Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


PIBIC/PIBITI

Título do trabalho: ESTUDO DA COMPOSIÇÃO DAS COMUNIDADES DE FUNGOS


MICORRÍZICOS EM DIFERENTES FITOFISIONOMIAS DAS FLONAS DE CARAJÁS
E TAPIRAPÉ-AQUIRÍ
Nome do (a) bolsista: Lucas Leite da Silva
Nome do (s) Voluntário (s): Taline Silva Conceição
Nome do (a) Orientador (a): Milena Pupo Raimam
Departamento: Morfologia e Ciências Fisiológicas
Centro: CCBS
Campus: VIII-Marabá
Agência de fomento ao apoio da bolsa de iniciação científica: Universidade do Estado do Pará
RESUMO: As unidades de conservação da Serra dos Carajás abrigam uma variedade de
tipologias vegetais e gradientes físico-químicos peculiares no solo. Este estudo teve como intuito
apontar a biodiversidade de fungos micorrízicos existentes em cinco fitofisionomias nas
FLONAS de Carajás e Tapirapé-Aquirí. Amostras de solo da camada 0-20cm foram coletadas nas
áreas Floresta Ombrófila Aberta (FOA), Floresta Ombrófila Densa (FOD), Capão de Floresta
(CAP), Savana Metalófita (SAV) e Vegetação Xerofítica (VEX). Foram avaliados a colonização
micorrízica, densidade de esporos, riqueza e biodiversidade de esporos de fungos micorrízicos
arbusculares. Análise físico-química do solo também foi realizada. Os resultados apontaram
colonização micorrízica maior em FOD (49,44%) e menores em SAV e VEX, estas não diferindo
entre si (3,78%). A densidade de esporos atendeu a ordem SAV>VEX>CAP=FOD=FOA. A
análise físico-química do solo evidenciou altos teores de Fe em SAV e Zn em VEX, e baixo teor
de P em FOD. A riqueza de espécies foi maior nas áreas de floresta (FOA e FOD), seguindo de
CAP, VEX e SAV. O Índice de Shannon apontou maior diversidade em FOA (2,03) e menor em
CAP (1,71). Do total de 12 morfotipos, 8 ocorreram em 100% das áreas. Apenas 1 morfotipo
(M12) foi restrito às áreas de floresta (FOA e FOD).

Palavras-chave: biodiversidade, fitofisionomias, florestas nacionais, fungos micorrízicos.

1. INTRODUÇÃO
As florestas tropicais são os ecossistemas com maior riqueza e diversidade na Terra, abrigando de
20% a 40% das espécies de plantas e animais. A floresta Amazônica dispõe da maior área de
floresta tropical contínua composta por um mosaico de diferentes estágios sucessionais, bem
como diferentes fitofisionomias. O solo é um organismo vivo complexo, constituindo o principal
reservatório de diversidade dos microrganismos, incluindo os fungos micorrízicos. Na Amazônia,
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
grande número de espécies vegetais apresenta colonização natural por fungos micorrízicos
arbusculares. De acordo com Sturmer et al. (2018), atualmente poucos são os estudos sobre as
comunidades de FMA que foram analisadas a partir de uma perspectiva biogeográfica.

A B C

D E

Figura 1: Diferentes fitofisionomias das FLONAS de Carajás e Tapirapé Aquirí. Sendo Floresta
Ombrófila Densa (A), Capão de Floresta (B), Vegetação Xerofítica (C), Floresta Ombrófila
Aberta (D), Savana Metalófita (E) Fontes: Autores (2019), Instituto Tecnológico Vale (2017) e
ICMBio (2012).

A região sudeste do Pará, com sua rica flora, apresenta várias fitofisionomias e as FLONAS de
Carajás e Tapirapé – Aquirí, vêm sendo muito estudas quanto aos aspectos botânicos, geológicos
e zoológicos, entretanto, estudos sobre a composição microbiana do solo são muito escassos e no
caso dos fungos micorrízicos arbusculares, são inexistentes.

