é
tratamento9. um benefício social que oferece auxílio ao pa-
O “pagamento administrativo”, também foi ciente atendido na rede pública e/ou convenia-
ressaltado como uma das iniciativas adotadas pe- da de saúde pelo SUS, em outro município ou
los municípios, mas estaria condicionado à capa- Unidade da Federação, com distância mínima de
cidade de alguns em assumir financeiramente o 50km da sua residência9,34. Embora, seja uma im-
custo de tratamento não previsto pelas diretrizes portante estratégia para diminuir as barreiras de
publicadas pelo Ministério da Saúde: acesso geográfico, os entrevistados expressaram
[...] nós pedimos que o médico solicitante faça preocupação com a eficiência do TFD, quanto ao
uma justificativa técnica e que ele cite pelo menos início do tratamento:
três evidências para a gente, enquanto técnico aqui A gente pede o TFD e passa tudo via secretaria.
na secretaria de saúde, [...] poder fazer a liberação Eles que entram em contato com o serviço solici-
ou não desse pagamento administrativo (GR5). tando a vaga e daí eles que programam a viagem
Uma vez que não foram avaliadas, protoco- do paciente [...] às vezes esse processo demora 60
ladas e/ou incorporadas pela Comissão Nacional dias. [...] Porque assim, depende de ter vagas em
de Incorporação de Tecnologias do SUS (Coni- outros serviços, e esse serviço disponibilizar a
tec), essas terapias podem trazer riscos aos pa- vaga... (MED2).
cientes. A adoção desta iniciativa, como resposta À sua continuidade:
governamental, além de favorecer iniquidades [...] nós temos 60% de pacientes de fora, [...]
em um sistema que deveria ser único e universal, tem paciente que às vezes chega às 7 horas da ma-
é frágil do ponto de vista político, pois é depen- nhã e sai 6 horas da tarde, [...] fica esperando o
dente do poder exercido pelo agente15. Ou seja, carro da prefeitura e é cansativo. Ainda mais para
caso ocorra mudança na gestão a medida poderá a mulher que ainda tem família, tem casa. Então
ser descontinuada. assim, é complicado (FARM1).
Qualquer iniciativa que busque resolver con- E com relação ao uso dos recursos públicos:
flitos contornando as regras vigentes não traz Quanto gasto tem cada ambulância pra trazer
sustentabilidade ao SUS e não garante a inte- paciente pra cá? Passar o dia inteiro, aí tem comi-
gralidade do cuidado. Gastos judiciários, extra- da, aí às vezes tem repouso, porque o paciente tem
judiciários, administrativos ou por benefício de que ficar a semana inteira aqui. Aí tem que arru-
assistência à saúde apenas criam mecanismos mar casa de apoio, ou o próprio paciente tem que
alternativos, resultando ainda em pressão para a custear o custo dele no hotel. Então isso tudo gera
incorporação de tecnologias30,31. muito custo... (ENF4).
O apelo social do câncer favorece a mobili- O atraso no início do tratamento pode im-
zação das pessoas, individual ou coletivamente, plicar no agravamento do câncer6, e os riscos de
406
Silva MJS, Osorio-de-Castro CGS

