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MANUAL DE
OPERAÇÕES DE PAZ DOS
GRUPAMENTOS OPERATIVOS DE
FUZILEIROS NAVAIS
MARINHA DO BRASIL
COMANDO-GERAL DO CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS
2009
OSTENSIVO CGCFN-1-8
MARINHA DO BRASIL
2009
FINALIDADE: BÁSICA
1ª REVISÃO
OSTENSIVO CGCFN-1-8
ATO DE APROVAÇÃO
AUTENTICADO RUBRICA
PELO ORC
Em_____/_____/_____ CARIMBO
OSTENSIVO - II - REV.1
OSTENSIVO CGCFN-1-8
ÍNDICE
PÁGINAS
Folha de Rosto ........................................................................................................ I
Ato de Aprovação ................................................................................................... II
Índice....................................................................................................................... III
Introdução ............................................................................................................... VI
CAPÍTULO 1 - AS OPERAÇÕES DE PAZ E AS NAÇÕES UNIDAS
1.1 - Generalidades ................................................................................................. 1-1
1.2 - A Organização das Nações Unidas e a Paz .................................................... 1-2
1.3 - Estrutura da ONU ........................................................................................... 1-3
CAPÍTULO 2 - AS OPERAÇÕES DE PAZ, SUA ESTRUTURA E TIPIFICAÇÃO
2.1 - Conceito .......................................................................................................... 2-1
2.2 - Denominação e Estrutura de uma Operação de Paz ....................................... 2-1
2.3 - Instrumentos Utilizados pela ONU................................................................. 2-7
2.4 - Manutenção da Paz ......................................................................................... 2-10
2.5 - Imposição da Paz ............................................................................................ 2-11
2.6 - Diferenças Básicas entre Manutenção e Imposição da Paz ............................ 2-12
CAPÍTULO 3 - ASPECTOS LEGAIS E DE PLANEJAMENTO
3.1 - Generalidades ................................................................................................. 3-1
3.2 - Aspectos Legais .............................................................................................. 3-1
3.3 - Planejamento no Âmbito da ONU .................................................................. 3-2
3.4 - Planejamento no País ...................................................................................... 3-6
3.5 - Principais Documentos Afetos a uma Operação de Paz ................................. 3-8
CAPÍTULO 4 - PECULIARIDADES E PROCEDIMENTOS OPERATIVOS
NAS OPERAÇÕES DE PAZ
4.1 - Generalidades ................................................................................................. 4-1
4.2 - Posições e Postos de Observação ................................................................... 4-1
4.3 - Postos de Controle, Bloqueios de Estradas e Inspeções ................................. 4-2
4.4 - Aquartelamentos ............................................................................................. 4-4
4.5 - Ponto Forte (PF) ............................................................................................. 4-5
4.6 - Patrulhas ......................................................................................................... 4-6
4.7 - Uso da Força ................................................................................................... 4-16
4.8 - Liderança ........................................................................................................ 4-20
CAPÍTULO 5 - SEGURANÇA
5.1 - Generalidades .................................................................................................. 5-1
5.2 - Abrigos ............................................................................................................ 5-2
5.3 - Equipamentos .................................................................................................. 5-2
5.4 - Movimentos..................................................................................................... 5-3
5.5 - Sequestro ......................................................................................................... 5-3
5.6 - Minas Terrestres e Armadilhas ....................................................................... 5-4
5.7 - Carros-Bomba ................................................................................................. 5-6
5.8 - Medidas de Segurança Complementares ........................................................ 5-7
CAPÍTULO 6 - CONSIDERAÇÕES BÁSICAS ATINENTES AO OBSERVADOR
MILITAR
6.1 - Habilidades Requeridas................................................................................... 6-1
6.2 - Atitude e Conduta............................................................................................ 6-2
6.3 - Organização e Subordinação........................................................................... 6-7
6.4 - Recomendações............................................................................................... 6-11
CAPÍTULO 7 - TAREFAS DO OBSERVADOR MILITAR
7.1 - Generalidades .................................................................................................. 7-1
7.2 - Uso do Sistema de Comunicações .................................................................. 7-2
7.3 - Uso dos Meios de Transporte.......................................................................... 7-4
7.4 - Condução das Inspeções e Verificações.......................................................... 7-5
7.5 - Condução das Investigações............................................................................ 7-8
7.6 - Condução das Negociações/Mediações .......................................................... 7-9
CAPÍTULO 8 - O BATALHÃO DE PROTEÇÃO E OUTROS GptOpFuzNav
NAS OPERAÇÕES DE PAZ
8.1 - Generalidades .................................................................................................. 8-1
8.2 - O Batalhão de Proteção ................................................................................... 8-1
8.3 - Organização e Mobilização do Batalhão de Proteção..................................... 8-3
8.4 - Outros GptOpFuzNav em Operações de Paz .................................................. 8-4
CAPÍTULO 9 - COMANDO E CONTROLE NO BATALHÃO DE PROTEÇÃO
E EM OUTROS GptOpFuzNav
9.1 - Cadeia de Comando ........................................................................................ 9-1
9.2 - Relações de Comando nos GptOpFuzNav ...................................................... 9-1
9.3 - Sistema de Comunicações............................................................................... 9-2
OSTENSIVO - IV - REV.1
OSTENSIVO CGCFN-1-8
INTRODUÇÃO
1 - PROPÓSITO
A presente publicação tem por propósito disseminar conhecimentos básicos e orientar a
preparação de militares da Marinha do Brasil (MB), particularmente para integrar
Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav) nas Operações de Paz
(OpPaz).
2 - DESCRIÇÃO
O capítulo 1 inicia apresentando a importância da OpPaz como um dos esforços da
Organização das Nações Unidas (ONU) para a promoção da segurança e da paz
internacionais, incluindo o nosso País e a sua importância como um dos atores contribuintes.
Em seguida, apresenta, como núcleo principal, a estrutura da ONU, especialmente no que
concerne as OpPaz.
O capítulo 2 conceitua as OpPaz e apresenta sua estruturação básica. Apresenta os
instrumentos utilizados pela ONU no campo da paz e da segurança internacionais, enfatizando
a Manutenção da Paz e a Imposição da Paz e suas diferenças mais marcantes.
O capítulo 3 apresenta uma abordagem sobre os aspectos legais de uma OpPaz, o
planejamento no âmbito da ONU e do País e os principais documentos produzidos com vistas
à solução de uma crise pelo emprego de uma operação dessa natureza.
O capítulo 4 apresenta técnicas e procedimentos já consagrados nas OpPaz, cujo
conhecimento é do total interesse tanto de Observadores Militares das Nações Unidas (United
Nations Military Observer - UNMO) quanto de contingentes de tropas integrantes de Força de
Paz (ForPaz), com destaque para as Regras de Engajamento.
O capítulo 5 destaca os aspectos e as recomendações atinentes à segurança nas OpPaz.
O capítulo 6, especificamente voltado às missões de observação, apresenta as
considerações básicas atinentes aos UNMO e à estrutura básica dessas missões.
O capítulo 7 apresenta as atividades típicas do dia-a-dia de um UNMO, detalhando
procedimentos com viaturas e equipamentos de comunicações da ONU e sua conduta em
atividades de inspeção, verificação, investigação e negociação.
O capítulo 8 apresenta os conceitos básicos relativos ao Batalhão de Proteção e a outros
GptOpFuzNav em OpPaz.
O capítulo 9 trata de aspectos voltados ao comando e controle e das atividades de
inteligência nos GptOpFuzNav.
O capítulo 10 aborda a logística nas OpPaz, ressaltando suas peculiaridades em relação às
OSTENSIVO - VI - REV.1
OSTENSIVO CGCFN-1-8
operações de guerra.
Finalmente, um conjunto de anexos detalha aspectos de relevância, complementando o
conteúdo dos 10 capítulos listados.
3 - RECOMENDAÇÕES
A manutenção de expressões, termos e siglas pertinentes ao assunto - mormente em
inglês - nela observados, visa familiarizar os integrantes de OpPaz com aquilo que
efetivamente ouvirão e terão de empregar no cumprimento de suas tarefas. Para que isso
ocorra naturalmente, recomenda-se que a instrução e o adestramento sejam conduzidos
enfatizando-se o seu emprego.
4 - CLASSIFICAÇÃO
Esta publicação é classificada, de acordo com o EMA-411 - Manual de Publicações da
Marinha, como: Publicação da Marinha do Brasil, não controlada, ostensiva, básica e manual.
5 - SUBSTITUIÇÃO
Esta publicação substitui a CGCFN-1-8 - Manual de Operações de Paz dos Grupamentos
Operativos de Fuzileiros Navais, edição 2008, aprovada em 12 de novembro de 2008.
CAPÍTULO 1
AS OPERAÇÕES DE PAZ E AS NAÇÕES UNIDAS
1.1 - GENERALIDADES
As Operações de Paz (OpPaz) fazem parte de um variado conjunto de esforços que
visam a implementação de medidas de segurança coletiva no mundo. Ainda que suas
origens conceituais remontem ao início do século XX, mediante a criação da Liga das
Nações, foi somente a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, com a criação da
Organização das Nações Unidas (ONU), que este tipo de operação tomou impulso e
passou a ser amplamente utilizada como instrumento decisivo ou, ao menos,
complementar na solução de conflitos intra ou internacionais.
Desde então, mercê de sua postura internacional, o Brasil tem participado ativamente
em diversas OpPaz, principalmente sob a égide da ONU. Nosso País também toma parte
de OpPaz, desde que autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU, quando tais
operações são conduzidas por organizações ad-hoc ou atendendo a solicitações de
outros organismos intergovernamentais, notadamente a Organização dos Estados
Americanos (OEA).
Tem cabido à Marinha do Brasil (MB), particularmente ao Corpo de Fuzileiros Navais
(CFN), papel relevante nas OpPaz quando da participação brasileira. A probabilidade de
novas atuações de militares da MB em OpPaz, quer como UNMO, quer como Staff
Officer, quer como integrantes de contingentes de tropa ou, ainda, desenvolvendo ações
humanitárias, é consideravelmente alta. Desta forma, avultam de importância o contínuo
aperfeiçoamento instrucional e o adestramento, os quais permitirão a manutenção de um
adequado aprestamento para tal tipo de emprego.
Vale lembrar que a presença de militares da MB em OpPaz contribui significativamente
para o acúmulo de experiências e de procedimentos que dificilmente seriam obtidos
com as simulações de combate. Cabe, ainda, ressaltar que as OpPaz constituem uma
oportunidade ímpar para o intercâmbio com outros países, permitindo a avaliação dos
aspectos humanos e operacionais de outras forças, bem como a diversificação de
conhecimento sobre armamento, equipamentos e equipagens de distintas tecnologias, de
forma a compor valiosa fonte de conhecimentos ao preparo e aplicação do Poder Naval.
No nível político, essas operações contribuem para a maior inserção do País no cenário
internacional.
O primeiro registro da participação do Brasil em organismos voltados para a
manutenção da paz data de 1933, quando ainda sob a égide da Liga das Nações, o País
foi representado por um oficial da MB em uma Comissão para mediar um litígio entre a
Colômbia e o Peru na região de Letícia. Em 1947, um oficial da MB, juntamente com
outro do EB, tomou parte na Comissão das Nações Unidas para os Balcãs, a qual operou
na Grécia. Já nos idos de 1956, o País prestou sua contribuição em conflitos na Faixa de
Gaza e na Índia/Paquistão.
Em 1965, pela primeira vez, o CFN participava de uma OpPaz com o envio de tropas,
tendo tido uma expressiva atuação na República Dominicana, ao integrar a Força
Interamericana de Paz (FIP). Após isso, passaram-se quase trinta anos sem qualquer
outra participação em OpPaz. Este hiato só veio a ser rompido ao serem designados
UNMO sob a égide da ONU, em 1989/90, respectivamente para Angola (UNAVEM e
UNAVEM I) e Nicarágua (ONUCA).
No período entre 1995-1998, pela segunda vez, o CFN participou de OpPaz por meio do
envio de tropa, ao atuar com uma CiaFuzNav em Angola (UNAVEM II). Nos anos que
se seguiram, o CFN intensificou sua participação, tendo enviado oficiais como
observadores militares e staff officers para atuarem em vários países, tais como: Haiti,
Timor Leste, Ruanda, Bósnia, Angola, Moçambique, Costa do Marfim, Guatemala,
Honduras, Equador, Peru, Costa Rica, Nepal, Uganda, Iugoslávia, El Salvador, Saara
Ocidental e Libéria.
Finalmente, em junho de 2004, pela terceira vez o CFN enviou tropa para uma missão
de paz, desta feita organizada como Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais, para
integrar a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH).
1.2 - A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E A PAZ
Conforme o estabelecido no Artigo I da Carta das Nações Unidas, assinada em 26 de
junho de 1945, em São Francisco, um dos propósitos básicos da ONU é:
“Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim, tomar, coletivamente,
medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra
ruptura qualquer da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os
princípios de justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias
ou situações que possam levar a uma perturbação da paz”.
No tocante à paz mundial, as mais amplas orientações encontram-se nos Capítulos VI,
VII e VIII da Carta da ONU, os quais incluem ainda as ações orientadas para os partidos
envolvidos e a adoção de medidas para a solução pacífica de disputas internas e regionais.
contribuintes;
- desenvolver metodologias e planos operacionais;
- desenvolver planejamentos emergenciais;
- monitorar e controlar fundos emergenciais;
- proporcionar apoio administrativo e logístico;
- estabelecer e manter contato com as partes em conflito;
- ligar-se com os Estados-Membros, outras Agências da ONU e Organizações
Não-Governamentais (ONG) relacionadas às OpPaz; e
- elaborar relatórios ao SG.
