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A MENSAGEM DO
SERMÃO DO MONTE
Emilene Santos








Livreto confeccionado à partir de mensagens


preparadas para uma reunião de mulheres
que durou o ano de 2019.






SUMÁRIO

1 – Introdução ............................................................. 09
2 – As Bem Aventuranças ............................................ 13
3 – Sal da terra; Luz do mundo ..................................... 25
4 – Jesus e a Lei ............................................................ 31
5 – Amor ativo ............................................................. 35
6 – Jesus nos ensina a orar - Mateus 6 ......................... 41
7 – A escolha - Mateus 7 .............................................. 49
Referências Bibliográficas ........................................... 57







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1 – INTRODUÇÃO
REUNIÃO DE MULHERES – 08 DE MARÇO DE 2019

- Proposta para investigarmos o Sermão do Monte.


Por que o Sermão do Monte? Ou... O que é o Sermão do Monte?
Ele se encontra no Evangelho de Mateus e são três capítulos – 5, 6 e 7.
- Segundo John Stott (pesquisador e expositor bíblico, pastor que com suas obras
tem impactado gerações): “O Sermão do Monte é o esboço mais completo, em
todo o Novo Testamento da contracultura cristã. Um sistema de valores cristãos,
um padrão ético, uma devoção religiosa, uma atitude para com o dinheiro, uma
ambição, um estilo de vida e uma teia de relacionamentos: tudo completamente
diferente do mundo que não é cristão. E esta contracultura cristã é a vida do reino
de Deus, uma vida humana realmente plena, mas vivida sob o governo divino.”
- Há homens na história da igreja que se dedicaram ao estudo desse tão falado
Sermão; homens como Agostinho (um dos mais
importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do cristianismo,
considerado o mais importante dos padres na igreja do ocidente), que começou
seus escritos em uma época de grande turbulência política e religiosa, em uma
crise universal, com invasões de bárbaros, decadência moral, cultural e material
no Império Romano, e onde a igreja se via na urgente contingência,
(possibilidade) de dar respostas às heresias do conhecimento filosófico, à ameaça
do retorno das tradições pagãs defendidas pela elite que acusava o cristianismo
de levar Roma à dolorosa ruína.
Com base nesse contexto de destruição moral, (que na época de Agostinho já
estava sobressalente, quanto mais hoje...) ele entendeu que essa decadência que
a humanidade se encontrava, está voltada à quebra de tradições, e com isso ele
se embasa no seguinte tripé: Escrituras, Tradição e Igreja; e Agostinho entende
que andar fora desse tripé, é andar no pecado e que é impossível haver
verdadeira moralidade sem fé, ou seja, é caminhando na fé que a razão prática
alcança as verdades fundamentais. Nós caminhamos em um tripé que é: Oração,


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Escrituras e Comunhão, e temos defendido que esse tripé nos ajuda a nos
mantermos sóbrios.
- O que vejo bem interessante é que Agostinho trabalha e defende a Tradição
(transmissão de costumes, comportamentos, memórias, rumores,
crenças, lendas, passado de geração para geração... ) já na sua época, naquele
tempo, ele entendeu que destruir tradição é ruína para a humanidade.
A Tradição que Agostinho defende com todo seu vigor, são as virtudes morais,
perdidas de geração para geração (viram? tanto o bem quanto o mal se passa).
- Mas, o fato é: só por Cristo, com Cristo e em Cristo pode a virtude humana,
hábitos da natureza, não se corromper neste mundo.
- Por que aprofundarmos um pouquinho no Sermão do Monte? – Ele é, ao mesmo
tempo, anúncio e prenúncio. Anuncia o caminho da perfeição moral com as
armas sobrenaturais da fé e prenuncia a felicidade perfeita que os bem-
aventurados terão no céu.
- Penso que é correto dizer q a característica mais óbvia da moderna Igreja Cristã
é, infelizmente, a superficialidade. Considerando a História da Igreja e os grandes
movimentos do Espírito Santo..., qualquer pessoa que olhe o atual estado da
igreja, ainda que com relutância, entende essa realidade: a superficialidade. E
quando falo isso, não estou falando no sentido evangelístico, e nem nas
tendências de uso e costumes modernos acoplados, e nem no “conceito de
santidade” abordado pela “doutrina da santificação”, mas firmando em uma das
causas fundamentais que é a nossa atitude para com as Escrituras; o fato que não
a tomamos a sério; o fato que não a aceitamos como ela é; e o fato que não
permitimos que ela fale conosco.
Hb 4:12
- Na vida cristã, nada é tão importante quanto a maneira como nos aproximamos
da Bíblia. Ela é nosso único manual de instruções, se não fosse ela, nada
poderíamos saber acerca de Deus e da vida cristã. Lê-la e não apenas passar por
ela... é base, fundamento para me alimentar solidamente.
- Agora vamos dar mais um passinho no Sermão do Monte: A quem se destina?


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Destina-se ao povo cristão inteiro. Trata-se de uma perfeita representação da
vida no reino de Deus.
Por que deveríamos aprofundar nele? Viver de conformidade com o mesmo?
O Senhor Jesus Cristo morreu a fim de capacitar-nos a viver o Sermão do Monte...
Tito 2:14 “...se entregou a si mesmo por nós para nos remir de toda a maldade
e purificar para si um povo todo seu, consagrado às boas obras.”
- O Sermão do Monte nos ensina insistentemente a absoluta necessidade do novo
nascimento, bem como a necessidade do Espírito Santo e de Sua atuação em
nosso íntimo.
Vou deixar uma pergunta para reflexão:
“O que me inspira?”
O que te inspira?
- Sabiam que no comunismo os adeptos realizam coisas e se sacrificam por aquilo
que acreditam?
- No que acredito? Como estou vivendo? Minhas práticas diárias se adequam ao
mundo ou à Palavra que é (ou pelo menos deveria ser) minha direcionadora,
condutora?
- Por um grande tempo essa pergunta: “O que me inspira?” vem queimando em
meu coração... e tenho conseguido, à luz da Palavra trazer respostas que
acalentam meu coração... mas em uma pregação do meu marido, queimou em
minha mente e coração a seguinte resposta: “O que me inspira é saber que
TODOS os meus dias já foram escritos e determinados por meu Pai.” – Aleluia,
não tem como eu fugir, não tem como eu escapar... Ele me cerca por todos os
lados...
Agora tem uma questão, Ele não invade... fato é, que o Espírito nos convence,
mas Ele não invade.
Que Deus nos conceda graça para levar a sério Sua Palavra, Seus ensinos, de
forma honesta e sob oração, até nos tornarmos exemplos vivos do Mesmo.


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2 – AS BEM AVENTURANÇAS
REUNIÃO DE MULHERES – 12 DE ABRIL DE 2019

Finalizamos nosso convite e introdução ao Sermão do Monte com uma


“pergunta” de reflexão
“O que me inspira?”
Saber para onde estou indo, minha missão, o que quero, é de extrema
importância e me direciona, onde dedicar minhas energias... o que vale a pena.
- O Sermão do Monte é direcionador e, segundo Lloyde Jones, se assemelha a
uma grandiosa composição musical, uma sinfonia, onde o efeito inteiro do
conjunto é maior que a coleção de suas partes constituintes, e jamais deveríamos
perder de vista essa inteireza.
Tem uma frase que explica um pouco essa comparação de Lloyd-Jones –
“Corremos constante perigo de perder de vista o bosque por causa da árvore.”
E para ilustrar melhor essa frase, tem uma história que ouvi de uma psicóloga,
sobre uma velhinha que passava todos os dias com sua lambretinha pela ponte
da amizade indo pra Foz do Iguaçu e todos os dias ela passava com um saquinho
atrás, aparentemente inofensivo, só que aquilo começou a ficar muito comum,
até que os policiais começaram a achar estranho porque estavam tendo notícias
de contrabando e desconfiaram que podia ter alguma coisa haver com essa
velhinha. Um dia a pararam e nada, e depois... nada, e nada... e um dos
guardinhas ficou inculcado com a velhinha e falou pra um amigo, tem alguma
coisa errado com essa velhinha... até que um dia a parou e falou que ia dar um
jeito, não a prenderia, mas ela precisava falar o que estava carregando, onde
escondia... então ela falou: se eu contar você não me prende? (evidente que é
uma história fictícia), ele respondeu que não, e ela então falou que estava
contrabandeando a lambreta. Todos os dias ela passava com uma lambreta
diferente, mas ela deu um jeito de colocar algo que chamava mais atenção, um
saco atrás, um outro detalhe.
O que significa? O Sermão do Monte é todo, e não só partes... essa serve... essa
nem olho... Ele é uma sequência lógica, com ordem e sequências espirituais. Jesus


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não ensinou essas etapas por acidente; a apresentação inteira foi efetuada de
modo deliberado (concluído, decidido).
Agostinho disse: “O Sermão do Monte é graça divina; é moral perfeita, devido à
sua fonte divina. Encontra-se nele, no tocante à retidão moral, a regra perfeita
da vida cristã.”
- Hoje, e me atrevo a dizer, mais do que em qualquer outra época, o alvo da
humanidade é a busca pela felicidade. O mundo inteiro anela alcançar a
felicidade, e quão trágico é observar como as pessoas a estão procurando. E para
uma grande maioria, infelizmente essa busca só produz o infortúnio, infelicidade.
Qualquer coisa que, mesmo por breve momento, curto prazo traga aquele
sentimento de “estou feliz”, só tende a intensificar a miséria e os problemas que
enfrentamos a longo prazo.
Nossa tendência é buscar o alívio, e não o descanso, pois o alívio é uma busca
rápida (fast food), mas da mesma forma que o encontro é rápido, a perda
também o é.
Mt 11: 28-30 diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados,
e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim que sou manso
e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo
é suave, e o meu fardo é leve.”
Essa busca pela aparente felicidade é o caráter enganador do pecado – sempre
oferecendo felicidade, mas sempre conduzindo à infelicidade e condenação.
- O Sermão do Monte, entretanto, diz que se alguém quer ser feliz, aí está o
caminho certo... somente os bem aventurados é que são felizes.
Um primeiro princípio das bem aventuranças, é que elas descrevem as
qualidades de caráter do cristão, caráter equilibrado e diversificado.
Segundo princípio é que se espera que todos os cristãos manifestem todas as
qualidades contidas nas bem aventuranças, e não que determinados cristãos
manifeste uma característica e outros, outra característica... não é dividido, é
integral. As características são manifestas integralmente, todos nós cristãos as
manifestamos por inteiro, ou seja, não são alguns humildes, outros mansos,
outros que choram, outros pacificadores... NÃO... espera-se que cada cristão


