Diagramação: Patrícia F Dornelas Revisão: Manuh Costa ___________________________________ Dados internacionais de catalogação (CIP) Costa, Manuh Top Model 1ª edição Minas Gerais, 2021 1.Literatura Brasileira. 1. Titulo. ___________________________________ É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998). Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência. Todos os direitos desta edição reservados pela autora. — Fabulosa, maravilhosa, fantástica... Angelina olhou pra Marc e quis sorriu. Por mais que ele fosse um agente quase perfeito e sempre alguém na maioria das vezes muito bem-humorado ela não conseguia se sentir tão animada ou feliz. Deveria? O evento em Milão a esgotou. Estava cansada, exausta na verdade, e sequer conseguia pensar em algo diferente senão no momento que o jatinho pousaria e enfim estaria de volta ao lugar para onde ela evitava colocar os pés há mais de dez anos. Tinha dito milhares de vezes para si mesma que era um erro — era um grande e desastroso erro voltar para casa — depois de todos aqueles anos, mas, por fim, Gloria engravidou do primeiro filho e queria que ela estivesse lá para quando o primeiro herdeiro dos Dias nascesse. Seu primeiro sobrinho ou sobrinha estava a caminho e ela teria que voltar. Lar, doce, lastimável e triste lar. Refletiu sobre todo o conforto que aquela viagem lhe proporcionava. Nada de classe econômica, nada de pessoas barulhentas, nada de um tratamento meia boca. Em uma outra época de sua vida não teria aquele tipo de tratamento pois seus pais sempre foram mais humildes, como vulgarmente a maioria das pessoas falavam “pobres”. Enfim, tudo no momento atual colaborava para que fosse diferente, o bebê de Gloria teria todas as oportunidades que ela não teve quando criança, ainda mais se dependesse da família do pai do bebê, poderia afirmar com segurança que seria com pompa e exagero. Gloria se casou com um milionário, filho de um magnata do petróleo, um Thompson, fiel às tradições e nunca disposto a privar um futuro herdeiro de nada. Todos eles eram assim. Pensou Angelina. A começar por Catherine Thompson, a mulher que destruiu a sua vida e era incrível como se por mais que tentasse deixar os sentimentos de lado, ainda pudesse ter aquilo bem nítido em sua vida, haviam se passado dez anos. Dez anos! Como havia passado rápido! Hoje ela não era nem a sombra da garota que foi embora da casa dos pais. Não era mais desengonçada, não usava aparelho, seu cabelo não era motivo de riso de ninguém e não mantinha mais quela coisa de insegurança consigo mesma em relação ao mundo como antes. Ainda assim, sentia que voltar não seria bom, como poderia ser? Depois de duas semanas de trabalho em Milão, seus pés estavam doendo muito porque ficou muito tempo em pé, tiveram problemas horas antes com alguns preparativos nos últimos desfiles então ela e algumas outras modelos ficaram sem cadeiras nos camarins, seu corpo doía com a tensão da viagem e porque não dormia há quase dois dias, e a única coisa que ela queria era descansar, entretanto aquele parecia um desafio complexo já que estava tão ansiosa que não conseguia também porque havia uma equipe enorme dentro de um avião pequeno acompanhando cada passo dela. Já era daquela forma há muitos anos, entretanto às vezes era bastante estressante. Marc, seu agente, trouxera a uma tropa de seguranças, as chef’s de ambos e como se não bastasse, seus dois cachorrinhos chihuahuas para a viajem. Analisando-o ali de perto, como sempre só poderia descrevê-lo em apenas uma palavra: exagerado. Marc era um homem na faixa dos cinquenta e poucos anos, que adorava viajar e desfrutar do melhor da vida. Ele a protegia desde que ela começou a trabalhar como modelo, por ser tornar seu agente cuidava sempre dela, incondicionalmente diria, então não seria muito lógico viajar só em diversas situações. Com o tempo Marck se tornou muito mais que apenas um agente, ele era sua grande base, referência, seu único e melhor amigo e com quem sempre poderia contar. Por diversos motivos viajar sem Marc era na maioria das vezes uma situação exaustiva, ele cuidava de tudo e todos, se preocupava com o que ela precisava vestir, comer, com seus cuidados pessoais e sua agenda, eles eram inseparáveis basicamente 11 meses do ano, as únicas viagens das quais ele não a acompanhava eram as de férias com a família dela e ainda sim sempre trocavam mensagens e faziam vídeo chamadas para falar sobre algumas coisas das quais deveriam decidir. Angelina suspirou, algumas memórias da adolescência vindo muito claras em sua mente, ainda chateada e angustiada bebeu um pouco da água que haviam lhe entregado antes de se acomodar em sua poltrona, Marc estava ali sentado diante dela mexendo em um ipad, provavelmente conferindo os próximos trabalhos de sua agenda. Se perguntou se ainda era mesmo possível se sentir tão ligada ao lugar onde cresceu e ao mesmo tempo saber que por causa do que houve, perceber que não havia apego algum e sim até uma certa apatia. Boas memórias da infância com Bambi, péssimas memórias da adolescência conturbada. Contudo, talvez... só talvez já estivesse mesmo na hora de voltar para casa. A dúvida ainda pairava em sua mente quando decidiu voltar a pedido dos pais, a ligação surgiu a cerca de um mês e teve até tempo para pensar. Ainda que sua família viajasse com ela nas férias, nunca os visitava em casa, Santa Fé era algo distante de seus pensamentos até então, apenas uma lembrança. Todos aqueles anos sem colocar os pés na cidade onde cresceu e retornar estava se mostrando mais que um desafio. Não queria culpar a cidade por seu desafeto pessoal com o passado, afinal de contas havia mais responsáveis por aquilo do que um pedaço de terra, mas era impossível não se sentir desconfortável também. Analisou as unhas das mãos bem pintadas, os sapatos altos e o vestido que havia escolhido para usar em seu retorno “triunfal” — segundo Marc — e por alguns momentos recordou-se de como não havia vaidade alguma nela quando morava com os pais... Queria estar muito bem para voltar. Não queria parecer chique demais, nem chamar a atenção, é claro porque aquilo significaria atrair atenção indesejada da mídia, Marc despistou os muitos paparazzis obcecados por ela para Ibiza com notas falsas de férias inusitadas dela com colegas de trabalho, Angelina só queria ter uma semana normal ao lado dos pais e das irmãs. Só isso. Nada de passeios, nada de ninguém em cima dela tirando fotos e fazendo perguntas indiscretas sobre sua vida pessoal. Sentiu-se grata por ter Marc mais uma vez por perto para protegê-la de escândalos e manter o seu nome sempre notório. Oito anos de profissão nas passarelas e se dedicando integralmente à carreira garantiu a ela um título inestimável de modelo com melhor cachê do mundo. Era o que diziam sobre ela e ela sabia que era, sua conta bancária estava sempre farta, havia muitos dígitos, havia muitos números. Era bom saber daquilo. Era muito bom na verdade. Quando o jato começou a aterrissar, ela se viu na janelinha como aquela menina de dezesseis anos que usava um aparelho e óculos fundo de garrafa. Foi triste viver boa parte da sua vida com aquilo, no entanto o pior era ter que voltar a encarar um passado tão obscuro que ainda a assustava. Foi graças àquilo que ela perdera o seu bem mais precioso... Algo a machucou, algo que se foi e a deixou muito machucada... o seu bebê. Não se arrependia de ter partido por diversos motivos, entretanto havia um maior mesmo sabendo que não precisaria ter ido embora se nada daquilo tivesse acontecido, sentia-se mal, porque tinha consciência de que se não tivesse perdido a criança por culpa daquela maldita família — que agora dava o nome deles a uma de suas irmãs — talvez em algum momento da vida ainda estivesse morando ali. Pensou bastante sobre a irmã mais nova, Gloria não tinha culpa de ter se apaixonado por um Thompson bem como ela não teve de se entregar numa bandeja para outro anos atrás, contudo Catherine e seu filho Brad Thompson foram as piores pessoas do mundo para ela e eles sim eram os culpados. Gloria havia se casado com um dos filhos de Catherine Thompson, mas ao que dava a entender o rapaz não era como as pessoas da família, aquilo era de certa forma um consolo, ela estava casada com alguém que não teve envolvimento no que houve no passado. O irmão bom, não o ruim. Não poderia culpar mais ninguém além de Brad e Catherine Thompson por tudo que acontecera no passado. Se ele tivesse sido responsável e assumido as consequências dos atos dele, com certeza estaria com o seu bebê ali, e hoje seria uma linda menina. O médico disse que era uma menina, mas que nasceu morta devido ao parto, um dos momentos mais difíceis da sua vida. pensou Angelina. Contudo, se tivesse ficado ali provavelmente hoje ela só seria o que toda aquela gente já pensava sobre ela: uma nada, uma mulher sem conquistas, estaria morando na casa dos pais, no Texas, e trabalhando no supermercado local, vivendo nas sombras de uma das famílias mais ricas e influentes do país. Já não bastava a humilhação que passou? Toda a dor e sofrimento e ainda deveria ter se condicionado a aquilo? Não! Desceu de seu jato, minutos depois quando já estava no carro que Marc alugou observou as ruas bem asfaltadas e limpas, enquanto o automóvel de luxo que os transportava era manobrado pelo lugar. Mesmo que desejasse que seu paradeiro permanecesse do jeito que estava não queria se poupar de algum conforto e Marc entendia bem o significado daquilo. Ninguém precisava saber que ela estava em Santa Fé, só queria que os sete dias passassem logo, para poder retornar a Nova York e tocar sua vida normalmente como vinha sendo, à correria que sempre ocupava toda a sua mente, impedindo-a de lembrar daquilo. O carro estacionou diante da casa dos pais, a casa onde ela viveu boa parte de sua vida, mas que estava com um aspecto diferente devido a recente reforma que ela havia pagado para que os pais tivessem mais espaço e conforto. Sentiu um orgulho imenso quando viu o jardim perfeito e bem cuidado pela sua mãe, Cecilia, sabia que ela alimentava um imenso carinho por plantas por isso quando o solicitou que fizessem aquele aumento considerável na estrutura da casa, comprou os terrenos dos vizinhos para que a mãe tivesse um jardim para cultivar suas próprias flores e plantas, sua mãe sempre fora aplicada e delicada com tudo que fazia, ao contrário de Angelina, que nunca tinha paciência para nada manual na maioria das vezes. Havia uma fileira de carros caros e chiques no bairro classe média da cidade, já deveria ter começado o chá de fraldas de Gloria. Angelina desceu do carro, respirando fundo, depois pegou o embrulho vendo que Marc levava as malas já assumindo sua pose do que ele chamava de “hetera revoltada”. — Vamos lá, você está mais bella do que nunca, cherry! Não se importava se era a mais bela. Pensou. Riu nervosamente. Estava cansada, com sono, com fome e seus pés doíam terrivelmente naquele Vuitton preto de vinte mil dólares, e no final das contas estava bem longe de se sentir a mais bela, mas queria parecer bem, afinal de contas seu retorno era visto como um dos momentos mais esperados por sua família, ficariam felizes em revê-la, se não eles ao menos que Gloria ficasse feliz em saber que ela aparecera por ela e pelo seu bebê. Se viam raramente durante férias, ela nem conseguiu vir ao casamento de Gloria e sabia que isso magoara a irmã profundamente, por aquele motivo tinha mais certeza de que deveria ir ao chá de berço da irmã, estava em dívida com ela. Arrumou o vestido solto no corpo e Marc mexeu no cabelo dela como sempre fazia em algum bastidor. Ela não se maquiou, tomou apenas um rápido banho, quis estar bem. Entrou em seguida, ouvindo a conversa de algumas pessoas de dentro de casa. Ela não queria, nem esperava, ser reconhecida, porém estava pronta para quaisquer situações ou eventualidades que pudessem acontecer. Saiu dali como uma derrotada, uma fracassada, como a mãe solteira de um bebê morto — e não reconhecido pelo próprio pai —, como a nerd que nunca teve amigas na escola. Bem... teve só uma. Bambi. E assim que a própria a viu entrar, soltou um grito alto. Amber Sulivan, a garota que mascava chiclete de boca aberta e andava como um garoto, agora estava usando um belo vestido cor de rosa e mantinha com os cabelos tingidos de loiro, que realçavam os seus olhos verdes. Notou que não eram só mulheres que estavam na enorme sala bem decorada da casa de seus pais, alguns homens estavam num canto jogando Poker. Ela não se importou e foi abraçar a amiga. Claro, como poderia se esquecer da sua maior e melhor confidente da infância e adolescência? Ultimamente se falavam sempre por telefone ou mensagem via chat, videochamadas, mas nunca perderam o contato totalmente. — Oh, meu Deus, você está... está... — Amber estava pulando em seus sapatos baixos — Linda! Mais linda pessoalmente! — Obrigada — sorriu vendo que a baixinha grávida se aproximava com lágrimas nos olhos. — Oi, bebê! — Oi — Gloria sorriu, chorosa, quando Angelina a abraçou. — Você não deveria chegar assim! Nem confirmou se de viria! Pareceu burocrático demais para Angelina comunicar sobre sua decisão como qualquer outro convidado, até porque ela decidiu pensar com calma sobre ir ou não ao encontro da família. Olhar para Gloria grávida era tão diferente do que pensou, da última vez que a viu ela estava como sempre magra e mediana, agora a barriga dela estava redonda e os seios grandes, ela havia acabado de se casar com seu misterioso noivo, Angelina não foi ao casamento e também não conseguiu ser apresentada formalmente ao marido da irmã nem no período de namoro ou noivado porquê seus pais disseram que era um Thompson, então para ela só lhe bastou o fato de que já era alguém do qual ela não suportaria lidar, era melhor manter a distância o quanto pudesse, por aquele motivo Gloria fora sem o namorado nas últimas férias com os seus pais, mas usava um belo anel de noivado acerca de alguns meses. Foi muito difícil pular o muro de problemas que poderia haver entre ela e os Thompson e permitir-se ir até ali, engolir que sua irmã estava casada com alguém daquela família e saber separar as coisas, porque afinal de contas que culpa o rapaz tinha de que os pais eram dois monstros juntamente com o irmão mais velho? Soube separar bem aquilo em sua mente depois de alguns meses, para só então pensar em voltar e se permitir conhecê-lo, mas no fundo bem lá no fundo, ela estava ali pela irmã, por sua própria família e nada além daquilo. — Surpresa? — apenas sorriu e mostrou o presente. — Para o bebê. — Oh, obrigado, Angie! — Gloria soluçou toda sensível e aceitou a caixa. — Papai saiu para comprar cerveja com a Dora e mamãe foi buscar alguns petiscos. Quem são essas pessoas? — Gloria perguntou olhando para dez pessoas que acompanhavam sua irmã não importando aonde fosse. — Gloria estes são Marc, a China, o Ryan a Jorgia e alguns outros funcionários do Marc que vieram conosco já foram para algum hotel da cidade, pessoal, essa é a minha irmã Gloria, minha amiga Amber e todo o resto eu não faço a menor ideia de quem sejam, exceto por algumas pessoas da família do meu novo cunhado — explicou baixinho. — Posso ir à cozinha e preparar algo para eles comerem? — Oh, claro que não! Tem comida pronta, sabe como mamãe é — Gloria apontou para a enorme mesa de jantar na outra sala ao lado e levou a caixa até um canto onde havia algumas outras empilhadas, um tanto emocionada, porém já sorridente. — Ouvi falar que você estava em Milão. — Pois é, vim direto — disse se apoiando em Marc. — Você está linda grávida. — Esse pessoal são alguns amigos da família — Gloria explicou apontando para as pessoas ali espalhadas. — Pessoal, essa é a minha irmã Angie. Angelina acenou enquanto observava alguns rostos sorrirem para ela, é claro, tantos anos longe e ela sequer se lembrava de alguém da cidade exceto por vizinhos mais próximos, mas não era difícil de imaginar que se tratava de casais, só estavam divididos em grupos distintos, a turma dos homens e a turma das mulheres. Não queria quebrar a privacidade da irmã, então se uniu aos outros na outra sala ajudando a servir e acomodar a todos. — Ainda tem alguns convidados no terraço da piscina... a família do meu marido, é claro, está toda lá. — explicou Gloria enquanto se afastavam até um canto mais reservado da sala. Todos começaram a se acomodar nos sofás disponíveis, Angelina olhou para seu agente e ele a puxou pela mão fazendo com que ela se sentasse em seu colo, Marc era ótimo em enganar, aquela era sua arte há muitos anos. Gloria os olhou bastante familiarizada porque já conhecia Marc, tecnicamente seus pais achavam que eles eram como um casal assim como todas as pessoas que viam eles juntos, veicularam certa vez em algumas revistas de fofoca que ela estava grávida dele, Angelina sequer se atreveu a desmentir, gostava até da ideia de muitas vezes pensarem aquilo porquê significava que nenhum homem se aproximaria demais dela com segundas intenções, portanto era até comum que Gloria e Dora, suas duas irmãs pensassem também daquela forma. — Você chama atenção de todos, está magnifica querida — Marc falou logo que ela se acomodou de lado em seu colo. —, mas por favor, não coma estas porcarias. A capacidade de Marc de sempre colocá-la para cima era incrível, ele estava sempre motivando ela, lhe dizendo muitas coisas boas a respeito de sua aparência, era alguém que se preocupava com seu bem-estar, mesmo que as vezes enchesse seu saco com alimentação e exercícios era fundamental que ele estivesse ali. Suas intenções de corrigi-la e de chamar sua atenção nunca o tornou um vilão aos olhos de Angelina, muito pelo contrário, havia bastante coisas que ela sabia que Marc deveria e poderia ser, ele deveria ser rígido, mas também poderia ser legal as vezes, era parte do trabalho. Quando começou a trabalhar para Marc era muito dependente do que ele queria e precisava, ele foi duro com ela bem no começo porquê de fato ela era jovem demais e ingênua, em alguns momentos meio preguiçosa e procrastinadora, então em dias muito difíceis a pessoa que a motivava, estimulava e elogiava que fazia com que ela ficasse segura e bem dentro do possível, mas em dias em que ela estava “preguiçosa” ele falava coisas sobre como ela deveria se cuidar mais, pegava no pé dela. Era um relacionamento um pouco tóxico no começo, ela sabia, mas como parte de todo mecanismo de trabalho, sabia que se de alguma forma Marc não cobrasse dela a postura que deveria ter nos momentos em que cobrou ela nunca chegaria aonde chegou. Não encarava aquilo de forma ruim, mesmo que às vezes fosse meio chato, até mesmo o excesso de bajulação por parte dele. Hoje não era mais daquele jeito. Ele trabalhava para ela, não o contrário, talvez por aquele motivo ela soubesse se impor mais, Marc a conhecia o suficiente também para entender que Angelina cresceu e virou uma mulher, que ela nunca aceitaria que ninguém passasse por cima dela de forma alguma. Também graças a ele entendeu a importância de cumprir com horários, de ser mais disciplinada e de saber como e quando deveria tomar as melhores decisões, se antes Marc não houvesse ensinado o trabalho há dez anos, hoje ela não seria quem era, não teria o que tinha, aprendeu muito com ele. Havia cobrança, porém não de forma excessiva, mas apenas da forma chata Marc de ser. — Acho que não, o que seremos desta vez? Namorados? Noivos? A-man-tes? — quase sorriu do que ouviu, do deboche em sua própria voz quando insinuou. — Amadora — Marc esboçou uma careta — No mínimo que seja minha escrava sexual. Bom, a bem da verdade Marc a via como uma filha — aos olhos dela —, segundo ele uma sobrinha bem distante porque ele nunca assumiria que era velho o suficiente para ser pai de alguém, mas sabia que aquelas pessoas confundiriam muito as coisas assim como era com todas as outras que presenciavam a convivência deles na prática, elas preferiam insinuar coisas que não existiam há reconhecer a verdade, portanto preferia que eles usassem a imaginação, que pensassem o que quisessem. Havia uma mesa de frios, mas Gloria já estava entregando pratinhos com petiscos para todos eles, ao aceitar o seu ela começou a comer algumas azeitonas sem caroço, Amber se sentou no braço do sofá ao lado dela e Marc enquanto os demais em cantos do sofá agradecendo a sua irmã por serem servidos. Contudo, ao olhar de repente, ela viu um homem enorme surgir na sala, vindo da porta lateral que dava para a varanda onde ficava a churrasqueira e a piscina. Ela o reconheceu imediatamente e a julgar pelos saltos em seu peito, não pensou em nada além dos olhos de cor azul-claros, enquanto ele sorria para algumas pessoas na sala de uma forma discreta, sem ao menos tê-la notado ali. Por aquele motivo, reuniu toda a frieza que tinha dentro dela, dizendo para si mesma que considerar aquele homem no mínimo bonito não era nada conveniente, afinal, Brad Thompson destruíra todos os seus sonhos. — E a julgar pelos saltos no core, aquele deve ser o marginal — Marc sussurrou ao pé do ouvido de Angelina. — Por que eles sempre são tão gatos? Era uma ótima pergunta. Tão lindo e tão monstruoso. Pensou. — Você não conhece esse monstro — disse desviando o olhar e ficando se ajeitou no colo do seu agente de forma ficasse de costas para o rumo de onde Brad entrara. — Gente, acho que aqui não vai caber todo mundo, então pensei de vocês irem para um hotel. Só vou precisar dos serviços de China e Jorgia no dia que formos. — Uma semana de férias? — Jorgia perguntou. — Deixe-me fazer meu trabalho querida? Acredito que seja melhor que eu e China venhamos uma vez durante a semana para te ajudar já que somos as únicas ladies nesse recinto. — Hey! Olha como se refere a mim! — brincou Marc discretamente, fazendo todos rirem um pouco. — Não se preocupe, anja, nós ficaremos bem no hotel da cidade. Eu posso vir todos os dias, certificando-me de que está tudo bem, e pedir ao Ryan que fique com o carro a disposição. — Aqui não tem muita coisa para se fazer, só ficar na piscina mesmo — Angelina afirmou devorando alguns salgadinhos que estavam em seu prato descartável. — Como consegue comer essas coisas? — China questionou exibindo o próprio prato com ovos de codorna e salada. — Proteína! — Comendo? — Angelina a ignorou completamente. — Sobrevivendo ao aquecimento global? China sorriu, a verdade era que saber que Brad estava ali trazia a ela uma sensação ruim de incomodo, por mais que desejasse deixar de lado, contudo, ela sabia que poderia ser evitável desde que ele não se aproximasse demais dela. — Você está bem engajada né Angie? — Amber estava toda contente. — Vi alguns projetos seus, nossa, amei, você está linda, Angie. Meu Deus, nem acredito o quanto está... magra! Era ruim ouvir Amber falando aquela palavra, porque não queria que ela de alguma forma vinculasse seu atual físico a quem Angelina se tornou ou fora no passado, mesmo que parecesse intencionalmente que ela fosse sempre vinculada mais a aquilo do que a qualquer outra qualidade que ela possuísse. Magra... como se em algum momento ter sido gorda fosse algum problema para Angelina. Mudou por fora, por dentro, mas ser magra não tinha nada a ver com beleza porque no fundo, bem lá no fundo ela sabia que a única coisa que mais importava era o que ela representaria para as pessoas. Aprendeu aquilo a duras custas por mais que fosse contraditório. — Senti sua falta Bambi — enfatizou e tentou relevar o comentário da amiga. A chamava assim porque aquele era o desenho predileto de Amber quando pequena e ela fazia questão de que a chamasse por aquele apelido desde que se lembrava. Assistiu Bambi com Amber exatas 95 vezes num período de dez anos, ela a obrigava a assistir nos feriados de Natal, Ação de Graças e Independência, também sempre que tinha a oportunidade, segundo sua amiga de infância, Bambi era a melhor demonstração de afeto maternal que poderiam ter demonstrado em um filme, Angelina sabia até algumas falas do filme graças a amiga, foi um ritual que só acabou porque ambas seguiram suas vidas depois do ensino médio. — Oh, eu não te contei, mas... bem, eu estou noiva! — Amber exibiu o solitário de diamantes no anelar direito. — Quero que venha ok? Vai ser em janeiro. — Vou prometer me esforçar. Janeiro é o mês da do calendário de lingerie e biquínis — disse, pensativa. — Eu também trouxe presentes. Você vai amar as lingeries que eu trouxe de Milão para você. — Oh, que gentil — Amber disse. — Você está fantástica. Fantástica era melhor que magra. — Obrigada — disse em tom cordial. — Poderíamos sair juntas, ir ao cinema, como nos velhos tempos. — Claro que sim! — Amber riu. — Podemos ir à doceria do Paul. Ele pergunta por você até hoje. Doces... Há alguns anos adquiriu alguns hábitos alimentares que não permitiam que ela vivesse comendo tanto quanto queria, mesmo que às vezes ela desse uma escapada. Muitas vezes quando cometia excessos tinha que se exercitar com frequência porque infelizmente não havia muitas opções além de fazer exercícios e manter a alimentação com restrição de açúcar em alguns alimentos para estar bem fisicamente, ainda que já não fosse tão propensa a engordar como na adolescência. A bem da razão não se culpava pelo excesso de peso no passado, a gravidez também fora um grande fator para ela ficar acima do peso na época, hoje Angelina se enxergava de forma tão diferente de anos atrás, ela adquiriu mais confiança e se no momento tinha aquele físico era porque sabia que trabalhava com o corpo, com a imagem, portanto era obrigação se manter daquela forma. Feliz ou infelizmente, cada profissão iria exigir de cada um algo do qual a pessoa deveria manter, afinal de contas, ninguém elegia um advogado sem carteira, ninguém entregaria a vida de um médico sem que ele houvesse estudado, com ela só era diferente porque trabalhava com o corpo. — Angie, preciso que você venha um minuto aqui no terraço! — berrou Gloria do lado de fora. — Quero que conheça a família do meu marido. Como se ela já não conhecesse... Gloria bem se esforçava para fazer parecer que nada havia acontecido. — Você é tão forte — Marc disse exageradamente. — Você consegue! Motivacional do deboche. Angelina mostrou o dedo do meio para ele e revirando os olhos, levantou-se, Amber a acompanhou, é claro, sabia que havia chegado a hora. Sorriu para as mulheres na sala e passou reto, sem olhar na direção da mesa de Poker. Na direção de Brad. — Que ironia — Amber comentou quando saíram para o terraço, onde umas dez pessoas nadavam na piscina espalhada, entre elas crianças sorridentes. — Destino é a palavra exata — Angelina corrigiu, vendo-a rir. — Por favor, me diz que esse Augustus é legal. — Amiga... — Amber pareceu chegar a uma conclusão assustadora. — Ela não te contou? — Contou o que? — Ele e o Brad ... são gêmeos! GÊMEOS! A consciência dela gritava. Idênticos, sem tirar e nem pôr, Angelina tentou não ter uma taquicardia quando o moreno enorme de olhos azuis veio cumprimentá-la com o seu calção de banho cor preto. Amber tinha razão, ele era uma cópia do outro e aquilo foi bem mais do que chocante, porque até onde ela lembrava, nunca vira um gêmeo andando com Brad na escola ou nunca ouvira falar que ele tinha um irmão gêmeo idêntico. Ele era igual a Brad e tinha olhos azuis claros também como o irmão. Ombros largos, o corpo bem definido, era alto, Angelina não olhou muito para o sorridente homem e se voltou pra Catherine, que, meio sem graça, sorria para ela. Sorria como se nada houvesse acontecido. De onde ela conseguia tirar tanta frieza? Do mesmo lugar de onde eu tirei para vir até aqui e fazer isso. Pensou Angelina. Ela desejava entender melhor aquela história, saber de onde tirara outro filho igual ao Brad, como Gloria não contara aquilo para ela, e porque parecia estranho ela se sentir assim... eletrizada com a presença dele ali. Talvez porque ele era idêntico ao outro. — Seja bem-vinda de volta — disse Ryan Thompson, o pai de Brad com meio sorriso. — Você mudou muito. — O senhor achou? — perguntou tentando não parecer sarcástica. — Bem, é um prazer revê-los. Seja bem-vindo a família Augustus... — Não, não, eu sou o Brad — corrigiu ele constrangido com aquilo. Angelina engoliu a seco e levou alguns segundos para entender. Gloria mentiu. Ela a encarou sentindo quase o ar faltar nos pulmões e demorou um pouco mais para conseguir raciocinar novamente, olhou para a irmã e viu toda a insegurança estampada nos olhos castanhos, o medo, depois de novo para o marido de Gloria, que estava totalmente envergonhado. Então era aquilo. Ele não era Augustus, ele era Brad Thompson. Respirou de novo, a situação voltou-se contra ela e ela reverteu no segundo seguinte abrindo seu melhor sorriso, porque eram em situações como aquela que Angelina aprendera a se superar. Naquele momento ela fez como sempre fazia quando alguém tentava prejudicá-la ela apenas foi indiferente. O homem com quem a sua irmã se casou era seu ex, aquele que a engravidara e a abandonara, e agora engravidara a sua irmã. Estava inicialmente confusa, ainda mais porque jurara ter visto Brad na sala agora a pouco. Mas as peças se encaixavam rapidamente em sua mente, mesmo que precisasse pensar, respirar e xingar em um lugar fechado, onde ninguém a escutaria. — Seja bem-vindo de qualquer forma — disse ainda sorrindo e olhou pra Gloria, que parecia terrivelmente arrependida devido a situação. — Vou subir com a Bambi, acabei de chegar e preciso de um banho, com licença. Saiu de lá sentindo que poderia quebrar algo facilmente com as próprias mãos. Amber, segurou-a pelo braço e guiou-a pelas escadas, que davam para o andar de cima, onde ficava o seu antigo quarto. Angelina se soltou de seu braço assim que entraram no quarto com tanta raiva da situação, tanta raiva de ter sujeitado aquilo que queria chutar algo, sentiu nojo. Procurou o banheiro, sentindo uma náusea forte atingi-la, e vomitou tudo que comeu há poucos minutos no vaso sanitário, sentindo que o esforço quase a fazia chorar, mas no fundo era por outro motivo. A mentira de sua irmã, de sua família. Como eles tiveram coragem de esconder aquilo dela? Ela já sabia a resposta de suas perguntas, sabia que se tivessem contado, desde o começo, ela não estaria presente. Foi uma armadilha. Ela se quer teria cogitado voltar se imaginasse aquele tipo de situação. — É complicado — Amber se aproximou e ela se esquivou. Angelina foi até a o lavatório e começou a lavar o rosto sozinha, enraivecida, a amiga a observava cheia de pena, um sentimento que ela odiava que sentissem por ela. — Você sabia Bambi? — indagou sufocada — Complicado?! — fungou, e Amber deu descarga no vaso. — Não é complicado entender que a minha irmã mentiu para mim e a minha família me traiu! Você! É um circo meu Deus, um circo! Enfiou as mãos nos cabelos afastando-os das faces, respirando fundo, machucava muito constatar que eles haviam colocado ela naquela situação, numa posição tão constrangedora, onde Angelina tinha que cumprimentar o homem que foi responsável por ela ter que ir embora, o homem que lhe virou as costas quando ela descobriu que esperava um filho dele. — Ei, calma aí, eu não fiz parte de nada, eu só fui convidada para a festa igual a você, eles só me avisaram que você viria ontem à noite, você mesma nem me confirmou se viria ou esqueceu disso agora? Perguntei diversas vezes e você não respondeu. Amber tinha razão pois Angelina estava ocupada com o último desfile então não teve tempo de responder ninguém nas últimas duas semanas. Ela também não quis responder porque não tinha decidido se iria voltar para casa. Agora ela tinha vontade de sumir dali. — Quanto a sua irmã eu concluo que ela só não quis estragar nada. Quando você foi embora, Gloria só tinha quinze anos, e depois disso Brad voltou da faculdade, procurou por você, mas quando a conheceu, se apaixonaram... — Pode parar com essa historinha de contos de fadas de que o ex super capitão da escola retorna arrependido da faculdade e pega a irmã da ex dele que foi embora. — cortou Angelina indignada. Ela se sentou sob o vaso com a toalha de rosto em mãos, respirando fundo, tentando manter o pingo de controle que estava perdendo rapidamente devido as constatações. — Enfim, eu não sei como aconteceu, eu só sei que eles dois se envolveram e decidiram se casar e o resto você já sabe, se tivesse ao menos lido o convite de casamento saberia o nome do noivo. Angelina respirou fundo e secou as faces com a toalha de rosto e viu Amber cruzar os braços toda chateada. Não leu porque não quis participar do casamento da irmã, na época estava lotada de trabalho, desde que Gloria disse que estava namorando alguém da família Thompson foi como se um bloqueio enorme houvesse tomado de conta de seu relacionamento com a irmã, simplesmente se afastou dela em muitos sentidos e aquele foi um deles, principalmente no começo devido a antiga rixa entre ela e os Thompson, levou um tempo para digerir tudo e aceitar que a irmã se apaixonou por alguém daquela família. Fazia mal pensar naquela gente. E agora todos eles estavam lá embaixo fazendo seus bons papéis de família superunida devido a gravidez de sua irmã como se nada houvesse acontecido. — O que? — indagou — Você achou que eu acharia normal Bambi? Que ficaria feliz? — NÃO NÉ? mas colocar a culpa em mim? — Um aviso na porta e eu já teria ido embora lá da calçada mesmo. Era muito estranho se sentir como em todas as vezes se sentiu durante a adolescência, vendo sua vida resumida a algo do qual não poderia controlar, a algo do qual não tinha nenhum tipo de decisão e odiava aquilo, fez menção de se levantar, não se sujeitar a aquele tipo de situação e ir embora. — Pare com isso, Angie! — repreendeu Amber cheia de firmeza, percebeu nos olhos da melhor amiga que ela sabia exatamente o que queria naquele momento, mas a impediria — Gloria também não queria que isso acontecesse. Imagine ficar grávida do ex da irmã? Que coisa... — Amber a pegou pelo braço e a conduziu até o quarto, Angelina se sentou em sua antiga cama cheia de pelúcias. — Ela vai dar à luz daqui a duas semanas e conta com o seu apoio, sua benção e se for embora agora só vai provar para aquela gente tudo o que eles sempre pensaram ao seu respeito, você é forte e corajosa Angie. — Não tenho que provar nada para ninguém — respondeu com firmeza. — Achei que tivesse vindo pelo bebê, por nossa amizade, por seus pais, que não se importasse mais com o Brad nem com os Thompson. Angelina se sentia quebrada em pequenos pedaços, porque estudou muito todas as chances de sua estadia ali dar errado e logo após os primeiros trinta minutos depois que colocara os pés na casa dos pais, estava vivenciando toda aquela situação deplorável, chorando, descobrindo que a irmã se casou com o cara que mais machucou ela em toda sua vida. Ela o detestava e agora dentro de si rapidamente alimentava pela irmã uma enorme mágoa por ser sujeitada aquele embaraçoso momento, em sua mente só vinha imagens de um rapaz que lhe tirou a virgindade e que simplesmente sumiu depois de engravidá-la, agora naquele exato momento estava assumindo sua própria irmã grávida. Três batidas na porta soaram de repente. Ela já sabia quem era e lançou aquele olhar que Amber bem conhecia, que significava: "não ouse abrir". — Angie, sou eu! Quero falar com você... — Gloria pediu do outro lado da porta com a voz chorosa. Angelina se levantou disposta a acabar logo com tudo aquilo, mas Amber a empurrou pelos ombros e a fez se sentar novamente na cama e agiu rápido. — Ela está... — Amber correu até o banheiro e ligou o chuveiro — Está tomando banho. Volte em dez minutos, Gloria. — Tudo bem — soluçando, Gloria se afastou em passos pesados e sumiu no corredor. — Olha, isso é bem estranho, eu sei, eu também fiquei chocada quando Gloria me mandou o convite de casamento, mas Brad mudou muito desde a escola, é mais cabeça e mais maduro, e se mostrou muito arrependido quando soube que o bebê de vocês não resistiu — Amber disse. — Quanto ao Augustus, pobre rapaz, ele nem sabia que tinha uma família até uns meses atrás. — Não quero saber Bambi — respondeu chateada e todo o interesse inicial em saber da história sumiu — Farei de tudo para que minha estadia aqui seja mais curta possível, não tenho estômago para isto. — E nem quer ao menos saber como as coisas aconteceram? Amber era piedosa, gentil e ingênua, aquelas eram as três maiores qualidades e defeitos dela, porque sempre sentia pena das pessoas que não mereciam, era gentil com quem a magoava e sempre acreditava nos outros, Angelina sabia que a melhor amiga encararia qualquer tipo de situação com naturalidade. A amava por suas qualidades, mas odiava que suas qualidades também fossem tão cheias de falso otimismo e compaixão, porque sabia que as pessoas por muitas vezes na vida se aproveitaram de Amber justamente por aquilo, achou que com o passar dos anos ela houvesse mudado aquele lado assim como Angelina aprendeu a lidar com tudo e tentou ser forte, mas pelo visto não, Amber ainda era a garota super motivadora e compreensiva. — Em algum momento você vai ter que encarar essa situação e descer — Amber retrucou — E acho que deve saber das mudanças que aconteceram enquanto esteve fora. — Não me interesso... — E como eu estava dizendo senhora Thompson descobriu que havia dado à luz a gêmeos... vou resumir! Pois então, ela teve gêmeos e acredita que um deles foi roubado na maternidade por uma enfermeira mexicana? Todos ficaram pasmos quando ele apareceu na casa da senhora Thompson! — Amber falava rapidamente, enquanto ignorava suas respostas, voltou ao banheiro e desligou o chuveiro, Angelina revirou os olhos — Augustus procurou os pais biológicos porque a mãe, que até então o roubara, morreu, mas antes contou a verdade. — E o que mais? Caiu algum meteoro aqui e não fui notificada? — perguntou Angelina desprovida de humor. Angelina deu costas para a amiga e começou a se despir. Não tinha interesse pela história e não queria ter que ouvir, mas a melhor amiga simplesmente a ignorou, era algo que Amber sabia fazer bem quando queria, aquele era mais um defeito. Tirou os sapatos e logo em seguida o vestido, começou a prender os cabelos num coque, Amber pegou seus sapatos e começou a analisar ela de cima abaixo, era detestável toda aquela admiração as vezes, porque fazia parecer que antes ela nunca foi admirada por ninguém. Não foi. — Meu Deus, amei essa lingerie! — exclamou Amber maravilhada. No segundo seguinte voltou a si e completou: — Ele está tentando se encaixar na família e se mudou para um apartamento dos Thompson há sete meses. É um cara fechado e muito na dele, mas também é muito legal. Não sei por que Gloria mentiu para você, que besteira. Provavelmente ela ficou com medo de que você não viesse e o nascimento do bebê é muito importante! Era o mais óbvio. O bebê de Gloria era importante, o dela nunca foi. Assentiu em silêncio, ainda magoada com Gloria. Sabia que lá no fundo, uma vez que soubesse da verdade, ela não teria vindo. Nunca! Se já estava com receio de vir sem esse fato, agora então aquilo aumentara dentro dela a vontade de ir embora e não voltar. Era o que faria assim que tivesse a primeira oportunidade. — Você está... magnífica — disse Amber olhando o corpo da amiga. — Meu Deus, invejinha agora. E sorriu, mas Angelina se tornou ainda mais rígida. — Isso não vai funcionar, Bambi, ainda estou furiosa com ela — disse indo ao banheiro. — E não a deixe entrar, entendeu? — Sim. Vou buscar a sua mala e te deixar trancada — Amber disse e saiu do quarto, trancando a porta na chave. Angelina foi até o banheiro e entrou no box abrindo a torneira do chuveiro, colocou a cabeça debaixo da ducha fria deixou a água forte e gelada cair sob sua cabeça, gostando do contato, já que o dia estava muito quente. Claro que ela estava magoada e triste com aquilo, com a dignidade no chão porque, apesar de ter mudado, ela concluiu que na época Brad não assumira nada com ela por ser uma garota gorda. Aconteceu durante o colegial e aos olhos dos outros colegas deles da escola era bem menos atraente do que as outras garotas daquele ano ou do que qualquer outra que poderia cruzar o caminho dele. Já Gloria sempre fora uma adolescente linda e cheia de namorados, e Dora, sua outra irmã, fora bastante magra na infância, mas cresceu e agora havia se tornado uma jovem muito bonita e vaidosa, enquanto ela desde ainda muito pequena sempre fora a gordinha que usou aparelho, sem amigas populares e sendo constante alvo de zoações. Sofreu muito bullying durante a época da escola. Se sentiu por fim idiota por se imaginar em algum momento, comparada com as irmãs, porque afinal de contas ambas tinham uma diferença de idade considerável e viveram épocas diferentes de suas vidas. Principalmente Dora, ela só tinha vinte e dois anos, era cinco anos mais nova que Gloria e ela por sua vez, era mais velha que Gloria apenas dois anos. Saiu do banho envolvida na toalha cor de rosa e quis sorrir ao se observar usando uma toalha com estampa da Barbie, olhou envolta ao entrar no quarto e analisou toda a mobília, sua mãe mantivera o quarto exatamente como ela deixou: de uma adolescente infantil e cheia de sonhos. E ela se sentiu tão distante daquilo, mas de certa forma via a nostalgia em todo o lugar. Sua cama, a mesinha de estudos com porta-retratos dela em família, Angelina pegou um dos porta-retratos e analisou com cuidado aquela imagem de uma menina rechonchuda de cabelos escuros usando roupas grandes. Não conseguia mais se ver naquela foto, mas ao mesmo tempo ainda era ela, uma pequena parte que ainda pertencia a ela. — Isso é formidável — Marc entrou no quarto, carregando as malas, e Amber estava logo atrás, Angelina deu um pulo. — Já soube da tragédia, mas preciso ir. As meninas já estão todas acomodadas. Me ligue no momento que precisar, cherry! — Claro! — ele se aproximou e Angelina deu dois beijinhos nas faces dele, uma em cada face de Marc. — Vou ser uma mini cópia de você, não se preocupe. — Espero que sim, e nunca, jamais, desperdice as suas lágrimas por ninguém — aconselhou Marc. Ele deu dois beijos afetuosos na cabeça dela e então saiu do quarto acenando para ela, Angelina ergueu a mão e devolveu o aceno, Amber fechou a porta do quarto logo em seguida. — Vocês dois... — Amber parou de falar colocando a mala pesada na cama e depois completou: — Ele é um gato. — Vai por mim, apenas não. — Ele parece bem interessado... — Ele é homossexual Bambi — disse vendo a amiga ficar pasma. — Ninguém vai saber disso. — Não mesmo — Amber concordou boquiaberta, voltou a si. — O que quer vestir? — Trouxe roupas mais leves, o tempo aqui sempre é quente demais em algumas épocas do ano — disse exibindo uma bata branca transparente e shortinho jeans curto. — A outra mala está com os presentes que te falei. — Depois, agora me fala das suas viagens! Angelina não queria ter que falar sobre o ocorrido porque de fato, já sabia que a situação ficaria ainda pior se continuasse a falar da irmã e do novo — infelizmente e antigo conhecido — cunhado, então contou da última em Paris e em Milão. A amiga ouviu tudo enquanto desfaziam as malas e riam de alguns comentários sórdidos de Amber sobre boatos a respeito de Angelina com alguns homens famosos, nada que ela desmentisse, é claro, porque não tinha um namorado desde... desde sempre. Brad fora a única tragédia em sua vida e preferia que continuasse assim. Homens significavam duas coisas: Dor e Problemas. — Aí, que sonho — Amber disse toda contente. — Eu queria ter ido com você, mas os meus pais não deixariam nunca. — Fizeram bem! Eu sofri muito em Nova York enquanto trabalhava de garçonete. Você sabe, Bambi, a minha vida antes da carreira não era bem equilibrada — comentou vestindo a lingerie azul, de rendas, rapidamente. — Eu sempre sofri um bocado e não queria que alguém passasse por isso. — Deve ter sido uma barra, Angie — Amber comentou admirada com o corpo da amiga, Angelina se sentiu deslocada. — Não acredito mesmo que seja você. Quanto você vestia? Cinquenta e dois? — Cinquenta e quatro — corrigiu. — Hoje eu visto quarenta, mas isso faz mesmo alguma diferença? Amber a olhou um tanto meio confusa. — Quer dizer, você nunca me elogiava tanto assim antes — completou. — O que quer dizer com isso Angie? — Amber questionou ficando toda séria. — Que parece que você tem me elogiado mais agora que eu estou magra. Amber não respondeu, não estava contrariada, mas a conhecia o suficiente para saber que ela não gostava do rumo da conversa, Angelina foi até diante do espelho que havia na parede de seu quarto e tocou o abdome reto, os quadris mais largos e vestiu o shortinho sem a menor vontade de descer e encarar Gloria ou o resto. — Angie, sem sombra de dúvidas eu gosto de você por quem você é, só quis dizer que você mudou muito e que estou feliz por você ter conseguido o que sempre quis, você nunca pareceu feliz aqui, nem com o seu peso, nem com nada — Amber respondeu ainda muito serena. Angelina respirou fundo e olhou para a amiga, sabia que suas pontas de estresse devido a situação talvez estivessem deixando-a mais sensível que o comum e que poderia acabar descontando em Amber antigas mágoas das quais ela não queria. Porém também desejava deixar claro que não queria ser elogiada somente por sua nova aparência, queria a amizade que sempre teve com Amber, nenhum vestígio de puxa-saquismo por ter perdido peso ou algo do tipo. — Eu queria ter viajado, conhecido o mundo, queria ter aproveitado — Amber disse pegando a outra mala. — Afinal de contas tem que ter uma parte boa nisso tudo né?! — Versati, Armani, Dolce & Gabana, Vuitton, Carolina Herera... Angelina se aproximou da mala e assim que a abriu entregou as cinco lingeries da coleção passada para a amiga e os sapatos Vitton vermelhos da última coleção de Paris. Amber abraçou tudo como se estivesse no céu, suspirando, cheirando todas aquelas peças de grifes caras, aquilo realmente a fez rir. Perguntou para Amber a um certo tempo quanto ela vestia, Amber era baixinha e franzina, nada que um 38 não resolvesse. — Acho que você deveria descer, até porque... sabe o irmão do Brad? — Ela assentiu. — Ele perguntou por você. — Mesmo? — Angelina estreitou os olhos para amiga, achava aquilo muito pouco provável. — O que ele quer? — Eu não sei — Amber estava tentando se controlar. — Tá bem, assim, perguntar ele não perguntou, mas eu vi o jeito como ele te olhou quando te viu. Pois ela não notou coisa alguma, sabia que Amber estava só querendo que ela se sentisse melhor com a situação. Até porque estar tão perto de algum Thompson era algo perigoso. — Ah, Bambi, metade dos homens daquela sala me olham assim sempre, e a outra metade compra um calendário com uma foto minha no Femme Fatalle e fica batendo punheta, acha que me importo com isso? — perguntou, vendo-a corar. — É a verdade! Homens não prestam. Femme Fatalle era um desfile de lingeries promovido por uma gigantesca de roupas íntimas francesas, Angelina era uma das convidadas todos os anos há cerca de cinco anos, um evento com cobertura televisiva e que sobretudo em alguns momentos apesar de lisonjeada, ela também se sentia um tanto incomodada, entretanto, o dinheiro que entrava era muito então desfilava e pousava pra fotos do catálogo. — Bem, o Augustus não é rico assim, ele é médico na comunidade mesmo e as mulheres babam por ele, é herdeiro dos Thompson, mas ele não gosta muito de se envolver nisso — Amber explicou, vendo-a colocar a bata transparente. — Agora sim que as meninas lá embaixo vão ficar com bastante inveja de você. — Zero pessoas ligam — replicou e viu Amber revirar os olhos. — Eu não dormi e nem comi nada por conta da viajem e acho que você percebeu que as dez azeitonas que eu comi, eu vomitei alguns minutos atrás então, preciso comer. — Então vamos descer, comer algo e voltar — Amber insistiu, pegando-a pelo braço. — Bambi eu não quero descer! — Angelina resmungou. — Vem — Amber chamou e indicou as costas — Como nos velhos tempos. Angelina tentou não rir, não queria descer, mas sem resistir, pulou nas costas da melhor amiga vendo que a Amber gargalhava. Ela sempre fazia aquilo desde a infância, mas Amber nunca suportava o seu peso antes por mais de dez segundos, nunca ligou para aquilo, agora facilmente sua amiga a carregou, descendo as escadas enquanto ria à beça da situação mais embaraçosa e engraçada que presenciavam juntas. Sentiu falta daquilo, de rir daquilo, de ter alguns momentos para poder lembrar de como era divertido quando eram adolescentes e tinham uma à outra para todos os momentos, questionou-se sobre em que momento permitiu-se afastar dela e só pode concluir que fora algo inevitável. — Promessa é dívida — Amber falou, tentando se equilibrar, enquanto entrava na sala. — Quer preparar algo para a gente na cozinha? — Por favor — disse educadamente, quase constrangida com a forma como todos olhavam para ela, mas não desceu. — China provavelmente está dormindo, acho que o Marc não quis mandá-las para o hotel. Eu sei queimar um ovo na frigideira. Angelina não ligava para os olhares das pessoas na sala, ao contrário do que muitas pessoas pensavam aquele era um lado dela que nunca ninguém conseguiria mudar. Não fazia aquilo constantemente porque não tinha com quem fazer, muitas vezes brincava com Marc de coisas bobas, jogavam baralho e bingo, ele era seu melhor amigo e mentor a anos, mas tudo longe dos olhos humanos. Bem, não era de ferro e quem achasse ruim, que fosse para lá. Pensou consigo mesma. — Ótimo! — Amber caminhou decentemente com ela pendurada nas costas pela sala. — Já pensou em como isso não seria possível há dez anos? — Eu estou tentando me acostumar com isso — admitiu rindo daquilo. — Você achou que eu desistiria do meu plano inicial de te fazer de minha subordinada? — Oh, não, imagina! — Amber tropeçou e riu ao se equilibrar novamente. Angelina se segurou nela. Depois Amber se recompôs e atravessou a sala alcançando a porta de correr da cozinha. — Abre-te sésamo! — Ela falou pegando o puxador e abrindo caminho para a amiga. Porém o sorriso foi se dissipando aos poucos ao ver Gloria cozinhando para o marido na cozinha, mas, ele estava ali usando as mesmas roupas do outro que entrara na sala, ou seria aquele o cunhado dela? Ela não soube ao certo. Como poderiam ser tão idênticos? — Temos refrigerante diet, suco, cerveja... — Amber falou indo até a geladeira não tinha dificuldade de mantê-la pendurada nas costas. — O que você quer tomar, Vossa Senhoria? — Hum... está difícil — disse olhando o freezer lotado. — Oh, eu quero um refrigerante e um pedaço de bolo de chocolate. — E lá se vai a dieta — Amber praguejou pegando tudo e fechando a geladeira com o pé. — Promessa cumprida! — Você é bem resistente — desceu, sorrindo um pouco com a situação. — Me abstenho de carboidratos e açúcar na maioria das vezes, mas bem, mereço. — Fiz omelete, quer um pouco? — Gloria perguntou com os olhos avermelhados. Ela fazia cara de vítima e sabia que só pelo fato dela estar grávida fazia parecer que ela era ainda mais frágil, porém Angelina não se sentia na obrigação de aceitar aquele tipo de comportamento, tão pouco de ter que lidar com as mentiras de Gloria como se tudo houvesse sido a coisa mais normal do mundo. Ao menos não quanto a mentira. — Por que você não para com isso? — perguntou indiferente. — Gloria, hoje é o dia que você tem que estar bem, sério, eu não me importo com isso, só não gosto do fato de você ter mentido para mim. — Não queria que as coisas fossem assim, mas você foi uma das primeiras a recusarem o meu convite de casamento, teria evitado isso também se houvesse vindo — Gloria limpou os cantos dos olhos devido ao choro. — Você me perdoa? Angelina não sabia como aquilo poderia ter sido evitado uma vez que quando soubesse independentemente do momento, que Brad não era o tal do Augustus, reagiria da mesma forma se conhecia o suficiente para saber que nada poderia dar certo naquele sentido. — Bem, eu não acho que é para tanto, não quero falar sobre isso, e eu não vou brigar com você por isso. Você tem que aceitar que eu preciso de um tempo para me acostumar com a ideia — respondeu calmamente. — E não, obrigada, eu não quero comer a sua omelete, mas é porque eu já vou comer o bolo, não se preocupe. Um dia eu vou conviver com isso. — Mas, Angie... — Gloria! — suspirou e se aproximou dela, colocou as mãos nos ombros da irmã e a olhou no fundo dos olhos. — Eu te amo, amo muito, e chega disso! Não quero falar sobre isso, então respeite a minha decisão! Eu vim por você, pelo seu bebê, independente de quem seja o pai! Eu não tenho nada a ver com o seu casamento, só tenho a ver com o seu filho ou filha, e aceite isso porque eu não vou brigar com você. — Pode falar, vai — incentivou Gloria, nervosa, enquanto as lágrimas caíam pela face. — Melhor deixar bem claro que está com inveja porque eu me casei com Brad e você não, porque o meu bebê vai nascer vivo e o seu morto. Amber colocou as mãos na boca toda horrorizada, obviamente que não esperava por aquilo, dentro de Angelina tudo queimava em ouvir tais palavras tão duras, ainda mais vindo de alguém que amava como a irmã, o outro sentado à mesa se quer pareceu se mover. Mas teve que ignorar a dor e engolir tudo aquilo. Olhou para a irmã de cabeça erguida. — Vai fingir que não se importa? — Gloria continuou chorando, mas estava muito mais irritada do que tudo. — Para mim, não há o que discutir! — disse vendo que a irmã a fitava cheia de raiva. — É só admitir Angie, admita que só está brava porque eu e o Brad nos casamos — a irmã lançou um olhar acusador para ela. — E por algum acaso você acha que eu ligo? — indagou Angelina seca. — Tem inveja de mim — Gloria permaneceu dura ali, acusando-a, convicta. — Eu? Com inveja de você? — Angelina a olhou de cima abaixo e Gloria recuou, não queria parecer tão desdenhosa, mas sentia que para situação era algo necessário — Você acha mesmo que eu me importo com o seu maridinho medíocre? Para com isso Gloria, pode ficar com ele, ele é TODO SEU. Eu não preciso da atenção de homem algum e pode ter certeza de que se eu quisesse, o seu marido seria a última pessoa na face da terra com quem eu iria ter algum tipo de contato. Gloria tocou o ventre numa tentativa de chantagem. — Não é saudável que me trate assim... — Te tratar como? Você está se fazendo de vítima Gloria, aceite o fato de que eu não me importo! — fez uma breve pausa vendo que o outro, o Augustus, não esboçava reações e completou: — Eu não me importo que seja casada com o Papa, desde que não minta pra mim, seja adulta, cresça, para de ser infantil e achar que eu quero seu marido, eu posso ter o homem que eu quiser, quando eu quiser, você acha mesmo que eu perderia o meu tempo com aquele embuste? Podemos parar por aqui mesmo... — Você foi embora e voltou depois de dez anos, e se achando! — Gloria interrompeu, sarcástica. — Gloria, não seja injusta! — Amber interferiu. — Angie sempre foi uma ótima irmã para vocês e uma ótima filha para a tia Ceci e para o tio João, sempre ajudou vocês em tudo, trabalhou duro para ajudar a pagar as contas da casa. — É claro... todos sempre paparicam a linda e maravilhosa Angie... “oh, que linda!”, “oh, que mulher perfeita!” — Gloria debochou, irritada. — Eu não vou passar na sua cara que eu paguei a sua faculdade de Direito e você nem concluiu! — Angelina se enfureceu com aquele ataque de histeria da irmã e gritou, furiosa, apontando o dedo para ela, intimidando Gloria. — Olha aqui, eu só tinha vinte e