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CAPÍTULO Competências

2
C3 e C4
Habilidades
H17, H20, H26,
H36 e H41
Bioquímica e Microbiologia da Saúde

CHASSENET/BSIP/ALAMY/FOTOARENA
Profissional manipulando uma
cultura bacteriana em
uma câmara de anaerobiose.

CONECTAR
A necessidade bioquímica de oxigênio das bactérias
Entre as muitas características que distinguem a ampla gama de bactérias existentes, podemos citar
suas atividades bioquímicas, o que inclui a relação desses organismos com a presença de oxigênio.
Sabemos que o oxigênio é essencial para a sobrevivência de inúmeros organismos porém, diversos
ambientes são caracterizados pela ausência de oxigênio molecular. Alguns desses locais são chamados
de ambientes extremos, devido às suas condições de pressão e temperatura muito altas, como o
fundo do oceano ou a partir de 750 metros abaixo da superfície da crosta terrestre. Ambientes menos
extremos, como pântanos, esgotos, e partes do corpo humano e de outros animais também podem
apresentar ausência de oxigênio molecular. Regiões com pouco ou nenhum oxigênio são
denominadas de ambiente anaeróbio. Elas podem ser habitadas por certos microrganismos que não
toleram a presença de oxigênio. Em laboratório, esses organismos devem ser manipulados em
câmaras anaeróbias, que garantem um ambiente ideal para sua sobrevivência.
A bactéria Clostridium botulinum é uma bactéria patogênica produtora de toxinas que provocam
infecções gastrointestinais e pode ser encontrada em legumes, frutas, peixes, mel e alimentos enlatados
não higienizados ou não armazenados corretamente. Essa bactéria é do tipo anaeróbia estrita. Sabendo
disso, como poderia ser realizada uma primeira triagem para identificar a possibilidade de contaminação
de certa amostra de alimento por Clostridium botulinum, baseada na necessidade de oxigênio?
BACTÉRIAS AERÓBIAS, ANAERÓBIAS E
AS INFECÇÕES HUMANAS
Até o momento, vimos que podemos classificar as bactérias em grupos diferentes, de
acordo com a estrutura da parede celular, como a identificação baseada na coloração Gram
em Gram-positivas ou Gram-negativas. Mas, também existem outras maneiras de diferenciar
esses microrganismos. Graças aos conhecimentos gerados pela pesquisa científica e à descrição
desses organismos, atualmente sabe-se que as bactérias apresentam diferenças importantes
quanto à fisiologia, podendo ser divididas em dois grandes grupos: as bactérias aeróbias e as
anaeróbias. Essa classificação possibilitou a otimização do cultivo bacteriano, pois permitiu
aos pesquisadores conhecer as necessidades básicas de cada grupo, e, consequentemente,
permitiu o conhecimento quanto à patogênese de cada espécie, como veremos neste capítulo.

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Bactérias anaeróbias da espécie Bacillus anthracis (à esquerda), observadas por meio de microscopia de
luz com aumento de 1000x. Bactérias anaeróbias da espécie Clostridium botulinum (à direita), observadas
por microscopia de luz com aumento de 500x. As bactérias foram coradas com coloração de Gram.

Fisiologia de bactérias aeróbias e anaeróbias 41

A diferença fundamental entre as bactérias aeróbias e anaeróbias está relacionada


à necessidade do oxigênio. Bactérias aeróbias necessitam de oxigênio para sobreviver, en-
quanto as anaeróbias só se multiplicam em ambientes desprovidos de oxigênio. Mas, por
que para algumas espécies o oxigênio é fundamental, enquanto para outras esse mesmo
elemento é tóxico? A resposta para essa pergunta está nos genes e, consequentemente, nas
proteínas que cada grupo sintetiza.
O oxigênio reativo (O−) é a forma tóxica desse elemento e, ao se ligar na membrana
plasmática, promove a degradação de lipídeos, gerando a destruição da membrana. Esse
mecanismo se dá em qualquer organismo vivo. No entanto, as bactérias aeróbias possuem
proteínas como a catalase e sistemas superóxido dismutase (diferentes proteínas que
desempenham o papel de enzima superóxido dismutase), que, juntas, catalisam cascatas
de reações entre o oxigênio reativo e o hidrogênio presente nas células, gerando compostos
que não são mais tóxicos para a bactéria.
Esse processo se inicia quando o oxigênio reativo (O−) é ligado ao hidrogênio (H)
por enzimas superóxido dismutases, gerando peróxido de hidrogênio (H2O2). O peróxido
de hidrogênio, que também é tóxico para as bactérias, é, então, convertido por meio da
enzima catalase, em água e gás oxigênio (O2). Assim, tais bactérias se livram dos problemas
que o oxigênio reativo (O−) pode causar. Já as anaeróbias são desprovidas de enzimas que
catalisam essa reação, sendo sensíveis ao oxigênio.
Superóxido
dismutase
O−2 1 O−2 1 2H+ ▶ H2O2 1 O2 Parede celular

Catalase
2H2O2 ▶ 2H2O2 1 O2 Citosol

Sistemas de utilização de oxigênio em bactérias aeróbias.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


CHANSOM PANTIP/SHUTTERSTOCK

Existe, ainda, um subgrupo de bactérias que podem se


multiplicar tanto na presença quanto na ausência de oxigê-
nio, como as pertencentes à família Enterobacteriaceae. Esses
microrganismos são denominados anaeróbios facultati-
vos, embora ainda sejam oficialmente classificados como
aeróbios. Vários aspectos de sua fisiologia e patogênese já
foram discutidos no capítulo anterior. A grande diferença é
que essas bactérias podem consumir rapidamente o oxigê-
nio do ambiente, passar a realizar metabolismo anaeróbio e
continuar se multiplicando da mesma forma.
Existem tanto bactérias aeróbias quanto anaeróbias
que são clinicamente relevantes, como veremos a seguir.
Portanto, são alvos de extensa investigação pelos cientistas,
Colônias de Vibrio cholerae que buscam descobrir os mecanismos de patogenicidade e, assim, obter tratamentos adequa-
isoladas em ágar sangue. Essa dos para as doenças provocadas.
espécie de bactéria aeróbia
ainda é responsável por
milhares de mortes ao redor Bactérias aeróbias causadoras de infecções
do mundo devido à cólera, em seres humanos
uma doença que acomete
o sistema gastrointestinal. Entre as espécies aeróbias causadoras de doenças em humanos, destacam-se as do
gênero Nocardia. Existem pelos menos 30 espécies desse gênero que podem causar doenças,
sendo que cada espécie é responsável por um padrão clínico e apresenta susceptibilidade
a fármacos diferentes, ou seja, pode ser resistente ou não a um determinado antibiótico. As
espécies de Nocardia são bacilos Gram-positivos e não são muito exigentes quanto a nutri-
ção, podendo crescer em uma variedade de meios. Além disso, as espécies variam quanto
à sua pigmentação, que pode ser branca, laranja ou vermelha.

SMITH COLLECTION/GADO/GETTY IMAGES


42

Espécies do gênero
Nocardia cultivadas
ágar LB.

As espécies patogênicas de Nocardia podem ser encontradas no mundo todo e estão


presentes nos solos e nas águas. O contato por inalação com essas bactérias leva à doença
denominada nocardiose, a qual consiste em uma infecção pulmonar que, quando grave,
dissemina-se para outros órgãos, como o cérebro e a pele. No início da doença, as manifes-
tações clínicas típicas são febre, dor de cabeça, perda de peso e dor torácica. No entanto, na
forma crônica da doença, a nocardiose afeta o sistema nervoso central, levando à formação
de abscessos no cérebro.
Devido à ampla distribuição, à facilidade de crescimento e à gravidade das doenças
provocadas por espécies do gênero Nocardia, esse grupo de bactérias patogênicas recebe
bastante atenção de cientistas do mundo todo. As pesquisas são direcionadas principal-
mente ao desenvolvimento de antibióticos capazes de controlar as infecções causadas por

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esses microrganismos, uma vez que são resistentes a diversos antibióticos, o que dificulta o
tratamento da nocardiose. Desta forma, é fundamental, portanto, o constante investimento
em pesquisas que visam otimizar o tratamento dessas doenças.

