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FUNDAMENTOS

DE ENFERMAGEM

Admilson Soares de Paula


Exame físico da pele
e dos anexos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Descrever a anatomia e a fisiologia da pele e dos anexos.


„ Demonstrar as técnicas básicas do exame físico para a pele e os anexos.
„ Reconhecer os principais achados patológicos de acordo com as
técnicas do exame.

Introdução
O profissional de enfermagem deve ter conhecimento sobre as estruturas
da pele. Durante a anamnese e o exame físico realizados diariamente,
podem ser encontradas alterações nas diferentes camadas da pele e
em seus anexos. Assim, é de suma importância saber identificar qual
parte da pele foi acometida e qual é o tipo de lesão, para que se possa
implementar uma assistência de enfermagem adequada.
Neste capítulo, você vai estudar os aspectos anatômicos e fisiológicos
da pele, dos pelos, das glândulas sebáceas e sudoríparas e das unhas.
Você também vai conhecer as técnicas utilizadas no exame físico da pele
e dos anexos e os principais achados patológicos desse exame.

1 Anatomia e fisiologia da pele e dos anexos


A pele é o maior órgão do corpo humano. Cobre toda a superfície corporal
e pode medir de 1,5 a 2 metros no adulto. Suas principais funções são atuar
como uma barreira de proteção, regular a temperatura corporal, promover a
sensibilidade, a imunidade e a produção de vitamina D e garantir a imper-
meabilidade à água. Tem ainda uma função social, promovendo a identidade
corporal.
2 Exame físico da pele e dos anexos

A pele possui três camadas importantes: epiderme, derme e hipoderme


(CESTARI, 2012). A epiderme apresenta uma camada mais externa, não
vascularizada, e possui um epitélio pavimentoso estratificado e queratinizado,
atuando como uma barreira de proteção. Ela recebe nutrientes e oxigênio
por meio do processo de difusão, a partir dos vasos sanguíneos da derme.
É possível verificar nessa camada a presença de poros e pelos. A epiderme
apresenta cinco camadas, descritas a seguir.

1. Camada basal (estrato germinativo): é a camada de células mais interna,


constituída por células de forma cúbica que se multiplicam continu-
amente, originado todas as outras camadas. Mantém contato com a
derme por meio da junção dermoepidérmica, fornecendo aderência e
sustentação da epiderme com a derme, permitindo a permeabilidade
de nutrientes da derme para a epiderme e atuando como filtro.
2. Camada espinhosa: localiza-se acima da camada basal; as camadas
basal e espinhosa estão justapostas e unidas por junções intercelulares.
3. Camada granulosa: possui lipídios, proteínas e outros componentes
necessários para a morte programada das células e a formação da
barreira superficial impermeável à água.
4. Estrato lúcido: possui células achatadas, anucleadas, com presença de
eosinófilos; é comum nas regiões sem pelo, como palma das mãos e
planta dos pés.
5. Camada córnea: camada mais superficial da pele; possui quera-
tina, que atua como suporte e promove elasticidade, resistência e
impermeabilidade.

Já a derme está localizada sob a epiderme e possui vasos sanguíneos e


linfáticos, fibras, glândulas sudoríparas e sebáceas e folículos pilosos. É consi-
derada um tecido de sustentação da epiderme, sendo composta por colágeno e
elastina, fornecendo resistência e elasticidade. Além desses elementos, possui
vários tipos celulares, como fibroblastos, macrófagos, melanófagos, mastóci-
tos, leucócitos (neutrófilos, eosinófilos, linfócitos, monócitos e plasmócitos),
linfócitos T e células dendríticas, envolvidas com a defesa imunológica da
pele. A derme abriga os anexos e apresenta três estruturas:

„ derme papilar — constituída por fibras colágenas finas e verticais,


formando as papilas dérmicas, que têm um maior número de células e
vão se aderindo à epiderme;
Exame físico da pele e dos anexos 3

„ derme reticular — possui fibras colágenas grossas, com ondulações, e


localiza-se paralela à epiderme;
„ derme perianexial — é parecida com a derme papilar, sendo disposta
ao redor dos folículos pilosos e das glândulas sudoríparas e sebáceas.

