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revista de comunicação,

mediapolis
jornalismo e espaço público

10
Periodicidade
Semestral tema
50 Anos de Estudos
sobre o agendamento
Imprensa da Universidade de Coimbra
Coimbra University Press

1
revista de comunicação,
jornalismo e espaço público

10
Periodicidade
Semestral

Imprensa da Universidade de Coimbra


Coimbra University Press

Ficha técnica Direção Editor Adriana Bebiano adrianabebiano@gmail.com


Carlos Camponez carlos.camponez@fl.uc.pt Universidade de Coimbra
Edição Publisher Universidade de Coimbra Felisbela Lopes felisbela@ics.uminho.pt
Imprensa da Universidade de Coimbra Universidade do Minho
Direção executiva Managing Board Fernanda Castilho fernandacasty@gmail.com
Administração Administration Carlos Camponez carlos.camponez@fl.uc.pt Universidade de S. Paulo
Centro de Estudos Interdisciplinares do Século Universidade de Coimbra Fernando Resende fernandoaresende1501@gmail.com
XX da Universidade de Coimbra – CEIS20, Gil Baptista Ferreira Universidade Federal Fluminense
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3000-186, Coimbra, Portugal, Secretariado Universidade do Minho
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Redação Editorial Board Universidade de Coimbra
Ana Teresa Peixinho apeixinho71@gmail.com João Canavilhas joao.canavilhas@labcom.ubi.pt
Design Universidade de Coimbra Universidade da Beira Interior
Carlos Costa Clara de Almeida Santos clara.santos@uc.pt João de Almeida Santos joaodealmeidasantos@gmail.com
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Leonel Brites Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX Universidade Nova de Lisboa
Inês Godinho ifgodinho@netcabo.pt Joaquim Fidalgo jfidalgo@ics.uminho.pt
ISSN Universidade de Coimbra Universidade do Minho
2183-5918 Isabel Nobre Vargues ivargues@fl.uc.pt Manuel Pinto mpinto@ics.uminho.pt
Universidade de Coimbra Universidade do Minho
ISSN Digital Joana Fernandes joanaf@esec.pt João Carlos Correia joaocarloscorreia@ubi.pt
2183-6019 Escola Superior de Educação de Coimbra Universidade da Beira Interior
João Figueira jjfigueira@sapo.pt Maria João Silveirinha mjsilveirinha@sapo.pt
DOI Universidade de Coimbra Universidade de Coimbra
https://doi.org/10.14195/2183-6019_10 Rita Basílio de Simões rbasilio@fl.uc.pt Mário Mesquita mariomotamesquita@gmail.com
Universidade de Coimbra Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa
Rosa Sobreira rosa.sobreira@gmail.com Muniz Sodré sodremuniz@hotmail.com
Escola Superior de Educação de Coimbra Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil)
Sílvio Santos silvio.santos@fl.uc.pt Sílvio Correia Santos silviocorreiasantos@gmail.com
Universidade de Coimbra Universidade de Coimbra
Susana Borges suborges@esec.pt Simon Cottle cottles@cardiff.ac.uk
Escola Superior de Educação de Coimbra Universidade de Cardiff (Reino Unido)
Teresa Ruão truao@ics.uminho.pt
Mediapolis – Revista de Comunicação, Universidade do Minho
Jornalismo e Espaço Público Tito Cardoso e Cunha tcunha@ubi.pt
N.º 10 – 1.º SEMESTRE DE 2020 Universidade da Beira Interior

Normas da revista e princípios éticos:


https://impactum.uc.pt/pt-pt/
revista?id=107213&sec=5
Sumário
Summary Agenda setting en la era digital. O Brasil que o Jornal Nacional quer:
Nuevas tendencias sobre el tercer dinâmicas de agendamento
nivel de agenda setting a través do público no quadro “O Brasil
de las aportaciones de McCombs Que Eu Quero”
(2010-2017) The Brazil that Jornal Nacional
Agenda setting na era digital. Novas wants: dynamics of public agenda in
tendências sobre o terceiro nível de the project “The Brazil That I want”
agenda setting a partir dos Bruno Araújo, Anne Soares Martins, Anny Gabrielly

contributos de McCombs (2010-2017) Martins Carvalho, Layse Karolline de Oliveira Ávila

Agenda setting in the digital age. New e Victor Amaral Arias | 83


trends on the third level of agenda
50 anos de estudos sobre o setting through the contributions of A informação no Facebook e a
agendamento – Caminhos de uma McCombs (2010-2017) satisfação com a democracia – Um
teoria dos media Ana Sastre Diéguez estudo com estudantes portugueses
50 years of studies on agenda setting e Salomé Berrocal Gonzalo | 37 Information on Facebook and
– Ways of a media theory satisfaction with democracy – A study
Carlos Camponez e Gil Baptista Ferreira |5 The talks on the Cyprus problem at involving Portuguese students
Crans-Montana, Switzerland Gil Baptista Ferreira e Susana Borges | 97
(28.06 – 07.07.17) and the Greek-
The language of journalism – The Cypriot Press: The views of newspapers
language of agenda setting effects Alithia, Politis and Haravgi VÁRIA
A linguagem do jornalismo – A As conversações sobre o problema de Objetividade jornalística e perspectiva
linguagem dos efeitos do Chipre, em Crans-Montana, Suíça feminista: por uma articulação
agendamento Maxwell McCombs | 11 (28.06 – 07.07.17), e a imprensa Journalistic objectivity and feminist
cipriota grega: as posições dos jornais perspective: towards an articulation
Porous frontiers: priming as an Alithia, Politis e Haravgi Bibiana Garcez e Maria João Silveirinha | 117
extension of agenda setting and Euripides Antoniades | 47
framing as a complementary approach A construção discursiva do Zeitgeist
Fronteiras porosas: priming como O clã Bolsonaro e o Twitter: contemporâneo no jornalismo de
extensão da agenda setting comunicação política e influência moda: uma análise de capas da
e o framing como uma abordagem na rede social revista Elle Brasil
complementar Clan Bolsonaro and Twitter: Political The discursive construction of the
Samuel Mateus | 19 communication and influence in contemporary Zeitgeist in fashion
social networks journalism: an analysis of the covers
Romer Mottinha Santos, Deysi Cioccari of Elle Brasil magazine
e Thiago Perez Bernardes de Moraes | 65 Guilherme Teodoro de Lima e Bruno Araújo | 131

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Carlos Camponez
INTRODUÇÃO Universidade de Coimbra | Ceis20

carlos.camponez@fl.uc.pt

50 anos de estudos ORCID:https://orcid.org/0000-0003-0832-7174

sobre o agendamento Gil Baptista Ferreira


Instituto Politécnico de Coimbra - Escola Superior

– Caminhos de uma de Educação | LabCom-IFP

gbatista@esec.pt

teoria dos media ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5917-1248

50 years of studies on agenda setting – Ways of a media theory


https://doi.org/10.14195/2183-6019_10_0

Com o presente número da revista paralelismo entre a agenda dos media -se-ia que a questão da comunicação
Mediapolis pretendemos marcar os e a agenda da opinião pública. e dos seus efeitos é não só um tema
50 anos decorridos sobre o seminal O estudo, que viria a público ape- atraente para os novos modelos de in-
estudo de Chapel Hill, que deu origem nas quatro anos mais tarde (McCombs tervenção social como, de uma forma
a uma das áreas mais consistentes de & Shaw, 1972), acabaria por servir de mais problematizante, ela questiona e
estudos das Ciências da Comunicação, referência a muitos outros realizados problematiza os alicerces da liberdade
realizados sobre os media: a teoria do por todo o mundo – mais de 400, como e de racionalidade dos sujeitos, funda-
agenda setting ou do agendamento. referem Ana Sastre Diéguez e Salomé dos, séculos antes, pelo pensamento
O início desta história teve origem Berrocal Gonzalo, nesta edição. Iluminista.
quando Maxwel McCombs e Donald Com efeito, o estudo de McCombs No seu estudo, McCombs e Shaw
Shaw, então dois jovens investigado- e Shaw foi dos primeiros a fornecer propuseram-se responder a algu-
res, decidiram analisar como, a pro- ao campo da comunicação evidências mas questões levantadas por Walter
pósito das eleições presidenciais nor- empíricas que relacionam o poder de Lippmann, em Opinião Pública
te-americanas de 1968, que opuseram agendamento dos media com a agen- ([1922]2008), por essa razão, conside-
Hubert Humphrey e Richard Nixon, da pública. Para além disso, ele posi- rado também o pai intelectual da teoria
os media poderiam, de algum modo, ciona-se em linha com uma das preo- da agenda setting. Através da noção
influenciar a opinião pública. Para o cupações que atravessou todo o campo de pseudoambiente, Lippman distin-
efeito, realizaram um estudo tendo das ciências da comunicação, desde gue entre o que denomina por cena
por base 100 eleitores indecisos, re- os seus primórdios. Com a emergência da ação, a imagem humana da cena
sidentes em Chapel Hill, na Carolina da imprensa industrial de massas, os e “a resposta humana àquela imagem
do Norte, acabando por encontrar um media eletrónicos e a constituição das atuando sobre a cena da ação”. Desta
coeficiente muito forte de correlação profissões da comunicação (o jornalis- forma, sublinha um hiato epistemo-
entre a agenda mediática e a agen- mo, as relações públicas e a publici- lógico que nos separa do mundo que
da dos eleitores. A agenda setting, dade), a preocupação com os efeitos está fora do nosso alcance, da nossa
numa fase inicial, começou por afir- da comunicação sobre as pessoas e a visão e da nossa compreensão, e que
mar que pessoas acabam por conhecer opinião pública impor-se-ia como um por isso necessita de ser explorado, re-
determinados assuntos pelo efeito da tema natural da pesquisa científica, latado e imaginado (Lippmann, 2008
seleção realizada pelos media que, em particular, tendo em conta a sensi- p. 40). Essa é, em grande medida –
deste modo, transforma temas, pessoas bilidade desta questão no quadro das mas não exclusivamente – uma função
e acontecimentos em matéria privile- denominadas democracias liberais atribuída aos media de massa. Contra
giada do debate público, marcando um ocidentais. Em última instância, dir- os apologistas do papel da imprensa e

5
os que criticam as suas insuficiências, obterá uma resposta empírica positiva pansão teórica e empírica da teoria do
Lippmann limita-se a salientar que nos estudos de de McCombs e Shaw. agendamento. Este facto, como afirma
“a análise das notícias e da base eco- McCombs, num texto que amavelmen-
nómica do jornalismo parece mostrar te aceitou escrever para esta edição da
que os jornais necessária e inevitavel- Do media-setting ao media Mediapolis, indicia um futuro pro-
mente refletem, e, portanto, em grande melding dutivo e prometedor para as próximas
ou menor medida intensificam a defei- Deste modo, parece-nos legíti- décadas.
tuosa organização da opinião pública” mo afirmar que a atenção em torno A produtividade dos estudos sobre
(Lippmann, 2008, p. 42). Esta visão da questão sensível dos efeitos da o agendamento reflete-se também num
acerca da importância da imprensa agenda mediática na opinião pública conjunto de conceitos que suscitou
na formação da opinião pública estará determinou em grande medida o su- ou que inevitavelmente lhe são pró-
na base de uma das suas teses mais cesso da teoria do agendamento. Mas ximos, tais como gatekeeping, gate-
polémicas acerca dos profissionais da esse sucesso não pode deixar de ser watching, substantivos, atributos, sa-
comunicação e do jornalismo, ao de- compreendido sem termos presente a liência, relevância, nível de incerteza,
fender que, “para serem adequadas, plasticidade revelada nos desenvolvi- intervalo temporal, agenda melding,
as opiniões públicas precisam ser or- mentos teóricos subsequentes, mos- priming e framing. A este propósito,
ganizadas para a imprensa e não pela trando uma capacidade de se aplicar por exemplo, Samuel Mateus mostrará
imprensa, como é o caso hoje”. a várias geografias e situações, inte- nesta edição como o conceito de fra-
Nesta linha de preocupações grando novas problemáticas e novas ming, tradicionalmente considerado –
acerca da correlação entre agenda hipóteses de estudo, à medida que juntamente com o de priming – como
dos media e a agenda da opinião pú- se foram verificando também grandes uma subespécie de áreas de estudos
blica, Bernard Cohen afirmará, anos transformações quer nos media quer do agendamento dos media, se au-
mais tarde, que o êxito do papel da no espaço público, nos últimos 50 tonomizou ao ponto de se constituir
imprensa não reside tanto na deter- anos. Desde os estudos iniciais sobre numa diferente vertente de pesquisa,
minação sobre como devemos pensar substantivos e atributos até à hipótese baseada “no modelo de acessibilida-
mas acerca do que devemos pensar da fusão das agendas, demonstrando de dos efeitos dos media e no mode-
(Cohen, 1963). Ainda que matizando como as pessoas reagem ao novo con- lo de aplicabilidade e construtivismo
significativamente as primeiras teorias texto mediático da comunicação de social”.
sobre os efeitos mais ou menos dire- todos para todos, composto pelos me- Naturalmente, é na investigação
tos da comunicação sobre os sujeitos, dia tradicionais e pelos novos media, sobre os impactes na opinião pública
Cohen reatualiza uma discussão que a história manifesta claramente a ex- dos novos media e das redes sociais
que os estudos sobre o agendamento de modo a constituírem-se como uma alguns pressupostos da teoria do agen-
se focalizam atualmente e enfrentam representação individual e coerente damento passaram a carecer de no-
o seu principal desafio no presente, sobre os acontecimentos públicos. Se vas reconcetualizações. Uma dessas
como demonstram, através do seu es- até aqui estava em causa o poder dos reconcetualizações tem a ver com a
tudo bibliométrico, Ana Sastre Dié- media sobre o público, as novas abor- questão sensível do papel de media-
guez e Salomé Berrocal Gonzalo. De- dagens integram um olhar em sentido ção dos media e do jornalismo, assim
pois dos estudos sobre a atenção dada contrário: dos efeitos do agendamento como do seu poder de determinação
a determinados assuntos públicos e da do público sobre os indivíduos e do das agendas públicas, tal como preco-
tentativa de analisar a compreensão público sobre os próprios media. nizado nos primeiro e segundo níveis
desses temas à luz das suas caracte- dos estudos sobre agendamento. Ain-
rísticas – identificados por primeiro da que a questão não estivesse com-
e segundo nível dos estudos sobre o Novos mrs. Gates pletamente excluída das problemáti-
agendamento - a agenda melding deu Encontramos exemplos destes três cas estudadas sobre os denominados
origem a um terceiro nível, centrado níveis de abordagem nos artigos desta media tradicionais (imprensa, rádio e
em compreender o processo pelo qual edição de Euripides Antoniades (pri- televisão), o problema de quem deter-
os membros de um público procuram e meiro e segundo níveis dos estudos de mina a agenda dos media e dos jorna-
misturam entre si as diferentes agen- agendamento) e de Romer Santos et listas é colocado, hoje, de forma muito
das mediáticas e fontes de informação al. (terceiro nível). No primeiro caso, mais flagrante, ao mesmo tempo que,
de modo a responder e adaptarem-se à é analisado como três jornais cobriram também, difusa, opaca e, consequen-
suas preferências. Os estudos não dei- as negociações entre a comunidade ci- temente, complexa. Um dos elementos
xam de representar, de alguma forma, priota grega e a comunidade cipriota dessa opacidade resulta, efetivamen-
uma revolução copernicana no foco da turca, que decorreu em Crans-Monta- te, de os media terem perdido o papel
atenção dada aos media de informa- na, na Suíça, entre 2 de junho a 7 de preponderante na mediação entre as
ção. Se o primeiro e o segundo níveis julho de 2017. No segundo caso, o es- fontes das notícia e o público. Na atua-
tinham como principal objetivo per- tudo incide sobre os enfoques da famí- lidade, é possível pensar, de um modo
ceber o poder dos media em definir lia Bolsonaro no Twitter, à medida se muito menos problemático do que no
quais os assuntos preponderantes na foi desenvolvendo o processo eleitoral passado, um plano de informação e
opinião pública, a agenda melding que conduziu Jair Bolsonaro ao cargo formação de opiniões públicas sem
procura perceber qual o papel dos pú- de presidente do Brasil. a intermediação dos media, assim
blicos em determinarem os assuntos e Num contexto em que, suposta- como a opinião pública está hoje em
a forma como eles são apresentados, mente, todos comunicam com todos, condições diferentes de, ela própria,

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condicionar a agenda mediática. De media e o jornalismo nas sociedades – neste caso a TV Globo – quer que o
resto, num contexto em que a desin- contemporâneas. Brasil seja.
formação e a manipulação assumiram A forma como os media se apro-
formatos de notícia, vários estudos vão priam dos conteúdos produzidos por
evidenciando o facto de os públicos se Um novo jornalismo para cidadãos para os transformarem em
informarem na atualidade através das um novo espaço público conteúdos alinhados com a sua pró-
redes sociais. Esta complexificação Em nosso entender, esta dimen- pria agenda mediática não é mais do
verificada nos processos de criação são normativa tem estado ainda mui- que uma encenação de participação
da agenda pública desloca o papel de to fora da discussão dos processos de cívica, que não pode deixar de susci-
mediação dos media informativos e agendamento dos assuntos relevantes tar algumas interrogações.
do jornalismo para um campo em que da opinião pública. Mas acreditamos Na realidade, no contexto atual,
eles são cada vez mais objeto de uma que a agenda melding rapidamente o jornalismo – mais até do que os
remediação. Neste contexto, não po- se encarregará de levantar o problema. próprios media – enfrenta o desafio
demos iludir o facto de que estamos a Da leitura que procedemos aos ar- de se reposicionar normativamente,
falar de informação cuja fonte última tigos selecionados para esta edição da ajustando a sua função social face às
deriva dos media e do jornalismo. Mas Mediapolis, pensamos que esta ques- alterações em curso na esfera pública
esta realidade, merece também ela ser tão está latente nos estudos realizados contemporânea. Uma das questões de-
referida com cada vez mais cautelas, por Bruno Araújo et al. e Gil Baptista cisivas que se coloca é a de se saber
como demonstra o caso de Bolsonaro Ferreira e Susana Borges. que razões têm os cidadãos para conti-
no Brasil. Com efeito, não podemos es- No primeiro caso, os autores mos- nuarem a precisar de jornalistas?
quivar-nos à hipótese de que o papel traram com os media informativos Gil Baptista Ferreira e Susana Bor-
dos media como sinalizadores do que continuam – mesmo a coberto de abor- ges, no seu estudo preliminar sobre os
de importante se está a debater na es- dagens mais próximas dos cidadãos e usos dos estudantes portugueses das
fera pública possa estar a ser definido, da cidadania – a filtrar essa participa- redes sociais e o seu envolvimento com
também e cada vez mais, pelas redes ção submetendo-a à sua própria agen- causas políticas e com a democracia,
sociais. Neste quadro, quer o conceito da. No caso concreto, uma programa ensaiam algumas possibilidades de
de gatekeeping quer o de gatewat- constituído por conteúdos elaborados resposta à pergunta que acabámos de
ching começam a necessitar de novos por cidadãos mobilizados para mos- fazer. A ideia de que a frequência das
olhares. Em última análise, o que aca- trarem “O Brasil Que Eu Quero”, são redes sociais – no caso, o Facebook –
bará por estar em causa será a neces- tratados de forma a exprimir uma rea- pode estar associada a um certo desen-
sidade de repensar normativamente os lidade que um determinado medium cantamento com a democracia merece
ser aprofundada. Tanto mais que esta O leitor poderá, deste modo, contar ças e numa democracia onde todos
conclusão contraria outros estudos so- com uma organização dos artigos que se sintam representados. Justamente,
bre existência de uma relação positiva irão das grandes questões de enqua- uma diversidade e uma representação
entre a utilização de media digitais e a dramento da teoria do agendamento – que a Elle Brasil conseguiu garantir,
participação política e cívica. Mas, se desde as suas origens à atualidade –, a ao proceder a um agendamento capaz
a conclusão do estudo for confirmada alguns estudos empíricos. de criar novas imagéticas e formas de
por outras pesquisas, ela pode não só A presente edição termina com representação, em espaços tirânicos
revelar indícios sobre o tipo e a quali- dois textos na secção VARIA que, como os do discursos da moda, mesmo
dade de discussão que é feito nas redes por coincidência, se articulam perfei- quando eles se dão ares de liberdade,
sociais como apontar caminhos acerca tamente com o espírito da discussão de resistência e de rebeldia.
do qual pode a ser o papel do jornalis- que esta edição da Mediapolis nos
mo no espaço público. suscitou.
Bebiana Garcez e Maria João Sil- REFERÊNCIAS
veirinha retomam a sempre eterna
Textos e contextos questão da objetividade do jornalis- Cohen, B. (1963). The Press and Fo-
O conjunto de artigos e estudos mo para a iluminar a partir de novas reign Policy. Princeton: Univer-
que reunimos nesta edição resulta, em abordagens éticas e normativas, tendo sity Press.
boa medida, de uma primeira inicia- em conta as perspetivas da ética femi- McCombs, M. E. & Shaw, Donald L.
tiva realizada, conjuntamente, pelo nista e do cuidado. Ora, uma questão (Summer, 1972). The Agenda-
Centro de Estudos Interdisciplinares que poderemos suscitar neste debate -Setting Function of Mass Media.
do Século XX, a Escola Superior de normativo sobre o jornalismo poderá The Public Opinion Quarterly,
Educação de Coimbra e a Associação ser a de se saber se, no imenso mar 36(2), 176-187. DOI: https://doi.
Portuguesa das Ciências da Comuni- da comunicação contemporânea, onde org/10.1086/267990
cação, em 2018, assinalando os 50 as informações – as verdadeiras, as Lippmann, W. ([1922] 2008). Opinião
anos do estudo de Chapel Hill. A per- imprecisas e as falsas – disputam a Pública. Petrópolis: Vozes.
tinência e a qualidade dos debates in- atenção do público, o jornalista não
centivaram-nos a abrir uma chamada deveria assumir um papel de curador
de artigos para a Mediapolis e a pre- da informação pública, assumindo
parar uma publicação acerca do tema, uma perspetiva mais inclusiva e em-
que contamos dar à estampa também penhada com a cidadania, num espaço
este ano. público sensível para com as diferen-

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Maxwell McCombs
University of Texas at Austin

The language maxmccombs@utexas.edu

ORCID: http://orcid.org/0000-0001-5292-0958

of journalism – The
language of agenda
setting effects
A linguagem do jornalismo – A linguagem dos efeitos do agendamento
https://doi.org/10.14195/2183-6019_10_1

Abstract Resumo
The evolution of agenda setting over the A evolução do agendamento ao longo
past 50 years is an in-depth, large-scale dos últimos 50 anos é um caso de estu-
case study of the scientific method. This do profundo e de larga escala do método
oscillating history of theoretical explica- científico. Essa história oscilante de ex-
tion and extensive empirical investigation plicação teórica e de extensa investigação
has identified major aspects of the lan- empírica identificou aspectos importantes
guage of journalism that have significant da linguagem do jornalismo que possuem
impact on the formation of public opinion. um impacto significativo na formação da
The theory of agenda setting now includes opinião pública. A teoria do agendamen-
three levels of agenda setting effects, in- to inclui agora três níveis de efeitos de
termedia agenda setting and the concept of agendamento, agendamento intermedia e
compelling arguments that identify key as- o conceito de “compelling arguments” que
pects of the language of journalism. Other identifica aspectos-chave da linguagem
theoretical concepts, need for orientation, do jornalismo. Outros conceitos teóricos,
and most recently civic osmosis and agen- como necessidade de orientação e, mais
damelding explicate the process of agenda recentemente, osmose cívica e agendamel-
setting. All of these are intellectual tools ding, explicam o processo de agendamen-
for dealing with the contemporary problem to. Todos eles são ferramentas intelectuais
of fake news. para lidar com o problema contemporâneo
das notícias falsas. 
Keywords: Three levels of agenda set-
ting; intermedia agenda setting; compel- Palavras-chave: Três níveis de agenda-
ling arguments; need for orientation; civic mento; agendamento intermedia; “compel-
osmosis; agendamelding; fake news. ling arguments”; necessidade de orien-
tação; osmose cívica; agendamelding;
notícias falsas.

11
Figure 1
Media network attribute agenda of a
candidate 

The evolution of agenda setting Expansion of the theory followed also has identified additional dynam-
over the past 50 years is an in-depth, swiftly. The second major agenda set- ics in the language of journalism in-
large-scale case study of the scientific ting study, a panel study during the volving these elements that also have
method, an oscillating history of theo- 1972 U.S. presidential election (Shaw significant impact on public opinion.
retical explication and extensive em- & McCombs, 1977), introduced the These are the third level of agenda
pirical investigation. This continuous theoretical concept of attribute agen- setting – network agenda setting, inter-
expansion of agenda setting, theoret- da setting. The objects that are the media agenda setting and the concept
ically and empirically, has identified focus of attention at the first level of of compelling arguments.
major aspects of the language of jour- agenda setting have attributes, those The most recent of these addi-
nalism, especially in the news media’s characteristics and properties that tions to the theory of agenda setting
reporting of public affairs, which have describe each object. And the third is the third level of agenda setting,
significant impact on formation of major agenda setting study, which was network agenda setting (Guo & Mc-
public opinion and on observable civ- carried out in three diverse communi- Combs, 2016). First and second-level
ic behavior. ties during the 1976 U.S. presidential agenda-setting treat objects and their
The seminal Chapel Hill study election (Weaver et al., 1981) empiri- attributes as separate and distinct
(McCombs & Shaw, 1972) compared cally compared the attribute agendas disaggregated elements. Of course,
news coverage of public issues and of the news media for the two major in reality sets of objects and their at-
public concern about those issues dur- presidential candidates with the pub- tributes are bundled together in me-
ing the 1968 U.S. presidential cam- lic’s attribute agendas for these men. dia messages and in public thought
paign. The substantial correspondence The strong fit between these attribute and conversation. That is, the media
between the media agenda and public agendas also has been widely replicat- agenda and the public agenda are net-
agenda found in Chapel Hill subse- ed, and this area of research is now re- works defined by sets of objects and/or
quently has been extensively repli- ferred to as the second level of agenda attributes. Evidence for network agen-
cated worldwide (McCombs, 2014). setting. In the language of journalism da setting effects, strong matches be-
And these hundreds of studies have these are the key adjectives that frame tween the media agenda and the pub-
included other objects of attention, the objects of attention. lic agenda comparable to those found
such as public figures. In the language The first and second levels of at the first and second levels, also has
of journalism these are the key nouns agenda setting identify key elements been found in a wide variety of setting.
that impact public opinion. This focus in the language of journalism that have These setting range from networks of
on objects of attention is now referred significant impact on the formation of issues and networks of candidate at-
to as the first level of agenda setting.  public opinion. Subsequent research tributes (see Figures 1 and 2) to net-
Figure 2
Public network attribute agenda of a
candidate

works of the attributes of biometric concept, intermedia agenda setting, language of journalism that influence
companies. that entered the research literature in the formation of public opinion. In
Network agenda setting also intro- the 1980s in response to the question addition, another theoretical concept,
duced a new measure of salience, de- “Who sets the media agenda?” (Reese need for orientation, provides a psy-
gree centrality. First and second level & Danielian, 1989; Breen, 1997; Lin, chological explanation for the strength
agendas, beginning with the Chapel 2006; Ragas & Kiousis, 2010; Moham- of agenda setting effects (Weaver,
Hill study, measured the salience of med, 2018).   Among the numerous 1977). Conceptually, an individual’s
objects or attributes by their frequen- influences on the media agenda the need for orientation is defined by two
cy of appearance on each agenda un- influence of high status news organiza- lower-order concepts, relevance and
der consideration. Network agenda tions, such as The New York Times, on uncertainty. Relevance is the initial
setting uses a network measure, degree smaller news organizations is among defining condition of need for orien-
centrality, the number of links each the most constant and dominant.  tation. Where relevance to the indi-
object or attribute in the network has The concept of compelling argu- vidual is low or even non-existent, the
to all the other units in the network, to ments is another explication of the need for orientation is low and agenda
measure salience. Some units in a net- transfer of salience, the transfer of sali- setting effects are weak. If relevance is
work stand at the center of the network ence from attributes of an object on the high, but uncertainty is low – that is,
with numerous links to the other units media agenda to the salience of that individuals already have all the infor-
in the network. Other units are at the object on the public agenda. Certain mation that they desire about a topic –
periphery with few links to any of the characteristics of an object presented then the need for orientation is moder-
other units in the network. in the media may resonate with the ate and the strength of agenda setting
Central to all three levels of agen- public in such a way that they become effects is moderate. If both relevance
da setting is agenda setting’s core the- especially compelling arguments for and uncertainty are high, the need for
oretical idea, the transfer of salience the salience of the issue, person or orientation is high and the agenda set-
from one agenda to another agenda. topic under consideration (Ghanem, ting effects are strong.
This central axiom holds regardless of 1996, 1997; Saldana, 2017). The di-
whether the agendas under considera- agonal arrow in Figure 3 diagrams the
tion are defined by objects, attributes concept of compelling arguments. Concepts, domains and
or networks or regardless of how sali- All five of these concepts, the three settings
ence is measured. levels of agenda setting, plus interme- To understand fully the continuing
This core idea also is the theo- dia agenda setting and compelling expansion of agenda setting theory, it
retical foundation for another basic arguments, identify aspects of the is useful to distinguish between the

13
MEDIA AGENDA PUBLIC AGENDA
Object salience Object salience

Attribute salience Attribute salience Figure 3. The concept of compelling arguments

concepts, domains, and settings that ticularly during elections. However, full range of agenda-setting theory and
define specific details of the transfer the concepts of agenda-setting theory research that exists today. For exam-
of salience between two agendas. The also have guided research in a wide ple, neither of these definitions covers
basic concepts of agenda-setting theo- variety of geographic settings at many intermedia agenda setting. Recogniz-
ry are the object agenda, the attribute points in time. And the emerging new ing the distinction between concepts,
agenda, the network agenda, interme- domains of agenda-setting introduce domains and settings provides a use-
dia agenda setting, compelling argu- a vast array of new operational defini- ful context for defining agenda-setting
ments, and need for orientation. These tions for the basic concepts of agen- and for understanding the broad range
theoretical concepts can be studied in da setting, all in settings far removed of agenda-setting phenomena. In this
many different domains and settings.  from public affairs. variety of domains and settings, the
Beginning with the Chapel Hill Separating the basic concepts of core axiom of agenda-setting theory
study and continuing to this day, the agenda-setting theory from their op- about the transfer of salience from one
dominant domain of agenda-setting erational definitions, this rich variety agenda to another provides parsimony
research is public affairs, particularly of domains and settings helps us to in our theoretical vocabulary. 
public issues. A very different set of see the language of journalism and In the early days of our field Lass-
domains with a significant literature its agenda setting effects more clearly well (1948) noted that mass commu-
dating from the past decade or so are and to envision new directions of re- nication has three broad social roles:
cultural domains that range from edu- search. This separation also clarifies surveillance of the larger environment,
cational and religious institutions to a the various – and sometimes confus- achieving consensus among the seg-
society’s collective memory of its past, ing – definitions of agenda-setting ments of society, and transmission
contemporary museum visits and glob- proffered by various scholars. Hewing of the culture. The process of agenda
al interest in professional basketball. to the original domain and setting of setting is a significant part of the sur-
Within each of these domains, agenda-setting research, some narrow- veillance role, contributing substantial
agenda-setting can be studied in ly define agenda setting as the transfer portions of our pictures and thoughts
many settings. That is to say, the op- of issue salience from the media agen- about the larger environment beyond
erational definitions of the basic con- da to the public agenda. A somewhat our direct experience. As the roving
cepts of agenda-setting theory can be broader definition states that elements spotlights of the media move from ob-
particular aspects of many different prominent on the media agenda fre- ject to object and across the attributes
domains. In the traditional domain of quently become prominent on the of those objects in their surveillance of
public affairs, the most studied setting public agenda. Both definitions are the environment, the public acquires
is the news media-public dyad, par- correct, but neither encompasses the significant knowledge and understand-
ing, especially about the relative sali- nication channels where the whole is spond to this sea of information. Agen-
ence of elements in that environment. much greater than the sum of its parts. da-melding describes how individuals
This aspect of learning is the core of In learning about the world around us mix objects and attributes from a vari-
the agenda-setting process. The agen- through a continuous process of civic ety of media and personal sources to
da-setting process also has major impli- osmosis (McCombs, 2012), the Inter- construct a picture of the world (Shaw
cations for social consensus and trans- net has added a host of new channels et al., in press). 
mission of culture, implications that to this gestalt.  In the scholarly exami- Agenda-melding does not replace
take agenda-setting theory beyond its nation of communication effects, there media agenda-setting, but rather
traditional setting in public affairs and is a tendency to emphasize individual seeks to explain why the strength of
political communication. Mass commu- media more than the communication media agenda-setting varies between
nication’s role in achieving social con- media collectively. The concept of civ- different media, groups and individu-
sensus is manifest in creating a high ic osmosis emphasizes the collective als. Some media …reach for large au-
degree of homogeneity among the news role of the communication media and diences, as if shouting from the top of
media and among the public as a whole the inter-related nature of communica- a pyramid to any and all… vertically
up and down over time. Exploration of tion sources used by citizens for infor- as it were… By contrast, [other] media
the media’s role in the transmission of mation about public affairs. Evidence are horizontal in that they reach out
cultural agendas moves agenda-setting about the absorption of news and in- for audiences with special interests.
across new intellectual frontiers far formation from a media sea dates from (Shaw & Weaver, 2014) 
beyond its traditional realm of public the earliest days of our field to the This mix of vertical and horizontal
affairs. These new lines of cultural in- present era of the Internet (Lazarsfeld, media facilitates the creation of per-
quiry extend from the historical agenda Berelson & Gaudet, 1944; McCombs, sonally satisfying personal agendas.
defining a society’s collective memory Lopez-Escobar & Llamas, 2000; Web-
of the past to contemporary museum ster & Ksiazek, 2012). This does not
visits in Greece and global interest in deny that there are powerful and influ- Fake news
professional basketball. ential individual media. However, the In some cases, the personally sat-
gestalt of media voices composed of isfying agendas created by agenda
legacy media and social media – this melding may contain some amount of
Agenda setting in the vast sea of information – is the core of fake news, misinformation and false-
expanded media landscape our social fabric. hoods planted online by persons or
We swim in a vast sea of news The concept of agenda melding organizations with an agenda in the
and information, a gestalt of commu- further explicates how individuals re- pejorative sense of that phrase. This