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cumpra cada um desses requisitos, manifestando-os ao mesmo tempo em sua
vida. Mas também, opino dizer que em alguns cristãos, essas qualidades se
manifestam mais intensamente do que em outros...
- O ponto aqui frisado é que cada um de nós deveria manifestar conjuntamente
todas as qualidades especificadas no Sermão.
As bem aventuranças formam um complexo integrado, e não podemos separá-
las umas das outras.
E um terceiro princípio (se assim podemos classificar) é que nenhuma dessas
descrições refere-se àquilo que poderíamos chamar de tendências naturais.
Cada uma das bem aventuranças, em sua inteireza, é uma disposição que
somente a graça e a operação do Espírito Santo em nós foram capazes de
produzir, ou seja, não vem de nós; não vem da nossa força.
- Há casos de nos depararmos com pessoas aparentemente humildes, mansas,
pessoas não-regeneradas; pessoas que conhecemos que não se consideram
cristãs, não vão à igreja, não leem a bíblia, não oram, e olhamos e pensamos:
nossa, essa pessoa parece que é mais crente que eu; pessoa sempre gentil, polida,
nunca diz uma palavra violenta e nem exprime juízo severo demais, vive sempre
para fazer bem ao próximo... para explicar esse tipo de “confusão”, é que, o que
encontramos no Sermão do Monte, em cada caso, não é a descrição de alguma
ou qualquer qualidade natural de temperamento, mas antes, uma disposição
produzida pela graça divina.
Todos nós apresentamos tipos diferentes de temperamento: agressivo x
tranquilo; alertas e espertos x lerdos, passivos; reativo x ponderado; e assim por
diante, qualidades essas biológicas, mas, graças a Deus, a Bíblia nos ensina que
cada um de nós, todos nós, independente do que expressamos biologicamente,
precisamos exibir todas as características do Sermão do Monte... e essa é a glória
do Evangelho, glória central!! O Evangelho pode tomar o indivíduo mais
orgulhoso do mundo e transformá-lo em alguém humilde de espírito.
No Sermão do Monte temos características e disposições resultantes da graça
divina, produtos do Espírito Santo.
Mt 5:1,2


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No Velho Testamento, muitas leis e preceitos foram entregues pelos profetas;
estudiosos dizem que esses são os menores preceitos; e aqui, no Novo
Testamento, em cima do monte, Jesus entrega, pessoalmente os maiores
preceitos; no devido tempo, a medicina adequada. E diz...
MT 5:3 “Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o reino do céu.”
- O Velho Testamento fornece os antecedentes necessários para a interpretação
desta bem aventurança. Ser “pobre”, Sf 3:12 “Mas deixarei no meio de ti um
povo humilde e pobre; e eles confiarão no nome do Senhor.” Significa passar
necessidades literalmente materiais. E porque os necessitados não tinham outro
refúgio a não ser Deus, a “pobreza” recebeu nuances espirituais e passou a ser
identificada como uma humilde dependência de Deus.
No Sl 34:6, o salmista diz: “Este pobre homem clamou, e o Senhor o ouviu; livrou-
o de todas as suas aflições.”
O aflito, homem pobre, é aquele que está sofrendo e não tem capacidade de
salvar-se por si mesmo e que, por isso busca a salvação de Deus, reconhecendo
que não tem direito à mesma.
Is 41:17,18 – São os “aflitos e necessitados”, que “buscam água e não as
encontram”, cuja “língua se seca de sede”, aos quais Deus promete abrir “rios nos
altos desnudos, fontes no meio dos vales” e tornar “o deserto em açudes de
águas, e a terra seca em mananciais”.
Em Is 57:15 e Is 66: 2, o “pobre” foi descrito como contrito e humilde de espírito,
para quem Deus olha.
E é para esse “pobre”, contrito, abatido, humilde que Jesus proclama as boas
novas da salvação... Is 61:1; Mt 11:5... e na caminhada de Jesus, eram os pobres
que permaneciam fiéis a Deus.
Reflitam (palavras de John Stott): “a riqueza e o mundanismo, bem como a
pobreza e a piedade, andam juntas.”
Assim, ser pobre, humilde de espírito é reconhecer nossa pobreza espiritual ou,
nossa falência espiritual diante de Deus, pois somos pecadores, sob a santa ira de
Deus, e nada merecemos além do juízo de Deus. Nada temos a oferecer, nada a
reivindicar, nada com que comprar o favor dos céus.


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Nada temos a dar... nosso lugar é ao lado do publicano da parábola de Jesus,
clamando com os olhos baixos: Lc 18:13 “Mas o publicano, em pé e de longe, nem
mesmo levantava os olhos ao céu, mas lamentava-se profundamente, dizendo: Ó
Deus, tem misericórdia de mim, um pecador.”
- Palavras de Calvino: “Só aquele que, em si mesmo, foi reduzido a nada, e repousa
na misericórdia de Deus, é pobre de espírito.”
Pobres em espírito – humilde dependência de Deus.

MT 5:4 “Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.”
- John Stott expressa: “Quase que se poderia traduzir esta segunda bem
aventurança por “Felizes os infelizes”.”
Que espécie de tristeza é essa que pode produzir a alegria da benção de Cristo
naqueles que a sentem?
A promessa do consolo não é para aqueles que choram a perda de uma pessoa
querida, mas aqueles que choram a perda de sua inocência, de sua justiça, de seu
respeito próprio. Cristo não se refere à tristeza do luto, mas à tristeza do
arrependimento.
Este é o segundo estágio da benção espiritual. Uma coisa é ser espiritualmente
pobre e reconhecê-lo; outra é entristecer-se e chorar por causa disso.
1º confissão; 2º contrição.
Existem lágrimas cristãs, e são poucos os que as derramam.
2Co 7:10
Essas lágrimas são derramadas pelos meus pecados e também pelo do meu
próximo; pela maldade do mundo...
Rm 7:24 “Desgraçado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”
Sl 119:136 “Meus olhos derramam rios de lágrimas, porque os homens não
guardam tua lei.”
Ez 9:4 “...marca com um sinal a testa dos homens que suspiram e gemem por
causa de todas as abominações que se cometem...”


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2Co 12:21 “Temo que, quando for outra vez, o meu Deus me humilhe diante de
vós, e que eu lamente por muitos dos que anteriormente pecaram e que ainda
não se arrependeram da impureza, imoralidade e libertinagem que cometeram.”
O consolo que pode aliviar o desespero do arrependido, contrito, é o perdão da
graça de Deus.

MT 5:5 “Bem-aventurados os humildes (mansos), pois herdarão a terra.”
Um resumo de Lloyd-Jones: “A mansidão é, essência, a verdadeira visão que
temos de nós mesmos, e que se expressa na atitude e na conduta para com os
outros.”
Ilustrando... de certa forma, de modo comparativo, é mais fácil ser honesto
comigo mesmo diante de Deus, me reconhecer pecador diante dEle; do que
permitir que outras pessoas digam sobre mim. Instintivamente me ofendo.
Prefiro me condenar do que permitir que outro me condene.
Ex.: Recito diante de Deus e dos homens no culto o quanto miserável sou; então
no final alguém chega diante de mim, e fala das minhas mazelas... ahhhh, minha
justiça própria aflora na hora... a mansidão sai correndo...
O manso sabe que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam o
Senhor”... Sabe que se pedras lhe forem lançadas, é porque o Senhor assim
permitiu (como Davi e o Simei em 2Sm16); Jesus diante de Pilatos em Jo19:11
“Nenhuma autoridade terias sobre mim, se do alto não te fosse dada;”
Jesus continua “herdarão a terra” – pensamos e vemos que os fortes, destemidos,
guerreiros é que conquistam; até mesmo os israelitas precisaram lutar para
conquistar a terra... Mas a condição pela qual tomamos posse de nossa herança
espiritual em Cristo não é a força, mas a mansidão.
Sl 37:22 “Pois os abençoados pelo Senhor herdarão a terra, mas os que por ele
são amaldiçoados serão exterminados.”
O caminho de Cristo é diferente do caminho do mundo.
“A auto-renúncia é o caminho para o domínio do mundo.” (Rudolf Stier – clérigo
protestante e músico alemão)


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MT 5:6 “Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça, pois serão
saciados.”
No cântico de Maria em Lc 1:53 “Aos famintos encheu de bens, e de mãos vazias
mandou embora os ricos.”
Deus satisfaz quem tem fome e sede espiritual; Ele se agrada desses.
Mt 6:33 “Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas essas coisas vos
serão acrescentadas.”
A justiça na Bíblia tem pelo menos três aspectos: o legal, o moral e o social.
Justiça legal – justificação; não buscar a própria justiça, mas a de Deus.
Sl 7:3-5
Justiça moral – caráter e conduta que agradam a Deus.
Mt 5:20
A moral é exterior, a legal interior, do coração, da mente e das motivações.
Mas é um erro supor que a palavra bíblica “justiça” significa apenas um
relacionamento com Deus, de um lado, e uma justiça moral de caráter e conduta,
do outro. A justiça bíblica é mais do que um assunto particular e pessoal; inclui
também a justiça social; e essa refere-se à busca pela libertação do homem da
opressão, junto com a promoção dos direitos civis, da justiça nos tribunais, da
integridade nos negócios e da honra no lar e nos relacionamentos familiares.
Assim, sendo, os cristãos estão empenhados em sentir fome de justiça em toda a
comunidade humana para agradar a um Deus justo. E nessa vida, enquanto aqui
estivermos, sempre teremos fome, nunca seremos totalmente saciados, nem a
fome, nem a sede. Até mesmo a promessa de Jesus, de que todo aquele que
beber da água que Ele dá “nunca mais terá sede”, só é cumprida se continuarmos
bebendo. Não se vive da experiência do passado, precisamos cavar para o futuro;
enchendo nossas vasilhas.




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MT 5:7 “Bem-aventurados os misericordiosos, pois alcançarão misericórdia.”
“Misericórdia” é compaixão pelas pessoas que passam necessidades, e se
distingui da graça.
Misericórdia trata da dor, da miséria, do desespero, que são resultados do
pecado; graça lida com o pecado e com a culpa propriamente ditos. A primeira
concede alívio; a segunda perdão; a primeira cura e ajuda, a segunda purifica e
reintegra.
A misericórdia concede perdão. Os que a demonstram a encontram.
“Felizes os que tratam os outros com misericórdia – Deus os tratará com
misericórdia também.” – Não que possamos merecer a misericórdia através da
misericórdia, ou o perdão através do perdão, mas porque não podemos receber
a misericórdia e o perdão de Deus se não nos arrependermos, e não podemos
proclamar que nos arrependemos de nossos pecados se não formos
misericordiosos para com os pecados dos outros. FORTE DEMAIS!
MT 5:8 “Bem-aventurados os limpos de coração, pois verão a Deus.”
Limpos de coração – pureza interior.
Sl 24:3,4 “Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem poderá permanecer no seu
santo lugar? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração; que não entrega a
sua vida à mentira, nem jura com engano.”
“Limpos de coração” – a verdade no íntimo! Sl 51:6 e no v.10 o salmista clama ao
ÚNICO que pode mudar o nosso coração: “Ó Deus, cria em mim um coração puro
e renova em mim um espírito inabalável.”
Limpos de coração = SINCERIDADE, TRANSPARÊNCIA... O coração limpo, sincero,
abre caminho para o olho bom, descrito em Mt 6:22. O íntimo do seu coração,
incluindo pensamentos e motivações, é puro, sem mistura de nada que seja
desonesto, dissimulado ou desprezível. A hipocrisia e a fraude lhes são
repugnantes, e não têm malícia.
Infelizmente, são poucos os que vivem uma vida aberta... somos tentados
diariamente a usar uma máscara diferente e a representar um papel diferente,
de acordo com cada ocasião. Isso não é realidade, e sim a essência da hipocrisia.


