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CAPÍTULO Competências

1
C3 e C4
Habilidades
H17, H19, H20,
H26, H30, H36,
H37 e H41
Diversidade bacteriana e
seu impacto na saúde

KHAMKHLAI THANET/SHUTTERSTOCK

CONECTAR
A diversidade bacteriana, assim como a de outros microrganismos, ainda é pouco
conhecida. A caracterização desses organismos é melhor descrita para os grupos
que podem causar doenças em seres humanos e em animais, ou para os que
atingem plantas de interesse econômico e agrícola. Aproximadamente, 30 000
espécies já foram isoladas e formalmente nomeadas, entretanto acredita-se que
esse número seja muito maior.
Ao coletarmos e cultivarmos uma amostra biológica de um indivíduo acometido
por uma enfermidade, podemos visualizar colônias com características distintas.
Mas como podemos distinguir e identificar os diferentes tipos bacterianos?
DIVERSIDADE BACTERIANA E MICROBIOTA HUMANA
As bactérias são microrganismos unicelulares bastante abundantes e diversos – em
relação à sua morfologia –, podendo existir na forma esférica, cilíndrica e helicoidal.

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Diferentes formas de bactérias encontradas na

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natureza, observadas por meio de microscopia

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eletrônica e coloridas por computação. Acima,
podemos observar, à esquerda, a bactéria

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esférica Enterococcus faecalis, visualizada com
aumento de 30 000x; e, à sua direita, a bactéria

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cilíndrica Mycobacterium leprae, em aumento

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de 4 000x. Abaixo delas, a bactéria helicoidal TO
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Helicobacter pylori, com aumento de 15 800x. Y/FOT


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A

Além da diversidade morfológica, esses microrganismos apresentam ampla variedade


nutricional e fisiológica e podem sobreviver em diferentes habitats, como, por exemplo,
nas geleiras da Antártida e no corpo de seres humanos e de outros animais. Dessa forma, as
bactérias se relacionam e influenciam nas demais formas de vida, bem como na constituição
física e química de nosso planeta.
JOHAN ORDONEZ/AFP/GETTY IMAGES

Cientistas coletando amostras de bactérias oriundas da Antártida.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


A microbiota e seu papel na saœde humana
De modo geral, quando lemos ou ouvimos a palavra bactéria, como nas propagandas
de sabonetes e desinfetantes, é comum associarmos esse termo a microrganismos que têm
um papel exclusivamente patogênico, causando doenças em outros seres vivos. No entanto,
as bactérias não patogênicas, ou seja, as que não causam doenças, são as mais comuns e as
que podem oferecer diversos benefícios ao seu hospedeiro. O conjunto de bactérias e de
outros microrganismos, como fungos, arqueias e vírus, que residem naturalmente dentro de
um organismo, e sem causar doenças, é denominado microbiota.
Praticamente todos os sistemas do corpo humano possuem uma microbiota especí-
fica, sendo que as bactérias representam, juntas, cerca de 90% das células que compõem
o nosso organismo. O convívio desses microrganismos com os nossos tecidos gera bene-
fícios para o corpo. Por exemplo: a pele, por ser o maior órgão do corpo humano e o mais
exposto ao ambiente, pode abrigar uma imensa diversidade de bactérias. Essa microbiota
residente na pele protege o corpo contra a invasão de outros microrganismos que podem
causar doenças.

Principais representantes da microbiota humana

LEONELLO CALVETTI/SCIENCE PHOTO LIBRARY/GETTY IMAGES


Vias aéreas superiores:
Boca:
espécies de Staphylococcus,
espécies de Actnomyces,
Streptococcus, Haemophilus e
8 Streptococcus e Lactobacillus.
Prevotella.

Pele:
espécies de Staphylococcus,
Corynebacterium e
Acinetobacter.

Intestino:
espécies de Bifidobacterium,
Bacteroidetes, Enterococcus e
Firmicutes.

Vagina:
espécies de Lactobacillus,
Prevotella e Streptococcus.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


O trato respiratório superior (narinas e laringe) e a boca também pos-
suem microbiota característica. As bactérias residentes nesses locais, além

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de desempenharem o papel de barreira protetiva contra microrganis-

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mos patogênicos, ajudam na produção da secreção que aprisiona e

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A /S
dificulta a disseminação de bactérias que poderiam causar proble-

CIEN
mas à saúde humana.

CE PHOTO LIBR
Entre os grupos de microrganismos mais estudados, os conjun-
tos de bactérias residentes no sistema genital feminino e no intestino
são os mais conhecidos. Na vagina, a microbiota residente metaboli-

ARY
za carboidratos, sendo que esse processo leva à produção de ácidos,

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como o ácido lático, que diminui o pH vaginal e previne a proliferação

AR
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A
de outras bactérias que não são espécies residentes da microbiota normal
do órgão e podem levar ao desenvolvimento de doenças.
Talvez o fato mais curioso e fascinante sobre esse assunto seja a descoberta Bactérias de forma cilíndrica
de que a microbiota pode ser herdável, ou seja, pode ser transmitida de mãe para isoladas da cavidade
filho(a). Mas como isso acontece? Por meio do parto normal (ou parto vaginal) e da amamenta- vaginal e visualizadas
ção materna. Durante o parto normal, o bebê é colonizado pelas bactérias residentes na vagina em microscópio de luz.
Aumento de 1 600x.
da mãe. E, por meio da amamentação, ele também recebe microrganismos benéficos presentes
no leite materno. Esses são os primeiros contatos que temos com microrganismos depois do
nascimento. Essas bactérias benéficas irão colonizar principalmente o intestino do recém-nas-
cido, e lá devem perpetuar durante toda a vida. Essa influência na formação da microbiota
está entre os fatores mais importantes ligados ao parto normal e à amamentação.
Por fim, o intestino, que é o órgão que abriga o maior número de espécies

KIN
bacterianas, tanto em quantidade quanto em diversidade. Nesse órgão, as bac-

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térias têm a função de auxiliar na digestão de carboidratos e na formação do

RIT I
MAGE ROOM/SHUTTER
bolo fecal. A microbiota intestinal é o foco de intensas pesquisas na área da
saúde. Os diversos estudos realizados evidenciaram que ela apresenta variadas
funções, como, por exemplo, agir na maturação do sistema imunológico, por 9
meio da estimulação da produção de anticorpos, e no controle do metabolis-
mo, influenciando na saciedade e no ganho de peso.

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CK
BARA RESCHIF/SHUTTERSTOCK

A amamentação é um
dos meios pelos quais
a microbiota materna é
transmitida para as crianças.

Representação
da localização
da microbiota
intestinal no
intestino grosso.

OUTROS LINKS
O biólogo e professor da Universidade de São Paulo Christian Hoffman explica, no vídeo Ciência
USP Responde: Quantas bactérias vivem em nosso corpo?, do Canal USP, como as bactérias
atuam de modo benéfico para a nossa existência. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=PPwDUqsNTsQ. Acesso em: 5 nov. 2020.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


LEITURA COMPLEMENTAR

Praticar exercício altera o funcionamento da microbiota, diz estudo


Cientistas da Universidade de Illinois, nos EUA, relacionaram dois grandes responsáveis pela saúde
do corpo: as bactérias do intestino e a prática de atividades físicas. De acordo com os pesquisadores, o
exercício pode alterar a composição e a forma como os trilhões de micróbios do intestino agem. [...]
Os cientistas fizeram exames de sangue e de fezes nos voluntários e pediram para que os participan-
tes realizassem exercícios físicos três vezes por semana. A dieta deles não foi alterada.
Após seis semanas, os pesquisadores coletaram mais amostras e pediram para que os voluntários
parassem de se exercitar. Depois de outras seis semanas, os testes foram repetidos.
Os resultados das análises mostraram que a microbiota dos participantes foi alterada durante o
experimento e até os genes de certos microrganismos sofreram mudanças: alguns passaram a trabalhar
mais pesado e outros, mais devagar.
De acordo com os cientistas, houve um aumento na quantidade de micróbios que podem ajudar a
produzir substâncias chamadas ácidos graxos de cadeia curta. Acredita-se que eles ajudam a reduzir a
inflamação no intestino e no resto do corpo. Também trabalham para combater a resistência à insulina,
um precursor da diabetes, e reforçam nosso metabolismo. [...]
Surpreendentemente, após os participantes pararem de se exercitar, as alterações no intestino se
dissiparam. [...]
PRATICAR exercício altera o funcionamento da microbiota, diz estudo. VivaBem, 3 jan. 2018. Disponível em:
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2018/01/03/praticar-exercicio-altera-o-funcionamento-da-microbiota-
diz-estudo.htm#:~:text=Praticar%20exerc%C3%ADcio%2altera%20o%20funcionamento%20da%20microbiota%2C%
20diz%20estudo,-Imagem%3A%20iStock&text=Cientistas%20da%20Universidade%20de%20Illinois,a%20pr%C3%
A1tica%20de%20atividades%20f%C3%ADsicas. Acesso em: 5 nov. 2020.

Atividade
1 Como vimos, a microbiota humana é muito importante para o funcionamento adequado de nosso organis-
10 mo, porém vários fatores podem afetar o conjunto de microrganismos que a compõe. A sua tarefa será:
▶ investigar quais medidas podemos tomar para mantermos a microbiota protegida;
▶ divulgar esses dados por meio de um mural digital da turma, em que cada um poderá postar as informa-
ções encontradas. Você pode pensar em diferentes formas de divulgar os seus resultados: vídeo, áudio,
cartilha, texto, infográfico, cartaz ou qualquer outra forma que achar interessante.

PRATICANDO

1 Leia o trecho da matéria reproduzido abaixo e faça o que se pede.

Problemas na microbiota são gerados do parto à alimentação


[...] A microbiota intestinal é parte do complexo sistema que envolve células e tecidos, e um
desequilíbrio nesse ecossistema — conhecido como disbiose — pode significar o aparecimento de
inúmeras enfermidades, de um simples resfriado a doenças autoimunes e câncer, porque também
está intimamente relacionado com a imunidade.
[...] Como a microbiota se desenvolve completamente nos três primeiros anos de vida, tudo que
permeia o crescimento saudável causa consequências para toda a vida. “Se essa criança não se ama-
mentar, não nasce de parto normal e usa muito antibióticos, a microbiota, a partir daí, já fica dese-
quilibrada. Isso pode levar a um risco de doenças tanto intestinais quanto extraintestinais”, comple-
ta Barbuti. Enquanto adulto, pode-se alterar a microbiota e causar problemas devido a uma série de
costumes, por exemplo, o uso de antibióticos. [...]
PROBLEMAS na microbiota são gerados do parto à alimentação. Jornal da USP no Ar. 8 fev. 2019. Disponível em:
https://jornal.usp.br/atualidades/problemas-na-microbiota-sao-gerados-do-parto-a-alimentacao/. Acesso em: 5 nov. 2020.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


a) Explique qual a relação entre o parto normal e a amamentação e o desenvolvimento de uma microbiota saudável.

b) Cite pelo menos duas funções exercidas pela microbiota do nosso organismo que justificam a preocupação
em mantê-la saudável, como apontado na notícia.