Para a consecução de suas tarefas básicas, o USG-DPKO é assessorado pelo
Gabinete Executivo (Executive Office), Unidade de Assuntos Civis (Public Affairs
Unit) e pelo Centro Situacional (Situation Centre) e é estruturado nos seguintes
órgãos:
- Escritório de Operações (Office of Operations - OOp), subdividido em quatro
divisões regionais (África I, África II, Ásia e Oriente Médio e Europa/América
Latina);
- Escritório de Assuntos Militares (Office of Military Affairs), subdividido em três
divisões regionais (Operações Militares Correntes, Serviço de Planejamento
Militar e Serviço de Convocação da Força);
- Escritório de Regras, Leis e Instituições de Segurança (Office of Rules of Law
and Security Institutions) subdividido em quatro divisões regionais (Divisão de
Polícia, Seção de Leis Criminais e Assessoria Jurídica, Seção de
Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (Disarmament, Demobilization
and Reintegration - DDR) e Seção de Ações de Minas;
- Divisão de Política, Avaliação e Treinamento (Policy, Evaluation and Training
Division), este subdividida em duas divisões regionais (Melhores Práticas em
Manutenção da Paz e Serviço de Treinamento Integrado).
A estrutura acima se encontra representada na forma de organograma no Anexo A.
No que tange as OpPaz, o Escritório de Assuntos Militares do DPKO é o setor
mais envolvido. É chefiado pelo Conselheiro Militar (Military Adviser - MILAD)
e desempenha ações voltadas ao planejamento militar (Military Planing Service -
MPS), à convocação de força e pessoal militar junto aos países contribuintes
(Force Generation Service – FGS), e ao acompanhamento de operações em
CAPÍTULO 2
AS OPERAÇÕES DE PAZ, SUA ESTRUTURA E TIPIFICAÇÃO
2.1 - CONCEITO
Uma OpPaz é definida como a presença da ONU ou outro organismo por ela autorizado,
integrando componentes civis e militares, em uma área ou região de conflito, com o
objetivo de implementar ou monitorar a aplicação de resoluções e acordos relativos ao
controle do conflito, ou para prover e assegurar a distribuição de ajuda humanitária.
Assim, por definição, uma OpPaz visa, essencialmente, a preservação, contenção, à
moderação e ao fim das hostilidades entre ou dentro de Estados, bem como cooperar
com o esforço da região ou país afetado na busca da reestruturação política, econômica
e social, por meio de uma intervenção pacífica de uma terceira parte organizada e
dirigida internacionalmente, empregando, para tal, forças multinacionais militares,
forças policiais e elementos civis.
Para efeito de padronização, quando se referir de maneira genérica ao processo de
promoção da paz, esta publicação utilizará a denominação OpPaz. Para uma estrutura
militar constituída para a execução de uma OpPaz, será utilizada a denominação
genérica Força de Paz (ForPaz). E para uma ForPaz especificamente constituída para
solucionar uma crise em determinada região, será utilizado o título Missão, ao qual
serão acrescidos complementos, conforme apresentado a seguir.
2.2 - DENOMINAÇÃO E ESTRUTURA DE UMA OPERAÇÃO DE PAZ
2.2.1 - Denominação
A organização, como um todo, será denominada “Missão” (Mission), cujo nome fará
menção à ONU, podendo explicitar o tipo ou forma de instrumento a ser empregado
para o gerenciamento da crise e o nome do país ou região onde se realizará. O nome
da missão poderá estar em uma das seguintes línguas, dentre as dez mais faladas no
mundo - árabe, espanhol, francês, inglês, mandarim ou russo. As missões abaixo
constituem exemplos:
- UNAVEM – United Nations Angola Verification Mission;
- UNAMIR – United Nations Assistance Mission for Rwanda;
- UNPROFOR – United Nations Protection Force; e
- MINUSTAH – Mission des Nations Unies pour la Stabilization en Haiti.
2.2.2 - Composição
As OpPaz no período da Guerra-Fria – ditas de primeira geração - eram de estrutura
e) Consolidação da paz
Consiste em ações posteriores a um conflito interno ou entre Estados. Destina-se a
consolidar a paz e evitar o surgimento de novas controvérsias utilizando-se, como
instrumentos, projetos de desenvolvimento político, social e econômico, bem
como o estímulo de medidas de confiança e interação entre as partes até então em
conflito. Essas ações, voltadas basicamente para o desenvolvimento econômico e
social do país anfitrião, são empreendidas, preferencialmente, por outros órgãos
das Nações Unidas, mas, dependendo das dificuldades no terreno, podem requerer
a atuação militar.
2.3.2 - Outros instrumentos
Dentre outros instrumentos relacionados ao processo de paz, destacam-se por sua
relação ao propósito desta publicação:
- Emprego Preventivo;
- Implementação de Acordos Amplos; e
- Proteção de Operações Humanitárias.
a) Emprego preventivo
No Emprego Preventivo, a parte militar da operação é desencadeada com a
aplicação de medidas preventivas para evitar confrontações, tais como o
estabelecimento de zonas e faixas desmilitarizadas e a interposição de forças.
Essas medidas são complementadas pelo patrulhamento para fiscalização e pela
observação, com a situação formalizada em relatórios divulgados às partes
envolvidas e ao CS. Cabe ressaltar a diferença entre a diplomacia preventiva
propriamente dita (item 2.3.1) e o emprego preventivo de tropas. A diplomacia
preventiva seria uma ação consentida, sem uso da força, enquanto o
desdobramento preventivo de tropas seria uma ação consentida, com uso da força.
b) Implementação de Acordos Amplos
No que diz respeito à Implementação de Acordos Amplos, a ONU pode auxiliar
as partes em conflito não apenas quanto ao cessar-fogo, mas também quanto a
outros acertos de caráter militar e a uma grande variedade de assuntos civis. É
importante ressaltar que existem ações de caráter predominantemente civil e
outras de caráter essencialmente militar. Contudo, sendo uma OpPaz, em qualquer
de seus estágios, uma operação predominantemente de natureza política, as ações
de caráter civil não podem prescindir da presença e do apoio militar, bem como as
CAPÍTULO 3
ASPECTOS LEGAIS E DE PLANEJAMENTO
3.1 - GENERALIDADES
Independentemente do motivo gerador, uma crise vem ao conhecimento da comunidade
internacional pelo clamor de pelo menos uma das seguintes fontes, em mútua
cooperação de esforços:
- mídia;
- comunidade diplomática internacional; ou
- organizações humanitárias governamentais e não-governamentais.
No nível político, a preocupação gerada na comunidade internacional com os possíveis
desdobramentos promove uma intensa busca de esclarecimentos, troca de informações e
discussões sobre os mecanismos para a solução do problema. Pela experiência, pelos
meios de que dispõe e pela legitimidade de suas decisões, a ONU é, indiscutivelmente,
o fórum por excelência para tomada de decisão, quanto aos instrumentos a serem
adotados. Inicia-se, então, um processo de planejamento interno da Organização ao qual
vão sendo aderidos os países contribuintes dispostos a participarem da OpPaz. Cada
país conduz suas decisões e seu planejamento, internamente. Isso ocorre paralela e
simultaneamente com o planejamento da ONU, com intensa troca de informações,
ajustes e acordos.
3.2 - ASPECTOS LEGAIS
No capítulo anterior, foram apresentadas as diferenças entre as Operações de
Manutenção da Paz e as Operações de Imposição da Paz. As características de que se
revestem as Operações de Imposição da Paz provocam relutância em muitos países
contribuintes quanto à sua participação nesse tipo de OpPaz, sendo, por isso, objeto de
cuidadosas considerações, principalmente, quanto aos aspectos de caráter legal e ético.
Entretanto, com vistas à preparação dos GptOpFuzNav, tal participação não deve ser
descartada, pois interesses nacionais de ordem superior ou a crescente responsabilidade
internacional do país poderão determinar, em casos específicos, a não-observância do
princípio em pauta, por tratar-se de um princípio e não de lei absoluta. Ademais, se
decidir pela participação em uma Operação de Imposição da Paz, estará o Brasil,
internacionalmente, plenamente respaldado pelo Capítulo VII da Carta das Nações
Unidas, da qual é signatário.
Os exemplos a seguir constituem registros da participação brasileira em operações
para ser então submetido ao CS. No plenário do CS, o relatório será também objeto
de intensos debates, uma vez que dele resultará a resolução sobre como o problema
será solucionado. Por razões diversas, o Presidente do CS poderá enviar
correspondência ao SG solicitando esclarecimentos ou avaliação das conseqüências
de outra abordagem do problema.
Finalmente, o CS adota a resolução, a qual é o ponto de partida para ações mais
concretas. Esse documento é de fundamental importância, pois muitos países
contribuintes recusam-se a dar a resposta definitiva quanto à participação na OpPaz
até que tenham conhecimento dos seus termos. Ele é, ainda, a base para o processo
orçamentário afeto à operação.
3.3.5 - Ações finais
A essa altura, o SG designa o SRSG, caso ainda não o tenha feito. Por razões
diversas, muitas vezes, existe retardo na definição dessa importante autoridade. São
ainda designados, a partir dos quadros de funcionários da ONU, o CMS, os seus
assessores e os assessores do SRSG. A estrutura subordinada ao CMS destina-se a
prestar o apoio necessário a todas as atividades da operação, inclusive ao
Componente Militar.
Os países compromissados são visitados por comitiva da ONU para conferir o grau
de aprestamento da tropa a ser enviada para a OpPaz e para avaliar as necessidades
afetas ao deslocamento da tropa para a área da missão.
No âmbito da estrutura de comando da OpPaz, o SRSG promove uma reunião com
os chefes de componentes subordinados para disseminar suas diretivas, elaboradas
com base na resolução. Essas diretivas contêm os elementos necessários para que
cada chefe de componente realize o seu respectivo processo de planejamento. Dentre
eles, o FC, assessorado por seu estado-maior e apoiado pelo DPKO, transforma
aquelas orientações de caráter político nos seguintes documentos militares:
- Ordem de Operações (Operational Order – OpO);
- Regras de Engajamento (Rules of Engagement – ROE); e
- Procedimentos Operacionais Padronizados (Standards Operational Procedures –
SOP).
Convém observar que, devido às condicionantes de caráter político e jurídico das
OpPaz, as Regras de Engajamento e os Procedimentos Operacionais Padronizados
são bem distintos daqueles empregados nas operações de guerra, devendo ser
CAPÍTULO 4
PECULIARIDADES E PROCEDIMENTOS OPERATIVOS NAS OPERAÇÕES DE PAZ
4.1 - GENERALIDADES
Muitas das técnicas e procedimentos nos quais as tropas se adestram para as operações
militares de guerra são adequados ao emprego nas OpPaz. Contudo, as limitações impostas
pelo mandato e documentos decorrentes de cada missão exigirão o seu aperfeiçoamento e o
desenvolvimento de novas técnicas e procedimentos, de modo a atender ao cumprimento
das tarefas e a proporcionar a segurança dos integrantes de uma ForPaz.
Tais técnicas e procedimentos serão úteis tanto nas Operações de Manutenção da Paz
quanto nas Operações de Imposição da Paz, particularmente após a fase de combates
mais intensos e durante a gradual distensão que a ela se seguirá.
4.2 - POSIÇÕES E POSTOS DE OBSERVAÇÃO
4.2.1 - Definições
a) Posição
Uma Posição (Pos) é um título genérico atribuído a qualquer local taticamente
situado e ocupado permanentemente por pessoal militar de uma OpPaz, a partir do
qual seja possível realizar tarefas decorrentes do mandato da missão. São
exemplos de posições os Postos de Controle (PCt ou check-point), os Pontos
Fortes (strong point), e os aquartelamentos. Uma Pos é normalmente ocupada por
tropas armadas.
b) Posto de Observação (PO)
Um PO é um local permanentemente ocupado por pessoal militar da OpPaz, de
onde é possível realizar as tarefas de observação e relato. Ao posicionar um PO,
diferentemente do que ocorre em uma operação militar de guerra, geralmente
abre-se mão dos aspectos táticos em nome da capacidade de observação. Um PO
pode ser guarnecido tanto por elementos da tropa quanto por UNMO. Entretanto,
não é prática usual a presença simultânea de tropas e UNMO em um mesmo PO,
pois cada um desses componentes é regido por aspectos distintos de um mandato.
c) Pos e PO temporários
Cumprem as mesmas finalidades das respectivas instalações permanentes, porém
são utilizados por um curto período de tempo, normalmente para a realização de
uma tarefa específica de observação, controle ou bloqueio (block position). Não
dispõem das mesmas condições de habitabilidade das instalações de caráter mais
4.6 - PATRULHAS
O patrulhamento é uma atividade essencial em uma OpPaz. É realizada por ForPaz,
UNMO ou ambos, devendo ser um dos assuntos principais na preparação de contingentes
ou pessoal militar para a participação em OpPaz. O conteúdo apresentado a seguir se
refere a conceitos genéricos atinentes à atividade em pauta, devendo ser complementado
com as especificidades segundo as quais dar-se-á o patrulhamento em cada OpPaz.
