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Deus-Rei do Olimpo
1- Caos e Gea
No início dos tempos só havia o Caos 1, palavra de origem grega que significa “Vazio”. Os
homens e mulheres 2 daquela época tinham medo desse “Vazio” avarento que não se cansava
nem se enchia nunca, pois viam como as obscuras faces do Caos a tudo engoliam e como
sua insaciável boca tragava os objetos, os
animais, as árvores, as pessoas...
Gea, a Terra, já tem chão firme, luz e claridade, e árvores, rios e mares, e também montanhas e
vales... Gea, a Terra, cheira agora a flores silvestres, e nos seus extensos e frondosos bosques
os animais fazem suas tocas e os pássaros constroem seus ninhos...
Gea, a Terra, guarda no seu interior tesouros fabulosos: minerais, gemas, pedras preciosas e
metais nobres. Era uma vez...
1
Ao contrário do que relata a Enciclopédia, “Caos”, em grego ‘Khaos’, era uma divindade feminina, a antiga
(Protogenoi) deusa do ar, da névoa e do nevoeiro. Seu nome significa, literalmente, “abismo”, “vazio”. Khaos
representava o “abismo” entre o Céu (Olimpo) e a Terra.
2
Mais uma vez o autor se confunde, se não havia terra, onde esses “homens e mulheres” viviam... quando Khaos
reinava, somente existia essa entidade e mais nada, até que Gaia surgiu.
3
Em grego ‘Gaia’, como é geralmente conhecida.
...Era uma vez o tenebroso vazio do Caos, de onde nasceu Gea, a mãe Terra por quem se
apaixonou Eros4, a quem os antigos chamavam de “O Velho Amor”, e que não representa o
deus do Amor da mitologia clássica - o Cupido5 da mitologia dos romanos que lança suas
certeiras flechas para agarrar os amantes -, e sim uma força que incita e anima a todo o
existente a unir-se e mesclar-se para que surja a vida.
Da união entre Eros e Gea6 nascerá primeiro Urano, o Céu e mais tarde Pontos, o Mar...
Desde então, há Terra, Céu e Mar. São os elementos do mundo visível, como dizem aqueles
poetas da Antigüidade que receberam a inspiração para escrever suas odes e cantos das
fugidias e formosas Musas.
Os humanos - queridos, protegidos e amados pela deusa Gea, a Terra, o deus Urano, o Céu, e o deus
Ponto, o Mar - vivem contentes e felizes na Idade do Ouro. Os dias vão, os meses transcorrem
sem sentir-se, os anos se sucedem numa velocidade vertiginosa..., a tocha da vida passa de
geração em geração...
Éter ilumina o cosmo infinito e estende sua claridade por todo o universo, enquanto que
Hémera, o Dia. proporciona luz às criaturas que têm sua morada na Terra e chega a todos os
cantos do mundo para desterrar a obscuridade.
2 - O Centro do Mundo
Assim, a Terra ocupa o centro do mundo. Por cima e sobre ela está o Céu, e mais acima se
encontra o Éter. Debaixo da Terra, nas profundezas mais lúgubres, insondáveis e abismais, mais
fundo que os próprios infernos, se estende a região inóspita e obscura do Tártaro, um tétrico lugar
onde vão parar os deuses que hão perdido suas batalhas e os heróis mortais que, considerados
culpados, condenados e desterrados, têm de expiar seus crimes e estrupelias. A partir de agora
sobrevém uma história confusa e agitada, e a vida se faz mais difícil, dura e violenta para todas
as criaturas.
4
Eros, “Amor”, era o antigo (Protogenoi) deus do amor ou a personificação desse sentimento. Tal mito difere da
Teogonia de Hesíodo, porém, aqui ele também é considerado filho de Khaos.
5
Deus do amor, filho de Afrodite e Ares. Esposo de Psique, “a alma”.
6
O mito mais aceito é baseado na Teogonia de Hesíodo, onde relata-se que Gaia deu à luz, sem auxilio masculino, a
Urano, Pontos e os Ourea (Montanhas), entre outros.
7
Érebos, literalmente “escuridão”. Era o deus antigo (Protogenoi) ou personificação da escuridão. Esposo de Nyx, a
Noite.
8
Na Mitologia Romana, o Inferno é conhecido como Averno, porém, o vocábulo ‘Inferno’ está empregado, já que os
gregos chamavam os domínios de Hades de “Mundo Inferior”, sem qualquer conotação maléfica.
9
O “ar reluzente”. Na realidade, Éter era o Protogenoi do ar que vemos entre o céu e a terra.
10
Mais precisamente “a luz do dia”.
