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CGCFN-1-8 OSTENSIVO

MANUAL DE
OPERAÇÕES DE PAZ DOS
GRUPAMENTOS OPERATIVOS DE
FUZILEIROS NAVAIS

MARINHA DO BRASIL
COMANDO-GERAL DO CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS

2009
OSTENSIVO CGCFN-1-8

MANUAL DE OPERAÇÕES DE PAZ DOS GRUPAMENTOS OPERATIVOS DE


FUZILEIROS NAVAIS

MARINHA DO BRASIL

COMANDO-GERAL DO CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS

2009

FINALIDADE: BÁSICA

1ª REVISÃO
OSTENSIVO CGCFN-1-8

ATO DE APROVAÇÃO

APROVO, para emprego na MB, a publicação CGCFN-1-8 - MANUAL DE


OPERAÇÕES DE PAZ DOS GRUPAMENTOS OPERATIVOS DE FUZILEIROS
NAVAIS.

RIO DE JANEIRO, RJ.


Em 9 de junho de 2009.

ALVARO AUGUSTO DIAS MONTEIRO


Almirante-de-Esquadra (FN)
Comandante-Geral
ASSINADO DIGITALMENTE

AUTENTICADO RUBRICA
PELO ORC

Em_____/_____/_____ CARIMBO

OSTENSIVO - II - REV.1
OSTENSIVO CGCFN-1-8

ÍNDICE
PÁGINAS
Folha de Rosto ........................................................................................................ I
Ato de Aprovação ................................................................................................... II
Índice....................................................................................................................... III
Introdução ............................................................................................................... VI
CAPÍTULO 1 - AS OPERAÇÕES DE PAZ E AS NAÇÕES UNIDAS
1.1 - Generalidades ................................................................................................. 1-1
1.2 - A Organização das Nações Unidas e a Paz .................................................... 1-2
1.3 - Estrutura da ONU ........................................................................................... 1-3
CAPÍTULO 2 - AS OPERAÇÕES DE PAZ, SUA ESTRUTURA E TIPIFICAÇÃO
2.1 - Conceito .......................................................................................................... 2-1
2.2 - Denominação e Estrutura de uma Operação de Paz ....................................... 2-1
2.3 - Instrumentos Utilizados pela ONU................................................................. 2-7
2.4 - Manutenção da Paz ......................................................................................... 2-10
2.5 - Imposição da Paz ............................................................................................ 2-11
2.6 - Diferenças Básicas entre Manutenção e Imposição da Paz ............................ 2-12
CAPÍTULO 3 - ASPECTOS LEGAIS E DE PLANEJAMENTO
3.1 - Generalidades ................................................................................................. 3-1
3.2 - Aspectos Legais .............................................................................................. 3-1
3.3 - Planejamento no Âmbito da ONU .................................................................. 3-2
3.4 - Planejamento no País ...................................................................................... 3-6
3.5 - Principais Documentos Afetos a uma Operação de Paz ................................. 3-8
CAPÍTULO 4 - PECULIARIDADES E PROCEDIMENTOS OPERATIVOS
NAS OPERAÇÕES DE PAZ
4.1 - Generalidades ................................................................................................. 4-1
4.2 - Posições e Postos de Observação ................................................................... 4-1
4.3 - Postos de Controle, Bloqueios de Estradas e Inspeções ................................. 4-2
4.4 - Aquartelamentos ............................................................................................. 4-4
4.5 - Ponto Forte (PF) ............................................................................................. 4-5
4.6 - Patrulhas ......................................................................................................... 4-6
4.7 - Uso da Força ................................................................................................... 4-16
4.8 - Liderança ........................................................................................................ 4-20

OSTENSIVO - III - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

CAPÍTULO 5 - SEGURANÇA
5.1 - Generalidades .................................................................................................. 5-1
5.2 - Abrigos ............................................................................................................ 5-2
5.3 - Equipamentos .................................................................................................. 5-2
5.4 - Movimentos..................................................................................................... 5-3
5.5 - Sequestro ......................................................................................................... 5-3
5.6 - Minas Terrestres e Armadilhas ....................................................................... 5-4
5.7 - Carros-Bomba ................................................................................................. 5-6
5.8 - Medidas de Segurança Complementares ........................................................ 5-7
CAPÍTULO 6 - CONSIDERAÇÕES BÁSICAS ATINENTES AO OBSERVADOR
MILITAR
6.1 - Habilidades Requeridas................................................................................... 6-1
6.2 - Atitude e Conduta............................................................................................ 6-2
6.3 - Organização e Subordinação........................................................................... 6-7
6.4 - Recomendações............................................................................................... 6-11
CAPÍTULO 7 - TAREFAS DO OBSERVADOR MILITAR
7.1 - Generalidades .................................................................................................. 7-1
7.2 - Uso do Sistema de Comunicações .................................................................. 7-2
7.3 - Uso dos Meios de Transporte.......................................................................... 7-4
7.4 - Condução das Inspeções e Verificações.......................................................... 7-5
7.5 - Condução das Investigações............................................................................ 7-8
7.6 - Condução das Negociações/Mediações .......................................................... 7-9
CAPÍTULO 8 - O BATALHÃO DE PROTEÇÃO E OUTROS GptOpFuzNav
NAS OPERAÇÕES DE PAZ
8.1 - Generalidades .................................................................................................. 8-1
8.2 - O Batalhão de Proteção ................................................................................... 8-1
8.3 - Organização e Mobilização do Batalhão de Proteção..................................... 8-3
8.4 - Outros GptOpFuzNav em Operações de Paz .................................................. 8-4
CAPÍTULO 9 - COMANDO E CONTROLE NO BATALHÃO DE PROTEÇÃO
E EM OUTROS GptOpFuzNav
9.1 - Cadeia de Comando ........................................................................................ 9-1
9.2 - Relações de Comando nos GptOpFuzNav ...................................................... 9-1
9.3 - Sistema de Comunicações............................................................................... 9-2

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

9.4 - Inteligência ..................................................................................................... 9-4


9.5 - Contra-Inteligência ......................................................................................... 9-6
9.6 - Relacionamento com os Meios de Comunicação Locais................................ 9-7
9.7 - Operações Psicológicas .................................................................................. 9-7
CAPÍTULO 10 - O APOIO LOGÍSTICO NAS OPERAÇÕES DE PAZ
10.1 - Generalidades ............................................................................................... 10-1
10.2 - Conceituação Básica ..................................................................................... 10-1
10.3 - Estrutura e Organização da Logística ........................................................... 10-3
10.4 - Fatores de Planejamento ............................................................................... 10-9
10.5 - Funções Logísticas........................................................................................ 10-10
ANEXO A - Organograma do Departamento de Operações de Paz (DPKO).................. A-1
ANEXO B - Orientações Gerais para a Instrução e o Adestramento para as Operações
de Paz .......................................................................................................... B-1
ANEXO C - Segurança das Instalações e Posições de uma Operação de Paz ................. C-1
ANEXO D - Glossário de Termos, Expressões e Siglas Empregados nas Operações de Paz D-1
ANEXO E - Exploração das Comunicações .................................................................... E-1
ANEXO F - Organograma do Departamento de Logística Operacional (DFS)............... F-1

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

INTRODUÇÃO
1 - PROPÓSITO
A presente publicação tem por propósito disseminar conhecimentos básicos e orientar a
preparação de militares da Marinha do Brasil (MB), particularmente para integrar
Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav) nas Operações de Paz
(OpPaz).
2 - DESCRIÇÃO
O capítulo 1 inicia apresentando a importância da OpPaz como um dos esforços da
Organização das Nações Unidas (ONU) para a promoção da segurança e da paz
internacionais, incluindo o nosso País e a sua importância como um dos atores contribuintes.
Em seguida, apresenta, como núcleo principal, a estrutura da ONU, especialmente no que
concerne as OpPaz.
O capítulo 2 conceitua as OpPaz e apresenta sua estruturação básica. Apresenta os
instrumentos utilizados pela ONU no campo da paz e da segurança internacionais, enfatizando
a Manutenção da Paz e a Imposição da Paz e suas diferenças mais marcantes.
O capítulo 3 apresenta uma abordagem sobre os aspectos legais de uma OpPaz, o
planejamento no âmbito da ONU e do País e os principais documentos produzidos com vistas
à solução de uma crise pelo emprego de uma operação dessa natureza.
O capítulo 4 apresenta técnicas e procedimentos já consagrados nas OpPaz, cujo
conhecimento é do total interesse tanto de Observadores Militares das Nações Unidas (United
Nations Military Observer - UNMO) quanto de contingentes de tropas integrantes de Força de
Paz (ForPaz), com destaque para as Regras de Engajamento.
O capítulo 5 destaca os aspectos e as recomendações atinentes à segurança nas OpPaz.
O capítulo 6, especificamente voltado às missões de observação, apresenta as
considerações básicas atinentes aos UNMO e à estrutura básica dessas missões.
O capítulo 7 apresenta as atividades típicas do dia-a-dia de um UNMO, detalhando
procedimentos com viaturas e equipamentos de comunicações da ONU e sua conduta em
atividades de inspeção, verificação, investigação e negociação.
O capítulo 8 apresenta os conceitos básicos relativos ao Batalhão de Proteção e a outros
GptOpFuzNav em OpPaz.
O capítulo 9 trata de aspectos voltados ao comando e controle e das atividades de
inteligência nos GptOpFuzNav.
O capítulo 10 aborda a logística nas OpPaz, ressaltando suas peculiaridades em relação às

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

operações de guerra.
Finalmente, um conjunto de anexos detalha aspectos de relevância, complementando o
conteúdo dos 10 capítulos listados.
3 - RECOMENDAÇÕES
A manutenção de expressões, termos e siglas pertinentes ao assunto - mormente em
inglês - nela observados, visa familiarizar os integrantes de OpPaz com aquilo que
efetivamente ouvirão e terão de empregar no cumprimento de suas tarefas. Para que isso
ocorra naturalmente, recomenda-se que a instrução e o adestramento sejam conduzidos
enfatizando-se o seu emprego.
4 - CLASSIFICAÇÃO
Esta publicação é classificada, de acordo com o EMA-411 - Manual de Publicações da
Marinha, como: Publicação da Marinha do Brasil, não controlada, ostensiva, básica e manual.
5 - SUBSTITUIÇÃO
Esta publicação substitui a CGCFN-1-8 - Manual de Operações de Paz dos Grupamentos
Operativos de Fuzileiros Navais, edição 2008, aprovada em 12 de novembro de 2008.

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CAPÍTULO 1
AS OPERAÇÕES DE PAZ E AS NAÇÕES UNIDAS
1.1 - GENERALIDADES
As Operações de Paz (OpPaz) fazem parte de um variado conjunto de esforços que
visam a implementação de medidas de segurança coletiva no mundo. Ainda que suas
origens conceituais remontem ao início do século XX, mediante a criação da Liga das
Nações, foi somente a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, com a criação da
Organização das Nações Unidas (ONU), que este tipo de operação tomou impulso e
passou a ser amplamente utilizada como instrumento decisivo ou, ao menos,
complementar na solução de conflitos intra ou internacionais.
Desde então, mercê de sua postura internacional, o Brasil tem participado ativamente
em diversas OpPaz, principalmente sob a égide da ONU. Nosso País também toma parte
de OpPaz, desde que autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU, quando tais
operações são conduzidas por organizações ad-hoc ou atendendo a solicitações de
outros organismos intergovernamentais, notadamente a Organização dos Estados
Americanos (OEA).
Tem cabido à Marinha do Brasil (MB), particularmente ao Corpo de Fuzileiros Navais
(CFN), papel relevante nas OpPaz quando da participação brasileira. A probabilidade de
novas atuações de militares da MB em OpPaz, quer como UNMO, quer como Staff
Officer, quer como integrantes de contingentes de tropa ou, ainda, desenvolvendo ações
humanitárias, é consideravelmente alta. Desta forma, avultam de importância o contínuo
aperfeiçoamento instrucional e o adestramento, os quais permitirão a manutenção de um
adequado aprestamento para tal tipo de emprego.
Vale lembrar que a presença de militares da MB em OpPaz contribui significativamente
para o acúmulo de experiências e de procedimentos que dificilmente seriam obtidos
com as simulações de combate. Cabe, ainda, ressaltar que as OpPaz constituem uma
oportunidade ímpar para o intercâmbio com outros países, permitindo a avaliação dos
aspectos humanos e operacionais de outras forças, bem como a diversificação de
conhecimento sobre armamento, equipamentos e equipagens de distintas tecnologias, de
forma a compor valiosa fonte de conhecimentos ao preparo e aplicação do Poder Naval.
No nível político, essas operações contribuem para a maior inserção do País no cenário
internacional.
O primeiro registro da participação do Brasil em organismos voltados para a

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manutenção da paz data de 1933, quando ainda sob a égide da Liga das Nações, o País
foi representado por um oficial da MB em uma Comissão para mediar um litígio entre a
Colômbia e o Peru na região de Letícia. Em 1947, um oficial da MB, juntamente com
outro do EB, tomou parte na Comissão das Nações Unidas para os Balcãs, a qual operou
na Grécia. Já nos idos de 1956, o País prestou sua contribuição em conflitos na Faixa de
Gaza e na Índia/Paquistão.
Em 1965, pela primeira vez, o CFN participava de uma OpPaz com o envio de tropas,
tendo tido uma expressiva atuação na República Dominicana, ao integrar a Força
Interamericana de Paz (FIP). Após isso, passaram-se quase trinta anos sem qualquer
outra participação em OpPaz. Este hiato só veio a ser rompido ao serem designados
UNMO sob a égide da ONU, em 1989/90, respectivamente para Angola (UNAVEM e
UNAVEM I) e Nicarágua (ONUCA).
No período entre 1995-1998, pela segunda vez, o CFN participou de OpPaz por meio do
envio de tropa, ao atuar com uma CiaFuzNav em Angola (UNAVEM II). Nos anos que
se seguiram, o CFN intensificou sua participação, tendo enviado oficiais como
observadores militares e staff officers para atuarem em vários países, tais como: Haiti,
Timor Leste, Ruanda, Bósnia, Angola, Moçambique, Costa do Marfim, Guatemala,
Honduras, Equador, Peru, Costa Rica, Nepal, Uganda, Iugoslávia, El Salvador, Saara
Ocidental e Libéria.
Finalmente, em junho de 2004, pela terceira vez o CFN enviou tropa para uma missão
de paz, desta feita organizada como Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais, para
integrar a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH).
1.2 - A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E A PAZ
Conforme o estabelecido no Artigo I da Carta das Nações Unidas, assinada em 26 de
junho de 1945, em São Francisco, um dos propósitos básicos da ONU é:
“Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim, tomar, coletivamente,
medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra
ruptura qualquer da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os
princípios de justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias
ou situações que possam levar a uma perturbação da paz”.
No tocante à paz mundial, as mais amplas orientações encontram-se nos Capítulos VI,
VII e VIII da Carta da ONU, os quais incluem ainda as ações orientadas para os partidos
envolvidos e a adoção de medidas para a solução pacífica de disputas internas e regionais.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

1.2.1 - Capítulo VI da Carta


Diz respeito à solução pacífica de controvérsia, apresentando uma série de medidas
conciliadoras, incluindo negociação, investigação, mediação, arbitragem e decisão
judicial. Estabelece que controvérsias que possam potencialmente constituir ameaças
à paz e à segurança internacionais podem ser trazidas à consideração do Conselho de
Segurança, o qual possui mandato expresso para determinar aos litigantes que
cessem as divergências por meios pacíficos, para recomendar métodos adequados de
procedimentos e ajustamentos e para recomendar as condições para a cessação da
disputa.

Em resumo, o Capítulo VI limita o campo de atuação do Conselho de Segurança a


recomendações às partes envolvidas, cabendo a elas o esforço maior em busca do
entendimento, agindo de forma voluntária em atendimento ao Conselho de
Segurança.
1.2.2 - Capítulo VII da Carta
Este Capítulo refere-se às condições de atuação da ONU no caso de ação relativa à
ameaça à paz, à ruptura da paz e aos atos de agressão. Sua natureza é essencialmente
coercitiva, estabelecendo que, quando da ocorrência das circunstâncias acima
previstas, o Conselho de Segurança fará recomendações ou decidirá por medidas
repressivas. Tais medidas podem incluir pressões políticas e econômicas e o emprego
de forças militares com vistas à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da
segurança internacionais.
1.2.3 - Capítulo VIII da Carta
Este Capítulo estimula a adoção de medidas de caráter regional para a solução
pacífica de disputas, antes de serem submetidas ao Conselho de Segurança (CS).
Quando julgado apropriado, o Conselho poderá autorizar a atuação de organismos
regionais para implementação das ações necessárias.
1.3 - ESTRUTURA DA ONU
Para executar suas múltiplas tarefas, a ONU é estruturada em seis órgãos, a saber:
- Secretariado (The Secretariat);
- Assembléia Geral (The General Assembly);
- Conselho de Segurança (The Security Council);
- Conselho Econômico-Social (The Economic and Social Council);
- Conselho de Tutela (The Trusteeship Council); e

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- Corte Internacional de Justiça (The International Court of Justice).


Cada um desses órgãos, em maior ou menor grau, tem participação nas decisões, no
planejamento ou na execução das OpPaz. Essa participação têm sido crescente à medida
que aquelas operações assumem caráter cada vez mais multifacetado. Tendo em vista que
esta publicação trata especificamente dos aspectos militares das OpPaz, serão abordados
apenas os órgãos diretamente envolvidos com esses aspectos, quais sejam, o Secretariado
e o Conselho de Segurança. A explanação sobre os demais órgãos pode ser encontrada no
manual do Ministério da Defesa MD34-M-02 - Manual de Operações de Paz.
1.3.1 - O Secretariado
Esse é o órgão executivo da ONU, integrado pelo Secretário-Geral (SG) e pelo
pessoal necessário à condução das atividades administrativas permanentes da ONU.
Além de liderar as atividades administrativas da ONU, ao SG compete convocar o
CS, em caráter de emergência, quando da ocorrência de situações de ameaça da paz e
da segurança internacionais.
Quanto às OpPaz, cabe ao Secretariado a responsabilidade pelo planejamento,
preparo, condução e orientação dessas operações. É assessorado pelo Vice-Secretário
(Deputy Secretary-General – DSG), pelo Gabinete Executivo (Executive Office of
the Secretary-General – EOSG), pelo Gabinete de Assuntos Legais (Office of Legal
Affairs – OLA), pelo Gabinete para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Office
for the Coordinate of Humanitarian Affairs – OCHA) e pelo Gabinete de Serviços de
Investigação Interna (The Office of Internal Oversight Services). A ele estão
subordinados os seguintes departamentos:
- Departamento de Assuntos Políticos (Department of Political Affairs – DPA);
- Departamento de Operações de Manutenção de Paz (Department of Peacekeeping
Operations- DPKO);
- Departamento de Gerenciamento (Department of Management - DM);
- Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (Department of Economic and
Social Affairs – DESA);
- Departamento para Assuntos de Desarmamento (Department of Disarmament
Affairs – DDA);
- Departamento para Assuntos da Assembléia Geral e Serviços de Conferência
(Department of General Assembly Affairs and Conference Services – DGACM);
- Departamento de Informação Pública (Department of Public Information – DPI);

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- Departamento de Proteção e Segurança (Department of Safety and Security – DSS); e


- Departamento de Logística Operacional (Department of Field Support – DFS).
Cada um dos departamentos acima é dirigido por um Subsecretário ou funcionário de
nível hierárquico equivalente.
Embora haja uma grande interação entre os departamentos do Secretariado no
planejamento e execução das OpPaz, a responsabilidade principal cabe ao DPKO,
cujas tarefas e organização são apresentadas a seguir.
a) O Departamento de Operações da Paz – DPKO
De acordo com os propósitos e os princípios constantes da Carta das Nações
Unidas, o Departamento de Operações de Paz (DPKO) tem como finalidade
ajudar os Estados-Membros e o Secretário Geral em seus esforços para manter a
paz e a segurança internacionais. A missão do Departamento é planejar, preparar,
controlar e dirigir Operações de Paz da ONU, a fim de que possam cumprir,
eficazmente, seus mandatos sob a autoridade geral do Conselho de Segurança e da
Assembléia Geral, e sob o comando investido no SG.
O DPKO direciona a política e a execução das Operações de Paz da ONU, e
mantém contato com o Conselho de Segurança, as tropas, os contribuintes
financeiros, e as partes envolvidas no conflito, na implementação dos mandatos do
Conselho de Segurança. O Departamento trabalha para integrar os esforços de
entidades da ONU, entidades governamentais e não governamentais no contexto
das operações de Paz. O DPKO também poderá fornecer orientação e suporte para
o pessoal envolvido nas demais missões políticas e de construção da paz, também
sobre a égide da ONU, tais como missões de desminagem e de caráter
humanitário.
Por delegação do SG, o Subsecretário-Geral do DPKO (Under Secretary-General
- USG) é a autoridade responsável pelo planejamento, preparação, condução e
orientação de todas as operações de campanha da ONU, especialmente as OpPaz.
Assim, em estreita coordenação e cooperação com os demais departamentos, o
DPKO é o braço operacional do SG, cabendo-lhe as seguintes atividades básicas,
quanto às operações de campanha da ONU:
- proporcionar gerenciamento e orientação;
- formular políticas e procedimentos;
- solicitar pessoal, unidades militares e seus equipamentos junto às nações

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

contribuintes;
- desenvolver metodologias e planos operacionais;
- desenvolver planejamentos emergenciais;
- monitorar e controlar fundos emergenciais;
- proporcionar apoio administrativo e logístico;
- estabelecer e manter contato com as partes em conflito;
- ligar-se com os Estados-Membros, outras Agências da ONU e Organizações
Não-Governamentais (ONG) relacionadas às OpPaz; e
- elaborar relatórios ao SG.
Para a consecução de suas tarefas básicas, o USG-DPKO é assessorado pelo
Gabinete Executivo (Executive Office), Unidade de Assuntos Civis (Public Affairs
Unit) e pelo Centro Situacional (Situation Centre) e é estruturado nos seguintes
órgãos:
- Escritório de Operações (Office of Operations - OOp), subdividido em quatro
divisões regionais (África I, África II, Ásia e Oriente Médio e Europa/América
Latina);
- Escritório de Assuntos Militares (Office of Military Affairs), subdividido em três
divisões regionais (Operações Militares Correntes, Serviço de Planejamento
Militar e Serviço de Convocação da Força);
- Escritório de Regras, Leis e Instituições de Segurança (Office of Rules of Law
and Security Institutions) subdividido em quatro divisões regionais (Divisão de
Polícia, Seção de Leis Criminais e Assessoria Jurídica, Seção de
Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (Disarmament, Demobilization
and Reintegration - DDR) e Seção de Ações de Minas;
- Divisão de Política, Avaliação e Treinamento (Policy, Evaluation and Training
Division), este subdividida em duas divisões regionais (Melhores Práticas em
Manutenção da Paz e Serviço de Treinamento Integrado).
A estrutura acima se encontra representada na forma de organograma no Anexo A.
No que tange as OpPaz, o Escritório de Assuntos Militares do DPKO é o setor
mais envolvido. É chefiado pelo Conselheiro Militar (Military Adviser - MILAD)
e desempenha ações voltadas ao planejamento militar (Military Planing Service -
MPS), à convocação de força e pessoal militar junto aos países contribuintes
(Force Generation Service – FGS), e ao acompanhamento de operações em

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andamento (Current Military Operations - CMO).


1.3.2 - O Conselho de Segurança
Por delegação da Carta da ONU, é o órgão que detém a responsabilidade pela
manutenção da paz e da segurança internacionais. É integrado por quinze países
estados-membros, sendo cinco deles permanentes, desde a criação da Organização e
os outros dez não-permanentes, eleitos pela Assembléia Geral por um período de
dois anos. Os membros permanentes, também conhecidos na comunidade da ONU
como P5, são:
- China;
- Estados Unidos da América;
- Federação Russa;
- França; e
- Reino Unido.
O CS, diferentemente da Assembléia Geral, não se reúne regularmente; ele pode ser
convocado a qualquer momento, sem aviso prévio, a partir da denúncia sobre
disputas e ameaças à paz e à segurança internacionais.
O Conselho age em nome da Comunidade Internacional estando, nesse contexto,
revestido de autoridade para identificar e investigar qualquer ameaça ou perturbação
da paz, bem como para implementar ações que visem à solução pacífica de
controvérsias ou a neutralização de atos de agressão e conseqüente restauração da
paz quando da eclosão de conflitos, determinando o uso da força militar quando
necessário. Suas deliberações quanto às OpPaz são baixadas em documentos
denominados resoluções e mandatos. Para que uma decisão seja adotada, é necessária
a aprovação integral dos membros permanentes e de nove dos membros não-
permanentes. Assim, se qualquer um dos cinco membros permanentes votar
negativamente, este voto é considerado um veto e a resolução não é aprovada. As
resoluções resultarão em autorização para o desencadeamento de OpPaz, quando
estas forem conduzidas por outros organismos como, por exemplo, a Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a União Européia (UE). Quando as operações
forem transcorrer sob a égide da própria Organização, as resoluções resultarão em
mandatos.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

CAPÍTULO 2
AS OPERAÇÕES DE PAZ, SUA ESTRUTURA E TIPIFICAÇÃO
2.1 - CONCEITO
Uma OpPaz é definida como a presença da ONU ou outro organismo por ela autorizado,
integrando componentes civis e militares, em uma área ou região de conflito, com o
objetivo de implementar ou monitorar a aplicação de resoluções e acordos relativos ao
controle do conflito, ou para prover e assegurar a distribuição de ajuda humanitária.
Assim, por definição, uma OpPaz visa, essencialmente, a preservação, contenção, à
moderação e ao fim das hostilidades entre ou dentro de Estados, bem como cooperar
com o esforço da região ou país afetado na busca da reestruturação política, econômica
e social, por meio de uma intervenção pacífica de uma terceira parte organizada e
dirigida internacionalmente, empregando, para tal, forças multinacionais militares,
forças policiais e elementos civis.
Para efeito de padronização, quando se referir de maneira genérica ao processo de
promoção da paz, esta publicação utilizará a denominação OpPaz. Para uma estrutura
militar constituída para a execução de uma OpPaz, será utilizada a denominação
genérica Força de Paz (ForPaz). E para uma ForPaz especificamente constituída para
solucionar uma crise em determinada região, será utilizado o título Missão, ao qual
serão acrescidos complementos, conforme apresentado a seguir.
2.2 - DENOMINAÇÃO E ESTRUTURA DE UMA OPERAÇÃO DE PAZ
2.2.1 - Denominação
A organização, como um todo, será denominada “Missão” (Mission), cujo nome fará
menção à ONU, podendo explicitar o tipo ou forma de instrumento a ser empregado
para o gerenciamento da crise e o nome do país ou região onde se realizará. O nome
da missão poderá estar em uma das seguintes línguas, dentre as dez mais faladas no
mundo - árabe, espanhol, francês, inglês, mandarim ou russo. As missões abaixo
constituem exemplos:
- UNAVEM – United Nations Angola Verification Mission;
- UNAMIR – United Nations Assistance Mission for Rwanda;
- UNPROFOR – United Nations Protection Force; e
- MINUSTAH – Mission des Nations Unies pour la Stabilization en Haiti.
2.2.2 - Composição
As OpPaz no período da Guerra-Fria – ditas de primeira geração - eram de estrutura

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predominantemente militar. Seu componente civil era essencialmente voltado para o


apoio administrativo às ações militares. Com o término daquele período, constatou-
se que o emprego de forças militares não era suficiente para solucionar as inúmeras
crises que passaram a eclodir, exigindo a atuação da ONU também nos campos
político, econômico, jurídico e social. Desta forma, as OpPaz passaram a ser,
predominantemente, de natureza política, exigindo uma estrutura multifuncional.
Atualmente, dependendo da situação na área em crise, uma OpPaz será estruturada
por todos ou parte dos seguintes componentes:
- Componente de Assuntos Políticos (Political Affairs Component);
- Componente Militar (Military Component);
- Componente Aéreo (Air Component);
- Componente Marítimo (Maritime Component);
- Grupo de Observadores Militares (Military Observers Group);
- Componente de Polícia Civil (Civilian Police Component);
- Componente de Assuntos Humanitários (Humanitarian Affairs Component);
- Componente de Direitos Humanos (Human Rights Component);
- Componente Eleitoral (Electoral Component); e
- Componente Administrativo Civil (Civilian Administrative Component).
Conforme citado, a estrutura variará de acordo com a situação de cada crise, podendo
determinado componente existir em uma operação ou ser absorvido por outro
correlato ou simplesmente inexistir em outra. Além dos componentes acima
elencados é comum que existam também órgãos de assessoria ligados diretamente ao
comando da missão.
Essa estrutura interage, no exercício de seu mandato, com os diversos segmentos do
país anfitrião, com os escalões superiores da ONU e com outros parceiros existentes
na Área de Operações (Area of Operations – AOp) – Organizações Não-
Governamentais e agências da ONU, dentre outros.
a) O Componente Militar
O Componente Militar é integrado por forças militares de países contribuintes,
denominados contingentes. Esse componente organizar-se-á em setores ou áreas
de responsabilidade e terá a seu encargo o desenvolvimento de compromissos
relativos à interposição, separação e retirada de forças em conflito, à verificação de
acordos, ao apoio à desmobilização das forças, à destruição de armas, o

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desarmamento, a desmobilização de força irregulares – guerrilheiros, milícias e


bandos – e sua reintegração à sociedade, à criação de novas forças armadas e à
ajuda humanitária. Em determinadas OpPaz, tem-se observado a presença dos
Componentes Aéreo e Marítimo que, apesar de sua natureza militar, não integram
o Componente Militar, deixando para este um caráter estritamente de força
terrestre. A título de ilustração, esses componentes são empregados em operações
e ações típicas dos poderes aéreo e naval, respectivamente. Contudo, a decisão
para o emprego de cada um deles é objeto de cuidadosa avaliação, pois envolve
uma série de fatores, entre os quais, o controle do poder de destruição, a interdição
de espaços aéreos e áreas marítimas e a liberdade para execução de inspeções e
apresamento. Poderá contribuir para Manutenção de Ambiente Seguro, Garantia
dos Direitos Humanos e Conquista de Objetivos Políticos.
b) O Grupo de Observadores Militares
O Grupo de Observadores Militares é constituído por oficiais de países
contribuintes que cumprem suas tarefas desarmados, distribuídos em Equipes de
Militares Observadores (Military Observers Teams). Suas atividades básicas
compreendem:
- monitorar e verificar a trégua, o acordo de cessar-fogo ou de paz;
- investigar as denúncias de violações nos aspectos anteriormente citados;
- patrulhar, dentro de suas possibilidades, a área da missão;
- elaborar e emitir relatórios sobre os aspectos de sua responsabilidade.
- conduzir inspeções periódicas das partes em conflito;
- monitorar o retorno de refugiados para o interior da área da missão; e
- prover auxílio nas operações de desminagem e de ajuda humanitária.
O Componente Militar é composto por um contingente armado (Peacekeeping
Force) ou observadores militares. No caso de coexistirem contingente armado e
observadores, estes atuarão em estreita coordenação e apoio e o Chefe dos
Observadores estará sob controle operacional do Comandante da Força (Force
Commander).
c) Contingente Nacional
É a parcela do Poder Militar de um país que participa de uma OpPaz. Um país, em
sua opção, poderá prestar sua contribuição militar com:
- pessoal de emprego individual para funções de comando, estado-maior,

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observadores militares e outros;


- unidades de combate, apoio ao combate e de apoio de serviços ao combate; e
- especialistas para atividades como, por exemplo, treinamento, supervisão e
remoção de minas e apoio na área de saúde.
2.2.3 - Principais funções de chefia
A ONU estabelece três níveis de direção: a Direção Política Central, que
corresponde ao Conselho de Segurança; a Direção Executiva e Controle, a cargo do
Secretário-Geral (sendo o DPKO o instrumento operacional do Secretário-Geral para
a gestão cotidiana das operações de paz, atuando como principal meio de
comunicação entre a sede da ONU e as operações no campo); e a Direção de Campo,
que recai no Chefe da Missão. Embora todos os componentes de uma OpPaz
exerçam suas atividades em estreita coordenação de chefia, serão mencionadas a
seguir as autoridades mais diretamente ligadas aos aspectos militares de uma OpPaz.
a) Representante Especial do Secretário-Geral
O Representante Especial do Secretário-Geral (Special Representative of the
Secretary-General – SRSG) é o Chefe da Missão (Head of Mission – HOM). A
ele são subordinados todos os comandantes, diretores ou chefes dos
componentes que integrarem determinada Missão. É um civil designado pelo
Secretário-Geral para representá-lo na área da missão e conduzir a operação,
coordenando as atividades dos componentes segundo as orientações da ONU.
b) Comandante da Força
O Comandante da Força (Force Commander – FC) é o comandante do
Componente Militar (Força de Paz). É um oficial-general de um país
contribuinte designado pelo Secretário-Geral para essa função. É o responsável
por transformar ou ajustar as diretrizes políticas recebidas do SRSG em ordens
militares contidas em seu plano de operações. A ele estarão subordinadas as
forças militares disponibilizadas pelos países contribuintes dentro de um dos três
níveis de autoridade, a saber:
- Comando Operacional (Operational Command);
- Controle Operacional (Operational Control); e
- Controle Tático (Tactical Control).
Esses níveis de autoridade serão abordados no inciso 2.2.4.