A hipoderme, segundo Cestari (2012), é a camada mais profunda, locali-


zada abaixo da derme, conectando-se à fáscia muscular. Constitui-se de tecido
subcutâneo, fibroso, elástico e gorduroso; atua como reserva energética, é
isolante térmico e promove a proteção contra choques mecânicos e a fixação
de órgãos. Nessa camada, estão também presentes o colágeno, os vasos san-
guíneos e linfáticos, os feixes de nervos e os folículos pilosos. A hipoderme
possui uma camada areolar, mais superficial, caracterizada por adipócitos
e pequenos vasos, e uma camada lamelar, mais profunda, apresentando
aumento da espessura com ganho de peso (hiperplasia). Essas duas camadas
são separadas pela lâmina fibrosa.
Barbosa (2011) destaca que a pele possui diferenças, dependendo da região
anatômica. Por exemplo, as palmas das mãos e as plantas dos pés resistem mais
às abrasões, por possuírem uma maior queratinização e ausência de pelos;
os dedos têm maior sensibilidade tátil, por possuírem um número maior de
receptores sensoriais. Acompanhe na Figura 1 a seguir as estruturas e camadas
da pele. Observe que estão representadas as três camadas (epiderme, derme e
hipoderme) e também as estruturas presentes em cada camada (pelos, poros
da camada epidérmica, nervos, folículo piloso, capilares sanguíneos, glândula
sebácea, na camada dérmica, e tecido adiposo, na camada hipodérmica).
4 Exame físico da pele e dos anexos

ANATOMIA DA PELE

pelo

epiderme poro

nervo
derme

glândula sebácea

folículo piloso
hipoderme capilares
sanguíneos

tecido adiposo

Figura 1. Estruturas anatômicas da pele.


Fonte: MicroOne/Shutterstock.com.

A epiderme confere maior impacto social e estético e possui células de


defesa, apresentando atividades antimicrobiana e imunológica. A derme, por
contar com terminações nervosas, determina as sensações térmicas, táteis e
dolorosas e tem função de defesa contra invasores, sejam fungos, vírus ou
bactérias, por meio dos macrófagos, linfócitos e mastócitos. A hipoderme
confere proteção contra choques mecânicos, devido à presença de adipócitos
e fibras colágenas e elásticas (BARROS, 2016).

Anexos cutâneos
A pele e os seus anexos (pelos, cabelos, unhas e glândulas) formam o te-
gumento. A seguir, serão descritas as características e funções dos anexos
cutâneos.

Folículo piloso

O folículo piloso é formado por haste, bainha folicular interna e externa e


bulbo germinativo. A haste é o pelo em si e possui cutícula interna e externa,
Exame físico da pele e dos anexos 5

córtex intermediário e medula; ela é originada pela multiplicação das células


do bulbo. O pelo é constituído de células queratinizadas mortas e compactas
da epiderme. O bulbo possui em seu interior uma matriz de células epiteliais,
com presença de mitoses e melanócitos, que fazem o pelo ter cor e crescer.
Ainda, é possível observar na base do bulbo um tecido conectivo e vasos.
Pode-se observar também outras estruturas que fazem parte do folículo pi-
loso: a glândula sebácea, que lubrifica o pelo, e o músculo eretor, que realiza
o movimento do pelo (CESTARI, 2012). A Figura 2 mostra a estrutura do
folículo piloso.

ESTRUTURA DO FOLÍCULO PILOSO

bainha epitelial da raiz


medula
córtex
bainha interna
cutícula
bainha externa

bainha da raiz dérmica

bainha epitelial da raiz

bainha interna
bainha externa

cutícula do pelo
córtex bulbo
medula
melanócito
matriz
papila
vasos

Figura 2. Estrutura do folículo piloso.