2 É comum assistir na televisão ou ver nas redes sociais propagandas de sabonetes e outros produtos que prome-
tem eliminar uma porcentagem alta das bactérias, resultando em uma pele limpa e saudável. Com base nessa
informação e no que você aprendeu, responda.
a) Com o uso contínuo desse tipo de sabonete, seria possível eliminar a maioria das bactérias do nosso corpo?

b) Eliminar todas as bactérias presentes em nosso corpo seria algo benéfico para o organismo?

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c) Agora é sua vez, crie uma propaganda para esses tipos de sabonetes que esteja de acordo com o que você
aprendeu. Você pode usar alguns programas de criação e edição de imagem ou utilizar as suas habilidades de
desenho. Não se esqueça de inserir um slogan e um pequeno trecho explicativo sobre como o sabonete atua.

DESAFIO

Leia o trecho da notícia reproduzido abaixo e responda.

Transplante de fezes é alternativa para tratar infecção intestinal


[...]
Diversos tipos de bactérias, tanto benéficas como patógenas, vivem naturalmente no nosso intes-
tino desde o primeiro ano de vida. O problema ocorre quando algum desequilíbrio provoca a reprodu-
ção de bactérias Clostridium difficile, capazes de ocasionar infecções e afetar o bom funcionamento do
trato intestinal. Fatores como o uso exagerado de antibióticos e deficiência do sistema imunológico
podem contribuir para esse desarranjo.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


Se não houver tratamento o quanto antes, as toxinas das Clostridium difficile podem causar infla-
mação no intestino grosso (colite). O paciente costuma apresentar sintomas como diarreia, fezes com
sangue e febre. Em casos raros, a bactéria pode causar infecção no revestimento das paredes do abdômen
(peritonite), sepse e perfuração do cólon. [...]
Para conter a infecção, a primeira tentativa usualmente é o uso de antibióticos. Quando eles não
são suficientes, pode ser indicado o transplante de microbiota fecal. [...]
BRAZ, Runa. Transplante de fezes é alternativa para tratar infecção intestinal. Portal Drauzio Varella. Disponível em:
https://drauziovarella.uol.com.br/gastroenterologia/transplante-de-fezes-e-alternativa-para-tratar-infeccao-intestinal/.
Acesso em: 5 nov. 2020.

a) Como a transferência de fezes de um doador para um paciente pode ajudar no combate às bactérias
Clostridium difficile?

b) Como pode ser evitado o risco de transmissão de doenças durante o processo de transplante? Se ne-
cessário, pesquise informações adicionais para elaborar a resposta.

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ESTRUTURA DA CÉLULA BACTERIANA E


CLASSIFICAÇÃO A PARTIR DA COLORAÇÃO DE GRAM
As bactérias são espécies procarióticas e compartilham características muito diferen-
tes das encontradas em células de organismos eucariotos. Por exemplo: enquanto a célula
eucariótica é composta por organelas, as quais são compartimentos envoltos por membra-
na – como a mitocôndria, o núcleo e o retículo endoplasmático –, as células bacterianas
apresentam organização muito mais simples e são desprovidas dessas estruturas.
Estruturas de células procarióticas e eucarióticas
DESIGNUA/SHUTTERSTOCK

Complexo
golgiense

Ribossomos
Mitocôndria
Lisossomo
Núcleo
Nucleoide
Comparação entre a Mesossomo
organização e as estruturas Plasmídeo
Retículo
presentes em uma célula Cromossomo
endoplasmático
bacteriana (eucariótica), à
esquerda e em uma célula 0.1-10 μm 10-100 µm
eucariótica animal, à direita.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


Apesar de as bactérias apresentarem uma organização celular mais simples que a dos
organismos eucariotos, existe uma única exceção: seu envelope celular é muito mais complexo.
Ele é composto não só pela membrana plasmática, mas também por estruturas adicionais,
como a parede celular e, em alguns grupos bacterianos, uma segunda membrana.
A membrana plasmática das bactérias, assim como a dos eucariotos, também consiste
em uma bicamada fosfolipídica com proteínas e complexos proteicos (estruturas formadas
por dois ou mais tipos de proteínas) inseridos. Diferentemente dos eucariotos, ela não con-
tém carboidratos e esteróis. Sua função principal é a seletividade de compostos que entram
e saem da célula.
A parede celular bacteriana é uma estrutura que circunda a membrana plasmática. Ela
consiste em uma camada de peptidoglicano, polímero complexo formado por proteínas
e carboidratos. Algumas células eucarióticas também apresentam parede celular (como as
que compõem plantas, fungos e algas); entretanto, elas diferem quimicamente da parede
bacteriana, sendo mais simples estruturalmente e menos rígidas. A parede de peptidoglicano
é crucial para a resistência e permanência bacteriana nos mais diversos habitats. Essa estru-
tura sustenta a membrana plasmática das bactérias, pois, diferentemente dos eucariotos, o
citosol das bactérias é bastante concentrado em solutos que elevam a pressão osmótica e
podem provocar a ruptura da célula.

ALILA MEDICAL MEDIA/SHUTTERSTOCK


Peptidoglicano

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Membrana plasmática
Proteínas da membrana

Citosol

Representação esquemática da composição do envoltório celular bacteriano


formado por membrana plasmática e camada de peptidoglicano.

A natureza da camada de peptidoglicano é a mesma em todas as espécies bacterianas.


No entanto, a espessura e a disposição dessa camada variam entre elas. Essa variação é uma
das características-chave que diferenciam quase todas as espécies de bactérias em dois
grandes grupos: as Gram-positivas e as Gram-negativas.
O envelope celular das bactérias Gram-positivas é composto pela membrana plas-
mática e uma camada de peptidoglicano bem espessa. Outra característica importante é
que o envelope celular das Gram-positivas apresenta o polímero ácido lipoteicoico, o qual
possui ligações tanto na membrana plasmática quanto na camada de peptidoglicano. Já as
bactérias Gram-negativas, além de apresentarem a membrana plasmática, contam também
com uma segunda membrana, conhecida como membrana externa, que é composta por
fosfolipídios e lipopolissacarídeos. A espessura da camada de peptidoglicano também é
distinta entre esses grupos, sendo bem mais fina nas Gram-negativas. A estrutura do enve-
lope celular é a principal diferença morfológica entre esses dois grandes grupos de bactérias.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


Gram-negativa Gram-positiva

DESIGNUA/SHUTTERSTOCK
Membrana
externa

Peptidoglicano

Membrana
citoplasmática

Representação da parede celular de uma bactéria Gram-negativa (à esquerda) e de uma Gram-positiva (à direita).

Essa nomenclatura foi criada no ano de 1884 pelo bacteriologista dinamarquês


Hans Gram (1853-1938), ao corar bactérias isoladas de plantas com os seguintes
corantes: o cristal violeta, que, como descrito em seu nome, possui uma cor roxa
A
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bem intensa, e o corante safranina, de cor vermelha. Essa coloração é chamada


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OTO LIBRARY/FOTO

de coloração de Gram e é amplamente utilizada para o diagnóstico de infecções


bacterianas até os dias de hoje.
Basicamente, essa técnica consiste em espalhar a amostra bacteriana em
uma lâmina para microscópio e corar, primeiro, com uma solução de corante
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cristal violeta com iodo, cuja carga é positiva. Esse corante liga-se aos com-
NC IE
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ponentes de carga negativa da parede celular das bactérias, colorindo-as com


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a cor roxa. Em seguida, lava-se a lâmina com álcool, para descorar. As bactérias
Gram-positivas retêm o corante cristal violeta-iodo, pois a espessura da parede de
O bacteriologista peptidoglicano não permite que o álcool a atravesse e remova o corante cristal violeta.
Hans Gram (1853-1938). Ao contrário das Gram-positivas, as bactérias Gram-negativas são descoradas com o álcool,
e, dessa forma, quando se adiciona o segundo corante, a safranina, as bactérias se colorem
com a cor avermelhada do corante, diferenciando-as das Gram-positivas.

Etapas da coloração de Gram

KALLAYANEE NALOKA/SHUTTERSTOCK

Cristal Solução
violeta de Iodo

Gram-negativa

Gram-positiva
Safranina Lavagem com
(contra-corante) álcool (descorar)

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


RI
C HA
Essa diferença estrutural que Hans Gram descobriu não é importante apenas para a

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caracterização morfológica das bactérias. Na verdade, foi descoberto anos depois que

GR
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essas propriedades morfológicas se correlacionam com uma divisão filogenética, ou

/SCIENCE SOURC
seja, as bactérias Gram-positivas são geneticamente mais semelhantes entre si que
com as Gram-negativas, e vice-versa. A compreensão da divergência de característi-
cas genéticas e morfológicas entre esses dois grandes grupos foi crucial para entender

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como acontece a infecção, o desenvolvimento e o tratamento de doenças bacterianas,

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O
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RE
como veremos nos próximos tópicos deste capítulo. NA

Microscopia de luz de
O PAPEL DAS BACTÉRIAS NAS DOENÇAS bactérias Gram-positivas
(roxo) e Gram-negativas
As bactérias surgiram em nosso planeta há milhões de anos, muito antes de nós, se- (avermelhadas). Aumento
res humanos, ou de quaisquer outros animais. Sendo assim, podemos imaginar que o ser de 2 800x.
humano sempre esteve em um contato muito próximo com esses microrganismos, resul-
tando em relações benéficas, como na formação da microbiota, e prejudiciais, como no

ANN RONAN PICTURE LIBRARY/ HERITAGE


IMAGES/SCIENCE PHOTO LIBRARY/SCIENCE
PHOTO LIBRARY/FOTOARENA
desenvolvimento de doenças.
Ao longo da história humana, as bactérias causaram epidemias e pandemias que dizi-
maram populações, como, por exemplo, a pandemia de peste bubônica ocorrida no século
XIV. Atualmente, acredita-se que essa pandemia foi causada pela Yersinia pestis, isolada pela
primeira vez apenas em 1894; já que a identificação e a descrição de espécies patogênicas
de bactérias só foram possíveis com o desenvolvimento da Microbiologia. Entre os estudos
que possibilitaram grandes avanços nessa área da ciência, destacamos os realizados por dois
grandes cientistas: Robert Koch (1843-1910) e Alexander Fleming (1881-1955).
Apesar de os microrganismos terem sido descobertos em 1674 por Anton van
Leeuwenhock (1632-1723), foi Robert Koch, um médico e bacteriologista alemão, quem
descobriu, mais de 200 anos depois, que as bactérias podiam ser agentes patogênicos

UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UNIVERSAL


IMAGES GROUP/GETTY IMAGES
transmissíveis. Koch tinha uma vasta experiência em cultivo e classificação de microrganis-
15
mos. Dessa forma, passou a isolar bactérias de diversas amostras provenientes de animais,
plantas e água. Koch isolou a bactéria Bacillus anthracis de animais infectados e descobriu
toda a biologia desse microrganismo, como, por exemplo, os modos de transmissão e os
seus reservatórios naturais. Tais descobertas tiveram um imenso impacto para a época, já
que, ao desvendar como as bactérias são transmitidas, a sociedade passou a ser capaz de
identificar e adotar medidas profiláticas.
EVERETT COLLECTION/SHUTTERSTOCK

Os microbiologistas
Robert Koch (1843-1910)
e Alexander Fleming
(1881-1955).