descontinuidade promovem desfechos negati- Considerações finais


vos19. Os recursos financeiros investidos no TFD
funcionam como facilitadores da mobilidade de Ao se analisar as estratégias adotadas para ga-
acesso34, dando suporte ao sistema logístico aos rantir os direitos dos pacientes com câncer no
usuários com câncer, quando necessário11. No contexto do SUS, identificou-se um conjunto de
entanto, a disponibilidade de recursos para TFD9 experiências que vêm sendo vivenciadas pelos
não implica necessariamente no seu uso, uma vez gestores e profissionais de saúde, com diferen-
que questões sociais e clínicas podem inviabilizar tes perspectivas. Foi possível notar, nas falas dos
o deslocamento do paciente para outras locali- entrevistados, a existência de explicações sobre o
dades: quê e o porquê faziam determinadas ações, o que
... a nossa dificuldade de acesso, que a maioria Giddens14 denomina de cognoscitividade – um
é aéreo, nem todos os pacientes conseguem subir mecanismo de defesa do sujeito, uma forma de
num avião. Pacientes que têm metástase cerebral significação, um sistema de interpretação, uma
não conseguem andar, pra sentar no avião, fazer tentativa de dar sentido às atitudes adotadas.
uma viagem de uma hora e descer pra radio[tera- De acordo com os entrevistados, a expansão
pia], entende? E se for de ônibus, aqui é pior ainda, e a organização da rede assistencial, diagnóstica e
porque é no mínimo 10 horas. Então, pacientes de terapêutica, são estratégias que devem ser empre-
[câncer de] pulmão que precisam de oxigênio não endidas para que os pacientes usufruam adequa-
conseguem sair daqui pra fazer radioterapia. Pa- damente dos seus direitos. A temática da judi-
ciente que tem compressão medular, que não de- cialização ganhou grande destaque na pesquisa.
ambula [...], é difícil você conseguir mobilizar eles Foi demonstrada intensa preocupação com a
com o transporte aéreo, porque eles não conseguem sustentabilidade econômica do sistema de saúde,
sentar muito tempo... é cansativo, têm dor, pra po- mediante o volume significativo de demandas ju-
der fazer a radioterapia (MED2). diciais e com suas consequências, com destaque
Considerando as experiências dos entrevis- para os desfechos clínicos desfavoráveis e o pre-
tados, o uso do TFD como garantia de direito à juízo assistencial para outras condições de saúde,
pessoa com câncer parece se traduzir como um promovendo iniquidades. Ressaltou-se, ainda, a
recurso limitado de ação, pois apesar de previsto pouca resolutividade dos benefícios sociais, uma
em normativa seu emprego prático é complexo, vez que não atendem a todos aqueles que neces-
sendo essa, portanto, uma dualidade da estrutu- sitam recebê-los.
ra15. Os temas abordados revelaram a desarticula-
Como limitações do estudo, apontam-se a ção existente no sistema de saúde público brasi-
impossibilidade de entrevistar maior número de leiro. Em oncologia o alcance de resultados posi-
profissionais e de inclusão de outras unidades tivos é dependente da integração de uma rede de
habilitadas de atenção oncológica nos casos se- cuidados especializados (média e alta complexi-
lecionados. Porém, acredita-se que os indivíduos dade) e não especializados (cuidados primários,
que participaram das entrevistas conseguiram ter cuidados paliativos, saúde mental e outros). É
uma abordagem sistêmica sobre a temática inves- preciso que os diversos agentes, envolvidos no
tigada. sistema, compreendam as influências que afetam
as circunstâncias da ação e promovam a transfor-
mação das práticas realizadas, possibilitando a in-
tegração das ações e serviços de saúde, para além
das regras e recursos disponíveis, e assim consi-
gam garantir os direitos da pessoa com câncer.
407

