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DESIGN DE

SOBRANCELHAS

Jessica Gabriele da Silva Marques


Anatomia da pele e
estrutura dos pelos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer a estrutura anatômica dos pelos.


„„ Explicar a fisiologia do crescimento dos pelos.
„„ Identificar alopecias de sobrancelhas para indicar métodos de corre-
ção/tratamentos adequados.

Introdução
Nos seres humanos, os pelos exercem basicamente função de proteção
mecânica e térmica. Contudo, os pelos que compõem as sobrancelhas
apresentam também a importante função de dar expressividade à face. O
profissional designer de sobrancelhas precisa compreender o mecanismo
e os efeitos da remoção dos pelos, além de saber indicar os métodos de
correção e/ou tratamento adequados a cada cliente.
Neste capítulo, você vai estudar sobre a anatomia dos pelos e a fi-
siologia do ciclo de crescimento. Você também conhecerá os processos
que podem afetar o crescimento dos pelos e alterar a estrutura das
sobrancelhas.

Anatomia da pele e do folículo piloso


Os pelos são estruturas filiformes projetadas na superfície da pele, fazendo
parte do sistema tegumentar, que compreende a membrana cutânea (pele) e
os anexos cutâneos (glândulas sebáceas e sudoríferas, unhas e pelos).
14 Anatomia da pele e estrutura dos pelos

A pele constitui um meio de comunicação com o ambiente e age como


barreira de proteção contra agentes externos que possam causar agressões
físicas, químicas e biológicas. Assim, os pelos também apresentam função de
proporcionar proteção, seja mecânica (principalmente em regiões próximo a
orifícios naturais, como órbitas oculares, narinas e ouvidos) ou térmica (para
evitar exposição aos raios UV).
Para Tortora e Derrickson (2016), a pele é estruturalmente formada por
duas partes principais. Na superfície, encontra-se a epiderme, que é delgada
e composta por tecido epitelial. Logo abaixo, está a derme, mais espessa
e composta por tecido conectivo. Zieri et al. (2014) explicam que os pelos
originam-se de uma invaginação da superfície epidérmica para a derme, que
forma o folículo piloso.
A Figura 1 mostra uma ilustração transversal da pele, em que é possível
observar, além da estrutura e dos componentes das camadas da pele, o posi-
cionamento do folículo piloso e as estruturas associadas a ele.

Haste do pelo

Crista epidérmica
Terminação
nervosa livre
Papila dérmica

Alça capilar Epiderme


Poro sudorífero
Glândula sebácea Região
externa
Músculo eretor do pelo
Folículo piloso Derme
Raiz
Glândula sudorífera écrina
Glândula sudorífera apócrina Região
interna
Tela
Nervo sensorial
subcutânea
Tecido
adiposo
Veia
Artéria

Figura 1. Visão transversal da pele, ilustrando a composição da epiderme e da derme, a tela


subcutânea (hipoderme), as glândulas sudoríferas e a unidade pilossebácea.
Fonte: Adaptada de Vectorism/Shutterstock.com.
Anatomia da pele e estrutura dos pelos 15

Ao folículo piloso estão anexados a glândula sebácea, o músculo eretor do pelo e,


em certas regiões do corpo, o ducto excretor de uma glândula apócrina, formando
a unidade ou o aparelho pilossebáceo. Para compreender melhor essa estrutura,
consulte o Manual de dermatologia clínica (RIVITTI, 2014, p. 8), subtítulo “Estrutura dos
anexos cutâneos”.

Rivitti (2014) explica que a porção intradérmica resultante dessa inva-


ginação é chamada raiz, e que a porção livre, situada na superfície da pele,
é denominada haste. De acordo com Elder (2011), a raiz do folículo piloso
divide-se em três partes, compreendidas longitudinalmente:

1. o segmento inferior, que se estende da base do folículo até a inserção


do músculo eretor do pelo;
2. a porção média, ou istmo, que se estende desde a inserção do músculo
eretor do pelo até a entrada do canal sebáceo;
3. a porção superior, ou infundíbulo, que se estende da entrada do ca-
nal sebáceo até o orifício folicular. Já na superfície da pele, os pelos
apresentam-se como estruturas em forma de haste, ricas em queratina.