Europeus utilizando máscaras como medida preventiva contra microrganismos no início dos anos 1900.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


A
R EN Após as descobertas de Koch, houve grande expan-
OA
OT
Y /F são no conhecimento sobre as bactérias patogênicas.
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Entre os cientistas dessa área da ciência se desta-

BR
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TO
cou Alexander Fleming, um médico escocês

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que, em um dia comum de trabalho, reparou
NC
CIE
A M/ S que em uma das placas de cultivo contendo
Staphylococcus aureus – bactéria que pode
JOHN DURH

provocar doenças na pele –, havia cresci-


do um fungo como contaminação. Fleming
percebeu que o crescimento da bactéria foi
inibido ao redor desse fungo, e sugeriu que
uma substância produzida por ele poderia
ser responsável pela inibição do crescimento.
Placa de Petri contendo Com suas pesquisas, descobriu-se a penicilina,
cultura de Staphylococcus
aureus e o fungo Penicillium,
um antibiótico produzido pelo fungo Penicillium
produtor da penicilina (colônia notatum, que revolucionou o tratamento de doenças
de coloração branca e formato causadas por bactérias e permitiu a descoberta de outros
arredondado). A seta vermelha antibióticos produzidos por microrganismos.
indica a zona de inibição de
S. aureus pelo antibiótico Décadas de desenvolvimen-

FIZKES/SHUTTERSTOCK
sintetizado pelo fungo. to na área da Microbiologia da
Saúde permitiram avanços, como
a descrição de diversas bactérias
de interesse médico. Por meio
desses conhecimentos acumu-
lados, atualmente, um médico
pode tratar um paciente com
infecção bacteriana apenas a par-
16
tir da avaliação do quadro clínico
do indivíduo, sem a necessida-
de de grandes investigações. Os
avanços nessa área permitiram Os avanços no estudo da Microbiologia permitiram um
também o desenvolvimento de grande desenvolvimento na medicina.
exames com resultados mais rápidos, além de diagnósticos mais precisos, possibilitando o
tratamento das pessoas com mais eficiência.
Entretanto, as doenças causadas por bactérias podem estar relacionadas a diversos fato-
res, e chegar a um diagnóstico preciso às vezes não é tão simples. O desenvolvimento de uma
infecção depende de complexas interações, como a suscetibilidade do hospedeiro à infecção,
o potencial de virulência da bactéria e a oportunidade para a interação entre o hospedeiro e
o agente patogênico. Sendo assim, um jovem adulto saudável pode ser mais resistente a uma
infecção bacteriana que um idoso ou uma criança, cujo sistema imune geralmente é ineficiente
ou imaturo, respectivamente. Portanto, embora os sintomas causados por uma determinada
bactéria sejam semelhantes em diferentes indivíduos, é necessário considerar os diferentes
parâmetros, como a idade, o modo de transmissão e a condição de saúde do paciente.

OUTROS LINKS
Neste capítulo iniciamos a abordagem da Microbiologia da Saúde. Os avanços nessa área
da ciência influenciam profundamente a saúde das populações. Entretanto, sabemos que as
condições de saúde de um povo apresentam causas complexas e multifatoriais. No vídeo A
história da saúde pública no Brasil – 500 anos na busca de soluções, do canal VideoSaúde
Distribuidora da Fiocruz, você encontra informações sobre a história da saúde pública no Brasil
e os fatores que influenciam a qualidade dos serviços prestados para a população. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=7ouSg6oNMe8&index=11&list=PLz0vw2G9i8v8Bx-
0tosyX1uN7ovDJE03-g. Acesso em: 5 nov. 2020.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


PRATICANDO

1 Analise a imagem abaixo, que ilustra parte da parede celular e a membrana plasmática de uma bactéria.
Classifique essa bactéria como Gram-positiva ou Gram-negativa, e justifique sua resposta.

KATERYNA KON/SHUTTERSTOCK
Peptidoglicano

Membrana citoplasmática
Proteínas da membrana

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2 A identificação bacteriana é fundamental, por exemplo,

MYFAVORITETIME/SHUTTERSTOCK
para o estabelecimento de diagnósticos e para o conhe-
cimento dos microrganismos que estão sendo estudados.
Um dos meios para se fazer esse procedimento é a par-
tir de métodos de coloração que permitem diferenciar o
grupo que está sendo analisado. A coloração pode ser-
vir para uma triagem ou para o estabelecimento de um
diagnóstico final associado a outras informações. Uma
das técnicas mais utilizadas é a da coloração de Gram.
Sabendo disso, responda:
a) Essa técnica utiliza qual característica celular para a clas-
sificação diferencial bacteriana? Processo de coloração de Gram em lâmina com
I. A constituição do material genético. amostras de bactérias.

II. A presença de certas organelas.


III. A produção enzimática.
IV. A organização estrutural da parece celular.
b) Para quais tipos de doença a coloração de Gram pode ser utilizada na construção do diagnóstico médico?
Faça uma pesquisa para elaborar a sua resposta. Após essa etapa, crie um mapa mental, utilizando uma
plataforma digital, que reúna as informações exploradas ao longo do capítulo sobre esse método e inclua
as doenças que você identificou em sua pesquisa.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saúde


3 Leia a notícia abaixo e responda:

Cancro mole tem terapia rápida, mas dá para prevenir; conheça os sintomas
[...] regiões mais quentes são facilitadoras da maior ação de microrganismos causadores de doen-
ças. Este é o caso do Haemophilus ducreyi, uma bactéria típica dos trópicos capaz de causar lesões ulce-
rosas na região genital, conhecidas como cancroide ou cancro mole.
O cancroide é uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível) — a transmissão desse hemófilo se
dá por via sexual — e é classificado como uma doença do tipo ulcerativa, isso porque inicia-se com a
formação de bolhas que se rompem formando úlceras (feridas). [...]
Como é feito o diagnóstico? Na hora da consulta, o médico vai ouvir a sua queixa, conhecer seu
histórico de saúde, além de fazer o exame físico para identificar alguma lesão e a presença de íngua.
Como os sintomas desta IST se confundem com outras doenças do mesmo tipo (como a sífilis e o
herpes genital etc.), para confirmar a infecção pelo Haemophilus ducreyi poderão ser solicitados exames
laboratoriais: a coloração de Gram e a cultura dessa bactéria. [...]
ALMEIDA, Cristina. Cancro mole tem terapia rápida, mas dá para prevenir; conheça os sintomas. VivaBem, 18 fev. 2020.
Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/02/18/cancro-mole-tem-terapia-rapida-
mas-da-para-prevenir-conheca-os-sintomas.htm. Acesso em: 5 nov. 2020

a) Um profissional da saúde preparou um cultivo com a amostra biológica coletada do paciente e, ao realizar
a técnica de coloração de Gram, observou o resultado abaixo.

SMITH COLLECTION/GADO/GETTY IMAGES


18

É possível estabelecer o diagnóstico de cancro mole para o paciente? Justifique.


Observação: se necessário, pesquise mais informações sobre a bactéria para elaborar a resposta.

b) Pesquise quais outros procedimentos poderiam ser realizados para auxiliar na confirmação do diagnóstico.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


BACTÉRIAS PATOGÊNICAS
A partir de agora, iremos abordar os diferentes aspectos de grupos importantes de
bactérias que já são bem estabelecidas como patógenos em seres humanos, descrevendo
sua morfologia, sua fisiologia, os mecanismos de patogenicidade e a epidemiologia.
Como vimos no início deste capítulo, as bactérias podem existir na forma esférica,
cilíndrica ou helicoidal. Na linguagem da Microbiologia, essas formas são chamadas de:
cocos (forma esférica), bacilo ou bastonete (forma cilíndrica) e espiroqueta (forma he-
licoidal). Essas características morfológicas, juntamente com a realização de alguns testes
laboratoriais, como a coloração de Gram e o teste da enzima catalase – que identifica se os
organismos apresentam essa enzima –, podem auxiliar no processo de triagem dos grupos
de organismos patogênicos que estão sendo investigados. Esses dados são cruzados com
as suspeitas médicas para o estabelecimento do diagnóstico.

SAKURRA/SHUTTERSTOCK
Cocos Bacilos Outras

Cocos Diplococos Espirilo


Cocobacilos Bacilos
Sarcina
Tétrade Corynebacterium

Diplobacilos

Estreptococos

Vibrios
Estreptobacilo
Estafilococos

Bastonete
19
Espiroqueta

Tipos morfológicos de bactérias e de colônias de bactérias.

Apesar disso, para uma conclusão mais precisa, é necessária, muitas vezes, a realização
de testes moleculares que garantam a identificação da espécie bacteriana em questão, ou
mesmo o reconhecimento de uma determinada cepa, que, de modo simplificado, pode ser
entendida como uma variedade de uma mesma espécie bacteriana.
Veremos, a seguir, que um dos principais grupos de importância clínica são os cocos
Gram-positivos.

COCOS GRAM-POSITIVOS
Os cocos Gram-positivos compõem um grupo bastante heterogêneo de bactérias, no
entanto, podem ser agrupados por compartilharem características como: a forma esférica e
a reação à coloração de Gram. Dentro desse mesmo grande grupo, podemos subdividir os
diferentes gêneros em relação à capacidade ou não de produção da enzima catalase, a qual
converte peróxido de hidrogênio em água e oxigênio. Essa classificação permite um diagnósti-
co mais eficiente, já que estabelece uma divisão do grupo. O grupo catalase-positivo de maior
relevância é o dos estafilococos (Staphylococcus spp.), enquanto os catalase-negativos mais im-
portantes são os dos estreptococos (Streptococcus spp.) e dos enterococos (Enterococcus spp.).

catalase
2H2O2  ▶ 2H2O 1 O2

Reação de conversão do peróxido de hidrogênio em água e oxigênio pela enzima catalase.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saúde


O grupo dos estafilococos multiplica-se em um padrão característico, semelhante a um
cacho de uvas, o que já facilita a identificação do grupo por meio da observação microscó-
pica. Entretanto, amostras coletadas de pacientes infectados por esse gênero de bactérias
também podem apresentar estafilococos como células isoladas ou em pares.