15
fake news, which can range from to- ready diffused to thousands of people found: Falsehood diffused significant-
tally false news reports to fake facts before it is blocked from a communi- ly farther, faster, deeper, and more
embedded in news stories about actual cation channel. broadly than the truth in all categories
events, often become part of a personal This leads to the second safeguard, of information, and the effects were
agenda because they support strongly the news audience itself. Over-reli- more pronounced for false political
held views. At other times, however, ance on a few news channels, espe- news than for false news about terror-
they become part of a personal agen- cially horizontal channels that seek ism, natural disasters, science, urban
da simply because of their widespread out individuals with specific inter- legends, or financial information. We
appearance and repetition in social ests, can make an individual more found that false news was more nov-
media. Presumably in this latter case susceptible to fake news. Any news el than true news, which suggests that
they are for the most part deleted as report that an individual truly consid- people were more likely to share novel
fact-based news reports catch up and ers relevant and important should be information. (Vosoughi, Roy & Aral,
debunk them. This is largely an un- verified across numerous channels. 2018, p. 1146)
tested hypothesis. This should be a variety of vertical Neither of these strategies for
Ultimately, there are two safe- and horizontal news sources because identifying fake news is perfect, but
guards to the diffusion of fake news. a major finding of agenda setting re- they are substantial starting points for
The first rests with the media, espe- search dating from the Chapel Hill the elimination of truly fake news, as
cially with social media where indi- study is the high degree of homogene- distinguished from news stories labe-
viduals can quickly spread false news. ity across the agendas of major news led fake news by persons discomforted
Unlike the traditional media which organizations who hew to the tradi- by the facts.
have editors and a tradition of verify- tion of vetting multiple sources for a
ing news reports, social media do not story (Lee, 2007; Boczkowski, 2010;
have editors. However, at least some Maier, 2010). Or one can directly Conclusion
social media do have fact-checking check the veracity of a news reports Expansion of agenda setting over
staffs who identify and delete fake with major fact-check organizations. the past 50 years, theoretically and
news. For example, Facebook, You- For example, Vosoughi, Roy & Aral empirically, has identified key aspects
Tube and Pinterest recently have tak- (2018) classified news as true or false of the language of journalism that have
en steps to significantly reduce the using information from six independ- significant impact on the formation of
amount of fake news about measles ent fact-checking organizations that public opinion. The first and second
vaccines on their platforms. However, exhibited 95 to 98% agreement on levels of agenda setting identify two
in some cases fake news may have al- the classifications. Disconcertly, they key elements, the “nouns” and “ad-
jectives” that influence the public’s social media communication channels as a trigger for intermedia agenda
focus of attention and their pictures to delete misinformation and the veri- setting. Journalism and Mass Com-
of the world beyond immediate per- fication across numerous channels of munication Quarterly, 74, 348-356.
sonal experience. Other research has communication by individual mem- https://doi.org/10.1177/10776990
identified additional dynamics in the bers of the public of news they consid- 9707400208
language of journalism involving these er relevant and important. Guo, L. & McCombs, M. (2016). The Pow-
elements that also have significant Presentations on agenda setting er of Information Networks: New
impact on the public. These are the theory, whether in essays such as this directions for agenda setting. New
third level of agenda setting – network one or in book-length discussions York: Routledge.
agenda setting, intermedia agenda set- present a smoothed case study of the Kim, Y., Kim, Y., & Zhou, S. (2017).
ting and the concept of compelling ar- theory. In reality, the scientific method Theoretical and methodological
guments. And the concept of need for is not so smooth. Kim, Kim & Zhou’s trends of agenda-setting theory: A
orientation has added a psychological (2017) description of the trends in the thematic analysis of the last four
explanation for the strength of agenda various aspects of agenda setting the- decades of research. The Agenda
setting effects. These theoretical con- ory shows irregular progress over the Setting Journal, 1, 5-22. https://doi.
cepts can be studied in many different years. However, their research also org/10.1075/asj.1.1.03kim
domains and settings, not just news shows a continuous pattern of theoret- Lasswell, H. (1948). The structure and
and public affairs.  ical and empirical growth, a pattern function of communication in soci-
The concept of agenda melding that predicts a productive future for ety. In L. Bryson (ed.), The Commu-
further explicates how individuals re- agenda setting research over coming nication of Ideas (pp. 37-51). New
spond to the sea of information creat- decades. York: Institute for Religious and
ed by the blend of legacy media and Social Studies.
social media. Agenda-melding de- Lazarsfeld, P., Berelson, B., & Gaudet, H.
scribes how individuals mix objects REFERENCES (1944). The People’s Choice: How a
and attributes from a variety of me- voter makes us his mind in a presi-
dia and personal sources to construct Boczkowski, P. (2010). News at Work: dential election. New York: Colum-
their personal pictures of the world. Imitation in an age of information bia University Press. 
In some case these personal agendas abundance. Chicago: University of Lim, J. (2006). A cross-lagged analysis of
contain fake news. Ultimately, there Chicago Press. agenda setting among online news
are two safeguards to the diffusion of Breen, M. J. (1997). A cook, a cardinal, media. Journalism and Mass Com-
fake news, the vigilance of legacy and his priests, and the press: Deviance munication Quarterly, 83, 298-312.

17
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Samuel Mateus

Porous frontiers: priming Universidade da Madeira

Labcom; ICNOVA

as an extension of agenda samuelmateus@uma.pt

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1034-6449 

setting and framing as a Web of Science Researcher ID: I-9136-2019

complementary approach
Fronteiras porosas: priming como extensão da agenda
setting e o framing como uma abordagem complementar
https://doi.org/10.14195/2183-6019_10_2

Abstract media effects based on an accessibility esclarecimentos teóricos e metodológicos


Agenda setting and priming both work un- model and on a social constructivist, que podem levar a uma melhor acomoda-
der the premise that media affect audience applicability model – and that, as such, ção dessas três maneiras de compreender
evaluations by influencing the likelihood they develop themselves autonomously and a influência dos media na opinião pública. 
of some issues rather than other coming independently, even if they complement Na primeira parte, caracteriza-se e eluci-
to mind. Framing, in turn, rests on the each other. da-se o significado de priming e framing
idea that, by representing the world in como como uma extensão e uma subespé-
a certain way, media influence people to Keywords: Agenda setting; media pri- cie da agenda setting. Argumenta-se que,
think about the world in particular ways. ming; framing; constructivist approach to embora o priming possa ser concebido
Agenda setting, priming and framing all framing; media effects. como uma extensão da agenda setting, o
suggest that media messages participate framing não é uma subespécie da agenda
in the formation of the public knowledge setting. Na segunda parte, afirma-se que
and that knowledge is activated and used Resumo a agenda setting e o framing constituem
in politically relevant decisions. A agenda setting e o priming existem diferentes vertentes de pesquisa –  este
This paper provides a concise, accessib- sob a premissa de que os media afetam baseado no modelo de acessibilidade dos
le and clear overall perspective on these as avaliações do público influenciando a efeitos dos media e no modelo de aplica-
three theories and aims to provide theo- probabilidade de algumas questões virem bilidade e construtivismo social – e que,
retical and methodological clarifications à mente e não outras. O framing, por seu como tal, eles se desenvolvem em auto-
that may lead to a better accommodation of turno, baseia-se na ideia de que, ao re- nomia e independência, ainda que sejam
these three ways of conceptualizing media presentar o mundo de uma certa maneira, complementares entre si.
influence on public opinion.  os media influenciam as pessoas a pensar
The first part characterizes and elucidates sobre o mundo de modos particulares. A Palavras-chave: Agenda setting; media
on the meaning of priming and framing as agenda setting, o priming e o framing su- priming; framing; abordagem construti-
traditionally being seen as an extension gerem, pois, que as mensagens dos meios vista do framing; efeitos dos media.
and a sub-species of agenda setting. It de comunicação participam na formação
argues that although priming may be con- do conhecimento público e que o conhe-
ceived as an extension of agenda setting, cimento é ativado e utilizado em decisões
framing is not a sub species of agenda politicamente relevantes.
setting. In the second part, it contends Este artigo fornece uma perspectiva geral
that agenda setting and framing constitute concisa, acessível e clara sobre essas três
different strands of research –  namely, teorias e tem como objetivo proceder a

19
Introduction sive impact of mass media was, thus, priming (Weaver, 2007, p. 144). There
The transformations of media’s redirected to a cognitive perspective is a dramatic growth of framing stud-
role on society have sparked a rich emphasizing information-processing.   ies (including media and newspaper’s
and stimulating controversy regarding Emblematic of the cognitive ef- framing process) with a modest growth
the influence of mass media on pub- fects of mass-media is Agenda-Set- in priming studies and a levelling off
lic opinion. Since the two-step flow of ting research, a paradigm of research of agenda setting research (idem).
communication model of communica- on public opinion (Dearing & Rogers, Since agenda setting, priming –
tion, discernible effects were consid- 1996, p. 10) that establishes a con- coming from the cognitive psycholo-
ered minimal being filtered through nection between the importance of gy- and framing all describe aspects
interpersonal interaction and other issues by public opinion and the se- of mass media’s cognitive effects,
social forces (Katz & Lazarfeld, 1955).   lective coverage of particular public these theories tended to be assimilat-
In fact, a massive, direct persuasive problems by mass media (McCombs & ed together, more exactly, priming and
of media effect may even be unlikely Shaw, 1972). Authors such as Robert framing have been integrated to agen-
because audiences selectively avoid E. Park, Walter Lippman or Bernard da setting theory (McCombs, 2004,
contrary information, they suffer from Cohen have certainly opened the path p. 57; Dearing & Rogers, 1996, pp.
an information overload and choose for the emergence of Agenda-Setting 62-67; Diaz, 2004, p. 66). It is well
their media interest in a strong com- research that Maxwell McCombs and known agenda setting refers to the
petition media environment (McGuire, Donald Shaw (1972) inaugurated with strong correlation between the em-
1986). Bennett & Iygengar (2008, p. their Chapel Hill study. phasis mass media place in certain is-
709) even claimed we are now enter- Ever since, agenda-setting scien- sues and the importance attributed to
ing a “new era of minimal effects” (cf. tific papers increased steadily from these issues by audiences (McCombs
Shehata & Strömbäck, 2013). 1972 to 1995, then dropped lightly & Shaw, 1972). Priming, by its turn,
The turn from studying attitudinal until 2000, from which there is again refers to the “changes in the standards
effects of media to examining cog- a rising trend (Weaver, 2007, p. 143). that people use to make political eval-
nitive effects reflected a major shift At the same time, priming articles uations” (Iygengar & Kinder, 1987,
of research in social psychology and were almost inexistent in that period p. 63) and occurs when news content
communication studies, focusing in and have become far more frequent suggests to news audiences specific
indirect effects such as changes in in the 2000 decade (ibidem). It is also issues as benchmarks for evaluating
voter preference during a political evident that framing has become much the performance of leaders and Gov-
campaign (Price & Tewksbury, 1997, more common in communication re- ernment. Framing, in its turn, states
p. 175). The concern about the persua- search articles than agenda setting or that how an issue is characterized by
mass media can have a strong influ- lic knowledge and that knowledge is three theories and it aims to make con-
ence on how it is understood by audi- activated and used on politically rele- ceptual clarifications that may lead us
ences (Scheufele &Tewksbury, 2007, vant decisions. to a better accommodation of these
p. 11). While agenda setting focuses Therefore, agenda setting, priming three media impacts on public opin-
in which topics or issues are selected and framing seem to describe similar ion, specifically to tell apart agenda
for coverage by news media, and prim- phenomena (Chernov & McCombs, setting and priming as media effects
ing focuses on the way mass media 2019). More importantly, McCombs models from framing as a cultural con-
audiences use those selected issues to (2014, p. 101) considers priming struction of the social world.
evaluate political performance, fram- and framing an extension of agen- In the first part, it characterizes
ing is particularly concerned with the da setting.  And Comstock & Schar- and elucidates the meaning of prim-
ways public problems are presented rer (1999) remark that, conceptually, ing and framing as being an extension
and formulated for media audiences. priming and framing are subspecies of and a sub-species of agenda setting. It
What joins all three approach- agenda setting effects. argues that although priming may be
es under a cognitive effects model of This paper dwells on the mean- conceived as an extension of agenda
mass media is the basic interest in the ing of considering similar phenomena setting, framing is not a sub species
ability of media messages to alter pat- like priming and framing as extension of agenda-setting. In the second part,
terns of knowledge activation (Price or subspecies of agenda setting and it contends that agenda setting and
& Tewksbury, 1997, p. 184). Agenda elucidates the frontiers between these framing constitute different strands
setting and priming work both under (sometimes) overlapped notions. It of research –  namely, media effects
the notion that media selection affects shares the view posited by Scheufele accessibility model and a social con-
audience evaluations by influencing (2000) stating that attempts to com- struction, applicability model – and
the likelihood of some issues coming bine these three concepts under the that, as such, they develop themselves
into mind, thus, affecting audience’s same theoretical framework are bound in autonomy and independence, even
judgement of issue importance of po- to failure.  And advocates that, al- if they complement each other.
litical actors. And framing rests in the though the third-level of agenda-set-
idea that, by representing the world in ting is quite analogous to priming,
a certain way, media influence people agenda setting and priming fundamen- Agenda-Setting: a causal
to think about the world in particular tally differ, conceptually and method- theory of indirect media
ways. Agenda setting, priming and ologically, from framing.  effects
framing all suggest media messages The paper provides a concise, The agenda setting function of
participate in the formation of the pub- accessible and clear overall on these mass media offers an understanding

21
of the shaping of public opinion in the need for orientation is moderate Second, agenda setting strong
modern, democratic societies through (McCombs, 2004, p. 65). causal effect is also dependent on
the correlation between the selection These are its main assumptions. time-order since the cause must
media operate about certain issues First, agenda setting is a caus- precede the effect. This means that
and those issues and problems public al theory demonstrated a significant any measured public concern about
opinion finds most relevant. Agenda degree of correlation between media the issues of the moment has to be jux-
setting is at the intersection of mass agenda (the presumed cause) and taposed with the concern of news me-
communication research and political public agenda (its effect). This strong dia about those issues in the preceding
science providing a powerful frame- causal effect is found in three instanc- weeks (McCombs, 2004, p. 15; Atkin-
work to conceive the influence of mass es: one, in the transfer of salience from son, Lovett & Baumgaartner, 2014;
media on public policy. the media to the public agenda; two, Ninkovic-Slavnic, 2016).
Salience is its key concept de- in the correlation between the need Third, the agenda setting causality
scribing the degree to which an issue for orientation about political affairs is demonstrated by the need of results
is perceived as important. The heart and the use of mass media for political to be shown by empirical validation.
of agenda setting lies at the transfer information (Weaver et al., 1975, p. Empirical experiments involving polls
of salience from the media agenda to 465); three, causality is stated in the have the task to prove the functional
the public agenda (McCombs, 2004, fact that the increased prominence of relationship between the content of
p. 5). Instead of focusing in positive a topic in mass media, causes the sali- the media agenda and the response of
or negative attitudes, agenda setting ence of a topic to increase in people’s the public to that agenda (McCombs,
research focuses in how the salience minds (Weaver et al., 1975, p. 460). It 2004, p. 16).
of an issue changes and determines is clear that agenda setting function However, this strong causality in
public problems as issues worth to of mass communication cannot be ap- agenda setting theory refers to an in-
think about. Another key concept is plied equally to all persons since it is direct effect (“what to think about”)
individual’s need for orientation de- dependent on the psychological notion instead a direct media effect (“what to
fined according to two lower-order of “need for orientation”. Neverthe- think”). It represents an answer and
concepts, relevance and uncertainty less, a variety of studies support the overtaking of previous models of direct
(McCombs, 2004, p. 64). Where rel- initial claim of McCombs and Shaw media effects putting researchers in-
evance is low to the individual (or (1972) that individuals learn how vestigating how media news coverage
non-existent), the need for orientation much importance to attach to a given affected an issue’s salience – and by
is also low while under conditions of issue from the amount of information extension the salience of public opin-
high relevance and low uncertainty, in a news story. ion – without presupposing that media
tell people what to think. Instead, in- p. 317). Since Elder & Cobb’s (1971) concerns the transfer of issue’s sali-
direct causal effects have to do with pioneering paper, agenda building has ence from the media agenda into the
influences on individual attitudes. to do the negotiation of interest by so- public agenda, while agenda build-
It is also important to highlight cial groups competing for the attention ing accounts for the transfer of issue’s
that agenda setting is an incremental of public officials and policy agendas. salience between public agenda and
process based on the cumulative ef- They have identified three main steps policy agenda (Neuman, Guggenheim,
fect of media messages. Mass media in the agenda building process: issue Jang & Be, 2014).
convey the priority (salience) of an creation, issue expansion and agenda
issue principally through repetition entrance (Elder & Cobb, 1972).
(Dearing & Rogers, 1996, p. 62). It Despite the above distinction on Priming as Extension
is the relentless work of media on the agenda setting and agenda building, of Agenda Setting: from
reproduction of those issues that per- there is, according to McCombs (2004, distinction to coincidence 
mits the accumulated impact enabling p. 143) no fundamental difference be- Priming was first introduced in
those issues to affect public agenda. tween the two. Since agenda setting Cognitive Psychology and describes a
Therefore, agenda setting postulated defines the transference of salience condition where exposure to one stim-
a similarity between the intensity, or between agendas, whatever the do- ulus influences a response to a sub-
amount of media coverage to the de- main or setting, there is no point in sequent stimulus without conscious
gree of consensus about an issue’s pri- talking in agenda building as some- control or intention. For example, the
ority on public agenda. Media agen- thing radically different from agenda word “Journalist” is recognized quick-
da, thus, influences public agenda setting. Even if it concerns the transfer er following the word “Media” than the
through a gradual process that builds of salience from the public agenda into word “Building”. It is defined as “the
up an issue in the public agenda. policy agenda, this process is still an effects of a prior context on the inter-
This takes us to other key aspect agenda setting process. The dominant pretation and retrieval of information”
of agenda setting: the distinction be- domain of agenda setting is political (Fiske & Taylor, 1984, p. 231). Prim-
tween “agenda setting” and “agenda communication and public issues, but ing has its origins in the psychological
building”.  it can still be studied and observed in network models of memory, according
The latter designates “a macro-lev- many settings. The newsmedia-public to which information is stored in mem-
el studies involving reciprocity and connection is not the only one possible ory as nodes (concepts) that are con-
structural interdependencies among so agenda building and agenda setting nected to one another via associative
public policymakers, mass media, designate the very same process even pathways. The greater the distance
and mass publics” (Denham, 2010, if in different settings: agenda setting between the nodes, the less related

23
they are. When a node is activated it By one hand, both media effects (McCombs, 2004, p. 101).  By making
involves the activation of other nodes are grounded in mnemonic models of issues more salient in people’s minds
depending how accessible they are in information-processing and assume (agenda setting), mass media help ren-
memory. Thus, concepts are primed that individuals form attitudes based der accessible considerations that will
for application to another stimulus. on considerations that are most salient be taken into account when making
Priming entered the study of po- – ergo more accessible- when decid- political evaluations about candidates
litical communication by the hand of ing about and evaluating issues. We or issues (priming).
Iyenga & Kinder (1987) who charac- can observe in both agenda setting and In order to better understand why
terized the media-priming process in media priming effects the primacy of priming has such a close association
two moments. First, messages received the selective attention of individuals: with agenda setting we must consider
through media activate preexisting given the huge amount of information, agenda setting’s level effects.
associated knowledge in individuals. individuals routinely draw upon those The first level of agenda-setting
This activation makes such message parcels of information that are particu- effects designates the traditional per-
(or cognitive unit) more accessible so larly salient at a given time (Moy et al., spective (Wanta & Alkazemi, 2017) on
that the individual is more likely to 2016, p. 5). agenda setting as the transference the
use it in interpreting and evaluating By other hand, priming is essen- salience of objects (issues, candidates,
subsequent stimulus (the attitude ob- tially an outgrowth of the media effects etc). The second level of agenda set-
ject). A media priming effect occurs process initiated by agenda setting ting deals the transference of the sa-
only if the individual (receiving the (Brosius, 1994, apud Moy et al., 2016, lience of attributes between the media
media message) applies the primed – p. 5). This is clear when McCombs agenda and the public agenda and it is
more accessible concept – to a target (2004, p. 98) considers priming as called attribute agenda setting. 
object. For example, when citizens are “the link between object salience on Attribute, second level agenda
primed by news media stories about the public agenda and the direction of setting helps to explain why priming
the issue of national defense, they opinion”. To be more precise, priming is truly an outgrowth and extension
tended to judge their president by how is the link between agenda-setting of agenda setting. Media priming is,
well they feel he has provided nation- effects (resulting in the salience of above all, about media making certain
al defense (Dearing & Rogers, 1996, certain issues among the public) and attributes more salient and more likely
p. 63). the subsequent expression of opinions accessed than others while individuals
Priming is closely related to about specific public issues. That’s form opinion and judgements. In this
agenda-setting because of two main why priming may be considered a sig- particular respect, attribute agenda
reasons.  nificant extension of agenda-setting setting and media priming start to co-
incide because in both cases we are of issues and argues that certain is- network model (Santanen et al., 2000)
dealing with a creation of effects based sues emphasized in the media will be- and asserts that an individual’s rep-
on the salience of attributes. While at come key aspect on issue evaluation. resentation of objects and attributes is
the first level, object agenda setting Priming effects go beyond the mere presented as a network-like structure
media tell us what to think about, the attitude formation and can be subtler where nodes are connected to numer-
inclusion of a second level, attribute because of differences in the amount ous other nodes (Lei Guo & McCombs,
agenda setting further suggests that of coverage given to certain attributes 2012: 54; Vargo, Guo, McCombs &
the media not only tell us what to think of an issue. “Priming, based on attrib- Shaw, 2014).  Network agenda set-
about, but that they also tell us how ute agenda-setting, is therefore a key ting, is labelled as “the impact of the
to think about some objects in the way process for decision making (…). The networked media agenda of objects
they set the public agenda according media play a key role in indirectly or attributes on the networked public
to some attributes. “It is the agenda of shaping public opinions” (Kim et al., agenda of object or attribute salience”
attributes that define an issue and, in 2002, p. 21).  (McCombs et al., 2014, p. 782).
some instances, tilt public opinion to- Still, it is the third level of agen- Third level agenda setting is,
wards a particular perspective or pre- da setting that is virtually identically therefore, named a “Network Agen-
ferred solution. Setting the agenda of to priming. At the first level of agen- da Setting Model” and hypothesizes
attributes for an issue is the epitome da setting, rank-orders of objects that “the more likely the news media
of political power. Controlling the per- are compared. At the second level, mention two elements in tandem, the
spective of the political debate on any rank-orders of attributes are com- greater change that the audience will
issue is the ultimate influence on pub- pared. At the third level, rank-orders perceive these two elements as inter-
lic opinion” (McCombs, 2004, p. 51).  of relationships among elements of the connected” (Lei Guo & McCombs,
Agenda setting and priming, al- media agenda and public agenda are 2012: 55). This means that audiences
though being conceptually distinct compared. The third level of agenda map out objects and attributes as net-
theories, start to refer to the same cog- setting deals with bundling an object work-like pictures according to the in-
nitive, information- processing effects. with an attribute and make them sali- terrelationships among them (Vu, Guo
They both deal with the salience of ob- ent in the public’s mind simultaneous- & McCombs, 2014). A Network Agen-
ject’s attributes that guide individuals ly (McCombs, 2004, p. 55).  da Setting Model (NAS) postulates the
process of opinion. “Attribute prim- The third level agenda setting en- transfer of network relationships and
ing” (Kim et al., 2002, p. 11) is a good tails a new approach borrowed from clusters between agendas, this is, the
example. It refers to the influence of the associate network model of memo- news media transfer the salience of
mass media on the public’s evaluation ry (Anderson, 1983) and the cognitive relationships among a set of elements

25
to the public. The third level of agen- dia priming (Berkowitz, 1984; Price ting is so much related with priming
da setting focus on the transfer of the &Tewksbury, 1997) rely directly in that extension must be taken as an
salience of entire networks of objects network models of memory (Ewolden appendix, an important part of the
and attributes – not just the salience et al., 2002, p. 109). So, if at the first theoretical body of agenda setting. So,
of discrete, isolated elements exam- level, agenda- setting and priming are as long as network, third level agenda
ined in the first two levels of agenda related even if distinct theories on me- setting, describes the transfer of rela-
setting. It is precisely this networked dia effects, with the second and third tionships and clusters between agen-
transference that is supposed to pin- levels of agenda setting these notions das there is not so much distance to
point a more detailed map of the ef- tend to overlap and describe very sim- priming as a theory of activating and
fects on public opinion (Zhuo, Chris & ilar processes of shaping public opin- spreading nodes (concepts). They are
Anfan, 2019). ion. In that case, agenda setting would not twin sisters, although they certain-
It is now clear how third level, be just an umbrella concept subsum- ly live in same vicinity. Maybe we can
network agenda setting is (dangerous- ing priming.  talk about agenda setting and priming
ly we dare to say) begin to appear as This has fundamental consequenc- as “familiar strangers”.
priming. Just as priming designates an es on what to understand about the And what about framing? 
associative model of information pro- idea of priming to be an extension of
cessing, third level agenda setting is agenda-setting. While priming is a re-
also a deep associative, network-based finement of object agenda setting (first Framing as a subspecies
model of information processing. Just level) in the sense that is complemen- of Agenda Setting
as priming works by rendering acces- tary to it and remain a psychological The concept of framing has to-
sible some nodes over others, the third theory on itself, when we consider day so many different uses and theo-
level agenda setting (Network Agenda attribute (second level) and network retical backgrounds that it has not a
Setting Model) emphasizes an associ- agenda setting (third level) the word single definition that is agreed upon
ative network regarding a given topic “extension” is not understood as a (Scheufele, 2008).  
(Lei Guo & McCombs, 2012, p. 57). complement or an addendum. Entman (1993) considers it a
Agenda setting and priming are in As agenda setting evolved into “fractured paradigm” but this is not
serious risk of conceptual collision be- network models of memory, associa- an absolute risk. On the contrary,
cause the third level of agenda setting tion and interconnectedness, priming this diversity makes framing a thriv-
is styled nearly identically to prim- is still an extension of agenda setting. ing concept with many applications
ing. In fact, some models proposing But now extension points to almost a making the media effects domain “a
to explain cognitive processes in me- coincidence. Third level agenda set- bridging concept” (Reese, 2007).
The most cited definition of framing important and, thus, emphasizing a adopting the view that framing is a
belongs to Entman (1993, p. 52) who particular cause of some phenomenon subspecies of agenda setting comes
writes: “To frame is to select some as- (Iyengar, 1991. p. 11). News frames from the second-level, attribute agen-
pects of a perceived reality and make studies concentrate in voter mobiliza- da setting. In fact, to state that attrib-
them more salient in a communicat- tion, vote choice, issue interpretation ute agenda-setting makes particular
ing text, in such a way as to promote or understanding of political problems traits more salient than others is not
a particular problem definition, causal (Lecheler & De Vreese, 2019, p. 14).  radically distinct (as it may seem) from
interpretation, moral evaluation, and/ The two key areas on framing re- asserting that framing is about the se-
or treatment recommendation for the search are frame-building (how frames lection of some aspects of perceived
item described”.  emerge) and frame-setting (the in- reality. In both cases, there is a choice,
A frame could be a phrase, a met- terplay of frames and citizens). The made by news media, that directs indi-
aphor, image or analogy and it is used former refers to the development of vidual’s understanding of the political
basically to communicate the essence frames and their choice on news sto- problem they refer to. Indeed, attrib-
of an issue. According to Gamson & ries while the latter describes the com- ute agenda setting and framing focus
Modigliani (1987, p. 143), a news plex process of frames consumption both on how the objects of attention of
frame is “a central organizing idea and (subsequent, consequent) adop- messages – such as issues or political
or story line that provides meaning to tion by citizens via mass media as a figures are presented, and how cer-
an unfolding strip of events, weaving way to assess and apprehend a polit- tain details of these objects influence
a connection among them. The frame ical issue.  citizen’s thoughts and feelings about
suggests the controversy is about, the These two stages in the framing them. Like attribute agenda setting,
essence of an issue”.  process (Scheufele, 1999) are similar framing assumes semantic differenc-
So, a news frame has a selective to other two stages of agenda setting es in the description of a public issue
function offering a given reading; it (agenda building and agenda setting) that will possibly be interpreted differ-
stresses some elements while pushes influencing the view that agenda set- ently by distinct audience members. 
others to the background. It is a kind of ting and framing, broadly speaking, McCombs (2004, p. 59) argues that
an elusive but imposing interpretation involve an identical process because attributes and frames are synonymous,
about an issue, inclosing a particu- both agenda-setting and framing di- and in some cases even overlapping
lar problem or perspective. In a few rect how individuals will evaluate the concepts. And Entman (1993, p. 53)
words, framing consists in the subtle issues present in news media (Iyengar, relies on the agenda setting terminol-
selection of certain aspects of an issue 1991). ogy to describe frames’ functioning in
by the mass media making them more The most convincing argument terms of salience: “Frames highlight