dois anos quando eu fiz isso! Eu paguei todas as suas viagens da faculdade, te dei um cartão sem limite e pago todas as despesas da sua bela casa em Santa Teresa que eu dei, então, sua mimadinha ingrata, engula isso e aceite que eu não vou brigar com você por causa disso. Gloria ficou com os olhos arregalados para ela, com medo daquilo. Angelina ouviu uma risadinha vinda da mesa, mas não olhou, depois se voltou para a irmã. Era absurdo pensar que em algum momento ela se interessaria por Brad, ela só estava irritada pelas mentiras da irmã. — Este é o momento em que você cresce! — esclareceu pegando a bandeja do bolo e duas colheres na gaveta de talheres da cozinha. — Eu não quero ter essa conversa com você de novo e espero que aceite isso como algo que faço para não magoá-la, porque eu não sou perfeita, mas eu nunca, mentiria para você só pra privá-la de sofrer. Agora eu vou subir para o meu quarto com a Bambi e eu espero que seja muito, muito madura para saber separar as coisas nessa sua cabeça, se puder fazer um café para mim e para as minhas três amigas eu agradeço. — Sim — Gloria concordou, apreensiva. — Ok, e... Gloria ainda estava bastante irritada. — Me desculpe. — Eu vou pensar se você é merecedora do meu perdão com cuidado — disse enquanto saía da cozinha. — Bambi, traz mais três colheres. — Pode deixar, Angie — disse Amber, orgulhosa. Instantes depois a alcançou. — Estou orgulhosa de você. — Obrigada! Augustus tentou não rir, se controlou muito quando aquela mulher alta e magra saiu da cozinha carregando a bandeja de bolo, e depois viu a cunhada preparar o café apressadamente na cozinha e se perguntou como ela conseguira. Ele não conhecia Gloria há muito tempo para saber que ela era mimada e tinha tudo o que queria, conhecia Dora..., mas enfim, o que ele não imaginava era que por trás de todo o luxo que a moça ostentava, a irmã estivesse lá, bancando-a. Achou que quem sempre a sustentou fora seu irmão ou seus pais, porém jamais a irmã dela. Também não fazia ideia de que a irmã mais velha dela fosse tão bonita... na verdade fazia ideia de que ela era uma nerd rechonchuda, como vira em centenas de fotos da sala na casa dos pais da cunhada, porém não uma mulher sexy e atraente, dona do corpo mais incrível que ele já vira na vida. A palavra para aquilo era... perfeição, e que Deus o perdoasse se estivesse querendo demais. Mulheres como ela jamais olhariam para ele. Augustus também não se sentia parte de nada dali. Não era nem a primeira vez que tentava se inserir em algo relacionado àquela família. Confortava o fato de os pais da cunhada serem gente boa e humilde, no entanto metade das pessoas dali não passavam de estranhos para ele, assim como a sua própria família, e até mesmo a sua cópia exata, que era completamente indiferente a sua pessoa. Ainda não sabia exatamente se aquilo era ruim totalmente, porque as visitas invasivas de Catherine a seu apartamento eram completamente desconfortáveis, não queria imaginar como seria ter um gêmeo fazendo aquilo também. Para ele tudo aquilo ainda era bastante estranho. Augustus não culpava a mãe adotiva por tudo exatamente, somente pelo fato dela ter mentido para ele. Amava a mãe e sofrera com a dor da perda, pois, acima de qualquer erro, ela continuava sendo a sua mãe. Não importava o que todas aquelas pessoas dissessem, ela sempre seria parte de sua vida. Pensando bem... ele jamais se acostumaria com aquela família, com uma mãe que só se importava com a vida dos outros, um pai omisso e sem vontade própria, e um gêmeo que era idiota e fazia piada de tudo sobre qualquer coisa. Gostou da infância no México, ainda que tenha sido humilde e de bastante dificuldade, mas foi feliz em ter muitos amigos e pessoas boas perto dele, aquele fora o seu maior incentivo para vencer na vida. Sempre teve que trabalhar duro e, com o incentivo da mulher que o criara, formou-se em Medicina. Já tinha terminado a Residência e a sua especialização em Infectologia sairia em alguns meses. Estava tudo bem... até descobrir que sua mãe não era sua mãe realmente. Tinha também pais e irmãos e que era herdeiro de tanto dinheiro que poderia comprar a pequena comunidade onde ele crescera sem fazer o menor esforço. Ele entendia os riscos reais de ir atrás da família. Após uma doença grave nos pulmões, Santa dissera a verdade para ele, que o roubara numa maternidade e o criara como seu filho, revelara sobre a verdadeira família no Texas e pedira o seu perdão. Depois disso ela teve uma piora irreversível e foi a óbito. Claro que ele sofreu muito e pensou muitas vezes em não ir atrás da família, não queria ir até lá se prendendo a falsas esperanças, mas sua mãe o fizera prometer que os procuraria, então, Augustus o fizera. Ele dera um susto em Catherine e Ryan Thompson, que desmaiara quando o vira, mas o que mais o espantara fora ficar diante de Brad. Augustus sentira quase uma conexão instantânea quando vira o irmão, era estranho, mas fora bom. Então Catherine o convencera a se mudar, dera um apartamento e arrumara emprego para ele no hospital da cidade, e ele, apesar de odiar tudo aquilo, ficara, pelos laços de sangue, é claro, porque não queria magoar a então família que o acolhera depois de tudo o que se passou. Sabia que como parte do processo a que mais sofrera fora Catherine, talvez aquilo explicasse a obsessão dela por querer inseri-lo em todas as situações em que incluíssem dias em família e de sempre ela querer estar por perto insistentemente. Ela queria que ele fizesse parte de algo porque achava que era o melhor para ele, era uma pena realmente para ela que ele não quisesse ser parte daquilo na mesma intensidade, grau e gênero. Augustus se apegara rapidamente aos outros cinco irmãos. Claro que sempre foram gentis com ele, fazendo-o pelo menos ter esperanças de que um dia o aceitariam. Enfim, aquela louca família em que se metera adorava os três sobrinhos, e ele mesmo faria o parto de Gloria. Em algum momento no passado, lembrou que tivera o sonho de ter filhos, se casar-se, ter a casa cheia. Ele até tivera pequenos casos sem importância depois que chegou ali, porque afinal de contas as mulheres se jogavam em cima dele sem nem que ele desse alguma atenção ou algo do tipo. Teve duas namoradas durante a adolescência, em sua vida adulta se apaixonara intensamente por alguém e na mesma proporção se decepcionara, e agora, com trinta anos, ele só conseguia pensar em ficar só, apenas uma vez fora o suficiente para ele entender que relacionamento não era algo que pudesse querer para si. Já tinha uma família, então para quê complicar tudo arrumando uma mulher? Despertando-o de seus devaneios, Gloria saiu, deixando-o só, como ele sempre fora e gostava de ser. Augustus nunca se sentiria capaz de ficar numa sala vendo mulheres falando de bebês, e homens idiotas jogando Poker e falando da recém-chegada. E que recém-chegada! Augustus tentou ser discreto, não olhar muito e prometera a si mesmo que não ficaria assim tão impressionado com ela. Em algum momento já tinha cometido alguns erros naquele sentido, e justamente por diversos motivos prometeu para si mesmo que não iria mais agir por impulso naquele sentido, muito menos se aquilo fosse relacionado a alguém da família da cunhada. Mas se sentiu realmente intrigado, porque sabia que tinha julgado imediatamente a moça como metida e superficial, mas ela não era nada daquilo o que ele pensou inicialmente quando a viu sentada no colo daquele homem estranho na sala. Ela tinha sim um ar de arrogante, que agora parecia mais rompido aos seus olhos, mas ele se enganara, julgara errado e ainda estava demorando um pouco para se acostumar com a ideia de que alguém tão bonita algo além de um estereótipo. Sentiu-se idiota e machista, hipócrita até. No passado ele queria ter tido a chance de conhecer alguém assim: forte e determinada, mulheres assim sempre conseguiam o que queriam e ela certamente, poderia fazer muito bem aquilo sem se esforçar. Mulheres como ela não costumavam querer estar perto de homens como ele. No entanto ele era realista, endurecido com tudo que vivenciou repetidas vezes na vida, com o que via no hospital todos os dias. Pessoas morreram sob seus cuidados, em um momento o coração de uma mulher parou de bater em suas mãos. Crianças, idosos, acidentados, adolescentes, muitos já foram salvos, enquanto outros não tiveram a mesma sorte, e ele... fazia o que podia, o que estava ao seu alcance, e aprendera que nem sempre as pessoas poderiam fazer simplesmente tudo. Ele não era deus. — Ei, você viu a minha irmã? Augustus olhou para Dora, a outra irmã de Gloria e sentiu-se enrijecer dos pés à cabeça, obviamente que foi pego de surpresa pela aparição dela. — Ela acabou de sair — respondeu — Acho que está com o meu irmão na piscina. — Ah, obrigada. Dora não disse nada além daquilo e saiu da cozinha, aquilo fez Augustus se indagar sobre o porquê dele sempre se interessar pela garota errada. Não que estivesse tão interessado em algum momento por alguém, mas teve bons exemplos daquilo ali, entendeu bem os últimos sinais do destino ou seja lá o que fosse, se envolver com qualquer mulher dali seria um erro maior do que cometera quando chegara ali. — É Augustus, certo? Ele teria dado um pulo se ela já não estivesse com aquelas pernas bem diante dele. Fez que sim com a cabeça, mas desviou o olhar logo de imediato ao perceber que estava olhando demais, não era de seu feitio, não um homem como ele, ainda tinha algum caráter naquele sentido. — Isso é constrangedor, mas poderia me ajudar com uma coisa? — Ela perguntou com as faces ruborizadas. — Claro — disse deixando o prato vazio de lado. — O que foi? — Não ria disso — determinou ela que estava com as mãos para trás escondendo algo —, mas não tive coragem de pedir a ninguém da sala para abrir, conheço basicamente zero pessoas na sala. Ela também não o conhecia, mas decidiu não argumentar, depois quase riu vendo a garrafa pet de dois litros diante dele, a ideia parecia meio zombeteira, aceitou a garrafa e não precisou fazer muito esforço para abrir, dividido entre abrir rápido demais e tentar parecer um imenso idiota abrindo aquela garrafa pressionou a tampa com mais força e abriu a garrafa gasosa, entretanto o rumo das coisas não foram como ele pensou, pois o refrigerante espirrou para todo lado, o gás jorrou muito líquido do refrigerante em sua camiseta tanto nele quanto nela. Mais nele. Concluiu ao ver sua camiseta ensopada de refrigerante. Augustus ficou inicialmente sem reação, porque de fato achou que só abriria a garrafa e entregaria, ele a encarrou e esperou pelo óbvio, um chilique vindo dela por ter sujado a sua blusa cara, mas, ao invés disso, ela começou a rir e foi buscar um pano de pratos. Angelina simplesmente ria bastante com a situação como se fosse a coisa mais comum do mundo, tornando aquilo algo engraçado, olhou para sua própria camisa ainda ensopada de refrigerante e se aliviou em constatar que o choque o distraiu o suficiente para esquecer de outras coisas ou pessoas. Ela ficava muito bem enquanto sorria, linda na verdade. — Isso acontece. — Ela falou calmamente e entregou o pano para ele. — Não fomos apresentados formalmente, eu sou Angelina Drumont Dias, irmã da Gloria. Você deve ser o Augustus, irmão do Brad. — Sim — afirmou aceitando o pano e colocando a garrafa gasosa e pegajosa na mesa. — É um pouco evidente, somos gêmeos, desculpe por isso. Realmente era uma situação constrangedora e inusitada. Angelina o olhou por dois segundos um tanto nervosa e julgou sua resposta bastante grosseira, mas francamente, era claro que ele era irmão de Brad, era cansativo ter que contar algo óbvio para as pessoas, entretanto ser na maioria das vezes confundido com o irmão no mercado ou na farmácia era no mínimo muito cansativo. — Que nada, isso sai com detergente. Acho que eu tenho uma camisa que vai te servir, espera aqui! Ela saiu levando a garrafa e, Augustus ficou surpreso com aquilo. Não que esperasse que a irmã de Gloria fosse muito diferente das mulheres que conhecia todos os dias depois que chegara em Santa Fé, mas ela o deixava surpreso. Diferente de uma em especial... Bem, mas isso é passado. Ela estava sendo gentil com ele, talvez até educada para passar boas impressões, não que quisesse algo diferente daquilo, mas era estranho ainda, era dali, mas não sentia que pertencia ao lugar nem aquela família, encontrar pessoas humildes e gentis era algo do qual não vinha acontecendo. As pessoas só se importavam porque seu pai era dono de poços de petróleo, porque tinham milhões nas contas, sabia que o dinheiro possibilitava muitas coisas para ele depois disso, entretanto ainda assim naquele meio era difícil encontrar pessoas que de fato agissem com algum tipo de gentileza, os amigos de seu pai estavam sempre falando de negócios, Brad era bom naquilo porque se formou em Economia e Política, ele não, por aquele motivo não se sentia parte de nada daquilo. Ele não era mais da classe pobre, nem classe média, ele era rico. Semana passada, ele assinara um papel o qual estava ciente de que tudo que era da família Thompson era dele também, e graças ao seu pai, talvez futuramente abrisse o seu próprio consultório, ainda assim, estar ali não parecia fazer tanto sentido, exceto quando estava trabalhando no hospital pois aquilo era algo que não mudara em sua rotina. Augustus lutava e relutava em aceitá-los, estava ali somente por pedido de Catherine e Ryan Thompson, por pedido de seu irmão Brad porque seu sobrinho ou sobrinha nasceria em breve, e no final do dia teria mais um plantão. Ele deveria estar descansando e não em uma casa cheia de gente, que ele sequer vira na vida, falando de dinheiro ou de golfe, da bolsa de valores ou tirando fotos para Instagram. O que diabos alguém queria vendo foto de comida no Instagram? — Espero que não se importe que seja do Ramones. — Ela mostrou a camiseta preta com o nome em vermelho chamativo. — Era minha do tempo do colégio. Ela havia trocado de blusa, colocado uma blusa de mangas de tecido mais grosso, era inevitável querer saber mais sobre Angelina, como ela havia mudado tanto e era diferente da garota que vira nas fotos, por mais que ele quisesse se manter afastado dela tanto quanto quisesse se manter longe de todas aquelas pessoas ali sentiu-se curioso quanto aquilo. — Você era rebelde? — Ele a viu rir de novo e o lugar se iluminou com aquilo. Lábios mais cheios, dentes grandes e redondos, não muito brancos, tudo tão natural, algo que não via com frequência. Pensou. — Eu era incompreendida, é diferente — corrigiu Angelina jogando a camisa em sua direção, ele a pegou no ar e em seguida ela ficou de costas para ele. — Juro que não vou olhar. Ele sorriu com bom humor dela. Criava boas impressões sobre ela, então tirou a camiseta Polo e vestiu a que ela lhe dera. Servira perfeitamente, exceto pelo fato de que ele se sentia meio que idiota com a camisa, é claro, era a camisa de uma adolescente e ele já era um homem com quase trinta anos. Não era um adolescente desesperado por reclusão. — Pronto? — Ela se virou e pegou a camisa da mão dele. — Vou cuidar disso para você. — Não precisa se incomodar — afirmou, sem graça. — Lavo em casa. — Não é incômodo algum — disse indo rumo à lavanderia. — Ouvi falar maravilhas sobre você. As mulheres lá na sala nem conseguem ser discretas. Augustus riu dizendo para si mesmo que poderia deixá-la ir sozinha fazer aquilo, mas não poderia se dar ao luxo de não saber o que as outras pessoas ali falavam sobre ele, porque afinal de contas sempre alguém tinha algo a falar sobre ele na cidade, era o filho sequestrado da família mais rica da cidade, um filho bastardo que fora reconhecido recentemente, tinha que saber o que as pessoas continuavam a falar a seu respeito, ainda que não fosse uma prioridade ou ao menos saber o que ela ouviu mesmo que não tivesse interesse algum em saber o que pensavam sobre ele. Disse para si mesmo só foi atrás dela para ouvir aquelas fofocas idiotas..., mas sabia que não era aquilo. Enfim, hipocrisia. — Acho que estão falando do meu irmão, o gêmeo bonzinho! Ela gargalhou, uma gargalhada gostosa, porém bem sarcástica, fazendo-se ecoar pelo pequeno espaço que servia de lavanderia, depois rapidamente ligou a torneira da bacia grande e colocou detergente lá e começou a esfregar o tecido habilmente como se já tivesse o costume de lavar roupa com frequência. Augustus até quis se negar a se atentar mais a aquela gargalhada, mas era inevitável, porque ele se viu querendo sorrir com a risada dela, era meio engraçada, ele era meio mal-humorado no dia a dia e debochado na maioria das vezes, um tanto amargo devido a profissão e ao trabalho, na verdade nunca fora bem- humorado ou engraçado qualidade que aprendia a enxergar no irmão, também nunca tivera muitos motivos na vida para aquilo. Porque cresceu na pobreza, aprendeu a viver com pouco e sempre teve que correr muito atrás de tudo, Brad sempre teve tudo nas mãos, diferentemente dele que teve uma realidade bastante dura no Novo México. Recostou-se na soleira da porta e ficou observando a cena incomum: uma linda mulher com unhas longas cor de rosa esfregando roupas. — Você acha que ele é bonzinho? — Angelina perguntou espremendo a camisa com força. — Porque EU não acho! A forma como ela enfatizou o deixou curioso sobre o relacionamento que o irmão teve com ela, mas com certeza se Gloria tinha ciúmes era porque fora algo sério, claro, ela era aquela coisa perfeita e muito linda, mas havia algo mais. Não era como estar diante de alguém charmosa e sedutora, ela não parecia ser daquele tipo ainda que sua aparência transparecesse aquilo, ele tinha a impressão de que era algo mais que aquilo e sabia que o irmão e ela tinham vivido algo a mais. — Por que foram namorados? Ele não sabia da história completa, ninguém falava daquilo perto dele, apenas ficara sabendo naquela manhã, há alguns momentos, por ela ter mencionado aquilo, que era ex de Brad, e que ela tivera um filho com ele, Gloria dissera aquilo, e que o bebê deles morrera. Augustus não estava chocado com aquilo, apenas como desde o primeiro momento em que a viu, um pouco surpreso. Não queria se envolver, mas estava muito tentado a saber, senão por ela, mas por seu... irmão? Ah merda! Enfim, estava curioso, por que não? Afinal de contas, eram da mesma família agora certo? Brad e ele não tinham tanta intimidade para que compartilhassem algo do tipo, ainda parecia cedo para serem melhores irmãos ou algo assim, porém sentia que deveria saber. — Não só por isso — Ela disse ligando a secadora, — Mas eu já superei isso, e você? Como está se encaixando na família monstro? Ela não queria falar daquilo. — Eu estou bem, obrigado, você já deve saber da minha triste e infeliz história certamente. Ele também não queria falar sobre si mesmo nem toda aquela história problemática. Contar a história todas as vezes era algo meio doloroso, ganhou aquela família, mas perdeu a mãe, alguém que o amou e zelou demais por ele, todos a viam como uma sequestradora sem escrúpulos, sem coração, mas não fora assim para ele em nenhum sentido. — Não muito, só porque Bambi sempre é muito vaga sobre as qualidades de um homem. Ela só vê a aparência. “E você não?”, ele pensou. Estava na ponta da língua, mas apenas engoliu aquilo preferindo acreditar que ela provavelmente estava mentindo, já que o homem que estava com ela no colo mais cedo parecia importante demais no mínimo, algum milionário. Era bem afeiçoado e bem-vestido, provavelmente era o homem dela. — Eu provavelmente devo ser a maior exceção do mundo por isso, mas não me importo. — Ela disse. — Você não quer tomar um café comigo enquanto a camiseta seca? Ainda temos a varanda para evitar que as mulheres o ataquem. — Você não me atacaria? Ela riu passando pelo pequeno espaço entre ele e a soleira, estava sendo debochada, ignorando sua pergunta, o fez se sentir medíocre, nunca nenhuma mulher o fez se sentir medíocre em sua vida. A seguiu até a cozinha e a viu ir até o fogão e colocou uma chaleira com água no fogo. — Como a Gloria não fez o café, vou fazer um novo e a resposta é não, eu não atacaria nenhum homem neste lugar, uma vez já foi o suficiente — esclareceu Angelina pegando duas canecas. — Espero que tome café coado no pano porque eu odeio ficar desperdiçando filtro. — Alternativa Correta — concluiu fechando a porta de correr, que separava os dois lugares. — Não tenho que ser correta para ninguém — Angelina pegou um coador de pano no armário e outra chaleira, seu tom era cheio de rebeldia. — Somos brasileiros, sempre mantemos a cultura. Ele preferiu não responder ao pequeno ataque dela e notou uma certa resistência por parte de Angelina, só não conseguiu entender por que ela ficou de repente na defensiva. — Brasileira? — mudou o rumo do assunto — Pensei que tivesse nascido aqui. — Ah, não... eu nasci no Brasil. A minha mãe me trouxe para cá com dias de nascida, fui registrada lá e naturalizada americana — disse. — Eu sei falar português, meus pais são brasileiros fiéis nossa cultura. Acha que seriamos assim, tão legais se fôssemos mesmo daqui? — Suas irmãs então são a exceção. — Ele a viu fazer uma careta retorcida. — Vamos pular para a parte em que somos apenas brasileiros. — Ela ficou pensativa. — Você nasceu no México? — Não andaram falando muito de mim para você e se falaram, não falaram o certo e eu não sei nada a seu respeito! — Não? — Ela estava espantada. — Bem, a minha vida é um poço de desgraça, não teria graça alguma falar de mim mesma. — Teria o maior prazer de juntar a minha desgraça a sua e compartilharmos a infinita infelicidade tomando este café então. Ele não estava tentando ser gentil, nem educado, nem flertando, ele só estava conversando com alguém decentemente normal, coisa que era bem rara em seu círculo social. Viu-a sorrir de novo, e depois que o café ficou pronto, saíram pelos fundos da casa, atravessaram o pequeno beco que dava para a frente do lugar e enfim chegaram à varanda. Era uma propriedade menor que a dos pais dele, mas era grande e ficava bem localizado. — Meus pais se mudaram para cá há vinte e nove anos... quase isso, eu acho. Era uma casinha pequena que o meu avô Brian construiu com muito esforço, ele era o pai da minha mãe, e a minha avó era brasileira. Ele a conheceu numa visita ao Brasil. E depois que ficou grávida, trouxe ela para cá — Angelina se sentou no sofá- balanço, ficando de lado para ele, que se sentou num sofá diante dela. — Eram pessoas simples, humildes. Minha vó foi várias vezes no Brasil, minha mãe Cecilia cresceu nos dois mundos, o sonho americano, e vivendo num país tropical. — Eu imagino. — Numa dessas viagens na adolescência, ela conheceu o meu pai — bebericou o café. — Eles se apaixonaram e se casaram lá, papai é brasileiro nato. Inicialmente os planos eram de morar lá... e teria sido ótimo, porque eu amo o Brasil, sempre vou em São Paulo, no Rio, mas daí minha vó adoeceu e minha mãe teve que vir, esperou dar à luz lá e depois meu pai veio conosco... com uma mão na frente e a outra atrás. — O que eu não entendo é a parte em que vocês moram em uma... mansão! Ela lançou um olhar debochado para ele e Augustus ficou sem graça com aquilo, mas em pensar que um senhor aposentado por invalidez e uma mulher dona de casa mantinham uma casa tão grande e suntuosa não fazia sentido para ele. Ouviu ela falando sobre ter pagado o curso de Gloria na universidade, mas não fazia ideia de como ela poderia ter feito aquilo, parecia muito jovem para ter dinheiro. Os Dias não eram ricos de berço, então, como ela poderia ter tanto dinheiro a ponto de dar tudo aos pais e as irmãs? — Hum, eu reformei a casa para eles. Na verdade, comprei o terreno de trás e o lateral e expandi a propriedade, foi um bom negócio, já que o dono do terreno não o queria. Eu destruí a antiga e construí essa por cima — Angelina disse, mas sem orgulho algum. — Sempre quis dar o melhor para os meus pais. Depois do acidente do meu pai, ele não pôde mais trabalhar e as coisas aqui ficaram complicadas. João Dias sofreu um acidente de carro e acabou fraturando a perna, aquilo desencadeou problema na perna, ele usava bengala, o impossibilitava de fazer coisas que exigissem esforço, alguém lhe contou aquilo... Mas Augustus ainda queria saber algo a mais, não queria ser invasivo, mas acabou não resistindo. — Que mal lhe pergunte, mas aquele homem que te ajuda... — Marc? Ah, não! Marc é o meu agente. — cortou. — Na verdade eu sempre trabalhei muito e sei quanto vale tudo que tem nessa casa, desde a mobília até essa caneca que você está segurando agora. Quanto mais a ouvia falar, mais ficava interessado pela história de Angelina. Mas afinal de contas, o que ela fazia da vida? — Mas parece muito jovem para isso. — Eu comecei cedo. Fui embora daqui com dezesseis anos, não estudei, nem me formei, fui ser garçonete em Nova York e morar com uma tia de criação. Ela é uma amiga muito íntima da família — explicou. — Quando eu fiz dezoito anos, Marc me descobriu. — Descobriu? — É, ele era olheiro numa revista e enquanto eu servia um café, ele me perguntou se eu queria ser modelo — disse ela. — Eu ri porque estava pesando uns cento e vinte quilos. Ele então conversou comigo e me colocou para fazer exercícios e me alimentar melhor, e depois de um ano e meio eu me lancei no mundo obscuro e falso da moda. — Você é modelo? — Ele bebericou o café para disfarçar a sua incredulidade com aquilo. — Achei que... deixa... — Pode falar! Achava que o Marc era o meu amante e me sustentava? Sentindo-se constrangido, ele assentiu, mas ela apenas riu daquilo e bebeu o seu café. É claro que fora idiota da sua parte, mas se ela estava supondo aquilo, então deveria acontecer com muita frequência. — Eu não tenho cara de esposa? — Ela sorriu. — Estou decepcionada. Ela não estava ofendida com aquilo e Augustus não se orgulhava do que acabara de confessar. — Ser sustentada por um velho rico? — Eu sou meu velho rico. — Angelina disse num tom cheio de orgulho — Tenho que me casar com um cara mais pobre e mais pobre que vai viver sendo humilhado por mim. Augustus a olhou de lado. — Isso não é engraçado. — respondeu porque ao mesmo tempo que parecia engraçado lhe causava um gosto amargo na boca. Lembranças ruins. — Não é para ser engraçado, é a verdade. E ela estava sendo assustadoramente sincera. O mais estranho era que há anos não conhecia alguém tão espontânea e legal como ela, mesmo que aquilo fosse incomodo. — Eu já tive os piores momentos da minha vida, mas sempre trabalhei muito, e ao contrário da minha irmã ingrata, eu sempre vivi com pouco. Nunca me imaginei sendo sustentada por um homem — deu de ombros. — Eu adoro o que eu faço. Claro que me impediu de estudar, mas eu pretendo voltar daqui há um ano, na minha aposentadoria. — Tão jovem? — Jovem? A carreira de modelo mais longa que eu vi, a moça só tinha quarenta. Depois disso eu quero comprar uma casa e descansar os meus joanetes — brincou. — Vou fazer trinta no ano que vem e quero estar na faculdade. — Algum curso em mente? Os olhos dela brilharam e então percebeu logo o interesse da moça. — É para eu me sentir usado? — Não resisti quando me falaram que era médico, afinal, é uma bela profissão, e eu sempre quis saber mais sobre a profissão. — Por que você quer ser médica? É uma profissão muito desgastante. — Que fofo! — ela exclamou. — O que é fofo? — indagou confuso. — Você é amargurado Augustus. Ele ficou calado e bebericou um pouco de seu próprio café, ali estava uma verdade que poucas pessoas colocavam diante dele com tanta naturalidade. Se sentiu meio intimidado com aquilo. Ninguém o confrontava daquela forma. — Mas eu aposto que você adora o que faz e salva mais pessoas do que as perde. Era outra grande verdade. E mais uma vez, ao se ver pego pelos olhos castanhos claros, ele ficou de certa forma intimidado. Ela o intimidava. — Na verdade é uma profissão de peso emocional muito grande. Já tive perdas que causaram imensa dor em mim — admitiu, pensativo. — É difícil quando são crianças ou muito idosos, por isso eu não quero ter filhos. — Eu queria ter filhos outros até um minuto atrás — Ela forçou um sorriso. — Eu não posso falar de mim, é claro, tive uma filha, mas ela não resistiu após o parto... Ele engoliu a seco a confirmação, mas não disse nada, era visível o sofrimento estampado nos olhos castanhos. Se doía perder um paciente, um filho então... era um peso insustentável. — É bom saber que naquela família ainda há uma esperança. Nosso sobrinho ou sobrinha vai ser bem recebido. — Ela disse por fim levantando-se. Dando o assunto por encerrado. — Nos vemos depois então. Ouvir aquilo de alguma forma mexeu com ele. — Fique um pouco mais! Estava sendo impulsivo e odiava ser daquela forma. — Eu adoraria, mas preciso dormir um pouco. Por que você não vem amanhã na hora do almoço? Quero tirar umas dúvidas sobre o curso. Não faça isso, não faça isso. Alertou a vozinha em sua cabeça. — Eu tenho plantão, mas... podemos jantar a noite, o que acha? — Formidável. Que horas pode me pegar? — Às 20:00! — Feito, eu esperarei. Augustus assentiu, vendo-a sumir do lado da casa, e engoliu em seco. Um encontro com uma modelo? Deus, o que estava acontecendo com ele? — Você tem um encontro com quem? Angelina sorriu sem saber o que dizer, depois olhou para a Mandy uma manicure que era conhecida de Amber, que habilmente escarnava a unha do pé, e depois para a Amber, na qual Jorgia escovava os longos cabelos loiros. Não era um encontro, era só um jantar entre parentes... foi isso que ela dissera para si mesma desde que sugerira. Por que as pessoas sempre viam por um lado que não existia? — Não é um encontro, Bambi, ele só quer conversar comigo sobre a profissão. Fui eu quem convidei ele, apenas um bate papo sobre a profissão dele. — Promissor e ousado. Promissor talvez, mas ousado? Angelina fez uma careta. Amber era de certa forma muito maliciosa em seu tom, entretanto foi totalmente ignorada. Ela só sabia que Augustus era um cara legal e irmão de Brad, não sabia muito além do que Amber dissera sobre ele e sua triste história de novela. Também achava muito improvável que fosse algo muito diferente do que tivera nos últimos anos. Saíra com caras lindos, mas todos estragavam tudo quando queriam transar no primeiro encontro, ela acabava se despedindo deles e ia embora antes de alguém querer subir para o seu apartamento em Nova York. Era estranho se imaginar tendo aquele tipo de “encontro” com pessoas, até porque sabia muito bem que com sua profissão havia muitos riscos de ter sua vida exposta, não se considerava alguém insegura, porém, não queria ser só desejada por alguém a ponto de quererem apenas uma noite com ela, não queria se sentir usada. Havia muitos riscos em se envolver com quem quer que fosse em todos os sentidos, tanto pessoal quanto profissional. — Você sempre foi do tipo tímida, não achava que ia chamar um cara pra sair. — Bambi, isso não é um encontro! Era bom reforçar. Claro que não era um encontro e ela não esperava que ele achasse que fosse. Que mal havia em duas pessoas adultas saindo e comendo em um lugar qualquer? Fora uma manhã meio chata dentro de casa. Seus pais correndo com os preparativos do nascimento do primeiro neto e ela só conseguira passar a manhã toda na cama, com o seu óculos no rosto e o seu aparelho móvel na boca vendo antigas fotos da escola. Ouviu Radiohead, Audioslave, Foo Fighters, Pantera, dentre muitas outras bandas que não ouvia há certo tempo. Gostava de estar ali de certa forma e não era assim tão ruim se lembrar. Amber chegou após o almoço, passara a tarde com ela e juntas recordaram os velhos tempos, comeram chocolate e falaram dos garotos da escola. Ela prometera para si mesma que não ficaria se remoendo pelas mentiras de Gloria e decidira não tocar mais no assunto. Não levaria ela a nada, não adiantaria nada. Seus pais não disseram nada. Sua mãe se absteve em apenas falar "a vida continua" durante o café naquela manhã. Marc viera cedo com os rapazes e depois partira falando que estaria à disposição. Todos queriam descansar, ela entendia aquilo, e não gostara nem um pouco que Jorgia se oferecera para dar um dia de beleza para elas. China fora com os seus pais ao mercado porque segundo ela tinha que comprar mais alimentos orgânicos. Pareciam se dar bem. — Augustus Guerra Thompson — Amber suspirou. — Ai, ai, ai... que homem! — É uma pena que é a cara do outro — disse vendo Amber revirar os olhos. — Mas ele é bem mais humilde e se acha menos. — E você adora caras assim! — Eu não costumo adorar nenhum “cara” Bambi. Anos atrás Angelina prometeu para si mesma e cumprira, ela não se enfiaria em relacionamentos sem futuro, ou em relacionamento algum. Já quebrara a cara uma vez ao se apaixonar pelo homem errado e não cometeria o mesmo erro. A carreira e a reputação falavam mais alto para ela, não por ganância, todo dinheiro que vinha era fruto do seu esforço e dedicação total a tudo, mas porque ela queria ocupar a cabeça. Adorava o que fazia e não se imaginava fazendo algo diferente. Mas aquilo mudaria, é claro, dali a um ano ela encerraria a carreira de modelo e passaria a trabalhar somente com campanhas publicitárias, voltaria a estudar e, quem sabe, poderia estudar todas as possibilidades de algum curso interessante, na verdade parecia um bom passatempo conversar com alguém que não fosse de sua família e que não estivesse vivendo em torno de agradar sua irmã mais nova. Também sempre quis poder ter alternativas de profissão na vida e não era tarde para tentar. Já idealizara muitos sonhos com a sua carreira, a fama era só consequência, o resto era só frutos de alimentação saudável, exercícios, e de noites a fio viajando, nunca parando em casa, e tirando duas semanas de férias por ano para descansar. Estar com sua família não tinha sido uma prioridade desde então porque sempre se falavam por vídeo chamada, por chat, ligações, viajavam juntos uma vez por ano, seus pais entendiam muito assim como Dora sua outra irmã que precisava primeiro saber entender o próprio tempo para depois voltar. Não se sentia sarada por completo, mas o processo incluiu permitir que voltasse para casa, e ali estava ela de novo tentando se inserir na nova realidade deles. — Acho que, na verdade, o Augustus nunca vai se encaixar na família — Amber disse. — Ele é um cara calado, às vezes bem mal- humorado, já vi ele e Catherine discutindo uma vez numa das festas da casa, ele ficou furioso com ela, parece não conseguir controlá-lo como faz com os outros. Amber talvez fosse muito próxima por ser sua amiga, sabia que seus pais a convidavam para tudo, ela era participativa na comunidade e conhecia muitas pessoas, por aquele motivo sabia da vida de basicamente metade das pessoas do bairro, talvez até mais pessoas. Angelina também percebeu aquilo no dia anterior, ela viu que a personalidade do gêmeo de Brad era totalmente oposta a dele. — Como poderia esperar isso? São só laços de sangue, Bambi — esclareceu. — Ele deve ter tido uma criação bem diferente dos outros e ela não deveria se sentir no direito de mandar num filho que mal chegou à família. — Ouvi falar que ele cresceu numa comunidade bem humilde no México e que sempre batalhou muito para estudar. Também há boatos de que ele teve uma noiva, mas que não ficaram juntos. — Por quê? — Por que ela era filha de um homem muito rico da cidade natal dele. Ela o trocou por um cara ricaço e o pobre do Augustus ficou só. Engoliu em seco. Jamais pensou que ele havia passado por algo daquela proporção, pelo visto Augustus passou também por muitas coisas na vida. Claro que os tabloides monopolizavam sempre quando ela saía com amigos em comuns, modelos, mas ela sabia a verdade, portanto tinha a consciência limpa. — Dizem que depois disso ele se dedicou a carreira e agora é um médico bem reconhecido na sociedade. Aqui na cidade todo mundo o adora — Amber suspirou. — Aí, eu queria jantar com ele... — Bambi, onde está o seu noivo por falar nisso? — perguntou um tanto curiosa com daquilo. Até então, Amber mal falava do noivo. — Ele está viajando. Oh, o meu Abrahão é lindo também — disse —, mas estávamos falando do magnífico Augustus Guerra. Como seria ele na cama? — Com certeza, grosso — Mandy falou com recato. — Ouvi falar que homens grandes são bem rudes na cama. — Eu já tive um namorado alto uma vez — Jorgia ligou a chapinha. — Ele era mesmo bem... dotado. Angelina riu com elas, era bom estar no meio de pessoas verdadeiras e legais, pessoas confiáveis, já que no mundo das passarelas ninguém era completamente amigo de ninguém. As pessoas eram interesseiras, vazias e as vezes egoístas demais. Ela aprendera a ser controlada e a não falar muito, com o tempo a ser fria e indiferente às outras pessoas do meio. Ela sabia muito bem que era invejada e subestimada muitas vezes, mas não se dava ao luxo de ficar chateada com aquilo, eram apenas negócios. — Você vai colocar algo diferente para ir ao encontro, Angie? — Diferente? Eu não vou me enfeitar para sair com o cunhado da minha irmã. Ele, no máximo, vai me levar a Casa dos Tacos para enchermos a cara. Eu já estou esperando por isso há um século, já que só vou em restaurantes caros e sem graça. — É ótimo saber que você não mudou, Angie. Mas ela não tinha certeza daquilo. Parte daquela menina morrera e ela raramente conseguia ser espontânea e boba como antes. Endurecera-se com a morte da sua bebê e aprendera da pior forma como as pessoas poderiam ser. Mas, às vezes ela era destemida e desinibida. Ao longo dos anos ficou nua para tantos fotógrafos desconhecidos que ela sequer tinha vergonha do corpo mais, nunca levava para o pessoal porque aquele era o seu instrumento de trabalho, e sempre separava tudo quando fazia um desfile mostrando os seios ou sem calcinha, ela entendia que muitas vezes não era bem-visto por pessoas tradicionais, mas, afinal, ela não precisava de dar satisfação para ninguém, se nem mesmo seu pai a recriminava por que deveria dar atenção a opinião de outros homens? Mais tarde, quando sua família e as convidadas estavam reunidas na mesa de jantar, e Angelina já havia perdido todas as esperanças de sair, a campainha soou. Ela deixou a revista de lado e foi correndo atender, ficar em casa era ótimo, mas sem nada para fazer era um tédio. Ficou satisfeita quando viu Augustus diante dela. — Desculpe o atraso. — Ele disse parecendo meio constrangido. — Tudo bem — falou indo pegar a bolsa. — Vamos? — Sim. Ele estava usando uma camiseta xadrez com outra branca por baixo e jeans. Estava muito bonito, mas Angelina nunca se deixava levar pelas aparências das pessoas por mais que parecesse tentador. Já ela escolhera o seu jeans mais confortável, camiseta e tênis, roupas leves e casuais. Esperava que a conversa deles rumasse só para o lado formal e unicamente sobre a profissão dele. E que ele fosse legal como no dia anterior. Os seus cabelos estavam úmidos e pesados, eram finos como os de Brad, mas o corte um tanto diferente do outro gêmeo... “Sem comparações...”, disse a vozinha em sua mente, enquanto ela procurava por um carro no acostamento. Então ela viu a moto do outro lado da rua. Seus olhos brilharam. Há quanto tempo ela não andava de moto? Certa vez Bambi arrumou uma lambreta para andarem pela cidade, mas tão logo completaram dezesseis anos a amiga vendeu para comprar o conversível 76. Elas sempre iam juntas à escola no carro de Bambi, os pais de Angelina eram pobres demais para dar um carro para ela, por mais que na época fosse barato, nenhum membro de sua família possuía um, atualmente Angelina tinha cinco carros estacionados em sua cobertura em Nova York. Todos de luxo. E naturalmente deu um carro para cada um de seus familiares com o passar dos anos. — Espero que não se incomode, o meu carro ficou em casa e sempre vou ao hospital de moto, poupa muito tempo — explicou ele pegando os capacetes. — Eu posso pilotar? — Ela perguntou se sentindo um tanto atrevida. Era uma Ducatti! Deveria ser divertido pilotar uma daquelas e sempre quis saber como era, mas ela nunca teve a oportunidade de fato. Tinha habilitação para moto porque quando se mudou para Nova York seus pais pagaram para ela tirar a carteira de dois tipos, entretanto foram poucas as vezes que de fato pode dizer que tinha motos disponíveis ou tempo. — Você sabe? — Ele entregou o capacete parecendo bem surpreso com aquilo. Ela não entendia o porquê de Augustus sempre parecia se surpreender com as coisas que ela dizia ou sabia fazer, era tão improvável assim que em algum momento da vida soubesse pilotar uma moto? — Claro que eu sei — afirmou desfazendo o coque no seu cabelo. — Eu sou habilitada. Augustus não ficou num papel de questionamentos, só concordou com um breve assentir de cabeça e jogou as chaves em sua direção, ela as pegou no ar, deixando para rir só quando o capacete preto já estivesse escondendo o seu rosto. Não queria parecer entusiasmada demais, não estava impressionada, mas bem, uma Ducatti! Poucas coisas na vida pareciam entreter Angelina com o passar dos anos, porque com o acesso ao dinheiro, ela foi tendo acesso a oportunidades por demais exageradas na vida, tantas coisas que ela sempre quisera ter na infância e adolescência e que atualmente não tinha tanta emoção ou não faziam sentido. Já outras coisas, conseguiu porque conheceu pessoas muito importantes, porque tinha dinheiro e era influente. Angelina subiu na moto e ligou o motor de primeira sentindo aquela empolgação latente nas mãos. Augustus montou atrás dela, que só esperou por aquilo para acelerar e partir. A bolsa de lado balançava conforme a brisa quente e noturna jogava os seus cabelos longos para trás. Ela riu quando acelerou de novo e ele se agarrou a ela porque sabia que aquilo assustou ele. Sabia ser tenaz quando queria, ela não queria impressionar ninguém, mas começava a acreditar que Augustus tinha sempre a mania feia que as outras pessoas no mundo possuíam de julgá-la muito antes de conhecê-la de fato e detestava aquilo. Ele a subjugava muito pela aparência dela. Como quando ela lavara a camiseta dele e viu no olhar dele algo que lembrava subestimação, ou como quando fizera café para eles e Augustus sempre estava ali parecendo não crer no que seus olhos mostravam. Era incrível como ele duvidava de sua capacidade e aquilo a incomodava, não ao extremo, mas odiava saber que sempre as pessoas a julgavam por tudo o que ela aparentava ser, mas não era. Ela não era nada do que as pessoas achavam que ela sempre fora. No mundo da moda também era assim, mas ela ainda tinha esperanças de que um dia, só um dia, alguém enxergasse nela uma mulher de vinte e oito anos que adorava dias de chuva, que adorava ler um bom romance e livros de literatura estrangeira, que gostava de chá nos dias de neve e café nos dias estressantes. Gostava de coisas simples. — Você pilota muito bem — Augustus disse quando em algum momento Angelina parou a moto no sinaleiro. — Sabe onde fica o Size? Assentiu, era o restaurante mais caro da cidade e ela ficou extremamente desapontada com aquilo, pois queria passar uma noite divertida com alguém legal, não sair da casa dos pais para comer codornas ao molho branco, Size era um dos únicos restaurantes da cidade que ainda eram no mesmo lugar, tradicional e com boa comida segundo as pessoas do lugar. Como sempre, Santa Fé era silenciosa à noite. De dia um pequeno engarrafamento e estresse, mas à noite ruas pouco movimentadas e quietas. Ela já tinha se acostumado com aquilo desde muito pequena, mas voltar e constatar que ainda estava do mesmo jeito era um tanto reconfortante. — O dono é um amigo do hospital. Ele me convidou para vir aqui hoje — Augustus disse logo que chegaram ao local e desceu da moto, tirou o capacete da cabeça e puxou os cabelos para trás, então tirou um boné de dentro da jaqueta enquanto ela descia da moto e retirava a chave da ignição. — Eu teria levado você na Casa dos Tacos, mas não resisti porque ele insistiu muito. Angelina sorriu e não soube em que momento se sentiu meio “mal” por ter julgado a escolha dele, ela lhe entregou a chave da moto e segurando o capacete o seguiu em silêncio até a entrada do restaurante, logo que entraram no ambiente percebeu que estava muito cheio, mesas ocupadas por gente rica e classe média da cidade, puxou os cabelos para os lados tentando arrumá-los, não queria que em algum momento alguém a reconhecesse então rapidamente tomou o boné da mão de Augustus e colocou na cabeça, ele a olhou por dois segundos e ela lhe deu um sorriso amarelo. Olhou em volta, o local não tinha mudado muito, só estivera lá uma vez num jantar com os pais de Bambi no aniversário dela de quinze anos. O lugar retratava um boteco francês e tinha várias fotos de Paris e da Torre Eiffel, nada comparado a ver pessoalmente a cidade luz, mas era agradável. Rapidamente um senhor idoso se aproximou, em sua bengala, para recebê-los. Angelina sorriu quando o reconheceu, ele lhe tomou a mão e gentilmente a beijou. — Jean a seu dispor. — Ele disse e depois se voltou para Augustus. — Até que enfim, arrumou uma namorada bonita. Mas antes que eles falassem qualquer coisa, o homem deu as costas e começou a andar em meio as mesas lotadas. Angelina o seguiu sem se importar muito com aquilo. Ora, era só um velhinho sendo gentil com ela, então preferiu encarar como um elogio. Se não era verdade, não deveria se importar. Aquele era seu mantra há cerca de dez anos desde que iniciara na carreira de modelo, se fosse em algum momento ficar dando ouvidos a tudo o que as outras pessoas falavam sobre ela, as coisas realmente não dariam certo. Em um momento da vida quando começou a desfiar e a fazer campanhas com grandes marcas, foi criticada por muitas pessoas porque tinha quadris mais largos do que os das outras garotas do meio, porque seu corpo não era como das outras e aquilo a machucou muito, certa vez, Angelina sofreu muito em ser comparada com modelos de número 36 e 38, mas com o tempo aprendeu a amar seu corpo e a valorizá-lo como nunca valorizou. Ela se cuidava muito no sentido emocional porque sabia que aquilo era o maior peso que alguém público poderia enfrentar, em suas redes sociais havia elogios, porém havia críticas, ativistas de direitos da mulher em suma maioria criticavam-na porque em muitos momentos Angelina promovia-se através de seu corpo, ela não costumava cuidar daquela área, era seu agente quem pagava uma assessoria de imprensa para cuidar de suas redes socias, se ela acompanhasse tudo mesmo sabia que ficaria louca. Eles foram conduzidos por um garçom para um lugar mais reservado e longe da aglomeração, se sentaram e Angelina sabia que a reserva havia sido feita para uma das melhores mesas do lugar, ela conhecia bem o Size mesmo que não tivesse ido lá mais de uma vez. O Lugar era afastado das outras mesas e de frente para uma enorme janela aberta com pequenas lâmpadas enroscadas na janela e vasos de plantas ali, com uma visão muito romântica dava para a rua pouco movimentada, longe da abafada massa de pessoas ali. Respirava-se ar puro do lugar onde ficava mesa. Sem falar que era mais perto dos músicos que embalavam o lugar ao som de violinos. Augustus e ela receberam os cardápios e ela ficou por alguns instantes analisando o que poderia pedir, escolheu uma salada simples com torradinhas integrais e ovos de codorna cozidos, Augustus optou por um bife com purê de batatas e salada, ele escolheu o vinho e então o garçom se afastou por entre as mesas movimentadas. — Espero que não esteja decepcionada — Augustus disse com simplicidade. — Vamos ter mais tempo para ir à Casa dos Tacos com o nosso sobrinho — alegou. — Me fale, como foi o seu dia? — Foi cansativo, mas sem perdas significativas. — Ele sorriu. — Você quer mesmo falar disso? Quer dizer, não quero te chatear. — Claro que quero! A rotina num hospital é incrível, eu assisto Grey’s Anatomy todas as terças, já tem... dezessete temporadas. Ele riu e começou a falar das coisas que aconteciam no hospital, dos pacientes impacientes e dos velhinhos da ala geriátrica, das crianças feridas, que chegavam todos os dias com pregos no pé e com cortes na cabeça. Angelina ficou encantada com aquilo. Ela poderia se imaginar facilmente cuidando de crianças num hospital, ou examinando os sinais vitais de pacientes diariamente e sem se queixar. Ele parecia gostar do que fazia, apesar dos sinais evidentes de cansaço, mas sempre sorria e brincava com algumas situações. Era estranho agora olhar para ele e não ver a figura de Brad, apesar de serem idênticos. Augustus parecia ser um homem simples, de gestos bruscos e pesados enquanto comia seu bife com purê de batatas, era um homem grande, assim como Brad, mas ainda conseguia-se ver mais músculos e grosseria nos atos dele. Certa vez, enquanto falavam, ele quase deixou a taça de vinho cair na mesa, por sorte não estava cheia, e não caiu uma gota sequer na fina toalha de linho. Mas, apesar disso tudo, ela simplesmente adorou a companhia dele. Ele não era soberbo, como os homens que ela conhecia, talvez um pouco arrogante, tinha um sotaque forte, como qualquer estrangeiro, e ria sempre de suas piadinhas sem graça. Ele tinha também aquela beleza incrível que a fascinava às vezes quando se lembrava de Brad. Olhos azuis-piscina, nariz reto e um pouco delicado, maçãs do rosto um pouco avermelhadas, devido ao calor que fazia no lugar e na boca bem vermelha salpicada pela barba que começava a crescer de novo, mas fina como a de um rapaz e não uma pessoa já na casa dos trinta. Ele poderia facilmente levar a mulher que quisesse para cama. Chamava a atenção e aquilo era meio óbvio, já que uma vez ou outra ela notava os olhares das mulheres que estavam ali, até as acompanhadas, sempre davam uma espiadinha para a mesa deles e comentavam. Abaixou a cabeça várias vezes esperando não ser reconhecida, ela não sabia se era a respeito dela ou dele, mas pelo jeito, como sempre lançavam olhares para ele, teve quase certeza de que ela só era uma coadjuvante ali e ficou bem satisfeita. Às vezes o assédio de algumas pessoas a irritavam profundamente. De sobremesa pediram pudim de maracujá e saborearam enquanto ele explicava da cirurgia complicada que ele realizara naquela manhã, algo que envolvia uma incisão precisa numa artéria do coração e que graças a Deus, segundo ele, fora um sucesso. — Sei que adora o que faz, nem acredito que comeu pudim. — Ele disse trazendo-a para a realidade. — Acho que o seu agente não vai gostar muito disso. — Hum... vou ter só mais um ano de carreira e quero fechar bem, mas não estou muito preocupada com isso. Já estou quase decidida, acho que quero ser médica — disse, determinada. — E sobre o Marc, eu mando nele e não o contrário, ele é muito bem pago, eu mando na minha boca e faço com ela o que eu quiser. Augustus a olhou de um jeito estranho e Angelina concluiu que havia sido grosseira, mas decidiu não se desculpar, porque odiava começar a achar que de alguma forma ele se importava com o fato dela comer as coisas o suficiente para concluir ou não coisas sobre ela, sobre seu corpo, sua carreira. — Desculpe, não quis ser grosseiro, isso a irritou? — Ela fez que não. —, Mas não é o que parece Angelina. Ele disse o nome dela com chateação, entretanto aquilo não surtiu efeito algum. Pelo visto, ela havia construído aquela imagem sobre ele ser até legal em cima de algo que ele só estava aparentando ser, mas não era, Angelina comeu mais uma colherada de seu pudim e não disse nada, por que deveria se desgastar com aquilo? — Foi apenas um comentário — Ele disse sem pretensão alguma. — Eu gosto da minha profissão, na verdade amo as passarelas, mas eu quero algo mais, quero sentir que ajudo de alguma forma — ela deu de ombros mudando o rumo do assunto. — Estava tudo ótimo. — Jean foi o meu paciente há um mês. Ele fez um cateterismo e graças a Deus está bem, é um velho forte aquele. — Ele disse deixando o prato de lado, também parecendo não dar a mínima para o assunto anterior — Você não pensa em ter uma família como as suas irmãs? — Não acho que eu tenha competência para isso. Quero me formar primeiro em alguma coisa, depois eu arrumo o homem pobre de quem eu lhe falei, mas filhos... isso ainda é muito difícil para mim! — Por causa da sua filha que faleceu? A insinuação a magoou mais uma vez, porém profundamente. Angelina estava ali tentando não surtar com aquele cara que era idêntico ao pai de sua filha e que, no entanto, era tão diferente, ela sabia que estava em Santa Fé por conta da irmã e todas as coisas que tinham acontecido desde que chegara à cidade colaboravam para que ela partisse imediatamente, mas sabia que não poderia. Agora aquele assunto... “Sim!”, ela queria gritar para ele, mas apenas assentiu, não incomodada, não triste, mas apenas irritada por tocarem de novo naquele assunto. Ela sequer tivera a chance da dar um nome a menina, e não tivera coragem de pensar em ir ao cemitério. Ela odiava se lembrar que a sua pequena estava lá, morta, que não era uma menina feliz, que poderia muito bem-estar com ela naquele momento... aquilo sempre doía muito, machucando-a de tal forma que ela só conseguia chorar e chorar, se sentir culpada por não ter sido capaz de conceber uma criança saudável, ou simplesmente viva. — Desculpe, não quis parecer tão pessoal. — Ele disse com mais gentileza e estendeu a mão, pousou sob a dela em cima da mesa. — Eu sei como deve ser, já tive que dar a notícia ruim para muitos pais, e alguns entravam em choque por isso, imagine, num momento você está operando uma criança, uma benção de Deus, e em seguida o coração do tamanho de um botão está na sua mão sem vida alguma, sem batimento. Isso me endureceu muito. Ela olhou para a mão enorme sob a dela, os dedos se enfiando dentro da palma de sua mão, apertando com sutileza, o polegar acariciando as costas de sua mão com cuidado, algo dentro dela se revirou com o contato, ergueu o olhar sem saber relacionar o que sentia ao assunto, um tanto confusa. Aquilo mexia muito com ela. — Imagino que seja uma grande perda para você também — concordou tentando se manter neutra —, mas eu acho que a morte faz parte da vida, e que sempre temos que prosseguir. — Isso é verdade. — Ele deu um meio sorriso. — Você vai ser uma boa médica, eu acho. — Espero que sim — deu seu melhor sorriso e soltou a mão da dele, enfiou a mão na bolsa e em seguida retirou de lá exibindo a camiseta limpa e branca. — Para você! O clima estava mais ameno. — Que gentileza a sua. — disse bem-humorado. — E nem deixou manchar, que cuidadosa. Ela riu vendo que o garçom tremia enquanto servia o café para ele. Pobre rapaz, será que estava passando mal? — Você está bem? — perguntou para ele, vendo que ficava cada vez mais pálido. — S-sim... — gaguejou — Po-poderia, por favor, me dar um a- autógrafo? Ela assentiu um tanto constrangida, não esperava ser reconhecida por ninguém ali. Afinal era um lugar onde pessoas ricas iam para pagar mais de 100$ numa refeição, pessoas esnobes sempre agiam normalmente perto dela, já as pessoas mais humildes sempre faziam questão de deixar o seu carinho e amor estampado mandando cartas, elogios. E quando ela desfilava, algum fã jogava um presente, que ela carinhosamente recolhia e sorria, guardava em sua casa todos os presentes de fãs e admiradores num quarto. Angelina nunca perdera aquilo e esperava sempre continuar sendo ela mesma. — Como se chama? — perguntou quando ele lhe entregou a caderneta e caneta. — Lohan, senhorita Drumont. — Ele falou. — A-aliás, eu gostei muito do seu último desfile pela