SM

SM
ITH

ITH
C

C
O LL

O LL
ECTIO

ECTIO
N/GADO/GE

N/GADO/GE
Microscopia eletrônica de
varredura de estafilococos
em arranjo de cacho de

TT

TT
uvas (à esquerda) e em

Y IM

Y IM
pares (à direita). Micrografias

AG

AG
ES

ES
visualizadas com aumento
de 30 000x e 80 000x,
respectivamente.

O gênero dos Staphylococcus consiste em 49 espécies já descritas, e geralmente são


encontradas na pele e nas membranas mucosas dos seres humanos. Algumas espécies, como
a S. aureus, uma das mais conhecidas, podem ser encontradas em ambientes bastante espe-
cíficos, como nas narinas. Já a espécie S. capitis é encontrada em glândulas sebáceas da pele.
Embora os estafilococos sejam parte da microbiota normal do nosso organismo, quando
em desiquilíbrio, podem provocar um amplo espectro de doenças, como infecções na pele,
nos tecidos moles, nos ossos e no trato urinário.
Os estafilococos, assim como muitas bactérias, conse-
DR KARI LOUNATMAA/SCIENCE PHOTO LIBRARY/FOTOARENA

guem estabelecer uma infecção e causar doenças por pos-


20 suírem diferentes mecanismos de patogenicidade, ou seja,
o modo como um microrganismo promove uma doença,
que estão intimamente associados à sua fisiologia e à sua
estrutura. A patogenicidade é geralmente mediada por pro-
teínas, conhecidas como fatores de virulência, que estão
presentes no próprio envoltório celular ou no citosol bac-
teriano. Aderida à parede celular, por exemplo, pode existir
uma estrutura adicional rica em polissacarídeos denominada
cápsula. A cápsula tem ação protetora, porque inibe a fa-
gocitose da bactéria por células do sistema imune humano,
evitando que ela seja eliminada e permitindo a colonização
de partes do organismo, como a pele e as mucosas.
Estafilococos produtores de Outro mecanismo de patogenicidade dos estafilo-
cápsula. As setas indicam a cocos são as proteínas de adesão de superfície. Uma única espécie pode possuir uma
espessa cápsula protetora.
Micrografia eletrônica de
coleção dessas proteínas, e elas são importantes fatores de virulência, pois funcionam como
transmissão visualizada uma âncora, permitindo que a bactéria se ligue aos tecidos do hospedeiro e então consiga
com aumento de 24 000x e estabelecer a infecção.
colorida por computação. O espaço intracelular de uma bactéria também é uma fonte de mecanismos de vi-
rulência. No citosol, são produzidas diversas toxinas que serão exportadas ao
SGM/SHUTTERSTOCK

ambiente extracelular e que podem causar danos no hospedeiro. Por exemplo:


S. aureus produz, entre outras, a toxina alfa, que se liga às células do hospedeiro
e as destrói, levando à necrose do tecido infectado.
Diferente dos estafilococos, as bactérias dos gêneros Streptococcus e Enterococcus
encontram-se arranjadas em cadeia. Os grupos estreptococos e enterococos apre-
sentam exigências nutricionais bastante complexas, sendo difícil seu isolamento nas
amostras biológicas. No entanto, com a intensa pesquisa na área da saúde, foi possível
Infecção por S. aureus na pele e quadro isolar e cultivar esses microrganismos em placas enriquecidas com sangue ou soro.
de necrose do tecido.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


Esses dois grandes gêneros também são causa-
dores de diversas doenças que acometem seres
humanos e animais, como, por exemplo, farin-
gite, endocardite, infecções no trato urinário

DIM
ARIO
e bacteremia. Assim como os estafilococos,

N/SHUTTERSTO
as espécies de estreptococos e enterococos
também são beneficiadas por variados me-
canismos de virulência. Na parede celular dos

CK
estreptococos estão presentes proteínas que,
Microscopia de luz de colônia
junto do ácido lipoteicoico, facilitam a ligação de estreptococos organizada
da bactéria na célula hospedeira, permitindo a em cadeia. Visualização com
esses microrganismos invadir a célula eucariótica e, aumento de 1 000x.
assim, iniciar um processo infeccioso.

LAB212
Membrana
da célula
do hospedeiro

Receptor na
célula do
hospedeiro
Ácido lipoteicóico

21

Parede celular Proteína

Membrana
plasmática do
Streptococcus
Parede celular
do Streptococcus
ssp. e processo de
invasão celular.

Os estreptococos ainda produzem e exportam to-


xinas chamadas hemolisinas. Essas substâncias con-
sistem em enzimas capazes de destruir as hemá-
W

cias, um tipo de célula que compõe o sangue


OL
FG

humano. Quando as espécies de estreptococos


ANG
KUM

entram em uma célula hospedeira, a bactéria


M

fica presa dentro do fagossomo – uma espé-


/PICTUR

cie de vesícula que captura corpos estranhos


E ALLIANCE

dentro de uma célula, como microrganismos


invasores. Dentro dos fagossomos, as bacté-
VIA

rias exportam tais hemolisinas, que destroem


GET

essa vesícula. Desta forma, o conteúdo do fa-


YI T
MA

gossomo é liberado no citosol eucariótico e, por


GE

Placa com meio do tipo


S

ser composto por proteínas proteolíticas, destrói ágar-sangue contendo


as organelas citoplasmáticas da célula hospedeira, colônias de espécies de
levando à morte celular. Streptococcus ssp.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


Hemácia. Lise do vacúolo e No citosol, a bactéria O aumento no número de
Vacúolo contendo
liberação da bactéria começa a replicação. bactérias leva à lise e à
Streptococos ssp.
no citosol. morte celular.

LAB212
Processo de lise de células do sangue por uma bactéria do gênero Streptococcus ssp.

Os enterococos possuem a peculiaridade de serem muitos resistentes a ambien-


tes hostis para a maioria das bactérias, como o intestino humano. O intestino é um
ES
AG

local básico e muito concentrado em sais, como o cloreto de sódio e sais biliares,
M
YI
ETT

que se ligam à membrana bacteriana e promovem o seu rompimento. Contudo,


/GADO/G

os enterococos são capazes de sobreviver nesse ambiente devido à sua parede


celular composta por enzimas que hidrolisam esses sais. Embora os enterococos
CTION

não possuam fatores de virulência sofisticados como os dos grupos descritos


LLE

acima, essas espécies são marcadas pela alta resistência a antibióticos.


CO
H
IT

Como vimos até este ponto, já existem muitas espécies de cocos Gram-po-
SM

sitivos descritos como causadores de doenças em seres humanos. Entre as espécies


conhecidas, as mais comuns são: Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes e Entero-
Microscopia de luz de
Enterococcus ssp. corados
coccus faecalis. A Staphylococcus aureus é a principal representante do grupo dos estafilococos
pela coloração de Gram e, por meio da produção de toxinas, pode levar ao desenvolvimento de várias doenças, como
invadindo células do infecções cutâneas e a síndrome da pele escaldada, que acomete principalmente recém-nasci-
hospedeiro. dos e crianças pequenas, sendo caracterizada pelo aparecimento de vermelhidão e inflamação
22
ao redor da boca. Em poucos dias, a doença se espalha por todo o corpo do
ZAY NYI NYI/SHUTTERSTOCK

indivíduo, levando à formação de bolhas e à escamação da pele. As infecções


cutâneas provocadas por S. aureus podem ocorrer de variadas formas, como:
foliculite, furúnculos e carbúnculos. Tais manifestações apresentam uma região
da pele inchada no início, podendo evoluir para nódulos purulentos com fissura.
Streptococcus pyogenes também é um patógeno que causa lesões cutâneas,
como a fascilíte necrosante. Essa doença se inicia no tecido subcutâneo, po-
rém pode disseminar-se rapidamente, atingindo o músculo e o tecido adiposo,
podendo levar a uma infecção generalizada. Sendo assim, é importante que o
microrganismo seja rapidamente identificado e que a doença seja tratada com
antibióticos adequados. O Enterococcus faecalis também é um patógeno impor-
tante por ser bastante comum em infecções hospitalares. O trato urinário é o
Infecção cutânea provocada local mais comum de infecção por E. faecalis, e a infecção, caso não seja tratada corretamente,
por S. aureus.
pode evoluir para uma endocardite, uma infecção que acomete o coração.
Os estafilococos são microrganismos amplamente distribuídos entre os seres humanos,
já que fazem parte de nossa microbiota natural. Portanto, qualquer indivíduo é portador
dessas bactérias. No entanto, a manifestação clínica de doenças ocorre quando um indi-
víduo apresenta um sistema imune descompensado, o que permite que o patógeno se
multiplique sem resistência. Os estreptococos, como o S. pyogenes, são transmitidos de
pessoa para pessoa por meio de gotículas de saliva. Sendo assim, aglomerações, tais como
as salas de aula, aumentam a sua disseminação, principalmente durante o inverno, quando
as pessoas estão acostumadas a permanecer por mais tempo em locais fechados.
Por fim, os enterococos são transmitidos por meio das fezes. Como o próprio nome do
gênero sugere, esses microrganismos são bactérias entéricas, ou seja, que habitam o intesti-
no. A transmissão ocorre quando um indivíduo precisa realizar algum procedimento médico
que faz uso de cateteres, sendo o cateter contaminado o responsável por levar os entero-
cocos a um local onde possam estabelecer doenças, como no trato urinário, por exemplo.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


PRATICANDO

1 Na rotina de um laboratório de análises clínicas, é comum o uso de fluxogramas com a finalidade de estabelecer
um padrão de testes para se identificar o organismo presente em uma determinada amostra. Analise o fluxogra-
ma abaixo que esquematiza como identificar o Staphylococcus e responda.

LAB212
23

FLUXOGRAMA para identificação de Staphylococcus. Anvisa. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/


boas_praticas/modulo4/fluxo_sta.htm. Acesso em: 5 nov. 2020. (Adaptado.)

a) Um dos testes presentes no fluxograma é a prova de catalase. O que esse teste permite identificar?

b) Segundo o fluxograma, qual é a morfologia dos Staphylococcus?

c) A partir da análise do fluxograma, como é possível diferenciar Staphylococcus de Streptococcus?