2. OBJETIVO (S)
Objetivo geral: Realizar um levantamento acerca das comunidades de fungos micorrízicos
arbusculares em cinco tipologias vegetais presentes na Serra de Carajás, sudeste do Pará e
relacionar com fatores edáficos que influenciam a distribuição deste grupo microbiano.

3. MATERIAL E MÉTODO
Coleta e processamento de amostras: previamente foram definidas 5 áreas de estudo: Floresta
Ombrófila Aberta (FOA), Capão de Floresta (CAP), Savana Metalófita (SAV) e Vegetação
Xerofítica (VEX) localizadas na FLONA de Carajás e Floresta Ombrófila Densa (FOD)
pertencente a FLONA Tapirapé-Aquirí. A coleta de amostras de solo seguiu a proposta de
Cordeiro et al., (2005), onde em cada área foram definidas 5 parcelas, cada uma medindo 10m x
20m, foram coletadas 10 sub-amostras de solo configurando uma amostra composta, na
profundidade de 0-20cm. As amostras foram secas em temperatura ambiente entre 7 e 14 dias.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Em seguida, foram peneiradas através de malha de 4mm, simultânea à separação manual das
raízes finas (~1mm de espessura), as quais foram prontamente processadas. As amostras de solo
foram acondicionadas em sacos plásticos sob refrigeração até o momento da análise.
Análise físico-química do solo: as análises físico-químicas das amostras de solo foram realizadas
pelo Laboratório de Solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Amazônia Oriental no
município de Belém. Foram realizadas análises de fertilidade, micronutrientes e granulometria.
Extração de esporos: as amostras foram submetidas a extração de esporos de acordo com o
método de peneiramento em via úmida (Gerdeman e Nicolson, 1963), seguido de centrifugação
em água e sacarose (Jekins, 1964), com modificação do uso de sacarose 40% e centrifugação a
3.000 rpm.
Colonização micorrízica: para determinação da colonização micorrízica as raízes foram clareadas
e coradas (Phillips e Hayman, 1970), e a porcentagem de raiz colonizada foi determinada pelo
método de avaliação em placa quadriculada (Giovannetti e Mosse, 1980) sob estereoscópio
(lupa).
Contagem e separação dos esporos por morfotipos: utilizando lupa estereoscópica no aumento
de 40 vezes, modificado pelo uso de placa de petri quadriculada, como sugerido por Méndez
(2016), foi realizada a contagem total de esporos por amostra e a contagem por morfotipos
distintos utilizando critérios morfológicos, como: tamanho, cor e forma, baseando-se na literatura
especializada.
Análise dos dados: a densidade de esporos foi obtida pela contagem do número total de esporos
de 100g de solo. A riqueza de morfotipos foi obtida pela contagem do número de morfotipos
classificados em cada fitofisionomia. A frequência em porcentagem de ocorrência de morfotipos
nas fitofisionomias estudadas, foram: frequência absoluta obtida pela porcentagem das áreas em
que o morfotipo ocorre e frequência relativa obtida pela soma total das frequências absolutas para
cada morfotipo. Os resultados foram submetidos a análise de estatística descritiva, variância e
teste de Tukey a 5% de probabilidade. O índice de Shanon foi utilizado para avaliar a diversidade
de morfotipos entre as tipologias vegetais.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A porcentagem de colonização micorrízica revelou que FOD teve maior taxa de colonização
(49,44%), seguida por CAP (20,52%). As áreas VEX, FOA e SAV apresentaram o mesmo
percentual de colonização, de acordo com teste de Tukey (p<0,05). As maiores densidades de
esporos foram exibidas em VEX (2.817 esporos/100g de solo) e SAV (2.338 esporos/100g de
solo), diferindo entre si, enquanto que CAP (1.142 esporos/100g), FOD (834 esporos/100g) e
FOA (562 esporos/100g) não diferiram entre si, segundo teste de Tukey (p<0,05).
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Gráfico 1. Porcentagem de colonização


micorrízica por fitofisionomia, sendo Savana
Metalófita (1), Vegetação Xerofítica (2),
Floresta Ombrófila Aberta (3) e Capão de
Floresta (4), da Floresta Nacional de Carajás e
Floresta Ombrófila Densa (5) da Floresta
Nacional Tapirapé-Aquirí, Pará, Brasil. As
letras iguais não diferem pelo teste de Tukey
(p<0,05).