Selfish. É a minha Sunshine predileta. Angelina desfilava pela Selfish a cerca de três anos, era um desfile com objetivo de arrecadar dinheiro para obras de caridade, desfile de lingeries e roupas íntimas. — Oh, obrigado, Lohan. — Ela ficou vermelha e entregou o papel rabiscado com o seu nome, depois deu um beijo na face fria e suada dele. — Da sua Sunshine predileta! — Meu Deus... — após dizer isso, o rapaz ficou todo mole e desmaiou. Angelina não queria, porém se assustou. Augustus correu e segurou o rapaz, o colocou sentado na cadeira, foi algo rápido. Segundos depois, Jean apareceu com um copo de água para ele beber e aos poucos o rapaz foi acordando. Ela prendeu o riso com o semblante de espanto que Lohan fez ao notar seu constrangimento com a situação, aquela era uma vergonha que ela nunca passou na vida, nunca desmaiou por conta de nenhum famoso até porque se o fizesse em sua profissão estaria encrencada, no começo quando começou nas passarelas e via grandes nomes da moda, música e do cinema nas primeiras filas sentia-se eufórica, mas foi algo que o tempo lhe ensinou a cultivar muito autocontrole. Hoje muitos famosos a procuravam para tirar fotos, para sair para festas, participar de vídeo clipes, ir a eventos e até mesmo para fazer sexo, havia pedidos gentis e comuns, mas outros, deixavam- na de cabelo em pé por aqueles e muitos outros motivos Angelina deixava tudo aos cuidados de Marc, ele sabia o que tinha que fazer. — Eu ficaria assim também se me desse um beijo — Jean disse, bem-humorado. — Lohan é o meu neto, ele só tem dezesseis anos. Me desculpe por isso, senhorita Drumont. — Tudo bem, eu entendo — falou, constrangida. — O seu restaurante é muito bom e a comida estava divina. Seria pedir muito que colocasse um daqueles pudins para viajem? — Claro que não! — Jean disse abanando o neto com o cardápio, depois o bateu levemente em sua cabeça. — Lohan, anda logo, não ouviu a cliente? — Desculpe, vovô — Lohan se endireitou, visivelmente ruborizado, e criando forças se levantou. — Vou buscar o pudim, com licença. E se afastou, Angelina bebeu o café em silêncio percebendo que a pequena plateia olhava para a mesa deles, curiosos pelo incidente, é claro. — Você sempre chama a atenção assim? — Jean se juntou a eles na mesa. — Nem sempre. Vim aqui há uns treze anos e ninguém pareceu reparar em mim — brincou. — O senhor não era o dono antes, certo? Mas me lembro do senhor de algum lugar. — Comprei há cinco anos do meu irmão Fransuar — Jean sorriu. — Muquirana, mas valeu o preço, eu o ajudava na cozinha. — Eu adoro boa comida. Tenho uma cozinheira que me mima muito, ela é maravilhosa e super eclética, poderia passar algumas receitas para ela, eu amaria comer esse pudim aos domingos em casa — terminou de beber o café. — Estava tudo ótimo, vou elogiar até me cansar. — Que bom — O velho pareceu muito feliz com aquilo. — Espero que voltem sempre e que faça esse garoto se alimentar bem, porque naquele hospital só servem porcarias. — Ele está exagerando — Augustus riu dando dois tapinhas no ombro do amigo. — Quanto lhe devo? — Não me deve nada, você e sua namorada são meus convidados — Jean levantou se apoiando em sua bengala. — Nunca poderei pagar pela vida que me devolveu. A minha mulher, Tereza, agradece também. — Que nada — Augustus levantou tirando a carteira do bolso. — Não vou aceitar — Jean começou a se afastar. — Dê uma gorjeta ao Lohan, ele quer comprar um carro ano que vem. Angelina abriu a bolsa e tirou de lá a carteira, mas antes que o fizesse, Augustus colocou a mão no seu braço e fez que não com a cabeça. O toque quente e inesperado causou um breve arrepio na espinha, mas ela ignorou e tirou, mesmo assim, algumas notas de cinquenta. Seria injusto, já que eles comeram de graça, então que pelo menos o jovem rapaz, que os servira a noite inteira, tivesse uma pequena recompensa. — Não há necessidade — Augustus disse pegando as notas e devolvendo a ela. — Deixe-me pagar, na próxima você paga. “Haverá próxima?”, ela quase repetiu. Haveria próximas vezes com aquele moreno lindo, de olhos azuis? Por que ela tinha a impressão de que algo tão vago poderia se concretizar? Talvez só estivesse falando aquilo para ela não pagar a gorjeta, sendo educado com ela, mas entendendo que talvez o ofenderia, ela guardou o dinheiro e fechou a Chanel verde- claro. Angelina amava bolsas práticas e leves, como aquela, que também eram mais esportivas. — Poxa! — Lohan exclamou quando abriu a caderneta e viu o dinheiro. — Obrigado, Augustus, mas eu não... — Isso é só pelo seu serviço. — Ele disse pegando a sacola plástica onde estava a vasilha com o de pudim para viagem. — Dê tchau para a Sunshine! Lohan enrubesceu e depois estendeu a mão para ela. Angelina, não resistindo, deu um beijinho no rosto do rapaz e o viu amolecer novamente, mas dessa vez apenas derreteu e acenou para eles, enquanto saíam do lugar. Ela riu momentos depois, enquanto estavam indo para a moto estacionada ali perto. — Amanhã... amanhã eu estou com o dia livre. Se você quiser, posso te levar à Casa dos Tacos — Augustus esboçou e entregou a sacola para ela. — Pode ser, mas amanhã eu pago. Augustus não se atrasou naquela noite e não se surpreendeu quando estacionou a moto e Angelina veio correndo em sua direção, mas reconheceu o entusiasmo velado no olhar. Claro! Para ela deveria ser o máximo sair assim e fugir das programações com a família... ou só estivesse evitando Gloria e... Brad. Ele não sabia e não queria saber. Irritava-o pensar que um dia o seu gêmeo esteve com ela no passado. Não que Brad fosse ruim, parecia uma versão dele mais honesta e sincera, mesmo com todas as piadas sem graça até então se mostrava um bom homem, mas nada lhe passava na cabeça quando se tratava da belíssima mulher de short jeans diante dele. Se indagou sobre os motivos que fizeram Brad e Angelina não terem dado certo, pois era algo do qual nunca teria coragem de questionar com o irmão, até porque só daria aos Thompson motivos para questionar ainda mais sua vida e Catherine especular mais sobre ele. Sair com Angelina não implicava nada demais, ele só queria poder matar seu tempo vago com alguém que não quisesse interrogá-lo e ficar fazendo perguntas inconvenientes sobre sua mãe adotiva, nem nada pessoal demais, ela era boa naquilo, só falavam de coisas superficiais e por enquanto estava ótimo daquela forma, preferia se manter fora da zona de perigo e se preservar, não queria se envolver com a cunhada do seu irmão. Logo que o bebê de Brad nascesse, eles provavelmente dividiriam muitos momentos em família juntos com o sobrinho. Momentos esses que ele teve pouco na vida porque sua mãe adotiva não tinha parentes vivos, passara a ter depois que conhecera a família biológica. Augustus gostava dos sobrinhos, eram crianças boas e alegres, mas filhos... isso não... ele não queria. — Estava cansada de ficar vendo todo mundo paparicar a Gloria e os seus pés inchados. — Ela disse pegando o capacete e subindo na moto rapidamente. — Vamos! Estava irritada, é claro, Augustus não precisava ser um expert em mulheres para saber daquilo, mas não se permitiria invadir assim a vida dela. Não tão diretamente. Por fim, subiu na moto ao colocar o capacete e se segurou nela sentindo-se hipócrita, porque naquela mesma tarde vira muitas fotos de Angelina no último desfile da Fetiche do começo do ano, e ficara realmente impressionado com cada minúsculo detalhe do corpo dela de lingerie. As pernas longas e firmes ostentadas pelo salto alto e fino, e aquela lingerie tão pequena quase não cobria nada. Em algumas fotos ela era ousada, e sexy demais. Os seios mais cheios estavam cobertos apenas por um sutiã transparente, revelando os bicos rijos e firmes. Se sentiu idiota quando percebeu que estava excitado em apenas ver fotos de outra mulher seminua e culpou a falta de sexo por aquilo, porque já fazia meses que ele não tinha relações com mulher alguma, não tinha tempo para algo do tipo. Parecia inevitável não se excitar, como não? Ela era uma tentação. Mas, sem sombra de dúvidas, o que a tornava diferente das outras era o fato dela não parecer levar aquilo muito a sério. Ela sorria enquanto desfilava e não parecia ficar impressionada com todos os aplausos e olhares, nem com os flashs. Ela tinha uma bunda de tirar o fôlego e quadris com entradas profundas, entradas das quais ele adoraria se perder... “Droga, por que pensou aquilo?”. Ele ficara relutante quando ligara o notebook. Com tantas coisas para fazer e o seu único dia de folga no mês, e ele ficara metade do dia pesquisando sobre ela no google, vendo desfiles que realizara pelo mundo no YouTube, fotos e mais fotos de trabalhos no Instagram dela, imagens dela em viagens de férias com sua família, matérias de visitas que ela fazia a África a cada ano com os projetos que ela ajudava com a Unicef, outras milhares de centenas de coisas a respeito da moça. Ele queria saber muito bem qual era o solo onde pisava e descobrira que era um solo milionário e devastador. Ela tinha uma página na Wikipedia que só falava dela. Nas informações coisas como: A modelo com maior cachê do mundo segundo a Forbes há cerca de cinco anos, a mais requisitada pelos estilistas, a filantropa, a elogiada por todos os estilistas com quem trabalhava, desde Nova York até Milão, mas Angelina era mesmo amada no Brasil, onde nascera. As pessoas tinham uma adoração imensa por ela, era sempre mencionada nos eventos que ia, tinha uma legião de admiradores e fãs clubes. Ela tinha mais de 200 milhões de seguidores no Instagram. Lhe surpreendia que ele nunca houvesse ouvido falar dela a cada descoberta. A mulher era uma super celebridade e naquele exato momento estava pilotando sua moto rumo a um jantar com ele. Vira fotos dela com outros homens e comentários a respeito daquilo, mas não vira nada sobre algum caso recente ou namorados. Ela visivelmente deixava a sua vida pessoal bem afastada dos holofotes, era muito discreta, o que a tornava um alvo difícil para qualquer um que tentasse se aproximar... ou não. Talvez ela só mantivesse as coisas da vida pessoal longe dos holofotes, talvez houvesse alguém na vida dela. Ele queria saber, mesmo que não quisesse nada além daquilo, não queria uma amante, mas seria melhor ter que lidar com ela sabendo onde pisava, não era de seu fetiche sair com mulheres comprometidas, até o momento só sabia que ela era agradável e adorava conversar, era inteligente e sagaz, do tipo de mulher que ele vira sempre em Santa sua mãe adotiva, e gostava disso, não era uma mimada como muitas mulheres que ele conhecia, e era muito interessada nos mesmos assuntos que ele. Então por que não sairia com ela novamente? Chegaram à casa dos tacos, Augustus desceu da moto e tirou o capacete da cabeça, ele retirou o boné do bolso e entregou para ela, Angelina aceitou e colocou sob a cabeça, então eles entraram no lugar, que estava meio vazio. Às terças a Casa dos Tacos não era muito frequentada. Logo que escolheram uma mesa, ela já foi logo falando o que queria comer e como gostava dos molhos para a moça que veio atendê-los. Percebeu que ela estava nervosa, meio agitada, questionou-se os motivos, ele não queria perguntar, mas as palavras saíram sem que ele se desse conta. — O que está acontecendo? Ela o analisou em silêncio, o fitou e depois abaixou o olhar. Ele não queria, mas seu olhar se perdeu através da blusa de tecido fino que ela usava, onde exibia claramente o sutiã preto de rendas, e a encarou de novo. Não tinha como não olhar para ela e não lembrar das centenas de fotos nas quais a vira seminua, mas não poderia ficar generalizando muito aquilo porque... talvez fosse constrangedor e irreversível para ele, e estavam em público. Deixou o pensamento de lado. — Gostaria que não falasse isso com ninguém. — Ela disse como se criasse coragem. — Eu estou furiosa com a Gloria e o Brad. Já suspeitava. Pensou. — Hum, isso é normal. — Não é não. — Ela negou com veemência. — Eles ficam passando na minha cara o casamento deles e eu odeio isso, odeio a forma como ela fica esfregando a barriga na minha cara também. Se eu quisesse ter filhos, já teria feito. — Sem medo das estrias? — Ela não riu, manteve o olhar sério, não gostou da brincadeira. — Olha, isso é bem comum, é como você disse, todos temos que prosseguir. — Eu sei, mas... — suspirou cansadamente — Eu não sinto nada por ele, nem sei por que ficamos juntos, eu era jovem demais e eu odeio as piadas dele. Augustus sorriu. Às vezes ele também odiava as piadas do irmão, chegava a ser insuportável a forma como ele brincava, mas era o seu irmão e tinha que suportá-lo, ainda mais sendo gêmeo. Certa vez na vida sempre quis saber como era ter um irmão, atualmente ele se perguntava por que se questionou sobre aquilo em algum momento na vida. — Eles passaram o dia todo lá em casa hoje e eu não consigo ficar bem com isso, não por Gloria, ela é a minha irmã, eu a amo, mas mentiu para mim, Brad é só o resto, o resto do menininho mimado que sempre fez tudo o que queria. — Ela disse, irritada. — Eu entendo que ele não precisava ficar comigo, mas acho que poderia muito bem ter me ajudado na gravidez. — Então ele não ajudou? — ergueu uma das sobrancelhas. — Não, ele foi pra Harvard e não respondeu as cartas que eu mandei. Fui à casa dos seus pais e eles disseram que não iriam me ajudar porque não poderia confirmar se o bebê era dele — passou as mãos nervosamente nas faces, ela odiava falar daquilo. — Como assim não era dele? Eu era virgem! Augustus se quer cogitou algo do tipo, não que seus pais houvessem negligenciado ela de alguma forma em algum momento da vida, mas não duvidava de nada. — Desculpe por falar as coisas assim, você deve ter tido um dia cheio no hospital. — Ela disse. Ele tivera um dia cheio em frente ao notebook tentando preencher alguns relatórios de pacientes enquanto olhava fotos e vídeos de Angelina... bem, ao menos havia tentado trabalhar. — Hoje foi o meu dia de folga — Ele disse —, mas tive que organizar algumas coisas, o meu pai quer montar um consultório para mim no centro. — Isso é muito bom — Angelina sorriu pela primeira vez na noite. — Você vai ver que as coisas vão dar certo, Augustus. Era bom ouvi-la chamar o seu nome, pois não o fazia com sotaque americano cheio de arrogância como seus pais faziam, mas sim da forma certa, como qualquer pessoa da sua cidade natal. Augustus gostava daquilo também. Ela era firme e otimista e aquilo, sim, era difícil de se encontrar nos dias de hoje, uma mulher decidida. Não era de se surpreender que tivesse tanto dinheiro e aquilo mais uma vez o assustou. Ele era um herdeiro multimilionário, mas não o suficiente, uma vez uma mulher rica já havia deixado um grande buraco em sua vida, em seu coração, e não queria aquilo de novo. — Seus tacos com molho especial por conta da casa — disse a garçonete olhando para ela enquanto colocava tudo sob a mesa. — Oh, obrigada... — olhou rapidamente o crachá da moça — Meg! — De nada. — Ela sorriu e se afastou, parecendo que explodiria de tanta felicidade. — Quando eu quiser comer de graça, vou te levar para os lugares — brincou vendo-a ruborizar. — Eu não gosto disso, mas já ganhei e ainda ganho muitas coisas até hoje... cortesias, roupas, perfumes, celulares, móveis, livros, assinaturas em sites gratuitos, obras de arte... eu acabo dando tudo para minha instituição e leiloando para ajudar as crianças em projetos sociais que eu sou madrinha no Brasil. — Não sabia que tinha uma instituição! Soube naquela manhã, mas enfim, não era uma completa mentira. — Eu tenho! Ajuda crianças de rua no Brasil. Aqui não é muito conhecida, mas nas comunidades do Rio de Janeiro, é muito conhecida e eu vou lá sempre que vou ao Brasil. Angelina começou a comer os tacos, ela comia com gosto, nada parecido com qualquer pessoa com quem ele saíra antes. Apesar do seu corpo ser magro, ela comia sem receio algum, com as mãos, e sem se importar se estavam olhando ou não. Augustus quase riu quando ela se engasgou com uma pimenta e lhe deu dois tapas nas costas, vendo-a rir daquilo, visivelmente vermelha e embaraçada, mas apenas rindo. Era divertida, espontânea, apoiava os pés no banco, encolhida enquanto comia, como uma adolescente que saíra para comer com um amigo. Ele realmente queria acreditar que ela tinha vinte e oito anos porque sequer aparentava ter mais de vinte, estava sem maquiagem alguma e aquilo fazia com que ele só conseguisse enxergar uma jovem normal do interior jantando e falando de moda e viagens. As maçãs do seu rosto eram levemente cheias e o nariz era bonito, a boca cor de rosa era um pouco grande e possuía leve protuberância no lábio inferior. Nada nela era superficial. Tinha uma beleza bem diferente já que a maioria das modelos eram conhecidas por serem superficiais, com sobrancelhas mais grossas e aqueles olhos castanho-escuros, que o fascinavam. — Hum... eu adoro os tacos daqui. Eu e Bambi sempre vínhamos aos sábados. — Ela comentou quando já terminara de comer. — Marc me mataria se soubesse que eu estou comendo assim. — Achei que não fizesse essas dietas loucas nem as vontades dele. — Ele comentou. — Não faço, minha alimentação é muito balanceada e é justamente por isso que eu não posso exagerar — suspirou, não parecia satisfeita. — Acho que vou pedir um taco de chocolate, você quer? — Pode ser — deu de ombros. — O seu lance com o meu irmão foi grave então. — Não houve lance — esclareceu acenando para a moça, que se aproximou, empolgada. — Poderia trazer dois especiais de chocolate, por favor? — Sim, claro — Meg anotou e sorriu. — É sempre um prazer servi-la. — Meg, o prazer é todo meu em estar num lugar onde pessoas eficientes e boas, como você, sempre estão dispostas a ajudar — sorriu de volta vendo que a moça enchia o peito de orgulho e depois se afastava, indo até o balcão de pedidos. — Ele foi um idiota com você — insistiu, fingindo desinteresse. — É, diria que Brad sempre foi um idiota com todo mundo, apesar de eu reconhecer que agora ele é até trabalhador e esforçado. Eu acho que foi um sonho impossível querer o filho das pessoas mais bonitas e ricas da cidade. Meu pai era jardineiro e a minha mãe dona de casa, éramos pobres e vivemos sempre com pouco — explicou. — Você não fala nada da sua infância, né? — Não tive uma infância ruim, sempre fui um coitado que mal tinha o que comer — foi sarcástico, pois não queria falar sobre aquilo com ela. — Próximo. — Não se menospreze por isso. Aposto que se tivesse tudo seria um imbecil como o seu irmão. — Todos somos assim no fundo. Às vezes eu acho que Catherine não me concebeu, ela é chata e fica pegando no meu pé, mas o DNA fala o contrário então não há muito o que eu possa fazer sobre isso quando se tem um cara igual a você andando por aí. — Vai se acostumar com ela, é a sua mãe. É claro que ela é chata, qual mãe, não é? — A sua parece ser muito tranquila. — Ela é, mas... bem, ela nunca aceitou o fato de eu não ter estudado ou ter engravidado com dezesseis anos e isso me torna a filha mais peculiar da casa, uma quase excluída. — A mulher que me criou sempre me ensinou a respeitá-la, mas Catherine... ela é um desafio. Eles comeram o taco de chocolate e falaram de diversas coisas. Angelina se mostrava sempre afastada quanto a assuntos pessoais demais, falando das viagens pela Europa e do último desfile em Milão fazia-o quase invejá-la por causa de todos os lugares que ela conhecera e visitara, enquanto ele sequer tirara férias há três anos depois da residência, e a especificação tirava todo o tempo que lhe restava depois dos plantões no hospital. Ele gostaria que um dia, quando terminasse e estivesse com tudo em ordem, talvez viajasse para algum lugar na Europa ou na Grécia, quem sabe!? — Eu vou pagar e nem adianta vir com esse papo de você paga na próxima porque na próxima você vai pagar — apontou ela, levantando-se. — Angelina... — Não — cortou indo até o caixa com a fichinha. Ele não deveria deixar, mas ela também não parecia disposta a ceder, então quando ela voltou com o comprovante em mãos, não disse nada. Espera... ela falou de um próximo encontro? — Amanhã eu escolho o lugar! — Ótimo! Não iria arrancar pedaço, iria? — Qual é... patinação? Angelina riu enquanto ia pegar os pares de patins. Depois de um dia de cão, Augustus não esperava que ela o levasse a um lugar que exigisse nada além de ficar sentado. Ele não queria patinar, sequer sabia como ficar em pé num par de patins, mas ela estava obstinada a ensiná-lo. Aos poucos foi se acostumando com as quatro rodinhas dos patins, observando os casais habilmente patinarem pelo lugar extenso e amplo. Ela segurava o seu braço fielmente, enquanto ele, em seu desajeitado jeito de ser, tentava apenas não cair, e conseguiu. Depois de uma hora, já estava morto de cansaço, mas satisfeito, é claro, por sua parceira fiel não tê-lo largado sozinho quando alguns caras chamaram-na para patinar durante os intervalos que fizeram. Augustus lançou olhares reprovadores para aqueles homens porque sabia exatamente os motivos deles chamarem-na para patinar e ficou se perguntando a todo instante se em algum momento eles não se davam conta que ela estava acompanhada. Será que aqueles idiotas não viram que ela estava acompanhada? ele se perguntou. Mas não fez nada, apenas se controlou e foi frio como sempre. Eles foram ali só para se divertirem como bons concunhados, como pessoas normais que queriam dividir seu tempo vago, porém com certeza ele jamais se aproximaria de nenhuma mulher que estivesse ali acompanhada por mais interessante que parecesse. — Vamos beber um milkshake — sugeriu ela já com os seus tênis All Star nos pés. Quanto tempo fazia que ele não bebia um milkshake? Augustus acreditava que pela falta de tempo e todos os compromissos durante os últimos anos ele nunca tivera tempo para nada, mas agora arrumara tempo para ela. Tinha que estudar, tinha que ler três livros sobre Streptococcus pyogenes, Mycobacterium tuberculosiss entre outras bactérias mortais e infecciosas, e, no entanto, estava apenas ali, dividindo meio litro de milkshake de chocolate com a estranha mais gentil e engraçada que já vira naquela cidade. Ou quase aquilo. Será que ela continuava sendo mesmo tão estranha? Ele, pelo menos, já a considerava quase uma colega em potencial, sim, porque não poderia considerar nenhuma outra chance com ela. Ouvira Brad comentar que ela partiria no domingo e já era quarta-feira. Então ele poderia muito bem lidar com todos os impulsos do seu corpo e apenas apreciar a companhia de Angelina como um colega próximo, alguém com quem se divertiria, já que ele não queria ir para a casa dos pais e ficar lá ouvindo o seu pai falar da empresa e sua mãe das novas próteses de silicone de algas, ou algo assim. Ela estava sugando rápido demais o líquido e ele bem sabia o que aconteceria, mas não a alertou porque, principalmente, estava atento demais a sua boca insistente no canudinho colorido. Droga, como resistir? Ela o tirava do sério em todos os sentidos e ele se martirizava sempre por se ver analisando-a de formas diferentes, ainda mais porque ela se quer deu algum sinal de que sentia algo do que algum prazer pela companhia dele, afinal de contas, queria aquilo? O desinteresse dela era mais que oportuno, mas era inevitável não se sentir de alguma forma atraído pela aparência de Angelina, incialmente, porque agora se pegava analisando cada pequeno detalhe da personalidade dela. Era incrível, ela era incrível. Se em algum momento diferente e em outra situação ela demonstrasse algum tipo de interesse, talvez ele a quisesse de outra forma... Claro que sim! Claro que a desejaria, e sabia que era só pelo corpo dela porque era homem. Inicialmente quando a vira, recebera um choque pelo corpo, talvez causasse aquilo em todos os homens, mas, droga, ele se sentia assim também e conhecê-la mais só completara a vontade que tinha de estar mais tempo com ela e aquilo era muito perigoso. Estar perto demais de alguém como ela poderia ser no mínimo desastroso. Mas se em algum momento se envolvessem — hipoteticamente — sabia que seria algo instintivo, forte, quase brutal, coisa física, nem que apenas por uma vez, e ele sabia que tão pouco a possuísse logo tudo acabaria como acontecera no último ano com um caso qualquer. Seria só a melhor transa dos últimos sete meses. Porque ele era daquele jeito há algum tempo, ele sabia muito bem como funcionava no mundo real e mulheres como ela e homens como ele jamais correriam um risco tão grande de ter algo além de sexo. Talvez o fato também de estar sem sexo e sentir a atração visual pelo corpo dela o estivessem fazendo se sentir daquela forma sobre toda a situação, mas ainda era ruim ver tudo daquela forma. Porque sabia que Angelina não era tão superficial ao ponto de querer só uma trepada de uma noite e depois cumprimentá-lo de vez enquanto como havia sido com a última mulher com quem ele transou depois que chegou ali. Ele não queria que ela pensasse mal dele porque talvez se ela soubesse o afastasse, então não quis pensar naquilo, já tinha cometido um pequeno deslize antes, naquele instante não queria cometer outro. Os pensamentos o assustavam e ele não queria levar a irmã da cunhada para a cama. Ele não faria aquilo. Angelina era uma boa pessoa, uma mulher legal, e só. Eles tinham coisas em comuns, gostavam de coisas fúteis e conversavam sobre a profissão dele, mas Augustus jamais conseguiria pensar nela conversando por mais tempo do que uma hora com ele. E estava sendo completamente idiota porque ela era inteligente e ele sabia que se ficasse próximo demais, teria sérios riscos de fazer coisas irreversíveis, e ele não queria ter o coração pisoteado de novo por uma menininha rica. Mesmo que ela não parecesse mimada, sabia que não dava para se conhecer alguém em apenas três dias. — Oh! — Ele a ouviu falar quando parou de sugar e colocou as mãos nas têmporas. — Como é bom sentir essa dor de novo. Augustus sorriu. — Sabe, eu tenho me divertido muito durante esses três dias, pena que a minha melhor amiga não pôde vir, o trabalho dela toma todo o tempo sempre — Ela disse. — Augustus, acho que isso faz de você a minha melhor amiga então. — Não vai me pedir para lhe fazer tranças, certo? Não quero quebrar a minha unha! — Sabe, eu tenho notado que você é um pouquinho machista, mas tudo bem, acho que podemos superar essa barreira sabe? — E como chegou a esta conclusão? Augustus não estava constrangido, sentia que poderia falar sobre qualquer coisa que fosse com ela, mas queria saber realmente. — Eu tenho a impressão de que as vezes você me pré-julgou mal por conta da minha aparência, o jeito como você olhou para os caras também no ranking de patinação deixou bem claro que você é meio ciumento. Ah, Grande Merda! Por que esse assunto agora? — Não estava com ciúmes — negou de imediato — Só acho descortês que um homem se aproxime de uma mulher acompanhada e fiquem olhando para ela do jeito que eles te olharam. — Você me olha desse jeito também. — Não olho. — Olha Sim. Augustus se afastou um pouco, incomodado com o olhar inquisitório dela, bem, não achou que ela fosse perceber, mas Angelina estava ali interrogando ele severamente sobre sua postura. Pensou numa boa desculpa. — Só quis te proteger. — Não preciso de proteção — argumentou ela secamente — E se eu precisasse teria pedido algum segurança ao Marc. — Ok. Augustus não gostava de discussão. Ele não era bom com aquilo porque não tinha paciência, mas Angelina o ignorou completamente, ela também não respondeu depois voltou a tomar o milkshake em silêncio, um homem se aproximou todo entusiasmado e para completa incredulidade dele, ela passou o braço envolta de sua cintura e colocou a cabeça no ombro dele. Augustus se sentiu tenso de repente depois um calor intenso no corpo, ela não deveria ter feito aquilo e ele não deveria se sentir aquecido com o gesto. O homem passou por eles parecendo de repente desapontado, ela ficou olhando-o de soslaio e pareceu incomodada, mas não tirou o braço de sua cintura, nem se afastou dele, Angelina era aquele tipo de mulher que nunca parecia se importar com nada, simplesmente agia espontânea e naturalmente, entretanto ele estava muito ciente do objetivo dela em tentar fazer aquilo, não era intencional. — Quer ir embora? — indagou ele discretamente. — Não queria chamar atenção, mas parece impossível. — Então vamos! — Não, tudo bem. — ela ficou pensativa olhando para o copo de milkshake diante de ambos — Eu gostaria muito de ter tido outros amigos, mas sempre fui muito antissocial, e quando fiquei grávida as coisas ficaram bem piores. E você? Não queria falar sobre si, mas seria melhor do que ser coberto de acusações sobre ele ser machista. — Eu sempre fui só. Claro que tinha conhecidos no México, mas nada que lembrasse algum amigo de verdade — revelou. — Eu nunca me liguei em amizades, sempre enfiei a cara nos estudos e comecei a trabalhar numa fazenda com dez anos. — Isso explica o porquê de você ter alguns calinhos na mão. — Ela falou pegando na sua mão e apontando os calos nos cantos da palma da mão. — Dizem que as mãos de um médico devem ser bem finas e leves, mas a sua não é. — A sua certamente vai operar bem melhor do que a minha — os olhos dele pousaram nos dela. — Você tem um grande senso de percepção. — As pessoas sempre me julgam pela minha aparência, eu já fiz um teste e o meu QI é até alto — disse ela sem orgulho nenhum, o indicador tocava a palma da mão dele, cada pequeno detalhe. — Está tentando me impressionar? — Ah com certeza eu nunca faria isso, desculpe te decepcionar garotão, mas essa mulher não precisa disso. Augustus sorriu, ele fechou a mão e segurou a ponta dos dedos dela analisando as unhas pintadas, perfeitas. — Fala algo sobre você que eu não saiba — pediu. — Humm... — Angelina continuou ali bem perto dele — Fala algo sobre você enquanto eu penso. — Odeio ratos, falo duas línguas e gostaria de ter uma casa na Florida. — Eu sei falar três idiomas... — Ah, idiomas! Depois que repetiu se sentiu um tanto constrangido, mas Angelina só sorriu para ele e vice e versa e ficaram ali se olhando bem de perto, as mãos dadas, uma coisa estranha fluindo no ar do lugar. — Ah, então é para cá que você está vindo! Angelina se virou para o lado e levou alguns segundos para ela soltar a mão dele, Augustus se endireitou no banco e ficou analisando o semblante de Dora enquanto a via se aproximar acompanhada de um sujeito que ele nunca viu na vida. Ela usava jeans, tênis e uma blusa curta, logo de cara não gostou daquilo. — Nós já estávamos de saída — Angelina falou prontamente e ficou de pé — E você é o... — Israel, muito prazer em te conhecer — o rapaz disse para ela todo sorridente. Talvez ele não soubesse o tamanho do problema em que poderia se enfiar, mas Augustus só se ergueu e ficou de pé analisando o olhar duro que a outra cunhada de seu irmão lhe lançava, porque sabia que havia sido descoberto e detestava aquilo. — Realmente estou chocada — Dora disse cheia de deboche — Vocês dois? Quem diria? — Para com isso Dora, eu só chamei o Augustus para tomar uma bebida e conversar... — Não tem que dar satisfação de nada para ela — Augustus praguejou detendo sua irritação e deixou o dinheiro da conta sob o balcão — Vamos! Então segurou a mão de Angelina e começou a conduzi-la para fora do lugar. Angelina não questionou, ela apenas o seguiu em silêncio enquanto ele via o olhar egoísta de Dora a ignorou completamente, quando saíram para fora, Angelina se soltou da mão dele. — Pode deixar, eu vou embora... — Te levo. — Eu não entendi o seu motivo de revolta, a minha irmã jamais iria falar nada para os meus pais. — Eu não me importo com isso, te levo, fique tranquila. — Augustus o que está acontecendo aqui? Você parece um doido surtado só porque viu a minha irmã... — Eu transei com ela há alguns meses. Os olhos de Angelina ficaram vidrados nele, primeiro com uma espécie de espanto, depois com um misto de depreciação e medo, ela recuou mais um passo e aquilo pareceu abalar ela. Naquele momento ele soube que o que quer que fosse, havia se passado. — Eu posso pedir ao Marc que me pegue aqui. — Eu já disse que te levo, vamos! Eu te trouxe até aqui, não é justo com você. Não queria parecer tão impaciente, mas o momento não era propício, Angelina se aproximou e pegou o capacete em cima da moto, haviam deixado ali, ela não disse mais nada e ele sentia que não precisava dizer mais nada também. Jogou a merda no ventilador, não era um cara de meias palavras nem de ficar fazendo joguinho, aquilo foi há alguns meses e passou rápido demais, agora, tinha que levar a cunhada de seu irmão para casa. E fim de noite para ambos. — Quê? — É, isso mesmo o que você acabou de ouvir. — Não, pera, ele O QUÊ? Amber parecia não entender o que ela tinha acabado de falar, mas Angelina não queria ter que repetir as mesmas coisas que Augustus dissera na noite anterior para ela sobre ter transado com sua própria irmã, porque era tão... ruim. Detestava aquilo, imaginar ainda mais. Sua melhor amiga a acordou com um telefonema, então decidiu contar toda a verdade sobre seu encontro da noite anterior com Augustus Thompson, ainda não sabia descrever o quanto foi decepcionante saber daquela forma sobre algo tão íntimo e pior, sentiu-se de várias formas confusa com a situação. Quando ele parou a moto diante da casa de seus pais, ela só estava ansiosa demais para se afastar, despediu-se com um simples “obrigada pela noite” e então foi basicamente correndo para dentro de casa, travada, muito chateada com a situação. Talvez o choque de saber daquilo de uma hora para a outra houvesse deixado ela daquele jeito. — Eu já disse, não vou repetir. Angelina se esticou na cama e abraçou uma pelúcia ainda sonolenta, Amber tinha ligado bastante cedo pois iria trabalhar logo em seguida, checou a hora e notou que não passava de 07:15 da manhã, ficou por várias horas da noite quebrando a cabeça e imaginando uma situação mais constrangedora do que a que se comprometera. Saindo com o homem com quem sua irmã do meio havia tido um caso. — Ai amiga eu... — Não diz que sente muito, é livramento — Angelina cortou e analisou sua pelúcia predileta — Eu vou voltar a dormir, quando sair do trabalho, me liga que hoje de noite, eu e você vamos sair. — Ok, mas você está bem né? — To sim Bambi, fica tranquila. — Então tá, qualquer coisa me chama, sinto muito mesmo assim, te amo, até mais tarde, tchau. E desligou, Angelina revirou os olhos e ficou agarrada a sua pelúcia olhando para o canto da parede em silêncio, ouvindo o som das batidas de seu coração, imaginando um mundo onde não se submetesse a situações como as que passou na noite anterior. Disse para si mesma que tudo bem, que Augustus e Dora tinham direito de terem tido o que quer que fosse e que não ficaria pensando mais sobre aquilo, mas bem, merda, por que ele não havia dito desde o primeiro momento? Será que em algum instante ele pensou que isso seria incomodo para ela? Que ela se sentiria mal com a situação? Qual o objetivo dele em se aproximar dela? Será que queria se aproximar para tentar conseguir algo com Dora usando-a? Fazer ciúmes em Dora? Ficou se perguntando por diversas vezes antes de cair no sono sobre aquilo, tantas dúvidas e ao mesmo tempo ela estava cansada demais para pensar sobre os motivos, só queria se conformar e aprender a lidar com a situação. Seu celular tocou e ela atendeu imaginando que fosse Amber ou Marc. — Sim? — O que está fazendo? Ela se ergueu de imediato e logo de cara quis desligar o celular, mas parecia infantil demais. Não, ela não era daquele jeito. — Bom dia, Augustus, estava dormindo. — Ah, me desculpe, peguei meu intervalo no plantão e pensei em te ligar e conversarmos. A voz dele estava sossegada, deveria estar diferente? Para ele deveria ser a coisa mais normal do mundo, apenas ela encarava aquilo de um jeito estranho. — Quem te passou meu telefone? — A sua irmã. — Dora? — Gloria. — Por que não pediu logo para os meus pais? Assim pouparia todo o trabalho que eu tive de não deixar ninguém saber dos nossos encontros. — Você também fez isso? Ela se zangou. — Eu vou dormir. — Hei, as coisas não foram do jeito que você está pensando. — Eu não estou pensando em nada. — Está sim, sei que está zangada com a situação, eu sinto muito, mas não é algo que eu poderia falar logo de cara, é íntimo demais. — Entendi. Era verdade, mas ela continuava com raiva de tudo, principalmente por se sentir uma completa imbecil em não ter notado nada, talvez estivesse levando aqueles encontros bem mais a sério que ele, pior, estava gostando demais para não perceber. — Quando eu cheguei à cidade sua irmã se ofereceu para me ajudar a achar um imóvel juntamente com a minha mãe, ficamos próximos e aconteceu, mas não queríamos nada um com o outro, só rolou e acabou. Dora era corretora de imóveis, havia se formado recentemente em administração, Angelina tinha acompanhado a formatura dela via internet por uma chamada de vídeo, sabia o quanto seus pais se orgulhavam dela e ela também. — Achei que fôssemos amigos, mas parece que você está muito irritada comigo por algo que eu não tenho culpa — ele alegou e sua voz estava firme do outro lado da linha — Não entendo os seus motivos para estar zangada, eu não tenho obrigação de falar da minha vida íntima com você. Uau! — Não estou zangada — Angelina alegou — Só indisposta, e aliás, sua vida íntima com a minha irmã mais nova não me interessa nenhum pouco, só posso desejar boa sorte e ótimo trabalho, tchau. E desligou. Ela respirou fundo e jogou o celular sob a colcha da cama, abraçou seu travesseiro e fechou os olhos, tentando deixar de lado aquele sentimento que não deveria caber dentro dela porque não lhe pertencia, tinha medo de sentir aquilo, tinha pavor. Ciúmes. Angelina nunca sentiu ciúmes de ninguém em toda sua existência, era muito dona de si e controladora das emoções para se sentir daquela forma em relação a alguém, sentir ciúmes era apavorante, havia algum tipo de sentimento mais medíocre? Achar que alguém era sua posse ao ponto de compará-la a alguma coisa do qual era dono? Pessoas não devem sentir ciúmes porque pessoas não são coisas, são pessoas, tem sentimentos, não tem como se sentir dono de alguém e se sentir mal só porque essa pessoa não corresponde as suas expectativas. Fez uma careta e negou com a cabeça, porque se tinha algo que repudiava dentro de qualquer relação humana era aquele sentimento medíocre, uma vez quando era jovem disse para si mesma que nunca sentiria ciúmes de ninguém porque absolutamente nenhum ser humano era digno dela, nem ela de se sentir daquela forma sobre ninguém e assim vinha sendo. Achava aquilo tão ridículo. Escutou o som do vibrador do celular, mas o ignorou, porque sabia que não deveria atender, de nada adiantaria conversar com Augustus, ele era ignorante demais para saber como conversar com ela e manter dentro do possível algum amiguismo como vinha sendo antes. Impossível, ainda mais depois de descobrir que ele havia transado com sua irmã. Escutou mais uma vez o som do vibrador do celular e naquele instante veio acompanhado por duas batidas ocas do lado de fora de sua janela do quarto, ela abriu os olhos e se virou na cama um tanto confusa, pegou o celular, mas não atendeu, instantes depois escutou mais duas batidas ocas no vidro da janela de seu quarto e tão logo ergueu o olhar ficou dura ao ver ali apoiado nos dois braços, Augustus Thompson. Ele indicou o celular e acenou para ela, as faces vermelhas, os olhos azuis cheios de um tipo de raiva ou algo assim, ela pegou novamente o celular e atendeu se sentindo estranha com a forma dura na qual o olhar dele atravessava o vidro da janela de seu quarto. — Poderia vir aqui abrir a janela? Eu estou quase caindo! Merda! O xingamento estava na ponta da língua, mas não disse nada, Angelina apenas saiu da cama e foi até lá ligeiro, ela puxou a fechadura para cima abrindo a janela, ela se afastou vendo o homem se jogando para dentro de seu quarto, ele se equilibrou depois que conseguiu colocar as pernas para dentro do quarto e então se pôs de pé, usava uma calça jeans e uma camisa preta de tecido fino cumprida, os cabelos estavam úmidos e dali ela podia sentir o cheiro de sabonete, ficou para analisando-o se recompor diante dela. — Bom dia, Angelina. — Bom dia, Augustus. Depois que falou ela lhe deu as costas e foi fechar a janela, olhou para o movimento na rua e procurou rapidamente pela moto dele, mas não estava ali. — Eu vim de Uber, não se preocupe. — Não estou preocupada. Ela fechou as cortinas da janela e se afastou até a cama sem ao menos saber o que falar, realmente não esperava que ele fizesse aquilo, qualquer homem na face da terra menos Augustus Thompson. Não o homem frio que ela conhecera durante os três encontros. — Eu saí do meu plantão e vim direto para cá, acho que precisamos conversar sobre ontem. — Não há o que conversar eu já disse, fique tranquilo. — Você está brava comigo sem motivos — ele estava com a voz como sempre inflexível demais. — Não acho que você tenha o direito de ficar assim tão zangada. — Você já disse isso e eu não me importo — Angelina voltou para a cama e se deitou ali puxando os cobertores — Quando você sair não faça barulho, a chave da porta da cozinha fica em cima da geladeira. — Eu não quero acreditar que está com ciúmes e não quero perder a sua amizade por conta disso. Egoísta. Pensou ela com desdém. — Ah, agora eu sou sua amiga? Ela se acomodou e lhe deu as costas ficando deitada na cama, puxou os cobertores até a altura do pescoço e ficou quieta. Ouviu o som dos passos, logo Augustus se sentou em sua cama ao lado dela, ele respirou fundo, ela sabia que ele não era muito do tipo que parecia ter paciência com nada. Era orgulhoso demais para pensar se quer em se desculpar, ela sabia que ele não deveria se desculpar porque transou com sua irmã, a vida era dele, ele fazia o que queria, mas ao menos que tivesse a decência de ter consideração o suficiente para ter sido um pouco mais transparente no começo. — Bem, é! Eu considero, se fosse o contrário eu não te julgaria tão mal. — Se fosse o contrário me chamaria de puta. — Então me chame de puto. — Puto. — Se sente melhor depois disso? — Não! — Que tal vagabundo? Se recusava a achar aquilo engraçado. — Melhor você ir embora descansar do seu plantão. — Eu odiaria que você se sentisse mal por eu ter ficado com a sua irmã, mas ontem pensando bem eu imaginei como se sentiu, porque talvez se sinta como está se sentindo em relação a Gloria. — Não é isso. — Então o que é? — Você não acha que eu merecia saber? Ela é a minha irmã! — Para ser sincero eu não me importo com isso. — OK. Augustus respirou fundo novamente e ela apenas ficou quieta, porque não queria discutir, mas sabia que não chegariam em algum consenso sobre o assunto. Ouviu o som do que pareciam ser tênis sendo deixados num canto e logo em seguida, o colchão se moveu e ele se deitou puxando os cobertores dela, ele a abraçou por trás e a puxou para junto de si. — Se importa se eu ficar aqui com você Angelina? — Não. Ela se assustava com a forma com a qual sua resposta saíra rápido. — Escuta, está cedo, não quero brigar com você por causa disso, quer que eu me desculpe? — Augustus... — Me desculpe, eu não tinha nenhuma intenção de ferir seus sentimentos, algo mais? Ela abriu a boca para falar, mas se deteve, então ficou quieta ali sentindo o calor que o corpo quente lhe proporcionava, o braço dele envolta dela, não compartilhara aquilo com nenhum homem além de Brad, talvez nem ele. Talvez não fosse o momento para discutir sobre aquilo, não na casa de seus pais, não daquela forma, mais tarde talvez. Dora tinha cabelos curtos e ondulados, lábios mais cheios e olhos castanhos que lembravam os dela, era mais baixa, deveria ter não mais de 1,59, era magra e usava shorts curtos e blusas leves, havia colocado silicone verão passado porque odiava ter seios pequenos, ao menos foi aquilo o que a irmã tinha lhe dito... — Oi, eu estou falando com você. Angelina piscou, depois olhou envolta e saiu dos pensamentos, da análise meticulosa que fazia sobre a aparência de sua irmã do meio, Gloria era a caçula, estava no outro canto da mesa fatiando uma panqueca enquanto Brad ensopava a dele próprio com mel, por um segundo se sentiu idiota em imaginar que poderia comparar aquela porta com Augustus. Não poderia. — Angie, qual é? Passa a manteiga! — exigiu Dora chateada. — Ah, me desculpe. Ela obedeceu a irmã e logo em seguida voltou a comer sua salada de frutas, sua mãe estava terminando de preparar os ovos de gemas moles de seu pai, tinha batido em sua porta para que descesse para o café apenas uma vez, mas não imaginou que fosse ser algo tão rápido, olhou para o rumo da escada rapidamente lembrando do visitante inesperado que dormia trancado em seu quarto, certificou-se de ter passado a tranca porque não queria que ninguém entrasse lá e o visse dormindo. Nunca. — Parece que você está meio desligada esses dias — Gloria comentou amigável — Está gostando dos passeios com o seu namorado misterioso? — Sua irmã não tem namorados — replicou o pai delas secamente e mexeu no tablet — Até agora eu não sei como se mexe nessas porcarias digitais, eu só quero ler as notícias, como podem mexer em algo assim? — É só o senhor passar o dedo e levemente — Brad ensinou indicando o local na tela — Não precisa ter pressa. — Eu sei quem é o cara com quem a Angie está saindo — Dora insinuou com certo sarcasmo — Você quer que eu conte maninha? — Por favor Dora, conte tudo, mas conte do começo — Angelina pediu muito mais calma do que estava. Dora se endireitou e voltou a comer sua torrada de repente como se desse conta do que exatamente Angelina estivesse falando, Gloria olhou para a ela depois para a mais velha toda cheia de curiosidade, mas foi ignorada. Angelina sabia que aquilo era íntimo demais, algo que chocaria seus pais, abalaria na verdade, seu pai principalmente que era bastante conservador. — Você não pensa em voltar de vez? Talvez seja hora mesmo de pensar em casar e ter filhos — questionou Cecília sua mãe com um falso desinteresse — Quer dizer, você já vai fazer trinta, não será jovem para sempre. — Sei disso — Angelina concordou pouco à vontade. Com coisa que ela já não havia tido uma filha! — Outros filhos — João seu pai corrigiu — Filha o que a sua mãe quer dizer é que talvez seja o momento certo para voltar para casa, para ter mais filhos, ficar perto de nós, estamos velhos. — Parece uma ideia formidável — Angelina suspirou nada disposta a falar daquilo, tão pouco perto das irmãs, então se levantou — Mas eu preciso primeiro me planejar, vou subir e descansar um pouco mais, tomar um café e resolver coisas remotamente, não quero ser incomodada hoje, desço na hora do almoço ótimo dia para todos. Ela encheu sua xícara de café, colocou panquecas em um prato e saiu da cozinha levando tudo, subiu até seu quarto, colocou as coisas no chão para poder abrir a porta e tentou fazer o mínimo de barulho, entretanto logo que abriu, notou o homem sentado ali calçando o par de tênis, ele ergueu o olhar para ela assim que Angelina entrou no quarto, ela não se demorou, pegou tudo e se pôs para dentro do quarto passando novamente a tranca. Seria embaraçoso ter que explicar aquilo para os pais, nem queria imaginar quantas perguntas eles não fariam sobre a situação, sem falar que odiaria ter que lidar com aquilo daquela forma. — Bom dia — Augustus falou ficando de pé — Parece cedo! — Não queria te acordar, trouxe para você — ela estendeu a xícara e o prato — Nossos irmãos acabaram de chegar para o café, come um pouco, depois você pode ir embora. — Ah. — ele chegou a alguma conclusão rápida, mas aceitou tudo, então foi até a cama dela segurando o prato e a xícara, depositou ambos sob a mesinha ao lado da cama, então começou a comer ali mesmo, partindo uma panqueca ao meio com as mãos — Já tomou café? — Sim, acabei agora na verdade — Angelina não sabia como agir ou o que falar. Era estranho e embaraçoso. Aquele homem já havia transado com sua irmã e ali estava ele sentado em sua cama comendo, assim como em algum momento de seu passado uma cópia idêntica dele havia transado com ela e estava dividindo a cama com sua outra irmã. Ela caminhou até a janela e abriu as cortinas, puxou o feixo e se sentou no batente olhando para o lado de fora, vendo a vizinhança iniciar o dia, o vizinho da casa da frente limpando o jardim e o da casa da direita levando o cachorro para passear, não eram cenas que ela presenciava todos os dias nos últimos anos, simplesmente estava ali e não sabia ao exato como se sentir sobre aquilo. Bem? Feliz? Quieta? Estava gostando da ideia de sair com Augustus muito mais da quietude que estar na casa dos pais, mas ele havia decepcionado ela e tudo o que vinha em sua mente era só a vontade de ficar longe dele, porque sabia que era o melhor e o certo a fazer, entretanto parecia que em apenas três dias tinham criado um tipo de laço do qual ela não conseguia pensar em se desfazer. Tinha coisas a fazer em sua cidade natal, precisava ir ao cemitério coisa que lhe dava incomodo e dor, trazia recordações tristes demais, queria poder ir ao cinema com Bambi e poder ir a outros lugares antes de partir, mas já tinha gastado basicamente vários dias da semana saindo com alguém que pelo visto não estava alinhado com ela em muitas coisas. Era uma coisa sem pé nem cabeça. — Você está pensando sobre me deixar? — Augustus questionou de onde estava, depois bebeu um gole vasto de café. — Não tem como deixar alguém com quem não tenho vínculo algum — retrucou calmamente. Mas odiava o tom de deboche na voz dele, deixava claro que ele não estava levando a sério a situação, que ele não se importava. — Achei que fôssemos amigos, Angelina, porém me equivoquei. Se irritou com o tom de voz dele. — É, já deu para ver que você é bem desprendido, foram quantas além da Dora? Umas sete? — Ela já foi o suficiente para eu entender que as mulheres daqui não servem para mim e se quer saber, acho que você está se estressando muito com esse assunto, você está agindo como se eu tivesse que dar satisfações da minha vida sexual para você, em momento nenhum eu fiquei te indagando sobre a sua vida íntima, isso é meio invasivo e inadequado, não gosto de mulheres possessivas. — Entendi. Angelina ficou vermelha, aquela era a primeira conversa bem séria e mais profunda que tinham sobre si mesmos e logo de cara ele já a deixava sem argumentos, fazia ela se sentir infantil e uma completa ciumenta, mesmo que soubesse que no fundo, não era aquilo decidiu não prolongar o assunto. Respirou fundo e fez o que deveria fazer. — Bom, é isso, eu tenho que trabalhar um pouco hoje, a tarde tenho compromisso. — Com a Amber? — Realmente isso não é da sua conta, eu acho isso meio invasivo e inadequado, não gosto de homens possessivos, não devo satisfações da minha vida para você, só de ter saído com você esses dias eu percebi que nenhum homem dessa família serve para ter um pingo do meu tempo. Augustus ficou parado olhando para ela todo sério. Angelina lhe deu um sorriso à contragosto e foi até a escrivaninha, ela pegou seu notebook e seu celular. — É sério? — Sério o quê, Augustus? — Com quem vai sair? — Não é da sua conta. — Olha, ok, me desculpe, é que eu não estou conseguindo entender onde você quer chegar com isso, somos amigos e ficou chateada pela situação, mas se fosse o contrário, teria dito de cara? — Ao menos teria tido a decência de ter dito que “saiu” com a minha irmã e se em algum momento estiver se prestando a esse papel para ficar perto dela basta que me peça que eu mesma arrumo o casamento, inconscientemente já fiz isso com a outra e deu certo. Ele se levantou, o semblante duro, mas parecia irritado com o rumo do assunto. — Eu não tenho NADA com a Dora e não quero ABSOLUTAMENTE NADA COM ELA, acha mesmo que eu me prestaria a esse papel? — Eu não sei, mas com certeza acho muito estranho que você aja como se tudo isso fosse normal. — Não é normal eu ter uma amizade com você só porque eu saí com a sua irmã? — Ok. Ela decidiu não discutir mais. — Hoje é a minha folga, eu pensei em sairmos para fazer um piquenique ou descansar, tem uma piscina na minha cobertura podemos tirar este dia para esquecer essa briga idiota, vamos comigo, para com essa besteira! — Eu tenho muito a fazer. — Eu posso te ajudar depois, podemos ir e descansar, você não está aqui para trabalhar, veio para descansar. — Não quero. — Angelina pelo amor de Deus. — Meu Deus do céu, eu não quero ir! Ele se aproximou, ela se afastou desviando dele. — Eu não entendo por que você está agindo assim. — Eu preciso trabalhar, é só isso. — Troquei meu plantão para ficarmos o dia juntos, trabalhei a noite toda e vim direto para cá, para conversarmos e parar de briga, você está arrumando pretexto para não sair comigo por causa da sua irmã, eu já disse que eu e ela não temos mais nada, nunca tivemos. Ela negou com a cabeça. — Bom, não é pretexto, é que realmente eu preciso fazer isso. Augustus olhou envolta e depois de alguns instantes caminhou até a cama, ela não disse nada quando o viu tirar os tênis e se sentar em sua cama novamente, por mais que por dentro estivesse inflamada de receio e vergonha pela forma como se sentia, estava exatamente fazendo o que ele dizia, era o melhor e mais óbvio, manter distância. — Eu te espero, aproveito e descanso um pouco então. — Faça como quiser. Voltou para a escrivaninha e abriu o notebook, desbloqueou o celular e respirou fundo, ela sabia que seria um longo dia, só não imaginou que Augustus faria parte dele. Angelina deu o dia de folga para suas duas funcionárias, Marc ligou falando que precisava de algumas fotos para o Instagram, Angelina não soube como dizer para ele que naquele momento não poderia tirar selfies porque havia mais alguém ali, então ela foi para o banheiro com o celular e tirou algumas fotos de frente para o espelho e enviou para ele. Depois ela teve que analisar alguns documentos de compra de um imóvel que ela havia adquirido a cerca de duas semanas em Ibiza, teve que ver algumas fotos de uma nova coleção de uma estilista brasileira que a convidou para uma sessão de fotos dali a dois meses, analisou alguns desfiles da última temporada. Se sentiu aliviada ao notar que Augustus estava dormindo depois de sua primeira hora de trabalho. Então pode sair do quarto quando por fim deu o horário de almoço, sua família ficou olhando para ela em silêncio tão logo entrou na sala de jantar como se esperassem que ela dissesse algo, mas não disse, como vinha sendo em todas as refeições em família ela teve que se sentar e desfrutar da companhia das irmãs, do novo cunhado e dos pais. Sua refeição foi um prato composto de salada e salmão que sua chef havia deixado pronto, aquelas alturas ela já deveria ter saído para algum lugar e Angelina estava dentro do possível até grata por aquilo, dar folga para ambas significaria que elas não ficariam por perto, não o suficiente para ver um homem dentro de seu quarto. Sabia que China havia deixado suas refeições prontas para o resto do dia então estava despreocupada, não sentia tanta fome quanto deveria sentir, mas iniciou sua refeição da mesma forma, a presença de Gloria e Brad já não era tão incomoda quanto nos primeiros dias, na verdade estava sendo substituída pela imensa mediocridade da impressão que toda aquela melosidade representava para ela. Beijinhos depois de garfadas de comida, trocas de olhares, palavras melosas, ele tocando a barriga dela, em algum momento se perguntou