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- Poema Sobre a natureza (Da natureza)

Após abandonar a região da Noite, o carro puxado por corcéis e conduzido pelas
filhas do Sol parou diante de um grande portal que separava os caminhos da Noite e do
Dia. Depois de muitas tentativas, as condutoras conseguiram persuadir a Deusa Dice,
também conhecida como Justiça, a abrir o portal. Ao entrar na grande porta, o
passageiro que as acompanhava foi saudado pela deusa, que disse não ter sido um mau
destino o que o induziu a viajar por esse caminho “tão fora dos trilhos dos homens”, por
meio do qual entenderá a diferença entre o “coração inabalável da verdade fidedigna” e
as “crenças dos mortais”, nas quais não há “confiança genuína” (PARMÊNIDES, I, 25-
30).
A deusa revela ao filósofo Eleata a existência de dois caminhos de investigação
para o pensamento: um é o “caminho da confiança”, aquele que verdadeiramente é, que
“não é para não ser”, uma vez que se faz acompanhar pela verdade; o outro é o que não
é, aquele que “tem de não ser”, constituindo um percurso obscuro e não confiável
(PARMÊNIDES, II, 1-5). O caminho obscuro corresponde à realidade concreta, da qual,
recomenda a deusa, Parmênides deve se afastar, pois é a vereda por onde perambulam
os mortais “que nada sabem”, guiados pela “mente errante”, tornando-se uma “multidão
indecisa”, cega, surda e aturdida que acredita que o Ser e o não-Ser são a mesma coisa
(PARMÊNIDES, VI, 5-10). A deusa sugere ao filósofo que considere essa via como
“impensável e inexprimível”; por não ser o caminho verdadeiro, não podemos conhecer
e nem mostrar aquilo que não é verdadeiramente. Por essa razão, prossegue a deusa,
“não te deixarei falar do não-Ser”, nem mesmo pensar sobre ele, pois o não-Ser é
indizível e impensável visto que “ele não é” (PARMÊNIDES, VIII, 5-10).
A outra via de investigação é “autêntica”, na qual pensar e ser são a mesma
coisa, pois é necessário que o dizer e o pensar que é sejam, pois podem ser, enquanto
nada não é (PARMÊNIDES, VIII, 15-20). A realidade superior, caracterizada pela
deusa como “o caminho que é”, a via autêntica e verdadeira, é a morada do Ser
“ingênito e indestrutível”; um todo “homogêneo, uno e contínuo” que não pode ser
divisível (PARMÊNIDES, VIII, 1-5). Esse Ser habitante dessa realidade transcendente é
“imóvel nas cadeias dos potentes laços”, não tendo nem princípio e nem fim porque a
“gênese e destruição” foram dele afastadas pela “confiança verdadeira”; ele em si
permanece e por si mesmo repousa, e “assim firme em si fica” (PARMÊNIDES, VIII,
25-30). O Ser nunca poderá ser nenhuma outra coisa além do que ele de fato é, por ser
imóvel e completo em si mesmo; sem o que é, não acharás o pensar. Dele provêm todos
os nomes que os “mortais confiantes instituíram acreditando serem reais”
(PARMÊNIDES, VIII, 30-40). E Parmênides (VIII, 50) conclui: “Nisto cesso o discurso
fiável e o pensamento em torno da verdade; depois disso as humanas opiniões
aprendem, escutando a ordem enganadora das minhas palavras”.

Referência

PARMÊNIDES. Da Natureza. Tradução de José Gabriel Trindade Santos. Modificada


pelo tradutor. São Paulo: Loyola, 2002. Disponível em http://charlezine.com.br/wp-
content/uploads/Da-Natureza-Parm%C3%AAnides.pdf acesso em 7 de fevereiro de
2020.

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