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20/01/2023 18:58 A hipótese de Riemann: o mistério matemático de US$ 1 mi que explica os números primos | Super

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Ciência

A hipótese de Riemann: o mistério matemático de US$ 1


mi que explica os números primos
O estudo desses números gera perguntas que até uma criança entende, mas cujas
respostas eludem gênios há séculos. Entenda os avanços das últimas décadas para
decifrar esse e outros segredos ocultos por trás da sequência mais fundamental da
matemática.
Por Bruno Vaiano 20 jan 2023, 10h40

Ilustração de Euclides de Alexandria escrevendo números primos num pergaminho.

 Henrique Petrus/Superinteressante

Texto: Bruno Vaiano | Ilustrações: Henrique Petrus | Design: Natalia Sayuri Lara | Edição:

Alexandre Versignassi

“Os números primos são como a vida”, escreveu o novelista britânico Mark
Haddon. “Eles até seguem uma lógica, mas você nunca vai descobrir as
regras, mesmo que passe todo o seu tempo pensando sobre elas.” 

Os primos, você sabe, são aqueles números divisíveis apenas por si


mesmos e por um: 2, 3, 5, 7, 11, 13… Eles são especiais porque formam os
tijolos fundamentais da matemática – do mesmo jeito que os elementos da
tabela periódica permitem montar todas as moléculas que os químicos
estudam, os primos são a base para construir todos os outros números.
Todo número que não é primo é composto, e pode ser obtido pela
multiplicação de alguns dos primos que vieram antes dele. Dois exemplos
simples: 2 x 2 = 4 e 2 x 3 = 6. 

Muitas perguntas em aberto sobre os números primos padecem do mesmo


problema: elas são tão simples que podem ser entendidas por uma criança,
e nós temos quase certeza de que já sabemos as respostas. Falta “só”
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conseguir as provas, e essas provas – como Haddon bem colocou – estão


entre as coisas mais difíceis que a humanidade já se propôs a fazer. É o
caso da conjectura de Goldbach e da hipótese de Riemann, que assombram
gerações de matemáticos. 

Essa é uma história que começa há mais de 2 mil anos, quando Euclides
pôs no papel o primeiro grande passo da civilização no estudo dos primos:
a prova de que eles são infinitos – de que sempre existe mais um tijolinho,
não importa o quão grande ele seja. Vamos começar, então, com a
descoberta descrita pelo bom velhinho grego.

RELACIONADAS

■ Existe alguma coisa maior do que o infinito?

■ A matemática foi descoberta ou inventada?

A prova de Euclides 

Vamos começar supondo que os números primos sejam finitos, e que o


maior deles é o 11. Você já sabe que isso é mentira – os primos, na verdade,
são infinitos. Mas tudo bem, porque o objetivo é justamente demonstrar
que essa suposição está errada, de uma forma que a explicação sirva não só
para o caso do 11, mas para qualquer outro primo. 

Primeiro, você pega todos os primos dessa lista finita e multiplica uns
pelos outros. Fácil: 2 x 3 x 5 x 7 x 11. Essa conta dá 2.310. Esse não pode ser
um número primo, certo? Afinal, na nossa ficção, 11 é o maior primo, e
2.310 é muito maior que 11. Mas isso também acontece por um motivo
mais sutil: 2.310 é o resultado da multiplicação de todos os primos, então
ele também pode ser dividido por todos os primos desse cenário. E se ele
pode ser dividido por primos, então ele é um número composto. 

Legal. Agora, vamos fazer uma conta simples: 2.310 + 1 = 2.311. Será que
esse número também é composto? Bom, 2.311 não é divisível por 11 (sobra
1). Nem por 7 (sobra 1). Nem por 5 (sobra 1). De fato, como o 2.310 é
divisível por todos os primos da lista, o 2.311 automaticamente não pode
ser divisível por nenhum primo, porque sempre vai sobrar aquele unzinho

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que a gente somou para atrapalhar tudo. E isso é um problema, porque


todo número composto é divisível por algum primo. 

Conclusão: se o 2.311 for mesmo composto, então ele só é divisível por


algum número primo maior do que 11, que não aparece na lista. E aí o 11
não pode ser o maior primo. A outra opção é que o 2.311 seja, ele mesmo,
um primo. Nesse caso, é óbvio, o 11 também não pode ser o maior primo.
Em qualquer um dos casos, não dá para o 11 ser o último primo da lista.
Precisa existir algum maior.

Provamos um caso específico, o do número 11. Mas o pulo do gato, aqui, é


que você poderia fingir que qualquer outro número primo é o maior de
todos, e repetir o procedimento. Sempre vai aparecer um primo ainda
maior. E como sempre é possível encontrar um primo maior a partir dos
primos preexistentes, os primos precisam ser infinitos. Essa é a beleza das
provas matemáticas. Elas têm validade absoluta. Não há exceções. 