Fonte: Ellen Bronstayn/Shutterstock.com.
6 Exame físico da pele e dos anexos

Os pelos não crescem de forma contínua, mas passam por um ciclo evolutivo
que se divide em três fases: anágena, catágena e telógena. A fase anágena
se caracteriza por intensa atividade mitótica; o bulbo e as papilas são bem
desenvolvidos, resultando em uma haste do pelo grossa e pigmentada. Essa
fase dura, em média, de 3 a 6 anos (fase de crescimento). A fase seguinte é a
fase catágena, em que as mitoses são interrompidas e ocorre a autodestruição
das células da matriz e da bainha; então, o pelo encolhe da parte inferior do
folículo até a inserção do músculo eretor do pelo. Essa fase dura, em média,
duas semanas (fase de involução). A terceira fase é a fase telógena (fase de
repouso), que é o momento em que as células da papila estão menores e enviam
sinais para começar uma nova mitose e, consequentemente, retornar à fase
anágena. Ela dura, em média, três meses (AZULAY, 2017).
É de suma importância que o profissional de enfermagem conheça as fases
evolutivas dos pelos, pois, dessa forma, ele saberá identificar anormalidades.
Acompanhe na Figura 3 a ilustração dessas fases evolutivas.

CICLOS DE CRESCIMENTO DO PELO

pelo
a cair

papilas
dérmicas pelo novo

retorno à
anágena catágena telógena anágena
fase anágena

Figura 3. Ciclos evolutivos de crescimento do pelo.


Fonte: Marochkina Anastasiia/Shutterstock.com.
Exame físico da pele e dos anexos 7

Considerando-se as fases evolutivas de crescimento do cabelo — anágena, catágena e


telógena —, existe uma queda natural do cabelo (fase telógena), em que são perdidos
em torno de 70 a 100 fios de cabelo por dia. Cabe ressaltar que o ser humano possui,
em média, 100 mil folículos pilosos, que crescem, aproximadamente, 0,3 mm por dia
(AZULAY, 2017).

Glândulas

A pele também é composta por glândulas que, de forma geral, são importantes
ao organismo, por exercerem funções de lubrificação, termorregulação e
proteção, conforme descrito a seguir.

„ Glândulas sebáceas: são glândulas presentes em toda a pele, exceto nas


palmas das mãos e nas plantas dos pés. São responsáveis pela produção
de sebo, lubrificando o pelo, além de terem propriedades contra fungos
e bactérias. O sebo é secretado por meio do ducto sebáceo do folículo
piloso, chegando à superfície cutânea (CESTARI, 2012).
„ Glândulas sudoríparas écrinas: são glândulas que produzem suor para
a termorregulação da pele, controlada por meio de nervos simpáticos;
esse suor é transparente, geralmente sem cheiro e hipotônico. As glân-
dulas estão dispostas por toda a pele, porém, em maior quantidade nas
palmas das mãos e nas plantas dos pés e nas axilas, e estão ausentes
nos lábios, nos leitos ungueais e na glande (RIVITTI, 2014).
„ Glândulas sudoríparas apócrinas: são glândulas que provêm da epi-
derme e se comunicam com os folículos pilosos; possuem nervos simpá-
ticos e têm função controlada por hormônios sexuais. Estão localizadas
nas axilas, nos testículos, na região peniana e vaginal e nos mamilos,
nas pálpebras e no ouvido. Produzem secreção com característica leitosa
rica em proteínas, açúcares, amônio e ácidos graxos. O suor apócrino
não possui odor quando chega à superfície, porém, após a ação de
bactérias, passa a ter um odor não muito agradável (CESTARI, 2012).
8 Exame físico da pele e dos anexos

Unhas

As unhas são formadas por placas córneas, compostas por células epidérmicas
queratinizadas, mortas e compactadas, localizadas no dorso das falanges
distais das mãos e dos pés. Possuem base, espessura e consistência firmes,
curvatura lateral, superfície lisa e brilhante e coloração róseo-avermelhada
(CESTARI, 2012). Rivitti (2014) descreve a divisão da unha em quatro partes:

1. raiz — é localizada sob a dobra da pele, possui células epiteliais pro-


liferativas e é responsável pelo crescimento da unha;
2. lâmina ungueal — é formada pela matriz ungueal;
3. dobras ungueais laterais — apresentam um prolongamento da camada
córnea, que recobre a porção proximal da unha (cutículas), e, abaixo
desta, o eponíquio, que adere à lâmina ungueal;
4. borda livre.