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c) Comandante de Contingente Nacional


É a função exercida normalmente pelo oficial mais antigo dos elementos
nacionais desdobrados em uma área da missão, aí englobados todos os meios
mencionados na alínea c do inciso 2.2.2. Não se trata exatamente de uma função
de comando, mas de um canal de comunicação entre as autoridades
multinacionais da operação – FC, Chefe dos Observadores Militares,
comandantes de outros contingentes e outros – e os componentes do respectivo
contingente nacional. Uma de suas atividades mais importantes é a supervisão e
o trato, no que lhe for determinado, das questões disciplinares de seu contingente,
e outras atribuições tais como:
- cumprir as determinações do FC (Ordem Fragmentária – Task Order);
- alterar o dispositivo das suas peças de manobra dentro de sua área de
responsabilidade;
- estabelecer ligação com outros contingentes;
- supervisionar o adestramento na preparação e durante a missão; e
- manter seu país informado da situação existente.
Salvo quanto às suas atividades como comandante de unidade ou grande unidade,
o Comandante de Contingente não faz parte da cadeia de comando operacional.
d) Chefe dos Observadores Militares
O Chefe dos Observadores Militares (Chief Military Observers - CMO) é o
oficial responsável perante o SRSG por planejar e supervisionar as atividades do
Grupo de Observadores Militares para a execução das tarefas para ele
estabelecidas no mandato da OpPaz. É ainda o responsável por emitir relatórios
acerca da situação observada pelos integrantes do Grupo. Para tal, o Grupo será
subdividido em Equipes de Observadores Militares distribuídas geograficamente
pela área da missão.
e) Chefe Logístico da missão
O Chefe Logístico da Missão (Chief of Mission Support – CMS) é o dirigente do
Componente Administrativo Civil, órgão de uma ForPaz ao qual compete a
supervisão e o controle das atividades relacionadas à administração, às finanças,
à segurança pública, às relações públicas, às comunicações e à logística. É o
responsável pelas operações financeiras e orçamentárias autorizadas, pela
contratação de empresas e serviços na área da missão e pela administração dos

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

funcionários internacionais da operação, dos Observadores Militares e do pessoal


local contratado. Em geral, sua responsabilidade engloba todas as funções
administrativas e serviços gerais técnicos que as atividades da operação
requeiram. Para os contingentes nacionais, o CMS é a autoridade a quem devem
ser dirigidas as necessidades administrativas e logísticas previamente acordadas
como sendo da responsabilidade da ONU.
2.2.4 - Relações de Comando
a) Comando Operacional
É o mais elevado grau de autoridade operacional outorgado a um Comandante de
Força fora de sua cadeia de comando nacional, pelo qual pode determinar aos seus
subordinados o cumprimento de missões, desdobrar unidades, rearticular forças
em diferentes dispositivos e reter ou delegar o controle operacional e tático
quando necessário. Permite expedir ordens detalhadas para o emprego das forças
participantes sem solicitar o consentimento prévio aos países contribuintes. Não
inclui a responsabilidade pela administração e a logística. Isso inclui não-
interferência na distribuição de suprimentos, nos aspectos disciplinares, nas
questões de promoção ou na estrutura organizacional dos contingentes
participantes.
b) Controle Operacional
É o grau de autoridade pelo qual o FC poderá determinar o cumprimento de
missões específicas constituídas por tarefas limitadas por propósitos especiais,
tempo ou localização. Neste tipo de controle, o FC não poderá alterar as missões
básicas das forças participantes ou desdobrá-las fora das áreas de responsabilidade
previamente acordadas com os países contribuintes sem o seu consentimento. Ao
controle operacional cabem as mesmas restrições do comando operacional quanto
aos aspectos logísticos e administrativos.
c) Controle Tático
Sendo o mais restrito dos graus de controle operacional, nele o FC limitar-se-á a
orientar a execução das tarefas de caráter eminentemente tático de seus elementos
subordinados, em suas áreas de responsabilidade.

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2.3 - INSTRUMENTOS UTILIZADOS PELA ONU


As características peculiares dos conflitos atuais vêm impondo a adoção de uma ampla
gama de instrumentos para promover a paz e a segurança internacional que, colocados à
disposição da comunidade internacional, permitam evitar o surgimento desses conflitos,
solucioná-los de modo duradouro e/ou atenuar suas conseqüências.
2.3.1 - Instrumentos principais
A ONU considera o emprego de alguns instrumentos distintos, porém inter-
relacionados, que são:
- Diplomacia Preventiva (Preventive Diplomacy);
- Promoção da Paz (Peacemaking);
- Manutenção da Paz (Peacekeeping);
- Imposição da Paz (Peace-enforcement); e
- Consolidação da Paz (Post-conflict Peace-building).
a) Diplomacia preventiva
Compreende o conjunto de medidas destinadas a evitar o surgimento ou
acirramento de controvérsias entre duas ou mais partes.
b) Promoção da paz
A Promoção da Paz, por sua vez, é o processo destinado à obtenção de acordos
que extingam a confrontação e possibilitem a solução das motivações que
originaram o conflito. Normalmente, esta é desencadeada por intermédio da
diplomacia, de mediações, negociações e de outras formas de acordos políticos.
c) Manutenção da paz
Constitui-se no emprego de pessoal militar, policial e civil para auxiliar na
implementação de acordos de cessação de hostilidades celebrados entre as partes
em litígio. É fundamentada nos princípios básicos do consentimento das partes em
litígio, da imparcialidade e do uso mínimo da força.
d) Imposição da paz
Tem caráter coercitivo e engloba as medidas desencadeadas por intermédio do
emprego de forças militares que se destinam a restaurar a paz ou estabelecer
condições específicas em uma área de conflito ou tensão, onde as partes estejam
envolvidas em confrontação bélica e, pelo menos, uma delas não esteja de acordo
com a intervenção. O emprego da força está prescrito no Capítulo VII da Carta
das Nações e será dirigido contra as partes que insistam na violação da paz.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

e) Consolidação da paz
Consiste em ações posteriores a um conflito interno ou entre Estados. Destina-se a
consolidar a paz e evitar o surgimento de novas controvérsias utilizando-se, como
instrumentos, projetos de desenvolvimento político, social e econômico, bem
como o estímulo de medidas de confiança e interação entre as partes até então em
conflito. Essas ações, voltadas basicamente para o desenvolvimento econômico e
social do país anfitrião, são empreendidas, preferencialmente, por outros órgãos
das Nações Unidas, mas, dependendo das dificuldades no terreno, podem requerer
a atuação militar.
2.3.2 - Outros instrumentos
Dentre outros instrumentos relacionados ao processo de paz, destacam-se por sua
relação ao propósito desta publicação:
- Emprego Preventivo;
- Implementação de Acordos Amplos; e
- Proteção de Operações Humanitárias.
a) Emprego preventivo
No Emprego Preventivo, a parte militar da operação é desencadeada com a
aplicação de medidas preventivas para evitar confrontações, tais como o
estabelecimento de zonas e faixas desmilitarizadas e a interposição de forças.
Essas medidas são complementadas pelo patrulhamento para fiscalização e pela
observação, com a situação formalizada em relatórios divulgados às partes
envolvidas e ao CS. Cabe ressaltar a diferença entre a diplomacia preventiva
propriamente dita (item 2.3.1) e o emprego preventivo de tropas. A diplomacia
preventiva seria uma ação consentida, sem uso da força, enquanto o
desdobramento preventivo de tropas seria uma ação consentida, com uso da força.
b) Implementação de Acordos Amplos
No que diz respeito à Implementação de Acordos Amplos, a ONU pode auxiliar
as partes em conflito não apenas quanto ao cessar-fogo, mas também quanto a
outros acertos de caráter militar e a uma grande variedade de assuntos civis. É
importante ressaltar que existem ações de caráter predominantemente civil e
outras de caráter essencialmente militar. Contudo, sendo uma OpPaz, em qualquer
de seus estágios, uma operação predominantemente de natureza política, as ações
de caráter civil não podem prescindir da presença e do apoio militar, bem como as

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ações de caráter militar não podem prescindir da presença, do apoio e da


supervisão dos componentes civis da estrutura de uma missão de paz.
Os aspectos essencialmente militares são os seguintes:
- supervisão do cessar-fogo;
- desarmamento, desmobilização de forças irregulares – guerrilheiros, milícias e
bandos - e sua reintegração à sociedade, atividade esta conhecida na comunidade
da ONU como Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (Disarmament,
Demobilization and Reintegration - DDR);
- destruição de armamento e munições recolhidos;
- elaboração e implementação de planos para a localização, demarcação,
interdição e limpeza de áreas minadas; e
- proteção ao retorno de refugiados e pessoas deslocadas aos seus locais de
origem.
c) Proteção de operações humanitárias
O ambiente peculiar de um conflito bélico submete as agências humanitárias ao
desempenho de suas atividades em condições caóticas, onde a necessidade e o
desespero já corroeram a estrutura social, ética, moral e legal, colocando-as
freqüentemente em situações de extremo risco. Essas situações, não raro, são
agravadas pelo fato do atendimento às populações contrapor-se aos objetivos de
uma das partes. Assim, torna-se necessário que as ações de assistência
humanitária sejam conduzidas sob a proteção de força militares, o que pode
acontecer por meio da segurança aos comboios daquelas agências, às suas sedes,
aos seus depósitos e às suas ações de distribuição da assistência.
Um outro tipo de instrumento denominado Intervenção Humanitária
(Humanitarian Intervention) vem ganhando espaço em cenários onde existam
flagrantes violações dos direitos humanos, tais como o genocídio, o extermínio ou
a segregação racial e religiosa entre outras, praticadas por partes em conflito ou
por membros de regimes absolutistas. Em que pese a sua finalidade, este tipo de
instrumento requer especial atenção no que concerne à sua aplicação, visto que
poderá desencadear reação violenta de uma ou mais partes; englobar, em um
cenário difuso, força militar com assistência humanitária; e, devido à sua
sensibilidade política, pelo risco de evoluir para uma Operação de Imposição da
Paz (Peace-enforcement Operations).

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Os instrumentos anteriormente descritos (exceto a Intervenção Humanitária),


também denominados conceitos básicos, são abordados nas publicações
MD34-M-02 – Manual de Operações de Paz e EMA-402 – Operações de
Manutenção da Paz. Contudo, a presente publicação ampliará apenas o que
concerne à Manutenção da Paz e à Imposição da Paz, por ser a aplicação mais
provável do Poder Naval Brasileiro dentro desses dois conceitos.
A implementação destes instrumentos é viabilizada por meio de diferentes tipos
de ForPaz, em conformidade com as orientações específicas em cada missão,
contidas no mandato e nas estruturas, em oposição às conhecidas operações de
guerra, nas quais os intervenientes são parte do conflito.
2.4 - MANUTENÇÃO DA PAZ
Dentre os instrumentos disponíveis para responder de modo efetivo aos diferentes
conflitos, a Manutenção da Paz tem sido o mais empregado, em vista de suas
características de versatilidade e capacidade de transformação em outro instrumento,
exceto evoluir para a Imposição da Paz.
Visando à efetiva materialização da Manutenção da Paz, as Operações de Manutenção
da Paz (Peacekeeping Operations – PKO) são planejadas para monitorar uma trégua
negociada e promover condições que apóiem os esforços diplomáticos para o
estabelecimento de uma paz duradoura. Em essência, são realizadas com o
consentimento prévio das partes oponentes para evitar a escalada de um conflito.
Neste contexto, são empregadas as Missões de Manutenção da Paz cuja estrutura inclui,
geralmente, pessoal civil e militar, dirigidos por um organismo internacional legitimado
para isso, para supervisionar a retirada de forças de ocupação, controlar o cessar-fogo e
zonas desmilitarizadas e estabelecer uma zona de contenção, dentre outras tarefas. O
pessoal militar empregado integrará o contingente militar.
Essas atividades, de caráter não-bélico, caracterizam-se pelo desenvolvimento imparcial
de suas tarefas, limitando o uso da força aos casos de autodefesa.
Quando, em circunstâncias especiais, a tarefa de manter ou restaurar a paz exceder às
atribuições de ForPaz nesse tipo de missão, o Conselho de Segurança da ONU
considerará a possibilidade de alterar e redefinir essas atribuições, de ordenar uma
retirada ou de empregar nova ForPaz.

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2.5 - IMPOSIÇÃO DA PAZ


Imposição da Paz (Peace-enforcement) é a aplicação de força militar ou a ameaça de
seu emprego, normalmente, consoante com autorização internacional, para compelir que
sejam aceitas resoluções ou sanções acordadas, porém conduzidas sem o consentimento
e o apoio de todas as partes. Normalmente, ocorrerá quando todos os outros esforços
falharem. É respaldada pelo Capítulo VII da Carta das Nações Unidas e prevê o uso de
força armada para manter ou restaurar a paz e a segurança internacionais em situações
nas quais o Conselho de Segurança da ONU tenha identificado a existência de uma
ameaça à paz, sua ruptura ou mesmo um ato de agressão claramente definido.
As tarefas de uma ForPaz, em Imposição da Paz, consistirão, normalmente, em ações
de combate. As forças participantes deverão estar preparadas para a possibilidade de
engajamento com todos os partidos em conflito e, provavelmente, serão organizadas,
equipadas e empregadas de modo similar ao usado nas operações militares bélicas,
salvaguardadas, naturalmente, as peculiaridades decorrentes dos efeitos desejados a
serem alcançados, como por exemplo:
- apoiar governos de transição garantindo a manutenção de ambiente estável e seguro
para realização de eleições;
- cessação de hostilidades;
- restabelecimento de governos ou territórios;
- controle sobre portos, aeroportos, instalações e outros pontos de importância operativa
ou logística;
- neutralização, concentração e desarmamento de combatentes hostis ou elementos
adversos;
- segurança ao deslocamento ou estabelecimento de elementos das organizações de
ajuda humanitária;
- apoiar o restabelecimento da lei, da ordem e da segurança pública;
- proteger civis sob ameaça iminente de violência física, dentro de suas capacidades; e
- proteger pessoal, instalações, equipamentos da ONU e garantir sua liberdade de
movimento.

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2.6 - DIFERENÇAS BÁSICAS ENTRE MANUTENÇÃO E IMPOSIÇÃO DA PAZ


Embora ambas sejam classificadas como OpPaz, as PKO e Operações de Imposição da
Paz ostentam significativas diferenças entre si. Seus empregos têm lugar sob
circunstâncias bem distintas e envolvem variáveis como consentimento, força e
imparcialidade.
Ainda que teoricamente possível, não é comum o emprego de uma ForPaz decorrente de
uma PKO mal-sucedida em uma Operação de Imposição da Paz, já que o seu poder de
combate normalmente será insuficiente para tal. De qualquer forma, por serem
radicalmente distintas, uma mudança dessa envergadura exigiria uma profunda revisão
da análise dos fatores da decisão e, conseqüentemente, a reestruturação da ForPaz. Por
outro lado, um contingente que tenha conduzido operações prévias sob um mandato
para a Imposição da Paz não deve, em princípio, ser empregado em Manutenção da Paz
na mesma área de operação, uma vez que o pleno consentimento não vinha sendo
observado e, por isso, a imparcialidade já terá sido comprometida. Esses fatores podem
resultar em ressentimentos e suspeitas por parte dos ex-beligerantes e/ou da população
civil em relação a ForPaz.
A dificuldade de empregar uma Força de Manutenção da Paz em uma Operação de
Imposição da Paz não deve ser confundida com a impossibilidade do exercício da
autodefesa por parte dessa Força, um direito inalienável de qualquer força militar, seja
qual for o tipo de operação ou atividade que esteja realizando.
2.6.1 - Consentimento
Nas PKO, as partes consentem, claramente, a presença e atuação de uma ForPaz.
Nas Operações de Imposição da Paz, o consentimento não é absoluto e a força pode
ser empregada para compelir ou impor a paz. Basta que o organismo internacional
que legitima a operação - normalmente a ONU - possa impô-la a todas ou a algumas
das partes.
2.6.2 - Emprego da força
Nas PKO, a força pode ser usada somente como autodefesa ou para executar ações
de caráter defensivo, conforme previsto no mandato.
Nas Operações de Imposição da Paz, a força é usada para compelir ou impor a paz.
Ainda assim, o nível da força a ser usado deve ser sempre o mínimo requerido para
garantir o cumprimento do mandato. Mesmo nos casos mais graves de uso da força
contra alguma das partes, deverá buscar-se a restauração da paz ameaçada e não a

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derrota total do agressor.


2.6.3 - Imparcialidade
Nas PKO, a imparcialidade deve ser objeto de permanente atenção, especialmente
quando se realizam ações que possam criar a impressão de favorecimento a alguma
das partes. Com a perda da imparcialidade, é pouco provável que se obtenha a
confiança e a cooperação desejadas.
Já nas Operações de Imposição da Paz, dificilmente haverá uma absoluta
imparcialidade, porque ao menos uma das partes será compelida a cumprir uma
resolução que contraria os seus interesses, os mesmos que levaram essa parte a
romper um status quo anterior ao conflito que se pretende cessar ou interromper. É
possível, inclusive, que estejam envolvidas motivações históricas de difícil
conciliação, como por exemplo, territórios perdidos em guerras passadas ou por força
de atos de potências hegemônicas ou organismos intergovernamentais.
O quadro abaixo apresenta uma graduação aceitável dessas variáveis, de acordo com
o tipo de OpPaz executada.
VARIÁVEL Manutenção da Paz Imposição da Paz
Consentimento ALTO BAIXO
Força BAIXO MODERADO / ALTO
Imparcialidade ALTO BAIXO

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CAPÍTULO 3
ASPECTOS LEGAIS E DE PLANEJAMENTO
3.1 - GENERALIDADES
Independentemente do motivo gerador, uma crise vem ao conhecimento da comunidade
internacional pelo clamor de pelo menos uma das seguintes fontes, em mútua
cooperação de esforços:
- mídia;
- comunidade diplomática internacional; ou
- organizações humanitárias governamentais e não-governamentais.
No nível político, a preocupação gerada na comunidade internacional com os possíveis
desdobramentos promove uma intensa busca de esclarecimentos, troca de informações e
discussões sobre os mecanismos para a solução do problema. Pela experiência, pelos
meios de que dispõe e pela legitimidade de suas decisões, a ONU é, indiscutivelmente,
o fórum por excelência para tomada de decisão, quanto aos instrumentos a serem
adotados. Inicia-se, então, um processo de planejamento interno da Organização ao qual
vão sendo aderidos os países contribuintes dispostos a participarem da OpPaz. Cada
país conduz suas decisões e seu planejamento, internamente. Isso ocorre paralela e
simultaneamente com o planejamento da ONU, com intensa troca de informações,
ajustes e acordos.
3.2 - ASPECTOS LEGAIS
No capítulo anterior, foram apresentadas as diferenças entre as Operações de
Manutenção da Paz e as Operações de Imposição da Paz. As características de que se
revestem as Operações de Imposição da Paz provocam relutância em muitos países
contribuintes quanto à sua participação nesse tipo de OpPaz, sendo, por isso, objeto de
cuidadosas considerações, principalmente, quanto aos aspectos de caráter legal e ético.
Entretanto, com vistas à preparação dos GptOpFuzNav, tal participação não deve ser
descartada, pois interesses nacionais de ordem superior ou a crescente responsabilidade
internacional do país poderão determinar, em casos específicos, a não-observância do
princípio em pauta, por tratar-se de um princípio e não de lei absoluta. Ademais, se
decidir pela participação em uma Operação de Imposição da Paz, estará o Brasil,
internacionalmente, plenamente respaldado pelo Capítulo VII da Carta das Nações
Unidas, da qual é signatário.
Os exemplos a seguir constituem registros da participação brasileira em operações

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

nitidamente classificáveis como Operações de Imposição da Paz:


- a FIP, em Santo Domingo, 1965, cuja fase inicial transcorreu nos moldes de uma OIP,
mesmo considerando-se que a referida operação tenha ocorrido antes da consolidação
dos conceitos de Manutenção da Paz/Imposição da Paz e que tenha sido conduzida sob
a égide de um organismo regional, a OEA, e não a ONU;
- a INTERFET (Timor Leste), liderada pela Austrália; e
- a MINUSTAH (Haiti) onde, inclusive, o Brasil foi revestido da condição de nação
líder e o comando do Componente Militar foi atribuído a um oficial-general brasileiro.
Deve-se ressaltar ainda, a importância da Carta das Nações Unidas, especialmente o
contido nos Capítulos VI e VII. As OpPaz, sejam elas Operações de Manutenção da Paz
ou Operação de Imposição da Paz, conduzidas sob um mandato da ONU, com forças de
países integrantes signatários de sua Carta, revestem-se de inquestionável legalidade
internacional.
Internamente, além dos aspectos globais estabelecidos na Constituição Federal e na
Política de Defesa Nacional (PDN), as publicações MD34-M-02 e EMA-402
apresentam as normas condicionantes ou enquadrantes para o desenvolvimento das
OpPaz, dentre as quais destaca-se o mandato, documento básico e de mais alto nível
para o estabelecimento de uma operação de paz.
O preparo e emprego de GptOpFuzNav nas OpPaz serão naturalmente facilitados pelas
características expedicionárias dos GptOpFuzNav e pela semelhança de muitas das
ações que nelas se verificam com as das operações militares tradicionais. Normalmente,
será necessário atender a particularidades relativas ao mandato recebido e, no caso de
forças multinacionais, a necessária interoperabilidade com os demais contingentes
nacionais. Ambos os aspectos tendem a traduzir-se em requisitos de adestramento,
tratados no Anexo B desta publicação.
3.3 - PLANEJAMENTO NO ÂMBITO DA ONU
Conforme o vulto do clamor da comunidade diplomática, o CS, como órgão responsável
pelas ações voltadas à manutenção da paz e à segurança internacionais, encaminha
solicitação formal ao SG para elaborar um relatório sobre a situação e a necessidade de
uma OpPaz em uma área ou região em crise.
3.3.1 - Ações iniciais
Diante da necessidade de uma pesquisa que constituirá a base para o seu relatório, o
SG nomeia um Enviado Especial (Special Envoy – SE) dentre os diplomatas

OSTENSIVO - 3-2 - REV.1


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sugeridos pelos contribuintes. O SE chefiará a equipe técnica a ser enviada à área da


missão em potencial com a finalidade de realizar uma pesquisa sobre a situação
geral. Essa autoridade poderá vir a ser, futuramente, o SRSG.
Embora possa parecer prematuro, nesse estágio poderá ser nomeado ainda o FC, o
qual assessorará o SE quanto aos aspectos militares da pesquisa. O mais comum,
contudo, é que o MILAD indique alguém de sua estrutura para essa assessoria até
que o FC seja nomeado.
O Departamento de Assuntos Políticos (Department of Political Affairs – DPA)
passa, então, a investigar mais acuradamente a situação na área com vistas à OpPaz.
Paralelamente, no âmbito do DPKO, é constituído um grupo de trabalho chefiado por
um funcionário civil do Escritório de Operações da divisão regional responsável pela
área em apreço. A esse grupo caberá a elaboração de apreciações e o delineamento
de diferentes planos em estreita ligação com funcionários de outros departamentos,
especialmente do DPA e do OCHA.
3.3.2 - Solicitação informal aos países contribuintes - Troop Contributing Country
(TCC)
Tão logo forme uma idéia das necessidades da operação, o Serviço de Convocação
de Forças (Force Generation Service – FGS) do Escritório de Assuntos Militares do
DPKO elabora uma lista preliminar dos possíveis países contribuintes. O Sistema de
Pronto Emprego das Nações Unidas (Uniteds Nations Stand-by Arrangements System
- UNSAS) constitui uma base para a elaboração dessa lista com uma idéia prévia da
contribuição potencial de cada país signatário.
Com a lista completa, uma solicitação informal é encaminhada aos países
relacionados por intermédio de suas representações junto à ONU. A partir desse
ponto, inicia-se o processo decisório de cada país.
3.3.3 - Orientações para os países contribuintes
Uma equipe técnica chefiada pelo SE é enviada à área da futura missão para um
reconhecimento. Nessa tarefa, o SE é assessorado ainda pelo núcleo do grupo de
trabalho do DPKO anteriormente referido. O reconhecimento tem por objetivos:
- estabelecer ligação com as autoridades locais e, se possível, com as lideranças das
partes em conflito;
- avaliar o desenvolvimento do conflito e o grau de estabilidade do cessar-fogo, caso
já ocorrido;

OSTENSIVO - 3-3 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

- formar uma opinião quanto às possibilidades de apoio à OpPaz com os recursos


locais; e
- confirmar apreciações anteriores.
Com base nesse reconhecimento é elaborado um documento denominado
Orientações para os Países Contribuintes (Guidelines to the Troops Contributing
Countries). Seu objetivo é proporcionar aos países consultados informações sobre a
missão em delineamento e sobre o que a ONU oferece e requer. Seus principais
tópicos são:
- sumário da situação geral na área;
- versão condensada da história do país afeto ao conflito;
- esboço das tarefas e da organização militares afetas à OpPaz;
- equipamento e o nível de adestramento necessários;
- esboço preliminar das regras de engajamento específicas para a OpPaz em
delineamento. A Organização das Nações Unidas, diferentemente do Brasil,
entende que a expressão "Rules of Engagement” engloba todas os conceitos que
aqui são definidos pelas expressões: Normas de Conduta Política, Regras de
Comportamento Operativo e Regras de Engajamento. Cada uma delas cerceando as
ações em um nível de condução de conflito armado;
- considerações logísticas, incluindo o transporte de tropas e de seus suprimentos e
equipamentos para a área da missão; e
- aspectos de reembolso pela ONU a serem ajustados ou acordados.
Essas orientações ou parte delas são encaminhadas, informalmente, aos países
contribuintes.
3.3.4 - Relatório ao Conselho de Segurança e adoção da Resolução
Paralelamente às ações anteriormente citadas, tomando por base a análise do
reconhecimento efetuado pela equipe técnica, o relatório ao CS vai sendo esboçado
pelo DPKO em intensa troca de informações, principalmente deste com o DPA e o
OCHA. Nessa oportunidade, já existirão elementos para negociar e elaborar a minuta
do documento denominado Acordo sobre o Status da Força (Status Of Force
Agreement - SOFA) – a ser conceituado mais adiante, pois os contatos iniciais com o
governo local, com os contribuintes e com as partes em conflito já terão sido
iniciados.
O relatório é analisado, aprovado pelo SG e impresso como um documento oficial

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

para ser então submetido ao CS. No plenário do CS, o relatório será também objeto
de intensos debates, uma vez que dele resultará a resolução sobre como o problema
será solucionado. Por razões diversas, o Presidente do CS poderá enviar
correspondência ao SG solicitando esclarecimentos ou avaliação das conseqüências
de outra abordagem do problema.
Finalmente, o CS adota a resolução, a qual é o ponto de partida para ações mais
concretas. Esse documento é de fundamental importância, pois muitos países
contribuintes recusam-se a dar a resposta definitiva quanto à participação na OpPaz
até que tenham conhecimento dos seus termos. Ele é, ainda, a base para o processo
orçamentário afeto à operação.
3.3.5 - Ações finais
A essa altura, o SG designa o SRSG, caso ainda não o tenha feito. Por razões
diversas, muitas vezes, existe retardo na definição dessa importante autoridade. São
ainda designados, a partir dos quadros de funcionários da ONU, o CMS, os seus
assessores e os assessores do SRSG. A estrutura subordinada ao CMS destina-se a
prestar o apoio necessário a todas as atividades da operação, inclusive ao
Componente Militar.
Os países compromissados são visitados por comitiva da ONU para conferir o grau
de aprestamento da tropa a ser enviada para a OpPaz e para avaliar as necessidades
afetas ao deslocamento da tropa para a área da missão.
No âmbito da estrutura de comando da OpPaz, o SRSG promove uma reunião com
os chefes de componentes subordinados para disseminar suas diretivas, elaboradas
com base na resolução. Essas diretivas contêm os elementos necessários para que
cada chefe de componente realize o seu respectivo processo de planejamento. Dentre
eles, o FC, assessorado por seu estado-maior e apoiado pelo DPKO, transforma
aquelas orientações de caráter político nos seguintes documentos militares:
- Ordem de Operações (Operational Order – OpO);
- Regras de Engajamento (Rules of Engagement – ROE); e
- Procedimentos Operacionais Padronizados (Standards Operational Procedures –
SOP).
Convém observar que, devido às condicionantes de caráter político e jurídico das
OpPaz, as Regras de Engajamento e os Procedimentos Operacionais Padronizados
são bem distintos daqueles empregados nas operações de guerra, devendo ser

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

elaborados exclusivamente para cada caso.


O convite oficial aos países que anteriormente haviam se proposto a contribuir é
finalmente formalizado por meio de um documento conhecido na comunidade da
ONU como Note Verbale.
3.4 - PLANEJAMENTO NO PAÍS
3.4.1 - Fase informal
As primeiras ações são decorrentes da consulta informal feita pela ONU, dirigida ao
Ministério das Relações Exteriores (MRE) por meio da representação do país junto
àquela Organização. É importante ressaltar que, dadas as características
multifuncionais das OpPaz, a consulta para a contribuição não se resume a aspectos
puramente militares, podendo abranger ainda os seguintes recursos:
- diplomáticos como, por exemplo, indicação do SRSG;
- equipes de policiais civis e policiais militares;
- especialistas em processo eleitoral;
- humanitários como, por exemplo, acolhimento de refugiados;
- estruturas e serviços militares para o apoio à reconstrução da infra-estrutura e
normalização da vida civil como, por exemplo, equipes de desminagem
humanitária, engenharia de construção, aviação e unidades de saúde; e
- observadores de direitos humanos.
O MRE participa, informalmente, ao Presidente da República (PresRep) e coordena a
preparação da resposta com a participação de outros Ministérios afetos, notadamente
dos Ministérios da Defesa (MD), do Planejamento Orçamento e Gestão (MPOG) e da
Fazenda. É feita, então, uma avaliação quanto aos recursos consultados com os quais
o País pode e está interessado em contribuir. Particularmente no âmbito do MD, a
consulta é desdobrada pelas três Forças Singulares que farão uma estimativa prévia
de suas possibilidades globais quanto ao vulto da contribuição em termos de efetivos,
equipagens e apoio logístico. A resposta informal deve mencionar os recursos com os
quais o País poderá contribuir. É evidente que maior detalhamento será solicitado
nessa ocasião, bem como a resposta final ficará condicionada à adoção da resolução.
Paralelamente, no nível governamental, é conduzida uma permanente avaliação da
reação nacional quanto à participação do País na operação, haja vista os custos e os
aspectos políticos envolvidos.
O recebimento das Orientações aos Países Contribuintes, ainda que venha a ocorrer

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

no estágio informal do processo decisório, proporciona grande quantidade de


subsídios para o início dos preparativos no âmbito de cada Força.
3.4.2 - Fase formal
Após a adoção da resolução, é emitido o documento Note Verbale pela ONU para o
MD, o qual elabora uma exposição de motivos. Esta é submetida pelo PresRep ao
Congresso que concede a autorização por decreto legislativo. O PresRep, então,
determina o desencadeamento das ações necessárias à participação do País por meio
de decreto presidencial. No âmbito do MD é elaborada uma diretriz ministerial cujos
termos terão por base as Orientações aos Países Contribuintes, decisões tomadas em
reuniões com representantes da ONU porventura ocorridas e, sobretudo, a resolução.
Essa diretriz ministerial, por sua vez, originará uma diretriz no âmbito de cada Força.
É importante ressaltar que essas diretrizes visam, primordialmente:
- prestar informações sobre a situação na área da missão e sobre as características da
mesma;
- definir mais precisamente os parâmetros de organização e preparação do
contingente nacional;
- disseminar normas de conduta e de procedimentos, consoantes com os costumes
locais;
- definir as ações relativas ao trato de questões disciplinares; e
- estabelecer medidas de comando e controle e normas de conduta operacional, em
conformidade com o tipo de relação de comando adotada.
Como vimos, o FC é o responsável pela emissão de uma OpO, das ROE e dos SOP.
Ocorre que, pela dinâmica dos preparativos da OpPaz, as diretrizes no âmbito do País
poderão ser emitidas antes daqueles documentos. Assim, conflitos poderão ser
identificados quando os documentos do FC e as diretrizes do País passarem a
coexistir. Via de regra, no que diz respeito à OpO do FC, esses possíveis conflitos
serão eliminados pelo tipo de relação de comando acordado entre o Brasil e a ONU –
comando operacional, controle operacional ou controle tático. Quanto às ROE e aos
SOP, é conveniente adotar-se aquelas emanadas do FC por terem sido esboçadas no
âmbito do DPKO, sob a cuidadosa consideração de outros órgãos do Secretariado,
desde o início do planejamento. Com isso, caso seja necessário o emprego da força,
fica eliminada qualquer responsabilidade isolada do Contingente Nacional.