Euclides, em 300 antes de Cristo, pôs no papel a primeira prova conhecida de que os números primos são
infinitos. Henrique Petrus/Superinteressante

A função zeta de Riemann 

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A infinitude dos primos é só a ponta do iceberg. A lista de coisas que ainda


precisamos provar sobre esses pestinhas é imensa, e a pendência mais
famosa é a hipótese de Bernhard Riemann, um matemático alemão do
século 19. Ela é um dos “problemas do milênio” – sete mistérios
matemáticos que dão um prêmio de US$ 1 milhão ao cabeçudo que vier a
resolvê-los.

Em setembro de 2022, Paul Nelson, do Instituto de Estudos Avançados de


Princeton, solucionou uma versão do problema da subconvexidade, que é
uma encarnação mais light da hipótese de Riemann. Um problema
parecido, só que mais fácil de lidar. E esse foi um dos únicos avanços
relevantes na resolução desse mistério desde que ele veio a público, há 150
anos. 

Explicar o trabalho de Nelson exigiria alguns anos de pós em matemática.


Mas dá para demonstrar outra coisa: por que qualquer passo rumo à prova
da hipótese de Riemann é tão importante. Para isso, precisamos entender
o que ela tem a ver com os primos.

Começando do jeito mais simples possível: 1 x 1 = 1, certo? Um pouco


menos óbvio é que -1 x -1 também é igual a 1. Quando você multiplica um
número negativo por outro negativo, o resultado é positivo – a tal regra
“menos com menos dá mais”, que repetimos no colégio feito robozinhos.
Isso significa que a raiz quadrada de 4 é 2 e também é -2. Do mesmo jeito, a
raiz de 9 pode ser tanto 3 como -3. Os números positivos têm todos duas
raízes quadradas, uma positiva e uma negativa. 

O problema é o seguinte: com cada positivo ocupando duas raízes, os


negativos ficam sem nenhuma. Não existe um número que, multiplicado
por ele mesmo, dê o resultado -1. Por isso, os matemáticos chamam as
raízes de -1, -4 ou -9 de números imaginários. Para não precisarmos
escrever √-4 ou √-9 o tempo todo, esses números fictícios foram batizados
simplesmente de i. A raiz de -4 é 2i. A raiz de -9 é 3i.

Embora o i não exista, ele pode participar normalmente de uma conta


qualquer. Digamos, 2 + 3i. O único problema é que o resultado precisa ser
escrito como 2 + 3i mesmo, porque, veja bem: não há um resultado. Os
números reais e os imaginários são como água e óleo, não se misturam.

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Essas somas entre reais e imaginários são o que os matemáticos chamam


de números complexos. 

Reserve os números complexos na mente. Agora, vamos explicar funções.


Funções são pequenas engenhocas que engolem um número e cospem
outro, sempre seguindo uma regra fixa. Se sua função consiste em
multiplicar todos os números do universo por dois, então o três vira seis e
o quatro vira oito.

Muitas funções dão instruções bem mais complicadas do que isso. É o caso
da função zeta. Ela pega o número de entrada (que a gente chama só de
“x”) e o insere nisto aqui: 1/1x + 1/2x + 1/3x + 1/4x… até o infinito. 

Parece difícil o suficiente, mas nosso amigo Riemann, que não tinha
celular para procrastinar, resolveu enfiar números complexos nos xis da
função zeta e ver no que dava. E o incrível é que, em muitos casos, o
resultado dessa soma infinita de frações dava zero. 

Vale dizer que o resultado zero, por si só, não é incrível. Por exemplo: todo
número par negativo (-4, -6, -8) no lugar do “x” faz a soma dar zero. É um
resultado que os matemáticos chamam de “zero trivial”. Mas esses são
números reais, comuns. O lance é com os números complexos que dão
zero. Eles têm uma característica: já verificamos zilhões deles, e calhou
que todos começam com 0,5. Tipo 0,5 + 2i, ou 0,5 + 3i. 

A hipótese de Riemann é justamente que todos os “zeros não-triviais” da


função zeta aparecem quando a parte real do número complexo é 0,5,
independentemente da parte imaginária. Quem conseguir provar isso de
uma vez por todas leva o milhão de dólares. E veja bem: não adianta
verificar trilhões deles no braço. Cada caso é um caso – precisamos de uma
prova universal como a de Euclides.

O que isso tem a ver com números primos? Bom: o jeito como os primos
estão salpicados ao longo da linha dos números – que parece aleatório, em
princípio – na verdade pode ser explicado por meio de um procedimento
matemático que se torna mais e mais preciso cada vez que você põe na
conta um desses números complexos que dão zero na função zeta de
Riemann.

