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CORRUPÇÃO PRÁTICA HERDADA E DESMASCARADA

RESUMO:

A palavra corrupção segundo Bruning, deriva do latim corruptus que,


numa primeira acepção, significa quebrado em pedaços e numa segunda
acepção, apodrecido, pútrido. Por conseguinte, o verbo corromper significa
tornar pútrido, podre.
Numa definição ampla, corrupção política significa o uso ilegal - por
parte de governantes, funcionários públicos e agentes privados - do poder
político e financeiro de organismos ou agências governamentais com o objetivo
de transferir renda pública ou privada de maneira criminosa para determinados
indivíduos ou grupos de indivíduos ligados por quaisquer laços de interesse
comum – como, por exemplo, negócios, localidade de moradia, etnia ou de fé
religiosa.
A corrupção é histórica e estrutural, mas não é exclusiva do governo,
deriva de distorção dos padrões éticos na sociedade.
Segundo Filgueiras (2009),

pode ser compreendida levando-se em consideração aspectos morais


que estão pressupostos na prática social ordinária. É fundamental
considerar os aspectos normativos envolvidos no tema da corrupção
e o modo como a construção de sua significação social depende de
valores que circulam no plano da sociedade […]. Por esse postulado,
a corrupção deve ser analisada em uma dimensão sistêmica que
considere, de um lado, a existência de valores e normas que tenham
uma conformação moral e, de outro lado, a prática social realizada no
âmbito do cotidiano das sociedades.
No Brasil a  corrupção no Brasil é uma prática presente desde a colônia
que vem afetando a vida cotidiana  da maioria dos cidadãos brasileiros em
decorrência da redução de investimentos nos setores públicos que garantem
o bem estar da população entre eles citam-se segurança, saúde, educação,
infraestrutura, habitação, esses são direitos garantidos pela Constituição mas
que quando não cumpridos configuram como crime e prática de exclusão social
que aumenta o abismo da desigualdade econômica.
Segundo Faoro, a corrupção é um "vício" herdado do mundo ibérico,
resultado de uma relação patrimonialista entre Estado e Sociedade. De acordo
com a carta escrita por Pero Vaz de Caminha ao Rei D. Manuel podemos
comprovar que o nepotismo chegou ao Brasil a bordo da primeira caravela,
pois nesta carta Pero Vaz solicita a rei que ordenasse a busca de seu genro
que estava na ilha São Tomé, para ocupar e administrar o novo território. Como
sabemos, em decorrência de vários fatores a administração do novo território
não era tarefa fácil desta forma a cora teve que oferecer várias facilidade e
incentivos o que levou a um ambiente propicio para a prática da corrupção.
Uma evidência dessa herança foi o “Sermão do Bom Ladrão”, onde o
padre Antônio Vieira denunciava os exageros praticados pelos administradores
da colônia:

“O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que
não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior
calibre e de mais alta esfera. (...) os ladrões que mais própria e
dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis
encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou
a administração das cidades, os quais já com manha, já com força,
roubam e despojam os povos. - Os outros ladrões roubam um
homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do
seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são
enforcados: estes furtam e enforcam”

Baison (2010) afirma que, desde o século XVI temos os primeiro


registros apontando a prática da ilegalidade no Brasil e como não poderia ser
diferente a freqüência e os casos mais comuns envolviam justamente os
funcionários cuja atividade era fiscalizar e inibir o contrabando e outras
práticas ilícitas contra a coroas transgressões. Desta forma, esse funcionárias
adotavam a prática ilegal do comércio, uma vez que qualquer produto só
poderia se comercializado com a expressa autorização do rei. A cora por sua
vez fazia vista grossa para a prática do contrabando e assuntos relacionados a
propina pois interessava-se em manter os altos rendimentos da aristocracia.