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3.5 - PRINCIPAIS DOCUMENTOS AFETOS A UMA OPERAÇÃO DE PAZ


Neste tópico, serão abordados os principais documentos, sejam de caráter permanente,
sejam os especificamente elaborados ou decorrentes de uma OpPaz em particular.
3.5.1 - Resolução
É o documento de mais alto nível emitido pelo CS com vistas ao estabelecimento de
uma OpPaz. Seu conteúdo, normalmente:
- enfatiza os princípios básicos da ONU, os acordos violados pelas partes em litígio e
esforços feitos pela Organização com vistas ao fim das hostilidades como, por
exemplo, a Diplomacia Preventiva;
- apresenta referências a fatos e denúncias que contem com a desaprovação da
Comunidade Internacional apresentados no relatório do SG;
- estabelece o nome da missão, o capítulo da Carta que regerá a OpPaz e a previsão
inicial para a sua duração;
- define as tarefas a serem incluídas no mandato inicial, bem como o período de
duração do mesmo;
- exorta os países membros e outras organizações internacionais à participação e
contribuição; e
- orientações e atribuição de responsabilidades do SG como, por exemplo, o
acompanhamento da situação e o calendário de relatórios.
3.5.2 - Mandato
É documento que expressa, de maneira abreviada, a Resolução do CS quanto à forma
de condução de determinada OpPaz, contendo seus fundamentos e objetivos a serem
atingidos. Sua validade, normalmente, abrange um período de seis meses a um ano,
podendo ser renovado. Além do contido na Resolução, incorpora os acordos e
negociações coordenadas pela ONU entre as partes em conflito e os países
contribuintes. Normalmente, aborda os seguintes aspectos:
- objetivos e tarefas da missão;
- período de vigência do mandato;
- relação dos países participantes;
- responsabilidades assumidas pelo país anfitrião e pelas partes em conflito em
relação à presença da Missão;
- direitos e imunidades outorgados aos componentes da Missão; e
- efeito desejado da OpPaz – desired end state.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

Por ser um documento influenciado por acordos e protocolos desenvolvidos em


clima político difuso e carregado de ambigüidade, é natural que, fruto de novas
resoluções, os mandatos sejam alvo de reformulações e ajustes.
3.5.3 - Acordo sobre o status da força
Esse acordo - Status of Force Agreement (SOFA) - é o documento no qual são
definidas a situação detalhada da OpPaz e a sua situação legal, devendo, por isso, ser
considerado como um conjunto de responsabilidades e compromissos assumidos pelo
país anfitrião perante a ONU. Seu conteúdo aborda e regula, entre outros, os
seguintes aspectos:
- liberdade de movimentos dos componentes da Missão, inclusive quanto à entrada e
à saída do país anfitrião;
- uso de distintivos e sinais indicadores da Missão, incluindo uniformes;
- porte de armas e os tipos de armamento autorizados;
- autorização para conduzir veículos, embarcações e aeronaves;
- utilização de infra-estruturas tais como aeroportos, portos, estradas e vias
navegáveis;
- aspectos jurídicos civis e militares e a aplicabilidade da lei local;
- liberdade de culto religioso;
- aspectos alfandegários e de isenção fiscal;
- aquisição local de bens e serviços; e
- emprego e contratação local de mão-de-obra.
3.5.4 - Sistema de pronto emprego das Nações Unidas
Este sistema - United Nations Standby Arrengements System (UNSAS) - não se trata
especificamente de um documento afeto a uma OpPaz, mas de um conceito
necessário ao entendimento de outros documentos.
Com a finalidade de agilizar o processo de geração de força, a ONU instituiu o
referido sistema, que é um acordo prévio sobre a disponibilidade de tropas para
OpPaz. A adesão é de caráter voluntário, com detalhamento específico que espelha
as possibilidades e capacidades de cada país aderente. O Brasil é signatário desse
sistema, tendo o compromisso de contribuir com duas unidades de valor batalhão,
denominadas Batalhões de Proteção (BtlProt), sendo um do Exército Brasileiro (EB)
e outro do CFN. Denominado Brazilian Marine Battalion (BRAMARB). Sua
organização, bem como a sua capacidade de auto-sustentação, encontram-se

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

detalhadas em documento elaborado no âmbito do Comando da Força de Fuzileiros


da Esquadra (ComFFE).
Convém ressaltar que, pelo UNSAS, o País tem ainda o compromisso de participar
das OpPaz com apoio de saúde – por meio de organizações de saúde denominadas
Unidades Médicas, normatizadas, no que diz respeito à MB, pela Diretoria do
Pessoal Militar da Marinha (DPMM) – e apoio de engenharia – com subunidades
especificamente especializadas.
Os termos a que o Brasil aderiu ao UNSAS e os documentos de caráter permanente
decorrentes constituem importante base para o aprestamento do GptOpFuzNav e para
o planejamento visando ao emprego nas OpPaz, servindo ainda como referências
para abreviar o conteúdo de outros documentos.
3.5.5 - Política e Procedimentos para o reembolso e controle de contingentes
A publicação da ONU Manual on Policies and Procedures Concerning
Reimbursement and Control of Contingent – Owned Equipment of Troop-
Contributors Participating in Peacekeeping Missions (COE) é o documento, de
caráter permanente, que prescreve uma política de reembolso aos países contribuintes
aplicável a qualquer OpPaz. Regularmente aperfeiçoada e atualizada com a
participação daqueles países, essa publicação constitui uma importante ferramenta de
planejamento e referência para abreviar o conteúdo de outros documentos.
3.5.6 - Memorando de entendimento
Esse documento - Memorandum of Understanding (MOU) - estabelece as
responsabilidades administrativas e logísticas acordadas entre a ONU e cada país
contribuinte especificamente para cada OpPaz. No caso brasileiro, o MOU é assinado
pelo Chefe da Missão Permanente junto à ONU e pelo Sub-Secretário Geral do
DPKO. Normalmente, contém:
- aspectos ligados ao pagamento e às necessidades do pessoal participante;
- necessidades, taxas de reembolso pelo desgaste, procedimentos de verificação e
controle, transporte para a área da missão, instruções em caso de perda ou dano e
outros aspectos relativos ao material e equipamentos fornecidos pelo País;
- capacidade e requisitos logísticos do contingente quanto aos suprimentos
necessários à sua atuação; e
- requisitos de desempenho para o equipamento do contingente.
O conteúdo do MOU poderá, no caso do Brasil, referir-se aos termos de adesão ao

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

UNSAS e ao Manual COE.


3.5.7 - Carta de Assistência
É o documento – Letter of Assistence (LOA) – pelo qual a ONU ou um país
contribuinte solicita um determinado apoio não constante do MOU, gerado por uma
situação ou assunto inopinado.
3.5.8 - Regras de Engajamento
As Rules of Engagement (ROE) são diretrizes elaboradas pelo FC especificamente
para cada OpPaz, visando fornecer ao Componente Militar as circunstâncias e
limitações para o uso da força. As situações em que se aplicam as ROE, bem como a
conceituação a ela pertinente, encontram-se ampliadas no capítulo 4 da presente
publicação.
3.5.9 - Procedimentos Operacionais Padronizados
Essa publicação - Standard Operating Procedures (SOP) - elaborada pelo FC para
cada OpPaz e distribuída aos países contribuintes, tem por finalidade padronizar, na
área da missão de paz, os procedimentos operacionais, logísticos, administrativos e
de comunicações. Além disso, apresenta as regras gerais para o funcionamento de
todos os setores da missão.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

CAPÍTULO 4
PECULIARIDADES E PROCEDIMENTOS OPERATIVOS NAS OPERAÇÕES DE PAZ
4.1 - GENERALIDADES
Muitas das técnicas e procedimentos nos quais as tropas se adestram para as operações
militares de guerra são adequados ao emprego nas OpPaz. Contudo, as limitações impostas
pelo mandato e documentos decorrentes de cada missão exigirão o seu aperfeiçoamento e o
desenvolvimento de novas técnicas e procedimentos, de modo a atender ao cumprimento
das tarefas e a proporcionar a segurança dos integrantes de uma ForPaz.
Tais técnicas e procedimentos serão úteis tanto nas Operações de Manutenção da Paz
quanto nas Operações de Imposição da Paz, particularmente após a fase de combates
mais intensos e durante a gradual distensão que a ela se seguirá.
4.2 - POSIÇÕES E POSTOS DE OBSERVAÇÃO
4.2.1 - Definições
a) Posição
Uma Posição (Pos) é um título genérico atribuído a qualquer local taticamente
situado e ocupado permanentemente por pessoal militar de uma OpPaz, a partir do
qual seja possível realizar tarefas decorrentes do mandato da missão. São
exemplos de posições os Postos de Controle (PCt ou check-point), os Pontos
Fortes (strong point), e os aquartelamentos. Uma Pos é normalmente ocupada por
tropas armadas.
b) Posto de Observação (PO)
Um PO é um local permanentemente ocupado por pessoal militar da OpPaz, de
onde é possível realizar as tarefas de observação e relato. Ao posicionar um PO,
diferentemente do que ocorre em uma operação militar de guerra, geralmente
abre-se mão dos aspectos táticos em nome da capacidade de observação. Um PO
pode ser guarnecido tanto por elementos da tropa quanto por UNMO. Entretanto,
não é prática usual a presença simultânea de tropas e UNMO em um mesmo PO,
pois cada um desses componentes é regido por aspectos distintos de um mandato.
c) Pos e PO temporários
Cumprem as mesmas finalidades das respectivas instalações permanentes, porém
são utilizados por um curto período de tempo, normalmente para a realização de
uma tarefa específica de observação, controle ou bloqueio (block position). Não
dispõem das mesmas condições de habitabilidade das instalações de caráter mais

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

duradouro. Contudo, algumas facilidades remanescentes poderão ser encontradas


em caso de uso temporário de Pos ou PO já abandonados. Nesta última situação,
especial atenção deverá ser dada à segurança, já que elementos das facções em
conflito poderão ter lançado armadilhas nessas instalações. Quando for possível a
recuperação parcial ou total de instalações, os postos temporários poderão ser,
normalmente, empregados como instalações permanentes.
4.2.2 - Identificação e proteção
Todas as Posições devem ser perfeitamente identificadas e delimitadas. Devem,
também, prover proteção para os seus ocupantes, equipamentos, equipagens e meios
de transporte.
Devem possuir proteção de sacos de areia, pedras, gabião (muro de sustentação feito
de pedras arrumadas dentro duma tela) e outros recursos materiais existentes na área.
Em seu exterior, devem ser lançados obstáculos e o acesso ao interior deve ser
construído em forma de zig-zag.
Seus ocupantes deverão estar abrigados ou protegidos das armas de uso mais
freqüente na área da missão.
A instalação deve ser, preferencialmente, pintada de branco e possuir as letras “UN”,
distintivas da ONU, pintadas em preto ou azul. Tal marcação também deve ser
identificada de aeronaves em sobrevôo. O número da instalação também deve estar
visível. A bandeira da ONU deve ser mantida permanentemente hasteada em um mastro
ou local visível. A instalação e a bandeira da ONU devem estar iluminadas à noite.
Na medida do possível, essas instalações devem dispor de comunicações por fio e rádio
com o Posto de Comando (PC) mais próximo. A figura C-1 do Anexo C apresenta o
diagrama de uma Posição com diversos recursos de proteção implementados.
4.3 - POSTOS DE CONTROLE
Um PCt é um local guarnecido para permitir o controle do movimento e a inspeção de
viaturas e pedestres, visando à imposição de medidas restritivas, ordens e determinações
ou mostrar a presença da OpPaz às partes em conflito. Embora tenha sido amplamente
empregado em diversas OpPaz, a natureza e a freqüência de seu uso dependerá do
mandato recebido, do conceito da operação e dos acordos relativos ao SOFA, fatores
que poderão restringir os poderes concedidos para a realização de inspeções.
PCt fechados são denominados posições de bloqueio. Embora sejam menos comuns,
poderá se fazer necessário o estabelecimento de posições de bloqueio, quando

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

necessário à luz do desenvolvimento das ações no terreno.


Os militares que guarnecem PCt devem estar adestrados para responder adequadamente
a ocorrências típicas de controle de trânsito e inspeções de viaturas e pessoas, como por
exemplo:
- congestionamento resultante;
- indivíduos que estejam ansiosos em virtude da perda de tempo, que se recusem a
identificar-se ou que se recusem a abrir os compartimentos do veículo, ou alegando,
ser autoridade de um dos poderes constituintes do país;
- descoberta de armas, drogas, munições ou explosivos;
- colisões; e
- viaturas com informes de furtos, roubo ou envolvimento em seqüestro.
Os PCt podem ser estáticos ou móveis.
4.3.1 - Postos de Controle Estáticos (PCE)
Os PCE são desdobrados em caráter permanente em locais fixos. Normalmente, um
PCE estará justaposto a uma Pos, onde estarão acantonadas as tropas que o
guarnecem.
Os PCE são estabelecidos nas principais rodovias ou caminhos, normalmente, em
cruzamentos e bifurcações ou no acesso à área que se pretende controlar. As figuras
C-2 e C-3 do Anexo C representam esquematicamente alguns tipos de PCE.
O PCE deverá dispor de meios para desacelerar o tráfego (quebra-molas, rampas e
outros) e uma “baia” para a realização de inspeções. O PCE é permanentemente
guarnecido. Quando for fechado, converte-se em um bloqueio de estrada,
normalmente, para impedir o acesso a uma área durante determinados períodos.
Conforme já explanado, é bastante variável o critério de inspeção nos PCE, como por
exemplo, dentre outras possibilidades:
- todas as viaturas;
- somente as viaturas militares;
- algumas viaturas, aleatoriamente;
- todos as pessoas; e/ou
- somente homens.
4.3.2 - Postos de Controle Móveis (PCM)
Os PCM são utilizados quando existem dificuldades para cobrir todas as rodovias e
caminhos com PCE. Os PCM são guarnecidos por frações de valor mínimo Grupo de

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

Combate (GC), com duas viaturas, preferencialmente, blindadas de transporte de


pessoal (VBTP). Quando em ação, esse GC deixa a sua base e opera em uma
determinada malha viária e estabelece PCM por curtos períodos.
4.4 - AQUARTELAMENTOS
Um aquartelamento (headquarters - HQ), também chamado de Base, é uma instalação
destinada às seguintes finalidades:
- operação dos órgãos de comando – central, setorial ou regional – de uma ForPaz;
- local para reuniões entre o Comando da ForPaz, o governo local e representantes das
partes em conflito;
- alojamento, local de rancho e lazer para tropa não empenhada momentaneamente na
execução de tarefas;
- proporcionar abastecimento de combustível, manutenção e estacionamento para os
meios de transporte da ForPaz; e
- instalações de saúde à tropa.
Em que pese o propósito de uma OpPaz, um HQ é uma instalação de extrema
sensibilidade. Atentados por partidos descontentes em razão de alguma decisão da ONU
ou por partes interessadas em desestabilizar o processo de paz em andamento não
podem, de forma alguma, ser descartados. Acrescente-se que, em decorrência das áreas
de missão abarcarem regiões, onde permeiam a miséria e o desespero humano, os HQ
poderão ser alvo de roubo, furtos, manifestações e, até mesmo, em situações extremas,
tentativas de saque por parte da população local. Isso torna a segurança dos
aquartelamentos uma questão de vital importância para o sucesso da missão. Os tópicos
a seguir abordam técnicas e procedimentos adotados visando à segurança dos HQ.
4.4.1 - Identificação
Diferentemente das operações militares de guerra, que devem se beneficiar da
camuflagem e da ocultação para a sua sobrevivência, um HQ de ForPaz deve ser
visível tanto da terra quanto do ar. Isso contribui para evitar ataques ou atentados
gerados pela confusão ou que, na sua ocorrência, venha a ser alegada a dificuldade
na identificação das instalações do HQ.
A identificação é conferida pela localização do HQ - preferencialmente em locais
elevados ou descampados - pela cor branca de suas instalações e pelos símbolos
característicos – bandeira da ONU no local mais alto do HQ e a sigla “UN” pintada
no topo e nos seus acessos. A demarcação dos acessos deve começar a distâncias que

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proporcionem o aviso oportuno a quem se aproxime.


A identificação à noite é proporcionada pela iluminação dos símbolos característicos,
utilizando-se, inclusive, dispositivos locais ou baterias como fonte de geração de
energia para iluminação.
4.4.2 - Segurança periférica e interna
Um HQ pode ser alvo de ataques, de atentados com carros-bomba, de roubo, de
furto, de tentativa de saque, de manifestações, de sabotagem e espionagem por parte
de elementos infiltrados. A identificação, de certa forma, já proporciona relativa
segurança quanto às ameaças além de evidenciar a imunidade das referidas
instalações. Contudo, medidas adicionais se fazem necessárias quanto à segurança
interna. Para preservar um HQ de ameaças aproximadas, algumas medidas de
segurança e de otimização dos recursos existentes se fazem necessárias. Dentre essas
medidas, ressaltam-se as abaixo mencionadas:
- instalação de segurança periférica passiva, incluindo obstáculos, aproveitando-se
expedientes de fortuna;
- colocação de placas de advertência, no idioma local, orientando quanto às áreas
proibidas e aos acessos normais ao interior do HQ;
- indicação de estacionamentos para visitantes e para as viaturas da ONU;
- disposição de sentinelas fixas, preferencialmente em guaritas, e se possível
utilizando equipamento de visão noturna, e os itinerários para as sentinelas
rondantes;
- cobertura de ângulos mortos; e
- aproveitamento judicioso dos meios de iluminação, com emprego de holofotes
acionados a distância.
A figura C-5 do Anexo C apresenta de forma esquemática as medidas acima
mencionadas.
4.5 - PONTO FORTE (PF)
Um PF (Strong Point) é uma instalação normalmente situada em uma área “vermelha” e
com uma limitada capacidade de aquartelamento, que permite à tropa demonstrar ação
de presença e exercer o controle sobre determinada área. A partir de um PF, a tropa
poderá lançar patrulhas a pé ou motorizadas de modo a aumentar a ação de presença na
região. Deverão ser estabelecidas, dentro da disponibilidade de pessoal e material, as
medidas de segurança periféricas e internas observadas para os aquartelamentos.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

4.6 - PATRULHAS
O patrulhamento é uma atividade essencial em uma OpPaz. É realizada por ForPaz,
UNMO ou ambos, devendo ser um dos assuntos principais na preparação de contingentes
ou pessoal militar para a participação em OpPaz. O conteúdo apresentado a seguir se
refere a conceitos genéricos atinentes à atividade em pauta, devendo ser complementado
com as especificidades segundo as quais dar-se-á o patrulhamento em cada OpPaz.
4.6.1 - Propósitos das patrulhas
As patrulhas poderão ser lançadas para executar as seguintes tarefas:
- confirmar e/ou supervisionar um cessar-fogo;
- obter informação;
- verificar áreas que não podem ser observadas de um PO;
- restabelecer a ligação com comunidades isoladas;
- estabelecer PCM;
- inspecionar posições ocupadas e/ou abandonadas pelas facções;
- deter ou reportar tentativas de infiltração;
- conduzir observação em PO isolados e abandonados;
- prover uma ligação física entre posições adjacentes, porém, relativamente isoladas;
- proporcionar segurança a elementos das facções ou da população em locais onde os
deslocamentos sem tal apoio possam provocar incidentes;
- interpor tropas entre as facções em períodos de tensão;
- estabelecer contato com elementos adversos; e
- mostrar a presença da ONU às partes em conflito.
4.6.2 - Classificação das patrulhas quanto à mobilidade
a) Patrulhas a pé
Sob o enfoque de que as áreas atribuídas a uma unidade de ForPaz são muito mais
extensas do que nas operações militares de combate podemos listar algumas
limitações da patrulha a pé comparadas às patrulhas motorizadas:
- reduzida flexibilidade de emprego;
- reduzido alcance operacional e capacidade de transporte; e
- reduzida capacidade de comunicações.
Uma viatura pode ser claramente marcada para indicar sua identificação, mas,
uma patrulha a pé, freqüentemente, necessita portar um sinal de identificação que
seja visível a uma distância apropriada. É de suma importância que uma patrulha

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

seja facilmente identificável no terreno pelo uso de símbolos e emblemas


característicos das ForPaz. Podendo ser vista a longas distâncias, a patrulha
diminui o risco de ser acidentalmente atacada por qualquer uma das partes
envolvidas no conflito.
A patrulha a pé, apesar da sua limitação em relação ao alcance, tem, em
contrapartida, a vantagem de poder atuar em áreas inacessíveis às patrulhas
motorizadas, por razões meteorológicas ou topográficas. Por este motivo, somente
a patrulha a pé tem condições operacionais para atender às mais diversas situações
nas OpPaz.
Se uma patrulha a pé se desloca numa área controlada por outra unidade,
coordenação cuidadosa e antecipada se faz necessária.
Em áreas edificadas, quando as condições de segurança permitirem, será
vantajoso empregar patrulha a pé. Isto permitirá um melhor contato com a
população, o que é de grande importância para todas as operações da ONU. O
contato amistoso com os moradores locais pode, também, resultar em informes
que deverão ser analisados por elementos de inteligência e poderão trazer grandes
contribuições para as operações.
b) Patrulhas motorizadas
São usadas nas seguintes situações:
- efetivo reduzido;
- área de responsabilidade extensa; e
- necessidade de rapidez na obtenção de informes.
O emprego de patrulhas motorizadas apresenta vantagens em relação ao emprego
das patrulhas a pé, tais como:
- maior mobilidade;
- maior área de atuação;
- maior número de patrulhas num curto intervalo de tempo;
- maior alcance e segurança nas comunicações, proporcionados pelas
características dos equipamentos-rádio e antenas veiculares;
- facilidade de atuação nos períodos noturnos e de baixa visibilidade, em razão do
uso de faróis e holofotes instalados nas viaturas da ONU; e
- quando mecanizadas as patrulhas oferecem maior proteção devido a blindagem
dos veículos sobre rodas para o transporte de tropas.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

As patrulhas motorizadas sofrem limitações devido às:


- características do terreno;
- condições climáticas e meteorológicas;
- características das viaturas; e
- a existência de obstáculos como valas, carcaças de veículos queimados e lixo,
que demandaram trabalhos de engenharia no local dos mesmos.
Sua maior limitação é mais psicológica do que física, impulsionados pela
monotonia e tendência ao sono, particularmente nos períodos noturnos e chuvosos.
A patrulha deve ser completa de modo a ser produtiva na coleta de dados. Em
certos pontos de observação, a patrulha deve parar a viatura, desligar o motor e
completar a missão a pé. Isto é particularmente importante durante períodos de
visibilidade reduzida. Os locais escolhidos para observação, freqüentemente,
devem ser mudados e o tempo de observação variado.
c) Patrulhas aéreas
Podem ser realizadas por helicópteros e aeronaves leves, desde que haja
concordância das partes em conflito. As patrulhas aéreas podem ser empregadas
para confirmar informes provenientes de fontes terrestres. Conforme a
disponibilidade, pode-se lançar mão de meio aéreo não-tripulado, guiado à
distância por controle remoto que, dotado de câmera de vídeo, pode substituir o
ser humano, reduzindo o risco de perdas. Apresenta as vantagens de obter dados
em tempo real, de poder ser utilizado em áreas de risco ou nas situações em que
não haja permissão para o vôo.
Em relação às patrulha motorizada, a patrulha aérea apresenta as seguintes
vantagens:
- cobre maior área num menor intervalo de tempo; e
- permite a observação em elevações e áreas de difícil acesso.
Contudo apresenta as seguintes limitações:
- suscetibilidade a condições climáticas e meteorológicas adversas;
- restrições impostas por algumas das partes em conflito, especialmente quando há
constantes ameaças de guerra aérea e antiaérea;
- restrições de altitude para o vôo impostas pela ONU para não comprometer a
segurança das aeronaves;
- restrições de vôo em virtude da possibilidade de interferência com o tráfego

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aéreo civil; e
- dificuldades no estabelecimento e manutenção de redes de comunicação terra-ar.
Além das patrulhas acima descritas, a disponibilidade de meios de transporte
específicos de ambientes especiais ensejará a existência de outros tipos de
patrulha, tais como as patrulhas navais e ribeirinhas.
4.6.3 - Planejamento e execução
a) Planejamento
O lançamento de patrulhas deve ser precedido de um planejamento que leve em
consideração, no mínimo, os efetivos e meios, a segurança, as comunicações, as
ações em caso de incidentes, as ações nos altos, os planos contingentes e de
reforço, a formação tática - quando aplicável, os procedimentos para evacuação de
baixas e as formas de apresentação e conteúdos do relato oral e do relatório por
escrito. Quanto à segurança, especificamente, deverá ser levado em consideração:
- rotas livres de minas;
- trafegabilidade na área a ser patrulhada;
- presença de elementos de ligação;
- necessidade de guias e/ou intérpretes;
- riscos nos deslocamentos noturnos ou sob visibilidade reduzida;
- procedimentos especiais eventualmente necessários; e
- identificação visual da patrulha por parte das facções em conflito.
b) Execução
As seguintes precauções de segurança nas patrulhas devem ser observadas:
- evitar áreas minadas, sob essa suspeita, confirmando junto a parte em conflito
que detiver o controle da mesma;
- empregar oficiais de ligação das partes em conflito;
- empregar guias que conheçam a região e a localização de forças em conflito;
- realizar ensaios e briefings;
- utilizar armamento e equipamento adequados;
- manter comunicação constante com o Comando;
- manter as partes oponentes cientes das atividades de patrulha, no que couber;
- coordenar sua execução com o Estado-Maior (EM) da ForPaz e UNMO; e
- conduta por ocasião das diversas situações de risco como emboscadas,
manifestações populares e na presença de obstáculos.

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O briefing deve compreender:


- o objetivo da patrulha;
- a situação geral na área, atenção aos eventos especiais, relatórios das patrulhas
anteriores e o fornecimento de todas as informações disponíveis atualizadas;
- outras patrulhas ou atividades importantes, bem como os itinerários das
patrulhas mais próximas;
- procedimentos locais em uso pelas outras partes ou por autoridades civis na área;
- tarefa alternativa, caso a principal não possa ser executada;
- o itinerário de ida e de regresso da patrulha;
- como PO e unidades localizadas na área a ser patrulhada serão informados;
- horários de partida e de chegada aos diferentes objetivos, bem como último
horário para retornar à base;
- comunicações;
- cada membro da patrulha deve ser instruído sobre que atitude tomar se a patrulha
for detida, sofrer fogos ou for obstruída de qualquer outra forma;
- procedimentos para evacuação de baixas;
- dados meteorológicos;
- situação em que o armamento deve se encontrar; e
- regras de engajamento.
O procedimento padrão de uma patrulha sob fogos, de uma das partes
beligerantes, é aferrar e identificar-se. Todos devem ter em mente que qualquer
movimento não ensaiado ou involuntário pode causar a abertura ou a
intensificação dos fogos, caso a patrulha já esteja sob fogos.
No debriefing, ênfase deve ser dada aos ensinamentos obtidos sobre o terreno e
comportamento das partes em conflito e da população local.
O relatório deverá ser elaborado e escrito logo após o regresso. Deverá conter
croquis, fotos, diagramas e outros detalhes importantes. Deverá informar ainda,
danos ou deficiências dos equipamentos e qualquer problema de saúde.
Os aspectos de planejamento e execução acima abordados poderão constar de
SOP, o que agilizará a preparação das patrulhas e contribuirá para a uniformização
de procedimentos.
4.6.4 - Patrulhas com características especiais
Diversos aspectos do planejamento e da execução das patrulhas podem ser

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considerados comuns a todas elas. Entretanto, algumas patrulhas com características


especiais, apresentadas a seguir, possuem particularidades dignas de notas, cujo
conhecimento e observância podem ser decisivos para o seu êxito ou insucesso.
a) Patrulhas noturnas
As patrulhas são, normalmente, empregadas durante o dia nas OpPaz. À noite, não
só a identificação se torna mais difícil, bem como ocorre um natural aumento do
nível de stress podendo conduzir a dificuldades na identificação, à hesitação e até
mesmo aumentar a exposição da tropa aos agentes adversos. Ainda assim, sempre
que necessário, serão realizadas patrulhas noturnas.
Os procedimentos a serem observados para a execução de uma patrulha noturna
devem ser claramente definidos e difundidos somente para os que necessitam
conhecê-los, de modo a reduzir os riscos inerentes ao seu cumprimento.
A extensão e a precisão dos informes obtidos por meio de patrulhas noturnas
provavelmente serão reduzidos, em virtude das condições de visibilidade e de
tensão de seus integrantes. Portanto, é necessária uma confrontação entre os riscos
e benefícios de sua realização. Os riscos podem ser minorados pela adoção das
seguintes medidas:
- emprego de equipamentos de visão noturna;
- restrição do deslocamento das patrulhas às estradas e caminhos bem conhecidos; e
- divulgação às autoridades de ambas as partes acerca da execução das patrulhas.
Precauções devem ser tomadas no planejamento e preparação de patrulhas
noturnas. As ordens devem ser específicas, claramente definidas e enfatizadas. A
desatenção a qualquer detalhe por parte dos planejadores e o desconhecimento de
procedimentos por parte da patrulha podem redundar em baixas e perdas
desnecessárias. Cada integrante da patrulha deverá compreender completamente
as instruções recebidas.
Para reduzir os riscos de erro e desentendimento, as seguintes precauções devem
ser tomadas:
- itinerários de patrulhas noturnas devem ser disseminados às partes e
coordenados com o Comando de suas Forças; e
- notificação prévia de qualquer atividade de patrulha para aqueles mesmos
Comandos, em tempo suficiente para que eles notifiquem suas próprias unidades e
todas as unidades subordinadas na área na qual a patrulha irá operar. Essa medida

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deve incluir detalhes de tipo e tamanho da patrulha, sua rota, tempo que estará
fora e informação de qualquer marca distinguível ou meios de identificação que
esteja usando, ou que nenhuma identificação visível no escuro será usada.
O comandante da patrulha deve ser instruído para manter contato rádio contínuo
com a base, reportando em horários pré-determinados e imediatamente no caso de
qualquer acontecimento que afete a execução, horário e itinerário da patrulha.
Cada membro da patrulha deve usar um sinal distinguível. Se a ForPaz precisar
conduzir patrulha em áreas muito perigosas durante a escuridão, luzes podem ser
usadas, de modo que a patrulha seja visível à distância. Esta marca deverá ser
utilizada por todos os membros de uma patrulha que venha a ser lançada entre
dois partidos em conflito ou que vá se deslocar próximo a eles.
Cada membro da patrulha deve estar ciente dos procedimentos especiais de sua
patrulha e deve ser inquirido antes da partida para garantir que os tenha entendido.
b) Patrulhas em áreas minadas
Devido à guerra moderna e às táticas de guerrilha, minas são usadas
freqüentemente. Havendo riscos devido às minas, o patrulhamento é mais difícil
de ser conduzido. Em algumas operações da ONU, os itinerários da patrulha
deverão ter trechos balizados. Este balizamento é, também, importante informação
para possíveis infiltrantes, os quais são mais propensos a sofrerem riscos ao
entrarem em áreas não limpas de minas.
Devido ao perigo de minas, o Oficial de Operações deve delimitar as áreas
proibidas às patrulhas da ONU. Se nenhuma carta ou informação estiver
disponível, a limpeza de minas é a única possibilidade, combinada com itinerários
selecionados em estradas ou caminhos em terreno firme e que já estejam em uso.
c) Patrulha de longo alcance
O seu propósito é o mesmo de uma patrulha de curto alcance. Ao conduzir uma
patrulha de longo alcance, o comandante consegue:
- melhor cobertura da área da missão;
- uma combinação de tarefas realizadas por uma mesma patrulha, de acordo com a
situação; e
- obtenção de mais dados pela patrulha e prevenção de infiltrações na área da
missão.