No segmento inferior, encontra-se o bulbo piloso, que contém a matriz do


pelo, formada por um conjunto de células queratinizadas por meio das quais o
pelo será produzido por meio do processo de mitose celular. Entre as células da
matriz estão também os melanócitos, responsáveis pela formação do pigmento
dos pelos. Na matriz de cada bulbo está introduzida a papila pilosa dérmica,
uma estrutura oriunda da derme, altamente vascularizada e inervada, capaz
de fornecer suprimento às células da matriz. Assim, o crescimento dos pelos
depende de substâncias presentes nos capilares encontrados no bulbo.

Traumas nas papilas dérmicas podem impedir o crescimento de novos pelos. Além disso,
o crescimento dos fios é influenciado por outros fatores, como interferências sistêmicas,
nutricionais, emocionais e, especialmente, hormonais (androgênios) (RIVITTI, 2014).
16 Anatomia da pele e estrutura dos pelos

O pelo propriamente dito é formado por três camadas concêntricas de


células queratinizadas mortas. No centro, encontra-se a medula, composta
por células grandes e espaços de ar, e cuja função ainda é discutida. Estudos
recentes indicam uma associação dessa estrutura com o início da fase de
germinação do pelo, apresentando a função de direcionar o novo pelo em
direção ao poro (ou seja, a região onde o pelo se projeta para a superfície da
pele, na parte superior do infundíbulo). Na haste de pelos finos, a medula é
descontínua e quase inexistente.
Envolto na medula encontra-se o córtex, constituído por queratinócitos
fortemente compactados, os quais proporcionam solidez e elasticidade aos
pelos. Apresenta uma espécie de cimento intercelular ou complexo de mem-
brana celular, que tem a função de dar coesão ao córtex e às escamas da
última camada, a cutícula. Esse complexo de membrana celular contribui
para a solidez dos fios.
Por fim, a cutícula, que recobre os pelos externamente, sendo altamente
queratinizada e organizada com células sobrepostas como em um telhado.
Além disso, a cutícula é propensa a maiores desgastes e tem como função
proteger o córtex como barreira física e química, além de ser responsável pelo
brilho, considerando os cabelos.

Os pelos contêm melanina no córtex e na medula. A coloração dos pelos varia conforme
a quantidade de melanina presente nessas estruturas. Elder (2011) explica que a melanina
é produzida nos melanócitos e é incorporada às futuras células do pelo por meio
do processo de fagocitose da porção distal dos prolongamentos dendríticos. Pelos
brancos não possuem pigmento cortical e, de acordo com Tortora e Derrickson (2016),
esse fenômeno ocorre devido a um declínio na síntese de melanina e ao acúmulo de
bolhas de ar na haste do pelo.

Há também a presença de estruturas chamadas bainhas radiculares, que


envolvem o pelo ainda dentro do folículo piloso. Rivitti (2014) explica que
a bainha radicular interna é composta por três camadas concêntricas, quais
sejam (de dentro para fora): cutícula da bainha folicular interna, camada de
Huxley e camada de Henle. Após completa queratinização, ao alcançar o
istmo, as camadas da bainha radicular interna desintegram-se. Nessa mesma
Anatomia da pele e estrutura dos pelos 17

altura, a bainha radicular externa começa sua queratinização. Enquanto a


bainha interna se origina do bulbo, a externa se prolonga a partir da epiderme
até as porções laterais do bulbo, diminuindo progressivamente de espessura.
O pelo e a bainha folicular movem-se para cima em consonância, e as células
da cutícula do pelo se justapõem fortemente à cutícula da bainha radicular
interna, o que confere a intensa adesão dos pelos, dificultando os processos
de remoção. Todas essas estruturas e a forma como se dispõem podem ser
observadas na Figura 2.

Acrotríquio

Infundíbulo

Glândula sebácea
Istmo

Segmento inferior
Cutícula
Córtex Camada de Huxley Bainha interna da raiz
Camada de Henle
Bainha externa da raiz
Medula
Membrana basal hialina
Matriz do pelo
Melanócitos
Células germinativas
Bulbo
Papila

Figura 2. Estrutura do folículo piloso.


Fonte: Adaptada de Rivitti (2018, p. 16).