4.6.1 - Propósitos das patrulhas
As patrulhas poderão ser lançadas para executar as seguintes tarefas:
- confirmar e/ou supervisionar um cessar-fogo;
- obter informação;
- verificar áreas que não podem ser observadas de um PO;
- restabelecer a ligação com comunidades isoladas;
- estabelecer PCM;
- inspecionar posições ocupadas e/ou abandonadas pelas facções;
- deter ou reportar tentativas de infiltração;
- conduzir observação em PO isolados e abandonados;
- prover uma ligação física entre posições adjacentes, porém, relativamente isoladas;
- proporcionar segurança a elementos das facções ou da população em locais onde os
deslocamentos sem tal apoio possam provocar incidentes;
- interpor tropas entre as facções em períodos de tensão;
- estabelecer contato com elementos adversos; e
- mostrar a presença da ONU às partes em conflito.
4.6.2 - Classificação das patrulhas quanto à mobilidade
a) Patrulhas a pé
Sob o enfoque de que as áreas atribuídas a uma unidade de ForPaz são muito mais
extensas do que nas operações militares de combate podemos listar algumas
limitações da patrulha a pé comparadas às patrulhas motorizadas:
- reduzida flexibilidade de emprego;
- reduzido alcance operacional e capacidade de transporte; e
- reduzida capacidade de comunicações.
Uma viatura pode ser claramente marcada para indicar sua identificação, mas,
uma patrulha a pé, freqüentemente, necessita portar um sinal de identificação que
seja visível a uma distância apropriada. É de suma importância que uma patrulha
aéreo civil; e
- dificuldades no estabelecimento e manutenção de redes de comunicação terra-ar.
Além das patrulhas acima descritas, a disponibilidade de meios de transporte
específicos de ambientes especiais ensejará a existência de outros tipos de
patrulha, tais como as patrulhas navais e ribeirinhas.
4.6.3 - Planejamento e execução
a) Planejamento
O lançamento de patrulhas deve ser precedido de um planejamento que leve em
consideração, no mínimo, os efetivos e meios, a segurança, as comunicações, as
ações em caso de incidentes, as ações nos altos, os planos contingentes e de
reforço, a formação tática - quando aplicável, os procedimentos para evacuação de
baixas e as formas de apresentação e conteúdos do relato oral e do relatório por
escrito. Quanto à segurança, especificamente, deverá ser levado em consideração:
- rotas livres de minas;
- trafegabilidade na área a ser patrulhada;
- presença de elementos de ligação;
- necessidade de guias e/ou intérpretes;
- riscos nos deslocamentos noturnos ou sob visibilidade reduzida;
- procedimentos especiais eventualmente necessários; e
- identificação visual da patrulha por parte das facções em conflito.
b) Execução
As seguintes precauções de segurança nas patrulhas devem ser observadas:
- evitar áreas minadas, sob essa suspeita, confirmando junto a parte em conflito
que detiver o controle da mesma;
- empregar oficiais de ligação das partes em conflito;
- empregar guias que conheçam a região e a localização de forças em conflito;
- realizar ensaios e briefings;
- utilizar armamento e equipamento adequados;
- manter comunicação constante com o Comando;
- manter as partes oponentes cientes das atividades de patrulha, no que couber;
- coordenar sua execução com o Estado-Maior (EM) da ForPaz e UNMO; e
- conduta por ocasião das diversas situações de risco como emboscadas,
manifestações populares e na presença de obstáculos.
deve incluir detalhes de tipo e tamanho da patrulha, sua rota, tempo que estará
fora e informação de qualquer marca distinguível ou meios de identificação que
esteja usando, ou que nenhuma identificação visível no escuro será usada.
O comandante da patrulha deve ser instruído para manter contato rádio contínuo
com a base, reportando em horários pré-determinados e imediatamente no caso de
qualquer acontecimento que afete a execução, horário e itinerário da patrulha.
Cada membro da patrulha deve usar um sinal distinguível. Se a ForPaz precisar
conduzir patrulha em áreas muito perigosas durante a escuridão, luzes podem ser
usadas, de modo que a patrulha seja visível à distância. Esta marca deverá ser
utilizada por todos os membros de uma patrulha que venha a ser lançada entre
dois partidos em conflito ou que vá se deslocar próximo a eles.
Cada membro da patrulha deve estar ciente dos procedimentos especiais de sua
patrulha e deve ser inquirido antes da partida para garantir que os tenha entendido.
b) Patrulhas em áreas minadas
Devido à guerra moderna e às táticas de guerrilha, minas são usadas
freqüentemente. Havendo riscos devido às minas, o patrulhamento é mais difícil
de ser conduzido. Em algumas operações da ONU, os itinerários da patrulha
deverão ter trechos balizados. Este balizamento é, também, importante informação
para possíveis infiltrantes, os quais são mais propensos a sofrerem riscos ao
entrarem em áreas não limpas de minas.
Devido ao perigo de minas, o Oficial de Operações deve delimitar as áreas
proibidas às patrulhas da ONU. Se nenhuma carta ou informação estiver
disponível, a limpeza de minas é a única possibilidade, combinada com itinerários
selecionados em estradas ou caminhos em terreno firme e que já estejam em uso.
c) Patrulha de longo alcance
O seu propósito é o mesmo de uma patrulha de curto alcance. Ao conduzir uma
patrulha de longo alcance, o comandante consegue:
- melhor cobertura da área da missão;
- uma combinação de tarefas realizadas por uma mesma patrulha, de acordo com a
situação; e
- obtenção de mais dados pela patrulha e prevenção de infiltrações na área da
missão.
d) Patrulha de Segurança
É uma patrulha com o propósito de evitar infiltração na área da missão.
A área de emprego de uma patrulha de segurança é próxima a passagens ou locais
que facilitem infiltrações. Além disso, as patrulhas devem estar em posições
defensivas organizadas e em área de terreno dominante de onde seja possível
identificar os infiltrantes a longa distância.
Infiltrações podem ocorrer de dia ou de noite. Durante o dia, os infiltrantes podem
misturar-se à população local. Durante a noite, eles se deslocam por itinerários
secundários em áreas remotas. Para alcançar o seu propósito, é recomendável que
a patrulha permaneça em posição pelo período mínimo de duas horas.
A comunicação rádio é normalmente empregada na saída da base e no regresso da
patrulha. Quando em deslocamento, é altamente recomendável que o faça
silenciosamente, mantendo escuta permanente e uma observação contínua.
Quando a patrulha se aproxima do objetivo ou posição a ser ocupada, deve mover-
se cautelosamente. Ao aproximar-se do local, a patrulha deve fazer pequenos altos
para assegurar-se de que está sozinha na área.
O posicionamento poderá prover segurança à toda volta ou em linha, dependendo
se a patrulha conhece ou não a direção provável de infiltração.
A distância entre os homens deve possibilitar o contato e comunicação visual.
e) Patrulhas em cidades e patrulha de toque de recolher
Nestes tipos de patrulha, a ação de presença é muito importante.
Estas patrulhas são usualmente conduzidas em passagens estreitas, que demandam
tanto a quintais como ruas principais e áreas de comércio. Checar bares,
restaurantes e outros locais onde pessoas se aglomeram pode, também, ser uma
tarefa para tais patrulhas.
Para melhor contato com os habitantes locais, o período diurno é sempre o
desejável. Dias de feira ou mercado são especialmente adequados para mostrar a
presença da OpPaz às partes em conflito e fazer contato com as pessoas.
Durante a noite, a patrulha deve procurar infiltrantes e verificar a situação vigente,
mantendo o controle dos acessos e saídas da localidade. A patrulha de toque de
recolher deve ser ativada antes do início do toque. A patrulha pode estender o seu
patrulhamento, checando locais mais prováveis para a ocorrência de
irregularidade.
seu correto exercício são fundamentais para o êxito da operação, uma vez que, em geral,
será necessário proceder a um certo “recondicionamento” das unidades.
4.7.1 - Conceitos relativos ao uso da força
a) Intenção hostil
Ameaça ou iminência do uso da força contra integrantes de uma ForPaz, o qual
poderá resultar em morte ou ferimento grave.
b) Ato hostil
Ataque ou uso da força contra integrantes de uma ForPaz, o qual poderá resultar
em morte ou ferimento grave.
c) Força mínima
Menor grau de força autorizado para uma ForPaz necessário, proporcional e
razoável para resposta a circunstâncias imediatas.
d) Força leve
Qualquer uso ou ameaça de uso de meios físicos por parte dos integrantes de uma
ForPaz para forçar obediência, sem que haja risco de morte ou de ferimento grave
nos indivíduos contra os quais a força é dirigida.
e) Força bruta
Nível de força empregado por integrantes de uma ForPaz intencionado para causar
morte ou ferimento grave, sem qualquer preocupação com qual dos dois deva
acontecer. É uma circunstância extrema.
f) Doutrina para a autodefesa
Esta doutrina estabelece parâmetros amplos destinados a reger tanto a conduta
individual quanto para a proteção de unidades ou forças. Como regra geral, a
reação só deverá ser desencadeada nos seguintes casos:
- em resposta a um ataque ou à ameaça de um ataque iminente;
- em face de risco de morte ou de ferimento grave; e
- quando não houver alternativa senão o uso da força.
O uso da força bruta será limitado à reação a ato hostil ou intenção hostil.
4.7.2 - Resposta a um ataque iminente
Consiste na resposta a uma intenção hostil que represente uma ameaça iminente. Não
se deve admitir que aconteça um ataque para somente então se tomar uma ação.
Contudo, essa resposta somente deverá ser dada depois de esgotadas ou ser
impraticáveis outras medidas mais brandas que o tempo permitir.
Este conceito é aplicável tanto para a autodefesa pessoal, quanto de unidade ou força.
4.7.3 - Código de conduta individual
Este código abarca as seguintes diretrizes:
- engajar somente forças que se oponham à ForPaz e objetivos militares;
- usar força com o menor efeito colateral ao ambiente e à população civil;
- não alterar armas ou munições visando aumentar o sofrimento das Forças Adversas
(FAdv);
- não usar armas ou munições desautorizadas;
- tratar a população e suas propriedades com respeito;
- não atacar indivíduos que tenham se rendido;
- tratar pessoas detidas com humanidade, de acordo com a 3ª Convenção de Genebra;
- tratar feridos e doentes da mesma forma, sejam amigos ou inimigos;
- respeitar locais e objetos culturais e sagrados;
- respeitar locais e pessoas portando símbolos de agências humanitárias como a Cruz
Vermelha e o Crescente Vermelho; e
- relatar e adotar as medidas necessárias ao presenciar violações deste código.
4.7.4 - Regras de engajamento
As ROE apresentam implicações no grau de autodefesa dos contingentes nacionais,
cabendo aos países contribuintes o direito de conhecer o grau de risco a que estará
submetido o seu contingente e, por conseguinte, aceitar ou recusar o convite de
participar da operação. Por outro lado, a ONU não pode descurar-se da observância do
princípio do uso mínimo da força, sob o risco de indesejáveis efeitos colaterais. Dentre
estes, podemos enumerar baixas entre civis inocentes, destruição de monumentos
considerados patrimônios da humanidade e confrontações com “crianças
combatentes”.
O uso da força por uma ForPaz contra um dos partidos poderá ser explorado como
um ato de parcialidade e ser utilizado como argumento para o revide.
Conseqüentemente, a negociação tornar-se-á mais difícil. Os já mencionados efeitos
colaterais poderão afetar a esfera política, alterar a postura da população local em
relação à ONU e, finalmente, tornar a OpPaz um desastre. Por isso, a elaboração das
ROE constitui um sério embate entre a esfera política e a militar da ONU.
Os Capítulos VI e VII da Carta constituem o limiar das ROE. No primeiro caso, a
ênfase está na autoproteção, com foco na atuação das pequenas frações – pelotão ou
menores. As situações por elas englobadas envolvem agressões com o uso de armas
de pequeno calibre - dirigidas ou não contra a fração - ação de um dos partidos
tentando impedir a liberdade de movimentos e a ameaça ou a execução de fogos por
um dos partidos contra um grupo de pessoas sob a proteção dessas frações.
No segundo caso, as ROE enfocam a atuação das subunidades e escalões maiores de
tropa. Além das situações englobadas pelo primeiro caso, as ROE de uma OpPaz
regida pelo Capítulo VII poderão prever ações mais contundentes como, por
exemplo, a captura de líderes considerados criminosos e confrontação contra um
partido em flagrante violação a um determinado mandato da ONU. Há que ser
considerado, ainda, o uso de armas para as quais é impossível dar tiros de
advertência. Neste caso, as ROE devem recomendar a adoção de cuidados especiais
como, por exemplo, o uso de radares, de designadores laser e de outros sistemas de
direção que reduzam a margem de erro e seus efeitos colaterais.
Em qualquer caso, é importante ressaltar que o sucesso político e militar de uma
OpPaz reside, na maior parte do tempo, na orientação precisa e na capacidade de
discernimento do nível elementar, por ser este o que estará exposto a situações que
requerem o emprego da força. Assim, é desejável que nesse nível as ROE sejam
difundidas por cartões com orientações objetivas, claras e indubitáveis.
A elaboração final das ROE é da competência do FC, em estreita coordenação com o
DPKO. É extremamente recomendável que os contingentes só venham a ser
desdobrados após a sua disseminação. É importante ressaltar que as ROE constituem
um consenso da comunidade da ONU, não cabendo a qualquer país elaborar as suas
próprias ou adulterar as aprovadas, sob pena de arcar com a responsabilidade de
qualquer resultado mal-sucedido. As ROE são uma responsabilidade do comando em
todos os níveis. São ordens e não orientações. São, em última análise, um
instrumento de comando e controle.