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


2 Um técnico de laboratório recebeu duas amostras bacterianas, uma delas de estafilococos (à esquerda) e outra,
de enterococos (à direita). As amostras estavam sem identificação, e ele foi orientado a realizar algum teste para a
correta identificação das amostras. Observe as imagens obtidas pelo técnico e responda a seguir.
BIOP
H OT
O
AS
S

O
CI
AT
IM

ES
BL

/SC
INK

IEN
1997

CE SOURCE
/SHUTTER
STO

/ FO
TO
CK

AR
E
N
A

À esquerda, microscopia de luz de Staphylococcus ssp. com coloração de Gram (aumento


de 400x). À direita, microscopia de luz de Enterococcus ssp. com coloração de Gram
(aumento de 500x).

a) O técnico seria capaz de identificar as amostras por meio do uso da coloração de Gram? Justifique.

b) Que outro procedimento o técnico poderia realizar para identificar as amostras? Justifique.

24

3 A morfologia das células bacterianas é muito importante para a diferenciação dos grupos. Essas características serão
utilizadas em diversos momentos ao longo do ano letivo. Nesta atividade, vocês devem criar materiais que facilitem
as consultas que serão realizadas pela turma ao longo do ano. Para isso, faça o que se pede nos itens a seguir.
a) Crie modelos tridimensionais que representem os diferentes grupos morfológicos bacterianos. Escolha os
materiais mais adequados e não se esqueça de identificá-los.
b) Produza placas de identificação para cada grupo morfológico, insira os principais gêneros bacterianos que
possuem essa morfologia e identifique se eles são Gram-positivos ou Gram-negativos.

AR
Y/F
OT
OAR
EN A
BACILOS GRAM-POSITIVOS
BR
LI

Os bacilos Gram-positivos compreendem uma gama gigantesca de gêneros bacteria-


TO
HO

nos, muitos deles de importância clínica. Diferentemente dos cocos, os bacilos apresentam
EP
PY/SCIENC

forma cilíndrica e mais semelhanças genéticas entre si que com cocos Gram-positivos. Entre
os gêneros representantes de maior importância médica, destacam-se o gênero Bacillus,
OSCO

chamados usualmente de bacilos, e o gênero Listeria.


O gênero Bacillus é representado por bactérias de grandes dimensões, apresentando
ICR M
EL

em média 3 µm (cinco vezes maior que os cocos), e podem ser encontrados isoladamente
NK
U

K
NI
S
DE
N ou aos pares. As espécies patogênicas desse gênero podem causar infecções letais, devido à
presença de uma cápsula que inibe a fagocitose por células imunes; além disso, apresentam
Microscopia eletrônica de
bacilos do gênero Listeria
proteínas ancoradas na parede celular, o que permite a aderência aos tecidos. Uma carac-
corados artificialmente. terística comum dos bacilos é a de formar endósporos quando a bactéria se encontra em
Aumento de 3 000x. ambientes adversos. Os endósporos são uma forma modificada da bactéria, com fisiolo-

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


gia alterada de tal forma que se torna extremamente resistente e SC
IE
N
não exibe crescimento. Trata-se de estruturas de sobrevivência,

CE
SO
que permitem ao organismo resistir a extremos de tempera-

URC
E/
tura, dessecamento e escassez de nutrientes. Dessa maneira,

FOTOARENA
quando a bactéria se encontra novamente em um ambiente
favorável, como o organismo humano, ela reativa seu me- Microscopia eletrônica
tabolismo e volta ao seu estado vegetativo, que é capaz de de transmissão de
desenvolver doenças. endósporos de B.
subtilis. Visualizada em
O gênero Listeria também é formado por bacilos Gram-po- aumento de 170 000x.
sitivos causadores de doenças. Esse gênero apresenta bactérias não
produtoras de endósporos, mas que possuem a capacidade de crescer em
uma ampla faixa de temperatura (1 ºC a 45 ºC). Diferentemente dos Bacillus, apresenta vários
flagelos associados na parede celular, o que permite a locomoção da bactéria no processo
de invasão da célula hospedeira.
Agora que já sabemos algumas características impor-

KATERYNA KON/SHUTTERSTOCK
tantes das bactérias classificadas como Bacillus e Listeria, ve-
remos, a seguir, as principais espécies desses gêneros de ba-
cilos Gram-positivos patogênicos de importância médica.
Neste capítulo, já comentamos sobre o Bacillus an-
thracis, que foi a primeira bactéria patogênica descoberta
por Robert Koch. Essa espécie é a responsável pela doença
denominada antraz, que pode se manifestar na pele, nas
vias respiratórias e no trato intestinal. A contaminação por
B. anthracis desenvolve uma infecção aguda que pode ra-
pidamente levar o indivíduo à morte, devido à infecção
generalizada. O Bacillus cereus, embora bastante próximo
geneticamente do B. anthracis, ocasiona doenças menos Representação de bactérias
graves, como intoxicação alimentar e infecções oculares, das quais, com o tratamento adequa- do gênero Listeria e seus 25
do, com antibióticos, o indivíduo infectado consegue se recuperar mais facilmente. vários flagelos.
B. cereus e B. anthracis infectam humanos principalmente a partir da ingestão de ali-
mentos de origem animal ou vegetal contaminados, mas a infecção pode ocorrer, também,
quando as pessoas inspiram os esporos dessas bactérias, ou quando estes penetram a pele
através de um corte. Veja na imagem abaixo como isso ocorre.
FOTOMONTAGEM A PARTIR DE: BSIP, 06PHOTO/SHUTTERSTOCK E CDC/SCIENCE SOURCE/FOTOARENA

1 A bactéria 2 Ao serem ingeridos e em condições ideais de


Bacillus anthracis disponibilidade de água e nutrientes, esses
é naturalmente esporos podem ser ativados, e as bactérias
encontrada no podem se multiplicar.
solo e produz
esporos que
podem resistir por
um longo período.

3 Com a propagação das


bactérias, ocorre a produção
de toxinas que provocam a Transmissão de
intoxicação do organismo. B. anthracis,
causador da antraz.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


Animais domésticos também podem ser contaminados por esses bacilos, e transmiti-
OUTROS LINKS -los aos seres humanos. Atualmente, a doença é um problema sério, devido à sua gravidade,
Bactérias da espécie principalmente em países onde a vacinação de animais domésticos não é praticada ou não
Bacillus anthracis, cau- é possível. Entretanto, a transmissão entre seres humanos é baixa.
sadoras da antraz já A espécie de maior importância médica do gênero Listeria é a L. monocytogenes, agente
foram utilizadas como
causadora da doença listeriose. Em adultos saudáveis, a listeriose provoca sintomas leves se-
armas biológicas em
ataques bioterroristas melhantes a uma gripe. Contudo, em fetos e bebês recém-nascidos, pode levar ao desenvol-
em 2001, nos Estados vimento de complicações, como a evolução da infecção para abscessos (estruturas em forma
Unidos. Para conhecer de bolsa que acumulam pus), e granulomas (nódulos resultantes de processos inflamatórios)
mais detalhes sobre em vários órgãos, ocasionando inclusive a perda de função da parte infectada do organismo.
o conceito de armas
biológicas e como A transmissão da listeriose é um problema sério e comum, uma vez que a L. monocyto-
os microrganismos genes pode ser transmitida por meio de diversas fontes, como a partir de fezes de mamíferos,
foram utilizados em aves, peixes e outros animais. A fonte primária de contaminação é o consumo de alimentos
estratégias de guerra contaminados. Todavia, pode ocorrer a transmissão vertical, que ocorre em mulheres grávidas
ao longo da história,
assista ao vídeo Armas
– da mãe contaminada para o filho, no útero. Como já mencionado, esse gênero apresenta
Biológicas, do canal grande resistência a variações de temperatura e a condições adversas, gerando prejuízos para
Nerdologia. Disponí- a indústria alimentícia devido à contaminação de toneladas de alimentos anualmente.
vel em: https://www.

NOVIKOV ALEKSEY/SHUTTERSTOCK
youtube.com/wat
ch?v=u2xey4wqZIg&
t=179s. Acesso em: 3
nov. 2020.

Biomédico utilizando roupas


de segurança máxima para a
manipulação de microrganismos
muito virulentos, ou seja, com
26 alto grau de patogenicidade,
como o B. anthracis.

BACILOS GRAM-NEGATIVOS NÃO FERMENTADORES


Como já vimos neste capítulo, as bactérias Gram-negativas possuem uma membrana
adicional em relação às Gram-positivas, denominada membrana externa, além de estrutu-
ras exclusivas do grupo, como lipopolissacarídeo e uma fina camada de peptidoglicano.
As Gram-negativas patogênicas são quase sempre bacilos, diferente das Gram-positivas, cuja
morfologia é mais variável. Entre os grupos dos não fermentadores de importância médica,
destacam-se os gêneros Pseudomonas e Burkholderia.
JUN
K M
T/SHUTTERSTOC

Placa de Petri contendo cultura de Pseudomonas aeruginosa.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


Os bacilos Gram-negativos não fermentadores podem colonizar uma ampla varie-
dade de ambientes, tais como: solo, matéria orgânica deteriorada, vegetação e água. Essa
ampla distribuição se deve ao fato de que essas bactérias apresentam exigência nutricional
simples, sendo possível cultivá-las em meios de cultura contendo apenas uma única fonte
de carboidrato e alguns sais. Essa característica explica o fato de esses patógenos serem
um dos principais contaminantes em
superfícies de ambientes e dispositivos

SILAROCK/SHUTTERSTOCK
hospitalares, como em cateteres e equi-
pamentos cirúrgicos.
O grupo de bacilos não fermen-
tadores recebe essa denominação por
serem aeróbios obrigatórios, ou seja,
não realizam o processo de fermen-
tação dos carboidratos para adquirir
energia, e sim a respiração, utilizando
o oxigênio como receptor final de elé-
trons. Isso ocorre devido à ausência de
enzimas que realizam o processo de fer-
mentação e à presença de uma ampla
variedade de enzimas responsáveis pela
respiração. Veremos esses processos
com mais detalhes no próximo capítulo.
Embora os bacilos não fermenta-
dores sejam simples quanto à nutrição, esses microrganismos são bastante complexos Funcionário de limpeza
em relação à patogenicidade, exibindo um amplo repertório de fatores de virulência. hospitalar desinfetando o
chão de um centro cirúrgico.
Um exemplo é a bactéria Pseudomonas aeruginosa. Quando organismos dessa espécie
27
infectam um hospedeiro, eles produzem uma toxina conhecida como ETA (Exotoxina
A), a qual bloqueia a síntese proteica da célula eucariótica, impedindo que a célula
do hospedeiro ative mecanismos antibacterianos. Além disso, a P. aeruginosa produz
pigmentos como a pioverdina, de cor verde, e a piocianina, de cor azul fluorescente,
responsáveis pela expressão e pela atividade de diversos fatores de virulência, como,
por exemplo, proteínas que inibem a resposta imune do hospedeiro e proteases que
permitem a colonização de um órgão.
SA
SA
TON

SILAR
KRUNG

O
CK/SHUTTERSTOC
SEE/SHUTT
ERS

K
TO
CK

P. aeruginosa expressando os pigmentos associados à virulência piocianina (à esquerda) e


à pioverdina (à direita).