Bactérias anaeróbias causadoras de infecções


em seres humanos
As infecções causadas por bactérias anaeróbias são bastante comuns, sendo que a
maioria dos patógenos são provenientes da nossa própria microbiota. Esses microrganis-
mos são denominados patógenos oportunistas, uma vez que causam doença quando o
organismo se encontra em disbiose, ou seja, quando há pouca diversidade de bactérias be-
néficas na microbiota. Por exemplo, bactérias anaeróbias residentes no trato gastrointestinal
geralmente não ocasionam doenças nesse local, já que estão em equilíbrio nesse ambiente.
No entanto, se ocorrer algum desequilíbrio, tal como uma fissura no intestino, essas bacté-
rias podem alcançar o trato urinário e lá podem causar uma infecção, pois não encontram
barreiras que limitem a população, tais como a restrição de nutrientes disponíveis ou a
competição com outras bactérias desse local.

LIFEKING/SHUTTERSTOCK
Streptococcus
Bifidobacterium Propionibacterium Lactobacillus Lactococcus
termophilus

Exemplos de patógenos oportunistas encontrados na microbiota humana. 43

Nos tópicos a seguir, veremos alguns dos principais tipos de bactérias anaeróbias que
causam infecções em humanos.

Bacilos anaeróbios Gram-negativos


As espécies que compreendem os bacilos
anaeróbios Gram-negativos são bastante comuns
em infecções humanas. Elas apresentam gran-
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AR

de importância médica, principalmente em


TO
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virtude da alta incidência de infecções em


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indivíduos com o sistema imune suprimi-


O I M A GE S / A

do. A relevância clínica dessas espécies se


deve ao fato de serem portadoras de vá-
NS/GAD

rios genes de resistência a antibióticos, o


que dificulta o tratamento dos infectados.
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O gênero Bacteroides destaca-se por


NS
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ser o mais bem descrito dentre os bacilos


anaeróbios Gram-negativos. Consistem em
bacilos finos, resistentes à bile e que podem,
ocasionalmente, aparecer na forma de cocobacilos.
Embora diversas espécies do gênero sejam habitantes
normais do nosso intestino, elas também são frequen- Microscopia de luz de espécies de
temente responsáveis por infecções intra-abdominais, bactérias do gênero Bacteroides
isoladas em amostra coletada do
como, por exemplo, as ocasionadas em perfura-
intestino de um paciente e coradas
ções relacionadas a cirurgia ou trauma no abdômen, com coloração de Gram.
apendicite e diverticulite. Aumento de 1000x.

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Já as espécies do gênero Prevotella estão geralmente mais associadas a infecções
A
EN das vias respiratórias superiores. Ocasionalmente, espécies como P. bivia e
AR

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P. disiens ocorrem no trato genital feminino. As infecções causadas por
O
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esses microrganismos ocasionam abscessos cerebrais e pulmonares, além


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de doença inflamatória pélvica e abscessos tubo-ovarianos, podendo


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D/SCIENCE PHO

levar mulheres com infecção crônica à esterilidade.


Entre os bacilos Gram-negativos e anaeróbios de importância
clínica, destacam-se as espécies do gênero Fusobacterium. Existem
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cerca de 13 espécies de fusobactérias descritas na literatura médica;


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no entanto, a maioria das infecções são causadas por F. necrophorum


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e F. nucleatum. Essas duas espécies diferem quanto à morfologia e ao


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habitat. F. necrophorum é um bacilo bastante longo, com as extremidades


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VU
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NC
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IE arredondadas, e é um componente da cavidade oral em disbiose. Por ser
bastante virulento, pode causar infecções graves na cabeça e no pescoço e,
Microscopia eletrônica de caso a infecção não seja tratada adequadamente, pode progredir para uma infecção
transmissão de uma espécie mais complicada, chamada de doença de Lemierre. Essa doença é caracterizada por uma
de Prevotella. Aumento de infecção aguda da veia jugular, que progride para infecção generalizada e abscessos no
78000x. pulmão e no fígado.
Já o F. nucleatum é um bacilo fino em forma de agulha, sendo um residente significativo
da microbiota gengival, bem como dos tratos genital, gastrintestinal e respiratório. Geral-
mente, a infecção por F. nucleatum começa por doença periodontal, como cáries crônicas
não tratadas, e pode ter como complicação abscessos cerebrais.

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BSIP/GETTY IMAGES

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Na imagem à esquerda está representada


a veia jugular, local de infecção por
Veia F. necrophorum, que leva ao desenvolvimento
jugular de síndrome de Lemierre. À direita,
micrografia eletrônica de transmissão de
F. necrophorum, colorida por computação e
visualizada com aumento de 100 000x.

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AG
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Bacilos anaeróbios Gram-positivos
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O grupo dos bacilos anaeróbios Gram-positivos compreendem


N/G

diversos gêneros como: Actinomyces, Lactobacillus, Propionibacterium,


H COLLECTIO

Eubacterium, Bifidobacterium, Arachnia e Clostridium. Esses


microrganismos também compõem a microbiota normal do corpo.
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No entanto, em condições adversas, alguns deles podem ser bastante


virulentos e causar doenças graves.
Colônia de
uma espécie de O gênero Actinomyces abrange diversas espécies que causam acti-
Actinomyces crescida nomicoses, infecções no tecido epitelial de regiões como virilha, área uro-
em ágar LB. genital, mamas, axilas e infecções pós-operatórias em qualquer tecido.

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Essas espécies podem causar inchaço do tecido infectado, o que possibilita a sua mi-
gração para órgãos vizinhos e levando ao espalhamento da infecção para o organismo
como um todo.
Outro grupo de enorme relevância é o dos clostrídeos
(grupo de bactérias do gênero Clostridium). Esses micror-
ganismos são bacilos formadores de esporos, resistentes
a condições amplamente adversas, como carência de
nutrientes e dissecação. As espécies podem provo-

CA
V A LL
car diversas doenças, sendo que a maioria delas

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são mediadas por exotoxinas, ou seja, toxinas

A
MES/BSIP/ALAMY/FO
que são liberadas pela bactéria para o ambiente
extracelular. Os esporos de C. tetani são encontra-
dos em todo meio ambiente e são os causadores
do tétano. Durante a fase de crescimento, esse mi-

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crorganismo produz a neurotoxina tetanospamina.

RE
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Essa neurotoxina se liga a gangliosídeos – lipídeos
encontrados em células ganglionares do nosso siste-
ma nervoso central – e interrompe a liberação de
neurotransmissores, levando à paralisação muscular
prolongada. Dessa forma, músculos responsáveis pela Microscopia eletrônica de transmissão
respiração, como o diafragma, podem sofrer uma dis- de C. tetani na forma de esporos
(bacilo com extremidade esférica) e
função capaz de levar o indivíduo à morte. Felizmen- na forma de bacilo. Imagem colorida
te, há vacina disponível contra esse microrganismo. por computação e visualizada com
Outras espécies de Clostridium, como C. botu- aumento de 1 000x.
linum e C. difficile, também são importantes pató-
genos humanos. Geralmente, C. botulinum consegue penetrar em alimentos enlatados
ou conservados com baixos níveis de oxigênio. Esse microrganismo – agente etiológico
da doença denominada botulismo – germina em alimentos contaminados e produz 45
a toxina botulínica, que, ao atingir o sistema nervoso periférico, bloqueia a liberação
de acetilcolina e leva à paralisia irreversível. Já C. difficile pode participar da microbio-
ta normal de até 10% dos seres humanos. No entanto, sua popula-
ção é controlada pelos outros microrganismos da microbiota.
Quando há um desequilíbrio da microbiota normal, como,
por exemplo, pela ingestão de antibióticos por tempo
prolongado, C. difficile pode crescer mais do que o
normal – por ser bastante resistente a antibióticos –,
A
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e assim causar doenças, como a colite. Os sintomas


NCE SOURCE/FOTOA

dessa doença variam de diarreias isoladas à necrose


da mucosa.
Embora tenhamos estudado, até o momento,
as espécies bacterianas anaeróbias e suas doenças
/SCIE

separadamente, cabe ressaltar que muitas doenças são


A SM

um resultado de infecções mistas, ou seja, aquelas em


que variadas bactérias podem causar doenças ao mes-
mo tempo. Essa característica de infecções por anaeróbios
dificulta o diagnóstico, o tratamento e a recuperação do
indivíduo; uma vez que o tratamento geralmente envolve
a associação de diferentes antibióticos, o que comprome- Microscopia de luz de espécies de
te a microbiota normal e leva à perda de seus benefícios, bactérias isoladas de amostra
como a imunidade em relação a outras infecções. de um indivíduo. A imagem
Como os diferentes grupos bacterianos apresentam mostra a infecção mista de
características fisiológicas distintas, os cientistas desenvol- bactérias, devido à presença
de espécies de diferentes
veram diferentes metodologias para identificá-los, como morfologias e colorações.
veremos nos próximos tópicos. Aumento de 1 000x.