3 - Sombras e Névoa
Ocorre que Gea, a Terra, está imersa em sombras e neblina porque Urano, o Céu, a envolve
continuamente e não deixa passar a luz. E assim, nessa densa penumbra, Gea, a Terra, gera
outras criaturas poderosas: primeiro, os Titãs e as Titânides; mais adiante os Ciclopes, seres
gigantescos que só tem um enorme e fulminante olho no meio de sua ampla fronte; e por
último, os Hecatonquiros, horrendos monstros de tamanho descomunal, cujos disformes corpos
são dotados de cinqüenta cabeças e cem braços.
O mais velho dos Titãs se chama Oceano, e será o pai dos rios, fontes e mananciais; enquanto
que o mais jovem, de nome Cronos, e apelidado “o astuto”, participará do plano de Gea, sua
mãe, para desfazer-se de Urano, seu pai, que enterra e esconde seus filhos, os Titãs, a medida
que vão nascendo, para que não vejam a luz11.
Cronos pega a afiada foice de ferro que lhe entregou Gea e castra seu progenitor, Urano, que
de imediato se afasta da terra. O sangue do deus se espalha pelo espaço enquanto respinga
pelo chão e a Terra é novamente fecundada, de maneira que nascem outras singulares
criaturas: os Gigantes, as Erínias12, que têm entre seus cabelos serpentes enroscadas, e as
jovens Ninfas 13 que cuidam das árvores sagradas, em especial dos freixos, e vivem junto as
fontes e aos lagos.
O sêmen de Urano cai ao mar e se mistura com as turbulentas ondas, de cuja espuma nascerá
Afrodite (Vênus), a mais formosa das deidades, a deusa do amor e da beleza.
11
Os Titãs eram encerrados no Tártaro, pois Urano tinha medo de ser destronado por seus próprios filhos, o que
realmente acabou por ocorrer.
12
Deusas vingadoras. Eram três: Tisífone, Alecto e Megera.
13
Melíades, ninfas dos freixos e das árvores frutíferas.
4 - Idade do Ouro
E Cronos se torna uno com o poder. Reina com mão firme em tempos da Idade de Ouro e tanto
seus irmãos, os Titãs, como suas irmãs, as Titânides, obedecem sem opor resistência. Cronos se
casa com Rea14 e o casal senta-se no trono do Céu. Geram vários filhos que, de forma
sistemática, Cronos devora para que não lhe arrebatem o reino nem o poder.
Mas Rea cria um estratagema com o objetivo de impedir que Cronos elimine o menor de seus
filhos, recém-nascido, de nome Zeus, e no lugar da criança lhe entrega uma pedra envolta em
fraldas. Cronos a engole com furor, pensando se tratar do seu filho Zeus. Mas o pequeno
permanece nas montanhas da ilha de Creta - onde Rea tinha se transportado, sem que ninguém
notasse, para dar a luz em segredo, atendido pelas ninfas c amamentado por uma cabra. Ali se
criará e permanecerá escondido até que chegue a idade adulta. Então enfrentará Cronos, seu pai, o
vencerá e o obrigará a beber uma poção que lhe provocará náuseas, vomitando os filhos que já
tinha engolido.
5- Zeus
Mas, quando Zeus já se dispunha a viver feliz no seu trono, dizem as crônicas que descuidou a
guarda, isto é, em vez de dormir com um olho aberto, como era seu costume, fechou suas
pálpebras vencido por Hipnos20, o doce sonho... E, repentinamente, apareceu no horizonte o
furioso Tifon21 - que sempre estava rondando, à espera de que Zeus se distraísse - para tentar
por todos o meios sentar-se no trono do Olimpo.
14
Réia ou Rea, é considerada a grande deusa-mãe, assim como, deusa da fertilidade. Era irmã de Cronos e uma das
Titânides.
15
Rainha dos deuses, esposa de Zeus e deusa do casamento.
16
Deusa da agricultura e da fertilidade.
17
Deusa do fogo e das lareiras.
18
Apenas alguns dos Titãs auxiliaram Zeus, os que se opuseram continuaram presos no Tártaro.
19
Como agradecimento por serem libertados, deram a Zeus o raio e os trovões.
20
Em grego ‘Hypnos’, deus do sono e dos sonhos. Filho de Nyx e irmão de Tanatos, a morte.
21
No original, “Tifon”, provavelmente uma transliteração feita pelo autor.
Novamente Zeus, o mais poderoso dos deuses, tem que pedir ajuda a seus antigos aliados, de
maneira que, sem perda de tempo, convocou os Titãs e os Hecatonquiros, os quais acudiram
sem demora ao seu chamado e se colocaram do seu lado.