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Uma maneira didática de vislumbrar esse procedimento envolve um


gráfico em que a linha dos números vai avançando da esquerda para a
direita: 1, 2, 3, 4… Cada vez que um  primo aparece, a linha dá um salto
para cima, formando um degrau de uma escadinha. Esses degraus podem
aparecer a cada dois, quatro ou quarenta passos, já que correspondem às
aparições erráticas dos primos. 

Agora vem a mágica: usando os números complexos de Riemann, é


possível desenhar um gráfico que descreve exatamente a mesma
escadadinha que o anterior, tomando um caminho completamente
diferente (que não passa por primos e envolve, pasme, o estudo de tipos de
ondas chamadas harmônicos). Esse é um resultado arrepiante: são duas
áreas da matemática que escalam uma montanha por lados diferentes, sem
saber que estão chegando ao mesmo cume.

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Os matemáticos contemplam o infinito dos primos sem aplicações práticas em mente: faz milênios que eles
exercem um fascínio magnético sobre nós. Henrique Petrus/Superinteressante

Gêmeos-problema

Além de Paul Nelson, muitos outros gênios contemporâneos atacam


questões diferentes sobre a distribuição dos primos: as regras que regem
os buracos entre eles. Uma história que começa com o matemático
Leonhard Euler, lá no século 17. 

Era uma vez o número de Euler: 2,718…. Ele é uma dessas constantes com
infinitos dígitos aleatórios depois da vírgula, como o pi (π). Você talvez
nunca tenha ouvido falar do número de Euler, mas com certeza já ouviu
falar de algo chamado logaritmo natural. Todo número tem seu logaritmo,
que a gente costuma chamar só de “log”, para facilitar. Alguns exemplos: o
log de 2 é 0,69. O log de 10 é 2,3. O log de 100 é 4,6. O que significam esses
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logs? É aqui que entra o Euler. Se você elevar o número de Euler a 0,69, vai
obter 2. Se você elevar a 2,3, vai obter 10. Se elevar a 4,6, vai obter 100. O
log é a resposta para a pergunta “a quanto eu preciso elevar o número de
Euler para obter um número tal?”

O que torna o número de Euler especial, e por que os matemáticos se dão


ao trabalho de descobrir um montão de logs só para depois fazer “número
de Euler elevado a esses logs” e voltar para os mesmos 1, 2, 3 de sempre?
Bom, a magia da coisa é que os logs não crescem tão rápido quanto os
números em si: o log de 1 bilhão é 20,7. E existem contas que você pode
fazer usando o 20,7 em vez do 1 bilhão, o que é bem mais prático. 

Praticidade à parte, os logaritmos naturais escondem um segredo sobre


números primos. Euler descobriu que o log natural de um número
também é o intervalo médio entre os números primos até aquele número.
Explicando com um exemplo, para facilitar: se você pegar todos os
números primos até 1 bilhão, o vão médio entre eles será 20,7. Pode haver
primos mais ou menos separados do que isso, mas essa será a média. Tal
conclusão é parte do Teorema dos Números Primos (PNT) – que, para
alívio dos matemáticos, já está provado desde 1896. 

O fato de que os logs vão aumentando significa que os vãos entre os primos
ficam cada vez maiores – e a frequência com que os primos aparecem, por
consequência, fica cada vez menor. De fato, já está provado que a distância
entre dois primos pode ser arbitrariamente longa, e alguns gostam mesmo
é de distância dos seus pares: a maior separação entre dois primos já
encontrada é de 7,18 milhões de números. 

Bacana. Mas o problema dos primos que se odeiam não é nem de longe tão
difícil quanto o problema dos que se amam. Estamos falando dos primos
gêmeos – o nome que se dá aos pares coladinhos, separados por só uma
unidade, como 11 e 13, ou 17 e 19. Acredita-se que existam infinitos casais
desses, e as verificações feitas na força bruta levam a crer que há. Mas, de
novo, não há uma prova. 

O maior passo nessa direção, até agora, foi obra do chinês Yitang Zhang em
2013 – um matemático que não fez ensino médio, imigrou para os EUA e foi
até atendente do Subway antes de deslanchar na carreira. Zhang conseguiu

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provar que existem infinitos pares de primos que estão a uma distância de,
no máximo, 70 milhões de números um do outro. Isso inclui os gêmeos, é
claro – mas também pares de primos muito mais amplos, separados por
quatro números, oitenta números ou milhões de números. 

