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LIMNOtemas
Publicação da Sociedade Brasileira de Limnologia Junho de 2005
LOURDES M. A. ELMOOR-LOUREIRO
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LIMNOtemas é uma publicação eletrônica aperiódica da Sociedade
Brasileira de Limnologia e foi criada com o objetivo de auxiliar a pesquisa,
o ensino e a divulgação da Limnologia no Brasil. LIMNOtemas deverá se
configurar como um meio alternativo de fazer circular conhecimentos,
informações e técnicas que venham facilitar a atuação cotidiana dos
limnólogos brasileiros e que possivelmente não encontrariam espaço nos
meios científicos tradicionais de divulgação, seja pela extensão do
material ou por suas características.
EDITORES:
INFORMÁTICA:
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LIMNOtemas é distribuído eletrônica e gratuitamente, através da
página da SBL.
ISSN 1806-7115
Elmoor-Loureiro, L. M. A.
Resumo
Abstract
The increasing use of aspects of the trunk limbs in the taxonomy of Cladocera has
been challenging for the limnologists in identifying the specimens occurring in their samples.
The present paper describes and figures the trunk limbs of the cladocerans belonging to the
orders Ctenopoda and Anomopoda, offering an introductory text for the characters of
taxonomical importance.
1. Introdução
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ainda está presente em vários cladóceros, como os Macrothricidae, Ilyocryptidae e alguns
Daphniidae (Dumont & Negrea, 2002).
Este uso crescente das patas na sistemática dos cladóceros está exigindo dos
limnólogos, na busca de identificações corretas de seus exemplares, um domínio cada vez
maior da morfologia destes animais. Descrições e figuras de excelente qualidade são
encontradas em Alonso (1996), mas, infelizmente, esta não é uma publicação de fácil
acesso. Então, a proposta do presente trabalho é oferecer uma introdução à morfologia das
patas de cladóceros das ordens Ctenopoda e Anomopoda, que são os grupos encontrados
em ambientes límnicos.
1.1. Classificação
Antes de iniciar a descrição das patas, convém esclarecer algo sobre o sistema de
classificação aqui adotado, que difere daquele disseminado em publicações brasileiras,
inclusive em publicações anteriores da autora (cf. Elmoor-Loureiro, 1997).
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Quadro I: Classificação de Cladocera adotada no presente trabalho, que segue Dumont &
Negrea (2002), exceto quanto ao status de família para Moinidae e a inclusão de
Dumontidae.
A pata I (Figura 2) não tem função filtradora, mas apresenta funções diversas. Na
Subordem Radopoda (Macrothricoidea e Eurycercoidea) pode servir na captura das
partículas alimentares ou na locomoção sobre o substrato (Fryer, 1968 e 1974). Nos
Daphniidae e Moinidae, apresenta setas especializadas na manipulação dos alimentos e
para impedir a entrada de partículas grandes no sulco alimentar (Hartmann & Kunkel, 1991).
Um caracter distintivo da pata I dos anomópodos é a presença de um par de setas
modificadas, os ganchos ejetores (ge), cuja função parece estar relacionada à limpeza das
maxilas. A gnatobase é reduzida, com 1-3 setas, ou ausente nos Daphniidae e Moinidae e
alguns Chydoridae. Em todas as famílias, observa-se uma tendência à fusão dos enditos,
de modo que estes podem estar mais ou menos (Figura 2A, representando os Daphniidae e
Moinidae), pouco (Figura 2D – Radopoda) ou nada (Figura 2B-C – Ilyocryptidae e
Bosminidae) diferenciados. Existem dúvidas quanto à homologia entre os lobos da pata I
nos diferentes anomópodos (cf. Dumont & Negrea, 2002; Olesen, 2003), sendo aqui
apresentada a visão mais corrente. Esta interpretação encontra suporte na posição dos
ganchos copulatórios presentes nos machos (Elmoor-Loureiro, em publicação). O endito 4,
à exceção dos Bosminidae e Ilyocryptidae, é bem separado dos demais e é designado, nos
Radopoda, como IDL (inner distal lobe). O exopodito é pequeno e usualmente chamado de
ODL (outer distal lobe), apresentando uma ou duas setas, mas acha-se ausente nos
Moinidae. Nas várias famílias, pode estar presente uma seta acessória (sa) na face anterior
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da pata, que pode ser remanescente do exopodito. O epipodito é variável, podendo ser
pequeno e globular ou apresentar uma expansão digitiforme (Figura 2D).