Segundo Florentino (1997), não podemos esquecer da utilização da


mão-de-obra escrava, que mesmo com a proibição do tráfico o governo
brasileiro adotava uma postura tolerante com os traficante que não respeitavam
e lei e para piorar a situação políticos da alta esfera, estimulavam e compravam
escravos, entre esses políticos citamos o ministro da Justiça Paulino José de
Souza e o Marquês de Olinda. Mesmo com várias denuncias, até a abolição
pouco foi realizado para inibir o tráfico em decorrência dos lucros, do suborno e
da propina, que o tráfico dos negros garantia para todos os envolvidos.

Biason relata que em 1822 com a independência e com a República,


novas forma de corrupção foram instituídas e estão presentes até hoje no
cenário políticos brasileiro entre elas a eleitoral e a de concessão de obras
públicas, surgem no cenário nacional. A última estava ligada à obtenção de
contratos junto ao governo para execução de obras públicas ou de concessões.
Como exemplo podemos citar o Visconde de Mauá, que recebeu licença para
a exploração de cabo submarino e a transferiu a uma companhia inglesa da
qual se tornou diretor. Prática semelhante foi realizada por outro empresário
brasileiro na concessão para a iluminação a gás da cidade do Rio de Janeiro,
também transferida para uma companhia inglesa em troca de 120 mil libras. O
fim do tráfico negreiro deslocou, na República, o interesse dos grupos
oligárquicos para projetos de grande porte que permitiriam manter a estrutura
de ganho fácil.

A corrupção eleitoral é um capítulo singular na história brasileira. Deve-


se considerar que a participação na política representa uma forma de
enriquecimento fácil e rápido, muitas vezes de não realização dos
compromissos feitos durante as campanhas eleitorais, de influência e sujeição
aos grupos econômicos dominantes no país (salvo raras exceções).
Dannemann (2011), com a República, proclamada em 1889, o voto de
“cabresto” foi a marca registrada no período. O proprietário de latifúndio
apelidado de “coronel” impunha coercitivamente o voto desejado aos seus
empregados, agregados e dependentes. Outra forma constante de eleger o
candidato era o voto comprado, ou seja, uma transação comercial onde o
eleitor “vendia” o voto ao empregador. A forma mais pitoresca relatada no
período foi o voto pelo par de sapatos. No dia da eleição o votante ganhava um
pé do sapato e somente após a apuração das urnas o coronel entregava o
outro pé. Caso o candidato não ganhasse o eleitor ficaria sem o produto
(número de empregos suficiente que pudessem atender a oferta de
trabalhadores, portanto a sobrevivência econômica do eleitor/empregado
estava atrelada a sujeição das vontades do coronel.

Biason nos trás ainda outro registro característico desse período é o


“sistema de degolas” orquestrado por governadores que manipulavam as
eleições para deputado federal a fim de garantir o apoio ao presidente, no caso
Campos Sales (presidente do Brasil de 1898 a 1902). Os deputados eleitos
contra a vontade do governo eram simplesmente excluídos das listas ou
“degolados” pelas comissões responsáveis pelo reconhecimento das atas de
apuração eleitoral. Todos os governos, até 1930, praticavam degolas.

Fausto (1972), também faz uma abordagem de outra violação dos


princípios democráticos onde uma fraude eleitoral servir para tomar o poder, foi
o que ocorreu em 1929 na disputa à presidência entre o representante das
oligarquias cafeicultoras paulistas Júlio Prestes e Getúlio Vargas que fazia
parte do grupo de insatisfeitos com o domínio das oligarquias. Prestes venceu
obtendo 1 milhão e 100 mil votos e o segundo 737 mil. Entretanto os interesses
do grupo que apoiava Getúlio Vargas, acrescido da crise da Bolsa de Nova
York, que levou à falência vários fazendeiros, resultou numa reviravolta do
pleito eleitoral. Sob acusações de fraude eleitoral, por parte da aliança liberal
que apoiava o candidato derrotado, e da mobilização popular (Revolução de
30), Getúlio Vargas tomou posse como presidente do país em 1930.