como alguém conseguia se sentir bem tendo que lidar com tantos diminutivos, “amorzinho” “chuchuzinho” “lindinha” “fofinha”. Tentou não fazer nenhuma careta. Definitivamente ela nunca se prestaria aquele papel em sua existência relacionado a alguém, o que nunca lhe faltou foi bom senso. — Parece que alguém aqui está de mal humor — insinuou Gloria enquanto fatiava sua salada. — Brigou com o namorado Angie? — Infelizmente nem todo mundo encontra o amor verdadeiro como você Gloria — respondeu Angelina com um imenso sorriso e Gloria ficou sem graça — E primeiro, eu não tenho namorado algum. — Não precisa ser grosseira com a sua irmã. — Cecília pediu um tanto ácida. Angelina respirou fundo e mais uma vez depois ela decidiu levantar-se. — Filha desde que você chegou você não fica conosco, não participa de nada em família e nos evita, as coisas não se resolvem assim, você tem que ter paciência. — João pediu. — Eu não entendo por que vocês estão polarizando tudo isso, eu não gosto de ficar o dia todo aqui vendo vocês paparicando a Gloria só porque ela está grávida, eu fiquei fora quase dez anos e ninguém me perguntou se eu estou bem... — Ah, de novo esse assunto — resmungou Brad revirando os olhos. Ela o encarou e ele permaneceu neutro como se nada estivesse acontecendo, ninguém disse nada, Angelina olhou para a irmã que permaneceu calada olhando para o prato de comida, até então, desde o dia de sua chegada não haviam tocado no assunto, ela havia evitado de todas as formas. — Quer falar desse assunto? Tem certeza? — Olha isso já ficou no passado, eu já disse que sinto muito por tudo. — Você disse para quem Brad? Para sua filha morta ou para mim? — Eu não tive filha alguma, porque eu sequer fiquei sabendo da existência dela até voltar da faculdade, eu também não tive culpa de nada. — Se tivesse sido responsável nada daquilo teria acontecido. — Quem abriu as pernas foi você. Gloria levou as mãos a boca chocada e o pai de Angelina se levantou de repente muito irritado, ela ficou encarando aquele idiota sentindo tanta raiva dele porque sabia que no fundo ele ainda era aquele garoto mimado no qual os pais sempre protegeriam. — Olha eu só tinha 18 anos, eu tinha ganhado uma bolsa para a faculdade e eu tinha os meus sonhos e eu quero que você saiba que mesmo que eu tenha falhado com você eu nunca poderia ter assumido aquela responsabilidade naquele momento. Eu nunca prometi nada para você Angelina, você deveria ter se cuidado mais ou se estava assim tão chateada deveria ter feito um aborto como meus pais mandaram... Gloria ficou em choque, os pais de Angelina também. — Já chega Brad! A voz firme de Augustus Thompson ecoou na sala de jantar e logo em seguida Angelina o viu entrar lá e pegar o irmão pelo braço, o semblante dele estava duro, inflexível. — Peça desculpas a esta mulher e a sua família pelas coisas que você falou sobre ela agora! — Augustus ordenou severamente. — Não tenho que me desculpar. — Brad estava todo rígido. — Você acabou de ofendê-la, você está desonrando a sua esposa na frente da família dela, sua filha, como pode falar uma coisa dessas? Se desculpe agora! Brad parecia relutante feito um menino malcriado, mas por fim olhou para Angelina e disse: — Sinto muito, me desculpe. Gloria se ergueu e saiu da sala de jantar, Dora lançou um olhar zangado para Brad depois para Angelina. — Você só veio para destruir nossa família, não passa de uma destruidora de lares. — Mamãe, papai, a Dora transou com o Augustus. — Angelina falou em alto bom som, então viu Gloria voltando para a sala de jantar boquiaberta — O que foi? Achou que eu quem sou a irmã quem esconde segredinhos? Depois que ela disse olhou para os pais. — Eu acho que a minha estadia aqui já durou mais tempo do que deveria, eu sinto muito por essa situação, prefiro ir embora, posso conhecer o bebê através de outras formas, podemos nos ver nas próximas férias, eu estou cansada dessa situação e está insustentável ficar aqui. — Não pode fazer isso Angie, a bebê não tem culpa — Gloria começou a chorar. — Concordo com a Gloria, você está se precipitando — Augustus praguejou. — Vocês dois calem a boca — Angelina rosnou e ninguém disse mais nada, ela foi até o pai e o abraçou, depois até a mãe, o coração doía ao ver que ambos choravam. — Será melhor que eu vá embora, eu estando aqui estou causando desconforto. Ela não esperou por respostas, saiu da sala de jantar e subiu para o quarto, passou a tranca e fechou a janela, as cortinas, pegou o celular e começou a pegar as malas, por mais que em suas faces as lágrimas começassem a ameaçá-la desmoronar, sabia que precisava ir, agora mais cedo do que planejara. Jogou a merda no ventilador, era tarde demais e cedo demais, era hora de partir. — O que pensa que está fazendo? Augustus estava puxando o irmão pelo braço para fora da casa dos Dias, ele estava contido, porém por dentro um tumulto imenso de sentimentos repletos de angústia, raiva e nervosismo, Brad só parecia preocupado consigo mesmo enquanto Gloria estava chorosa conversando com os pais dentro de casa, Dora decidiu fugir porque era boa naquilo, simplesmente saiu pela porta da frente, não a julgou porque sabia que em outros momentos talvez fizesse aquilo. Ela era mulher, morava com os pais e foi exposta diante de um bocado de gente daquela forma estranha, mas inferno, ele odiava aquela situação tanto quanto ela, tanto quanto percebia que Angelina começava a odiar também. Empurrou Brad e o encarou tentando compreender um pouco mais daquele estranho a quem chamava de irmão há cerca de meses, ele estava ali diante dele usando roupas diferentes, mesmo que fossem iguais, mas tinham caráter distintos, Brad fez menção de caminhar novamente até o rumo da casa dos pais de Gloria e foi impedido por ele, Augustus colocou a mão em seu peito não disposto a deixar que ele fizesse aquilo, Brad o encarou furioso. — Eu preciso que me deixe entrar e resolver as coisas. — Resolver? — Augustus ainda não acreditava na pergunta, precisou repetir para tentar assimilar. — Você não deveria estar aqui, tudo isso aconteceu porque você veio para cá. — Por minha causa? — ele apontou para si mesmo um tanto incrédulo diante da atitude do irmão — Eu? — Sim — afirmou Brad convicto. — Não é possível que você não consiga ver o tamanho da merda que você fez naquela casa com aquela mulher — os olhos de Augustus estavam fincados no irmão, ele tentava respirar fundo e ter calma. Era difícil entender aquele sentimento, queria proteger Angelina, queria que ela não ouvisse aquelas coisas absurdas vindas do irmão, mas só de ter conhecimento daquilo sabia que ela tinha motivos o suficiente para não querer mesmo estar ali. — O que é agora hein? Vai dar uma de salvador? Ta comendo ela? Augustus fechou o punho, mas antes que conseguisse fazer alguma coisa uma mão firme tocou seu ombro, era João Dias, o pai de Angelina, olhou para o homem e ele mesmo quis se desculpar Brad simplesmente só estava olhando para o sogro um tanto pálido e com o semblante mudado. — Eu aprendi a respeitar você porque achei que havia mudado, você nunca mereceu a Angie e não merece a Gloria, saia da minha casa. — Eu amo a Gloria, ela merece escolher... — Ela escolheu não ir Brad — Cecília Dias afirmou se aproximando — Ela quer ficar uns dias aqui e pensar, você não deveria ter falado daquela forma com a Angie, achávamos que você era um bom homem. — Mas eu sou — Brad disse e começou a ficar nervoso — Eu já me desculpei com ela, eu vou arrumar tudo isso, eu apenas quis dizer que não foi minha culpa. — Culpa-la não vai te isentar do fato de que também era responsável — Augustus falou — Melhor você ir, vai, depois quando a Gloria se acalmar você liga para ela. Brad lançou um olhar incerto para ele e começou a sair do jardim dos Dias totalmente desnorteado, depois entrou no carro e partiu dali, Augustus pegou o celular no bolso e fez um breve aceno para os pais de Angelina, seus dedos tremiam enquanto ele contia aquele sentimento estranho dentro dele, digitou o número do celular da mãe. — Estaremos lá dentro, queremos conversar com você — João disse. — Eu já vou Senhor, só um instante. O casal entrou para dentro de casa, depois do terceiro toque, Catherine Thompson atendeu a chamada. — Brad saiu da casa dos Dias muito nervoso, ele e Gloria acabaram discutindo e ela não quer ver ele mais por hoje — contou rapidamente — Você tem culpa disso. — Eu? Espera, Brad e Gloria brigaram? Onde você está? — Na Casa dos Dias — ele coçou a cabeça nervosamente — Vocês nunca nem tentaram ajudar a Angelina? Como tudo isso aconteceu? Catherine fez um breve silêncio do outro lado da minha. — Quando ela nos procurou achamos que ela queria dar um golpe, deve imaginar que é comum... — Não é comum tratar uma menina com tanto descaso Catherine. — Ela superou, hoje é feliz. — Ela perdeu a filha dela, você gostou muito de ter tido um filho raptado na infância não foi? Como se alguém houvesse roubado algo valioso demais de você. — Foram situações diferentes — Catherine insistiu com uma ponta de desespero — Não pode dar credibilidade para ela, ela voltou para se vingar do seu irmão. — Você fez tanto mal para ela, não sabe o quanto a machucou — pensar naquilo o irritava profundamente — Achei que ela estava exagerando, mas saber que ofereceram dinheiro para ela tirar a criança, foi a pior coisa que eu poderia esperar de vocês. Mais uma vez ela ficou em silêncio, um silêncio consentido, afirmativo que deixou Augustus terrivelmente envergonhado de saber que em suas veias corria o sangue daquela mulher. — Vai consertar isso. — Determinou — Vai se desculpar com ela, com os pais dela por tudo, vocês e Brad. — E se eu não fizer isso? — a voz de sua mãe não escondia o orgulho. — Eu vou embora. — respondeu — Arrume algo para hoje à noite e se vire, vocês vão ter que arrumar essa merda, tchau. Desligou a ligação e começou a entrar para dentro da casa dos Dias, de uma coisa ele sabia, tinha que arrumar tudo aquilo, não era justo com Angelina, não era o certo, se ela fosse embora que não fosse por culpa daquelas pessoas a quem chamava de família, e que se decidisse ir, demorasse um pouco mais. — Ah, é você! — Deveria ser outra pessoa? — O Marc, ele está atrasado. A última mala estava fechada, Angelina estava só a espera de seu agente para que tudo aquilo estivesse acabado, ela havia ligado para ele e para Amber, sua amiga prometera que iria se despedir dentro de cerca de uma hora, já Marc afirmou que em alguns minutos chegaria ali para poder levá-la para um hotel, até o dia seguinte tudo estaria pronto para sua viagem. — Não está preocupada com a bagunça que fez lá embaixo? — Nenhum pouco. Ela não queria pensar por que sabia que se pensasse teria que fazer exceções como vinha sendo desde que chegou, em nenhum momento ninguém questionou se ela estava bem ou confortável com a situação, então não, ela não queria presenciar aquelas situações de nenhuma forma. — Eu conversei com os seus pais e com o meu irmão, ele e a Gloria não vão ficar mais vindo aqui, ele sabe que passou do ponto hoje. — Ah é? E ele percebeu isso sozinho? — Olha, eu não sou tão íntimo do meu irmão quanto queria, não somos melhores amigos, mas eu sei que ele errou feio assim como os meus pais, portanto não quero que você pense que isso se estendeu a mim, eu não sou como eles. Ele era verdadeiro quanto aquilo. — Nunca afirmei nada do tipo, nada disso tem a ver com você, tem a ver comigo e com a minha família. — Mas você está fazendo muitos julgamentos ao meu respeito por conta do que houve com Dora, seus pais me pediram que eu viesse aqui para te pedir que fique, que pense com cuidado, não seja impulsiva. — Augustus de novo esse assunto... — Sim, porque não tem um pingo de sentido, francamente não vejo motivo para que você faça isso. — Ir embora talvez acalme tudo. — Nada vai se resolver assim, tenha calma. — Eu estou cansada dessa situação, não dá para ignorar tudo o que eu vivi e achar normal. — Eu sei, mas também tratar seus pais como se eles fossem os culpados da situação também não irá ajudar em nada. Até sabia daquilo, mas ela sabia também que ficar ali só tornaria tudo insustentável, ainda mais agora que Gloria não estava mais lá, ela estava grávida e não queria que seus pais a culpassem pelo afastamento da irmã, no fundo bem lá no fundo, era muito complicado isolar toda a situação sem ter que pensar nas consequências daquilo exceto na dela. Sofreu muito no passado por conta do que houve e aquilo refletiu muito em sua vida, fora o motivo dela partir e dela mudar tanto, portanto era complexo demais ter que lidar com aquilo sem que não pensasse no passado, era uma ferida que parecia incurável. — Não quero que por minha culpa meus pais se privem de conviver com a minha irmã, ainda mais nesse momento da vida dela, sei que é importante, Augustus. — Mas eles estão bem cientes de que isso te machuca, não se trata só da Gloria, acho que todos sabem muito bem que com a Gloria aqui meu irmão também ficaria sempre à espreita, isso não está sendo saudável para você. — Não está sendo mesmo, qualquer coisa é melhor do que ficar nesta casa. — E você a construiu, portanto não é justo que fique saindo sempre dela e se isolando para que ambos fiquem confortáveis, eu liguei para a minha mãe, não é algo que faço sempre então se sinta grata, acabamos discutindo, questionei a ela sobre o que houve com você e ela não quis me falar direito, mas falou o suficiente. — Não precisava. — Precisava sim, você é a minha amiga e te devemos isso, eles precisam entender que você merecia ao menos respeito em todo o momento. — Bom, de todas as formas, já passou, agora já aconteceu tudo isso e... — Catherine quer dar um jantar de reconciliação para toda a família, ela quer que vá hoje à noite, eu concordei em ir com você e acho que será o melhor, é bom que resolve logo tudo isso e acaba logo de uma vez com estas questões. — Eu não irei. — Você vai! Angelina estava ali olhando para ele tão séria que sentia vontade de matá-lo, mas Augustus permanecia onde estava, os braços grandes cruzados como se nada devesse a ela, severo, rígido como sempre, ela sabia que a fundo ele nunca cederia porque ele era daquele jeito, mas ela também não estava nenhum pouco disposta a ceder, de nenhuma forma. — Eu passo aqui para te buscar as 19:00. — Eu estou esperando o Marc para ir embora. — Ele não virá porque eu o mandei voltar para trás à poucos minutos lá embaixo. Aquilo a enfureceu. — Você o que? — Disse que você estava indisposta e que mandou cancelar a viagem, ele concordou e disse que está à disposição via celular, não parecia muito preocupado com nada, ele quer que descanse e que aproveite as férias. Os olhos dela se tornaram enfurecidos, mas ele ainda assim não se importou, depois girou os calcanhares e começou a sair do quarto dela. — Eu sei que espera que as pessoas se afastem de você neste momento Angelina, eu me afastaria, se não houvesse contado para seus pais que eu transei com a sua irmã, agora vou ter que arrumar essa merda toda por sua culpa, espero que esteja satisfeita. — Não sabe o quanto — respondeu ela por impulso. Então ele saiu dali fechando a porta atrás de si sem mais nada falar, Angelina grunhiu e pegou o celular, começou a discar o número de Marc, ele teria que resolver aquilo o mais rápido possível. — Anime-se. Ela olhou para a mãe e revirou os olhos, Gloria estava com os olhos inchados sentada no sofá da sala ao lado de Dora que fazia cara feia, aquilo a fez lembrar de todas as vezes que colocou as irmãs lado a lado quando ainda eram apenas crianças, Dora era mais teimosa e Gloria era chorona demais. Angelina era a menina que consertava tudo antes que os pais chegassem do trabalho, que cuidava das irmãs e lavava os pratos todos os dias depois de esquentar o almoço delas, ela era a mais velha e, portanto, era seu dever cuidar das irmãs e da casa. Era uma coisa tão distante naquele momento, mas tão presente, Dora e Gloria haviam crescido, porém não tinham mudado tanto, Angelina ficou de braços cruzados esperando por mais alguns minutos porque sabia que Augustus não desistiria do plano de levá- la para a casa dos Thompson para o jantar. Ele fez tudo tão certinho que até seus pais estavam chamando-a por volta das 18:00 e questionando se ela estava pronta, fez questão de vestir roupas comuns e por um par de tênis velho, ela não se arrumou e fez uma trança raiz nos cabelos, sabia que não adiantava se negar a ir, porém iria do jeito que achava que deveria ir. Escutou o som da campainha e viu a mãe indo abrir a porta, seu pai estava sentado na outra ponta da sala tentando se entender com um ipad. — Tudo isso é sua culpa, espero que esteja feliz — Dora praguejou entredentes. — Dora não é culpa da Angie que o Brad seja um imbecil e que os meus sogros tenham feito aquilo com ela — Gloria defendeu — Você gostaria que alguém me mandasse tirar meu bebê? — Eu não ligo — falou Angelina calmamente. — Chegamos! — a voz de Catherine ecoou na sala e estava coberta de uma espécie de falsa alegria. — Ainda bem que eu nem me arrumei — comentou Angelina discretamente. Brad vinha logo atrás da mãe, Augustus se aproximou dela usando uma calça jeans e uma camiseta preta, ela pode sentir de longe o cheiro do perfume dele, era o que ele costumava usar, porém parecia mais forte naquele momento. — Catherine pediu nosso jantar, ela foi pega de surpresa porque ela está reformando a casa, então preferimos vir para cá — Augustus disse. — Eu não ligo — Angelina respondeu com um enorme sorriso. Negando com a cabeça Angelina simplesmente decidiu que os ignoraria, que encararia aquele jantar como qualquer outro que pudesse ter na presença daquelas pessoas, ela sabia que de uma forma ou outra assim que tudo acabasse não haveria nenhuma desculpa para que dissessem que ela não se esforçou para fazer parte da família ou das coisas que estavam acontecendo. Sabia que em boa parte, Augustus queria que sua família e que o irmão se desculpasse com ela por tudo, mas não era algo do qual precisasse, porque o perdão deles não trariam sua filha de volta, não mudaria nada do qual ela tinha passado antes de ir embora. — Boa noite Angelina — Catherine se aproximou dela com um imenso sorriso — Obrigada por nos receber. — De nada. — respondeu ela apenas neutra. Em nenhuma circunstância ela passaria por aquilo, mas decidiu que não queria mais atrito na família, ver Gloria magoada com a postura de Brad também não era satisfatório, mesmo que ela já o conhecesse o suficiente para saber que ele era aquele cara, não era uma completa sádica para ficar vendo o sofrimento alheio e gostar daquilo. Não sentia que havia mágoa dentro dela, mas muito incomodo pela situação, ainda mais depois de tudo o que Brad falou para ela naquela tarde, como se sua filha não significasse nada, era uma ferida que ela tentava cuidar com zelo dentro de si porque não era tão fácil de lidar. — Pedi comida japonesa — Catherine falou para a mãe dela, toda animada. Angelina sorriu de novo, mas sabia que estava no automático, não queria causar nenhuma discórdia novamente nem brigas entre as duas famílias e acabar tornando tudo pior do que já estava, não queria ter que participar daquilo, entretanto foi algo do qual Augustus a sujeitou, então não havia outra forma de lidar com a situação exceto por fingir que estava bem e apenas esperar que tudo acabasse. De alguma forma incomodava ela expor Gloria aquela situação, Dora, seus pais, suas irmãs eram só crianças quando ela saiu dali cheia de fragmentos ruins em relação a perda da filha e a tudo o que houve. Angelina se afastou até a janela da sala ouvindo sua mãe oferecer uma bebida para os recém-chegados, ela foi até a janela da sala e ficou mais afastada de todos, não queria fazer parte de nada do tipo porque não se encaixava em nada que que a ligasse aquela gente. — Ei, que tal você vir amanhã ao meu apartamento me ajudar com algumas coisas? — Augustus perguntou se aproximando com um sorriso gentil nos lábios — Podemos jantar e jogar baralho. — Não jogo baralho — respondeu olhando para o movimento da rua lá fora — Não sei o porquê de você estar fazendo isto. — Eles te devem um pedido de desculpas. — Augustus a analisava com cuidado — Sobre tudo o que houve com sua filha e com você, principalmente os meus pais, você era só uma menina Angelina não foi certo o que eles fizeram com você. — Não acho que vá resolver nada nos colocando nesta situação. — Eu acho. Não importa o que você acha. Pensou Angelina cruzando os braços. — Então, lá em casa amanhã as 19:00? — Não. Ele respirou fundo e Angelina sabia que estava testando a paciência dele, os olhos azuis se tornaram brandos de repente e ela estranhou aquilo. — Se você quer assim, não me resta opção alguma se não vir até aqui amanhã, pela janela outra vez. — Não ousaria... — Eu venho. Ela o encarou mais que indignada com a ousadia de Augustus. — Mamãe — Augustus chamou — Acho que é o momento de você e o papai falarem algo para a Angelina. Ela negou com a cabeça sentindo um certo desespero com o que acabou de ouvir, Catherine se aproximou ao lado de Ryan Thompson, Catherine não sabia onde enfiava a cara e estava muito claro que aquela situação também não era confortável para ela ou Ryan. Um enorme constrangimento. — Angelina nós queremos nos desculpar pela forma como nós a tratamos há alguns anos, nosso filho nos deixou muito consciente sobre isso e hoje percebemos que queremos acima de tudo que você se sinta confortável conosco já que nos tornaremos uma grande família — Catherine falou calmamente — Não é Ryan? — Sim, eu peço desculpas se nós agimos daquela forma com você — Ryan Thompson reforçou. Angelina se encheu por dentro, querendo dizer tudo o que estivera guardando dentro de si desde aquela época, mas dali pode ver Gloria sentada no sofá com os olhos suplicantes, ainda que não falasse nada sabia que a irmã estava triste com a situação e provocar outra briga entre as famílias talvez fizesse mal para Gloria. — Tudo bem — falou por fim — Eu entendo vocês. — Sabemos que fizemos muito mal a você com a nossa decisão. — Catherine parecia muito sincera — Amamos Gloria como uma verdadeira filha e não temos intenção alguma de te destratar ou te fazer mal. — Eu imagino que não — respondeu incerta. Fez-se um silêncio na casa por alguns instantes, puro incomodo para ela, contudo que foi interrompido pelo som da campainha e ela no fundo se sentiu grata por aquilo. — Deve ser nosso jantar — Catherine esboçou um sorriso novamente toda contente. — Eu te ajudo a pegar — A mãe de Angelina disse e foi para o rumo da porta da sala. Angelina não disse mais nada, ficou vendo Brad se sentar ao lado de Gloria e tentar aproximação de sua irmã, talvez não fosse a coisa melhor a se fazer, ficar calada, não era o melhor para ela, mas era o que a situação pedia. — Eu irei te esperar amanhã no meu apartamento para nós vermos um filme e jantar juntos. — Eu não vou. — Então eu venho — Augustus insistiu muito calmo. — Não vou deixar você estragar a nossa amizade por conta de coisas que não tenho culpa. Angelina se afastou tentando dizer para si mesma que era perca de tempo discutir sobre qualquer coisa com ele, não adiantaria muito já que ele estava determinado em tornar seus dias ali complicados a cerca de dois dias. Melhor ficar o mais longe possível dessa gente. Concluiu. — Ah, você chegou. — É! Era aquilo ou ver um homem enorme pendurado na janela de seu quarto. Angelina não queria correr o risco de ter que ficar dando explicações aos pais, não queria se expor a nenhuma outra situação em que ela tivesse que ser tarjada pelas irmãs como uma vilã, ela sabia que estava enfiada naquela situação porque em boa parte de forma involuntária. Mas, enfim! Augustus tinha enviado seu endereço no aplicativo de mensagens, relutou bastante durante aquele dia em tomar a decisão de ir até o apartamento dele, sabia que de alguma forma não era certo, o clima na casa de seus pais ainda era bem tenso, então não tinha muitas opções. Ficar em casa ouvindo as indiretas de Dora sobre ter sido exposta durante o almoço de família ou vendo Gloria tentar agradar ela de todas as formas como se quisesse se desculpar com ela por conta das palavras duras do marido, seus pais também ficavam a todo momento indo até seu quarto perguntar se ela estava bem. Claro que não estava, estava cansada e péssima, mas o que poderia fazer? Ontem durante o jantar Angelina se manteve o mais distante possível, internamente se corroendo sobre aquela situação triste em que foi colocada, a tentativa de Augustus de tentar consertar as coisas não poderia causar mais mal-estar porque de certa forma ela sentia que não era espontâneo por parte dos pais dele, tão pouco de Brad. Na verdade, sabia que eles haviam ido até ali porque Gloria estava perto de ter o bebê e que acima de tudo o mais importante naquele momento era que Brad e ela estivessem bem para recebê- lo, ela sabia que nada era verdadeiramente sobre ela. Não se tratava mais dela. E era bom, mas era estranho, era bom porque sabia que eles não iriam ficar pegando no pé dela, mas era estranho notar que eles tinham tamanha frieza de fingir que estavam de fato arrependidos, mas de algo ela tinha certeza, os Thompsons não mediam esforços para deixar os filhos felizes. — Angelina? Ela saiu dos pensamentos e deu o primeiro passo para dentro do apartamento dele, aqueles olhos azuis analisando-a de fato não incomodavam tanto, mas agora sabia que era diferente, sabia o segredo dele e sabia que não poderia mais confiar em Augustus, tinha nítida impressão de que ele planejou o jantar de ontem porque tinha pena dela, porque ele sentiu peso na consciência ao notar que a família era composta por crápulas. Olhou envolta, aquele, sem sombra de dúvidas, era o duplex mais moderno que ela fora em sua vida, com sofás espaçosos e um piano de calda perto das portas da sacada, tinha uma mesa de jantar para seis pessoas e quadros com assinaturas de pintores famosos nas paredes, uma obra de arte exageradamente grande que ficava na parede lateral próximo a escada que dava para o andar de cima, a cozinha era toda composta por armários em tons de cor beje e marrom. Meu apartamento é maior, mas este confesso que gostei bastante da decoração. Pensou, um pouco impressionada. — Eu pedi comida japonesa para nós. — Tá bem. Talvez aquela fosse sua grande qualidade e seu maior defeito. Amber um dia disse para Angelina que ela era muito bem capacitada para esconder as emoções, porque nunca expôs de forma consideravelmente aberta seus sentimentos, a única emoção da qual não conseguia controlar com tanta precisão era a raiva, aquilo nem sempre ela conseguia esconder. Por aquele motivo Angelina se sentia até competente em ter que lidar com Augustus, ela conseguia se camuflar e ter que olhar na cara dele como se nada houvesse acontecido provavelmente para ele seria no mínimo incomodo, para ela externamente era algo ignorável. Ela colocou um conjunto composto por um moletom beje, calçou um par de tênis qualquer e apenas foi, pediu um Uber, naquela mesma manhã tinha conversado com Marc sobre sua partida, esperava que pudesse ir embora dentro de três dias, só iria esperar as coisas se acalmarem um pouco para poder partir. Seria o melhor sem sombra de dúvidas. Foi até os sofás da sala e se sentou em um deles, Augustus estava descalço, os cabelos úmidos e penteados para trás como sempre, usava uma calça jeans e uma camisa folgada, parecia muito à vontade, contrário do que era normalmente, mas entendia que por estar no conforto de sua casa talvez ele estivesse daquela forma, era compreensivo, sempre que ela estava em seu lar também andava do jeito que queria, as vezes de calcinha, as vezes nua, foi alvo de muitos puxões de orelha por parte de Marc já que como ele vivia frequentemente indo até lá, as vezes pegava ela seminua andando pelo lugar com algum prato de comida na mão ou pelada lendo livros na sala. Uma barreira que se rompeu com o passar dos anos, hoje era naturalmente comum para ela e Marc que Angelina andasse seminua perto dele, ele era muito mais preocupado com seu bem- estar, era homem, mas nunca viu nela a mulher que os outros homens viam. Inclusive ele estava irritado porque Angelina desistiu de viajar na noite anterior, porém, depois de duas discussões sobre definir uma nova data e sobre tudo o que acontecera na casa de seus pais ficou definido que Angelina partiria em três dias, com ou seu consentimento dos familiares. — Se sente melhor? — Dentro do possível, sim. Augustus se sentou ao lado dela, sabia que não era intenção dele colocá-la numa situação ruim, porém não aprovou o que ele fez no dia anterior, contudo decidiu que não adiantava muito ficar brigando com ele por qualquer coisa que fosse, ele já tinha deixado claro que era um cabeça dura mesmo. — Como foi o seu dia? — Bom. Augustus estendeu a mão e segurou a dela, aquela gentileza que ela não esperava vinda repentina dele, a mão enorme cobrindo a dela. — Sei que está chateada com a situação, mas é o mínimo que eu poderia fazer por você, não apoio coisas erradas e muito menos se partir de algum familiar, não foi certo o que eles fizeram com você. — Eu sei. Ele estava perto demais, porém, Angelina não conseguia se sentir tão mal com a presença dele, talvez fosse como ele disse, eram amigos de alguma forma, não tão íntimos, mas o suficiente para ter alguma boa convivência. — E os seus pais? — Estão preocupados, mas dentro do possível está tudo bem, a Gloria vai ficar na casa dos meus pais até domingo ela ainda está chateada pelas coisas que o Brad falou, ela está arrependida por ter apoiado ele e me tratado mal. — E você? — Estou bem Augustus, só um pouco cansada, vim para cá para tirar férias e tudo isso está sendo desgastante para mim, chego à conclusão de que com ou sem chá de berço eu deveria ter feito uma videochamada e seguido com alguma viagem para descansar sozinha. — Parece que tem sido assim há bastante tempo na sua vida. Era. — Na sua não? — Contei com o amor e presença da minha mãe adotiva, ela cuidou de mim e me deu tudo o que pode. Era a primeira vez que ele falava abertamente da mãe adotiva. Angelina já havia percebido que Augustus não gostava de ficar falando da mãe que o criou porque tinha certeza de que aquilo causava mal-estar nele, pela forma como ela fez tudo. — Você tem sido um bom refúgio, um amigo omisso e um pouco bruto, mas nossos encontros me ajudaram muito esses dias, obrigada mesmo assim Augustus, sei que talvez minha estadia aqui poderia ter sido bem pior. — Se fosse o contrário, você teria me dito logo de cara que transou com o meu irmão? — Não precisei dizer Augustus, eu já fui exposta logo de cara. Ele ficou calado, Angelina soltou sua mão e pegou o celular no bolso, ela desbloqueou o aparelho e começou a mexer em seu aplicativo de mensagens, havia mensagens de Bambi e de Marc. — Eu sinto muito. Ela o fitou, bastante surpresa com o tom de voz ameno dele, calmo e profundamente verdadeiro. — Eu não posso mudar o fato de que tive esse momento com a sua irmã, mas eu estava cansado de muitas coisas na época, sair com ela pareceu bom. — A Dora é uma garota gentil e dócil, ela é um pouco mimada assim como Gloria, mas é uma pessoa muito bondosa. — Você parece brava só comigo. — Não estou brava, não sei se percebeu, mas eu tenho muito sido eu mesma com você estes dias, temos saído e nos divertido, falado de tantas coisas, em nenhum momento eu me esquivei das suas perguntas, fui aberta com você. — Eu sei disso, mas eu não poderia adivinhar que você voltaria e seríamos amigos. Ela suspirou, Augustus segurou novamente sua mão. — Você não tem que ter ciúmes de mim Angelina. — Eu não tenho ciúmes de você. — Então por que está chateada por eu ter ficado com a sua irmã? — Porque você é meu amigo e eu acho que deveria ter me falado quando nos conhecemos. — Mas eu não posso me sentir mal por ter transado com alguém antes de te conhecer. — Eu não disse que deveria se sentir mal Augustus, eu estou dizendo que é o mínimo que eu esperava de um amigo, você sabe de tudo basicamente da minha relação com o seu irmão e nem foi uma relação de verdade, eu fui exposta sem nem querer por todo mundo das nossas famílias, metade da cidade sabe o que aconteceu entre mim e Brad, mas ninguém sabe o que aconteceu entre você e a minha irmã, sabe por quê? Porque você é homem e se em algum momento você for exposto ninguém vai falar de você de forma negativa, já eu fui colocada como uma golpista aqui e graças a Deus que hoje a maioria das pessoas nem se lembram disso ou eu teria a minha carreira afetada por toda essa história. — Eu sei, eu sei... — Não! Você não sabe, se soubesse e respeitasse a forma como eu me sinto não teria feito aquilo ontem, eu acredito muito no perdão, mas não da forma que foi feito, acha mesmo que eles se arrependeram do que fizeram comigo? Nenhum deles se importou com o que eu estava sentindo Augustus, sabe disso. — Ok, sinto muito por isso também. — É bom saber que sente Augustus, eu não quero que você fique num papel em que se sinta mal em relação a mim e contra a sua família, não sou assim, somos amigos e a minha história com o Brad não tem nada a ver com isso. — Você não precisa dizer isso, não gosto de estar com a minha família então não é algo que faça diferença. Ela suspirou, estava cansada daquele assunto e só por um instante desejou que tudo aquilo acabasse logo, mas sabia que só iria acabar quando ela fosse embora. — Vamos comer? Te deixo escolher o filme. — Cadê a tv? — No meu quarto. — Ah. — Se preferir podemos assistir no meu notebook aqui na sala, não vi necessidade de ter duas televisões, mal uso a do quarto, quem mobiliou o apartamento foi a Catherine então pode imaginar. — É bem bonito e arejado. — O que prefere? — Pode ser no quarto mesmo. — Ok, pode ir subindo, é a última porta à direita. — Tá. Angelina se pôs de pé, depois ela se afastou mexendo no celular, aliviada por ter dito como se sentia e principalmente por ter sido escutada, estava cansada daquele assunto, talvez fosse mesmo melhor já deixar tudo bem claro para que Augustus tivesse ciência de que ela não iria tolerar algum ataque de ignorância dele, suas teimosias. Se ele a quisesse como sua amiga, ele teria que entender suas limitações e sua forma de ser, acima de tudo aceitar que não iria só ceder ao que ele queria, não mesmo. — Você gosta de romances? Ela lançou um olhar tranquilo para ele e deu de ombros, tão logo entrou no quarto a viu sentada em sua cama mexendo no controle remoto da tv, ela havia tirado o par de tênis e parecia bem à vontade ali, era a primeira vez que ele levava uma mulher aquele apartamento, não tinha expectativas, mas era algo bem diferente, sempre levava as mulheres com quem saia para algum motel nos arredores da cidade, costumava ser algo bem impessoal e breve, nada que envolvesse algo além de uma noite de sexo casual, algumas ligavam ou tentavam puxar assunto, mas ele mal conseguia pensar em ter algo além daquilo. Por aquele motivo que Augustus nunca levava nenhuma delas para seu apartamento, sabia que era pessoal demais, entretanto Angelina era sua amiga, ele não via mal naquilo... deveria? No momento não se preocupava com formalidade alguma, ele só queria poder acertar as coisas com ela, ainda que sentisse que no fundo não devesse satisfações tentou com esforço se colocar no lado dela, ela estava vivenciando um momento deplorável por conta das pessoas da sua família, se sentia em débito com ela. Queria que ela ficasse bem. — Acho que daqui a uns dias vou acabar parando de comer carne — ela disse atenta a tv. Ele havia colocado as porções de comida japonesa em pratos largos e trago em uma bandeja para o quarto com duas garrafas de refrigerante, não era bem o que queria poder oferecer para ela só que não queria fazer parecer que aquele encontro era melhor ou diferente dos outros, sabia que ela já estava vindo basicamente contra a vontade, então queria tornar o momento agradável dentro do possível. Ela havia selecionado Titanic, um filme que não poderia ser mais tedioso, mas Augustus não iria querer atiçar a onça, Angelina parecia acima de tudo cansada, ele nem imaginava o quanto poderia ser exaustivo para ela ser colocada na posição em que foi na noite anterior, por isso ele se arrependeu de ter levado seus pais e irmãos até a casa dos pais dela, mas na hora só esteve preocupado com o que achava certo. E não foi certo o que fizeram com ela. — Eu acho que são muito cruéis com os animais, vou falar com a minha chef para que ela prepare pratos vegetarianos. — Você acha que consegue? — Não tem nada que eu não tenha conseguido até hoje. Augustus estava bem longe daquela realidade, apesar de ser muito obstinado ele sabia que nem tudo poderia ter na vida, foi limitado desde cedo pela condição financeira, não demorou para que ele entendesse que ter tudo era um luxo para poucos. — Como foi no hospital? Ela segurava o hashi mantendo uma fatia de salmão entre os dois pauzinhos, os olhos atentos a tv. — Foi um pouco cansativo como sempre. — Pegou plantão ontem? — Sim, depois que saí da casa dos seus pais, alguns pacientes com gripe e dois idosos com problemas renais, nada que não tenha visto antes. Angelina olhou para o pedaço de salmão e fez uma careta, logo em seguida estendeu para ele, Augustus deu de ombros e aceitou, ela não estava comendo muito e era uma completa novidade para ele. — Você nem tocou nos outros pratos. — É que eu estou sem fome mesmo, Augustus. — Você? Sem fome? Ela lhe deu um pequeno sorriso. — Coma, comprei tudo fresco para você. — Será que você não teria milho de pipoca aqui? — Confesso que não sei, Catherine quem cuida da dispensa. — Eu não gosto muito de peixe fresco. — Tem nigiri é só tirar o salmão, coma, não é saudável que fique sem comer, ontem você quase não comeu nada durante o jantar. Obedeceu e começou a retirar as tiras de salmão sem reclamar, ela provou de um pouco de refrigerante olhando para a tv. Ao observá-la, Augustus se odiou um pouco mais ao perceber seu interesse por ela, sentiu um autodesprezo terrível se apossar dele, porque ainda que ela estivesse coberta dos pés à cabeça ele ainda conseguia querer olhar um pouco mais. E não deveria. — Você não tem ninguém te esperando em Nova York? A pergunta apenas saiu. — Não que eu saiba. Ela parecia se divertir com a resposta. — Por... — É sério que você quer saber se eu tenho namorado? Acha que se eu tivesse namorado eu estaria saindo com você? — Bom, somos amigos. — Somos amigos, mas eu sei que você me olha diferente. Aquilo o deixou um pouco nervoso. — Diferente? — É, foi o que você ouviu, já te disse isso. — E não pode te olhar diferente só porque eu sou seu amigo? — Pode, mas você não é do tipo que é só amigo de uma mulher. Augustus voltou a comer porque sabia que não deveria tocar naquele assunto daquela forma, ao olhar nos olhos dela sabia que Angelina tinha percebido que se interessava mais do que podia por ela e aquilo era realmente constrangedor. — Como é quando se envolve com alguém? — Como assim Angelina? — Como você se envolve com as mulheres com quem sai? — Não me envolvo. — Só sexo e pronto? — Não há motivos para haver um depois. — Entendi. Ele tentou se segurar, mas não conseguiu. — E você? — Eu saí com alguns caras no último ano. Aquele sentimento de raiva surgia dentro dele do nada e era algo que ele detestava porque não era assim, ele não se importava com quantos homens alguma das mulheres com quem saiu, tinham transado. Mas ouvir dela era ruim. — Não gosta de saber que eu posso ter transado com outros homens, mas quer que eu tolere o fato de que transou com a minha irmã? — Eu não me importo se você transou com outros homens, é só que eu achei que você não fosse uma mulher tão livre. — Eu não sou conservadora. — Não neste sentido, você não parece ser do tipo. — Entendi. — Eu não tenho motivos para me sentir chateado por isso Angelina, acho que você só está brava porque eu transei com a Dora e não te falei, por isso está arrumando motivos para brigar comigo. — Tudo bem, Augustus — ela se inclinou na direção dele e ficou bem próxima, Augustus mal conseguia se mover, ela o fitava muito séria — Eu também transei com o seu irmão, estamos kits. Aquilo o irritou profundamente. Ela se inclinou para trás, então antes que percebesse a mão dele estava segurando a nuca dela, se enfiando nos cabelos dos quais ele não pensou que tocar causasse uma sensação tão boa. Cabelos! Céus! Ele só poderia estar mesmo louco. — Escuta, eu já disse que não gosto de mulher ciumenta e possessiva. — Acontece que eu não sou sua mulher. Então ele apertou os dedos entre os cabelos dela, Angelina o encarava de cabeça erguida, sabia que não impunha muita força, mas se quer conseguia raciocinar direito, porque ela estava perto demais, porque ele estava tocando-a de novo e aquilo mexia muito com ele. — Se fosse minha mulher, te daria um motivo verdadeiro para ter ciúmes, não porcaria de passado, algo que não aconteceu como você está imaginando. — Se eu fosse sua mulher, você me respeitaria o suficiente para não mentir para mim e me trataria como eu devo ser tratada. Augustus apertou mais os cabelos da nuca dela e os puxou sentindo a maciez dos cabelos finos, olhou para os lábios dela e seu coração pulava tanto no peito que sentia um pouco de medo daquilo, olhou mais uma vez nos olhos dela e mal conseguiu pensar mais uma vez sobre hesitar. Ele não quis pensar, ele se cansou, ele a beijou. Angelina abriu os lábios e recebeu a língua ferina, então a boca dele tomou a dela com força, os músculos dela se encheram de expectativas e arqueou os ombros enquanto as bocas se envolviam num beijo faminto, a língua dela se enroscou na dele enquanto explorava livremente o gosto salgado dele, Augustus puxou um pouco mais os cabelos de sua nuca e aquilo lhe causou uma onda incrível de excitação pelo corpo, arrepios intensos. Aquele era um ponto sensível dela. A boca dele se tornou mais intensa e Augustus mordeu seu lábio entre o beijo, como se mordesse uma fruta madura, mas com muito cuidado, o desejo se aflorou e ela também mordeu o lábio inferior dele, a língua se enfiando novamente no céu da boca dele, as mãos de Angelina se ergueram e ela tocou a barba por fazer dele, as pontinhas dos dedos sendo espetadas pela barba que nascia, tendo dentro de si aquela imensa vontade de apertar o local. Ele deixou seus lábios e mordiscou seu queixo coberto de vontade, os dentes dele rangeram depois daquilo e Angelina apertou os olhos muito tentada soltou um gemido baixinho porque adorou aquilo, o contato da boca quente com sua pele, a língua dele pousou em seu lábio inferior novamente e ele lambeu o local devagar, como se lambesse um doce. Ah. Gemeu ela baixinho. Depois arfou e só então foi retomando a consciência que ainda restava, ao menos o pingo. Empurrou ele pelos ombros totalmente sem ar, Augustus a fitou um tanto confuso. — Isso seria uma loucura, Augustus. — Ela disse num fio de voz. Ele lançou um olhar um tanto estranho para ela, porém conclusivo, aquilo a deixou em pânico. — Quero ser louco, então... para o inferno com isso! Quero você! Os olhos dele tinham aquele misto de raiva e um pouco de pânico e ela sabia que talvez fosse porque a atração também queimava nele, toda a intensa vontade de fazerem aquilo, entretanto ainda assim, Angelina sentia que não deveriam fazer aquilo. — Está com medo? — Você também está Augustus. — Não quero que você se sinta mal depois, se for para acontecer, tem que saber que eu não quero nada além disso. Ela não sabia se poderia querer algo além daquilo, mas ainda lhe causava estranheza também por saber que ele fez o mesmo com Dora. — Eu não quero, acho que podemos ser apenas amigos por enquanto. — Ok. Não parecia bravo, nem irritado ou algo do tipo, ele tirou a mão de sua nuca e Angelina começou a puxar os cabelos para trás, ele se ergueu respirando fundo e começou a recolher os pratos espalhados na cama. — Vou procurar milho, fazer uma pipoca. — Tá. — Não é do jeito que você pensa Angelina. — Como? — Sei que está pensando no que eu tive com a Dora e que por isso está relutante sobre nós transarmos. Angelina corou. — Nada é como você pensa e pode ter certeza de que eu sou bem adulto para lidar com a situação, nitidamente acho que você quem não consegue aceitar o fato de que isso aconteceu e eu não posso mudar. — Eu entendo seu ponto de vista, mas não vou em desculpar por isso. — Não precisa ter medo Angelina, eu não tenho contato com a Dora, foi algo que aconteceu de momento. Angelina não respondeu. Ela olhou para a tela da tv e se afastou até os travesseiros, analisando a situação, seu corpo todo ainda reagindo ao beijo, se sentindo traída porque estava naquele estado de nervos. Augustus lançou um olhar severo para ela e saiu do quarto, suspirou e olhou para o par de tênis no chão tentada a ir embora. E agora? Estava atraída por mais um Thompson, fisicamente é claro, mas poderia encarar aqui da melhor forma e só ter bons momentos com ele? Não permitir se envolver emocionalmente ao ponto de ficar magoada? — Nunca dei um nome a minha filha. Augustus ficou parado observando a mulher olhando para a tv sem se quer se dar ao trabalho de olhar nos olhos dele para falar, tinha aquele ar de indiferença e superioridade dela que o incomodava, como se nada houvesse acontecido há poucos minutos, como se aqueles lábios não houvessem tocado os dele e aquela língua não tivesse se enfiado em sua boca. A bem da verdade ele sabia que era o que deveria fazer, manter- se afastado, fingir que nada aconteceu, mas no fundo ele sabia que por mais que quisesse não conseguiria, porque era impossível conseguir se manter longe dela. Tirar os olhos dela era uma missão impossível. — Ela faleceu depois que nasceu, apenas alguns segundos depois que ela veio ao mundo, ela partiu. Conhecia bem aquele tipo de situação, não lhe doía tanto quanto nos anos iniciais da residência, mas ainda era complicado ver uma mãe sofrendo a dor da perda de um filho, Angelina até então não tocou tanto no assunto de forma profunda, entretanto ele sabia que não era fácil para ela em nenhum sentido, talvez para seu irmão que não passava de um idiota insensível. — Tem nome para tudo, menos para quem perde um filho. — Eu sei que você deve ter amado ela profundamente. — Era só uma menina que achava que em algum momento seria feliz, aceita, digna do amor de alguém e tudo isso se foi quando ela morreu, não gosto de lembrar porque isso me machuca muito. — Você não precisa parecer forte o tempo todo Angelina. — Eu não quero parecer, é só que eu achei que indo embora daqui tudo isso iria sarar e eu ficaria bem e eu fiquei, voltar para casa tem me feito um grande mal, me estresso e fico irritada com coisas idiotas. — Como eu? Ela o olhou, então ele percebeu que seus olhos estavam cobertos de lágrimas. — Como você. Augustus não queria parecer mais insensível do que já era, ele sabia que não era bom com sentimentalismo nem um homem carinhoso, havia um lado dele que se tornou frio e impaciente com situações familiares, mas ainda assim, não resistiu, ele estendeu a mão e passou o braço envolta dela, ele a puxou para si e a abraçou. Não era intencional, mas não era sexual nem físico, ele só queria que ela não chorasse, que ela não ficasse tão triste com aquilo por mais que fosse inevitável. — Você é forte, inteligente e linda, resiliente e qualquer bebê que seja seu filho terá muita sorte de te ter como mãe. Angelina se encolheu entre seus braços e ele colocou um beijo terno em sua cabeça apertando-a com força, teve certeza naquele momento de que acima de qualquer coisa ela era sim sua amiga, porque nunca em toda a sua existência conseguiu acolher a dor de ninguém como acolhia a dela. — Obrigada. Um misto de angústia e receio se apossou dele e mais uma vez ele quis poder afastar do coração aquela sensação de empatia extrema porque sabia que não deveria, porque ele já passou por aquilo uma vez e não queria passar por algo do tipo novamente. — Augustus, acho que é hora de eu ir. — Fique, durma comigo. Os olhos o fitaram e ele ficou bastante pensativo enquanto mantinha ela ali, junto dele, a mão dela se ergueu e ela tocou sua face com tanto carinho que ele se sentiu totalmente reação. — Está bem, eu fico. E ela o beijou. E mais uma vez ele sentiu aquela imensa vontade de fazer qualquer merda na vida, menos de estar ali, ficar perto demais dela era um teste constante de autocontrole, não era acostumado com aquilo, era um teste de nervos. A boa dela era tão inexperiente, mas ela era tão instintiva, ou será que estava maravilhando demais? Imaginando coisas? — Melhor... — ele disse entre o beijo. — Parar. Então ela recuou e o abraçou colocando a cabeça em seu peito, Augustus respirou fundo, ele não iria fazer aquilo, não iria se aproveitar do momento de fragilidade dela e se em algum momento ele houvesse feito aquilo com alguma mulher, aquilo o fez se sentir mal. Olhou para o balde de pipoca jogado num canto da cama. — Nunca mais faço pipoca para você. Ela sorriu e aquilo o animou um pouco. — Será que esse filme não acaba nunca? — Para de ser rabugento. Angelina se ergueu e pegou o balde de pipoca na cama, depois ela se sentou e ele se acomodou passando o braço envolta dela, tudo pareceu um pouco melhor naquele instante. — Come calado! — ordenou ela enquanto pegava algumas pipocas e enfiava na boca. — Sim senhora. Quem era ele para discordar? Angelina acordou muito cedo no dia seguinte, ela estava sozinha na cama e tinha certeza de que era o momento certo de ir embora, depois de ter dividido tanta coisa numa noite só com Augustus sabia que precisava se afastar e poder pensar melhor sobre algumas coisas. Estava estranhamente aliviada, talvez porque ele a escutou e afastando dos pensamentos os beijos e toda a história da Dora com ele, Angelina acreditou mais na amizade deles. Ela não tivera nem coragem de falar da filha para Amber, no entanto se abriu com Augustus, percebeu que a amizade deles se aprofundou num período curto de dias, em menos de uma semana perto dele já haviam vivido muitas coisas juntos, brigas, discussões, revelações, muitas coisas que ela não viveu nos últimos dez anos. A verdade era que voltar para casa nunca seria fácil, mas ela não pensou que contaria com tantos problemas, imaginou que Gloria estava casada com algum dos irmãos de Brad, no entanto ela havia se casado com ele, não sabia que Dora havia se relacionado com o irmão de Brad que por sua vez era gêmeo dele desaparecido, enfim, muitas coisas. Ontem Angelina conseguiu confiar um pouco mais nele, deixou de lado aquele receio por conta do que houve com Dora, porque sabia que não adiantava se sentir mal por ele não ter dito, eles não se conheciam meses atrás, ele nem sabiam um da existência do outro, portanto não deveria se sentir mal por aquilo. A ideia de pensar que mais um Thompson estava perto demais mexia com ela. Tinham se beijado e por um segundo Angelina se esqueceu completamente que aquela era a cópia do cara que a fez sofrer com o abandono, mas nitidamente em sua mente aquilo não era barreira, ela sabia que Augustus por mais que lembrasse ele fisicamente, não tinha nada a ver com Brad em si. Eram opostos. Saiu do quarto acreditando que já fosse a hora de partir, estava mexendo no celular quando chegou ao topo da escada e avistou o homem alto usando uma calça de moletom parado diante do cooktop, ele estava mexendo em uma frigideira vaporosa, ombros largos, cabelos úmidos, havia uma toalha de rosto pousada em sua nuca, a bunda dele fazia aquela curva bonita no tecido, por fim suspirou, depois começou a descer os degraus pensando sobre como ainda se sentia mexida com aquilo. — Bom dia, Angelina. — Bom dia. Os olhos dela se fixaram nos dele tão logo se aproximou, Augustus lhe deu um pequeno sorriso e dentro dela algumas coisas não ficaram muito bem, o coração acelerou e sentiu aquele frio no estômago que não sentia há muitos anos. Era uma completa idiota por pensar que deveria dar algum tipo de chance para aquela paixonite, um homem como ele — e ele já havia deixado bem claro — nunca iria se relacionar com alguém como ela concretizando qualquer coisa que fosse, Augustus tinha dito que só tinha relações casuais de uma noite e sabia que a bem da verdade era bom que ele fosse bem transparente, mas não era o tipo de homem com quem ela se envolveria também. Havia um tipo de homem com quem poderia se envolver? Evitou homens por tantos anos que já nem sabia mais como pensar em começar algum tipo de envolvimento com algum, encontros casuais, selinhos, pequenos toques, mas nada além daquilo, Angelina não era uma mulher com uma vida sexual ativa há muito tempo, ela não gostava da sensação de que a desejavam e que usariam seu corpo, ela odiava na verdade a forma como todos os homens a olhavam. Havia malícia e maldade, muitos cobiçavam ela mais do que deveriam e isso era algo que abominava, sabia que atraia olhares das pessoas, porém não queria que isso fosse por conta de seu corpo, havia muito mais nela do que as pessoas poderiam pensar. — Você me deu um bom motivo para usar as panelas, fiz café e agora estou fazendo ovos, as torradas estão no forno, não sei usar essa torradeira. Interessante. Pensou ela. — Não precisava se preocupar, eu iria tomar café em casa com o Marc, ele acabou de me mandar mensagem. — Ah. Decepção? — Fique, eu troquei o meu plantão para a noite, vamos, me ajude com isso aqui, amigos unidos jamais serão vencidos. Ela sorriu, ele não tinha mesmo jeito com aquele tipo de coisa, Angelina se aproximou e abaixou o fogo do cooktop, ela pegou o cabo da frigideira e começou a mexer os ovos, tinham um cheiro bom de manteiga, nada que ela comesse todos os dias. — Que tal se nós subirmos para a piscina? — Tem piscina aqui? — Sim, na cobertura e uma academia. — Nossa, achei que só tinha dois andares. — São três. — Eu não trouxe roupa de banho. — Podemos ir buscar. — E você acha mesmo que eu quero que os meus pais saibam que eu estou aqui? — Besteira. — Para o senhor, né? — Não quer ser vista comigo? Porque estes dias nós temos saído juntos e todo mundo da cidade já viu. Augustus estava retirando uma placa de vidro do forno com torradas, ela fez uma careta ao notar certo tom de ironia na voz dele, não se sentiu irritada, ela desligou a chama do cooktop e levou a frigideira para cima da pedra de refeições da cozinha. — Depois do que houve com a Dora, não quero causar mal-estar além do que já está acontecendo, ela está magoada comigo por eu ter exposto ela, eu também não quero que os meus pais pensem que eu estou me envolvendo com você porque sei que eles vão começar a falar coisas do tipo “você precisa se casar e ter filhos” e vão querer que eu abra mão da minha vida por causa de um homem. Augustus ficou calado analisando aquilo. — Eu sei que você não é cobrado na mesma proporção que eu, você é homem e para você ser ou ficar solteiro é a coisa mais normal do mundo, mas acredite, não é tão fácil quando se trata de mim, durante toda a minha vida e carreira as pessoas sempre perguntam coisas como “você veio acompanhada?” ou “pretende ter filhos?”, como se eu devesse fazer isso, aposto que se me levar a casa dos seus pais eles não vão te fazer esse tipo de pergunta. — Meus irmãos são todos casados e eles são bem mais novos que eu, você acha que a Catherine não fica bisbilhotando para saber se eu estou com alguém? — Não é a mesma pressão. — Eu concordo, mas não sinto que devamos satisfações das nossas vidas para ninguém, temos saído esses dias e