Ciência & Saúde Coletiva, 27(1):399-408, 2022


Colaboradores Referências

Os autores contribuíram igualmente no deline- 1. Fidler MM, Bray F, Soerjomataram I. The global can-
cer burden and human development: A review. Scand
amento do estudo, análise e interpretação dos
J Public Health 2018; 46(1):27-36.
dados, redação e revisão crítica do artigo, e apro- 2. Prager GW, Braga S, Bystricky B, Qvortrup C, Cris-
varam a versão final encaminhada. citiello C, Esin E, Sonke GS, Martínez GA, Frenel JS,
Karamouzis M, Strijbos M, Yazici O, Bossi P, Banerjee
S, Troiani T, Eniu A, Ciardiello F, Tabernero J, Zie-
linski CC, Casali PG, Cardoso F, Douillard JY, Jezdic
S, McGregor K, Bricalli G, Vyas M, Ilbawi A. Global
cancer control: responding to the growing burden,
rising costs and inequalities in access. ESMO Open
2018; 3(2):e000285.
3. McCanney J, Johnson T, Bandini LA, Chambers S, Bo-
nar L, Carlson RW. Advocating for Equity in Cancer
Care. J Natl Compr Canc Netw2019; 17(9):1043-1048.
4. Spinks T, Albright HW, Feeley TW, Walters R, Burke
TW, Aloia T, Bruera E, Buzdar A, Foxhall L, Hui D,
Summers B, Rodriguez A, DuBois R, Shine KI. En-
suring quality cancer care: a follow‐up review of the
Institute of Medicine’s 10 recommendations for im-
proving the quality of cancer care in America. Cancer
2012; 118(10):2571-2582.
5. Schear RM, Manasco L, McGoldrick D, Kajana K,
Rosenthal L, McMikelA, Lins N. International fra-
mework for cancer patient advocacy: empowering
organizations and patients to create a national call to
action on cancer. J Glob Oncol 2015; 1(2):83-91.
6. Jacobson JO, Berry LL, Spears PA, Steffensen KD, Attai
DJ. Proposing a Bill of Rights for Patients with Cancer.
J Clin Oncol 2020; 16(3):121-123.
7. Lawler M, Le Chevalier T, Banks I, Conte P, De Lo-
renzo F, Meunier F, Pinedo HM, Selby P, Murphy MJ,
Johnston PG. A Bill of Rights for patients with cancer
in Europe. Lancet Oncol 2014; 15(3):258-260.
8. Lawler M, Banks I, Law K, Albreht T, Armand JP,
Barbacid M,Barzach M, Bergh J, Cameron D, Conte
P, Braud F, Gramont A, Lorenzo FD, Diehl V, Diler S,
Erdem S, Geissler J, Gore-Booth J, Henning G, Højga-
ard L, Horgan D, Jassem J, Johnson P, Kaasa S, Kapi-
tein P, Karjalainen S, Kelly J, Kienesberger A, Vecchia
CL, Lacombe D, Lindahl T, Löwenberg B, Luzzatto L,
Malby R, Mastris K, Meunier F, Murphy M, Naredi P,
Nurse P, Oliver K, Pearce J, Pelouchov J, Piccart M,
Pinedo B, Spurrier-Bernand G, Sullivan R, Tabernero
Jm Velde CV, Herk BV, Vedsted P, Waldmann A, Weller
D, Wilking N, Wilson R, Yared W, Zielinski C, Hausen
HZ, Chevalier TL, Jonston P, Selby P. The European
cancer patient’s bill of rights, update and implementa-
tion 2016. ESMO Open 2016; 1(6):e000127.
9. Campos JRIS. Direito fundamental à saúde: uma aná-
lise da proteção jurídica às pessoas acometidas por
neoplasia maligna. Rev Videre 2015; 7(13):34-48.
10. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Carta dos direitos
dos usuários da saúde. 3ª ed. Brasília: MS; 2011.
11. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Anexo IX da Por-
taria de Consolidação n° 2, de 28 de setembro de
2017. Dispõe sobre a Política Nacional para Preven-
ção e Controle do Câncer (PNPCC). Diário Oficial da
União 2017; 3 out.
12. Brasil. Lei nº 12.732, de 22 de novembro de 2012. Dis-
põe sobre o primeiro tratamento de paciente com ne-
oplasia maligna comprovada e estabelece prazo para
seu início. Diário Oficial da União 2012; 23 nov.
408
Silva MJS, Osorio-de-Castro CGS