As unhas possuem uma espessura aproximada de 0,5 a 0,75 mm e crescem


cerca de 0,1 mm por dia nas unhas das mãos e de forma mais lenta nos pés.
Além da matriz, devem ser considerados os seguintes componentes: lúnula,
eponíquio, lâmina ungueal, leito ungueal e hiponíquio (AZULAY, 2017). A
Figura 4 ilustra a estrutura da unha.
Exame físico da pele e dos anexos 9

ANATOMIA DA UNHA

prega proximal lúnula unha


borda livre

prega lateral

pterígio

eponíquio

raiz da unha
matriz leito ungueal

hiponíquio

epiderme
falange distal derme

Figura 4. Anatomia da unha.


Fonte: Paper Teo/Shutterstock.com.

2 Exame físico da pele e dos anexos


Para a adequada execução do exame físico da pele e dos anexos, é necessário
ter atenção para alguns detalhes, como a realização do procedimento em um
ambiente iluminado e arejado, mas que preserve ao máximo a privacidade do
paciente. Deve-se dispor de alguns equipamentos auxiliares, que são: fita gra-
duada, lanterna, lente de aumento, além do equipamento de proteção individual.
O exame físico da pele e dos anexos envolve basicamente o conhecimento e a
10 Exame físico da pele e dos anexos

aplicação das técnicas de inspeção e palpação. A seguir, serão apresentadas


essas técnicas para a prática clínica.

Inspeção da pele
A inspeção da pele pode trazer importantes informações sobre a saúde e deve
ser realizada em todo o tegumento, inclusive nas mucosas, nos cabelos e nas
unhas. O enfermeiro, na execução da inspeção, deve avaliar atentamente a
superfície da pele, utilizando-se de lanterna ou foco de luz localizado atrás
de si, para melhor iluminação, e lupa, quando necessário. Primeiro, deve-se
verificar a pele como um todo, observando-se os seguintes aspectos: coloração,
alterações localizadas (p. ex.: manchas) e disseminadas (p. ex.: palidez, cianose
e icterícia), presença de edemas, lesões, presença de massas e vascularidades
(RIVITTI, 2014, p. 16).

Palpação da pele
A palpação da pele se faz necessária especialmente na presença de alterações
iniciais detectadas na inspeção. Pode ser utilizada uma fita graduada, para
a mensuração de lesões e manchas. Detectada a alteração, deve-se fazer a
palpação, atentando-se para os aspectos descritos a seguir.

„ Temperatura (fria ou quente) — pode ser avaliada com o dorso da mão.


„ Mobilidade (aderida ou móvel) — pode ser avaliada movendo-se a lesão
de um lado para outro — um nódulo, por exemplo, sempre utilizando
luvas.
„ Sensibilidade (percepção de quente/frio, dor ou ausência de sensibi-
lidade) — podem ser utilizados soro aquecido e a haste metálica de
algum objeto para avaliar a percepção de frio/ quente, solicitando-se
ao paciente que relate o que sente. Também pode ser utilizado o mono-
filamento, como na avaliação do pé diabético, detectando-se risco de
lesão, em manchas suspeitas que podem indicar hanseníase (manchas
com ausência de sensibilidade), e nos casos de lesão medular (BARROS,
2016). Silva, Souza e Souza (2017) explicam que o teste de sensibilidade
com monofilamento de Semmes-Weinstein avalia a sensibilidade tátil,
podendo ser usado em várias regiões do corpo; o resultado pode variar
de normal a perda total de sensibilidade. Trata-se de um teste de baixo
custo, fácil manuseio e que está disponível nas unidades básicas de saúde.
Exame físico da pele e dos anexos 11

„ Umidade (úmida/seca) — é verificada com a inspeção (aparência resse-


cada) e com a palpação, por meio de um leve toque na superfície da pele.
„ Textura e espessura — com dedos em garra pinçando a pele e mesmo
com o toque simples, percebe-se textura e espessura grossa (p. ex.: pele
de trabalhadores, como pedreiros), fina ou friável (idoso).
„ Turgor e elasticidade — avalia-se fazendo prega na pele com os dedos
indicador e polegar, em que a pele volta rapidamente ao normal quando
é solta. O contrário ocorre quando há turgor e elasticidade diminuídos.
„ Extensão e profundidade da lesão. É importante também utilizar a
técnica da digitopressão, que é feita por meio da pressão dos dedos
na pele, provocando leve isquemia, permitindo diferenciar manchas
vermelhas de manchas vasculares, e a técnica da compressão para
avaliar edemas (RIVITTI, 2014).