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Só os limpos de coração verão a Deus – agora com os olhos da fé, no porvir, a Sua
glória (ALELUIA). SÓ OS TOTALMENTE SINCEROS PODEM SUPORTAR A
DESLUMBRANTE VISÃO, EM CUJA LUZ AS TREVAS DA MENTIRA TÊM DE SE
DESVANECER.
MT 5:9 “Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de
Deus.”
A sequência de ideias – de limpos de coração para pacificadores – é natural, pois
uma das mais frequentes causas de conflito é a intriga, enquanto que a fraqueza
e a sinceridade são essenciais a todas as reconciliações verdadeiras.
De acordo com essa bem aventurança, somos chamados para sermos
pacificadores tanto dentro da igreja como na sociedade.
Bem certo é que Jesus em uma de suas falas diz “não vim para trazer paz, mas
espada”, que veio “causar divisão entre o home e seu pai, filha e mãe, nora e
sogra... de modo que os inimigos do homem seriam os da própria casa... isso tudo
é o resultado da vinda de Jesus, conflito inevitável, e que para sermos dignos
teríamos de amá-lo mais e colocá-lo em primeiro lugar.
A questão é, através dos ensinos de Jesus não devemos ser os procuradores de
conflitos ou mesmo os responsáveis por eles. Pelo contrário, somos chamados
para pacificar, devemos ativamente buscar a paz, seguir a paz com todos, e até
onde depender de nós, ter paz com todos os homens.
Pacificação é uma obra divina, pois paz significa reconciliação, e Deus é o autor
da paz e da reconciliação.
Paz não é qualquer preço,... Ele fez a paz conosco, e o preço foi sangue, Seu
próprio Sangue.
MT 5:10-12 “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é
o reino do céu. Bem aventurados sois quando vos insultarem, perseguirem e,
mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai,
pois a vossa recompensa no céu é grande; porque assim perseguiram os
profetas que viveram antes de vós.”
Parece estranho passar da pacificação para a perseguição, insulto,... da obra da
reconciliação à experiência de hostilidade. No caso aqui, há uma oposição a nós,


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mas não por causa de nossas fraquezas ou comportamentos, mas por causa da
justiça; justiça essa que nos causa fome e sede; e por rejeição à Cristo a quem
seguimos.
A perseguição é simplesmente o conflito entre dois sistemas de valores
irreconciliáveis.
Jesus nos ensina aqui a reagir diante das perseguições e insultos por causa dEle,
e nessa reação não cabe vingança, nem mau humor, nem emburramentos, nem
autopiedade, nem simplesmente sorrir e agir como quem não está nem aí porque
se sente ou se vê como melhor, e muito menos fazer de conta que gostamos disso
como um masoquista. Então, como agir?
Com alegria, exultando... pois há promessa “nossa grande recompensa no céu.”
Parece loucura, e para o mundo é realmente uma loucura; uma causa é loucura
para aqueles que não a dividem... Jesus é o escândalo para essa sociedade
corrompida; mas Ele é a força para quem nEle confia; Ele é refrigério para aqueles
a quem nEle depositam sua confiança.
1Co 15:19 “Se a nossa esperança em Cristo é apenas para esta vida, somos os
mais dignos de compaixão entre todos os homens.” Algumas traduções trazem:
“somos os mais miseráveis”.
A perseguição é um sinal de genuinidade, um certificado da autenticidade cristã,
“porque assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.” V.12b
Mas o motivo principal pelo qual devemos nos regozijar é porque estamos
“sofrendo por causa dele.” V.11b
Por causa de nossa lealdade para com Ele e para com os seus padrões de verdade
e de justiça.
As bem aventuranças, e todo o Sermão do Monte, é uma inversão dos valores
humanos. Os métodos do Deus das Escrituras parecem uma confusão para os
homens, pois exaltam o humilde e humilha o orgulhoso; chamam de primeiros,
os últimos, e de últimos os primeiros; atribuem grandeza ao servo, despedem o
rico de mãos vazias e declaram que os mansos serão seus herdeiros. A cultura do
mundo e a contracultura de Cristo estão em total desarmonia uma com a outra.


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Em suma, Jesus parabeniza aqueles que o mundo mais despreza, e chama de
“bem aventurados” aqueles que o mundo rejeita.
Quer ficar bem na fita para o mundo, para a sociedade?... então provavelmente
espiritualmente a coisa aí dentro está feia.

























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3 – SAL DA TERRA; LUZ DO MUNDO
REUNIÃO DE MULHERES – 10 DE MAIO DE 2019

As bem-aventuranças, descrevem o caráter essencial do povo cristão,


considerando o que eles são. O caminho o qual nos conduz os versículos 3-12 de
Mt 5, é um caminho totalmente diferente do que a sociedade proclama e conduz.
O caminho de Cristo é contrário ao caminho desse mundo. Se eu pudesse
realmente resumir as bem-aventuranças, seria na frase ilustre de John Stott:
“Felizes são os infelizes.”
- Então, enquanto as bem-aventuranças traçam o caráter do cristão, nos
próximos versículos de 13 a 16 de Mateus 5, Jesus começa a mostrar como o
cristão deve se manifestar.
O cristão não é uma pessoa isolada, ele está no mundo, embora não pertença a
ele. E as Escrituras nos ensina, nos recomenda termos uma mente e uma
perspectiva diferente das dos homens deste mundo.
Considerando a função e o propósito do cristão no mundo, Jesus diz nos diz em
Mt 5:13 – Esse versículo não encerra apenas em uma descrição do cristão, mas
implicitamente envolve uma descrição do mundo em que estamos; e o mundo,
nesse caso, é a humanidade em geral, a humanidade que ainda não foi
regenerada em Cristo.
O que a Bíblia diz sobre o mundo é que ele é decaído, arruinado, estragado, é
pecaminoso e é mau.
Em resultado da queda do homem com a entrada do pecado, a vida no mundo,
em geral, tende por piorar até ficar decomposta, apodrecida (se já não está). E é
isso que a Palavra nos diz, não há como esperar que mude, que melhore... a Bíblia
diz que vai piorar... e com esse entendimento, não deveríamos nem nos
escandalizar ou mesmo ficar atônitos com tamanha deterioração... As Escrituras
estão repletas de ilustrações a esse respeito, vemos que isso ocorre desde o
primeiro livro da Bíblia, embora Deus tenha criado um mundo perfeito, o pecado
entrou e se manifestou. Foi tão terrível a sujeira que entrou, que Deus manda um
dilúvio para destruir praticamente toda a população. Após o dilúvio, houve novo


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começo, mas o mesmo princípio maligno continuou operando, e assim chegou na
época de Sodoma e Gomorra, essas são narrativas que a Palavra nos apresenta.
Essa persistente tendência para a podridão insiste em se manifestar.
A Bíblia nos diz em 1Co 15:19 “Se a nossa esperança em Cristo é apenas para esta
vida, somos os mais dignos de compaixão entre todos os homens.”
Jesus inicia o v.13 com “Vós”, então somente Vós, somente nós... sois o sal da
terra..., A primeira ênfase “sois o sal da terra” diz que precisamos ser diferentes
dos homens deste mundo.
O sal difere do material a ser aplicado – é diferente, antes da geladeira, era usado
para proteger a carne da putrefação, do apodrecimento, age como um anti-
séptico. Imaginemos um pedaço de carne, por causa dos germes existentes nela
e na atmosfera, por si só apodrece. A ação do sal é preservar essa carne e impedir
que esses agentes ajam no apodrecimento dela. O sal tem uma função
transmissora de vida, de saúde, e preservação. Mas se, como Jesus disse, perder
sua função (qualidades) para nada mais presta, senão para ser jogado fora e
pisado.
Com isso, a nós fica a seguinte indagação: Jesus disse para nós, cristãos..., então:
Qual é a nossa função? Nossa ação?
Somos diferentes de todos que não são cristãos, (andamos na contra-mão). É tão
interessante, como não avaliamos a diferença que somos para esse mundo e
sociedade... passamos por essas palavras e não entendemos ou não
dimensionamos a grandeza que está sobre nós. O que o mundo tem? A quem ele
tem? Nós temos Cristo, e essas pessoas? (elas tem a nós). Pode ser que não
usufruímos em uma totalidade do que nos foi dado – Espírito Santo – porque
temos a triste postura de colocá-lo de escanteio conforme nossas conveniências,
ou ansiedade que é falta de fé. Mas, somos separados, nos destacamos ou pelo
menos precisamos nos destacar daqueles que não tem Cristo (olha o que Pedro
nos diz em 1Pe 2:9,10 “Mas vós sois geração eleita, sacerdócio real, nação santa,
povo de propriedade exclusiva de Deus, para que anuncieis as grandezas daquele
que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz. Antigamente, não éreis
povo; agora, sois povo de Deus; não tínheis recebido misericórdia; agora,
recebestes misericórdia.”)


26
Outra função do sal, vamos dizer uma segunda função, é prover sabor, impedindo
assim que o alimento fique insosso, sem graça. E mediante isso, podemos dizer
que o mundo sem o cristianismo, é sem sabor, sem graça, fato esse que as
pessoas vivem buscando prazeres, diversões para estarem felizes, se sentirem
bem. Ex. (qdo eu estava no mundo a sexta era o melhor dia, porque tinha
“atividades”, saidinhas, bebidas, “amigos”, e o domingo era o pior, ia chegando
final do dia eu quase entrava em depressão.) As pessoas buscam em outras
pessoas, e também nas bebidas, nas drogas, nas viagens, e em tantos outros
“momentos” uma forma de se sentir bem, de estar bem, e o resultado já vimos,
os consultórios de psicólogos e psiquiatras cada vez mais cheios. Pessoas
depressivas e infelizes... Onde está a resposta para esse mundo? Em nós, eu, você
somos a resposta para esse mundo.
E quando Jesus fala sobre sermos o sal da terra, ele não está falando como igreja
denominação, Ele está falando sobre igreja indivíduo. Somos eu e você em casa
com nossos familiares, em nossos trabalhos com outros, onde quer que pisamos
o pé e nos relacionemos.
O ser humano sem Cristo, que vive conforme sua própria vontade, precisa olhar
para mim e pra você e ver que há algo diferente, a forma de viver, suas ações são
diferentes do que ele está acostumado. E não estou falando de ações religiosas
não, estou falando de coração, daquilo que sou cheio... acreditem, sempre irá
fluir o que está em seu coração. Ex.: rancor, mau humor, falsidade, fofoca... posso
até conseguir disfarçar por um tempo, mas em algum momento quem realmente
sou fluirá. (livreto: “Abaixo da linha de fundo”)
Por isso, o Sermão do Monte começa com as Bem-aventuranças, trabalhando
nosso caráter, nos conduzindo à nossa verdadeira identidade que se encontra em
Cristo.
E quando Cristo flui através da minha vida, as pessoas se achegam e fazem
perguntas, vou dar exemplos: Como você consegue se calar quando é ofendido,
quando se sente injustiçado? Você age diferente, vive diferente, o que você faz,
o que você tem? Como consegue não se abater com tantas tempestades? ...
A grande esperança da sociedade consiste em um número cada vez maior de
“cristãos individuais”, que se expressam através de suas vidas, a forma como
vivem, como são.