13. Brasil. Lei nº 13.896, de 30 de outubro de 2019. Altera 27. McCoy MS, Carniol M, Chockley K, Urwin JW,
a Lei nº 12.732, de 22 de novembro de 2012, para que Emanuel EJ, Schmidt H. Conflicts of interest for
os exames relacionados ao diagnóstico de neoplasia patient-advocacy organizations. N Engl J Med 2017;
maligna sejam realizados no prazo de 30 (trinta) dias, 376(9):880-885.
no caso em que especifica. Diário Oficial da União 28. Costa AA, Chaves GC, Brito MA. Procurement of me-
2019; 31 out. dications in the Brazilian public sector: the search for
14. Vidal TJ, Moraes EL, Retto MPF, Silva MJS. Demandas quality in bidding processes. Rev Bras Farm Hosp Serv
judiciais por medicamentos antineoplásicos: a ponta Saude 2019; 10(2):0413.
de um iceberg? Cien Saude Colet 2017; 22(8):2539- 29. Asensi FD. Judicialização ou juridicização? As institui-
2548. ções jurídicas e suas estratégias na saúde. Physis 2010;
15. Giddens A. A constituição da sociedade. São Paulo: 20(1):33-55.
Martins Fontes; 2003. 30. Biehl J, Socal MP, Amon JJ. The judicialization of he-
16. O’Dwyer G. Estudos de políticas e a teoria da estru- alth and the quest for state accountability: evidence
turação de Giddens. In: Baptista TWF, Azevedo CS, from 1,262 lawsuits for access to medicines in sou-
Machado CV, organizadores. Políticas, planejamento e thern Brazil. Health Hum Rights 2016; 18(1):209-220.
gestão em saúde: abordagens e métodos de pesquisa. Rio 31. Aragão SM, Silva ALC, Ditterich RG, Kusma SZ.
de Janeiro: Editora Fiocruz; 2015. p. 173-192. Reclamatórias em saúde recebidas pelo Ministério
17. Yin RK. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Público do Estado do Paraná: um estudo do CAOP
Alegre: Bookman; 2015. de Proteção à Saúde Pública. Rev Dir Sanit 2019;
18. Silva MJS, O’Dwyer G, Osorio-de-Castro CGS. Can- 20(1):223-243.
cer care in Brazil: structure and geographical distribu- 32. Lorhan S, Van-Der-Westhuizen M, Gossmann S. The
tion. BMC Cancer 2019; 19(1):987. role of volunteers at an outpatient cancer center: how
19. Silva MJS, Melo ECP, Osorio-de-Castro CGS. Origin- do volunteers enhance the patient experience? Su-
destination flows in chemotherapy for breast cancer pport Care Cancer 2015; 23(6):1597-1605.
in Brazil: implications for pharmaceutical services. 33. Thrift-Perry M, Cabanes A, Cardoso F, Hunt KM,
Cien Saude Colet 2019; 24(3):1153-1164. Cruz TA, Faircloth K. Global analysis of metastatic
20. Fayer VA, Guerra MR, Cintra JRD, Bustamante-Tei- breast cancer policy gaps and advocacy efforts across
xeira MT. Sobrevida de dez anos e fatores prognósti- the patient journey. Breast 2018; 41:93-106.
cos para o câncer de mama na região Sudeste do Bra- 34. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Portaria n° 55, de 24
sil. Rev Bras Epidemiol 2016; 19(4):766-778. de fevereiro de 1999. Dispõe sobre a rotina do Trata-
21. Nekhlyudov L, O’Malley DM, Hudson SV. Integrating mento Fora de Domicílio no Sistema Único de Saúde
primary care providers in the care of cancer survivors: – SUS, com inclusão dos procedimentos específicos
gaps in evidence and future opportunities. Lancet On- na tabela de procedimentos do Sistema de Informa-
col 2017; 18(1):e30-e38. ções Ambulatoriais do SIA/SUS e dá outras providên-
22. Pereira JG, Pepe VLE. Acesso a medicamentos por via cias. Diário Oficial da União 1999; 26 fev.
judicial no Paraná: aplicação de um modelo metodo-
lógico para análise e monitoramento das demandas
judiciais. Rev Dir Sanit 2015; 15(2):30-45.
23. Domingos LO, Rosa GFC. O direito fundamental e
coletivo à saúde no contexto da judicialização. Cad
Ibero-Amer Dir Sanit 2019; 8(2):82-99.
24. Deprá AS, Ribeiro CDM, Maksud I. Estratégias de ins-
tituições da sociedade civil no acesso a medicamen-
tos para câncer de mama no SUS. Cad Saude Publica
2015; 31(7):1517-1527.
25. Beinse G, Tellier V, Charvet V, Deutsch E, Borget I,
Massard C, Hollebecque A, Verlingue L. Prediction of
drug approval after phase I clinical trials in oncology: Artigo apresentado em 03/07/2020
RESOLVED2. JCO Clin Cancer Inform 2019; 1:1-10. Aprovado em 26/11/2020
26. Silva HP, Pimenta KKP. A atuação de advogados e or- Versão final apresentada em 28/11/2020
ganizações não governamentais na judicialização da
saúde pública no Brasil: a quem será que se destina? Editores-chefes: Romeu Gomes, Antônio Augusto Moura
Cad Ibero-Amer Dir Sanit 2017; 6(1):207-227. da Silva

CC BY Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons

Você também pode gostar