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


Os gêneros Burkholderia e Pseudomonas são os principais responsáveis pelo desen-
volvimento de infecções pulmonares em pacientes hospitalizados, principalmente
em indivíduos com o sistema imune prejudicado, como grande parte dos idosos.
ES
AG

As espécies mais importantes do gênero Burkholderia são as B. cepacia e as B.


IM
TTY

pseudomallei. A infecção por essas espécies acontece por meio da inalação da


/GADO/GE

bactéria via aerossóis, e, dependendo da condição do indivíduo, pode variar


entre uma leve bronquite e uma pneumonia necrotizante, levando à perda
ECTION

funcional do pulmão.
OLL

O principal representante do gênero Pseudomonas é a espécie Pseudo-


C
ITH

monas aeruginosa. A infecção por essa espécie de microrganismo geralmente


SM

acomete indivíduos hospitalizados. A P. aeruginosa ocasiona infecções mais sérias,


quando comparadas à Burkholderia, por afetar diversas partes do organismo além
do pulmão, como trato urinário, orelhas, coração, olhos e trato gastrointestinal.
Colônias isoladas de
Por fim, destacamos que os patógenos pertencentes aos gêneros Pseudomonas e
B. pseudomallei em placa
ágar-sangue. Burkholderia apresentam ampla distribuição, ocasionando doenças graves que acometem
indivíduos em todo o mundo. Além disso, eles apresentam diversas espécies resistentes a
uma ampla variedade de antibióticos. Essas características os colocam como prioridade no
desenvolvimento de pesquisas na área de identificação e produção de novos antibióticos.

PRATICANDO

1 Um bebê recém-nascido começou a apresentar sintomas semelhantes RI C


HA
RD
aos de uma gripe. Pouco tempo depois, começaram a surgir abs- J.

GR
28 cessos em alguns órgãos, sintomas semelhantes aos da listeriose.

EE
N/S
O médico solicitou a coleta de material biológico dos abscessos

CIENCE SOU
e a realização de testes laboratoriais para obtenção de informa-
ções que pudessem ser usadas na elaboração do diagnóstico.

RC
E/
FO
O responsável pelo exame, ao realizar a coloração de Gram da TO
AR
EN
amostra, observou, no microscópio de luz, a imagem ao lado. A

a) A partir da imagem observada, é possível estabelecer alguma Visualização em microscopia de luz do resultado
conclusão em relação à suspeita inicial do médico? da coloração de Gram. Aumento de 1 000x.

b) Para confirmar a suspeita de listeriose, como o profissional responsável pelo exame deverá enxergar a
bactéria responsável pela doença no microscópio? Faça um desenho esquemático.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


2 Leia o trecho da matéria reproduzida a seguir e faça o que se pede.

Bactérias em UTI
[...] Encontrados na superfície de colchões, equipamentos médicos e celulares, microrganismos
resistem à limpeza diária [...]
As bactérias parecem estar adaptadas às Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) dos hospitais,
ambiente que deveria ser praticamente livre de agentes infecciosos por causa da gravidade da saúde
de seus pacientes. Essa é a conclusão de um levantamento feito por pesquisadores do Hospital das
Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-
-USP), centro de referência no atendimento médico na região. [...]
A maioria das bactérias identificadas geralmente não causa nenhum problema de saúde em
pessoas saudáveis, mas pode gerar sérias infecções nos pacientes em UTIs [...]. O risco de infecções
microbianas é até 10 vezes maior em UTIs do que nos outros setores de um hospital, segundo a
Associação de Medicina Intensiva Brasileira. As mais comuns são as pneumonias e as infecções da
corrente sanguínea e do aparelho urinário. Esse é um problema mundial, combatido com práticas de
limpeza em permanente aprimoramento. [...]
No HC, dois gêneros de bactérias, Pseudomonas e Staphylococcus, mostraram-se disseminados e
foram encontrados em colchões, grades de cama, bombas de inalação, maçanetas e portas de armá-
rios, carros de curativos, bancada de preparo de medicamentos e computadores. [...].
FIORAVANTI, Carlos. Bactérias em UTI. Revista Fapesp. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/bacterias-em-uti/.
Acesso em: 6 nov. 2020.

a) Identifique na reportagem os principais locais da UTI onde as bactérias foram mais encontradas. Elabore
uma hipótese sobre a principal fonte de transmissão das bactérias nesses locais e uma forma de reduzir a
sua transmissão.

29

b) Explique por que bactérias que convivem em harmonia em nosso organismo podem representar um
problema para as UTIs.

c) Se você tivesse duas amostras dos principais gêneros de bactérias encontrados na UTI da matéria, como
faria para distingui-los?

d) Pesquise e cite quais são os tipos de infecções que os principais grupos de bactérias apontados na
reportagem podem causar nos pacientes da UTI.

3 Diversas bactérias colonizam o corpo humano. Algumas delas, em certas condições de desequilíbrio, podem
causar doenças; além disso, o contato com alguns grupos desses microrganismos, no meio ambiente ou por
meio da ingestão de alimentos contaminados, pode causar graves enfermidades. Pensando nisso, crie um
infográfico interativo digital sobre bactérias patogênicas. Nele, devem constar: uma imagem esquemática do
corpo humano, as espécies de bactérias que podem causar infecções em cada parte do corpo, a sua morfo-
logia e as doenças que podem ser ocasionadas.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


FIQUE POR DENTRO
VISITA A LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS
O estabelecimento de um diagnóstico rápido e preciso é fundamental para identificar a doença
que está acometendo o paciente e para orientar as decisões médicas. No caso de enfermidades
causadas por microrganismos, um grande desafio nesse sentido é identificar qual é a espécie
que está causando a enfermidade. Para isso, existem protocolos de testes que são realizados
a partir da suspeita médica. Entre eles, está a coleta e análise de materiais biológicos, que
geralmente são realizadas em laboratórios de análises clínicas.
Faça uma visita a um laboratório de análises clínicas e investigue quais os principais exames
que são realizados para a identificação dos organismos patogênicos e para o estabelecimento
de diagnósticos. Para o desenvolvimento dessa atividade, faça o que se pede nos itens a seguir.
1 Antes da visita, realize uma pesquisa prévia sobre o assunto e elabore um roteiro de per-
guntas que contemple as suas principais dúvidas.
2 Durante a visita, fotografe os equipamentos e os objetos utilizados nos exames e nos testes, e
solicite explicações ao profissional responsável pelo acompanhamento da visita sobre as dúvidas
elencadas previamente no roteiro, além de outras dúvidas que surgirem ao longo da visita.
3 Posteriormente, elabore um relatório contendo as informações de suas pesquisas e inclua
nele as imagens registradas durante a visita.

FAMÍLIA ENTEROBACTERIACEAE
O conjunto de gêneros e espécies que compreendem a família Enterobacteriaceae
é o maior e mais heterogêneo grupo de bacilos Gram-negativos de importância médica.
Geralmente, os gêneros têm sido classificados de acordo com propriedades bioquímicas,
modificações na parede celular, organização genômica e composição proteica do conteú-
do citosólico. Embora, de modo geral, a morfologia das espécies seja de bacilos, há uma
30 ampla variação quanto ao número, ao tamanho e à presença ou não de flagelos e fímbrias
na bactéria.

Principais gêneros da família Enterobacteriaceae de importância médica

ARTEMIDA-PSY/SHUTTERSTOCK
Flagelos Fímbrias

Salmonella Escherichia Yersinia Shigella

Principais gêneros da família Enterobacteriaceae de importância médica e suas estruturas auxiliares,


como flagelos e fímbrias. O gênero Salmonella apresenta flagelos – filamentos longos utilizados
para locomoção. O gênero Escherichia possui fímbrias – filamentos curtos importantes para a
adesão ao tecido. Os gêneros Yersinia e Shigella não possuem filamentos.

Esses microrganismos, além de ocuparem os mais diversos habitats, também são co-
muns da microbiota de muitos animais e de seres humanos. Entretanto, algumas espécies
são exclusivamente patogênicas para a nossa espécie, sendo responsáveis por mais de um
terço de todas as bacteremias e por mais de 70% das infecções intestinais, sendo alvos de
extensa pesquisa e atenção ao redor do mundo.
Todos os membros da família Enterobacteriaceae são anaeróbios facultativos, ou seja,
são capazes de produzir energia utilizando oxigênio ou não (veremos com mais detalhes no
capítulo a seguir). Além disso, apresentam necessidades nutricionais simples, que, como já
discutimos anteriormente, permitem a colonização de vários ambientes de maneira rápida.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


O destaque da família Enterobacteriaceae é a presença de mecanismos de virulência
bastante sofisticados e extremamente adaptados ao hospedeiro. Assim como as outras es-
pécies já descritas aqui, os representantes desse grupo também podem apresentar cápsula
protetora, são resistentes a diversos antibióticos e secretam toxinas e fatores de virulência
– substâncias de composição proteica. Uma característica que diferencia Enterobacteria-
ceae dos grupos vistos até então é a presença de estrutura que se assemelha a uma agulha,
localizada na parede celular, que tem como função injetar os componentes causadores de
virulência diretamente na célula do hospedeiro. O mecanismo consiste em uma vantagem
adaptativa impressionante, já que muitas proteínas são instáveis e podem sofrer a ação de
proteases no ambiente extracelular.
LAB212

Bactéria

Representação esquemática
de uma bactéria da família
Enterobacteriaceae utilizando
Célula eucariótica
o sistema de secreção do
tipo agulha para infectar
uma célula hospedeira.