4.7.5 - Procedimentos para a aplicação da força
Dentro das considerações acima mencionadas, deve-se, de modo geral:
- empregar a força mínima necessária à cessação da ameaça;
- se possível, procurar negociar ou persuadir a fonte da ameaça antes de desencadear
o uso da força;
- se a situação se encaminhar para o emprego do armamento, executar tiros de
advertência antes de disparar com eficácia, empregar meios de alerta tais como
CAPÍTULO 5
SEGURANÇA
5.1 - GENERALIDADES
Em que pese o propósito maior de uma ForPaz ou Grupo de UNMO ser a promoção da
paz e o fato de ter, entre seus princípios fundamentais, o consentimento das partes
envolvidas e a conduta balizada pela imparcialidade, seus integrantes estarão sempre
com a integridade física em risco. Esse risco poderá ser direto, fruto de algum
descontentamento de uma das partes em conflito, ou indireto, fruto da ação militar na
área da missão. Adicionalmente, o risco será decorrente de fatores extrínsecos ao
combate como, por exemplo, endemias, acidentes e o desgaste psicofísico a que é
submetido o integrante de uma ForPaz. Assim, segurança é fundamental para as OpPaz.
O não-atendimento dos requisitos de segurança nas operações degradará o moral da
tropa antes mesmo de seu emprego, além das conseqüências que certamente advirão em
perdas humanas e materiais, podendo acarretar no insucesso da operação.
Todo Comandante deve preservar integridade física de sua tropa. Medidas de segurança,
portanto, devem ser adotadas em todos os níveis, bem como intensamente praticadas no
período de treinamento, antes do efetivo emprego em operações de paz. Essas medidas
são distribuídas em dois grupos, a saber:
- medidas ativas, assim consideradas aquelas que orientam a reação da tropa diante de
atitudes hostis ou suspeitas; e
- medidas passivas ou de prevenção, assim consideradas aquelas que, sem constituir
uma reação da tropa, contribuem para proteger a sua integridade ou para a manutenção
da higidez física de seus integrantes, durante a execução de suas tarefas ou em
períodos de lazer.
As medidas ativas, normalmente, estão expressas nas ROE as quais, pelo impacto que
podem causar nos objetivos políticos de uma OpPaz, devem ser especificamente
delineadas, desde o início do planejamento.
As medidas passivas englobam procedimentos e utilização de equipamentos visando
desestimular ou reduzir os efeitos do risco direto – atos hostis – e do risco indireto,
campos minados, projéteis errantes (bala perdida) e endemias, entre outros.
Os aspectos abordados a seguir são considerados os de maior relevância para o
incremento das condições de segurança da tropa e dos UNMO nessas operações.
5.2 - ABRIGOS
Todas as instalações empregadas pelas tropas e UNMO devem incluir um ou mais
abrigos, de modo a garantir a acomodação e proteção de todo o efetivo que ali deva
operar, bem como alguma capacidade de acolher pessoal em trânsito. Cada abrigo deve
estar abastecido com água e alimentos suficientes para garantir a sobrevivência do
efetivo para o qual foi projetado, pelo número de dias estipulado nos SOP, sendo dez
dias o tempo mínimo sugerido. Em situação ideal, os abrigos disporão, também, de
equipamento e suprimentos para primeiros socorros, instalações sanitárias, luz elétrica e
comunicações. Periodicamente, a posição, os suprimentos e a habitabilidade desses
abrigos deverão ser verificados.
A seqüência e o grau de proteção com que tais abrigos serão construídos dependerão,
basicamente, do grau de ameaça ao pessoal e dos recursos disponíveis. Normalmente,
terão prioridade as posições e o pessoal envolvido no guarnecimento dos postos de
observação mais avançados, particularmente aqueles destinados a observar o reinício de
hostilidades em determinados setores.
A necessidade da construção de abrigos e a prática de sua construção, manutenção e
ocupação deverão merecer atenção especial, durante o adestramento prévio à operação.
5.3 - EQUIPAMENTO
A segurança do pessoal envolvido em operações de paz poderá ser consideravelmente
ampliada, mediante o uso de alguns equipamentos, listados adiante.
5.3.1 - Capacetes balísticos
Normalmente, farão parte das equipagens individuais distribuídas ao pessoal, não
sendo esperado o seu fornecimento pela organização patrocinadora da operação. Nas
OpPaz sob a égide da ONU, normalmente, possuirão cor azul e na tonalidade
comumente adotada por aquela organização.
5.3.2 - Coletes balísticos
Deverão fazer parte das equipagens individuais fornecidas a todo o pessoal e o seu
uso é obrigatório em situações táticas.
5.3.3 - Equipamentos de proteção química, biológica e nuclear (QBN)
Não é comum o emprego desse material em OpPaz. Entretanto, se houver indícios da
ameaça de uso de agentes QBN por qualquer das facções em conflito, os países
contribuintes serão alertados e deverão dotar o seu pessoal das medidas de proteção
adequadas.
5.4 - MOVIMENTOS
Tropas e UNMO são particularmente vulneráveis quando em deslocamento.
Os UNMO, em particular, operam desarmados, o que os torna ainda mais vulneráveis.
Porém, a experiência acumulada demonstra que, ainda que seja possível armá-los em
situações de elevado risco, a possibilidade de que sejam confundidos com tropas
armadas é grande, o que pode inclusive representar uma ameaça maior. Quando
trafegando em áreas de risco, os UNMO deverão fazê-lo com, pelo menos, duas viaturas
adequadamente espaçadas, porém, dentro do alcance visual e dotadas de comunicações
confiáveis entre si e com o HQ ao qual estão subordinados. Se estiverem trafegando em
área de responsabilidade de outro Comando, toda a coordenação necessária deverá ser
realizada com a devida antecedência o que, necessariamente, deve incluir o
conhecimento de tarefas, tempos e itinerários.
Tratando-se de tropas deslocando-se em situação de risco, deverá ser adotado o
dispositivo de comboio, com as medidas de segurança previstas em SOP, as quais
incluirão, normalmente:
- pelo menos duas viaturas juntas, em caso de deslocamento por infiltração;
- pessoal armado em todo o comboio;
- comunicações em todas as viaturas;
- contato visual com a viatura à frente e à retaguarda;
- evitar itinerários previsíveis;
- evitar deslocamento noturno e, quando isso for inevitável, empregar,
preferencialmente, viaturas blindadas; e
- uso de palavras-código associados a medidas de coordenação para informar a
progressão do comboio.
5.5 - SEQUESTRO
Deverão ser previstos e exaustivamente praticados SOP para as ações a serem tomadas
ante a ocorrência ou ameaça de sequestro de tropa ou UNMO empenhados na operação.
Estes incluirão, normalmente, as medidas listadas a seguir.
Uma mensagem inicial, dando parte do sequestro, será enviada por quem se encontra
observando o fato, contendo:
- posição;
- efetivo e características dos sequestradores;
- identificação das vítimas do sequestro;
- direção tomada; e
- viaturas empregadas.
Será enviada uma mensagem de alerta aos postos de controle e bloqueios de estradas.
Serão mobilizados elementos em reserva, patrulhas e helicópteros, se disponíveis.
Será efetuada ligação com autoridades locais ou outras pessoas que possam contribuir
para a solução, em bom termo, do seqüestro.
5.6 - MINAS TERRESTRES E ARMADILHAS
De baixo custo e simples de serem lançadas, as minas terrestres e as armadilhas têm
sido largamente empregadas em toda sorte de conflitos. Entretanto, o advento das minas
não metálicas, somado ao seu uso inescrupuloso sem o devido registro dos locais de
lançamento, e as constantes mudanças na linha de frente, devido às flutuações do
combate nas áreas em disputa, fazem com que hoje cerca de dez milhões de minas
estejam dispersas sem registro, causando inúmeras vítimas entre a população civil
neutra, as partes em conflito e as forças de paz que operam nestas áreas.
5.6.1 - Acionamento
O acionamento de uma mina terrestre ou armadilha normalmente ocorre em uma das
formas relacionadas abaixo ou uma combinação destas:
- pela pressão direta sobre a mina ou armadilha ou pelos movimentos causados, no
solo, pela passagem de viaturas pesadas nas suas adjacências;
- ao se tracionar um fio de "nylon", cabo ou cordel denominado genericamente de
arame de tropeço preso à mina ou armadilha;
- ao se deslocar ou levantar um objeto qualquer sob o qual exista uma mina ou
armadilha oculta;
- ao se fechar um circuito elétrico qualquer ligado a uma mina ou armadilha oculta
como, por exemplo, ao se ligar um interruptor de luz; e
- pela indução de campo eletromagnético como, por exemplo, pela passagem de
viatura nas imediações da mina ou armadilha.
Como podemos observar, praticamente qualquer ação ou movimento pode ocasionar
o acionamento de uma mina ou armadilha. Portanto, toda área suspeita de estar
minada ou armadilhada deve ser isolada e só liberada após a sua limpeza por
elementos especializados.
5.6.2 - Localização
Locais mais prováveis para lançamento de minas e armadilhas:
áreas que estejam sendo utilizadas para plantio ou estradas, dando preferência às
pavimentadas onde é mais difícil ocultar minas;
- avaliar as distâncias e escolher o itinerário a ser seguido, analisando se é mais
vantajoso deslocar-se para uma destas áreas ou retornar pelo caminho percorrido;
- em viatura, a tropa deverá abandonar e deslocar-se a pé. O intervalo entre os
homens deverá ser de, no mínimo, duzentos metros, para evitar que uma única
detonação cause várias baixas;
- utilize uma baioneta, faca, estaca ou objeto similar como um bastão de sondagem
para demarcar a sua posição. A sonda deverá penetrar no solo em ângulo sempre
inferior a 45º para evitar o acionamento das minas;
- procurar seguir marcas recentes de pneus, lagartas ou pegadas, se for possível
identificá-las com precisão;
- evitar os locais já citados como de provável lançamento de minas ou armadilhas,
buscando indícios, tais como arames de tropeço e pequenas hastes metálicas
enterradas, utilizadas em algumas minas acionadas por pressão;
- não cortar arames de tropeço nem tentar remover minas ou armadilhas,
restringindo-se a demarcar a posição; e
- não arrastar os feridos, pois isto poderá acionar outras minas ou armadilhas; buscar
aproximar-se deles, prestar-lhes os primeiros socorros procurando, principalmente,
conter hemorragias nos membros inferiores e providenciar sua evacuação imediata.
5.7 - CARROS-BOMBA
Essa é uma das mais eficientes formas de atentado contra instalações da ONU com
vistas a provocar destruição e baixas e, conseqüentemente, desestabilização no processo
de paz. Poderá ser conduzido por fanáticos suicidas ou simplesmente pelo abandono do
veículo nas proximidades da instalação para posterior acionamento.
Para o primeiro caso, a instalação de obstáculos periféricos, bem como um eficiente
serviço de posto de controle no acesso principal contribuirá para a redução dos efeitos
do carro-bomba. O Anexo C apresenta esquemas que têm se mostrado eficiente contra
esse tipo de atentado.
No caso de veículos suspeitos abandonados nas proximidades de uma instalação, o
primeiro esforço deverá ser no sentido de rebocá-lo por viatura blindada até um local
onde possa ser neutralizado, sem oferecer riscos à instalação ou à população residente
nas cercanias. Uma vez em local seguro, o ideal é que o veículo seja mantido sob
observação afastada, com avisos bem visíveis quanto aos riscos que oferece.
As medidas acima descritas não esgotam o assunto. O FC, em sua Ordem de Operação,
deve estabelecer instruções especificamente voltadas para as ameaças existentes na área
da missão.
5.8 - MEDIDAS DE SEGURANÇA COMPLEMENTARES
Grande parte das baixas ocorridas em operações militares é produzida por fatores
extrínsecos ao combate ou à atividade militar propriamente dita, como por exemplo:
- más condições sanitárias na área da missão;
- acidentes com viaturas;
- incêndios;
- esgotamento mental, podendo redundar em comportamento agressivo e suicídio;
- acidentes no manuseio de armas e explosivos; e
- acidentes durante atividades de lazer ou administrativas.
Em uma OpPaz, onde não ocorre, em princípio, uma ação direta de um inimigo contra a
ForPaz, os episódios acima listados constituem a quase totalidade das causas de baixas.
Assim, durante a fase de preparação da força e/ou dos UNMO para a operação, um
eficaz trabalho de informação, esclarecimento e adestramento será fundamental para
diminuir a probabilidade de ocorrência de perdas e, ante a sua efetiva concretização,
para que suas conseqüências sejam minimizadas.
Faz-se mister, desde o processo de seleção e adestramento para a missão, a realização de
inspeções de saúde em todo o pessoal envolvido na operação com vistas à recuperação
da plena higidez dos casos mais simples e à substituição daqueles que porventura
apresentem problemas cuja solução transcenda o período de tempo disponível para a
preparação da força. Especial atenção exigirá os distúrbios que tendem a potencializar-
se pelo aumento da tensão emocional e por possíveis alterações climáticas.
São, também, de grande valia as medidas preventivas, tais como a vacinação contra
endemias existentes na área de operação, tratamento dentário e a divulgação de
instruções relativas ao consumo de água e alimentos e o contato com a população civil.
Quanto aos aspectos psicológicos, deverão ser planejadas atividades que mantenham o
risco de depressão afastado. Deve ser considerado que esse estado de espírito, além de
propagar-se rapidamente, contribui para a incidência de atos de indisciplina e de
acidentes. O espírito de unidade e de equipe, a realização de atividades recreativas e
desportivas, a obtenção e manutenção de boas condições de conforto e a abertura de
canais de comunicações dos integrantes da ForPaz com suas famílias, têm enorme valor
para a manutenção de um estado psicológico positivo.
