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1. INTRODUÇÃO
As florestas tropicais são os ecossistemas com maior riqueza e diversidade na Terra, abrigando de
20% a 40% das espécies de plantas e animais. A floresta Amazônica dispõe da maior área de
floresta tropical contínua composta por um mosaico de diferentes estágios sucessionais, bem
como diferentes fitofisionomias. O solo é um organismo vivo complexo, constituindo o principal
reservatório de diversidade dos microrganismos, incluindo os fungos micorrízicos. Na Amazônia,
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grande número de espécies vegetais apresenta colonização natural por fungos micorrízicos
arbusculares. De acordo com Sturmer et al. (2018), atualmente poucos são os estudos sobre as
comunidades de FMA que foram analisadas a partir de uma perspectiva biogeográfica.
A B C
D E
Figura 1: Diferentes fitofisionomias das FLONAS de Carajás e Tapirapé Aquirí. Sendo Floresta
Ombrófila Densa (A), Capão de Floresta (B), Vegetação Xerofítica (C), Floresta Ombrófila
Aberta (D), Savana Metalófita (E) Fontes: Autores (2019), Instituto Tecnológico Vale (2017) e
ICMBio (2012).
A região sudeste do Pará, com sua rica flora, apresenta várias fitofisionomias e as FLONAS de
Carajás e Tapirapé – Aquirí, vêm sendo muito estudas quanto aos aspectos botânicos, geológicos
e zoológicos, entretanto, estudos sobre a composição microbiana do solo são muito escassos e no
caso dos fungos micorrízicos arbusculares, são inexistentes.
2. OBJETIVO (S)
Objetivo geral: Realizar um levantamento acerca das comunidades de fungos micorrízicos
arbusculares em cinco tipologias vegetais presentes na Serra de Carajás, sudeste do Pará e
relacionar com fatores edáficos que influenciam a distribuição deste grupo microbiano.
3. MATERIAL E MÉTODO
Coleta e processamento de amostras: previamente foram definidas 5 áreas de estudo: Floresta
Ombrófila Aberta (FOA), Capão de Floresta (CAP), Savana Metalófita (SAV) e Vegetação
Xerofítica (VEX) localizadas na FLONA de Carajás e Floresta Ombrófila Densa (FOD)
pertencente a FLONA Tapirapé-Aquirí. A coleta de amostras de solo seguiu a proposta de
Cordeiro et al., (2005), onde em cada área foram definidas 5 parcelas, cada uma medindo 10m x
20m, foram coletadas 10 sub-amostras de solo configurando uma amostra composta, na
profundidade de 0-20cm. As amostras foram secas em temperatura ambiente entre 7 e 14 dias.
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Em seguida, foram peneiradas através de malha de 4mm, simultânea à separação manual das
raízes finas (~1mm de espessura), as quais foram prontamente processadas. As amostras de solo
foram acondicionadas em sacos plásticos sob refrigeração até o momento da análise.
Análise físico-química do solo: as análises físico-químicas das amostras de solo foram realizadas
pelo Laboratório de Solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Amazônia Oriental no
município de Belém. Foram realizadas análises de fertilidade, micronutrientes e granulometria.
Extração de esporos: as amostras foram submetidas a extração de esporos de acordo com o
método de peneiramento em via úmida (Gerdeman e Nicolson, 1963), seguido de centrifugação
em água e sacarose (Jekins, 1964), com modificação do uso de sacarose 40% e centrifugação a
3.000 rpm.
Colonização micorrízica: para determinação da colonização micorrízica as raízes foram clareadas
e coradas (Phillips e Hayman, 1970), e a porcentagem de raiz colonizada foi determinada pelo
método de avaliação em placa quadriculada (Giovannetti e Mosse, 1980) sob estereoscópio
(lupa).
Contagem e separação dos esporos por morfotipos: utilizando lupa estereoscópica no aumento
de 40 vezes, modificado pelo uso de placa de petri quadriculada, como sugerido por Méndez
(2016), foi realizada a contagem total de esporos por amostra e a contagem por morfotipos
distintos utilizando critérios morfológicos, como: tamanho, cor e forma, baseando-se na literatura
especializada.