Embora praticamente todos os representantes do grupo apresentem esse sistema em


forma de microagulha, o que difere entre as espécies são os tipos de fatores de virulência
injetados e, consequentemente, o tipo de resposta provocada no hospedeiro. Por exemplo:
para que a bactéria Escherichia coli consiga entrar na célula hospedeira, esse microrganis-
mo injeta nela fatores de virulência que induzem a célula eucariótica a fagocitá-la. Já a
espécie Salmonella enterica libera fatores de virulência que impossibilitam que a bactéria
31
seja digerida pelos lisossomos quando está dentro da célula do hospedeiro. Dessa forma, é
fundamental conhecermos os detalhes da biologia de cada espécie a fim de desenvolver o
tratamento mais adequado.
Entre as principais espécies de Enterobacteriaceae, destaca-se a E. coli, que apresenta
diferentes cepas e causa uma variedade maior de enfermidades. As cepas de E. coli podem
se diferenciar em: E. coli enterotoxigênica (ETEC), E. coli enteropatogênica (EPEC), E. coli en-
teroagregativa (EAEC), E. coli produtora de toxina Shiga (STEC) e E. coli enteroinvasiva (EIEC).
Embora todas pertençam à mesma espécie, cada cepa é caracterizada por possuir alguma
particularidade importante, como fatores de virulência ou toxinas, que as permite colonizar
diferentes partes do corpo e, consequentemente, ocasionar doenças distintas. Além disso,
o modo de transmissão também é variável entre elas.

Cepas da bactéria E. coli,


seu local de ação e as doenças que ocasionam.
Microrganismo Local de ação Doença

Diarreia infantil, vômito, cólicas, náuseas e febre baixa (é mais frequente em países em
ETEC Intestino delgado
desenvolvimento).

EPEC Intestino delgado Diarreia aquosa e vômito.

EAEC Intestino delgado Diarreia aquosa persistente (com vômito), desidratação e febre baixa.

STEC Intestino grosso Diarreia hemorrágica e cólica abdominal.

EIEC Intestino grosso Febre, cólicas e diarreias aquosas (é rara em países em desenvolvimento).
Elaborado com base em: MURRAY, P. R. ROSENTHAL, Ken S. PFALLER, Michael A. Microbiologia mŽdica.
8ª Ed – Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 848 p.

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Os problemas provocados devido à infecção por E. coli surgem principalmente no trato
gastrointestinal. As cepas ETEC, EPEC e EAEC geralmente colonizam o intestino delgado –
principalmente de crianças, sendo mais comum em países em desenvolvimento –, levando
o indivíduo a ter cólicas e diarreias severas, além de vômito e febre.
A Salmonella enterica também é responsável por grande parte das infecções
do trato intestinal. No entanto, uma cepa dessa espécie, a S. enterica do tipo
CK

Typhi, causa uma doença chamada febre tifoide, comum em países pobres, que
STO
UDIO/SHUTTER

ocasiona uma elevada taxa de mortes anualmente. Essa é uma das doenças
entéricas mais graves ocasionadas por microrganismos, pois leva à infecção
de múltiplos órgãos, a começar pelo intestino. Após a ingestão da bactéria, via
SISST

água ou alimento contaminado, o indivíduo começa a ter febre crescente, dores


ALY

de cabeça, mal-estar e até mesmo anorexia.


AN

A Shigella flexneri provoca doenças mais severas que a S. enterica e a E. coli


por rapidamente gerar uma lesão no intestino após a infecção, provocando a
defecação com pus e sangue, e um alto risco de morte.
Diferentemente das espécies da família vistas até então, a Klebsiella pneumoniae é
Placa ágar-sangue contendo um patógeno que é transmitido via intercurso sexual e acomete as vias respiratórias, levando
colônias de Escherichia coli. à necrose dos alvéolos e ocasionando pneumonias graves.
Por fim, a Yersinia pestis seja talvez a mais letal de todas as Enterobacteriaceae aqui
descritas. Essa bactéria foi a responsável pela peste negra, uma pandemia que levou mi-
lhões de pessoas a óbito na Europa, no século XIV. A peste negra, ou peste bubônica, é
caracterizada por um período de incubação de sete dias após a infecção, e tem como
características a febre alta e o inchaço do nódulo linfático. Caso o paciente não seja tra-
tado rapidamente com antibióticos apropriados, a doença evolui e ocasiona mortalidade
de 75% das pessoas contaminadas.

EVERETT COLLECTION/SHUTTERSTOCK
32

Pintura da era medieval


retratando pessoas
acometidas pela peste
negra em 1411.

Os bacilos da família Enterobacteriaceae descritos nesta seção podem ser isolados em


qualquer lugar do planeta. No entanto, a maior prevalência de doenças acontece em países
pobres e em desenvolvimento, onde há ausência ou falha no sistema de saneamento básico
e de saúde pública, favorecendo a disseminação e a transmissão de doenças com contágios
via oral-fecal e sexual. Apesar do grande desenvolvimento científico e tecnológico, tais mor-
bidades continuam acometendo milhões de pessoas anualmente, sendo ainda necessária a
expansão e a disseminação de informação a respeito desses agentes.
A seguir, é apresentado um fluxograma com os principais grupos vistos até o momento.

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Morfologia/
Divisão Gênero Espécie
fisiologia

Staphylococcus Staphylococcus aureus

Cocos Enterococcus Enterococcus faecalis

Streptococcus Streptococcus pyogenes

Gram-positiva

Bacillus Bacillus anthracis


Bacilos
Listeria Listeria monocytogenes

33

Pseudomonas Pseudomonas aeruginosa


Bacilos
não fermentadores
Burkholderia Burkholderia cepacia

Gram-negativa

Salmonella Salmonella enterica

Escherechia Escherechia colli


Bacilos
fermentadores
Yersinia Yersinia pestis

Shiguella Shiguella flexneri

Diagrama representando as principais características das espécies estudadas ao longo deste capítulo.

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PRATICANDO

1 Leia o trecho da notícia reproduzida abaixo e faça o que é solicitado nos itens.

Diferença genética impede que bactéria causadora de doença grave no exterior


contamine carne brasileira
Entre as bactérias da espécie Escherichia coli, moradoras habituais do trato digestivo humano,
existe um grupo capaz de produzir uma toxina chamada Shiga que tem intrigado os microbiologistas.
Em países como Austrália, Estados Unidos, Japão e Argentina, o consumo de carne bovina infectada
por cepas dessa bactéria, conhecida como STEC (sigla em inglês para E. coli produtora de toxina Shiga),
tem sido associado ao desenvolvimento de uma doença grave denominada síndrome hemolítico-urêmica
(SHU), que causa insuficiência dos rins e acomete, principalmente, crianças com menos de cinco anos.
No Brasil, por outro lado, um determinado sorotipo de STEC já foi encontrado na carne e nas fezes de
bovinos – reservatório natural dessas bactérias –, mas nunca em pacientes diagnosticados com SHU.
Por meio de um estudo feito em colaboração com pesquisadores do Instituto Butantan e da Uni-
versidade Federal de São Paulo (Unifesp), cientistas da USP desvendaram, agora, alguns mecanismos
moleculares que tornam a STEC “estrangeira” mais virulenta e patogênica que a cepa brasileira. [...]
DIFERENÇA genética impede que bactéria causadora de doença grave no exterior contamine carne brasileira. Jornal da USP,
6 nov. 2019. Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-biologicas/diferenca-genetica-impede-que-bacteria-
causadora-de-doenca-grave-no-exterior-contamine-carne-brasileira. Acesso em: 5 nov. 2020.

a) Na matéria, são citadas cepas diferentes de uma mesma espécie. Uma cepa, de modo simplificado, é uma
variedade de uma mesma espécie. De que forma é possível identificar qual é a cepa que está infectando
a carne a ser comercializada?
34

b) Quais são as principais doenças humanas causadas pela bactéria citada na reportagem? Quais são seus
meios de transmissão?

2 Ao longo do capítulo, percebemos que os seres humanos podem estabelecer diversas relações com os gru-
pos bacterianos, e que existem condições que podem afetar essas relações. Reúnam-se em grupos e elabo-
rem um podcast com o tema: relação entre seres humanos e bactérias. Para isso, sigam as etapas a seguir.
I. Elaborem um roteiro, com informações disponibilizadas no capítulo e informações adicionais obtidas por
meio de pesquisas que apontem exemplos de relações estabelecidas entre os seres humanos e as bactérias.
II. Entrevistem pesquisadores da área da Microbiologia ou profissionais da área da saúde que trabalhem com
o assunto. Investiguem de que forma eles acreditam que esses microrganismos podem afetar positiva ou
negativamente a nossa vida.
III. Gravem e editem o podcast. Lembrem-se de incluir os créditos ao final. Não se esqueçam, ainda, de inserir
efeitos sonoros e uma vinheta para tornar o podcast mais atrativo.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


MÃO NA MASSA
Coloração de bactérias ▶ alça de platina;
Como vimos ao longo do capítulo, a identificação ▶ bico de Bunsen;
das bactérias coletadas em uma amostra é um passo ▶ óleo de imersão;
muito importante no estudo desses microrganismos e ▶ papel filtro;
para a elaboração de um diagnóstico. Apesar de a maior ▶ soluções:
parte das bactérias do mundo ainda não ter sido descri- 1. cristal violeta: mistura de cristal violeta (1 g),
ta, nossos avanços científicos e tecnológicos permitiram ácido fênico (2 g), álcool absoluto (10 mL) e água
identificar e coletar informações sobre diversas bactérias destilada (100 mL);
causadoras de doenças nos seres humanos. E, ainda, de- 2. lugol: mistura de iodo (1 g), iodeto de potássio
senvolver técnicas e procedimentos para a rápida tria- (2 g) e água destilada (300 mL);
gem das bactérias de uma amostra. 3. álcool-acetona: mistura de álcool etílico (800 mL)
Uma das técnicas desenvolvidas é a coloração, que e acetona (200 mL);
permite a observação das bactérias em microscópio óp- 4. fucsina diluída: mistura de fucsina (0,25g em
tico, uma vez que a maior parte desses microrganismos é 10 mL de álcool etílico) e água destilada (90 mL).
incolor. Somente em alguns casos, como em estudos de II – Procedimento
mobilidade microbiana, é possível observar as bactérias a
fresco, sem o uso da coloração. Entre as colorações, a do Para cada colônia diferente identificada, repita as
tipo de Gram, que estudamos neste capítulo, permite dis- etapas descritas a seguir.
tinguir dois grandes grupos: as bactérias Gram-positivas e 1. Preparação do esfregaço da cultura: esterilize a alça
as Gram-negativas. Neste experimento, você testará a téc- de platina no bico de Bunsen até incandescer, espere
nica e os seus conhecimentos de morfologia microbiana esfriar; colete uma pequena amostra de uma das colô-
para identificar as bactérias presentes na microbiota hu- nias e a disponha em uma lâmina de modo que forme
mana. Para isso, escolha uma parte do corpo de onde você uma camada pouco espessa e homogênea. Deixe se-
pretende coletar suas amostras e elabore uma hipótese car, sempre próximo à zona de segurança.
sobre os tipos bacterianos presentes nesse local. Anote as

ILUSTRA‚ÍES: LAB212
partes do corpo em que a coleta será realizada e as hipó- 35
teses levantadas no espaço a seguir.