27
Nos v.14 e 15 Jesus fala que somos a luz do mundo, está implícito nessa
declaração que o mundo está em trevas.
E o mundo em si mesmo vive buscando iluminação própria. No séc. XVIII surgiu
um movimento intelectual na Europa que se estendeu pela França, denominado
“Iluminismo”. Esse movimento reuniu filósofos e pensadores em prol do
conhecimento, que segundo eles transmite luz. Sim, o conhecimento traz clareza
aos assuntos, mas esses pensadores, estudiosos, acreditavam e muitos ainda
acreditam que a mudança do mundo está ligada a muito, muito conhecimento. A
Bíblia diz em Ec 1:18 “Porque em muita sabedoria há também muita frustração;
quanto maior o conhecimento, maior é a tristeza”. Exatamente o acontecido,
acreditavam que a medida que o conhecimento entrasse, as pessoas iriam
evoluindo e assim o mundo ficaria “cada vez melhor”, mas NADA, NADA, NADA
se melhora sem Cristo; em si mesmo. Em nós mesmos não há a mínima chance
de melhora, só de apodrecimento, como a carne sem o sal. Não há luz sem Cristo.
E o mundo só vem degringolando em trevas, a moral praticamente inexistente,
bom caráter (o que é isso?), a verdade perdeu seu significado... Hoje temos
pensadores, filósofos cada vez mais perplexos com tamanha decadência,
escritores desconcertados sem condições de explicar as condições vigentes.
Paulo em 1Co 1:21, aquilo que parece ser o cúmulo do ridículo, conforme o
mundo imagina, na verdade é a pura sabedoria de Deus. Esse é o extraordinário
paradoxo com o qual nos defrontamos. O mundo não entende a sabedoria de
Deus. Se há sabedoria em nós, vem dEle.
Jesus disse em Mt 5:14 “Vós sois a luz do mundo” e em Jo 8:12 “Eu sou a luz do
mundo”. Essas duas declarações devem ser consideradas conjuntamente, pois o
cristão só funciona como a “luz do mundo” por causa de Cristo, porque Ele é. Tg
1:17 “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto e descem do Pai das luzes,
em quem não há mudança nem sombra de variação.”
Ef 5:8 “No passado éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Assim, andai como
filhos da luz.” Recebemos a natureza divina.
Primeiro Jesus disse: “Vós sois o sal da terra”, depois disse: “Vós sois a luz do
mundo”. Será que a ordem foi aleatória? Não! Primeiro devemos ser algo, para
depois agirmos como algo. Só faço, expresso aquilo que eu sou, se não sou, é
fingimento, e como falei, em algum momento me revelo conforme meu interior.


28
Como o cristão se manifesta como luz? Tudo se resume em uma pergunta
simples: Qual é o efeito da luz? O que a luz realmente faz?
Ef 5:13 Enquanto a luz não se manifesta, de certo modo não temos consciência
das trevas. As piores coisas acontecem acobertadas pelas trevas.
Jo 3:19 “E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram as
trevas em lugar da luz, pois suas obras eram más.” O homem foi criado por Deus,
e para Deus. E Deus injetou determinadas normas em sua natureza, no seu ser e
na sua existência; e, a menos que o homem se conforme a essas normas, toda a
sua existência é errar o alvo. Aí está o fundamental problema: o homem não quer
as normas!! Essa é a queda: INDEPENDÊNCIA. Essa é a natureza do ser humano:
pecaminosa e caída.
Esse texto de João é desesperador “amaram as trevas em lugar da luz” – Temos
experimentado a boa educação, temos experimentado o conhecimento, temos
experimentado as conferências, seminários... temos experimentado de tudo; mas
coisa alguma surtirá efeito, porque a única esperança real é JO 3:7 – isso, nascer
de novo.
Ele, Jesus, faz de cada um de nós um novo homem, dotado de novos desejos, de
novas aspirações, de uma nova perspectiva e de uma nova orientação. Ele nos
proporciona uma vida que ama a luz e odeia as trevas.
O sal que não deixa apodrecer, que dá novo sabor, a luz que dissipa as trevas e
não somente isso, no v.16 Ele nos manda “resplandecer”. É como se Ele estivesse
dizendo: “Tenho feito com que você se torne algo parecido com uma luz, como
uma cidade edificada sobre um monte, a qual não pode passar despercebida. E
então, haveríamos nós de ocultarmos essas qualidades? Não se pode ocultar uma
natureza regenerada. O verdadeiro cristão não se oculta, e nem pode deixar de
ser notado.”
Porque Ele é a luz do mundo, nos tornamos com Ele luz também.
Que Deus nos propicie graça para cumprirmos nosso papel!!



29


30
4 – JESUS E A LEI
REUNIÃO DE MULHERES – 14 DE JUNHO DE 2019

Mt 5:17-26 (Jesus e a lei/homicídio)
Nas bem-aventuranças e no sal e luz, Jesus fala sobre o caráter do cristão e sua
influência no mundo. ... Agora Ele prossegue definindo melhor este caráter e
estas boas obras em termos de justiça.
O texto de Mt 5:17-20 é dividido em duas partes: primeiro (vs 17,18) Cristo e a
lei; segundo (vs 19,20) o cristão e a lei.
Nessa primeira parte (vs. 17,18)- Jesus não veio abolir ou revogar a lei, veio
cumpri-la. A lei se encontra no Velho Testamento e instrui sobre Deus, sobre o
homem, sobre a salvação... grande parte contempla o dia do Messias, tanto que
Jesus repetidas vezes declara que as Escrituras dão testemunho dEle; mas é uma
revelação parcial. O cumprimento é a revelação da profundidade que a lei
contém. Jesus a cumpre anunciando as exigências radicais da justiça de Deus.
Ele resume Sua posição em uma simples expressão: “Não abolição, mas
cumprimento!”
- Após Jesus declarar que Seu propósito era o cumprimento da lei, prossegue
apresentando a causa e a consequência disso. – Causa permanência da lei até
que seja cumprida (v.18) – Consequência obediência à lei que os cristãos
(cidadãos do reino de Deus) devem prestar (vs 19,20).
V.18 – olha o que John Stott fala sobre esse versículo: “Nenhuma parte dela
passará ou será posta em desuso, diz ele, nem uma simples letra ou parte de uma
letra, antes que seja inteiramente cumprida. E este cumprimento não se
completará até que o céu e a terra passem, pois um dia eles passarão, num
grandioso renascimento do universo. Então, o tempo, como nós o conhecemos,
deixará de existir, e as palavras escritas da lei de Deus já não serão mais
necessárias, pois todas as coisas que ela encerra estarão cumpridas. Assim, a lei
tem a duração do universo. O cumprimento final de uma e o novo nascimento do
outro coincidirão. Ambos “passarão” juntos. Jesus não poderia ter declarado com
mais clareza sua própria opinião sobre as Escrituras do Velho Testamento.
Na segunda parte (v. 19) - A obediência pessoal não basta; o cristão deve também
ensinar aos outros a natureza permanente obrigatória dos mandamentos da lei;
por menor que seja o mandamento, como o próprio versículo ensina. Col 3:16


31
Stott diz que “a grandeza no reino pertence àqueles que são fiéis no cumprir e no
ensinar toda a lei moral.”
Spurgeon diz que “A nobreza no reino de Deus será conferida de acordo com a
sua obediência.”
V.20 – agora Jesus vai mais além (quando a gente pensa que está difícil, Ele
dificulta mais um pouquinho). A grandeza no reino não é apenas avaliada pela
justiça que se conforma à lei, mas a entrada no reino torna-se impossível se não
houver um comportamento que exceda, supere (tem um valor maior) ao dos
escribas e fariseus, pois o reino de Deus é um reino de justiça.
A justiça do cristão é maior do que a justiça dos fariseus porque é mais
profunda, é uma justiça do coração. A preocupação de Jesus era pela
“moralidade profunda”. Os fariseus se contentavam com uma obediência
externa e formal, ou seja, de aparência; Jesus nos ensina que as exigências de
Deus são muito mais radicais do que essa externa; a justiça que Lhe AGRADA é
uma JUSTIÇA INTERNA, de mente e de motivação, pois o Senhor vê o coração.
1Samuel 16:7 “Mas o Senhor disse a Samuel: Não dê atenção à aparência ou à
altura dele, porque eu o rejeitei; porque o Senhor não vê como o homem vê,
pois o homem olha para a aparência, mas o Senhor, para o coração.”
Nós, seres humanos, olhamos para o exterior... Entra alguém na igreja, todo
travestido... até que nos importemos com o seu coração, o que o levou a entrar
ali, provavelmente já teremos causado sérias lesões em sua alma. E isso também
se refere a alguém “mal vestido” ou até mesmo “bem vestido demais” ... nossa
mente é muito louca... somos muito nós mesmos.
E no decorrer dos textos (vs.21-26 e 27-31) toda a fala de nosso Senhor Jesus está
relacionada ao coração – a intenção do coração.
Ele inicia o v.21 falando do mandamento: Não matarás, e prossegue...
V.22 – Nem toda ira é maligna, pois a ira de Deus é santa e pura (Col 3:5,6). Aqui
Jesus trata da ira injusta, a ira do orgulho, da vaidade, do ódio, da malícia, da
vingança. E essa ira vem acompanhada de insultos, conforme o texto nos relata,
e que acarreta penalidades, como julgamento, tribunal e fogo do inferno.
A ira e o insulto são maus sintomas do desejo de acabar com uma pessoa que
está no nosso caminho. E sendo assim tão perigosos, devemos fugir deles, e
tomar precauções sobre nossas condutas, nos policiar, vigiar...