Análise dos dados: a densidade de esporos foi obtida pela contagem do número total de esporos
de 100g de solo. A riqueza de morfotipos foi obtida pela contagem do número de morfotipos
classificados em cada fitofisionomia. A frequência em porcentagem de ocorrência de morfotipos
nas fitofisionomias estudadas, foram: frequência absoluta obtida pela porcentagem das áreas em
que o morfotipo ocorre e frequência relativa obtida pela soma total das frequências absolutas para
cada morfotipo. Os resultados foram submetidos a análise de estatística descritiva, variância e
teste de Tukey a 5% de probabilidade. O índice de Shanon foi utilizado para avaliar a diversidade
de morfotipos entre as tipologias vegetais.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A porcentagem de colonização micorrízica revelou que FOD teve maior taxa de colonização
(49,44%), seguida por CAP (20,52%). As áreas VEX, FOA e SAV apresentaram o mesmo
percentual de colonização, de acordo com teste de Tukey (p<0,05). As maiores densidades de
esporos foram exibidas em VEX (2.817 esporos/100g de solo) e SAV (2.338 esporos/100g de
solo), diferindo entre si, enquanto que CAP (1.142 esporos/100g), FOD (834 esporos/100g) e
FOA (562 esporos/100g) não diferiram entre si, segundo teste de Tukey (p<0,05).
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As tipologias vegetais FOD, CAP e FOA não diferiram entre si estatisticamente. Segundo Hetrick
e Bloom (1986), espécies do tipo gramíneas com sistema radicular fasciculado, de rápido
crescimento e com grande capacidade de oferecer fotossíntatos ao fungo proporcionam condições
ideias para maior esporulação, características observadas na área de vegetação xerofítica. Além
disso, Caprini et al. (2003) afirmam que plantas pioneiras, de alta capacidade de adaptação a
ambientes adversos, exibem maior média de esporos, o que pode estar relacionado à vegetação
típica que se desenvolve na savana metalófita local.
Foram isolados 12 morfotipos (M1 a M12) de esporos micorrízicos. As fitofisionomias de
floresta (FOA e FOD) foram estatisticamente iguais e apresentaram maior riqueza de morfotipos,
seguidas de CAP, VEX e SAV. Oito morfotipos (M1 a M8) ocorreram em 100% das áreas,
caracterizando plasticidade adaptativa das espécies. No entanto, quatro morfotipos (M9, M10,
M11 e M12) não ocorreram em SAV, sendo que M11 ocorreu apenas em CAP, FOA e FOD, e
M12 ocorreu somente em FOA e FOD. O Índice de Shannon apontou maior diversidade em FOA
(2,03) e menor em CAP (1,71).
5. CONCLUSÃO
Como esperado, o estudo confirmou a forte influência da composição vegetal e do tipo de solo
sobre a ecologia dos FMA. Os baixos teores de fósforo nas áreas de floresta resultaram em
maiores taxas de colonização radicular, contrapondo a área de capão de floresta, onde a alta
concentração deste elemento inibiu a colonização micorrízica. A cobertura vegetal de porte
arbóreo e lento crescimento como das florestas ombrófilas e capão de floresta apresentaram
menor densidade de esporos, enquanto que, a cobertura vegetal de rápido crescimento e de porte
herbáceo e arbustivo proporcionou maior densidade. No entanto, a riqueza de fenótipos foi
inversamente proporcional a densidade de esporos nestas fitofisionomias. Importante enfatizar
que 66% dos morfotipos ocorreram em todas as áreas, demonstrando a alta plasticidade
adaptativa à vegetação presente e às características do solo. A menor frequência relativa por parte
de alguns isolados, os quais ficaram restritos às áreas de floresta sugere baixa plasticidade
adaptativa, o que provavelmente está relacionado com a especificidade de associação com
vegetação arbórea ou por serem mais eficientes na aquisição de fósforo do solo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GERDEMANN, J. W.; NICOLSON, T. Hs. Spores of mycorrhizal Endogone species extracted from
soil by wet sieving and decanting. Transactions of the British Mycological society, v. 46, n. 2, p.
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JENKINS, W. R. et al. A rapid centrifugal-flotation technique for separating nematodes from soil.
Plant disease reporter, v. 48, n. 9, 1964.
PHILLIPS, J. M.; HAYMAN, D. S. Improved procedures for clearing roots and staining parasitic
and vesicular-arbuscular mycorrhizal fungi for rapid assessment of infection. Transactions of
the British mycological Society, v. 55, n. 1, p. 158-IN18, 1970.
SMITH, S. E.; READ, D. Mycorrhizal Symbiosis. 3. ed. San Diego: Academic Press, 2008. 787
p.
SOUZA, R.G.; MAIA, L. C.; SALES, M.F.; TRUFEM, S.F.B. Diversidade e potencial de
infectividade de fungos micorrízicos arbusculares em áreas de caatinga, na região de Xingó,
Estado de Alagoas, Brasil. Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v.26, n.1, p.49-60,
2003.
Grande-área: Agronomia/Microbiologia e Bioquímica do Solo
Área: Ecologia Microbiana
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