Usando a trilha matemática aberta por Zhang, um trabalho online


colaborativo entre matemáticos deu um salto extra: conseguiu reduzir essa
janela de 70 milhões para 246. Ou seja: está provado que há primos
infinitos separados por essa distância, relativamente curta. O passo final
seria demonstrar que existem gêmeos infinitos, aqueles apartados por um
número só.

O inglês James Maynard provou um limite de 600 por um outro caminho,


tão genial que lhe rendeu a medalha Fields – o Nobel da matemática. É que
o trabalho dele é mais abrangente: prova que também existem quantidades
infinitas de trios, quartetos ou quintetos de primos em que cada um está a
uma certa distância máxima do outro. 

Esse foi só um gostinho do que ainda há para saber sobre os primos. Não
falamos, por exemplo, da conjectura de Goldbach – a ideia de que todo
número par maior que dois é a soma de dois números primos. Ela está na
mesma situação: testamos todos os números até 4 × 1018, e nenhum foge à
regra, mas não há uma prova. O francês Olivier Ramaré fez um avanço
parcial: demonstrou que todo par é a soma de no máximo seis primos, e o
australiano Terence Tao descobriu que todo ímpar é a soma de até cinco
primos.

Também descobrimos, em 2016, que os primos têm preferências. Por


exemplo: se um deles termina em 9, o próximo da sequência tem 65% mais
chances de terminar em 1 do que em 3 ou em 7. Por quê? Ninguém sabe. 

 E é claro que nenhum panda vai morrer se não chegarmos a saber. Provar
a conjectura de Goldbach, a hipótese de Riemann ou a conjectura dos
primos gêmeos são metas filosóficas, que podem até ter algum impacto
prático para a ciência no futuro, mas que os matemáticos perseguem hoje
sem aplicações em mente, em nome da curiosidade. 

Afinal, quando os gregos antigos começaram a mexer com primos, eles não
imaginaram que esses números se tornariam fundamentais para a
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criptografia, por exemplo. A nós, só resta imaginar o que os gênios do


futuro farão com o trabalho dos Euclides de agora. 

Caçada aos gigantes

Conheça o Gimps, um projeto que conecta computadores domésticos


voluntários ao redor do mundo para encontrar primos descomunais. Eles
já bateram 15 vezes o recorde de maior número primo conhecido.

Em 1996,  o cientista da computação americano George Woltman fundou o


Great Internet Mersenne Prime Search – em português, “grande busca de
números primos de Mersenne pela internet”, que atende pela sigla Gimps.
Trata-se de um projeto de pesquisa coletivo. Eles oferecem um software
que qualquer voluntário pode baixar. Você põe o programa para rodar e
decide se quer que seu computador verifique novamente primos
gigantescos já testados (é muito altruísmo) ou se prefere que ele tente
descobrir um novo, ainda maior. 

O Gimps se baseia em uma receita muito prática para descobrir números


primos. Primeiro, o software pega um número primo já conhecido (por

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exemplo, o três).  Então, põe o dito-cujo no expoente do dois (23 = 8). Por
fim, subtrai um do resultado (8 – 1 = 7). Sete, claro, é primo.

Essa fórmula não dá certo sempre, mas funciona com alguma frequência,
e já era conhecida por Euclides. 

No século 17, um clérigo francês chamado Marin Mersenne usou a fórmula


2p – 1 para encontrar os maiores primos conhecidos à época. Só que
Mersenne foi um pouco longe demais: afirmou que 2257- 1 era primo, o
que está errado. É um erro compreensível, claro: ele precisou multiplicar o
dois por si mesmo 257 vezes sem uma calculadora – o resultado tem 103
dígitos –, subtraiu um e então tentou descobrir (à mão!) se esse monstro
era divisível por algum outro número. Difícil.

Seja como for, os primos gerados por esse atalho ficaram conhecidos como
“primos de Mersenne”. E  eles são úteis porque existe um teste
relativamente rápido – o chamado “teste de primalidade de Lucas-
Lehmer”– capaz de determinar se um número gerado por 2p – 1 é mesmo
primo. 

O maior primo conhecido hoje, 282.589.933 – 1,é um primo de Mersenne e


foi descoberto em novembro de 2018 pelo computador do voluntário
francês Patrick Laroche, conectado ao Gimps. Esse monstro tem 24,8
milhões de dígitos (teclando um algarismo por segundo, você levaria 287
dias para digitá-lo inteiro). 

Grande, mas o céu é o limite: este repórter doou um pedacinho de sua CPU
para o Gimps e recebeu o número 2116.144.081 – 1, que tem 34,8 milhões
de dígitos. O resultado está previsto para 31 de janeiro, após a conclusão
desta edição da Super. Fique na torcida: a chance é ínfima, mas, se esse
número for primo, será o primeiro gigante descoberto no Brasil.

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