Outro fato inusitado foi o que ocorreu durante as campanhas eleitorais


de 1950, conhecido como a “caixinha do Adhemar”.
Cannabrava (1999), fala sobre a verdadeira história de Adhemar de
Barros, político paulista, era conhecido como “um fazedor de obras”, seu lema
era “Rouba, mas faz!”. A caixinha era uma forma de arrecadação de dinheiro e
de troca de favores. A transação era feita entre os bicheiros, fornecedores,
empresários e empreiteiros que desejavam algum benefício do político. Essa
prática permitiu tanto o enriquecimento pessoal, para se ter uma idéia, em
casa, Adhemar de Barros costumava guardar para gastos pessoais 2,4 milhões
de dólares, quanto uma nova forma de angariar recursos para as suas
campanhas políticas.
Tavares e Assis, fazem uma abordagem sobre a corrupção durante o
período do militarismo, iniciado com o golpe em 1964, vamos usar como
exemplo o caso Capemi e Coroa- Brastel uma amostra do que ocultamente
ocorria nas empresas estatais. Durante a década de 80 havia um grupo privado
chamado Capemi, fundado e dirigido por militares, que era responsável pela
previdência privada. O grupo era sem fins lucrativos e tinha como missão, gerar
recursos para manutenção do Programa de Ação Social, que englobava a
previdência e a assistência entre os participantes de seus planos de benefícios
e a filantropia no amparo à infância e à velhice desvalida. Este grupo, presidido
pelo general Ademar Aragão, resolveu diversificar as operações para ampliar o
suporte financeiro da empresa. Uma das inovações foi a participação em um
consórcio de empresas na concorrência para o desmatamento da área
submersa da usina hidroelétrica de Tucuruí (empresa estatal). Vencida a
licitação pública em 1980 deveria-se, ao longo de 3 anos, concluir a obra de
retirada e de comercialização da madeira. O contrato não foi cumprido e o
dinheiro dos pensionistas da Capemi dizia-se que fora desviado para a caixinha
do ministro-chefe do Sistema Nacional de Informações (SNI), órgão
responsável pela segurança nacional, general Otávio Medeiros que desejava
candidatar-se à presidência do país. A resultante foi a falência do grupo
Capemi, que necessitava de 100 milhões de dólares para saldar suas dívidas,
e o prejuízo aos pensionistas que mensalmente eram descontados na folha de
pagamento para a sua, futura e longínqua, aposentadoria. Além do
comprometimento de altos escalões do governo militar o caso revelou: a
estreita parceria entre os grupos privados interessados em desfrutar da
administração pública, o tráfico de influência, e a ausência de ordenamento
jurídico.
Em 1980 o proprietário da Coroa-Brastel, Assis Paim, foi induzido pelos
ministros da economia Delfim Netto, da fazenda Ernane Galvêas e pelo
presidente do Banco Central, Carlos Langoni, a conceder à Corretora de
Valores Laureano um empréstimo de 180 milhões de cruzeiros. Cabe ressaltar
que a Coroa-Brastel era um dos maiores conglomerados privados do país, com
atuações na área financeira e comercial, e que o proprietário da Corretora de
Valores Laureano era amigo pessoal do filho do chefe do SNI Golbery do Couto
e Silva.
Interessado em agradar o governo militar, Paim concedeu o empréstimo,
mas após um ano o pagamento não havia sido realizado. Estando a dívida
acumulada em 300 milhões de cruzeiros e com o envolvimento de ministros e
do presidente do Banco Central, a solução encontrada foi a compra, por Paim,
da Corretora de Valores Laureano com o apoio do governo. Obviamente a
corretora não conseguiu saldar suas dívidas, apesar da ajuda de um banco
estatal, e muito menos resguardar o prestígio dos envolvidos.
A redemocratização brasileira na década de 80 teve seu espaço
garantido com o fim do governo militar (1964-1985). Em 1985 o retorno dos
civis à presidência foi possível com a campanha pelas Diretas-Já, que em 1984
mobilizou milhares de cidadãos em todas as capitais brasileiras pelo direito ao
voto para presidente. Neste novo ciclo político o Impeachment do presidente
Collor constitui um marco divisor nos escândalos de corrupção .
Durante as eleições para presidente em 1989 foi elaborado um esquema
para captação de recursos à eleição de Fernando Collor. Posteriormente, foi
revelado que os gastos foram financiados pelos usineiros de Alagoas em troca
de decretos governamentais que os beneficiariam. Em abril de 1989, após
aparecer seguidamente em três programas eleitorais, Collor já era um nome
nacional. Depois que Collor começou a subir nas pesquisas, foi estruturado um
grande esquema de captação de dinheiro com base em chantagens e
compromissos que lotearam previamente a administração federal e seus
recursos. Esse esquema ficou conhecido como “Esquema PC”, sigla baseada
no nome do tesoureiro da campanha, Paulo César Farias, e resultou no
impeachment do presidente eleito. Segundo cálculos da Polícia Federal estima-
se que este esquema movimentou de 600 milhões a 1 bilhão de dólares, no
período de 1989 (campanha presidencial) a 1992 (impeachment).
Nossa breve história da corrupção pode induzir à compreensão que as
práticas ilícitas reaparecem como em um ciclo, dando-nos a impressão que o
problema é cultural quando na verdade é a falta de controle, de prestação de
contas, de punição e de cumprimento das leis. É isso que nos têm reconduzido
a erros semelhantes. A tolerância a pequenas violações que vão desde a taxa
de urgência paga a funcionários públicos para conseguir agilidade na
tramitação dos processos dentro de órgão público, até aquele motorista que
paga a um funcionário de uma companhia de trânsito para não ser multado,
não podem e não devem mais ser toleradas. Precisamos decidir se desejamos
um país que compartilhe de uma regra comum a todos os cidadãos ou se essa
se aplicará apenas a alguns. Nosso dilema em relação ao que desejamos no
controle da corrupção é esquizofrênico e espero que não demoremos muito no
divã do analista para decidirmos.