32
Na continuação ele usa duas ilustrações: a primeira, da pessoa que vai ao templo
oferecer sacrifícios a Deus (vs.23,24); e a segunda, da pessoa que vai ao tribunal
responder acusações (vs.25,26). Jesus aqui se expressa dentro da sua cultura na
época, templo e sacrifícios.
Traduzindo para nossa realidade, na primeira: se você sabe que alguém tem algo
contra você, seja com “razão” ou não, lembrando que cada um de nós temos
“nossa verdade” em toda e qualquer situação, mas precisamos entender que
Deus é o único portador da única verdade; então se sei que alguém tem uma dor,
mágoa, ressentimento contra mim, devo largar tudo e me reconciliar com esse
irmão, me retratar. Temos algumas péssimas posturas, como: protelar pra
resolver algo; pensar e reagir a: ele que está chateado... ele que me procure...
ahhh que desgraçada mente mundana... que desgraçada cultura humanista onde
eu sou o centro e o que é melhor pra mim é que importa... o Sermão do Monte é
isso, ou seja, contra isso... ele é cristianismo e no cristianismo, o outro importa e
não eu.
Rm 15:1-3 “Nós, que somos fortes, temos o dever de suportar as fraquezas dos
fracos, em vez de agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de nós deve agradar
o próximo, visando o que é bom para a edificação dele. Porque também Cristo
não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: As ofensas dos que te ofendiam
caíram sobre mim.”
A segunda: se tiver uma dívida, acerta logo, entra em acordo, mesmo que seja no
caminho do tribunal, mas não chegue no tribunal, não se permita estar entregue
ao acusador e juízes desse mundo.
As figuras são diferente – na primeira a situação é com um irmão, na segunda
refere-se a um inimigo (adversário); mas em ambas a situação básica é a mesma
– alguém tem algo contra você e a necessidade de ação imediata, urgente.
Mas raramente atendemos à chamada de Cristo para a ação imediata! Como
PROTELAMOS. Como deixamos pra lá... que horrível é a ação do “empurrar com
a barriga” e agir como se nada estivesse acontecendo...
Nunca deveríamos permitir que uma desavença permanecesse, muito menos que
se desenvolvesse. Não devemos protelar, retardar o fazer as pazes. Precisamos
ter ação imediata logo que ganhamos consciência de um relacionamento
estremecido.


33
Stott diz que: “Se queremos evitar o homicídio perante Deus, devemos tomar
todas as possíveis medidas positivas para vivermos em paz e em amor com todos
os homens.”


























34
5 – AMOR ATIVO
REUNIÃO DE MULHERES – 09 DE AGOSTO DE 2019

Jesus inicia o Sermão do Monte falando sobre o caráter (as bem aventuranças) e a influência
(sal e luz) do cristão nesse mundo; e continua definindo melhor esse caráter e
essas boas obras.
No capítulo anterior caminhamos sobre a justiça de Deus que excede a dos
fariseus. Mostrando que o propósito de Jesus não é mudar a lei, muito menos
anulá-la, mas revelar toda a profundidade contida nela. Falamos sobre matar, que
vai além do ato em si (se matarmos no pensamento já pecamos), irar... enfim...
Em suma, Jesus fala sobre obediência. Deus ama a obediência a Ele.
1Sm 15:22 “Mas Samuel disse: Por acaso o Senhor tem tanto prazer em
holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à Sua voz? Obedecer é melhor
que oferecer sacrifícios, e o atender, melhor que a gordura de carneiros.”
Obedecer é melhor do que sacrificar.
Nesse capítulo falaremos sobre adultério, juramentos e amor aos inimigos.
Mt 5:27-33
Vs.27 e 28 - Continuando na linha que Jesus não veio para anular a lei e sim
aprofunda-la... aqui vai além do ato, Ele entra na mente, no coração. E os vs. 29
e 30 mostram o quão profundo é para o Senhor nossas intenções, o quanto Ele
as considera. Como o próprio Deus disse em 1Sm 16 “Ele não vê como o homem
vê, o homem olha para aparência, Ele para o coração.”
É tão sério, o que nossos olhos e coração perseguem, e quanto nos fazem mal, e
se... ah se ganhássemos entendimento disso, do que está dentro, oculto em
nossas mentes e corações...
PENSE: Imaginem se tudo que você pensasse, os outros conseguissem ver ou
ouvir? ...
Eva olhou para aquela árvore e a achou boa para comer, agradável e desejável
aos olhos; então ela tomou, comeu e deu; três ações, uma sequenciada da
outra... essa é a sequência do pecado em nossas vidas, é só dar conversa pra
serpente.
Aqui Jesus nos instrui não na mutilação física, mas na mutilação da alma. E tem
uma sequência também, e não aleatória, porque NADA na Bíblia é aleatório.


35
Primeiro os olhos – Jó fez uma aliança com seus olhos – eu olho e a minha
imaginação se inflama. “Atos vergonhosos procedem de pensamentos
vergonhosos.” A imaginação é aguçada através dos olhos, precisamos usa-los
com responsabilidade.
Te faz pecar? NÃO OLHE (olhos)! Te faz pecar? NÃO PEGUE, NÃO FAÇA (mãos)!
Te faz pecar? NÃO VÁ (pés)!
Cada uma de nós sabe o que mancha nossa santidade Nele. Pode ser que algo
que seja “tentação” para você, não seja para mim; algo que faz mal para mim,
pode não fazer para você... eu tenho “noção” do que me afasta da santidade para
com meu Senhor.
“Seja a paz de Cristo o árbitro do vosso coração.” Cl 3.
Vs.31 e 32 – Confesso que há em mim uma certa relutância para falar sobre o
divórcio, além de ser um assunto complexo e cheio de discussões em torno dele,
também é um assunto que afeta profundamente as emoções. Penso que
podemos dizer que não há infelicidade tão pungente quanto a de um casamento
infeliz.
Espero falar com sensibilidade...
Estes dois versículos dificilmente poderiam ser considerados como a totalidade
das instruções dadas por nosso Senhor a respeito do divórcio. Mateus no cap.19
registra algo mais completo, então vou reunir os dois textos. Mt 19:3-9
Os fariseus estavam preocupados com os motivos para o divórcio; Jesus, com a
instituição do casamento.
A pergunta dos fariseus era para induzir Jesus a declarar o que Ele considerava
ser motivo “justo” para o divórcio. Mas a resposta de Jesus não é uma resposta;
Ele faz uma contra pergunta sobre o que tinham lido nas escrituras. Ele vai para
Genesis no v.4 (criação-homem e mulher); vai na instituição do casamento no v.5
(deixar pai e mãe – unir – torna-se um só) ... Essa definição bíblica implica em
dizer que o casamento é exclusivo (o homem e sua mulher) e permanente (se
unirá à sua mulher) ... e esses foram os dois aspectos – exclusivo e permanente
que Jesus usou para enfatizar seu comentário no v.6: Primeiro: “não são mais
dois, mas uma só carne” e Segundo: “Portanto o que Deus uniu o homem não o
separe”.


36
E os fariseus continuam, e então respondem Jesus com outra pergunta se
remetendo à carta de divórcio concedida por Moisés e o repúdio. Na fala de Jesus
em Mt 5:32 Ele cita sobre esse repúdio (mandar embora) e se fizermos uma
leitura mais cuidadosa de Deuteronômio 24, o texto revela uma série de cláusulas
condicionais... a força da passagem está na proibição do novo casamento... mas
que também implica uma série de questões; no v.9 Jesus cita a infidelidade, como
sendo uma exceção ao novo casamento; mas que também os comentaristas
conservadores, estudiosos bíblicos não são unanimes. Então vamos para o v.8 de
Mt 19 “Ele lhes disse: Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos
permitiu se divorciar da vossa mulher; mas não foi assim desde o princípio.”
Estar preocupado com os motivos para o divórcio é ser culpado do mesmo
farisaísmo que Jesus condenou. Toda a ênfase de Jesus na discussão com os
rabinos foi positiva, isto é, foi colocada sobre a instituição original divina do
casamento como um relacionamento exclusivo e permanente, no qual Deus junta
duas pessoas numa união que nenhum homem pode interromper e (é preciso
acrescentar) que Jesus enfatizou nesse Sermão sobre amar, perdoar uns aos
outros e sermos pacificadores em situações de luta e discórdia.
Continuando no texto...
Vs.33-37 – os fariseus tinham a tendência de distorcer a lei... sobre juramentos,
olhando para o V.T. nos textos de Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio
sobre os mandamentos, a intenção é clara: proibir o juramento falso, a mentira e
o fazer um voto e quebrar.
A verdadeira implicação da lei é que devemos cumprir nossas promessas e
sermos pessoas de palavra; e se assim atuarmos, os juramentos se tornam
desnecessários. V.37 “Seja, porém, o vosso falar sim, sim; não, não; pois o que
passa disso vem do Maligno.” E quem é o pai da mentira se não o próprio?
Maligno Diabo!
Assim como o divórcio é devido à dureza do coração humano, os juramentos se
devem à falsidade humana. Ambos foram permitidos por lei; nenhum foi
ordenado; a questão é: fazemos o que bem queremos, não medimos as
consequências... Quando algo encontra nosso coração, nos desembestamos à
satisfazer, poucos abstém-se de suas próprias vontades. Não somos dignos de
confiança; nossa palavra não tem mais valor...


37
Vi um post com a seguinte frase: “O difícil não é descobrir a vontade de Deus para
nossas vidas, mas negar a nossa para fazer a Dele!”
Vs.38-42/43-48 Se fosse para resumir essa parte do Sermão, seria: A justiça do
cristão – não vingança (vs.38-42); e amor ativo (vs.43-48)
O contraste desses versículos provavelmente são o ponto mais alto do Sermão
do Monte, e causam sentimentos como admiração e também rejeição e até
mesmo indignação. Trata-se da atitude de amor total que Cristo manda que
demonstremos ao perverso (v.39) e aos nossos inimigos (v.44). Em nenhum outro
ponto o Sermão é mais desafiador do que neste. Em nenhum outro ponto a
nitidez da contracultura cristã é mais óbvia. Em lugar nenhum nossa necessidade
do poder do Espírito Santo (cujo primeiro fruto é o amor) é tão necessária.
Os trechos que Jesus citou (vs.38 e 43) vem direto da lei mosaica, e acarreta uma
série de ordenanças, e uma variedade de “casos legais” com ênfase sobre
prejuízos causados a pessoas e propriedades. No tempo de Jesus o revidar, a
vingança, fora substituída pela prática legal judaica das penalidades em dinheiro
ou custos.
Mas Jesus aqui aprofunda de uma forma sobrenatural: o amor não a justiça. Lidar
com aqueles que nos prejudicam sem vingança, mas aceitando a injustiça (v.39).
Ele não nos proíbe de resistir o mal propriamente dito, mas a pessoa má, ou os
que nos fazem mal. Jesus não nega que há pessoas más. Ele não nos pede que
imaginemos que a pessoa seja diferente do que ela é, nem que fechemos os olhos
ao seu mau comportamento. O que Ele não nos permite é a vingança.
Nesses vs.38-42, Jesus usa algumas ilustrações e cada uma delas apresenta uma
pessoa que procura nos fazer mal: Uma batendo na face; outra nos levando à
justiça; outra procurando nossos serviços de forma obrigatória, e outra nos
pedindo dinheiro. E em cada uma dessas situações, Jesus disse que nosso dever
cristão é abster-nos tão completamente da vingança que até permitamos a dobra
das injúrias e abusos.
Mas tem um ponto chave nisso: O padrão que Ele exige, é o padrão que Ele
mesmo cumpriu. Isaías (50:6) diz sobre Ele: “Ofereci as costas aos que me feriam,
e a minha face aos que me arrancavam a barba; não escondi o rosto dos que me
afrontavam e cuspiam.” E nas vésperas de Sua morte, O surraram, cuspiram Nele,