Durante o adestramento, deverão ser enfatizadas as seguintes atividades:
- direção defensiva e em pistas escorregadias;
- prevenção e combate a incêndios;
- resgate e atendimento de vítimas de incêndios, colisões e atropelamentos;
- primeiros socorros;
- precauções no manuseio e transporte de cargas perigosas; e
- manuseio de armamento e munição, que tende a ser muito mais constante que na vida
cotidiana em quartel.
As licenças, especialmente as concedidas na própria área da missão, podem tornar-se,
também, uma fonte de baixas, particularmente após longos períodos de atividade e
tensão. Elas podem conduzir a comportamentos inadequados como, por exemplo, o
consumo excessivo de álcool e brigas com membros da população local, episódios esses
que, geralmente, têm desfecho desfavorável e, por vezes, trágico. Deverão ser
distribuídas instruções específicas para a conduta fora de serviço, durante a preparação
para a operação, sendo devidamente reforçadas às vésperas das licenças. As
transgressões que porventura ocorram deverão ser tratadas com o rigor disciplinar
correspondente, podendo, em determinadas circunstâncias, levar ao repatriamento dos
militares envolvidos.
CAPÍTULO 6
CONSIDERAÇÕES BÁSICAS ATINENTES AO OBSERVADOR MILITAR
6.1 - HABILIDADES REQUERIDAS
O adestramento individual para tarefas de integrantes de OpPaz deve privilegiar o
desenvolvimento de características, tais como a paciência, a flexibilidade, a
autodisciplina, o profissionalismo, a imparcialidade, o tato e a capacidade de inquirição.
6.1.1 - Paciência
Uma tentativa de acelerar o ritmo das negociações pode vir a prejudicar seu
resultado. Isto é verdade não só nos altos escalões, mas, também, nos escalões mais
baixos, onde as dissidências locais são, freqüentemente, resolvidas pelos UNMO.
6.1.2 - Flexibilidade
É necessário examinar cada face de um problema e explorar cada possível linha de
ação ou solução que não viole o mandato ou o acordo de paz celebrado pelas partes.
6.1.3 - Autodisciplina
Uma conduta alerta e profissional, bom comportamento e cortesia, estando ou não a
serviço, promovem o respeito e admiração pelo UNMO. À medida que as partes em
conflito reservam um grande respeito com relação aos UNMO, estarão mais
susceptíveis a considerar suas recomendações e respeitar sua autoridade em uma
crise. A autodisciplina facilita as tarefas.
6.1.4 - Profissionalismo
Um forte profissionalismo deve ser mostrado em todas as situações, estando ou não
a serviço. As partes em conflito são mais susceptíveis a aceitar os protestos contra
violações e evitar confrontações com as Nações Unidas quando esta possuir uma
reputação de precisão e competência. No entanto, essa credibilidade pode ser
significativamente abalada por falta de profissionalismo dos UNMO, o que poderá
afetar seu relacionamento com as partes em conflito.
6.1.5 - Imparcialidade
Um UNMO deve resguardar-se quanto a conceder tratamento diferenciado às partes,
bem como evitar declarações não oficiais que venham a gerar controvérsia e possam
atingir audiência não pretendida. Estes comentários podem redundar em pedido
formal de desculpas e, até mesmo, em uma pressão para o repatriamento do UNMO.
6.1.6 - Tato
As partes em conflito são sensíveis a declarações descuidadas que possam ser vistas
esperada de um UNMO não difere muito da exigida em seu país de origem. O CMO
julgará as violações, podendo o militar ser punido com a repatriação.
A ingestão de bebida alcoólica é contra-indicada, por ser prejudicial à segurança, à
saúde e à boa conduta.
A população local deve ser tratada corretamente, devendo ser observadas as normas de
conduta social e os costumes da área da missão. Normalmente, os habitantes das áreas
em conflito recebem de maneira cortês os membros das Nações Unidas, uma vez que foi
o governo local que solicitou a presença da ONU e que existe um acordo entre as partes
em conflito que permitiu o envio dos UNMO.
Dirigir-se à população local à maneira deles, usando expressões locais para saudações e
gestos, é sempre um bom início de um relacionamento amigável com os seus prováveis
vizinhos de uma longa jornada. Porém, deve-se ter cuidado com visitas às residências
locais e o relacionamento com a população feminina. Tem-se notícia de que muitos
problemas sociais envolvendo UNMO originaram-se em uma dessas duas situações.
Compete ao CMO autorizar visitas às residências locais, em função da situação vigente.
A ONU, normalmente, utiliza-se de mão-de-obra local para realizar diversos serviços.
Deve-se observar, portanto, que o contato com essas pessoas deve restringir-se ao
necessário ao serviço. Somente o CMS, ou funcionários por ele designados, estará
autorizado a fornecer informações, visando às futuras contratações de mão-de-obra.
Normalmente, são empregados intérpretes e guias locais. Recomenda-se evitar divergir
de qualquer ponto que esses elementos, supõe-se, devam conhecer. Por outro lado,
intérpretes agem, às vezes, como informantes do governo local ou das partes envolvidas
no conflito.
É vedada, na maioria das vezes, a utilização de câmeras filmadoras e fotográficas. Deve-
se ter especial atenção às normas da OpPaz à qual irá compor e aos costumes dos países
onde os UNMO serão empregados.
Os UNMO, normalmente, não são autorizados a portar armamento militar, muito menos
armas particulares, enquanto estiverem a serviço das Nações Unidas. O porte de arma
para os UNMO será regulado pelo mandato ou outros documentos da ONU que dão
amparo legal para a OMP. Privilégios e imunidades estão definidas em uma Convenção
de Imunidades e Privilégios das Nações Unidas, a qual o UNMO terá acesso tão logo se
apresente na área da missão. O Secretário-Geral reserva-se o direito de cassar essa
imunidade, caso venha a prejudicar o curso de uma investigação sobre um UNMO que
atuação do militar;
- equipagem individual básica de combate;
- documentos relativos à OpPaz à qual integrar-se-á;
- objetos e roupas de uso individual;
- material de higiene e de primeiros socorros, considerando medicamentos de uso
rotineiro que não exijam receituário médico; e
- quaisquer outras julgadas necessárias como, por exemplo, telefones para contatos
etc.
6.4.3 - Documentos
Para o deslocamento inicial, o passaporte, com os vistos requeridos pelos países por
onde o UNMO vai passar, cartão de vacinação, com pelo menos a vacina contra a
febre amarela em dia, são imprescindíveis para viagens internacionais. Esses
documentos individuais, a serem conduzidos para a área da missão, variam
conforme as exigências específicas de um determinado país, às quais o UNMO deve
adequar-se.
Além desses, o UNMO receberá vários documentos contendo as normas específicas
da OpPaz à qual vai pertencer. Ao chegar na área da missão, o UNMO será
recepcionado pelo Oficial de Ligação (Liason Officer - LO) - que, no aeroporto, o
apoiará junto ao protocolo, facilitando o seu ingresso no país e o desembaraço de sua
bagagem. O SMO e o CPO irão providenciar a identificação do UNMO e sua
carteira de habilitação para conduzir determinadas viaturas. O UNMO terá uma série
de formulários a preencher e assinar, incluindo um seguro de vida, no qual há a
previsão de uma compensação por falecimento, acidentes ou doenças e até por
perdas de objetos pessoais.
Este período, normalmente de duas semanas, é denominado check-in.
Os documentos comumente utilizados são:
a) Documentos e relatórios ligados à missão
Planos e Ordens de Operação, Daily Situation Report (Relatório Diário de
Situação), o Patrol Report (Relatório de Patrulha), Significant Incident Report
(Relatório de Incidentes), Location Chart UNMO (Tabela de Organização e
Emprego de Pessoal), Daily Report (Relatório Diário) e Efficienty Report
(Relatório de Avaliação Individual).
b) Documentos normativos
Mandato da Operação de Paz, Resolução da ONU, Procedimentos Operativos
(SOP), Vehicle Support Plan (Plano de Emprego e Movimentação de Viaturas),
Planos de Segurança e Planos de Evacuação.
c) Documentos administrativos
Casualty Report (Relatórios Médicos), Leave and Compensatory - Time-Off
Forms (Papeletas de Licença), Voucher For Reimbursement of Expenses
(Formulário para reembolso de despesas efetuadas em viagens, e não cobertas
pelas diárias da ONU) e Military Subsistance Allowance Form (Bilhete de
Pagamento da ONU).
CAPÍTULO 7
TAREFAS DO OBSERVADOR MILITAR
7.1 - GENERALIDADES
Na maioria das OpPaz, os UNMO viverão em ambientes hostis, atuarão desarmados e,
portanto, estarão constantemente submetidos a situações de risco. Estarão submetidos à
convivência com UNMO de diferentes hábitos, cultura e religiões. Não raro, terão que
atuar afastados de seus compatriotas desde o início da missão. Tudo isso provocará um
choque a ser rapidamente superado. Portanto, a boa preparação física, psicológica e
técnico-profissional é fundamental.
Normalmente, as primeiras semanas são dedicadas às atividades de adestramento e
familiarização com a missão, com a área, com os demais contingentes e com os recursos
de que disporá o novo UNMO para o cumprimento de suas tarefas. A esse período, dá-
se o nome de check-in.
Os turnos de trabalho, normalmente, exigem uma disponibilidade durante as vinte e
quatro horas do dia e os sete dias da semana, ou seja, durante o período de tempo em
que o UNMO estiver na área da missão as folgas são raras. Estas folgas, quando
possível, serão previamente estabelecidas pelo CPO, depois de determinadas pelo CMO,
podendo ser usufruídas após um determinado período de efetivo serviço. Os horários de
efetivo serviço serão determinados pelo COO, sendo disseminados por meio das Ordens
de Operação e Planos de Emprego de Patrulhas. Os UNMO concorrerão, ainda, a uma
escala de Oficial de Serviço, coordenada pelo representante dos militares do setor
(SMO), no HQ, Setor ou PC.
Caso a equipe esteja sendo empregada em um OP, PTran ou Área de Reunião e
Desmobilização, ou seja, fixa em uma determinada área de responsabilidade, o TL será
o responsável por determinar as tarefas a serem realizadas e o detalhe semanal de
serviço.
A transmissão e a recepção de mensagens, por rádio ou telefone, é dificultada pelo
emprego de outro idioma e pela variedade de sotaques. Por isso, é fundamental a
familiarização com os tipos de mensagens padronizadas, bem como a fluência escrita e
oral na língua inglesa.
As tarefas normalmente atribuídas aos UNMO são as de monitoramento de fronteiras,
áreas de responsabilidade, zonas desmilitarizadas, verificação de desarmamento e
desmobilização de tropas ou milícias, trocas de prisioneiros, movimentação de tropas
f) Linhas de separação
São linhas que limitam a Área de Separação de um lado e de outro. Devem ser
permanentemente fiscalizadas quanto a possíveis violações.
7.4.3 - Condução das inspeções
As inspeções devem ser conduzidas informalmente e de maneira colaborativa, tendo
como fundamentos a transparência, a imparcialidade e, das partes em conflito, a
cooperação. Podem ser feitas espontaneamente, geradas por denúncias de violação
ou, ainda, por solicitação de uma das partes, como demonstração de boa-vontade.
Uma inspeção pode ser conduzida por qualquer pessoa a serviço da ONU, seja ela
civil ou militar.
Qualquer integrante da ONU que tome conhecimento de um fato ocorrido cabível de
inspeção, deve iniciá-la, ainda que em ausência de instruções específicas. É
desejável que as partes envolvidas participem das inspeções. Assim, é de boa prática
que uma inspeção seja anunciada às partes em conflito, inclusive quanto ao
momento de seu início. Contudo, o impedimento de uma delas não deve ser motivo
de postergação.
7.4.4 - Razões para uma inspeção
As seguintes situações podem ensejar uma inspeção:
- movimentação de tropas;
- lançamento de minas;
- ataques a uma das partes em conflito;
- ação ou presença de patrulhas em áreas alheias;
- ações de sabotagem;
- ocupação de novas posições por partes em conflito;
- imposição de restrições de movimentos;
- surgimento ou construção de novas fortificações; e
- contrabando ou tráfico de armas e explosivos.
7.4.5 - Tipos de inspeções
a) Periódicas
Executadas com intervalos não maiores que quinze dias conforme acordos
assinados.
b) Especiais
Levadas a cabo a pedido de alguma das partes.
c) Diárias
Conduzidas como suplementação dos dados recolhidos durante as inspeções
periódicas ou como resultado das patrulhas diárias.
7.4.6 - Objetivos de uma inspeção
Os seguintes dados deverão ser considerados em uma inspeção:
- identificação das fontes, com nomes, atividade desempenhada, telefone e endereço;
- sua relação com as partes em conflito;
- local, data e hora do ocorrido;
- hora de início e término do fato;
- natureza do problema;
- ações adotadas pela equipe de inspeção; e
- solução adotada.
7.4.7 - Preparação de uma inspeção
Uma inspeção não deverá ser realizada por menos de dois observadores, sendo pelo
menos um deles experiente na missão. Também deverão ser de nacionalidades
diferentes em observância ao princípio de equilíbrio de nacionalidades. Os UNMO
designados deverão receber uma carta topográfica atualizada, contendo informações
gráficas dos detalhes conhecidos como, por exemplo, o posicionamento das forças,
localização de campos minados e outros. A tarefa da Equipe será inspecionar todas
as posições e instalações existentes no setor determinado. Dentro do princípio da
oportunidade, a Equipe terá ainda a tarefa de efetuar reconhecimento mais detalhado
de seu setor com vistas à atualização dos dados da carta recebida.