ninguém havia descoberto até dois dias atrás quando você e o Brad brigaram. Não queria falar de Brad, qualquer coisa menos ele. Pensou. — Onde ficam os talheres? — Eu pego para você, pode convidar o Marc e quem quiser, podemos beber e aproveitar o dia, estou de folga e quero descansar, por que você não faz o mesmo? — Queria que fosse tão simples. Augustus foi até uma das gavetas dos armários e pegou duas colheres, depois ficou em pé ao lado dela e a puxou para um abraço bem apertado, Angelina estendeu os braços devolvendo porque era bom ser abraçada por ele. — Fica comigo, esquece tudo lá fora, te compro um biquíni e roupas, vamos apenas descansar e esquecer toda essa merda que aconteceu entre você e a minha família, entre eu e a sua irmã, você vai embora daqui a pouco, temos que aproveitar o nosso tempo juntos. Era um pedido franco, mas que ela não sabia se deveria cumprir. — Augustus, eu não sou esse tipo de mulher que você pensa. — Uma mulher forte, inteligente, linda e muito resiliente? — Para! Ele sorriu e lhe deu um selinho. Angelina se sentiu quentinha por dentro. — Você me fala a numeração e eu compro um biquíni e roupas para você, manda uma mensagem para os seus pais e avisa que está na casa da Amber, fala que vai descansar e enquanto você se diverte na pisciana eu preparo algum drink para nós dois. — Eu vou, tenho direito a preparar algo para nós comermos? — Você quem manda. Ela lançou um olhar maldoso para ele. — Fez tudo de caso pensado, não é? — Eu já avisei ao Marc que você vai ficar comigo o dia todo, então sim, sobre os seus pais, não se preocupe, eu já avisei que somos amigos e que só quero cuidar de você, sou médico, confiam em mim, tenho diploma. Ela deteve o sorriso, estendeu a mão e tocou a face dele, ele era tão diferente do que vinha sendo, mas ainda era o cara legal que havia convidado ela para passear e jogar conversa fora, os olhos dele se fixaram nos dela e quando ele se inclinou e a beijou, ela o correspondeu sem receio, as bocas simplesmente se encontraram num beijo lento e calmo, as mãos dele tocavam suas costas, enquanto as mãos dela desciam devagar até a bunda dele, era algo involuntário, começou a perceber que tinha necessidade de tocá-lo. — Eu adoro sua bunda também. — ele disse baixinho e a língua tocou o lábio dela com lentidão. — Então... toque. — Eu não posso fazer isso, não sei se conseguiria parar. Ele respirou fundo e se afastou um pouco. — Você me quer pelo que eu sou ou por conta do meu corpo? — Resiliente, inteligente, forte e linda. Ela riu. — Inverteu a ordem das coisas só para me cantar, seu safado! — A ordem dos fatores não altera o resultado. Ela lhe deu mais um selinho, depois se afastou e se sentou no banco. — Acho bom que compre um biquíni bem bonito para mim, ou do contrário eu vou embora sem nem olhar para trás. — Tenho bom gosto, pode deixar. Ela deixava. Angelina se olhou no espelho e ficou até impressionada em notar que o biquíni havia servido, também gostou do tamanho já que era bastante discreto e cobria boa parte das nádegas, era um estilo vintage com cores de preto e branco, a peça inferior era cintura alta, a peça superior era estilo top com alcinhas finas, ele também comprou shorts, blusas leves e uma entrada de banho, tudo em sua numeração, não foi algo que incomodou ela, falar sobre seu tamanho, ele a deixou só após o café e saiu para comprar aquelas coisas, voltou com sacolas cheias de roupas e comida, cerveja, não era algo que um homem fizesse com frequência em sua vida. Ela o ajudou a guardar as bebidas na geladeira, os petiscos, colocou em cima da pia da cozinha, depois pegou as roupas para si e foi para um dos quartos no andar de cima, então havia tomado banho e colocado o biquíni e estava ali analisando-o em seu corpo como fazia com todas as peças que vestia. Não era uma crítica do próprio corpo, não era tão analítica, mas a carreira a obrigava a seguir tendências e a lidar com ele muitas vezes de forma mais rigorosa, a verdade era que nos dias atuais ela o enxergava com mais sensatez e menos exageros, não era como quando tinha apenas vinte anos e as coisas estavam mais pra cima, nem como quando tinha dezesseis e estava acima do peso, mas era o de uma mulher que aprendeu a se amar acima de qualquer coisa e que com o tempo enxergou nele a possibilidade de ser feliz de alguma forma. Havia muito em seu corpo que dizia mais sobre ela, sobre sua história, coisas que as pessoas não sabiam, ninguém poderia imaginar que carregou um bebê ali, tão pouco que fora acima do peso durante boa parte da vida, ela nunca se sujeitou a tratamentos estéticos e sabia que tinha sorte porque seu corpo naturalmente se recuperou da perda de peso com o passar dos anos, tinha algumas estrias nas nádegas, outras nos quadris, celulite, ela sabia que estava bem longe de todos os padrões que deveria seguir, as revistas retocavam algumas fotos porque aquilo era comum no meio, mas não ligava. No fundo, se aceitava muito e era feliz com o corpo, mesmo que tenha aprendido às duras custas. — Angelina? O chamado veio com batidas leves na porta. — Eu já malhei, você está demorando muito. — Eu já vou, tomei banho. — Ah. — Pode entrar. Ela colocou a entrada de banho floral e o viu entrar no quarto, ainda sem camisa, todo suado. — Serviu? — Aham, obrigada. Pegou seu celular em cima da cama e arrumou a entrada de banho no corpo, Augustus se aproximou bastante pensativo. — Vem para a piscina? — Sim, você não vai colocar um calção? — Coloquei a sunga por baixo da calça, já levei algumas toalhas para lá e deixei bebida no frigobar. — Tá. Augustus estendeu a mão, Angelina se aproximou e segurou a mão dele sem receio, saíram do quarto em silêncio, depois enquanto ele lhe mostrava uma porta lateral que dava para alguns degraus Angelina se sentiu mais à vontade, as mãos dele pousaram sob sua cintura enquanto ela ia na frente ele vinha atrás, sabia que a proximidade entre eles era boa e lhe fazia bem, mas também que ele não tinha malícia quando a tocava. Augustus abriu uma outra porta e ela se viu um terraço enorme com uma piscina grande, espreguiçadeiras, área com churrasqueira, mesas para refeições e até mesmo um espaço com jogos, mais adiante uma academia cercada com paredes de vidro, uma música tranquila vinha de lá, John Meyer, ela sorriu e se sentiu tão bem. — Quer uma gin? — ofereceu ele indo até a área coberta onde jazia um frigobar e alguns freezers. — Claro. Seu celular começou a tocar, Augustus lhe deu um selinho antes que ela atendesse e logo em seguida ele se afastou, Angelina atendeu a ligação. — E aí? Como está sendo o dia com o boy? — Eu te odeio Marc. Mas ela estava sorrindo. — Odeia nada, você deveria era me agradecer, me conta, já perdeu sua virgindade? — Que horror, que horror! Marc riu do outro lado da linha, Angelina não parava de sorrir, talvez só estivesse mesmo fazendo as piores decisões de sua vida, indo pelo rumo que não deveria em permanecer ali, entretanto só naquele instante ela não queria pensar em nada. Descansar. Pensou. — Aproveita, não vai arrancar pedaço, ele se preocupa com você. — Somos amigos. — Eu já dei para vários amigos meus. — Você não serve de base Marc, é uma desqualificada. — Ok, mas tenta descansar, esquece aquela sua irmã doida e o seu cunhado desequilibrado, aproveita suas férias, você tem que ser feliz e esquecer essa gente que te faz mal. — Tem razão, vou aproveitar e tomar um sol. — E cuidado com a alimentação. — Eu estou me cuidando. — Sem as meninas por perto, talvez acabe comendo porcarias ou acha que eu não sei que você anda escapando com esse girombudo para comer besteira? — Eu preciso ir. — Não se intoxique com coisas que vão te fazer mal, você sabe que não deve comer muita porcaria, lembre-se de Nevada. — Ok, tá, tá, eu vou desligar. — E dá mesmo! Os olhos dela se reviraram e ela desligou a ligação, Augustus já estava diante dela segurando duas taças com uma bebida que tinham gelo, morango e uma rodela de gelo na borda da taça, aceitou. — Marc? — Deu para perceber pela minha cara? — Sim. Sorriu, Augustus passou o braço envolta dela e a puxou para si, ela tocou seu peito, era firme, ele era todo musculoso. — Vem ficar um pouco na piscina comigo. — Claro. A soltou, Angelina caminhou até a piscina e colocou sua taça na borda, ela tirou a entrada de banho e colocou no chão, logo em seguida ela se sentou na borda, Augustus se sentou ao lado dela, as coxas mais grossas, usava uma sunga de cor preta, ela apoiou as mãos no batente e escorregou para dentro da piscina, ele fez o mesmo, a taça dele estava ali perto da dela, a água morna e gostosa. — Marc sabe que você precisa descansar a mente. — Sim, ao menos nisso nunca posso reclamar ele se preocupa muito com meu bem-estar emocional e físico. — Não pareceu muito feliz em falar com ele. — Ele pega no meu pé com a minha alimentação, da última vez que viajamos e eu andei saindo da linha, comi demais e passei muito mal, dei intoxicação alimentar durante uma viagem a Las Vegas. — Você é bem disciplinada, mas se alimenta bem. — Como tudo nas horas certas, mas tenho saído da linha esses dias, eu tenho transformado meus hábitos num estilo de vida, eu faço pilates, ioga, corro e minha alimentação é baseada na minha dieta de comer há cada três horas, durante alguns dias na semana quando eu tenho tempo também faço funcional. — Eu só faço musculação mesmo e corro às vezes na esteira, antes de vir para cá não tinha dinheiro para pagar academia, hoje eu pago um cara para vir me dar aulas duas vezes na semana, eu engordei quinze quilos depois que cheguei aqui. — Sério? — Sim, eu não me alimentava muito bem, infelizmente algumas vezes a profissão era desgastante, depois da morte da minha mãe eu mal conseguia pensar em comer. — Vir para cá te fez bem então. — Um pouco. Angelina pegou a taça e provou um pouco do drink, estava suave e refrescante, Augustus se aproximou dela e a puxou pela cintura, ela deixou a taça novamente na borda da piscina e estendeu os braços passando envolta dos ombros dele. — Não consigo ficar longe de você, mulher. — Não? — É quase impossível. — E isso é ruim? — Mais ou menos. Os lábios dela se abriam de novo num sorriso. — Eu não quero que você fique irritada com nada, quero que se sinta bem em estar aqui comigo, que esqueça as merdas que aconteceram. — Eu estou bem, mesmo que seja cansativo lidar com algumas questões. — Se sente melhor? — Sim, você é um bom ouvinte. — Eu quero que você sempre se sinta bem comigo. — Não entendo o porquê de você estar falando essas coisas. — É porque desde que você descobriu sobre mim e a Dora você está me evitando e hesitando, antes de saber você era mais espontânea, sorria mais, você não ficava irritada comigo, eu poderia jurar que nós estávamos nos envolvendo mais profundamente. — Nunca deixei nenhum homem me beijar como você me beija, nem me tocar como você me toca, como se atreve a me cobrar isso? — Não deixou? — Não. Augustus tocou seus lábios com o polegar e logo em seguida a beijou, uma violência intensa no beijo, mas algo gostoso que a fez arfar, Angelina enfiou as mãos nos cabelos dele correspondendo-o, as mãos dele tocaram suas costas e ele a puxou mais para junto de si, ela abriu as pernas se pendurou nele, mantendo os corpos colados, sentindo a ereção dele entre as coxas, aquilo a deixou ainda mais atiçada. O desejo antes implícito rapidamente tomava forma, as bocas de ambos se entregavam de forma feroz, as mãos dela desceram para seus ombros enquanto as dele começavam a puxar a calcinha do biquíni, Angelina deixou seus lábios e se afastou um pouco. — Pode ser em outro lugar? — perguntou sem ar. — Não pode ser aqui? — Não, melhor em alguma rede ou cama. — Ok, tenho camisinha também. — Tá. Ele a soltou e ela se desvencilhou de seus braços, estava um pouco trêmula, porque nunca achou que chegaria um momento em que fosse se envolver novamente com um homem naquele sentido, tão pouco que seu corpo reagisse tão rápido apenas a toques, arrumou a calcinha do biquíni no corpo e subiu para a borda, Augustus já estava de pé lhe estendendo a mão para que se levantasse, ela aceitou, logo em seguida quando se pôs de pé, ele começou a conduzi-la para a porta que dava para o apartamento, desceram os degraus de mãos dadas, estava um pouco nervosa. Logo que chegaram ao quarto dele, Angelina começou a tirar o sutiã do biquíni, ele se pôs atrás dela e começou a puxar a calcinha do biquíni para baixo, não era algo que lhe desse alguma vergonha, mas estava de alguma forma constrangida, aquilo não era trabalho, era algo íntimo e pessoal até demais. Ela se viu totalmente nua, ele a abraçou por trás e já estava nu, então foram caminhando abraçados para a cama, ela se inclinou e se deitou na cama ainda bagunçada, ele se sentou de costas para ela e pegou uma camisinha na gaveta da mesinha ao lado da cama. Se inclinou e traçou beijos pelas costas dele, suas mãos tocaram os lados das coxas dele, então ele se inclinou e se deitou estendendo o braço na direção dela, Angelina o beijou se aconchegando a ele, ele a puxou fazendo com que ela se deitasse em cima dele, os lábios dele tocavam os dela de forma rude, apressada. Ele se inclinou e rolaram na cama de forma que ele ficasse por cima, Angelina se acomodou e abriu as pernas, seu coração batia tão forte que quase saia pela boca, ela tocou sua face e devagar ele a penetrou se curvando sobre seu corpo, ela mordeu o lábio inferior aguentando o incomodo que sentia ao ser penetrada, Augustus segurou sua face com o indicador e fez com que ela o fitasse. — Não vou te machucar, linda, mas tem que relaxar. — Ok. Sorriu um pouco constrangida, a sensação era basicamente a mesma da primeira vez, dolorosa, aquela sensação de que queimava por dentro, ele a beijou e tocou a coxa dela, seu corpo todo vindo para cima dela sem pressa e voltando enquanto ele entrava dentro dela lentamente, fechou os olhos e se acomodou um pouco mais na cama, Augustus deixou seus lábios e beijou alguns cantinhos de seu pescoço, seus ombros, depois seus seios, ela tocou suas costas e as mãos desciam para as nádegas dele, se encolheu quando ele penetrou mais fundo e prendeu o gemido em sua garganta, estava começando a suar. — Se mova comigo amor, vamos, você está tensa. — Desculpe. Não era experiente, na verdade tudo o que sabia sobre sexo era meramente baseado em apenas uma experiência em toda a vida, não era algo do qual se preocupasse sempre, Angelina começou a se mover com ele, ele entrou mais e aquilo lhe causou mais dor fazendo com que ela gemesse um pouco alto, Augustus parou e ficou olhando para ela duramente. — Há quanto tempo não tem relações? — Um tempinho, mas está bom, pode continuar. — Está doendo muito? Talvez você tenha vaginismo. — Eu não tenho vaginismo, Augustus. Ele tocou a face dela e Angelina beijou a palma de sua mão, ele beijou seu queixo e ficou parado observando-a por alguns instantes, Angelina ficou se perguntando se poderia haver um momento mais constrangedor que aquele em toda a sua vida, será que era comum? Será que ele fazia aquilo com todas as mulheres com quem transava? — Pode continuar. Augustus se inclinou e colou os lábios em sua orelha, então sussurrou: — Eu estou esperando você se acostumar, eu ainda não consegui colocar nem metade. Arregalou os olhos, então ele veio penetrando-a com força, mordeu o ombro dele sentindo uma dor lançante, e se segurou nele sentindo que a penetração era mais intensa, ele mordiscou o lóbulo de sua orelha e se acomodou em cima dela, o peso deixando o peito roçando em seus seios, Angelina o olhou de lado enquanto seu corpo era invadido por toda a extensão rígida, ela afastou os cabelos dele para trás de sua face e cruzou as pernas fechando envolta dele, apertando-o mais contra si. Augustus investiu com mais força metendo bem fundo dentro dela, se arrepiou toda e em sua intimidade percebeu-se viscosa, molhada, ele era duro e quente, tão firme quanto uma rocha, mas ao mesmo tempo a carne dentro dela que lhe proporcionava prazer, ele a beijou e Angelina tocou as costas dele, suas unhas se cravaram nas nádegas dele com força. — Merda! Ele mordeu a boca dela e Angelina se curvou sentindo aquele prazer intenso que vinha com a penetração, os olhos dele se fixaram nos dela e havia muita seriedade neles, severo meteu com mais força. — Augustus — gemeu alto. Augustus se ergueu e se apoiou nas mãos, ele a penetrava de forma impiedosa, Angelina basicamente pulava escorregando na cama, as pernas abertas recebendo-o, o sexo fazia um barulho alto causando estalos pelo quarto, ela enfiou as mãos nos cabelos percebendo seu próprio desespero, a tortura da dor mais se misturava com aquele prazer intenso que se espalhava por toda ela, suas pernas tremiam e o corpo reagia depressa todo trêmulo. Ergueu as mãos e apoiou na parede suportando a sensibilidade, aquela parte de seu corpo totalmente quente e vibrante, ela viu algumas cores e se entregou ao frenesi, ao prazer que a tomava do dedo do pé até o ultimo fio de cabelo que ela tinha na cabeça, estava pegando fogo e ao mesmo tempo com uma sensação fria intensa tomando seu estômago, o orgasmo forte se apossando dela, ele a beijou lhe alcançando também, algo tão puro e forte que mal conseguia descrever, trêmulo em sua intensidade mais brutal, mas de algo tão novo que ela não sabia que existia, tantas estrelas. Estrelas vibrantes e coloridas. E ela adorou aquilo. — Você está bem, amor? — Sim. Augustus sorriu e colocou um beijo na cabeça dela. Prometeu para si mesmo que não permitiria que as preocupações e as paranoias de sempre não o impediriam de fazer o que queria com ela e agora, tudo o que ele queria era mais, sentiu-se idiota, evitou tanto aquilo e no final das contas superou qualquer expectativa que poderia ter. — Isso foi interessante. — Angelina estava debruçada sobre ele, muito relaxada. — Sim, foi. Ela estava acariciando sua barba por fazer, era algo que ele notava que ela gostava, ele estava acariciando os cabelos dela, haviam se soltado durante o sexo, uma descarga imensa de adrenalina o tomou há alguns minutos e nunca ele se sentiu tão bem depois do sexo ou exausto. — Vamos para a piscina? — ela convidou. — Claro. Angelina saiu de cima dele, logo em seguida quando ela se sentou algo lhe chamou atenção. — Querida, você não me avisou que estava menstruada. Ela olhou para a cama e logo em seguida para ele, então as bochechas dela começaram a ficar vermelhas, Augustus ficou ali parado sem entender nada, então ela saiu da cama e pegou o biquíni. — Sinto muito por isso, eu vou colocar para lavar agora mesmo, só vou tomar um banho... — Ei, calma, tudo bem. Não entendia por que subitamente ela estava agindo daquela forma, era algo perfeitamente normal para ele. — Me desculpe — Angelina estava vestindo a calcinha do biquíni toda apressada — Vou só colocar algo... — Tenho absorventes aqui em algum lugar. — Se não se importar, eu aceito. — Ok. Claro que ele tinha absorventes, fora algo que Catherine pediu que ele comprasse para deixar para funcionária dela usar quando fosse limpar o apartamento, certo dia chegou e a moça estava lá limpando o lugar, sua mãe ligou pedindo que comprasse pois ela havia acabado de menstruar, foi um imprevisto, mas não era algo que Augustus comprasse com frequência para ninguém, sobre aquilo ele até admirava a mãe em alguns aspectos, ela se preocupava muito bom o bem-estar das pessoas que trabalhavam para eles. — Acho que está na dispensa, vamos primeiro tomar um banho. — Tá. Angelina estava travada e envergonhada, conseguia entender que ela estava envergonhada por ter menstruado, mas realmente não era algo do qual se importasse. Saiu da cama e a viu pegar os lençóis toda nervosa, ele se aproximou dela e tomou aquele bolo de lençóis de suas mãos, jogou no chão. — Ei, tudo bem. — Isso nunca aconteceu antes, eu sinto muito, estou morrendo de vergonha. — Por quê? — Não deveria? — Claro que não, é normal. Ela passou a mão na testa toda nervosa, depois Augustus a puxou para si e a beijou de leve. — Fica tranquila, eu vejo sangue todos os dias da minha vida já tem um bom tempo, é comum menstruar. — Eu não queria sujar sua cama. — Não tem importância, na próxima vez, você pode me avisar que podemos fazer no chuveiro, foi por isso que não quis fazer amor na piscina? Ela estava vermelha, com muita vergonha e não queria falar, ele notou aquilo portanto nem insistiu. — Não. — Está bem, esquece isso amor, vem. Ela não reclamou e o seguiu até o banheiro, enquanto ele se livrara da camisinha notou um pouco mais de sangue, não era algo que ele se importasse, Angelina entrou no box primeiro e começou a tomar o banho, ele ficou observando-a nua de costas para ele, se lavando. Poderia ficar ali o dia todo olhando para ela e ainda assim não seria o suficiente. Merda! Pare. Pensou detendo as coisas que pensava. Entrou no box então a abraçou por trás, ela se virou para ele, mas estava com os olhos cobertos por uma vermelhidão incomum. — O que foi? — Me desculpe, eu não queria ter sujado a sua cama, esse é o momento mais vergonhoso da minha vida, Augustus. — Meu Deus, querida eu já disse que tudo bem. — Foi muito legal para mim. — Para mim também. — Obrigada. Ela não tinha que agradecer, ele, no entanto... — Não chore, é só menstruação. — Você fala como se isso fosse supernormal. — Bom, sou médico, já vi tantas coisas na rotina de trabalho que você nem pode imaginar. — Quando eu crescer quero ser como você, não tão amargurado é claro. Ele sorriu e a apertou entre os braços. — Relaxe amor, tudo bem. — Se você está dizendo, ok. Augustus a olhou no fundo dos olhos, sabia que aquela mulher havia dado a ele algo profundamente íntimo e prazeroso, o fez sentir algo que nunca nenhuma mulher fez sentir, mas ainda assim, não era um completo ingênuo para saber que deveria ou poderia pedir algo além daquilo para ela, ele também não tinha nada a dar. Nem para ela nem para ninguém. — Ainda somos amigos, Angelina. Ela devolveu o sorriso. — Sim. Era a melhor coisa que poderiam fazer um pelo outro. Ela iria embora em breve, talvez aquilo lhe fizesse algum mal, mas não faria tanto quanto se não fossem só amigos. — Acho que arruinei nosso dia na piscina. — Está tudo bem, aqui está bem melhor. Angelina ganhou um beijo carinhoso na testa, nunca se sentiu tão confortável e bem perto de alguém como se sentia naquele momento, principalmente de algum homem com quem saiu, havia compartilhado algo com Augustus que jamais pensou que compartilharia com ninguém. Já passava das 14:00 e ainda estavam naquela cama vendo tv, uma sensação de tranquilidade a tomava toda e era como se nada lá fora pouco importasse para ela, nem mesmo os problemas que teve com a família ultimamente, ele lhe arrumou alguns absorventes e ela se vestiu depois do banho, quando retornou ao quarto dele, Augustus já tinha reposto a cama, ele trouxe gin e alguns petiscos para ambos, então estava ali vendo mais um filme de ação, talvez fosse o terceiro daquela tarde juntinha dele, deixando de lado qualquer receio. Estava colocando em prática seu pequeno plano de férias, pela primeira vez desde que voltou para casa estava completamente relaxada. — Você não quer dormir aqui? Chego as 07:00 amanhã. Era um convite muito tentador. — Marquei com a Bambi de ir ao cinema, mas posso vir amanhã à noite, assim você descansa um pouco durante o dia. — Chame ela para vir para cá, podem aproveitar o dia e descansar juntas. — Vou falar com ela. Tinha zero vontade de voltar para a casa dos pais, percebeu com tristeza que sua estadia ali se tornou um fardo tanto para ela quanto para sua família, sentiu que dividia os pais ao colocá-los numa posição de escolha onde seu pai a apoiava inteiramente, mas sua mãe superprotegia Gloria e Dora, aquilo era ruim. Não tinha culpa de Gloria ter se casado com Brad e que haviam polarizado toda a história, mas também se sentia mal porque de alguma forma aquilo magoava sua irmã, sabia que não deveria ter exposto o segredo de Dora também e naquele momento ficou se perguntando se gostaria que sua família soubesse que ela havia transado com Augustus também. Sabia da resposta. Ficar na casa de seus pais se tornou tudo o que ela não queria, uma cruz impossível de carregar. — No que está pensando? — Acho que vou para o hotel onde o Marc está hospedado, não estou confortável de ficar na casa dos meus pais. — Não é o correto. Ela o fitou, Augustus tocou seus cabelos, sua face, ele sem sombra de dúvidas era um homem muito carinhoso, jamais esperou que ele a tratasse tão bem, que fosse tão compreensivo e gentil, ele se escondia. Percebeu. — Não sei se quero ficar os próximos três dias tendo que lidar com eles. — Nossa, mas eu quem sou tomador de posto de mal-amado aqui, o filho rebelde. — É? Pois saiba que eu também tenho direito ao posto de rejeitada e infeliz. Eles riram, Augustus segurou sua mão e a levou até os lábios colocando lá um beijo suave. — Não é justo que saia, Gloria deveria sair e ir para a casa dela. — Ela já está quase ganhando neném. — Ainda assim, se ela está numa posição que te causa desconforto, a casa é sua, ela, portanto, deveria sair. Angelina suspirou, queria que fosse fácil, foi ali justamente para ficar com a família e droga, seu pai tinha razão, quase não ficou em casa, mas como eles esperavam que ela ficasse depois de tudo o que descobriu? Tudo aconteceu rápido demais. — Ela te contou que é uma menina? — Ela não me fala nada. — Acho que ela no fundo sempre teve medo da sua reação. E ela odiava pensar que Gloria omitia as coisas do bebê dela por causa de Brad, nitidamente Gloria estava com tanto medo da reação dela que elas duas mal conseguiam estar próximas sem que as coisas do passado acabassem interferindo no presente. — Sinto que fiquei distante demais dela depois que soube de tudo, nas nossas últimas férias antes dela noivar estávamos inseparáveis, eu, ela e Dora, apesar de tudo nós sempre fomos unidas, sinto que isso rompeu com a pureza do nosso relacionamento. — Ela ter se casado com o meu irmão? — Não, ela ter mentido para mim, os meus pais terem ocultado tudo e escondido a verdade, ela me fez vir até aqui acreditando que você havia se casado com ela, eu talvez não houvesse vindo se ela tivesse me falado a verdade, mas em algum momento eu viria para ver o bebê, eu iria deixar de lado as mágoas e iria querer fazer parte da vida da minha sobrinha. — As pessoas sempre fazem parecer exagero até que aconteça com elas, é como quando se perde alguém, a dor do luto perdura por meses, anos até, mas tudo o que podemos desejar é os pêsames, quando é conosco isso se torna algo maior do que poderíamos imaginar. Ela concluiu que ele estava se referindo a mãe adotiva. — Você não merecia que mentissem para você, eu mesmo se te conhecesse teria falado a verdade logo de cara, mas eu nem sabia que você existia até ir à casa dos seus pais. Era bom saber daquilo porque significava que ele não a conhecia além do que tinham até ali, que Augustus talvez não tivesse ciência de quem ela era de fato fora dali. — O que vai fazer? — Acho que preciso preservar ainda o sentimento familiar que eu tenho, é melhor eu me afastar e pensar um pouco mais sobre tudo o que houve sem a influência dos meus pais. — Está segura de que é o melhor para você? — Estou sim Augustus, sou adulta e sei o que é melhor, se eu continuar lá eu sei que vou ter recaídas, não quero viver me sentindo mal com a presença deles, talvez seja melhor se afastar e me respeitar primeiro, para depois tentar perdoar todos eles por terem mentido para mim, a Gloria por ter mentido e meus pais por terem sido omissos de certa forma foi uma mentira coletiva. — Você é sensata anjo, está certa, tem que fazer o melhor para si mesma. E talvez por aquele motivo que ela adorasse a companhia dele cada dia mais, Augustus não a julgava, ele a ouvia. — Fique aqui esses três dias, podemos aproveitar ao máximo sua estadia, amor. — Ah com certeza, né? Ela sorriu e Augustus se inclinou abraçando-a, colocando um beijo quente em seus lábios, Angelina o correspondeu sem receio algum. — Não tem problema em transar nos dias da sua TPM. — Eu sei que não tem, mas ainda estou constrangida. — As roupas de cama já estão limpas, coloquei na lava e seca, isso é normal. Suspirou e mais uma vez respirou fundo pensando bem sobre qual decisão tomar, então fez o que achou melhor para si mesma. — Vou pedir que o Marc pegue as minhas coisas, ficarei aqui até o dia de eu ir embora, vou telefonar para os meus pais e falar como me sinto, se eu for até lá papai vai ficar insistindo para que eu volte e eu vou acabar dizendo sim só para não magoar ele. — Cuido para que você fique bem, amor, fique à vontade. — Eu ficarei mesmo. Qualquer lugar parecia ser melhor do que estar em casa com todos aqueles problemas, ainda mais na companhia dele. Seria ótimo ficar ali aqueles três dias, ao menos ela esperava. — O que está rolando aqui? Augustus saiu para trabalhar por volta das 17:00, então Angelina decidiu tomar outro banho e mandar mensagem para a melhor amiga, ela enviou a localização para Amber e lhe pediu gentilmente que trouxesse alguns absorventes. Augustus trabalharia durante a noite, eles tomaram outro banho juntos e logo em seguida ele se vestiu e partiu depois de dar um beijo quente nela. — Vocês dois... Oh Meu Deus! As bochechas dela ficaram vermelhas e Angelina não disse nada, porque estava constrangida demais pegando a sacola que a amiga trouxe com o pacote de absorventes, não estava com um fluxo intenso, estava muito pouco, mas ainda assim não queria manchar mais nada naquele apartamento. — E aí? Amber também trouxe embalagens de Starbucks, Angelina a viu abrir as sacolas e retirar de lá dois copos de chocolate quente, não recusou, aceitou. — Bambi só aconteceu. — Ele foi carinhoso né? Te tratou bem? — Foi... intenso. — Intenso mais tipo para uma transa gostosa ou intenso, intenso? Ela ainda não entendia aquele linguajar, não tinha relações nos últimos dez anos, como ela poderia saber? — Teve orgasmo? — Teve. — Ok, intenso, intenso. — Parece que estamos falando de café, Bambi. — Ah, mas aquele homem é pura adrenalina. Ela que o dissesse. Pensou. — Você está bem? Pensei que iríamos sair, saí do trabalho e vim direto para cá. — Eu estou bem, só cansada de lidar com a minha família, eu vou ficar aqui esses últimos três dias antes de ir embora, o Augustus deixou. Amber parecia não acreditar no que acabou de ouvir. — Como um casal? — Como amigos íntimos. — Bom, legal. Ela sabia que Amber era meio conservadora, achava que para ter relações com um homem deveriam ter um envolvimento emocional profundo e público, Amber era a menina que sempre tinha namorados e que quando tinha atualizava os status de relacionamentos em redes sociais, durante aqueles anos teve alguns e fez questão de lhe contar via e-mails ou mensagens de texto, enquanto Angelina mal tinha tempo para pensar em homens. — Assim, para deixar bem claro, eu ainda estou chocada que ele te trouxe aqui. — Por quê? — Bem, publicamente o Augustus não é do tipo de cara que traz mulheres para a casa dele, as fofocas que correm na cidade é que ele sempre as leva para um motel. — É para eu me sentir lisonjeada? Amber lhe lançou um olhar punitivo enquanto ia para o sofá, viu a amiga jogar a bolsa no sofá e começar a tirar os sapatos, ela usava uma calça social e camisete com um lenço amarrado ao pescoço, Amber era atualmente assistente administrativa, trabalhava como secretária de um homem rico da cidade. — Eu não me importo de estar aqui, eu não quero saber com quem ele transou ou quando transou, o Augustus e eu somos amigos e temos tido momentos agradáveis, não me sinto mais especial do que ninguém. — Você está bem com isso? — Por incrível que pareça sim, eu estou mais tranquila de pensar que não tenho mais que ficar lutando contra o que eu sinto por ele. — A Dora está bolada. — Ela tem motivos, mas eu não quero me estressar pensando sobre isso. — Não quero te chatear com esses assuntos, Angie, você merece mesmo descansar e esquecer todo esse rolo no qual a Gloria te enfiou, você está melhor? — Sim, estar aqui é melhor do que ficar lá em casa, desde que eu cheguei já sabia que não daria certo, mas ficar lá é insuportável. — Eu sei que se sente magoada pelo que o Brad disse, mas sabe que não é verdade, certo? — Sei, a máscara dele caiu quando ele me disse aquelas coisas, não sei por que cheguei a ser tão ingênua de acreditar que em algum momento ele poderia estar arrependido, ele não mudou, continua sendo um mimado infantil. — Talvez seja melhor mesmo você ficar aqui esses dias, você até se esforçou para ficar na casa dos seus pais. — Eu só sei que cansei. Ela se sentou ao lado da amiga e ficou vendo Amber sorrir toda otimista, Angelina a invejava um pouco por aquilo. — Você está sorrindo assim por... — Você, estou feliz que enfim você está prosseguindo, se permitindo conhecer alguém de verdade, o Augustus e você podem tentar ficar juntos né Angie? Talvez Amber fosse inocente demais para entender. — Amiga, ele só quer transar. — Ele te olha diferente. — É claro que olha Bambi, ele só quer o meu corpo, ele já deixou bem claro que não se envolve com as mulheres com quem transa e tudo bem, eu não quero me envolver com ele agora. — Mas talvez ele queira algo mais futuramente... — Não, Bambi, ele só quer o meu corpo, é isso — disse, concreta. Ela sabia que sim, estava estampado nos olhos dele em todos os momentos durante o transcorrer daquele dia, em cada toque, cada beijo, ele deixou claro que seriam amigos e não havia dúvida alguma que aquele era um sinal claro de que não havia nada além daquilo, o contato físico talvez fosse só o ápice da atração que ele sentia por ela e vice e versa, Augustus Guerra só queria usá-la e ela também queria poder usá-lo. Por que não? — Bem..., mas uma coisa sempre leva a outra. Hoje o corpo, amanhã o coração — Amber bebericou o chocolate-quente. — Augustus não nega fogo, eu aposto. Era pouco provável. — Você nem me perguntou se eu também não quero só sexo. Amber arregalou os olhos, ela sorriu. — Você acha que está pronta para mergulhar de cabeça em um envolvimento só sexual? — Ele não parece tão interessado em algumas das minhas qualidades e na minha personalidade incrível Bambi. —— confessou. — Amiga, tem uma coisa sobre os homens que você não sabe... eles nunca dão o braço a torcer até perderem o que tem — Amber replicou. — Ele provavelmente age assim por causa da tal decepção que te falei. Não era algo que interessasse a Angelina, e parecia justo já que não tinha feito perguntas sobre algo mais profundo a respeito dele, Augusto não gostava de se abrir demais e talvez fosse a chance perfeita de ela não se envolver mais também. — Eu não sou uma posse dele Bambi, por isso eu acho que ele não tem nada a perder. — Pensa comigo, se ele não se interessasse você acha que ele teria feito todo o esforço para que a família dele se desculpasse? — Isso tem mais a ver com o que ele pensa sobre injustiça, ele me disse. Amber estava inventando e ela sabia o porquê. — Bambi, eu não vou ficar aqui e você sabe que eu nunca conseguiria morar aqui e ser feliz. — Só acho que seria legal se voltasse a morar aqui. — Legal para quem? — Poxa! Aí! Angelina colocou o copo no chão da sala e estendeu os braços, a abraçou, sabia que a amiga a queria por perto, mas no momento também tinha certeza de que não seria possível por uma série de fatores. — Você cortou os laços comigo e sumiu por dez anos, sinto falta da nossa amizade. — Eu sei Bambi, mas agora eu prometo que vamos ter todo o contato do mundo. — Vocês usaram camisinha? — Sim. — Ufa. — Ei, me respeita ok? Sabia que não poderia engravidar nem se quisesse, talvez suas chances atuais de engravidar fossem zero, há alguns anos, o médico a sentenciou a esterilidade quando ganhou sua primeira e única filha, sabia que não poderia mais ter bebês de forma natural. Contudo Angelina era bem consciente das chances de pegar alguma doença se não usasse camisinha, ficou aliviada em constatar que Augustus era bastante prevenido. Afinal de contas, além de médico ele tinha uma vida sexual bem ativa. — Usamos, mas sabe que as chances de eu engravidar são zero, tive eclampse após o parto, o médico disse que não posso mais engravidar. — E tipo, como foi? — Ele é meio... bruto. — Bruto tipo... O calor subiu às faces dela, Angelina ficou calada por alguns instantes, até que decidiu tentar explicar para a amiga. — Ele fez com força, senti bastante dor no começo, mas depois eu relaxei e fluiu, ele é bem nervoso. — Eu não estou entendendo bem o que você quer dizer. — Ele fode com muita força, Bambi, sabe quando o homem começa e meter e vem penetrando como se desse uma metida... — Ok, entendi. Amber também ficou vermelha, Angelina pegou o chocolate e voltou a tomar, tão envergonhada, mas não sabia como explicar de outra forma, ela falou de sua primeira vez com Brad para a amiga anos atrás, mas era algo natural, hoje só se sentia uma mulher coberta de vergonha beirando o desespero por não saber como explicar sobre uma transa. — Isso foi bem esclarecedor — Amber respirou fundo. — Eu sabia que ele era desse tipo, mas se eu fosse você não confiaria muito nisso. Eu mesma uso DIU e morro de medo. Pode tomar uma pílula do dia seguinte também para o caso de alguma camisinha rasgar ou sei lá. — Na verdade, acho que não seria possível tendo só um ovário que não funciona, não menstruo direito há um ano devido ao problema e a minha médica sempre me faz tomar injeções de hormônio uma vez ao mês. — Não pensa em ter filhos? — Não! Ela não queria ter que passar por tudo aquilo de novo, os enjoos, o medo, a dor da perda... Angelina não se considerava egoísta, apenas não queria sofrer de novo, também, como poderia oferecer a vida decente a um bebê se ela mal tinha tempo para si mesma? Entendeu com o passar dos anos que não poderia ter forças para gerar outro bebê, ela aceitava que na vida não poderia ter tantas opções de escolhas. — Eu entendo, amiga — Amber abraçou-a afetuosamente. — E agora? — Eu acho que podemos ver um filme, o que acha? — Eu adoraria amiga. — Olá. Angelina deu um pulo, logo em seguida ela se virou e Augustus estava ali entrando no quarto, ele usava jeans e uma camisa de mangas, os cabelos estavam úmidos e os olhos um pouco avermelhados, ela nem conseguia imaginar todo o cansaço que ele sentia, mas ainda assim ele sorriu para ela, devagar, tão calmo. — Bom dia, Augustus. — Bom dia, querida. Ele se aproximou sem pressa, Angelina tinha acabado de acordar, estava apenas de calcinha, ela realmente não esperava que ele fosse chegar tão cedo, pegou o cobertor querendo se cobrir e se sentiu idiota porque afinal de contas, sabia que não deveria sentir vergonha dele. Augustus estendeu as mãos e tocou seus ombros, as mãos dele cheiravam a sabonete de lavanda, então ele se inclinou e a beijou devagar, ela se aproximou correspondendo ao beijo, os braços envolvendo-o com um abraço. — Você dormiu bem, amor? — Sim, acabei de acordar, você quer tomar café? — Já comi no hospital, ocorreu tudo bem aqui? — Sim, a Bambi veio ver um filme comigo ontem à noite, depois ela foi embora, tomei banho e vim para a sua cama. — Descansou bastante? — Sim. Estar ali era muito melhor do que estar na casa dos pais. — Preciso dormir um pouco, não quer vir ficar comigo? — Tá. Ele se afastou e começou a se despir, Angelina o ouviu suspirar duas ou três vezes, ele estava de fato bem cansado, os ombros caídos. — Ocorreu tudo bem no hospital? — Teve um acidente na Rodovia Estadual e uma família inteira foi envolvida, a mulher estava grávida e acabou falecendo, conseguimos salvar os três filhos e o bebê, o homem também morreu na hora, tive que fazer uma cesariana de urgência, o bebê nasceu sem respirar, mas acabamos trazendo-o de volta. Angelina não sabia o que falar diante daquilo, ele se sentou na cama, estava apenas de cuecas, jogou todas as roupas num canto do quarto, ela se aproximou e se sentou ao lado dele, Augustus esfregou as faces com as mãos e respirou fundo mais uma vez, a noite dele o esgotou, mas não era apenas aquilo ele estava abalado. — Espero que ele viva. — Ele ficará bem. — disse ela só para dizer algo. Então ele a olhou e pareceu muito reflexivo por alguns momentos. — Eu sinto muito, acho que não sou boa companhia, poderia me deixar sozinho por alguns momentos? — Está bem. Se ergueu, então saiu do quarto sem poder falar nada, Angelina só tinha acordado e não esperava ter que lidar com ele naquele estado, talvez fosse por aquele motivo que ela soubesse exatamente seu papel atual na vida dele. Passageiro. Augusto não era um homem paciente e carinhoso fora da cama, ele não queria um relacionamento, ele não gostava de conversas profundas sobre ele mesmo e nem queria dividir com ela mais do que possuíam, naquele instante constar aquilo foi meio estranho, já sabia, mas afirmar era confuso e ruim. Porque havia uma parte dela que aceitava aquilo, mas uma outra parte começava a detestar aquele comportamento, sabia que não deveria e por aquele motivo era bem mais fácil se conformar com as atitudes dele, era melhor se conformar do que se envolver. E outro lado dela se sentia meio que estranha por querer ser usada e usar também, porque nunca tratou ninguém daquela forma em toda a sua vida, talvez porque ela ainda não sabia bem como lidar com aquilo tudo, ainda que não se arrependesse. Dada a situação, uma ponta de dúvida surgiu: Será que deveria continuar ou deveria ir embora? Ele deixou claro que não queria companhia, Angelina odiaria ter que ficar ali e parecer que implorava pela atenção dele, sabia que nem deveria, porque aquilo não tinha a ver com ela e que era um problema dele, todavia estar ali era só mais um passo rumo ao abismo. Ficar ali significava ter que lidar com os problemas de Augustus. — Você vai embora? Ela já estava no quarto de hóspedes quando ouviu a pergunta, deu um pulo assustada e se virou, e ali estava ele olhando-a em silêncio, uma dor estranha tomando os olhos azuis. — Talvez seja melhor, não acha? — Fique, só não sou boa companhia. — Se dormir um pouco talvez se sinta melhor quando acordar. — Se ao menos eu conseguisse dormir. — Quer conversar? — Não. — Ok. Ela pegou uma blusa em cima da cama e vestiu. — Angelina... — Eu vou aproveitar o dia e ir ver o Marc, colocar algumas coisas em dia. — Olha, não tem a ver com você. — Eu sei que não tem e tudo bem. — Alguns dias são bons e outros apenas suportáveis, não quero que fique magoada, só não consigo pensar que sou boa companhia para nada. — Tudo bem. Angelina não queria dizer nada que a comprometesse, ela começou a ficar com medo daquilo de repente. — Fique. — ele pediu mais uma vez. — Me abrace, fala coisas boas para mim. Era um pedido relativamente fácil. — Você? Querendo ouvir coisas boas? — Sempre tem uma primeira vez na vida para tentar ser otimista. Ele estendeu a mão e Angelina ficou ali parada olhando-o em seu próprio momento de reflexão, disse para si mesma que eram amigos e que assim como ele a abraçou na outra noite, ela também deveria largar o medo de lado e deveria abrir algumas exceções. Era adulta o suficiente para entender as coisas. Se aproximou e segurou a mão dele, então deixou-se embalar pelos braços fortes, quentes, ela o apertou devolta com muita força também, dentro de si um calor incomum tomando o corpo todo, Augustus beijou seu ombro e depois seu pescoço, logo em seguida ele a puxou pelos quadris, Angelina se segurou em seus ombros e se ergueu colando os olhos nos dele, havia uma seriedade extrema nos olhos dele. E ela não conseguia entender os motivos daquilo. Então ele a beijou e ela o correspondeu entendendo sua necessidade, os lábios ferinos tomando a boca dela com mais força a cada pequeno movimento, as mãos dela se enfiaram em seus cabelos enquanto Augustus andava com ela pelo quarto, seu coração rapidamente se acelerava enquanto seu corpo tomava aquela forma violenta de reagir, como ontem quando estava com ele. Era tão impulsiva e odiava aquilo. Era tarde demais para voltar atrás, para pensar que deveria tomar cuidado, ele a empurrou contra a parede mais próxima e se inclinou sob o corpo dela, a boca avançando por seu pescoço, descendo até seus seios enquanto ela abria os olhos para observá- lo fazer aquilo. As mãos impacientes seguraram dos lados da blusa e puxou o tecido rasgando-o ao meio, Angelina o observou fazer aquilo, umedecendo os lábios, ansiosa. Com os dentes ele começou a morder os seus seios, Angelina puxou os cabelos dele reagindo aos gestos com certo pânico, mas também prazer, pequenas ondas se espalhando dos pés a sua cabeça, enquanto ele pressionava o corpo de encontro ao dela a boca brincava com seus seios, enlouquecendo-a, fazendo-a gemer baixinho e suspirar, querendo sentir, deixando-se sentir aquilo, o resultado, a atração que a matava aos poucos, que deixava o seu corpo tenso e ao mesmo tempo coberto pela ansiedade de ser livre daquilo. — Augustus. — Ela chamou num fio de voz. — Quero você! Ela também o queria. Talvez mais do que deveria querer ou desejar. Ele segurou seu seio direito com vontade e espremeu o mamilo judiando dela, colocando a ponta da língua sobre a pele latente, rosada, os olhos dele a analisava enquanto ela se contorcia e apertava as pernas envolta dele, ele sentia prazer em causar aquelas sensações tão loucas nela. As mãos dela tremiam e a confusão mental a tomava, porque o corpo reagia tão ligeiramente a aquilo que mal conseguia raciocinar direito, as mãos tremiam bastante ele, no entanto, era tão controlado. Apertou as pernas envolta dele e Augustus foi para trás e logo em seguida para frente se esfregando com força nas partes íntimas dela, gesticulando a forma como queria penetrá-la, aquilo fez com que a bunda dela batesse com violência na parede do quarto fazendo um barulho alto. — Fode comigo. — ele pediu. Ela também o queria muito. Minha nossa! Sua calcinha estava começando a ficar úmida, em sua mente algumas coisas não estavam claras ainda, mas o corpo parecia se recordar bem do prazer que sentiu na tarde anterior com ele, ela o querida dentro dela muito rápido. — Sim. Ele a soltou e Angelina desceu de seu colo, depois ele pegou um preservativo de dentro do bolso da frente da cueca e puxou o tecido para baixo, colocou a embalagem na boca e depois apertou com os dentes, ela respirou fundo ao vê-lo se tocar com naturalidade enquanto tirava o preservativo de dentro da embalagem. — Tire a calcinha e esse pedaço de pano. — Ok. Ela tirou a blusa despedaçada e depois pensou sobre algo embaraçoso. — Quer ir ao banheiro antes? — Preciso sim. — Você tem um minuto. Parecia outra pessoa falando. — Tá. Então ela se afastou em silêncio e foi até o banheiro, se livrou da calcinha e logo em seguida do absorvente, entrou no box se questionando sobre ter apenas um minuto para fazer algum tipo de higiene, então ligou o chuveiro do banheiro de hóspedes, começou a se lavar se perguntando como aquilo poderia dar certo, mesmo que não estivesse vindo muito, tinha um pouco de receio e vergonha. Depois de alguns instantes ouviu o som da porta do box sendo aberta, ela ficou ali parada se sentindo um pouco insegura, Augustus a puxou pelos quadris e a apertou depois com força contra si, ela respirou fundo, logo em seguida se virou para ele. — Já falamos a respeito disso. — Eu sei. — Então... — Bem, é que é novo. — Não precisa se preocupar, é natural. Talvez para ele, mas não para ela. Ele a beijou e se inclinou deslizando as mãos até suas nádegas, Angelina se segurou nele subindo enquanto era puxada para cima, o calor lhe subindo dos pés até o pescoço, os beijos eram barulhentos e intensos, as mãos dele apertavam suas nádegas com vontade. Se ajeitou pendurada em cima dele e Augustus se conduziu para dentro dela, os quadris subiram enquanto ele entrava todo rígido, quente, o lubrificante da camisinha deixou a experiência um pouco melhor do que da primeira vez, menos incomoda. Beijou a face dele e o pescoço sem nenhum receio, ele a empurrou contra a parede do box e começou a meter com mais firmeza dentro dela, Angelina apertou as pernas envolta dos quadris com muitos anseios dentro de si, ele olhava o pênis entrando e saindo de dentro dela, uma das mãos apertando as nádegas dela enquanto a outra deslizava até o pescoço dela, apertando com suavidade. Ela abriu a boca deixando que um gemido alto saísse de seus lábios, Augustus enfiou dois dedos na boca dela e ela os chupou coberta de prazer com o gesto, enquanto os corpos se encontravam novamente de um jeito familiar, porém também novo. Sempre que ele metia, ela trepidava e seu corpo subia jogando os seios dela para cima, fazendo a bunda dela bater na parede com força, fazendo barulho de um sexo molhado e gostoso, enquanto a boca dela sugava seus dedos ele começava a penetrar ela com mais rapidez, o sexo inseparável no roçar ligeiro, como um bicho que não parecia querer se aliviar, que estava acostumado demais em foder algo do qual queria muito. Instintivo, lascivo, rápido e forte. — Mais, por favor, mais. — ela pediu choramingando. Ela o observava durante o sexo, ela o via penetrá-la como se fossem amantes há bastante tempo, com aquela intimidade que ela nunca teve com ninguém, com a liberdade que jamais quis conceder a ninguém, como se houvesse encontrado algo que se encaixasse nela de forma única. Angelina se contorceu olhando para cima, soltando as pernas, as mãos dele seguraram seus quadris e ali ele meteu nela bem rápido, com força indomável, como se ela fosse algo que pertencesse a ele, ela sabia que era, nem que apenas naquele momento e se libertou para algo tão imenso que seu corpo a transportou para um lugar distante dali. Uma sensação de angústia intensa a tomou, e ela gozou logo em seguida deixando que a liberdade se intensificasse em cada pedaço de seu corpo, sob sua pele que se arrepiava, sob seus olhos que se fechavam com força, sob sua voz que ecoava no banheiro num grupo alto e agudo. Ele a segurou e a puxou abraçando ela, mas não parou, então ela se encolheu se curvando, mal conseguindo aguentar a metida intensa, porque seu clítoris vibrava e ela estava sensível demais, mas mãos dela se cravaram em suas costas e ela o arranhou todo naquele momento, Augustus grunhiu e a empurrou contra a parede mais uma vez pressionando todo o corpo contra o dela, Angelina abaixou as pernas e ficou em pé respirando com dificuldade, os pés ardiam muito enquanto estremecia num orgasmo múltiplo desumano, tremeu ali tentando achar apoio, ele fez força e a penetrou mais uma vez e seu corpo subiu suspendendo-a, ela ficou na ponta dos pés enquanto algumas lágrimas começaram a cair. Prazer, quente, forte, trêmulo, mas prazer. — Isso, muito bom. Ele gemeu baixinho e gozou com ela, Angelina o empurrou tomada pelas boas sensações do orgasmo, depois ela lhe deu um tapa bem servido no rosto, então o beijou logo em seguida, ele sorriu entre o beijo e a apertou, depois ele desligou o chuveiro e a puxou para fora do box. Não pensou em nada além de acompanhá-lo. Talvez estivesse sendo uma completa louca, sabia que sim, mas só naquele momento quis ter mais momentos adultos com ele, quis poder desfrutar dos últimos dias ali. — Boa noite, amor. — Boa noite. Angelina tinha acordado, mas não queria acordá-lo, então foi até o quarto de hóspedes organizar a baderna que eles haviam feito no banheiro e na cama, ela também teve que responder algumas mensagens dos pais e de Marc, avisou aos pais que estava bem e que não queria voltar para casa, por um milagre não insistiram, no final das contas o bom senso parecia reinar ao menos, Marc avisou que havia pegado todas as coisas dela e largado com Amber e que sua amiga levaria na manhã para o apartamento de Augustus. As coisas fluíam melhor quando ela não tinha que se preocupar com as irmãs ou com quem quer que fosse. — Dormiu bem? — Angelina questionou um pouco satisfeita por ter trocado a cama e levado todas as roupas para a lavanderia. — Sim e você? — Bem também. Augustus estava completamente nu, mas aquilo de nenhuma forma foi constrangedor, não depois de terem compartilhado tanto naquela manhã, no box daquele quarto e naquela cama. Ele se aproximou e se sentou na cama ainda sonolento, depois ele estendeu a mão e a segurou pelo pulso, a puxou para si, fazendo-a se sentar em seu colo, Angelina havia vestido uma calcinha e uma outra blusa. — Me deve uma blusa. — Eu comprei aquela blusa. — Mas ela era minha, ora. Ele riu, sem sombra de dúvidas o clima estava um pouco melhor entre ambos. — O que quer jantar, querida? — O que quiser comer. — Humm... Augustus a olhou de cima abaixo todo malicioso, ela o beijou achando graça. — Obrigado pela manhã maravilhosa. — ele disse e afastou os cabelos das faces dela — Você é linda, amor. — Não tem que agradecer, acho que ambos desfrutamos do dia. — Quando vai embora? A pergunta a desagradou. — Em dois dias, não vou te incomodar tanto. — Ah. vAcabei de falar com o Marc, ele disse que mandou as minhas coisas pela Bambi, ela irá trazer amanhã para mim, se não se importar é claro. — Não me importo. Augustus tocou sua face e depois sua nuca, Angelina o olhou sem graça, não queria ter que falar sobre nada do tipo. — Eu e você... temos muita química Angie, você é ótima na cama, fantástica eu diria, adoro transar e você é uma puta deliciosa, mas não poderia ser, temos vidas diferentes, você mora em outro estado, entende isso certo? Foi como se as palavras de Brad retornassem a sua mente automaticamente, sobre ele ter insinuado que ela abriu as pernas facilmente para ele, aquilo a machucou. — Claro que entendo, por que essa conversa agora? — Não quero que pense que eu vou te dar esperanças, não sou desse tipo. Aquilo a deixou profundamente decepcionada. — Nem eu. — Você não precisa se preocupar, tudo o que estamos tendo ficará aqui. — Está bem, fique tranquilo, da minha parte também ninguém irá saber. Assim como ninguém soube dele e Dora. Pensou Angelina, com muito incomodo. Ela saiu de seu colo e se afastou pegando uma camiseta que pegou no armário dele. — Espero que não se importe, eu fiquei sem roupas limpas, coloquei tudo na máquina. — Em absoluto, posso pedir uma massa então? — Pode. — Ok, vou me vestir, te espero na sala de jantar. — Tá. Então ele se levantou e saiu do quarto, Angelina respirou fundo e se sentiu um pouco mal com as palavras dele, era algo que já estava bem explícito, não tinha motivos para que ele ficasse falando aquilo para ela. Foi até lá e trancou a porta do quarto, depois ela foi para a cama e se deitou lá, fechou os olhos e algumas lágrimas começaram a cair, não porque tinha que ir embora, nem pelo envolvimento, mas talvez pelo jeito como ele falou tudo. Fantástica na cama... ótima! Uma puta. Angelina não gostaria que um homem falasse aquilo para ela porque era exatamente o que tinha evitado por boa parte da vida, entretanto ela também sabia que era hipócrita porquê do jeito que ele a usou, também estava se divertindo com ele, descobrindo um lado dela tão ousado e tudo era excitante e gostoso. Talvez tenha sido a forma como ele falou. Pensou. — Amor, você vem? — Sim, só vou ao banheiro e já estou indo. Augustus mexeu na maçaneta, então ela se ergueu limpando as faces. — Por que trancou a porta? — Estou fazendo minhas necessidades. — Ah, ok, estou te esperando lá embaixo, amor. — Ok. Respirou fundo, parecia impossível querer sair daquele quarto e se sentir bem depois de ter sido chamada de puta na cara. Será que ele havia falado daquela forma com Dora também? Talvez tratasse todas daquela