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CIÊNCIAS DA NATUREZA E LINGUAGENS
A arte e as infecções humanas
Ao longo da história, a população humana passou

GRANGER, NYC./ALAMY/FOTOARENA/ACERVO DO MUSEU DAS BELAS ARTES DE BASILEIA, SUIÇA


por inúmeras proliferações de doenças causadas por mi-
crorganismos. Algumas delas tiveram grande impacto em
regiões específicas, outras se espalharam pelo mundo pro-
vocando pandemias. Devido ao impacto na vida humana,
diversas dessas doenças foram retratadas por artistas ao
longo do tempo. A seguir, veremos alguns exemplos.
Uma dessas doenças foi a peste negra, ou peste
bubônica, que acometeu a Europa no século XIV, dizi-
mando entre 75 e 200 milhões de pessoas. Provocada
pelo bacilo Yersinia pestis, essa pandemia foi uma das
mais devastadoras da história humana. A bactéria foi
identificada em 1894 pelo bacteriologista suíço Ale-
xandre Yersin (1863-1943). Um dos artistas que retra-
tou essa pandemia foi Arnold Böcklin (1827-1901), que
representou a morte montada em uma criatura alada
sobrevoando uma cidade e espalhando o caos.
Estima-se também que 500 milhões de pessoas
foram vítimas da gripe espanhola. Essa infecção é pro-
vocada pelo vírus influenza e a pandemia teve início em
1918. Um quinto dos infectados morreu, o que levou,
por exemplo, algumas comunidades indígenas à beira
da extinção. Ocorrida durante o período da Primeira
46 Guerra Mundial, a propagação e a letalidade da gripe fo-
ram aumentadas pelas condições restritas dos soldados
e pela má nutrição vivenciada. Apesar de ser nomeada
A Praga, de Arnold Böcklin, 1898. Têmpera sobre madeira de
como gripe espanhola, a doença provavelmente não 149 cm × 104 cm.
começou na Espanha. Sua origem é controversa, mas os
primeiros casos registrados da doença ocorreram nos

PRISMA/© EDVARD MUNCH, VEGAP/ALBUM/FOTOARENA/MUSEU


NACIONAL DE ARTE, ARQUITETURA E DESIGN, OSLO, NORUEGA.
Estados Unidos da América.
O artista Edvard Munch (1863-1944) se retratou
em uma pintura com os cabelos ralos, pele amarelada
e com cobertores, evidenciando os efeitos da infecção
causada pela gripe espanhola.
Um tempo depois, após vencer a infecção pela gri-
pe espanhola, Munch se retratou novamente em uma
pintura, onde se mostrava em aparente recuperação,
em pé, e com uma paleta de cores para sua pele mais
rosadas passando a ideia de aspecto saudável. Além das
marcantes pinturas, essa época também foi marcada
por grande produção de textos e charges que aborda-
vam as dificuldades enfrentadas pelas organizações de
saúde e pelos formuladores de políticas públicas.
A manifestação da arte de diversas formas abor-
dando aspectos da história do homem é uma fonte
rica de expressão de ideias. Muitas dessas obras aca-
bam demonstrando para seu apreciador sentimentos
e angústias que acometeram sociedades há muitos
anos, podendo ser até comparadas com aconteci- Autorretrato pintado após a gripe espanhola, de Edvard
mentos atuais. Munch, 1919. Óleo sobre tela de 150 cm × 131 cm.

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PRATICANDO

1 Leia a notícia abaixo e responda as perguntas:

Água oxigenada prejudica a cicatrização de um corte?


O que arde nem sempre cura
A água oxigenada prejudica a cicatrização de um corte? “Sim. No geral, o melhor é deixar o
corpo cuidar sozinho do fechamento do talho. Basta limpar bem o local com água ou soro fisiológi-
co”, receita a cirurgiã plástica Lydia Massako Ferreira, da Universidade Federal de São Paulo. A ideia,
muito difundida, de que substâncias que fazem a pele arder são boas para a cicatrização é errada.
Elas agridem quimicamente a ferida e só devem ser usadas se há risco de infecção, aconselha Lydia.
Assim, um corte com lâmina ou um joelho ralado no cimento não precisam mais do que uma boa
lavada. A água oxigenada atrapalha a formação das fibras de colágeno que vão preencher o corte,
avisa a dermatologista Núbia Rossetti. Ferimentos feitos com objetos enferrujados pedem cuidado
maior. Nesses casos, a água oxigenada e outros antissépticos ajudam, mas deve ser avaliada a neces-
sidade também de uma vacina antitetânica. Todas essas substâncias devem ser usadas, com certeza,
quando já existe infecção, pois matam os microrganismos.
ÁGUA oxigenada prejudica a cicatrização de um corte? Superinteressante, 3 dez. 2016. Disponível em:
https://super.abril.com.br/comportamento/o-que-arde-nem-sempre-cura. Acesso em: 10 nov. 2020.

a) Como apresentado pelo texto acima, uma parte da população acredita que o uso de água oxigenada
em ferimentos tem poder antisséptico e pode eliminar todas as bactérias do local. Essa ideia é verda-
deira? Justifique. 47

b) As bactérias do gênero Staphylococcus, assim como a Clostridium tetani – bactéria causadora do tétano –
podem entrar no organismo por meio de cortes na pele, gerando uma infecção. O uso de água oxigenada
em um grupo de bactérias do tipo Staphylococcus teria o mesmo efeito que em bactérias Clostridium
tetani? Explique.

2 Uma forma de diferenciar os grupos bacterianos quanto à necessidade de oxigênio molecular é a partir do
cultivo de culturas bacterianas em tubos com caldo de tioglicolato, um meio de cultura líquido, contendo baixa
porcentagem de ágar, utilizado para identificar microrganismos aeróbios e anaeróbios. Esse meio de cultura
permite a mobilidade das bactérias, que podem se mover e se multiplicar mais próximas da superfície ou mais
no fundo da preparação. A forma de preparação do meio elimina a maior parte do oxigênio que poderia estar
presente. Levando em conta essas informações, leia a situação-problema a seguir e faça o que se pede.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saúde


Um pesquisador preparou três tubos com tioglicolato e fez a inoculação de um tipo bacteriano em cada tubo.
Após incubar em temperatura adequada, observou que o crescimento bacteriano se concentrou em regiões
diferentes dos tubos de cada amostra.

LAB212
vedação com folga

amostra 1 amostra 2 amostra 3

a) Como o tipo de vedação influencia a difusão de oxigênio ao longo do tubo?

b) Classifique as amostras de cultura bacteriana de acordo com a necessidade de oxigênio. Justifique sua resposta.

48

c) Cite um exemplo de grupo bacteriano que pode estar presente em cada amostra.

A BIOQUÍMICA E SUA IMPORTÂNCIA NA MICROBIOLOGIA


DA SAÚDE
A Bioquímica é uma ciência multidisciplinar que compreende as ciências básicas Biolo-
gia e Química. Mais especificamente, a Bioquímica é o estudo da estrutura, da síntese e do
metabolismo de moléculas biológicas, como proteínas e ácidos nucleicos. Como vimos, os
diferentes grupos bacterianos têm características próprias quanto à fisiologia; sendo assim,
podemos categorizar os microrganismos de acordo com suas propriedades fisiológicas e
bioquímicas. Neste tópico, abordaremos a utilização da Bioquímica como ferramenta para
a caracterização e a identificação de bactérias clinicamente importantes.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


BYMURATDENIZ/GETTY IMAGES
Quando sentimos alguma indisposi-
ção, como dores abdominais, dor ao uri-
nar, diarreia ou até mesmo dores de cabeça
constantes, é comum procurarmos ajuda
médica. Baseando-se na descrição dos sin-
tomas, o médico provavelmente deve pedir
exames de sangue, fezes ou urina com o
intuito de diagnosticar uma possível in-
fecção bacteriana. As amostras são, então,
coletadas em um laboratório de análises
clínicas, e o biomédico tem como objeti-
vo identificar qual ou quais são os tipos de
microrganismos presentes nessa amostra,
já que, para um tratamento apropriado, é
fundamental saber qual é o agente etioló-
gico da doença que acomete o paciente.
No entanto, até o momento da coleta, o profissional tem como única informação a Profissional coletando
origem da amostra. Portanto, é necessário realizar variados testes bioquímicos específicos amostra de sangue de
um paciente.
para os diferentes grupos de microrganismos a fim de chegar na correta identificação do
agente patogênico. Veremos a seguir algumas das técnicas mais comumente utilizadas em
um laboratório de análises clínicas.