Em determinadas situações, as Equipes de Inspeção precisarão ser apoiadas com
meios de transporte não pertencentes à ONU. Para evitar que sejam acidentalmente
atacadas, esses meios, sejam terrestres, aquáticos ou aéreos, deverão portar
provisoriamente algum tipo de identificação da ONU em local visível e
suficientemente grande para ser percebido à distância. Os manuais da ONU dispõem
de instruções específicas para esses casos.
7.4.8 - Briefing
Antes de uma inspeção ocorrer, deverá ser feito um briefing pela Seção de
Operações, no qual será passado aos UNMO um resumo da situação do setor a ser
inspecionado, detalhes a respeito da última inspeção realizada, condições do terreno
e qualquer outra informação que possa ajudar os UNMO na inspeção.
7.5.4 - Relatórios
Os relatórios devem ser claros e concisos. Não se deve reportar conjecturas ou
opiniões pessoais. Qualquer conclusão deve estar apoiada em fatos.
Ao final da investigação, o relatório escrito será encaminhado à autoridade que o
determinou. Seu conteúdo será a base para a confecção de documentos decorrentes,
os quais serão encaminhados à sede da ONU, às facções envolvidas e a outros
órgãos e instituições porventura interessados. Normalmente, incluirá:
- a documentação de referência;
- a descrição ampla da situação que gerou a necessidade da investigação;
- as ações da Equipe de Investigação;
- declarações das lideranças das partes envolvidas julgadas pertinentes;
- cartas, croquis, fotografias, evidências materiais, entre outros registros e materiais
afetos ao fato investigado; e
- conclusões da Equipe de Investigação.
7.6 - CONDUÇÃO DAS NEGOCIAÇÕES/MEDIAÇÕES
7.6.1 - Princípios básicos
As mediações e negociações são instrumentos muito utilizados nas OpPaz.
Negociações são especialmente importantes no sentido de se atingir determinado
objetivo sem o uso da força militar ou resolver disputas entre as partes antes do
emprego de armas. Negociações podem ser conduzidas a qualquer momento durante
o conflito e são uma importante parte das OpPaz.
Uma negociação, freqüentemente, tem uma duração longa. Para evitar que se
estenda desnecessariamente, o seu propósito deve estar perfeitamente definido e
enunciado em termos de metas tangíveis.
7.6.2 - Preparação para uma negociação
Os UNMO envolvidos em uma negociação devem ter conhecimento prévio das
atitudes, pontos de vistas e problemas que poderão surgir durante a mesma. Uma
cuidadosa preparação é de suma importância para o sucesso de uma negociação,
devendo incluir:
- investigações para verificar se o assunto em pauta já foi discutido e/ou acordado
anteriormente;
- a constatação se anteriormente já foram feitos acordos pelas partes envolvidas na
questão;
Não devem ser feitas promessas ou acordos com nenhuma das partes, a menos que
haja autorização superior para tal. Não deve ser fornecida informação sobre qualquer
das partes para a outra. Um UNMO deve primar pela imparcialidade.
Deve-se impedir que representantes de qualquer das partes expressem suas opiniões
a respeito da conduta moral ou política da outra parte. As partes devem ser levadas a
aceitar a solução previamente preparada e proposta pelos componentes da ForPaz.
Nesta iniciativa, mostra-se particularmente útil a referência a acordos, práticas
passadas e pronunciamentos anteriores de ambas as partes.
A reunião de negociação deve ser encerrada repetindo-se para os representantes das
partes o que foi acordado. Isso posto, ambas as partes devem ser questionadas se
estão de acordo com o que foi lido. Uma vez obtida a afirmativa, devem ser
alertadas de que os resultados obtidos serão utilizados para futuras negociações.
Esse encerramento deve ocorrer em um clima de cortesia promovido pelos UNMO,
ressaltando-se os progressos obtidos e exortando-se as partes a refletirem sobre as
renúncias que levem à solução de aspectos pendentes da negociação. O local, a data
e o horário da próxima reunião, se possível, deverão ser estabelecidos nessa ocasião.
Finalmente, ao retornar à sua base, a Equipe de Negociação relatará verbalmente os
progressos e os entraves da reunião ao CMO, caso o próprio não tenha tomado parte
da reunião. Um relatório deverá ser elaborado, conforme orientação do seu escalão
superior, e remetido aos responsáveis pela implementação dos resultados.
CAPÍTULO 8
O BATALHÃO DE PROTEÇÃO E OUTROS GptOpFuzNav NAS OPERAÇÕES DE PAZ
8.1 - GENERALIDADES
As publicações MD34-M-02 e EMA-402 descrevem, em linhas gerais, os aspectos
básicos do UNSAS e a participação brasileira acordada por nossos representantes.
A adesão do Brasil ao citado sistema impôs a necessidade de manter em condição de
pronto emprego uma parte do poder militar, tanto em termos de pessoal quanto de
material. No âmbito da Marinha do Brasil, julgou-se adequado que fosse posto à
disposição da ONU um GptOpFuzNav denominado Batalhão de Proteção (BtlPtç) – ou,
ainda, BRAMARB - e uma Unidade Médica Nível 2, cada qual com sua organização
descrita detalhadamente em documentos produzidos pelo ComFFE e pela Diretoria de
Saúde da Marinha (DSM), respectivamente.
As disposições sobre a organização e emprego do BtlPtç, nos termos acordados no
UNSAS, é da alçada do Comando de Operações Navais (ComOpNav), cabendo ao
CGCFN prover, no que lhe couber, o apoio necessário à sua ativação e preparação.
Cabe ressaltar que o UNSAS não impõe ao país a obrigatoriedade de participar em todas
as OpPaz desencadeadas. Para cada operação, haverá um convite à participação, o qual
será aceito ou não pelo país contribuinte, conforme ditarem os seus interesses naquele
determinado conflito ou crise. Tampouco há a obrigatoriedade de que, uma vez aceita a
participação, esta venha a dar-se com exatamente a força posta à disposição no UNSAS.
Igualmente, os interesses nacionais e as possibilidades econômicas e militares do país no
momento da proposta de participação poderão determinar alterações na constituição da
força a ser efetivamente empregada.
8.2 - O BATALHÃO DE PROTEÇÃO
O BtlPtç é um GptOpFuzNav de características especiais, posto que aplica o conceito de
componentes de forma a adequar-se às especificidades de sua missão. É nucleado em
torno de um Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais (BtlInfFuzNav). Sua
denominação advém de uma tradução adaptada da nomenclatura Protected Infantry
Battalion, adotada pela ONU para as unidades de infantaria empregadas em OpPaz sob
sua égide. A organização e os meios do BtlPtç são produto da adaptação da constituição
recomendada pela ONU para as unidades de infantaria às especificidades das unidades
da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE), a quem cabe a tarefa de organizar, mobilizar
e aprestar esse GptOpFuzNav.
Ao BtlPtç caberão as mesmas tarefas visualizadas pela ONU para unidades dessa
natureza, quais sejam:
- conduzir atividades de busca, patrulhamento, observação, supervisão;
- monitoração e relato de situações;
- conduzir operações tipo polícia;
- evacuar áreas;
- desdobrar preventivamente a força;
- estabelecer e manter áreas de segurança;
- participar na desmobilização, desarmamento e reintegração (DDR) de facções
litigantes;
- cooperar para o atendimento de necessidades críticas da população;
- controlar determinadas áreas terrestres, marítimas ou ribeirinhas;
- exercer a vigilância e o controle de determinado espaço aéreo;
- cumprir sanções ou embargos;
- contribuir para a assistência humanitária;
- prestar assistência a refugiados e deslocados;
- estabelecer um local neutro para negociações de paz;
- dirigir negociações locais entre as facções envolvidas;
- efetuar operações de desminagem;
- executar operações de evacuação;
- respaldar a ação diplomática pela presença;
- interpor-se entre forças oponentes;
- executar operações de transporte de carga, pessoal ou material;
- atuar no espectro eletromagnético;
- prover apoio de fogo, caso sejam imprescindíveis para o exercício do direito de
autodefesa das forças da ONU em terra;
- alojar temporariamente tropas da ONU;
- prover segurança a instalações e autoridades;
- realizar escolta de comboios e de autoridades;
- realizar a destruição de material bélico capturado ou apreendido;
- realizar trabalhos de engenharia de construção; e
- outras missões previstas no Mandato das Nações Unidas.
estabelece como premissa que a inserção de uma nova unidade ou força em uma
operação em curso não se dá, sob o ponto de vista logístico, de forma imediata.
Assim, é solicitado aos países que contribuem com tropa para uma determinada
OpPaz, que preparem seus contingentes de modo a manterem-se desdobrados na área
da missão sem contar, inicialmente, com a infra-estrutura logística estabelecida ou a
estabelecer-se. Os entendimentos oficiais definem a autonomia em número de dias
para determinados itens de suprimentos.
Outro requisito de grande importância para a constituição do BtlPtç é a capacidade
de pronta resposta, pois, em muitos casos, a demora no envio dos contingentes pode
representar a perda de oportunidade no desencadeamento da operação, resultando no
seu fracasso ou inexeqüibilidade.
Estes dois aspectos combinados aumentam, em muito, o esforço de ativação e
mobilização de meios para o BtlPtç. O instrumento de adesão do Brasil ao UNSAS
prevê um tempo de resposta de trinta dias após a formalização de sua participação,
com uma autonomia logística inicial de sessenta dias. Não obstante, documentação
mais recente da ONU tem recomendado a previsão de uma autonomia logística
inicial de noventa dias, em vista da dificuldade de organização do apoio logístico em
áreas submetidas a longos conflitos, que tenham degradado a infra-estrutura local.
No capítulo 10, esses aspectos são mais precisamente detalhados.
8.4 - OUTROS GptOpFuzNav EM OPERAÇÕES DE PAZ
Embora o BtlPtç seja o GptOpFuzNav padrão para emprego em OpPaz, conforme já
mencionado, o UNSAS é suficientemente flexível para permitir aos países participantes
adaptar-se à situação e aos interesses vigentes no momento da operação. O contingente
acordado por ocasião da adesão do país ao mencionado sistema deve ser considerado
como uma referência, que tem o propósito de facilitar o planejamento inicial, tanto do
país contribuinte como da própria ONU, em particular de seu DPKO, cuja constituição
está apresentada no Anexo A.
Mesmo nos casos onde o GptOpFuzNav não corresponda exatamente ao preconizado
para o BtlPtç, este será sempre organizado em um Componente de Comando (CC), um
Componente de Combate Terrestre (CCT), um Componente de Apoio de Serviços ao
Combate (CASC) e outros Componentes se for o caso. O ponto fundamental em
questão, é dotar o GptOpFuzNav de capacidade de comando, controle e planejamento,
não importando o valor de tropa do seu CCT, de modo que, ao ser inserido em uma
CAPÍTULO 9
COMANDO E CONTROLE NO BATALHÃO DE PROTEÇÃO E EM OUTROS
GptOpFuzNav
9.1 - CADEIA DE COMANDO
A ONU é uma instituição que não dispõe de uma estrutura hierárquica militar nem de
Estado-Maior que possa planejar e conduzir as OpPaz, sob o ponto de vista militar.
Estas operações têm sido controladas politicamente pelo Conselho de Segurança, por
intermédio do Secretário-Geral, a quem cabe a supervisão geral das ações, contando,
para exercê-la, com o assessoramento de especialistas militares.
No nível estratégico, a organização, o desenvolvimento e o acompanhamento das OpPaz
são da responsabilidade do Secretário-Geral. No nível operacional, tal autoridade cabe
ao SRSG ou ao FC, os quais devem informar ao Secretário-Geral os progressos obtidos
na OpPaz. Com base nessas informações, transmitidas pelo Secretário-Geral ao
Conselho de Segurança a cada semestre, este decide sobre o orçamento a ser
disponibilizado para a OpPaz, bem como avalia sobre o tempo remanescente da
Operação necessário à solução da crise.
O FC é responsável pela disciplina dos integrantes da ForPaz. Porém, nos casos de
contravenção disciplinar, tem poderes somente para determinar a apuração dos fatos,
cabendo a aplicação das sanções disciplinares aos Chefes de Contingentes Nacionais. O
FC pode, também, solicitar ao encarregado do Departamento de Assuntos Políticos a
repatriação do militar ou funcionário civil que tenha contrariado princípios disciplinares
estabelecidos para uma OpPaz.
9.2 - RELAÇÕES DE COMANDO NOS GptOpFuzNav
O capítulo 2 menciona as relações de comando que podem existir em uma OpPaz. E
esse é mais um dos pontos a serem estudados e acordados entre a ONU e os países
contribuintes, uma vez que a aceitação por parte dos últimos de determinado grau de
autoridade concedido a um FC implicará na aceitação de maior ou menor grau de
interferência nacional sobre o seu contingente.
Apesar de ainda não existir uma doutrina que estabeleça uma rígida cadeia de comando
a ser obedecida em OpPaz, um GptOpFuzNav, ao participar desse tipo de operação, é
inserido na ForPaz constituída e cumprirá, na medida do possível, o preconizado pela
publicação MD33-M-03 - Doutrina Básica de Comando Combinado. Normalmente, será
colocado sob controle operacional do seu Comandante Imediatamente Superior, tal
como definido pela publicação supracitada, e exercerá este mesmo grau de autoridade
sobre contingentes de outras nacionalidades, porventura postos sob sua subordinação.