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d) Patrulha de Segurança
É uma patrulha com o propósito de evitar infiltração na área da missão.
A área de emprego de uma patrulha de segurança é próxima a passagens ou locais
que facilitem infiltrações. Além disso, as patrulhas devem estar em posições
defensivas organizadas e em área de terreno dominante de onde seja possível
identificar os infiltrantes a longa distância.
Infiltrações podem ocorrer de dia ou de noite. Durante o dia, os infiltrantes podem
misturar-se à população local. Durante a noite, eles se deslocam por itinerários
secundários em áreas remotas. Para alcançar o seu propósito, é recomendável que
a patrulha permaneça em posição pelo período mínimo de duas horas.
A comunicação rádio é normalmente empregada na saída da base e no regresso da
patrulha. Quando em deslocamento, é altamente recomendável que o faça
silenciosamente, mantendo escuta permanente e uma observação contínua.
Quando a patrulha se aproxima do objetivo ou posição a ser ocupada, deve mover-
se cautelosamente. Ao aproximar-se do local, a patrulha deve fazer pequenos altos
para assegurar-se de que está sozinha na área.
O posicionamento poderá prover segurança à toda volta ou em linha, dependendo
se a patrulha conhece ou não a direção provável de infiltração.
A distância entre os homens deve possibilitar o contato e comunicação visual.
e) Patrulhas em cidades e patrulha de toque de recolher
Nestes tipos de patrulha, a ação de presença é muito importante.
Estas patrulhas são usualmente conduzidas em passagens estreitas, que demandam
tanto a quintais como ruas principais e áreas de comércio. Checar bares,
restaurantes e outros locais onde pessoas se aglomeram pode, também, ser uma
tarefa para tais patrulhas.
Para melhor contato com os habitantes locais, o período diurno é sempre o
desejável. Dias de feira ou mercado são especialmente adequados para mostrar a
presença da OpPaz às partes em conflito e fazer contato com as pessoas.
Durante a noite, a patrulha deve procurar infiltrantes e verificar a situação vigente,
mantendo o controle dos acessos e saídas da localidade. A patrulha de toque de
recolher deve ser ativada antes do início do toque. A patrulha pode estender o seu
patrulhamento, checando locais mais prováveis para a ocorrência de
irregularidade.

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f) Patrulha de detecção de minas e de artefatos explosivos


É empregada onde há indícios da presença de minas e outros tipos de artefatos
explosivos, ainda não detonados. Na sua organização, deve constar pessoal
especializado, preferencialmente com experiência em remoção de minas e
destruição de engenhos falhados.
A patrulha deve checar as estradas e locais freqüentemente usados pelo pessoal da
ONU ou população local, ou ainda um local pré-determinado, ante a existência de
uma suspeita ou uma necessidade específica.
A detecção de minas e bombas deve ocorrer durante o dia. Normalmente, a
detecção de minas é iniciada ao amanhecer e termina antes do pôr do sol. Se a
área é muito extensa, deve ser dividida em setores atribuídos a várias patrulhas.
É necessária a utilização de:
- equipamento especial para segurança;
- dispositivo eletrônico de detecção de equipamentos rádios operando num raio de
até duzentos metros;
- binóculos de longo alcance;
- fuzil antimaterial (cal .50) com vários tipos de munição para explodir bombas; e
- VBTP.
Ao se utilizar uma viatura comum, as seguintes medidas devem ser tomadas:
- remover vidros das janelas;
- colocar sacos de areia no piso da viatura para proteger o pessoal contra o sopro e
os estilhaços produzidos;
- proteger vidros e faróis com fita adesiva;
- fornecer colete balístico ao motorista; e
- evitar viaturas com a roda dianteira sob o motorista.
A patrulha deve deslocar-se com cautela e mantendo uma distância de vinte e
cinco a cinqüenta metros entre cada homem. A viatura de apoio deve evitar
paradas bruscas.
A patrulha deve atentar especialmente para covas em areia, sinais de remoção de
concreto ou asfalto em vias pavimentadas, buracos ou rachaduras em estradas e
pontes, caixas e pacotes ao longo das mesmas, carros ou motos estacionados sem
motoristas, fios elétricos ou equipamentos eletrônicos, dispositivos mecânicos de
acionamento, animais carregando objetos estranhos sem um guia e até mesmo

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pessoas com volumes suspeitos.


Quando a patrulha detectar objetos suspeitos, deve parar bem afastada dele e,
cuidadosamente, observá-los com o binóculo, verificando ainda a área ao redor
dos mesmos.
Se a patrulha encontrar algum artefato ou algo suspeito, deverá:
- relatar ao HQ;
- isolar a área por um raio de segurança recomendado pelos especialistas da
patrulha;
- manter as pessoas afastadas do local;
- demarcar o local;
- solicitar reforço de pessoal e apoio de material especializado, se necessário; e
- após análise, desativar ou destruir o objeto ou a mina.
g) Patrulha de interposição
Deve ser empregada para se interpor entre duas forças opositoras, criando uma
área de separação, normalmente conhecida como zona desmilitarizada, de maneira
a prevenir uma eclosão ou reinício da luta entre as partes. O planejamento de uma
operação de interposição deve observar os seguintes princípios gerais:
- separação das partes;
- observação e controle da área de segurança; e
- supervisão de acordos feitos.
A interposição pode tomar a forma de uma operação pré-planejada, acertada por
ambas as partes, ou diretamente organizada pela ONU. Ela pode ser conduzida
por toda uma ForPaz da ONU, por vários PO ou patrulhas da ONU.
O efetivo da patrulha de interposição pode variar de uma Esquadra de Tiro até
uma Companhia. Oficiais de Ligação das partes e observadores militares da ONU
serão muito úteis durante a interposição.
A patrulha de interposição deve selecionar pontos notáveis no terreno visíveis
pelas partes em conflito e, quando possível, usar viaturas que permitam boa
observação e possam transportar equipamentos.
O interposicionamento de uma patrulha de interposição exige cuidados especiais e
precisão no momento de seu emprego. Deve ser executado o mais rápido possível,
de forma a evitar atritos que poderiam levar ao reinício das hostilidades e à quebra
dos acordos de cessar fogo.

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Quando a rapidez for necessária, patrulhas especialmente constituídas à frente


podem ser empregadas para prover uma separação entre as tropas das partes em
conflito, até que a unidade principal de interposição se posicione no terreno.
Na execução de uma patrulha de interposição, os seguintes fatores devem ser
cuidadosamente avaliados:
- horários;
- terreno;
- uso de VBTP;
- demonstração de força;
- conduta da ONU conforme previsto nos mandatos, acordos de paz e regras de
engajamento;
- comunicações;
- atitude das forças oponentes; e
- ligação e possibilidade de negociação.
O efetivo da patrulha depende da tarefa e da zona de ação, obedecendo ao
princípio de economia de meios.
A organização se baseia nas tarefas, levando sempre em consideração as
características da OpPaz em que estiver envolvida.
Podem ser incluídos na organização UNMO, oficiais de ligação das partes em
conflito, guias locais e técnicos especializados.
As tarefas das patrulhas de interposição são:
- reconhecer áreas que os PCt e os PO não cubram na área da missão;
- investigar incidentes diversos;
- confirmar informes sobre irregularidades e não cumprimento de acordos;
- evitar infiltrações em áreas da ONU; e
- estabelecer contato com líderes das comunidades e chefes militares locais.
4.7 - USO DA FORÇA
Conforme já explicado, a natureza da OpPaz limita o uso da força à autodefesa e à
defesa de outros integrantes da missão ou da propriedade da organização patrocinadora.
A intensidade da força é regulada, de maneira global, pelo enquadramento do mandato –
Capítulo VI ou Capítulo VII da Carta das Nações. As regras de engajamento (rules of
engagement – ROE) detalharão, para cada missão, as circunstâncias e a intensidade que
regerão o uso da força. O perfeito entendimento dessa limitação e o adestramento para o

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seu correto exercício são fundamentais para o êxito da operação, uma vez que, em geral,
será necessário proceder a um certo “recondicionamento” das unidades.
4.7.1 - Conceitos relativos ao uso da força
a) Intenção hostil
Ameaça ou iminência do uso da força contra integrantes de uma ForPaz, o qual
poderá resultar em morte ou ferimento grave.
b) Ato hostil
Ataque ou uso da força contra integrantes de uma ForPaz, o qual poderá resultar
em morte ou ferimento grave.
c) Força mínima
Menor grau de força autorizado para uma ForPaz necessário, proporcional e
razoável para resposta a circunstâncias imediatas.
d) Força leve
Qualquer uso ou ameaça de uso de meios físicos por parte dos integrantes de uma
ForPaz para forçar obediência, sem que haja risco de morte ou de ferimento grave
nos indivíduos contra os quais a força é dirigida.
e) Força bruta
Nível de força empregado por integrantes de uma ForPaz intencionado para causar
morte ou ferimento grave, sem qualquer preocupação com qual dos dois deva
acontecer. É uma circunstância extrema.
f) Doutrina para a autodefesa
Esta doutrina estabelece parâmetros amplos destinados a reger tanto a conduta
individual quanto para a proteção de unidades ou forças. Como regra geral, a
reação só deverá ser desencadeada nos seguintes casos:
- em resposta a um ataque ou à ameaça de um ataque iminente;
- em face de risco de morte ou de ferimento grave; e
- quando não houver alternativa senão o uso da força.
O uso da força bruta será limitado à reação a ato hostil ou intenção hostil.
4.7.2 - Resposta a um ataque iminente
Consiste na resposta a uma intenção hostil que represente uma ameaça iminente. Não
se deve admitir que aconteça um ataque para somente então se tomar uma ação.
Contudo, essa resposta somente deverá ser dada depois de esgotadas ou ser
impraticáveis outras medidas mais brandas que o tempo permitir.

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Este conceito é aplicável tanto para a autodefesa pessoal, quanto de unidade ou força.
4.7.3 - Código de conduta individual
Este código abarca as seguintes diretrizes:
- engajar somente forças que se oponham à ForPaz e objetivos militares;
- usar força com o menor efeito colateral ao ambiente e à população civil;
- não alterar armas ou munições visando aumentar o sofrimento das Forças Adversas
(FAdv);
- não usar armas ou munições desautorizadas;
- tratar a população e suas propriedades com respeito;
- não atacar indivíduos que tenham se rendido;
- tratar pessoas detidas com humanidade, de acordo com a 3ª Convenção de Genebra;
- tratar feridos e doentes da mesma forma, sejam amigos ou inimigos;
- respeitar locais e objetos culturais e sagrados;
- respeitar locais e pessoas portando símbolos de agências humanitárias como a Cruz
Vermelha e o Crescente Vermelho; e
- relatar e adotar as medidas necessárias ao presenciar violações deste código.
4.7.4 - Regras de engajamento
As ROE apresentam implicações no grau de autodefesa dos contingentes nacionais,
cabendo aos países contribuintes o direito de conhecer o grau de risco a que estará
submetido o seu contingente e, por conseguinte, aceitar ou recusar o convite de
participar da operação. Por outro lado, a ONU não pode descurar-se da observância do
princípio do uso mínimo da força, sob o risco de indesejáveis efeitos colaterais. Dentre
estes, podemos enumerar baixas entre civis inocentes, destruição de monumentos
considerados patrimônios da humanidade e confrontações com “crianças
combatentes”.
O uso da força por uma ForPaz contra um dos partidos poderá ser explorado como
um ato de parcialidade e ser utilizado como argumento para o revide.
Conseqüentemente, a negociação tornar-se-á mais difícil. Os já mencionados efeitos
colaterais poderão afetar a esfera política, alterar a postura da população local em
relação à ONU e, finalmente, tornar a OpPaz um desastre. Por isso, a elaboração das
ROE constitui um sério embate entre a esfera política e a militar da ONU.
Os Capítulos VI e VII da Carta constituem o limiar das ROE. No primeiro caso, a
ênfase está na autoproteção, com foco na atuação das pequenas frações – pelotão ou

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menores. As situações por elas englobadas envolvem agressões com o uso de armas
de pequeno calibre - dirigidas ou não contra a fração - ação de um dos partidos
tentando impedir a liberdade de movimentos e a ameaça ou a execução de fogos por
um dos partidos contra um grupo de pessoas sob a proteção dessas frações.
No segundo caso, as ROE enfocam a atuação das subunidades e escalões maiores de
tropa. Além das situações englobadas pelo primeiro caso, as ROE de uma OpPaz
regida pelo Capítulo VII poderão prever ações mais contundentes como, por
exemplo, a captura de líderes considerados criminosos e confrontação contra um
partido em flagrante violação a um determinado mandato da ONU. Há que ser
considerado, ainda, o uso de armas para as quais é impossível dar tiros de
advertência. Neste caso, as ROE devem recomendar a adoção de cuidados especiais
como, por exemplo, o uso de radares, de designadores laser e de outros sistemas de
direção que reduzam a margem de erro e seus efeitos colaterais.
Em qualquer caso, é importante ressaltar que o sucesso político e militar de uma
OpPaz reside, na maior parte do tempo, na orientação precisa e na capacidade de
discernimento do nível elementar, por ser este o que estará exposto a situações que
requerem o emprego da força. Assim, é desejável que nesse nível as ROE sejam
difundidas por cartões com orientações objetivas, claras e indubitáveis.
A elaboração final das ROE é da competência do FC, em estreita coordenação com o
DPKO. É extremamente recomendável que os contingentes só venham a ser
desdobrados após a sua disseminação. É importante ressaltar que as ROE constituem
um consenso da comunidade da ONU, não cabendo a qualquer país elaborar as suas
próprias ou adulterar as aprovadas, sob pena de arcar com a responsabilidade de
qualquer resultado mal-sucedido. As ROE são uma responsabilidade do comando em
todos os níveis. São ordens e não orientações. São, em última análise, um
instrumento de comando e controle.
4.7.5 - Procedimentos para a aplicação da força
Dentro das considerações acima mencionadas, deve-se, de modo geral:
- empregar a força mínima necessária à cessação da ameaça;
- se possível, procurar negociar ou persuadir a fonte da ameaça antes de desencadear
o uso da força;
- se a situação se encaminhar para o emprego do armamento, executar tiros de
advertência antes de disparar com eficácia, empregar meios de alerta tais como

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advertência oral, lançamento de iluminativos, tiros para o alto, tiros próximos do


verdadeiro alvo, emprego de munição não-letal e outros;
- se houver uma súbita ameaça ao pessoal ou se já tiverem ocorrido baixas,
impedindo o processo de escalada acima descrito, serão desencadeados os tiros com
eficácia sobre o alvo, mantendo-se, na medida do possível, a proporcionalidade de
calibres e volumes em relação aos fogos recebidos;
- deverá ser mantido o controle na execução dos fogos, os quais cessarão tão logo
alcancem o efeito desejado; e
- imediatamente após o ocorrido, o comandante da tropa envolvida deverá reportá-lo
ao seu Comando.
4.8 - LIDERANÇA
A liderança é um aspecto fundamental das operações militares. Entretanto, nas OpPaz,
mais do que nos conflitos armados, a liderança adquire maior importância,
particularmente em face da descentralização das ações e da dispersão dos componentes
da ForPaz e/ou UNMO em uma área da missão de grandes dimensões, por vezes
englobando todo o território de um país.
Diferentemente do que ocorre em unidades taticamente desdobradas, pequenas frações
executam tarefas em posições e PCt isolados, realizam patrulhas de grande raio de ação,
realizam investigações em locais distantes de suas bases, são chamadas a conduzir
negociações e outras atividades afins. Além disso, conforme já mencionado, poderá
caber ao comandante de uma fração a decisão pelo uso da força em situação de
autodefesa, devendo arcar com as conseqüências de sua decisão.
Assim, grande responsabilidade recairá sobre os oficiais mais modernos e sargentos, os
quais deverão ser alertados acerca desta particularidade das OpPaz e procurarão ampliar
ou adquirir habilidades nesse campo. O adestramento prévio à incorporação de um
contingente nacional a uma OpPaz deverá, portanto, enfatizar a liderança em todos os
níveis e reproduzir, na medida do possível, situações de maior probabilidade de
ocorrência neste tipo de operação.

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CAPÍTULO 5
SEGURANÇA
5.1 - GENERALIDADES
Em que pese o propósito maior de uma ForPaz ou Grupo de UNMO ser a promoção da
paz e o fato de ter, entre seus princípios fundamentais, o consentimento das partes
envolvidas e a conduta balizada pela imparcialidade, seus integrantes estarão sempre
com a integridade física em risco. Esse risco poderá ser direto, fruto de algum
descontentamento de uma das partes em conflito, ou indireto, fruto da ação militar na
área da missão. Adicionalmente, o risco será decorrente de fatores extrínsecos ao
combate como, por exemplo, endemias, acidentes e o desgaste psicofísico a que é
submetido o integrante de uma ForPaz. Assim, segurança é fundamental para as OpPaz.
O não-atendimento dos requisitos de segurança nas operações degradará o moral da
tropa antes mesmo de seu emprego, além das conseqüências que certamente advirão em
perdas humanas e materiais, podendo acarretar no insucesso da operação.
Todo Comandante deve preservar integridade física de sua tropa. Medidas de segurança,
portanto, devem ser adotadas em todos os níveis, bem como intensamente praticadas no
período de treinamento, antes do efetivo emprego em operações de paz. Essas medidas
são distribuídas em dois grupos, a saber:
- medidas ativas, assim consideradas aquelas que orientam a reação da tropa diante de
atitudes hostis ou suspeitas; e
- medidas passivas ou de prevenção, assim consideradas aquelas que, sem constituir
uma reação da tropa, contribuem para proteger a sua integridade ou para a manutenção
da higidez física de seus integrantes, durante a execução de suas tarefas ou em
períodos de lazer.
As medidas ativas, normalmente, estão expressas nas ROE as quais, pelo impacto que
podem causar nos objetivos políticos de uma OpPaz, devem ser especificamente
delineadas, desde o início do planejamento.
As medidas passivas englobam procedimentos e utilização de equipamentos visando
desestimular ou reduzir os efeitos do risco direto – atos hostis – e do risco indireto,
campos minados, projéteis errantes (bala perdida) e endemias, entre outros.
Os aspectos abordados a seguir são considerados os de maior relevância para o
incremento das condições de segurança da tropa e dos UNMO nessas operações.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

5.2 - ABRIGOS
Todas as instalações empregadas pelas tropas e UNMO devem incluir um ou mais
abrigos, de modo a garantir a acomodação e proteção de todo o efetivo que ali deva
operar, bem como alguma capacidade de acolher pessoal em trânsito. Cada abrigo deve
estar abastecido com água e alimentos suficientes para garantir a sobrevivência do
efetivo para o qual foi projetado, pelo número de dias estipulado nos SOP, sendo dez
dias o tempo mínimo sugerido. Em situação ideal, os abrigos disporão, também, de
equipamento e suprimentos para primeiros socorros, instalações sanitárias, luz elétrica e
comunicações. Periodicamente, a posição, os suprimentos e a habitabilidade desses
abrigos deverão ser verificados.
A seqüência e o grau de proteção com que tais abrigos serão construídos dependerão,
basicamente, do grau de ameaça ao pessoal e dos recursos disponíveis. Normalmente,
terão prioridade as posições e o pessoal envolvido no guarnecimento dos postos de
observação mais avançados, particularmente aqueles destinados a observar o reinício de
hostilidades em determinados setores.
A necessidade da construção de abrigos e a prática de sua construção, manutenção e
ocupação deverão merecer atenção especial, durante o adestramento prévio à operação.
5.3 - EQUIPAMENTO
A segurança do pessoal envolvido em operações de paz poderá ser consideravelmente
ampliada, mediante o uso de alguns equipamentos, listados adiante.
5.3.1 - Capacetes balísticos
Normalmente, farão parte das equipagens individuais distribuídas ao pessoal, não
sendo esperado o seu fornecimento pela organização patrocinadora da operação. Nas
OpPaz sob a égide da ONU, normalmente, possuirão cor azul e na tonalidade
comumente adotada por aquela organização.
5.3.2 - Coletes balísticos
Deverão fazer parte das equipagens individuais fornecidas a todo o pessoal e o seu
uso é obrigatório em situações táticas.
5.3.3 - Equipamentos de proteção química, biológica e nuclear (QBN)
Não é comum o emprego desse material em OpPaz. Entretanto, se houver indícios da
ameaça de uso de agentes QBN por qualquer das facções em conflito, os países
contribuintes serão alertados e deverão dotar o seu pessoal das medidas de proteção
adequadas.

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5.4 - MOVIMENTOS
Tropas e UNMO são particularmente vulneráveis quando em deslocamento.
Os UNMO, em particular, operam desarmados, o que os torna ainda mais vulneráveis.
Porém, a experiência acumulada demonstra que, ainda que seja possível armá-los em
situações de elevado risco, a possibilidade de que sejam confundidos com tropas
armadas é grande, o que pode inclusive representar uma ameaça maior. Quando
trafegando em áreas de risco, os UNMO deverão fazê-lo com, pelo menos, duas viaturas
adequadamente espaçadas, porém, dentro do alcance visual e dotadas de comunicações
confiáveis entre si e com o HQ ao qual estão subordinados. Se estiverem trafegando em
área de responsabilidade de outro Comando, toda a coordenação necessária deverá ser
realizada com a devida antecedência o que, necessariamente, deve incluir o
conhecimento de tarefas, tempos e itinerários.
Tratando-se de tropas deslocando-se em situação de risco, deverá ser adotado o
dispositivo de comboio, com as medidas de segurança previstas em SOP, as quais
incluirão, normalmente:
- pelo menos duas viaturas juntas, em caso de deslocamento por infiltração;
- pessoal armado em todo o comboio;
- comunicações em todas as viaturas;
- contato visual com a viatura à frente e à retaguarda;
- evitar itinerários previsíveis;
- evitar deslocamento noturno e, quando isso for inevitável, empregar,
preferencialmente, viaturas blindadas; e
- uso de palavras-código associados a medidas de coordenação para informar a
progressão do comboio.
5.5 - SEQUESTRO
Deverão ser previstos e exaustivamente praticados SOP para as ações a serem tomadas
ante a ocorrência ou ameaça de sequestro de tropa ou UNMO empenhados na operação.
Estes incluirão, normalmente, as medidas listadas a seguir.
Uma mensagem inicial, dando parte do sequestro, será enviada por quem se encontra
observando o fato, contendo:
- posição;
- efetivo e características dos sequestradores;
- identificação das vítimas do sequestro;

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

- direção tomada; e
- viaturas empregadas.
Será enviada uma mensagem de alerta aos postos de controle e bloqueios de estradas.
Serão mobilizados elementos em reserva, patrulhas e helicópteros, se disponíveis.
Será efetuada ligação com autoridades locais ou outras pessoas que possam contribuir
para a solução, em bom termo, do seqüestro.
5.6 - MINAS TERRESTRES E ARMADILHAS
De baixo custo e simples de serem lançadas, as minas terrestres e as armadilhas têm
sido largamente empregadas em toda sorte de conflitos. Entretanto, o advento das minas
não metálicas, somado ao seu uso inescrupuloso sem o devido registro dos locais de
lançamento, e as constantes mudanças na linha de frente, devido às flutuações do
combate nas áreas em disputa, fazem com que hoje cerca de dez milhões de minas
estejam dispersas sem registro, causando inúmeras vítimas entre a população civil
neutra, as partes em conflito e as forças de paz que operam nestas áreas.
5.6.1 - Acionamento
O acionamento de uma mina terrestre ou armadilha normalmente ocorre em uma das
formas relacionadas abaixo ou uma combinação destas:
- pela pressão direta sobre a mina ou armadilha ou pelos movimentos causados, no
solo, pela passagem de viaturas pesadas nas suas adjacências;
- ao se tracionar um fio de "nylon", cabo ou cordel denominado genericamente de
arame de tropeço preso à mina ou armadilha;
- ao se deslocar ou levantar um objeto qualquer sob o qual exista uma mina ou
armadilha oculta;
- ao se fechar um circuito elétrico qualquer ligado a uma mina ou armadilha oculta
como, por exemplo, ao se ligar um interruptor de luz; e
- pela indução de campo eletromagnético como, por exemplo, pela passagem de
viatura nas imediações da mina ou armadilha.
Como podemos observar, praticamente qualquer ação ou movimento pode ocasionar
o acionamento de uma mina ou armadilha. Portanto, toda área suspeita de estar
minada ou armadilhada deve ser isolada e só liberada após a sua limpeza por
elementos especializados.
5.6.2 - Localização
Locais mais prováveis para lançamento de minas e armadilhas:

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

- remendos na pavimentação e trechos com falhas na pavimentação;


- na junção da pavimentação das estradas com os acostamentos não pavimentados e
nos próprios acostamentos;
- no interior e nas bordas de crateras em estradas e nas cercanias de outros
obstáculos, tais como abatises, fossos, concertinas e pontes destruídas, incluindo os
locais de manobra de viaturas próximos a estes;
- nos itinerários mais prováveis de desbordamento de obstáculos;
- em áreas onde a vegetação apresenta coloração diferente ou o terreno tenha sido
revolvido;
- sob objetos abandonados, tais como capacete, binóculos, armas e outros;
- no interior de construções abandonadas, tais como edificações, abrigos e
trincheiras;
- no interior de viaturas abandonadas; e
- dentro de caixas, malas, livros e outros.
5.6.3 - Recomendações
As seguintes recomendações minimizarão os riscos de acidentes com minas:
- considerar que somente as áreas minuciosamente levantadas pela ONU e
regularmente inspecionadas estejam desobstruídas de minas;
- deslocar-se somente nos trechos visivelmente demarcados;
- isolar e reportar qualquer objeto suspeito;
- instruir a tropa sobre a técnica de lançamento de minas;
- reprimir rigorosamente o recolhimento de "souvenirs" de guerra; e
- instruir a tropa sobre a identificação de minas, bombas nas margens de estradas,
escombros em áreas de combate etc., incluindo seu funcionamento e técnicas de
emprego observadas na área da missão.
5.6.4 - Procedimentos para a transposição de áreas minadas em situação de
emergência
Uma tropa a pé ou motorizada, quando penetrar inadvertidamente em área minada ou
armadilhada, deverá sustar seu deslocamento até a chegada de auxílio de elementos
especializados que possam evacuá-la com segurança.
Caso a evacuação imediata da área seja imprescindível para a segurança, os seguintes
procedimentos de emergência deverão ser adotados:
- observar ao seu redor e procurar identificar, nas proximidades, áreas habitadas,

OSTENSIVO - 5-5 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

áreas que estejam sendo utilizadas para plantio ou estradas, dando preferência às
pavimentadas onde é mais difícil ocultar minas;
- avaliar as distâncias e escolher o itinerário a ser seguido, analisando se é mais
vantajoso deslocar-se para uma destas áreas ou retornar pelo caminho percorrido;
- em viatura, a tropa deverá abandonar e deslocar-se a pé. O intervalo entre os
homens deverá ser de, no mínimo, duzentos metros, para evitar que uma única
detonação cause várias baixas;
- utilize uma baioneta, faca, estaca ou objeto similar como um bastão de sondagem
para demarcar a sua posição. A sonda deverá penetrar no solo em ângulo sempre
inferior a 45º para evitar o acionamento das minas;
- procurar seguir marcas recentes de pneus, lagartas ou pegadas, se for possível
identificá-las com precisão;
- evitar os locais já citados como de provável lançamento de minas ou armadilhas,
buscando indícios, tais como arames de tropeço e pequenas hastes metálicas
enterradas, utilizadas em algumas minas acionadas por pressão;
- não cortar arames de tropeço nem tentar remover minas ou armadilhas,
restringindo-se a demarcar a posição; e
- não arrastar os feridos, pois isto poderá acionar outras minas ou armadilhas; buscar
aproximar-se deles, prestar-lhes os primeiros socorros procurando, principalmente,
conter hemorragias nos membros inferiores e providenciar sua evacuação imediata.
5.7 - CARROS-BOMBA
Essa é uma das mais eficientes formas de atentado contra instalações da ONU com
vistas a provocar destruição e baixas e, conseqüentemente, desestabilização no processo
de paz. Poderá ser conduzido por fanáticos suicidas ou simplesmente pelo abandono do
veículo nas proximidades da instalação para posterior acionamento.
Para o primeiro caso, a instalação de obstáculos periféricos, bem como um eficiente
serviço de posto de controle no acesso principal contribuirá para a redução dos efeitos
do carro-bomba. O Anexo C apresenta esquemas que têm se mostrado eficiente contra
esse tipo de atentado.
No caso de veículos suspeitos abandonados nas proximidades de uma instalação, o
primeiro esforço deverá ser no sentido de rebocá-lo por viatura blindada até um local
onde possa ser neutralizado, sem oferecer riscos à instalação ou à população residente
nas cercanias. Uma vez em local seguro, o ideal é que o veículo seja mantido sob

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

observação afastada, com avisos bem visíveis quanto aos riscos que oferece.
As medidas acima descritas não esgotam o assunto. O FC, em sua Ordem de Operação,
deve estabelecer instruções especificamente voltadas para as ameaças existentes na área
da missão.
5.8 - MEDIDAS DE SEGURANÇA COMPLEMENTARES
Grande parte das baixas ocorridas em operações militares é produzida por fatores
extrínsecos ao combate ou à atividade militar propriamente dita, como por exemplo:
- más condições sanitárias na área da missão;
- acidentes com viaturas;
- incêndios;
- esgotamento mental, podendo redundar em comportamento agressivo e suicídio;
- acidentes no manuseio de armas e explosivos; e
- acidentes durante atividades de lazer ou administrativas.
Em uma OpPaz, onde não ocorre, em princípio, uma ação direta de um inimigo contra a
ForPaz, os episódios acima listados constituem a quase totalidade das causas de baixas.
Assim, durante a fase de preparação da força e/ou dos UNMO para a operação, um
eficaz trabalho de informação, esclarecimento e adestramento será fundamental para
diminuir a probabilidade de ocorrência de perdas e, ante a sua efetiva concretização,
para que suas conseqüências sejam minimizadas.
Faz-se mister, desde o processo de seleção e adestramento para a missão, a realização de
inspeções de saúde em todo o pessoal envolvido na operação com vistas à recuperação
da plena higidez dos casos mais simples e à substituição daqueles que porventura
apresentem problemas cuja solução transcenda o período de tempo disponível para a
preparação da força. Especial atenção exigirá os distúrbios que tendem a potencializar-
se pelo aumento da tensão emocional e por possíveis alterações climáticas.
São, também, de grande valia as medidas preventivas, tais como a vacinação contra
endemias existentes na área de operação, tratamento dentário e a divulgação de
instruções relativas ao consumo de água e alimentos e o contato com a população civil.
Quanto aos aspectos psicológicos, deverão ser planejadas atividades que mantenham o
risco de depressão afastado. Deve ser considerado que esse estado de espírito, além de
propagar-se rapidamente, contribui para a incidência de atos de indisciplina e de
acidentes. O espírito de unidade e de equipe, a realização de atividades recreativas e
desportivas, a obtenção e manutenção de boas condições de conforto e a abertura de

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

canais de comunicações dos integrantes da ForPaz com suas famílias, têm enorme valor
para a manutenção de um estado psicológico positivo.
Durante o adestramento, deverão ser enfatizadas as seguintes atividades:
- direção defensiva e em pistas escorregadias;
- prevenção e combate a incêndios;
- resgate e atendimento de vítimas de incêndios, colisões e atropelamentos;
- primeiros socorros;
- precauções no manuseio e transporte de cargas perigosas; e
- manuseio de armamento e munição, que tende a ser muito mais constante que na vida
cotidiana em quartel.
As licenças, especialmente as concedidas na própria área da missão, podem tornar-se,
também, uma fonte de baixas, particularmente após longos períodos de atividade e
tensão. Elas podem conduzir a comportamentos inadequados como, por exemplo, o
consumo excessivo de álcool e brigas com membros da população local, episódios esses
que, geralmente, têm desfecho desfavorável e, por vezes, trágico. Deverão ser
distribuídas instruções específicas para a conduta fora de serviço, durante a preparação
para a operação, sendo devidamente reforçadas às vésperas das licenças. As
transgressões que porventura ocorram deverão ser tratadas com o rigor disciplinar
correspondente, podendo, em determinadas circunstâncias, levar ao repatriamento dos
militares envolvidos.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

