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Introdução
A questão principal do presente estudo é a seguinte: como deve ser o envolvimento dos cristãos com a
política?
Política, nos dias de hoje, é sinônimo de ladroagem. “O poder corrompe”, é a máxima promulgada por
muitos. Na verdade, o poder corrompe os corrompidos. Não é o poder que corrompe o homem, mas é o
homem corrompido que corrompe o poder.
Retomemos o sentido da palavra “política”: traduz o grego politiká, procedente do termopolis, “cidade”,
em referência ao espaço público. A política é a arte de governar os espaços públicos, visando o bem dos
cidadãos.
O Estado é “serva de Deus para o teu bem” (Rm 13.5). O político deve buscar os interesses do povo, não os
seus próprios.
O Senhor Deus é a fonte de toda autoridade. Em Romanos 13.1, o apóstolo Paulo deixa muito claro: “não
há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas”.
O profeta Daniel declara: “é ele[Senhor] quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis;
ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes.” (Dn 2.21). Daniel firma ainda que “o
Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer” (Dn 4.25).
Jesus declarou para Pilatos: “Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te
fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem.” (Jo 19.11).
O período do juízes foi caracterizado pelo caos. Havia fome na terra (Rt 1.1). Conforme lemos em Juízes 18
– 21, a imoralidade era desenfreada, e as tribos digladiavam-se entre si. Isso tudo porque “naqueles dias,
não havia rei em Israel; cada qual fazia o que achava mais reto” (Jz 17.6; cf. .1; 19.1; 21.25).
Conforme lemos em 1Samuel 8 – 11, a monarquia foi instalada em Israel para permitir a união das tribos e
a defesa contra os inimigos. Mesmo que o pedido do povo (ter um rei como as demais nações) tenha
desagrado ao Senhor, contudo, o Senhor almejava usar o reinado de Saul para livrar Israel das mãos dos
filisteus (1Sm 9.16).
Como seria a sociedade, por exemplo, se não houvesse policiamento? O caos se instalaria, certamente.
O Salmo 82 se refere aos juízes encarregados de defender a justiça. Nos versos 2-4, eles são confrontados e
recebem a ordem de defender os fracos e órfãos: “2 Até quando julgareis injustamente e tomareis partido
pela causa dos ímpios? 3 Fazei justiça ao fraco e ao órfão, procedei retamente para com o aflito e o
desamparado. 4 Socorrei o fraco e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios.”.
Para trazer castigo aos malfeitores
“Visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é
sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.”
(Rm 13.4).
“Quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que
praticam o bem.” (1Pe 2.14).
A Igreja e o Estado
Quando perguntaram para Jesus se era lícito pagar tributos a César, ele respondeu: “Dai, pois, a César o
que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22.21). Aqui Jesus distingue dois poderes distintos, aos quais
os cristãos precisam se submeter: o reino de César e o Reino de Deus.
O Estado não pode intervir na igreja. O governo não institui os pastores e os líderes das igrejas. A
administração da Igreja é tarefa da própria igreja. É a igreja que escolhe seus líderes (At 6.3), e ela que
toma as decisões referentes àquilo que deve ser exigido de seus membros (At 15).
A igreja não pode intervir no Estado. Ou seja, a igreja não pode executar ações que cabem ao Estado.
Como veremos, o povo de Deus deve influenciar positivamente o Estado, mas as ações executivas,
legislativas e judiciárias são executadas pelo governo, e não pela igreja. Por exemplo, a igreja não pode
punir um ladrão ou um homicida. Isso é tarefa do Estado. O próprio Jesus não se envolveu com questões
legais: “Nesse ponto, um homem que estava no meio da multidão lhe falou: Mestre, ordena a meu irmão
que reparta comigo a herança. Mas Jesus lhe respondeu: Homem, quem me constituiu juiz ou partidor
entre vós?” (Lc 12.13-14). Jesus diz: “eu não sou juiz; a tarefa de julgar um caso legal não compete a mim,
isso é tarefa dos governos”.
Como sal da terra e luz do mundo, o cristão tem o dever de participar em todo o esforço que tende ao bem
comum da sociedade em que vive. Podemos destacar vários personagens e grupos de cristãos que se
envolveram com a administração pública, e contribuíram para o bem da sociedade:
José:José, governador do Egito, exerceu influência nas decisões do faraó (Gn 41.37-45; 42.6; 45.8,9,26)
Samuel:Samuel foi o último juiz história de Israel. Ungiu os dois primeiros reis de Israel (Saul e Davi).