forma, sabia que sim, mas com a diferença de que com certeza ele não havia chamado Dora de puta, porque se houvesse Dora talvez nunca mais olhasse na cara dele de tão ofendida. — Angie? — Eu já vou, espera um pouco. Respirou fundo mais uma vez, ela sabia que não poderia sair dali chorando daquele jeito, se incomodava muito com o fato de que ele ficaria interrogando-a e talvez a tratasse com indiferença. — O que foi? Abre a porta! Foi algo com seus pais? — Não, só... me deixa sozinha por favor. — Abre a porta, você está chorando? Angelina se ergueu e saiu da cama respirando fundo mais uma vez, ela foi até a porta e a abriu pensando bem sobre como deveria falar aquilo para ele. — Eu sei que estamos transando e sei muito bem que isso não é algo sério, mas eu não sou uma prostituta sem valor. Augustus ficou ali parado com o celular na mão olhando para ela, espantado. — Eu não gostei do que disse há pouco sobre eu ser uma puta, não gosto que me trate assim, eu nunca precisei me prostituir para ter nada na minha vida. — Eu não quis dizer nesse sentido. — Você quis dizer nesse sentido sim. — Para mim, puta é uma mulher que me dá prazer na cama e não se importa com nada além do nosso prazer. — Não faz sentido, mas ok, eu não gostei. — Já entendi que não gostou, não sei para quê tanta frescura, ou vai ficar bancando a puritana? — Não, claro que não. — Você está fazendo uma tempestade em um copo de água. — Só porque eu disse que isso não me agradou Augustus? Poxa! Ser questionado era algo que o irritava, admitir que estava errado era algo que ele não parecia ter costume de fazer porque era orgulhoso e ela já havia percebido aquilo, contudo ela também tinha seu próprio orgulho. — Eu sinto muito sobre isso, me desculpe, algo mais que queira reivindicar? — Não. Angelina segurou a maçaneta da porta e logo em seguida ela a fechou. — É Sério isso? — berrou ele do outro lado da porta. — Porra Angie, eu já me desculpei, o que mais quer que eu fale? Ela limpou as faces tão estressada, irritada, foi a forma como ele colocou tudo que a deixou naquele estado de nervos. A mão dela segurou a maçaneta novamente então Angelina abriu a porta de novo, ela o encarou de cabeça erguida. — Sou tão puta que não dei para nenhum idiota além daquele seu irmão inútil e agora depois de ter dado para você chego à conclusão de que se eu depender dos homens dessa cidade para virar uma puta, eu vou morrer sem transar direito pelo resto dos dias da minha vida. Ele ficou calado encarando-a. Angelina fungou, depois ela segurou a maçaneta novamente. — Por favor não me incomode, você me cedeu estadia aqui, disse que é meu amigo, portanto seja mais meu amigo nestes dias, não seja só um homem com quem eu transo. — Eu sinto muito por isso, não vai se repetir. — Obrigada, vou descansar um pouco, depois eu como. — Angie... — Até mais. Então ela fechou a porta e passou a tranca, depois desligou as luzes e foi para a cama dizendo para si mesma que por mais que tentasse ainda havia aquela insegurança dentro dela, Angelina não havia superado um bocado de coisa. Agora ela estava em dúvida em relação ao que estava fazendo ali. Deveria ir embora? Augustus olhou para o teto do quarto e refletiu um pouco sobre aquilo, se sentia mal, basicamente um inescrupuloso e era algo que ele sabia que não deveria sentir, porque no fundo se apegar aquilo era besteira. Fechou os olhos e mais uma vez recordou-se do que fizeram naquela manhã, do prazer que compartilharam, ele simplesmente ele queria a mulher mais do que tudo, como um bicho primitivo que ansiava por carne. Foi uma manhã deliciosa de sexo, como há muito tempo não tinha, em sua mente era nítido que perdia um pouco do controle que lhe restava, ele a atacava, a penetrava com tanta força, que se fazia ouvir os seus gritos em milhares de metros, ecoando no apartamento. Ela cedia, cedia, até que ele a preenchesse por completo e aquilo o fez mais uma vez se excitar ao recordar-se de que a segurou pelos quadris e a observou toda aberta para ele, que ela possuía um calor tão intenso que fazia ela querer jorrar dentro dela. Nada nunca foi daquela forma para ele. Estava tão excitado que o seu membro doía, estava rijo penetrando a cavidade úmida e trêmula da carne dela. Enfiou a mão dentro da cueca e respirou fundo ao perceber que se masturbava, mais uma vez lutou contra tudo aquilo e tirou a mão da cueca. Porque não deveria ser daquele jeito. Machucou ela e lutar contra os instintos era complexo demais até para ele, sentia-se um humano sem valor e totalmente desprovido de raciocínio quando estavam naquela cama e sabia que estava tratando-a de da mesma forma como tratou todas as outras. Era errado? A desejava, mas não poderia haver depois. Contudo, colocá-la naquela posição em que Angelina chorava era algo do qual ele não queria, ele não queria machucá-la e nem queria descontar nela a dor da frustração que sentiu, da impotência, respirou fundo e lembrou do que houve naquela manhã, de como foi triste reconhecer um corpo, ter que abri-lo e retirar dele algo quase sem vida. A mulher ensanguentada e já falecida naquela maca não era uma total desconhecida, o marido dela morreu na hora do acidente e as crianças sofreram algumas lesões mais leves, se questionou sobre quantas vezes aconselhou vítimas de trânsito a usar o cinto e a não usar o celular ao dirigir, mas era algo que realmente não parecia surtir efeitos. Sua excitação foi embora e aquilo deu lugar a aquele incomodo estranho que sentia em lembrar de Sam, de todas as coisas que viveram juntos, era só um garoto com tantos sonhos, um dia quis formar uma família e ter uma casa no interior de Tulum, mas o pai dela era rico, nunca aceitou que ficassem juntos, com ela ele teve suas primeiras experiências sexuais, era tão inocente e tolo de achar que ela realmente o levaria a sério ao ponto de pedi-la em casamento, de ir até uma capela na capital e ficar ali esperando que ela aparecesse para concretizar o que haviam iniciado. Ficou plantado num altar esperando alguém que não foi revê-lo até o dia de hoje. Pensou. E ela não o viu, ela estava sem batimentos cardíacos quando entrou na sala de cirurgia, um cardiologista de plantão tentando reanimá-la enquanto ele estava fazendo uma incisão nela, para tirar de dentro dela um bebê que precisava muito viver, ele estava sem respirar quando Augustus conseguiu retirá-lo, então ele o reanimou se recusando a deixá-lo ir também e quando o menino respirou sentiu-se aliviado. Mas já era tarde demais para Sam. Ela morreu. Ele a observou ensanguentada naquela maca, suja, osso da perna exposto com uma tala mantendo o joelho imobilizado, os cabelos loiros cobertos por folhagem, as unhas das mãos cheias de sujeira, o carro deles capotou em alguma estrada próxima a Santa Fé, a cidade fora a mais próxima da qual puderam trazê-los. Respirou fundo e saiu da cama, bastante inquieto, era algo do qual não acontecia com frequência, mas os últimos acontecimentos estavam tirando qualquer chance de tranquilidade de mantê-lo são. Ele não queria ter tido uma noite tão ruim, com perdas significativas tão pouco pessoais, sabia que era parte da profissão, porém nunca se imaginou naquele papel. Saiu do quarto e viu-se diante da porta de um dos quartos do apartamento onde morava, tocou a porta e disse para si mesmo que não iria mais dizer coisas para machucá-la, mesmo que não fizesse ideia de que ela se ferisse com quaisquer coisas do tipo, começou a perceber que Angelina não era exatamente como pensava. E mais uma vez quebrou a cara. Bateu na porta por duas vezes e ficou nervoso em ouvir os passos dela, já havia anoitecido, ela não queria ver ele e era compreensível, porém não era saudável que ficasse muito tempo sem comer, sentia que deveria descansar, contudo, não conseguia relaxar, rolou diversas vezes na cama pensando sobre o que ela disse em relação ao sexo. Não gostava daquilo. — O que quer? E ela estava diante dele com a porta aberta, usava um short jeans e uma blusa de mangas, toda séria, sabia que intimamente magoada pelas palavras dele. — Quer comer alguma coisa? — Não, estou sem fome. — Não é saudável que fique sem se alimentar Angelina, já são quase 20:00. — Muitas coisas não são saudáveis para mim. — Sinto muito pelo que disse e a forma que disse, não tenho o hábito de ficar enfeitando as minhas relações casuais com romantismo. — Não esperava por nada do tipo, mas ser chamada de prostituta não é bem o que se espera ouvir de alguém que você admira. Ele se sentiu profundamente mal. — Me desculpe. — Tudo bem. Olhou no fundo dos olhos dela e estendeu a mão, ele tocou a face dela, havia muito nela a oferecer sempre, mas não sabia se poderia ser recíproco, a vida dele foi virada de cabeça para baixo e ele tinha muitos conceitos rasos sobre como lidar com mulheres, amou alguém uma vez e foi abandonado, naquela manhã aquele alguém estava morta, era difícil. — Minha ex noiva faleceu hoje cedo diante dos meus olhos, isso não é culpa sua, eu sinto muito que tenha sido frio e maldoso com as minhas intenções em relação a você, eu não estava bem e não gosto de ser emocionalmente exposto, só quis dizer que eu não quero que você fique machucada por eu não querer nada sério. — Sou adulta... — Sei que é Angie, mas também tem um coração, não quero te ver triste por minha culpa, sei que não mereço. — Não se acha merecedor de estar comigo? — Não mereço ser amado por você. Ela mordeu o lábio, tremia bastante, ele sabia que ela estava indecisa e incerta, também exposta, mas era algo do qual já não sabia se funcionaria, na cama eram ótimos, nunca pensou no depois porque não deveria haver depois para eles. — Não quero que se apaixone por mim, não quero que tenha chance alguma de que isso aconteça porque eu não sou bom em relacionamentos, você está aqui há dois dias e basicamente já chorou diversas vezes. — Eu sinto muito que pense algo tão triste sobre si mesmo, você tem me oferecido algo que ninguém da minha família me ofereceu, seu tempo, sua paciência e sua atenção, ainda que às vezes seja esse animal mal-amado que fala coisas sem sentido. — Acho que não posso me encaixar em nenhum sentido da sua vida, eu omiti coisas sobre mim e sua irmã e te tratei de forma desrespeitosa, eu sinto muito, eu não consigo imaginar o que poderia te levar a enxergar em mim qualquer coisa além do lixo que eu tenho sido com você. Angelina ficou calada, ele acariciou sua bochecha com carinho, nunca teve intenção alguma de machucar ela, nem de causar mal a ela, ele só não queria que Angelina criasse expectativas porque sabia justamente que não havia nada nele que poderia oferecer. — Tem razão Augustus, você é muito melhor sendo meu amigo do que meu amante. Era péssimo ouvir aquilo. — Não dá para ser os dois, porquê você está sempre preocupado demais com algo que não vai acontecer, tem medo de se entregar a mim na mesma proporção que eu me entreguei a você e isso é desleal com a mulher que eu sou, é desleal comigo, mereço mais do que ser tratada da forma que me tratou e do jeito que falou comigo, não tem a ver com o fato de que você possa me decepcionar, nem com a Dora, nem com a sua família, mas sim com o fato de que você não se permitiu viver isso comigo sem pensar que amanhã tudo isso poderia ter valido apena. — Sim. Ela segurou sua mão e observou as mãos deles juntas, Augustus nunca se sentiu tão desolado em toda a sua vida, até de certa forma com medo. Um medo avassalador e intenso. — Eu vou embora amanhã, estou avisando, não tente me impedir nem interferir, este lugar está me adoecendo, as pessoas estão fazendo com que eu fique deprimida. — Fiz isso a você. — Não, eu fiz isso a mim mesma quando decidi ficar, eu deveria ter ido logo que descobri sobre o Brad. — Você nunca vai encontrar paz fugindo Angie, não adianta viver longe se isso te persegue, sei que está machucada com o que o meu irmão fez, mas não vai adiantar muito se sentir assim. — Tem razão. Ela soltou a mão dele e lhe deu um sorriso. — Sou covarde — Angelina disse com tristeza —, mas não tanto quanto você. Então ela recuou dois passos e fechou a porta do quarto, Augustus ficou olhando para a porta totalmente paralisado, negou com a cabeça e algumas lágrimas começaram a cair, lágrimas de dor e medo. Sabia que não a veria mais. E aquilo doía muito, machucava. Merda, o que fez? A porta do quarto dele estava fechada. Angelina sentia-se cansada demais para tentar puxar alguma conversa ou ao menos se prestar ao papel de se despedir, ela não estava chorando, mas sentia-se mal por ter que ir embora sem poder dizer para Augustus que tinha que ir. Não era fã de despedidas. Sentiu a vibração do celular no bolso da calça e se afastou respirando fundo, tinha nitidamente dentro de si a certeza de que dali em diante talvez não o visse tão cedo, se o visse seria mais por uma formalidade, não passariam de dois estranhos. A verdade era que estava exausta emocionalmente. Foi até Santa Fé para ficar com a família e quase não ficou, aconteceram tantas coisas em apenas uma semana que teve que tomar a decisão de partir, não poderia ficar para ver a sobrinha nascer, talvez quando tudo estivesse calmo Gloria a deixasse vê-la por chamada de vídeo. Quem saberia? Era tudo tão imprevisível. No final das contas se envolveu com outro Thompson, um que era menos ruim do que o primeiro, mas que possuía em si a mesma essência, alguém que mostrou para ela um lado natural e intenso de viver, mas que a tratou como ela não merecia. Sentiu como se houvesse corrido uma maratona em poucos dias. Não deveria ficar mais ali, o melhor a fazer era ir. Viu-se fechando a porta do apartamento de Augustus, dizendo para si mesma mais uma vez que não poderia chorar porque era o momento de voltar para sua vida, deixar a aventura de lado e cair na real, porque estar numa cama com ele era maravilhoso, mas só era aquilo. Fora da cama ele disse que nada poderia haver entre eles, chamou-a de puta, ele agiu como Brad agiu com ela e não pelo sexo, mas pela forma como ele a via e por mais que ele se explicasse e dissesse que não havia intenção alguma por trás de suas palavras, sabia que já estava feito. Marc a esperava dentro de seu carro diante do prédio onde Augustus morava, o motorista abriu a porta para que ela entrasse e ela não olhou para trás, as malas já haviam sido levadas para o jatinho, dali eles partiriam para a Grécia, anteciparia seus próximos trabalhos porque sabia que se ficasse parada iria surtar. — Angie, tudo bem? — Sim. O carro se afastava do prédio, ela olhava para frente fixamente. — Quer passar na casa da Amber para se despedir? — Melhor não. — Angie... — Marc, não! — Ok. Talvez se passassem ela desistisse de ir, ela ficasse arrasada, ela pensasse melhor e cedesse porque sabia que Amber tentaria convencê-la a ficar em Santa Fé, por aquele motivo ela nem pediu que a amiga levasse as malas para ela, pediu a Marc que pegasse as malas na casa de seus pais juntamente com as meninas, amava a amiga de infância contudo naquele momento não estava pronta para nada daquilo. Foi um erro enorme voltar, mas um ainda maior pensar que poderia ficar diante de todas as coisas que aconteceram. Se afastar era a melhor opção. — Você ficará bem bebê. Marc passou o braço envolta dela e a abraçou, Angelina se encostou nele respirando fundo, as lágrimas caindo, por tudo o que houve, por não se sentir forte e capaz de encarar todas aquelas situações de perto, doía pensar que foi até ali para tentar se aproximar da família, para poder visitar a lápide da filha, mas ela não conseguiu. Era fraca, era covarde e estava cansada. Então ela foi embora. — Você não parece bem! Angelina olhou para Marc e deu um meio sorriso. Ela sabia não estava bem. Desde que retornou da temporada na Grécia, ela se sentia mal e as dores de cabeça só vinham aumentando e aumentando, culpava o estresse, mas sabia lá no fundo que não era isso. Ela estava também deprimida e triste, e ultimamente só uma coisa lhe vinha em mente: Augustus. Era tão injusto que se sentisse daquela forma que sempre que ele lhe vinha à mente, ela o afastava e mergulhava de cabeça no trabalho. Recordou-se da última vez que o viu, dos poucos momentos que compartilharam e aquela sensação estranha lhe tomou a boca do estômago, não houve despedidas, ela não esperou o dia amanhecer e deixou o apartamento dele, viu seus sentimentos destruídos por mais alguém daquela família, deixou-o para trás com o seu coração em migalhas e de novo com o orgulho no chão. E mais uma vez saiu de Santa Fé sem olhar para trás. Ela viu o nascimento da sobrinha por vídeo chamada, felizmente acima de toda e qualquer mágoa, Dora e marcou com ela para que assistisse já que ela mesma acompanhou o parto de Gloria, Brad não estava lá, contudo não foi algo do qual quis pensar no momento. Ficou tão feliz em ver a irmã trazendo aquela pequena vida ao mundo que chorou bastante, Gloria estava chorosa e feliz em segurar sua primeira filha e não se recordou de ter se sentido tão bem nos últimos anos quanto fora ver sua primeira sobrinha nascer. Ela queria ter ficado lá para ver de perto, contudo não era algo possível. Não sabia de nada sobre o casamento de Gloria, tinha cerca de um mês que Isabella nascera, decidiu que não iria mais lidar com questões que envolvessem os Thompson porque aquilo iria lhe demandar energia e ela estava cansada quando voltou da semana de “férias” mais intensa que teve na vida. Apesar de tudo, ter se afastado durante aquelas semanas havia feito Angelina sentir-se mais preparada para lidar com questões que há algum tempo a deixavam emocionalmente exposta e cansada, depois que abandonou Santa Fé foi como se a antiga paz retornasse ou alívio. Não importava. Embarcou em uma viagem de trabalho e ficou durante um mês na Grécia, quatro semanas trabalhando incessantemente, teve uma campanha de perfume para fazer e mais algumas sessões de fotos para um catálogo de jeans, não foi a primeira vez que esteve nas Ilhas Gregas, contudo tudo havia perdido um pouco da cor de antes, em alguns momentos do dia Angelina estava trabalhando e enfiando a cara em sua rotina, mas a noite quando deitava-se na cama para dormir, vinham aqueles pensamentos ruins que deixavam ela vazia e que não deixavam ela dormir direito. A vida continuava com ou sem sua família por perto, com ou sem Augustus, com ou sem Bambi, com ou sem os Thompsons, mas agora era mais difícil para ela fingir que nada havia acontecido, chegou em casa na tarde anterior, Marc a acompanhou em todas as viagens, mas não fez perguntas difíceis, ele percebeu que ela não estava bem para falar então engoliu a curiosidade e só deu apoio para ela. Foi melhor daquela forma. Sabia que não era culpada de nada. Ela não precisava ficar por diversos motivos e um deles era o fato de que nunca houve motivos profundos para reestabelecer laços em Santa Fé, ficou lá por seis dias e cada dia se mostrou algo bom e em outros momentos ruins, pode rever seus pais, suas irmãs, sua melhor amiga e fazer um novo amigo, mas também transou com ele, brigou com suas irmãs e sentia que havia falhado em tentar se aproximar de Amber. Deixou tudo ainda pior ainda que não estivesse se sentindo mal por aquilo exatamente. Conversou com Amber durante algumas vezes durante aquelas quatro semanas, trocaram mensagens de voz e texto, mas a amiga realmente ficou magoada porque ela não se despediu, Angelina não se arrependia de ter ido embora se ter dado um adeus para todas aquelas pessoas, mas é que tudo estava tão complicado que voltar a casa dos pais para se despedir só pareceria dar a eles mais motivos para começarem novos dramas familiares, para Gloria começar a chorar e pedir desculpas, para Dora continuar a olha-la com desprezo e raiva, para Bambi pedir que ela ficasse por mais tempo porque era sua única e melhor amiga. A verdade era que as pessoas que a cercaram boa parte de sua vida no passado pediam dela coisas que não poderia oferecer, a única pessoa que se privou de pedir era consciente o suficiente para não fazer promessas, para não machucar Angelina e a descaso do que sua consciência a dizia sabia que foi melhor daquela forma. Se entregaram um ao outro, foi apenas de momento, mas acabou. Ele deixou claro as intenções e foi a melhor coisa que ele poderia ter feito por ela. — Bebê eu estou falando com você! — chamou Marc, incomodado. — Como? E Marc a olhou de forma severa e maldosa, Angelina desviou o olhar, ele havia chegado em seu apartamento com o café da manhã dela, China deixou as refeições prontas para aquele dia na noite anterior, tanto ela quanto Jorgia acompanharam Angelina naquela viagem, foi cansativa, por fim deu folga para ambas naquela semana, ela sabia também que precisava descansar um pouco. — Têm dias que você está assim, querida, você quer falar alguma coisa? — Quer que eu fale algo que quer ouvir ou algo que vai te deixar furioso? Marc respirou fundo. Ele estendeu as mãos e segurou as delas em cima dela mesa unindo-as. — Ele não vale a pena. — Marc disse secamente —, mas deu para ele e gostou da giromba dele, então, se é o que deseja por que não o procura e não fala a verdade, querida? De alguma forma aquilo a fez ficar vermelha. — Angie, você não está focada, está cansada, suas férias não foram bem investidas, você está esgotada. — Estou bem, Marc. — Você não está bem, se estivesse bem com certeza não pareceria tão triste quando acabamos o trabalho, o que ele fez? — Ele falou o que queria e eu paguei para ver, eu não sei o porquê estou assim, mas acho que se leva um tempo para sarar de uma decepção. — Ele a machucou? — Não, eu só me sinto mal pela forma como deixei as coisas acontecerem, perdi o controle da situação e sei que não deveria ter me dado ao luxo, também não estou bem por conta dos meus pais. — Sua família não te merece. — Acho que sobre isso em relação a mentira sim, mas isso nem é algo que me importe. — Gloria já voltou para o embuste. Aquilo se quer incomodava Angelina como há um mês. — Amber me disse e não quero que pense que eu estou falando isso para que você se sinta persuadida a não voltar para lá, eu só estou tentando dizer que eles todos prosseguiram e a única que ainda parece mal resolvida com toda essa questão é você. — Porque eu sou mal resolvida com tudo isso, eu nunca consegui perdoar os Thompson’s por tudo o que me fizeram. — Mas com o médico isso parece ser diferente. — Ele não mentiu para mim Marc, ele me ouviu, ele se importou comigo e experimentar viver esses momentos com ele foi algo que me deixou feliz como eu nunca me senti antes. — Ama ele? Ela o fitava, não havia indecisão dentro dela, mas apenas dúvidas e mais dúvidas. — Não sei o que é amar um homem de verdade, eu não me imagino com o Augustus, mas gostaria que ele voltasse a ser para mim o que tentou ser quando começamos a sair, ele é melhor como amigo do que como amante. — Se isso fosse verdade, você estaria bem mais feliz. — Não é isso Marc, é que eu cheguei à conclusão de que voltei para a casa dos meus pais e saí de lá com mais problemas do que quando vim para cá. — Não teve culpa Angie, em relação a nada. — Eu sei. Marc sorriu para ela, mas Angelina estava com lágrimas nos olhos, com vergonha vendo seu único amigo que tinha há anos olhando-a com os olhos também marejados por lágrimas, passaram por tantos bocados juntos e ainda sim ela sequer teve coragem de conversar profundamente com ele sobre aquilo, talvez porque soubesse que Marc não iria julgá-la, mas que ele diria para ela coisas que não gostaria de ouvir. — Você não acha que deve voltar e tentar se resolver com isso? Com a sua dor e com a sua filha? — Queria ter ido no túmulo dela, mas não foi algo do qual eu quis encarar tão de perto. — Ignorou a sua dor e aconteceu tudo aquilo com a sua irmã, isso só te fez mal. — Não planejei nada do que houve. — Você sabe que a única controladora aqui sou eu né bebê? Ela sorriu com esforço, a verdade é que há um mês basicamente tinha tanta certeza de muitas coisas, agora não sabia como as coisas poderiam funcionar direito depois de tudo. — Angie precisa se resolver com seu passado. — Augustus disse que eu fujo muito do que houve. — E ele está fugindo de você. — Eu quem fui embora. — Porque ele não quis assumir que estava interessado em você. — Chamei ele de medroso. — Acho que precisa voltar lá e encarar os fatos, conhecer sua sobrinha, conversar com seus pais e irmãs, mas não acho que deva se desculpar com a Dora, ela tentou te expor te mandando indiretas. — Não foi certo de toda forma, mas não sei nem por onde começar. — Comece pela Dayse. Encarou seu agente, amigo de anos e parceiro de negócios, ao mesmo tempo que sorriu se encheu de afeto pelo pequeno e doce nome. — Ela iria amar ter um nome não acha? — Sim. Os olhos de Marc se enchiam de lágrimas também. — Eu como madrinha adoraria ir até lá e visitá-la, ou como madrasta, enfim, podemos fazer isso juntas. — Eu adoraria. Ela suspirou e respirou fundo se decidindo. — Não avisarei que retornarei à cidade, vou primeiro ver a lápide da minha filha e depois vou até a casa dos meus pais, não me sentirei bem enquanto não me resolver e conversar com eles, depois eu falo com a Gloria, não sinto que deva nada aos Thompson. — E não deve, está pronta para voltar? — Ainda não, mas, bem, quando eu estarei? Marc a encarou de soslaio balançando a cabeça para os lados feito uma cobra fofoqueira. — E quanto ao Girombudo? — Eu não sei, mas não vou me sentir na obrigação de ir atrás dele, ele deixou claro o que queria e eu também, aconteceu, mas acabou. — Está segura disso? — Disso sim. Absolutamente. — Eu detesto cemitérios. Angelina também não gostava, mas ali estava ela procurando a lápide onde a filha recém-nascida foi enterrada e ali estava ela, no Cemitério Fairview, recordou-se que infelizmente não houve velório nem oportunidade de despedida, a verdade foi que após o parto ela ficou internada dias devido a perda considerável de sangue, teve eclampse e isso a prejudicou muito na época. Quando recebeu a notícia entrou em choque e teve que ser sedada, era apenas uma adolescente que agarrou aquela gravidez como uma oportunidade de poder ter uma nova chance de vida, talvez pelo fato de sentir que só tinha o bebê na barriga ela tenha se apegado tanto a ele. Na época os pais não tinham seguro nem convênio médico, por aquele motivo ela fez todo acompanhamento as custas do governo, de uma ajuda que o pai recebeu depois de ter declarado que não tinha condições de bancar os gastos com hospital, foi um momento difícil também para os pais dela, porque tiveram os gastos dos dias de internação e da cesariana de emergência, por aquele motivo tão logo ela ganhou alta começou a procurar emprego, graças a amiga de sua mãe na época conseguiu ir para Nova York e iniciar uma nova vida. No começo quando se mudou com a promessa de emprego em Nova York ela mandava alguns dólares para os pais para ajudar na despesa da casa, até conhecer Marc e ter sua vida completamente mudada, foi uma jornada com começo bem complicado, mas que engrandeceu muito ela. Respirava fundo, Marc foi tão meticuloso que para não levantar suspeitas, não permitiu que ninguém além deles dois viessem para Santa Fé, chegaram naquela manhã e Angelina decidiu que precisava ir logo ao cemitério, eles haviam se hospedado House Of Three Moons, um bom hotel e que ela sabia que não iriam levantar quaisquer suspeitas. — E esse calor? Não havia do que discordar. Já passava das 15:30, Marc usava um terno preto e calça social, Angelina vestiu roupas mais simples e sapatos baixos, buscou ser o máximo discreta nas roupas que escolheu, um conjunto composto por uma saia lápis cumprida e uma blusa de mangas de cor preta, ela colocou um chapéu na cabeça e não se maquiou. Marc pediu flores quando chegaram ao hotel, ela tomou um longo banho pensando em pedir que ele procurasse alguma empresa para lapidar o nome da filha no túmulo, o bebê foi sepultado no túmulo da família dos seus avós Gema e Robbie, então não era algo muito difícil de se localizar. Ela talvez só estivesse estressada porque não andava conseguindo dormir direito durante aqueles dias, estava cansada das viagens que fez e não conseguia comer direito. Hesitou ao encontrar o túmulo da família paterna, Marc ficou parado ao lado dela secando a testa suada com um lenço de pano de cor branca, ela se aproximou da lápide e se inclinou, colocou o buquê de flores ali e achou um pouco daquela vontade enorme que sentiu quando sua barriga começou a crescer. Havia tantos sinais de que ela crescia dentro de Angelina que ela mal conseguia deixar de sorrir quando se lembrou. Ficou ali sentindo-se encantada com a sensação de lembrar que um dia ficou grávida, que carregou aquele bebê dentro de si e que o amou de uma forma tão imensa que mal soube descrever e talvez seu único erro na vida fora ter colocado em sua lembrança o fato de que odiava a família do pai dela com todas as forças. Por isso ela quis esquecê-la bem como seu passado. Aquilo não foi possível, apesar da lembrança ainda permanecer vaga dentro dela por anos evitou se sentir mal com a sensação de perda da filha, um bebê que ela nem chegou a ver direito, que foi tirado dela às pressas porque precisava de auxílio médico. Marc se abaixou e ficou ao lado dela apoiado nos tornozelos, colocou seu buquê de flores ali também, lhe dando apoio, por mais que ela não sentisse que precisava sentia que era importante ter alguém ali com ela. Era triste pensar que os pais não tinham tanta empatia com ela, perceber a ingratidão da irmã também era complicado, mas só naquele dia decidiu não pensar na família, não foi ali esperando que eles a entendessem nem que a perdoassem por nada, sabia que cometeu um erro em retornar a Santa Fé sem se permitir saber separar as coisas, mas não se culpava tão duramente ao ponto de isentar os pais de serem tão omissos e permissivos quanto a situação. Chorou por momentos extensos, olhando para a lápide e se permitindo deixar a dor sair, sentiu o braço de Marc envolta dela e abraçou as pernas um pouco desolada, o calor dos braços dele eram incomuns e familiares ao mesmo tempo, tocou o antebraço dele e ergueu o olhar tão grata ao amigo por aquilo. Mas algo estava errado. Marc não estava ali abraçando ela, Marc estava em pé a sua esquerda se abanando com um leque de cor azul escura, ele suspirava com pesar, Angelina olhou para o homem que a abraçava de forma humana, acolhedora e gentil, ela sentiu dentro de suas entranhas o cheiro dele lhe causar uma estranha sensação de repulsa. Ela se inclinou empurrando-o para longe e vomitou na grama. Augustus se inclinou na direção dela de imediato, mas tudo começou a girar e girar, e então Angelina estava ali sentindo as forças do corpo sumirem, ela apertou os olhos e tudo ficou de repente escuro. Ela desmaiou. — Como ela está? Augustus olhou para os resultados dos exames de sangue, Marc estava ali ao lado dos pais aflitos de Angelina, os três esperavam por notícias dela desde que ele e o empresário dela correram com ela para o hospital, os exames eram claros, ainda que o deixassem de cabelo em pé. Passou a mão na barba por fazer. Não sabia bem como lidar com aquilo, contudo ele não queria — e nem iria — se dar ao trabalho de se desgastar ainda mais com toda aquela situação. — Grávida! — Caralho. — Marc berrou em pânico. Ele gostaria que Marc soubesse que quando viu os resultados do exame de BHCG que fizeram nela há algumas horas, também soltou alguns palavrões mentalmente, nada que assustasse tanto as pessoas, só quis mandar tudo se foder e ficou repetindo a palavra “porra” várias vezes para si mesmo. — Algo contra? — questionou um tanto irritado com a reação dele. — Eu não vou te dirigir a palavra. — Marc apontou o dedo para ele totalmente descontrolado. Não era algo que desconfiasse, mas Augustus ficou ali parado vendo aquele homem desmunhecado pegar o celular e começar a fazer ligações. Falava coisas necessárias com Marc, inclusive sabia que graças a ele tinha a oportunidade de ter Angelina ali mais uma vez bem perto, mas francamente? Ele tinha algo a ver com a gravidez dela? — Eu não queria que isso acontecesse também, mas já aconteceu, eu sou responsável pela situação e acredito que essa não é uma decisão sua. — Para que conste rapazinho, eu não tenho medo de você, mas você sabe muito bem que eu jamais a colocaria nessa posição, só estou preocupado com o bem-estar dela porque a primeira gravidez dela foi complicada. — Ela não vai perder esse bebê. Não quis pensar naquilo, teve perdas consideráveis há apenas um mês, mas era extremo que se sentisse mal em pensar que ela ou um bebê dentro dela se machucassem, seu estômago deu uma volta deixando-o um bastante nervoso com a hipótese, pois ele sabia muito bem que aquele bebê era seu e precisava se acostumar com a ideia. Claro que se acostumaria, como não? Ele iria ser pai! Se não fosse ele, algum outro sortudo seria, porém, ele sabia lá no fundo, no fundo que não haveria outro sortudo além dele, era dele. — Ela nunca falou de um namorado, será que é alguém das viagens dela? — Cecilia perguntou parecendo apenas chocada. — Sou eu! Apenas não queria mentir nem omitir nada de novo e não se sentiu culpado por aquilo, como se sentir culpado por dizer a verdade aos pais dela em relação a uma gravidez? Ele não sentia um pingo de culpa por nada que fez, bom, talvez por uma coisa, mas não era algo que eles precisavam saber. — Oh, graças a Deus — Cecilia foi ao encontro da filha parecendo aliviada com aquilo. — Como se sente, Angie? Angelina entrava na recepção com o semblante abatido, os cabelos estavam presos por um coque malfeito e ela estava sem os sapatos, ela se quer olhou na cara dele, aquilo o afetou. — Grávida! — Angelina estava irritada com aquilo. — Eu soube há pouco pela enfermeira, é claro. Sinto muito por isso, mamãe e papai, Marc melhor ir para o hotel. Marc se aproximou dela e aquilo não agradou Augustus, apesar de tudo não gostava da ideia de que ele a tocasse demais, entendia que ele cuidava dela, mas não lhe apetecia do fato do agente ser mais próximo dela do que ele próprio. — Não pode ir para um hotel, eu sou o médico responsável por você — alegou impedindo que ela assinasse a alta na recepção. — Tem que ficar em observação por essa noite. — Eu tenho que ir para o hotel. — Ela disse friamente. — Não vai embora se tiver um aborto até o final da noite, portanto volte para o quarto e coloque as roupas do hospital, vou pedir que alguma enfermeira coloque você na intravenosa — aconselhou mais do que sério, apavorado com aquilo, mas ela precisava estar ciente das consequências dos seus atos. — Posso ficar em outro hospital — alegou com veemência. — Angie talvez ele tenha razão — Marc alegou calmamente. — Eu tenho razão e você não vai para nenhum outro hospital, vai ficar aqui — determinou se aproximando dela. — Senhor e senhora Dias, podem deixar comigo, fiquem despreocupados, eu cuido dela. — E eu também. — Marc disse passando o braço envolta dela. Augustus respirou fundo engolindo a onda de ciúmes. — Querida se cuide — João disse mais do que sério. Ele viu os pais de Angelina se aproximarem dela e abraçarem-na com carinho, depois muito relutante ela se afastou deles e foi para o corredor onde ficavam os leitos, Marc foi com ela, Augustus os seguiu a certa distância observando o conjunto amarrotado que ela usava. Se desesperou por alguns instantes no cemitério. Quando Marc ligou e avisou que ela chegaria a cidade naquela tarde ele não pensou duas vezes antes de pedir troca de escala e ir até lá, Augustus sabia que Angelina precisaria de um ombro amigo ainda que acima de tudo ele não se sentisse tão amigo dela quanto como talvez ela merecesse. Ele não a merecia. Agora ela estava esperando um filho seu e ele sabia que não restavam tantas alternativas quanto quisesse. — Eu disse que sua falta de apetite e cansaço não eram normais. — Marc falou tão logo entraram no quarto. Angelina se sentou na cama e respirou fundo, ele analisou rapidamente a prancha onde jazia as informações sobre os exames de sangue dela, tão logo ingressaram no hospital ele mesmo solicitou a coleta, era o lugar onde ele trabalhava, então foi fácil tratar daquilo pessoalmente. Tentou manter a calma durante o percurso até o hospital porque ela desmaiou por duas vezes seguidas durante o trajeto, nada apavorou ele na vida do que a colocar em uma maca e ter que levá- la até aquele leito para exames, mas acompanhar de perto e vê-la ficar bem o aliviou em muito. — Eu estou bem, só um pouco enjoada, o calor também não ajudou. — Vai se sentir melhor depois de um banho. — Augustus se aproximou da cama — Precisa beber bastante água e se alimentar direito. — Eu não tenho sentido nada durante esse mês, não senti sintoma algum exceto a falta de apetite e cansaço. — Angelina se esticou na cama. Marc desabotoou a saia dela pela lateral e começou a ajudá-la a tirar a peça, Augustus apertou a prancheta com força odiando um pouco mais a situação. — Escuta machão, por que você não me ajuda aqui? — Marc pediu bastante ofendido. — Não acho adequado que vocês tendo essa liberdade toda — praguejou enquanto ia até o outro lado da cama para ajudá-lo a tirar a meia calça que ela vestia. — Acredite meu amor, da fruta que você gosta eu chupo até o talo. — Marc disse com a voz totalmente séria. Ele ficou paralisado por alguns instantes até uma vermelhidão incomum atingir suas faces, Angelina sorriu ainda que incomodada enquanto ele puxou a peça para baixo tirando do corpo dela com a ajuda de Marc. Marc evidentemente era homossexual e ele percebeu que estava sendo um grande idiota em tratá-lo daquela forma, porque afinal de contas ele era o braço direito de Angelina e se não fosse por ele talvez nem soubesse que ela estava ali hoje. — Eu vou pedir que tragam algo para você comer — Marc disse ainda todo sério e apontou para ambos — Consertem isso, os dois, preciso de um drink e de uma massagem. Logo em seguida ele começou a sair do quarto, Angelina respirou fundo e ele também, era consciente das consequências de seus atos, contudo não era algo que esperava logo de cara, disse para si mesmo que ir ao cemitério dar apoio a ela significaria dar algum tipo de esperança para ambos. Mas ao mesmo tempo ele não queria correr riscos, ele tinha medo. Ela tinha razão, ele era um covarde. Contudo e agora? O que deveria fazer? — Não deveria ter ido ao cemitério. — Por que não? Angelina o fitou, chateada porque sabia que dentro dela tudo se revirava de novo. Se sentia incerta sobre o presente e sobre o futuro, tinha medo de que aquele diagnóstico pudesse mudar sua vida para sempre, mas principalmente porque não queria que Augustus estivesse ali pensando que ela foi de alguma forma por causa dele. Ela não foi do mesmo jeito que ele sequer tentou saber dela durante aqueles dias longe. — Era um momento meu com a Dayse. — Escolheu um nome? — Marc a apadrinhou, gostei do nome. — Eu queria te ver e conversar com você. — Sobre... — Achei que houvesse entendido quando fui até lá que eu tenho interesse em você. — Interesse acaba. — Eu não consigo entender onde quer chegar com essa conversa, eu sei que está irritada por eu não ter ligado nem ido atrás de você essas semanas, mas você não sabe o quanto isso me custou. — Não deve ter custado nada — Ela disse mais séria. — Eu não te pedi nada. — Talvez eu queira pedir algo — reclamou ele severamente. — Posso? — E o que seria? — indagou. — Você na minha vida, seria um bom começo não acha? Ela respirou fundo e cruzou os braços, tinha um pouco de medo de qualquer proposta que viesse dele, uma vez já foi o suficiente, era estranho pensar que Augustus foi atrás dela no cemitério querendo conversar sobre algo sério, ele tinha deixado claro que não haveria nenhuma possibilidade de ficarem juntos, foi uma proposta boa inicialmente, mas ele fez parecer que repudiava qualquer coisa da qual pudesse surgir de uma relação além da sexual entre eles. — Você tem um autodesprezo imenso por relacionamentos Augustus — disse ela. — Isso me assusta. — Me assusta também e eu sinto muito que tenha te tratado daquela forma, me equivoquei. — ele olhou para o ventre dela rapidamente depois novamente a fitou — Como se sente? — Enjoada — deu de ombros tão incerta. — Pelo menos eu não estou sentindo tanta dor de cabeça. — Sua pressão estava muito alta quando chegou — os olhos azuis assumiram uma dureza instantânea. — Deveria se cuidar mais. Ela sabia daquilo. — Eu não sabia que estava grávida — negou a cabeça com veemência. — Eu não podia ter filhos. — Por que não? — Porque quando fiquei grávida da minha primeira filha, eu tive eclampsia e rupturas severas nas paredes do útero, perdi uma trompa e meu aparelho reprodutor não funcionava direito, fiquei alguns anos sem menstruar — explicou ela. — Isso significa cuidado em dobro. Havia um médico repreendendo-a ali, um médico arrogante e irritado e ela sabia que ele tinha muitos motivos para se preocupar. — Como se eu fosse uma criança! — Não é, mas carrega uma, todos ficamos preocupados — alegou ele. — Você pretende voltar, certo? Ela ficou em silêncio, um silêncio que perdurou minutos no quarto. A verdade era que ela não queria voltar para Santa Fé e parecia que ele queria que ela tomasse uma decisão às pressas sem pensar direito em todas as consequências daquilo para sua vida. Como se sua carreira não importasse tanto e somente a dele ou algo assim. — Eu preciso pensar nisso com calma Augustus. — Ela afirmou. — Preciso que entenda que eu não fiz de propósito e que não esperava engravidar nesse momento da minha vida, usamos camisinha. — Não estou bravo com você — disse, sincero. — Só fiquei assustado. — Podemos resolver isso, é claro, eu posso pensar sobre como farei diante dessa situação, mas preciso que entenda que no momento não tenho resposta para sua pergunta. Ele respirou fundo e depois se aproximou, estendeu a mão para total surpresa de Angelina e tocou a face dela. Seu coração acelerou rapidamente e mesmo que não quisesse aquilo fez bem para ela. — Respeito o que decidir, faça no seu tempo, mas não admito que nos afastemos, ok? — Não quero que fique por perto só por causa do bebê. — Eu não fui ao cemitério atrás do bebê, fui atrás de você, nunca me prestaria ao papel de colocar você nessa posição até porque eu sei que justamente por você merecer mais é que eu estou me dispondo a tentar algo com você. — Eu sinceramente não acredito nas suas intenções, só vim para resolver esses problemas com a minha família, eu fui embora e tudo ficou uma zona. — Eu sei, mas eu quero a chance de poder ter algo além com você. — Você não é mais meu amigo. — Eu sei disso. Ele se sentou na cama e segurou a mão dela, Angelina estava cansada acima de qualquer coisa, ela só queria que ele entendesse que algo estava quebrado entre eles e que talvez não conseguisse mais recompor, nem mesmo ela sabia definir o que sentia por Augustus. — Confie em mim, só dessa vez. — Você não quebrou minha confiança, gosto da sua honestidade, mas isso é algo que me deixa meio receosa. — Eu fico feliz de saber que você ainda confia em mim. — Olha Augustus tudo foi bem rápido e confuso, eu só não queria que você houvesse dito aquelas coisas para mim, foi a minha primeira vez com um homem desde o que aconteceu na minha vida. — Poderia ter me dito. — Não queria que você se achasse especial por eu ter escolhido transar com você. — Não me sentiria especial, mas teria feito tudo diferente. — Nem feito promessas. — Não faria promessas, mas seria mais cuidadoso, isso explica muitas coisas. Ela ficou envergonhada em lembrar do que aconteceu depois da primeira vez deles. — Precisava desse mês para colocar alguns pensamentos em ordem, conversei com Marc algumas vezes no mês para saber se você estava segura e bem, queria poder pensar mais sobre tomar decisões sem me precipitar, eu refleti muito sobre tudo o que houve antes de ir ao cemitério para conversarmos. — Você é frio às vezes Augustus. — Não sou frio, eu tenho problemas bem sérios em confiar nas pessoas, eu já fui abandonado no altar uma vez, depois disso não consegui ver as mulheres da mesma forma, por isso é difícil pensar em relacionamentos há longo prazo. Ela sabia do relacionamento dele por alto, mas ouvir ele falando aquilo de forma tão séria era impactante para ela. — Fiquei traumatizado e prometi para mim mesmo que nunca mais confiaria em ninguém, não estava nos meus planos me envolver com você ou algo do tipo, mas aconteceu e eu estou entendendo melhor a sua posição na minha vida, sinto muito se eu te tratei da forma que não merecia. — Parece que você só me deseja ou algo assim, não quero que me queira só pela minha aparência. — Eu não te quero só por conta disso, você é uma ótima companhia, é gentil e simpática, humilde, há mais qualidades em você do que eu possa reconhecer em qualquer pessoa que já tenha passado pela minha vida, eu nunca deixaria meu coração para alguém do qual só quisesse sexo. Angelina olhou para as mãos juntas e quis chorar. — Me perdoe por ter te tratado mal. — Não fui fácil e nem agi como uma prostituta, me senti mal porque me lembrei do que o Brad disse e ouvir você me chamando de puta me fez lembrar do que ele disse à mesa sobre eu ter aberto as pernas para ele naquele dia na casa dos meus pais. — Pode ter certeza de que isso nem se passou pela minha cabeça. — Se houvesse se passado esse não seria um problema meu, mas me machuca que ele tenha me tratado com tanto descaso e dito aquelas coisas que eu não merecia ouvir, eu não posso ditar a forma que deve me ver Augustus, mas com certeza não aceito que me veja assim. — Acho que não é bom para o nosso relacionamento que estejamos perto da minha família. — Temos um relacionamento? Não me lembro de ter ouvido algum pedido. — Você quer ser a minha namorada? — Não! Ele sorriu tranquilo, Angelina estava sendo sincera, ainda era um momento crítico e de confusão. — Quer ser minha noiva então? — Ainda não. Era tentador aceitar, mas não faria aquilo por impulso. — Ok, então o que seremos? — Não acho que precisamos de rótulos neste momento. — Está bem, mas você vem para o meu apartamento enquanto estiver na cidade? — Não ficarei tantos dias Augustus, só vim resolver essas pendências. — Tudo bem, e que dia você vai embora? — Em três dias. — Vou falar com o meu chefe e pedir um afastamento, irei com você, precisa de cuidados e faremos isso juntos, tudo bem? Escondeu sua surpresa em ouvir aquilo, mas decidiu que por hora era o mais justo. — Combinado. — E você vem para o meu apartamento amanhã quando eu te der alta. — Eu vou pensar bem sobre isso, as coisas não deram muito certo quando estive lá da última vez. — Agora, vão dar. Será? Augustus voltou para a emergência tentando focar nos pacientes, dedicando-se como fez durante aquele mês longe de Angelina, foi um mês longo e coberto por horas extras e de três horas de sono por dia, ele mal saía do hospital, temendo que se saísse, embarcaria no primeiro avião para qualquer parte do mundo onde ela estivesse. Teve notícias dela das viagens à Grécia, acompanhou através de Marc todos os passos dela, pediu que ele mantivesse segredo porque ainda não sentia como se estivesse pronto para qualquer ação. Escolheu o silêncio e a distância porque ainda parecia cedo, não era algo tão possível logo de cara, mas, droga, estava sofrendo longe dela e nada pareceu melhor do que saber que ela retornaria à cidade. Sofreu desde a última discussão deles, ela não estava ali e não quis fazer parte de nada porque afinal de contas não fez promessas e não pediu nada para ela, sabia que o único causador de tudo aquilo fora ele próprio, contudo não havia algo do qual pudesse se arrepender. Não poderia pedir nada antes porque ainda não sabia se poderia oferecer algo em troca, agora ele tinha plena certeza de que queria que ela fizesse parte de sua vida, estava concreto de que acima de qualquer coisa possuía dentro de si aquela vontade imensa de tê-la por perto. Cinco dias não pareceram o suficiente no começo, mas agora eram o bastante para ele ter certeza de que aquilo poderia durar para sempre, sabia que não estava cometendo erro algum em pedir uma chance para que ela ficasse em sua vida e era grato por ela ter aceitado. Sabia que talvez se fosse qualquer outra, não aceitaria. Não depois da forma que ele agiu nem do que disse, contudo sabia que sua natureza ainda era um pouco bruta, porque ele não foi criado como as pessoas de sua família, teve uma infância cercada de pobreza e miséria, trabalhou muito durante a adolescência para ajudar a mãe e dentro dela nunca houve muita competência para ensinar a ele como deveria tratar uma mulher. Talvez por aquele motivo Sam não tenha ido até o altar com ele. Não tinha tanta classe ou educação, era um homem direto e por muitas vezes ignorante, em outros momentos, calado, era bom no que fazia porque aprendeu a gostar muito da profissão, contudo não poderia dizer que era a pessoa mais fácil do mundo. Recordou-se mais uma vez da mulher que causou aquele estrago nele, porém se quer conseguiu se sentir mal. Samantha o abandonou e mostrou a pior face do amor ao colocá- lo diante de uma situação tão ridícula e constrangedora, foi ingênuo em acreditar que ela poderia querer algo mais sério com ele, bastante inocente em crer que ela, tão rica, iria querer se casar com um pé rapado como ele na época, aquilo o fez sofrer e se enfiar numa dor tão profunda que até o presente momento de sua vida não conseguia se recuperar. Via as mulheres de forma banal, priorizava só o sexo e mais nada desde então. Ele não queria, porém sabia que algumas apaixonaram por ele contudo por não fazer promessas tudo o que restou foi deixá-las para seguir com sua vida, sabia que com aquilo também causava dor e sofrimento a algumas pessoas, contudo ele nunca mentiu para nenhuma delas. Agora com Angelina... foi diferente. Pensou. A atração era óbvia, o desejo maior do que qualquer coisa que já sentiu na vida, tão forte que o seu corpo doía só de pensar que não poderia tê-la novamente, ele ainda a queria. Ela não era como nenhuma outra, ela não era como Samantha! E talvez tenha justamente se assustado por ver nela algo que sabia que não deveria ter, algo que não queria porque não achava que fosse algo que poderia priorizar na vida. Se enganou o quanto pôde até cair em si e perceber que não adiantaria mais evitar ou tentar evitar. Questionou-se no decorrer daquele mês sobre muitas coisas, mas principalmente uma dúvida pairava sob sua mente frequentemente: O que um médico em início de carreira poderia oferecer para uma mulher que tinha tudo? Não tinha nada a oferecer a ela, nada para dar, nem mesmo seu amor, como poderia ir atrás dela? Como poderia pedir que ela ficasse quando nem mesmo ele sabia do que sentia por ela? Também sabia que não iria privá-la de nada caso conseguisse vencer aquele medo idiota e ir atrás dela e agora ela carregava um filho dele no ventre, estava simplesmente ali bem perto dele dizendo que daria uma segunda chance para ele. Não quis pensar como poderia ser se ela fosse embora, mesmo sabendo que ela iria em algum momento, Augustus sentia-se pronto para poder dar aquele passo, agora ela estava grávida de um filho dele e um medo um pouco incomum o assolava, tinha medo de que algo grave acontecesse com ela e ao bebê. Filhos nunca foram parte de algo planejado, ele baniu aquilo da vida porque nunca achava ter competência para cuidar de qualquer vida além da de algum paciente. Não foi ensinado a ser pai, contido Angelina carregava um bebê dentro de si e, portanto, daquele dia em diante ele começaria a aprender mais sobre ser pai. — Oi. — Ela disse tirando-o dos pensamentos. — Tudo bem? — Sim — afirmou fechando a porta. — Sua pressão? — Parece boa, a enfermeira veio até aqui e disse que estava controlada — apontou para o soro que, através da agulha na mão, descia lentamente em gotinhas pelo fio transparente. — Ajuda muito. — Que bom — afirmou indo se sentar na cadeira do lado da cama dela, então pegou a prancha com os dados da medicação e últimos dados do boletim. — Como se sente? — Enjoada — deu de ombros. — Pelo menos a dor de cabeça passou. — Temos que controlar sua pressão — disse mais que sério. — Ao que me parece está controlada nas últimas três horas desde que estive aqui. — Consegui comer gelatina e sopa, parecia sopa doce — ela fez uma careta. — E o Marc? — Ele foi para o hotel, vai trazer roupas limpas para mim. — Cansada? — Um pouco. — Eu vou tomar um banho e venho para passar a noite com você. — Não está atendendo? — Peguei o plantão do dia, estava e folga, mas ao chegar aqui comecei a trabalhar, agora vou sair para ficar com você. — Não precisa ficar aqui Augustus. — Eu quero. Angelina tinha resistência e era algo completamente compreensível depois de tudo o que houve entre ambos, na verdade depois de tudo o que ele causou a ela. — Como foi a viagem? — Foi cansativa e por aqui? — Acidentados, partos prematuros, pregos em pés, braços quebrados, enfim. — Trágico. Sorriu com o comentário dela, depois estendeu a mão e cobriu a dela, percebia que ela carregava no olhar inquietação, certo medo. — Tudo bem, querida, iremos cuidar do bebê juntos. — Como? Temos vidas opostas e eu com certeza não faço a menor ideia de como poderia funcionar. — Não se preocupe com isso agora Angie, eu já disse que darei um jeito. — Eu não quero ter que me mudar para cá. Angelina não queria ficar perto da família dele, aquilo a traumatizou e graças ao seu irmão ele sabia que ela nunca se contentaria em morar em qualquer lugar no mundo em que ele estivesse perto demais. — Não iremos morar aqui, posso ir para Nova York, já disse que vou pedir uma licença. — Augustus... — Não conseguiremos fazer nada se você viver com medo das pessoas da minha família, pensando nas merdas que o meu irmão fez, isso não te faz bem. Ela não negou, mas seus dedos se entrelaçavam nos dele, Augustus se levantou e se sentou na beira da cama de frente para ela, então a fitou. — Ainda está procurando um marido pobre para sustentar? Devagar, os lábios dela foram se abrindo um sorriso incerto e medroso. — Angelina, eu também pensei muito sobre nossas diferenças, mas acredito que isso possa ser facilmente resolvido. — Noventa por cento das nossas diferenças foram causadas pelo fato de você me evitar emocionalmente. — Não gosto de me expor. — Bom, não acredito que ficar lavando a roupa suja vá adiantar muito, você precisava do seu tempo e eu precisei ir embora para entender que todas as situações que evitei me perseguem, o fato de eu não saber lidar com a morte da minha filha, com os seus pais e com a minha família. — Você é forte, amor, você é humana. Era bom sentir que ela se reaproximava dele, Augustus gostava muito da intimidade que eles tinham como amigos. Conseguiu enxergar nela o que não nutria por ninguém. — Eu preciso me organizar, eu pretendo conversar com os meus pais com calma, mas não quero ter contato com a Gloria. — Se sentiu mal por ela ter voltado para o meu irmão? — Não, mas não me sinto obrigada a ficar dando explicação sobre nada para ela ou a Dora. — Se você for me assumir tem que entender que nossas famílias vão saber mais cedo ou mais tarde. — Eu não quero que eles façam parte disso. — Quer privá-los de conviver com o nosso filho? Angelina não respondeu, contudo ele já sabia como as coisas deveriam ser. — Ok, faremos da forma que você achar que é melhor, amor. Ele sabia que deveria confiar nela se quisesse que Angelina percebesse suas intenções não poderia regredir, ele não faria como antes, não mais. — Eu não acredito