27
some bits of information about an item into a second level, are entering the abling individuals to quickly identify
that is the subject of a communication, realm of framing (Kosicki, 1993).  and adequately react to a number po-
thereby elevating them in salience. tentially infinite events or situations.
The word salience itself needs to be This simple fact may impel us to dis-
defined: It means making a piece of Was Framing framed miss the coincidence between agenda
information more noticeable, mean- by Agenda Setting? – a setting and framing.
ingful, or memorable to audiences” constructivist approach Concomitantly, we should ac-
(our emphasis). The question that follows is to de- knowledge that framing is a metathe-
It seems that agenda setting and termine the conditions from which it is oretical perspective (Scheufele, 1999,
framing research are here exploring possible to distinguish agenda setting p.  104). Although deeply embedded
the same terrain: how mass media ex- and framing: was framing “framed” to in the larger context of media effects
ert influence by representing an issue a sub-species and extension of agenda research, framing needs to be differ-
through particular attributes or frames setting under a media effects theory?  entiated from other closely associated
that become more salient to citizens In this case, talking about agenda concepts of mass media effects re-
and, in this way, directing political setting and framing would be the same search inserting it in the general con-
understanding. So, attribute agenda and framing would have reduced in struction of social reality. Scheufele
setting, introduced in the 1990’s, re- its scope and theoretical capability. (1999), for example, by searching for
solved a gap that existed between ob- Or, alternatively, is framing something a holistic approach, prefers to concen-
ject agenda setting (focusing on a set conceptually different from agenda trate on a processual model of framing
of issues) and framing (focusing exam- setting? that examines frame building, frame
ining the content substance or framing For starters, agenda setting and setting, individual-level frame pro-
of an issue) (Takeshita, 2005, p. 280). framing emerge in fundamentally cesses and feedback from individu-
It presupposes a non-differentiation distinct theoretical and methodo- al-level framing to media framing.
between agenda setting (specifically, logical backgrounds: while agenda Framing goes, also, beyond a me-
second-level, object agenda setting) setting comes from the media effects dia effects cognitive approach: it cov-
and framing (Popkin, 1994) and it research, framing comes from a socio- ers not only a cognitive dimension (by
takes framing into the theory of media logical background based on the work defining an issue and making a causal
effects (Iyengar, 1991). of Bateson (cf. Mendonça & Simões, interpretation) but also the affective
That’s why some authors “com- 2012) and Goffman (1974) in which one (by providing a moral evaluation)
plaint” that agenda setting research- frames are powerful ways of organizing and behavioral dimension (by claim-
ers, by extending the original notion personal and collective experience en- ing a treatment recommendation)
(Takeshita, 2005, p. 281). So, we can as discursive practices aiming to trig- Frames exist in the connection be-
actually see that framing may be rich- ger some effects (Druckman & Nelson, tween cognition and culture that are
er and step beyond a media effects re- 2003).  beyond a strictly individual formula-
search paradigm.  Following Van Gorp (2007, p. 73), tion and a purely strategic usage. Is-
Indeed, framing is not even equiv- I suggest to envisage framing under a sues and frames have to be seen in-
alent to the attributes agenda setting.  cultural and constructionist approach dependently given that the attribution
Gamson (1992) argues that fram- in which it interacts with the larger of social meaning to media content are
ing is a kind of symbolic signature society and entails a dynamic social part of an interpretative process (Van
matrix (cf. Weaver, 2007, p. 143). This process where reality is produced, Gorp, 2007, p. 63). Frames are cultur-
means that frames are not issues nor reproduced and transformed by both al elements that form the base of social
attributes but greater symbolic pillars, media and audience, at the individual communication. They are, thus, basic
or leading perspectives, guiding the and collective levels.  mechanisms through which we com-
understanding of an issue. By recover- Framing is a complex, multi-lev- municate and socially produce and
ing its sociological origins in Bateson el process that describes an active reproduce the world.
and Goffman, we recognize that frames interpretation and evaluation of the As part of culture, they necessarily
are meaning units that structure the world. Every society relies on a cultur- get embedded in news media content
perception of reality and mark out the al stock of negotiated frames that are and are negotiated with journalists, au-
adequate behaviors to adopt.  Frames a central part of its culture. Although dience members but also social struc-
are, then, social angles and although culture refers to a set of persistent and tures and institutional processes. As
they can be used strategically, this publicly communicated set of beliefs, Scheufele (1999, p. 105) comments,
does not mean that frames equal strat- codes, myths, values, norms or frames framing is, within the realm of politi-
egies that aim to obtain a given effect. shared collectively, frames are used by cal communication, best operational-
It was precisely this reduction of the individuals as a repertoire of thinking ized in terms of social constructivism
concept of frame to a strategic use in and action. And even if they can suffer in which media actively set the frames
order to attain certain tactical objec- modifications over the course of time, of reference from which audiences in-
tives that brought it closer to the mass frames are, nonetheless, rather stable tegrate, interpret and infer. There is
communication research ultimately since they are part of culture as sche- an active processing. Individuals use
making framing as a subspecies or an mata of organized knowledge.  mass media content but since media
equivalence of agenda setting (Men- Hence, frames are not cognitive messages are always incomplete (as a
donça & Simões, 2012, p. 195). At aspects like issues are cognitive as- small part of a culture), citizens pon-
this light, frames tended to be thought pects of agenda setting and priming. der on the information they get based

29
on preexisting meaning structures or trast, a constructivist perspective on hand, work on a more sociocultural
schemas. framing takes media content as both level. 
According to a constructivist view a dependent and independent vari- The difference between them is the
of framing and political communica- able. “Media content is the result of difference between asking whether we
tion, audience rely on parcels or ver- journalistic routines and extra-media think about an issue and how we con-
sions of reality built from personal pressures, and it is actively processed ceive and apply different frames. The
experience, social interaction and the by audience. As such, the framing difference is between dealing with is-
interpreted selection operated by mass concept uniquely combines elements sues or actively constructing them in a
media (Scheufele, 1999, p. 105). that can generate strong media effects unifying dynamic between audiences
with factors that limit this impact” and media as well as cultural institu-
(Van Gorp, 2007, p. 70).  tions and shared symbols.
Agenda Setting and Also, the framing process is not Third, while agenda setting and
Priming, by one hand, unilateral nor linear. On the contra- priming are mostly concerned with is-
and Framing, by other ry, it is the result of the interaction sue’s salience and accessibility, fram-
hand: different strands of of a myriad of aspects related to both ing, in contrast, does not equate frame
Research journalistic production and audience to issues (Van Gorp, 2007, p. 70). In
Following what has been said, one reception. Further, frames are tied to fact, one thing are issues, another
must not assimilate Agenda Setting to cultural and social macrostructures thing are frames that guide individual
Framing. There a three main differ- that advise researchers to incorporate and collective perception about them. 
ences between, by one hand, agen- a wide range of factors besides cogni- One issue can be object of several
da setting and priming, and by other tive ones (cf. agenda setting and prim- frames (i.e Great Britain’s Brexit from
hand, framing. ing). While these theories are mainly European Union can be framed as na-
First, while agenda setting and conceptualized as a matter of individ- tional salvation but also as a national
priming are causal explanations of ual cognition, the cultural approach to disaster) and, at the same time, the
media effects (and statistically veri- framing assumes that frames are im- very same frame can be used to cover
fied), framing is a deeply interactive, bedded in larger structures and have diverse issues (i.e the frame of “ca-
complex, communicative and symbol- cultural resonance. tastrophe” can be used to describe a
ic process through which social reality Second, and following this line of country’s economic policy but also to
is constructed. As such, the premises thought, agenda setting and priming describe the lack of logistic means in a
of framing are not formulated in terms work at a psychological, individu- sever tempest situation). News media
of the effects of media content. In con- al level, while framing, on the other can take a particular issue from po-
litical agenda (Pascal & Anke, 2019) can be retrieved from memory. They framing influence would be different
and, nevertheless, apply an opposing are bounded by the frequency with according to media audiences that
or contrasting frame to cover it. Agen- which issues are portrayed and their favor the sugar industry or that favor
da setting and priming research tend argument is essentially quantitative healthy food.  It is the dialectical na-
to deal with issue’s as unitary research suggesting that greater frequency of ture of frames (socially available but
objects, and they are not so sensible exposure to issues makes them more individually negotiated) that prevent
and complex as framing taken as a likely to be uses by media audiences them to describe a simple and auto-
constructivist approach.  (Kim & Scheufele, 2002, p. 9). mated reply by individuals to media
The fundamental discrepancy be- In contrast, framing exemplifies an messages.
tween agenda setting and priming, by applicability-based model suggesting Yet, accessibility and applicabili-
one hand, and framing, by other hand that media coverage influences audi- ty models are not completely isolated
comes down to the difference between ences not through issues but primarily from one another (Scheufele & Tewks-
accessibility and applicability effects semantically, how an issue is present- bury, 2007, p. 16) since a frame will
(Price & Tewksbury, 1997).  ed and described. It is this discursive be more likely activated when it is
Agenda setting and priming are construction that evokes responses in accessible. 
memory-based models of information media audiences in which frames will For example, framing financial
processing. The temporal dimension possibly be interpreted differently by bankruptcy as an economic crisis will
of these theories clearly assumes that different audience members. There is be more probable to guide a public
issues (some aspects of them) are more no direct, strong effect because frames evaluation if the issue is constantly re-
accessible and easier recallable. They are perspectives that are culturally peated and the same frame applied in
describe a temporal intensity that and socially entrenched.  other issues (i.e. The death of football
helps bring to the forefront some is- So, framing is a theory better club’s owner as a football club’s crisis).
sues that will influence the standards equipped to answer those voices that Likewise, an inapplicable frame is un-
they use when deciding and evaluat- naively equated media effects to al- likely to be used, not matter how ac-
ing political problems or candidates. most mindless, mechanical or re- cessible it may be (i.e framing a sing-
Accessibility is, in simple terms, a sponse-based effects. That is not the er’s stage fall as a personal crisis, even
function of “how much” or “how re- case with framing. For example, a this frame is one of the most frequent
cently” audiences have been exposed news message may suggest a connec- in today’s mass media).
to certain issues. Agenda setting and tion between taxes policy and sugared So, instead of endorsing the view
priming are accessibility models since beverage consumption and be pres- that assimilates priming and framing
are based on the ease these issues ent through a simple frame. Yet, the to agenda setting, it is better to en-

31
visage framing as an independent re- Yes, at least a parcel of framing agenda setting and framing theories
search strand: a general theory based research tended to be assimilated will have to revise their core-assump-
on the operation and outcomes of a to a media effect in the same way of tions and possibly to work togeth-
particular system of thought and ac- agenda setting (cf. Druckman & Nel- er. Not working together as one, but
tion (Entman, 1993, p. 56).  son, 2003). Nevertheless, a cultural working together as complementary
More than trying to fit in framing approach to social construction car- perspectives on the media influence
and agenda setting (and specifically ried on framing expands its theoret- on public opinion.
inserting framing in the second lev- ical scope (and domains of applica- Hence, “working together” does
el, attribute agenda setting), it seems tion) and prevents it to be reduced not mean that framing is a kind of me-
more plausible to consider framing to a merely, more or less, mechanical dia effect identical to second-level,
as research approach of its own with effect in which frames condition and attribute agenda but that each one is
similar benefits to the study of politi- determine media audiences. So, fram- a fundamental rich, useful and bal-
cal communication and public opinion ing was “framed” inside a frame of ancing approach. They together illu-
formation. media effects similar to agenda setting minate what issues media audiences
Framing is not a pass-partout con- (cf. Mendonça & Simões, 2012). Nev- think about, but also how media and
cept (Van Gorp, 2007, p. 60) but, in- ertheless, it is an applicability-based audiences understand those issues.
spired by a socio-cultural perspective, model, it differs fundamentally from So, in this respect, a full agenda setting
it is more than a pure model of media accessibility-based models like agen- study does not do without recognizing
effects. It is a research strand parallel da setting or priming. how those issues are understood and
to agenda setting that enlightens an- There is also a recent development used – in other words, framed. 
other kind of cognitive influence on in media that suggests a clear demar- Indeed, agenda-building may be
media audiences. cation between agenda setting (and inseparable from news-framing pro-
priming) and framing.  cesses (Moy et ali., 2016, p. 11). Blog-
Given that growing prevalence of ging and social media activity help
Conclusion online media in our lives and its nev- likewise to determine newsworthiness
Was Framing framed by Agenda er-registered capacities of dissemina- and how issues are framed by citizens.
Setting?  tion of messages (including news but This means we are now facing the seri-
By posing agenda setting (and also rumors, fake news and personal ous possibility that traditional agenda
priming as its extension) and framing opinions) and the ability of individ- builders and agenda setters are losing
as different approaches of research the uals to select their news (as well as importance. Only empirical studies
answer is now perfectly clear.  their issues and their frames), both will demonstrate this hypothesis but
the prospect of this remind us that theoretical and methodological bound- they are more accessible to both media
agenda building, and agenda setting aries between agenda setting, priming and audience. 
will best define media’s influence on and framing by taking a centripetal Framing, thus, is not an extension
public opinion in conjunction with a trend of research (McCombs et ali., nor a refinement – a sub-species – of
view that appreciate the cultural and 2014: 783): this is, by explaining the agenda setting. Framing is perhaps
sociological dimension of framing theoretical contours of agenda setting’s better described as the faithful com-
those issues.  core concepts. While the boundaries panion of agenda setting research in
This is to day today’s online media on agenda-setting and priming are al- the task of enlightening media role
role on making some issues more sali- most overlapping (especially after the on political communication. Together
ent than others is inseparable from the third level, network agenda setting), they refer to the encompassing process
reproduction of certain frames. Frame the same is not true to framing where in which “the most important problem
distribution enhanced by digital me- its applicability model mark a clear to public opinion” may also be the one
dia is now a key aspect of media’s in- frontier on them. Even if they describe best framed (in both reiteration, dis-
fluence on public opinion. Individuals media influence on public opinion for- tributive and discursive terms).
select and share news and, at the same mation, the nature of the influence is
time, given we live in a plentiful infor- quite distinct, as we have seen. 
mation society, they can choose which The frontier between agenda set- REFERENCES 
frames they prefer, adopt and, above ting and framing exists: but is is a
all, share with others.  porous frontier that like membranes Anderson, J.R. (1983). The Architecture of
So, the question today of online surge them into entering a mutual di- Cognition. Cambridge, MA:Harvard
media is not only about their role on alogue in order to better describe how University Press.
agenda setting but also their role in issues are accessible and have been Atkinson, M. L., Lovett, J., & Baumgaart-
frame distribution and frame availa- framed. In effect, without a rooting ner, F. R. (2014). Measuring the
bility, and how frames are adopted and attitude on the social construction of media agenda. Political Communi-
reproduced (Wu & Choy, 2018). Digi- frames, accessibility-based models cation, 31, 355–380.
tal media and frame distribution intro- are vague and cannot fully explain the Bennett, W. L., & Iyengar, S. (2008). A
duce a new and radical layer between social reproduction of issues. In re- new era of minimal effects? The
journalistic-focused frame-building verse, these porous frontiers between changing foundations of political
and audience-focused frame setting agenda setting and framing will take communication. Journal of Commu-
(Moy et al., 2016, p. 11). researchers to acknowledge that re- nication, 58, 707–731. doi:10.1111=-
This paper has established some current frames are frequent because j.1460-2466.2008.00410.x

33
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John Wiley & Sons, Inc. https://
doi.org/10.1002/9781118766804.
wbiect266

35
Agenda setting en la era Ana Sastre Diéguez
Universidad de Valladolid

digital. Nuevas tendencias anasastredieguez@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2912-0949

sobre el tercer nivel Salomé Berrocal Gonzalo

de agenda setting a través Universidad de Valladolid

salomeb@hmca.uva.es

de las aportaciones ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0483-0509

de McCombs (2010-2017)
Agenda setting na era digital. Novas tendências sobre o terceiro nível
de agenda setting a partir dos contributos de McCombs (2010-2017)
Agenda setting in the digital age. New trends on the third level of agenda
setting through the contributions of McCombs (2010-2017)
https://doi.org/10.14195/2183-6019_10_3

Resumen abrir nuevos horizontes en la investiga- agendamento, analisando casos especí-


Esta investigación examina el tercer ni- ción sobre agenda setting en el marco de ficos que fornecem solidez científica ao
vel agenda setting (NAS, network agen- los nuevos medios digitales y las redes Modelo de Rede de Agenda Setting, for-
da setting) en la era digital siguiendo la sociales. necendo também conclusões sólidas que
producción científica más reciente del contribuem para o desenvolvimento e para
profesor Maxwell McCombs. La metodo- Palabras clave: network agenda set- a evolução deste modelo de comunicação,
logía empleada es doble: por un lado, se ting (NAS), internet, opinión pública, já com meio século.
realiza un análisis bibliométrico de sus M. McCombs Este trabalho contribui, através da revisão
aportaciones sobre NAS en los últimos atual do estado da teoria do agendamento,
años (2010-2017); por otro, se realiza un para abrir novos horizontes na pesquisa
análisis en profundidad de sus artículos Resumo sobre o Agenda Setting no quadro dos
más destacados durante esas fechas de- Esta pesquisa analisa o terceiro nível do novos media digitais e das redes sociais.
dicados al estudio de NAS en el actual agenda setting (NAS) na era digital, tendo
ecosistema informativo. em conta mais recente produção científica Palavras-chave: Agenda setting de rede
La revisión de los artículos más recientes do Professor Maxwell McCombs. A meto- (NAS); internet; opinião pública; M. Mc-
de McCombs (2010-2017) descubre las dologia utilizada é dupla: por um lado, é Combs.
nuevas tendencias y la evolución de la realizada uma análise bibliométrica dos
teoría de la agenda mediante el análisis de seus contributos para o NAS nos últimos
casos concretos que aportan solidez cien- anos (2010-2017); por outro, é efetuada Abstract
tífica al Modelo de Red de Agenda Setting, uma análise aprofundada dos seus arti- This research paper addresses the study
ofreciendo asimismo sólidas conclusiones gos mais relevantes durante os períodos of third level agenda setting (NAS, net-
que contribuyen al desarrollo y evolución dedicados ao estudo do NAS no atual work agenda setting) in the digital age,
de este modelo de comunicación, que ya ecossistema informativo. by reviewing the most recent publications
goza con medio siglo de antigüedad. A revisão dos artigos mais recentes de of Professor Maxwell McCombs. The me-
Este trabajo contribuye a la revisión actual McCombs (2010-2017) revela as novas thod used in this research is twofold: a
del estado de la teoría de la agenda para tendências e a evolução da teoria do bibliometric analysis of his work about

37
NAS in recent years (2010-2017) and a 1. Introducción mente dicha, ya que el origen de la
deep analysis of his most relevant reports Maxwell McCombs es considera- teoría de la agenda se remonta a la
during the periods dedicated to network do uno de los padres fundadores de célebre cita de Bernard Cohen que
agenda setting in the current information la agenda setting (Dader, 1990; Mu- afirma que la prensa no puede durante
ecosystem. ñoz-Alonso, 1990; Rodríguez Díaz, mucho tiempo tener éxito diciéndole a
By studying McCombs’ most recent arti- 2004), un modelo de comunicación la gente qué pensar, pero sí en cambio
cles (2010-2017) we can follow the new que cuenta con medio siglo de anti- diciéndole sobre qué tiene que pensar
trends and the evolution of the agenda set- güedad. McCombs goza de reconocido (Cohen, 1963).
ting theory, backed with several research prestigio entre los científicos que ana- Las investigaciones realizadas en
projects that suggest solid conclusions to- lizan los efectos de los mass media en la década de los cincuenta, principal-
wards the development and progress of this la ciudadanía debido a su perspectiva mente en las universidades america-
half-century old communication model. innovadora en la investigación sobre nas, que sostienen que los medios de
This also opens new and broader horizons agenda setting y a sus estudios sobre comunicación son poderosos y que
to the study of the agenda setting theory el impacto de los medios de comunica- influyen en los individuos, incluyen
within the frame of the new media and the ción en la formación de la opinión pú- algunas teorías que han quedado
social networks in the contemporary media blica. Además, desde su estudio pio- desfasadas como la teoría de la agu-
landscape, which is constantly evolving. nero de Chapel Hill (1968), el término ja hipodérmica (Lasswell, 1927) o el
agenda setting aparece reflejado en modelo estímulo-respuesta (Pavlov,
Keywords: Network agenda setting (NAS); más de 400 estudios de todo el mundo. 1920), pero los estudios que siguen a
internet, social networks; public opinion; Los textos clásicos de McCombs y estos modelos indican que los medios
M. McCombs Shaw (1972, 1976, 1977) mantienen de comunicación tienen cierto grado
que los medios de comunicación, por de poder y que ocasionan efectos so-
el simple hecho de prestar atención bre las audiencias. La importancia de
a algunos temas e ignorar otros, tie- los medios aumenta, según McCombs
nen un efecto en la opinión pública, y y Shaw (1972), si se tiene en cuenta
como consecuencia, la gente tiende a el marco de las campañas electora-
conocer aquellas cuestiones sobre las les, ya que entonces los medios de
que se ocupan los medios y adopta el comunicación se convierten en la
orden de prioridades que se asigna a fuente principal de información polí-
los diversos temas. Sin embargo, ésta tica nacional, y para la mayoría de los
no es la primera definición estricta- ciudadanos ofrecen la mejor y única
Artículos
Lodzki, B., y Nowak, E. (2015). New Trends in Agenda-Setting Research. Central European Journal of Communication, 8
1
(2), 301-312.
Vu, H. T., Guo, L., y McCombs, M. (2014). Exploring “The World Outside and the Pictures in Our Heads”: A Network Agenda
2
Setting Study. Journalism & Mass Communication Quarterly, 91 (4), 669-686.
Guo, L., Vu, H. T., y McCombs, M. (2012). An Expanded Perspective on Agenda-Setting Effects: Exploring the third level of
3
agenda setting. Revista de Comunicación, 11, 51-68.
McCombs, M., Shaw, D. L., y Weaver, D. H. (2014). New Directions in Agenda-Setting Theory and Research. Mass Communica-
4
tion and Society, 17 (6), 781-802.
Guo, L., Chen, K., Aksamit, R., Guzek, D., Wang, Q., Vu, H., y McCombs, M. (2015). Coverage of the Iraq War in the United
5
States, Mainland China, Taiwan and Poland. Journalism Studies, 16 (3), 342-362.
Rashi, T., y McCombs, M. (2015). Agenda Setting, Religion and New Media: The Chabad Case Study. Journal of Religion, Media
6
and Digital Culture, 4 (1), 126-145.
Vargo, C. J., Guo, L., McCombs., M., y Shaw, D. L. (2014). Network Issue Agendas on Twitter during the 2012 U.S. Presidential
7
Election. Journal of Communication, 64 (2), 296-316.
8 McCombs, M. (2012). Civic Osmosis: The Social Impact of Media. Communication and Society, 25 (1) 7-14.

aproximación posible a las cambian- tran los avances encontrados en este El planteamiento metodológico
tes realidades políticas. ámbito. Las categorías que conforman empleado, una vez acotado el análisis
Los trabajos de McCombs han evo- la estructura de la investigación son bibliométrico y seleccionada la mues-
lucionado a lo largo de los años para las siguientes: tra, consiste en la aplicación del méto-
adaptarse a la era digital y este aná- do de análisis de contenido (Wimmer y
lisis bibliométrico tiene como objeto • 
Nuevas aportaciones sobre Ne- Dominick, 2006) para observar el pa-
de estudio revisar sus artículos más twork Agenda Setting pel del tercer nivel de agenda-setting
recientes, aquellos comprendidos en el • 
Casos prácticos de Network en el actual ecosistema informativo.
periodo 2010-2017, con el fin de averi- Agenda Setting El análisis de contenido utiliza la
guar en qué estado se encuentra la teo- • La agenda setting y los nuevos siguiente plantilla de codificación:
ría de la agenda, qué investigaciones medios
se han realizado y cómo ha evolucio-
Plantilla – Ficha de codificación
nado el tercer nivel de agenda setting Así, a continuación se presen-
para adaptarse a la transformación del tan los 8 trabajos que constituyen la Titulo del artículo
cambiante panorama mediático. muestra por cumplir los siguientes re- Revista de publicación

quisitos: estar publicados en revistas Año de publicación


Número de la Revista
de alto impacto, ser investigaciones
Datos de la revista
2. Materiales y métodos originales, constituir estudios pione-
Número de páginas del artículo
En el período definido para lle- ros en su campo, y proporcionar re-
Ubicación en la revista
var a cabo este análisis bibliométri- sultados novedosos en el ámbito de la
DOI
co (2000-2017), Maxwell McCombs agenda-setting en las tres categorías
Impacto de la revista (JCR)
cuenta con las siguientes publicacio- establecidas.
Autor/ Autores
nes relacionadas con la agenda set- El análisis de los artículos de Tema del artículo
ting: 18 artículos, 5 libros, y 14 capí- McCombs en el período 2010-2017 Palabras clave
tulos en libros de otros autores. muestra la evolución de la teoría de la Objetivo del artículo
Para delimitar el campo de traba- agenda en el marco de internet y cómo Hipótesis
jo al marco del tercer nivel de agen- estos cambios influyen sobre la for- Tipo de trabajo (teórico/empírico)
da setting y poder profundizar en los mación de la opinión pública actual, Metodología
nuevos estudios sobre la agenda, se ha protagonizada por el tercer nivel de la Fase de la agenda setting
procedido a determinar como muestra agenda-setting como consecuencia de Conclusiones
los 8 artículos científicos que mues- la inmersión en la era digital. Fuente: Elaboración Propia

39
La ficha de codificación está com- 3.1. Nuevas aportaciones e influir de forma simultánea en la
puesta por una serie de categorías que sobre el tercer nivel de audiencia, creando un modelo de red
agrupan los datos básicos del artículo agenda-setting (NAS) mucho más complejo que los anterio-
para facilitar su localización y análi- De los 8 artículos seleccionados, 4 res niveles (Nowak, 2016).
sis. Así, se registra el título, autores, se ocupan del tercer nivel de la agen- En el trabajo de Lodzki y Nowak
datos de la revista, doi y temática. da-setting. Son los siguientes: titulado New Trends in Agenda-Setting
Además, la ficha se completa con una Research (2015) se recoge una entre-
serie de datos que facilitan analizar los – 
New trends in agenda-setting vista realizada al profesor McCombs
contenidos con detalle para realizar research en la que analiza la evolución de la
un estudio en profundidad: objetivo – 
Exploring “the World Outside teoría de la agenda-setting y describe
del artículo, hipótesis, tipo de trabajo, and the Pictures in Our Heads”: su estado actual. En esta entrevista
metodología, fase de la agenda-setting A Network Agenda-Setting McCombs afirma que con la aparición
y conclusiones. Study de internet y las redes sociales la teo-
– 
An Expanded Perspective ría de la agenda recibe una atención
on Agenda-Setting Effects. renovada y surgen nuevos interrogan-
3. Resultados Exploring the third level of tes relativos al poder que ejercen los
Los artículos examinados, aten- agenda-setting medios de comunicación (tanto los tra-
diendo a la plantilla de codificación, se – New Directions in Agenda-Set- dicionales como los nuevos) sobre la
ajustan a las tres categorías principa- ting Theory and Research opinión pública. Llegados a este pun-
les mencionadas: nuevas aportaciones to, McCombs señala la necesidad de
sobre Network Agenda-Setting, casos Lo novedoso en esta tercera ge- encontrar respuestas a esta compleja y
prácticos de Network Agenda-Set- neración de estudios es que propone dinámica interacción.
ting y la agenda-setting y los nuevos un modelo de redes asociativas en la
medios. memoria, que implica que a partir de Mi visión para el futuro es la
A continuación, se exponen los re- un nodo particular de conocimiento es continuación de este proceso que
sultados del análisis, corroborados por posible la conexión a otros numerosos incluye tanto nuevas estructuras
varios casos prácticos y enmarcados nodos. Este modelo adopta el nombre teóricas, tales como el tercer
en el actual panorama mediático ca- de Modelo de Red de Agenda-Setting nivel de agenda-setting, como
racterizado por los nuevos medios di- (o Network Agenda-Setting) e indica la ampliación de esas estructu-
gitales y las cada vez más numerosas que los medios digitales pueden eng- ras, como puede ser el caso de
redes sociales. lobar una serie de objetos o atributos los argumentos convincentes y
las asociaciones. La teoría de la manera en la que percibimos los efec- cognitivas creadas por las audiencias
agenda-setting tal y como la co- tos de los medios. Mientras las inves- también deriva de que en los procesos
nocemos hoy, es el producto de tigaciones tradicionales sobre agen- de adquisición de nuevas informa-
cientos de estudios realizados por da-setting asumen que los medios de ciones vamos vinculando las nuevas
un elenco internacional de investi- comunicación transfieren los temas al informaciones con otras que ya tene-
gadores. (McCombs, 2015, p. 309) público en forma de elementos indivi- mos almacenadas en nuestra memoria
duales, el modelo NAS, propone que (Nowak, 2016).
El artículo de Vu, Guo y Mc- tanto los temas como los atributos de El tercer nivel de la agenda-setting
Combs, Exploring “The World Outsi- esos temas también pueden ser trans- constituye también la base del artículo
de and the Pictures in Our Heads”: A feridos en grupos entre las distintas de Guo, Vu y McCombs, An Expanded
Network Agenda Setting Study (2014), agendas. Perspective on Agenda-Setting Effects:
investiga este tercer nivel de la agen- Guo afirma que “los medios no Exploring the third level of agenda se-
da-setting y busca expandir el alcance sólo nos dicen sobre qué pensar sino tting (2012). Esta nueva perspectiva
del modelo analizando un periodo de que también nos dicen cómo pensar de la teoría afirma que para describir
cinco años (2007-2011) de datos agre- en ello, son capaces de decirnos qué a un candidato político el individuo
gados de los medios de comunicación y cómo asociar” (2014, p. 671). Este genera una imagen compuesta por un
y las encuestas nacionales.  tercer nivel de estudio proporciona complejo entramado de diversos atri-
matices sobre los efectos de agen- butos que están interconectados en su
El estudio encuentra evidencia de da-setting a la vez que enriquece la mente. “Este enfoque, al que hemos
que los medios de comunicación comprensión de la metáfora de Lipp- bautizado como Modelo de Red de
agruparon objetos y los destaca- man “el mundo exterior y las imáge- Agenda-Setting, sugiere que los me-
ron en la mente del público. Los nes que tenemos en nuestra cabeza” dios de comunicación pueden agrupar
hallazgos del estudio también de- (1922, p. 4). Nowak explica que la distintos objetos y atributos y hacer
muestran fuertes correlaciones de idea de este tercer nivel surge tras que estos destaquen en la mente del
red en la importancia de los temas realizar investigaciones sobre los pro- público de forma simultánea” (Guo, Vu
entre los diferentes tipos de me- cesos cognitivos de aprendizaje que y McCombs, 2012, p. 55). Esta hipóte-
dios de comunicación. (Vu, Guo ponen de manifiesto que percibimos sis confirma que los medios de comu-
& McCombs, 2014, p. 669) el mundo en forma de una red de co- nicación tienen la capacidad de crear
nexiones en lugar de entenderlo de conexiones entre las diversas agendas
La propuesta del modelo NAS, forma lineal como se venía afirmando y centralizar ciertos elementos de di-
sugiere un importante cambio en la hasta ahora. La idea de estas redes chas agendas en la mente del público.