A queratina é o componente principal do pelo. Ela é composta por cerca


de 20 aminoácidos, sendo os principais a cisteína, a arginina e a citrulina.
As cadeias de queratina se ligam por pontes dissulfeto (entre as moléculas de
enxofre), o que confere resistência à haste. Há também pontes de hidrogênio,
importantes na manutenção da estrutura da haste. Assim, o pelo compreende
uma estrutura muito resistente, flexível e elástica, capaz de alongar-se de 20
a 30%, quando seco, até 100% quando molhado.
18 Anatomia da pele e estrutura dos pelos

Em sua posição normal, os pelos emergem em ângulo com a superfície


da pele e estão presentes na maior parte do corpo humano, com exceção de
algumas regiões, como lábios, palmas das mãos, plantas dos pés, glande do
pênis e clitóris. Sua espessura e conformação estão intimamente ligadas às
funções que exercem, podendo ser classificados em:

„„ Lanugos: muito finos e encontrados nos fetos.


„„ Velos: considerados fracos, pequenos e claros, recobrindo a superfície
corporal.
„„ Terminais: consideravelmente fortes, espessos, longos, grosseiros e
escuros, estando presentes nas regiões genitais, nas axilas, no couro
cabeludo e em determinadas regiões da face.

Do ponto de vista funcional, além de servirem como defesa nas áreas


orificiais e como barreira térmica no couro cabeludo, os pelos diminuem
o atrito em áreas intertriginosas, e ainda fazem parte do aparelho sensorial
cutâneo devido à abundante inervação nessa área.

Os pelos também recebem denominações específicas de acordo com o local em que


se desenvolvem. Assim, chamamos cabelos os pelos que se desenvolvem no couro
cabeludo, supercílios os que crescem sobre as órbitas oculares (sobrancelhas), cílios
os que estão localizados nas bordas das pálpebras, bigode os pelos que crescem no
lábio superior, barba os que cobrem o terço inferior da face masculina, pelos pubianos
os que recobrem a região do púbis, vibrissas os encontrados nas entradas das narinas,
tragos os dispersos no pavilhão articular junto ao meato acústico e hircos aqueles
agrupados na região axilar.

O ciclo de crescimento do pelo


Os pelos não crescem continuamente. Há alternância entre fases de crescimento,
repouso e queda, indicando que há um padrão cíclico no desenvolvimento e
na multiplicação das células da matriz folicular. A esse padrão dá-se o nome
de ciclo de crescimento do pelo (RIVITTI, 2014).
Anatomia da pele e estrutura dos pelos 19

As fases do ciclo de crescimento são caracterizadas por alterações que


ocorrem na porção inferior do folículo, onde a matriz é estimulada a produzir
um novo pelo para cada pelo antigo que cai. Embora tradicionalmente sejam
reconhecidas apenas três fases de crescimento, estudos mais recentes revelam
cinco fases, que são: fase de crescimento ativo (anagênese ou fase anágena);
fase de regressão ou involução (catagênese ou fase catágena); fase de repouso
(telogênese ou fase telógena); fase de repouso absoluto (fase quenógena); e fase
de queda (fase exógena) (Figura 3). As duas últimas vêm sendo acrescentadas
à literatura mais recente. O ciclo ocorre de forma independente e assíncrona
em todos os pelos humanos, não importando o tipo, a localização e o padrão
de crescimento.

Anágeno Catágeno Telógeno Anágeno

Figura 3. Fases do ciclo de crescimento dos fios.


Fonte: Adaptada de Rivitti (2018, p. 17).

A duração de um ciclo de crescimento completo varia conforme os diferentes tipos


de pelo e as diferentes partes do corpo em que se encontram. Enquanto no couro
cabeludo, por exemplo, o ciclo leva de 3 a 6 anos para findar, nas sobrancelhas, é
concluído em quatro meses (KUMAR; WAHID; ANOOP, 2012).
20 Anatomia da pele e estrutura dos pelos