CAPÍTULO 6
CONSIDERAÇÕES BÁSICAS ATINENTES AO OBSERVADOR MILITAR
6.1 - HABILIDADES REQUERIDAS
O adestramento individual para tarefas de integrantes de OpPaz deve privilegiar o
desenvolvimento de características, tais como a paciência, a flexibilidade, a
autodisciplina, o profissionalismo, a imparcialidade, o tato e a capacidade de inquirição.
6.1.1 - Paciência
Uma tentativa de acelerar o ritmo das negociações pode vir a prejudicar seu
resultado. Isto é verdade não só nos altos escalões, mas, também, nos escalões mais
baixos, onde as dissidências locais são, freqüentemente, resolvidas pelos UNMO.
6.1.2 - Flexibilidade
É necessário examinar cada face de um problema e explorar cada possível linha de
ação ou solução que não viole o mandato ou o acordo de paz celebrado pelas partes.
6.1.3 - Autodisciplina
Uma conduta alerta e profissional, bom comportamento e cortesia, estando ou não a
serviço, promovem o respeito e admiração pelo UNMO. À medida que as partes em
conflito reservam um grande respeito com relação aos UNMO, estarão mais
susceptíveis a considerar suas recomendações e respeitar sua autoridade em uma
crise. A autodisciplina facilita as tarefas.
6.1.4 - Profissionalismo
Um forte profissionalismo deve ser mostrado em todas as situações, estando ou não
a serviço. As partes em conflito são mais susceptíveis a aceitar os protestos contra
violações e evitar confrontações com as Nações Unidas quando esta possuir uma
reputação de precisão e competência. No entanto, essa credibilidade pode ser
significativamente abalada por falta de profissionalismo dos UNMO, o que poderá
afetar seu relacionamento com as partes em conflito.
6.1.5 - Imparcialidade
Um UNMO deve resguardar-se quanto a conceder tratamento diferenciado às partes,
bem como evitar declarações não oficiais que venham a gerar controvérsia e possam
atingir audiência não pretendida. Estes comentários podem redundar em pedido
formal de desculpas e, até mesmo, em uma pressão para o repatriamento do UNMO.
6.1.6 - Tato
As partes em conflito são sensíveis a declarações descuidadas que possam ser vistas

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

como ofensivas. O tato é necessário em todas as negociações, mas sem implicar no


afastamento de preceitos essenciais como a honestidade de propósito e a firmeza.
6.1.7 - Capacidade de inquirição
O indivíduo deve inquirir, com cuidado, tudo que ocorrer em sua área de
responsabilidade. A rotina normal da vida diária deve se tornar tão familiar que a
menor variação da mesma, por pequenos eventos que ocorram, possa ser observada,
uma vez que pode ter grande importância quando confrontada com informações de
outros observadores.
6.2 - ATITUDE E CONDUTA
O "status" de um UNMO é o de representante não só de seu país, mas sobretudo da
ONU. Por isso, deve primar por uma conduta impecável. O UNMO não pode esquecer
que estará representando o Brasil e a MB sendo, temporariamente, um “diplomata” da
ONU e da nossa Nação.
Enquanto que soldados são treinados para conquistar objetivos, engajando-se em
combates, a conduta esperada de um UNMO exige dele uma qualificação muito
especial. Os UNMO não são chamados como força de ocupação, mas como um partido
neutro em um conflito.
Quando houver dúvidas sobre determinado procedimento, o UNMO deve dirigir-se
imediatamente à autoridade à qual está subordinado, evitando tomar atitudes que possam
comprometer a integridade da sua fração ou equipe. Equilíbrio, imparcialidade e
autodisciplina podem representar a sua segurança.
As palavras de um UNMO são sempre atentamente registradas e estudadas,
principalmente pela mídia local, podendo ser usadas posteriormente em alguma
negociação, mesmo que o UNMO que as proferiu não esteja presente, pois, tudo o que é
dito é tomado como uma posição oficial das Nações Unidas. O UNMO ficará
contratualmente obrigado a não usar informações obtidas na área da missão em proveito
próprio, assinando, para isso, um termo de responsabilidade.
Para um bom desempenho, é recomendado ao UNMO conhecer com detalhes a situação
geral na qual estará inserido e a situação das partes em conflito antes de partir para a
área da missão. A experiência dos que já serviram à ONU mostra que o serviço fora do
seu país de origem é física e mentalmente desgastante. A escassez de recursos em uma
área de conflito tende, inicialmente, a causar uma irritação acentuada que vai se
atenuando pela adaptação, com o passar do tempo. A conduta moral e disciplinar

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

esperada de um UNMO não difere muito da exigida em seu país de origem. O CMO
julgará as violações, podendo o militar ser punido com a repatriação.
A ingestão de bebida alcoólica é contra-indicada, por ser prejudicial à segurança, à
saúde e à boa conduta.
A população local deve ser tratada corretamente, devendo ser observadas as normas de
conduta social e os costumes da área da missão. Normalmente, os habitantes das áreas
em conflito recebem de maneira cortês os membros das Nações Unidas, uma vez que foi
o governo local que solicitou a presença da ONU e que existe um acordo entre as partes
em conflito que permitiu o envio dos UNMO.
Dirigir-se à população local à maneira deles, usando expressões locais para saudações e
gestos, é sempre um bom início de um relacionamento amigável com os seus prováveis
vizinhos de uma longa jornada. Porém, deve-se ter cuidado com visitas às residências
locais e o relacionamento com a população feminina. Tem-se notícia de que muitos
problemas sociais envolvendo UNMO originaram-se em uma dessas duas situações.
Compete ao CMO autorizar visitas às residências locais, em função da situação vigente.
A ONU, normalmente, utiliza-se de mão-de-obra local para realizar diversos serviços.
Deve-se observar, portanto, que o contato com essas pessoas deve restringir-se ao
necessário ao serviço. Somente o CMS, ou funcionários por ele designados, estará
autorizado a fornecer informações, visando às futuras contratações de mão-de-obra.
Normalmente, são empregados intérpretes e guias locais. Recomenda-se evitar divergir
de qualquer ponto que esses elementos, supõe-se, devam conhecer. Por outro lado,
intérpretes agem, às vezes, como informantes do governo local ou das partes envolvidas
no conflito.
É vedada, na maioria das vezes, a utilização de câmeras filmadoras e fotográficas. Deve-
se ter especial atenção às normas da OpPaz à qual irá compor e aos costumes dos países
onde os UNMO serão empregados.
Os UNMO, normalmente, não são autorizados a portar armamento militar, muito menos
armas particulares, enquanto estiverem a serviço das Nações Unidas. O porte de arma
para os UNMO será regulado pelo mandato ou outros documentos da ONU que dão
amparo legal para a OMP. Privilégios e imunidades estão definidas em uma Convenção
de Imunidades e Privilégios das Nações Unidas, a qual o UNMO terá acesso tão logo se
apresente na área da missão. O Secretário-Geral reserva-se o direito de cassar essa
imunidade, caso venha a prejudicar o curso de uma investigação sobre um UNMO que

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

esteja respondendo a um processo na área da missão ou em seu país de origem.


6.2.1 - Choque cultural
O choque cultural é um fenômeno comum nas OpPaz. É um sentimento observado
por um indivíduo ao ser deslocado de seu próprio ambiente étnico e nacional para
um outro no qual ele sinta algum desconforto e desorientação.
O UNMO defrontar-se-á com diferenças geográficas e culturais, alterações
climáticas e de alimentação e pode experimentar problemas de comunicação com a
população local, ficando sua tolerância e receptividade postas em prova. Isso exigirá
dele flexibilidade e adaptabilidade às novas situações.
O UNMO deverá estar capacitado a ultrapassar os obstáculos impostos por essa
transição em razão de seu profissionalismo, atitude militar e adestramento. Alguns
terão maiores dificuldades para reagir ao choque cultural, especialmente aqueles que
estejam se defrontando com tal situação pela primeira vez. A melhor forma de
enfrentar o problema é realizar uma boa preparação individual, antes da
movimentação para a área da missão, nos níveis físico e psicológico. É fundamental,
nesta etapa, a leitura de relatórios anteriores sobre outras OpPaz e, também, o estudo
da situação a ser enfrentada.
O UNMO deve entender a importância de seu posicionamento respeitoso em face de
outras culturas. Isto é especialmente importante quando de sua participação em
negociações ou mediações.
6.2.2 - Atitudes comportamentais
a) Regras práticas
Visando ao melhor desempenho de suas tarefas, um UNMO deverá pautar seu
comportamento pelas seguintes regras práticas de convivência com os militares e
civis das partes em conflito e com os demais UNMO:
- reconhecer que todas as culturas devem ser vistas sob o fundamento da
igualdade;
- rejeitar estereótipos e considerar o significado ou intenção por trás de práticas
culturais e crenças diferentes;
- observar que as regras de etiqueta variam de uma cultura para outra. Portanto o
que pode ser aceito ou considerado como um comportamento refinado em um
contexto cultural pode constituir uma ofensa ou uma desatenção em outro;

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

- considerar que as regras sociais que regulam as relações entre homens e


mulheres freqüentemente são bastante diferentes em uma ou outra cultura,
dessa forma um comportamento inocente em uma cultura pode significar uma
ofensa moral em outra;
- aprender sobre costumes, religiões, história, crenças e mitos, e práticas de
trabalho administrativo, conceitos sobre família e comportamento afetivo ou
sexual na área da missão;
- tentar minimizar as reações de desaprovação, de desentendimentos e de
desapontamentos pessoais, a ansiedade e outros sentimentos que dificultem a
manutenção das relações amistosas e de cooperação com o pessoal com o qual
desenvolverá suas tarefas;
- reconhecer o fato de que o UNMO é um estrangeiro em um país que o
considera, normalmente, um hóspede; embora não deva assumir que a
população local sempre verá a sua chegada de bom grado, ou que sempre será
cortês, terá tato e será comedida;
- entender que um grande número de variáveis afetará a resposta da população
hospedeira à sua presença;
- conhecer o mandato da ONU e o que a operação significa para o país anfitrião;
- conhecer a experiência do país anfitrião e reações a outras intervenções
estrangeiras no passado;
- desenvolver a percepção acerca da população local e de suas expectativas –
positivas e negativas – quanto à presença da ONU no seu país; e
- trabalhar buscando a confiança e o respeito de todas as partes envolvidas na
questão em disputa, reforçando a credibilidade da presença da ONU em seu
país.
b) Aspectos de relacionamento
Um outro assunto de extrema sensibilidade é a freqüente disparidade do conforto
material entre o pessoal da ONU e os habitantes da área da OpPaz, que não raro
vivem em condições de extrema pobreza.
Em termos de relacionamento com integrantes de contingentes de diferentes
países, freqüentemente o UNMO ouvirá "O ... fez isso; ... sempre faz aquilo; o
que mais poderia se esperar de um...? Isto é típico de um...".
Quando o complemento for pejorativo, o UNMO não deverá reforçar a opinião

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

ou tomar partido e, sim, estimular quem esteja emitindo o comentário a procurar


o criticado e colaborar para o seu aperfeiçoamento.
O importante para um convívio ameno e respeitoso é:
- não generalizar;
- não rotular as pessoas;
- não apresentar atitudes xenófobas ou um senso de superioridade ou de
inferioridade ao seu próprio status, sistema social ou condição de vida;
- não se referir de maneira injuriosa à política de países de outros ou de países
com quem sabidamente tenham identidade histórica, política ou religiosa; e
- não demonstrar inveja perante outros, caso considere que eles estejam em
melhor situação que a sua.
c) Aspectos de caráter pessoal
O UNMO estará em uma OpPaz para bem cumprir uma tarefa e deve considerar,
também, os aspectos de caráter pessoal abaixo relacionados:
- a participação em OpPaz não pode ser encarada como uma forma de fugir de
problemas pessoais ou familiares. Os problemas encontrados devem ser
discutidos com seus superiores;
- ter em mente o fato de que estará longe de seus familiares e amigos durante um
determinado período e tentar atrair o apoio deles nesse período; e
- durante o cumprimento de suas tarefas, poderá deparar-se com ameaças
pessoais, monotonia, falta de privacidade, tensão de uma disciplina rígida e
clima e ambiente desagradáveis.
d) Comportamento afetivo e sexual
As normas de comportamento listadas a seguir devem ser observadas:
- adotar uma conduta que não viole os direitos da mulher e da criança e que
tampouco viole as tradições locais;
- estar preparado para longos períodos de abstinência sexual;
- evitar qualquer relacionamento sexual que possa criar complicações futuras em
termos pessoais, pois isso poderá refletir-se negativamente para todo o seu
contingente;
- considerar, ainda, que sua integridade pessoal poderá ser colocada em risco; e
- estar atento para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis como, por
exemplo, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - SIDA ("AIDS").

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

6.3 - ORGANIZAÇÃO E SUBORDINAÇÃO


Uma missão de observação ou de verificação poderá estar no contexto de uma OpPaz de
maior abrangência ou ela própria constituir uma OpPaz. No primeiro caso, o Grupo de
UNMO constituirá um dos componentes da OpPaz, sendo diretamente subordinado ao
SRSG, conforme já descrito no capítulo 2. No segundo caso, por força da situação, o
Grupo de UNMO poderá ser a única presença militar da ONU atuando na área da
missão, podendo reportar-se diretamente ao Secretário-Geral.
O mandato é o instrumento legal que define o tipo de missão – se de observação ou de
verificação - a ser cumprida, bem como a estrutura organizacional da operação.
Em linhas gerais, a organização de uma OMP de observação ou de verificação da ONU
possui, em seus quadros, os cargos abaixo descritos.
6.3.1 - Chief Military Observer
Conforme descrito no capítulo 2, o Chief Military Observer (CMO) é o comandante
militar do Grupo de Observadores Militares. É assessorado por um EM, para o
planejamento do emprego de UNMO. Quando não estiver atuando isoladamente,
será subordinado ao SRSG. É também responsável pela ligação com outros
componentes de uma ForPaz, quando não estiverem atuando isoladamente, com os
representantes das partes envolvidas no conflito, com as autoridades locais, militares
ou civis, com as ONG que desenvolvem assistência humanitária e com contingentes
de tropa desdobrados na área da missão. É o CMO quem, por intermédio de um
Oficial de Relações Públicas ou Assessor Político, mantém a imprensa informada
dos fatos e acontecimentos ocorridos na área da missão. Poderá reportar-se ao SRSG
ou diretamente ao Secretário-Geral.
6.3.2 - Deputy Chief Military Observer
O Deputy Chief Military Observer (DCMO) é o substituto eventual do CMO, ao
qual poderão ser delegadas algumas das atribuições do último.
6.3.3 - Chief of Mission Support
O Chief of Mission Support (CMS) é o mais antigo dos funcionários civis a serviço
da ONU. Juntamente com o CMO, com o FC e demais chefes de componentes
constituídos, é subordinado ao SRSG. Conforme já descrito no capítulo 2, é o
responsável pelo planejamento administrativo e pela supervisão do cumprimento das
tarefas que irão regular o dia-a-dia administrativo de todos os membros de uma
OMP, inclusive os UNMO. O CMS é o responsável pelo aprovisionamento dos itens

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

de alimentação e água potável, acertos financeiros com órgãos públicos e privados


locais, tais como bancos, hotéis, hospitais, aluguel de imóveis ou propriedades que
possibilitem o funcionamento de um HQ ou instalações logísticas, inclusive a
contratação de mão-de-obra civil para a realização de reparos em viaturas, pequenas
construções ou reformas em imóveis alugados, serviços telefônicos, etc.
6.3.4 - Senior Military Observer
O Senior Military Observer (SMO) é o representante dos militares de um
determinado setor geográfico atribuído a uma parcela do Grupo de UNMO. É,
portanto, o assessor do CMO nos assuntos relacionados com os UNMO, bem como
o responsável por zelar pelo interesse de cada observador, independente da sua
nacionalidade. O SMO prepara os relatórios diários e mensais, submete-os à
aprovação do CMO e envia-os ao Secretário-Geral. Ao receber novos militares que
participarão da OpPaz, caberá ao SMO a coordenação dos briefings, visando a
ambientá-los à situação geral e às futuras tarefas e postos para onde poderão ser
designados, assim como providenciar para que eles recebam itens de material e
equipamentos específicos, realizem testes de habilitação para condução de viaturas e
demais providências individuais a serem tomadas.
6.3.5 - Chief Personnel Officer
O Chief Personnel Officer (CPO) é o Oficial de Pessoal do Grupo de UNMO em
uma OpPaz. Caso haja distribuição por áreas, haverá um Oficial de Pessoal para
cada uma das áreas em que a operação for subdividida. É responsável pela
designação de militares para as Equipes de UNMO, HQ, Seções de Estado-Maior,
Ligação ou Recreação e Conforto. Realiza a identificação do pessoal, assessora o
CMO nas reorganizações da observação militar da OpPaz e executa as
movimentações decorrentes, caso haja necessidade. É o CPO quem controla as
licenças, coordenando o deslocamento dos UNMO, dentro e fora da área da missão.
É o supervisor dos serviços postal e telefônico. Organiza o processo de premiação
com a medalha correspondente da OMP, executa repatriações de militares
desligados, emitindo o relatório individual sobre o seu desempenho, após assinatura
do CMO e a emissão de uma Papeleta de Desligamento, mais conhecida como Nada
Consta (Checking Out Sheet) pelo CAO. É, também, o CPO quem, normalmente,
trata dos aspectos relativos ao conforto e lazer do pessoal.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

6.3.6 - Chief Information Officer


O Chief Information Officer (CIO) é o responsável pela segurança física do pessoal a
serviço da ONU, bem como pela segurança física do HQ e de outras instalações na
área da missão. O CIO é quem providencia a segurança para o acompanhamento de
comboios com assistência militar ou de ajuda humanitária. É o responsável direto
pela segurança do CMO e de outros membros da ONU em visita à área da missão.
Assessora o CMO nos assuntos referentes à manutenção das vias de tráfego e às
operações dos Postos de Controle de Trânsito (PTran) e investiga as causas dos
acidentes com viaturas ocorridos na área da missão. Ao CIO caberá, ainda, o
controle do registro, segurança e evacuação de extraviados, não-combatentes,
refugiados, a apreensão de armamentos, viaturas e quaisquer outros itens proibidos,
de acordo com as normas estabelecidas pelo CMO, que porventura ingressem em
áreas não permitidas ou ultrapassem fronteiras entre países vizinhos. O CIO é, ainda,
o responsável pela ligação e coordenação com o serviço de polícia local e pelo
emprego de policiais militares a serviço da ONU.
6.3.7 - Chief Operation Officer
O Chief Operation Officer (COO) é o assessor direto do CMO para os assuntos
relativos ao emprego de tropas e UNMO na área da missão. Em coordenação com o
CIO, formula o Plano de Emprego de Patrulhas, consolida os relatórios de patrulhas
e os envia ao CMO. Ao receber novos UNMO, conduz, em coordenação com o
SMO, um briefing especificando a situação geral, a situação de cada equipe de
observadores, as tarefas a serem desempenhadas, os locais de emprego e os postos a
serem guarnecidos na área da missão.
6.3.8 - Chief Logistics Officer
O apoio logístico em atendimento às necessidades de uma OMP é responsabilidade
do Chief Logistics Officer (CLOGO). As operações têm grande dependência da
manutenção do adequado fluxo de suprimento, do apoio de saúde, do transporte de
pessoal e de material, da manutenção de viaturas e de equipamentos de comunicação
e do recompletamento necessário de pessoal. A manutenção do fluxo logístico é
vital, particularmente para fazer frente às mudanças ocorridas durante o controle das
partes em conflito. Caberá ao CLOGO o cadastro das armas apreendidas e o seu
envio para onde for determinado, conforme constar no Plano ou Ordem de
Operação.

OSTENSIVO - 6-9 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

6.3.9 - Military Transport Officer


O Military Transport Officer (MTO) é, normalmente, o ajudante do CLOGO. O
movimento de pessoal e de suprimentos é vital para o sucesso de uma OpPaz. Cabe
ao MTO o planejamento dos movimentos com viaturas sobre rodas e sobre lagartas,
bem como a manutenção desses meios para atender ao planejamento do COO. Há,
normalmente, um civil denominado Chief Transport Officer (CTO) que o
acompanha no desempenho de suas funções e que, em caso de necessidade e em
coordenação com o CAO, contrata serviços de aluguel de viaturas e a manutenção
preventiva e o reparo destas, assim como o abastecimento nos postos de
combustíveis locais.
6.3.10 - Chief of Communication Officer
O Chief of Communication Officer (CCO) é o responsável pela instalação,
operação e manutenção das redes rádio, inclusive por satélites, a serem
empregadas, de acordo com planejamento do CMO.
6.3.11 - Medical Officer
Termo empregado para designar médicos, para-médicos e enfermeiros. Há um
médico que providenciará o atendimento clínico, preventivo ou de emergência,
cirúrgico, ambulatorial em um hospital de campanha ou por meio de equipes
móveis de enfermeiros. Será, ainda, o responsável pelo transporte e evacuação de
feridos ou mortos, utilizando-se dos meios que dispuser, em coordenação com o
MTO.
6.3.12 - Team Leader
O Grupo de Observadores, para a execução de suas tarefas, será dividido em
Equipes de Observadores (Teams), cada qual com o seu Chefe (Team Leader -
TL).
Caberá ao TL o bom entrosamento e o trabalho em equipe em seu grupo de
observadores. A organização de uma equipe, bem como a designação do TL, por
meio de um ato administrativo, é disseminada na Ordem de Operação, bem como
as suas tarefas gerais. A diferença cultural, acrescida da barreira inicial decorrente
do uso da língua, associada à diferença na formação militar básica, são fatores que,
se não forem adequadamente controlados pelo TL, tendem a desagregar o grupo. O
TL é ainda o responsável pela determinação das tarefas a executar e pela
confecção do Detalhe de Serviço.

OSTENSIVO - 6-10 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

6.3.13 - United Nations Military Observer


É a designação individual de cada integrante militar de uma missão de observação
ou verificação. O termo UNMO também é aplicado a todos os militares de uma
OpPaz, mesmo que, temporariamente, exercendo um dos cargos supracitados.
6.3.14 - Aid-de-Camp
O Aid-de-Camp (ADC) é o Assistente do CMO.
6.3.15 - Subordinação
Enquanto estiverem na área da missão, os UNMO estarão sob o comando do CMO
e por ele estarão sendo avaliados sua conduta e desempenho. O CMO exercerá o
comando por intermédio de comandantes de setores – Sector ou Regional
Commander – de Áreas ou de Postos de Comando. Na sua ausência, o DCMO por
ele responderá.
6.4 - RECOMENDAÇÕES
6.4.1 - Comunicação verbal e escrita
O idioma mais usual na ONU é o inglês, falado, porém, com diferentes sotaques e
entonações que o tornam difícil para uma imediata e rápida percepção auditiva.
Os modelos de relatórios específicos da ONU devem ser do conhecimento prévio
dos militares designados para a OpPaz. No caso específico de UNMO, é importante
que os termos técnicos do dia-a-dia, assim como o procedimento empregado nas
transmissões radiotelefônicas, sejam assimilados no menor intervalo de tempo
possível.
Durante o período de preparação e adestramento para a participação em uma OpPaz,
os militares deverão familiarizar-se com a terminologia empregada por meio da
leitura de relatórios e documentos disponíveis nos arquivos de sua Unidade, nos
Comandos de Força ou no Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais
(CGCFN).
6.4.2 - Lista de verificação
A elaboração de uma Lista de Verificação é de suma importância na preparação de
um UNMO. Deve ser iniciada quando da indicação do militar e atualizada
constantemente, inclusive durante a efetiva participação em uma OpPaz. De uma
forma geral, esta Lista de Verificação deve ser organizada em seções, quais sejam:
- documentos pessoais necessários quando da preparação da viagem para o exterior;
- documentos e relatórios anteriores versando sobre a área onde estiver prevista a

OSTENSIVO - 6-11 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

atuação do militar;
- equipagem individual básica de combate;
- documentos relativos à OpPaz à qual integrar-se-á;
- objetos e roupas de uso individual;
- material de higiene e de primeiros socorros, considerando medicamentos de uso
rotineiro que não exijam receituário médico; e
- quaisquer outras julgadas necessárias como, por exemplo, telefones para contatos
etc.
6.4.3 - Documentos
Para o deslocamento inicial, o passaporte, com os vistos requeridos pelos países por
onde o UNMO vai passar, cartão de vacinação, com pelo menos a vacina contra a
febre amarela em dia, são imprescindíveis para viagens internacionais. Esses
documentos individuais, a serem conduzidos para a área da missão, variam
conforme as exigências específicas de um determinado país, às quais o UNMO deve
adequar-se.
Além desses, o UNMO receberá vários documentos contendo as normas específicas
da OpPaz à qual vai pertencer. Ao chegar na área da missão, o UNMO será
recepcionado pelo Oficial de Ligação (Liason Officer - LO) - que, no aeroporto, o
apoiará junto ao protocolo, facilitando o seu ingresso no país e o desembaraço de sua
bagagem. O SMO e o CPO irão providenciar a identificação do UNMO e sua
carteira de habilitação para conduzir determinadas viaturas. O UNMO terá uma série
de formulários a preencher e assinar, incluindo um seguro de vida, no qual há a
previsão de uma compensação por falecimento, acidentes ou doenças e até por
perdas de objetos pessoais.
Este período, normalmente de duas semanas, é denominado check-in.
Os documentos comumente utilizados são:
a) Documentos e relatórios ligados à missão
Planos e Ordens de Operação, Daily Situation Report (Relatório Diário de
Situação), o Patrol Report (Relatório de Patrulha), Significant Incident Report
(Relatório de Incidentes), Location Chart UNMO (Tabela de Organização e
Emprego de Pessoal), Daily Report (Relatório Diário) e Efficienty Report
(Relatório de Avaliação Individual).

OSTENSIVO - 6-12 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

b) Documentos normativos
Mandato da Operação de Paz, Resolução da ONU, Procedimentos Operativos
(SOP), Vehicle Support Plan (Plano de Emprego e Movimentação de Viaturas),
Planos de Segurança e Planos de Evacuação.
c) Documentos administrativos
Casualty Report (Relatórios Médicos), Leave and Compensatory - Time-Off
Forms (Papeletas de Licença), Voucher For Reimbursement of Expenses
(Formulário para reembolso de despesas efetuadas em viagens, e não cobertas
pelas diárias da ONU) e Military Subsistance Allowance Form (Bilhete de
Pagamento da ONU).

OSTENSIVO - 6-13 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

CAPÍTULO 7
TAREFAS DO OBSERVADOR MILITAR
7.1 - GENERALIDADES
Na maioria das OpPaz, os UNMO viverão em ambientes hostis, atuarão desarmados e,
portanto, estarão constantemente submetidos a situações de risco. Estarão submetidos à
convivência com UNMO de diferentes hábitos, cultura e religiões. Não raro, terão que
atuar afastados de seus compatriotas desde o início da missão. Tudo isso provocará um
choque a ser rapidamente superado. Portanto, a boa preparação física, psicológica e
técnico-profissional é fundamental.
Normalmente, as primeiras semanas são dedicadas às atividades de adestramento e
familiarização com a missão, com a área, com os demais contingentes e com os recursos
de que disporá o novo UNMO para o cumprimento de suas tarefas. A esse período, dá-
se o nome de check-in.
Os turnos de trabalho, normalmente, exigem uma disponibilidade durante as vinte e
quatro horas do dia e os sete dias da semana, ou seja, durante o período de tempo em
que o UNMO estiver na área da missão as folgas são raras. Estas folgas, quando
possível, serão previamente estabelecidas pelo CPO, depois de determinadas pelo CMO,
podendo ser usufruídas após um determinado período de efetivo serviço. Os horários de
efetivo serviço serão determinados pelo COO, sendo disseminados por meio das Ordens
de Operação e Planos de Emprego de Patrulhas. Os UNMO concorrerão, ainda, a uma
escala de Oficial de Serviço, coordenada pelo representante dos militares do setor
(SMO), no HQ, Setor ou PC.
Caso a equipe esteja sendo empregada em um OP, PTran ou Área de Reunião e
Desmobilização, ou seja, fixa em uma determinada área de responsabilidade, o TL será
o responsável por determinar as tarefas a serem realizadas e o detalhe semanal de
serviço.
A transmissão e a recepção de mensagens, por rádio ou telefone, é dificultada pelo
emprego de outro idioma e pela variedade de sotaques. Por isso, é fundamental a
familiarização com os tipos de mensagens padronizadas, bem como a fluência escrita e
oral na língua inglesa.
As tarefas normalmente atribuídas aos UNMO são as de monitoramento de fronteiras,
áreas de responsabilidade, zonas desmilitarizadas, verificação de desarmamento e
desmobilização de tropas ou milícias, trocas de prisioneiros, movimentação de tropas

OSTENSIVO - 7-1 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

das partes beligerantes, dentro de uma zona desmilitarizada ou setor de responsabilidade


de uma das partes em conflito. Pode ser atribuída, também, tarefa de monitoramento das
atividades dos membros de ONG, particularmente em campos de refugiados e de
prisioneiros de guerra.
Tarefas de investigação de violações em diversos acordos celebrados pelas partes em
conflito são, com freqüência, atribuídas aos UNMO.
O UNMO pode receber tarefas e instruções muito específicas para representar a ONU
durante qualquer negociação em andamento. Nesses casos, o profundo conhecimento da
posição a ser estabelecida e mantida pela ONU, assim como um grande poder de
persuasão, serão requisitos essenciais para o sucesso. Nessas negociações, o UNMO
deverá ser acompanhado pelo assessor político do CMO e de intérpretes das partes,
ainda que domine o idioma local, o que contribuirá para contornar qualquer mal-
entendido.
7.2 - USO DO SISTEMA DE COMUNICAÇÕES
O UNMO lida com uma extensa gama de equipamentos ainda desconhecidos para ele,
fabricados em diversas partes do mundo. No início, poderá sentir alguma dificuldade em
operar estes equipamentos. Com o tempo, verá que todos guardam muita semelhança
com os equipamentos que já conhece. É importante que tire o máximo proveito do
período de check-in para minimizar as dúvidas relativas à operação dos equipamentos e
aos procedimentos-fonia. De igual importância é a consulta ao manual de cada
equipamento para evitar qualquer dano ou pane.
Ao observador cabe apenas realizar a manutenção de lº escalão, ou seja, a limpeza
externa do equipamento, dos encaixes e conexões.
7.2.1 - Redes padrão
Basicamente, o UNMO lida com três tipos de redes de comunicações: uma rede-
rádio em fonia - VHF/FM, para ligações a curta distância, visando ligar membros de
um EM e unidades móveis locais; uma rede-rádio em fonia - HF/SSB, para ligações
a longa distância; e uma rede-rádio em grafia via satélite, utilizando equipamentos
INMARSAT ou CAPSAT, que cobre toda a superfície terrestre. Estas duas últimas
redes permitem ligações com o Brasil.
A rede com equipamentos VHF/FM é a mais utilizada pelo UNMO dentro de uma
mesma região, em um HQ central ou regional. Garante flexibilidade e rapidez,
permitindo o contato entre elementos dispersos, dentro ou fora do seu escritório,

OSTENSIVO - 7-2 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

permite acionar um determinado elemento a qualquer hora do dia ou noite, transmitir


relatórios periódicos, convocar reuniões extraordinárias e outras coordenações. Essa
mesma rede também é utilizada entre os integrantes de equipes destacados em uma
mesma região ou ainda, dentro de uma área de aquartelamento. Em caso de
congestionamento, a estação controladora da rede, normalmente localizada na Seção
de Operações, dará instruções para a utilização de canais alternativos.
A rede com equipamentos HF/SSB permite ligações operacionais entre pontos a
longa distância, tornando-se peça fundamental para o sucesso operacional da
Missão.
A rede INMARSAT complementa o sistema de comunicações, suprindo as
limitações da rede em fonia, transmitindo ordens escritas, relatórios e documentos
extensos. Para o Observador utilizar esta rede, necessita ter conhecimentos básicos
de informática, pois cada equipamento tem um computador pessoal do tipo
NOTEBOOK acoplado, com SOFTWARE específico. Esta rede permite o acesso
direto em qualquer sistema telefônico, em qualquer parte do mundo, inclusive
podendo emitir e receber mensagens FAX. A ONU não autoriza o uso desta rede
para fins particulares.
7.2.2 - Procedimentos de exploração
Apesar do UNMO comunicar-se na maior parte do tempo com outros militares, a
exploração das comunicações não segue padrões militares rígidos. Expressões de
agradecimento, de cortesia ou gentilezas, que são dispensáveis e evitadas em
transmissões militares, são amplamente usadas nas conversações. Primeiro, porque
ele também se comunicará, em algumas situações, com civis. Segundo, porque
considerando a situação peculiar de estar trabalhando entre oficiais de várias
nacionalidades, a educação e a amabilidade garantem que não sejam feridas
suscetibilidades. São por ele utilizadas expressões como “por favor”, "muito
obrigado", "de nada", "bom dia", "tenha uma boa noite" e outras.
O UNMO necessita se familiarizar com as expressões e com o idioma oficial da
Missão, para que não venha a se atrapalhar na exploração da rede. A exploração
deve ser sempre no idioma oficial. No Anexo E, encontram-se algumas normas de
exploração, no idioma inglês, utilizadas em OpPaz.