A CORRUPÇÃO COMO ESTADO SOCIAL E POLÍTICO

É na obra O Espírito das Leis que o filósofo MONTESQUIEU (1689-


1755) classifica o governo em república, monarquia e despotismo, associando
a cada um deles um princípio norteador: a virtude, a honra e o medo,
respectivamente.
Percebe-se, então, que as leis devem relacionar-se com os princípios de
cada governo. Logo, esse pensador francês procura demonstrar que a
corrupção de cada governo se inicia, geralmente, quando se macula os
princípios. Dessa forma, esse clássico leva-nos a refletir sobre um dos
aspectos mais antigos e contundentes de todos os tempos: a corrupção como
resultado social e político.
Montesquieu verifica como efeito que uma simples conduta ou
comportamento negativo da autoridade pública produz na mentalidade do povo
um descrédito sobre as instituições e dirigentes governamentais. Argumenta
Montesquieu, “corrupção de cada governo começa quase sempre pela dos
princípios “.
Nesse sentido, há corrupção na democracia quando há excessos de
igualdade ou desigualdade. Então, o povo passa a não mais respeitar o próprio
poder que escolheu e perde o sentimento de virtude política, contribuindo
assim para o enfraquecimento das instituições políticas e sociais. Nessa ótica,
nos ensina aquele pensador:
“corrompe-se o espírito da democracia não somente quando se perde
o espírito de igualdade, mais ainda quando se quer levar o espírito de
igualdade ao extremo, procurando cada um ser igual aquele que
escolheu para comandá-lo. Então, o povo não podendo suportar o
próprio poder que escolheu, quer fazer tudo por si só: deliberar pelo
senado, executar pelos magistrados e discutir todos os juízos ”.(
MONTESQUIEU)

Ora, o fato é que quando a corrupção toma proporções gigantesca, o


povo passa a perder valores como a virtude e a liberdade.

