Você está na página 1de 4

Ibsen e a Psicanálise de Freud

Introdução
Este trabalho escrito representa uma série de ideias e paralelos desenvolvidos no
decorrer da leitura da peça Peer Gynt, de Henrik Ibsen.
A aventura de Cândido e a desventura de Peer
O personagem A Curva
Complexo de Édipo

Logo nos primeiros minutos de leitura da peça, um deslumbre de paralelos e


comparações provocou a minha curiosidade. Desde o início, Peer Gynt me lembrou
muito de Cândido, o Otimista. Não apenas este épico de Voltaire, mas também outras
obras como O Alquimista de Paulo Coelho (literatura) e Mãe Coragem, de Bertold
Brecht (Teatro). Em todas estas obras, testemunhamos a tentativa do autor de
capturar todo o processo de amadurecimento de uma vida. Temos personagens que
passam pelos altos e baixos de suas, e seus aprendizados ao longo do percurso. Assim
como a vida essas histórias são marcadas por lições e morais que ultrapassam a vida
pela poesia de transformar o complexo no básico, e o básico no complexo. São tantas
camadas que a certo ponto tentar as interpretar se torna irrelevante. E Ibsen consegue
entregar este tipo de história em sua peça, porem de forma muito diferente.
Ao contrário de Cândido, Peer passa por uma grande desventura. Na peça
acompanhamos o personagem desde os seus 20 anos até a sua velhice. E em toda a
sua vida, foram sempre os mesmos erros que o trouxeram a miséria e os desastres.
Peer não demostra ter grande personalidade, o que é bem cómico, já que em vários
momentos ele insiste no seu próprio jeito de ser, arrogante. Assim como qualquer
adolescente a sua autoconfiança o cega e o trai, já que esse “jeito de ser” que Peer
tanto fala, acaba por ser vazio. O personagem nunca parece aprender com os seus
erros, parece levar a vida como um rio infinito que não para. A única redenção que
demonstra é em sua quase morte. Cândido por outro lado demonstra muita sensatez e
sobriedade. Otimista por ser convencido que momentos de tristeza e felicidade são
passageiros, o personagem encara a vida como um percurso de aprendizagem. Não
podemos controlar a nossa vida, mas podemos controlar a nossa reação diante os
acontecimentos da vida. A cada desastre, a cada maravilha, podemos tirar alguma lição
sobre; E num próximo ciclo, seremos outro, seremos melhores. Peer Gynt é a antítese
disso tudo. Peer Gynt demonstra o quão longe o homem pode levar os seus erros.
A Grande Curva
A Curva é um personagem misterioso com pouca presença, mas com muito impacto.
Ao fugir da rainha troll, peer se depara com a curva. Mas o que é a curva? A curva é
mudança de direção, é quando uma linha reta quebra a sua linearidade, é a mudança,
é uma nova direção, a curva é a mulher. Estranhamente, são as mulheres que causam
as maiores mudanças na vida de Peer. Aase, Ingrid, Solveig, a mulher troll, a rainha
troll, e Anitra. Narrativamente, são essas mulheres que demarcam as fases da peça.
Elas são a curva. Essa curva me lembrou também de uma música que curiosamente se
chama The Great Curve dos Talking Heads, e o mais curioso é que a música alimenta
ainda mais esse paralelo, e parece se encaixar com o contexto da história de Peer
Gynt.
(Verso 1)
Sometimes the world has a lot of questions
Seems like the world knows nothing at all
The world is near but it´s out of reach
Some people touch it, but they can´t hold on

Pessoas como Peer Gynt acham que tem as respostas para todos os mistérios do
mundo, tendem a desenvolver uma desordem psicológica. Essa é a sua falsa confiança,
o seu “jeito de ser”.

(Refrão)
She is Moving to describe the world
(Night must fall, now! Darker! Darker!)
(She has got to move the world, got to move the world, got to move the world)
She has messages for every one
(Night must fall, now! Darker! Darker!)
(She has got to move the world, got to move the world, got to move the world)
She is moving by remote control
(Night must fall, now! Darker! Darker!)
(She has got to move the world, got to move the world, got to move the world)
Hands that guide her are invisible
(Night must fall, now! Darker! Darker!)
(She has got to move the world, got to move the world, got to move the world)

É no refrão que The Great Curve assume a mulher como uma força maior. Uma Deusa
que pelas suas ações, cria o seu próprio significado de mundo. Ao invés de procurar
significados e tentar descreve-los. E se ela cria significados ela tem poder.

(Verso 2)
The world has a way of looking at people
Sometimes we feel that the world is wrong
She loves the world and all the people in it
She shakes ‘em up when she start to walk
(Refrão)
She is partly human Being
(Divine to difine, she is moving to define, so say so, so say so)
(She wanna define, so say so, so say so)
She defines the possibilities
(Divine to difine, she is moving to define, so say so, so say so)
(She wanna define, so say so, so say so)
Holding on for an eternity
(Divine to difine, she is moving to define, so say so, so say so)
(She wanna define, so say so, so say so)
Gone, ending without finishing
(Divine to difine, she is moving to define, so say so, so say so)
(She wanna define, so say so, so say so)

(Verso 3)
The world moves on a woman´s hips
The world moves, and it swivels and bops
The world moves on a woman´s hips
The world moves, and it bounces and hops
A world of light, she´s gonna open our eyes up
She´s gonna hold it, move it, hold it, move it
Hold it, move it, hold it, move it
A world of light, she´s gonna open our eyes up

A mulher como força da natureza, como se fosse “parte humana”. Com o propósito
divino de definir, definir possibilidades. O mundo se move nas ancas de uma mulher,
só ela pode abrir os seus olhos para a luz do mundo. E é nesse sentido que todas as
mulheres de Peer Gynt se comportam. Todas impactam a vida de Peer Gynt, todas
servem como uma curva, uma grande curva.

Conclusão, o Complexo de Édipo

Para fechar esse grande ciclo de falsa confiança, e a vida controlada por mulheres,
vou analisar o desfecho da peça. Que nada mais é que um grande Complexo de Édipo.
Freud nomeou esse complexo com o personagem da peça grega “Édipo Rei” de
Sófocles, onde Édipo sente muita atração pela a sua mãe, e uma repulsa pelo o seu pai.
Sobre o pai de Peer sabemos muito pouco, não esteve presenta na vida do
personagem principal e muitas vezes é remetido com aspectos negativos. É bem
possível que todos os problemas psicológicos de Peer foram desenvolvidos pela falta
de uma figura paterna em sua vida.
Numa primeira fase, Peer parece não ligar muito para a sua mãe. Ele na verdade a
despreza e a abandona. Porem é no final, em sua redenção que Peer demonstra toda o
seu amor pela figura materna. Quando volta para a sua casa, anos depois de
abandonar a sua “mulher” Solveig. Peer se ajoelha e chora, como uma criança pedindo
perdão a sua mãe.

Fontes
https://www.psicanaliseclinica.com/conceito-complexo-de-edipo/
#O_que_e_complexo_de_Edipo

https://genius.com/Talking-heads-the-great-curve-lyrics

Você também pode gostar