As tipologias vegetais FOD, CAP e FOA não diferiram entre si estatisticamente. Segundo Hetrick
e Bloom (1986), espécies do tipo gramíneas com sistema radicular fasciculado, de rápido
crescimento e com grande capacidade de oferecer fotossíntatos ao fungo proporcionam condições
ideias para maior esporulação, características observadas na área de vegetação xerofítica. Além
disso, Caprini et al. (2003) afirmam que plantas pioneiras, de alta capacidade de adaptação a
ambientes adversos, exibem maior média de esporos, o que pode estar relacionado à vegetação
típica que se desenvolve na savana metalófita local.
Foram isolados 12 morfotipos (M1 a M12) de esporos micorrízicos. As fitofisionomias de
floresta (FOA e FOD) foram estatisticamente iguais e apresentaram maior riqueza de morfotipos,
seguidas de CAP, VEX e SAV. Oito morfotipos (M1 a M8) ocorreram em 100% das áreas,
caracterizando plasticidade adaptativa das espécies. No entanto, quatro morfotipos (M9, M10,
M11 e M12) não ocorreram em SAV, sendo que M11 ocorreu apenas em CAP, FOA e FOD, e
M12 ocorreu somente em FOA e FOD. O Índice de Shannon apontou maior diversidade em FOA
(2,03) e menor em CAP (1,71).

Gráfico 2. Densidade de esporos em amostras


de solo da camada 0-20cm de profundidade, por
fitofisionomia sendo: Savana Metalófita (1),
Vegetação Xerofítica (2), Capão de Floresta (3),
Floresta Ombrófila Densa (4) e Floresta
Ombrófila Aberta (5) localizadas no Mosaico
de Carajás-PA, Brasil. As letras iguais não
diferem pelo teste de Tukey (p<0,05).
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
O menor teor de fósforo (P) ocorreu em FOD, com teor de 2mg/dm3, concentração
consideravelmente baixa. De acordo com Berbara et al. (2006), os solos brasileiros apresentam
baixa disponibilidade de P e, segundo Smith e Read (2008), a aquisição e o transporte de P
realizados pelos fungos micorrízicos é mais eficiente do que o sistema radicular da planta, ou
seja, as micorrizas favorecem o crescimento das plantas em solos com baixos teores de P, como
afirma Lima e Sousa (2014). Em geral, solos com baixo nível de P (<40 mg dm-3) são mais ricos
em espécies de FMA (Souza et al. 2003; Collins e Foster 2009).
O solo de SAV apresentou alto teor de ferro (Fe) (698,07 mg/kg) em sua composição, diferiu das
outras áreas. Em FOA, foi evidenciado o maior teor de manganês (Mn) (41,63 mg/kg). Segundo
Moreira e Siqueira (2006), as hifas dos fungos micorrízicos sofrem alterações morfológicas e são
intoxicadas quando são expostas a altos teores de alguns micronutrientes do solo (Zn, Cu, Mn e
Fe) porque são altamente sensíveis, dificultando a colonização micorrízica.