que seja justo que eles não façam parte da vida do seu filho, são seus pais e seu irmão, mas eu não quero fazer parte disso. — Não irei te obrigar a nada, entendo que você não é obrigada a conviver com meus familiares. Para ela era reconfortante ouvir aquilo dele, Angelina se sentiu tomada por uma onda repentina de alívio em saber que Augustus estava disposto a aceitar que ela não queria conviver com as pessoas da família dele. — Dentro desse contexto não são apenas os seus familiares, acho que não estou pronta para lidar com ninguém de nossas famílias, eu vim disposta a ver o túmulo da minha filha e conversar com os meus pais, com a Dora apenas, o seu irmão não tem a ver com isso, é algo que eu tenho que falar com eles. — Eu entendo. — Não esperava engravidar agora, imagino que você também não esperava por isso. Augustus ficou bem pensativo por alguns minutos, Angelina estava ali tentando lidar com a nova realidade, com o fato de que havia um bebê crescendo dentro dela e que ela não sabia como seria o amanhã, ele, no entanto estava se oferecendo para que ficassem juntos e deixassem as diferenças de lado, contudo, sabia que aquilo implicaria tantas coisas das quais não poderia contar nos dedos. — Não estava nos planos, mas tudo bem, me preocupo com seu bem-estar, se você se sentir bem e confortável eu ficarei mais tranquilo. — Achei que reagiria mal quando me falaram assim que eu melhorei. — Só um pouco surpreso. Ela observou as duas mãos juntas, a outra mão dele tocou seu queixo e ergueu sua cabeça com gentileza fazendo com que ela o fitasse. — Eu quero que você se sinta confortável e bem comigo, não quero que fique triste e chorando, prometo que tentarei ser o máximo atencioso com você de hoje em diante, eu precisava desse tempo Angie. Não foi pelo tempo. Pensou ela, mas pelo jeito como eles fizeram as coisas. — Eu imagino que sim. — E por que essa carinha de tristeza? Eu vou cuidar para que vocês dois estejam sempre bem. — Eu não duvido disso, mas é que eu estou com medo de que essa gravidez não progrida, eu acordei hoje disposta a me despedir da minha filha e agora descobri que já terei outro, e se não vingar? E se nascer mo... — Tudo vai dar certo, não se preocupe com isso, farei tudo ao meu alcance para que o nosso bebê fique bem e você acima de tudo tenha uma gestação tranquila. Ela suspirou, a mão dele tocou sua face com zelo, carinho, Angelina sentia que aos poucos os receios eram deixados de lado ainda que estivessem bem ali presentes. — Você disse que não tinha relações há bastante tempo, talvez seu útero tenha se curado, estava com o período fértil? — Eu não faço tabela, eu só tenho anotado as datas das minhas últimas menstruações. Angelina sentiu como se de fato falasse com um médico, contudo era difícil separar em sua mente, ficou constrangida. — E veio normal esse último mês? — Veio bem pouco, mas é porque eu fiquei menstruada cerca de três dias depois que nós transamos. — Fluxo intenso? — Não, bem pouco mesmo. — Eu sinto muito por não ter tido paciência com você na cama, imagino que você não tenha ficado menstruada e sim tenha sido o fato de que nós tivemos relações bem intensas, fazia quanto tempo que você não tinha relações? — Desde que eu tive a minha primeira relação com o seu irmão, não tive mais relações, já fiquei grávida, tive a bebê e depois eu fui embora. — Me desculpe pela forma como estou insistindo no assunto, mas é que eu gostaria de entender como aconteceu tudo. — Tá. Angelina o fitava, dentro dela alguns receios e medos, não queria ser julgada de novo, ao mesmo tempo sabia que se ele o fizesse não iria querer se manter perto dele demais, por mais que seu coração estivesse comprometido. — Você deve ter sangrado porque fazia muito tempo que não tinha relações, vou ter cuidado nas próximas vezes até você se acostumar. — Eu não disse que quero que tenhamos outras vezes. — Você vai dizer que não sente falta dos nossos momentos juntos? Eu tenho pensado nisso todos os dias, quando me lembro de você me pedindo mais, de você implorando que eu metesse bem fundo na sua... — OK, eu já entendi. Os lábios dele se abriram em um sorriso maldoso. — Não quer rótulos, mas em algum momento você e eu teremos que fazer tudo funcionar, ficaremos juntos e isso não tem a ver com o bebê, acha que eu não quero que continuemos com a nossa relação normal de homem e mulher? — Eu acredito que sim e entendo suas intenções, mas achei que quando eu fosse embora você houvesse arrumado qualquer outra mulher para te satisfazer. — Isso não faria sentido. — Por quê? — Porque só você me satisfaz por completo. Ela corou novamente. — Não sente minha falta na sua cama também? Nem me passou pela cabeça qualquer outra hipótese se não ficarmos juntos. — Eu tentei te esquecer Augustus. — Fiz o mesmo, mas não funcionou. Ocorreu o mesmo com ela. — Eu tenho pensado com calma sobre nós e sobre tudo o que vivemos e acredito que possamos dar certo, mas isso não vai acontecer se você tiver medo de eu te magoar novamente. — Espero que entenda que eu não vim por você Augustus. — Mas eu estou aqui e quero você na minha vida, eu tive muito medo e evitei sentir coisas mais profundas por você, no começo achei que seria só sexo, me sentia atraído, mas nos tornamos amigos e você me mostrou que eu não deveria sentir medo de me envolver com você. — Você a amou muito? Era algo que ela precisava saber para entender como as coisas funcionavam para ele já que Augustus não falava tanto sobre aquilo com ela. — Amei, eu era ingênuo e acreditava que ela fosse me amar por quem eu era, pensei que em algum momento ela fosse aceitar a vida que eu poderia oferecer, mas ela de certa forma me usou, teve medo do pai e de enfrentar a vida comigo e quando ela não foi ao meu encontro eu decidi que nenhuma outra pessoa no mundo mereceria meu amor. — Não posso dizer que amei seu irmão, me sentia lisonjeada pelo fato dele me querer e confesso que hoje enxergo tudo como se não houvesse passado de uma paixonite. — Eram jovens demais. — Eu acho que quis muito acreditar que ele me queria e que iria ficar comigo, mas ele só queria me usar também, eu fui uma presa fácil, depois de tudo também fiz a promessa de nunca mais deixar ninguém me tratar como ele me tratou. — Ele foi bruto com você? — Eu nem consegui tirar o vestido direito, ele puxou minha calcinha para o lado e aconteceu, parecia romântico na época, hoje eu penso que fui idiota em acreditar que havia interesse nele por mim porque ele jamais iria querer ser vinculado a minha imagem, era gorda, não era popular, no dia seguinte na escola ele nem olhava na minha cara, me ignorou e fingiu que eu não existia. As faces de Augustus se tornaram profundamente obscuras. — Foi consensual? — Sim, eu queria, só não pensei na parte em que ele só me usou para um fim, no final das contas eu acho que o pior nem foi isso, foi saber que estava grávida e todo o resto você já sabe. — Eu entendo que sofra com isso, sempre mereceu mais do que a minha família poderia ter oferecido e olha, por mais que fique chateada com o que eu vou te falar, tenho que dizer que se em algum momento Brad houvesse topado voltar hoje talvez vivessem uma vida infeliz juntos, ele não demonstra arrependimento algum pelo que fez e os meus pais são coniventes com isso, não tolero nem aceito esse tipo de postura e quero que saiba que eu só queria que eles se redimissem com você, mas ouvindo isso de você agora tenho certeza de que nem eu quero contato com eles. Não era pretensão dela. — Eu não quero que se afaste deles por minha culpa. — Se tem um culpado aqui é o Brad, você foi só uma vítima das ações egoístas dele e dos meus pais, eu não vou aceitar isso, eu nunca poderei levar um filho meu para o convívio deles sabendo que eles ignoram os sentimentos da mãe, ao menos não enquanto eles não se arrependerem de verdade. Angelina começou a chorar e odiava o fato de que talvez não conseguisse mais ignorar a dor que sentia em ter que conviver com aquilo, foram dez anos tendo aquele sentimento ruim dentro dela e agora ela era ouvida, alguém a apoiava, alguém não tratava ela com descaso e aquilo era aliviador, era como se seu coração estivesse se livrando daquele sentimento de mágoa que carregava por anos. A liberdade que ela nunca se permitiu ter. — Por mim, depois de saber de tudo não precisa se sentir obrigada a conviver com meus familiares, para mim minha mãe de criação quem é a minha única família, estou preso a eles apenas por laços sanguíneos. Augustus fez uma pausa e limpou as faces dela com cuidado. — Eu não gosto de falar da minha mãe porque não quero ficar romantizando o que ela fez aos meus pais biológicos, mas ainda sim eu a considero como mãe, sei que fui privado de uma vida de privilégios, porém francamente não sinto que perdi nada, ela me deu tudo o que poderia ter dado e com ela eu aprendi muito mais do que Catherine e Ryan poderiam ter me ensinado, não tive babás, nem roupas caras muito menos luxo, mas fui sempre tratado com atenção, carinho e amor, minha mãe me ensinou a ter compaixão pelo próximo, ela também compartilhou comigo seu amor por cuidar das pessoas que precisam então eu entendo hoje que mesmo depois de tudo sou grato a ela do mesmo jeito. — Sente falta dela? — Todos os dias. Eles estavam próximos, ela sabia que pela primeira vez desde que se conheceram Augustus estava se abrindo com ela de verdade, contando tudo com sinceridade, sem medo de se abrir e aquilo também era maravilhoso, saber que poderiam falar sobre si mesmos sem barreiras. Tinha medo de expor os pais e o irmão dele de forma negativa, contudo se sentiu grata por saber que ele enxergava acima de tudo a verdade e que nunca apoiou a postura da família diante de tudo. — Entendo e respeito seus motivos, sua história. — Eu também respeito seus motivos e sua história, Augustus. — Acredito que o próximo passo então é você conversar com os seus pais. — Eu não espero muito deles, percebo que são muito omissos em relação a tudo, não quero que eles se sintam divididos, não mais do que já estão. — Isso não causará sofrimento a eles tanto quanto te causa sofrimento, eu vou comunicar a Catherine e ao Ryan que irei para Nova York com você, vou pedir uma licença, se me negarem eu me demito. — Eu não quero que se prejudique... — Fique tranquila, eu me sentirei pior se você não estiver aqui comigo. — Tem certeza de que está pronto para tomar essa decisão? — Absoluta. Augustus saiu por alguns instantes e quando voltou, já havia tomado banho, explicou para ela que tinha roupas nos armários do hospital e que, portanto, não precisaria ir até casa para se trocar, Angelina cochilou enquanto ele esteve fora. Ele passou aquela noite no hospital com ela, dormiu no sofá para acompanhante, Marc apareceu com uma mala de roupas limpas e sua escova de dentes, trouxe sanduíche e fritas para Augustus jantar, mas não ficou de muito assunto, ele estava ocupado mexendo no celular cancelando os compromissos dela, ele fez o que sempre fazia, deu um beijo na cabeça dela e depois partiu avisando que enviaria a mala com o resto dos pertences dela para o apartamento de Augustus. Ela sabia que algumas coisas poderiam ficar complicadas pelo fato de ter engravidado, alguns contratos, contudo não foi algo do qual quis pensar, estava cansada de certa forma, Augustus a acompanhou e devorou seu sanduíche com fritas e refrigerante enquanto Angelina se conformou com um prato de sopa ensossa, conversaram sobre cuidados da gravidez e por duas vezes ele checou a pressão dela e seus sinais vitais, em determinado momento ela o viu um pouco constrangido quando alguma enfermeira entrava no quarto, mas aquilo logo se passou. Depois do jantar, ele a acompanhou até o banheiro e ficou ali durante o banho dela, Angelina não poderia ter se sentido mais constrangida, contudo, admitia que estava acima de tudo segura com a presença dele ali, Augustus a ajudou a se secar e a colocar uma calcinha e uma camisola, depois a pegou no colo e a levou para a cama, seu medicamento havia acabado e aquela noite seria apenas de observação. Depois de alguns minutos ela estava cochilando, a mão dele estava ali acariciando a dela, não foi difícil dormir já que estava exausta. Acordaram naquela manhã e Augustus já estava de pé mexendo no celular, minutos depois que o café foi servido, ele informou para ela que dali há algumas horas enfim poderia assinar sua alta, por fim enquanto esperava outro médico vir atendê-la, se trocou, vestiu um short jeans e uma blusa de alcinhas, estava tudo pronto para que partissem. — Ficaremos lá em casa, pedi que seus pais nos visitassem agora por volta das 11:00, podem conversar melhor lá, Dora não irá. — Ok. Não houve por que discordar. De todas as formas imaginava que para a irmã também fosse estranho estar ali diante deles dois, constrangedor e não a culpou, talvez pudesse conversar com ela em outra ocasião. No momento sua única preocupação era poder falar com os pais e resolver aquela situação o mais rápido possível. Angelina assinou a alta uma hora depois, Augustus tinha saído e entrado do quarto algumas vezes e ela concluiu que talvez ele estivesse cuidando do processo ou algo do tipo, tão logo chegaram na recepção do hospital teve que lidar com alguns olhares, foi algo que não incomodou a ela, mas pareceu novamente deixar ele constrangido. O carro dele estava estacionado na vaga de funcionários do local, Augustus estava bastante silencioso, nada que ela já não estivesse familiarizada, contudo de certa forma foi um pouco incomodo, conseguiu se sentir melhor assim que chegaram ao prédio dele, naquela manhã não sentia nenhuma dor ou enjoo, só estava mesmo inquieta porque a hora de falar com os pais se aproximava. Ele a deixou sentada no sofá e avisou que iria até o quarto pegar alguma coisa, Angelina suspirou e por alguns segundos pensou sobre o bebê que carregava no ventre, ainda era muito surreal que ela estivesse grávida, tentava entender como as coisas aconteceram, mas não tinha capacidade porque sabia que havia feito tudo certo e que tinha um diagnóstico de que jamais poderia engravidar. Usou camisinha em todas as vezes que teve relação, como poderia imaginar que seu cansaço era causado por um bebê? Em sua primeira e única gravidez ela começou a sentir enjoos por volta do terceiro para o quarto mês, sentiu uma vontade imensa de vomitar ao provar o bolo de carne da mãe, desde então Dayse começou a crescer dentro dela. Dayse. Era tão bom lembrar dela agora, era bom sentir que se recordava daquela pequena parte dela, não evitar pensar na sua única filha, não se sentir tão mal em lembrar da memória dela. Estendeu a mão e enfiou debaixo da blusa, ela tocou o ventre com um pouco de esperança e um sorriso contido nos lábios, brilhava dentro dela uma pequena ponta de alegria, mesmo que ainda fosse um sentimento novo por conta do choque de saber que estava grávida. — Oi. — falou Angelina e acariciou o ventre com o polegar. Ficou ali por alguns momentos tocando a barriga, se sentindo alguém especial mesmo que não soubesse exatamente por que, ela só se sentia preenchida pela sensação boa, quase como se sentisse paz em saber que estava gerando um novo bebê dentro dela. — Que bom que está se acostumando com a ideia. Ergueu o olhar e viu Augustus segurando um buquê de flores cor de rosa em uma mão e na outra alguns balões coloridos, seu sorriso foi automático, ele se aproximou enquanto Angelina se levantava, seus olhos estavam cheios de uma espécie de felicidade contida, mas ela soube naquele momento que em hipótese alguma ele rejeitaria a ideia de ser pai. — Obrigada, realmente não precisava. — Quero que você se sinta bem aqui, comigo é claro. Aceitou as flores e logo em seguida os balões, Augustus colocou a mão em sua cintura e a puxou para si envolvendo-a num meio abraço, os lábios dele se aproximaram dos dela e Angelina não hesitou quando ele a beijou, um beijo doce e quente, muito lento, fez seu coração disparar. — Não sente minha falta na cama? Nem isso? — Eu sinto. — respondeu ela incerta —, mas isso não pode ser o suficiente. — Não é, mas preciso saber se você gosta mesmo de mim o suficiente para morarmos juntos, algo além do sexo. — É claro que eu gosto Augustus. Ele sorriu e deu mais um selinho nela. — Está segura disto? — Sim e você? — Eu estou seguro de que quero você na minha vida. Algo o deixava inquieto. — O que foi? Sei que é calado, mas nem tanto. — Não quero te preocupar. — O que houve? — Catherine não gostou do fato de eu ter pedido licença e ir com você para Nova York, ela e Ryan decidiram tomar esse apartamento e todas as coisas que me deram. Não foi algo que a surpreendeu. — Quanta maturidade. — É, com coisa que eu não tenho condição de alugar um lugar para eu morar, enfim, isso só me pegou de surpresa, mas tenho dinheiro. — Imagino que tenha ficado preocupado, mas fique tranquilo. — Eu estou, não quero me preocupar com eles dois. — Você não esperava por isso? — Esperava por uma bronca, não que eles me tratassem como se eu fosse uma criança e me colocassem de castigo. — Disse que eu estou grávida? — Não devo satisfação da minha vida para eles, se eles não estão dispostos a respeitar as minhas decisões também não me sinto obrigado a dividir a minha vida com eles. — Entendo. — Vou preparar um chá, quer descansar um pouco? — Vou colocar as flores em um vaso, estou bem. Ela não conseguia imaginar como poderia ser difícil para ele ter que lidar com os pais, não gostava da situação, mas talvez aquilo abrisse mais os olhos dele em relação aos Thompson’s, ela não queria estar entre Augustus e os pais mesmo sabendo que eles não tinham uma relação tão próxima, contudo, não fazia parte de seu caráter ter que colocá-lo naquele papel, se tivessem que começar juntos tudo aquilo, a última coisa que Angelina queria era ser colocada em mais um papel de vilã. Também não queria ser vítima, ela só queria poder resolver a situação e ir embora. Analisou as flores e sorriu um pouco contente, soltou os balões, as cores vibrantes dos balões fixados no teto fizeram-na sorrir novamente, Augustus estava na cozinha mexendo no fogão quando ela se aproximou, colocou o buquê em cima da pedra de refeições e o abraçou por trás, não esperava que ele em algum momento fosse querer de fato algo sério. — Não se preocupe, nós podemos cuidar do bebê juntos, não precisamos do apoio de ninguém. — Eu não estou preocupado com isso, só estou chateado pelo fato de que eles pensam que eu devo obediência a ambos. — Você? Obediente? Ele se virou e estava sorrindo, suas mãos tocaram as faces dela com afeto, os olhos dele se encheram de um misto de felicidade contida. — Posso tocar sua barriga também? — Claro, eu acho que ele ou ela ainda nem entendem, os chutes começam por volta do quarto mês. A mão dele se enfiou dentro de sua blusa e ali Angelina sentiu uma conexão única, seu coração ficou disparando novamente e nunca se sentiu tão bem em toda a sua vida, um toque de carinho, apoio, gratidão, foi algo que nunca experimentou na vida antes. — Eu vou cuidar de vocês dois, eu juro querida. — Eu sei que vai, nós também iremos cuidar de você. O celular dele começou a vibrar, Augustus se afastou um pouco e checou as mensagens, o semblante dele mudou e ficou de repente bastante sério, então quando a olhou soube que a notícia não seria das melhores. — Seus pais não irão mais vir. Ela respirou fundo depois deu de ombros. — Calma, amor. — Eu estou totalmente calma. Não estava tão chocada, mas imaginava o que implicava saber que os pais estavam pensando e que muito provavelmente os pais dele haviam influenciado toda a situação juntamente com Gloria. — Podemos ir embora então. — Augustus disse. — Preciso falar com a Bambi primeiro, me desculpar com ela. — Vou começar a arrumar as minhas malas. — Eu já subo e te ajudo. Era bom saber que ele também estava disposto a não ceder aos caprichos dos pais, Angelina nunca foi assim, agora ela não seria mesmo. Pegou o celular no bolso do short e começou a enviar mensagens para a melhor amiga. — Agora vamos resolver isso e depois adeus Santa Fé. — Resolveu aparecer? Angelina viu sua melhor e única amiga em anos entrar no apartamento de Augustus cheia de mágoa, os olhos avermelhados, o semblante cheio de raiva e entendeu bastante aquilo, conhecia ela o bastante para saber que Amber estava extremamente ferida com sua decisão de ir embora sem se despedir, de ter se afastado. — Oi, Augustus. Augustus estava na cozinha preparando uma sopa para o jantar, há alguns momentos ele havia trazido caixas, ele saiu para comprar os materiais necessários para empacotar tudo, então ela mandou mensagens para Amber e depois para Marc, imaginava que não adiantaria tentar conversar com os pais e decidiu não se martirizar por aquilo, se eles assim como os Thompson’s não queriam contato, aquele era um problema deles. A única pessoa a quem ela sentia que deveria sinceras desculpas era Amber, talvez se resolvesse depois com Dora, contudo a postura da irmã bem como as dos pais dela deixavam claro que eles ainda não tinham um pingo de maturidade para querer resolver algo. — Olá, Amber. — Augustus sorriu de onde estava — Ficará para o jantar? Amber ficou surpresa, mas estava na defensiva, braços cruzados, olhos cheios de mágoa. — Acho que não, obrigada. Ela se voltou para Angelina com cara de quem havia comido e não gostado nada. — E então, o que você quer? — Eu quero me desculpar por ter... — Não. — Ok. Alguns instantes se passaram e elas ficaram ali se olhando, Angelina se sentiu mal em lembrar que por algum momento da vida quando foi embora deixou Amber e se encarregou de esquecê-la mantendo o contato apenas por formalidade, a verdade era que quando saiu de Santa Fé ela quis enterrar todo seu passado e com aquilo enterrou sua amizade com ela, tinha muita culpa na praça da qual nunca quis pensar ou reconhecer. — Você tem toda razão em não me desculpar, eu fui embora e abandonei nossa amizade, não mereço ter você como amiga, só espero que saiba e não que entenda, mesmo, não precisa aceitar isso, mas que eu só queria esquecer toda a dor que eu vivi aqui, você não tinha nada a ver com o que houve e eu te coloquei nessa situação. Amber ficou calada. — Eu sinto muito por ter te magoado, por ter deixado você de lado todos esses anos, por ter ido embora e não ter me despedido ou avisado. — Que bom que sente Angie. — Me perdoe por todas as vezes que negligenciei nossa amizade e por ter ido embora sem me despedir de você. — Não perdoo não, mas eu entendo você e sei que não deve ser fácil. — Obrigada. Amber era como sempre a pessoa mais empática que ela poderia ter conhecido na face da terra. — Vocês dois... — Amber olhou rapidamente para Augustus e depois para ela. — Nós vamos ficar... juntos. O sorriso de Amber foi inevitável, era óbvio que ela queria saber o que estava acontecendo, ela perdia a amizade, mas não perdia a fofoca. — E aí? — Bom, estamos de mudança, o Augustus vem comigo para Nova York. Amber pareceu bastante chocada com a revelação. — Já conversou com os seus pais? — Seria interessante se eles quisessem falar comigo, depois que o Augustus disse para os pais dele que iria comigo para Nova York a família unida virou as costas para nós dois. Aquilo pareceu chocar Amber, para Angelina era muito simples, todos eles ainda queriam exercer algum controle sobre ela e Augustus mais sobre Augustus era claro, Catherine provavelmente deveria ter dito qualquer coisa para seus pais com o intuito de causar alguma represália nela pelo fato dela tê-lo convencido a ir para Nova York, aquilo na cabeça deles era claro porque foi algo que ela não pediu. Talvez em algum momento ninguém nunca percebesse quem eram os Thompson’s de verdade além dela, afinal de contas ela reconhecia aquele preconceito e arrogância de longe, talvez somente ela soubesse do que aquela gente era capaz, nem mesmo seus pais soubessem quem eram Catherine e Ryan Thompson. — É uma pena que suas irmãs manipulem tanto seus pais, agora a Gloria está usando a Isabela ou algo assim. — Eu quero ver até onde eles vão sem o meu dinheiro. Angelina foi até o sofá e se sentou, não procurou falar com os pais naquele mês porque sabia que eles estavam bravos demais com ela por ter ido embora, não sentia que devia satisfação da vida pra Gloria, mas apenas desculpas para Dora, agora conforme as coisas estava acontecendo só tinha certeza de que talvez seus pais não merecessem também alguma consideração, eles estavam preocupados demais com Gloria e com o que ela queria, se quer pareciam se interessar pelo que Angelina queria. Protegiam Gloria e apoiavam Brad, era simples como uma conta de dois mais dois, não poderia haver outro resultado. — Seus pais são ingênuos demais... — Isso não tem a ver com ingenuidade Bambi. — Eu entendo você — Amber se sentou ao seu lado e ficou de frente para ela — Enfim, pelo ou menos vocês dois se resolveram. — E você? Está bem? Amber respirou fundo e depois se esforçou para sorrir. — Eu terminei meu noivado com o Abraão. — Sério? — Sim, ele não quer nada com nada, cansei de esperar. — Poxa, Bambi sinto muito. — Eu ainda não te perdoei viu? Mas ainda preciso de alguém para eu desabafar as vezes. Ambas sorriram. — Você chegou bem de viagem? — Mais ou menos. — Você parece meio abatida. — Eu estou grávida. Ela viu a amiga absolutamente boquiaberta e alguns instantes depois Amber começou a bater palminhas toda contente, comemorando, Angelina sorriu um pouco constrangida, mas em sua mente se recordou de quando engravidou de Dayse e contou para Amber, a reação havia sido a mesma, como se fosse motivo de grande comemoração. Algumas coisas nunca mudavam, nem pessoas. Pensou, tão profundamente grata em ter alguém feliz por ela sob quaisquer circunstâncias, de alguma forma se sentiu mal por ter permitido que os traumas e a distância houvessem tornado a amizade delas vazia, não por Amber, mas por ela. — É sério? — indagou Amber toda contente — Eu ainda estou brava ok? Mas o bebê não tem nada a ver com isso. — Sim, o doutor Guerra quem está por dentro de tudo. — respondeu com um pequeno sorriso. — E como vai ser? Vocês dois vão morar lá? Marc deve ter dado um treco! — Vamos nos mudar o mais rápido possível para Nova York, quer dizer, o Augustus vem morar comigo, o Marc está nervoso, mas ele ficará bem, o importante é que agora eu preciso descansar bastante. Amber se inclinou e tocou sua barriga, Angelina sorriu novamente, aquela antiga conexão que havia se desgastado vinha surgindo dentro dela novamente. — Eu nem acredito Angie, é sério mesmo? — É sério. — Augustus se aproximava com duas canecas de chá quente — Erva doce. — Obrigada — Amber agradeceu e aceitou a caneca. — Eu estou pensando em tirar umas férias para Angelina descansar, ela precisa relaxar e os últimos acontecimentos não fazem nada bem para ela — Augustus disse calmamente e entregou a outra caneca para Angelina depois se sentou ao lado dela. — Eu bem queria férias, meu patrão não me deixa nem tirar folga semanal direito. Angelina provou o chá, estava quente e doce, era de camomila, ela olhou para a melhor amiga e algo surgiu em sua mente. — Você pode vir conosco Bambi. — Eu não poderia... — Poderia sim, eu te pago para vir comigo. Amber a analisou sob os olhos azuis, os cabelos loiros estavam penteados para o lado e ela usava um vestido cor de rosa com um cinto de couro na cintura, sapatilhas, era a garota do Novo México que nunca saiu da cidade. — Você disse que sempre quis conhecer o mundo, acho que posso te conseguir um cargo de assistente pessoal agora que estou grávida. — Não tem um? — O Marc quem cuida disso, tenho pessoas sempre me ajudando, mas você seria como uma companhia. — Eu vou precisar mesmo de alguém que fique de olho nela, estou verificando com o meu chefe alguma recomendação de hospitais em Nova York, seria mais tranquilo se alguém a fizesse ficar quieta. — Augustus disse e passou o braço envolta de Angelina. Ela ficou vermelha, não era algo do qual tivesse costume. — Eu não quero incomodar... — Pago dez mil por mês mais convênio médico e te dou folga aos domingos. — Onde eu assino? Ela riu, Augustus também, Amber bebericou o chá parecendo emocionada demais para acreditar, era bom saber que ela estava reestabelecendo laços, antigos e formando novos, daquela vez esperava que tudo desse certo. Faria dar. — Acho que alguém está me evitando. Angelina sorriu um pouco contrariada, Augustus entrava no box do banheiro completamente nu, ela continuou a lavar os cabelos, estava um pouco mais tranquila depois de conversar com Amber, saber que contava com o apoio da amiga e que de agora em diante algumas coisas seriam diferentes era muito bom. — Não estou te evitando, eu vim tomar banho porque quero dormir. — Sei. Ela sorriu de novo para ele, estava tranquila acima de tudo, Augustus se aproximou e a abraçou, terno, gentil, ela enxaguou os cabelos e estendeu os braços passando envolta dele, os olhos azuis pousavam nos dela enquanto a ducha quente caia sobre a cabeça dele agora. — Escuta, você está com medo é? — Não estou com medo, talvez um pouco chateada com a reação das nossas famílias. — Sinto que você está com medo sim. — Bem, não é normal que você seja assim tão legal. — Angie! Riu, Augustus se inclinou e deu um beijo apaixonado nela, as bocas estavam se devorando e aquilo começou a consumir ela vagarosamente, as mãos dele pousavam em suas nádegas e as dela se enfiavam na nuca dele como se já fosse seu lugar predileto para tocar no corpo dele. — Eu sei que cometi erros, está bem? Quero reparar isso. — Eu já entendi. — respondeu ela desejosa. — Você está se segurando, não é? A ereção dele era evidente e palpável. — Sim, bastante, ainda não é seguro que tenhamos relações, mas eu quero sim poder te mostrar o quanto eu estou disposto a tudo por você, amor, quero aproveitar nosso tempo juntos. — Eu sinto que precisamos disto — confessou fitando-o e tocou a face dele com cuidado — Merecemos isso, Augustus. — Eu planejei uma viagem para Malibu, o que acha? Eu estou pensando em passarmos uns dias lá, preciso de férias e você também tem que descansar. — Tenho uma casa lá. — Marc quem sugeriu, mas eu falei com o meu irmão mais novo, ele me disse que tem uma casa lá também, quero poder bancar nossa estadia lá, vou alugar o lugar para ficarmos duas semanas, podemos levar a Amber, ele tem iate e tudo mais. — Não parece má ideia. Não queria sentir que tirava dele a autoridade que ele queria estabelecer, ainda mais agora que ele estava tecnicamente desempregado, ele já havia dado sinais de que não gostava da ideia de ser sustentado por nenhuma mulher, ainda mais depois de saber sobre a ex dele. — Você não me falou sobre o bebê da sua ex, ele está bem? Ele sorriu. — Sim, ele ainda não ganhou alta pois é prematuro, tenho visitado ele todos os dias durante meus plantões, as outras duas crianças estão sob os cuidados de uma tia, pelo que eu soube os pais de ambos não eram vivos, Sam só tinha esta tia irmã do pai dela. — Você está bem em relação a isso? — Fiquei meio revoltado quando aconteceu porque mexeu comigo, mas estou bem agora, eu precisei entender que aquele ciclo se fechou e que preciso iniciar outro, você é parte disso, me fez entender que nem todas as pessoas no mundo são iguais. — Está seguro disso? — E você? E sua carreira? — Eu não me importo com a minha carreira tanto quanto me importo conosco, eu sei que posso continuar pegando qualquer trabalho e fazendo qualquer coisa que eu quiser, mas não ficarei bem se você me disser que não será feliz comigo e com esse bebê, você não é obrigado a nada. — Eu sei disso, amor, não sabe o quanto ouvir isso é bom. Os lábios dele tocaram os dela num beijinho rápido, os olhos dele expressavam alegria e admiração. — Anja, eu sei que você não tem motivos para ficar comigo, não sou tão bom quanto merece, mas eu quero poder recomeçar uma vida ao seu lado. — Eu gosto da possibilidade de estarmos juntos, mas aprecio isso muito mais se for correspondido. — É. — Então, acho que podemos dar certo, só tenta não surtar nem ficar com medo do que eu posso oferecer. — Ei, eu não vou surtar, me informei bem sobre você, já estou me acostumando com a ideia de ser marido de uma supermodelo famosa mundialmente. Angelina riu, sabia lá no fundo que ele talvez ainda não houvesse experimentado o que poderia ser estar ao lado de alguém como ela, era um lado de sua carreira que poderia deixar qualquer um impressionado ou assustado. — Eu não gosto muito da ideia dos catálogos de lingeries, mas talvez seja mais interessante saber que em algum momento poderei eu mesmo arrancá-las do seu corpo. — Você é despudorado. — Eu sou sincero é bem diferente. — Sincero? Ah, entendi! Você narrando nossas transas no hospital, muito normal, papo super sincero. — Amor, respeite o seu homem ok? Eu gosto de lembrar das nossas transas. Ela gargalhou, sentiu-se próxima do amigo que perdeu há algum tempo, alguém que lhe dava ótimos motivos para se divertir e sorrir, que fazia ela se sentir à vontade. — Senti falta disso, sabia? Do seu sorriso, da sua companhia, dos nossos passeios, acho que a possibilidade de ser rápido me deixou assustado, eu sempre achei que deveria ser passageiro, mas não é, não é Angie. — Eu sei que não é. — Então não me evite, ok? — Eu não estou te evitando, é só que me sinto diferente, da última vez que estivemos aqui, você basicamente me expulsou da sua vida, foi apenas há algumas semanas, é diferente te ver tão atencioso comigo. — É? E eu não te chamei de amor? Não te dei atenção? — Ok, ainda assim é diferente. Ela tocou as faces dele com carinho. — Sabe o que eu percebi também? — Fale, querido. — Você é bem alta, não é? — Um pouco. — Isso faz de você o meu encaixe perfeito. — Faz é? Seu safado, impuro. — Dá para ser as duas coisas na sua vida? — Dá sim. Ele a beijou e entre sorrisos ela o correspondeu, o abraçou e ficaram ali fazendo carinho um nas costas do outro, o calor dos dois corpos se misturando, Angelina disse para si mesma que de todas as formas já era bem parte para ter dúvidas. Ela estava apaixonada. Era a coisa mais assustadora que presenciava em toda a sua vida e a mais maravilhosa.
— E eu com o meu quarto cor de rosa.
— Sintam-se à vontade. — Angelina disse. Augustus estava olhando envolta assim como Amber, ambos bastante impressionados com o apartamento dela, Angelina sorriu enquanto via Marc ali na cozinha preparando um café, ele parecia radiante, é claro, ela estava de volta, como não poderia estar? Quatro horas e meia de voo haviam deixado ela um tanto cansada, a verdade era que os dois dias em Santa Fé foram bastante puxados, teve que ajudar Augustus com a mudança dele, eles mais embalaram caixas do que tudo, obviamente que ele não tinha tantas coisas para trazer, mas o que trouxe foi o suficiente para lotar ao menos dez caixas grandes. Tinha sorte por ter seu jatinho há disposição, quando avisou para Amber dois dias atrás que partiriam para Nova York, sua amiga ficou desesperada, mas no final das contas, tudo deu certo, a mudança de Amber viria de caminhão juntamente com os pertences de Augustus. — Amore, você trouxe seus documentos? — questionou Marc. — Sim, eu trouxe tudo — Amber informou toda sorridente. — Vou alugar um apartamento para você aqui perto, já comprei seus notebook e celular, ipad, preciso que deixe a sua pasta com documentos todos separados, o seu quarto provisório é o terceiro subindo as escadas, virando o corredor à direita. — Tá, obrigada, eu vou levar a minha mala... — Quer ajuda? — Augustus indagou. — É de rodinhas, eu consigo. Amber se aproximou de Angelina e a abraçou toda alegre. — Obrigada amiga, de verdade, não vou te decepcionar. — Eu sei que não Bambi. Então ela pegou sua mala de rodinhas colorida e seguiu rumo as escadas que davam para o andar de cima. Angelina foi até a pedra de refeições, Augustus passou o braço envolta dela e ficou ao seu lado, Marc colocou duas canecas de chá diante de ambos, ela fez uma careta. — E o meu café? — Não fiz para você, fiz para a Amber e para mim, vocês estão grávidos, não podem tomar tanto café assim agora. Angelina pegou a caneca, Augustus também evitou que ela tomasse café durante os dois últimos dias em que ficaram no apartamento dele. — Bem, eu suspendi sua agenda, não dei nenhum motivo e não falei nada, está tudo nas suas mãos, acredito que não seja ideal soltar a notícia de que está grávida agora, devemos ter cautela. — Temos que combinar que sim, não quero nenhum paparazzi pegando no meu pé. — A segunda notícia é de que talvez você também deva esperar para falar sobre o Augustus. — Ah, não se preocupe, não temos rótulos — Augustus disse com um sorriso gentil. Ela quase suspirou, Marc, no entanto ficou ali parado olhando para ele como se fosse um adolescente bobo. — Hum.. hum... — pigarreou ela. — Ah, é, terceiro é que como você precisa descansar o girom... quer dizer, o Augustus e eu chegamos a um acordo de que podem tirar duas semanas de férias em Mali, o irmão dele vai alugar a casa para vocês, também preciso dizer que foi bem oportuno que tenha contratado a Amber, vou ter um pouco mais de tempo para mim, vou colocar ela para administrar seus afazeres semanais e sua agenda. — Bambi é formada em administração e trabalhou anos como secretária, confio nela. — Maravilhoso, eu já providenciei sua mala para Mali, vocês partem amanhã. — Ótimo. — Acho que até sua barriga crescer podemos ir estudando alguma forma de continuar trabalhando, vou tentar reagendar algumas viagens e desfiles, como o bebê está? — Eu acho que ele está bem, eu só estou um pouco cansada. — Você viajou muito e quase não descansou. — E tivemos que organizar a minha mudança, pedi para ela só para dobrar as roupas, mas ela é teimosa, ficava empacotando coisa que não devia. — Augustus fez cara feia. — Gente, eu não estou doente, eu estou bem, minha pressão está ótima e eu me sinto bem, só cansada mesmo. Augustus não queria que ela fizesse nada e aquilo a irritava algumas vezes. — Tem que tentar ficar de repouso, eu já falei com a sua ginecologista e ela me indicou uma obstetra, amanhã pela manhã você terá que ir até ela para os primeiros exames, hoje terá que fazer jejum a partir das 18:00 horas, beber bastante água para colher a urina. — Ok. — Pensei em fazermos algumas parcerias pagas enquanto estiver em Mali, publicidade para o Instagram, uma marca de protetor solar está oferecendo trezentos mil por um dia de stories mais uma publicação. Augustus se engasgou com o chá que bebia, Angelina oprimiu a vontade de rir. — Testa em animal? — Não, é da Di Spessore, marca vegana. — Só trezentos? — Eu recusei, então eles ofereceram quatrocentos. — Parece razoável, eu aceito. — Vou deixar a mala com o material. — Fechado. Marc sorriu e depois se afastou, já não tinha como esconder quem ele era perto de Augustus. — Vou acomodar minha nova escravinha do capitalismo. — Seu má! — acusou ela sem esconder seu tom de deboche. — Blá, blá, blá e blá! Ela riu enquanto ele subia os degraus da escada. — Não fazia nem ideia de que ele é homossexual, agora eu entendo por que você não tem vergonha dele — Augustus cochichou — Só Quatrocentos? — Troco para o lanche — respondeu e deixou a caneca em cima da pedra de refeições, depois estendeu os braços e enlaçou o pescoço dele. — É? — manso, ele questionou. — Sim, eu pego algumas campanhas publicitárias, elas ajudam a pagar as contas. — Bom, está cansadinha? — Um pouco, quer vir conhecer meu cantinho? — Esse lugar enorme cheio de quadros caros, tapetes persas e vasos de mil anos? Por que não? — Vai gostar daqui, não é um triplex... — Ah, mas o apartamento da Catherine nem chega perto deste. — Será o seu novo lar, sem perigo de ser despejado, só se não lavar a louça. — Já tem algum prato para lavar? Ela se inclinou e o beijou, Augustus a apertou entre os braços. — Vem conhecer nosso quarto. — A cama é grande? — Augustus! — O que? Ela segurou a mão dele e o puxou para o rumo da escada. — É grande, amor? — Você vai ver. — A coração de gelo enfim encontrou alguém... Angelina olhou para a teve, as fotos meio borradas a revelavam andando pela pista de voo ao lado de Augustus de mãos dadas, outras fotos eram exibidas enquanto o fofoqueiro de plantão abertamente falava a respeito de sua vida amorosa, fotos dela e Augustus no aeroporto, outras fotos dele abraçando-a enquanto esperavam o Uber, pouquíssimas vezes ela teve a oportunidade de ser exposta daquela forma. Não foi algo que a irritou logo de imediato, quem havia tirado aquelas fotos era um amador certamente, ela olhou para Augustus e depois pra Amber, ele não pareceu se importar, já a amiga havia apontado para uma foto onde ela havia aparecido junto deles no aeroporto. — Meu cabelo estava uma droga. — praguejou Amber. — Descobrimos que o sortudo é um herdeiro rico de Santa Fé, é médico... — disse Danna Alvarez ao canal E! — Isso aí não está certo, eu não tenho mais dinheiro, alguém pode por favor arrumar isso? — Augustus estava indo até a cafeteira muito tranquilo. Marc havia feito tudo certo, se prontificado de tudo e ela havia sido discreta, não haviam comentado nada com ninguém e até onde sabia em sua cidade natal, ninguém parecia se importar assim com ela até então, contudo ainda que contasse mais com Deus do que com sua própria sorte sabia que sempre algum paparazzi estava há espreita, eles tinham meios próprios e jeitos de tirar fotos dela em qualquer lugar sob qualquer situação. Estava em Malibu, chegaram na noite anterior depois de algumas horas de voo e correria, ela não queria que as pessoas soubessem que estava com Augustus ainda, era cedo, no entanto agora todos da notícia mundialmente, em níveis que ela tinha total ciência de que não era algo isolado a uma ou duas pessoas e sim que publicamente estava com ele. — Não precisa ficar irritada — Augustus disse de onde estava. — Desculpe, não queria te expor. — Não estou preocupado, vem, me ajuda com o café meu amor. Tinha um lado que ele estava mostrando para ela naquele momento, todas as coisas que Angelina nunca pensou que eu pudesse querer fazer ou ser estava ali exposta na pessoa que ele demonstrava ser para ela, aquilo a fazia querer suspirar e sorrir todos os dias, deixavam-na encantada, um homem aberto e carinhoso, que não hesitava nem a tratava com frieza. — Eu vou falar com o Marc agora — Amber disse enquanto digitava algo no celular. Talvez Marc ainda nem houvesse acordado. Pensou ela. Obviamente que ela não esperou que conseguissem esconder de todos sua vida amorosa para sempre, claro que não, mesmo não estando pronta para assumir aquilo publicamente agora, enquanto via a notícia na tv da cozinha ela se sentiu um pouco incomodada, sabia à proporção que aquilo causaria em sua vida dali em diante. Esperava ela mesma dar uma nota à imprensa através de suas redes sociais, ela não precisava de fofocas midiáticas em seu nome porque sabia que aquilo implicaria muitas coisas. — Ei, vem aqui. Ela olhou para aquele homem lindo de pijama que estava diante de um fogão tentando se entender com os acendedores, sorriu e foi até lá, no dia anterior Augustus e ela acordaram cedo e tiveram que ir a clínica, Angelina fez uma transvaginal e tiveram a incrível experiência de ouvir o som do coração do bebê, foi uma sensação muito boa que a deixou balançada e emocionada, Augustus já parecia bastante focado, fez muitas perguntas técnicas a médica, usou termos difíceis sobre a gestação, de acordo com a obstetra ela estava grávida de cinco semanas, mas não entrou em tantos detalhes, ali Angelina teve coleta de sangue e entregou as amostras de urina a uma enfermeira, a obstetra disse que o bebê estava bem e com desenvolvimento normal, a pressão dela estava normal, dali em diante ela só precisaria tentar desacelerar. — Eu planejei velejar hoje, gostou da casa? Era uma casa grande com dois andares de frente para o mar, ela gostou bastante do quarto onde estavam acomodados e do fato de ter bastante espaço, a decoração era toda em tons de branco e amarelo, cores pastel, a verdade foi que não teve tanto tempo para conhecer toda a casa porque chegaram por volta de meia noite, estava cansada. — Parece bem confortável. — Foi o Justin quem me alugou, é dele. — Acho que não conheço todos os seus irmãos. — Justin tem 22 anos, ele acabou de se formar em administração e tem sua pequena empresa aqui, eu não tive tanto contato com os meus irmãos durante esses meses porque muitos deles não dão a mínima para mim. — Quantos são? — Seis. Ela arregalou os olhos, nem imaginou que Catherine houvesse tido mais filhos, bem, francamente, não conhecia bem aquelas pessoas naquele sentido, nunca quis saber, Brad e ela tiveram pouco contato e ela não procurou saber profundamente sobre os irmãos dele nem sobre o resto de sua família. — Achei que soubesse. — Até onde sabia, Brad só tinha mais três irmãos. — Ah, ele não te contou dos rejeitados na época, nunca soube? Eu não sou a única criança rebelde. — Nem imaginei que alguém poderia pegar o seu posto. Riram. — Justin saiu de casa aos dezessete anos, não sou próximo dele, é um jovem com carreira promissora no mundo nos negócios, estudou em Cambridge e retornou há cerca de alguns meses ao país, temos nos falado por conta do grupo da família no chat. — Vocês têm um grupo da família também? — Eu decidi me retirar, não era saudável para eles que eu continuasse lá incomodando a todos com o meu silêncio doentio. Ela não parava de rir, foi até a geladeira e pegou ovos e pão integral, Augustus estava colocando a chaleira com água no fogo, sabia que as relações de ambos com suas famílias estavam balançadas pelas escolhas que fizeram, agora só tinham um ao outro naquele sentido. — Eu não gosto que fiquem se metendo na minha vida nem nas minhas decisões e a minha progenitora é nitidamente assim, ela e o meu progenitor são pessoas controladoras. — Não se preocupe, eles não vão exercer influência aqui. — Ela disse ao diretor do hospital que ele não deveria me aceitar de volta caso eu quisesse retornar à cidade, acho que ela espera que eu retorne implorando ajuda deles. — Sério? — Você não conhece a minha mãe. — Claro que conheço, eu apenas não quero imaginar que ela fez isso. — Ele me disse ontem que ela telefonou para ele e ameaçou cortar os fundos que ela doa para o hospital caso ele me aceite de volta. Ela ficou boquiaberta. — Eu disse para ele não se preocupar que eu não iria voltar, mesmo assim ele me deu uma carta de recomendação e indicou um bom hospital aqui para que eu trabalhe. — Não se preocupe com isso, eu vou falar com o Marc para que ele faça doações ao hospital. — Não precisa fazer isso. — Está me dizendo para não ajudar pobres crianças necessitadas? — Você joga muito baixo. — Diga ao seu ex patrão que eu cubro as doações da sua mãe. — Eu não quero que você inicie uma disputa com os meus pais por conta disso, conheço Catherine o suficiente para saber que ela pode ir longe demais para conseguir o que quer. — O poder e influência dos seus pais não funcionam comigo — ela garantiu e o abraçou — Eu não sou mais uma menina pobre e ingênua. — Só quero poder viver minha vida sem que eles interfiram, eu não sou manipulável como o meu irmão. — Eu sei, só estou dizendo que se ela está tentando te intimidar por conta do dinheiro dela, não deve se preocupar, eu tenho bastante dinheiro. — Não quero seu dinheiro. — Eu sei que não quer, acho que já entendeu o que eu quis dizer. Ele suspirou e tocou sua face com carinho. — Se quiser dividir sua vida comigo terá que entender que eu tenho muito dinheiro e já falamos sobre isso, sei que você tem condições financeiras, mas não deve ver o fato de eu ter uma carreira bem-sucedida como algo ruim, minha conta bancária nunca será mais importante do que você doutor. — Você é muito fofinha sabia? — Sabia sim. Eles se beijaram por alguns instantes, as mãos dela se enfiaram nos cabelos dele, era automático, a cada momento juntos desenvolviam mais intimidade, cumplicidade, era algo que ela aprendia a estimar dentro do relacionamento deles. — Vamos velejar, quero que descanse. — disse ele se afastando um pouco. — Ótimo, eu adoro barcos — falou com um sorriso. — Pelo ou menos tenho uma única boa notícia. — Qual? — recostou-se a ele. — O meu irmão mais novo Justin virá para cá — ele falou — Quer te conhecer. — Os Thompson não pararam só em três — Amber retornou e começou a pegar os pratos para servir o café — Não sabia que tinham mais filhos. — Ele tem vinte e dois anos e é o mais novo, Catherine já tinha me falado dele — Augustus falou — Vai ser bom, pelo que eu soube é um bom rapaz e sempre foi muito aplicado. — Ao menos não ficarei de vela — Amber disse bem-humorada — Iremos velejar? — Sim, no iate dele, fica na costa, ele me deu cartão verde para usar, vai ser ótimo nunca velejei na vida — explicou Augustus um tanto empolgado. — Quero tomar um sol e nadar um pouco. — confessou Angelina um pouco contente. — Posso guiar. — Sabe guiar? — Augustus estava surpreso. — Sei, eu aprendi com o Marc, eu vou te dar umas dicas de marinheira. — Ok, então vamos comer e vamos velejar. Augustus estava mais leve, algo que também fazia ela se sentir mais confiante, os olhos dele a analisavam a todo momento enquanto Angelina preparava o café ao seu lado, Amber estava olhando o ipad e o celular, fazendo anotações, ela imaginava que fossem referentes ao que estava acontecendo agora, durante o café ela o viu desligar a tv, imaginou que fosse melhor mesmo e só desejou que o passeio fosse tranquilo. De todas as formas era bom estar ali com sua melhor amiga, com ele, Angelina estava aprendendo a lidar com o fato de que estava grávida e que um novo ciclo da vida dela estava surgindo, um bom recomeço. Concluiu. Depois do café eles subiram para o quarto e Amber os acompanhou, ainda não haviam desfeito as malas, Augustus pegou a mala dele e saiu do lugar deixando ambas sozinhas. — E aí? Está gostando do cargo? — Relativamente tranquilo, eu já enviei os e-mails do dia e já resolvi algumas coisas da sua agenda, agora eu tenho que usar o celular para tirar as fotos suas da propaganda e postar nas suas redes sociais. Amber pegou a mala para ela e abriu, entregou a Angelina o biquíni que ela deveria usar para fazer as fotos e indicou a mala com diversos produtos de pele e protetores solar. — E como está o bebê? Ontem mal tive tempo, o Marc me pegou o dia todo para me ensinar as coisas. — Bem, até onde a médica disse, estou grávida de aproximadamente cinco semanas. — Não está enjoada? E a pressão? — Tudo ok, dormi muito bem ontem apesar da correria. — Vou colocar minhas roupas de banho, precisa de ajuda para se maquiar? — Eu não uso maquiagem para fotos de campanhas assim, só uso máscara de cílios e gloss. — O poder da genética, imagina esse bebê quando nascer? — Se sair a mim, será lindíssimo é claro. Amber riu e a deixou sozinha no quarto, Angelina colocou o biquíni e ajustou no corpo, ela se olhou no espelho por alguns momentos e prendeu os cabelos, depois passou a máscara para cílios e o gloss, escolheu uma pulseira que Marc havia colocado em sua mala e uma tornozeleira, enquanto se arrumava observava sua barriga a todo momento diante do espelho, ficava imaginando como seria dali há alguns meses, semanas talvez. Cresceria, ficaria redonda e pontuda. — Eu voltei e... uouuuu! — Amber disse surpresa. Angelina se virou e arrumou a peça inferior do fio dental no corpo, ficou um pouco constrangida, não era algo do qual usasse sempre, mas era o que aquele tipo de campanha exigia. — Ficou bem em você. — elogiou a amiga com as mãos na cintura — Cinco estrelas. — Particularmente não gosto. — É você gosta de calcinhas da vovó. Voltou para o quarto, ouviu o som do arranque de um motor de carro e não resistiu em ir até a janela e olhar, uma Ferrari preta estacionou diante da casa, Angelina olhou para a amiga de certa forma até curiosa. — Deve ser um metido como os outros — Amber falou sem animo — Também, com um carro desses, até eu seria. — Você nunca ouviu falar dele? — Eu nem sabia da existência desse adolescente — Amber falou entregando a entrada de banho para ela — E o seu Augustus? — Acho que temos que concordar que estamos aprendendo a lidar com tudo agora de um jeito bem mais saudável — confessou vestindo a entrada transparente de cor azul celeste. — E aí? — Amber estava assustada com aquilo. — Vocês têm feito “aquilo”? — Aquilo tipo sexo? Não, ainda não temos nenhum parecer da obstetra quanto a isso, ela disse que assim que todos os exames estiverem prontos irá enviar tudo para o Augustus com os resultados. — Ele parece feliz com a gravidez. — Eu falei para ele não se sentir pressionado e ele não precisa fazer nada disso pelo bebê — deu de ombros, pelo menos eles dois haviam sido sinceros um com o outro — Sabe que eu não sou muito de ficar correndo atrás de homem, Bambi, mas não posso também ignorar o fato de que tenho alguns sentimentos por ele. — Alguns? É óbvio que os dois estão bem implícitos aqui, estão apaixonados. — Eu não disse que não estava. — Ah Meu Deus! As reações de Amber eram hilárias. — Já disse para ele? — Não falamos sobre isso, quero que o Augustus esteja aqui por mim e não pelo bebê. — Não duvido que ele tenha intenção de estar aqui por você, parece que só você não percebe o quão apaixonado ele está, não acho que ele abandonaria tudo porque você está grávida, é algo que ele poderia administrar pagando uma pensão para o bebê há distância, eu acho que ele está aqui por você e pelo bebê. Era verdade, mas Angelina preferia não se prender a qualquer coisa que fosse, estava dando certo do jeito que vinham fazendo, já era um começo, Augustus disse que queria ficar com ela e que iria ajudá-la a cuidar do bebê, aquela era a parte fundamental para ela saber que não precisaria de muito mais para ser feliz. — Amor... — Augustus chamou do lado de fora do quarto. — Já vou — respondeu de volta vendo no semblante da amiga muita malícia — O que foi? — Amor. — Amber falou e cutucou ela. — Bambi! — gargalhou enquanto saiam do quarto. Era bom saber que os antigos laços estavam sendo reestabelecidos, Angelina e ela desceram a escada, encontrou Augustus em pé na sala usando calção preto e camisa folgada, chinelas, o irmão dele estava falando sobre a casa e parecia bastante empolgado, era loiro de olhos azuis assim como Catherine, um pouco mais magro, mas muito bonito, estava de calção jeans e uma regata preta. — Justin essa é a minha esposa Angie e esta é Amber, a amiga dela, este é o meu irmão Justin — Augustus falou todo feliz — Justin acabou de se formar em administração e tem uma empresa de investimentos imobiliários na cidade. Levou alguns segundos para ela conseguir raciocinar depois do “minha esposa”. — É um prazer — Justin disse com um sorriso simples — Quando me falaram nem acreditei, tive que ver com os meus próprios olhos. — Bom. — Angelina sorriu constrangida e fez uma pequena pausa — É um prazer te conhecer também. — Os negócios têm me obrigado a ficar aqui, mas esperava ir em breve a Santa Fé para conhecer melhor meu irmão — Justin disse olhando pra Amber — Muito prazer, Amber? Nos conhecemos? — Ainda não — Amber estava de repente tímida — Angie, quer me ajudar com a térmica? — Claro, sairemos em dez minutos. Se afastaram e logo que entraram na cozinha ela viu Amber arregalar os olhos daquele jeito como se dissesse "que gato!", e ela riu. — Já nos conhecemos? — repetiu e piscou para ela vendo a amiga ficar vermelha. — Não me lembro dele — Amber alegou pegando a bolsa térmica e algumas vasilhas no armário — Que gato. — Um bebê praticamente — Augustus entrava na cozinha — Já conhecia ele? — Não! — Amber disse envergonhada — Shshshhshshhh, parem com isso, o bebê pode ouvir. — Você fala como se fosse uma velha — Angelina pegou queijo, pasta de amendoim e começou a montar os sanduiches — Se quer saber, nem diria que tem mais de vinte. — Obrigada — Amber falou pegando a térmica com café e alguns enlatados no armário — Eu faço o melhor para me manter jovem e bela. — Como por exemplo... — Tardes quentes com direito a tacos e babatas fritas. — Afirmou Amber com a voz melodiosa. Augustus riu enquanto pegava garrafas com água mineral e colocava em uma caixa de isopor. — Tem sorte isso sim — alegou Angelina e olhou para ele — Você quer levar algo em especial? — Leve frutas, para você é claro, não é bom comer coisas pesadas em dias de sol, talvez tenha enjoos — Augustus beijou a têmpora dela. — Prontos? Justin entrou na cozinha só de calção, braços compridos e barriga tanquinho, suspirou e voltou a organizar as coisas, havia algo que admirava na juventude dos dias atuais era o fato de que muitos jovens eram bastante desinibidos, pouco se importavam com formalidades. O irmão mais novo de Augustus era daquele jeito. Minutos depois quando tudo estava pronto, eles foram na caminhonete alugada por Marc e ela apreciou todo o caminho até a baia, Augustus estava dirigindo o carro, o irmão dele foi na frente ao lado dele, se sentiu mais confortável de ir atrás com Amber até porque a amiga parecia um tanto retraída. Meia hora depois já estavam entrando no iate de Justin, Angelina ficou mais disposta quando percebeu que Justin sabia como conduzir a pequena embarcação, ela estava a todo momento sorrindo por saber que iria poder aproveitar as férias que não se permitiu ter e claro, em ótima companhia. Augustus e Justin carregaram as coisas para dentro do iate e logo Amber pôs-se a arrumar um canto do iate onde iria tirar as fotos, Angelina repassou rapidamente o que a marca queria que ela divulgasse na mensagem enviada por Marc e então se sentou num dos lugares à mesa que havia ali. O Iate começou a se mover e ao sentir o vento de encontro ao corpo se sentiu bem, feliz, há muito tempo não tirava aquele tipo de férias nem viajava para a praia se não à negócios, ela se encostou no acento e comtemplou o caminho que o iate começou a traçar para longe da baia, o mar ali era expendido. — Tudo bem? — Augustus perguntou se aproximando. Ele já estava sem camisa, Amber estava dentro da cabine mexendo no ipad e ma bolsa que ela trouxe com as coisas. — Sim. O viu se sentar ao seu lado e passar o braço envolta dela, se aconchegou e recostou a cabeça em seu peito, ganhou um beijinho na têmpora novamente, segurou a mão dele e entrelaçou os dedos nos dele. — Eu nunca andei de iate na minha vida — ele confessou. O vento jogava os cabelos dele para os lados, Angelina ficou rindo daquilo feito uma idiota, de toda e qualquer forma estava apaixonada por aquele homem. — É bom, ajuda a relaxar. — Percebi, você está silenciosa demais. — Apenas refletindo. — Sobre... — Eu ser sua esposa. — Ah, não gostou? Bem, é que como estamos juntos para mim é como se fosse minha mulher... — E eu sou. — É? — Sim, absolutamente. Ele sorriu e ergueu sua mão, depois beijou as pontinhas dos dedos dela entrelaçados aos dele, aquilo a aqueceu. — Eu estou absolutamente apaixonada por você doutor Guerra. — Não me deixe sonhar, por favor... — Não mesmo, isso é bem real para mim. Os olhos dele cintilavam e refletiam coisas das quais ela nunca pensou ver nos olhos de um homem, amor, afeto, admiração, tantas coisas. — Eu também estou apaixonado, amor. — Está? — Seriamente comprometido. — Essa pedra de gelo que você tem no lugar do coração, seria só minha? — É só sua. Quis chorar, quis pular no pescoço dele, ela quis muitas coisas, mas constatar tantos sentimentos fez com que não parasse de rir. — É agora que começa o nosso conto de fadas, meu amor? — Sim senhor Guerra.
