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JORNADA Á LUZ DE SANTA

HILDEGARD DE BINGEM

a busca das
virtudes

UMA JORNADA DE 9 DIAS


DE 13 A 21 DE FEVEREIRO

POR LU DE SÁ
VIRTUDES OU MIRAGENS

Aparências de virtude

Antes de falarmos do que é a virtude, vamos falar um pouco


do que “não é”.

A definição mais simples – embora perigosa – de virtude é


“hábito bom”, ou seja, uma qualidade que a pessoa tem e
que se manifesta em certas atitudes e reações habituais, em
determinadas condutas contínuas. Há, por exemplo, pessoas
que têm uma amabilidade habitual, outras que geralmente
estão de bom humor, outras que sempre cumprem os
horários, outras que não descuidam a ordem material,
outras que nunca irritam os outros...

Todas essas coisas, você acha que são virtudes? Podem ser,
todas elas, mas nem sempre. Mais ainda, como veremos a
seguir, podem ser pseudovirtudes que enganam, como as
miragens no deserto, que aparecem à imaginação dos que
morrem de sede como se fossem lagos azuis.

Há vários critérios, muitos deles dados por Cristo, para


desmascarar as falsas virtudes. Veremos a seguir alguns
deles. Mas acho bom preveni-lo: com isso, não queremos
convidar ninguém a pensar nos defeitos dos outros! Basta
que identifiquemos os nossos.

Para melhor desmascarar as miragens, façamos uma


classificação.
Tipos de Miragens

Aparências de virtude

1) As “virtudes” vaidosas

Nosso Senhor fala explicitamente delas. Já no início da sua


pregação, no Sermão da Montanha, nos alerta: Guardai-vos
de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para
serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa
junto de vosso Pai que está no céu (cf. Mt 6,1). Quer dizer
que, aos olhos de Deus, não têm valor as virtudes
contaminadas pela vaidade. Para serdes vistos! Esse para diz
tudo: fala das virtudes praticadas com uma finalidade
vaidosa, que pode ser dupla.
A) Virtudes-vitrine: vividas com fins de exibição, procurando
glorificar a nossa imagem diante dos outros, indo atrás do
aplauso, da publicidade, do louvor, ou da badalação para
obter vantagens. Jesus corta pela raiz essa hipocrisia.

Lembre que, no Sermão da Montanha, Ele nos manda


praticar a esmola sem tocar a trombeta, sem que a mão
esquerda saiba o que faz a direita, e assim teu Pai que vê o
escondido, te recompensará.

Igualmente, não quer que oremos – que façamos as nossas


práticas religiosas – para sermos vistos pelos homens,
visando criar uma boa imagem espiritual, que os outros
admirem, e talvez aproveitar-nos dela. Quantos rapazes e
moças não fizeram isso para arranjar na igreja namorada(o)
bonzinhos.
Por fim, recomenda fazer sacrifícios sem “ar de vítima”, sem
dar-nos importância nem cobrar o agradecimento dos
demais: Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu
rosto; assim, não parecerá aos homens que jejuas (cf. Mt 6,2
ss). Virtude vaidosa não é virtude.

B) Virtudes-espelho

A vaidade funciona também como um espelho onde nos


contemplamos, no íntimo de nós, com admiração e orgulho.
Como fazia aquele de quem falava São Josemaria, que
dedicou um livro a si mesmo, escrevendo: «A mim mesmo,
com a admiração que me devo» (Sulco, n. 719). Ao
envaidecer-nos com as nossas qualidades, estragamos o
bem que possa haver nelas.

Por causa disso, Jesus reprovou o fariseu que subiu ao


Templo intimamente ufano com as suas “virtudes”: Graças
te dou, ó Deus, porque não sou como os demais homens:
ladrões, injustos e adúlteros; nem como este publicano que
está ali. Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de
todos os meus lucros (cf. Lc 18,9-14). O publicano, tão
desprezado, só agradecia a bondade de Deus e pedia
perdão. Este voltou para casa justificado, e não o outro (Lc
18,9-14).

E nós?
Que me diz de nós quando repetimos “eu não tenho
pecado”, “não faço mal a ninguém”, “não preciso me
confessar”?
Não há uma certa semelhança com o fariseu?
2) Os hábitos rotineiros

Existem pessoas muito cumpridoras, tanto do dever


profissional, como do atendimento das necessidades
familiares e dos deveres religiosos. Não são irresponsáveis,
não têm falhas graves. Mas fazem as coisas com uma rotina
morna, como que forçados, sem alma. Nunca se renovam!
Não se nota que estejam lutando por melhorar; estão
sempre na mesma ou, melhor, estão “mofando” na mesma.
Seu “cumprir” é um “cumpri-mentir”, para dizê-lo
remedando um pensamento do Beato Álvaro del Portillo.