38
bateram-Lhe no rosto, coroaram-No com espinhos, O vestiram com vestes de
zombaria e escárnio... E Jesus, com a infinita dignidade do autocontrole e do
amor, permaneceu calado.
Palavras de Spurgeon: “nós temos de ser como a bigorna quando homens
perversos são martelos.”
Agora, essa bigorna não quer dizer capacho; antes refere-se ao homem forte, cujo
controle de si mesmo e cujo amor aos outros é tão poderoso que rejeita a
retaliação, o revide.
Jesus não ensina a irresponsabilidade que incentiva o mal, mas a paciência que
renuncia a vingança.
A vingança não é uma prerrogativa humana, mas sim de Deus – “Minha é a
vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.” Rm 12:19
“Olho por olho” é o princípio de justiça que pertence aos tribunais legais. Na vida
pessoal, devemos nos livrar não só de toda retaliação em palavras e atos, mas
também de toda animosidade de espírito.
Vs.43-48 Amor ativo
“Ouvistes... Amar o próximo, odiar o inimigo... Eu porém vos digo...”
Jesus aqui estreita mais ainda o padrão do amor.
“Nosso próximo... nosso inimigo... e a oração”. O que o faz ser nosso próximo,
como exemplificado na parábola do bom samaritano, não é por ser um parente,
ou mesma religião, raça ou classe social, o que torna alguém nosso próximo, é
simplesmente o fato de ser um ser humano, como Jesus mostra no vs.45 “Ele faz
nascer o sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos”. O amor divino
é amor indiscriminado. Teólogos como Calvino, chamam isso de “graça comum”
de Deus. Não é a “graça salvadora” que leva pecadores ao arrependimento; mas
a graça demonstrada para com toda a humanidade, para com o arrependido e
não-arrependido. Essa graça comum se expressa não no dom da salvação, mas
no dom da criação, e nas, não menos importantes bênçãos da chuva e do sol. Este
é o padrão do amor cristão; devemos amar como Deus, não como homens; com
os olhos dEle, não com o nosso. E também nos ensina que devemos orar... a
oração aumenta e amadurece em nós o amor pelo outro.


39
Bonhoeffer disse: “Na oração colocamo-nos ao lado do inimigo, estamos com ele,
junto dele, por ele diante de Deus.”
Vs.46 “Pois se amardes os quem vos ama, que recompensa tereis?” Até os
pecadores amam aos que os amam. Os homens decaídos não são incapazes de
amar. O pecado original não deixou o homem incapaz de fazer qualquer coisa
boa, mas, qualquer “ação boa” está manchada pelo mal. Gn 8 “...a imaginação
do coração do homem é má desde a infância;” Os pecadores não redimidos
podem amar; amor paterno, filial, conjugal, entre amigos... todos esses são
experiências normais de homens e mulheres sem Cristo... “até os publicanos...
até os gentios”. Nada disso estava sendo posto em dúvida. Mas todo amor
humano está contaminado pelas impurezas do interesse próprio. Nós, os cristãos,
somos especificamente chamados para amar nossos inimigos, isso só se torna
possível com a graça sobrenatural de Deus.
Se amamos apenas aqueles que nos amam; se cumprimentarmos apenas os
nossos irmãos, nossos companheiros; não há diferença em nós... A pergunta de
Jesus foi: “O que vocês estão fazendo mais do que os outros?” (v.47)
Não nos basta parecermos com os não cristãos; nossa vocação é para ultrapassá-
los em virtude. Nossa justiça tem que exceder à dos fariseus; e nosso amor deve
ultrapassar o dos gentios.
O natural é – a mesma coisa, tanto para gentios quanto para cristãos; o
especificamente cristão começa com o “não natural” - O essencialmente cristão
consiste no extraordinário.
Palavras de Bonhoeffer: “É o próprio amor de Jesus Cristo, o amor que sofrendo
e obedecendo vai à cruz... A essência, o extraordinário do cristianismo é a cruz.
O que Jesus nos declara é que este “super-amor” não é o amor dos homens, mas
o amor de Deus que, pela graça comum, concede o sol e a chuva aos ímpios.
Portanto v.48 “Sede, pois, perfeitos, assim como perfeito é o vosso Pai celestial.”
Agostinho disse: “Muitos têm aprendido a oferecer a outra face, mas não sabem
como amar a pessoa que os esbofeteou.” O chamado é para ir além.
Um certo autor disse: “Retribuir o bem com o mal é demoníaco; retribuir o bem
com o bem é humano; retribuir o mal com o bem é divino.”


40
Esquivar-se à lei é um passatempo dos fariseus; a característica dos cristãos é um
ávido apetite para a justiça, uma contínua fome e sede dela. E esta justiça, quer
seja expressa na pureza, na honestidade ou na caridade, demonstrará a quem
pertencemos. Nossa vocação cristã não é para imitar o mundo, mas o Pai. E é por
meio dessa imitação que a contracultura cristã se torna possível.


41


42
6 – JESUS NOS ENSINA A ORAR – Mateus 6
REUNIÃO DE MULHERES – 28 DE SETEMBRO DE 2019

Jesus no cap.5 de Mateus trata do estilo de vida do cristão. Seu chamado à
nós contradiz todos os valores da sociedade, e um desses valores tem
conquistado espaço, não somente daqueles que não seguem os valores de Cristo,
mas também tem ganhado forma no coração de muitos cristãos.
Os valores do mundo estão se alicerçando, fundamentando em uma filosofia
denominada humanismo, e o que ela defende? É uma filosofia moral que coloca
os humanos como os principais numa escala de importância, ... no centro do
mundo. É uma perspectiva comum a uma grande variedade de
posturas éticas que atribuem maior importância à dignidade, aspirações e
capacidades humanas, particularmente a racionalidade. Embora a palavra possa
ter diversos sentidos, o significado filosófico essencial destaca-se por
contraposição ao apelo ao sobrenatural ou a uma autoridade superior.
O senhor Harold Walker, em um momento conosco, falou que estamos chegando
em um tempo que existirão duas vertentes se digladiando: humanismo x
cristianismo.
Biblicamente falando temos apenas duas opções, não temos três; são dois
caminhos, duas portas, dois senhores, quentes ou frios; o único lugar que nos dá
uma terceira opção é em Apocalipse, que é ser morno, e esse Deus o vomita.
O Sermão do Monte nos dá o caminho para sermos extraordinários, mas não de
forma que eleva o homem... no caminho com Deus, Deus é elevado, Cristo é o
Centro, e nós, o que somos? Is 64:6 “Todos nós somos como impuro, e todas as
nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha,
e as nossas maldades nos arrebatam como o vento.” Então - bem aventurados
são os pobres em espírito, os que choram, os humildes, os que têm fome e sede
de justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacificadores, os
perseguidos por causa da justiça, e os insultados; e Jesus nos chama a nos
alegrarmos e exultarmos NEle e em Suas promessas.
Focar nessa vida para usufruir dela como se fossemos donos de nós mesmos é
fracasso e infelicidade, pois temos uma alma que rejeita Cristo e Seus valores,
uma alma insatisfeita, que sempre quer mais, “nada” “nunca” está completo...
sabem por quê? Porque fomos criados nEle e para Ele, e tudo que foge dEle gera


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fracasso e frustração... ICo 15:19 “Se a nossa esperança em Cristo é apenas para
esta vida, somos os mais dignos de compaixão entre todos os homens.”
E Jesus em Sua infinita misericórdia continua nos alertando sobre nossa influência
no mundo, onde salgamos e iluminamos; nos instrui em nossos comportamentos
onde mostra que a ação está relacionada ao coração, ao que está no mais oculto.
Trabalha sobre nossa justiça, que deve exceder à dos escribas e fariseus e essa
justiça está relacionada com a bondade, pureza, honestidade e amor...
Em Mateus 6, Ele inicia também falando sobre justiça, mas agora relacionada com
práticas como esmola, oração e jejum, passando assim da justiça moral para a
religiosa. E continua em tudo assinalando o coração.
Mt 6:1-4
Olhando o texto de Mt 5:16 parece que há uma contradição entre eles... e como
entender essa aparente “contradição”? Tudo está relacionado ao coração.
V.1 John Stott parafraseia assim: “Cuidado! Não pratiquem seus deveres
religiosos em público a fim de serem vistos pelos outros.” – Viram? Tudo está
relacionado ao coração, a intenção do coração.
Meu testemunho precisa estar visível aos outros para que o nome de Deus seja
glorificado; mas minhas ações de “boas obras” não podem ser vistas por mim, a
mim precisam estar ocultas, para que meu coração não se vanglorie.
Um dos principais motivos de queda do ser humano é a vaidade, a projeção ...
Jesus “diminui” e eu cresço; o machado se comporta como quem corta a árvore
sozinho. ... Is 10:15 “Por acaso o machado se gloriará contra quem o utiliza? A
serra se exaltará contra quem a maneja? Como se a vara movesse o que a
levanta, ou o bastão erguesse o que não é madeira!”
O que eu faço, e Jesus assim continua nos versos seguintes de 2 - 4, nem minha
outra mão pode ver.
Eu não tenho consciência do próprio bem que flui de mim, porque não sou eu...
é Ele! Tudo vem dEle, tudo é por Ele e para Ele!!
Aqueles que necessitam ser reconhecidos diante dos homens, seja de forma bem
visível ou mesmo sutil para si mesmo... quando meu coração recebe a glória dos
homens, então já estou recompensado. Porém, aquele que persiste até o fim na
invisibilidade perante si próprio, esse receberá a recompensa da revelação do
próprio Deus.