A execução do exame físico da pele pede o uso de ferramentas auxiliares.


Entre elas, podemos citar a escala de Braden, considerada uma importante
ferramenta para a prevenção de lesões de pele, e o instrumento ABCDE para
avaliar lesões suspeitas.
A escala de Braden lista variáveis importantes que interferem diretamente
no sistema tegumentar. Com base nessa ferramenta, o enfermeiro direciona
a assistência de enfermagem, de modo a evitar a ocorrência de lesões de pele
e as suas complicações. A escala de Braden avalia seis variáveis, descritas a
seguir, conforme o Parecer nº. 007/2018 do Conselho Regional de Enfermagem
de São Paulo (COREN SP, 2018): percepção sensorial, umidade, atividade,
mobilidade, nutrição, fricção e cisalhamento. Verifique no Quadro 1 a seguir
a pontuação para cada item avaliado.
12 Exame físico da pele e dos anexos

Quadro 1. Escala de Braden

Fatores
de risco Pontuação

1 2 3 4

Percepção Totalmente Muito Levemente Nenhuma


sensorial limitado limitado limitado limitação

Umidade Muito Raramente


molhado molhado

Atividade Acamado Confinado Anda Anda


a cadeira

Mobilidade Totalmente Bastante Levemente Não


limitado limitado apresenta
limitação

Nutrição Muito pobre Adequada Excelente

Fricção e Problema Problema Nenhum


cisalhamento potencial problema

Interpretação da escala, em relação ao risco para desenvolvimento de lesão:


▶ risco baixo — escores entre 15 e 18;
▶ risco moderado — escores entre 13 e 14;
▶ risco elevado — escores entre 10 e 12;
▶ risco muito elevado — escore 9 ou menor.

Fonte: Adaptado de Coren SP (2018).

Por sua vez, o instrumento ABCDE é utilizado para avaliar características


sugestivas de malignidade. As lesões com cicatrização difícil e variações
na cor, manchas que coçam ou sangram e surgimento de pintas com bordas
irregulares podem ser indicativos de doença, segundo a Sociedade Brasileira
de Dermatologia (SBD, c2017a). A sigla ABCDE abrange os seguintes termos:

„ A — assimetria: quanto mais assimétrica for uma mancha ou pinta,


maior o risco de ser um câncer;
„ B — borda: bordas irregulares também são sinais de perigo;
„ C — cor: pintas com mais de uma cor e com tons pretos podem ser
melanoma;
„ D — diâmetro: lesões com mais de 5 milímetros merecem mais atenção;
Exame físico da pele e dos anexos 13

„ E — evolução: mudanças na cor, no tamanho ou na forma de uma lesão


ou pinta devem ser investigadas.

Veja na Figura 5 a seguir a representação da avaliação pelo instrumento


ABCDE.

Figura 5. Instrumento ABCDE.


Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD, c2017a, documento on-line).

Avaliação dos anexos cutâneos


Os anexos — pelos, cabelos e unhas — fazem parte do sistema tegumentar,
sendo examinados por meio da inspeção e da palpação. Os anexos merecem
importância na avaliação do paciente, porque refletem, muitas vezes, proble-
mas orgânicos e interferem na autoestima da pessoa. A seguir, é detalhada a
avaliação dos anexos.

„ Cabelos e pelos: deve-se inspecionar atentamente a cor, a quantidade, a


textura (fino, grosso) e a distribuição (presença de regiões de alopecia
ou hipertricose). Utilizar as técnicas de inspeção e palpação (BARROS,
2016).
14 Exame físico da pele e dos anexos

„ Unhas: deve-se observar atentamente o tipo de implantação, a espessura,


o brilho, o formato, a cor, a consistência e a higiene. Aqui também se
fazem necessárias as técnicas de inspeção e palpação (BARROS, 2016).

