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a essência deste romance, cujo mercado editorial ditou que tivesse um título
que é, afinal, parcial e pode mesmo influenciar o próprio leitor, contribuin-
do para um julgamento da protagonista Maria Leonor.
Ao pensar no tratamento da temática do mal em Saramago – seja ele
o mal político, o mal religioso, entre várias outras manifestações possíveis
–, poderemos pensar, quase instantaneamente, no Ensaio sobre a Cegueira.
Todavia, o objeto deste ensaio vai muito mais longe. Entre as várias obras
que Nogueira trabalha, sob a problemática apontada, incluem-se: Os Poemas
Possíveis, O Ano de 1993, Alabardas, Levantado do Chão, O Ano da Morte de
Ricardo Reis, O Evangelho segundo Jesus Cristo, A Caverna, etc.
Haverá ainda espaço para um capítulo dedicado a «José Saramago co-
munista na literatura de cordel brasileira», mediante uma leitura compara-
tista com o folheto de cordel José Saramago: Vida e Morte, do autor brasileiro
Medeiros Braga.
A leitura da obra saramaguiana que Nogueira propõe neste ensaio vai
além do diálogo entre a obra do Nobel e as noções da filosofia sobre o mal,
até porque não é sua intenção argumentar que o propósito de Saramago fosse
“isolar e explicar definitivamente a propriedade ou as propriedades intrínse-
cas do mal” (p. 14). Como, aliás, afirma o ensaísta, noutro passo, Saramago
nunca reduz o problema do mal “a fórmulas maniqueístas e triviais” (p. 19).
Carlos Nogueira procurará justamente evidenciar ao longo deste ensaio, me-
diante uma atenta leitura ilustrada por diversas passagens, que nas obras de
Saramago “há uma procura constante de explicações para a natureza do mal,
não apenas (o que, nas grandes obras, já não é pouco) uma representação (e
uma apresentação) dos seus efeitos” (p. 14).
Em jeito de conclusão, destaque-se a forma como muitas vezes o en-
saísta, cuja escrita é aqui assumida na primeira pessoa, tenta dotar a sua
análise com uma fundamentada e humilde confiança, como acontece na
seguinte passagem ilustrativa: “Quero avançar com segurança e clareza, sem
ceder ao impulso das generalizações que ficam sem resposta” (p. 26). E, para
isso mesmo, ao longo do seu texto crítico, é imperativo fundear o seu dis-
curso e análise no próprio texto do autor, recorrendo sempre que possível
a frases ou a citações do próprio Saramago, como libelo contra uma crítica
monológica e tergiversadora, como apontava logo na Introdução deste livro,
numa passagem tão importante que a aproveitamos para assim concluir. E,
também com estas palavras, demonstrar justamente como este ensaio cuja
leitura aqui propomos é de leitura essencial:
“Acredito tanto na boa crítica literária como abomino a má. Aquela
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