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Gostamos de glória, gostamos que nossas ações sejam reconhecidas... gostamos
que os outros vejam que sou “usada” por Deus ... ah, que coração enganoso
temos... que difícil é viver no anonimato, mesmo nas pequenas coisas... somos
esse machado que acha que corta sozinho... precisamos diariamente de um
desesperado arrependimento de coração.
Agora, quem consegue viver mantendo o extraordinário na invisibilidade de
modo que a mão esquerda ignore o que a direita faz? Senão aquele cujo velho
ser humano morreu por causa de Cristo e da comunhão com Ele?
Bonhoeffer disse: O amor do Cristo crucificado que entrega à morte o velho ser
humano é o que vive em nós; e então nos permite viver o amor em ação na
obediência simples.
Mt 6:5-13
Jesus nos ensina a orar. Segundo Bonhoeffer “a oração verdadeira não é uma obra
em exercício, uma atitude piedosa, mas o pedido de um filho ao coração do Pai.”
V.5 Jesus continua falando do coração, da intenção do coração. Ele vai além do
alerta sobre a auto-promoção, aparecer para os outros; há um grande perigo
quando me torno expectador satisfeito de mim mesma. Bonhoeffer alerta: “O
reconhecimento público é apenas uma forma ingênua da visibilidade que eu
mesmo preparo para mim.” Mas posso fazer uma encenação até mesmo no
secreto, sendo meu próprio expectador, ouvindo a mim mesma. Então, constato
que orei adequadamente e, nessa constatação fico satisfeita “de ser atendida”.
Ou seja, eu falo, gosto do que estou falando, e constato por mim mesma que
Deus também gostou e já me respondeu. Tudo eu, tudo para mim, tudo em mim.
Jesus nos alerta contra nós mesmos, nosso enganoso coração.
A questão é: o Pai nos vê, e sabe do que precisamos; e Jesus não só nos ensina
como orar mas também o que orar:
“Pai nosso que estás nos céus” – orando juntos;
“Santificado seja o Teu nome” – nome paternal de Deus santificado;
“Venha o Teu reino” – o reino dEle estabelecido na terra;
“Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu” – a vontade de Deus
forjada em nós;
“O pão nosso de cada dia nos dá hoje” – oração coletiva pedindo o pão
coletivamente e não somente para si;


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“E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como também temos perdoado aos
nossos devedores” – a nossa oração sobre perdão só é atendida se da mesma
forma atuarmos em perdão com aqueles que nos tem ofendido;
“E não nos deixe entrar em tentação” – essa nos rodeia diariamente, e
precisamos ter humildade para discernir nossas fraquezas e clamar ao Pai para
nos livrar de nós mesmos;
“Mas livra-nos do mal” – e por último é um pedido para sermos libertos da
maldade.
“Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém.” – convicção!!
Vs.14 e 15 lendo Jo 20:23 “Se perdoardes os pecados de alguém, serão
perdoados; se os retiverdes, serão retidos.”
Mt 6:16-18
Jesus vê como natural que guardemos a prática do jejum. Essa prática tem o
propósito de nos tornar mais dispostos e alegres para correspondermos ao que
nos foi confiado; assim é disciplinada nossa vontade própria e preguiçosa, nossa
carne é humilhada e castigada. Essa abstinência sujeita minha carne, a
enfraquece, e o espírito de Deus em mim é fortalecido; pois a carne satisfeita não
tem prazer na vida espiritual.
No contexto aqui Jesus nos alerta a não caminhar na “aparição” mostrando que
eu faço. Aquela situação de: eu jejuo, eu oro, eu leio a bíblia... estão vendo; Ele
exorta tudo que me leva a autopromoção.
Mt 6:19-24
A vida cristã só pode ser sustentada se não houver nada entre o cristão e Cristo;
nenhum obstáculo, nem a lei, nem a piedade, nem o mundo. Segue somente a
Cristo, seus olhos são fixos nEle e totalmente na luz que vem dEle; luz que não
tem escuridão, nem ambiguidade.
Assim como o olho deve ser claro, puro, voltado para uma só direção, para que o
corpo continue na luz; assim como o pé e a mão não devem receber luz de outra
parte senão do olho; assim como o pé tropeça e a mão erra quando o olho se
embaça; assim como o corpo todo está na escuridão quando se apaga a luz dos
olhos, assim também é com o cristão, que só permanece na luz enquanto olha
unicamente para Cristo, e para mais nada; portanto, nosso coração deve se
orientar somente para Cristo. Se o olho enxergar outra coisa além do real, o corpo


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todo é enganado. Se o coração se apegar à ilusão do mundo, à criatura em vez de
ao Criador, estamos perdidos.
A questão principal é: para onde se volta meu coração? Uma coisa é certa: as
riquezas do mundo querem desviar nosso coração.
Bonhoeffer disse: “A luz do corpo são os olhos, e a luz do cristão é o coração.”
E se o coração está apegado à esse mundo, então por mais insistente que Jesus
seja, não será ouvido, não encontra acesso ao meu coração. Assim como a luz não
entra no corpo quando o olho é mau, a palavra de Jesus também não é mais
ouvida por mim quando meu coração se fecha. A palavra é sufocada como a
semente entre os espinhos “com os cuidados, riquezas e deleites dessa vida”. (Lc
8:14)
Os bens são para fazermos uso deles, não para acumula-los e se tornarem nosso
“precioso”. O coração se apega a bens acumulados, e esses se tornam obstáculos
entre mim e Deus. Já sabemos a resposta: “Onde o coração se apega, ali está seu
tesouro.” O tesouro ao qual devemos nos apegar não está na terra, está nAquele
que dura para sempre, está no Eterno.
Jesus nos adverte sobre não servir dois senhores, e há uma razão, que está
relacionada ao amor e dedicação – ama-se um ou o outro, dedica-se a um ou ao
outro.
Mt 6:25-34
Não andeis ansiosos! As riquezas parecem dar segurança e conforto ao coração
humano, mas na verdade são a causa da inquietação. O coração se apega a elas
e recebe o pesado fardo da ansiedade.
Quando fala “riquezas” parece que estamos falando de muito, e então você pode
dizer, pensar: Ah, mas quero apenas ter “estabilidade”, na verdade queremos
garantir o amanhã, e essa preocupação gera a ansiedade; a ansiedade está
sempre voltada para o futuro; mas a Bíblia diz que basta ao dia seu próprio mal.
Jesus nesses versículos fala sobre não andarmos ansiosos, não nos
inquietarmos... E Ele discorre sobre exemplos de Seu próprio cuidado com as
aves, com a natureza, e ainda nos exorta sobre que não podemos acrescentar
nem sequer uma hora às nossas vidas... ah que loucura!! Ah se entendêssemos a


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soberania do Soberano... A questão é, a ansiedade não nos livra da ansiedade,
mas a fé em Jesus Cristo; pois nada, nada está sob nosso controle.
A ansiosa preocupação com a vida é própria dos gentios, que não tem fé, que
preferem confiar em sua força e em seu trabalho a confiar em Deus. Vivem
ansiosos por não se darem conta de que o Pai já sabe de tudo que precisam; por
isso querem fazer eles mesmos o que não esperam de Deus. Mas para nós
cristãos, o que vale é: "Busquem, pois, em primeiro lugar, o Seu Reino e a Sua
Justiça, e todas (entenderam, todas... não são algumas... TODAS) as coisas lhe
serão acrescentadas.”
O Reino e a Justiça de Deus não são alimento e vestuário... o Reino de Deus é a
justiça que Jesus nos traz em Seu Sermão nos capítulos 5 e 6 de Mateus, a justiça
da cruz de Cristo e a nossa caminhada sob essa cruz. A comunhão com Jesus e a
obediência a seu mandamento vêm em primeiro lugar, e tudo o mais vem na
sequência.
Antes, portanto, da preocupação pela vida, pela comida e pelo vestuário, pelo
emprego e pela família, vem a busca pela vida íntegra, inteira em Cristo.














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7 – A ESCOLHA – Mateus 7
REUNIÃO DE MULHERES – 26 DE OUTUBRO DE 2019

Mateus 7, último capítulo do Sermão do Monte.
Mateus 7 consiste de um grupo de parágrafos aparentemente isolados. O elo
existente entre eles não é óbvio. O capítulo como um todo também não segue o
anterior numa sequência explícita de pensamentos. O fio de ligação que corre por
todo capítulo, embora de maneira solta, é o dos relacionamentos – palavras de
John Stott
Nos capítulos anteriores 5 e 6 Jesus descreve o caráter, a influência, a justiça, a
piedade e a ambição do cristão, no cap. 7 Ele se concentra nos relacionamentos,
pois a contracultura cristã não é algo individualista, mas comunitário, e
relacionar-se é de suma importância.
Jesus nesse capítulo nos dá um registro da rede de relacionamentos aos quais
como cristãos somos atraídos; vamos apresentar em sete pontos:
1. Relacionamento para com nosso irmão, em cujo olho percebemos um argueiro
e a quem temos a responsabilidade de ajudar, não de julgar (vs.1-5).
(vs.1,2) “Não julgueis para que não sejais julgados” – frase bem conhecida,
bastante usada, mas mal interpretada. Não está relacionada ao juiz no tribunal,
mas sim à nossa responsabilidade para com o outro. Jesus aqui não ordena para
suspendermos nossa faculdade crítica em relação a outras pessoas, ou fechar os
olhos diante das faltas fingindo não perceber ou nos abstermos de toda crítica,
recusando-nos a discernir entre a verdade e o erro, o bem e o mal ... E como
temos certeza de que Jesus não estava se referindo e nos abstendo disso?
Em parte, porque não seria honesto agir assim, seria hipocrisia; em parte, porque
seria contraditório à nossa natureza, o qual fomos criados à imagem de Deus,
com a capacidade de julgar valores; em parte também porque muitos dos
ensinamentos de Cristo no Sermão do Monte baseiam-se na pressuposição de
que usaremos o nosso poder de crítica, por exemplo, repetidas vezes ouvimos
Sua convocação para sermos diferentes do mundo, desenvolvendo uma justiça
que exceda a dos fariseus no padrão do amor; não sendo como os hipócritas em
nossa piedade e nem como os pagãos em nossa ambição. E como poderíamos


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obedecer todos esses ensinamentos sem antes avaliar o comportamento dos
outros... e mesmo aqui nesse Cap.7 essa mesma ordem de não jugar é seguida
por duas outras sobre não dar aos cães o que é santo e não lançar pérolas aos
porcos e nos acautelar dos falsos profetas. Seria simplesmente impossível
obedecer a essas ordens sem usar nossa capacidade de julgamento.
Se então Jesus não estava abolindo os tribunais legais, nem proibindo a crítica, o
que quis dizer com “não julgueis”? – Ele está falando sobre não censurar que está
ligado à condenação. O cristão é um “crítico” no sentido de usar o seu poder de
discernimento, mas não um “juiz” no sentido de censurar, condenar. – Um crítico
que julga os outros é um descobridor de erros, num processo negativo e
destrutivo para com as outras pessoas, e adora viver à procura de falhas nos
outros.
Não só não devemos julgar, como nos encontramos entre os julgados, e seremos
julgados com muito maior severidade se nos atrevermos a julgar os outros.
Em suma, a ordem de não julgar não é uma exigência para que sejamos cegos,
mas antes uma exortação a sermos generosos.
Não é fechar os olhos para o que estou vendo, mas é minha atuação em
acolhimento e compaixão.
(vs.3-5) “vê o cisco no olho do outro e não vê a trave no meu... tirar primeiro minha
trave, e aí sim enxergarei bem para tirar do outro” – aqui Jesus denuncia a nossa
hipocrisia em relação ao outro; interfiro nas suas faltas e não olho para os
escombros na minha; tenho uma tendência fatal de exagerar as faltas dos outros
e diminuir a gravidade das minhas. (que desesperador esse Sermão... que
confronto com nossa natureza pecaminosa...), e o v.5 traz um sério alerta – O fato
da condenação e da hipocrisia serem proibidas, não me isenta da
responsabilidade de irmã para com as outras. Pelo contrário, Jesus mais tarde
ensina que se meu irmão pecar contra mim, minha primeira obrigação é ir até ele
e argui-lo, eu e ele só, Mateus 18. E novamente fica em evidência que Jesus não
está condenando a crítica propriamente dita, mas antes, a crítica desvinculada de
uma severa autocrítica.
Tem um salmo que arrebata meu coração em temor que fala bem sobre essa
questão de começar em mim... Salmo 7:1-6.