Cultura in vitro de bactérias e tipos de meios de cultura


Para que a identificação bacteriana seja precisa, é necessário cultivar a amostra co-
letada do paciente em laboratório com o intuito de aumentar a quantidade de células
bacterianas, já que muitos microrganismos podem causar doenças mesmo em baixas
quantidades. Esse tipo de cultivo em que as bactérias se multiplicam fora do organismo é 49
denominada cultura in vitro. Existem, atualmente, variados tipos de meio de cultura para
bactérias patogênicas disponíveis comercialmente, sendo que esses meios de cultivo são
subdivididos em três categorias: (1) meios enriquecidos não seletivos, (2) meios seletivos
e diferenciais, e (3) meios especializados.
NO
ITEN

NS
ITTH/
G/SHUTTERSTOCK

SHUTTERS
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CK

Meios de cultura para crescimento bacteriano in vitro: ágar sangue (à esquerda) e ágar MacConkey (à direita).

Meios enriquecidos não seletivos


O ágar sangue e o ágar Mueller-Hinton são exemplos de meios ricos e não seletivos. Esse
tipo de meio foi criado com o objetivo de permitir o crescimento da maioria dos organismos
que não exigem algum agente nutricional específico. O ágar sangue é constituído por proteí-
nas e sais minerais, além de sangue animal, que são compostos básicos para o crescimento
da maioria das bactérias patogênicas humanas. Da mesma forma, o ágar Mueller-Hinton tem
em sua composição diversos aminoácidos livres, sais minerais, cátions divalentes – como o
magnésio (Mg+2) – e amido solúvel como fonte de carboidrato para as bactérias.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


Meios seletivos e diferenciais
Como o próprio nome sugere, os meios seletivos são utilizados para o isolamento
de bactérias específicas, já que, em uma amostra, provavelmente estarão presentes outros
microrganismos, como os que compõem a microbiota. Esses meios são suplementados
com substâncias que inibem o crescimento de organismos indesejáveis.
O ágar-manitol é um meio de cultura seletivo utilizado para isolar bactérias do gênero
Staphylococcus. Ele é composto por proteínas, aminoácidos livres e altas concentrações de sais
e manitol (tipo de carboidrato). Como os estafilococos podem crescer em altas concentrações
de sal e fermentam manitol, o meio possui uma composição especial para bactérias desse grupo.

MYFAVORITETIME/SHUTTERSTOCK
50 Colônias de Staphylococcus aureus em ágar-manitol.

Nos meios diferenciais, são utilizadas substâncias para produzir alterações característi-
cas ou padrões de crescimento que diferenciam os microrganismos de interesse, tal como
cromógenos e fluorógenos. Quando esses componentes têm seus substratos degradados
por enzimas específicas do microrganismo desejado, o meio sofre alteração de cor ou se
torna fluorescente, o que possibilita a identificação a olho nu da presença do microrganismo.
O meio MacConkey é seletivo e diferencial. Trata-se de um ágar seletivo para bactérias
Gram-negativas, pois em sua composição estão presentes sais biliares e cristal violeta, os quais
inibem o crescimento de bactérias Gram-positivas. Ele também é um meio de cultura diferencial,
pois possibilita a distinção entre bactérias fermentadoras e não fermentadoras de lactose (lac+
e lac-). As bactérias fermentadoras de lactose se apresentam como colônias vermelhas ou ro-
sadas; já os grupos não fermentadores são visualizados como colônias brancas ou incolores.

Cultura de bactérias em
meio MacConkey. À direita,
há colônias lac+ rosa
CK

avermelhadas, que alteram


TO

a cor do meio para rosa, o


ERS

CK
TH/SHUTTERSTO

que se deve à queda de


SEPH/SHUTT

pH causada pela produção


de ácido produzido na
OB JO

degradação da lactose. À
NSIT

esquerda, encontram-se
JAC

NO

colônias lac- incolores, que


JO

não provocam alteração


RE

da cor do meio, já que há


elevação do pH ocasionada
pela amônia produzida na
fermentação da peptona.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


HAKAT/SHUTTERSTOCK
Meios especializados
Algumas bactérias, como Coxiella burnetii, são
organismos intracelulares obrigatórios, ou seja, só se
multiplicam dentro de uma célula. Devido à dificul-
dade do cultivo, era impossível descobrir a biologia, e
consequentemente o tratamento adequado de muitos
patógenos. No entanto, em 1949, John Franklin Enders
(1897-1985) desenvolveu um tipo de meio especiali-
zado que permitiu o cultivo de microrganismos como
a C. burnetti. Essa técnica é composta por uma etapa
prévia ao cultivo do patógeno, na qual ocorre o cultivo
de células de mamíferos em garrafas contendo meio
de cultura adequado para a célula eucariótica e ma-
nutenção em estufas de gás carbônico, uma condição Garrafa com meio de cultura
semelhante à encontrada no organismo humano e de demais mamíferos. Graças a esse para o cultivo de células de
mamíferos.
advento, podemos, em uma segunda etapa, infectar essas células cultivadas em laboratório
com as bactérias de interesse, que necessitam de componentes e condições específicas do
meio intracelular, e assim avaliar os mecanismos de patogênese envolvidos.

LEITURA COMPLEMENTAR

Da sopa ao gel: a revolução científica por trás dos meios de cultura


[...]
Louis Pasteur, em 1860, foi o primeiro a utilizar um meio de

HISTORIC ILLUSTRATIONS/PHOTOSTOCK-ISRAEL/
ALAMY/FOTOARENA
cultura para crescer bactérias em um laboratório. O meio era com-
posto por extratos de leveduras, açúcar e sais de amônio. Em 1882, 51
Robert Koch conseguiu colorir bactérias causadoras da tuberculose
usando corante azul de metileno e calor. Dois anos depois, Hans
Christian Gram criou a coloração de Gram, método vastamente
utilizado até hoje para diferenciar bactérias a partir da composição
de sua parede celular.
Em meio a tantas descobertas e confirmações da existência
desses seres microscópicos, uma nova revolução ocorreu: o surgi-
mento da placa de Petri, em 1887, desenvolvida por Julius Richard
Petri. Este material simples permitiu a multiplicação das formula-
ções de meio de cultura, que podiam ser testadas e avaliadas facil- Em seu experimento para provar que
mente para estabelecer qual o melhor ambiente nutricional para os microrganismos surgiam de outros
cada microrganismo. microrganismos preexistentes, Pasteur
Junto veio a substituição da gelatina por um componente utilizou um caldo nutritivo que permitia
o desenvolvimento de microrganismos.
peculiar: o ágar, um polímero extraído de algas marinhas verme- A ilustração mostra um dos frascos com
lhas e que fazia parte da dieta japonesa. A gelatina foi o primeiro “pescoço de cisne” usados por Pasteur.
agente solidificante utilizado em meios de cultura, mas trazia a
grande limitação de se liquefazer a 23ºC, tornando-se um meio de cultura líquido e impossibilitando a seleção
e contagem de microrganismos. Já o ágar é insolúvel em água fria, mas expande-se quando a absorve em
maiores temperaturas. Tem como principais características ser atóxico, não fermentável, fonte de fibras
e sais minerais, além de manter-se como um gel firme em temperatura ambiente, permitindo a formação
de meios sólidos.
O uso do ágar possibilitou a cultura de inúmeros materiais vivos como células animais ou vegetais,
plantas, fungos e bactérias em meios sólidos que, ao contrário dos líquidos (“caldos”), permitem a iden-
tificação e isolamento de culturas puras para posterior estudo e replicação. Com isso, vários agentes

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


patogênicos foram descobertos e doenças elucidadas, assim como tratamen-
tos e curas. Hoje o ágar é o ingrediente essencial para quase todos os
meios de cultura conhecidos.
Os avanços levaram a formulações com diferentes especificidades

YA
YAH
e cada vez mais completas. [...]