OSTENSIVO - 7-3 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

7.3 - USO DOS MEIOS DE TRANSPORTE


7.3.1 - Autorização para a condução de veículos
Conduzir veículos das Nações Unidas requer autorização específica. Para obtê-la, é
necessário ter primeiro uma Carteira Internacional de Motorista e depois se submeter
a exame específico na área da missão.
Todos os UNMO devem possuir autorização para a condução de veículos.
7.3.2 - Responsabilidades
Os UNMO que tiverem veículos das Nações Unidas sob sua responsabilidade
deverão:
- submeter o veículo às revisões pré-agendadas da manutenção preventiva;
- cuidar para que toda a documentação do veículo esteja completa;
- relatar defeitos e danos que ocorram ao MTO; e
- respeitar as leis de trânsito locais e as diretivas emanadas da administração da
Missão.
7.3.3 - Controles
Os controles são determinados nos procedimentos operativos padronizados.
Mensalmente, são encaminhados o Communications State, o Information
Technologic State e o Vehicle State. Diariamente, é enviado o Vehicle Trip Ticket.
7.3.4 - Segurança
Uma das principais causas de baixas entre os UNMO são os acidentes de trânsito. A
precariedade das vias de transporte e as condições de trânsito, normalmente caóticas,
associadas ao permanente estado de tensão, em muito contribuem para os acidentes.
Dentre os fatores que contribuem para esses acidentes, podemos enumerar:
- o estado de conservação de estradas e vias públicas;
- a sinalização de trânsito deficiente ou degradada pela situação do país anfitrião;
- as más condições de manutenção da maioria dos veículos locais, conseqüente das
condições econômicas do país e da infra-estrutura local;
- o uso abusivo de bebidas alcoólicas;
- a existência de grande número de condutores não habilitados, agravada pela
ausência de fiscalização; e
- o permanente estado de tensão, provocando reações intempestivas ou impensadas.
Por essas razões, o UNMO deve conduzir sua viatura com atenção voltada não só
para aquilo que faz, mas, principalmente, para o que ocorre à sua volta. Uma boa

OSTENSIVO - 7-4 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

prática é adotar itinerários permanentes procurando familiarizar-se e memorizar as


características de risco de cada um deles. Outra medida adicional de segurança é o
estabelecimento de contato-rádio entre viaturas em trânsito e a sua base a cada vez
que se ultrapassar pontos pré-estabelecidos desses itinerários.
7.4 - CONDUÇÃO DAS INSPEÇÕES E VERIFICAÇÕES
7.4.1 - Generalidades
A inspeção e a verificação não podem ser conduzidas sem que antes tenha havido
uma trégua e um acordo entre as partes em conflito. Sem dúvida, a primeira tarefa
para os UNMO será supervisionar, por intermédio da inspeção e da observação, esta
trégua ou acordo, o que incluirá a retirada das forças oponentes e, uma vez
alcançado o acordo definitivo, o retorno à paz e à vida normal.
7.4.2 - Conceituação básica
a) Inspeção
É o processo de reunir informações para estabelecer os fatos relacionados com
uma denúncia de violação dos acordos de cessar-fogo ou reclamação de alguma
das partes sobre um suposto incidente. É uma atividade executada para a
obtenção da verdade sobre um fato ou prevenir qualquer escalada do conflito.
b) Verificação
É uma ação que trata de provar ser verdade algo sobre o qual pairava uma
dúvida.
c) Área de separação
É a área desmilitarizada que separa as forças beligerantes. Dentro destas áreas,
podem ser estabelecidas linhas de separação a serem observadas pelos
oponentes.
Deve ser suficientemente larga para que uma força, a partir de seus limites, não
hostilize a rival.
d) Liberdade de movimento
É o princípio segundo o qual está assegurado ao UNMO o direito de se
locomover pelas áreas em conflito sem restrições.
e) Oficial de Ligação
É um Oficial das forças locais com a tarefa de realizar os contatos entre o
pessoal local e os membros da ONU.

OSTENSIVO - 7-5 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

f) Linhas de separação
São linhas que limitam a Área de Separação de um lado e de outro. Devem ser
permanentemente fiscalizadas quanto a possíveis violações.
7.4.3 - Condução das inspeções
As inspeções devem ser conduzidas informalmente e de maneira colaborativa, tendo
como fundamentos a transparência, a imparcialidade e, das partes em conflito, a
cooperação. Podem ser feitas espontaneamente, geradas por denúncias de violação
ou, ainda, por solicitação de uma das partes, como demonstração de boa-vontade.
Uma inspeção pode ser conduzida por qualquer pessoa a serviço da ONU, seja ela
civil ou militar.
Qualquer integrante da ONU que tome conhecimento de um fato ocorrido cabível de
inspeção, deve iniciá-la, ainda que em ausência de instruções específicas. É
desejável que as partes envolvidas participem das inspeções. Assim, é de boa prática
que uma inspeção seja anunciada às partes em conflito, inclusive quanto ao
momento de seu início. Contudo, o impedimento de uma delas não deve ser motivo
de postergação.
7.4.4 - Razões para uma inspeção
As seguintes situações podem ensejar uma inspeção:
- movimentação de tropas;
- lançamento de minas;
- ataques a uma das partes em conflito;
- ação ou presença de patrulhas em áreas alheias;
- ações de sabotagem;
- ocupação de novas posições por partes em conflito;
- imposição de restrições de movimentos;
- surgimento ou construção de novas fortificações; e
- contrabando ou tráfico de armas e explosivos.
7.4.5 - Tipos de inspeções
a) Periódicas
Executadas com intervalos não maiores que quinze dias conforme acordos
assinados.
b) Especiais
Levadas a cabo a pedido de alguma das partes.

OSTENSIVO - 7-6 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

c) Diárias
Conduzidas como suplementação dos dados recolhidos durante as inspeções
periódicas ou como resultado das patrulhas diárias.
7.4.6 - Objetivos de uma inspeção
Os seguintes dados deverão ser considerados em uma inspeção:
- identificação das fontes, com nomes, atividade desempenhada, telefone e endereço;
- sua relação com as partes em conflito;
- local, data e hora do ocorrido;
- hora de início e término do fato;
- natureza do problema;
- ações adotadas pela equipe de inspeção; e
- solução adotada.
7.4.7 - Preparação de uma inspeção
Uma inspeção não deverá ser realizada por menos de dois observadores, sendo pelo
menos um deles experiente na missão. Também deverão ser de nacionalidades
diferentes em observância ao princípio de equilíbrio de nacionalidades. Os UNMO
designados deverão receber uma carta topográfica atualizada, contendo informações
gráficas dos detalhes conhecidos como, por exemplo, o posicionamento das forças,
localização de campos minados e outros. A tarefa da Equipe será inspecionar todas
as posições e instalações existentes no setor determinado. Dentro do princípio da
oportunidade, a Equipe terá ainda a tarefa de efetuar reconhecimento mais detalhado
de seu setor com vistas à atualização dos dados da carta recebida.
Em determinadas situações, as Equipes de Inspeção precisarão ser apoiadas com
meios de transporte não pertencentes à ONU. Para evitar que sejam acidentalmente
atacadas, esses meios, sejam terrestres, aquáticos ou aéreos, deverão portar
provisoriamente algum tipo de identificação da ONU em local visível e
suficientemente grande para ser percebido à distância. Os manuais da ONU dispõem
de instruções específicas para esses casos.
7.4.8 - Briefing
Antes de uma inspeção ocorrer, deverá ser feito um briefing pela Seção de
Operações, no qual será passado aos UNMO um resumo da situação do setor a ser
inspecionado, detalhes a respeito da última inspeção realizada, condições do terreno
e qualquer outra informação que possa ajudar os UNMO na inspeção.

OSTENSIVO - 7-7 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

7.4.9 - Conduta durante a inspeção


Toda a área assinalada deverá ser minuciosamente inspecionada. A conduta pessoal
deverá ser amistosa e cortês, porém em constante estado de alerta. Os mapas ou
cartas topográficas e outros documentos deverão ser preservados das vistas de
pessoas estranhas à equipe. Esse material deverá preferencialmente ser deixado no
interior do meio de transporte utilizado pela Equipe, sob guarda. Nada deverá ser
escrito ou registrado nos mapas ou cartas topográficas.
7.4.10 - Relatórios
Todas as observações realizadas deverão ser reportadas ao final da inspeção por
meio de um relatório escrito, com o máximo detalhamento possível. Somente o que
foi observado deverá ser relatado. Comentários desnecessários e suposições podem
redundar em confusão ou assunção de fatos inexistentes.
7.5 - CONDUÇÃO DAS INVESTIGAÇÕES
7.5.1 - Finalidade
A investigação é um procedimento por meio do qual se busca estabelecer a verdade
sobre um acontecimento que tenha ocorrido fora do normal, especialmente aqueles
que se refiram a uma ruptura dos acordos firmados.
7.5.2 - Origem de uma investigação
Denúncias sobre as seguintes situações podem gerar uma investigação:
- violação do cessar-fogo;
- ocupação de novas posições no terreno ou melhoramento das já existentes depois
da entrada em vigor de um acordo de cessar-fogo;
- infiltração de tropas através das fronteiras em descumprimento ao acordo de cessar
fogo;
- ataques contra população civil;
- seqüestros ou desaparecimento de pessoas; e
- incidentes com armas de fogo.
7.5.3 - Tarefas conduzidas em uma investigação
O esforço de uma investigação deve objetivar:
- levantar os acontecimentos relacionados com a violação a ser investigada;
- determinar a possível origem de todo o ocorrido;
- percorrer tantos lugares quanto necessários para a investigação; e
- confirmar se as violações alegadas correspondem ou não ao ocorrido.

OSTENSIVO - 7-8 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

7.5.4 - Relatórios
Os relatórios devem ser claros e concisos. Não se deve reportar conjecturas ou
opiniões pessoais. Qualquer conclusão deve estar apoiada em fatos.
Ao final da investigação, o relatório escrito será encaminhado à autoridade que o
determinou. Seu conteúdo será a base para a confecção de documentos decorrentes,
os quais serão encaminhados à sede da ONU, às facções envolvidas e a outros
órgãos e instituições porventura interessados. Normalmente, incluirá:
- a documentação de referência;
- a descrição ampla da situação que gerou a necessidade da investigação;
- as ações da Equipe de Investigação;
- declarações das lideranças das partes envolvidas julgadas pertinentes;
- cartas, croquis, fotografias, evidências materiais, entre outros registros e materiais
afetos ao fato investigado; e
- conclusões da Equipe de Investigação.
7.6 - CONDUÇÃO DAS NEGOCIAÇÕES/MEDIAÇÕES
7.6.1 - Princípios básicos
As mediações e negociações são instrumentos muito utilizados nas OpPaz.
Negociações são especialmente importantes no sentido de se atingir determinado
objetivo sem o uso da força militar ou resolver disputas entre as partes antes do
emprego de armas. Negociações podem ser conduzidas a qualquer momento durante
o conflito e são uma importante parte das OpPaz.
Uma negociação, freqüentemente, tem uma duração longa. Para evitar que se
estenda desnecessariamente, o seu propósito deve estar perfeitamente definido e
enunciado em termos de metas tangíveis.
7.6.2 - Preparação para uma negociação
Os UNMO envolvidos em uma negociação devem ter conhecimento prévio das
atitudes, pontos de vistas e problemas que poderão surgir durante a mesma. Uma
cuidadosa preparação é de suma importância para o sucesso de uma negociação,
devendo incluir:
- investigações para verificar se o assunto em pauta já foi discutido e/ou acordado
anteriormente;
- a constatação se anteriormente já foram feitos acordos pelas partes envolvidas na
questão;

OSTENSIVO - 7-9 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

- a verificação se algum fato ocorrido poderá influenciar nas decisões ou acordos


que venham a ser assinados;
- conhecer as versões das partes envolvidas, pois se a negociação estiver sendo
conduzida devido a um incidente, é essencial investigar todos os detalhes do
ocorrido;
- acerto prévio do local, horário e dos participantes da negociação; e
- a designação, se julgado necessário, de funções especiais como intérpretes,
secretário e um assistente para os negociadores.
7.6.3 - Conduta durante uma negociação
Não se deve iniciar uma negociação tratando diretamente sobre o assunto da mesma.
A reunião deve ser iniciada com uma saudação, seguida da apresentação da Equipe
aos presentes. Devem ser inicialmente tratados os assuntos gerais objetivando-se
diminuir a excitação, nervosismo e possível irritação dos representantes das partes
em conflito. Uma boa política é apresentar um breve sumário das conquistas até
então obtidas, ressaltando-se as medidas de boa-vontade de ambas as partes. A
seguir, deve ser lembrado que qualquer negociação implicará em perdas e renúncias
para as partes, mas que os benefícios globais trazem vantagens a todos.
Às vezes, pode ser conveniente que a negociação seja conduzida pelos
representantes das partes. Fazer anotações durante as negociações pode gerar
situações desconfortáveis. Pelas mesmas razões, gravadores não devem ser usados.
O pessoal não autorizado não deve ter acesso ao local onde as negociações serão
conduzidas.
A negociação deve ser administrada pacificamente até atingir seu propósito. Iguais
oportunidades devem ser concedidas para a manifestação de ambas as partes.
Quando uma das partes envolvidas apresentar a sua versão, os UNMO não deverão
demonstrar discordância das versões apresentadas. Contudo, se alguma informação
incorreta for apresentada, deverão ser apresentadas as evidências da incorreção.
As discordâncias devem ser registradas e não devem estancar o processo de
negociação. Adiante, caso a situação torne-se favorável, os pontos de discórdia
poderão ser retomados. Em caso de nova discordância, não se deve insistir na
solução, deixando-se o assunto para ser abordado em outra ocasião. A experiência
tem demonstrado que, muitas vezes, as partes despem-se das emoções e do calor dos
debates após a reunião e reconsideram seus pontos de forma positiva ao processo.

OSTENSIVO - 7-10 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

Não devem ser feitas promessas ou acordos com nenhuma das partes, a menos que
haja autorização superior para tal. Não deve ser fornecida informação sobre qualquer
das partes para a outra. Um UNMO deve primar pela imparcialidade.
Deve-se impedir que representantes de qualquer das partes expressem suas opiniões
a respeito da conduta moral ou política da outra parte. As partes devem ser levadas a
aceitar a solução previamente preparada e proposta pelos componentes da ForPaz.
Nesta iniciativa, mostra-se particularmente útil a referência a acordos, práticas
passadas e pronunciamentos anteriores de ambas as partes.
A reunião de negociação deve ser encerrada repetindo-se para os representantes das
partes o que foi acordado. Isso posto, ambas as partes devem ser questionadas se
estão de acordo com o que foi lido. Uma vez obtida a afirmativa, devem ser
alertadas de que os resultados obtidos serão utilizados para futuras negociações.
Esse encerramento deve ocorrer em um clima de cortesia promovido pelos UNMO,
ressaltando-se os progressos obtidos e exortando-se as partes a refletirem sobre as
renúncias que levem à solução de aspectos pendentes da negociação. O local, a data
e o horário da próxima reunião, se possível, deverão ser estabelecidos nessa ocasião.
Finalmente, ao retornar à sua base, a Equipe de Negociação relatará verbalmente os
progressos e os entraves da reunião ao CMO, caso o próprio não tenha tomado parte
da reunião. Um relatório deverá ser elaborado, conforme orientação do seu escalão
superior, e remetido aos responsáveis pela implementação dos resultados.

OSTENSIVO - 7-11 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

CAPÍTULO 8
O BATALHÃO DE PROTEÇÃO E OUTROS GptOpFuzNav NAS OPERAÇÕES DE PAZ
8.1 - GENERALIDADES
As publicações MD34-M-02 e EMA-402 descrevem, em linhas gerais, os aspectos
básicos do UNSAS e a participação brasileira acordada por nossos representantes.
A adesão do Brasil ao citado sistema impôs a necessidade de manter em condição de
pronto emprego uma parte do poder militar, tanto em termos de pessoal quanto de
material. No âmbito da Marinha do Brasil, julgou-se adequado que fosse posto à
disposição da ONU um GptOpFuzNav denominado Batalhão de Proteção (BtlPtç) – ou,
ainda, BRAMARB - e uma Unidade Médica Nível 2, cada qual com sua organização
descrita detalhadamente em documentos produzidos pelo ComFFE e pela Diretoria de
Saúde da Marinha (DSM), respectivamente.
As disposições sobre a organização e emprego do BtlPtç, nos termos acordados no
UNSAS, é da alçada do Comando de Operações Navais (ComOpNav), cabendo ao
CGCFN prover, no que lhe couber, o apoio necessário à sua ativação e preparação.
Cabe ressaltar que o UNSAS não impõe ao país a obrigatoriedade de participar em todas
as OpPaz desencadeadas. Para cada operação, haverá um convite à participação, o qual
será aceito ou não pelo país contribuinte, conforme ditarem os seus interesses naquele
determinado conflito ou crise. Tampouco há a obrigatoriedade de que, uma vez aceita a
participação, esta venha a dar-se com exatamente a força posta à disposição no UNSAS.
Igualmente, os interesses nacionais e as possibilidades econômicas e militares do país no
momento da proposta de participação poderão determinar alterações na constituição da
força a ser efetivamente empregada.
8.2 - O BATALHÃO DE PROTEÇÃO
O BtlPtç é um GptOpFuzNav de características especiais, posto que aplica o conceito de
componentes de forma a adequar-se às especificidades de sua missão. É nucleado em
torno de um Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais (BtlInfFuzNav). Sua
denominação advém de uma tradução adaptada da nomenclatura Protected Infantry
Battalion, adotada pela ONU para as unidades de infantaria empregadas em OpPaz sob
sua égide. A organização e os meios do BtlPtç são produto da adaptação da constituição
recomendada pela ONU para as unidades de infantaria às especificidades das unidades
da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE), a quem cabe a tarefa de organizar, mobilizar
e aprestar esse GptOpFuzNav.

OSTENSIVO - 8-1 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

Ao BtlPtç caberão as mesmas tarefas visualizadas pela ONU para unidades dessa
natureza, quais sejam:
- conduzir atividades de busca, patrulhamento, observação, supervisão;
- monitoração e relato de situações;
- conduzir operações tipo polícia;
- evacuar áreas;
- desdobrar preventivamente a força;
- estabelecer e manter áreas de segurança;
- participar na desmobilização, desarmamento e reintegração (DDR) de facções
litigantes;
- cooperar para o atendimento de necessidades críticas da população;
- controlar determinadas áreas terrestres, marítimas ou ribeirinhas;
- exercer a vigilância e o controle de determinado espaço aéreo;
- cumprir sanções ou embargos;
- contribuir para a assistência humanitária;
- prestar assistência a refugiados e deslocados;
- estabelecer um local neutro para negociações de paz;
- dirigir negociações locais entre as facções envolvidas;
- efetuar operações de desminagem;
- executar operações de evacuação;
- respaldar a ação diplomática pela presença;
- interpor-se entre forças oponentes;
- executar operações de transporte de carga, pessoal ou material;
- atuar no espectro eletromagnético;
- prover apoio de fogo, caso sejam imprescindíveis para o exercício do direito de
autodefesa das forças da ONU em terra;
- alojar temporariamente tropas da ONU;
- prover segurança a instalações e autoridades;
- realizar escolta de comboios e de autoridades;
- realizar a destruição de material bélico capturado ou apreendido;
- realizar trabalhos de engenharia de construção; e
- outras missões previstas no Mandato das Nações Unidas.

OSTENSIVO - 8-2 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

8.3 - ORGANIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DO BATALHÃO DE PROTEÇÃO


Os seguintes aspectos diferenciarão a mobilização do BtlPtç: as providências
administrativas para o preparo do pessoal e a obtenção de recursos materiais não
orgânicos das unidades.
8.3.1 - Providências administrativas para o preparo do pessoal
A composição de um contingente para emprego em uma OpPaz exige uma série de
providências administrativas. Tanto o pessoal selecionado para a missão quanto o
necessário para o recompletamento e o reforço da unidade-núcleo deverão, na medida
do possível, observar os fatores relacionados no item 6.2.2.3 do MD34-M-02.
Outrossim, destacam-se outras medidas, dentre elas:
- avaliação sócio-psicológica do militar e da esposa (se for o caso)
- as inspeções de saúde;
- a elaboração de um banco de dados das arcadas dentárias dos militares;
- as medidas profiláticas sanitárias, dentre as quais a vacinação de todo o pessoal
contra as endemias existentes na área da missão;
- a realização de ações de apoio familiar;
- orientações à família do militar quanto às normas de conduta junto ao público
externo;
- definição e divulgação do canal de correspondência família-militar-família;
- o estabelecimento de seguros de vida (caso haja interesse do militar);
- a confecção de passaporte de serviço e a emissão dos vistos julgados necessários
para a missão; e
- a abertura de contas e demais procedimentos atinentes à remuneração no exterior.
8.3.2 - Preparo do material
Conforme já mencionado, a quase totalidade do material orgânico deverá estar
disponível quando da ativação de um GptOpFuzNav para emprego em uma OpPaz.
Entretanto, somente esse material não é suficiente para o emprego do contingente,
sendo necessária a obtenção de uma grande quantidade de outros itens como, por
exemplo, suprimentos Classe I, III, V e IV. O capítulo 10 apresenta maiores detalhes
desse preparo.
8.3.3 - Autonomia logística e pronta resposta
Contingentes postos à disposição da ONU deverão dispor, ao ser empregados, de
considerável autonomia logística, posto que aquele organismo internacional

OSTENSIVO - 8-3 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

estabelece como premissa que a inserção de uma nova unidade ou força em uma
operação em curso não se dá, sob o ponto de vista logístico, de forma imediata.
Assim, é solicitado aos países que contribuem com tropa para uma determinada
OpPaz, que preparem seus contingentes de modo a manterem-se desdobrados na área
da missão sem contar, inicialmente, com a infra-estrutura logística estabelecida ou a
estabelecer-se. Os entendimentos oficiais definem a autonomia em número de dias
para determinados itens de suprimentos.
Outro requisito de grande importância para a constituição do BtlPtç é a capacidade
de pronta resposta, pois, em muitos casos, a demora no envio dos contingentes pode
representar a perda de oportunidade no desencadeamento da operação, resultando no
seu fracasso ou inexeqüibilidade.
Estes dois aspectos combinados aumentam, em muito, o esforço de ativação e
mobilização de meios para o BtlPtç. O instrumento de adesão do Brasil ao UNSAS
prevê um tempo de resposta de trinta dias após a formalização de sua participação,
com uma autonomia logística inicial de sessenta dias. Não obstante, documentação
mais recente da ONU tem recomendado a previsão de uma autonomia logística
inicial de noventa dias, em vista da dificuldade de organização do apoio logístico em
áreas submetidas a longos conflitos, que tenham degradado a infra-estrutura local.
No capítulo 10, esses aspectos são mais precisamente detalhados.
8.4 - OUTROS GptOpFuzNav EM OPERAÇÕES DE PAZ
Embora o BtlPtç seja o GptOpFuzNav padrão para emprego em OpPaz, conforme já
mencionado, o UNSAS é suficientemente flexível para permitir aos países participantes
adaptar-se à situação e aos interesses vigentes no momento da operação. O contingente
acordado por ocasião da adesão do país ao mencionado sistema deve ser considerado
como uma referência, que tem o propósito de facilitar o planejamento inicial, tanto do
país contribuinte como da própria ONU, em particular de seu DPKO, cuja constituição
está apresentada no Anexo A.
Mesmo nos casos onde o GptOpFuzNav não corresponda exatamente ao preconizado
para o BtlPtç, este será sempre organizado em um Componente de Comando (CC), um
Componente de Combate Terrestre (CCT), um Componente de Apoio de Serviços ao
Combate (CASC) e outros Componentes se for o caso. O ponto fundamental em
questão, é dotar o GptOpFuzNav de capacidade de comando, controle e planejamento,
não importando o valor de tropa do seu CCT, de modo que, ao ser inserido em uma

OSTENSIVO - 8-4 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

estrutura maior, o faça como um elemento constituído, sob o comando de seu


Comandante.
No caso do BtlPtç, o mais comum é que este constitua uma Unidade diretamente
subordinada ao FC, porém, quando o GptOpFuzNav contar com um efetivo reduzido,
com um CCT de valor CiaFuzNav, este poderá ficar subordinado operativamente ao
Comandante de uma Unidade de outra Força ou país, porém, sempre reterá a
prerrogativa de organizar e empregar seus elementos constitutivos do modo que bem lhe
aprouver, segundo o que lhe indicar o seu exame de situação para a execução das tarefas
que lhe forem atribuídas, não devendo nunca ser absorvido integralmente como uma
subunidade da Unidade ou Força onde foi enquadrado. Reterá, também, a autoridade
para o trato das questões disciplinares relativas ao pessoal de seu GptOpFuzNav,
observadas as recomendações contidas na Diretiva do Ministério da Defesa para o
Contingente Brasileiro.

OSTENSIVO - 8-5 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

CAPÍTULO 9
COMANDO E CONTROLE NO BATALHÃO DE PROTEÇÃO E EM OUTROS
GptOpFuzNav
9.1 - CADEIA DE COMANDO
A ONU é uma instituição que não dispõe de uma estrutura hierárquica militar nem de
Estado-Maior que possa planejar e conduzir as OpPaz, sob o ponto de vista militar.
Estas operações têm sido controladas politicamente pelo Conselho de Segurança, por
intermédio do Secretário-Geral, a quem cabe a supervisão geral das ações, contando,
para exercê-la, com o assessoramento de especialistas militares.
No nível estratégico, a organização, o desenvolvimento e o acompanhamento das OpPaz
são da responsabilidade do Secretário-Geral. No nível operacional, tal autoridade cabe
ao SRSG ou ao FC, os quais devem informar ao Secretário-Geral os progressos obtidos
na OpPaz. Com base nessas informações, transmitidas pelo Secretário-Geral ao
Conselho de Segurança a cada semestre, este decide sobre o orçamento a ser
disponibilizado para a OpPaz, bem como avalia sobre o tempo remanescente da
Operação necessário à solução da crise.
O FC é responsável pela disciplina dos integrantes da ForPaz. Porém, nos casos de
contravenção disciplinar, tem poderes somente para determinar a apuração dos fatos,
cabendo a aplicação das sanções disciplinares aos Chefes de Contingentes Nacionais. O
FC pode, também, solicitar ao encarregado do Departamento de Assuntos Políticos a
repatriação do militar ou funcionário civil que tenha contrariado princípios disciplinares
estabelecidos para uma OpPaz.
9.2 - RELAÇÕES DE COMANDO NOS GptOpFuzNav
O capítulo 2 menciona as relações de comando que podem existir em uma OpPaz. E
esse é mais um dos pontos a serem estudados e acordados entre a ONU e os países
contribuintes, uma vez que a aceitação por parte dos últimos de determinado grau de
autoridade concedido a um FC implicará na aceitação de maior ou menor grau de
interferência nacional sobre o seu contingente.
Apesar de ainda não existir uma doutrina que estabeleça uma rígida cadeia de comando
a ser obedecida em OpPaz, um GptOpFuzNav, ao participar desse tipo de operação, é
inserido na ForPaz constituída e cumprirá, na medida do possível, o preconizado pela
publicação MD33-M-03 - Doutrina Básica de Comando Combinado. Normalmente, será
colocado sob controle operacional do seu Comandante Imediatamente Superior, tal

OSTENSIVO - 9-1 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

como definido pela publicação supracitada, e exercerá este mesmo grau de autoridade
sobre contingentes de outras nacionalidades, porventura postos sob sua subordinação.
9.3 - SISTEMA DE COMUNICAÇÕES
O propósito de um sistema de comunicações é fornecer os meios para que o comandante
exerça o comando dos seus elementos subordinados. Diferentemente dos meios
empregados por UNMO em missão de observação ou verificação, onde os meios
utilizados são essencialmente fornecidos pela ONU, os GptOpFuzNav empregarão os
seus meios orgânicos. Isso exigirá os seguintes cuidados prévios:
- verificação das possibilidades de integração com os meios empregados por outros
integrantes militares do Contingente Nacional;
- avaliação dos limites da integração com sistemas de outras nações e sistemas
utilizados pela ONU, com vistas a evitar o comprometimento de nossos sistemas;
- diversificação desse sistema em cada escalão;
- previsão de fontes de alimentação para todo o sistema, a fim de que não se perca a
oportunidade na transmissão das informações; e
- adoção de medidas preventivas, a fim de reduzir-se a possibilidade de monitoramento
das redes utilizadas.
O Oficial de Comunicações de uma Unidade componente de uma ForPaz e seu pessoal
especializado são os responsáveis pela implementação dos meios de comunicações
disponíveis e a sua correta utilização.
9.3.1 - Tráfego
Embora não se trate de uma operação de guerra, o controle do tráfego de
comunicações não deve ser visto como uma simples rotina. Ele proporcionará,
sobretudo, um significativo aumento na segurança de todos os envolvidos na
operação. É essencial que todos os utilizadores estejam familiarizados com os
procedimentos adotados para as comunicações.
9.3.2 - Redes-rádio
Um GptOpFuzNav poderá ter equipes de UNMO operando em sua área de
responsabilidade ou sob o seu controle. Neste caso, a equipe tornar-se-á assinante da
rede-rádio do GptOpFuzNav, podendo ser colocados à sua disposição meios de
comunicações, depois de devidamente avaliados os riscos de segurança para o
sistema.