41
En el último trabajo de este apar- agendas del público constituyen tas posibilidades dentro del marco de
tado, New Directions in Agenda-Set- el tercer nivel de agenda-setting. los nuevos medios de comunicación y
ting Theory and Research se recoge (Guo, 2014, p. 792). las redes sociales.
la evolución de la agenda-setting a lo
largo de los años y se destacan siete En la actualidad el panorama me- 3.2. Casos prácticos sobre el

facetas: agenda-setting básica, agen- diático ha explotado y en este trabajo, tercer nivel de agenda-setting
da-setting de atributos, network agen- McCombs, Shaw y Weaver destacan Este apartado consta del análisis
da-setting, necesidad de orientación, las múltiples opciones que existen de tres artículos que analizan tres
efectos y consecuencias de agenda-se- para obtener información: gran nú- casos concretos de network agenda-
tting, orígenes de la agenda de los me- mero de periódicos tanto físicos como setting:
dios y agendamelding. El artículo se digitales, infinidad de canales de tele-
centra en las tres facetas que protago- visión, redes sociales, etcétera. “Dis- – Coverage of the Iraq War in the
nizan la mayoría de investigaciones en ponemos de infinidad de opciones y United States, Mainland China,
la época contemporánea: necesidad de las usamos para mezclar los mensajes Taiwan and Poland.  
orientación, network agenda-setting y de las diversas agendas y así satisfacer – Agenda Setting, Religion and
agendamelding. nuestras necesidades individuales” New Media: The Chabad Case
(2014, p. 793). Ahora, más que nunca Study
Desde esta perspectiva, los me- tenemos la oportunidad y los medios – Network Issue Agendas on Twit-
dios de comunicación transfieren para estar informados pero también, ter during the 2012 U.S. Presi-
la importancia de conjuntos de como afirman estos autores, para di- dential Election
elementos al público. Estos con- versificar la atención de la comunidad
juntos, pueden ser objetos que cívica que nos sustenta. En el artículo titulado Coverage of
están en las agendas de los me- Los tres estudios empíricos que the Iraq War in the United States, Main-
dios o en las agendas del público, se han realizado hasta la fecha para land China, Taiwan and Poland,  Guo,
atributos que están en las agendas constatar el tercer nivel de la teoría de Chen, Aksamit, Guzek, Wang, Vu, y
de los medios o en las agendas del la agenda-setting confirman la exis- McCombs rinden homenaje a Walter
público, o incluso una combina- tencia de redes de objetos interconec- Lippmann, el padre intelectual de la
ción de esos objetos y esos atri- tadas en los medios de comunicación teoría de la agenda-setting, al sugerir
butos. Este conjunto de elementos que luego son transferidas a la mente en su célebre obra Public Opinion que
relacionados e interconectados en del público. Este tercer nivel, abre así los medios de comunicación constru-
las agendas de los medios y en las un nuevo campo de estudio con infini- yen un “pseudoentorno” para el públi-
co al hacer de puente entre el mundo esta forma se incrementa el alcance de redes asociativas muestran cierta he-
exterior y las imágenes en nuestras los resultados. terogeneidad. Este hallazgo apoya la
cabezas (Lippmann, 1922, p. 343). Se La ventaja de este tercer nivel de teoría de la globalización y constituye
trata de una investigación que realiza agenda-setting según Guo (2013) es un importante avance en este ámbito
una comparativa a nivel internacional que el modelo de red centra la aten- de investigación.
y además, constituye el primer estudio ción en grupos de objetos y atributos El artículo de Rashi, y McCombs,
de agenda-setting entre medios de co- proporcionando una perspectiva más Agenda Setting, Religion and New Me-
municación que examina las agendas amplia de las agendas del público y dia: The Chabad Case Study (2015),
de atributos interconectadas entre sí de los medios. El modelo NAS propo- constituye un claro ejemplo de cómo
en formato de redes. ne que se pueden transferir conjuntos los movimientos religiosos se han
En este artículo se analiza la nueva de objetos y atributos tanto entre las modernizado hasta el punto de hacer
perspectiva de la teoría de agenda-se- agendas del público y de los medios uso de las redes sociales con el fin de
tting fundamentada en el análisis de como entre los distintos medios entre difundir su ideología y divulgar sus
red que proporciona el encuadre idó- sí. Es decir, los medios no sólo tienen creencias.
neo para un análisis comparativo de la éxito a la hora de decirnos qué pensar En este caso se analiza la actividad
cobertura informativa de la guerra de y cómo pensar en ello, sino que ade- mediática del movimiento judío ultra
Irak en los periódicos de Estados Uni- más pueden relacionar estos objetos y ortodoxo Chabad. Esta organización
dos, China continental, Taiwán y Polo- estos atributos entre sí. quiere ejercer influencia sobre el dis-
nia. La investigación confirma que el Tomando como muestra los perió- curso público y expandir el judaísmo
conjunto de atributos de los mensajes dicos de Estados Unidos, China con- y ha optado por utilizar los nuevos ca-
tiene más fuerza que los tradicionales tinental, Taiwán y Polonia y aplicando nales de comunicación de masas para
objetos o atributos convencionales de un análisis de red se ofrece una clara alcanzar este fin. La investigación
la agenda de los medios. Además, el perspectiva para entender la guerra de constituye un estudio pionero ya que
trabajo resulta tanto pionero como no- Irak. Los autores comparan las agen- se ha realizado en el marco de las co-
vedoso ya que generalmente este géne- das de atributos en formato de redes munidades judías ultra ortodoxas dón-
ro de investigaciones se suelen limitar de los cuatro periódicos seleccionados de el uso de las nuevas tecnologías de
a países como Reino Unido o Estados con el fin de obtener una visión ma- comunicación ha sido objeto de deba-
Unidos y en esta ocasión se amplía la tizada de la forma en la que se lleva te y de gran controversia. Además, se
muestra, tomando como referencia a a cabo dicha cobertura informativa y trata de un ejemplo relevante, ya que
países en los que nunca se habían rea- descubren que las agendas de atribu- el caso de Chabad no es único, sino
lizado estudios de agenda-setting y de tos conectadas entre sí en forma de que existen otros movimientos religio-

43
sos que también intentan influir sobre resumen en que sus mensajes son pú- tículo de McCombs titulado Civic Os-
las agendas nacionales y globales me- blicos y cortos. mosis: The Social Impact of Media que
diante el uso de las redes sociales. El Este carácter público de Twitter lo pone énfasis en el papel colectivo de
ejemplo de Chabad pone de manifiesto diferencia por ejemplo de Facebook los medios de comunicación y destaca
que se producen efectos de agenda-se- dónde la mayoría de los contenidos son la proliferación de nuevos medios que
tting y supone una nueva vertiente de de carácter privado (de persona a per- añade una enriquecedora variedad de
estudio debido a que generalmente las sona) o semi privados. En cambio, Twi- canales dinámicos a este entorno me-
investigaciones de agenda-setting se tter se denomina a sí mismo como una diático. McCombs señala que “a veces
enmarcan en el ámbito político (Rashi plataforma abierta para que se pueda un medio en particular cobra protago-
y McCombs, 2015). opinar sobre lo que sucede en el mun- nismo, pero más frecuentemente, la
El artículo de Vargo, Guo, Mc- do (About us, 2010). Los resultados colectividad de medios comparten ese
Combs y Shaw, Network Issue Agendas apuntan que hay una correlación entre protagonismo” (2012, p. 7). De hecho,
on Twitter during the 2012 U.S. Pre- las redes de temas de los partidarios suele ser más habitual que los efectos
sidential Election (2014), se encuadra de los candidatos y las redes de temas de comunicación más destacados sean
en el ámbito político aunque la nove- de agenda de varios medios durante el el resultado del impacto colectivo de
dad radica en que se centra en la red periodo electoral en Estados Unidos en los medios y de las diversas formas en
social Twitter. 2012 (Vargo et al., 2014). El artículo las que los individuos se relacionan
Esta investigación confirma la va- resulta interesante ya que la agenda con los medios en sus vidas cotidia-
lidez de la agendamelding y aporta pública adquiere un nuevo enfoque nas. En el panorama mediático ac-
solidez al Modelo de Red de Agen- con el auge de Internet y con el prota- tual los canales de comunicación son
da-Setting (NAS) mediante una serie gonismo que cobran los medios digita- omnipresentes y según McCombs es
de métodos informáticos y científicos les y las redes sociales. Además, Twi- “virtualmente imposible no tener un
y analizando un gran número de da- tter desempeña un papel fundamental contacto fortuito al menos con algunos
tos sobre Twitter. “Los resultados nos como altavoz y reflejo de la agenda del de ellos” (2012, p. 11). Además, de-
proporcionan una visión a gran escala público que conviene tener en cuenta trás de esta exposición espontánea hay
de cómo los medios influyeron sobre en el marco de la agenda-setting. muchas personas que leen el periódi-
las distintas audiencias” (Vargo, Guo, co a diario, e incluso en algunos casos
McCombs y Shaw, 2014, p. 296). Se- 3.3. La influencia de los leen más de un periódico. El momento
gún Vleweg (2010), lo que diferencia a nuevos medios sobre la contemporáneo en el que estamos in-
Twitter del resto de redes sociales son agenda-setting mersos pone de manifiesto que vivimos
dos características principales que se En este epígrafe se estudia el ar- en una época en la que existe un des-
pliegue masivo de canales de comuni- ante el nuevo y cambiante panorama Case Study y Network issue agendas
cación como nunca antes se había visto mediático. on Twitter during the 2012 U.S. pre-
y “estudiar el impacto de estos canales El tercer nivel de la agenda, la sidential election,  contribuyen a pro-
individuales es importante. Sin embar- agendamelding y los efectos de agen- porcionar solidez al tercer nivel de la
go, también es extremamente relevante da-setting entre los distintos medios teoría de la agenda y gracias a estos
entender el impacto colectivo de estos son algunos de los campos de estu- ejemplos se facilita la comprensión
canales, el proceso de ósmosis cívica” dio para futuras investigaciones. Los del alcance de este modelo de comuni-
(2012, p. 13). artículos sobre NAS: Exploring “The cación, aunque aún queda abierta una
Llegados a esta situación, y si- World Outside and the Pictures in Our ventana con múltiples opciones para
guiendo a McCombs, el reto que se Heads”: A Network Agenda Setting futuras investigaciones.
presenta en el momento actual consis- Study; New Trends in Agenda-Setting Finalmente, el artículo titulado
te en tratar de entender en profundi- Research; An Expanded Perspective on Civic Osmosis: The social impact of
dad los resultados de este vasto con- Agenda-Setting Effects: Exploring the media destaca las características y
junto de canales de comunicación y third level of agenda setting y New Di- explica la transformación del com-
los efectos que producen sobre la opi- rections in Agenda-Setting Theory and plejo panorama mediático en el que
nión pública para delimitar el alcance Research indican cómo la habilidad de estamos inmersos y analiza el papel
real del tercer nivel de agenda-setting los medios de comunicación aumenta del network agenda-setting a la hora
y ahondar en sus efectos y consecuen- a la hora de sugerir o imponer inter- de influir sobre la opinión pública en
cias más inmediatas. pretaciones de los temas de actualidad el cada vez más complejo entramado
ya que ofrecen la posibilidad de com- de medios de comunicación y redes
binar esos temas entre sí y también sociales.
4. Conclusiones transferirlos, junto a sus atributos, a la El tercer nivel de la agenda-set-
McCombs (2004) afirma que la audiencia en un complejo entramado ting constituye un novedoso campo de
teoría de la agenda-setting es un com- en forma de red para satisfacer las ne- investigación que sigue ofreciendo al
plejo mapa intelectual que aún está cesidades del público. cuerpo científico una ventana abier-
en proceso de evolución. Una afirma- Los tres artículos que analizan ta para futuros estudios, y es que la
ción que se corrobora tras realizar este los casos prácticos de network agen- geografía de la teoría de la agenda-se-
análisis bibliométrico (2010-2017) da-setting, Coverage of the Iraq War tting, según McCombs (2015) sigue
que evidencia un extenso y complejo in the United States; Mainland China, en constante expansión. Los recientes
campo de estudio dentro del marco del Taiwan and Poland; Agenda Setting; trabajos sobre network agenda-setting
tercer nivel de la teoría de la agenda Religion and New Media: The Chabad ponen de manifiesto que se trata de

45
una teoría que cada vez se aplica a en- Nowak, E. (2016). Agenda-Setting theory da-setting effects: Exploring the
tornos más amplios y por ello el alcan- and the New Media. Studia Medioz- third level of agenda setting. Revista
ce de este modelo de comunicación nawcze, 3(66), 11-24. de Comunicación, 11, 51-68.
aún ofrece un vasto abanico de posi- Rashi, T., y McCombs, M. (2015). Agenda McCombs, M. (2012). Civic osmosis: The
bilidades para futuras investigaciones. setting, religion and new media: The social impact of media. Communi-
Chabad case study. Journal of Re- cation and Society, 25(1) 7-14.
ligion, Media and Digital Culture, McCombs, M. (2010). Extending our
REFERENCIAS 4(1),126-145. theoretical maps: Psychology of
McCombs, M., Shaw, D.L., & Weaver, agenda-setting. Central European
Cohen, B. (1963). The Press and Foreign D.H. (2014). New directions in Journal of Communication, 2(5),
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Mahwah, New Jersey: Lawrence chology of agenda-setting effects: son Wadsworth Publishing.
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trends in agenda-setting research. tion Research, 2(1), 68-93.
Central European Journal of Com- Guo, L., Vu, H.T., y McCombs, M. (2012).
munication, 8(2), 301-312. An expanded perspective on agen-
The talks on the Cyprus Euripides Antoniades
Cyprus University of Technology (Chipre) – Faculty

problem at Crans- of Communication and Mass Media,

euripides.antoniades@cut.ac.cy

Montana, Switzerland ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6124-256X

(28.06 – 07.07.17) and


the Greek-Cypriot Press:
The views of newspapers
Alithia, Politis and Haravgi
As conversações sobre o problema de Chipre, em Crans-Montana,
Suíça (28.06 – 07.07.17), e a imprensa cipriota grega:
as posições dos jornais Alithia, Politis e Haravgi
https://doi.org/10.14195/2183-6019_10_4

Abstract favour of a solution to the problem? Did Resumo


This paper focuses on the period of ne- they have a conflicting or reconciling tone? Este artigo trata o período de negocia-
gotiations between the Greek-Cypriot and To what extent did the style and tone of ções entre a comunidade cipriota grega e
Turkish-Cypriot community at Crans-Mon- the news items regarding the talks vary a comunidade cipriota turca, que decorreu
tana, Switzerland, from 28 June to 7 July depending on the newspaper? To what ex- em Crans-Montana, na Suíça, entre 2 de
2017. It looks into the views of the three tent did the news items focus on persons junho a 7 de julho de 2017. Analisa-se as
leading Greek-Cypriot newspapers of that taking part in the talks and the topics of posições dos, então, três principais jor-
period and aims to present the positions the talks? Were the articles signed or not? nais cipriotas gregos, com o objetivo de
of each newspaper about the negotiations Findings suggest that the Greek Cypriot apresentar as posições de cada um sobre
on the Cyprus problem, at political level. press during the negotiations have faith as conversações acerca do problema de
Articles from three newspapers (Alithia, that the Cyprus issue can be resolved Chipre, ao nível político. O estudo sobre
Politis and Haravgi) were studied, with an through the talks. The overarching aim Alithia, Politis e Haravgi partiu da ideia
emphasis on political coverage regarding is to understand the efforts made to solve de que um acontecimento torna-se impor-
the negotiations. For the Crans-Montana the Cyprus problem through the negotia- tante do ponto de vista jornalístico não
negotiations on the Cyprus problem, the tions in Switzerland and to examine the só porque ele é inesperado ou dramático,
agenda setting approach was used, ac- positions of the Cypriot press regarding mas, também, porque suscita o interesse
cording to which, an event becomes an this thorny and crucial issue, over which da opinião pública, e encerra, em si, uma
important from a journalist’s perspective, the Republic of Cyprus has been agonising importância capaz de, por exemplo, susci-
not only because it is unexpected and/ for more than forty years. tar no público debates intensos, tensões
or dramatic, but also because it attracts ou receios. As questões de investigação
a great deal of public attention and the Keywords: Agenda–setting; Greek Cypriot são: em que medida os jornais estavam a
significance of the event itself may, for Press; Crans-Montana negotiations; Cyprus favor de uma solução do problema? As-
example, lead to intense public judgment, problem. sumiram um tom conflitual ou reconci-
tension or concerns. The research ques- liador? Em que medida o estilo e o tom
tions of the paper were shaped as follows: das informações dos três jornais sobre as
To what extent were the newspapers in negociações se diferenciaram entre si?

47
O foco das informações foi sobre as pes- Agenda–setting Theory The agenda-setting theory relates to
soas ou os assuntos das negociações? Os The “agenda setting” approach the perspective, according to which
artigos publicados eram ou não assinados? was coined in 1922 in the observa- the mass media are able to carry an
Os resultados sugerem que a imprensa tions of American journalist Walter important topic of their agenda into
cipriota grega confia na resolução negocial Lippman (1988, p. 322), who went on the public agenda. By covering the
do problema cipriota. O objetivo principal to become one of the most acclaimed social and political events, situations
desta pesquisa foi o de compreender os theorists of mass communication. He and institutions, the press influences
esforços desenvolvidos para resolver o pro- supported that “the press is like a roa- the topics with which the public opi-
blema cipriota, através das negociações na ming spotlight, bouncing from topic nion engages. This happens because
Suíça, e analisar as posições da imprensa to topic, story to story, illuminating articles and news reports dealing with
no que se refere a esta questão espinhosa things”. Half a century later, Cohen certain events and incidents, when
e crucial, na qual a República de Chipre (1963:13) claimed that “the press may eventually presented to the public,
agoniza há quarenta anos. not be successful much of the time are sometimes used for long periods of
in telling people what to think, but it time and are emphasised. Other topics
Palavras-chave: Agenda – setting; im- is stunningly successful in telling its receive short and temporary attention.
prensa cipriota grega; conversações de readers what to think about” and the- Newspapers are explicit in attributing
Crans-Montana; problema cipriota. refore what to discuss, what to feel supremacy of an article by putting it
and what topics deserve our attention in the appropriate page or position in
and how much of our attention. This a given page and by using an adequate
is achieved in the mass and also “me- title and number of words (Kress and
dia-ised” society through the priorities van Leeuwen, 1998).
set by the mass media, since agenda- In other words, the (general) agen-
-setting is a group of topics commu- da-setting process is determined by
nicated on a hierarchy based on their the agenda of the mass media, which
significance at a given time. In other influences the public agenda, which
words, the agenda-setting approach in its turn influences the policy agen-
describes the procedure whereby the da-setting (Dearing & Rogers, 2005,
media communicate with the members p. 13-14, 53).
of the public through their texts re- According to McCombs and Shaw
garding important or not so important (1977), the education level of the rea-
topics and events taking place daily. ders, the effect of time, as well as the
politics of the printed medium all play and which are presented at all, focuses with bold letters on the headlines and
a significant role in agenda-setting. on the way in which these topics are will have narration style, aimed at in-
In general, the agenda-setting pro- presented by the mass media. There- fluencing readers. This means that the
cess is an ongoing competition about fore, the difference is not if we think starting point of framing is the pers-
which topics will be chosen by news- about a topic but how we think about pective under which the origin, sig-
papers based on their ideology and it. In other words, the mass media not nificance, effects and functioning of
as matter of priority to attract the at- only determine to a large extent the certain events is understood.
tention of the public and the political information we have generally, by pro- Cyprus is located in the eastern
elite. The press plays an imperative viding the main updates and images Mediterranean Sea and is often re-
role in the collection, processing and about the world, but also influence the ferred to as the last-divided country
presentation of social problems as sta- way in which we assess and prioritise in the European Union, with Greek
te issues, as in the case of the negotia- them (Iyengar, και Kinder, 1987; Mc- Cypriots living in the southern part of
tions on the Cyprus issue. Of-course it Combs, Weaver, & Edelstein, 1996). the island and Turkish Cypriots living
has been accepted that “agenda-set- Maxwell McCombs and Donald in the northern part, which has been
ting does not operate everywhere, on Shaw (1975) have indicated that one under Turkish occupation since 1974.
everyone, and always” (McCombs, of the factors encouraging the use of The Cyprus problem is considered one
Einsiedel & Weaver 1996). However, mass media is the “need for orienta- of the most significant and pressing
when citizens feel the need to be in- tion” (McCombs & Shaw, 1975). This issues and, naturally, it is being exten-
formed and form an opinion, they read need is caused when the interest on sively covered by the Greek Cypriot
the Press in order to face the uncer- a certain topic is high and there is press. Newspapers include news re-
tainty of the political future, whilst a significant degree of uncertainty ports, articles and interviews about the
accepting, as a general rule, the prio- about the meaning of the message. protagonists of the Cyprus problem on
ritisation of topics in the printed press Therefore, a message which is highly a daily basis. As the Cyprus problem
and, by extension, their editors. interesting encompasses at the same evolves into a thorny issue that is hard
time elements of uncertainty on how to resolve in practice, the newspapers
it will develop and leads to increased of the island devote a large number of
Framing Theory use of mass media by citizens. This, columns and pages to it. It can be ar-
The framing theory, as opposed to in its turn, increases the chance of gued that political coverage “domina-
the agenda-setting theory which enga- greater influence by the mass media. tes” the daily printed press.
ges with the questions of which topics The effect of framing is achieved by Every time that an action is taken
are most prominent, which are salient publishing a topic which will appear towards solving the Cyprus problem,

49
Greek Cypriot newspapers demons- The Press’s contribution to the In the ten years that followed
trate their keen interest by covering 1955-1959 national liberation struggle (2000-2010), dozens of busines-
as many of the relevant stories as as is of utmost significance. A considera- ses were created in the field of mass
possible. The 2017 peace talks in ble number of Greek Cypriot reporters communication and media (e.g. radio
Crans-Montana, Switzerland were an were prosecuted, imprisoned and tor- stations, newspapers, magazines, web
example of focused reporting by Greek tured in British concentration camps portals, advertising agencies, etc.).
Cypriot newspapers. This paper aims on account of writing articles against At the same time, many were forced
to present and comment on printed the then status quo (Sofokleous, 2006). to suspend their operation. The exis-
political material regarding the direct A few decades later, the violent divi- tence of so many media in a such a
peace talks that took place in Crans- sion of the island which was the result small market is the so-called “paradox
-Montana, Switzerland, as published of the 1974 Turkish military invasion of communication” (Papathanasopou-
in Greek Cypriot newspapers. and occupation of 37% of Cypriot land los, 2003, p. 33), which is justified by
to this day, caused tremendous pro- the need of Cypriots to “enjoy” well-
blems and difficulties. The evolution -rounded and pluralistic information
The Greek Cypriot Press of Cypriot media (printed and elec- after decades of press monopoly and
Freedom of Press is often an in- tronic) continued rapidly, keeping up attachment of several, private newspa-
dication of whether a democracy is with the developments and changes pers to political parties. In 2012, se-
healthy or not and to what extent. Du- taking place in developed countries ven political newspapers were in daily
ring the Ottoman and British Empire, of the world. From 1990 to 2000, all circulation, whilst only four political
Cypriots were deprived of the free- Cypriot newspapers started using newspapers are currently in circula-
doms of thought, expression, opinion modern technologies. Their appea- tion due to the economic crisis whi-
and, naturally, the Press (Sofokleous, rance and content was considerably ch hit the island in March 2013. As
1995). During World War II, Cypriot improved with better layout and more noted by Papathanasopoulos (2003:
Press started to slowly gain its free- organised distribution of material in 34), it is striking that the newly fou-
dom. Newspaper columns were then multi-page issues that contained more nded newspapers did not contribute
reporting on current events, issues, detailed information and updates, as towards a growing number of readers
struggles, activities, estimates and po- well as in-depth commentary on pu- of political press. According to Gno-
sitions regarding World War II, the ac- blic figures, services, situations and ra’s Information Report², newspapers
tions, strategies and tactics of the Axis objects; citizens gained wider access have now plummeted to an all-time
powers, and even on the behaviour to information and were able to have low readability (14.1%), with O Phi-
and the course of Cypriot society. debates or express opposing views. leleftheros maintaining the position of
most readable among the newspapers. Alithia, Politis and Haravgi. Moreover, bigger groups of Cypriot society and to
The continuous decrease of readabi- we will examine if the newspapers use a bring Cyprus even closer to European
lity –with the exception of 2015 when conflictual or reconciliating tone when affairs, thus broadening the horizons
some increase was observed– fully publishing political news stories. of knowledge and experience.
reflects the turn towards electronic Alithia newspaper was founded in Haravgi has large, island-wide
media as sources of information. Sales 1952 by the late Antonis Farmakides circulation and is the medium of ex-
of weekend newspapers have also de- as a weekly newspaper. Antonis Far- pression of left-wing party AKEL (Pro-
creased, but sales of Sunday issues are makides is considered one of the pio- gressive Party of the Working People).
still quite high, mainly because they neers of Cypriot journalism. Weekly Its first issue was published in Nicosia
include free magazines. Alithia, following its Monday issue on on 18 February 1956. In a main article
15 July 1974, was forced to suspend titled “Setting off” on the front page of
its circulation for a few weeks due to its first issue, the newspaper states
The newspapers used in the the circumstances that occurred as “[…] our newspaper will strive to offer
sample a result of the military coup and the high-quality material to our readers.
As mentioned above, this paper subsequent Turkish invasion. It re- Aside from news reporting which will
aims to deal with the period of peace -circulated on 5 August 1974 with a be our top priority, there are several
talks between the Greek Cypriot and detailed report on the tragedy that hit other topics worthy of attention.” (So-
Turkish Cypriot communities, as do- Cyprus and an optimistic message. To- fokleous, 2011, p. 394)
cumented in the Greek Cypriot Press day, Alithia has completed 35 years of
from 28 June 2017 to 07 July 2017. In presence as a daily newspaper.
previous papers, we examined the ne- Politis newspaper was first issued Methodology and objectives
gotiations at Mont Pèlerin, Switzerland on 12 February 1999. The newspaper Our methodology was based on
between the Greek-Cypriot and Tur- made a firm commitment to providing elements of content quality analysis
kish-Cypriot community in November all-round and impartial information which we thought was most appro-
2016. This is an ongoing research since and to adhering to the principles of priate, since “the great strength of
the talks continued at Crans-Montana, independence, impartiality, truth, content analysis is that it analyses
Switzerland in 2017. Therefore, this pa- freedom of speech and pluralism. It is the whole message system, and not
per builds on previous work by focusing not a newspaper of extreme ideology. It the individual’s selective experience
on the talks at Crans-Montana, Switzer- has demonstrated responsibility and, of it” (Fiske 2010, p. 139). This me-
land. More particularly, we will focus naturally, it endeavours to feature the thod is suitable when cultural issues
on political coverage in newspapers sensitivities and interests of small and are examined since it “takes account

51
of notion systems deriving from cultu- ces of journalism, images, special topi- analysed (ibid, 1998). During the fifth
re” (McQuail 2003: 382) and it relies cs, etc.). More specifically, the research and final stage, the data was presented,
on the description and assessment of involved recording daily news items in analysed and interpreted. A thematic
language-specific forms of communi- daily newspapers of island-wide circu- analysis helps to answer questions such
cation and can assist in demonstrating lation and identifying the main political as how the negotiations between the
or revealing a social reality which can news items in the above newspapers. In two communities are presented, why
lead to conclusions through explicit or this case, the role of the Press is para- it is possible to record views and im-
non-explicit text (Yiallourides, 2001, mount in ensuring that there exist con- pressions through political news items
p. 101). Moreover, this method aims ditions that enable citizens to stay well published in the political columns and
to analyse the content of the text mes- informed and up-to-date. We recorded subsequently make a connection of all
sage, discourse and form (Constanti- the articles and we then classified them this. Moreover, by putting the news
nidou, 1998) and involves five stages into six categories as follows: a) Repu- items into categories, we can identify
(ibid, 1998): blic of Cyprus, b) Greek Cypriot commu- the different positions/ opinions ex-
nity, c) Turkish Cypriot community, d) pressed and have them in one place.
1. The procedure of compiling the countries involved (i.e. the guarantor The period of our sample was
empirical evidence; countries in accordance with the Treaty chosen primarily on the basis of the
2. 
The isolation of items (units of Establishment of the Republic of working hypotheses, as well as the
recorded); Cyprus, namely Greece, Turkey and material under study. The events ta-
3. The classification of units into the UK), e) United Nations and f) Eu- king place between 28 June and 7 July
categories; ropean Union. 2017 were of particular significance
4. 
The quantity conversion and During the first stage, we identified and the daily issues of newspapers
measurement of items (codifi­ca- the empirical evidence, namely the covered a range of stories and topics
tion); news items that were relevant to our and made extensive reviews on the
5. Analysis and interpretation of research. During the second stage, we progress made during the week. The
data. isolated the items that could be used. extent of the duration is just right to
The third stage involved the codifica- support our hypothesis, as it allows
The research aims to record the tion, i.e. the classification of topics into us to shape an opinion on the varied
distribution of political news items, the categories. During the fourth stage, we reflections expressed by the Greek
structure of their content, by using cer- converted the quantitative items into Cypriot community, which take form
tain criteria of a qualitative approach such form so that they could be pro- and change as the events unfold on
regarding the subject-matter (e.g. sour- cessed on the computer, compared and both a local and international level.
From the newspaper issues, we • Q1: To what extent are the ne- follows: Main Article, Opinion
focused on the political and news wspapers in favour of a solution Article – Analysis – Comment/
sections which include a plethora of to the problem? Do they have Commentary, Reportage, Inter-
news reports, articles and reportages. a conflictual or reconciliating view, Announcement, Letter,
Moreover, the political section is do- tone? Simple Report, Other
minated by highly interesting, catchy • Q2: To what extent did the style 2. In order to investigate the con-
headlines that attract readers and and tone of the news items re- tent of news, the number of
draw them into buying a newspaper. garding the talks vary depen- references in each article was
Choosing the material is a difficult ding on the newspaper? recorded so as to create a list of
task, since as many titles as possible • Q3: To what extent did the news protagonists: President Anasta-
need to be selected from a vast pool items focus on persons taking siades, Mustafa Akinci, Espen
of items. part in the talks and the topics Barth Eide, Alexis Tsipras, Ni-
The working hypotheses are the of the talks? kos Kotzias, Recep Tayyip Er-
following: • Q4: Were the articles signed or doğan etc.
unsigned? If unsigned, this pro- 3. The news items were recorded
H1: As the Cyprus problem has bably means that journalists, as on the basis of source, origin of
brought agony to the people individuals, were reluctant to be source and editor of the article
of Cyprus (Greek-Cypriots associated with the talks. (signed, unsigned, international
mainly), the newspapers will news agency, special report).
maintain a moderate stance Our research relates to the period 4. If the newspaper positions were
and will be in favour of a so- of June – July 2017. Overall, 175 news in favour of or against the posi-
lution to the Cyprus problem. items were examined as units of analy- tive progress of the peace talks
H2: Well-known journalists, opi- sis from all three newspapers (Alithia: and the prospect of a deal.
nion leaders in practice, will 67, Politis: 52, Haravgi: 56). In order
bear the burden of their sig- to examine front-page items, the follo-
nature depending on the po- wing pattern of typical categories/ va- The position of Alithia
sition they adopt during the riables was used: newspaper
talks.
1. Political news stories that were This newspaper deals with a broad
Therefore, the questions of the pa- relevant to the subject were range of subjects and includes “arti-
per were shaped as follows: classified based on their type as cles, news reports on local or interna-

53
Results of the research

TABLE 1: References in newspapers Alithia, Politis and Haravgi


Period: 28 June – 7 July 2017

28 June –
References % Alithia Politis Haravgi
8 July 2017
1. Republic of Cyprus 75 16 23 (31%) 29 (38%) 23 (31%)
2. Greek Cypriot Community 66 14 21 (32%) 26 (39%) 19 (29%)
3. Turkish Cypriot Community 64 13 19 (30%) 24 (37%) 21 (33%)
4. Countries involved 111 24 41 (38%) 35 (31%) 35 (31%)
5. United Nations 106 23 44 (41%) 34 (31%) 28 (28%)
6. European Union 47 10 16 (34%) 22 (47%) 9 (19%)
Total 469 100 164 170 135

Note: Based on columns “Politics” and “News”

TABLE 2: A quantitative analysis of news items in Alithia, Politis and Haravgi


Period: 28 June – 07 July 2017

Aritcle Editor Alithia % Politis % Haravgi %


Signed 26 39 42 81 40 71
Unsigned 41 61 10 19 16 29
International News Agency
Special Report
Total 67 100 52 100 56 100
Type of article
Main article 16 24
Opinion article 2 2
Reportage 24 36 32 62 25 45
Interview 1 1 1
Analysis 2 3
Letter
Simple report 24 36 18 35 31 55
Other
Total 67 100 52 100 56 100
Origin of source
Anonymous 25 37 2 2 19 35
Greece
Cyprus 4 10 19 6 10
UK
Turkey
Crans-Montana, Switzerland 31 46 40 77 29 53
International news agencies 7 7 2 2 2
Other
Total 67 100 52 100 56 100
Focus on protagonists
Nicos Anastasiades (President of the Republic of Cyprus) 32 19 29 19 22 18
Nikos Christodoulides (Government spokesman) 4 2 3 2 4 3
Antonio Guterres (UN Secretary General) 27 16 25 16 23 18
Espen Barth Eide  (UN Secretary General’s Special Adviser on Cyprus) 19 11 16 10 12 10
GC Party Representatives 2 2 1 1
Mustafa Akinci (Turkish Cypriot Leader) 15 9 13 8 16 13
Theresa May (Prime Minister of the UK) 6 4 3 1 3 2
Alexis Tsipras (Prime Minister, Hellenic Republic) 5 4 4 3 3 2
Nikos Kotzias (Foreign Minsiter, Hellenic Republic) 20 12 24 15 20 16
Boris Johnson (UK Secretary of Foreign Affairs) 4 2 3 1 4 3
Recep Tayyip Erdoğan (President, Republic of Turkey) 6 4
Binali Yıldırım (Prime Minister, Republic of Tukey) 4 2 4 3 2 2
Mevlüt Çavuşoğlu (Foreign Minister, Republic of Turkey) 25 15 25 16 13 10
Federica Mogherini (EU Representative) 3 2 3 1 3 2
Total 166 100 158 100 125

tional events, commentaries, culture • “Nicos Anastasiades: Deal gua- (2)  Reference to important topi-
coverage, courts news, reports from ranteed by the Security Council” cs, such as the territorial adjustments,
the countryside and a variety of other (Alithia, 30 June 2017) the property trade-offs, security,
pieces of information” (Sofokleous guarantees
2011). Over the period under study, Whilst primarily aiming at infor- Extracts from the newspaper:
Alithia maintained its government-af- ming readers, Alithia’s articles use a
filiated stance, since it supports the witty, moderate tone to criticise the • 
“Today morning’s discussion
right-wing Democratic Rally, which ills, naturally supporting the ideology opens with the chapter on Se-
is President Anastasiades’s political of the “right”. curity and Guarantees, which is
party. Alithia’s objective to support The subjects that appear repetiti- key for the progress of the talks
President Anastasiades’s efforts to sol- vely and consistently in Alithia news- – In the afternoon, discussion
ve the Cyprus problem has remained paper during the period under study between the two leaders on the
unchanged. The titles below indicate are the following: other chapters, starting with the
the newspaper’s support towards Pre- territorial adjustments” (Alithia,
sident Anastasiades and his negotia- (1) The positive support of the ef- 28 June 2017)
ting team: forts to solve the Cyprus problem: • 
“Answers will be given today
Extracts from the newspaper: on alternative proposals by the
• 
“Following President Anasta- United Nations regarding the
siades’s and Nikos Kotzias’s • “Good spirit and laid-back atti- guarantees” (Alithia, 29 June
reaction, Eide’s document has tude” (Alithia, 29 June 2017) 2017),
been withdrawn. Satisfaction in • “President Anastasiades: Cons- • 
“Representative of the Turkish
Athens and Nicosia (Alithia, 28 tructive discussion that may Foreign Ministry: We did not
June 2017), lead to exits” (Alithia, 01 July agree on pulling out 80% of
• “Feeling determined in Switzer- 2017), troops” (Alithia, 30 June 2017),
land” (Alithia, 28 June 2017), • “Nikos Kotzias: The UN Secre- • 
“Turkish Foreign Minister Me-
• 
“Several one-on-one meetings tary-General’s presence is use- vlüt Çavuşoğlu, firmly called on
with handshakes and chit-chats ful and beneficial” (Alithia, 1 Greek Cypriots and Greece to
between Nicos Anastasiades July 2017) wake up from the dream of no
and Mevlüt Çavuşoğlu (Alithia, • 
“Time for substantial negotia- Turkish troops and guarantees”
29 June 2017), tions” (Alithia, 02 July 2017) (Alithia, 30 June 2017),

