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Se ansiamos por uma Escola Inclusiva a forma como educamos não pode ser unidirecional.
A Educação é uma das áreas mais complexas da sociedade e, também, da ação dos nossos governantes. As
suas múltiplas facetas obrigam os profissionais a ter preparação adequada que, muitas vezes, não se
adquire com a licenciatura, mas em formação contínua, até porque as alterações são uma constante.
Considero que, em termos genéricos, a Escola tentou responder à diferença de forma empenhada
Nas novas escolas inclusivas, para que a inclusão não passe de uma utopia, vai ser necessário mais do
que o Decreto-Lei nº 54/2018. Vai ser necessária a continuação do investimento, da reflexão e da
construção constantes.
Os alunos com Necessidades Educativas Especiais passaram a representar 7% da população escolar (81 672
alunos, em 2017/ 18) nas escolas públicas. Modificou-se a escola para acomodar estes alunos e não se
esperou o contrário. Criaram-se agrupamentos de escolas especializados no atendimento a alunos com
deficiência e incapacidade: auditiva, visual, com perturbação do espetro do autismo e com
multideficiência.
A nossa situação tornou-se única. Hoje, a inclusão nas escolas públicas abrange a maioria das crianças e
jovens com deficiência. A passagem destes alunos para as escolas regulares levou à diluição ou extinção de
outros programas sociais e da saúde a eles dirigidos. As consultas e programas hospitalares especializados
passaram a cobrir quase exclusivamente a idade pré-escolar, muitos serviços especializados da segurança
social foram reestruturados e as respostas para os alunos com deficiência à saída da escolaridade
obrigatória escasseiam.
A “nova escola pública” preconizada na lei vai modernizar-se, centrar-se mais no aluno e abraçar a
diversidade que atualmente a carateriza. Com especial enfoque na flexibilização curricular (a possibilidade
de substituição de até 25% do currículo obrigatório por projetos da escola), pretende-se criar medidas e
procedimentos mais atuais, dirigidos à promoção da equidade e do sucesso educativo de todos, “chegando
a todos os alunos e aos contextos das suas vidas, com medidas universais, seletivas ou adicionais de gestão
curricular”.
A inclusão e a diversidade vão ser trabalhadas em cada escola desde a sua base e incluir todos os adultos e
alunos num desenho universal da aprendizagem para todos. A escola inclusiva vai dominar e lidar com
diferentes temas e áreas e vai incluir todas as seções da sociedade.
Mas no contexto dos alunos tão especiais como os que encontramos nas escolas portuguesas, a
diversidade não deveria continuar a implicar a mobilização de acessibilidades e recursos significativos, a
prestação de cuidados especiais nas escolas, o desenho de atividades centradas nestes alunos e a
transformação de um conjunto significativo de atividades e estruturas para as tornar suficientemente
inclusivas para quem tem níveis reduzidos de funcionamento e participação?
É possível aplicar um modelo tão lato ao nosso contexto de educação especial/deficiência e incapacidade
tão único?
Para os alunos surdos e cegos, que têm uma apetência natural para a comunicação e aprendizagem e para
quem o novo regime jurídico da educação inclusiva prevê manter o mesmo atendimento, o desafio está
ganho.
Para os alunos com alterações graves nas estruturas e funções do corpo, para quem a cognição,
comunicação ou mobilidade está comprometida, o novo enquadramento jurídico da educação inclusiva
nada diz de específico.