A fase anágena caracteriza-se por intensa atividade mitótica na matriz


do folículo piloso, que gera a formação de nova fibra de pelo, empurrando
para o exterior o pelo antigo, inativo. Nessa fase, o bulbo piloso apresenta-
-se como uma expansão nodular, composto pelas células da matriz do pelo
e melanócitos em atividade. Além disso, uma pequena estrutura dérmica de
formato ovoide, a papila dérmica do bulbo piloso, projeta-se para seu interior
e induz e mantém o crescimento do pelo.
Elder (2011) explica que à medida que se movem para cima, as células
originadas da matriz se diferenciam em seis tipos, cada uma queratinizando-se
em um nível diferente. A primeira a se queratinizar é a camada de Henle — a
mais externa da bainha radicular interna —, criando um firme envoltório nas
partes centrais moles do pelo em formação. Em seguida, queratinizam-se as
outras camadas internas da bainha e a cutícula do pelo, e por fim o córtex
e a medula. Nessa fase, o pelo apresentará sua estrutura já completamente
desenvolvida.
A duração da fase anágena pode variar de meses a anos, e é dependente
da proliferação contínua e da diferenciação das células da matriz, sendo
diretamente proporcional ao comprimento do pelo.

Você já nasceu com todos os seus folículos pilosos presentes, e com praticamente todos
em fase anágena. Porém, na fase adulta, apenas 85 a 90% dos seus pelos encontram-se
nessa fase, considerando que o ciclo de crescimento de seus pelos esteja saudável.

A fase catágena é a fase intermediária, período de transição entre a fase


de crescimento e a de repouso. É considerada uma fase de regressão, com
intensa atividade de apoptose e fagocitose.
Anatomia da pele e estrutura dos pelos 21

Na fase catágena, a estrutura do folículo diminui em um terço de suas


dimensões anteriores por meio de um processo que inclui a apoptose de
células epiteliais no bulbo e na bainha radicular externa. A melanogênese
na matriz é interrompida, e a proliferação celular diminui continuamente,
até cessar. O bulbo se retrai e se separa da papila dérmica, e à medida que
o pelo se move para cima a porção inferior do folículo involui. As células
da porção superior do bulbo continuam seu processo de diferenciação à
haste do pelo. Nessa fase, o pelo assume forma clava em sua extremidade
e se mantém aderido ao saco folicular por retalhos de queratina (RIVITTI,
2014). Depois de apenas alguns dias ou semanas, a fase catágena termina e
o pelo entra na fase de repouso.
A fase de repouso dura de poucas semanas a alguns meses e denomina-se
telógena. Nessa fase, não existe proliferação nem diferenciação ou apoptose
significativa. É a fase em que o pelo se separa da papila dérmica, podendo
ser mais facilmente removido. Contudo, apresenta sua porção inferior quera-
tinizada em forma de clava em virtude da deposição adicional de queratina.
Tortora e Derrickson (2016) indicam que, nessa fase, os folículos mostram-se
completamente quiescentes, reduzidos à metade ou menos de seu tamanho
normal, já havendo total desvinculação entre a papila dérmica e o pelo em
estágio de eliminação.
Alguns autores recentemente têm indicado mais duas fases de crescimento,
as quais ficam entre a telógena e a nova anagênese. São elas: um período de
total repouso folicular, que recebe o nome de fase quenógena, e um período em
que ocorre o desprendimento total do pelo e sua consequente queda, marcada
pelo nome de fase exógena.
Antes da queda definitiva do pelo, é possível observar um trato fibroso
na região anteriormente ocupada, onde será iniciada uma nova fase anágena
por subsequente diferenciação. Assim, para produzir novos pelos, os folículos
precisam passar por todas essas fases, retornando para a anagênese, e assim
refazendo o ciclo. Da mesma forma que a duração do ciclo, a taxa de cresci-
mento dos pelos também está relacionada com o tipo de pelo e a área corporal
envolvida, sendo mais rápida para pelos mais longos, como no caso dos do
couro cabeludo (0,35 mm/dia), e mais lenta para pelos mais curtos, como no
caso dos das sobrancelhas (0,16 mm/dia). A taxa de crescimento também pode
ser afetada pela idade e por alterações hormonais.
22 Anatomia da pele e estrutura dos pelos

Durante a puberdade, por exemplo, os testículos começam a liberar quantidades


significativas de andrógenos (hormônios sexuais masculinos), fazendo com que os
meninos desenvolvam um padrão masculino comum de crescimento de pelo, incluindo
barba e pelos no peito. Já nas meninas, os ovários e as glândulas suprarrenais produzem
pequenas quantidades de andrógenos, resultando no crescimento de pelos nas axilas
e na região púbica. Além disso, há o escurecimento e espessamento dos pelos das
sobrancelhas para ambos os sexos.
De acordo com Tortora e Derrickson (2016, p. 105):

Ocasionalmente, um tumor nas glândulas suprarrenais ou nos ovários


pode produzir uma quantidade excessiva de andrógenos. O resultado
em mulheres ou homens pré-púberes é o hirsutismo, uma condição de
excesso de pelos corporais.