55
• 
“Abolishment of guarantees in • 
“The British are also pushing” • 
“Guterres’s framework on
form or substance?”(Alithia, 2 (Alithia, 30 June 2017) Cyprus” (Alithia,06 July 2017)
July 2017) • 
“Kotzias: Some people do not • “He tightened the belts first
want the negotiations to happen” thing in the morning” (Alithia,07
(3)  The stance of the guarantor (Alithia, 04 July 2017) July 2017)
powers under the 1960 Constitution • “Theresa May: All sides should
(Greece, Turkey and UK) on the chap- be flexible” (Alithia, 04 July References to the main prota-
ters of territory, property, security and 2017) gonists in the sample at hand are as
guarantees. • “Çavuşoğlu: There will be no follows: President of the Republic
Extracts from the newspaper: sunset clause (for the presence of Cyprus and leader of the Greek
of Turkish troops)” (Alithia, 05 Cypriot Community Nicos Anastasia-
• “Kotzias: We are fighting for the July 2017) des with 19%, UN Secretary General
road to open” (Alithia, 29 June • “Kotzias: Some time I will narra- Antonio Guterres with 16%, Turkish
2017), te what exactly happened yester- Foreign Minister Mevlüt Çavuşoğlu
• “Çavuşoğlu: A good first day. We day and what the Turks admitted with 15%, Greek Foreign Minister
shall continue tomorrow” (Ali- about their intentions during our Nikos Kotzias with 12% and leader of
thia, 29 June 2017), relentless discussion” (Alithia, the Turkish Cypriot community Mus-
• 
“Kotzias: Both the Treaty of 05 July 2017) tafa Akinci with 9%.
Guarantee and the Treaty of During the period under study,
Alliance were essentially never (4)  The statements by the UN Se- 41% of news items refer to the United
implemented; Turkey violated cretary General Antonio Guterres re- Nations, 38% to the European Union,
them in every aspect and, there- garding the Conference on Cyprus at 34% to the Greek Cypriot community,
fore, there is no reason for it to Crans-Montana: 32% to the Republic of Cyprus and
ask for these Treaties -which it Extracts from the newspaper: 30% to the Turkish Cypriot community.
violated and were never put into Regarding the type of news items,
practice- to be maintained (Ali- • “Guterres making waves” (Ali- 36% are reportages, 36% are sim-
thia, 30 June 2017), thia, 1 July 2017) ple news reports and 24% are main
• “Çavuşoğlu: Wake up from the • 
“Guterres’s return to Crans- articles.
dream of zero guarantees, zero -Montana boosts the talks (Ali- 61% of the articles are signed and
troops” (Alithia, 30 June 2017), thia, 06 July 2017) 39% are unsigned.
The position of Politis Extracts from the newspaper: • “Antonio has set the table” (Po-
newspaper litis, 01 July 2017)
The topics that appear repetitively • “Turkey refers to zero troops and • 
“Guterres broke the deadlock”
and consistently during the period un- zero guarantees as a ‘dream’” (Politis, 01 July 2017)
der study in Politis newspaper are the (Politis, 30 June 2017) • 
“Guterres placed emphasis on
following: • 
“A first step in the chapter of the issue of security” (Politis, 01
territory” (Politis, 01 July 2017) July 2017)
(1) Reservations regarding the po- • “Mechanisms instead of guaran- • 
“Here is the Guterres frame-
tential deal tees” (Politis, 02 July 2017) work” (Politis, 02 July 2017)
Extracts from the newspaper: • “Ideas for a map, rotating presi- • “The torch is, once again, pas-
dency and property trade-offs” sed on to Guterres” (Politis, 06
• “Still without the document and (Politis 04 July 2017) July 2017).
all scenarios possible” (Politis, • 
“Negotiations on security and
28 June 2017) guarantees have started with (4) The stance of the guarantor
• “They agree on change but they a delay and it looks like the- powers under the 1960 Constitution
disagree on how” (Politis, 29 re is an effort for the two sides (Greece, Turkey and UK) on the chap-
June 2017 ) to get over the difficulties and ters of territory, property, security and
• “From dead-end to intense acti- make progress” (Politis, 04 July guarantees.
vity” (Politis, 01 July 2017) 2017)
• 
“Guterres’s framework without • “Çavuşoğlu: Troops forever” • “Behind-the-scenes British voi-
responses” (Politis, 04 July 2017) (Politis, 05 July 2017) ces also in favour of a multilate-
• “Everyone within the framework • 
“They were asking for guaran- ral guarantor power according to
but… from a distance” (Politis, tees and intervention rights for The Guardian” (Politis, 30 June
05 July 2017) 15 years” (Politis, 07 July 2017) 2017)
• 
“Crans-Montana has ended in • “Mr Çavuşoğlu added: we
failure” (Politis, 07 July 2017) (3) The contribution of the UN clearly laid our positions on
Secretary General Antonio Guter- security and guarantees. Zero
(2) Reference to important topics, res to the conference on Cyprus at troops and zero guarantees are
such as territory, property, security, Crans-Montana. out of the question for us.” (Po-
guarantees Extracts from the newspaper: litis, 30 June 2017)

57
• 
“The Turkish Foreign Minister • 
“EU Support of the Greek- and Turkish Foreign Minister Mevlüt
filed a proposal implicating the -Cypriot positions on guaran- Çavuşoğlu with 16%, Greek Foreign
interconnection of security with tees” (Politis, 29 June 2017), Minister Nikos Kotzias with 15% and
the four freedoms, with which • “President Anastasiades: Shiel- Turkish Cypriot leader Mustafa Akinci
the Greek and Greek Cypriot ded by the European Union” with 8%.
side disagreed” (Politis, 01 July (Politis, 30 June 2017), Regarding the type of news items,
2017) • 
“The EU undertakes a role on 62% are reportages-research and 35%
• “Çavuşoğlu: Troops for ever” the four freedoms” (Politis, 01 simple news reports.
(Politis, 05 July 2017) July 2017) 81% of the articles are signed and
• 
“Greek Foreign Minister Nikos 19% are unsigned.
Kotzias stated that the UN Se- As expected, Politis places an
cretary General understands the emphasis on the main protagonists of The position of Haravgi
proposal of the Greek side on the talks. In the period under study, newspaper
the abolishment of the Treaties 47% of the articles refer to the Euro- The topics that appear repetitively
of Alliance and Guarantees, as pean Union, 39% to the Greek Cypriot and consistently during the period un-
well as the need for Cyprus to community, 38% to the Republic of der study in Haravgi are the following:
become a normal state” (Politis, Cyprus represented by its President,
07 July 2017). 37% to the Turkish Cypriot commu- (1) During the talks on the Cyprus
nity and 31% to the United Nations problem, Haravgi newspaper focuses
(5) The role of the European Union and the countries involved. on Switzerland and the negotiations; it
Extracts from the newspaper: Most news items, i.e. a percentage is a time when the leaders of the two
of 77%, have Crans-Montana as their communities must take advantage of
• 
“President Anastasiades: Em- source of origin due to the reporter’s the opportunity to reunify the island.
phasis on the potential role of location since it is the place where the Extracts from the newspaper:
the European Union” (Politis, talks took place. 19% of the articles
29 June 2017), originate from Cyprus. • 
“The opportunity for reunifica-
• 
“No member-state of the Euro- Regarding the people getting the tion lies before us all” (Haravgi,
pean Union needs a guardian” most attention: President of the Repu- 28 June 2017)
(Politis, 29 June 2017), blic of Cyprus and leader of the Greek • “Everyone should show poli-
• “The European Union has a role Cypriot Community Nicos Anastasia- tical will for an overall settle-
to play” (Politis, 29 June 2017), des with 19%, UN Secretary General ment” (Haravgi, 28 June 2017)
• 
“UN Secretary General’s invite res to the conference on Cyprus at • 
“Kotzias: Why do you wish to
to everyone to take advantage Crans-Montana. keep the Treaty of Guarantees
of the opportunity” (Haravgi, 28 Extracts from the newspaper: and intervention rights? What
June 2017) do you mean? Will you be using
• 
“Theresa May expressed her • “The issue of property trade-offs them?” (Haravgi, 5 July 2017)
hope for a solution to the Cyprus was discussed in the presence • “Çavuşoğlu: Yes, we wish to
problem” (Haravgi, 28 June of Guterres” (Haravgi, 1 July maintain intervention rights so
2017). 2017) that we can use them. The right
• “The presence of the UN Secre- of intervention will apply until
(2) Reference to important issues, tary General, Antonio Guterres, Turkish Cypriots feel safe” (Ha-
such as territory, property rights, se- was a boost” (Haravgi, 1 July ravgi, 5 July 2017)
curity, guarantees 2017) • 
“Telephone contact of Tsipras
Extracts from the newspaper: • “Guterres: Daring decisions for with May and Yıldırım” (Hara-
common ground” (Haravgi, 1 vgi, 5 July 2017)
• 
“Open cards on guarantees” July 2017)
(Haravgi, 29 June 2017) • 
“Guterres: Emphasis on cross- The main protagonists are: the UN
• “The Greek-Cypriot side awaits -process negotiation” (Haravgi, Secretary General Antonio Guterres
genuine intentions and moves 2 July 2017) with 18%, President of the Republic
by Turkey on the issue of se- • 
“Alignment with the Guterres’ of Cyprus and leader of the Greek
curity and guarantees” (Harav- framework” (Haravgi, 5 July Cypriot Community Nicos Anastasia-
gi, 30 June 2017) 2017) des with 18%, Greek Foreign Minis-
• 
“Emphasis on the European • 
“Overall negotiations with Gu- ter Nikos Kotzias with 16%, Turkish
perspective on security for all terres” (Haravgi, 6 July 2017) Cypriot leader Mustafa Akinci with
Cypriots” (Haravgi, 30 June • The stance of the guarantor po- 13% and Turkish Foreign Minister
2017) wers under the 1960 Constitu- Mevlüt Çavuşoğlu with 10%.
• 
“Persistent effort for security tion (Greece, Turkey and UK) Daily articles in Haravgi newspa-
and guarantees” (Haravgi, 1 on the chapters of territory, pro- per during June-July 2017 refer to the
July 2017) perty, security and guarantees. countries involved in the future of the
• “Çavuşoğlu insists on guaran- island, i.e. the Greek Cypriot commu-
(3) The contribution of the UN tees and troops” (Haravgi, 5 nity with 29%, the Turkish Cypriot
Secretary General Antonio Guter- July 2017) community with 33%, the Republic of

59
TABLE 3:  List of framings in Alithia, Politis and Haravgi newspapers during the period between 28 June – 7 July 2017 and whether
they have a conflictual or reconciliating tone:

Tone Alithia % Politis % Haravgi %


Conflictual 4 40% 5 50% 2 20%
Reconciliating 6 60% 5 50% 8 80%
Total 10 100 100 100

Cyprus as represented by its president red to his predecessor” (Alithia, However, during the negotiations
in 31%, the countries involved with 30 June 2017) there are conflicts between the parties
31% and the United Nations with 28% • 
“Nikos Kotzias: UN Secretary involved:
and the European Union with 19%. General’s presence is useful
Regarding the type of news items, and beneficial” (Alithia, 1 July Extracts from Alithia:
55% are simple news reports and 45% 2017) • “Turkish tactical moves threate-
are reportages-research. It is interes- • 
“President Anastasiades: Cons- ned the Conference” (Alithia, 1
ting to note that Crans-Montana is the tructive discussion that may lead July 2017)
origin of source in 53% of the arti- to exits” (Alithia, 1 July 2017) • 
“President Anastasiades: Pro-
cles due to the reporter’s presence in gress if there is a shift” (Alithia,
Switzerland. Extracts from Politis: 1 July 2017)
Signed articles account for 71% in • “Beginning in good spirit” (Poli- • 
“Conflict for Çavuşoğlu’s sta-
total (Table 2) tis,29 June 2017) tement that Turkey is one step
• “The participants have arrived ahead and Cyprus one step
in good spirit” (Politis, 29 June behind” (Alithia, 4 July 2017)
Analysis and results of 2017)
variables • 
“Guterres: We are not impa- Extracts from Politis:
A remarkable finding of our re- tient” (Politis, 5 July 2017) • 
“Guterres arrives in a clima-
search is that all three newspapers te of tension” (Politis, 30 June
use a reconciliating tone in the ma- Extracts from Haravgi: 2017)
jority of their articles and express the • 
“Theresa May expressed her • “Turkey refers to zero troops and
wish of the two communities, the UN hope for a solution to the Cyprus zero guarantees as a ‘dream’”
Secretary General, the guarantor cou- problem” (Haravgi, 28 June (Politis, 30 June 2017)
ntries and the representative of the 2017). • “3.15 AM: Turkey did not shift
European Union to solve the Cyprus • 
“Mogherini also present at the on the issue of troops. Crans-
problem. discussion on security” (Harav- -Montana ended in failure.” (Po-
gi, 6 July 2017) litis, 7 July 2017)
Extracts from Alithia: • 
“Guterres: Significant progress • 
“Disagreement about re-exa-
• “The time of Guterres: The UN if you agree with any points in mining the presence of Tur-
Secretary General adopts an my framework” (Haravgi, 7 July kish troops” (Politis, 07 July
even more rigid stance compa- 2017) 2017)
Extracts from Haravgi: General expressed the view that the Communication and its connection
• “The Turkish proposal is not sa- discussion could not go on and ended with an international problem, has
tisfactory said President Anasta- the conference. created the necessary scientific and
siades” (Haravgi, 29 June 2017) theoretical framework for an in-depth
• 
“Tension during the talks at analysis. In its simplest version, as
Crans-Montana” (Haravgi, 30 Conclusion – Discussion well-put by Garraud¹ (2010, p. 58), the
June 2017) Our objective was to shed light to agenda-setting theory focuses on “the
• “Çavuşoğlu insists on guaran- an international problem – namely the study and promotion of the total pro-
tees and troops” (Haravgi, 5 Cyprus problem – and to show how it cedures that transform social events
July 2017) becomes the object of political contro- into public issues” which sometimes
versy and political decision making, become the object of conflict, as well
In conclusion, through daily news through the agenda-setting theory. The as social and political disputes, as is
reporting, it becomes clear that the agenda-setting approach was used to the case with the Cyprus issue which
desire for a solution to the Cyprus describe how an issue that is being has remained unresolved for 46 years.
problem dominates journalism. The discussed at the United Nations in The agenda setting legitimises the in-
procedure of direct talks with the me- the quest for a solution becomes po- tervention of international organisa-
diation of the United Nations aims to liticised. The newspapers, by setting tions in any of their decisions (institu-
resolve the dispute between the Greek the agenda, are essentially creating a tional, legislative) and under any form
Cypriot and Turkish Cypriot commu- “menu” or a procedure that focuses (emergency measures, long-term ac-
nities and, ultimately, to reach an on discussing political, economic, so- tion plans, international agreements,
agreement; the press contributes to- cial and cultural issues that seek to be appointment of committees, etc.).
wards this by publishing relevant ar- regulated by the United Nations. It is The Greek Cypriot press includes
ticles regarding this long-term objecti- precisely this agenda-setting procedu- news items on current affairs which
ve. The reconciliation between the two re that we examined in this paper, whi- rely on directness, closeness, signifi-
communities predisposes the termi- ch is directly relevant with the field of cance, popular interest and, of course,
nation of any type of conflict between Communication. social impact. Written news items in
the two sides. Unfortunately, after On the other hand, even though the press become part of the agenda
strenuous, nightlong consultations, a the term “agenda” is widely used in on the basis of criteria such as theme,
deal for Cyprus was not possible, sin- politicians’ and journalists’ discourse editor of published article, type of pu-
ce the two sides had opposing views. to create a feeling of relative vague- blication, origin of sources, sources
Hence, the United Nations Secretary ness, its introduction into the field of of publication, etc. aiming to descri-

61
be the backdrop of the negotiations lumns. This method proves the inten- about the failure of Crans-Montana has
to solve on the Cyprus issue. Moreo- tion of the printed medium for a cer- started” (Alithia, 8 July 2017), whilst
ver, those news items which were the tain interpretation, which is relevant Politis noted that “Crans-Montana has
most important and were presented as to the position and political leaning ended in failure (Politis, 7 July 2017).
headlines in the press take priority on of the printed medium, as well as the Within the same spirit, Haravgi wrote:
the main sections of the front pages. position of the newspaper vis-à-vis the “Guterres: Differences on a number of
This indicates the stance and the po- negotiations. issues” (Haravgi, 8 July 2017).
sition of the newspaper about the ac- A comparison among the three ne- Almost all newspapers provided
tivity of the President of the Republic wspapers demonstrates that all of them the same coverage and this probably
of Cyprus and thereby moulds public have faith that the Cyprus issue can be means that they perceived the events
opinion. resolved through the talks. The Greek of the two summits in the same manner.
The framing, i.e. the interpreta- Cypriot side went to Crans-Monta- Another aspect that was looked
tion, the commenting and the promo- na aiming for success in the matters into was the reporting style used in the
tion of topics are dealt with as part of of territory and property. Both sides news items of all three newspapers.
the important role of newspapers and showed their cards, whilst the regula- For example, at Crans-Montana, there
the mass media in general. The Press tory role of the countries involved and was an impression that the conditions
that we studied in Cyprus is not res- the United Nations was evident. The have matured and a settlement could
tricted to just “framing” the reality Greek side holds in its hands the main be achieved. Journalists’ texts are
and chooses or defines the news item political demand of Turkish Cypriots, written in a rather striking tone as they
(Serafetinidou, 1999), but also plays that of political equality, which is en- give the impression that an optimistic
a more active and substantial role. visioned to be obtained through the mood dominates the talks: “Good spi-
Therefore, the positions and framings acceptance of a rotating presidency. rit and laid-back attitude” (Alithia, 29
of the Cypriot Press contribute to the Moreover, the Turkish side wishes to June 2017), “Opportunity for a deal”
shaping of a society that relies on al- discuss the issue of guarantees. (Politis, 28 June 2017), “UN Secretary
liances, negotiations, a desire to solve It is worth to note that there is no General’s invite to everyone to take
the issue, as well as disagreements, name-calling, no prejudice, nothing advantage of the opportunity” (Harav-
conflicts and uprisings. that accuses any of the two sides for gi, 28 June 2017). At the same time, a
Furthermore, the text in newspa- the failure of the talks at Mont Pèlerin; series of logical arguments are deplo-
pers is processed based on the ideo- just sheer disappointment about the yed that “convince” the readers of the-
logical politics that the newspaper dead end of the peace talks. Alithia se newspapers that a compromise bet-
expresses by publishing it in its co- reported that “The mutual blaming ween the two communities is the only
feasible and viable solution sought by the connection between the theoreti- REFERENCES
the two communities. cal framework and the empirical study
However, following the end of succeeded in demonstrating the signifi- Antoniades, E. (2017). The Cyprus Peace
Crans-Montana, all three newspapers cance of the agenda, since according to Talks at Mont Pelerin (7-11 and 20-
report on the failure of the talks and our research, it emerges that the posi- 21 November 2016) and the Greek
express their disappointment at the tions of the newspapers were in favour Cypriot Press: The Positions of
same time: The following titles are in- of a solution to the problem, cultivating Cypriot Newspapers Alithia, Poli-
dicative: “It’s your fault! – It’s all your a culture of reconciliation and not a tis and Haravgi. European Journal
fault!” (Alithia, 8 July 2017), “Crans- culture of conflict or dispute. On the of Multidisciplinary Studies 2(6)
-Montana ended in failure” (Politis, 7 other hand, the research showed that 309-318.
July 2017), whilst Haravgi reported on the agenda of the news items attributes Cohen, B. (1963). The Press and Foreign
“Initiative within the UN parameters” the necessary importance to the prota- Policy. Princeton, New Jersey: Prin-
(Haravgi, 8 July 2017). gonists of the talks, namely it focuses ceton University Press.
A similar image was observed on the people who took part in the ne- Constantinidou, Chr. (1998). Representing
with two of the three guarantor po- gotiations and were active on the topics the Allocation of Labour According to
wers, namely Greece and Turkey, as dealt with during the negotiations. This Sex in the Daily Athens Mass Press.
well as the UN Secretary General, as finding is consistent with the basic PhD diss., Panteion University.
the newspapers reported on the sig- theoretical assumption of McCombs & Fiske J. (2010). Introduction to Communi-
nificant role that these parties have Shaw (1976) theory. Last but not least, cation. Lountzi: Aigokeros
during the talks: “Overall negotiation the most important conclusion reached Garraud, P. (2010). Agenda/Emergence.
with Guterres (Haravgi, 6 July 2017), from using this new theory for the first In L. Boussaguet, S.Jacquot & P.
whilst the Turkish Foreign Minister time is that the mass media agenda in- Ravinet (eds.), Dictionnaire des Po-
Mevlüt Çavuşoğlu made the statement fluences the way in which the topics are litiques Publiques (pp.58-67). Paris:
“Troops in Cyprus forever” (Politis, prioritized by the public. Sciences Po.
5 July 2017) and the Greek Foreign We conclude that our study pre- Giallourides, Ch. (2011). The Greek-Turkish
Minister Nikos Kotzias highlited that sents evidence that the three news- conflict from Cyprus to Imia, to S300
“the Greek side has defended interna- papers promote a culture of consent and Helsinki. Athens: I. Sideris.
tional law and the right of Cyprus to between the two sides and only occa- Iyengar, S., & Kinder, D., (1987). News
be a sovereign and independent state” sionally report on the conflictual spirit That Matters: Television and Ameri-
(Alithia, 7 July 2017). of the direct talks among the parties can opinion. Chicago: University of
At this point, it is worth noting that involved at Crans-Montana. Chicago Press.

63
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tion Sociology. Athens: Gutenberg. Alithia: 35 years as a daily newspaper (1
Sofokleous, A. (2006). Contribution to May 2017)
the History of the Cypriot Press, Haravgi belongs to biased press and is
1878–1890, vol. A Part D. Nicosia: “AKEL’s official medium of expres-
Nikoklis. sion” (Prodromou, 210, 343-344).
Sofokleous, A. (2003). Contribution to the
History of the Cypriot Press, 1900–
1914, vol. C, Part A. Nicosia: Inter-
college Press.
Sofokleous, A. (2008) The Cypriot Mass
Media (in Greek). Nicosia: Nicocles.
Romer Mottinha Santos

O clã Bolsonaro Universidade Federal do Paraná,

romermottinha@gmail.com

e o Twitter: comunicação ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4362-8888

política e influência Deysi Cioccari


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

na rede social deysicioccari@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4660-1851

Clan Bolsonaro and Twitter: Political Thiago Perez Bernardes


communication de Moraes
and influence in social networks Universidad Argentina John Fitzgerald Kennedy

thiagomoraessp@hotmail.com

ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7128-4248

Resumo Abstract https://doi.org/10.14195/2183-6019_10_5

Esta pesquisa investiga o uso do Twit- This survey investigates the use of Twitter
ter pelo presidente eleito Jair Bolsonaro by President-elect Jair Bolsonaro and his
e seus três filhos que também seguem uma three sons, who also pursue a political
carreira política: Carlos, Eduardo e Flávio career: Carlos, Eduardo and Flávio Bolso-
Bolsonaro, que parte dos mídia brasilei- naro, which some Brazilian media call the
ros denomina “clã Bolsonaro”. Conforme “Bolsonaro clan”. As can be seen, the nar-
verificado a narrativa divulgada nas redes rative disclosed on social networks by the
sociais pelo clã Bolsonaro seja distinta Bolsonaro clan is distinct in an election
em ano de campanha eleitoral. O objetivo campaign year. The objective is to know
é saber como o clã Bolsonaro utilizou o how the Bolsonaro clan used Twitter as a
Twitter como instrumento de comunica- political communication tool in 2017 and
ção política em 2017 e 2018. O recorte 2018. The time frame of this survey is from
temporal desta pesquisa é a partir de 1 January 1, 2017 until November 3, 2018.
de janeiro de 2017 até 3 de novembro de The research methodology is of the quanti-
2018. A metodologia de pesquisa é quanti- tative type and consists of content analysis
tativa e análise de conteúdo com utilização using the Twitonomy application for data
do aplicativo Twitonomy para coleta dos collection. The results show that there is
dados. Os resultados demonstram que há a distinct behavior in the discourse of the
um comportamento distinto no discurso politicians of the Bolsonaro family in the
dos políticos da família Bolsonaro no ano political year 2017, prioritizing a negative
político de 2017, priorizando em campa- campaign for the election year 2018, where
nha negativa, para o ano eleitoral de 2018, the construction of the candidates’ image
onde predomina a construção da imagem predominates.
dos candidatos.
Keywords: Twitter; Bolsonaro; political
Palavras-chave: Twitter; Bolsonaro; communication.
comunicação política.

65
Introdução Four more years, “Mais quatro anos”2 nicação política durante o período
O Twitter é uma rede social com (Bentivegna, 2016). pré-eleitoral no ano de 2017 e no ano
repercussão de assuntos que predo- Nesta pesquisa verificamos que eleitoral em 2018.3
minam na cobertura dos meios de co- os temas discutidos no Twitter em ano
municação tradicionais . Os assuntos
1
de campanha eleitoral são diferentes
políticos repercutem nas redes sociais dos temas discutidos em período pré- Bolsonaro, imagem, poder
e alcançam diferentes desdobramen- -eleitoral. Em relação a Jair Bolsonaro e espetáculo
tos e públicos, de modo que é possível especificamente acreditamos que du- Maria Helena Weber (1999, p.123)
pressupor que as redes sociais tenham rante o ano de 2017 o Twitter serviu afirma que “os movimentos da políti-
influência na opinião dos indivíduos ao candidato como um espaço para ca na contemporaneidade disputam,
sobre os assuntos políticos (Rossetto, mobilização de seus seguidores contra cada vez mais intensamente, espaços
Carreira & Almada, 2013). Na elei- as críticas que o candidato recebia nos de visibilidade mediática usando com-
ção presidencial norte-americana de demais meios de comunicação. Por plexas estratégias para viabilizar rela-
2012 o Twitter foi fundamental para outro lado, durante o período eleitoral cionamentos e produzir informações
as campanhas dos principais can- de 2018 o Twitter foi maioritariamente com potencialidade para repercutir”.
didatos na disputa, bem como para usado pelo candidato para a constru- Uma consequência é a possibilidade
subsidiar de informações a cobertura ção de sua imagem. Em relação aos de um outro se manifestar e muitas ve-
da mídia. Para melhor ilustrar a im- filhos de Bolsonaro a tendência no ano zes vociferar protegido por uma tela de
portância do Twitter naquela eleição de 2017 foram publicações de cam- computador oferecendo uma impes-
serve o comentário do candidato ven- panhas negativas, já em 2018 ocorre- soalidade ao discurso que certamente
cedor Barack Obama sobre o resultado ram mudanças em suas publicações não ocorreria numa manifestação fren-
eleitoral que foi confiado a um tweet (tweets) para construção da imagem
contendo uma fotografia do presidente dos candidatos.
abraçando sua esposa, e o comentário O objetivo desta pesquisa é iden- 3  O Twitter apesar de demonstrar uma es-
tagnação de adesão de utilizadores e uma
tificar como Jair Bolsonaro e os seus significativa queda em 2018, ainda é muito
três filhos também políticos Carlos, utilizado pelos políticos. De acordo com os
1  O discurso de Bolsonaro é adaptado porque dados fornecidos pelo Twitter o número de
há um público específico nas redes sociais Eduardo e Flávio Bolsonaro utilizaram utilizadores ativos mensalmente correspon-
e outro na televisão (Cervi, 2018). Em cam- dia a 326 milhões em todo planeta, con-
o Twitter como instrumento de comu-
panhas eleitorais de acordo com Emerson forme o levantamento no terceiro trimestre
Cervi (2018) a estratégia dos candidatos nas de 2018. Os assuntos no Twitter podem ser
redes sociais é usar os ataques que ele sofre 2  Fonte: Twitter @BarackObama <https://twitter. selecionados por hashtags para que os uti-
de seus adversários no horário gratuito, nos com/BarackObama/status/26603129394 lizadores encontrem com mais facilidade os
debates, nos telejornais, etc. 5503744>. temas de seus interesses.
te a frente4. A política move paixões. dor é um microcosmo da sociedade zação ainda. A história de Bolsonaro
A disputa política eleitoral de 2018 brasileira , que encontra em Bolsona-
6
criou uma narrativa digna de novela:
incentivou paixões numa batalha de ro a representatividade não ocupada o protagonista sofre um atentado, fica
narrativas em que o que interesse é o por nenhuma outra personagem polí- entre a vida e a morte, gerando ex-
diálogo de um sobrepor-se ao de outro. tica de direita. Essa cadeira vazia do pectativa nos eleitores (espectadores),
Não mais o confronto de ideias. conservadorismo foi ocupada por Jair então, sobrevive, mas, frágil ainda,
Para que exista o espetáculo é Bolsonaro, que com seu discurso en- lida com os sonhos (da presidência) e
fundamental que haja interesse das tendeu que uma grande parcela da po- medos de quem sofreu. Tudo aos olhos
partes envolvidas: mídia (palco e mui- pulação dava claros indícios de querer atentos do público. O espetáculo por
tas vezes protagonista), personagem uma personagem política com valores si só. A violência utilizada como dis-
político e plateia. “A apropriação do voltados ao passado: pátria, família e curso, reiterada nas imagens e com
acontecimento pelos poderes aciona Deus. Se não fosse o episódio da fa- seu ápice no gestual (atentado) ganha
paixões, sem as quais não existirá o cada7, a história de Bolsonaro nessas contornos que extrapolam a simples
espetáculo” (Weber, 1999, p.98). eleições seria diferente. Antes do dia 6 realidade nessa campanha. A batalha
Jair Bolsonaro foi notícia dos jor- de setembro ele estava estagnado com de narrativas onde um impõe o discur-
nais Folha de S. Paulo e O Estado de 20% das intenções de voto, uma per- so no outro é sobrepujada pela própria
S. Paulo constantemente nos últimos centagem que corresponderia ao que violência física. A violência vira es-
anos5. Suas opiniões estavam sempre seriam seus eleitores fiéis. Depois do petáculo. Mais do que imagem. Ela se
presentes no quotidiano da imprensa. atentado, não pode ir a debates, mas entorna na campanha não sendo mais
Especificamente no Brasil, o con- foi poupado por seus adversários. Sua possível falar das eleições de 2018
servadorismo ganhou destaque após imagem, que sempre esteve presente sem falar de violência.
os anos de governo do Partido dos nos jornais, teve mais espetaculari- Nesse caminho, a jornalista Judite
Trabalhadores (2003 – 2016). Vale Sousa (2018) destaca que as eleições
6 Ver: Cioccari, Deysi. O atentado contra
destacar que o Congresso conserva- Jair Bolsonaro: imagem e violência nas de 2018 refletiram um país dividido,
eleições 2018. Disponível em: http://seer. que se repercutiu nas sondagens de
casperlibero.edu.br/index.php/libero/arti-
4  Simonetta Persichetti, manifestação oral em cle/view/1009 opinião, que mostravam rejeição de
reunião do grupo de pesquisa Comunicação, 7  O então candidato à presidência do Brasil,
ambos os candidatos do segundo tur-
Cultura e Visualidades, no dia 20 de outubro Jair Bolsonaro, sofreu um atentado à faca
de 2018, na Faculdade Cásper Líbero. no, o que gerou, por consequência, um
em Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, em
5  Ver artigo “A política e o espetáculo em Jair 6 de setembro de 2018. O autor do atenta- alto índice de votos brancos, nulos e
Bolsonaro”, de João Doria e Nelson Marche- do, Adélio Bispo de Oliveira, citou teorias
abstenções. Em uma análise simplifi-
zan. Disponível em: http://www.revistas.usp. de conspiração políticas e disse ter agido a
br/alterjor/article/view/147321 . mando de Deus. cada, 2018 representou uma eleição

