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Enquanto o Brasil vibrava com as vitórias de Emerson Fittipaldi na F-1 (em 1972, ele se
tornou o primeiro piloto do País a se tornar campeão mundial), um jovem paulistano
circulava anonimamente no kartódromo de Interlagos. Ayrton Senna começou sua
carreira no kart com a curiosa história que muitos fãs conhecem: antes de fazer sua
primeira prova oficial em São Paulo, em julho de 1973, o piloto correu pela primeira vez
aos 9 anos em um GP de kart em Campinas contra pilotos mais experientes e com
muito mais idade. O grid foi definido por sorteio, e e Senna tirou o número 1 – a primeira
pole de uma carreira marcada por várias. O jovem Ayrton comemorou, mas seu pai,
Milton, considerava aquilo uma loucura. “Imagine, um novato em primeiro, vão atropelar
o menino!”, pensou, tentando de todas as maneiras convencer seu filho para não largar
em primeiro. Mas não teve jeito: Senna conseguiu o que queria e manteve a pole,
segurando a liderança por boa parte da corrida, até que um adversário mais experiente
acaba tirando o jovem Ayrton da prova. Milton vê o acidente e sai correndo ao encontro
do filho pensando “mataram o moleque”! mas felizmente nada aconteceu e Ayrton saiu
ileso, e muito irritado com a manobra do adversário.
Treinando na chuva
É desta época do kart que outra história de superação e dedicação do anônimo piloto
Ayrton Senna ficou bem conhecida – e está relacionada à chuva. Depois de um
péssimo desempenho em pista molhada bem no começo da sua carreira, o jovem piloto
colocou na cabeça que seria o melhor nestas condições. A determinação era tanta que
toda vez que chovia ele ia para correndo ao kartódromo. Tanta dedicação e talento
logo seriam conhecidos pelo mundo nas pistas de F-1…
Com diversos títulos no kart, Ayrton Senna começa a chamar a atenção do meio
especializado – mais ainda longe da chamada “grande mídia”. A importante revista
“Quatro Rodas” destaca o potencial do jovem piloto brasileiro em matéria no começo
dos anos 1980 e um pequeno equívoco mostra que o caminho para a fama ainda era
longo para ser percorrido pelo promissor piloto “Airton Senna”, como grafado na
reportagem. Na Inglaterra, suas vitórias começaram a tornar o piloto conhecido no meio
especializado, batizando Silverstone de “Silvastone” – usando o último sobrenome de
Ayrton como trocadilho para a pista inglesa.
1983: é hoje!
O título de campeão da F-3 era, na época de Senna, um atestado de qualidade que
credenciava seu portador a buscar uma vaga na F-1. Não por acaso, alguns times
deram ao jovem brasileiro a chance de acelerar um carro da categoria – e, no caso de
Ayrton, esta estreia foi justamente com o time campeão do ano anterior, a Williams.
Senna já era tido como a mais nova promessa brasileira, trilhando o caminho de
sucesso aberto por Emerson Fittipaldi e seguido com louvor com Nelson Piquet – que
seria campeão da F-1 em 1983. Sabendo que a estreia de Senna seria algo muito
relevante para o esporte do País, a TV Globo registrou as imagens do primeiro teste do
piloto, no circuito inglês de Donington Park. “É hoje!”, disse Senna ao ver o cinegrafista
da emissora e o repórter Reginaldo Leme. De fato, foi um dia histórico: o piloto bateu o
recorde da pista e começou a mostrar para toda F-1 que tinha potencial para ser um
futuro campeão. Em poucas voltas, Senna já tinha igualado o tempo de Jonathan
Palmer, piloto de testes da Williams, em 1min01s7. Nas 83 voltas que deu, melhora
cada vez mais, atingindo o recorde de 1m00s5, “o melhor que a equipe já havia
conseguido neste circuito de Donington Park em mais de um segundo”, conforme
atestou reportagem da TV Globo da época, feita por Reginaldo Leme.
Mestre da chuva
Na sexta corrida de Senna na F-1, o GP de Mônaco, o que os brasileiros já sabiam se
tornou mundialmente conhecido: era apenas questão de tempo até que o então jovem
piloto da Toleman, com 24 anos, ingressasse o hall de grandes nomes da F-1. Debaixo
de forte chuva, Senna largou em 13o e passou diversos adversários, descontando
vertiginosamente a diferença para o primeiro colocado, Alain Prost. Em uma polêmica
decisão, a direção de prova interrompeu a corrida na volta 32. Senna chegou a passar
em primeiro, mas, em caso de bandeira vermelha, vale a volta anterior, e a vitória ficou
com Prost. Foi a primeira vez que os dois maiores rivais da história da F-1 dividiram um
pódio. E que o mundo todo viu do que Senna era capaz – em poucos meses depois, no
início da temporada de 1985, no GP de Portugal, o brasileiro conquistaria já sua
primeira vitória, também debaixo de chuva, já com a equipe Lotus.
A fama mundial
Os anos da McLaren marcam não apenas os três títulos mundiais de Senna (1988,
1990 e 1991), mas também a consolidação de seu nome como um dos maiores do
esporte. Os três títulos conquistados em Suzuka, no Japão, aliado à parceria de
sucesso com a Honda tornou o brasileiro um grande ídolo para os nipônicos. Neste
período, era comum ver cenas de histeria com a presença de Senna – bem como no
Brasil, onde a épica vitória de 1991 ganhou contornos históricos, com uma multidão
invadindo a pista, em cena repetida também na vitória de 1993. Neste período, Senna
inspirou uma geração de pilotos – Fernando Alonso tinha um kart pintado de branco e
vermelho imitando o carro do brasileiro. Lewis Hamilton pintou o capacete de amarelo
para ficar mais parecido com o ídolo. Na Austrália, prova final de 1993, Senna venceu
de maneira sublime, mesmo com a McLaren tendo um carro reconhecidamente inferior.
O brasileiro já tinha dado show de pilotagem em outros GPs naquele ano, como o
histórico GP da Europa, na chuva em Donington Park, mas foi em Adelaide onde, após
a corrida, a cantora pop Tina Turner fez uma homenagem que ficaria registrada para
sempre: cantou a música “Simply the Best” e chamou o brasileiro para o palco.
fonte:https://www.ayrtonsenna.com.br/piloto/arte-de-pilotar/do-anonimato-estrela/