5. CONCLUSÃO
Como esperado, o estudo confirmou a forte influência da composição vegetal e do tipo de solo
sobre a ecologia dos FMA. Os baixos teores de fósforo nas áreas de floresta resultaram em
maiores taxas de colonização radicular, contrapondo a área de capão de floresta, onde a alta
concentração deste elemento inibiu a colonização micorrízica. A cobertura vegetal de porte
arbóreo e lento crescimento como das florestas ombrófilas e capão de floresta apresentaram
menor densidade de esporos, enquanto que, a cobertura vegetal de rápido crescimento e de porte
herbáceo e arbustivo proporcionou maior densidade. No entanto, a riqueza de fenótipos foi
inversamente proporcional a densidade de esporos nestas fitofisionomias. Importante enfatizar
que 66% dos morfotipos ocorreram em todas as áreas, demonstrando a alta plasticidade
adaptativa à vegetação presente e às características do solo. A menor frequência relativa por parte
de alguns isolados, os quais ficaram restritos às áreas de floresta sugere baixa plasticidade
adaptativa, o que provavelmente está relacionado com a especificidade de associação com
vegetação arbórea ou por serem mais eficientes na aquisição de fósforo do solo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERBARA, R. L. L.; SOUZA, F. A. de; FONSECA, H. M. A. C. Fungos micorrízicos


arbusculares: muito além da nutrição. Nutrição mineral de plantas, v. 432, p. 54-79, 2006.

CAPRONI, A. L. et al. Ocorrência de fungos micorrízicos arbusculares em áreas revegetadas após


mineração de bauxita em Porto Trombetas, Pará. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 38, n. 12, p.
1409-1418, 2003.

CORDEIRO, M. A. S. et al. Colonização e densidade de esporos de fungos micorrízicos em dois


solos do cerrado sob diferentes sistemas de manejo. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 35, n. 3, p.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
147-153, 2005.

COLLINS, C. D.; FOSTER, B. L. Community‐level consequences of mycorrhizae depend on


phosphorus availability. Ecology, v. 90, n. 9, p. 2567-2576, 2009.

GERDEMANN, J. W.; NICOLSON, T. Hs. Spores of mycorrhizal Endogone species extracted from
soil by wet sieving and decanting. Transactions of the British Mycological society, v. 46, n. 2, p.
235-244, 1963.

GIOVANNETTI, Mil; MOSSE, B. An evaluation of techniques for measuring vesicular arbuscular


mycorrhizal infection in roots. New phytologist, p. 489-500, 1980.

HETRICK, B. A. Daniels; BLOOM, J. The influence of host plant on production and


colonization ability of vesicular-arbuscular mycorrhizal spores. Mycologia, v. 78, n. 1, p. 32-36,
1986.

JENKINS, W. R. et al. A rapid centrifugal-flotation technique for separating nematodes from soil.
Plant disease reporter, v. 48, n. 9, 1964.

LIMA, F. S.; SOUSA, C. S. Crescimento e nutrição de mudas de clones de eucalipto inoculadas


com fungos micorrízicos. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 44, n. 2, p. 110-118, 2014.

MOREIRA, F. S.; SIQUEIRA, J. O. Microbiologia e bioquímica do solo. 2. ed. Lavras: Ed. da


UFLA, 2006.

PHILLIPS, J. M.; HAYMAN, D. S. Improved procedures for clearing roots and staining parasitic
and vesicular-arbuscular mycorrhizal fungi for rapid assessment of infection. Transactions of
the British mycological Society, v. 55, n. 1, p. 158-IN18, 1970.

SALAS MÉNDEZ, D. F. Diversidade de fungos micorrízicos arbusculares e sua relação com


atributos do solo em área de milho sob monocultivo e em consórcio com forrageiras no Cerrado.
2016.

SMITH, S. E.; READ, D. Mycorrhizal Symbiosis. 3. ed. San Diego: Academic Press, 2008. 787
p.
SOUZA, R.G.; MAIA, L. C.; SALES, M.F.; TRUFEM, S.F.B. Diversidade e potencial de
infectividade de fungos micorrízicos arbusculares em áreas de caatinga, na região de Xingó,
Estado de Alagoas, Brasil. Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v.26, n.1, p.49-60,
2003.
Grande-área: Agronomia/Microbiologia e Bioquímica do Solo
Área: Ecologia Microbiana
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Você também pode gostar