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Lia Neiva

ilustrado por
Igor Machado

3a edição
© by Lia Fonseca de Carvalho Neiva

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SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

N338e Neiva, Lia


3.ed. Entre deuses e monstros / Lia Neiva ; ilustrações de Igor Machado.
3.ed. – Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2011
224p.; il.

ISBN 978.85.209-1943-9

1. Mitologia grega – Literatura juvenil. I. Machado, Igor. II. Título.

CDD 028.5
CDU 087.5
“O mito é o nada que é tudo.”
Fernando Pessoa, Mensagem
Sumário

10 Introdução
I 16 Hípias
II 36 Os dois mundos
III 52 O encontro com Teseu
IV 80 Uma cer ta caver na
V 92 Hípias vai a Delfos
VI 114 Orfeu e Eurídice
VII 134 Teseu e o Minotauro
VIII 156 Os deuses
IX 176 Os monstros
X 190 A caixa de Pandora
202 Glossário
Introdução

Crono mata Urano


A Hélade, hoje chamada de Grécia, foi
uma terra onde, segundo a imagi-
nação das pessoas que ali viviam, o
extraordinário — na forma de uma
poderosa trindade constituída por
deuses, heróis e monstros — peram-
bulava por campos, vales e colinas,
intrometendo-se e interferindo em
seu dia a dia, ora auxiliando-as, ora atormentan-
do-as. Os crédulos mortais tudo faziam para bem
conviver com essas fantásticas criaturas que domi-
navam os seus pensamentos e, consequentemente,
as suas vidas. No imaginário dos habitantes da Hé-
lade, a trindade sobrenatural tinha poderes ilimita-
dos, e os homens dela se protegiam com orações
e cuidados: incensavam e glorificavam os deuses
para obter os seus favores e afastar, de si próprios,
os castigos divinos; mantinham distância dos he-
róis para que esses não os emaranhassem em suas
atribulações e aventuras; evitavam atrair a atenção
dos monstros, cujo destino era devorar quem en-
contrassem pela frente.
Pobres homens! Pobres helenos! Tudo o que
desejavam era viver com a aprovação dos deuses e
livres dos confrontos com os heróis e os monstros.
Há séculos, eles se acreditavam à mercê da
tríade lendária. Conheciam-lhe as histórias e as re-
contavam para que as novas gerações pudessem
Introdução 

se acautelar contra os perigos que dela advinham.


Eram relatos de amor e de ódio, de vinganças, cri-
mes, guerras, mentiras e manipulações. Narrativas
fantásticas que tornavam compreensíveis fatos,
sentimentos e fenômenos que, de outro modo, não
seriam entendidos. Elas explicavam a vida e a mor-
te; a boa sorte e a desgraça; o amor e a solidão; os
bons e os maus ventos; a abundância e a miséria; as
recompensas e os castigos. Explicavam, também,
o sublime mistério da criação afirmando que, a
princípio, existira apenas o nada: uma ausência que
fervilhara em bolhas de coisa alguma. Fora a não
existência, o Caos. Entretanto, por esse vazio pri-
mordial, sem começo nem fim, correra uma ener-
gia rudimentar, uma força geratriz que, de repente,
fizera surgir Geia, a Mãe Terra, e Tártaro, as Pro-
fundezas. Logo apareceram Érebro, a Escuridão, e
Nix, a Noite. Desta nasceram Éter, o Ar, e Hemera,
o Dia. Da poderosa Mãe Terra brotaram Urano, o
Céu, e Pontos, o Mar. O Universo nascera.
Imediatamente após o surgimento do Cosmo,
a Terra e o Céu se uniram, gerando doze divinda-
des belas e fortes, os titãs (Oceano, Ceos, Crio, Hi-
perião, Japeto e Crono) e as titânidas (Teia, Reia,
Têmis, Mnemósina, Febe e Tétis). Os dois ainda
geraram os ciclopes (Arges, Estérope e Brontes),
gigantes com um só olho no meio da testa, senho-
res do fogo e criadores dos relâmpagos e dos tro-
 Entre deuses e monstros

vões. Também fizeram nascer os hecatônquiros


(Coto, Briareu e Gias), monstruosas criaturas com
cem braços, fortes o bastante para mover monta-
nhas e fazer tremer o chão. Dos titãs, dos ciclopes
e dos hecatônquiros surgiram outros seres, e todos
eles, juntos, povoaram o vazio que existira antes.
Gigantescos e terríveis, os filhos da Terra e do Céu
personificavam as forças elementares, selvagens
e indomadas que se rebelavam contra a natureza
nascente.
Terminada a criação, a Mãe Terra perdeu par-
te de seu poder e importância, não mais reinando
acima de todos; seu lugar foi ocupado pelo céu
imenso que tudo aninhava. Era ele, Urano, quem
então governava o mundo, os outros deuses e tudo
mais que existia. Seu poder não tinha limites, e
sua cólera podia ser incomensurável. Certa vez,
enfurecido com os titãs e os hecatônquiros, lançou-
-os para a escuridão do Tártaro. Ao ver seus filhos
aprisionados em suas entranhas, a Mãe Terra en-
tristeceu e, inconformada, incitou-os a se revolta-
rem contra o pai. O mais moço dos titãs, Crono,
tomou para si a incumbência de dominar e destruir
o irascível Urano. Auxiliado por seus irmãos cicló-
picos, o filho destronou o pai e tornou-se o senhor
absoluto do Universo, o deus supremo da primeira
geração de divindades helênicas.
Introdução 

No momento exato de sua destruição, Urano


disse ao filho que o golpeava com uma foice: “Eu
o amaldiçoo a ser destruído por seus filhos. Eles
me vingarão!” Para evitar que a terrível impreca-
ção de Urano se cumprisse, Crono engolia os seus
filhos assim que acabavam de nascer. Porém, o
mais moço deles — Zeus — sobreviveu, graças a
um ardil de sua mãe e, enraivecido, jurou vingança
contra o odioso pai. Como desforra, ele se aproxi-
mou de Crono e, sem revelar o parentesco, deu-lhe
de beber uma poção que o fez regurgitar todos os
filhos engolidos: Hades, Posídon, Deméter, Hera
e Héstia. Juntos, os irmãos destronaram o grande
deus e dividiram entre si os seus domínios, inician-
do a segunda geração de divindades helênicas e
tornando-se os deuses do Olimpo que, por muito
tempo, incendiaram a imaginação do homem. E
eles geraram heróis e monstros. Os mortais os ve-
neravam acima de qualquer coisa e humildemente
esperavam os seus favores.
Assim é a mitologia grega; assim é esta história.

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