Através dele, o Senhor livrou Israel das mãos dos filisteus (1Sm 7). Sua vida é um modelo para os políticos:
“Aqui estou. Se tomei um boi ou um jumento de alguém, ou se explorei ou oprimi a alguém, ou se das
mãos de alguém aceitei suborno, fechando os olhos para sua culpa, testemunhem contra mim na presença
do Senhor e do seu ungido. Se alguma dessas coisas pratiquei, eu farei restituição”. 4 E responderam:
“Você não nos explorou nem nos oprimiu. Você não tirou coisa alguma das mãos de ninguém”. 5 Samuel
lhes disse: “O Senhor é testemunha diante de vocês, e bem como o seu ungido é hoje testemunha de que
vocês não encontraram culpa alguma em minhas mãos”. E disseram: “Ele é testemunha”.” (1Sm 12.3-5 –
NVI).
Davi:O rei Davi foi um homem de coração íntegro. “E de coração íntegro Davi os pastoreou, com mãos
experientes os conduziu.” (Sl 78.72).
Isaías:O profeta Isaías exerceu grande influência no palácio de Jerusalém. Aconselhou o rei Acaz a não se
preocupar com o levante da Síria e Israel, e exortou-o a não buscar aliança política com a Assíria (Is 7 – 8).
O profeta também condenou as alianças políticas que Ezequias fez com o Egito (Is 31).
Josias:O profeta Jeremias se dirige a Jeoaquim, filho de Josias, e tece a seguinte declaração: “Acaso, teu pai
não comeu, e bebeu, e não exercitou o juízo e a justiça? Por isso, tudo lhe sucedeu bem. 16 Julgou a causa
do aflito e do necessitado; por isso, tudo lhe ia bem. Porventura, não é isso conhecer-me? —diz o
SENHOR.” ( Jr 22.15-16).Como se nota, o rei Josias recebe um elogio de Jeremias, porque defendeu a
“causa do aflito e do necessitado”.
Jeremias: O profeta Jeremias encaminhou várias mensagens aos reis de Judá. Por exemplo, aconselhou
Zedequias a não fazer alianças com os egípcios e a se render aos babilônicos (Jr 37).
O profeta também exortou o povo que estava cativo na Babilônia: “Busquem a prosperidade da cidade
para a qual eu os deportei e orem ao Senhor em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da
prosperidade dela.” (Jr 29.7 – NVI). Esse é um conselho válido para nós, hoje. Os cristãos precisam
trabalhar para o bem da sociedade.
Neemias: Neemias era copeiro do rei persa Artaxerxes (Ne 1.11). Foi governador de Judá. Liderou a
reconstrução dos muros de Jerusalém, quando os judeus voltavam do exílio babilônico. Ele condenou a
administração dos nobres e magistrados, que permitia o empobrecimento e escravidão dos judeus (Ne 5.1-
12). Neemias chegou a abrir mão dos direitos de governador, “porquanto a servidão desse povo era
grande” (Ne 5.18; veja Ne 5.13-19).
Daniel: Era governador da província da Babilônia (Dn 2.48). Trabalhou na corte babilônica e serviu a vários
reis. Aconselhou o rei Nabucodonozor: “Portanto, ó rei, aceita o meu conselho e põe termo, pela justiça,
em teus pecados e em tuas iniquidades, usando de misericórdia para com os pobres; e talvez se prolongue
a tua tranquilidade.” (Dn 4.27).
Ester-Ester foi uma judia que se tornou rainha na Pérsia. Influenciou várias decisões do rei Xerxes (Et 5.1-8;
7.106; 8.3-13; 9.12-15,29-32). Através dela, o Senhor livrou os judeus das mãos daqueles que intencionam
exterminá-los.
João Batista:“Mas Herodes, o tetrarca, sendo repreendido por ele, por causa de Herodias, mulher de seu
irmão, e por todas as maldades que o mesmo Herodes havia feito, acrescentou ainda sobre todas a de
lançar João no cárcere. (Lc 3.19,20).O Batista repreendeu o rei Herodes, não somente porque ele tomou a
mulher do seu irmão, mas também “por todas as maldades” que praticara.