Com o envelhecimento, ocorrem diversas alterações morfológicas e fi-


siológicas na pele, como o declínio na taxa de crescimento dos pelos, decor-
rente do encurtamento progressivo das fases do seu ciclo, e uma progressiva
diminuição na densidade de folículos pilosos por área de unidade na face e
no couro cabeludo.

A haste dos pelos geralmente encontra-se com diâmetro reduzido em pessoas mais
velhas. No entanto, em sobrancelhas, ouvidos e narinas dos homens e na região
supralabial e mentoniana de mulheres, o diâmetro é aumentado (ELDER, 2011). Assim,
mulheres maduras comumente apresentam sobrancelhas ralas e falhadas, enquanto
homens apresentam sobrancelhas com pelos grosseiros e compridos. Tal fato pode
gerar insatisfação com a imagem pessoal do ponto de vista estético, levando ambos
à procura de procedimentos para solucionar o problema. O design de sobrancelhas,
para homens, é o mais indicado, apresentando caráter contínuo, uma vez que os pelos
voltam a crescer. Para as mulheres, recomenda-se a micropigmentação, que molda o
desenho das sobrancelhas por meio da implantação subepidérmica de pigmentos.
A micropigmentação tem duração semipermanente, tendo que ser realizada ao menos
uma vez a cada dois anos.
Anatomia da pele e estrutura dos pelos 23

Fonte: Adaptada de Aastock/Shutterstock.com; Photobac/Shutterstock.com.

A fase do ciclo de crescimento em que se encontra o pelo influencia no


momento da sua remoção. Por exemplo, pelos em anagênese são especialmente
sensíveis a agressões físicas, químicas, inflamatórias ou infecciosas, e pelos
em fase telógena saem com maior facilidade, sem causar grandes desconfortos.

Alterações do crescimento das sobrancelhas


Além de proteção mecânica e térmica do globo ocular, as sobrancelhas po-
dem embelezar a face, mudando a fisionomia. O olhar é um dos pontos mais
importantes e marcantes da face, pois projeta intenções, sensações, emoções,
ações e reações. As sobrancelhas, assim, são responsáveis por dar expressão
e harmonia facial de acordo com o perfil de cada indivíduo.
As sobrancelhas apresentam, em cada época, características peculiares,
pois as mulheres moldam seus pelos de acordo com as tendências de moda.
Basta olhar e comparar as sobrancelhas das mulheres das diferentes gerações
de sua família.
24 Anatomia da pele e estrutura dos pelos

Segundo Santos (2018), a autoestima é fundamental para a identidade do


sujeito, bem como é considerada um dos indicadores de saúde mental. Assim,
considerando que na sociedade atual há uma supervalorização da aparência
estética, pessoas insatisfeitas com suas sobrancelhas podem apresentar sintomas
de baixa autoestima. Quando um cliente procura realizar o procedimento de
design de sobrancelhas, nem sempre o emprego de uma técnica aprendida é
suficiente, considerando que cada indivíduo apresentará características pe-
culiares de cor, forma, espessura e densidade, as quais deverão ser analisadas
pelo profissional antes de executar o procedimento.
Quando os pelos estão em excesso, não há grandes dificuldades para o
profissional, uma vez que os processos de corte e remoção dos fios são su-
ficientes para proporcionar o design adequado ao cliente. Contudo, existem
fatores que podem interferir no ciclo de crescimento dos pelos, deixando as
sobrancelhas ralas, falhadas ou até com ausência total de pelos. Nesses casos,
é preciso que o profissional saiba avaliar e indicar os melhores recursos para
recuperar os fios ou pelo menos a aparência de sobrancelhas naturais.