_AI/SHUTTERSTO
Um meio vastamente utilizado para cultivo de fungos em geral é
o Ágar Sabouraud Dextrose. Criado por Raymond Sabouraud em 1892,
possui em sua composição alta quantidade de açúcar, fonte de energia

CK
para o desenvolvimento dos fungos, mas não para a maioria das bacté-
rias que não o toleram em níveis elevados. Seu pH levemente ácido (~5,6)
também ajuda a inibir o crescimento bacteriano que é estimulado em pH
neutro (6,5 – 7,5). Este meio é principalmente favorável ao crescimento de
fungos dermatófitos, ou seja, causadores de infecções de pele, como mico- Cultura de fungo Aspergillus spp. em
ses, sendo bastante difundido na indústria farmacêutica e cosmética. ágar Sabouraud Dextrose.
Outro meio interessante é o ágar sangue, bastante utilizado na mi-
crobiologia clínica, já que possui em sua composição 5% de sangue de carneiro, permitindo avaliar a ativi-
dade hemolítica de microrganismos.. Este é um exemplo de meio enriquecido e diferencial, onde é possível
identificar bactérias do gênero Streptococcus, classificando-as de acordo com seu grau de hemólise.

SO M P A CHAN
NTIP
/SH
UTT
RS E
TO
CK

Colônia de
bactérias do gênero
52 Streptococcus em
ágar sangue.
[...]
Incrível tudo que resultou de uma simples sopa, não? Sem o desenvolvimento e aprimoramento desses
meios, muitos dos avanços que temos hoje, sobretudo na área da infectologia e controle microbiológico, não
seriam possíveis. Parece que uma sopa pode revolucionar o mundo!
DA SOPA ao gel: a revolução científica por trás dos meios de cultura.Profiss‹o Biotec, 3 maio 2018. Disponível em:
https://profissaobiotec.com.br/da-sopa-ao-gel-revolucao-cientifica-por-tras-dos-meios-de-cultura/.
Acesso em: 11 nov. 2020.

Ensaios bioquímicos para identificação bacteriana


Quanto maior a quantidade de informações sobre um determinado microrganismo,
mais precisa é a identificação dele. Dessa forma, o cultivo em placas com os variados meios
de cultura funciona apenas como etapa de triagem inicial, sendo necessário investigação
mais detalhada. Para isso, foi desenvolvida uma série de testes bioquímicos, que ampliam
a caracterização de um microrganismo de acordo com suas características e exigências
fisiológicas. Apesar de existirem diversos métodos bioquímicos, iremos abordar os mais
comumente utilizados em laboratório, como o teste de catalase, a produção de urease e o
teste da utilização de citrato como fonte única de carbono.

Teste de produção de catalase


Como estudado anteriormente, as espécies diferenciam-se quanto à produção de catalase.
O teste de produção de catalase consiste em colocar uma gota de solução aquosa de peróxido
de hidrogênio (substrato da enzima catalase) em uma lâmina e, com o auxílio de uma alça

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de Alimentos e Microbiologia na saœde


de platina, adicionar uma porção da amostra de crescimento bacteriano sobre a gota. O
resultado é considerado catalase-positivo quando há efervescência na amostra, devido à
liberação de oxigênio gasoso, que é o produto final da reação catalisada pela enzima.

MYFAVORITETIME/SHUTTERSTOCK
Teste para produção de catalase. Sobre a lâmina: amostra com resultado
catalase-negativo (à esquerda) e catalase-positivo (à direita).

Teste de produção de urease


Esse teste é utilizado geralmente para detectar microrganismos que causam infecções
no trato urinário, já que a propriedade de hidrolisar a ureia é uma característica de micror-
ganismos patogênicos. A ureia apresenta a propriedade de desnaturar proteínas, podendo
53
causar a degradação da parede celular de bactérias. Portanto, as bactérias que geralmente
infectam o trato urinário produzem a enzima urease, que converte a ureia em amônia, garan-
tindo que o microrganismo seja imune à ação da ureia. A amônia remanescente é utilizada
como fonte de nitrogênio para a produção de proteínas pelo metabolismo bacteriano.

Urease
(NH2)2 CO 1 2H2O ▶ CO2 1 H2O 1 CNH3
Ureia Dióxido Água Amônia
de carbono

Reação de conversão da ureia em amônia, gás carbônico e água pela enzima urease.

Para a realização do teste, adiciona-se CASA NAYAFANA/SHUTTERSTOCK

uma porção do crescimento bacteriano


em uma solução de ureia em pH neutro
com um indicador de pH, que se trata
de substância que muda a cor da so-
lução de acordo com o pH. Caso haja,
na amostra, bactérias urease-positivas, a
solução de ureia muda da cor amarela
para a cor rosa, pois a amônia produzida
torna a solução de ureia mais básica.

Teste para a detecção de microrganismos


produtores de urease. À esquerda, o resultado
foi urease-negativo, devido à cor amarela da
solução de ureia; e à direita, o resultado foi
urease-positivo, devido à mudança de cor
da solução, que se tornou rosa.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


MYFAVORITETIME/SHUTTERSTOC

Teste da utilização de citrato como única fonte


de carbono
Esse teste é utilizado para diferenciação de bactérias enteropato-
gênicas. A Escherichia coli e a Salmonella enterica, por exemplo, causam
uma patogênese muito semelhante; no entanto, a E. coli não é capaz
de utilizar o citrato como fonte de carbono, já a S. enterica sim. Para o
teste, utiliza-se o citrato como única fonte de carbono em um meio de
cultura contendo o azul de bromofenol como indicador de pH. Caso
haja, na amostra, bactérias que conseguem utilizar o citrato, o meio de
cultura torna-se mais alcalino e muda da cor verde para a azul.
Existem, ainda, diversos outros tipos de testes que podem ser rea-
lizados com o intuito de identificar as bactérias. Pensando em como
otimizar a realização dos testes, cientistas e profissionais de diferentes
Teste da utilização do citrato.
Os tubos azuis indicam que
áreas trabalharam em conjunto para melhorar as metodologias e diminuir possíveis erros. A
há presença de bactérias automação em Microbiologia se tornou um importante recurso para auxiliar nesse processo.
citratase-positiva na amostra. Nos tópicos a seguir veremos mais detalhadamente a importância desse campo.

PRATICANDO

1 Os meios de cultura foram fundamentais para o desenvolvimento da Microbiologia e, atualmente, permitem


o isolamento de microrganismos, procedimento fundamental em um laboratório.
Conhecer os tipos de meios de cultura e seus principais usos é fundamental para a rotina laboratorial. Pen-
54 sando nisso, realize uma pesquisa sobre os principais tipos de meio de cultura, o seu uso, os microrganismos
que se desenvolvem neles e sobre outras informações que julgar importante. Com esses dados, elabore um
infográfico digital e utilize-o ao longo do ano sempre que precisar, seja na resolução dos exercícios ou na
realização dos experimentos da seção Mão na massa.
2 Um grupo de pesquisadores analisou os laudos dos exames de 194 mulheres atendidas em um serviço de
atendimento ginecológico, na cidade de Fortaleza-CE, e mapeou os grupos bacterianos que foram aponta-
dos nos prontuários dos exames. O gráfico a seguir apresenta os resultados.

Grupos bacterianos nos laudos ginecológicos em Fortaleza-CE


LAB212

80
74
70

60
55

50 48
Ocorrência

40

30

20
15
10
1 1
0
Lactobacillus sp Gardnerella Cocos e Cândida sp Trichomonas Flora escassa
vaginilis bacilos vaginilis
Grupos bacterianos
Elaborado com base em: LEITÃO, Nilza M. de Abreu et al. Avaliação dos laudos citopatológicos de mulheres atendidas em um serviço
de enfermagem ginecológica. Revista Mineira de Enfermagem. Disponível em: http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/295.
Acesso em: 11 nov. 2020.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


a) Analise o gráfico e identifique os três organismos que são predominantes nos exames ginecológicos das
mulheres participantes da pesquisa.

b) Explique se a prevalência desses três microrganismos indica alguma anormalidade. Caso seja necessário,
pesquise mais informações sobre eles.

c) Outro microrganismo identificado foi Candida sp. Esses microrganismos são fungos que podem causar
a candidíase vaginal, infecção caracterizada por inflamação, coceira intensa e um corrimento branco e
espesso na vagina. Qual é o meio de cultura que poderia ser escolhido caso fosse necessário isolar esse
microrganismo dos demais que foram identificados na pesquisa? Identifique-o e escreva que característi-
cas que tornam o uso desse meio adequado na situação.