9.3 - SISTEMA DE COMUNICAÇÕES
O propósito de um sistema de comunicações é fornecer os meios para que o comandante
exerça o comando dos seus elementos subordinados. Diferentemente dos meios
empregados por UNMO em missão de observação ou verificação, onde os meios
utilizados são essencialmente fornecidos pela ONU, os GptOpFuzNav empregarão os
seus meios orgânicos. Isso exigirá os seguintes cuidados prévios:
- verificação das possibilidades de integração com os meios empregados por outros
integrantes militares do Contingente Nacional;
- avaliação dos limites da integração com sistemas de outras nações e sistemas
utilizados pela ONU, com vistas a evitar o comprometimento de nossos sistemas;
- diversificação desse sistema em cada escalão;
- previsão de fontes de alimentação para todo o sistema, a fim de que não se perca a
oportunidade na transmissão das informações; e
- adoção de medidas preventivas, a fim de reduzir-se a possibilidade de monitoramento
das redes utilizadas.
O Oficial de Comunicações de uma Unidade componente de uma ForPaz e seu pessoal
especializado são os responsáveis pela implementação dos meios de comunicações
disponíveis e a sua correta utilização.
9.3.1 - Tráfego
Embora não se trate de uma operação de guerra, o controle do tráfego de
comunicações não deve ser visto como uma simples rotina. Ele proporcionará,
sobretudo, um significativo aumento na segurança de todos os envolvidos na
operação. É essencial que todos os utilizadores estejam familiarizados com os
procedimentos adotados para as comunicações.
9.3.2 - Redes-rádio
Um GptOpFuzNav poderá ter equipes de UNMO operando em sua área de
responsabilidade ou sob o seu controle. Neste caso, a equipe tornar-se-á assinante da
rede-rádio do GptOpFuzNav, podendo ser colocados à sua disposição meios de
comunicações, depois de devidamente avaliados os riscos de segurança para o
sistema.
intermédio da coleta, ou seja, da obtenção de dados que não são protegidos por
medidas de sigilo e segurança e que não exigem o emprego de técnicas especiais para
sua aquisição.
A busca e a coleta de dados são obtidas das seguintes fontes ou equipes de operações
de inteligência:
- postos de observação e de controle de trânsito;
- patrulhas;
- informantes
- governo e população local;
- relatórios de agências da ONU;
- mídia local;
- turistas em trânsito na área da missão;
- UNMO e serviços de polícia; e
- Organizações não-Governamentais.
9.4.3 - Conhecimentos compartilhados
Os conhecimentos produzidos no âmbito de cada Unidade dispersa na área da missão
devem ser enviados por meio do DSR, segundo o trâmite estabelecido pelo FC.
Haverá situações em que se utilizará uma ONG para a obtenção de conhecimentos
importantes sobre a situação política na área da missão. Neste caso, a informação
deverá ser analisada, compartimentadamente, com o intuito de se obter tão somente o
conhecimento útil para a OpPaz.
É normal nas áreas de conflitos, a presença de agências de ajuda humanitária da
ONU como, por exemplo, o Programa de Alimentação Mundial (World for Food -
WFF) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (United Nations Children’s Fund
– UNICEF). Outras organizações como, por exemplo, a Cruz Vermelha e os Médicos
sem Fronteiras, também desenvolvem trabalhos naquelas áreas. É factível que todas
essas agências atuem em regiões de interesse da missão militar da ONU e vice-versa,
sendo, portanto, rotineira a troca de informações com as mesmas.
9.5 - CONTRA-INTELIGÊNCIA
9.5.1 - Conceitos básicos
Contra-Inteligência é o segmento da atividade de inteligência objetivamente voltado
para a salvaguarda de conhecimentos de nosso interesse. A ONU trata a contra-
inteligência não somente para preservar conhecimentos, mas para a garantia das
condições individuais dos seus membros componentes, assim como do país anfitrião.
As medidas de contra-inteligência são compreendidas em dois grupos: Segurança
Orgânica e Segurança Ativa/Contra-Espionagem. Como segurança orgânica entendam-
se as medidas a serem adotadas para prevenir-se contra as atividades de inteligência ou
informações, infiltrações de civis, sabotagens, subversão, contra-propaganda e
seqüestros. Dentre as medidas de contra-espionagem, a ONU preocupa-se apenas em
evitar vazamentos de informações que venham a prejudicar uma operação em curso.
Especial atenção deverá ser dada em relação ao pessoal civil da mesma nacionalidade
do país anfitrião trabalhando para a ONU (local staff). Como medida de precaução a
ONU proíbe a presença de qualquer local staff nas dependências do JMAC.
9.5.2 - Contra-inteligência nas tropas regulares
Quando batalhões são empregados em uma OpPaz, a contra-inteligência é realizada
até o nível pelotão, onde os comandantes de pelotão, os imediatos de companhias e o
oficial de operações são os oficiais de segurança do batalhão. As tarefas de segurança
e defesa de perímetro, normalmente atribuídas a estas unidades, visam a prevenir as
infiltrações de civis para obtenção de informações, planos ou conhecimentos que
possam ser úteis aos partidos envolvidos no conflito, bem como proteger o pessoal
da ONU e material que tenha sido apreendido.
Os militares desses batalhões são alertados à proibição de tomar parte em atividades
consideradas ilegais, tais como câmbio de dinheiro no mercado paralelo e bebidas,
crítica aos costumes do país hospedeiro, bem como às partes em conflito. Devem ser
alertados, também, para manterem-se neutros, ao emitirem qualquer opinião,
principalmente nos contatos autorizados com a imprensa. Devem levar em consideração
a sua segurança pessoal, usando, sempre, o colete, o capacete e os sinais da ONU
previstos no SOFA para a salvaguarda de sua atuação. A segurança das instalações e das
comunicações deve ser realizada, em primeiro lugar, pelos militares que nelas
desempenham função. Relacionamentos afetivos ou sexuais poderão representar uma
séria ameaça à segurança da informação e à receptividade da população local em relação
CAPÍTULO 10
O APOIO LOGÍSTICO NAS OPERAÇÕES DE PAZ
10.1 - GENERALIDADES
As OpPaz são realizadas fora do Território Nacional, com os contingentes atuando
distantes de suas bases. Por isso, a contribuição para as OpPaz, encontra sempre
grandes entraves nos aspectos orçamentários e logísticos. Especificamente no caso
militar, esses entraves assumem um vulto maior, uma vez que é bastante dispendioso
preparar, equipar, transportar e manter tropas fora do território nacional. Assim, como
uma forma de estimular a contribuição dos países-membros, a ONU divide com eles as
responsabilidades logísticas pelos expedientes do reembolso e do fornecimento de
determinadas classes de suprimento. Tal divisão é especificada em acordos prévios e,
especificamente no caso de uma OpPaz, em particular, no MOU que dela tratar.
Outro aspecto a ser observado é a presença de contingentes de países diversos atuando
juntos. Essa peculiaridade apresenta óbices ao Apoio Logístico (ApLog) nos aspectos
sob a responsabilidade da ONU, uma vez que esses contingentes portarão material
diversificado e terão diferentes hábitos. Isso, de certa forma, obriga a ONU a restringir
o apoio logístico aos aspectos que sejam comuns.
10.2 - CONCEITUAÇÃO BÁSICA
10.2.1 - Sistema de reembolso da ONU
É o procedimento de reembolsar os países contribuintes no que diz respeito à
depreciação do material empregado, pagamento de pessoal e despesas com
transporte para as áreas de missão e de regresso ao país de origem.
10.2.2 - Categorias de reembolso
a) Major Equipment (ME)
Enquadra, genericamente, viaturas e máquinas de emprego genuinamente militar
e itens de equipagem de uso coletivo, bem como as taxas de reembolso para a
sua caracterização para a missão e por sua depreciação pelo uso.
As taxas de reembolso pelos ME constarão do MOU, ficando este condicionado
à disponibilidade do equipamento. O limite de indisponibilidade por categoria de
ME é de 10% e o limite de tempo de indisponibilidade sem penalização é de 24
horas.
b) Special Cases
Enquadra material ainda não catalogado como Major Equipment, mas cujo
g) Wet Leasing
Opção pela qual o país contribuinte fornece os equipamentos, seus
sobressalentes e se responsabiliza pela manutenção, tendo, por isso, maior
reembolso. A responsabilidade por prover combustível, óleo e lubrificantes
permanece com a ONU. Em termos práticos, o Wet Leasing constitui-se em uma
excelente oportunidade para um país exercitar sua capacidade de manter forças
operando distantes do seu território. E essa tem sido a opção do Brasil.
h) Dry Leasing
Opção pela qual a ONU fornece os sobressalentes e providencia a manutenção,
reduzindo, com isso, o reembolso.
i) Contingent Owned Equipment Manual (COE)
Publicação que encerra a sistemática de reembolso apresentada, bem como
apresenta tabelas com valores e bases para cálculos do reembolso.
j) Responsabilidade das Nações Unidas
Forma genérica de enquadramento de itens e ações afetas às funções logísticas
previstas no COE ou acordadas no MOU como cabendo à ONU providenciar
desde o início, durante toda a operação ou a partir de um determinado momento
do seu decurso.
l) Responsabilidade nacional
Forma genérica de enquadramento de itens e ações afetas às funções logísticas
previstas no COE ou acordadas no MOU como cabendo ao Brasil providenciar
desde o início, até um determinado momento ou durante toda a operação.
m) Nação especializada
País contribuinte que, por deter abundância em determinados recursos, assume a
responsabilidade por fornecê-los à ForPaz.
10.3 - ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA LOGÍSTICA
10.3.1 - No âmbito da ONU
O Departamento de Logística Operacional (Department of Field Support – DFS) é
o órgão responsável pela logística nas OpPaz, a quem compete as seguintes tarefas:
- estimar, na fase do planejamento, os níveis de abastecimento e equipamentos
necessários à ForPaz e promover os ajustes necessários no decorrer da OpPaz;
- elaborar programas de reabastecimento e apoio às ForPaz;
- estabelecer contatos e acordos com os países contribuintes relativos ao grau de
estrutura da ONU e nas necessidades que possam ser satisfeitas junto ao mercado
local.
10.5 - FUNÇÕES LOGÍSTICAS
10.5.1 - Suprimento
A função logística Suprimento tem como propósito básico proporcionar o fluxo
adequado do material necessário, desde as fontes de obtenção até o usuário. No
caso de uma OpPaz, atingir este propósito torna-se mais complicado, tendo em vista
que a área da missão é, geralmente, distante daquelas fontes. Para que tal
dificuldade possa ser suplantada, faz-se necessário que um planejamento criterioso
seja feito, haja vista que a cadeia de suprimentos envolverá órgãos fora da área da
missão, o que exigirá uma coordenação muito acurada.
Por ocasião da escolha dos equipamentos a serem utilizados por um GptOpFuzNav,
um fator que merece especial atenção é a obtenção de sobressalentes. A aquisição
de sobressalentes para um equipamento fora de linha, ou mesmo um protótipo, pode
ser extremamente difícil, podendo o material vir a ficar inoperante por um longo
período de tempo.
a) Itens de subsistência – Água e Ração
Esses suprimentos serão fornecidos nos prazos, nas quantidades e tipos
acordados com a ONU no MOU ou em outro documento específico. Deve-se,
entretanto, levar em consideração as seguintes observações:
- a possibilidade de retardo, na fase inicial da missão, do fornecimento dos
suprimentos acordados com a ONU, o que recomenda uma capacidade maior de
auto-sustentação de sessenta a noventa dias, conforme descrito no capítulo 8;
- a dificuldade de fornecimento, pela ONU, de itens que façam parte dos hábitos
alimentares do nosso País; e
- a possibilidade de retenção nos terminais, atrasos na recepção ou no
desembaraço dos suprimentos.
- tipos de sintomas;
- procedimentos incluindo o emprego de talas improvisadas;
- venenos e tratamentos; e
- respiração artificial, incluindo a boca-a-boca e a massagem cardíaca.
c) Evacuação médica
Em uma OpPaz, sempre haverá uma cadeia de evacuação perfeitamente
definida. Esta cadeia inicia no apoio elementar e terá o seu final no hospital com
condições de dar o tratamento adequado ao paciente. Hospitais locais podem ser
utilizados como elos desta cadeia, desde que atendam aos requisitos mínimos
necessários.
Os meios de transporte a serem empregados, bem como a política de evacuação
da ONU para determinada missão devem ser de conhecimento de todos os
componentes de uma ForPaz. A operação com helicópteros e outros meios de
transportes deve ser enfatizada por ocasião da preparação da tropa.
d) Higiene
É de suma importância que os componentes de uma ForPaz mantenham um
elevado padrão de higiene. Há uma perda de eficiência quando problemas desta
ordem surgem.
Há dois importantes fatores o pessoal envolvido deve ter atenção especial:
higiene individual e limpeza dos uniformes. Esses hábitos devem ser
estimulados e as condições para isso devem ser proporcionadas pelo comando do
GptOpFuzNav.
Especial atenção deve ser dada à limpeza de roupas de cama, material de rancho
e às áreas de cozinha.
Todo militar componente de ForPaz deve ter em mente que as condições
sanitárias locais não serão satisfatórias e, portanto, todo o cuidado deve ser
tomado no que tange à limpeza de uma maneira geral.