Desse modo, o mesmo nos alerta: “a democracia deve, portanto,


evitar dois excessos: o espírito de desigualdade, que a conduz à
aristocracia e ao governo de um só; e o espírito de igualdade
extrema, que a conduz ao despotismo de um só (...)”.(
MONTESQUIEU)

Como já foi definido anteriormente a palavra Corrupção, segundo o


Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, é “o ato de corromper alguém ou
algo, com a finalidade de obter vantagens em relação aos outros por meios
considerados ilegais ou ilícitos”. Ao se falar em corrupção, geralmente
ligamos o ato ao âmbito político, contudo a corrupção não está presente só ai,
o que acontece no governo são apenas reflexos das nossas atitudes.
O cotidiano do homem é rodeado de feitos corruptos, o famoso “jeitinho
brasileiro” de resolver as coisas na verdade são ações que na maioria dos
casos não conseguimos enxergar como corruptas, pois, para muitos de nós a
corrupção está só na política. São exemplos diários dessas ações do homem:
comprar CDs piratas (sabendo que é ilegal, e que pirataria é crime), a
tentativa de alunos em colar nas avaliações, o adulteramento de gasolina por
donos de postos a fins lucrativos, o “trapaciamento” em filas (mania que as
pessoas têm, em chegarem à ambientes com filas e encontrarem algum
conhecido seu e pedirem pra resolver o seu problema), atestados médicos
falsos, sonegação de impostos, a não devolução de troco que foi dado errado,
tudo isso são atitudes corruptas.
Sergio Buarque de Holanda descreve esse “jeito” do povo brasileiro de
ser como um homem cordial, aquele que ao invés de usar da razão e
formalidade age com o coração, e muitas vezes no lugar de fazer as coisas
certas, “quebra-um-galho”. O grande problema é quando aproveitam se disso
para agir de forma esperta e ilícita, essa situação se agrava quando se usa
dessa cordialidade no poder e na vida pública. E infelizmente é o que mais
acontece no governo Brasileiro.
Analisando isso, é nítido que a natureza humana de ser bom e puro é
corrompida pela sociedade conforme suas necessidades, comprovando a
teoria de Rousseau. O egoísmo, a ambição, e a inteligência tornam-se, então,
características adquiridas pelos seres vivos que tornam-se corruptos, não só
do homem mais também dos animais. Segundo pesquisas abordadas na
Revista Superinteressante pelo cientista Alexandre Versignassi o macaco
chimpanzé para conseguir sexo com a fêmea desejada “paga propina” para
outros machos, a gazela, para fugir dos seus predadores passa uma
“informação privilegiada” trapaceando sua espécie, os morcegos para
sobreviverem praticam uma espécie de “estelionato” garantido sua
sobrevivência.
Isso mostra como a corrupção esta presente em todos os lugares.
Montesquieu afirma: “Todo homem que tem poder é levado a abusar dele”. O
Brasil está na posição 69º no ranking de países corruptos do mundo e um dos
grandes motivos disso é uma “brecha” que existe na Constituição brasileira ,
quanto à possibilidade de nomeação de cargos públicos, por exemplo.
A única saída para esta realidade brasileira, mesmo sendo uma medida
em longo prazo, é um alto investimento na Educação. Essa talvez seja a
única solução, porque tentar combatê-la sem olhar para suas raízes é como
“tentar consertar uma casa pelo teto, quando o problema está no alicerce”. O
que acontece na política é apenas o reflexo do que acontece diariamente na
sociedade. O primeiro passo é a reconstrução desses valores e princípios.
ASegundo Rausch e Soares(2010), o controle sobre a corrupção pode
ser feito pela sociedade, pelo livre acesso às contas públicas, a possibilidade
de conferir, comparar os dados e analisar se os recursos públicos foram
utilizados de forma responsável.