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2. Relacionamento para com um grupo de pessoas designado de “cães” e
“porcos” (v.6) – Não é somente o julgamento, porém, que é proibido a nós
cristãos; a palavra redentora do perdão que se anuncia ao outro, também tem
seus limites.
Não temos o poder nem o direito de impor a palavra da graça, quando e a quem
quisermos. Insistir, correr atrás do outro, fazer proselitismo, toda tentativa de
converter o outro pela própria força é inútil e perigoso.
Bonhoeffer diz: “é inútil porque os porcos não reconhecem as pérolas que lhes
são jogadas; perigoso porque assim não só a palavra do perdão é profanada
(tratada sem reverência e respeito), mas também o outro, a quem quero servir,
será levado a pecar contra o que é sagrado.” Não há como impor nada a ninguém,
pois mesmo a Palavra encontra corações endurecidos e portas fechadas. Essa
Palavra que em determinados momentos parece fraca e sofre a oposição dos
pecadores, é a mesma Palavra forte e misericordiosa que converte pecadores do
fundo do coração.
O que fazermos diante de corações fechados? O que fazer quando não
encontramos acesso ao outro? Precisamos reconhecer que, de maneira alguma,
temos direito ou poder sobre outro, e que não possuo acesso imediato; só me
resta um caminho, que é o próximo ponto...
3. Relacionamento para com nosso Pai Celeste, do qual nos aproximamos em
oração, confiantes de que Ele não nos dará nada menos que “boas coisas” (vs.7-
11).
Aqui Jesus passa do nosso relacionamento com os homens para nosso
relacionamento com o Pai Celeste, principalmente porque o nosso dever cristão
para com eles (não julgá-los, não lançar pérolas aos porcos, e ser prestativos sem
ser hipócritas) é por demais difícil sem a graça divina.
Não há outro caminho para nós a não ser a oração. Não há outro caminho ao
outro a não ser a oração.
Juízo e perdão continuam na mão de Deus. Ele fecha e abre. A nós cabe pedir,
procurar, bater, e então seremos ouvidos. Precisamos entender que a
inquietação e ansiedade pelos outros deve nos levar ao quarto secreto. Só quem
conhece a Deus pode busca-Lo!!


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Jesus instrui, promete e ilustra vs.9-11 (se o filho nos pedir pão, peixe... nós,
mesmo sendo maus sabemos dar boas coisas... quanto mais Ele, nosso Pai...)
4. Relacionamento para com todos de maneira generalizada... (v.12).
Não dispomos de direito, poder próprio nem em nós mesmo, e nem em nossos
relacionamentos; vivemos exclusivamente da força da comunhão com Jesus
Cristo. E aqui nesse versículo Jesus nos dá uma regra bem simples para
verificarmos nosso relacionamento com os outros: basta me pôr no lugar do
outro “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós
também.”
Quando me coloco no lugar do outro perco o “direito especial” sobre o outro, e
a partir daí me torno tão rigoroso contra o mal que há em mim, quanto
costumava ser contra o mal do outro, e tão tolerante com o mal no outro, quanto
comigo mesma.
Pois nosso mal em nada é diferente do mal do outro. (Difícil de engolir essa
verdade)
“Porque esta é a Lei e os Profetas” – pois nada mais é que o maior mandamento:
“amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.”
O v.12 é uma regra; ele transforma as nossas atitudes.
5. Relacionamento para com os nossos companheiros de viagem nesta
peregrinação pelo caminho estreito (vs.13,14)
Jesus enfatiza mais fortemente a necessidade da escolha: “Entrai pela porta
estreita”. Olhem o contraste: duas espécies - justiça e devoção; dois tesouros;
dois senhores; duas ambições; aqui momento da escolha entre o reino de Satanás
e o reino de Deus; a cultura prevalecente ou a contracultura cristã; e então Ele
discorre apresentando as alternativas: os dois caminhos (largo e estreito), os dois
mestres (o falso e o verdadeiro), os dois apelos (palavra e atos) e, finalmente, os
dois fundamentos (areia e rocha).
Na porta larga e no caminho espaçoso muitos são os que entram pois há muita
frouxidão moral, é o caminho da tolerância e da permissividade, não tem freios,
nem limites de pensamento ou de conduta. Os viajantes desse caminho seguem
suas próprias inclinações, os desejos do seus corações; a superficialidade, o


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egoísmo, a condenação, coisas essas que não precisam ser aprendidas ou
cultivadas; o esforço necessário aqui é pra resistir e não para praticar.
O caminho estreito e a porta apertada poucos são os que a encontram... é um
caminho difícil onde somos chamados a uma entrega total do nosso eu, das
nossas vontades. É testemunhar e confessar a verdade de Jesus e, ao mesmo
tempo, amar o inimigo que não crê na verdade, o inimigo de Jesus e o nosso
inimigo, com o amor incondicional de Jesus; é preferir sofrer a injustiça do que
cometê-la; ver e reconhecer o outro em seus limites e injustiças e nunca julgá-lo;
entregar a mensagem sem jogar pérolas aos porcos... realmente é um caminho
que não se pode suportar... mas se consigo ver Jesus à minha frente, passo a
passo, então estarei protegido nesse caminho... a exemplo Estevão sendo
apedrejado Atos 7:55,56 – Jesus é o próprio Caminho, Ele é o caminho apertado
e a porta estreita.
6. Relacionamento para com os falsos profetas, que temos de reconhecer e dos
quais devemos nos acautelar (vs.15-20)
A Palavra de Jesus avança sobre a própria igreja, trazendo julgamento e
separação. Somos um pequeno grupo e não adianta acharmos que estamos
protegidos do mundo lá fora e nada nos toca. Jesus nos adverte dos falsos
profetas, e esses não estão no nosso meio atraídos por Cristo; eles ocultam seus
objetivos obscuros sob a máscara religiosa; se veste de inocente; sabe que não
podemos julgar, e sempre que possível nos lembrará disso. É impossível uma
pessoa ver o coração da outra; e também é provável que nem mesmo ele tenha
consciência de sua natureza, obscurecido em entendimento sobre si mesmo.
Essa advertência poderia nos deixar assustados ou mesmo desconfiados uns dos
outros, mas, Jesus em Sua benevolência nos liberta dessa desconfiança que
poderia destruir a igreja; Não há necessidade de vermos o coração de ninguém,
tudo que precisamos é esperar até que a árvore dê frutos. Poderemos, a seu
tempo, avaliar, pelos frutos a árvore.
Aqui Jesus está falando que ninguém consegue viver de aparência por muito
tempo, cedo ou tarde, a verdadeira natureza se revelará.
7. Relacionamento para com Jesus, nosso Senhor, cujos ensinamentos temos de
ouvir e obedecer (vs.21-27)


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John Charles Ryle (piedoso puritano do século XVII, educador inglês) escreveu “O
Senhor Jesus finaliza o Sermão do Monte com uma passagem de aplicação
penetrante. Ele volta-se dos falsos profetas para os falsos professos, dos falsos
mestres para os falsos ouvintes.”
O fato de fazer parte de uma igreja confessa de Jesus Cristo, não nos constitui
direito perante Deus; Ele não nos perguntará se fomos “evangélicos”... a Ele
interessa se fizemos Sua vontade!! A igreja não se distingui do mundo por ter
privilégios especiais, mas pela graciosa eleição e pelo chamado de Deus.
Jesus insiste, não pelo que lhe dizemos hoje, nem pelo que lhe diremos no último
dia, mas por fazermos o que dizemos, por estar a nossa profissão verbal
acompanhada da obediência moral. Paulo escreveu: “Confessar em nossos lábios
e crer em nossos corações.”
E então Jesus segue: de um lado está a pessoa que ouve e pratica, do outro,
aquele que ouve e não pratica e ilustra o contraste entre seus ouvintes, o
obediente e o desobediente, com a parábola dos dois construtores, o sábio que
se empenhou, desgastou, cavou e construiu sobre a rocha; e o tolo que não
querendo se aborrecer com alicerces contentou-se em edificar sobre a areia.
Aparentemente não se distingui as construções, pois Jesus aqui não está fazendo
comparação entre cristãos e não-cristãos, pelo contrário, o que é comum aos dois
edificadores é que “eles ouvem estas minhas palavras” (v.24,26); leem a Bíblia,
vão à igreja, ouvem os sermões e compram literatura cristã, e até leem também.
O motivo pelo qual não podemos diferenciar um do outro é que os alicerces de
suas vidas estão ocultos aos nossos olhos. A pergunta não é se ouvem, se ouço
ou mesmo se creem..., mas se fazem o que ouvem, se faço o que ouço. E apenas
uma tempestade revelará a verdade.
O que Jesus insiste conosco nesses últimos parágrafos é que nem um
conhecimento intelectual sobre Ele, e nem uma profissão de fé verbal, embora
ambos sejam essenciais em si mesmas, podem substituir a obediência.
O ensino é: ouvir o Evangelho, professar a fé, obedecer e expressar a fé em suas
obras.
Assim, o Sermão termina com a mesma nota de escolha radical da qual estivemos
conscientes o tempo todo. Jesus não nos coloca diante de seus discípulos uma


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lista de regras éticas fáceis de obedecer, mas um conjunto de valores e ideais que
é totalmente diferente do caminho do mundo. Ele nos incentiva a renunciarmos
a cultura secular prevalecente em favor da contracultura cristã.
E então nos fica as perguntas: Qual a estrada que vamos tomar ou já tomamos
para viajar? Sobre que alicerce vamos começar, ou já começamos a construir?
“Estavam as multidões maravilhadas...” Por que? O Filho de Deus havia falado!!
A Palavra do Senhor é tão clara, ela não deixa dúvidas... a nós o que resta, a não
ser chorar e clamar pelo verdadeiro arrependimento, para que nossos corações
estejam totalmente inclinados à vontade de Cristo, para que sejamos
desesperadamente apaixonados por Ele, para que a hipocrisia e a falsidade não
nos domine... Só Ele pode mudar nossa natureza pecaminosa, nosso coração.
AGRADEÇO PELOS SETE MESES DE PACIÊNCIA E PERSEVERANÇA DAS IRMÃS PARA
COMIGO.
Ano de muito aprendizado, e o meu desejo e oração é que os nossos corações e
a nossa mente não se desviem por nenhum instante dEle; e que sejam
propagadoras das maravilhas que Ele tem feito em nós. Testemunhos vivos e
sinceros do amor do Pai.
Obrigada queridas!













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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LLOYD-JONES, M. D. Estudos no Sermão do Monte. São José dos
Campos: Fiel, 2013.
STOTT, J. A Mensagem do Sermão do Monte – Contracultura Cristã. 3.
ed. São Paulo: ABU, 2001.
BONHOEFFER, D. Discipulado. São Paulo: Mundo Cristão, 2016.
AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. Sobre o Sermão do Senhor na
Montanha. São Paulo: Filocalia, 2016.
WESLEY. J. O Sermão do Monte, São Paulo: Vida, 2012.


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