A utilização de fichas de anamnese pode ser muito útil para auxiliar o profissional a
identificar a causa das alopecias. Na ficha, são registrados, além dos dados cadastrais,
informações relevantes ao histórico do cliente em relação aos cuidados com as so-
brancelhas e questões norteadoras para desvendar possíveis quadros patológicos.
Podem ser realizadas perguntas como: Há quanto tempo você remove os pelos de
suas sobrancelhas? Qual o método utilizado? Você faz uso de algum medicamento
regular? Há histórico de alopecias em sua família?

Alopecias são doenças que se caracterizam pela redução ou ausência de


cabelos e/ou pelos. Há vários quadros clínicos de alopecias. Em geral, elas
são classificadas como alopecias não cicatriciais, que podem ocorrer devido
à queda acelerada dos fios e/ou involução dos folículos pilosos, ou alopecias
cicatriciais, em que a lesão se dá por cicatriz e fibrose na região do folículo
piloso (HABIF, 2012).
Anatomia da pele e estrutura dos pelos 25

Alopecias não cicatriciais


Dentre as alopecias não cicatriciais estão a alopecia areata e o eflúvio aná-
geno e telógeno, em que a queda anormal dos cabelos e pelos é provocada
por condições que alteram o ciclo de crescimento em alguma das suas fases
(anágena, catágena ou telógena). Há também a alopecia pós-quimioterápica,
induzida por medicamentos quimioterápicos, e a alopecia androgenética, que
ocorre por indução hormonal.
Essa última caracteriza uma condição de involução dos folículos pilosos por
indução hormonal. É uma condição genética de miniaturização dos folículos
terminais comum, gradual e progressiva. Ocorre em determinadas áreas do
couro cabeludo e é produzida pela ação de andrógenos circulantes. Apesar
de ocorrer tanto em homens quanto em mulheres, a alopecia androgenética
restringe-se ao couro cabeludo, não afetando os pelos das sobrancelhas.

Tortora e Derrickson (2016) explicam que agentes quimioterápicos utilizados na


quimioterapia para tratamento do câncer têm como objetivo interromper o ciclo
de vida das células cancerosas, que se dividem de forma rápida. Infelizmente, os
medicamentos também afetam outras células que se dividem com rapidez no
corpo, como é o caso das células da matriz do folículo piloso. É por isso que ocorre
a perda dos cabelos e pelos de pacientes submetidos à quimioterapia. Contudo,
aproximadamente 15% das células da matriz do couro cabeludo estão na fase de
repouso, e essas células não são afetadas pela quimioterapia. Então, assim que a
quimioterapia é interrompida, as células da matriz substituem os folículos pilosos e
o crescimento dos cabelos e pelos recomeça.

A alopecia areata é uma doença crônica que se manifesta pela queda de


pelos sem sinais de atrofia ou inflamação. Pode ocorrer de maneira circunscrita
ou generalizada em certas partes do corpo, ou ainda de maneira universal,
resultando na perda de todos os pelos do corpo. Na maioria dos casos, o couro
cabeludo é a primeira área afetada. Entretanto, a ausência dos pelos pode se
dar nas sobrancelhas, nos cílios ou em outras áreas corporais (Figura 4). As
causas da doença ainda não estão totalmente claras, mas nota-se relação com
fatores genéticos, imunológicos e até psicológicos. Uma vez que se trata de
uma doença benigna, que tende a regredir espontaneamente e rescindir sem
26 Anatomia da pele e estrutura dos pelos

causa aparente, o tratamento não é obrigatório. Contudo, costuma ser indicado


porque pode causar distúrbios psicológicos importantes. O uso de corticoides,
tópicos ou injetáveis, tem sido relatado como um dos recursos mais eficazes
no tratamento. Porém, também há estudos mostrando benefícios do uso de
soluções de Minoxidil para estimular o crescimento dos pelos.

Figura 4. Paciente com alopecia areata em sobrancelhas.


Fonte: Adaptada de Photographee.eu/Shutterstock.com.