Paulo:“Passados alguns dias, vindo Félix com Drusila, sua mulher, que era judia, mandou chamar Paulo e
passou a ouvi-lo a respeito da fé em Cristo Jesus. Dissertando ele acerca da justiça, do domínio próprio e
do Juízo vindouro, ficou Félix amedrontado e disse: Por agora, podes retirar-te, e, quando eu tiver vagar,
chamar-te-ei” (Atos 24.24,25).
O texto diz que Paulo dissertou “acerca da justiça, do domínio próprio e do Juízo vindouro”. Conforme
sugere Grudem, apóstolo discursou “acerca de padrões morais de certo e errado e de como Félix,
governador do Império Romano, tinha obrigação de viver conforme os padrões estabelecidos por Deus”.[1]
No século 19, William Wilberforce, cristão devoto, liderou o estabelecimento da lei que aboliu a escravidão
na Inglaterra. Nos E.U.A., muitos cristãos do Sul defenderam a escravidão. Entretanto, a maioria defendeu
a abolição da escravidão. Pesquisas mostram que dois terços dos abolicionistas em meados da década de
1830 eram pastores.[3]
Martin Luther King Jr.O reverendo Martin Luther King defendeu a igualdade entre negros e brancos. As
leis contra a segregação racial foram estabelecidas graças à luta de King e seu grupo.
Por que o cristão deve se envolver com política?
Não somos avestruzes, que enviam a cabeça na terra e ignoram os problemas ao redor. Os cristãos podem
e devem se envolver com política. Por que?
1Pe 2.11-17:
11 Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que
fazem guerra contra a alma, 12 mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que,
naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras,
glorifiquem a Deus no dia da visitação. 13 Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer
seja ao rei, como soberano, 14 quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto para castigo dos
malfeitores como para louvor dos que praticam o bem. 15 Porque assim é a vontade de Deus, que, pela
prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; 16 como livres que sois, não usando, todavia,
a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus. 17 Tratai todos com honra, amai os
irmãos, temei a Deus, honrai o rei.
Como diz Pedro, somos “peregrinos e forasteiros” (v.11). Não pertencemos a essa terra. Nossa pátria está
nos céus. Por outro lado, precisamos nos sujeitar “a toda instituição humana por causa do Senhor, quer
seja ao rei, como soberano” (v.13). Consagramos ofertas e dízimos para o Senhor, mas também pagamos
tributos ao Estado (Mt 22.21).
O cristão deve se envolver com a política como meio de promover o bem para a sociedade
1Pe 2.15: “Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos
insensatos”.
Deixar de fazer o bem é tão pecaminoso e nocivo como fazer o mal. “Portanto, aquele que sabe que deve
fazer o bem e não o faz nisso está pecando” (Tg 4.17).
Precisamos lutar pela justiça. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça” (Mt 5.6).
O político não pode favorecer certo grupo social ou religioso. Todas as ações políticas precisam estar
voltadas para o bem de toda sociedade.
Não escolho alguém só porque essas pessoa é “evangélica”. Vejo com receio políticos que usam o termo
“pastor” em suas campanhas. Escolho alguém porque essa pessoa defende o bem da sociedade, e é claro,
porque entendo que essa pessoa pode me representar.
O cristão deve se envolver com política, porque se ele se omitir, representantes corruptos poderão
ocupar o poder
“Quando os justos florescem, o povo se alegra; quando os ímpios governam, o povo geme.” (Pv 29.2).
O cristão deve orar pelos políticos, para que eles conheçam o Senhor e Salvador Jesus Cristo, e para que
eles exerçam o governo com justiça, para tenhamos uma vida tranquila:
1 Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os
homens; 2 pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e
pacífica, com toda a piedade e dignidade. 3 Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, 4 que
deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. (1Tm 2.1-4).
Conclusão
O cristão pode se envolver com política? A resposta, respaldada nas Escrituras, é: “ele deve se envolver”.
Esse envolvimento pode ocorrer de várias formas: pelo voto consciente; pelo exercício de cargos públicos;
pela oração às autoridades políticas; por protestos pacíficos; ou ainda pelo acompanhamento a políticos,
concedendo-lhes conselhos fundamentados na Escrituras, para que eles pautem seus programas de
governos na ética e justiça ensinadas na Bíblia.
Os cristãos precisam entender que a “transformação da conjuntura social por meio da cosmovisão cristã é
uma forma de estabelecer o Reino”[