3 Um dos grandes problemas enfrentados pelas pessoas com diabetes é o pé diabético, uma complicação
crônica decorrente da doença que se caracteriza por alterações cutâneas, formação de calosidade, feridas,
55
úlceras, abscessos, infecções, entre outros sintomas. Geralmente, nessas infecções estão presentes microrga-
nismos da microbiota humana, caracterizando uma infecção mista.
Para identificar as bactérias em grupos de pacientes com pé diabético, foi coletada uma amostra com um swab
de algodão (cotonete estéril) e cultivada em placas com meio de cultura. Foi identificado que as bactérias
mais frequentes eram a Staphylococcus aureus, seguida pela Escherichia coli e pela Pseudomonas aeruginosa,
porém diversas outras bactérias também foram encontradas.
Considerando a situação descrita, responda:
a) Qual dos meios de cultura seria mais indicado para a realização da pesquisa relatada no enunciado: ágar
MacConkey, ágar manitol ou ágar sangue? Justifique.

b) Em situações mais graves, os pacientes com pé diabético podem apresentar diminuição no suprimento
de oxigênio nas regiões periféricas e formação de tecido morto, de modo que, muitas vezes, é necessária
a amputação de parte ou da totalidade do membro. Quais tipos bacterianos são comuns nesse tipo de
situação? Explique.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saúde


DESAFIO

Um meio de cultura adequado é importante no processo de isolamento de bactérias específicas. Aliado


às características bioquímicas desses organismos, ele pode ser importante para o estabelecimento de
diagnóstico médico. Uma família de bactérias bastante conhecida é a Enterobacteriaceae, que inclui uma
ampla variedade de bactérias patogênicas, algumas delas pertencentes à microbiota intestinal humana.
Após uma consulta clínica, suspeita-se que um paciente esteja com uma infecção ocasionada por bactérias
da família citada, mais especificamente E. coli e Shigella sp. O profissional responsável pelo exame decidiu
inicialmente inocular a amostra em um meio do tipo ágar MacConkey. Ele espera, assim, verificar o cresci-
mento das bactérias suspeitas e diferenciar as suas colônias. Sabendo disso, responda.
a) Por que o profissional decidiu utilizar o ágar MacConkey para verificar o crescimento das bactérias
suspeitas?

b) Busque em sites especializados as diferenças bioquímicas entre esses dois grupos e discuta se o meio
escolhido permitirá diferenciar as colônias das bactérias, caso ambas estejam presentes na cultura.

56

AUTOMAÇÃO – INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E SUA


UTILIZAÇÃO NA MICROBIOLOGIA E NA BIOTECNOLOGIA
LUCHSCHENF/SHUTTERSTOCK

Os testes bioquímicos e de se-


leção de microrganismos em ágar
apresentados neste capítulo são
relativamente simples de ser feitos.
Geralmente, os laboratórios de aná-
lises clínicas possuem protocolos já
bem estabelecidos para a realização
dos testes, além de profissionais
qualificados. No entanto, em cida-
des com pouca estrutura de atendi-
mento laboratorial, a qualidade e a
rapidez dos testes podem ser com-
prometidas em épocas de alta de-
manda. Com o objetivo de resolver
esse tipo de problema, a Microbiolo-
Braço robótico auxiliando ensaios de laboratório. gia e a Bioquímica desenvolveram-se

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


juntamente com a Informática e outras áreas do conhecimento, como a Computação e
a Matemática, para a construção de máquinas, robôs e algoritmos capazes de tornar esse
processo mais rápido, mantendo a qualidade dos testes realizados.
A introdução da automação nas análises clínicas se tornou fundamental na busca de
eficiência e viabilidade, sendo que essa modernização se expandiu em todas as fases dos pro-
cessos realizados em um laboratório, como nas fases pré-analítica, analítica e pós-analítica.

Fase pré-analítica
A fase pré-analítica compreende a preparação do paciente, a coleta, a manipulação
e o armazenamento da amostra. É uma etapa de extrema importância, pois qualquer erro
humano inviabiliza o resultado. Assim, foram desenvolvidos programas de identificação de
amostra e equipamentos que utilizam radiofrequência para a leitura de códigos de barra,
tornando o processo muito mais confiável do que o utilizado tradicionalmente, no qual as
informações do paciente e da amostra são anotadas em formulários de papel.
A automação na fase pré-analítica envolve, também, esteiras de transporte de amostras
e braços robóticos que colocam o material no exato lugar de análise. Os braços robóticos
também têm como função a abertura e o fechamento de tubos, o que traz como vantagem
a diminuição de contaminação oriunda do profissional para a amostra e vice-versa.
EVANNOVOSTRO/SHUTTERSTOCK

SFC/SHUTTERSTOCK
57

Amostras movendo-se em esteiras de produção, na fase pré- Braço robótico auxiliando na


analítica, em um laboratório automatizado. manipulação de exames.

Fase analítica
Essa fase corresponde à etapa de realização do teste. TYLER OLSON/SHUTTERSTOCK

Existem diversos equipamentos que realizam a análise de


modo autônomo. Por exemplo, como vimos anteriormente,
vários ensaios bioquímicos para a identificação bacteriana
envolvem colorimetria, ou seja, adiciona-se um reagente que
muda a cor da solução, indicando ou não a presença de um
determinado microrganismo. Em um laboratório moderno,
um equipamento de identificação de bactéria pode estar
acoplado a uma esteira contendo a amostra, e o braço robó-
tico adiciona a amostra no reagente inserido na máquina. Os
equipamentos são, então, programados para criar as condi-
ções ótimas de crescimento bacteriano, como temperatura,
agitação e pH, para a realização do teste. Profissional adicionando
amostras em um
A grande vantagem da automatização em testes bio- equipamento que identifica
químicos consiste na possibilidade da realização de até a concentração de bactérias
800 testes por hora, com um único equipamento. presentes em uma amostra.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


Fase pós-analítica
JARUN ONTAKRAI/SHUTTERSTOCK

Essa fase caracteriza-se pelos processos de validação e li-


beração dos resultados. É comum que alguns testes realizados
em pacientes apresentem um diagnóstico duvidoso; assim, é
necessário que sejam realizados novamente. Porém, quando há
alta demanda para a realização de testes, a automação pode
permitir a otimização do armazenamento de alíquotas das
amostras, caso seja necessário repetir um exame a médio prazo.
Isso diminui o custo e o tempo da liberação do resultado, pois
não é necessária a coleta de um novo material.
A forma como o resultado é armazenado e chega ao pa-
ciente também afeta a rapidez do processo, portanto o desen-
volvimento de websites e programas para consulta dos resul-
tados, sem a necessidade de o paciente ir até o laboratório, é
muito importante. Porém, é imprescindível que o laboratório
Resultado de exame também esteja preparado para atuar de forma rápida e acolhe-
sanguíneo disponibilizado dora quando os exames apresentam resultados críticos. Em algumas situações, os pacientes
ao paciente e ao médico na
fase pós-analítica. não foram comunicados previamente da complexidade de seu quadro clínico e esperar que
ele acesse por meio de websites o resultado do exame pode gerar atraso no diagnóstico e
transtornos psicológicos a esses pacientes.
A associação entre ciência básica –, na classificação das bactérias quanto a morfologia
e fisiologia; e a ciência aplicada –, no desenvolvimento de máquinas e robôs para auxiliar os
profissionais em um laboratório, trouxe enormes vantagens para a população em geral. Entre
essas vantagens, podemos citar a possibilidade de diagnóstico e o tratamento de doenças
de maneira muito mais rápida e precisa. Isso pode amenizar danos em larga escala, em ca-
58 sos de epidemias e pandemias provocadas por bactérias, situações em que há um grande
número de infectados e tem-se a necessidade de realizar um alto número de exames em
OUTROS LINKS um curto intervalo de tempo, para permitir a identificação dos microrganismos envolvidos
e a posterior indicação ao tratamento mais adequado.
Hospitais de grande
porte e laboratórios É essencial que um laboratório clínico monitore cada uma das fases descritas e avalie
com alta demanda as intervenções necessárias com o intuito de promover a efetividade e a qualidade de seus
de exames clínicos testes. A identificação de laudos incompletos ou resultados ilegíveis é fundamental para
precisam desenvol-
garantir a excelência do serviço prestado.
ver estratégias para
lidar com a realização
dos inúmeros exames FIQUE POR DENTRO
que são solicitados.
No vídeo Laborató- A AUTOMAÇÃO EM UM LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS
rio Central – Análises A automação nos desafia a pensar de forma diferente sobre os processos tradicionais. Na
Clínicas, da Santa Microbiologia, os diversos processos que até então dependiam exclusivamente de procedi-
Casa de Misericórdia mentos manuais são, hoje, realizados por equipamentos automatizados que garantem mais
de Porto Alegre, é segurança ao profissional que trabalha com microrganismos patogênicos e mais agilidade nos
possível conhecer um processos laboratoriais.
sistema automatizado
composto por uma es- Para entender como a automação está presente nos procedimentos executados em um labo-
teira que transporta ratório, programe uma visita a um laboratório de análises clínicas.
as amostras e tem 20 Atividade:
equipamentos acopla-
Com a ajuda de um profissional que atua na instituição, faça uma visita pelos diversos setores
dos a ela, garantindo a
envolvidos com a realização dos exames. Sempre que possível, realize registros por meio de
realização de 250 000
fotos e vídeos.
exames por mês. Dis-
ponível em: https:// Durante a visita, identifique cada uma das fases da realização dos exames microbiológicos:
www.youtube.com/ pré-analítica, analítica e pós-analítica. Observe, em cada uma delas, quais procedimentos são
watch?v=1xCGlMF automatizados, quais equipamentos são utilizados e quais funções eles desempenham.
wpw4. Acesso em: Após a visita, prepare um vídeo explicativo que mostre as etapas do processo para a realização
11 nov. 2020. de exames clínicos, evidenciando como a tecnologia está inserida na rotina laboratorial.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