Segundo a SBD (c2017b), a herpes zoster apresenta lesões de pele dolorosas, com
sensação de queimação, do tipo vesículas dispostas em trajeto linear acompanhando
o nervo, acometendo frequentemente o tronco, a face ou os membros. O diagnóstico
costuma ser clínico. Muitos dos pacientes acometidos tiveram varicela na infância,
ficando o vírus adormecido; este, no futuro, pode causar a herpes zoster. Leia mais
sobre a herpes zoster no site da SBD.

3 Achados patológicos relacionados ao exame


físico
Para o melhor direcionamento e planejamento da assistência ao paciente, é
importante conhecer as alterações encontradas no exame físico da pele e dos
anexos, reconhecendo os aspectos de normalidade e anormalidade. Muitos
desses aspectos podem direcionar a uma patologia sistêmica. O exame físico
minucioso garante achados importantes. Existem diferentes classificações para
as lesões elementares, envolvendo alterações da cor, alterações da textura,
alterações da espessura e alterações relacionadas à extensão e à profundidade
(RIVITTI, 2014). Veja a seguir as alterações patológicas relacionadas às
características avaliadas no exame físico.

Alterações da cor
No exame físico é possível detectar alterações de coloração, que podem ser
manchas ou máculas. São caracterizadas por uma área de coloração diferente
do normal, no mesmo plano da pele e sem alterações na superfície, podendo
ser avaliadas por meio de inspeção e palpação. Essas manchas podem ser
decorrentes de extravasamento de hemácias (manchas vasculossanguíneas)
ou ser manchas pigmentares (RIVITTI, 2014).
Exame físico da pele e dos anexos 15

Existem diferentes tipos de manchas vasculossanguíneas. Confira a


seguir alguns exemplos.

„ Eritema — é caracterizado por uma mancha vermelha, devido à vaso-


dilatação, que desaparece com a digitopressão.
„ Cianose — tem coloração arroxeada e ocorre por diminuição da tempe-
ratura no local, devido a uma alteração na oxigenação sanguínea, por um
distúrbio circulatório ou respiratório. Também pode ser observada nos
lábios, nas polpas digitais e nos leitos ungueais. O contrário ocorre no
rubor, com a pele apresentando coloração avermelhada com o aumento
da temperatura.
„ Exantema — caracteriza-se por ser um eritema disseminado.
„ Mancha anêmica — é caracterizada por uma mancha branca, podendo
significar diminuição de vasos sanguíneos.
„ Púrpura — é caracterizada por uma mancha vermelha que não desa-
parece pela digitopressão. Devido ao extravasamento de hemácias na
derme, a púrpura apresenta uma sequência de características diferentes
relacionadas à cor, passando de arroxeada a verde-amarelada. Se o
sangue extravasado for em maior quantidade e ocorrer elevação da
pele, chamamos de hematoma.

Já as manchas pigmentares são caracterizadas por diminuição ou au-


mento da melanina ou pelo depósito de outros pigmentos ou substâncias na
derme. Existem diversas denominações. A leucodermia, por exemplo, é uma
mancha branca causada por diminuição de melanina (hipocromia), ausência
de melanina (acromia) ou aumento de melanina ou outros pigmentos (hiper-
cromia). Temos também a alteração para o tom amarelo da pele, devido ao
aumento de bilirrubina produzida pelo fígado (icterícia); a icterícia pode ser
observada nas escleróticas e mucosas. O tom amarelado na pele também pode
ocorrer devido ao excesso de caroteno, por ingestão de alguns alimentos, como
cenoura e abóbora (carotenodermia). A carotenodermia não é observada nas
escleróticas e predomina nas extremidades (palmas das mãos e plantas dos
pés) (RIVITTI, 2014).