A CORRUPÇÃO É DESMASCARADA

Segundo Boff, as nossas formas de corrupção possuem


raízes históricas no colonialismo e no escravagismo, em si violentos, que
levavam as pessoas, para manterem um mínimo de liberdade, a corromper-se
e a corromper. Inventou-se o famoso “jeitinho”. Há também uma
base política no arraigado patrimonialismo que não distingue o público do
privado e leva as elites a tratarem a coisa pública como se fosse sua e a
montar um tipo de Estado que lhes garante os privilégios. Tudo isso gerou
uma cultura da corrupção, como algo natural e intrínseco à vida social e
política. Os corruptos são vistos como espertos e não como criminosos, o que
de fato são.
Filosoficamente pensando, qual é a raiz última da corrupção? Talvez o
católico Lord Acton (1843-1902) que era historiador e pensador nos ajude. Diz
ele: a corrupção reside fundamentalmente no poder. Sempre citada é sua
frase:” ”o poder  tem a tendência a se corromper e o absoluto poder corrompe
absolutamente”. E acrescentava:”meu dogma é a geral maldade dos homens
portadores de autoridade; são os que mais se corrompem”. A tradição filosófica
e pscanalítica nos tem persuadido de que em todos os seres humanos há sede
de poder e que o poder não se garante senão buscando ainda mais poder. E o
poder se materializa no dinheiro. Quanto mais dinheiro, mais poder.
Para consegui-lo não vale só o trabalho honesto, mas perversamente
todas as formas que permitem multiplicar o dinheiro, quer dizer, asseguarar
mais e mais poder. A história mostra a ilusão desta pretensão. De repente
pode-se perder tudo e ficar na miséria. Se não tivermos controlado nossa sede
de poder e de acumulação, sentimo-nos perdidos.  O antidoto a essa sede de
poder e de dinheiro é  a honestidade, a transparência e a salvaguarda do valor
sagrado da auto-dignidade. Por que não fazem isso, os corruptos se revelam
desprezíveis e infelizes.
De acordo com o juiz federal Sergio Moro, que conduz as investigações
da Operação Lava Jato, disse que a corrupção no Brasil é sistêmica e que
não existe uma "bala de prata" que vai resolvê-la. " afirmação feita durante o
Fórum Veja, evento realizado.
O juiz cobrou uma postura "mais propositiva" do governo para combater
a corrupção. "Existem iniciativas que dependem do governo, inclusive leis que
podem ser aprovadas. (...) Então você ouvia do governo anterior que ele não
interviria na Justiça... Claro, isso é obrigação. Não é só questão da Justiça,
mas de reformas na nossa legislação e, para isso, entra o governo."
O magistrado lembrou que um dos caminhos para combater a corrupção
seria postura possível de ser tomada para o enfrentamento desse caso de
corrupção. Mas também tenho falado, e não poucas vezes, que a iniciativa
privada também pode fazer sua parte."

"Não existe uma bala de prata que resolva essas questões. É preciso
que a Justiça funcione, que os contratos públicos sejam mais
transparentes, é preciso que tenha reforma para aumentar a
transparência da democracia, reduzir custos de
campanhas [partidárias]... Então existe uma série de questões que
tem que ser enfrentada e, o mais importante de todos esses casos [de
corrupção]: que seja levantada a dimensão do problema, porque isso
propicia a formação de um consenso para que a sociedade possa
resolvê-lo."(MORO).