A pata III, nos demais grupos, apresenta a gnatobase fundida, parcial ou totalmente,
aos enditos (Figuras 4B-D), com pente gnatobásico em oposição às setas do endito,
semelhante ao observado na pata II. Sua função pode ser filtradora ou não (Fryer, 1968 e
1974). Nos Bosminidae (Figura 4C), os enditos não estão individualizados e o exopodito é
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pequeno. Nos Ilyocryptidae (Figura 4B), também o exopodito é pequeno, mas percebem-se
dois lobos no endito, um interno e outro externo. Estes dois lobos também são observados
nos Radopoda (Figura 4D), sendo que a seta mais distal do lobo externo pode estar
modificada em espinho ou scraper (p.ex., Macrothrix e Alona). O exopodito é grande e
arredondado nos Chydoridae (Figura 4D), mas pequeno e mais ou menos retangular nos
Macrothricidae.
A observação das patas nem sempre é fácil, já que estão recobertas pela carapaça.
Algumas vezes, quando se deseja apenas observar um detalhe de uma das patas, pode ser
suficiente afastar a carapaça, deslocando um pouco a lamínula. A melhor observação,
contudo, se faz após a dissecção do espécime.
A dissecção se faz sob lupa, sendo mais fácil em um meio viscoso. Uma
possibilidade é colocar o exemplar numa lâmina com algumas gotas de álcool 70%+10% de
glicerina, deixando evaporar por 5-10 minutos (Reid,1999). Outra, que é bastante útil no
caso de preparo de lâminas permanentes, é transferir o espécime para uma lâmina com
uma gota de PVL (Meio de lactofenol polivinil; ver receita em Reid, 1999). Para dissecção,
pode-se usar micro-alfinetes entomológicos montados em cabos de plástico ou madeira, de
ponta reta ou dobrada em “L” (Figura 8B). O primeiro passo é retirar o animal da carapaça, o
que pode ser feito segurando uma das valvas com um alfinete de ponta reta e puxando o
corpo para fora com um outro de ponta dobrada. Muitas vezes a cabeça se separa do
tronco, o que não é problema se o objetivo é a observação das patas. Coloque o animal
sem carapaça deitado sobre o lado dorsal, prenda com um alfinete e, com o alfinete de
ponta dobrada, faça um corte longitudinal, deixando o pós-abdome inteiro em uma das
metades (Figura 8A). Pode-se separar as patas de ambas as metades, mas às vezes pode
ser conveniente manter uma delas inteira, como referência para a posição de cada pata.
Prenda a metade a ser dissecada com um alfinete e com um outro vá separando cada uma
das patas. Uma vez feita a dissecção, cobrir com lamínula.
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2. REFERÊNCIAS
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Backhuys Publishers. 398p. (Guides to the Identification of the Microinvertebrates of
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82.
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Anomopoda: Macrothricidae). Hydrobiologia 467: 1-44.
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Figura 1: Morfologia das patas dos Ctenopoda. A – pata generalizada de Pseudosida; B –
extremidade distal dos enditos da pata I de Pseudosida. e1-4 – endito 1 a 4; EP – epipodito;
EX – exopodito; FC – pente gnatobásico; GN – gnatobase; snp – setas não plumosas.
Sétulas das setas de FC e dos enditos foram omitidas.
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