— Você contou para ele?
— Contei o que? — Sobre o seu amor oprimido, ora. Angelina sorriu, não poderia negar, não mais. — Talvez. — Ai, que lindo. Ela se ajeitou e esticou o braço permitindo que Amber capturasse mais uma foto dela deitada na espreguiçadeira ali, segurava o protetor solar enquanto mantinha mão acima da cabeça, Amber havia passado riscos de protetor em suas bochechas e no nariz, parecia uma publicação até promissora, as fotos estavam ficando bonitas. — E agora? — Amber era boa naquilo, arrumou os fios de cabelos dela dos lados das faces e tirou mais uma foto. — Acho que é uma conversa que deveremos ter hoje à noite. — Gosto da ideia de que você está feliz Angie, em paz consigo mesma, quando voltou para Santa Fé parecia frequentemente nervosa, inquieta, não queria socializar. — Eu fui obrigada a conviver com meus traumas sem estar pronta, mas foi o melhor para mim, agora eu entendo mais sobre isso, quero poder estar saudável mentalmente e que essa gravidez seja tranquila. — Se depender do papai ali... Augustus se aproximava com garrafinhas de água mineral em uma bandeja e taças de suco de laranja, Amber se sentou no chão do iate enquanto ele se inclinava e se sentava na espreguiçadeira, Angelina encolheu as pernas e se ajeitou, Justin se aproximou também segurando uma cerveja, usava boné. — Tudo ok? — questionou ele. Ela pegou uma garrafa de água mineral e assentiu com a cabeça, já Amber pegou uma taça de suco. — Fez as fotos? — Acho que foram as últimas, Marc sugeriu que eu escolha três. — Eu te sigo no insta — Justin disse para ela — Gosto dos seus trabalhos, são bem vintage e cult, bem adulto chique. Parecia entender. — Eu não tenho Instagram — Augustus disse — Não costumo ter tempo. — E você senhorita Amber? — Justin olhou para Amber. — Não tenho tempo também. Justin analisava sua amiga e aquilo era facilmente compreensível já que Amber estava em sua melhor forma, era magra, tinha um corpo muito bonito, mas nunca havia de fato sido notada por aquilo porque em suma maioria das vezes usava roupas cumpridas demais, vestidos que a infantilizavam, nada parecido com aquele biquíni que Angelina deu para ela no dia anterior. — O que vão fazer hoje a noite? Podemos ver um filme. — Justin sugeriu mexendo no celular. — Justin está de folga esses dias, ele pode ficar hospedado conosco? — Augustus perguntou e estendeu a mão, pousou no ventre dela, começou a acariciar o local. Amber suspirou, ela sorriu abertamente. — Claro que pode. — Sou um desgarrado. — E o que você fez de tão grave, Justin? — Não fiz Direito assim como papai queria, não quis trabalhar na empresa, não respirei do jeito que minha mãe queria, enfim essas coisas de filho revoltado. — E eu te achando coração de gelo — ela disse com deboche. — Ele perdeu o jeito agora que será papai — Amber insinuou. — Penso que o nosso bebê já entende o que falamos, estudos comprovam que o bebê ouve tudo na barriga da mãe, quero que ele perceba que posso ser atencioso com ele, com a mamãe dele. — Awnt, ele está usando termos fofos. — Ele sabe que será muito amado pelo papai dele ou dela — Angelina cobriu a mão dele com a dela toda enternecida. — Que tal se eu tirar uma foto de vocês três? — Amber estava apontando a câmera do celular para ambos. — Se o Augustus quiser... — É claro que eu quero. Angelina se inclinou e se sentou no colo dele, os braços dele envolveram-na num círculo quente e ela se acomodou em seu colo, ela olhou para cima enquanto ele olhava para frente e se ajeitou querendo rir do jeito sério dele. — Tão sério. — disse ela fazendo biquinho. Ele sorriu envergonhado, depois colocou um selinho em seus lábios. — Tá perfeito. — Amber disse contente — O que acham de publicar algumas dessas? — Ligue para a marca e pergunte se eles têm mais dinheiro a oferecer em troca de uma foto exclusiva nossa. — Mas gente eu só fui ali pegar os protetores e isso tudo aconteceu? — Eu posso ajudar na negociação. — Justin garantiu enquanto se afastava — Vamos senhorita Amber, posso negociar com eles. — Vou primeiro falar com o Marc, acha que essas fotos ficaram boas? Amber estava mostrando as fotos na tela do celular para Justin enquanto caminhavam até a cabine, Angelina olhou para o homem que a abraçava e não se importou nenhum pouco com o que quer que pudesse acontecer dali em diante, nem com sua reputação, nem com nada do que pudessem falar. — Quero que aceite ao menos um anel de compromisso. — ele estava acariciando o ventre dela com carinho. — Eu aceito Augustus. — Está cansada? — Um pouco. Augustus a viu tirar o biquíni e analisou a marca bronzeada no corpo dela, ele tirou a camisa e o calção e a acompanhou até o box do banheiro, tinham chegado há alguns minutos, havia sido um dia muito tranquilo e bom, haviam ficado momentos no iate e depois descido para a água, algo que pareceu bem comum para ela, mas que para Augustus ainda era novidade. — Eu gostei do dia de hoje. — confessou um tanto constrangido — Nunca tive dinheiro para andar de iate antes, parece besteira, mas de onde eu venho nós sempre tivemos coisas básicas. — Entendo você, eu também tive uma infância bem pobre. Ela recolheu o xampu e começou a despejar nos cabelos, era fascinante saber que estava vivendo aquilo de verdade naquela proporção, já a conhecia, já sabia quem era Angelina, contudo ele se obrigou a rejeitar a ideia de que poderia amá-la há alguns dias, então era como redescobrir o sentimento de novo como uma primeira vez. Sempre gostou da companhia dela, era agradável e divertida, mas viver naquela proporção ao lado dela e presenciar sua vida de perto era muito mais interessante do que ele poderia imaginar em toda a sua vida. Ela não era apenas uma modelo famosa, mas uma boa negociadora, uma mulher conhecedora de valores e de como ter uma boa estratégia de mercado. Nada que ele entendesse já que era médico, contudo que aprendia a compreender que não se tratava apenas de ela fazer fotos e estar bonita demais em alguma imagem, era um tanto estranho se imaginar ao lado de uma mulher daquele porte, algo que o colocaria em evidência, tinha evitado bastante ser vinculado a qualquer mulher que fosse, contudo pela primeira vez na vida também ignorou seus conceitos sobre aquilo. Estar com ela era vivenciar tudo pela primeira vez. Seria pai, seria marido dela, ela não tinha medo ou vergonha dele, ela o aceitava do jeito que ele era, então não havia por que ter medo ou rejeição, ela não era como nenhuma outra mulher que passou em sua vida desde o momento em que a conheceu e ele adorava aquilo nela. Estava apaixonado. Angelina estendeu as mãos e tocou seu peito, depois ela o segurou pelos ombros e o puxou para perto, passou os braços envolta dela observando sua nudez, há um mês e meio atrás teve medo de manter aquela proximidade, agora estava decidido de que era o melhor para ele. — Gostou do nosso dia no iate, Augustus? — Não acha que está na hora de me chamar de amor também? — Você está irreconhecível. — Sinto muito que eu não tenha dito para você sobre como me sentia, mas nem mesmo eu sabia o que era. — Eu também tive medo dos sentimentos e os evitei. — Tenha certeza de que não queria me precipitar. — Eu sei. Ela sorriu e tocou sua face. — Que bom que me deixou te assumir doutor. — Ah, você acha que eu tenho jeito para ser homem de mulher famosa? — Tem sim. Os lábios dela tocaram o peito dele e Augustus se inclinou colocando um beijo suave neles, o corpo implorava por algo além de toques, mas sabia que não deveriam. Ele a puxou para si e o corpo dela tocou o dele, até que a médica enviasse os resultados dos exames não poderiam ter relações com penetração, nada intenso demais. — Não quer vir até a cama comigo? — convidou. — Não sei se podemos. — Há muitas formas de se fazer amor, querida. Ela o analisava sob a cortina de água quente do chuveiro, Augustus pegou o sabonete e começou a passar nos seios dela, não tinha pressa, Angelina era uma mulher com um corpo esplendoroso ele sabia, ela exercia muito poder sobre ele, não era algo que se controlasse apenas com toques, nem carícias, ele queria mais. A mão espalmou a intimidade dela e respirou fundo dizendo para si mesmo que deveria se controlar, era quase impossível, adorava a sensação de manter as mãos no corpo dela, Angelina talvez não soubesse, mas havia sido um mês muito difícil longe dela, ela representava muito mais do que poderia imaginar para ele. As mãos dela tocavam os quadris dele, desciam para a bunda, olhos cobertos de prazer e cheios de intensidade, puxou ela para debaixo do chuveiro e a lavou. — Me espere na cama, esteja seca. — Está bem. Não havia tanto nervosismo nele desde o dia em que se formou, quando prometeu para si mesmo que seria o melhor no que faria, que tentaria salvar o máximo possível de vidas. Ela se enxaguou mais uma vez e saiu do chuveiro deixando-o sozinho. Se lavou como de costume e lavou os cabelos, ele pensou bastante sobre como falaria, e se viu sorrindo algumas boas vezes enquanto analisava todas as coisas que estavam acontecendo naquele momento na vida deles. Estavam morando juntos, ele havia se mudado para o apartamento dela, deixou tudo para trás e foi viver com ela, pela primeira vez na vida sentiu que não abandonava nada em vão, não queria também pensar que tinha orgulho no lugar que ela deveria ocupar. E não tinha nenhum pingo de medo do que Catherine ou Ryan pensavam, não se importava com dinheiro e agora tão pouco com a fama que Angelina tinha, era mais nítido que nunca que a vontade de ficarem juntos superaria qualquer obstáculo. Ter se envolvido com ela o fez ver e conhecer sua família, quem eram aquelas pessoas que queriam tanto que ele não fosse feliz, que queriam impedi-lo de ficar ao lado da mulher que ele escolheu para viver e não entendia afinal de contas porque eles cultivavam aquela raiva por Angelina, ela não fez nada de errado, eles eram os errados. Ela foi a vítima do começo ao fim. Contudo agora se eles achavam que iriam colocá-la numa outra situação de risco estavam totalmente enganados, ele não faria com ela o que Brad fez, ele a amava e queria que ela ficasse bem e segura, o bebê deles, não importava nada além do relacionamento deles precisou perdê-la para perceber que ela era exatamente o que ele queria. A amava e aquilo era o suficiente para ele em todos os sentidos. Saiu do chuveiro e pegou a toalha, foi para o quarto, Angelina estava deitada na cama usando uma calcinha de algodão, ela estava tocando o ventre com as mãos, olhando para o local com tanto afeto que aquilo encheu seu coração de amor e carinho. Talvez aquele bebê significasse muito para ela. Ela havia perdido uma filha de forma drástica. — Você deve me achar maluca — ela disse com um sorriso constrangido. — Não acho. — Eu não pensei que engravidaria, minhas chances eram quase nulas. — Você não queria ser mãe? — Tive medo, como a minha ginecologista me disse que eu não engravidaria de novo eu me conformei. Se aproximou da cama se secando. — Você nunca tentou. — Não, eu estou com um pouco mais de confiança nessa gestação, espero que ele ou ela nasça bem, eu nem vi a minha filha nascer, quando acordei já tinham enterrado ela. — Você sempre mereceu mais do que as pessoas te ofereceram, amor. — Foi por isso que eu decidi ir embora. — Eu entendo você. Era uma pena que ele precisou ficar tanto tempo longe dela para aceitar que Angelina deveria fazer parte da vida dele, que ela desde o começo a única pessoa prejudicada em todos os sentidos foi ela, que ela era a única pessoa na face da terra capaz de aceitá-lo do jeito que ele era. Foi até a cama e se deitou ao lado dela, tocou seu ventre, Angelina sorriu e cobriu a mão com a dele, seus olhos cobertos por pequenas camadas de lágrimas, não eram de tristeza, mas não era algo que ele gostasse de ver. — Não gosto de te ver chorar. — São de felicidade, gratidão, este bebê será o meu milagre. — E vocês dois o meu milagre. Se inclinou e a beijou, ela se inclinou e o abraçou se aconchegando ao seu corpo, tocando sua nudez, acolhendo-o, ele enfiou a mão debaixo do travesseiro e retirou de lá um anel de prata com uma pedra pequena de cor azul que havia herdado da falecida mãe, ele segurou a mão dela e colocou o anel em seu dedo se afastando um pouco, Angelina se endireitou e sorriu de ponta a ponta. — Gostou? Foi da minha avó materna, sei que não é brilhante, mas tem enorme significado para mim, minha mãe disse que a mãe dela deu para ela quando era mocinha. — É lindo — os olhinhos dela brilhavam. Era incrível como acima de tudo ela era humilde. — Eu amei querido, muito obrigada. — Você é a mulher que eu escolhi para viver, é minha mulher. — Eu sei que sou. Ele a observou por alguns instantes, tudo havia mudado tão rápido, percebeu, a mudança veio quando menos esperou e estava contente com aquilo. — É lindo — repetiu ela analisando o anel de prata e a pequena pedrinha cor de azul — É zircônia? — Eu não sei, tinha grande valor emocional para a minha mãe. — É perfeita, eu amei de verdade, muito obrigada. Angelina o abraçou toda contente, como quando foram à casa dos tacos e ela estava feliz em compartilhar com ele um bom momento, um momento muito feliz. — Sei que merece mais, eu vou comprar um anel mais bonito, só queria que esse fosse o primeiro porque minha mãe me fez jurar que daria a minha esposa, quando eu escolhesse uma. — Não precisa de outro anel, este é de bom tamanho. — Eu estou contente que você esteja confortável aqui, o que achou do meu irmão? — Ele é audacioso. — Ele é o oposto do que eu sou, todos eles, deve imaginar como me senti quando fui para Santa Fé, nunca tive nada, chegar lá e lidar com mais de uma colher na mesa para comer. — Não ligo para formalidades. — Já tive muito pouco por isso eu não me importo que a Catherine tire as coisas que me deu. — Você é um excelente médico, tenho certeza de que vai conseguir um bom cargo em Nova York. — Eu já enviei alguns currículos para hospitais da cidade, confesso que nada parece mais atraente depois de saber que isso vai tomar meu tempo, quero cuidar de você e do bebê. — Ah, é, ficar sem me deixar fazer nada. — Eu tenho uma boa poupança, o dinheiro que eles me deram não podem tomar, ao menos isso, tenho dois milhões na minha conta, dá para arcar com as despesas por um bom tempo, não quero pegar longos plantões, quero pegar só um turno durante o dia. — Não precisa se preocupar, a Bambi agora está comigo e me sinto bem. — Vamos esperar os resultados exames que a médica pediu e até lá você precisa descansar sua teimosa. — Eu amei meu anel, é sério, ele brilha. Ela movia a mão para os lados exibindo a pedrinha, aquilo o fez sorrir, a puxou para si e a apertou com força. — Está cansada? — Com um pouco de sono. — Então durma. — E o filme? E o nosso sexo sem sexo? Gargalhou e puxou os cobertores abraçando-a enquanto se deitavam. — Deixe o filme para Amber e Justin e o sexo para assim que sair os resultados dos exames, meu amor. — Tudo bem — ela beijou o queixo dele e passou a perna envolta do quadril dele — Meu amor. Ótimo. Pensou ele apenas grato. — Vocês nitidamente não sabem brincar! — Amber disse histérica, tão logo Angelina e Augustus entraram na cozinha — 32 milhões de curtidas em uma foto. Angelina sorriu tranquila, Augustus estava sonolento ainda, desceram para o café. — Fiz certo em pedir mais novecentos mil pelas fotos não fiz? — Não te julgo. — Augustus foi até o fogão. — Bom dia Justin. — Bom dia, mamãe, mandou mensagem aliás. — E... — Eu não sei, não li, bloqueei ela de novo. — Retire o que eu disse sobre ele ser legal, amor. — Eu tive que bloquear os envios de mensagens no direct, o Twitter travou, Marc me ligou pelo ou menos umas dez vezes. — Marc sendo Marc. — Angelina disse e foi até onde Augustus estava, ela o abraçou por trás — Quer ajuda? — Cuido disso, sente-se. — Eu já fiz o café e coloquei alguns biscoitos para assar — Justin estava sentado ao lado de Amber na pedra de refeições — E aí? — Tá indo né? Calma! Ela ficou ao lado de Augustus e olhou envolta. Tudo começou a ser bastante promissor. Analisou seu anel no anelar direito e sorriu, como poderia parar de sorrir depois de ter ganhado aquela coisa linda? Ela adorou o presente. — Você tem a opção de se casar comigo antes da barriga começar a crescer. A sugestão quase a fez pular de alegria, mas ainda tinha aquele lado dela que a impedia que querer fazer qualquer loucura do tipo. — E o que eu ganharia de benefício hein? — Desconto nas consultas. — E o que mais? Ele estava falando baixinho perto da orelha dela. — Sexo selvagem às sextas e amor lento aos domingos, filmes em família e eu sei cozinhar. — Você só sabe fazer ovo mexido. — Ingrata. Ambos começaram a rir, Amber e Justin estavam distraídos demais olhando gráficos das redes e curtidas no ipad e no celular. — Você não gosta da ideia de ser minha esposa? — Não quero que seja por necessidade ou pelo bebê. — Você ainda acha que é só pelo bebê? — Não quero que você se engane e perceba mais tarde que é só isso. — Angie, acho que já me conhece o suficiente para saber que se eu não quisesse, eu nem teria me oferecido para vir para cá. — Eu sei, eu sei. — Então? — Não é rápido demais? — Que diferença vai fazer se moraremos juntos do mesmo jeito? — Talvez pelo fato de que casamento é uma coisa bem mais séria. — Mais séria do que morar com você? Ela deu um empurrãozinho no ombro dele, ambos continuavam a sorrir. — Eu prometo que vou ser um bom esposo. — E se não der certo? Estava incerta quanto aquilo. — Vai dar certo. — Ainda acho cedo. — Por que temos que perder tempo? O assunto era delicado e nada adequado para se ter de uma hora para outra. — Já te disse que vou fazer tudo certo desta vez. — Eu não sei se estou pronta, tenho que pensar sobre muitas coisas. — Eu não vou te atrapalhar na sua carreira. Sentia determinada resistência dele quanto aquilo, ele tinha medo de que de alguma forma a prejudicasse, ela entendia que Augustus tivesse medo por não ser alguém da mesma área que ela, porque eles tinham vidas opostas. — Eu sei que não, não é sobre isso. — E sobre o que é? — Bem, é rápido. — Não é rápido, nos conhecemos bem, sou um homem de caráter. — Eu sei que é. — Eu sou formado e honesto, eu tenho economias, eu quero formar uma família com você, por que não? Ela umedeceu os lábios com um pouco de receio. — Me dá uma chance, vou fazer tudo certo. — Está seguro disto? — Quero que use o meu nome, que seja dona da minha vida e que aceite que eu te amo e que não quero ficar mais um segundo da minha vida longe de você e se eu tiver que me casar com você para que isso aconteça eu me caso. Seu coração transbordou e Angelina não pensou em nada para falar além do que saiu de seus lábios: — Sim, eu aceito. As duas semanas em Malibu voaram e com elas vieram dezenas de suposições na internet a respeito de Angelina e Augustus, foi algo que Amber administrou com cuidado e sutileza, não era uma coisa que se importasse. Cada dia ali foi apreciado com tardes de sol e noites divertidas, boa comida, boa música, algumas vezes contemplação do pôr do sol e da chegada do dia, também da lua, do mar, ela apenas descansou e aproveitou os quinze dias vivendo um dia de cada vez. Justin se despediu deles no último dia, notou que Amber esteve grudada no rapaz e que desenvolveram uma boa amizade, trocaram telefones, mas a amiga não conseguiu esconder a tristeza por muito tempo, algo que só foi amenizado com o passar dos dias. Ao retornar para Nova York, teve duas sessões de fotos nas quais foi acompanhada pelo então namorado e pela sua nova assessora, Marc se enrolou com os compromissos dos quais ela tinha que viajar e reuniões com a equipe de marketing. As sessões foram simples, em estúdios de dois fotógrafos com quem ela já havia trabalhado, se sentia mais renovada depois do descanso, nas duas semanas que se seguiram, ela e Augustus receberam os exames da obstetra com os resultados, de acordo com o laudo da transvaginal estava tudo bem com o bebê, seus exames de sangue e urina estavam normais, teria que retornar no fim daquele mês para o pré-natal. Algumas coisas pareceram fazer muito sentido, como ter Amber por perto a todo momento lembrando-a de suas obrigações diárias, a amiga se mudou para o próprio apartamento uma semana depois dos dois ensaios, naquela semana também, Angelina tentou aproveitar os momentos vagos para se inserir na antiga rotina, a médica não havia proibido ela de fazer nada além de exercícios pesados, então ela desceu durante alguns dias da semana para a academia do prédio e caminhou na esteira, Augustus a acompanhou, mas ao contrário dela, pareceu contente em pegar alguns pesos e praticar boxe num saco de pancadas que havia ali. Ainda naquela semana ele marcou o casamento no civil e Marc organizou uma pequena reunião na cobertura do prédio dela para um jantar de comemoração, eles tiveram resposta sobre uma data três dias depois, se casaria dali a três semanas. Os dias passaram muito tranquilos, dias em casa cozinhando, dividindo com Augustus e Amber alguns jantares, almoços, Marc aconselhou que ela evitasse ver suas redes sociais, mas fizeram uma boa estratégia de marketing para investir em anúncios e campanhas de publicidade nas redes sociais. No aconchego de seu lar, Angelina fez algumas fotos, Augustus aprendeu a usar a ring light a favor dela e foi um dos principais ajudantes no processo dos anúncios, ela não se lembrou de rir tanto como quando eles jantavam juntos ou quando viam filmes juntos, o humor ácido dele fazia ela rir, trocaram beijos, abraços, carícias, quando ela entrou na oitava semana e ainda na semana de assinarem os papéis, recebeu uma ligação. — É sério que você cortou a pensão da mamãe e do papai? Era a voz de Gloria, cheia de raiva e arrogância. Angelina estava deitada na cama, já era noite, Augustus havia ido preparar pipoca, aquela seria uma noite de cinema para ambos, sua melhor amiga passou ali mais cedo e repassou a agenda da próxima semana, talvez concedesse uma entrevista para um blogueiro famoso, estava esperando o melhor lance. Afinal de contas, ela precisava pagar as contas. — Boa noite, Gloria, como está? A Isabela está bem? — Você quer que os nossos pais passem necessidades? O que eles têm a ver com essa obsessão louca que você tem pelo meu marido? Quando você vai nos deixar em paz? Ela colocou o celular no viva voz e começou a gravar a ligação, havia pedido a Marc que parasse de fazer os depósitos mensais para os pais e para as irmãs há cerca de duas semanas, não duvidava que em algum momento ligassem para ela, só não esperou que mandassem Gloria fazer aquilo. — Eu não entendi, se a família do seu marido lindo maravilhoso é tão rica, por que não pede para ele sustentar nossos pais? — Você sabe muito bem que o Brad trabalha para os pais dele. — Este não é um problema meu Gloria, nossos pais não são só minha responsabilidade, Dora e você também devem ajudar ambos. — Dora não tem condições de arcar com todas as despesas da casa. A cada palavra, Gloria parecia ainda mais exaltada. — Ela mora com eles, ela trabalha, não entendo porque ela não conseguiria comprar o básico para os nossos pais. — Você tem obrigação de ajudá-los. — Eu não tenho nenhuma obrigação legal de sustentar nossos pais Gloria, eu mandava dinheiro para vocês porque eu queria, agora a mamata acabou minha filha, se quiser dinheiro, peça para o seu marido, eu tenho certeza de que pelo valor que eu mandava nossos pais tem uma reserva, você só está ligando porque sabe que não vai mais ter dinheiro para gastar com roupa e sapato no fim do mês. — Você tem noção do que está causando às nossas famílias? Separou o Augustus dos pais dele, tudo em nome de que? Essa obsessão que você tem pelo meu marido. — Minha filha, eu não sei se os seus sogros disseram, mas foram eles quem não aceitaram meu envolvimento com o Augustus e eu imagino tanto que você tenha tentado entender que eu não o obriguei a nada que ele veio porque ele quis, ele é um homem adulto e maior de idade. — Foi errado ter cortado o dinheiro. — Pergunta para sua sogra o que ela fez com o Augustus, aposto que ela vai ter muito prazer em falar que tomou todas as coisas dele e que chantageou o dono do hospital para não dar emprego mais para ele. — Isso é mentira! — Você acha mesmo que com o caráter que eu tenho preciso mentir? Ah, Gloria, por favor, vá chupar prego, e escuta bem, a partir de hoje se você e a Dora quiserem dinheiro, podem arrumar um emprego, eu não mando mais, do meu dinheiro não, abraços. E desligou. Ficou ali parada sem se sentir mal por aquilo, sabia que em algum momento eles entrariam em contato para reclamar, contudo ainda era um pouco incomodo que sentisse como se a família quisesse apenas seu dinheiro. Sempre tentou dar do bom e do melhor para os pais, para as irmãs, por isso ela mandava cerca de trinta mil dólares para cada um deles para gastos pessoais, ela também sempre os presenteava com carros, bolsas, quando ganhava alguns presentes enviava para a mãe, perfumes, peças de grifes importantes, nunca foi um problema dar, tinha muito dinheiro. — Que bom que você não se curvou as vontades da sua irmã. Augustus estava entrando no quarto com uma bacia com pipoca e duas garrafinhas de suco natural. — Você ouviu? — Sim, o Brad também me ligou fazendo chantagem. — E... — Mandei ele tomar no cu e desliguei na cara dele. — Acho que peguei leve com a Gloria. — Não me afeta que minha família me trate desse jeito porque eles de fato não conviveram comigo, mas não acho certo de que seus pais façam isso com você. — Eles estão sendo manipulados pelo seu irmão e pelos seus pais. — Que bom que não somos nós que precisamos deles, não é mesmo? Ela se acomodou entre os travesseiros, ele se sentou ao seu lado e ficou olhando-a em silêncio. — Estamos indo bem, amor. — Eu sei, você até me ajuda com as minhas campanhas. — A médica me enviou um e-mail, semana que vem teremos o primeiro ultrassom. — Vou me organizar, está ansioso para assinar os papéis? — Estou, e você? — Um pouco, confesso. — Estive pensando, você quer usar o sobrenome dos meus pais biológicos ou da minha mãe? — Quero o sobrenome da sua mãe, não sei se conseguiria usar o sobrenome dos seus pais. — Imaginei que sim, queria que ela estivesse aqui para presenciar isso. — Ela se orgulharia do homem que se tornou. — Pode ter certeza de que ela nunca rejeitaria nosso bebê nem viraria as costas para mim. — Ela deve ter sentido muito orgulho de ter um filho doutor. — Eu estava iniciando minha residência quando ela faleceu, mas ela sempre encheu a boca para falar que se orgulhava de mim. — Eu também me orgulho do meu marido doutor, cuida de mim feito uma bebê. — Fico contente que você não esteja sentindo enjoos. — Mas eu sinto bastante cansaço. — Ao menos nossas miniférias nós descansamos bastante, a rotina do hospital estava me fazendo bastante mal. — Ao menos descansamos. — Marc disse que vai investir boa parte do meu dinheiro em negócios rentáveis, me disse para ficar tranquilo e que não deveria me preocupar com trabalho agora. — Ele conhece muita gente nessa área. — Dei metade do meu dinheiro, ele contratou um advogado para cuidar dos contratos, quer que eu invista em pequenas empresas de agricultura familiar, projetos sustentáveis, gostei da ideia. — É muito a cara dele fazer isto. — É nisto que investe seu dinheiro? — Sim, isso gera muito emprego e é bom porque ajuda também no sentido da conservação ambiental. — Você é filantropa, não me disse que tinha tantos projetos nos quais é envolvida. — Não gosto de me promover em cima disso, eu gosto de sentir que faço minha parte. — Ele disse que vai investir em uma empresa de produção de energia limpa, que isso no futuro vai dar muito dinheiro. — Vai sim. Ele se aproximou e colocou um beijo lento nos lábios dela, Angelina tocou sua face e sorriu um tanto constrangida, há alguns dias percebia que Augustus procurava por ela, queria algo além de beijos, era algo do qual também sentia que queria bastante, contudo talvez não estivesse pronta. — Você está com medo? — Tenho um pouco de receio. — Não precisa, a médica disse que podemos ter relações normais, vou tentar ser bastante carinhoso. — Está bem. Angelina puxou a blusa do pijama, Augustus tirou a bacia da cama e colocou sob a mesinha ao lado, depois ele começou a puxar a calcinha dele e a tirar de seu corpo, ela se acomodou entre os travesseiros e os olhos dele analisavam-na com certo cuidado, confiava nele. Augustus segurou seus joelhos e se inclinou colocando a cabeça entre suas coxas, o corpo dela subiu enquanto ela o observava começar a chupar ela devagar, primeiro lambeu, depois a boca começou a beijar sua intimidade com veracidade, o corpo dela estremeceu com a sensação do beijo quente e úmido, não era algo pelo qual esperasse. Estendeu a mão e enfiou nos cabelos dele, os quadris subindo conforme a língua tocava seu ponto sensível com gestos lentos em círculos, os olhos dele reluziam enquanto a observava, a mão dele acariciou sua coxa abrindo um pouco mais sua perna e logo em seguida ele estendeu tocando seu seio devagar. Ela relaxou por completo naquele momento, acomodou as pernas dos lados ficando totalmente aberta para ele e observou sua boca tocar a pele sensível enquanto com a outra mão ele tocava os pelos pubianos dela, com os ombros encostados nas nádegas dela, estimulando-a com a língua sem pressa, seu corpo subiu e desceu com a sensação quente que se formava de dentro para fora, a língua dele afastava os grandes lábios e penetrava toda a intimidade causando arrepios intensos por seu corpo. Angelina nunca teve o prazer de experimentar sexo oral, era sua primeira vez, aquilo a fez sorrir e ao mesmo tempo fazer caretas contorcidas. Arfou um tanto tensa e se soltou quando a boca dele desceu mais para sua entrada, a mão que estava apertando o seio subiu e seu polegar tocou os lábios dela, abriu a boca e o sugou muito tentada. Enfiou a outra mão nos cabelos dele e os puxou desejosa, a boca subiu de novo para o local onde havia aquele pontinho sensível e delicioso, ele lambeu com gosto e depois a segurou pelos quadris com firmeza movendo a boca com mais força contra seu sexo, latejou. Tremeu, fechou os olhos totalmente descontrolada e fechou as pernas envolta da cabeça dele, tão soltou seus cabelos e se apoiou nos cotovelos toda encolhida, Augustus a segurou com firmeza e girou na cama puxando-a pelos quadris, ela se apoiou nas mãos tentando se equilibrar e dobrou os joelhos, então ele a manteve ali com as pernas envolta de sua cabeça, chupando-a, os quadris dela se moviam involuntariamente e ela se contorcia. Angelina se apoiou na cabeceira da cama, ela olhava para a boca que a tomava toda, os olhos ferinos feito os de um predador, ele a olhava de um jeito único quando a possuía, ele era intenso demais. Ele a segurou pelos quadris com suavidade, ela estava bastante úmida, muito perto do gozo, os lábios tremiam e o corpo não obedecia mais aos impulsos racionais, logo em seguida ele a colocou sob seu abdome e puxou a calça do pijama para baixo, Angelina se posicionou e se inclinou para trás permitindo que ele a penetrasse bem devagar. Naquele momento ela estremeceu dos pés à cabeça e o orgasmo a tomou por completo. Augustus ficou parado observando-a se mover em cima dele num vai e vem instintivo, as mãos dele tocaram as coxas dela e ele a deixou livre para gozar nele todo, Angelina se inclinou totalmente arfante, ela o beijou entre gemidos, caretas, os quadris subindo e descendo enquanto ele entrava mais e mais nela, ela via as estrelas e só queria mais, seu clítoris latejava, sua entrada estava totalmente molhada. A mão dele tocou sua cintura e subiu até seu seio, ele deixou seus lábios e abocanhou o seio por algumas vezes, ela se deitou sobre ele a abriu as pernas enfiou as mãos em seus cabelos e o beijou, as línguas se encontravam em beijos lentos e profundos, ele se moveu devagar abraçando-a enquanto a penetrava sem pressa, ela estava muito sensível. Angelina se moveu com ele, ela apoiou a cabeça ao lado da dele no travesseiro e começou a rebolar com ele devagar, ele a olhou daquele jeito e afastou algumas mexas de cabelo que lhe caiam a face, os olhos deles estavam fixos um no do outro, os corpos colados e uma sintonia única enquanto faziam amor daquele jeito. Abriu a boca e ele colocou a língua dentro dela apertando as nádegas dela com força, sua firmeza latente e quente penetrando-a mais fundo. — Isso, amor. — ela disse baixinho e fez um biquinho de choro — Isso amor, isso, bem fundo. Ele enfiou as mãos em seus cabelos e começou a meter mais fundo dentro dela, eram metidas vagarosas, mas sentir que ele a penetrava era simplesmente divino, Angelina sorriu enquanto se entregava a mais um maravilhoso orgasmo, ele parou e deixou que ela dançasse sem receio em cima dele, ela o beijou mais uma vez soltando gemidos baixos feito um animal no cio. As mãos dele se apoiaram na cama e ela se ergueu com ele, se segurou nele e enlaçou-o pela cintura, os quadris dela começaram a se mover novamente, Augustus segurava nas nádegas dela ajudando-a a subir e descer nele, ele beijou seu pescoço e a fitou afastando os cabelos dela para longe de seu rosto. — Faz comigo — ele pediu — Goza em mim de novo. Ela o beijou com mais intensidade e o corpo recebeu um prazer palpável, o ouviu gemer alto enquanto ela se contraia toda, Angelina gozou mais uma vez, ele a segurou por alguns instantes enquanto as pernas dela tremiam, deu a ela também com intensidade seu gozo. Estavam arfantes e suados, ele a segurou e se inclinou indo para cima dela, ela o fitou apertando as pernas envolta dele, dentro de seu coração algo seguro e forte que ia muito além do prazer carnal. — Te amo. — disse ela. — Eu também te amo, amor. Sorriu ele colou a testa na dela sorrindo também. — Tudo bem, querida? — Sim, tudo mais que bem. Perfeito. — Eu gostaria de propor um brinde, aos noivos. Angelina ergueu sua taça de suco e brindou com os demais à mesa, Justin, Amber e Marc estavam ali, China e Jorgia também estavam, ela as havia convidado para o jantar de comemoração de seu casamento, naquela tarde assinou os papéis do matrimônio no civil, foi algo relativamente fácil, na verdade não estava tão nervosa quanto pensou que ficaria. Marc e Amber organizaram tudo para que ela chegasse segura ao cartório juntamente com Augustus, estava ansiosa, mas não tanto nervosa, já Augustus estava bastante nervoso, ela não se lembrou de ter visto olhinhos tão brilhantes quanto os do esposo. Sim, agora oficialmente esposo, agora ela era Angelina Guerra. Usava uma aliança dourada e simplista no anelar esquerdo juntamente com o anel que ele havia dado semanas antes, Amber e Marc foram suas testemunhas, não ocorreu nenhum imprevisto, haviam contratado um fotógrafo que inclusive estava ali naquele momento registrando tudo, Justin chegou alguns instantes depois que eles haviam chegado do cartório, tudo ocorreu muito bem. Marc havia montado uma mesa com dez lugares com decoração em tons de pastel, flores e havia contratado toda a comida, ela havia escolhido um cardápio composto por pastas salgadas de entrada com tortilhas e salada e logo em seguida seria servido um risoto com camarão. Angelina escolheu um Armani branco de alcinhas com uma saia longa solta, Jorgia chegou mais cedo e fez seu cabelo e maquiagem, quis um aspecto natural, então sua ajudante fez uma trança lateral em seus cabelos e uma maquiagem em tons nude, com um batom cor de rosa chá, já seu marido foi de terno e gravata, saíram de casa de mãos dadas, quando se viram depois de prontos ficaram rindo um para o outro parecendo bobos. Foi algo tão natural. Todo o processo até ali estava sendo tão diferente do que ela pensou, nunca imaginou que seria tão bom e gostosa a sensação de conviver com alguém, de dividir seus dias, Augustus fazia tudo parecer um pouco leve e ter mais graça. Angelina tinha se afastado da família, ela estava vivendo sua vida longe do passado que tanto a feriu, ela aceitou o que a vida tinha oferecido e estava aprendendo a conviver com muitas coisas novas. Sabia que em breve teria que falar sobre a gravidez com a mídia, que precisaria voltar aos trabalhos, mas só naquele momento ela queria poder aproveitar o tempo que tirou para si, para poder viver sua felicidade um dia por vez. — Está tudo bem? — Augustus perguntou baixinho perto de sua orelha. — Mais que bem. — ela segurou a mão dele — Senhor Angelina. — Senhora Augustus. Ela não parava de sorrir. — Então... eu tive uma ideia muito interessante sobre como podemos anunciar a chegada do bebê — Marc disse. — Eu também tive uma, mas quero coparticipação dos lucros — Justin avisou e bebericou seu vinho. — A minha ideia sem sombra de dúvidas é bem melhor. — Amber falou toda contente. — Um helicóptero jogando pétalas de flores... — Marc começou — Enquanto um drone filma tudo e vocês dois numa cobertura com queima de fogos... — Helicóptero? Quê? Não! A moda agora é usa led, luz de led — Justin disse — Podemos usar o prédio e fazer o anúncio do sexo do bebê. — A praia parece um lugar ideal para fazermos isso, podemos usar uma cabana e exibir umas fotos dos ultrassons... — Eles enlouqueceram — Angelina disse e as meninas começaram a rir. — Não vamos anunciar a chegada do nosso filho assim — Augustus disse com um sorriso — Luzes de led? É chegada do ano novo chinês? Fogos? Telões? — Qualquer coisa joga na Time Square — sugeriu China rindo à beça. — Não é má ideia — Marc concordou todo empolgado. — Vou esperar ele nascer — Angelina declarou e bebeu um pouco do suco — Ou ela, quero primeiro esperar. — E como faremos com os seus trabalhos de fora? O que vou dizer às revistas? — Marc perguntou incerto. — Acho que teremos que cancelar a agenda — ela tocou o ventre. — Quero que ele ou ela não seja exposto assim. — Ok, enquanto a barriga não cresce então vamos adiantar todos os trabalhos, quando começar a crescer você pode ficar em casa e aproveitar. — Obrigada Marc. — Mas eu ainda acho que deveríamos fazer um anuncio oficial na praia — Amber insistiu. Todos começaram a rir, Justin passou o braço envolta dela e deu um beijo afetuoso na bochecha de sua melhor amiga fazendo-a ficar vermelha feito um tomate. — Luzes de led, baby. — Eu vou dar um jeito de conseguir uma lancha — Marc bebeu dois goles de seu champanhe — Com pétalas de rosa... Os três começaram a debater entre si. Augustus pegou a esposa pela mão e a puxou para seu colo, Jorgia e China começaram a opinar e as sugestões só foram ficando piores, faziam ambos rirem muito das conversas sobre como seria tudo aquilo, queriam transformar aquele anúncio num show de horrores. — Você já pensou no que vai usar para mim hoje a noite? — Ele indagou baixinho perto da orelha dela. E ela corou, porque o homem não sossegava o faixo já tinha dias. — Sim. — E o que seria? — Um pijama. — Hummm... para eu tirar? — Em absoluto senhor Angelina. — Bem colocado, senhora Augustus. E ambos se entreolharam com a mesma conexão, depois riram a beça com aquilo, mãos entrelaçadas, ele abraçando-a, ela olhou envolta e se sentiu enfim em paz, consigo mesma, com todas as coisas que não deram certo em sua vida, com toda e qualquer dúvida que poderia ter. Ela estava feliz. — Fique firme! Angelina olhou para ele sentindo-se segura de tudo, ela não estava nervosa, claro que não, com Augustus ao seu lado parecia impossível que em algum momento saísse de sua imaculada tranquilidade, não sentia as pernas há cerca de alguns minutos e a obstetra já tinha dado início a cesariana, ela estava se sentindo muito bem e tudo estava transcorrendo normalmente. Deu entrada no hospital naquela manhã para seu parto, o plano de parto havia sido bem planejado durante aqueles meses, já no quinto mês a obstetra recomendou repouso, mais cuidados, no mês anterior descobriu que o bebê não havia virado e que provavelmente ela teria que fazer uma cesariana marcada. Não houve outra forma. Ela só queria que seu bebê nascesse bem e com saúde. Sabia que ele ou ela estava bem, não havia aberto as perninhas para que eles soubessem o sexo, contudo tinha certeza de que tinha um excelente desenvolvimento e que inclusive estava com o tempo e peso certo, então havia chegado o momento de trazê-lo ao mundo, sua pressão estava um pouco alterada a cerca de duas semanas, mas ela estava sendo bem acompanhada pelo marido e assistida pela médica. Todos os exames estavam normais, estava tudo bem. — Já estamos quase lá — o anestesista avisou muito simpático. — Tá. Augustus segurava sua mão sentado em uma cadeira, era óbvio que ele estava bastante receoso, contudo, não era algo que ela pudesse conter. Tiveram nove meses para se organizar e fizeram aquilo muito bem, montaram o quarto do bebê, compraram o enxoval, fizeram o pré-natal e todo o acompanhamento correto, ela se sentia cansada naqueles últimos dias, mas estava bem. Seu bebê chutava e se mexia muito, sua barriga estava redonda e volumosa até ali, ela observou com o passar daqueles meses que seu corpo mudou bastante, os seios cresceram e os mamilos escureceram, engordou, teve alterações de humor e enjoos, todos aqueles sintomas que sentiu quando engravidou de Dayse. Dayse. Sorriu, ela sentiu que lagrimas escorreram por sua face, não eram lágrimas de dor ou medo, mas sim de felicidade, havia dentro dela uma boa recordação de sua primeira gravidez, não viu a filhinha ao nascer, mas se recordava de todos os momentos que passou enquanto ela estava dentro de seu ventre, assim como tinha novas memórias daquela gravidez. Sentiu uma pressão forte na barriga e logo em seguida algo úmido pareceu escorrer entre suas pernas, tão logo sentiu aquilo soube que seu bebê havia nascido, mas ele ou ela não estava chorando, ela olhou para o marido e apertou a mão dele com força. Augustus não precisou sair do lugar para olhar, sua obstetra apareceu com aquele bebê pelado e todo cheio líquido branco, Augustus ficou de pé, estava trêmulo, então ela ouviu o som do berreiro, um choro gostoso e alto, a doutora Paula o colocou deitado de bruços em seu peito. — Ah meu amor, não chore. — pediu ela chorosa. — É um menino. — Augustus falou entre lágrimas. — Meu menino — ela beijou a cabecinha coberta de cabelos escuros espessos. O menino era grande, branco, com cabelos escuros como os do pai, ele chorava inconsolado, Angelina sorria entre lágrimas em sentir aquele pequeno corpo em cima do dela, um calor intenso como o sol tomando seu coração. Então aquela era a sensação de segurar seu próprio filho... era mais que perfeita. Augustus se inclinou e beijou a cabeça dela depois a do filho deles, uma enfermeira colocou um pequeno cobertor em cima dele, Angelina tocou a cabeça dele e beijou sua testa, os olhos dele se abriram e ele pareceu inquieto por alguns momentos. — A mamãe está aqui meu amor, o papai também. — disse ela com a voz cheia de doçura. — Seja bem-vindo filho — Augustus fungou por baixo da máscara facial. Ela beijou mais uma vez a cabecinha dele. — Precisamos levá-lo, daqui a pouco o levo para a senhora amamentá-lo. — Muito obrigada. O marido dela se sentou e ficou segurando sua mão, fazendo carinho em sua cabeça, a equipe se movimentava enquanto a médica falava com as enfermeiras sobre o tamanho do bebê deles, também sobre os outros partos que ela faria naquela manhã. Angelina estava feliz em ouvir o choro auto de seu menino bem próximo, ela não parava de sorrir um segundo, quando a médica por fim acabou de dar os pontos, foi transferida para o quarto, Augustus teve que trocar de roupas, então ela chegou ao quarto primeiro. Minutos depois, o marido estava entrando pela porta do quarto com um buquê de flores e balões, seu sorriso foi automático. — Justin ou Bambi? — Bambi e Justin. Eles andavam tão inseparáveis ultimamente que duvidava muito que continuassem aquele fingimento, sabia que Amber gostava de Justin muito mais do que aparentava gostar e ele era louco por ela, haviam desenvolvido uma bela amizade naquele meio tempo, Justin ia todos os fins de semana para seu apartamento visitá-los, mas sabia que ele se hospedava no dela, Marc inclusive já havia dito que Justin tinha falado para ele que estava interessado demais nela. Sua melhor amiga talvez estivesse só com bastante medo de se envolver com o rapaz por ele ser mais novo. — Obrigada amor. Ele entregou o buquê para ela e soltou os balões, Angelina observou aquelas rosas brancas e sorriu mais uma vez. — E como estamos com a anestesia? — Ainda não consigo sentir as minhas pernas, é estranho. — Daqui a três horas elas voltam ao normal. — Isso tudo? — Passa rápido. — Augustus se inclinou e deu um selinho nela — Ele é lindo. — É cabeludo como você. — Puxou ao papai. Eles haviam embarcado naquilo juntos há oito meses, mal sabia ela que seu desejo de cursar medicina iria passar antes daquilo, ela também não pensou que Augustus tiraria aquele tempo para ajudar ela em seu trabalho, com a gravidez e com as coisas da casa. Eles haviam feito tudo juntos e sentia que o trabalho tinha sido bem-feito. — Então... Elijah? — Elijah. — pronunciou ela toda contente. Tinham conversado sobre nomes na semana passada, haviam decidido que se fosse menina se chamaria Eva, se fosse menino se chamaria Elijah, Eva era o nome da mãe dele e Elijah foi o nome do avô dele, alguém com quem ele conviveu durante quatro anos na infância. Sabia que ambos os nomes tinham profundo significado para o esposo, aprendeu a conhecer bastante sobre sua infância e sobre sua vida no México, tudo como aconteceu pelo ponto de vista dele, desde o sequestro até a descoberta que os Thompson’s eram seus pais. — Está cansada? — Um pouco, viu ele no berçário? — Sim, 4,120kg e 50 cm. — Nossa! — Ele é grandinho amor. — É um super bebê. — Ele é lindo, não parava de chorar. — Ele precisa de mim, a super mamãe. — Mal acredito que fez de mim pai. — Para alguma coisa tinha que prestar senhor Angelina. Ele sorriu. — Eu te amo tanto mulher, se você soubesse o quanto, respeitaria mais os meus culhões. Augustus era Augustus, por muitas vezes carinhoso, compreensivo e apaixonado, por outras calado, pensativo e até meio tímido, todos os dias ao lado dele trouxeram para ela grande aprendizado de vida, felicidade e amor, ainda que em alguns momentos eles discutissem por qualquer besteira, no final das contas, tudo se resolvia com uma conversa e depois com uma boa lingerie. Ele pegou as flores e colocou sob a poltrona ao lado da cama, se sentou diante dela e depois segurou sua mão, ele se inclinou e a beijou de leve, Angelina tocou sua face com a outra mão. Dentro dela não cabia mais gratidão. — Não tive tempo de agradecer por ter ido atrás de mim no cemitério, por ter deixado sua antiga vida para trás e por ter me seguido nessa loucura que é a minha vida. — Não precisa agradecer, eu quem preciso. A barriga começou a crescer ainda no quinto mês então ela deixou de usar roupas apertadas, tinha conseguido fazer todos os ensaios antes de entrar no quarto mês, depois daquilo Angelina só saia de casa para ir ao mercado com o marido ou para jantar fora, ir ao cinema, viveram em nove meses o que ela nunca viveu ao lado de alguém. Até duas semanas atrás estavam fazendo sexo no sofá da sala trocando palavras obscenas, eles sempre tinham muito a oferecer um para o outro. — Senhora Guerra? — Sou eu. A resposta foi imediata. E ali estava o par de olhos fixados nela, as mãozinhas pequenas encolhidas junto do rosto e um cobertor azul muito bonito que ela havia levado para o hospital, o marido se levantou, a enfermeira sorria enquanto o levava até ela. Elijah. Angelina se endireitou e algumas lágrimas voltaram a cair, o pai dele também ficou emocionado, ela sabia que aquela gravidez foi importante demais para ambos, foi muito para ela e depois Augustus entendeu o significado de tudo aquilo nas vidas de ambos, na dele se tornou muito importante também. — Vamos para a primeira mamada do seu filho, mamãe? — perguntou a enfermeira muito simpática. — Sim. Se endireitou na cama e abriu o avental, depois a enfermeira o entregou em seus braços, Angelina beijou sua cabecinha, haviam dado banho nele e colocado um conjuntinho de cor azul, ele usava uma pulseira de hospital assim como ela, a enfermeira acomodou o bebê diante de seu seio e começou a explicar como ela deveria fazer. O pequenino era observador, ela segurou o seio da forma que a enfermeira ensinou e colocou o mamilo por diversas vezes na boquinha dele, apertou o seio vendo-o abrir a boquinha e fechar todo quietinho, logo a enfermeira a orientou a continuar repetindo até que ele começasse a pegar o seio, explicou que no começo eles demoravam a pegar mesmo, mas que depois que pegassem não iriam largar, assim, a enfermeira partiu. — Oi filho — o marido tocou a mãozinha dele e depois a beijou. O olhar de Elijah acompanhou a voz do pai, a boca estava aberta e ele estava sonolento. — Ele é lindo — a voz dela estava embargada. — Sim, ele é. Se entreolharam e tão logo aquilo aconteceu ele deu um beijinho leve nela. — Amo você. — Eu também te amo, meu amor. — Nasceu o baby Angel — ela escutou a voz gasguita e alvoroçada de Marc. Ele vinha com balões, logo atrás dele Amber com ursinhos e Justin com flores, ela sorriu de ponta a ponta, aquela sim era sua família, as vezes de baderneiros, mas havia ali dois irmãos de verdade, Marc e Bambi, duas pessoas que fizeram muito mais por ela do que suas duas próprias irmãs, e tinha Justin que era seu cunhado, mas alguém totalmente diferente dos Thompson’s. — Meu mini futuro poço de dinheiro — Marc estava suspirando emocionado. — Ele tem os meus cabelos — Augustus disse com orgulho. — É verdade, ele é cabeludo igual ao papai girom... quer dizer, médico. Angelina riu, nem sabia como ele havia conseguido entrar ali, mas já até imaginava que Marc deveria muito bem conhecer o alguém do lugar, ele sempre conseguia entrar onde queria e quando queria. — Ele é tão lindo — Amber estava ali parada ao lado direito da cama olhando para o pequenino. Ele já estava com os olhinhos fechados, a boquinha aberta, mas não sugava ainda, sabia que era normal. — Tive novas ideias para o anuncio com led — Justin avisou e ficou parado ao lado de Amber — Nós também teremos um bebê em breve. — Mentira! — Angelina exclamou boquiaberta e olhou para o marido — Você sabia disso? Eles dois estão transando, que horror! — Eu estou enjoado — Augustus disse num tom de falsa soberba. — Impactada — Marc soltou os balões e se abanou. Angelina não parava de sorrir, sentia o calor de seu pequenino ali entre seus braços e ouvia sua nova e verdadeira família falando sobre planos de anunciar a chegada dele, seu marido voltou a se sentar ao seu lado e passou o braço envolta dela. Não falava com os pais há oito meses, tão pouco com as irmãs, foi algo que fez bem para ela, Augustus também cortou os laços porque não se encaixava na família dele, mas não era algo que causasse mal para ela. Não procurou saber deles também, assim pôde ter uma gestação tranquila. Quando foi há Santa Fé há quase um ano atrás nunca pensou que tudo aquilo aconteceria, mas que bom que aconteceu. Porque assim ela conseguiu entender que até mesmo ela, poderia ter uma segunda chance para ser feliz. Alguém que não acreditava no amor, alguém que perdeu tanto na vida. Agora ela tinha tudo. O passado não importava e sim o presente. E seu presente estava ali, bem onde ela queria estar. Ela sabia que havia feito a melhor escolha do mundo, ela sabia que nunca iria se arrepender e sabia que enquanto vivesse seria muito feliz, talvez quem sabe, para sempre? Nada era impossível, ela sabia que não e seria daquela forma. Feliz para sempre.