67
que tinha, de um lado, a continuida- e os políticos como um todo. O outro status social anterior à existência do
de e, de outro, a “mudança”, em um padrão, o anti-PT (antipetismo) , de- 9
perfil online (Amaral & Pinho, 2018,
cenário forjado por um fundo obscuro pendeu da determinação entre muitos p. 470).
de dúvidas e incertezas. O discurso eleitores de infligir uma “punição” O Twitter, desde 2006, vem dis-
de Bolsonaro foi, para Fabio Gen- atrasada ao partido que governou por ponibilizando um espaço formatado
tile (2018), construído em um “mix mais de uma década em quatro man- como um “microblog” onde é possí-
narrativo” que trouxe em seu bojo datos consecutivos. vel cada usuário publicar mensagens
elementos como o autoritarismo mi- curtas (tweets), sendo essas visíveis a
litar, liberalismo na economia, além terceiros. A ideia original fora ofere-
de uma proximidade aos movimentos Twitter, #hashtags e cer um microblog para atualizações de
pentecostais e neopentecostais . Na 8
comunicação política status pessoal, contudo, atualmente,
mesma esteira, Wendy Hunter e Ti- Um dos aspectos sobre o uso das os tweets cobrem uma gama de tópicos
mothy J. Power (2019) indagam que redes sociais é com relação à influên- praticamente incomensurável, indo de
Bolsonaro foi eficiente principalmente cia exercida por alguns utilizadores informações sobre produtos, (em di-
em explorar dois padrões de clivagens. sobre outros. No Twitter, essa questão versos formatos) a notícias políticas,
Um destes padrões refere-se à cliva- se refere à possibilidade de vários se- dentre outros. Não obstante, pontua-se
gem anti-establishment, centrando-se guidores representarem ou não, para a que os políticos estão utilizando coti-
em um sentimento generalizado de pessoa ou organização seguida, algum dianamente esse tipo de ferramenta,
repulsa acumulativa contra a política poder de influência sobre outros uti- para objetivos que vão para além de
lizadores. A popularidade na rede so- simplesmente buscar “votos” ou mo-
8  Os pentecostais podem ser inseridos em cial pode representar prestígio, fama bilizar apoiadores. Por conta disso,
mais de um grupo cristão, mas as igrejas e status ao utilizador de uma conta uma série de analistas têm voltado
desse movimento do pentecostalismo mo-
derno começaram a surgir mais nos Estados excepcionalmente seguida na rede mais atenção para a “twittersphere”,
Unidos, no início do século XX. O termo neo- social, como pode somente replicar o elencado o mesmo como um tipo de
pentecostalismo foi aplicado pela primeira
vez na década de 1970, para as igrejas que “termômetro da opinião pública”. De
adotaram muitas das doutrinas e práticas 9  “O cenário político brasileiro, a partir da todo modo, o aumenta o constante do
das igrejas pentecostais e do movimento vitória de Dilma Rousseff, candidata do
carismático, mas não se tornaram alinha- Partido dos Trabalhadores (PT) nas elei- uso do Twitter chamou atenção de pes-
dos com algum deles. O fenômeno surgiu ções presidenciais de 2014, polarizou-se de
quisadores dos mais diversos campos.
nos Estados Unidos na década de 1980. Os maneira visível. Um conjunto de novos atores
fiéis neopentecostais acreditam na palavra políticos, sintonizados com o pensamento Por conta disso, existem atualmente
pós-bíblica dos dons do Espírito Santo, in- de direita, emergiu no centro desse cená-
diferentes fluxos de pesquisa que in-
cluindo glossolalia (falar em línguas), cura rio compartilhando a rejeição ao petismo”
e realização de profecias. (Oliveira Filho, Feitosa & Silva, 2019, p.1). vestigam a função do Twitter enquanto
rede social. Nesse sentido, destacam- medida, refletir de algum modo a pre- os temas dos tweets, mas o uso de
-se sobretudo os trabalhos políticos ferência dos eleitores, chegando por hashtags políticos. A hashtag (símbo-
(Tumasjan et al., 2010; Liu, 2012). vezes bastante próxima de pesquisas lo #) permite que um tema específico
Como bem ensinam Andranik eleitorais tradicionais (como os surveys seja definido e identificado. No campo
Tumasjan, Timm Sprenger, Philipp e enquetes de opinião). É interessan- da política, o estudo da # foi realizado
Sandner e Isabell Welpe (2010), o uso te destacar que a evidência empírica tanto durante as campanhas eleitorais
do Twitter como objeto de estudo para corrobora que o Twitter não só é uma quanto em períodos de atividade polí-
fenômenos políticos se plasma de di- ferramenta para disseminação de in- tica comum (Bentivegna, 2016).
ferentes formas. Assim, existem pes- formações, como também, antes disso, Nas hashtags residem os desafios
quisadores que se concentraram nos funciona cine um tipo de “fórum” para metodológicos para mapear qualitati-
efeitos que as mensagens do Twitter que a discussão das opiniões dos de- vamente como tais elementos criam a
poderiam ter na vida real, como uma mais utilizadores. Em suma, o Twitter memória dos eventos aos quais se re-
espécie de complemento a função de é hoje amplamente empregado como ferem. Uma hashtag pode ser utilizada
vigilância dos meios de comunicação fonte de dados para o âmbito do com- como um signo capaz de representar
de massa como também de potencial portamento político, pois o mesmo ofe- um posicionamento político-social,
ferramenta na mobilização política. rece um tipo de indicador válido (em relacionando as dinâmicas online dos
Nesse cabedal, muitos estudos tam- tempo real) sobre o sentimento políti- ambientes virtuais e as dinâmicas
bém investigam a realçá-lo entre a co. Claro que demanda esmero do pes- offline das ruas. É essa trajetória es-
exposição dos candidatos nas redes quisador tanto em coletar e analisar os paço-temporal, formatada pelos pro-
sociais e seu desempenho eleitoral. dados, como também, em identificar o cessos de mediação, que impõe novos
Em especial, no estudo de Andra- contexto mais amplo em que os tweets desafios para a percepção e criação
nik Tumasjan, Timm Sprenger, Philipp ou outras ações relacionadas a ele fo- de memórias nas redes sociais, em
Sandner e Isabell Welpe (2010), onde ram executadas. fluxo contínuo com os ambientes of-
foram analisadas mais de 100.000 fline (Falci & Bicalho, 2017). A rede
mensagens contendo uma referência social e os mecanismos de busca (si-
a um partido político ou um político, Aspectos metodológicos do tes de busca), com seus algoritmos e
evidenciou-se que o Twitter funciona estudo hashtags, tendem a nos direcionar
como um tipo de plataforma de deli- Uma abordagem que não é parti- para o conteúdo de nossa preferência
beração política. Nesse sentido, dados cularmente difundida, mas não menos e para as pessoas com alinhamento
simples como por exemplo o número interessante por essa razão, é aquela de ideias similares às nossas. A con-
de tweets tende a, em maior ou menor que toma como objeto de estudo não sequência é que as opiniões tendem

69
Quadro 1.  Categoria de Temas para Hashtags (#) dos Políticos

Categoria Descrição
Agenda e eventos Temas relacionados à divulgação de agenda e eventos do político, como visita a lugares e entrevistas.
Imagem do político Divulgação de realizações pregressas vinculadas à sua imagem pessoal, de candidato, político ou
institucional.
Posicionamento Posicionamento do candidato referente a ideologia, como posição política, ou a manifestações da população,
como protestos.
Campanha negativa Ataques a adversários e críticas à sociedade, políticos, personalidades ou a ideais.
Mobilização engajamento Relacionado à participação e mobilização.
Promessas e projetos Divulgação de projetos, propostas e promessas políticas ou eleitorais.
Outros Categorias não englobadas anteriormente.

Fonte: Baseado em Herman (2017).

a ser reforçadas, e as mentiras, não São sete categorias conforme o Qua- maior engajamento na rede, que pode
contestadas. Então, nunca houve um dro 1. ser medido pelo número de retweets
modo mais rápido e mais poderoso de A coleta no Twitter para este traba- e favorites (Simões & Silva, 2019, p.
espalhar uma mentira do que postá-la lho foi realizada em 03 de Novembro 128).
online (D’Ancona, 2018). de 2018, então os números de segui- Em 2010 ocorreram eleições no
Neste trabalho as variáveis coleta- dores (followers) possivelmente esta- Brasil e as redes sociais já se coloca-
das no Twitter se referem a: I) Núme- rão mais elevados após a publicação vam como um instrumento de comuni-
ro de tweets do perfil; II) Número de deste trabalho10. cação eleitoral. Este exemplo pode ser
seguidores (followers); III) Ingresso observado na campanha do presiden-
do perfil no Twitter; IV) A percenta- ciável Plínio de Arruda (PSOL), que
gem de hashtags mais utilizadas pelo Análise do perfil de Jair não despontou nas pesquisas eleito-
perfil; V) Top retweeted tweet (tweets Bolsonaro no Twitter rais, mas foi um fenômeno no Twitter11.
mais compartilhados pelos utilizado- O ingresso de Bolsonaro no uso do O alto volume de tweets publica-
res); e VI) Top favorited tweet (tweets Twitter foi em 2010. Após a eleição de dos por Bolsonaro, especialmente em
marcados como favoritos pelos utili- Barack Obama em 2008, a rede social 2018, mostra que o Twitter é um canal
zadores). O recorte temporal das aná- passou a ser palco de campanha e de- importante de comunicação política e
lises foram os anos de 2017 e 2018 bate entre os utilizadores. Com isso, a também eleitoral. O destaque é para o
(até o mês de outubro do último ano). rede social começou a ganhar impor- aumento de publicação de Jair Bolso-
A coleta e foi realizada pelo site Twi- tância em uma campanha presidencial naro de 2017 (ano pré-eleitoral) para
tonomy, que coleta dados do Twitter e para as eleições não apenas nos Es- 2018 (ano eleitoral), com média por
e permite gerar planilhas, gráficos e tados Unidos, mas no Brasil também. dia de 3,78 que passa a ser 5,65. Ou
relatórios do perfil selecionado. En- O candidato Jair Bolsonaro pode seja, em ano eleitoral há uma preocu-
tre as principais funcionalidades da ser considerado o mais influente nas pação de divulgação de campanha e
ferramenta Twitonomy destacam-se redes sociais durante o primeiro turno da imagem dos políticos.
as estatísticas sobre o perfil analisado nas eleições de 2018, seguido por Ciro Em relação às hashtags utiliza-
como, por exemplo, a quantidade de Gomes, Fernando Haddad e Geraldo das por Bolsonaro, em 2017 (ano não
tweets postados e o agrupamento de Alckmin, nessa ordem. Bolsonaro ti-
11 O Globo, 06/08/2010, “Atrás nas pesqui-
hashtags utilizadas pelo utilizador. A nha o maior número de seguidores e o
sas, Plínio de Arruda vira febre no Twitter
categorização para a classificação das durante debate na Band” <https://oglobo.
10 E m 08 de janeiro de 2020 o perfil @jair- globo.com/politica/atras-nas-pesquisas-
hashtags é adaptada da pesquisa de
bolsonaro no Twitter já tinha alcançado -plinio-de-arruda-vira-febre-no-twitter-
Fellipe Herman (2017, p. 147-150). 5.748.035 followers. -durante-debate-na-band-3087825 >.
Quadro 2. Ingresso, Followers e Tweets de Jair Bolsonaro

Político Ingresso no Twitter Seguidores (followers) em 03-nov-2018 N. total de tweets desde a adesão
Jair Bolsonaro 31/03/2010 2.291.088 5.429

Fonte: Elaboração dos autores via Twitonomy (2018).

Quadro 3. Tweets em 2017 E 2018 de Jair Bolsonaro

tweets tweets tweets tweets N. total de tweets


Político
Analytics 2017 (média dia) 2017 Analytics 2018 (média dia) 2018 desde a adesão
Jair Bolsonaro 1432 3,92 1717 5,65 5.429

Fonte: Elaboração dos autores via Twitonomy (2018).

eleitoral), verifica-se a predominância sites dos presidenciáveis Álvaro Dias hashtags com filtro para o próprio
de palavras-chave nas categorias de (PODE), Guilherme Boulos (PSOL), nome de Bolsonaro como candidato e
posicionamento ideológico ou de cam- João Amoedo (NOVO), Geraldo Alck- algumas hashtags de posicionamen-
panha negativa aos adversários polí- min (PSDB), Marina Silva (REDE), to (referente a ideologia, como posi-
ticos, conforme a Tabela 1. Embora Lula e Fernando Haddad (PT) e o pró- ção política, ou a manifestações da
o número de hashtags utilizadas não prio presidente eleito Jair Bolsonaro população, como protestos) foram as
seja habitual em seu perfil, as poucas (PSL) incluíram fact-checking de acor- predominantes no ano de 2018. Esse
publicadas permitem uma leitura sig- do com seus critérios e interesses. comportamento demonstra uma distin-
nificativa de seu comportamento polí- O conceito de fake news é hoje si- ção de objetivos políticos de Jair Bol-
tico na rede social. Menções às fake nônimo de desinformação, utilizado sonaro. Pois, em 2017, se suas prin-
news, demonstram sua batalha nos livremente para indicar rumores e no- cipais hashtags publicadas tinham um
conflitos de informações propagadas tícias falsas que circulam, principal- direcionamento de críticas e posicio-
na Internet, já as menções a Olavo de mente, na rede social. Parece-nos que namento ideológico constantes, já em
Carvalho, Ustra (coronel Carlos Alber- a característica do propósito de enga- 2018 há um afastamento destas duas
to Brilhante Ustra) e Taurus (empre- nar é fundamental para este trabalho. tendências e a prioridade passa pela
sa brasileira de armas) representam As fake news, assim, não se tratam divulgação do seu próprio nome para
simbolicamente seu direcionamento apenas de informações pela metade fortalecimento de campanha eleitoral.
político-ideológico. ou mal apuradas, mas de informações Um ano eleitoral pode mudar con-
Em específico, nas eleições de falsas e intencionalmente divulgadas, sideravelmente o comportamento dos
2018 no Brasil houve inúmeras pu- para atingir interesses de indivíduos atores políticos e com Jair Bolsonaro
blicações de fake news, não apenas o ou grupos (Recuero & Gruzd, 2019) . 12
prevaleceu esta premissa. As hashtags
compartilhamento de notícias falsas, Na Tabela 2 as publicações de utilizadas em 2018 foram direcio-
mas também o volume de propagação nadas para a imagem do candidato
nas redes sociais e na adesão dos can- 12 Para a definição de uma fake news: (1) o e para a campanha eleitoral. Um re-
componente de uso da narrativa jornalís-
didatos e dos eleitores aos conteúdos tica e dos componentes noticiosos; (2) o sultado pertinente para esta pesquisa
divulgados pelas fake news. Os gran- componente da falsidade total ou parcial ou para as pesquisas de utilização de
da narrativa e; (3) a intencionalidade de
des jornais como O Globo, Estadão e enganar ou criar falsas percepções através redes sociais não é apenas o conteú-
da propagação dessas informações na mí-
Folha de S.Paulo adotaram fact-chec- do que o utilizador pública, mas como
dia social. A circulação de notícias falsas,
king para investigar a veracidade das deste modo, atua diretamente na produção os seguidores recebem estas publica-
de desinformação, de modo particular, na
notícias divulgadas especialmente so- ções. Ou seja, a interação dos utiliza-
internet, embora não seja o único ambiente
bre as eleições 2018. Assim como os usado para isso (Recuero & Gruzd, 2019). dores de Internet e a influência digital

71
Tabela 1. Perfil no Twitter de Bolsonaro em 2017 (Hashtags mais Utilizadas)

Político #hashtags + utilizadas (most used) Categorias predominantes das hashtags


#fakenews (5), #olavotemrazao (1), #ustravive (1), #90minutos
Jair Bolsonaro (PSC) (1), #jairbolsonaro (1), #forodesaopaulo (1), #incansÁvel (1), Posicionamento / Campanha negativa
#direitafortaleza (1), #choramais (1), #taurus (1)

Fonte: Elaboração dos autores pelo Twitter via Twitonomy.com (2018).

Tabela 2. Perfil no Twitter de Bolsonaro em 2018 (Hashtags mais Utilizadas)

Político hashtags + utilizadas (most used) Categorias predominantes das hashtags


Jair Bolsonaro (PSL) #nasruascombolsonaro (4), #bolsonaronaband (3), #votobolsonaro17 Imagem do político
(2), #jairmessiasbolsonaro (2), #ptnão (2), #direitaamordaçada (1), / Posicionamento
#estoucombolsonaro (1), #brasilcontraoaborto (1), #bolsonaro2018
(1), #mulherescombolsonaro (1)

Fonte: Elaboração dos autores pelo Twitter via Twitonomy.com (2018).

observada. Por meio das publicações seja, uma temática distante da política -se contra. Ou seja, os seus três Top
mais ‘retweetadas’ e merecedoras do institucional e do Congresso. Todavia Retweetd são relacionados à intolerân-
favoritismo dos seguidores de Bol- o número de retweets foi acima de 20 cia. Então seus seguidores demonstra-
sonaro no Twitter pode-se constatar mil com mais de 47 mil marcações ram ter esta preferência de conteúdos
quais foram as suas principais publi- como tweet favorito. postados por Jair Bolsonaro. Este fato
cações e qual o contexto, mensagem O segundo tweet com mais retweet demonstra que Bolsonaro ao utilizar a
ou direcionamento. apresenta o seguinte conteúdo: “Quem rede social para publicações negativas
No Quadro 4 foram relacionados assalta, estupra, sequestra e mata não têm apoio de muitos seguidores e de-
os principais tweets, em 2017, de Jair é vítima da sociedade, é VAGABUN- monstra-se ser bastante influente na
Bolsonaro e todos têm aspectos de DO”. Palavras que indicam o posicio- esfera online.
discurso negativo em relação ao quoti- namento de intolerância de Jair Bolso- No Quadro 5 foram relacionados
diano da sociedade. Pode-se destacar naro em relação à segurança pública os principais tweets de 2018 de Jair
com relação ao número de retweets e e políticas sociais. E o terceiro tweet Bolsonaro e como já mencionado an-
tweets marcados como favoritos pelos com mais retweet faz referência com teriormente neste trabalho prevaleceu
utilizadores que Jair Bolsonaro já era comparação de uma canção infantil a tendência de alteração no discurso.
um grande influenciador em 2017, e uma crítica a exposição em museu As publicações de mensagens com
pois em 28-08-2017 o seu Top retwee- com nudez, que Bolsonaro demonstra- críticas foram amenizadas em relação
ted tweet se referia a Pabllo Vittar , ou13
ao ano de 2017, devido ao período de
um ícone gay[108] e foi citado pelo The New
campanha eleitoral quando os candi-
York Times como um “emblema de fluidez
13  Phabullo Rodrigues da Silva (São Luís, 1 de gênero”,[98] enquanto o The Guardian, datos políticos priorizam a construção
de novembro de 1994), conhecido por seu comentando sobre seu posicionamento po-
positiva de uma imagem pessoal, pro-
nome artístico Pabllo Vittar, é um cantor e lítico, se referiu a Vittar como um “símbolo
drag queen brasileiro. Vittar é considerado de resistência”. fissional e política.
Quadro 4. Top Retweeted & Favorited Tweet no Twitter de Jair Bolsonaro em 2017

28/08/2017: Não sei quem é Pablo Vitar. Boa tarde a todos! (20221 retweets – 47739 favorites) https://
Top retweeted tweet #1
twitter.com/jairbolsonaro/statuses/902224159765356545
13/06/2017: Quem assalta, estupra, sequestra e mata não é vítima da sociedade, é VAGABUNDO! (13612
Top retweeted tweet #2
retweets – 23473 favorites) https://twitter.com/jairbolsonaro/statuses/874669041545359361
30/09/2017: “Cantar “atirei um pau no gato” ñ pode, as crianças crescerão violentas. Mas mostrar piu-
Top retweeted tweet #3 piu p/ as crianças pode, é obra de arte. Canalhas! (12168 retweets – 29495 favorites) https://twitter.com/
jairbolsonaro/statuses/914133887869227008

Fonte: Elaboração dos autores pelo Twitter via Twitonomy.com (2018).

Quadro 5. Top Retweeted & Favorited Tweet no Twitter de Jair Bolsonaro em 2018

28/10/2018: BRASIL! ???? (54984 retweets – 217592 favorites) https://twitter.com/jairbolsonaro/sta


Top retweeted tweet #1 tuses/1056685297377992704
29/10/2018: Recebemos há pouco ligação do Presidente dos EUA, @realDonaldTrump nos parabenizando
por esta eleição histórica! Manifestamos o desejo de aproximar ainda mais estas duas grande nações e
avançarmos no caminho da liberdade e da prosperidade! (46333 retweets – 226713 favorites) https://
Top retweeted tweet #2 twitter.com/jairbolsonaro/statuses/1056713939629809665
09/10/2018: Meu adversário falou que vai combater o encarceramento e soltar criminosos da cadeia.
Nossa preocupação e prioridade são as pessoas de bem. Falo desde sempre, prefiro uma cadeia lotada
de criminosos do que um cemitério lotado de inocentes. Se faltar espaço, a gente constrói mais! (44613
Top retweeted tweet #3 retweets – 154652 favorites) https://twitter.com/jairbolsonaro/statuses/1049709386292191233

Fonte: Elaboração dos autores pelo Twitter via Twitonomy.com (2018).

A utilização das redes sociais nos utilizadores de Internet e eleitores O advento das fake news reporta-
períodos eleitorais vem crescendo nos melhores condições de selecionar in- -se a campanha presidencial de 2016
últimos anos no Brasil. Espera-se uma formações e um ambiente de constru- nos Estados Unidos com o sistemático
busca de informações sobre os polí- ção de cidadania. ataque de Donald Trump aos tradicio-
ticos na Internet e nas redes sociais “Brasil acima de tudo, Deus acima nais veículos de comunicação norte-a-
por parte dos utilizadores de Internet. de todos”. Este foi o slogan de cam- mericanos. “O que acontece quando
Dos políticos espera-se que utilizem panha eleitoral para presidência da as mentiras não só proliferam como
as plataformas online para construção República, em 2018, de Jair Messias também parecem ter menos impor-
de suas campanhas eleitorais com pro- Bolsonaro e também o nome da sua co- tância – ou até importância alguma? ”
postas positivas. ligação maioritária. As características (D’Ancona, 2018). A pós-verdade não
Todavia, “a realidade das práti- das mensagens expressas na frase de- tem o mesmo significado que as ma-
cas participativas digitais mostra, no monstram valores nacionalistas e valo- nipulações e as falsidades políticas.
entanto, um quadro muito diferente” res religiosos. A frase também consta O novo não é a prática desonesta dos
(Cardon, 2016). Pois os resultados na Proposta de Plano de Governo de políticos, mas a resposta do público a
desta pesquisa demonstram que na Jair Bolsonaro registrada no Tribunal isso. A indignação é substituída pela
utilização da rede social Twitter do Superior Eleitoral (2018). A carrei- indiferença que, consequentemente,
presidente eleito Jair Bolsonaro preva- ra militar de Jair Bolsonaro é um dos leva à conivência (D’Ancona, 2018).
lecem as temáticas de campanha ne- motivos oriundos deste slogan, que faz O jornalismo tem como tarefas
gativa e de seu posicionamento ideo- alusão ao patriotismo. O discurso de mostrar a complexidade e o paradoxo
lógico polêmico. Para a comunicação ‘valores da família’ bastante difundido da vida pública, investigar a transgres-
política isso não é favorável, pois te- entre a direita conservadora é a repre- são e defender os princípios da demo-
máticas com propostas permitem aos sentação da segunda parte da frase. cracia proporcionando uma constante

73
Quadro 6. Ingresso, Followers e Tweets dos Políticos da Família Bolsonaro

Seguidores (followers) em 03- N. total de tweets desde a


Político Ingresso no Twitter
nov-2018 adesão
Carlos Bolsonaro (PSC) 25/08/2009 583.571 10.908
Eduardo Bolsonaro (PSC) 14
16/09/2009 835.719 10.567
Flávio Bolsonaro (PSC) 14/05/2009 710.631 11.231
Jair Bolsonaro (PSC) 31/03/2010 2.291.088 5.429

Fonte: Elaboração dos autores via Twitonomy (2018).

de informações e notícias confiáveis. mais encantados nos tornamos com demonstra que suas atividades nes-
Neste momento, quando a confiança nosso pensamento individual, menos ta rede social foram logo após o ano
na mídia é mais necessária, a confian- capazes somos de entender a psico- de 2008, quando houve o fenômeno
ça nela é reduzida significativamente. logia das nações, dos povos, das re- de campanha presidencial por redes
Pois estamos em um período de fragi- ligiões e dos movimentos políticos. O sociais de Barack Obama. Em 2010
lidade institucional. As campanhas de fato do tempo atual parecer tão ilegí- ocorreram no Brasil as eleições gerais,
desinformação são a base para a era da vel para nós deve-se em grande parte a todavia uma rede social não era essen-
pós-verdade e seu propósito é semear esse desequilíbrio (Lilla, 2018). cial no Brasil para um candidato em
dúvida. O objetivo é manter a discus- sua campanha, mas já era um meio de
são em andamento, para assegurar 14
comunicação eleitoral15.
que nunca cheguem a uma conclusão Análise do Twitter de O volume de tweets dos quatro
(D’Ancona, 2018). Carlos, Eduardo & Flávio políticos, especialmente em 2018,
Por mais difícil que seja não le- Bolsonaro demonstrou que o Twitter é um canal
var a sério as notícias falsas, elas As atividades de Carlos Bolsona- importante de comunicação política
possuem consumidores vibrantes no ro, Eduardo Bolsonaro e Flávio Bolso- e também eleitoral. Ou seja, em ano
próprio ápice do poder. O importante naro, os filhos de Jair Bolsonaro que eleitoral há uma preocupação de di-
é que as histórias pareçam verdadei- também possuem carreira política, vulgação de campanha e da imagem
ras e que elas repercutam. A questão apresentam um volume muito maior dos políticos com um pouco mais de
não é determinar a verdade por meio de tweets do que o pai, todavia o nú- preocupação em relação ao ano ou pe-
de um processo de avaliação racional mero de seguidores (followers) ainda ríodo não-eleitoral.
e conclusiva. Você pode escolher sua não era expressivo como o de Jair Bol- O destaque para as (#) hashtags
própria realidade. Também pode se- sonaro em 2017 e 2018. No entanto, o mais utilizadas é a #fakenews presen-
lecionar sua própria mentira, de um número de seguidores no Twitter dos te nos tweets de Carlos Bolsonaro e de
modo não menos arbitrário (D’Ancona, três filhos de Bolsonaro já superava 1
2018). milhão em 2019. 15 Este exemplo pode ser observado na cam-
A nostalgia política propaga um O ingresso no Twitter pelo quar- panha do presidenciável Plínio de Arruda
(PSOL), que não despontou nas pesquisas
padrão de pensamento mágico sobre teto de políticos da família Bolsonaro eleitorais, mas foi um fenômeno no Twitter.
O Globo, 06/08/2010, “Atrás nas pesqui-
a história. A vítima é convencida que
sas, Plínio de Arruda vira febre no Twitter
existiu uma Época de Ouro específica 14 D evido ao elevado volume de tweets, em durante debate na Band” <https://oglobo.
2018, de Eduardo Bolsonaro a coleta sobre globo.com/politica/atras-nas-pesquisas-
e que possui um conhecimento esoté-
o seu perfil foi realizada apenas em relação plinio-de-arruda-vira-febre-no-twitter-
rico dos motivos de seu fim. Quanto aos tweets de 2018. durante-debate-na-band-3087825 >.
Quadro 7. Tweets em 2017 e 2018 dos Políticos da Família Bolsonaro

Tweets Tweets Tweets Tweets N. total de Tweets


Político
Analytics 2017 (média dia) 2017 Analytics 2018 (média dia) 2018 desde a adesão
Carlos Bolsonaro 763 2,09 2344 7,71 10.908
Eduardo Bolsonaro 16
– – 3094 10,18 10.567
Flávio Bolsonaro 1381 3,78 978 3,22 11.231
Jair Bolsonaro 1432 3,92 1717 5,65 5.429

Fonte: Elaboração dos autores via Twitonomy (2018).

Jair Bolsonaro. Isso demonstra que, na nomes dos políticos da família Bol- Carlos Bolsonaro teve, em 2017,
arena da comunicação, a disputa das sonaro e o apoio a suas campanhas. seus principais tweets direcionados
informações é uma nova tendência nas Todavia a pauta antipetista (anti-PT) para política do pai, Jair Bolsonaro, e
publicações políticas e eleitorais nas teve aparições nas hashtags do clã para críticas da política de esquerda.
redes sociais. Mas há também algumas Bolsonaro com a #lulanacadeia (com Verifica-se uma preparação para as
hashtags com tendências significativa- referência à prisão do ex-presidente disputas do ano eleitoral posteriormen-
mente agressivas sexualmente, como Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido te. No caso do Top retweeted #3 (sobre
#caetanopedofilo e #vaidarabundarei- dos Trabalhadores) e a #ptnão. Vale a Deputada do PT) verificamos que a
naldo publicadas por Flávio Bolsona- ressaltar que na eleição presidencial recepção dos utilizadores do Twitter
ro. Isso demonstra um comportamento de 2018 foram 14 candidatos à pre- pode ser constatada neste tweet, pois,
nas redes sociais fora de conduta para sidência. Mas a disputa mais acirra- conforme D’Ancona (2018), a pós-ver-
um representante político. 16
da ficou polarizada entre o Partido dade não possui o mesmo significado
O Twitter como plataforma de fer- dos Trabalhadores (PT) e o Partido que as manipulações políticas. O que
ramenta eleitoral tem características Social Liberal (PSL), de Bolsonaro. destacamos aqui é a resposta do públi-
específicas, que permitem tanto a cir- E esta tendência pode ser verifica- co a este tipo de publicação. Pois se há
culação de declarações quanto oportu- da no Twitter do clã Bolsonaro pelas grande recepção do público para fatos
nidades de intercâmbio e debate (Ben- hashtags, top retweeted tweets e favo- não comprovados, então estamos pe-
tivegna, 2016). rited tweets. rante uma desinformação instaurada.
O comportamento dos políticos da Eduardo Bolsonaro sempre foi po- Em 2018, os tweets de destaque
família Bolsonaro em 2018 foi bas- lêmico como parlamentar, todavia, os de Carlos Bolsonaro são relacionados
tante redirecionado para construção seus tweets com mais retweets e mar- à mídia e a críticas às notícias sobre
da imagem para campanha eleitoral. cados como favoritos, em 2018, foram Jair Bolsonaro. Como Carlos era res-
Essa tendência já era esperada pois relacionados com as eleições e com ponsável pela comunicação das redes
a prioridade é conquistar votos nas a política com destaque para críticas sociais do pai presidenciável, este
eleições, então os discursos políticos aos partidos de esquerda (PT e PSOL) comportamento demonstra sua atua-
mais polêmicos são menos abordados do Brasil. Pelos seus Top retweeted ção com discursos menos polêmicos
como demonstram as (#) hashtags tweet verifica-se que a preferência de em relação aos demais políticos da fa-
de 2018 que priorizam destacar os seus seguidores prevalece sobre o Par- mília Bolsonaro.
tido dos Trabalhadores (PT) e aos po- Flavio Bolsonaro, em 2017, teve
16 A coleta sobre o perfil de Eduardo Bolso-
líticos de posicionamento de ideologia em seus principais tweets publicações
naro foi realizada apenas em relação aos
tweets de 2018. de esquerda. bastante polêmicas com a menção de

75
Tabela 3. Perfil no Twitter dos Políticos da Família Bolsonaro em 2017 (Hashtags mais Utilizadas)

Político Hashtags + utilizadas (most used) Categorias predominantes das hashtags


Carlos Bolsonaro (PSC) #fakenews (4), #Émelhorjairseacostumando (4), Campanha negativa
#cholamais (2), #istoedesespero (2), #ochoroélivre
(1), #melhorjairseacostumando (1), #coerência (1),
#ojardimdasaflições (1), #Émelhorjáirinventandooutra (1),
#absurdo (1)
Eduardo Bolsonaro (PSC) – –
Flávio Bolsonaron (PSC) #istoédesespero (4), #championsleague (4), #caetanopedofilo Campanha negativa / Agenda e eventos
(3), #bolsonaro (2), #vaidarabundareinaldo (2),
#mexeucomumamexeucomtodas (2), #superpop (2),
#bolsonaropresidentenosuperpop (2), #finalchampionsleague
(1), #eikecontapragente (1)
Jair Bolsonaro (PSC) #fakenews (5), #olavotemrazao (1), #ustravive (1), #90minutos Mobilização engajamento /
(1), #jairbolsonaro (1), #forodesaopaulo (1), #incansÁvel (1), Posicionamento
#direitafortaleza (1), #choramais (1), #taurus (1)

Fonte: Elaboração dos autores pelo Twitter via Twitonomy.com (2018).