Os eflúvios decorrem de alguma situação-estímulo (estresse, febre, de-


ficiência nutricional e uso de alguns medicamentos, por exemplo) que gera
um desequilíbrio no ciclo de crescimento, fazendo com que os pelos em fase
anágena entrem, antes do programado, na fase catágena ou telógena, interrom-
pendo o ciclo. Tal fenômeno resulta em queda exagerada dos cabelos. Contudo,
não se observam efeitos significativos nos pelos das sobrancelhas. Algumas
doenças sistêmicas podem, também, afetar os pelos das sobrancelhas. Entre
elas destaca-se a sífilis (doença sexualmente transmissível), a hanseníase e
o hipotireoidismo.
Anatomia da pele e estrutura dos pelos 27

Neste link, confira a relação da sífilis com alopecias de sobrancelhas.

https://goo.gl/XaspZq

Já neste link, leia mais sobre a hanseníase relacionada a alopecias de sobrancelhas.

https://goo.gl/CvPsUh

Alopecias cicatriciais
Você já deve ter ouvido falar que o hábito de remover os pelos repetidamente
ao longo dos anos, seja com pinça, cera ou linha, pode promover o afinamento
progressivo das sobrancelhas. De fato, isso pode acontecer.
A alopecia traumática é também conhecida como alopecia mecânica,
alopecia induzida por pressão, alopecia de tração ou alopecia pós-operatória.
Ocorre por algum tipo de ação mecânica, que pode resultar em quadros de
alopecia temporária ou até mesmo definitiva (nesse caso, cicatricial).
Diferentes situações podem causar alopecias traumáticas, entre elas queima-
duras, incisões cirúrgicas, infecções e, inclusive, sucessiva retirada mecânica dos
pelos, como no caso das sobrancelhas (HIGINO et al., 2012). Para todos esses
casos, o tratamento poderá ser eficaz ou não, de acordo com o comprometimento
da lesão do folículo. Assim, folículos com traumas leves e em estágios iniciais
terão resposta eficaz ao tratamento. Entretanto, folículos que já apresentam
fibrose cicatricial possivelmente não apresentarão resultado algum.

Toda vez que um tecido sofre trauma, ele é induzido à regeneração. Quando a re-
generação ocorre por segunda intenção, isto é, quando a lesão é maior do que a
capacidade de o tecido se regenerar de forma sadia, ocorre a substituição de células
parenquimais por tecido fibroso. Como o tecido fibroso não apresenta as mesmas
características do tecido original, este perde suas funções específicas. Assim, quando
o folículo apresenta-se fibrosado, como no caso de queimaduras graves, por exemplo,
não haverá possibilidades de regenerá-lo.
28 Anatomia da pele e estrutura dos pelos

A maioria dos tratamentos propostos tem como objetivo reativar os folículos


pilosos que estão danificados pelo trauma. Isso é feito por meio do estímulo de
regeneração tecidual por indução de processo inflamatório ou do estímulo do
aumento da atividade celular. Estudos mostram resultados satisfatórios com
o uso do laser vermelho de baixa potência e do microagulhamento associado
a alguns fatores de crescimento específicos.
Outro tipo de patologia que tem se mostrado preocupante é a alopecia
fibrosante frontal. Apesar de os primeiros casos terem sido descritos apenas
em 1994, hoje ela é considerada uma epidemia, sendo uma das mais frequentes
alopecias cicatriciais. A queda dos pelos das sobrancelhas pode ser o primeiro
sintoma da doença. Além desse, apresenta recessão da linha de implantação dos
cabelos e couro cabeludo discretamente atrófico, com folículos pouco visíveis
e coloração eritemato-violácea. Apesar de ainda não haver cura relatada, é
possível controlar a progressão com medicamentos orais, os quais diminuem
a atividade inflamatória. Por isso, quanto mais cedo houver um diagnóstico,
maior será a eficácia do tratamento. O médico poderá indicar anti-inflamatórios,
corticoides e afins de acordo com o estágio e a gravidade da doença. Como
mencionado, em muitos casos há a possibilidade de recuperação dos pelos com
tratamento adequado, seja medicamentoso (indicado pelo médico), cosmético
ou eletrotermofotoestético, dependendo do grau de acometimento da alopecia.
Para todos os casos de alopecia que não apresentam cura ou possibilidade
de regressão, o procedimento de design de sobrancelhas pode ser associado
a técnicas de maquiagem, coloração semipermanente com henna ou tintura
de sobrancelhas e, ainda, micropigmentação. A micropigmentação é o único
recurso que oferece uma solução de longo prazo, podendo durar de 8 meses
a 2 anos.