Hoje estamos vendo uma janela de oportunidade para mudanças. Se


nós não mudarmos neste momento em que tanta corrupção é revelada, em que
a população está tão consciente. Acreditamos que hoje é o dia, que hoje é o
tempo que decidiremos o país que nós queremos ter para nós e para as futuras
gerações. Precisamos transformar a indignação em ação. E desta forma o
Ministério Público medidas contra a corrupção e essa apresentam três focos
centrais. O primeiro é evitar que a corrupção aconteça. O segundo é dar um
basta na impunidade e trazer uma punição àqueles que praticam corrupção
proporcional ao mal que eles causaram a sociedade. E o terceiro eixo é a
recuperação do dinheiro que foi desviado.
Face o exposto e com a consciência de que a criminalidade organizada
e a do colarinho branco tendem a estender seus tentáculos por todo o pais,
desta forma cabe a nós, devotos da justiça social , expor os motivos e
possíveis soluções aos infindáveis obstáculos que emergem dia a dia, sob
pena de assistirmos ao perecimento da esperança e ao sepultamento da
decência.

conclusão

ão devem os Brasileiros se lamentar pela quantidade de situações de corrupção que hoje são noticiados
no país. Ao contrário, devem visualizá-los como uma evolução da liberdade de imprensa, por exemplo,
como fruto de uma mais intensa atuação do Ministério Público, após a vigência da novel Constituição,
assim como de uma maior atuação política dos cidadãos brasileiros que passaram a se preocupar mais
com a atuação do governo nas três esferas de Poder.

Tais circunstâncias diferenciam muito os atos de corrupção aos quais se tem notícia em outros períodos
da história do Brasil, tendo em vista que o país não tinha nível tal de democracia que vemos hoje.
Acredito que, tem o Brasil, nesse tempo, com a evolução das instituições, nível democrático jamais
visto em outros períodos da sua história.

Confio que o Brasil vem evoluindo. Nota-se que essa evolução apesar de lenta, é constante, como de
fato deve ser. Não se podem depositar esperanças que tudo vá se resolver de um dia para o outro, ou
que se solucione apenas com legislações cada vez mais rigorosas.

Antes de qualquer coisa, o Brasil precisa compreender que deve caminhar para um tempo onde o
afamado “jeitinho brasileiro”, de querer se pôr em vantagem sempre, não seja mais um comportamento
culturalmente aceito, como hoje acontece. É preciso que o corrupto sinta que não mais é aceito pela
sociedade, que trata-se de persona non gratta.

A tentativa de encarar a corrupção como algo natural é que é amplamente prejudicial à sociedade
brasileira e reduz sobremaneira a possibilidade de se combatê-la.

Nos dizeres de Emerson Garcia[1], o caminho a ser percorrido no embate à corrupção será longo e
tortuoso e talvez ela possa ser suavizada mas nunca será eliminada: “(...) é possível afirmar, com certa
tristeza, que a ordem natural das coisas está a indicar que ainda temos um longo e tortuoso caminho a
percorrer. O combate à corrupção não haverá de ser fruto de mera produção normativa, mas, sim, o
resultado da aquisição de uma consciência democrática5 e de uma lenta e paulatina participação
popular, o que permitirá uma contínua fiscalização das instituições públicas, reduzirá a conivência e,
pouco a pouco, depurará as idéias daqueles que pretendem ascender ao poder. Com isto, a corrupção
poderá ser atenuada, pois eliminada nunca o será.”

Diante disso, devem os brasileiros além de indignar-se, ir à luta, tentar eliminar a corrupção, primeiro
no próprio seio da sociedade, mas não basta indignar-se, é preciso ação. Os cidadãos devem participar
mais da vida política de sua sociedade, acompanhando, fiscalizando, atuando, etc.
As denúncias e a vigilância, por parte da sociedade são fundamentais para a efetiva batalha em desfavor
dessa prática reprovável.

O exercício de práticas clientelistas e patrimonialistas deve ser extirpado da Administração Pública


brasileira, só assim poderá se pensar em atenuação da corrupção. E para isso, não bastarão apenas leis
bem feitas, será necessário, também e, sobretudo, aplicá-las de maneira efetiva, para que possam inibir
os possíveis corruptos. “A salvaguarda das instituições da República requer uma resposta vigorosa e a
colaboração de todos”[2].