Tabela 4. Perfil no Twitter dos Políticos da Família Bolsonaro em 2018 (Hashtags mais Utilizadas)

Político Hashtags + utilizadas (most used) Categorias predominantes das hashtags


Carlos Bolsonaro (PSC) #estoucombolsonaro (5), #bolsonaronaband (4), #fakenews (4), Imagem do político / Campanha negativa
#lulanacadeia (3), #bolsonaro2018 (3), #capitãobolsonaro (2),
#votobolsonaro17 (2), #elesim (2), #jairmessiasbolsonaro (2),
#brasilcombolsonaro (1)
Eduardo Bolsonaro (PSL) #repost (18), #votobolsonaro17 (6), #bolsonaro2018 (5), Imagem do político / Campanha negativa
#lulanacadeia (5), #b17 (3), #brasilcombolsonaro (3),
#mulherescombolsonaro (3), #forçabolsonaro (3), #sp (2),
#mensalinhodotwitter (2)
Flávio Bolsonaron (PSL) #flaviobolsonarosenador177 (64), #bolsonaropresidente17 Imagem do político
(42), #brasil (33), #estoucombolsonaro (31), #errejota (30),
#riodejaneiro (26), #bolsonaro (25), #rj (25), #rio (25),
#bolsonaro2018 (25)
Jair Bolsonaro (PSL) #nasruascombolsonaro (4), #bolsonaronaband (3), Imagem do político
#votobolsonaro17 (2), #jairmessiasbolsonaro (2), #ptnão
(2), #direitaamordaçada (1), #estoucombolsonaro
(1), #brasilcontraoaborto (1), #bolsonaro2018 (1),
#mulherescombolsonaro (1)

Fonte: Elaboração dos autores pelo Twitter via Twitonomy.com (2018).

comportamento sexual e gênero nas Um dos fatos mais marcantes de retweeted e primeiro Top favorito: “In-
escolas. Podemos constatar que o Top 2018 foi o atentado contra Jair Bolso- felizmente foi mais grave que esperá-
retweeted tweet #3 tem linguagem no- naro, quando estava em campanha em vamos. A perfuração atingiu parte do
tavelmente pejorativa. Estas publi- Juiz de Fora, Estado de Minas Gerais. fígado, do pulmão e da alça do intes-
cações são rotineiras não apenas no O presidenciável foi esfaqueado na tino. Perdeu muito sangue, chegou no
Twitter, mas nas declarações do clã tarde do dia 6 de setembro de 2018. hospital com pressão de 10/3, quase
Bolsonaro em outras redes sociais e E o tweet no dia 06/09/2018 de Flávio morto.... Seu estado agora parece esta-
nos meios de comunicação. Bolsonaro foi o segundo com mais Top bilizado. Orem, por favor! ”.
Quadro 8. Top Retweeted & Favorited Tweet no Twitter de Eduardo Bolsonaro em 2018

09/10/2018: Votar no Haddad significa:


-jogar no lixo tda energia gasta no impeachment;
-sepultar a Lava Jato;
Top retweeted tweet #1 -desmerecer o trabalho/sacrifício d Sérgio Moro,PF e MPF;
-significa indultar Lula e permitir q sua quadrilha comande o Brasil;
-resgatar Marias do Rosário como ministra d Dtos.Hum. (13304 retweets – 39291 favorites) https://
twitter.com/BolsonaroSP/statuses/1049668484815314944
26/09/2018: *2002 o PT venceu*
*2006 o PT venceu*
*2010 o PT venceu*
Top retweeted tweet #2 *2014 o PT venceu*
*2018 o PT diz que vai consertar o país arrasado.
Se você ainda acredita nisso você tem o que merece. (12100 retweets – 35374 favorites) https://twitter.
com/BolsonaroSP/statuses/1044936131794665472
26/10/2018: -PSOL pediu à justiça para bloquear o whatsapp até as eleições neste domingo;
-PT pediu na justiça que a Record não exibisse entrevistas de @jairbolsonaro
Top retweeted tweet #3
QUEM SÃO OS DEMOCRATAS? (9514 retweets – 34534 favorites) https://twitter.com/BolsonaroSP/
statuses/1055852343189741569

Fonte: Elaboração dos autores pelo Twitter via Twitonomy.com (2018).

Quadro 9. Top Retweeted & Favorited Tweet no Twitter de Carlos Bolsonaro em 2017

09/11/2017: E AGORA STF? Esperamos que o princípio de isonomia em relação ao artigo 53 da Cons­
Top retweeted tweet #1 tituição Federal exista também para @jairbolsonaro : https://t.co/CqKT2K1lFT (1917 retweets – 4728
favorites) https://twitter.com/CarlosBolsonaro/statuses/928726816071745536
31/10/2017: Meu Deus! PT e PSOL contra projeto que possibilita vídeos educativos antidrogas! (1547
Top retweeted tweet #2
retweets – 4234 favorites) https://twitter.com/CarlosBolsonaro/statuses/925445687805923328
11/11/2017: ACORDEMOS ANTES QUE SEJA TARDE: Deputada do PT, uma das porta-vozes de
Lulla e da esquerda no Congresso Nacional, prega abertamente, que seus ideais são destruir os valores
Top retweeted tweet #3 fami­liares e propriedade privada para controlar um bando sem rumo dependente e orientado pelo
estado. https://t.co/J0cMc7frJ6 (1438 retweets – 2885 favorites) https://twitter.com/CarlosBolsonaro/
statuses/929479611414663168

Fonte: Elaboração dos autores pelo Twitter via Twitonomy.com (2018).

Os usos da Internet incentivam mas de participação e que ela pode mente do Brasil utiliza a rede social
formas originais e variadas de partici- variar. Neste caso, em especial nes- Twitter para expressar sua comunica-
pação. A realidade das práticas parti- ta pesquisa, há a diferenciação do ção política. E a questão que fica é:
cipativas digitais mostra, no entanto, ano de 2017 para o ano eleitoral de o clã Bolsonaro realmente defende a
um quadro muito diferente (Cardon, 2018, que altera os comportamentos democracia em seus discursos nesta
2016). Com a análise dos tweets do dos atores políticos. Todavia a maior rede social?
clã Bolsonaro podemos constatar que reflexão desta investigação é como a Os brasileiros estão entre os uti-
realmente há diferenciação nas for- principal família de políticos atual- lizadores de redes sociais e aplicati-

77
Quadro 10. Top Retweeted & Favorited Tweet no Twitter de Carlos Bolsonaro em 2018

29/09/2018: Infelizmente você não verá na TV essa e outras manifestações de mulheres no Brasil inteiro
Top retweeted tweet #1 neste final de semana em prol de Bolsonaro. Manaus-AM: https://t.co/0JyfKC8CBq (9665 retweets –
34012 favorites) https://twitter.com/CarlosBolsonaro/statuses/1046104246003933187
24/10/2018: Fiquem alertas para alguns que maldosamente estão dando essa eleição como garantida.
A intenção destes é fazer nosso lado relaxar. Peço que cada um de nós continue com esse trabalho
Top retweeted tweet #2
desmentindo as falácias e mentiras do PT e defendendo nossos valores até o último minuto. Vamos! (9297
retweets – 32340 favorites) https://twitter.com/CarlosBolsonaro/statuses/1055173043855724547
29/10/2018: Acordamos hoje e O Globo já inventou uns 10 ministros para Bolsonaro que ele
nunca nem ouviu falar e muito mais. Sabíamos que seria assim. É só o começo e que continuem as
Top retweeted tweet #3
fakenews! Vamos trabalhar! ?? (9022 retweets – 50711 favorites) https://twitter.com/CarlosBolsonaro/
statuses/1056881381937168384

Fonte: Elaboração dos autores pelo Twitter via Twitonomy.com (2018).

Quadro 11. Top Retweeted & Favorited Tweet no Twitter de Flavio Bolsonaro 2017

18/05/2017: Quem NÃO votou no Temer, da RT! https://t.co/wJWsjIIAzO (3314 retweets – 2499 favorites)
Top retweeted tweet #1 https://twitter.com/FlavioBolsonaro/statuses/864997120645898241
06/12/2017: É papel do professor simular um boquete no aluno para colocar a camisinha? https://t.co/
bXxvZGs0UP (3106 retweets – 7061 favorites) https://twitter.com/FlavioBolsonaro/statuses/9384022329
Top retweeted tweet #2 52852481
22/11/2017: “É bigA, é rola, no c*” Aniversário de criança com direito a beijo na boca entre meninos, bolo
de travesti e cantando os parabéns com a letra acima... Se você também se revoltou, una-se a nós na luta
contra a ideologia de gênero nas escolas. https://t.co/UoKCo63vjy (2391 retweets – 7142 favorites) https://
Top retweeted tweet #3 twitter.com/FlavioBolsonaro/statuses/933358506278875136

Fonte: Elaboração dos autores pelo Twitter via Twitonomy.com (2018).

vos de mensagens mais dedicados do 2018, foi bastante partidário, com o cial pelo número de utilizadores com
mundo, e as redes sociais têm se tor- domínio de Jair Bolsonaro nesta rede top retweeted e favorited tweets. Uma
nado uma plataforma essencial para a social. Os brasileiros utilizadores do pesquisa mais abrangente e com pos-
divulgação de notícias e informações Twitter compartilharam mais conteúdo síveis variações pode ser realizada por
políticas. Também em outros países, político profissional, porém, os parti- acompanhamento e coleta sobre o Fa-
o tipo de notícias e informações aos dários de Bolsonaro distribuíram vá- cebook e sobre o WhatsApp para de-
quais os eleitores estão expostos nas rios conteúdos produzidos por fontes bates posteriores ou para as próximas
redes sociais varia consideravelmen- reconhecidas de fake news. 17
eleições.
te, compreendendo desde conteúdo Esta pesquisa demonstra apenas
produzido por fontes profissionais de uma parte da comunicação política e
notícias ou conteúdo altamente polari- influência na rede social por parte do Considerações finais
zado e com apelo emocional (Machado clã Bolsonaro. O resultado mostra, por O objetivo nesta pesquisa foi
et al., 2018, p.1). meio de suas hashtags, que é possí- identificar como o clã Bolsonaro (Jair
De acordo com a pesquisa do The vel identificar suas crenças políticas Bolsonaro e seus filhos políticos) utili-
Computational Propaganda Project e também o engajamento na rede so- zaram o Twitter como instrumento de
(baseado no Oxford Internet Institute) comunicação política durante o pe-
(Caio Machado et al., 2018, p.6), o de- ríodo pré-eleitoral, de 2017, e eleito-
17 O s autores do Project on Computational
bate político no Brasil no Twitter, em Propaganda utilizam o termo junk news. ral, em 2018. Foi possível distinguir
Quadro 12. Top Retweeted & Favorited Tweet no Twitter de Flavio Bolsonaro 2018

18/10/2018: Se você também está aguardando deitado as agências de fact-checking declararem que a
matéria da Foice de São Paulo é Fake, dá RT com força! #MarketeirosDoJair (20286 retweets – 31738
Top retweeted tweet #1 favorites) https://twitter.com/FlavioBolsonaro/statuses/1053034519173980160
06/09/2018: Infelizmente foi mais grave que esperávamos. A perfuração atingiu parte do fígado, do pulmão
e da alça do intestino. Perdeu muito sangue, chegou no hospital com pressão de 10/3, quase morto... Seu
estado agora parece estabilizado. Orem, por favor! (15269 retweets – 61793 favorites) https://twitter.com/
Top retweeted tweet #2 FlavioBolsonaro/statuses/1037808900660256773
30/09/2018: Passeata a favor de Bolsonaro na 3ª ponte, que liga Vila Velha a Vitória, no Espírito Santo.
Dê RT, pois isso você não verá na Globo: https://t.co/zUMa73vHKm (12793 retweets – 33506 favorites)
Top retweeted tweet #3 https://twitter.com/FlavioBolsonaro/statuses/1046490497924177926

Fonte: Elaboração dos autores pelo Twitter via Twitonomy.com (2018).

na rede social Twitter dos Bolsonaros do público for pelo aspecto significa- sil: O Uso do Twitter na Busca por
um recorte específico de publica- tivo da desinformação podemos consi- Votos. Revista de Administração
ções no ano pré-eleitoral, de 2017, e derar uma influência da pós-verdade Contemporânea, 22(4), 466-486.
ano eleitoral, de 2018. A utilização sobre parte da opinião pública. Acedido em 13 de janeiro de 2020,
do Twitter foi reformulada de acordo Atualmente Jair Bolsonaro se mos- em < https://dx.doi.org/10.1590/
com suas mudanças de congressis- tra influente na rede social e seus fi- 1982-7849rac2018170269>.
tas/oposição ao governo vigente para lhos vem ganhando novos seguidores. Bentivegna, S. (2016). Entre a transmissão
o papel de aspirantes e candidatos a No Twitter, o número global de utiliza- e a interação com os eleitores: Lí-
presidente, senador e deputado fe- dores ativos, no final de 2018 e início deres políticos italianos no Twitter.
deral. Os tweets e hashtags tiveram de 2019, já está na casa de 320 mi- In R. F. Mendonça, M. A. Pereira, F.
significativas alterações de conteúdo lhões, enquanto no Facebook mais de Filgueiras, (org.). Democracia Digi-
quando o objetivo político no Congres- 2 biliões. Bolsonaro, com milhões de tal: Publicidade, instituições e con-
so era obter visibilidade por meio de seguidores, demonstra o potencial da fronto político, (pp. 155-182). Belo
suas críticas de campanha negativa ao rede social como uma poderosa ferra- Horizonte: Editora da UFMG.
governo, enquanto que nas eleições o menta política e que a propagação das Cardon, D. (2016). As mobilizações de
maior objetivo foi usar o Twitter para a estratégias políticas neste ambiente indivíduos na internet. In R. F.
construção de sua imagem para a con- pode ser muito mais eficaz (para obje- Mendonça, M. A. Pereira & F. Fil-
quista do voto eleitor. Mas um achado, tivos de Bolsonaro) do que a veicula- gueiras, (org.), Democracia Digital:
nesta pesquisa, mais importante do ção em mídias tradicionais como a TV, Publicidade, instituições e confronto
que identificar as hashtags polêmicas jornal e rádio. O problema maior é a político, (pp. 287-306). Belo Hori-
do clã Bolsonaro foram os resultados forma como o clã Bolsonaro está uti- zonte: Editora da UFMG.
dos top retweeted e favorited tweets, lizando a rede social com mensagens Cervi, E. U. (2018). Processos Comu-
que permitem identificarmos uma alta não construtivas e a influência negati- nicacionais nas Eleições. Revista
aceitação dos utilizadores do Twitter va sobre uma parte dos seus seguido- Uninter de Comunicação (RUC),
em relação às publicações contra a res e possivelmente futuros eleitores. Curitiba, v. 6, n. 11, p. 96-100. En-
esquerda ou sobre temáticas notavel- trevista concedida a Marcia Boros-
mente agressivas. Neste conceito da- ki. Acedido a 26 de dezembro de
mos importância à observação do con- REFERÊNCIAS 2020, em <https://www.uninter.com/
teúdo que os políticos compartilham, revistacomunicacao/index.php/
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2019. Acedido a 30 de janeiro de

81
O Brasil que o Jornal Bruno Araújo
Universidade Federal de Mato Grosso | CEIS20/UC.

Nacional quer: dinâmicas brrunoaraujo@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8288-2718

de agendamento Anne Soares Martins

do público no quadro Universidade Federal de Mato Grosso.

annesmartins@gmail.com

“O Brasil Que Eu Quero” ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4403-5163

Anny Gabrielly Martins


The Brazil that Jornal Nacional wants: Carvalho
dynamics of public agenda in the project Universidade Federal de Mato Grosso.

“The Brazil That I want” annygaby159@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9102-7417

Graduanda do curso de Comunicação Social/

Resumo Abstract Jornalismo da Universidade Federal de Mato

Partindo da teoria do agenda setting, que Based on the agenda setting theory, which Grosso. E-mail: annygaby159@gmail.com ORCID:

ajuda a entender o trabalho de seleção noti- helps to understand the work of news se- https://orcid.org/0000-0001-9102-7417

ciosa e de agendamento da opinião pública lection and public opinion scheduling by


pela mídia, o presente trabalho analisa a the media, this paper analyzes the relation- Layse Karolline
relação entre a seleção noticiosa do Jornal ship between the news selection of Jornal de Oliveira Ávila
Nacional, da TV Globo, e as dinâmicas de Nacional, TV Globo, and the scheduling Universidade Federal de Mato Grosso.

agendamento promovidas pelo quadro “O dynamics promoted by the project “The laysekaroll91@gmail.com

Brasil Que Eu Quero” durante as Eleições Brazil That I Want”. The aim of the project, ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8860-0956

de 2018 no Brasil. O objetivo do quadro, which was shown in all Globo news pro-
exibido em todos os telejornais da Globo grams during the 2018 election period, was Victor Amaral Arias
durante o ano de eleições, era dar voz às to give people a voice in order to understand Universidade Federal de Mato Grosso.

pessoas, no sentido de compreender em in which country the Brazilians would like vctraarias@gmail.com

que país os brasileiros gostariam de viver. to live. In this text, we intend to critically ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7620-1317

Neste texto, pretende-se desenvolver uma read the project, based on the hypothesis
leitura crítica do projeto, a partir da hipóte- that the videos shown had a very close rela- https://doi.org/10.14195/2183-6019_10_6

se de que os vídeos exibidos tiveram íntima tionship with the news selection of the day,
relação com a seleção noticiosa do dia, corresponding to an agenda of the newscast
correspondendo, assim, a uma agenda do about Brazil, instead of being a space for
telejornal sobre o Brasil, em vez de consti- the genuine projection of the public agenda.
tuir-se como espaço de projeção genuína da Empirically, the study developed a content
agenda do público. Empiricamente, o estu- analysis, based on the studies of Bardin
do desenvolveu uma análise de conteúdo, (2011), which allowed the creation of the-
baseada na proposta de Bardin (2011), que matic categories of organization of news and
permitiu a criação de categorias temáticas video contents, during a two-week period
de organização das notícias e do conteúdo during the electoral campaign.
dos vídeos, no intervalo de duas semanas
durante a campanha eleitoral. Keywords: Jornal Nacional; agenda set-
ting; “The Brazil That I Want”.
Palavras-chave: Jornal Nacional; agen-
damento; “O Brasil Que Eu Quero”.

83
Figura 1. Frame da vinheta
de encerramento do quadro
“O Brasil Que Eu Quero”.
Fonte: GloboPlay, 2018.

Notas introdutórias Com base nesse contexto, o pre- construção de categorias temáticas,
Em 2018, ano eleitoral no Brasil, sente artigo desenvolve uma leitura extraídas dos conteúdos que compõem
a TV Globo criou o projeto “O Brasil crítica do quadro “O Brasil Que Eu o corpus da pesquisa. Este é constituí-
Que Eu Quero” com o seguinte obje- Quero”, por meio da análise dos ví- do por um total de 84 vídeos, exibidos
tivo: “A Globo quer ouvir o desejo de deos veiculados no telejornal de maior entre os dias 17 e 29 de setembro de
cada um dos nossos 5.570 municípios. audiência da emissora, o Jornal Na- 2018, uma média de sete vídeos por
Basta gravar um vídeo com o celular cional (JN). Partindo da contribuição dia, à exceção dos domingos, quando
e enviar para “O Brasil Que Eu Que- da teoria do Agenda-Setting, uma das o telejornal não é exibido. A escolha
ro”, através do formulário colaborativo mais relevantes hipóteses de estudo do período de análise não foi aleató-
Você no G1” . Segundo os idealizado-
1
da função da mídia, realizamos uma ria: corresponde ao momento de exi-
res, a finalidade do projeto era tornar análise de conteúdo a partir de dados bição de sondagens de intenção de
públicas as reivindicações da popu- coletados nas edições do JN no inter- votos para a presidência da república,
lação brasileira, a fim de que essas valo de duas semanas. A finalidade realizadas pelo IBOPE2 e Datafolha3,
pudessem ser ouvidas por seus candi- da análise foi entender a existência entre os dias 16 e 29 de setembro de
datos, através de vídeos curtos, que fo- de uma eventual correlação entre os 2018, com divulgação nos dias 18, 24
ram exibidos em diferentes telejornais assuntos das notícias veiculadas no e 28 de setembro. As pesquisas foram
da emissora durante todo o ano, até o telejornal e os temas abordados na realizadas nas duas semanas após a
fim do processo eleitoral. Com isso, a exibição do quadro “O Brasil que eu nomeação de Fernando Haddad como
TV Globo estaria a permitir que os te- Quero”. Identificado o nosso problema candidato do Partido dos Trabalha-
lespectadores se tornassem porta-vo- de pesquisa, formulamos a hipótese de dores (PT) ao cargo de presidente da
zes de suas cidades e a contribuir para trabalho que deve guiar a análise: os república, já que o ex-presidente Luiz
a mobilização dos eleitores em torno vídeos exibidos parecem possuir ínti-
do exercício da cidadania numa das ma relação com a seleção noticiosa do 2  IBOPE Inteligência anteriormente conhecido
como Instituto Brasileiro de Opinião Pública
eleições mais polarizadas do país des- dia, transformando, assim, o quadro e Estatística, trata-se de uma empresa de
de o fim da ditadura militar que durou menos na expressão de uma vontade pesquisa de mercado da América Latina.
Disponível em: <http://www.ibopeinteligen-
até 1985. genuína da população e mais numa es- cia.com/>. Acesso em: 24 mar. 2019.
pécie de agenda temática do telejornal 3  Datafolha Instituto de Pesquisa foi criado
em 1983, ainda como departamento de
sobre o Brasil.
1  G1 – O Portal de Notícias da Globo. Dispo- pesquisas e informática do Grupo Folha da
nível em: <https://g1.globo.com/vc-no-g1/ Para isso, a Análise de Conteúdo Manhã, com o objetivo de oferecer conteúdo
noticia/que-brasil-voce-quer-para-o-futu- e servir como ferramenta de planejamento
(AC), inspirada nas contribuições de
ro-saiba-como-enviar-o-seu-video.ghtml>. para o jornal Folha de S. Paulo e outros
Acesso em: 05 abr. 2019. Laurence Bardin (2011), permitiu a veículos e serviços da empresa.
Figura 2. Frame do quadro
“O Brasil Que Eu Quero”
exibido dia 19 setembro de 2018
no Jornal Nacional.
Fonte: GloboPlay, 2018.

Inácio Lula da Silva fora impedido da corrupção no âmbito da chamada para o futuro?”. A Figura 3 mostra os
pela justiça de participar do pleito. Operação Lava Jato, transformaram as apresentadores Bonner e Vasconcellos
eleições num momento de tensão e da ensinando ao telespectador a maneira
expressão de sentimentos igualmente adequada de gravar o vídeo, na hori-
“O Brasil Que Eu Quero” tensos, sobretudo no espaço das redes zontal. Desde logo, vê-se nessa orien-
O projeto “O Brasil Que Eu Quero” sociais. É nesse contexto que surge o tação a necessidade de os telespecta-
foi uma criação da TV Globo por oca- quadro “O Brasil Que Eu Quero”, cuja dores adaptarem os conteúdos a uma
sião das eleições de 2018, iniciado em marca está reproduzida e exemplos es- forma adequada aos códigos materiais
março de 2018 e concluído em setem- tão na Figura 1 e Figura 2. do telejornal. Dessa maneira, os teles-
bro do mesmo ano, às vésperas da rea- O quadro foi exibido em todos os pectadores eram encorajados todos os
lização do primeiro turno das eleições telejornais da TV Globo. No JN, sua dias a enviar seus vídeos para, assim,
gerais para governadores e presidente primeira exibição ocorreu no dia 05 de comporem o quadro “O Brasil Que Eu
da república, além dos membros dos março de 2018, com a última exibição Quero”.
poderes legislativo estadual e federal. em 29 de setembro . De acordo com a
4
Importa adicionar algumas notas
Foi um dos pleitos mais polarizados emissora, o objetivo de “O Brasil que de caracterização da TV Globo, de
da história recente brasileira, que deu eu quero” era ouvir os anseios da po- forma a enquadrar histórica e teori-
vitória ao candidato do Partido Social pulação brasileira que se preparava camente a emissora da qual extraímos
Liberal (PSL), Jair Bolsonaro, contra para eleger um novo presidente da re- o nosso objeto de estudo. Inaugurada
o candidato do Partido dos Trabalha- pública. Para isso, os apresentadores em 26 de abril de 1965 na cidade do
dores (PT), Fernando Haddad. A cam- do JN, William Bonner e Renata Vas- Rio de Janeiro, a Globo tornou-se uma
panha eleitoral foi marcada por uma concelos, pediam, a cada nova edição, referência de entretenimento e infor-
forte polarização e contou com cenas que os telespectadores enviassem ví- mação no Brasil. Em 1º de setembro
que acirraram esse estado de coisas, deos autorais, de até 15 segundos, gra- de 1969, estreou o primeiro telejornal
como o episódio da facada no candi- vados no celular, em algum espaço pú- transmitido em rede nacional do Bra-
dato Bolsonaro, na cidade mineira de blico de suas cidades, com o relato de sil, o Jornal Nacional. O surgimento da
Juiz de Fora, além do fato de o ex-pre- suas preocupações, respondendo à se- emissora ocorre em meio a um contex-
sidente Lula da Silva lançar-se ini- guinte pergunta: “Que país você quer to de regime militar, período em que a
cialmente como candidato, para, de- televisão no Brasil tem enorme cres-
pois, ser impedido pela Justiça. Todos 4  Não consideramos as matérias especiais do cimento, justamente pelo alargamento
quadro. Disponível em: <http://g1.globo.
esses episódios, aos quais se juntaram do espaço de influência do Grupo Glo-
com/jornal-nacional/edicoes/2018/03/05.
as influências da forte midiatização html>. Acesso em: 24 mar. 2019. bo. Atualmente, o JN obtém a maior

85
Figura 3. William Bonner e Renata
Vasconcellos explicam, dos bastidores, como
os telespectadores devem captar os vídeos.
Fonte: Jornal Nacional, 2018.

audiência entre os telejornais brasilei- na proposta de um telejornal. Esse se podendo ser alterado de acordo com a
ros, exibido, todas as noites, em horá- apresenta como um organizador do flu- programação esportiva e/ou especiais.
rio nobre, para mais de 30 milhões de xo caótico de notícias, prometendo dar Após sua exibição o vídeo fica dispo-
pessoas. De acordo com Gomes (2005, sentido aos fatos. A autora salienta, nível, na íntegra, no site da emissora
p. 8), “o principal pacto estabelecido ainda, o papel do telejornal na alimen- e na plataforma de streaming Globo-
com a audiência é em relação ao re- tação da ‘conversação social’: “Um Play6. Atualmente, o JN precisa convi-
corte dos fatos mais ‘importantes’ do pouco de política, de economia, espor- ver com a existência das redes sociais
cotidiano do país (o país privilegiado tes, internacional, apenas o essencial na Internet, que, muitas vezes, ser-
pelo noticiário)”. Logo, é estabelecido de cada uma das editorias é suficiente vem de arena de crítica dos próprios
um contrato fiduciário entre JN e sua
5
para repor o estoque de informação conteúdos exibidos. Apesar disso, o
audiência, baseado na crença de que para a conversa do próximo dia” (Go- telejornal é o principal produto jor-
o recorte feito pelo noticiário traz os mes, 2005, p. 8). De seus 49 anos de nalístico do Grupo Globo, o principal
fatos mais importantes e de maior rele- existência, muitas foram as edições e conglomerado de mídia da América
vância. Esse contrato era todos os dias quadros influentes nas tomadas de de- Latina e um dos maiores do planeta,
reafirmado pelos apresentadores do te- cisões da sociedade brasileira. Ficou mantendo, assim, forte influência nos
lejornal ao afirmarem o desejo de que famosa a ocasião em que o JN exibiu rumos do debate público no país.
o JN gostaria de dar espaço para que uma edição do debate presidencial
fossem os próprios brasileiros a apre- entre Lula e Fernando Collor, nas elei-
sentar seus anseios e os desejos para ções de 1990. Vários autores conside- Do Gatekeeper à definição
a construção do país naquele período ram que a TV Globo procedeu a uma da Agenda
eleitoral. manipulação do vídeo, dando vanta- Hodiernamente, com a conver-
Outro fator presente no contrato gem ao candidato Collor, que acabou gência das mídias (Jenkins, 2009), a
entre o JN e sua audiência é o papel de ganhando a eleição (Lima, 2001). proliferação de meios tecnológicos al-
organizador do mundo, que, de acordo Nesse sentido, o quadro “O Brasil que terou as rotinas de produção do jorna-
com Gomes (2005, p. 8), está presente eu Quero” aparece como um projeto lismo no Brasil e no mundo. Num te-
importante que teve impacto no país lejornal como o Jornal Nacional, essa
5 No âmbito da teoria do jornalismo, Guerra durante o ano eleitoral. alteração nota-se, por exemplo, em
(1998, como citado em Mendes, 2006, p. 18)
O JN é veiculado na TV aberta e elementos semióticos que podem ser
pontua que é sobre o contrato fiduciário que
se baseia o jornalismo, ou seja, jornalistas vai para o ar de segunda a sábado, ge-
e público mantém uma confiança mútua de
ralmente, a partir das 20h30min até
que a notícia se trata de realidade e não 6  Plataforma de streaming GloboPlay: https://
de ficção. às 21h15min, no horário de Brasília, globoplay.globo.com/jornal-nacional/p/819/
observados no discurso dos apresen- William Bonner (Ver Figura 2) parece diversos estados do país. Assim, os
tadores, na construção de reportagens convidar a audiência para integrar o telejornais locais, sobretudo aqueles
com uma linguagem mais apelativa ou processo produtivo do telejornal: “Nós exibidos à hora do almoço, produzem
na reconfiguração do espaço do tele- recebemos milhares de vídeos e nesta quadros e reportagens voltadas ao
jornal, onde os apresentadores podem segunda-feira, 05 de março, para es- acompanhamento de queixas de mora-
caminhar. Por outro lado, há outros trear no projeto ‘O Brasil Que Eu Que- dores dos diferentes bairros da cidade.
elementos relacionados com a prática ro’, o Jornal Nacional escolheu estes”, Nesse contexto, os telespectadores são
do telejornal que parecem alinhadas a anuncia o apresentador e editor-chefe chamados a enviar suas reclamações
certos valores, próprios de um ambien- do telejornal, antes de exibir o quadro. por meio de vídeos que retratem os
te em que as audiências estão cada vez Nesse contexto, o jornal para querer problema em seus bairros. Apesar de
mais interessadas em participar dos aproximar-se de uma conexão com o os telespectadores se sentirem parte
processos produtivos, exercendo pro- público que remete a certos aspectos da produção televisiva, o certo é que
tagonismo jamais pensado por meio do que a literatura especializada en- eles apenas enviam os materiais que
das redes sociais na Internet. Assim, tende por “jornalismo cidadão”. O ter- entendem importantes, cabendo ao
algumas etapas do processo noticio- mo foi utilizado, pela primeira vez, nos jornalista-produtor a seleção definitiva
so continuam vigentes, mas sofreram Estados Unidos, em 1988, pelo editor do que interessa aos valores noticiosos
alterações em função das novas confi- Davis Merritt, do jornal “The Wichita e às rotinas produtivas do telejornal.
gurações em torno do papel dos produ- Eagle”, ao tornar pública a sua preo- Essa participação diminuta do público
tores da informação e dos seus recep- cupação com o modelo de cobertura no processo produtivo compromete a
tores. Estes tornaram-se audiências política da imprensa norte-americana realização de um jornalismo cidadão
ativas, que não apenas recebem como e propor uma discussão mais minucio- pleno, que deveria envolver a mobi-
participam no processo de construção sa sobre o tema, envolvendo a coleti- lização genuína do público. (Vieira,
informativa. Na nossa perspectiva, foi vidade. (Fernandes, 2008, p. 25). No 2019). Assim, apesar do apelo à parti-
o que aconteceu no caso da seleção e Brasil, na segunda metade dos anos cipação dos telespectadores, William
do agendamento das notícias no qua- 1990, surgiram algumas iniciativas Bonner acrescenta que o telejornal
dro “O Brasil Que Eu Quero”, da TV por meio de jornais populares, com selecionou7 alguns dos vídeos, eviden-
Globo. Ao solicitar aos espectadores linguagem mais acessível e imagens.
7  Consulta ao arquivo da emissora à exibi-
do JN que enviassem seus vídeos, Desde então, a TV Globo tem investi-
ção do telejornal JN na íntegra (33’05’’)
numa postura que quebra o padrão do em modelos próximos do chamado que foi para o ar no dia 05 de março de
2018. Disponível em: <https://globoplay.
sisudo estabelecido pelo principal jornalismo cidadão ou de proximidade
globo.com/v/6553992/programa/?s=36s>.
telejornal do país durante décadas, junto de suas emissoras afiliadas, nos Acesso em: 29 mar. 2019.