OSTENSIVO - 9-2 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

9.3.3 - Comunicações fio


O telefone de campanha deve ser amplamente utilizado. Elementos de comunicações
inseridos no Componente de Comando deverão estabelecer, operar e manter os
circuitos físicos utilizados. Sempre que possível, estes circuitos devem interligar
todas as posições ocupadas pelas Unidades.
9.3.4 - Procedimentos fonia
Os procedimentos fonia adotados na OpPaz constituem, normalmente, um anexo aos
POP ou SOP e são específicos para cada OpPaz. Em certas circunstâncias pode ser
necessário que o GptOpFuzNav conte com elementos habilitados no idioma inglês e
familiarizados com as abreviaturas e termos comumente empregados pela ONU.
As comunicações entre o GptOpFuzNav integrando uma ForPaz e o Brasil poderão
ser feitas por meio de telefone, fax ou outros meios, conforme estabelecido na
Diretiva do Ministério da Defesa e dos comandos singulares, disseminada antes do
embarque para a área da missão.
Todos os componentes de uma ForPaz devem ter em mente que a segurança das
comunicações é fundamental, a fim de evitar que qualquer uma das partes utilize
informações em proveito próprio, cuja origem seja a ForPaz.
9.3.5 - Mensagens codificadas
Normalmente, mensagens codificadas não são utilizadas até o nível Batalhão. No
caso da necessidade do emprego deste tipo de mensagem, o comandante da ForPaz
irá estabelecer o código a ser utilizado pelas suas Unidades.
9.3.6 - Manutenção dos equipamentos de comunicações
Os elementos especializados de Comunicações são os responsáveis pela manutenção
dos equipamentos orgânicos da Unidade. De uma maneira geral, é responsabilidade
do usuário:
- verificar o correto funcionamento do equipamento;
- limpar e proteger o equipamento contra chuva e a umidade;
- verificar se a fonte de alimentação a ser utilizada possui a voltagem correta; e
- informar, o mais cedo possível, qualquer defeito ou anormalidade verificada nos
equipamentos.
9.3.7 - Fonte de alimentação
A energia a ser utilizada para alimentar os equipamentos será, na maioria das vezes,
proveniente de geradores. Quando possível, a energia local deve ser utilizada. Com a

OSTENSIVO - 9-3 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

finalidade de garantir um fornecimento contínuo de energia aos equipamentos,


geradores reservas deverão estar disponíveis para pronto emprego na área da missão.
9.4 - INTELIGÊNCIA
As agências de inteligência têm como propósito prover o assessoramento sobre a
situação geral e as informações necessárias ao planejamento. O SRSG contará com um
orgão de inteligência para seu próprio assessoramento denominado Joint Mission
Analisys Center (JMAC) onde trabalharão de forma coordenada civis, militares e
policiais. Dentro do componente militar o FC contará com o assessoramento de uma
seção de inteligência (U-2) no seu Estado-Maior. Cada Unidade contará, também, com
sua própria célula de inteligência.
As instruções sobre a busca e a coleta de dados que venham a compor um conhecimento
a ser utilizado posteriormente constam, normalmente, dos SOP. Estas instruções
deverão referir-se, tão-somente, a uma área de interesse para a locação das Unidades de
uma Força de Paz. Somente pessoal treinado em atividades de inteligência poderá
participar da coleta, análise e disseminação de conhecimentos.
9.4.1 - Documentos de inteligência
Os documentos de inteligência normalmente utilizados na ONU assemelham-se, em
conteúdo, aos utilizados na MB, exceto o informe, que é substituído por um
Relatório Diário de Informações (Daily Situation Report -DSR).
9.4.2 - Conhecimentos necessários
Os conhecimentos relativos aos partidos envolvidos no conflito são de grande
importância para a ONU e, preferencialmente, devem cobrir o desdobramento das
forças, a razão de poder de combate, a organização, os equipamentos, armamento,
campos minados, fluxo logístico, além das características pessoais dos Comandantes
e demais oficiais.
Os indícios de mudanças na situação política, partidos políticos, manifestações
populares, determinações de autoridades locais, situação econômica, problemas
humanitários, aspectos religiosos, atitude da população em relação à presença da
ONU e características de líderes locais são, comumente, reportados nos DSR. Estes
indícios podem prenunciar levantes populares, alterações na postura da população
local e repentinas ameaças à integridade física do pessoal e dos bens da ONU, na
área da missão.
Cabe ressaltar que a obtenção de informes deve acontecer basicamente por

OSTENSIVO - 9-4 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

intermédio da coleta, ou seja, da obtenção de dados que não são protegidos por
medidas de sigilo e segurança e que não exigem o emprego de técnicas especiais para
sua aquisição.
A busca e a coleta de dados são obtidas das seguintes fontes ou equipes de operações
de inteligência:
- postos de observação e de controle de trânsito;
- patrulhas;
- informantes
- governo e população local;
- relatórios de agências da ONU;
- mídia local;
- turistas em trânsito na área da missão;
- UNMO e serviços de polícia; e
- Organizações não-Governamentais.
9.4.3 - Conhecimentos compartilhados
Os conhecimentos produzidos no âmbito de cada Unidade dispersa na área da missão
devem ser enviados por meio do DSR, segundo o trâmite estabelecido pelo FC.
Haverá situações em que se utilizará uma ONG para a obtenção de conhecimentos
importantes sobre a situação política na área da missão. Neste caso, a informação
deverá ser analisada, compartimentadamente, com o intuito de se obter tão somente o
conhecimento útil para a OpPaz.
É normal nas áreas de conflitos, a presença de agências de ajuda humanitária da
ONU como, por exemplo, o Programa de Alimentação Mundial (World for Food -
WFF) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (United Nations Children’s Fund
– UNICEF). Outras organizações como, por exemplo, a Cruz Vermelha e os Médicos
sem Fronteiras, também desenvolvem trabalhos naquelas áreas. É factível que todas
essas agências atuem em regiões de interesse da missão militar da ONU e vice-versa,
sendo, portanto, rotineira a troca de informações com as mesmas.

OSTENSIVO - 9-5 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

9.5 - CONTRA-INTELIGÊNCIA
9.5.1 - Conceitos básicos
Contra-Inteligência é o segmento da atividade de inteligência objetivamente voltado
para a salvaguarda de conhecimentos de nosso interesse. A ONU trata a contra-
inteligência não somente para preservar conhecimentos, mas para a garantia das
condições individuais dos seus membros componentes, assim como do país anfitrião.
As medidas de contra-inteligência são compreendidas em dois grupos: Segurança
Orgânica e Segurança Ativa/Contra-Espionagem. Como segurança orgânica entendam-
se as medidas a serem adotadas para prevenir-se contra as atividades de inteligência ou
informações, infiltrações de civis, sabotagens, subversão, contra-propaganda e
seqüestros. Dentre as medidas de contra-espionagem, a ONU preocupa-se apenas em
evitar vazamentos de informações que venham a prejudicar uma operação em curso.
Especial atenção deverá ser dada em relação ao pessoal civil da mesma nacionalidade
do país anfitrião trabalhando para a ONU (local staff). Como medida de precaução a
ONU proíbe a presença de qualquer local staff nas dependências do JMAC.
9.5.2 - Contra-inteligência nas tropas regulares
Quando batalhões são empregados em uma OpPaz, a contra-inteligência é realizada
até o nível pelotão, onde os comandantes de pelotão, os imediatos de companhias e o
oficial de operações são os oficiais de segurança do batalhão. As tarefas de segurança
e defesa de perímetro, normalmente atribuídas a estas unidades, visam a prevenir as
infiltrações de civis para obtenção de informações, planos ou conhecimentos que
possam ser úteis aos partidos envolvidos no conflito, bem como proteger o pessoal
da ONU e material que tenha sido apreendido.
Os militares desses batalhões são alertados à proibição de tomar parte em atividades
consideradas ilegais, tais como câmbio de dinheiro no mercado paralelo e bebidas,
crítica aos costumes do país hospedeiro, bem como às partes em conflito. Devem ser
alertados, também, para manterem-se neutros, ao emitirem qualquer opinião,
principalmente nos contatos autorizados com a imprensa. Devem levar em consideração
a sua segurança pessoal, usando, sempre, o colete, o capacete e os sinais da ONU
previstos no SOFA para a salvaguarda de sua atuação. A segurança das instalações e das
comunicações deve ser realizada, em primeiro lugar, pelos militares que nelas
desempenham função. Relacionamentos afetivos ou sexuais poderão representar uma
séria ameaça à segurança da informação e à receptividade da população local em relação

OSTENSIVO - 9-6 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

às tropas. É contra-indicado aceitar presentes provenientes de pessoas, entidades ou


autoridades civis. É comum a oferta de presentes quando se toma parte em negociações,
conferências ou simples reuniões com líderes locais. O militar deve evitar expor-se a
risco desnecessário. Isto ocorre com freqüência nos momentos de folga, licenças ou
quando é obrigado a permanecer em áreas de retaguarda.
9.6 - RELACIONAMENTO COM OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO LOCAIS
Os militares que vierem a desempenhar funções nos HQ como oficiais de ligação,
oficiais de conforto ou como controladores de movimentação em aeroportos têm maior
probabilidade de contatos com a imprensa, rádio e televisão locais. Este assunto é
tratado com muita reserva nos SOP. Normalmente, são divulgados relatórios para os
meios de comunicação contendo as informações que o Comando da Operação julgar
oportunas. Há uma constante preocupação da ONU em alertar aos seus membros a não
divulgarem, em seus países de origem, quer seja por cartas, relatórios ou em entrevista
para os meios de comunicação, quando de licença, informações sobre a OpPaz.
Normalmente nas Missões da ONU, o SRSG contará com uma Seção de Relações
Públicas e contato com a imprensa, conhecida como Public Information Office (PIO).
Dependendo do vulto da missão, o FC poderá, também, contar com sua própria seção de
relações públicas e contato com a imprensa, denominada Military Public Information
Office (MPIO). São estas Seções que irão encarregar-se de preparar os relatórios para os
meios de comunicação, assim como os diários contendo informações a serem
transmitidas a todos os membros da OpPaz, espalhados por toda área ou zona de
responsabilidade. Os assuntos reservados serão tratados, normalmente, em reuniões,
onde só será convocado o pessoal interessado diretamente nos assuntos abordados.
9.7 - OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS
As relações com a imprensa e as operações psicológicas, na concepção da ONU,
transcorrem em paralelo. Assim como só são reportadas as informações que se desejam
ver publicadas, por vezes estas são distorcidas e seu efeito contrário poderá afetar
psicologicamente o pessoal. Abuso sexual, exploração de menores, maus tratos a civis e
prisioneiros, cooperação mais direta com alguma das partes em conflito,
desentendimentos com ONG e ausências em locais de alto risco, onde a população
supostamente estaria aguardando a presença de uma ForPaz, constituem bons exemplos
disso. Estes casos, explorados inadequadamente pela imprensa local ou internacional,
podem abalar a estrutura psicológica do pessoal da OpPaz.

OSTENSIVO - 9-7 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

CAPÍTULO 10
O APOIO LOGÍSTICO NAS OPERAÇÕES DE PAZ
10.1 - GENERALIDADES
As OpPaz são realizadas fora do Território Nacional, com os contingentes atuando
distantes de suas bases. Por isso, a contribuição para as OpPaz, encontra sempre
grandes entraves nos aspectos orçamentários e logísticos. Especificamente no caso
militar, esses entraves assumem um vulto maior, uma vez que é bastante dispendioso
preparar, equipar, transportar e manter tropas fora do território nacional. Assim, como
uma forma de estimular a contribuição dos países-membros, a ONU divide com eles as
responsabilidades logísticas pelos expedientes do reembolso e do fornecimento de
determinadas classes de suprimento. Tal divisão é especificada em acordos prévios e,
especificamente no caso de uma OpPaz, em particular, no MOU que dela tratar.
Outro aspecto a ser observado é a presença de contingentes de países diversos atuando
juntos. Essa peculiaridade apresenta óbices ao Apoio Logístico (ApLog) nos aspectos
sob a responsabilidade da ONU, uma vez que esses contingentes portarão material
diversificado e terão diferentes hábitos. Isso, de certa forma, obriga a ONU a restringir
o apoio logístico aos aspectos que sejam comuns.
10.2 - CONCEITUAÇÃO BÁSICA
10.2.1 - Sistema de reembolso da ONU
É o procedimento de reembolsar os países contribuintes no que diz respeito à
depreciação do material empregado, pagamento de pessoal e despesas com
transporte para as áreas de missão e de regresso ao país de origem.
10.2.2 - Categorias de reembolso
a) Major Equipment (ME)
Enquadra, genericamente, viaturas e máquinas de emprego genuinamente militar
e itens de equipagem de uso coletivo, bem como as taxas de reembolso para a
sua caracterização para a missão e por sua depreciação pelo uso.
As taxas de reembolso pelos ME constarão do MOU, ficando este condicionado
à disponibilidade do equipamento. O limite de indisponibilidade por categoria de
ME é de 10% e o limite de tempo de indisponibilidade sem penalização é de 24
horas.
b) Special Cases
Enquadra material ainda não catalogado como Major Equipment, mas cujo

OSTENSIVO - 10-1 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

emprego é reconhecidamente necessário ao desempenho das tarefas ou ao


conforto da tropa na área da missão. Existe uma tendência a que, em futuro
próximo, todo o material empregado por forças de paz seja homogeneizado em
uma categoria denominada Standard Major Equipment.
c) Self-Sustainment Services (SS)
É a capacidade de auto-sustentação de tropas no que diz respeito às atividades de
comando e controle, apoio de serviços e de conforto. Cada país informa, por
ocasião do planejamento de uma OpPaz, as subcategorias em que é auto-
sustentável, bem como a auto-suficiência em termos de dias de duração na ação,
sendo por isso, reembolsado dentro de valores proporcionais padronizados,
desde que os serviços prestados estejam dentro dos padrões estabelecidos pela
ONU. Estes serviços normalmente incluem: aprovisionamento, assistência
médica, escritórios, eletricidade, lavanderia, acomodações, comunicações e
internet. Os valores de reembolso do SS bem como o detalhamento do apoio
complementar a ser prestado pela ONU serão objetos do MOU.
d) Troop Cost
Corresponde ao somatório dos custos individuais dos militares integrantes de
uma ForPaz durante o período da missão. Para o aprimoramento de sua
sistemática, estuda-se a inclusão dos gastos com exames e tratamento de saúde
pós-missão, emissão de passaportes e movimentações no interior do país de
origem para a região de embarque para a área da missão. Está também em estudo
a inclusão, na base de cálculo, dos custos relacionados à preparação operacional
de cada contingente, aí incluídas todas as atividades afetas ao treinamento pré-
emprego – deslocamento para áreas de exercício e consumo de rações entre
outros – e viagens para atender às reuniões de coordenação e de planejamento.
e) Common User Itens (CUI)
Trata-se da identificação, dentro das classes de suprimentos, de itens
reconhecidos como de uso comum por um grupo de países, sendo por isso
indenizados ou fornecidos pela ONU.
f) Non Common User Itens (NCUI)
Trata-se da identificação, dentro das classes de suprimentos, de itens voltados a
atender às necessidades específicas de um país, sendo o seu fornecimento, por
isso, uma responsabilidade nacional.

OSTENSIVO - 10-2 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

g) Wet Leasing
Opção pela qual o país contribuinte fornece os equipamentos, seus
sobressalentes e se responsabiliza pela manutenção, tendo, por isso, maior
reembolso. A responsabilidade por prover combustível, óleo e lubrificantes
permanece com a ONU. Em termos práticos, o Wet Leasing constitui-se em uma
excelente oportunidade para um país exercitar sua capacidade de manter forças
operando distantes do seu território. E essa tem sido a opção do Brasil.
h) Dry Leasing
Opção pela qual a ONU fornece os sobressalentes e providencia a manutenção,
reduzindo, com isso, o reembolso.
i) Contingent Owned Equipment Manual (COE)
Publicação que encerra a sistemática de reembolso apresentada, bem como
apresenta tabelas com valores e bases para cálculos do reembolso.
j) Responsabilidade das Nações Unidas
Forma genérica de enquadramento de itens e ações afetas às funções logísticas
previstas no COE ou acordadas no MOU como cabendo à ONU providenciar
desde o início, durante toda a operação ou a partir de um determinado momento
do seu decurso.
l) Responsabilidade nacional
Forma genérica de enquadramento de itens e ações afetas às funções logísticas
previstas no COE ou acordadas no MOU como cabendo ao Brasil providenciar
desde o início, até um determinado momento ou durante toda a operação.
m) Nação especializada
País contribuinte que, por deter abundância em determinados recursos, assume a
responsabilidade por fornecê-los à ForPaz.
10.3 - ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA LOGÍSTICA
10.3.1 - No âmbito da ONU
O Departamento de Logística Operacional (Department of Field Support – DFS) é
o órgão responsável pela logística nas OpPaz, a quem compete as seguintes tarefas:
- estimar, na fase do planejamento, os níveis de abastecimento e equipamentos
necessários à ForPaz e promover os ajustes necessários no decorrer da OpPaz;
- elaborar programas de reabastecimento e apoio às ForPaz;
- estabelecer contatos e acordos com os países contribuintes relativos ao grau de

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participação e custeio, utilizando, para isso, Cartas de Assistência;


- estabelecer contatos e acordos com o país anfitrião relativos aos recursos
logísticos do mercado e da estrutura locais;
- elaborar diretrizes com vistas ao aprestamento e ao transporte de contingentes
para a área da missão;
- processar os pedidos formulados pelas ForPaz; e
- orientar os CMS, particularmente quanto aos aspectos não acordados ou
indefinidos do MOU.
Por delegação do SG, o Subsecretário-Geral do DFS (Under Secretary-General -
USG) é a autoridade responsável pela logística em todas as operações de campanha
da ONU, especialmente as OpPaz.
O USG-DFS é assessorado pelo Gabinete Executivo (Executive Office), Unidade de
Conduta e Disciplina (Conduct and Discipline Unit) e pela Seção de Nomeação de
Cargos de Chefia (Senior Leadership Appointments Section) e é estruturado nos
seguintes órgãos:
- Divisão Operacional de Pessoal (Field Personnel Division);
- Divisão Operacional de Orçamento e Finanças (Field Budget and Finance
Division);
- Divisão de Suporte Logístico (Logistics Support Division); e
- Serviço Tecnológico de Comunicações e Informação (Communication and
Information Technology Service).
O organograma completo do DFS pode ser visto no Anexo F.
10.3.2 - Na área da missão
A articulação do ApLog na área da missão exige grande coordenação, uma vez que
envolve acordos específicos entre a ONU e cada país, agências, fontes de
suprimento e responsabilidades diversas. Essa articulação envolve o CAO, o
CLOGO, a nação especializada em determinado recurso, se houver, e a estrutura
própria de cada contingente. No caso brasileiro, onde normalmente tomam parte
unidades do EB e GptOpFuzNav, cada uma dessas partes terá sua estrutura própria,
coordenadas em Território Nacional pela estrutura de um Centro de Coordenação
Logística e, na área da missão, pela estrutura do Comando do Contingente
Nacional.

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a) O Chief Mission Support


Conforme já detalhado no Capítulo 2, o CMS é o responsável pelo controle e
pela articulação global do ApLog na área da missão. É o representante do DFS
na área da missão, sendo diretamente subordinado ao SRSG. É responsável por
submeter as necessidades apresentadas pela ForPaz ao DFS.
Cada contingente é responsável pelos aspectos logísticos para os quais tenha se
declarado auto-suficiente. Para isso, valer-se-á de seus próprios recursos e
estrutura logística. Os aspectos acordados como sendo da responsabilidade da
ONU serão coordenados junto ao CMS.
É ainda o elo entre a ForPaz e o país anfitrião nos assuntos relativos:
- à obtenção de recursos locais;
- aos acordos financeiros;
- ao transporte civil;
- à contratação de mão-de-obra civil local;
- ao controle de movimentos e rodízio de parcelas de tropa do Componente
Militar;
- a instalações para o aquartelamento de tropas;
- aos meios de telecomunicações utilizáveis pela ForPaz; e
- serviço postal e locais para a recreação.
b) O Chief Logistics Officer
O CLOGO é o responsável perante o FC pelo planejamento, direção e
implementação do ApLog à ForPaz e aos contingentes integrantes. Elabora o
Plano Logístico da Força, o qual é remetido ao CMS após a aprovação pelo FC.
É o responsável pela coordenação com a estrutura do CMS com vistas à
obtenção dos itens de suprimento e equipamentos formalmente acordados como
CUI e à manutenção de níveis adequados.
O CLOGO é ainda o responsável pelo estabelecimento, pela organização e pela
operação da Base Logística da Força (BaLogFor).
c) Base Logística da Força
É um conjunto de instalações logísticas variáveis em escalão, natureza,
quantidade e nacionalidades que a compõem. Poderá ser integrada, ainda, por
meios de apoio do país anfitrião. A BaLogFor concentrará, ainda, elementos de
engenharia a serem empregados na reconstrução da infra-estrutura local, bem

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como elementos de aviação para o apoio de transporte e evacuação aeromédica


(EVAM). É instalada em área pré-acordada entre a ONU e o país anfitrião.
A BaLogFor é organizada em elementos capazes de:
- receber e catalogar todos os itens de suprimentos que cheguem à área da
missão, sejam oriundos dos depósitos da ONU, de nações especializadas e
aqueles especificamente enviados pelos países contribuintes aos seus
respectivos contingentes;
- armazenar, distribuir e controlar os níveis de suprimentos; e
- prover o apoio direto nas atividades logísticas e nos serviços que lhe couberem.
É de suma importância que a BaLogFor seja incluída no fluxo logístico de todos
os itens de suprimentos e equipamentos que ingressem na área da missão,
mesmo aqueles encaminhados pelos contribuintes aos seus contingentes, pois
sua estrutura facilitará o desembaraço protocolar e alfandegário.
Quando a extensão da área da missão e a dispersão da ForPaz assim o
requererem, é desejável que o ApLog seja articulado em bases logísticas
regionais coordenadas pela BaLogFor.
10.3.3 - Organização logística nacional
A articulação do ApLog nacional abrange a concentração dos recursos de cada
Força Singular participante e o seu transporte para a área da missão. Na área da
missão, esses recursos serão concentrados, inicialmente, na BaLogFor – quando
instalada – para imediata distribuição à organização logística da parcela do
Contingente Nacional a que pertencer.
No nível nacional, ApLog inclui o apoio ao preparo do contingente inicial, ao seu
emprego, aos rodízios de contingentes e à desmobilização.
O preparo inclui:
- o adestramento e a instrução do pessoal com vistas às suas futuras tarefas, bem
como a adoção de medidas administrativas, protocolares e profiláticas;
- a avaliação das quantidades em equipamentos e níveis de suprimentos acordados
com a ONU para a fase inicial da operação, bem como dos níveis de segurança
que proporcionem ao contingente a necessária auto-suficiência em caso de
interrupção do fluxo logístico;
- o confronto das disponibilidades com as necessidades;
- a condução dos processos licitatórios para a aquisição dos recursos não-

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disponíveis e seu recebimento; e


- planejamento e preparação para o transporte em meios da Força Aérea Brasileira
(FAB) e da MB para a área da missão.
Na fase do emprego, o ApLog incluirá, entre outras ações:
- o controle dos níveis de suprimentos, na área da missão, com vistas ao
ressuprimento tempestivo dos itens, sejam eles de responsabilidade nacional ou
não;
- o estabelecimento e a manutenção de um canal logístico que permita o
acompanhamento da situação logística na área da missão e o processamento dos
pedidos de ressuprimento; e
- a execução de um plano coordenado de viagens empregando meios de transporte
da FAB e da MB.
Nos rodízios de contingentes, os principais aspectos a serem observados são:
- a preparação dos recursos humanos e materiais substitutos, considerando-se
experiências anteriores;
- concentração e preparação dos itens de suprimento necessários à auto-suficiência
do contingente substituto necessários ao período do desdobramento; e
- planejamento e preparação para o transporte em meios da FAB e da MB para a
área da missão.
A desmobilização, seja ela de um contingente substituído ou decorrente do término
da OpPaz, requer sempre especial atenção. De maneira geral, envolve as seguintes
preocupações:
- concentração e preparação dos recursos humanos e materiais a serem repatriados;
- planejamento, preparação e transporte em meios da FAB e da MB para o
Território Nacional;
- descontaminação, manutenção e pintura, conforme o caso, de material e sua
devolução às organizações de origem ou à cadeia de suprimento; e
- inspeção de saúde para a verificação da higidez física dos recursos humanos.
a) Centro de Coordenação Logística (CCL)
É uma estrutura combinada, de caráter eventual ou permanente, situada em
território nacional e subordinada ao Ministério da Defesa (MD), que tem por
atribuição servir de ligação e coordenação entre o Contingente da ForPaz e os
órgãos de apoio logístico das Forças Armadas, por meio da ampla utilização das

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ferramentas de Tecnologia da Informação (TI), para atender às carências e/ou


necessidades logísticas da OpPaz.
Cada Força Singular planejará e prestará o ApLog à sua parcela integrante de um
Contingente Nacional em conformidade com a organização de sua tropa e suas
peculiaridades. Contudo, as ações de concentração e de controle dos recursos,
bem como o planejamento e a coordenação de seu transporte para a área da
missão ficam a cargo do CCL.
Para as atividades de ApLog que exijam recebimento, catalogação,
armazenamento e o despacho de itens para a área da missão é importante que o
CCL conte com uma Base Logística em Território Nacional. Nela, as atividades
serão desenvolvidas em coordenação com aquelas do âmbito das Forças
Singulares, nas fases do preparo, do emprego, dos rodízios de contingentes e da
desmobilização.
b) O ApLog no GptOpFuzNav
No CFN, a organização e natureza expedicionária dos GptOpFuzNav conferem-
lhes a autonomia logística compatível com os níveis de auto-suficiência exigidos
nas OpPaz, mesmo quando o escalão em que forem nucleados for subunidade. A
flexibilidade que rege a organização desses grupamentos permite ajustar o vulto
de seu Componente de Apoio de Serviços ao Combate (CASC) aos mais
diversos tipos de meios empregados, dispositivos de seus elementos
constituintes no terreno e grau de descentralização, tornando-os naturalmente
aptos para emprego nas OpPaz.
As características predominantemente anfíbias de seus meios e o permanente
adestramento compondo o conjugado anfíbio tornam os GptOpFuzNav
perfeitamente ajustados aos meios navais que os apóiam, agilizando o
planejamento e facilitando o fluxo logístico do Território Nacional para a área da
missão.
O CASC deve ser dimensionado de forma a:
- armazenar e distribuir níveis de suprimentos adequados à auto-suficiência;
- executar a manutenção preventiva e corretiva dos meios do GptOpFuzNav;
- prestar apoio de saúde, de serviços de construção, reparação de instalações,
cozinha, lavanderia, banho e desinfecção; e
- prestar serviços de cunho social como, por exemplo, serviço postal, serviço

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religioso e alternativas de comunicações entre os integrantes do grupamento e


seus familiares.
10.4 - FATORES DE PLANEJAMENTO
O planejamento logístico para uma OpPaz é um processo dinâmico e contínuo com
vistas à manutenção do fluxo e da otimização dos processos de formas a prover à tropa
as melhores condições para o cumprimento de suas tarefas. Deve levar em
consideração:
- o preparo de cada contingente;
- o transporte da tropa e do material para a área da missão;
- o apoio durante o cumprimento da missão;
- as substituições por ocasião dos rodízios; e
- a evacuação para o Território Nacional em caso de a situação recrudescer a ponto de
por em risco a integridade do contingente.
Há que se considerar que, embora no ambiente em crise, os integrantes de uma ForPaz
não estão sendo empregados em uma operação de guerra. Assim, o ApLog deve levar
em conta que o grau de conforto, de segurança, de lazer e de apoio a ser oferecido
deve ser maior do que em operações de guerra.
Os seguintes fatores regem o planejamento logístico para uma OpPaz:
- a missão do contingente;
- aspectos logísticos contidos nas Orientações para os países contribuintes –
Guidelines to TCC;
- o apoio a ser prestado pela estrutura da ONU previsto no MOU;
- as características e a localização da área da missão;
- o nível de auto-suficiência e auto-sustentação requerido;
- as possibilidades de exploração dos recursos locais;
- os meios de transporte de pessoal, material e suprimentos para a área da missão;
- a existência e a localização de terminais, bem como as facilidades neles existentes
para o desembarque de pessoal, material e suprimentos na área da missão;
- a previsão de uma reserva logística de forma a atender à eventualidade de hiatos
logísticos na fase inicial da OpPaz e em situações de emergência; e
- o apoio a UNMO, a militares designados para compor o EM da ForPaz e
representantes de outras instituições nacionais, também considerados integrantes do
Contingente Nacional, mormente nos aspectos em que não forem apoiados pela

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estrutura da ONU e nas necessidades que possam ser satisfeitas junto ao mercado
local.
10.5 - FUNÇÕES LOGÍSTICAS

Como já visto, o ApLog para uma ForPaz apresenta características peculiares em


relação ao de uma operação de guerra. De acordo com a ONU, as funções logísticas
são: suprimento, transporte, manutenção, comunicações, apoio aéreo, engenharia e
saúde. Contudo, os princípios, o enquadramento de suprimentos em classes e as
funções logísticas a serem aplicadas serão os mesmos observados nas publicações já
existentes do âmbito do MD, do Estado-Maior da Armada (EMA) e da Série CGCFN.

10.5.1 - Suprimento
A função logística Suprimento tem como propósito básico proporcionar o fluxo
adequado do material necessário, desde as fontes de obtenção até o usuário. No
caso de uma OpPaz, atingir este propósito torna-se mais complicado, tendo em vista
que a área da missão é, geralmente, distante daquelas fontes. Para que tal
dificuldade possa ser suplantada, faz-se necessário que um planejamento criterioso
seja feito, haja vista que a cadeia de suprimentos envolverá órgãos fora da área da
missão, o que exigirá uma coordenação muito acurada.
Por ocasião da escolha dos equipamentos a serem utilizados por um GptOpFuzNav,
um fator que merece especial atenção é a obtenção de sobressalentes. A aquisição
de sobressalentes para um equipamento fora de linha, ou mesmo um protótipo, pode
ser extremamente difícil, podendo o material vir a ficar inoperante por um longo
período de tempo.
a) Itens de subsistência – Água e Ração
Esses suprimentos serão fornecidos nos prazos, nas quantidades e tipos
acordados com a ONU no MOU ou em outro documento específico. Deve-se,
entretanto, levar em consideração as seguintes observações:
- a possibilidade de retardo, na fase inicial da missão, do fornecimento dos
suprimentos acordados com a ONU, o que recomenda uma capacidade maior de
auto-sustentação de sessenta a noventa dias, conforme descrito no capítulo 8;
- a dificuldade de fornecimento, pela ONU, de itens que façam parte dos hábitos
alimentares do nosso País; e
- a possibilidade de retenção nos terminais, atrasos na recepção ou no
desembaraço dos suprimentos.

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A qualidade e o preparo desses suprimentos, tanto quanto em qualquer operação


militar, é de fundamental importância para a manutenção do moral e das
condições de higidez e sanitárias da tropa. É de se esperar, na fase inicial, maior
ênfase no consumo de rações de combate. Entretanto, deve ser empreendido todo
o esforço para que, o mais cedo possível, seja distribuído rancho quente,
reservando as rações de combate para tropas em missões descentralizadas e de
curta duração, fora das possibilidades de apoio.
A ênfase à distribuição de rancho quente, associada ao tempo de duração de uma
OpPaz, implica na constituição de meios logísticos mais pesados do que o
habitual para o CASC como, por exemplo, cozinhas, frigoríficas, mobiliário de
rancho, máquinas para a lavagem de material de rancho, entre outros.
Por fim, deve-se levar em conta a segurança dos paióis e reservatórios desses
suprimentos, pois a situação de carência em uma área da missão pode induzir a
população a uma situação de desespero tal que a leve a praticar roubo e, até
mesmo, saques. Não deve ser descartada a possibilidade de emboscadas a
comboios com suprimentos e sabotagem nos locais de armazenamento.
b) Itens de natureza geral constantes em Listas de Dotação
Em virtude da variedade de itens que englobam esta classe, os comentários serão
feitos separadamente.
I) Armamento
Será utilizado aquele previsto na Resolução que autorizou a OpPaz e,
posteriormente, especificado no SOFA.
II) Viaturas operativas
Da mesma forma que o armamento, as viaturas operativas serão reguladas
pela Resolução e pelo SOFA. Seu peso e tipo, se sobre rodas ou lagartas,
poderão ser objeto de restrições a serem observadas por ocasião do
planejamento.
Um aspecto importante das viaturas operativas é a sua preparação, com a
pintura na cor branca e a aposição dos símbolos da ONU como as letras UN e
a flâmulas da Organização em hastes ou antenas das mesmas.
III) Itens de uniforme
Os uniformes a serem utilizados pelos Fuzileiros Navais integrantes de uma
ForPaz serão aqueles previstos no Regulamento de Uniformes da Marinha

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(RUMB) acrescidos dos símbolos como, por exemplo, boinas, distintivos,


cachecóis e capacetes. Para os UNMO, estes símbolos são fornecidos pela
própria ONU na Área da Missão. Para os integrantes de tropa de ForPaz,
esses itens serão adquiridos ou transformados no próprio País para posterior
indenização pela ONU.
IV) Material de estacionamento
Para maior segurança e conforto da tropa, é desejável que, o mais cedo
possível, ela seja alojada em instalações de alvenaria ou, na pior das
hipóteses, semi-rígidas. O material de estacionamento, quando exposto a
longos períodos de utilização, tem suas condições degradadas, implicando no
desconforto para a tropa. Entretanto, barracas de campanha devem ser
previstas, em quantidade suficiente para as fases iniciais de uma OpPaz e,
subseqüentemente, para futuras missões de curta duração.
V) Ferramentas
O planejamento do ferramental previsto nas Listas de Dotação a ser
transportado para uma área da missão deve levar em conta a distância do País,
as condições de apoio existentes na área da missão, o espectro de atuação das
equipes de instalações e manutenção e a sua pronta resposta. Assim, esse
ferramental deverá atender às necessidades de:
- manutenção de viaturas, equipamentos, máquinas e armamento no mais alto
escalão possível; e
- instalação e recuperação de itens destinados ao conforto.
VI) Suprimentos e equipamentos de saúde
Deve-se, levar em conta a existência de Unidades Médicas no Contingente
Nacional. Embora a missão primordial dessas Unidades seja o atendimento às
carências da população, sua presença na área da missão contribuirá para a
redução das responsabilidades do CASC quanto ao apoio de saúde.
c) Combustível e lubrificantes
As OpPaz exigem intensa motorização ou mecanização para o esforço de
transporte, envolvendo grandes distâncias entre unidades, demandando com isso,
grande consumo dessa classe. O planejamento dos suprimentos Classe III deverá
prever uma auto-suficiência inicial e uma reserva para os casos de interrupção
no abastecimento acordado com a ONU.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

É importante que os GptOpFuzNav sejam dotados de capacidade de


armazenamento para esta classe em seu aquartelamento, mormente quando os
locais de reabastecimento forem distantes. Da mesma forma, deve dispor de
viaturas cisternas TE para o seu transporte, quer dos locais de reabastecimento
para os de armazenamento, quer para apoiar comboios.
d) Itens de natureza geral não constantes de Listas de Dotação
Nessa classe, deve ser previsto material de conforto não constantes das Listas de
Dotação como, por exemplo, contêineres, geradores, lavanderia, cozinhas,
padaria, banheiros, equipamentos eletrônicos de lazer; sobressalentes de
armamento, viaturas e equipamentos; equipamentos de comunicações não-
orgânicos tais como transceptores de HF comerciais, equipamentos de
comunicações por satélite e material de expediente e de escritório.
O planejamento desta classe dependerá também dos trabalhos de construção e de
fortificações de campanha impostos pela situação na área da missão.
e) Munição
A munição a ser transportada para a área da missão deverá atender às condições
impostas na resolução e detalhada nas restrições prescritas nas ROE.
A estimativa de consumo terá por base o tipo de enquadramento da missão e a
situação na área da missão. Será o fator determinante para a definição dos níveis
de abastecimento e de estocagem.
O nível de estocagem deverá levar em conta, ainda, as condições climáticas da
área da missão e os riscos de se ter munição estocada na mesma.
f) Níveis de suprimentos
Os GptOpFuzNav, quando empregados em OpPaz, utilizarão a mesma
sistemática prescrita para as operações de guerra, com base na relação
consumo/tempo. A diferença fica por conta da diversificação das fontes – País,
ONU e mercado local - e do tempo de resposta de cada uma delas. Por ocasião
do planejamento, deverá ser definida uma cadeia de suprimentos que pode,
inclusive, considerar postos ou agências localizados fora da área da missão.
Os níveis de suprimentos englobarão os níveis de abastecimento e de estocagem
de depósito.
Os níveis de abastecimento englobarão o nível inicial e o nível de
reabastecimento. Dentro da cadeia logística, o CASC será o responsável por

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

operar esses níveis.