Alterações de textura
Em relação à textura, pode-se observar lesões sólidas, que podem ocorrer
devido a um processo inflamatório ou neoplásico, podendo atingir as três
camadas da pele (epiderme, derme e hipoderme). Há também as coleções
16 Exame físico da pele e dos anexos

líquidas, que podem ocorrer por serosidade, sangue ou pus e se encontram


em forma de vesícula, bolha, pústula, abscesso ou hematoma.
Dentre as lesões sólidas, temos a pápula, que é uma elevação superficial,
delimitada, palpável e sólida na pele, que apresenta tamanho de até 1 cm. Já a
placa se caracteriza por lesão elevada, de superfície geralmente plana, maior
do que 1 cm. O nódulo é uma elevação sólida na pele devido ao espessamento
da epiderme, gerada por uma inflamação iniciada na derme ou na hipoderme;
possui de 1 a 3 cm de tamanho. A goma é caracterizada por um nódulo ou
nodosidade que se liquefaz na porção central e pode ulcerar, eliminando
material necrótico. A vegetação se caracteriza por lesões sólidas, salientes,
lobulares, filiformes ou em couve-flor, de consistência mole e agrupadas em
maior ou menor quantidade — por exemplo, as verrugas. A verrucosidade é
caracterizada por ser uma lesão espessa e sólida, com consistência endurecida e
amarelada. Já o pólipo é constituído por lesões benignas, geralmente pequenas,
que aparentam uma pele “pendurada” (RIVITTI, 2014).
Já nas coleções líquidas, pode-se observar a vesícula, que possui con-
teúdo líquido transparente e seroso em seu interior e tem diâmetro de até 1
cm. A diferença fundamental entre pápula e vesícula é que a pápula é uma
lesão sólida, e a vesícula é constituída por uma coleção líquida. A bolha é
caracterizada por uma elevação da pele, contendo substância líquida em seu
interior, e apresenta diâmetro superior a 1,0 cm. Já a pústula é uma elevação
na pele de até 1 cm, com conteúdo purulento. Diferencia-se do abscesso pelo
tamanho e pela extensão, podendo ter tamanho variável e atingir epiderme,
derme e hipoderme; é possível observar sinais flogísticos: edema, dor, rubor
e calor. Por fim, o hematoma é uma elevação da pele decorrente do derrame
de sangue, podendo atingir tecidos subjacentes.

Alterações de espessura
As alterações relacionadas à espessura são: queratose, espessamento ou infil-
tração, liquenificação, esclerose, edema e atrofias. A queratose é caracterizada
pelo espessamento da pele e apresenta como característica ser mais amare-
lada e endurecida, o que ocorre devido a um aumento na camada córnea. A
liquenificação é caracterizada pelo espessamento da pele, onde existe maior
concentração de estrias, desencadeadas pelo prurido, dando aspecto quadri-
culado. Já a esclerose é caracterizada por um aumento da consistência e da
espessura da pele devido à fibrose do colágeno, deixando a pele aderente aos
planos profundos; assim, o pregueamento da pele se torna difícil.
Exame físico da pele e dos anexos 17

O edema também é caracterizado pelo aumento da espessura da pele,


devido ao acúmulo de líquido no espaço intersticial, podendo ser notado em
uma região do corpo, e pode também ser generalizado (anasarca). O edema é
avaliado no exame físico pela depressão causada na compressão da pele. Por
fim, a atrofia é caracterizada por diminuição da espessura e da elasticidade
da pele, que é causada pelo adelgaçamento da epiderme, da derme ou do tecido
subcutâneo (RIVITTI, 2014).

Alterações relacionadas à extensão e à profundidade


da lesão
As lesões podem decorrer de processos patológicos e de reparação dos tecidos
lesionados e podem ser: escama, fissura, escoriação, crosta, úlcera ou cicatriz.
A escama se caracteriza por restos de pele ressecada, devido ao excesso de
células queratinizadas e mortas. A fissura se caracteriza pela perda de epiderme
e derme. A escoriação se caracteriza pela perda da epiderme, geralmente por
erosão traumática. Já a crosta se caracteriza por ressecamento do exsudato dre-
nado das vesículas ou pústulas. A úlcera se caracteriza por perda da epiderme
e da derme, podendo chegar à hipoderme. Por fim, a cicatriz se caracteriza
pelo processo de reparação da pele inicialmente lesionada, ocorrendo por meio
dos processos de atrofia, fibrose e discromia.