PRATICANDO

1 Podemos dividir um exame biomédico em algumas etapas que compreendem desde a preparação do pa-
ciente até a divulgação do resultado. Observe a imagem abaixo e responda.

ANDREY_POPOV/SHUTTERSTOCK
a) A qual fase de um exame laboratorial corresponde o processo mostrado na imagem?
59

b) Quais outros procedimentos ocorrem nessa mesma fase?

c) Exemplifique como a automação e a inteligência artificial estão presentes nessa fase. Pesquise informa-
ções complementares para elaborar sua resposta.

2 Na rotina laboratorial, há protocolos que determinam como cada procedimento deve ser realizado pelos profis-
sionais. Algumas etapas, porém, são bastante automatizadas, de modo que computadores e outros equipamen-
tos assumem a função de realizar trabalhos que, antes, necessitariam de um grande número de profissionais.
Pensando no trabalho em um laboratório de análises clínicas e no processo de automação, faça o que se pede.
a) Identifique quais são as vantagens da automação laboratorial.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saúde


b) Explique a importância da padronização dos procedimentos laboratoriais.

c) Cite algum processo relacionado aos testes clínicos em laboratório que é automatizado.

3 Um paciente foi encaminhado para a realização de um exame de sangue para identificar o nível de colesterol.
No laboratório de análises clínicas, o paciente entregou o pedido médico para a realização do exame e suas
amostras foram coletadas. Depois de alguns dias, recebeu o resultado em seu e-mail. Analise as imagens do
pedido médico e do resultado do exame. Em seguida, faça o que se pede.

LAB212
Resultado de Exame
Solicitação de Exames Hemograma completo
Paciente: Ricardo Alves Idade: 52 anos
Paciente: Sr. Ricardo Alves Idade: 52 anos Laboratório: SAÚDE PARA TODOS
Material: Sangue total com EDTA (coletado em 27/02/2021)
Método: Automação – Micros 60 / ABX
ERITROGRAMA Resultado Valores de referência
Solicito: Eritrócitos 5,2 milhões/mm3 4,5 a 5,9mihõe,s/mm3
Lipidograma completo Hemoglobina 12g% 12,0 a 17,5 g%
Hematócrito 46% 40 a 52%
(Triglicerídeos, Colesterol total e frações) VCM 88,46 U3 80 a 100 U3
HCM 23.08 pg 26 a 34 pg
CHCM 26,09 % 31 a 36%
Observações:
Indicação clínica: Exame de rotina LEUCOGRAMA
Leucócitos 8.700 /mm3 4.500 a 11.000 /mm3
Neutrófilos 67%
Niterói, 28 de janeiro de 2021. Metamielócitos 0% O /mm 3
0 a 1% Até100/mm3
Bastonetes 0% O /mm3 0 a 4% Até 400 /mm3
60 Segmentados 67 % 5.829 /mm3 36 a 66% 2000 a 7500 /mm3
Eosinófilos 3% 261 /mm3 0 a 4% 100 a 400 /mm3
Basófilos 0% O/mm3 0 a 1% Até100/mm3
Linfócitos 28% 2.436/mm3 20 a 40% 900 a 4400/mm3
Monócitos 2% 174/mm3 2 a 8% 200 800 /mm3
Plaquetas 280.000 /mm3 150.000 a 400.000 /μL

a) Os exames realizados estão de acordo com o pedido médico? Explique.

b) Identifique em qual etapa da realização do exame há maior probabilidade de ter ocorrido o erro na situa-
ção apresentada e proponha soluções para a minimização desse tipo de erro.

4 Diversos equipamentos podem ser utilizados para garantir a agilidade e a segurança na realização dos exa-
mes clínicos microbiológicos. Realize uma pesquisa em livros e sites da internet sobre esses equipamentos.
Em seguida, reúna-se em grupo, escolham um dos equipamentos, elaborem um modelo 3D digital dele.
Apresentem o modelo para as demais equipes e discutam sobre semelhanças e diferenças entre os pro-
dutos finais de cada grupo.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saúde


MÃO NA MASSA
Provas bioquímicas 3. Procedimentos
Nesta seção, vamos retomar e resolver a situação- No período entre a incubação e o crescimento bacte-
-problema apresentada no início do capítulo na sessão Co- riano, faça o que se pede:
nectar: como poderia ser realizada uma primeira triagem ▶ Identifique qual das provas bioquímicas estudadas é
para identificar a possibilidade de contaminação de certa a mais adequada a testar e classificar as amostras de
amostra de alimento por Clostridium botulinum, baseada acordo com a necessidade de oxigênio.
na necessidade de oxigênio?
A identificação de microrganismos em laboratório ▶ Em folha avulsa, elabore uma lista com os materiais
geralmente leva em consideração as diferentes proprie- necessários e os procedimentos do experimento.
dades dos microrganismos. Uma delas se relaciona com ▶ Depois do crescimento de colônias bacterianas no
as características bioquímicas das bactérias. meio de cultura, realize o teste com as amostras
Alguns dos recursos utilizados pelos microbiologis- obtidas.
tas consistem nas provas bioquímicas, que compreen- 4. Resultados e conclusões
dem a investigação da atividade metabólica dos orga-
▶ Em folha avulsa, esquematize e descreva o que foi
nismos in vitro. A atividade enzimática de uma bactéria
observado em cada amostra de seu experimento e,
pode alterar características do meio como coloração, pH,
a partir desses dados, tente identificar qual é o gru-
textura e composição (por meio da produção de subs- po bacteriano presente em relação à necessidade de
tâncias). Sendo assim, é um meio importante para a iden- oxigênio.
tificação dos grupos bacterianos. ▶ Você pode comparar com as informações disponí-
Para a realização das provas bioquímicas, é impor- veis na literatura científica para confirmar ou refutar
tante apresentar hipóteses sobre qual ou quais grupos sua hipótese. Utilize trabalhos em que as amostras
bacterianos podem estar na amostra, além de suas ne- foram coletadas de lugares semelhantes ao que você
cessidades nutricionais. Isso ajudará na escolha do meio escolheu.
de cultura mais apropriado, que pode ser um meio mais ▶ Elabore um relatório, no qual deve ser inserida uma
generalista ou mais seletivo. introdução sobre o assunto, o objetivo do experimen-
Na situação-problema proposta, será necessário rea- to, o material utilizado, os procedimentos realizados, a 61
lizar um teste para verificar se há a possibilidade de certa explicação dos resultados obtidos e as conclusões ba-
amostra de alimento estar contaminada por Clostridium seadas na comparação com os trabalhos pesquisados.
botulinum, que é um organismo anaeróbico estrito. Neste
5. Resolvendo a situação-problema
experimento, você irá realizar o mesmo teste indicado
Baseando-se nos procedimentos e resultados obti-
para essa situação, porém com amostras de culturas
dos, responda:
bacterianas já desenvolvidas.
▶ A cultura de amostra que se supõe que seja de Clos-
1. Preparação do experimento: tridium botulinum poderia ser realizada de forma se-
O experimento deverá ser realizado em grupo, de melhante ao que foi feito no experimento? Explique.
forma que cada grupo precisará de duas culturas bacte-
rianas já desenvolvidas. Para isso, colete duas amostras de
locais diferentes e inocule em meio de cultura ágar sim-
ples. Depois, incube e aguarde o crescimento, conforme
já realizado em outros experimentos. Observação: o ágar
simples é um meio de cultura bem generalista, ou seja, ele
permite o crescimento de diversos grupos bacterianos e
de fungos também. Alguns fungos são leveduriformes e se
parecem com colônias de bactérias. ▶ Suponha que a bactéria da amostra testada fosse a
mesma obtida do alimento contaminado da situa-
2. Hipóteses
ção-problema. Essa bactéria poderia ser a Clostridium
Elabore uma hipótese sobre o tipo bacteriano que
botulinum? Explique.
poderá ser encontrado quanto à necessidade de oxigê-
nio que deve estar presente em suas amostras.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saúde