O nível de estocagem dos depósitos compreenderá o nível operativo, o nível
mínimo ou de segurança e o nível máximo. No escalonamento do ApLog, o
controle e a administração desses níveis ocorrerá, concomitantemente, na
BaLogFor, nos navios da MB estacionados na área da missão e na Base
Logística em Território Nacional.
Para o funcionamento desse sistema, é essencial a perfeita aplicação dos
princípios básicos da logística, especialmente o dos limites, o da coordenação, o
do comando e o da previsão.
10.5.2 - Manutenção
O Brasil tem optado pela modalidade Wet Leasing, na qual o Contingente Nacional
arca com a manutenção dos seus meios para posterior reembolso pela ONU.
O Comandante do GptOpFuzNav é responsável em assegurar a execução da
manutenção de 1° escalão de todo seu material orgânico ou sob sua guarda,
utilizando-se, para isso, dos recursos do próprio grupamento e do Contingente
Nacional. Isso não o impede, contudo, nos casos que fugirem à sua alçada, recorrer
aos meios oferecidos pela ONU. Em alguns casos especiais, poderá valer-se de
contratos celebrados pelo FC para que a manutenção de 2°/3° escalões sejam
providas por firmas civis ou agências da ONU responsáveis por tais serviços.
10.5.3 - Transporte
Abrangendo o transporte de tropas e de material, essa função logística ganha, em
uma OpPaz, duas subdivisões:
- entre o Território Nacional e a área da missão; e
- no interior da área da missão.
Basicamente, as responsabilidades são também divididas, ficando, no primeiro
caso, a obtenção dos meios sob a responsabilidade do CCL. Para isso, serão
acionados os meios da MB e da FAB. Para as situações que fujam das
possibilidades nacionais, será solicitado o apoio da ONU que fretará transporte
marítimo ou aéreo.
No segundo caso, poderão ser utilizados os meios do GptOpFuzNav, da ForPaz, da
ONU e do país anfitrião, dependendo da situação.
Na área da missão, com componentes de diversas nações utilizando os mesmos
meios de transportes, haverá, quando necessário, a necessidade de uma agência para

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

priorizar o emprego desses meios. Neste caso será estabelecido um Centro de


Controle dos Movimentos (MOVCON), subordinado ao CMS, com a finalidade de
resolver divergências, alocar recursos e integrar esforços.
10.5.4 - Saúde
a) Planejamento

Para efeitos de planejamento, é importante conhecer que os níveis de apoio de


saúde para as missões de operações de paz da ONU são padronizados. Esses
níveis, bem como suas características, estão relacionados no item 6.2.5.2 do
MD34-M-02. Outrossim, o planejamento do apoio de saúde em uma OpPaz
envolverá, prioritariamente, os seguintes aspectos:

- fatores físicos e psicológicos do ambiente que possam afetar a tropa;


- condições sanitárias e incidência de doenças na área da missão;
- tipo de armamento e munição possível de ser empregado contra os integrantes
do GptOpFuzNav;
- número e tipo de baixas estimadas;
- adoção de medidas preventivas, incluindo palestras educativas;
- estabelecimento de uma norma de evacuação de baixas;
- definição de suprimentos de saúde específicos;
- possibilidades de hospitalização na área da missão;
- disponibilidade de navio-hospital; e
- prestação de apoio de saúde à população local.
b) Primeiros socorros
O uso de atividades de primeiros socorros em ações humanitárias poderá trazer
benefícios a atuação da tropa na área da missão, particularmente quanto ao apoio
da população local. Assim, o treinamento nestas atividades é uma das partes
mais importantes da preparação dos componentes de uma ForPaz, sendo
recomendável que aborde os seguintes tópicos:
- princípios de primeiros socorros;
- uso e aplicação de peças de uniformes em ferimentos;
- tipóia e garrotes;
- controle de hemorragias, empregando a compressão;
- tratamento antichoque, desmaios e epilepsia;
- fraturas;

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

- tipos de sintomas;
- procedimentos incluindo o emprego de talas improvisadas;
- venenos e tratamentos; e
- respiração artificial, incluindo a boca-a-boca e a massagem cardíaca.
c) Evacuação médica
Em uma OpPaz, sempre haverá uma cadeia de evacuação perfeitamente
definida. Esta cadeia inicia no apoio elementar e terá o seu final no hospital com
condições de dar o tratamento adequado ao paciente. Hospitais locais podem ser
utilizados como elos desta cadeia, desde que atendam aos requisitos mínimos
necessários.
Os meios de transporte a serem empregados, bem como a política de evacuação
da ONU para determinada missão devem ser de conhecimento de todos os
componentes de uma ForPaz. A operação com helicópteros e outros meios de
transportes deve ser enfatizada por ocasião da preparação da tropa.
d) Higiene
É de suma importância que os componentes de uma ForPaz mantenham um
elevado padrão de higiene. Há uma perda de eficiência quando problemas desta
ordem surgem.
Há dois importantes fatores o pessoal envolvido deve ter atenção especial:
higiene individual e limpeza dos uniformes. Esses hábitos devem ser
estimulados e as condições para isso devem ser proporcionadas pelo comando do
GptOpFuzNav.
Especial atenção deve ser dada à limpeza de roupas de cama, material de rancho
e às áreas de cozinha.
Todo militar componente de ForPaz deve ter em mente que as condições
sanitárias locais não serão satisfatórias e, portanto, todo o cuidado deve ser
tomado no que tange à limpeza de uma maneira geral.
10.5.5 - Recursos Humanos
a) Efetivos, registros e relatórios
Essa atividade é de fundamental importância, pois em se tratando de uma
OpPaz, permitirá a adoção de medidas preventivas visando à manutenção dos
recursos humanos em perfeitas condições de emprego e o aprimoramento da
preparação de novos contingentes e de recompletamentos.

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b) Recompletamentos
Trata-se de uma atividade que dependerá, essencialmente, da anterior, pois os
recompletamentos deverão ser preparados, para emprego imediato, dentro das
condições que os esperam na área da missão. É importante a manutenção de um
número de recompletamentos adequado à situação. Normalmente, esses
recompletamentos poderão ser retirados de um contingente substituto em sua
fase de preparação.
c) Moral
O assunto é relevante em toda ForPaz, notadamente quando a situação na área da
missão se apresenta estável por longos períodos de tempo. A tropa se satura com
a rotina e com a formalidade das atividades. Por outro lado, o ambiente difícil e
tenso afeta o condicionamento físico e mental, comprometendo em conseqüência
o moral. É fundamental, portanto, balancear as atividades de recreação com as
tarefas inerentes às OpPaz.
O Comandante de Unidade responde pela manutenção do moral e pelas
atividades de conforto. No desempenho desta tarefa, pode ser auxiliado pelo
Oficial Encarregado do Conforto e pelo Capelão, caso tenham sido previstos na
estrutura organizacional da ForPaz. E, ainda, por seus Comandantes de
Subunidades, pelo Oficial de Treinamento Físico Militar, pelo Oficial de
Relações Públicas e outros. Para tanto, deve buscar aproximação com a tropa,
seja para contatos particulares, seja para debates em conjunto, não só para
solucionar problemas, mas também para trocar idéias e ouvir sugestões.
As atividades de recreação e conforto, planejadas com a máxima participação da
tropa, podem incluir desde a realização de atividades no interior da área da
missão como a instalação de bibliotecas, salas de projeção de filmes, jogos de
salão, serviço postal e de telefonia internacional, acesso à Internet, competições
desportivas e até mesmo o afastamento da área da missão para uma temporada
de relaxamento em uma área alugada ou cedida para tal finalidade. Após um
período de atividades em uma área em conflito, o comandante poderá prever um
rodízio para que o estresse da missão seja aliviado nas áreas de recreação.
O Capelão da Unidade deverá, sempre que possível, visitar as posições ocupadas
pelo pessoal do seu contingente. Uma boa maneira de manter um contato bem
próximo com o homem é pernoitar em cada posição. Discussões em particular

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ou em grupos podem ser conduzidas para equacionar problemas ou


simplesmente para troca de idéias. O Capelão deve ter em mente que, em uma
OpPaz, é muito importante que ele esteja o maior tempo possível próximo ao
homem.
A motivação e a criatividade são propulsores do desenvolvimento de atividades
recreativas e de ações de conforto que contribuam para a manutenção do bem-
estar da tropa, mantendo elevado o moral dos integrantes da ForPaz.
10.5.6 - Salvamento
O planejamento logístico deverá prever tarefas relacionadas com a função
salvamento tais como:
- combate a incêndio;
- treinamento de equipes crash para operações com aeronaves;
- controle de avarias para situações de emergência diversas; e
- reboque ou transporte de viaturas com pane ou acidentadas.
10.5.7 - Engenharia
No âmbito do GptOpFuzNav, as atividades de engenharia objetivarão, entre outras:
- a melhoria das condições de conforto das instalações a serem utilizadas pela tropa;
- o tratamento de água;
- o lançamento de obstáculos;
- o lançamento de obstáculos canalizadores e redutores da velocidade nos PCt e nos
acessos permitidos dos aquartelamentos;
- construção de abrigos em Posições e PO; e
- aumento da mobilidade do GptOpFuzNav pelo apoio aos comboios e patrulhas a
pé com a remoção de obstáculos – inclusive de minas e armadilhas.

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ANEXO A
ORGANOGRAMA DO DEPARTAMENTO DE OPERAÇÕES DE PAZ (DPKO)

Fig A-1 – Organograma do DPKO

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

ANEXO B
ORIENTAÇÕES GERAIS PARA A INSTRUÇÃO E O ADESTRAMENTO PARA AS
OPERAÇÕES DE PAZ
1. GENERALIDADES
Em uma Área de Missão, estarão atuando lado a lado contingentes militares dos mais
diversos recantos do mundo, portando os mais variados tipos de equipamentos e
originalmente instruídos dentro de diferentes padrões de procedimentos. Portanto, a
interoperabilidade entre esses contingentes é um fator condicionante de extrema importância
para o sucesso de uma OpPaz.
Duas considerações afetas à prontificação merecem destaque especial: a instrução e o
adestramento.
A instrução será basicamente regida por orientações específicas emitidas pela ONU. O
adestramento abrangerá a repetição tanto das orientações da ONU já incorporadas, como
também dos procedimentos operativos próprios dos GptOpFuzNav, que venham a ser
julgados úteis e apropriados às OpPaz.
A instrução e o adestramento para operações de imposição da paz (PKO) deverão pautar-
se, prioritariamente, no emprego de forças em operações de combate típicas, ressalvadas as
diferenças resultantes dos efeitos desejados das operações de imposição da paz que,
normalmente, conduzirão muito mais para a posse ou, em último caso, a conquista de
acidentes capitais, do que para a destruição física de combatentes das partes beligerantes, tal
como explicitado no capítulo 2.
Não obstante, as técnicas específicas das PKO poderão ser úteis para o emprego por
contingentes da MB envolvidos em operações de imposição da paz, particularmente, as
vinculadas com as tarefas normalmente atribuídas ao Batalhão de Proteção.
O pleno desenvolvimento das habilidades militares gerais acima apontadas e a integral
capacidade de aplicação dos procedimentos específicos das OpPaz, constituem requisitos
fundamentais, não apenas para o êxito de tais operações, mas, também, para o aumento da
segurança física de nosso pessoal envolvido.
2. INSTRUÇÃO
A ONU tem estimulado países com experiência nessas operações à elaboração de material
instrucional, os quais são por ela ratificados e disseminados sob sua égide. Isso proporciona
não apenas a preparação de militares e contingentes de tropa sob padrões homogêneos, mas,
também, a prática dos conceitos, das expressões e do linguajar em sua forma original na

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

língua inglesa, exatamente como serão efetivamente empregados em tais operações. Ressalte-
se, contudo, a necessidade de adoção rigorosa dos procedimentos operativos padronizados
(Guideline Standard Operating Procedures for PKO, ou GSOP-PKO). A não-observância
minuciosa de tais procedimentos pode resultar em sérios questionamentos em caso de
acidentes ou embates com o uso da força por quaisquer das partes envolvidas, particularmente
ante a ocorrência de ferimentos graves, invalidez permanente ou morte, podendo haver
dificuldades para a percepção de seguros e indenizações, ou ainda enquadramento criminal
dos envolvidos.
Durante o período de preparação de um contingente ou de observadores militares (UNMO)
efetivamente designados para uma missão específica, é importante incluir, também, como
objetivo da instrução, o correto entendimento dos aspectos políticos, geográficos, históricos,
religiosos, culturais e de segurança pública e defesa condicionantes, como por exemplo:
- autoridade legal emanada da adesão à Carta das Nações Unidas ou ao documento de
adesão ao organismo intergovernamental patrocinador, caso não seja a ONU;
- especificidades do mandato emitido para a realização da operação;
- resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas atinentes ao caso, se houver;
- relacionamento com os componentes não-militares da missão;
- origens históricas da disputa e suas principais evoluções; e
- fatores físicos e socioeconômicos das partes envolvidas, particularmente: história,
geografia, economia, governo e sistema político, forças militares e paramilitares, forças
policiais e outras instituições de segurança pública, aspectos étnicos, religião, idiomas e
outros aspectos culturais.
3. ADESTRAMENTO
Um adequado aprestamento para a participação em OpPaz requer, além do conhecimento e
da prática dos assuntos a elas peculiares, uma intensificação no adestramento de alguns
aspectos gerais da atividade militar, como por exemplo:
- treinamento físico-militar;
- navegação e leitura de cartas topográficas;
- comunicações;
- higiene e primeiros socorros;
- técnicas de observação;
- controle de distúrbios;
- combate em áreas urbanas;

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

- bloqueios de vias e controle de trânsito;


- condução de viaturas militares;
- procedimentos em comboios militares;
- inspeção de viaturas;
- minas e armadilhas;
- utilização de equipamentos de visão noturna;
- defesa química, bacteriológica e nuclear;
- técnicas de sobrevivência;
- patrulhas; e
- técnicas de busca e vasculhamento.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

ANEXO C
SEGURANÇA DAS INSTALAÇÕES E POSIÇÕES DE UMA OPERAÇÃO DE PAZ

Fig C-1 - Diagrama de uma posição

Fig C-2 - Diagrama de um PCE

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

Fig C-3 - Diagrama de um PCE em trecho reto de rodovia

Fig C-4 - Segurança periférica passiva de um aquartelamento

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Fig C-5 - Esquema geral para segurança de um HQ

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Fig C-6 - Considerações sobre a disposição das sentinelas

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

Fig C-7 - Proteção de ângulos mortos

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Fig C-8 - Iluminação de segurança

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Fig C-9 - Segurança adicional de muros

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

ANEXO D
GLOSSÁRIO DE TERMOS, EXPRESSÕES E SIGLAS EMPREGADOS NAS
OPERAÇÕES DE PAZ
1. TERMOS E EXPRESSÕES
Acordo para o Status da Força - é um acordo internacional que demonstra o
relacionamento legal entre contingentes militares de diferentes países e o país anfitrião;
estabelece um padrão de tratamento legal e provê uma base para resolução de problemas
legais gerados pela presença de forças militares estrangeiras em território de um terceiro país.
Área de Operações (Area of Operations – AOp) - área geográfica e seu espaço aéreo
sobrejacente determinada em Acordos de Desengajamento ou em Armistício celebrados entre
as partes em conflito, ou em Relatório do SG, onde são planejadas ou executadas operações
militares integrantes de uma OpPaz.
Armistício - legislação internacional para a suspensão ou temporária interrupção das
hostilidades, obtida pelo entendimento entre as partes em conflito.
Ato Hostil – Ataque ou uso da força contra integrantes de uma ForPaz o qual poderá
resultar em morte ou ferimento grave.
Carta de Assistência - É o documento pelo qual a ONU ou um país contribuinte solicita
um determinado apoio não constante do MOU, gerado por uma situação ou assunto
inopinado.
Conflito - período caracterizado pela confrontação e pela necessidade de engajamento em
hostilidades, além do necessário para assegurar objetivos estratégicos.
Contingente - grupamento temporário de militares de um determinado país, organizado
para cumprir uma determinada tarefa em uma OpPaz.
End State - são as condições político-militares necessárias, definidas como objetivos de
uma OpPaz, cuja consecução materializa o cumprimento da missão atribuída por autoridade
competente. É, em resumo, o efeito desejado.
Força Bruta – nível de força intencionado para causar morte ou ferimento grave sem
qualquer preocupação com qual dos dois deva acontecer.
Força Leve – qualquer uso ou ameaça de uso de meios físicos para forçar obediência sem
que haja risco de morte ou de ferimento grave nos indivíduos contra os quais a força é
dirigida.
Força Mínima - menor grau de força autorizado necessário e razoável para circunstâncias
imediatas.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

Força de Paz (ForPaz) – conjunto de componentes, civis e militares, patrocinado por


organismos internacionais para manter ou restabelecer a paz e a segurança, bem como para
restabelecer a estrutura econômica, política e social em determinada região em crise.
Intenção Hostil – Ameaça ou iminência do uso da força o qual poderá resultar em morte
ou ferimento graves.
Operação de Imposição da Paz - tipo de OpPaz na qual está prevista a aplicação de força
militar ou a ameaça de seu uso, normalmente, mediante autorização internacional, para
compelir ao atendimento de resoluções ou sanções aplicadas para manter ou restabelecer a paz
e a segurança internacionais.
Operação de Manutenção da Paz – tipo de OpPaz executada com o consentimento das
partes em conflito, planejada para monitorar e facilitar a implementação de um acordo -
cessar-fogo, trégua e outros - e para apoiar esforços diplomáticos para alcançar um acordo
político duradouro.
Operação Multinacional - termo coletivo para descrever ações conduzidas por
componentes de dois ou mais países contribuintes, normalmente subordinadas à estrutura de
alianças ou coalizões patrocinadas por organismos internacionais.
Operação de Paz (OpPaz) - operação de caráter multinacional executada por uma ForPaz
dirigida por organismo internacional, legitimado para tal e desenvolvida normalmente sob os
auspícios da ONU ou com a sua ratificação, tendo por propósito eliminar as ameaças à paz e
segurança internacionais, empregando para isso meios pacíficos ou limitando o uso da força
ao nível mínimo indispensável.
Orientações para os Países Contribuintes - Documento inicial enviado pela ONU aos
países que se dispuseram a contribuir para uma OpPaz contendo informações gerais sobre a
futura área da missão, sobre os requisitos de adestramento¸ sobre as ROE, sobre os aspectos
logísticos e de reembolso para a operação em delineamento.
País Anfitrião - país que acolhe, em seu território, ou autoriza o trânsito por ele, de tropas,
funcionários civis, elementos de polícia ou suprimentos para serem empregados em uma
Operação de Paz, sob o patrocínio da ONU, da OEA ou de outro organismo internacional.
Partes em Conflito - países ou partidos com objetivos antagônicos geradores de uma crise
cuja escalada poderá desencadear um conflito entre eles com emprego de forças militares.
Procedimentos Operativos Padronizados - prescrições relativas às diversas atividades
desenvolvidas em uma determinada OpPaz, estabelecida pelo seu Comando visando
uniformizar a conduta de seus integrantes.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

Proteção de Força - programa de segurança estabelecido para proteger militares,


funcionários civis, seus familiares, instalação e equipamentos em todos os locais e situações; é
cumprido pela aplicação planejada e integrada do combate ao terrorismo, da segurança física
e de pessoal para segurança individual, apoiados por atividades de inteligência e medidas de
contra-inteligência.
Regras de Engajamento - diretrizes que definem as circunstâncias e as limitações sob as
quais contingentes militares iniciarão e/ou prosseguirão um engajamento com outras forças.
Termo de Referência - documento elaborado pela mais alta autoridade envolvida em uma
OpPaz para dirigir a participação de forças militares em uma determinada OpPaz; descreve
em termos amplos a missão, a organização, a relação de comando, o apoio logístico e os
recursos financeiros destinados a OpPaz a que se refere.
Zona de Contenção - espaço controlado pela ForPaz para assegurar o estabelecimento de
parâmetros que contribuam para evitar a escalada do conflito. Os parâmetros previstos são
determinados pelos fatores da decisão (missão, inimigo, terreno, meios e tempo disponíveis),
pelas Regras de Engajamento, pelo alcance das armas de tiro direto e indireto das forças
militares das partes em conflito e pela intenção do Comandante da ForPaz.
Zona Desmilitarizada - região que, mediante acordo entre as partes em conflito, não pode
ser sede de qualquer atividade militar da parte que a detém, nem objeto de qualquer operação
militar da outra parte.
2. SIGLAS
AOp – Area of Operations – Área de Operações.
AOR – Area of Responsibility – Área de Responsabilidade.
BZ – Buffer Zone – Zona de Contenção.
CIVPOL – Civilian Police – Polícia Civil componente de uma ForPaz.
CLOGO - Chief Logistics Officer – Oficial de Logística.
CMO - Chief Military Observer – Chefe do Grupo de Observadores Militares.
CMS - Chief of Mission Support – Chefe Logístico da Missão.
CMOPS - Current Military Operations Service - Setor da Divisão Militar do DPKO
voltado ao acompanhamento de OpPaz em andamento.
COO – Chief Operations Officer – Oficial de Operações.
COS - Chief of Staff – Chefe do Estado-Maior.
CTO - Compensatory Time Off – Período de licença, normalmente gozado fora da área da
missão.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

DDR - Disarmament, Demobilization and Reintegration – atividades seqüenciais e


integradas voltadas para ex-combatentes e monitoradas por componentes de uma ForPaz nos
estágios finais de um processo de paz.
DHA - Department of Humanitarian Affairs – Departamento de Assuntos Humanitários
DMZ – De-Militarized Zone – Zona desmilitarizada.
DPA - Department of Polictical Affairs – Departamento de Assuntos Políticos.
DPKO - Department of Peace-keeping Operations – Departamento de Operações de Paz.
FC - Force Commander – Comandante do Componente Militar de uma ForPaz.
FGMPS - Force Generation and Military Personnel Service - Setor da Divisão Militar do
DPKO voltado à convocação de força e pessoal militar junto aos países contribuintes.
FHQ – Force Headquarters – Quartel-General da Força.
Guidelines to TCC - Troops Contributing Contries – Orientações para os Países
Contribuintes.
HQ - Headquarters – Quartel-General.
LO - Liason Officer – Oficial de Ligação.
LOA - Letter of Assistance – Carta de Assistência.
MILAD - Military Advisor – Conselheiro Militar, Chefe da Divisão Militar do DPKO.
MILOB – Military Observer – Sigla alternativa para Observador Militar.
MPS - Mitary Planning Service – Setor da Divisão Militar do DPKO voltado ao
planejamento militar de uma OpPaz.
MSA - Military Suply Allowance – espécie de indenização paga pela ONU a
Observadores Militares para o custeio de alimentação e pousada.
MOU - Memorandum of Understanding – Memorando de Entendimento, documento que
estabelece as responsabilidades administrativas e logísticas acordadas entre a ONU e cada
país contribuinte especificamente para cada OpPaz.
NFZ – No Flight Zone – Zona de vôo proibido.
NGO - Non-Governamental Organization – Organização não-Governamental.
NOE – National Owned Equipment – Equipamento ou material com que um país
contribuinte se propõe a contribuir.
OCHA – Office for the Coordination of Humanitarian Affairs – Gabinete para a
Coordenação dos Assuntos Humanitários.
POD – Port of Departure - Porto de Partida.
POE – Port of Entry – Porto de Entrada.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

RHQ – Regional Headquarters – Quartel-General Regional.


ROE - Rules of Engagement – Regras de Engajamento.
SCR – Security Council Resolution - Resolução do Conselho de Segurança.
SE - Special Envoy – Enviado Especial, diplomata designado pelo Secretário-Geral para
chefiar uma equipe para o reconhecimento inicial em uma área em crise.
SOFA -Status of Force Agreement – Acordo para o Status da Força.
SOP – Standing Operational Procedures – Procedimentos Operativos Padronizados.
SRSG – Special Representative of the Secretary-General - Representante Especial do
Secretário-Geral, diplomata designado pelo Secretário-Geral para chefiar uma OpPaz.
TCC – Troop Contributing Country – País contribuinte com tropas.
TES - Training and Evaluation Service - Setor da Divisão Militar do DPKO voltado à
instrução e à avaliação de ForPaz em vias de serem empregadas.
TOR - Term of Reference – Termo de Referência.
UN – United Nations – Nações Unidas.
UNDP – United Nations Development Programme – Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento.
UNHCR – United Nations High Commissioner for Refugees – Alto Comissariado para
Refugiados das Nações Unidas.
UNICEF – United Nations Children´s Fund – Fundo das Nações Unidas para a Criança.
UNMO – United Nations Military Observer – Observador Militar das Nações Unidas.
UNSAS - United Nations Stand-by Arrangement System – Sistema oficial de pronto-
emprego da ONU com base em contribuições pré-acordadas e condicionais dos países-
membros.
WFP – World Food Programme – Programa de Alimentação Mundial.
WHO – World Health Organization – Organização Mundial de Saúde.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

ANEXO E
EXPLORAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES
1. INSTRUÇÕES GERAIS
Considerando as circunstâncias em que poderão ser exploradas as comunicações e as
dimensões da área da missão, as seguintes regras gerais deverão ser observadas:
- certifique-se de que sua transmissão seja curta e precisa.
- divida sua mensagem em partes com pausas entre elas.
- certifique-se de que ninguém esteja falando na rede.
- enquanto estiver transmitindo, procure pronunciar bem as palavras, num ritmo normal e
em um volume moderado. Não grite.
- evite chamadas excessivas e procedimentos não-oficiais.
- segure o microfone perto da boca.
2. FONÉTICA
Números devem ser transmitidos dígito por dígito, exceto números redondos como
centenas e milhares. Deve ser usado o alfabeto fonético internacional.
NÚMERO
0 zero
1 one
2 two
3 three
4 four
5 five
6 six
7 seven
8 eight
9 nine

3. MENSAGENS PRÉ-ESTABELECIDAS (AS MAIS UTILIZADAS)


MENSAGEM SIGNIFICADO
ACKNOWLEDGE Confirme que você recebeu minha mensagem e irá cumpri-la.
AFFIRMATIVE Sim/correto
NEGATIVE Não/incorreto
ALL AFTER Tudo que você (eu) transmitiu (i) depois
ALL BEFORE Tudo que você (eu) transmitiu (i) antes
BRAKE-BRAKE -
Todos devem silenciar para o PDR falar.
BRAKE
CORRECT (THAT
O que você transmitiu está correto, você está correto.
IS CORRECT)

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

MENSAGEM SIGNIFICADO
a. Um erro foi cometido numa transmissão. Eu continuarei com
a transmissão correta.
CORRECTION b. Um erro foi cometido numa transmissão. A versão correta é...
c. O que se segue é a versão correta em resposta ao seu pedido
de verificação.
DISREGARD THIS Esta transmissão é um erro. Desconsidere-a (esta mensagem
TRANSMISSION - não deve ser usada para cancelar mensagens já transmitidas e
OUT que já se tenha a confirmação de recebimento).
END OF MESSAGE
Isto conclui a mensagem recém transmitida.
OVER (OUT)
Fim do texto da mensagem. Esteja pronto para receber
END OF TEXT
instruções a respeito da mesma.
FETCH... Eu desejo falar com esta pessoa ao rádio.
Seguem-se numerais ou algarismos (Não deve ser usada para
FIGURES
codinomes, definições de tempo, direções, distâncias)
FROM (THIS IS..) Esta transmissão é da estação cujo indicativo se segue.
HOW DO YOU
Como me recebe? (Resposta esperada conforme item 4).
HEAR ME?
I SAY AGAIN Vou repetir minha última transmissão.
I SPELL Vou soletrar.
I'LL READ BACK Eu repetirei a leitura da minha última mensagem.
MESSAGE Eu tenho uma mensagem para você.
MESSAGE
Esteja pronto para receber uma mensagem.
FOLLOWS
OUT Este é o final de minha mensagem e não espero retorno.
OUT TO YOU Não responda. Eu não tenho mais nada para você. Outra estação
será chamada.
OVER Este é o final de minha transmissão e aguardo retorno. Prossiga.
RADIO-CHECK Como está a intensidade e legibilidade do meu sinal?-
READ BACK Repita a leitura da sua última mensagem.
RELAY TO Retransmita para.
ROGER Mensagem recebida satisfatoriamente.
ROGER SO FAR? Recebeu esta parte da minha mensagem satisfatoriamente?
SAY AGAIN Repita sua última transmissão.
SEND YOUR
Estou pronto para receber sua mensagem.
MESSAGE
SILENCE Cessem todas as transmissões nessa rede imediatamente.
SILENCE LIFTED Fim do silêncio-rádio. Rede livre para transmissão.
SPEAK SLOWER Transmita mais devagar.
... SPEAKING A pessoa chamada está falando ao rádio.
THROUGH ME Retransmitirei sua mensagem.
Esta mensagem é para a(s) estação(ões) cujo(s) indicativo(s) se
TO
segue(m).
WAIT Aguarde.
WAIT OUT Vou fazer uma pausa longa e lhe chamarei quando pronto.
WILCO Recebi sua mensagem, compreendi e vou executar.
WORDS TWICE Palavras dobradas.

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OSTENSIVO CGCFN-1-8

MENSAGEM SIGNIFICADO
WRONG Sua última transmissão está incorreta. O correto é...
YOU ARE... O seu sinal está ... (usar o que vem no próximo item)

4. QUALIDADE DE RECEPÇÃO
INTENSIDADE DE SINAL SIGNIFICADO
LOUD Seu sinal está excelente (alto)
GOOD Seu sinal está bom
WEAK Posso ouvi-lo com dificuldade (fraco)
VERY WEAK Posso ouvi-lo com grande dificuldade (muito fraco)
NOTHING HEARD Não posso ouvi-lo (nada foi ouvido)

LEGIBILIDADE SIGNIFICADO
CLEAR Excelente qualidade (claro)
READABLE Boa qualidade. Sem dificuldades em recebê-lo
DISTORTED Eu tenho dificuldade em recebê-lo devido distorções
WITH INTERFERENCE Eu tenho problemas em recebê-lo devido interferência
UNREADABLE Eu ouço que você transmite mas não posso lhe entender

OSTENSIVO - E-3 - REV.1


OSTENSIVO CGCFN-1-8

ANEXO F
ORGANOGRAMA DO DEPARTAMENTO DE LOGÍSTICA OPERACIONAL (DFS)

Fig F-1 – Organograma do DFS

OSTENSIVO - F-1 - REV.1

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