10.5.5 - Recursos Humanos
a) Efetivos, registros e relatórios
Essa atividade é de fundamental importância, pois em se tratando de uma
OpPaz, permitirá a adoção de medidas preventivas visando à manutenção dos
recursos humanos em perfeitas condições de emprego e o aprimoramento da
preparação de novos contingentes e de recompletamentos.
b) Recompletamentos
Trata-se de uma atividade que dependerá, essencialmente, da anterior, pois os
recompletamentos deverão ser preparados, para emprego imediato, dentro das
condições que os esperam na área da missão. É importante a manutenção de um
número de recompletamentos adequado à situação. Normalmente, esses
recompletamentos poderão ser retirados de um contingente substituto em sua
fase de preparação.
c) Moral
O assunto é relevante em toda ForPaz, notadamente quando a situação na área da
missão se apresenta estável por longos períodos de tempo. A tropa se satura com
a rotina e com a formalidade das atividades. Por outro lado, o ambiente difícil e
tenso afeta o condicionamento físico e mental, comprometendo em conseqüência
o moral. É fundamental, portanto, balancear as atividades de recreação com as
tarefas inerentes às OpPaz.
O Comandante de Unidade responde pela manutenção do moral e pelas
atividades de conforto. No desempenho desta tarefa, pode ser auxiliado pelo
Oficial Encarregado do Conforto e pelo Capelão, caso tenham sido previstos na
estrutura organizacional da ForPaz. E, ainda, por seus Comandantes de
Subunidades, pelo Oficial de Treinamento Físico Militar, pelo Oficial de
Relações Públicas e outros. Para tanto, deve buscar aproximação com a tropa,
seja para contatos particulares, seja para debates em conjunto, não só para
solucionar problemas, mas também para trocar idéias e ouvir sugestões.
As atividades de recreação e conforto, planejadas com a máxima participação da
tropa, podem incluir desde a realização de atividades no interior da área da
missão como a instalação de bibliotecas, salas de projeção de filmes, jogos de
salão, serviço postal e de telefonia internacional, acesso à Internet, competições
desportivas e até mesmo o afastamento da área da missão para uma temporada
de relaxamento em uma área alugada ou cedida para tal finalidade. Após um
período de atividades em uma área em conflito, o comandante poderá prever um
rodízio para que o estresse da missão seja aliviado nas áreas de recreação.
O Capelão da Unidade deverá, sempre que possível, visitar as posições ocupadas
pelo pessoal do seu contingente. Uma boa maneira de manter um contato bem
próximo com o homem é pernoitar em cada posição. Discussões em particular
ANEXO A
ORGANOGRAMA DO DEPARTAMENTO DE OPERAÇÕES DE PAZ (DPKO)
ANEXO B
ORIENTAÇÕES GERAIS PARA A INSTRUÇÃO E O ADESTRAMENTO PARA AS
OPERAÇÕES DE PAZ
1. GENERALIDADES
Em uma Área de Missão, estarão atuando lado a lado contingentes militares dos mais
diversos recantos do mundo, portando os mais variados tipos de equipamentos e
originalmente instruídos dentro de diferentes padrões de procedimentos. Portanto, a
interoperabilidade entre esses contingentes é um fator condicionante de extrema importância
para o sucesso de uma OpPaz.
Duas considerações afetas à prontificação merecem destaque especial: a instrução e o
adestramento.
A instrução será basicamente regida por orientações específicas emitidas pela ONU. O
adestramento abrangerá a repetição tanto das orientações da ONU já incorporadas, como
também dos procedimentos operativos próprios dos GptOpFuzNav, que venham a ser
julgados úteis e apropriados às OpPaz.
A instrução e o adestramento para operações de imposição da paz (PKO) deverão pautar-
se, prioritariamente, no emprego de forças em operações de combate típicas, ressalvadas as
diferenças resultantes dos efeitos desejados das operações de imposição da paz que,
normalmente, conduzirão muito mais para a posse ou, em último caso, a conquista de
acidentes capitais, do que para a destruição física de combatentes das partes beligerantes, tal
como explicitado no capítulo 2.
Não obstante, as técnicas específicas das PKO poderão ser úteis para o emprego por
contingentes da MB envolvidos em operações de imposição da paz, particularmente, as
vinculadas com as tarefas normalmente atribuídas ao Batalhão de Proteção.
O pleno desenvolvimento das habilidades militares gerais acima apontadas e a integral
capacidade de aplicação dos procedimentos específicos das OpPaz, constituem requisitos
fundamentais, não apenas para o êxito de tais operações, mas, também, para o aumento da
segurança física de nosso pessoal envolvido.
2. INSTRUÇÃO
A ONU tem estimulado países com experiência nessas operações à elaboração de material
instrucional, os quais são por ela ratificados e disseminados sob sua égide. Isso proporciona
não apenas a preparação de militares e contingentes de tropa sob padrões homogêneos, mas,
também, a prática dos conceitos, das expressões e do linguajar em sua forma original na
língua inglesa, exatamente como serão efetivamente empregados em tais operações. Ressalte-
se, contudo, a necessidade de adoção rigorosa dos procedimentos operativos padronizados
(Guideline Standard Operating Procedures for PKO, ou GSOP-PKO). A não-observância
minuciosa de tais procedimentos pode resultar em sérios questionamentos em caso de
acidentes ou embates com o uso da força por quaisquer das partes envolvidas, particularmente
ante a ocorrência de ferimentos graves, invalidez permanente ou morte, podendo haver
dificuldades para a percepção de seguros e indenizações, ou ainda enquadramento criminal
dos envolvidos.
Durante o período de preparação de um contingente ou de observadores militares (UNMO)
efetivamente designados para uma missão específica, é importante incluir, também, como
objetivo da instrução, o correto entendimento dos aspectos políticos, geográficos, históricos,
religiosos, culturais e de segurança pública e defesa condicionantes, como por exemplo:
- autoridade legal emanada da adesão à Carta das Nações Unidas ou ao documento de
adesão ao organismo intergovernamental patrocinador, caso não seja a ONU;
- especificidades do mandato emitido para a realização da operação;
- resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas atinentes ao caso, se houver;
- relacionamento com os componentes não-militares da missão;
- origens históricas da disputa e suas principais evoluções; e
- fatores físicos e socioeconômicos das partes envolvidas, particularmente: história,
geografia, economia, governo e sistema político, forças militares e paramilitares, forças
policiais e outras instituições de segurança pública, aspectos étnicos, religião, idiomas e
outros aspectos culturais.
3. ADESTRAMENTO
Um adequado aprestamento para a participação em OpPaz requer, além do conhecimento e
da prática dos assuntos a elas peculiares, uma intensificação no adestramento de alguns
aspectos gerais da atividade militar, como por exemplo:
- treinamento físico-militar;
- navegação e leitura de cartas topográficas;
- comunicações;
- higiene e primeiros socorros;
- técnicas de observação;
- controle de distúrbios;
- combate em áreas urbanas;
ANEXO C
SEGURANÇA DAS INSTALAÇÕES E POSIÇÕES DE UMA OPERAÇÃO DE PAZ
ANEXO D
GLOSSÁRIO DE TERMOS, EXPRESSÕES E SIGLAS EMPREGADOS NAS
OPERAÇÕES DE PAZ
1. TERMOS E EXPRESSÕES
Acordo para o Status da Força - é um acordo internacional que demonstra o
relacionamento legal entre contingentes militares de diferentes países e o país anfitrião;
estabelece um padrão de tratamento legal e provê uma base para resolução de problemas
legais gerados pela presença de forças militares estrangeiras em território de um terceiro país.
Área de Operações (Area of Operations – AOp) - área geográfica e seu espaço aéreo
sobrejacente determinada em Acordos de Desengajamento ou em Armistício celebrados entre
as partes em conflito, ou em Relatório do SG, onde são planejadas ou executadas operações
militares integrantes de uma OpPaz.
Armistício - legislação internacional para a suspensão ou temporária interrupção das
hostilidades, obtida pelo entendimento entre as partes em conflito.
Ato Hostil – Ataque ou uso da força contra integrantes de uma ForPaz o qual poderá
resultar em morte ou ferimento grave.
Carta de Assistência - É o documento pelo qual a ONU ou um país contribuinte solicita
um determinado apoio não constante do MOU, gerado por uma situação ou assunto
inopinado.
Conflito - período caracterizado pela confrontação e pela necessidade de engajamento em
hostilidades, além do necessário para assegurar objetivos estratégicos.
Contingente - grupamento temporário de militares de um determinado país, organizado
para cumprir uma determinada tarefa em uma OpPaz.
End State - são as condições político-militares necessárias, definidas como objetivos de
uma OpPaz, cuja consecução materializa o cumprimento da missão atribuída por autoridade
competente. É, em resumo, o efeito desejado.
Força Bruta – nível de força intencionado para causar morte ou ferimento grave sem
qualquer preocupação com qual dos dois deva acontecer.
Força Leve – qualquer uso ou ameaça de uso de meios físicos para forçar obediência sem
que haja risco de morte ou de ferimento grave nos indivíduos contra os quais a força é
dirigida.
Força Mínima - menor grau de força autorizado necessário e razoável para circunstâncias
imediatas.
ANEXO E
EXPLORAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES
1. INSTRUÇÕES GERAIS
Considerando as circunstâncias em que poderão ser exploradas as comunicações e as
dimensões da área da missão, as seguintes regras gerais deverão ser observadas:
- certifique-se de que sua transmissão seja curta e precisa.
- divida sua mensagem em partes com pausas entre elas.
- certifique-se de que ninguém esteja falando na rede.
- enquanto estiver transmitindo, procure pronunciar bem as palavras, num ritmo normal e
em um volume moderado. Não grite.
- evite chamadas excessivas e procedimentos não-oficiais.
- segure o microfone perto da boca.
2. FONÉTICA
Números devem ser transmitidos dígito por dígito, exceto números redondos como
centenas e milhares. Deve ser usado o alfabeto fonético internacional.
NÚMERO
0 zero
1 one
2 two
3 three
4 four
5 five
6 six
7 seven
8 eight
9 nine
MENSAGEM SIGNIFICADO
a. Um erro foi cometido numa transmissão. Eu continuarei com
a transmissão correta.
CORRECTION b. Um erro foi cometido numa transmissão. A versão correta é...
c. O que se segue é a versão correta em resposta ao seu pedido
de verificação.
DISREGARD THIS Esta transmissão é um erro. Desconsidere-a (esta mensagem
TRANSMISSION - não deve ser usada para cancelar mensagens já transmitidas e
OUT que já se tenha a confirmação de recebimento).
END OF MESSAGE
Isto conclui a mensagem recém transmitida.
OVER (OUT)
Fim do texto da mensagem. Esteja pronto para receber
END OF TEXT
instruções a respeito da mesma.
FETCH... Eu desejo falar com esta pessoa ao rádio.
Seguem-se numerais ou algarismos (Não deve ser usada para
FIGURES
codinomes, definições de tempo, direções, distâncias)
FROM (THIS IS..) Esta transmissão é da estação cujo indicativo se segue.
HOW DO YOU
Como me recebe? (Resposta esperada conforme item 4).
HEAR ME?
I SAY AGAIN Vou repetir minha última transmissão.
I SPELL Vou soletrar.
I'LL READ BACK Eu repetirei a leitura da minha última mensagem.
MESSAGE Eu tenho uma mensagem para você.
MESSAGE
Esteja pronto para receber uma mensagem.
FOLLOWS
OUT Este é o final de minha mensagem e não espero retorno.
OUT TO YOU Não responda. Eu não tenho mais nada para você. Outra estação
será chamada.
OVER Este é o final de minha transmissão e aguardo retorno. Prossiga.
RADIO-CHECK Como está a intensidade e legibilidade do meu sinal?-
READ BACK Repita a leitura da sua última mensagem.
RELAY TO Retransmita para.
ROGER Mensagem recebida satisfatoriamente.
ROGER SO FAR? Recebeu esta parte da minha mensagem satisfatoriamente?
SAY AGAIN Repita sua última transmissão.
SEND YOUR
Estou pronto para receber sua mensagem.
MESSAGE
SILENCE Cessem todas as transmissões nessa rede imediatamente.
SILENCE LIFTED Fim do silêncio-rádio. Rede livre para transmissão.
SPEAK SLOWER Transmita mais devagar.
... SPEAKING A pessoa chamada está falando ao rádio.
THROUGH ME Retransmitirei sua mensagem.
Esta mensagem é para a(s) estação(ões) cujo(s) indicativo(s) se
TO
segue(m).
WAIT Aguarde.
WAIT OUT Vou fazer uma pausa longa e lhe chamarei quando pronto.
WILCO Recebi sua mensagem, compreendi e vou executar.
WORDS TWICE Palavras dobradas.
MENSAGEM SIGNIFICADO
WRONG Sua última transmissão está incorreta. O correto é...
YOU ARE... O seu sinal está ... (usar o que vem no próximo item)
4. QUALIDADE DE RECEPÇÃO
INTENSIDADE DE SINAL SIGNIFICADO
LOUD Seu sinal está excelente (alto)
GOOD Seu sinal está bom
WEAK Posso ouvi-lo com dificuldade (fraco)
VERY WEAK Posso ouvi-lo com grande dificuldade (muito fraco)
NOTHING HEARD Não posso ouvi-lo (nada foi ouvido)
LEGIBILIDADE SIGNIFICADO
CLEAR Excelente qualidade (claro)
READABLE Boa qualidade. Sem dificuldades em recebê-lo
DISTORTED Eu tenho dificuldade em recebê-lo devido distorções
WITH INTERFERENCE Eu tenho problemas em recebê-lo devido interferência
UNREADABLE Eu ouço que você transmite mas não posso lhe entender
ANEXO F
ORGANOGRAMA DO DEPARTAMENTO DE LOGÍSTICA OPERACIONAL (DFS)