OFICINA MAKER
A automação em exames microbiológicos
Como vimos ao longo deste capítulo, a padronização e a automação dos processos realizados em exames
microbiológicos permitem maior garantia de qualidade, segurança e agilidade na emissão dos resultados. Mas
um problema frequente na rotina de alguns laboratórios é a ausência de identificação da amostra, ou as más
condições de armazenamento, principalmente quando ocorrem grandes campanhas de realização de testes
e coletas fora do ambiente clínico.
Materiais ou amostras dos pacientes sem identificação adequada não devem ser aceitos ou processados,
porque não é possível garantir sua procedência e realizar sua rastreabilidade. Leia o trecho da notícia repro-
duzida a seguir, que retrata o impacto desse problema.

Cerca de 2 mil testes da covid-19 são descartados em SP por falhas na coleta


Esse número representa de 7% a 8% das amostras recebidas para análise nas últimas semanas.
O estado de São Paulo já descartou quase 2 mil exames para o novo coronavírus por falhas na
coleta, armazenamento ou identificação dos testes. Esse número representa de 7% a 8% das amostras
recebidas para análise nas últimas semanas, segundo o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.
Segundo Covas, de um universo de 24 mil exames encaminhados para diagnóstico, algo entre
1 700 e 1 900 não puderam ter resultado por não estarem em condições adequadas para análise.
[...]
Falha na identificação do paciente também foi encontrada pelos laboratórios e amostras nes-
sa situação também são canceladas.
“Tivemos amostras contaminadas, que não foram coletadas de forma adequada. Quem coletou
não tomou as medidas recomendadas ou contaminou a amostra.” – relatou Dimas.
O diretor do Instituto Butantan disse que o governo passará a rejeitar amostras com problemas
62 no momento do protocolo delas.
[...]
CERCA de 2 mil testes da covid-19 são descartados em SP por falhas na coleta. Último Segundo, 30 abr. 2020. Disponível
em: https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2020-04-30/cerca-de-2-mil-testes-da-covid-19-sao-descartados-em-sp-por-
falhas-na-coleta.html. Acesso em: 11 nov. 2020.

Como se pode perceber, a falta de identificação adequada pode trazer grandes prejuízos para os labo-
ratórios de análises clínicas, assim como para a população. O objetivo da atividade proposta nesta seção é
o desenvolvimento de uma solução em automação que minimize a ocorrência desse problema. Para isso,
reúnam-se em grupos e sigam as etapas descritas a seguir.
1. Levantamento
Primeiro, identifiquem o contexto do problema apresentado. Para isso, elaborem um roteiro de entrevista
e tentem agendar uma conversa com um profissional que trabalha com análises clínicas para entender como
os exames são realizados, como são identificados e quais são os procedimentos para a coleta de amostras em
situações em que há um elevado número de testes a serem realizados e em ambientes fora da clínica.
2. Busca por soluções
Realizem uma pesquisa sobre possíveis soluções que já existem no mercado, ou em outras áreas, mas
que sejam aplicáveis para o contexto da atividade, e proponham uma solução menos custosa em relação às
soluções já existentes.
3. Desenvolvimento de protótipo
O protótipo é um modelo preliminar criado com o objetivo de testar um produto ou serviço. Ele é
construído para a apresentação de ideias ou para a realização de testes. Nesta etapa, vocês não precisarão
chegar ao produto em seu estado final, mas o modelo ou proposta deve refletir o que vocês pesquisaram e
elucidar qual é a ideia do produto.
4. Apresentação das propostas
As propostas e os protótipos elaborados devem ser apresentados para as demais equipes e, a partir das
apresentações, vocês podem discutir melhorias que possam ser efetivadas ou realizem a fusão de propostas
que se complementem.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


Agora vamos fazer uma pausa para refletir sobre todo o aprendizado adquirido ao longo deste
capítulo. Assinale como você se sente em relação ao desenvolvimento das habilidades trabalhadas nele.

Habilidades da matriz
Desempenho
Habilidades específicas
Sim Parcialmente Não
H17 – Aplicar os conceitos da Química, da Física e da Biologia na
compreensão de fenômenos naturais e na resolução de situações-
-problemas presentes nos contextos cotidianos e característicos das
Ciências da Terra e da Microbiologia.
Sou capaz de aplicar conceitos relacionados à Biologia, principalmente os que
se referem à identificação bacteriana e sua relação com a saúde humana, na
resolução dos problemas propostos no material?
H20 – Empregar procedimentos e práticas de observação,
levantamento de hipótese, experimentação, coleta de dados e
conclusões para resolução de problemas que envolvem os diferentes
aspectos relacionados ao estudo de Microbiologia, Geologia,
Astronomia e Meteorologia.      

FAÇA UMA SELFIE


Emprego procedimentos de observação, levantamento de hipótese, práticas
de cultivo bacteriano, provas bioquímicas de identificação, coleta de dados e
conclusões para resolução de problemas relacionados às áreas de Microbiologia
e saúde?
H26 – Utilizar diferentes técnicas de observação, crescimento,
desinfecção e análise de microrganismos.       63
Utilizo diferentes técnicas de observação, crescimento e análise de bactérias?
H36 – Compreender as relações entre os microrganismos entre si e com
outros seres vivos, em especial os seres humanos.
Compreendo a importância da relação entre bactérias e seres humanos e as      
condições em que o desequilíbrio nessa relação pode ocasionar problemas à
saúde humana?
H41 – Analisar diferentes exames clínicos de modo a compreender
como se dá o diagnóstico de infecções virais e bacterianas.
Sou capaz de analisar os resultados de alguns exames de cultura bacteriana      
e testes bioquímicos, relacionando-os aos principais grupos bacterianos e às
doenças causadas por eles?

Faça um breve resumo explicativo dos conhecimentos que você desenvolveu e aprimorou com
os conteúdos trabalhados neste capítulo.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


2
O PLANETA TERRA
POR DENTRO E POR FORA:
GEOLOGIA E ATMOSFERA
NA
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▶ COMPETÊNCIAS
C2 – Analisar a estrutura do planeta Terra considerando os aspectos geológicos e a ocorrência de fenômenos sísmi-
cos e meteorológicos, de modo a levantar hipóteses e propor soluções para os impactos das ações humanas e
naturais sobre os ambientes.
C3 – Aplicar conceitos, procedimentos e práticas de investigação característicos das Ciências da Natureza na explica-
ção de fenômenos relacionados às Ciências da Terra e à Microbiologia.
▶ HABILIDADES
H10 – Compreender a teoria de deriva continental e de tectônica de placas e suas influências nos fenômenos geoló-
gicos e sísmicos.
H11 – Conhecer as escalas de medida de intensidade e magnitude de terremotos e a classificação de ventos.
H12 – Explicar como se formam os tsunamis, os maremotos e os vulcões, bem como os seus impactos sobre os ambientes.
H15 – Analisar as etapas de formação e extração do petróleo e dos diferentes tipos de rocha, bem como as suas uti-
lizações em processos industriais.
H17 – Aplicar os conceitos da Química, da Física e da Biologia na compreensão de fenômenos naturais e na resolução
de situações-problema presentes nas situações cotidianas em geral e no contexto e nas situações característi-
cas das Ciências da Terra e da Microbiologia.
H20 – Empregar procedimentos e práticas de observação, levantamento de hipóteses, experimentação, coleta de da-
dos e conclusões para a resolução de problemas que envolvem os diferentes aspectos relacionados ao estudo
de Microbiologia, Geologia, Astronomia e Meteorologia.
H21 – Explicar os fenômenos naturais sob a perspectiva das relações entre matéria, vida e energia, considerando os
diferentes contextos das Ciências da Terra e da Microbiologia.

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