É muito importante conhecer o quadro clínico e as


características específicas das diferentes alopecias de
sobrancelhas para poder auxiliar o seu cliente, seja com
indicações de tratamento ou com encaminhamento
médico. No vídeo a seguir, você poderá aprender um
pouco mais sobre esse tema.

https://goo.gl/GmZ377
Anatomia da pele e estrutura dos pelos 29

1. A matriz presente no bulbo e) A cutícula é formada por células


folicular é composta por um grandes e justapostas e é
conjunto de células que, por meio propensa a maiores desgastes.
do processo de mitose celular, 3. No ciclo de crescimento dos pelos,
formam a haste do pelo. Para a a matriz é estimulada a produzir
indução da mitose, é necessária um novo pelo para cada pelo
a presença de uma estrutura antigo que cai. Embora a maioria
responsável pelo suprimento dos livros cite apenas três fases do
e pela inervação das células da ciclo, estudos recentes revelam
matriz. Assinale a alternativa que cinco fases. Considerando a fase
indica a estrutura em questão. quenógena, assinale a alternativa
a) Haste folicular. que indica sua descrição.
b) Camada de Henle. a) Sinaliza a transição
c) Bainha radicular externa. entre o crescimento e
d) Papila dérmica. o repouso dos pelos.
e) Medula. b) Demarca o período de
2. A haste folicular é formada por repouso total e absoluto
três camadas concêntricas de da atividade folicular.
células queratinizadas mortas: c) Identifica a fase em que o
medula, córtex e cutícula. Assinale pelo está em processo de
a alternativa que justifica a separação da papila dérmica.
função da cutícula em relação d) Demarca o período em que
à sua estrutura anatômica. ocorre o desprendimento
a) A cutícula está firmemente total do pelo e sua
justaposta ao córtex para consequente queda.
direcionar os pelos em e) Indica o surgimento de um trato
direção ao infundíbulo. fibroso na matriz, onde será
b) A cutícula apresenta uma iniciada uma nova fase anágena
espécie de cimento intercelular para produção do um novo pelo.
ou complexo de membrana 4. Existem alterações que podem
celular, que tem a função interferir no ciclo de crescimento
de dar coesão ao córtex. dos pelos, causando patologias
c) A cutícula é organizada em que acarretam desconforto do
células sobrepostas em forma de ponto de vista estético e geram
telhado com a função de formar problemas de autoestima aos
uma barreira de proteção contra pacientes. Considerando as
agentes físicos e químicos. desordens estudadas, assinale
d) A cutícula é altamente a alternativa correta.
queratinizada e organizada a) A alopecia fibrosante
para proporcionar uma frontal é uma doença crônica
estrutura cíclica aos pelos. manifestada pela queda de pelos
30 Anatomia da pele e estrutura dos pelos

circunscrita, generalizada ou generalizada ou universal,


universal, sem sinais inflamatórios sem sinais inflamatórios
ou de atrofia folicular. ou de atrofia folicular.
b) O hirsutismo é uma doença 5. Do ponto de vista funcional, os
crônica manifestada pela pelos exercem diferentes atividades.
queda de pelos circunscrita, Sua espessura e conformação
generalizada ou universal, estão ligadas às funções que
sem sinais inflamatórios exercem, recebendo nomenclaturas
ou de atrofia folicular. e classificações específicas.
c) O eflúvio telógeno é uma Assinale a alternativa que indica a
doença crônica manifestada nomenclatura, a classificação e a
pela queda de pelos circunscrita, função dos pelos das sobrancelhas.
generalizada ou universal, a) Vibrissas, lanugo, defesa
sem sinais inflamatórios térmica e orificial.
ou de atrofia folicular. b) Supercílios, velo, barreira
d) A alopecia androgenética é uma orificial e aparato sensorial.
doença crônica manifestada c) Hircos, terminal, barreira
pela queda de pelos térmica e redução de atrito.
circunscrita, generalizada ou d) Supercílios, terminal, barreira
universal, sem sinais inflamatórios térmica e defesa orificial.
ou de atrofia folicular. e) Vibrissas, velo, defesa
e) A alopecia areata é uma orificial, proteção térmica
doença crônica manifestada e aparato sensorial.
pela queda de pelos circunscrita,

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