Jesus se refere a eles quando cita estas palavras do profeta


Isaías: Este povo somente me honra com os lábios, mas o
seu coração está longe de mim (Mt 15,7; Is 29,13). E também
quando censura os mornos: Não és nem frio nem quente...
Tenho contra ti que arrefeceste o teu primeiro amor (Ap 3,15;
2,4).

Não ha virtude “viva” na pessoa rotineira, que não tem amor


criativo nem renovação de atitudes.

3) As inclinações temperamentais

Há outros que parecem ter virtudes excelentes, mas que não


são virtudes, são apenas bons sentimentos ou inclinações
temperamentais. Fazem coisas boas porque lhes “saem”
sem esforço, porque correspondem ao seu “natural”,
porque lhes são agradáveis e até os divertem. Quantas
fachadas simpáticas têm essas características!
Mas, nestes casos, por trás da fachada veem-se dois sinais
típicos da falsa virtude:

─ o primeiro sinal e que não fazem nada por adquirir


“outras” virtudes não sentimentais nem fáceis, e que são
muito mais importantes. Pense no homem amável e
sociável, pronto para ir visitar um amigo e ajudá-lo a passar
um bom momento, mas que é preguiçoso, que trabalha mal
e não cumpre os compromissos incômodos ou exigentes
nem sequer com os amigos.

─ o segundo sinal consiste em que eles têm dupla face. Fora


de casa, dão vazão, por exemplo, à simpatia e a
camaradagem temperamentais (por vaidade, ou
simplesmente por prazer), mas em casa – onde mais do que
o temperamento, é precisa a abnegação – são insuportáveis.
Fazem lembrar aquela história do velório de um marido
beberrão e violento, que fazia da esposa um saco de
pancadas. Os amigos de boteco rodeavam o 7 caixão,
compungidos, e comentavam de longe: “Que homem!
Grande amigo! Era a amabilidade em pessoa! Sempre
pronto para ajudar, bom coração...”. A esposa, ao ouvir isso,
arregalou os olhos e pediu ao filho mais novo: – Joãozinho,
vá até o caixão e veja se o defunto é mesmo seu pai...”.

Talvez a esses Jesus diria: Sepulcros caiados, que por fora


parecem formosos, mas por dentro estão cheios [...] de
hipocrisia e de iniquidade (cf. Mt 23,27-28).
4) As virtudes-fogueira

Finalmente, neste quadro de miragens poderíamos colocar


aquelas virtudes que são como uma fogueira de São João.
Arde e ilumina durante uma noite. No dia seguinte, só
restam cinzas. São febres efêmeras.

Lembro-me do que contavam há bastantes anos algumas


pessoas que, infelizmente, foram mobilizadas para
participar de uma guerra. Durante os combates, havia jovens
soldados que mostravam exemplos espetaculares de
bravura, de renúncia, de coragem. Mas, ao chegar o tempo
de paz, eram incapazes de vencer a pequena batalha de
acordar na hora certa para chegar pontualmente às aulas na
faculdade.

Também no Evangelho temos exemplos claros disso. São


Pedro, na Última Ceia, diz a Jesus, com veemência, de
coração: Darei a minha vida por ti! (Jo, 13,37), Ainda que seja
preciso morrer contigo, não te renegarei! (Mc 14,31). Horas
depois, não consegue nem acompanhar Jesus na oração no
Horto, e o Senhor tem que lhe dizer: Simão, dormes? Não
pudeste vigiar uma hora? (Mc 14,37). E, após a prisão de
Cristo, foge e nega-o três vezes. Tinha virtude emocional,
ardor de bons sentimentos, mas faltava-lhe a firmeza da
verdadeira virtude.

São muito apreciáveis essas virtudes emotivas, mas só elas –


por mais sentidas que sejam – não fazem nem santos nem
bons cristãos.
O bom perfume das virtudes cristãs, como lembra São
Josemaria, «faz-se sentir entre os homens, não pelas
labaredas de um fogo de palha, mas pela eficácia de um
rescaldo de virtudes: a justiça, a lealdade, a fidelidade, a
compreensão, a generosidade, a alegria» (É Cristo que passa,
n. 36).

Fonte: Conquista das Virtudes - Pe Faus

Diante desse texto de Padre Faus, nossa atividade é nos


avaliar.
Fazer um exame de consciência e trazer á luz as nossas
máscaras e falsas virtudes, que muitas vezes usamos para
sobreviver nesse mundo cheio de fantasias.

Pegue m Caderno que deve te acompanha nesse percurso, e


nele faça as suas anotações e observações sobre si mesmo.

Essa ornada é sobre nós e não sobre o outro!

Que Santa Hildegarda ilumine essa Jornada que


começa agora!!!

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