Devem os brasileiros refletir e olhar para o passado, buscar na história exemplos de tudo o que foi feito
de errado para, na tentativa de solucionar a questão, reestruturar uma cultura marcada por
transgressões.

Que se busquem os episódios citados, e reflitam a respeito do quanto esses acontecimentos


influenciaram o pensamento cultural do brasileiro. Qual seria a parcela de participação da História na
evolução cultural do brasileiro? E quanto que as práticas patrimonialistas dos períodos colonial e
imperial autorizaram a prática cotidiana de corrupção?

É necessária a busca por essas respostas para que se possa encontrar soluções para se pensar o futuro.

Leia mais sobre esse assunto em  http://oglobo.globo.com/brasil/deltan-dallagnol-


remedio-para-corrupcao-combater-impunidade-18250320#ixzz4CSjvpMH9 
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REFERÊNCIAS
Marcelo Gruman (Junho de 2008). Revista Espaço Acadêmico, : . «A atualidade de Padre
Antônio Vieira». Consultado em 11-07-2014.

Breve história da corrupção no Brasil


Profa. Dra. Rita Biason. Breve história da corrupção no Brasil

Departamento de Relações Internacionais


UNESP - Campus Franca
Voto Consciente

Crítica de Montesquieu à corrupção do poder político 

Francisco Antônio de Andrade Filho


Cristian Charles Oliveira de Holanda

Bibliografia consultada

MONTESQUIEU, Charles de Louis de Secondat, Baron de la Brède et de. (1689 –


1755). Do espírito das leis, São Paulo: Abril cultural, 1988.

Autoria:
** Francisco Antônio de Andrade Filho é Doutor em Lógica e Filosofia da Ciência, na
área de Filosofia Política, pela UNICAMP/SP. Docente em Filosofia na Faculdade
Maurício de Nassau.

*** Cristian Charles Oliveira de Holanda foi acadêmico de DIREITO e bolsista do


CNPq / PIBIC/ DIREITO/ UFAL, sob orientação do Prof. Dr. Francisco Antônio
de  Andrade  Filho  

http://www.orecado.org/?p=68 

BATISTA, Antenor. Corrupção: Fator de Progresso? (LIVRO).


HOLANDA, Sergio Buarque de. O Homem Cordial. São Paulo:
Penguin, 2012.

Versignassi, Alexandre. As raízes da corrupção. Revista


Superinteressante. São Paulo, edição nº 346, maio 2015.
 FILGUEIRAS, F. A tolerância à corrupção no Brasil: uma antinomia entre normas
morais e prática social.Opinião pública, vol. 15, nº 2, novembro, 2009.

BIASON, R. Breve História da Corrupção no Brasil. Franca, 2010.

VIEIRA, Padre Antônio. Sermões. Reprodução facsimilada da edição


de 1682. São Paulo: Anchieta, 1943. Organização do Padre Augusto
Magne. 3 vol.

------. Cartas. Coimbra: João Lúcio de Azevedo, 1925. 3 vol.

------. Catálogo de obras. Rio de Janeiro: FBN/Eduerj, 1999.

FLORENTINO, Manolo. Em costas Negras: uma história do tráfico de escravos entre a


África e o Rio de Janeiro: séculos XVIII e XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

DANNEMANN, Fernando Kitzinger. Voto de cabresto. Disponível em


<http://www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br/visualizar.php?
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Fausto, Boris: A Revolução de 1930: historiografia e história, São Paulo,


Brasiliense, 1972

 CANNABRAVA FILHO, Paulo, Ademar de Barros trajetória e realizações, Editora Terceiro


Nome, São Paulo, 2004, LARANJEIRA, Carlos, A Verdadeira História do Rouba, Mas Faz, Edição
do autor, 1999

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Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa

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