Mas, o arrasador Tifon conhecia todas as más artes, já que tinha sido gerado no Tártaro, isto é,
num lugar povoado de infernais criaturas e situado no mundo subterrâneo.
Tifon era um monstro colossal dotado de enormes asas, cujos pés estavam afundados nas
profundezas sem fundo da Terra, enquanto que sua cabeça sobressaía por cima do Céu. Se
esticasse os braços e os abrisse em cruz, com uma mão tocaria as longínquas regiões do
oriente, enquanto que com a outra chegaria até os confins do ocidente. Os inumeráveis
dedos de suas mãos eram cabeças de serpentes e cada dedo de seus horrorosos pés se
assemelhava a um áspide venenosa ou a uma víbora peçonhenta.
Zeus lança seu terrível raio contra Tifon, mas o monstro se esquiva e consegue imobilizar com
seus corpulentos braços o poderoso deus. ao mesmo tempo em que lhe corta os tendões de
suas extremidades. O deus, Rei do Olimpo, já não pode usar seu raio, e parece ter sido
vencido. Mas o herói Cadmo, um virtuoso da música, começa a tocar sua flauta, e Tifon, que
escuta extasiado, adormece com o encantador som das suaves notas. Então, os deuses Pan e
Hermes recuperam os tendões de Zeus. que Tifon tinha escondido numa obscura gruta
localizada nos profundos cumes marinhos. Logo que Zeus recupera seus tendões já pode operar
o raio e imediatamente o lança contra o monstruoso Tifon que, surpreendido pelo inesperado
ataque do deus do Olimpo, fica despedaçado.
Vencido Tifon, parecia que Zeus seria para sempre o soberano de todos os deuses, o
indiscutível Rei do Olimpo. Mas, os Gigantes, metade mortais e metade imortais, querem
converter-se em deuses e alcançar a imortalidade, pelo que se rebelam contra Zeus. Mas o
astuto deus, ao
invés de enfrentar e
lutar contra eles, os
convida à sua
mansão no Olimpo.
Zeus já não terá nenhum rival que possa lhe igualar e nem arrebatar-lhe o trono do Olimpo.
Desde então, os homens e mulheres da Antigüidade, que têm sua morada para sempre na
Terra, sentem-se protegidos pelo deus, Rei do Olimpo. Erguem templos em seu louvor e
cuidam de não ofendê-lo, nem incomodá-lo. É tanta a consideração que os mortais oferecem
ao deus do Olimpo que, na sua linguagem coloquial, quando falam de seus trabalhos e de seus
labores no campo, dizem, uns aos outros: “Zeus chove”, “Zeus troa..."
“Zeus”, deixou escrito o grande poeta Homero, “envia a abundante chuva e também o granizo,
e cobre os campos de brancos copos de neve..."
É uma benção, tanto para os deuses quanto para os mortais, que as guerras cessem e o amor
perdure e que afaste e enterre o ódio. Assim pois, terminadas suas terríveis lutas, Zeus tem
tempo para a sedução e se dedica a namorar tantas quantas formosas deusas , delicadas ninfas,
belos efebos22 e atrativas meninas, filhas de soberanos e reis mortais, encontrar em seu
caminho. Ah! Os amores de Zeus... Rios de tinta, saídos da pena dos poetas, escritores,
historiadores e sábios, desde a Antigüidade até
nossos dias, tem-se vertido para falar da paixão
amorosa do deus, Rei do Olimpo.
b) A chuva de ouro: Zeus, convertido em chuva de ouro, penetra na câmara secreta onde está
reclusa a formosa Danae e a fecunda: uma espécie de orvalho dourado se enreda entre o cabelo
22
Rapazes.
encaracolado da menina e cobre suavemente seu belo corpo... Este episódio mitológico tem
inspirado a numerosos artistas de todos os tempos. Da união entre Zeus e Danae nascerá o herói
Perseu que, armado com a foice de aço, presente de Hermes, cortará a cabeça da medusa
Gorgona.
c) Leda e o cisne: A atraente Leda, esposa do rei Tíndaro, banhava-se nas cristalinas águas de um
lago de Esparta. Zeus, cativado pela beleza de Leda, transformou-se num cisne e a namorou. Da
união entre Zeus e Leda nasceram os gêmeos Cástor e Pólux23, e também Clitemnestra e
Helena. A primeira das meninas chegará a ser rainha de Micenas, enquanto que a segunda será
conhecida com o nome de Helena de Tróia, a mulher mais formosa de quantas habitam a terra.
23
Na realidade, apenas Pólux e Helena eram filhos de Zeus. Cástor e Clitemnestra eram filhos de Tíndaro.