Alterações dos anexos


As alterações encontradas nos anexos se referem às alterações relacionadas
às glândulas sudoríparas e sebáceas, aos folículos pilosos e às unhas. Em
relação às glândulas sudoríparas, é possível encontrar as seguintes alterações:
ausência de suor (anidrose), diminuição do suor (hipoidrose), aumento do suor
(hiperidrose), suor colorido por ação de fármacos (cromidrose) e suor com
odor desagradável (bromidrose). Já em relação às glândulas sebáceas, pode-
-se observar a falta de secreção sebácea (asteatose) e o excesso de secreção
sebácea (esteatorreia ou seborreia) (AZULAY, 2017).
Em relação aos pelos, são encontradas as seguintes alterações: ausência
de pelos (atricose), diminuição dos pelos (hipotricose) e aumento dos pelos
(hipertricose) em determinada área do corpo. Em relação à coloração dos
pelos, pode-se observar pelos esbranquiçados de forma generalizada (canície),
diminuição ou ausência da melanina nos pelos (poliose), quebra dos pelos
(tricorrexe) e queda dos cílios (madarose). É preciso estar sempre atento às
alterações, pois cabelos quebradiços e sem brilho podem indicar carências
18 Exame físico da pele e dos anexos

nutricionais. Outra alteração é o albinismo, que pode alterar a cor do pelo


devido à ausência de melanina.
Também é importante ressaltar as quedas de cabelos, que possuem grande
impacto emocional e estético. Nesse sentido, temos a alopecia androgenética,
que é a queda de cabelo de origem genética, e a alopecia areata, que é a queda
de cabelo de origem inflamatória, podendo ser alopecia areata total, que é a
queda total do cabelo da cabeça, ou alopecia areata universal, que é a queda
de cabelos e pelos de todo o corpo. Há também o eflúvio telógeno, que é ca-
racterizado por aumento diário da queda de cabelo (AZULAY, 2017). Existem,
ainda, as seguintes terminologias: inflamação no folículo (foliculite), placas
descamativas por excesso de sebo (caspa), aumento exagerado de pelos em
mulheres (hirsutismo), pelos encravados (pili recurvati), presença de piolhos
e lêndeas (pediculose), acúmulo de pelos no mesmo óstio folicular (tricostasia
espinulosa) e áreas de alopecia causadas por remoção traumática por compulsão
(tricotilomania) (BARROS, 2016).
As unhas podem fornecer informações relacionadas à saúde do paciente.
É importante que o engenheiro sempre as avalie. Por exemplo, a hipóxia pode
causar baqueteamento das unhas, amolecimento e coloração azulada; já a
anemia pode diminuir a consistência, a espessura e o brilho, e, na anemia
ferropriva, a unha pode desenvolver uma depressão. Nas regiões de bordas
e cutículas, podem ocorrer processos inflamatórios por fungos ou bactérias.
Outras alterações presentes nas unhas são a onicomicose, causada por
fungos que se alimentam de queratina; o líquen plano ungueal, que é uma
doença inflamatória que atinge matriz, leito ungueal e região periungueal;
e a paroníquia, que é um processo inflamatório na pele ao redor da unha.
Podem ocorrer também ausência das unhas (anoniquia); espessamento das
unhas (paquioníquia); unha côncava (coiloníquia); unha plana (platoníquia);
unha em forma de garra (onicogrifose); presença de duas ou mais lâminas
(hepaloníquia); embranquecimento da unha (leuconíquia); descolamento da
unha a partir da matriz (onicomadese); descolamento da lâmina ungueal a
partir da borda livre (onicólise); unhas excessivamente estriadas em sentido
longitudinal (onicorrexe); unha em baqueta de tambor (unha hipocrática);
unhas frágeis ( fragilitas unguium); roer unhas (onicofagia). Barros (2016)
aponta também os seguintes termos relacionados às alterações nas unhas:
unhas grandes (macroniquia); unhas pequenas (microníquia); unha dura (es-
cleroníquia); redução do desenvolvimento da unha em relação ao tamanho e
à espessura (onicoatrofia).
Exame físico da pele e dos anexos 19

AZULAY, R. D. Dermatologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.


BARBOSA, F. S. Modelo de impedância de ordem fracional para a resposta inflamatória
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