2. Fixação: a fixação evita


que a amostra seja eli-
minada durante o pro-
Importante: antes de começar, relembre e aplique cesso de lavagem. Para
todas as normas de biossegurança estudadas no caderno isso, será utilizado o calor.
4 do 2o ano. Entre elas, é obrigatório o uso de equipamen- Passe a lâmina três vezes
tos de proteção individual (como jalecos, luvas e óculos pela chama do bico de
de proteção), não utilizar acessórios (anéis, pulseiras), os Bunsen; atente-se para
cabelos deverão permanecer presos, não se deve manipu- que o esfregaço esteja
lar celular em ambiente laboratorial, e as mãos devem ser virado para cima e não na direção da chama. Espere a
lavadas frequentemente. lâmina esfriar.
A cultura de microrganismos das partes do corpo
3. Coloração de Gram: realize os seguintes procedi-
escolhidas deverá ser realizada previamente, uma vez
mentos.
que ela fornecerá as amostras para a realização da co-
▶ Corante púrpura: coloque algumas gotas da so-
loração de Gram. Dessa forma, você deverá preparar as
lução de cristal de violeta na amostra e a deixe
culturas de bactérias, coletando-as e as inoculando em
em repouso por um minuto. Esse procedimento
meio ágar LB, e incubando as placas para o crescimento
irá corar todas as células igualmente.
das bactérias, conforme os procedimentos que já estu-
▶ Mordente: escorra o restante do corante e adi-
damos nos cadernos anteriores.
cione o lugol de modo que cubra todo o esfre-
I – Material gaço. Espere por um minuto e descarte o que so-
▶ meio de cultura com a amostra após o crescimento; brar. Posteriormente, lave com água corrente. O
▶ lâminas; lugol funcionará como um mordente, ajudando
▶ lamínulas; na fixação do corante.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


▶ Descoloração: goteje aos poucos o álcool-acetona Atividades
na lâmina por 15 segundos – não aplique dire- 1. É possível identificar a presença de grupos bac-
tamente na amostra. Posteriormente, lave com terianos com potencial patogênico utilizando a
água corrente. Esse processo irá descorar as técnica de coloração Gram? Justifique.
células, algumas mais que outras, permitindo a
diferenciação.
▶ Contra-corante: core a amostra com a solução
fucsina diluída e espere por um minuto, lave em
seguida e seque com o papel filtro, com delica-
deza. O corante irá colorir as células que foram
descoradas na etapa anterior permitindo um re-
sultado diferencial entre os tipos celulares.

LAB212

2. Pesquise outras técnicas de coloração. Escolha


uma delas e explique como ela é realizada e
como pode ser utilizada.

36

4. Visualização: visualize a preparação no microscópio. 3. Pesquise em sites especializados em Microbiologia


▶ Como utilizar a objetiva de cem vezes (100x) no mi- quais outros procedimentos ou informações po-
croscópio óptico? dem ser utilizados para auxiliar na identificação
Antes de começar, você pode rever os nomes das par-
do grupo bacteriano presente em uma amostra
tes do microscópio, tema já abordado em outros cadernos.
Primeiro, desça a platina e, em seguida, coloque na biológica de um indivíduo. Escreva algumas das
objetiva de menor aumento. Coloque, então, a lâmina informações a seguir.
preparada sobre a platina; aproxime a objetiva de 10x.
Para isso, utilize o macrométrico com delicadeza até fo-
calizar a imagem. Durante o procedimento, evite que a
objetiva toque na lâmina.
Após focalizar, selecione a objetiva de 40x. Caso seja ne-
cessário, ajuste o foco utilizando o micrométrico. Com essa
etapa completada, coloque uma gota de óleo de imersão
sobre o esfregaço e gire o revólver até a objetiva de 100x.
Ao terminar de utilizar o microscópio, limpe a objeti-
va com um papel macio.
III – Resultados e conclusões
Registre os resultados obtidos em cada amostra em
uma folha avulsa. Esquematize e descreva a morfologia
das bactérias observadas no microscópio indicando o 4. Elabore um relatório que contenha uma introdu-
aumento utilizado. A partir desses dados, tente identificar
qual é o grupo bacteriano presente em sua amostra. Com-
ção sobre o assunto, o objetivo do experimento,
pare com as informações presentes na literatura científica o material utilizado, os procedimentos, os resul-
e com os resultados encontrados pelos seus colegas. tados obtidos e as conclusões.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


OFICINA MAKER
Sistema de identificação bacteriana
As áreas científicas e da saúde vêm passando por uma série de

ANYAIVANOVA/SHUTTERSTOCK
transformações. Uma delas é a informatização de seus processos,
principalmente no que diz respeito à identificação dos microrganis-
mos presentes em uma amostra ou que sejam alvos de um estudo.
Na seção Mão na massa, você realizou um procedimento
para a identificação de amostras de grupos bacterianos a partir de
características já estabelecidas como padrão pela Microbiologia,
como a coloração de Gram e a morfologia bacteriana. Você já ima-
ginou se existisse um programa que, após inserir certas informações,
identificasse qual é a espécie bacteriana presente em uma amostra?
Esse é o objetivo desta atividade.
Primeiramente, reúnam-se em grupos. Vocês deverão buscar
características que nos ajudem a diferenciar espécies bacterianas e
a desenvolver um sistema que permita a identificação das espécies
a partir da inserção de informações relativas às características obser-
vadas em uma amostra. Para isso, sigam as etapas a seguir.
1a etapa: pesquisa
Na primeira etapa do projeto, vocês devem pesquisar sobre
dez espécies bacterianas. Recolham e registrem informações sobre Os laboratórios de análises clínicas
possuem técnicos capacitados e
morfologia, resultados em relação a tipos diferentes de coloração, responsáveis pelo preparo, pela análise e
37
entre outros dados que geralmente são utilizados para distingui-las. pelo parecer dos exames realizados.
2a etapa: categorias de análise
Após coletar as informações, vocês devem pensar quais categorias irão utilizar para distinguir as suas
bactérias. Por exemplo:
Categoria: coloração de Gram.
Opções: Gram-positiva ou Gram-negativa.
O importante é que o número de categorias seja suficiente para que, ao final da inserção das respostas
em cada categoria, o sistema desenvolvido por vocês seja capaz de identificar qual é a espécie bacteriana
correspondente, ou seja, não pode haver sobreposição.
3a etapa: programando um sistema de identificação
Com o auxílio do professor, do técnico de informática da escola ou de um profissional especializado, vocês
devem pensar em como desenvolver um sistema que permita inserir as categorias de análise selecionadas com
a finalidade de identificar a espécie bacteriana após a inserção das respostas. Vocês podem utilizar softwares
livres ou mesmo explorar os recursos de alguns programas presentes no pacote Office.
4a etapa: teste do usuário
Após desenvolver e testar o sistema, é importante realizar testes com um grupo de usuários para verificar
questões relacionadas à usabilidade e à clareza das informações. Seu grupo pode selecionar os próprios colegas
da turma ou pedir a ajuda de profissionais da saúde. Façam um relatório sobre as experiências dos usuários e
modifiquem o que for necessário.
5a etapa: divulgação
Ao final da atividade, a turma pode organizar um evento para divulgar as diferentes soluções encontradas
pelos grupos e a importância dos trabalhos desenvolvidos ao longo do bimestre.

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde


Agora, vamos fazer uma pausa para refletir sobre o aprendizado adquirido ao longo deste capítulo.
Assinale na tabela como você avalia o desenvolvimento das seguintes habilidades:

Habilidades da matriz
Desempenho
Habilidades específicas
Sim Parcialmente Não
H17– Aplicar os conceitos da Química, da Física e da Biologia na
compreensão de fenômenos naturais e na resolução de situações-problema
presentes nos contextos cotidianos em geral e no contexto e nas situações
característicos das Ciências da Terra e da Microbiologia.
Compreendo conceitos da Biologia, principalmente os que se referem à identificação
bacteriana e a sua relação com a saúde humana?
Sou capaz de aplicar os conceitos da Biologia trabalhados no capítulo na resolução
dos problemas propostos?
H19 – Utilizar adequadamente os microscópios adotando os procedimentos
pertinentes para a investigação de microrganismos patogênicos ou não
relacionados à saúde humana e à segurança alimentar.
FAÇA UMA SELFIE

Utilizo adequadamente os microscópios, mesmo na objetiva de maior aumento,


adotando os procedimentos adequados para a investigação de microrganismos
patogênicos ou não relacionados à saúde humana?
H20 – Empregar procedimentos e práticas de observação, levantamento
de hipóteses, experimentação, coleta de dados e conclusões para a
38
resolução de problemas que envolvem os diferentes aspectos relacio-
nados ao estudo da Microbiologia, da Geologia, da Astronomia e da
Meteorologia.
Emprego procedimentos e práticas de coloração bacteriana, identificação, observação,
levantamento de hipóteses, experimentação, coleta de dados e conclusões para a
resolução de problemas relacionados às áreas de Microbiologia e saúde?
H26 – Utilizar diferentes técnicas de observação, crescimento, desinfecção
e análise de microrganismos.
Utilizo diferentes técnicas de observação, crescimento e análise de bactérias?
H30 – Compreender as diferentes formas de transmissão e como ocorre
a transmissão de microrganismos, além de seus impactos na saúde dos
seres humanos.
Consigo explicar os mecanismos de patogenicidade e virulência bacteriana no que
diz respeito às infecções em seres humanos?
H36 – Compreender as relações dos microrganismos entre si e deles com
outros seres vivos, em especial com os seres humanos.
Identifico os diferentes tipos de relações entre os seres humanos e as bactérias,
relacionando-os com a saúde do nosso organismo?

Compreendo as relações entre os seres humanos e as bactérias com a saúde de


nosso organismo?

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saúde


H37 – Conhecer os principais microrganismos patogênicos e as doenças
causadas por eles.
     
Identifico os grupos bacterianos patogênicos estudados, as doenças que causam
em seres humanos e seus respectivos sintomas?
H41 – Analisar diferentes exames clínicos de modo a compreender como
se dá o diagnóstico de infecções virais e bacterianas.
     
Analisei as imagens dos testes de coloração de Gram e compreendi o funcionamento
da técnica?

Faça um mapa conceitual que apresente os conhecimentos que você desenvolveu e aprimorou com os
objetos de conhecimento trabalhados neste capítulo.

39

Convivendo com os microrganismos: Microbiologia de alimentos e Microbiologia na saœde

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