87
ciando o papel histórico do jornalismo ção noticiosa. White, que partiu de um tribuição de White neste trabalho é no
na seleção do que entra ou não no flu- estudo de Kurt Lewin (1947) diz-nos a sentido de entendermos o JN como um
xo informativo. Para entendermos me- propósito: Mr. Gate do quadro “O Brasil Que Eu
lhor essa discussão, vamos apresentar Quero”, entendendo que o trabalho de
as linhas gerais dos constructos teó- [o selecionador] desempenha um seleção dos vídeos acontece em fun-
ricos que devem permitir uma leitura papel muito importante como gate ção de alguns elementos das rotinas de
empírica do quadro em análise, antes no complexo processo da comuni- produção do telejornal, como a agenda
da apresentação dos dados relativos cação. Através do estudo das ra- do dia. Neste aspecto, o nosso traba-
à sua tematização. Trata-se da teoria zões apresentadas para rejeição de lho dialoga, também, com as teorias do
do Gatekeeper, que permite discutir notícias das agências noticiosas, newsmaking, as quais se relacionam
a seleção dos conteúdos, e da Teoria podemos verificar como a comu- com todo o processo de produção da
do Agendamento, para entendermos nicação das notícias é subjetiva, informação8.
as implicações da seleção dos temas como tem por base o conjunto de Por outro lado, a construção do
dos vídeos sobre a esfera pública. experiências, atitudes e expecta- argumento presente na hipótese de
Neste trabalho, é também objetivo tivas do Gatekeeper. (White, 1999 trabalho que guia esta análise, ba-
nosso contribuir para uma atualização (1950), p. 152) seia-se na hipótese do agenda-setting,
desses modelos a partir do contexto de outra importante teoria para entender
uma sociedade convergente (Jenkins, Desse modo, White (1999), atri- o jornalismo. Formulada pelos nor-
2009) e de um jornalismo digital (Ca- buiu aos jornalistas a função de “por- te-americanos Maxwell McCombs e
navilhas, 2017), bastante distinto das teiros” ou “vigias” das notícias, sendo
características do momento em que eles os responsáveis por selecionar 8  Para Martino (2014, p.37), os estudos news-
tais teorias foram formuladas. o que seria mais importante ou inte- making buscam identificar como os meios
de comunicação retratam os eventos reais
A Teoria do Gatekeeper foi for- ressante noticiar ao público. Além de acordo com suas próprias práticas, có-
mulada em 1950 pelo americano Da- de critérios subjetivos, Mr. Gates era digos e modelos. A maneira como esta é
relatada lhe dá um determinado sentido e
vid Manning White. Ele observou as influenciado por sua experiência no fornece ao telespectador algumas direções
razões que levariam o editor de um mundo do jornal. Ficou estabeleci- de como a mensagem deve ser entendida.
Tuchman (1978) aponta como as exigências
jornal – que ele apelidou de Mr. Gate da aí a gênese do que viriam a ser os da organização do trabalho e os processos
de produção influenciam na construção da
– e selecionar uns e a recusar outros valores-notícia, ou seja, um conjunto
notícia. Dentre elas, a rotina do meio onde
temas que chegavam à redação por de valores que um determinado acon- o profissional está inserido, pessoal, ideo-
lógica, cultural, entre outras, determinando
meio de agências de notícias. “Gate” tecimento possui e que o predispõe a
assim o que deverá ser noticiado, de acordo
era uma referência à função de sele- tornar-se notícia. Desse modo, a con- com os critérios de noticiabilidade.
Donald Shaw, em 1972, no célebre importância das atitudes em re- como devemos pensar a respeito de uma
artigo publicado na Public Opinion lação às questões políticas. (Mc- dada realidade. E fá-lo por meio dos
Quarterly, para o estudo de um qua- Combs & Shaw, 1972, p.176) sentidos que constrói na cobertura dos
dro jornalístico surgido vários anos acontecimentos e partilha com o seu
após essa formulação, deixa clara a Essa formulação tem influencia- público. Amplia-se, pois, o substrato
vitalidade do pensamento dos au- do os estudos da mídia até os dias de construtivista da hipótese, levando os
tores, ainda que haja particularida- hoje, abrindo espaço para novos mo- estudos a conferirem uma importância
des que vamos procurar esclarecer. dos de compreender empiricamente o ainda maior ao trabalho de construção
Naquele estudo de inícios dos anos papel dos meios de comunicação na do real pelos meios de comunicação.
1970, McCombs e Shaw sustentaram composição da opinião pública. No É no âmbito dessa ampliação da hi-
que a influência dos meios de comu- âmbito da política, sobretudo, diferen- pótese do agendamento que surgem
nicação sobre a sociedade estaria na tes autores têm recorrido à hipótese as diferentes pesquisas em torno de
existência de uma correspondência do agendamento para mostrar como os framing midiático. Um autor como
entre aquilo que ganhava visibilidade fluxos e contra-fluxos da agenda da mí- Robert Entman (1993), por exemplo,
na mídia e os tópicos que constituam dia interfer no modo como a realidade proporá uma série de categorias para
conversa do público no seu dia a dia. social se constrói no espaço mediático, a análise de como os meios de comu-
Por meio de vários estudos empíricos acabando por influenciar o modo como nicação orientam os termos do debate
de uma campanha eleitoral, os autores nos relacionamos com o universo polí- público, ao proporem os problemas, as
argumentaram que a agenda da mídia tico (Araújo, 2018; Fernandes, 2015; causas, as soluções e diversos julga-
não apenas influencia como constrói a McCombs, 2008). Por outro lado, ao mentos morais sobre os fatos da vida
agenda do público e a agenda política. lado do newsmaking, o agendamento política.
Desse modo, a mídia nos diria o que tem influenciado o estudo de diferen- Mais recentemente, o aparecimen-
falar no nosso dia a dia a propósito da tes coberturas jornalísticas, que pro- to das redes sociais na internet e a re-
vida social e política: curam entender como determinados configuração do polo da emissão (Le-
temas são agendados pela mídia. Vinte mos, 2003), no âmbito de uma cultura
Embora a mídia de massa possa anos depois, em artigo publicado em da convergência a que já fizemos refe-
ter pouca influência sobre a dire- 1993, os mesmos McCombs e Shaw rência, alguns autores têm partido da
ção ou a intensidade das atitudes, avançaram na sua hipótese inicial, hipótese do agendamento, para pensar
supõe-se que a mídia de massa es- propondo, agora, um segundo nível de dinâmicas de contra-agendamento dos
tabeleça a agenda de cada cam- agendamento, segundo o qual a mídia meios de comunicação. Estas se ex-
panha política, influenciando a não apenas nos diz o que pensar, mas pressam tanto na vulnerabilidade da

89
Tabela 1.  Categorias temáticas das notícias veiculadas no Jornal Nacional

Temas Descrição
Ciência e Tecnologia Notícias/Reportagens relacionadas à coleta de lixo espacial, equipamentos para analisar compor-
tamento de baleias jubarte, à tecnologia para se produzir flores independente da estação, estudos
que visam a substituição de animais utilizados em testes na produção de cosméticos, tecnologia
para recriar parte do acervo do Museu Nacional.
Cultura Notícias/Reportagens relacionadas aos movimentos culturais e reivindicação por maior investi-
mento em políticas públicas para a cultura e maior facilidade ao acesso da população.
Economia Notícias/Reportagens relacionadas à economia do Brasil e do mundo, inflação, taxas sobre os pro-
dutos entre os EUA e a China, cotação do dólar, aumento da criação de vagas com trabalhadores
com carteira assinada, crescimento no arrecadamento do imposto.
Educação Notícias/Reportagens relacionadas a oportunidades aos jovens, escolas integrais, qualidade na
educação, criação de políticas públicas para o setor, inclusão aos jovens trabalhadores.
Esporte Notícias/Reportagens relacionadas ao futebol nacional e internacional, seleção brasileira de vôlei
masculino, eleição da Hortênsia como a melhor jogadora da história dos mundiais de basquete.

Ética Notícias/Reportagens relacionadas a ações antiéticas, como corrupção e preconceito.


Infraestrutura Notícias/Reportagens relacionadas à falta de estrutura nas estradas e escolas, obras inacabadas,
inundação devido a medidas tomadas para conter a contaminação de rejeitos no Rio Doce.

Meio Ambiente Notícias/Reportagens relacionadas aos desastres naturais, lixo e reciclagem, hábitos das baleias,
conservação ambiental, resgate de animal silvestre e reaproveitamento de água.
Saúde Notícias/Reportagens relacionadas ao saneamento básico, saúde indígena e melhoria na qualidade
de vida de trabalhadores.
Segurança Pública Notícias/Reportagens relacionadas à falta de segurança nas ruas, feminicídio, intolerância religio-
sa, ataques cibernéticos e penitenciárias.
Política Internacional Notícias/Reportagens relacionadas a políticas internacionais como reuniões da ONU (Organiza-
ções das Nações Unidas), ações econômicas dos Estados Unidos e movimentação armamentista
da Coreia do Norte.
Outros Notícias/Reportagens relacionadas ao período eleitoral, tais como treinamento de mesários, deslo-
camento de urnas e saúde de Bolsonaro por conta do tratamento após a facada.

Fonte: Elaboração dos autores.

agenda midiática pelos temas que sur- televisão, ainda exerce um forte poder no campo midiático, em especial pela
gem nas redes sociais, como também influenciador da agenda do público, midiatização da chamada Operação
no trabalho de ressignificação, por ou seja, do elenco de temas que pen- Lava-Jato (Araújo, 2018).
parte das audiências, de conteúdos samos escolher livremente para deba-
surgidos no espaço da mídia tradicio- ter. Dessa maneira, não é aleatório que
nal. O próprio quadro “O Brasil que eu muitos telespectadores demonstrem Análise: Dinâmicas de
quero” fora alvo de releituras no espa- preocupação com a ética na política agendamento do público no
ço das redes sociais, com críticas que como a principal questão brasileira. quadro “O Brasil Que Eu
surgiram da parte dos telespectado- Isso ocorre, mesmo no espaço das Quero”
res. De todo modo, sustentamos que, redes sociais, por uma influência da Inspirados pelas formulações de
apesar da forte presença das redes visibilidade que a corrupção política McCombs e Shaw, partiremos para o
sociais, o jornalismo, em particular na adquiriu nos últimos anos justamente escrutínio do corpus analítico, cons-
Tabela 2.  Categorias temáticas dos assuntos abordados no quadro “O Brasil Que Eu Quero”

Temas Descrição

Direitos/ Prestação de Serviços Vídeos relacionados ao incentivo à cultura, mais investimentos e qualidade na educação,
saúde e segurança pública.
Infraestrutura/ Obras Vídeos relacionados aos pedidos de melhoria à infraestrutura das rodovias, hospitais e escolas
do país.
Economia/ Geração de Empregos Vídeos relacionados ao investimento do governo à melhoria da economia do país, à abertura de
programas de inserção de jovens ao mercado de trabalho e diminuição dos impostos.
Ética na Política /Voto Consciente Vídeos relacionados à corrupção, ao clamor dos brasileiros por políticos mais honestos, elei-
tores conscientes e diminuição dos privilégios nos três poderes: executivo, legislativo e judi-
ciário.
Outros Neste item, foram incorporados assuntos diversos que não se enquadram nas categorias acima,
como vídeos relacionados à agricultura familiar, agronegócio, à conservação do meio ambiente
e patriotismo.

Fonte: Elaboração dos autores.

tituído por 84 vídeos extraídos da utilizada como um procedimento que Ambiente (12%), Segurança Pública
exibição do quadro “O Brasil que eu permite sistematizar grandes volumes (10%), Cultura (6%), Economia (6%)
Quero”, no Jornal Nacional, de 17 a de informação. e Outros (5%), Ciência e Tecnologia
29 de setembro de 2018. Vamos pro- A Tabela 2 apresenta as categorias (3%), Saúde (3%), Educação (2%) e
curar perceber em que medida houve temáticas que foram elaboradas para Infraestrutura (2%). Uma questão im-
uma correlação entre os assuntos no- organizar os 84 vídeos analisados do portante nesta pesquisa é que conta-
ticiosos do telejornal e os vídeos sele- quadro “O Brasil que eu quero”. Essas bilizamos a frequência de tratamento
cionados para compor o quadro. O es- categorias expressam os principais te- dos temas, ou seja, identificamos a
tudo identifica o temário das notícias mas do quadro durante o período ana- quantidade de vezes em que os temas
e reportagens veiculadas no telejornal lisado. Esses temas funcionam como apareceram no telejornal, e não o tem-
e dos vídeos selecionados para ir para “guarda-chuva” para os demais temas po de exibição de cada um. Isso ajuda
o ar. Apesar de o telejornal afirmar comentados nos vídeos. a entender a razão pela qual a cate-
que apenas mostraria a agenda do Se a Tabela 1 sistematiza os temas goria “Esporte” aparece em segundo
público por meio das manifestações das notícias veiculadas nas edições do lugar. Na análise que empreendemos
dos telespectadores, nossa hipótese é Jornal Nacional de onde extraímos os observamos uma maior frequência do
de que a seleção empreendida mani- vídeos analisados, a Tabela 2 catego- tema em relação a outros, porque o
festa, em realidade, a própria agenda riza os principais temas dos vídeos do último bloco do telejornal era, quase
midiática do Jornal Nacional sobre o quadro “O Brasil que eu Quero” no sempre, destinado ao tratamento da-
Brasil. Para a realização da análise, intervalo analisado. Importa agora ob- quele tema, em matérias geralmente
construímos categorias temáticas que servar a visibilidade conferida a cada mais curtas que aquelas dos demais
ajudam a perceber a seleção noticiosa uma dessas categorias. A partir das temas. Assim, notou-se uma fragmen-
do telejornal e os temas do quadro nas Tabelas 1 e 2, foram produzidos dois tação maior do tema “Esporte”, o que
duas semanas analisadas. A Tabela gráficos que demonstram a frequência não significa que, em termos de tempo
1 apresenta as categorias temáticas dos temas abordados no noticiário e de exibição, ele tenha tido maior visi-
devidamente descritas, construídas no quadro. Como se observa no Gráfi- bilidade que outros temas.
a partir de uma exploração prévia do co 1, os temas mais tratados no JN nos Importa fazer algumas ilações acer-
material e da realização de pré-tes- dias analisados, por ordem decrescen- ca da forte presença do tema “Ética”
tes, conforme Bardin (2011). Vale sa- te, são: Ética (20%), Esporte (16%), na seleção noticiosa do Jornal Nacio-
lientar a pertinência da metodologia Política Internacional (15%), Meio nal durante o período analisado. Para

91
Gráfico 1. Frequência dos temas no JN no
período entre 17 e 29 de setembro de 2018

compreender esse resultado, é neces- dos vídeos. Na sequência, surgem as social-democrata, que teve peso no
sário considerar o contexto vivencia- categorias Outros (18%), Infraestrutu- país durante os últimos anos, por uma
do pelo país, que estava em meio a ra/Obras (11%) e Economia/Geração perspectiva liberalizante na economia.
uma eleição fortemente polarizada e de Empregos (6%). No que respeita ao Neste aspecto, aliás, poderíamos iden-
na qual o tema da corrupção política tema “Direito/Prestação de Serviços”, tificar um alinhamento entre a seleção
serviu de estratégia de comunicação pode-se inferir que a população esta- noticiosa do telejornal e a agenda do
para a desconstrução de candidatos à ria mais preocupada com a necessida- público projetada no quadro, mas não
esquerda e à direita. Além disso, o pe- de de o Estado fornecer maiores direi- uma influência direta entre a agenda
ríodo também foi marcado por desdo- tos e serviços às pessoas. Neste tema, noticiosa e a agenda política de quem
bramentos de investigações no âmbito entram questões como saneamento ganhou as eleições. De todo modo, a
da Operação Lava-Jato cuja cobertura básico, educação, saúde e segurança campanha do candidato Bolsonaro ex-
garantiu uma forte midiatização do pública. Se somarmos as categorias plorou bastante o tema da corrupção
tema da corrupção, com influências relacionadas com essas questões na na política, construindo uma comu-
diretas nos rumos do debate público. seleção noticiosa do JN, apresentada nicação muito centrada no sentimen-
Estabelece-se, assim, uma agenda no- anteriormente, veremos que existe to antipetista que marcou as últimas
ticiosa centrada em questões que ape- uma sintonia entre a agenda midiática eleições no país.
lam a uma moralidade aparentemente do telejornal, que mostrou, em diver- Focando a atenção, então, na ca-
perdida na política, como demonstram sas reportagens, problemas estruturais tegoria “Ética na Política/Voto Cons-
trabalhos que analisam a construção nessas áreas, e os anseios veiculados ciente”, esta é composta, basicamente,
discursiva da política na cobertura de nos vídeos de “O Brasil que eu quero”. por vídeos de apelo à ética no setor pú-
escândalos (Araújo, 2018). Por outro lado, alargando o esco- blico. De fato, uma análise qualitativa
No Gráfico 2, expõe-se o agenda- po de análise deste estudo, poder-se- desses vídeos demonstra que a maior
mento dos temas no quadro “O Brasil -ia apontar o que consideramos um parte deles se refere ao imperativo de
Que Eu Quero”, o que seria, na pers- aparente paradoxo entre o anseio da haver menos corrupção na política.
pectiva do telejornal Jornal Nacional a população por mais direitos e presta- Desse modo, observamos uma maior
expressão da agenda do público. Como ção de serviços da parte do Estado e a predominância desses vídeos nos dias
se nota, o tema “Direito/Prestação de eleição do candidato do Partido Social em que a cobertura noticiosa referia-
Serviços” aparece em primeiro lugar, Liberal, Jair Bolsonaro, cujo programa -se a temas como a Operação Lava
em 40% dos vídeos exibidos durante para a economia previa, justamente, Jato, incluindo investigações, prisões
o período analisado, seguido por Ética a diminuição do tamanho da estru- e declarações de procuradores. Su-
na Política/Voto Consciente, em 25% tura estatal, substituindo um modelo pomos que essa constatação, somada
Gráfico 2. Frequência dos temas no quadro
O Brasil Que Eu Quero no período entre 17
e 29 de setembro de 2018

ao fato de que, no período analisado, tema mais recorrente. Esses resulta- colocação, com 15%10. Ainda assim,
Fernando Haddad se consolidou como dos mostram que, de fato, no período a centralidade do tema Ética existe e
candidato à presidência pelo PT, te- estudado, o tema Ética foi o mais vi- não compromete o essencial do nosso
nha sido o motivo de o tema Ética na sibilizado, aparecendo, em algumas argumento.
Política/Voto Consciente ter sido o edições, em várias reportagens. Esses Compreendemos que houve uma
segundo mais frequente, nas reivindi- dados estão em sintonia com o nosso correlação das notícias que constituí-
cações dos telespectadores no quadro argumento, de que o agendamento do ram a edição do JN com o quadro “O
“O Brasil Que Eu Quero”, além de JN teve influência direta na agenda do Brasil Que Eu Quero”. Assim, ocorreu
“corrupção” ter sido a expressão mais público, com uma relação clara com a construção de uma tematização dos
utilizada neste tema. Por outro lado, a seleção noticiosa do dia e os temas principais assuntos que “incomodam”
esses resultados vêm confirmar dados selecionados para a veiculação em “O a agenda pública brasileira, por meio
que mostram um declínio no índice de Brasil que eu Quero”. Trata-se, pois, de uma seleção dos vídeos que seriam
desconfiança dos brasileiros nas insti- de uma proposta de país alimentada exibidos, em alinhamento com as notí-
tuições políticas. De acordo com o Ín- pelo público, mas filtrada, cortada, cias do dia no programa.
dice de Confiança na Justiça brasileira selecionada, agendada pelo Jornal Na-
(ICJBrasil) , a população confia menos
9
cional. Neste caso, os procedimentos
no Congresso Nacional do que na Igre- de seleção e de agendamento da opi- Considerações finais
ja, nas Forças Armadas e na própria nião pública continuam vigentes, ain- Por meio do slogan do projeto, ci-
imprensa. da que mascarados pela ilusão de que, tado no presente estudo, a TV Globo
Como se viu, na seleção noticiosa afinal, “somos livres para dizer aos prometeu ouvir os anseios da popula-
do JN (Gráfico 1), Ética (20%) ficou políticos, por meio do Jornal Nacio- ção durante o ano eleitoral de 2018.
em primeiro lugar sendo, assim, o nal, que país queremos para o futuro”. O quadro “O Brasil Que Eu Quero”
Esta pesquisa limitou-se a uma análi- seria, assim, um espaço de exercício
se de duas semanas. A emissora, toda- pleno da cidadania, com os brasileiros
9 ICJBrasil é um levantamento de natureza
qualitativa, realizado em sete estados via, apresentou os dados analisados de a exporem os seus anseios. No senti-
brasileiros e no Distrito Federal, com base todos os vídeos submetidos para o pro- do de compreender o fluxo de seleção
em amostra representativa da população.
O seu objetivo é acompanhar de forma jeto “O Brasil Que Eu Quero”. Mos-
sistemática o sentimento da população em
trou-se que, dos mais de 50 mil vídeos
relação ao Judiciário brasileiro. A pesquisa 10 Consulta ao arquivo da emissora do pro-
citada foi divulgada no dia 28 de de outubro enviados, Educação apareceu como o grama Fantástico que foi ao ar no dia 30 de
de 2016. Disponível em: <http://biblioteca- setembro de 2018. Disponível em: <https://
tema mais reivindicado com 15,5%,
digital.fgv.br/dspace/handle/10438/17204>. globoplay.globo.com/v/7054932/>. Acesso
Acesso em: 05 abr. 2019. enquanto Ética apareceu na segunda em: 02 abr. 2019.

93
noticiosa e o agendamento dos vídeos partir da teoria do agenda-setting, vinculados à seleção e aos processos
que foram exibidos durante um pe- como fizemos, permite entender que a de enquadramentos construídos no es-
ríodo da campanha eleitoral, este tra- opinião pública retratada no JN resul- paço da arena midiática. Apesar das
balho partiu do pressuposto de que o ta menos de uma expressão genuína e alterações nos fluxos de agendamento
Jornal Nacional funcionou como ins- naturalizada dos anseios da população e do surgimento de novas formas de
tância de agendamento dos conteúdos do que de uma construção oriunda dos mediação, como se viu no processo
que chegavam dos diversos cantos do sentidos previamente construídos na eleitoral brasileiro em 2018 – questão
país. esfera midiática, em particular aque- para ser discutida em outro momento
Com isso, o JN apresentou vídeos, les inscritos nos processos quotidianos – acreditamos que os meios de comu-
em “O Brasil que eu Quero”, alinha- de midiatização da corrupção política. nicação seguem como uma poderosa
dos com a cobertura noticiosa do dia, Em suma, é pertinente pensar na força de agendamento da opinião pú-
com destaque para os vídeos que abor- vitalidade da hipótese do agendamen- blica e dos temas em torno dos quais o
davam o tema “Ética na política”, exi- to desde a sua criação, na década de debate público ocorre.
bidos, quase sempre, antes e depois de 1970 e de sua releitura em 1993, até
notícias sobre corrupção. Dessa ma- os dias atuais. Quase meio século de-
neira, nosso argumento, demonstrado pois, a hipótese continua a servir como REFERÊNCIAS
empiricamente, foi de que o quadro poderoso constructo teórico para tra-
apresentou, na verdade, o Brasil que balhos empíricos que procuram com- Araújo, B. B. de. (2018). A Mediatização
o Jornal Nacional quer, no sentido de preender as relações de mútua afeta- da Corrupção Política na Cobertura
que houve um alinhamento dos con- ção simbólica entre as agendas dos do Escândalo do Mensalão: Estudos
teúdos dos vídeos ao fluxo informacio- meios de comunicação, a da política e do Discurso de Imprensa (Tese de
nal do telejornal. Por outro lado, em a do público, ainda que, como procu- Doutorado). Faculdade de Comu-
um momento eleitoral, marcado pela ramos demonstrar, a agenda midiática nicação, Universidade de Brasília,
forte cobertura do tema da corrupção, continue a funcionar como ordenadora Brasília, DF, Brasil.
por meio da chamada Operação Lava semântica do real com grande força. Bardin, L. (2011). Análise de Conteúdo.
Jato, não é aleatório que a maior parte Compreende-se que o surgimento das São Paulo: Edições 70.
dos vídeos exibidos, no intervalo tem- redes sociais na internet instaure ou- Canavilhas, J., Baccin, A. & Satuf, I.
poral desta pesquisa, retratam preocu- tras possibilidades de contra-agenda- (2017). Era pós-PC: a nova tessitura
pação com a decência na vida pública. mento, mas não se pode desconsiderar da narrativa jornalística na web. In
Em suma, uma leitura crítica do que, mesmo no espaço das redes, os A. T. Peixinho & B. Araújo (orgs.),
quadro “O Brasil Eu Que Quero”, a temas discutidos ainda estão e muito Narrativa e Media: Géneros, Figuras
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sa à audiovisual. O agendamento 4421_n.jpg?_nc_cat=111&_nc_eu concedida a Pedro Paulo Procópio
intermediático do escândalo da Pe- i2=AeEBI9PA5AMN1F7IsJb4v Vx e Mônica dos Santos Melo. Inter-
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seletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/
graduacao/article/view/18298, em
Janeiro de 2020
Vieira, C. O. (2019). O Jornalismo Vomu-
nitário da TV Centro América:  Um
estudo de caso do telejornal MTTV
1ª Edição. Tese de doutoramento
defendida no Curso de Comunica-
ção Social/Jornalismo, Universida-
de Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
A informação no Gil Baptista Ferreira
Instituto Politécnico de Coimbra – Escola Superior de

Facebook e a satisfação Educação | LabCom-IFP

gbatista@esec.pt

com a democracia ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5917-1248

– Um estudo com Susana Borges


Instituto Politécnico de Coimbra – Escola Superior de

estudantes portugueses Educação | CEIS20

suborges@esec.pt

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4242-208X

Information on Facebook and satisfaction with


democracy – A study involving Portuguese students https://doi.org/10.14195/2183-6019_10_7

Resumo a existência de um pseudo-ambiente de phenomenon (consistent with the two-step


O artigo questiona o impacto da informa- negatividade e de insatisfação, que poderá flow of communication model), in which
ção pelo Facebook na formação de opinião favorecer uma perceção pública hostil ao a majority is exposed to a hegemonic en-
sobre assuntos políticos, entre jovens por- funcionamento da democracia. vironment fed by a minority (generating
tugueses que frequentam o Ensino Supe- a spiral of silence phenomenon), creating
rior. Começa por avaliar a utilização do Palavras-chave: Redes sociais; satis- the conditions for the existence of a pseudo
Facebook como instrumento para a ex- fação com a democracia; fontes de infor- environment of negativity and dissatisfac-
pressão de opiniões e para a obtenção de mação. tion, which may favor a public perception
informação. Procura, de seguida, caracte- hostile to the functioning of democracy.
rizar o ambiente discursivo sobre assuntos
políticos mais comuns nessa rede social. Abstract Keywords: Social networks; satisfaction
A partir de um questionário aplicado a The article questions the impact of infor- with democracy; information sources.
160 estudantes do Ensino Superior em mation on Facebook in shaping opinion on
Portugal, o estudo constata que pouco political issues among higher education
mais de um terço dos estudantes publi- Portuguese students. It first evaluates the
ca na rede Facebook, a qual é, por sua use of Facebook as a tool for expressing
vez, diariamente consultada pela quase opinions and for obtaining information. It
totalidade dos alunos, para quem esta é then seeks to characterize the discursive
a plataforma online mais utilizada para ob- environment on the most common politi-
ter informação. Identifica-se a existência, cal issues in this social network. From a
nesse espaço, de um ambiente marcado questionnaire applied to 160 higher edu-
pela negatividade e pela insatisfação em cation students in Portugal, the study finds
relação ao funcionamento da democracia. that just over a third of students publish
Os dados recolhidos permitem sugerir a on Facebook, which is in turn consulted
existência de um fenómeno de informa- daily by almost all students, for whom it is
ção pelos pares (consistente com o mo- the most widely used online platform for
delo “two-step flow of communication”), information. The existence in this space of
em que uma maioria é exposta a um am- an environment marked by negativity and
biente hegemónico alimentado por uma dissatisfaction with the functioning of de-
minoria (gerando um fenómeno de espiral mocracy is identified. The data collected
do silêncio), criando as condições para suggest that there is a peer information

97
Utilização dos media eras, tendiam a confiar menos noutros Desde que um conjunto de estu-
Um tema chave nos estudos da co- cidadãos, a interessar-se menos por dos sugeriu uma relação positiva en-
municação política é a relação entre política, a sentirem-se menos compro- tre a utilização de media digitais e a
os padrões de utilização dos media, o metidos com a cidadania, a ler menos participação política (Xenos & Moy,
interesse por questões de natureza po- jornais e a recensearem-se menos para 2007, entre outros), tornou-se possí-
lítica e social e, por último, o tipo de votar ou a envolverem-se noutros tipos vel sustentar que uma maior utilização
atividade desenvolvida através desses de causas cívicas. Na mesma linha, os dos media sociais por parte dos mais
media. Um aspeto central é o enten- dados relativos à generalidade das de- jovens poderá compensar o declínio
dimento de que, numa democracia, as mocracias evidenciam níveis mais ele- da utilização dos media tradicionais
pessoas devem acompanhar as notí- vados de abstenção entre os cidadãos (Palfrey & Gasser, 2008), podendo
cias sobre assuntos públicos, devem mais jovens (Henn & Foard, 2012). os media sociais configurar-se como
ser politicamente interessadas e de- As preocupações sobre as cres- elemento nivelador de diferenças ge-
vem participar nos processos políticos centes desigualdades geracionais em racionais em termos de participação
(Habermas, 1989). Com efeito, a mera termos políticos são ainda alimenta- política.
existência de diferenças significativas das pela evidência de um menor re- Com os avanços tecnológicos, toda
entre grupos sociais em termos da sua curso aos media tradicionais por parte uma vasta gama de canais contribui
utilização dos media, do seu interesse dos jovens (Lenhart et al., 2010). Se hoje para que muitas mais informa-
político e da sua participação tende- a maioria das pesquisas refere a exis- ções se encontrem disponíveis ao
rá a violar normas fundamentais de tência de efeitos positivos do consumo público. Os indivíduos podem obter
igualdade política (Dahl, 2006). É dos media tradicionais sobre a partici- informações não apenas através das
nesta medida que as evidências que pação política (Norris, 2000), as mes- fontes impressas e audiovisuais tra-
sugerem diferenças crescentes entre mas investigações indiciam ainda que dicionais, mas ainda através de uma
cidadãos mais jovens e mais idosos uma diferença etária na atenção aos multiplicidade de fontes em vários
no que respeita aos níveis de consumo media pode traduzir-se em diferenças formatos, agora acessíveis através da
de informação, de interesse e de par- também crescentes em termos de mo- Internet. Nos tempos mais recentes,
ticipação política, trazem consigo a te- tivação e de participação política. Por meios sociais cujo conteúdo resulta
mática da desigualdade política. Ain- outro lado, dados mais recentes indi- do contributo dos próprios utilizado-
da nos primeiros anos deste século, cam ainda que os mais jovens desen- res (por exemplo, Wikipedia, blogues,
Delli Carpini (2000) assinalava como volvem uma utilização mais intensa YouTube) tornaram-se cada vez mais
os jovens adultos de então, compara- dos media digitais, comparativamente populares enquanto fontes de informa-
dos com os jovens adultos de outras aos cidadãos mais idosos. ção, mesmo que a confiabilidade das
informações de tais fontes seja, muitas – na determinação da agenda. Dar- qual reputações são melhoradas ou
vezes, questionável e difícil de avaliar. -se-ia assim resposta à que, desde os destruídas, mensagens são discutidas
Há pelo menos duas décadas que primeiros momentos, terá sido a mais ou descartadas, rumores são lançados
os investigadores dedicam a sua aten- importante promessa associada à In- e testados” (Gurevitch, Coleman &
ção ao surgimento de novas fontes de ternet – a “promessa política” (Hind- Blumler, 2009, p. 170). Esta dinâmica
informação da era digital, e às conse- man, 2009, p. 1). foi potenciada por uma das diferenças
quências que advêm do seu uso. Um A despeito dos discursos próprios mais importantes entre os mass media
estudo do Pew Research Center relata da ideologia associada aos novos me- e a “mass self-communication” (Cas-
que os meios sociais são cada vez mais dia, é pelo menos claro que a Inter- tells, 2009): a estrutura horizontal, de
populares entre todas as gerações de net acrescenta algo novo ao campo da muitos-para-muitos, tornada possível
utilizadores, incluindo os universitá- participação política e do exercício da pelas tecnologias online.
rios (Lenhart et al., 2010; Hampton, cidadania. Hill e Hughes (1998) des- As consequências políticas des-
Goulet, Rainie & Purcell, 2011; Smith, creviam, logo nos primeiros anos da tas transformações são profundas, e
2011). Mais de 70% dos adolescentes generalização da Internet, como uma alguns dos desenvolvimentos que têm
e jovens adultos que utilizam a Inter- quantidade significativa dos conteúdos animado o debate mais recente sobre a
net, consultam pelo menos um site de políticos ali existentes estava ausente relação entre media e democracia pos-
rede social como o Facebook, o Twitter do ambiente tradicional da política suem aqui raízes. Um olhar crítico não
ou o LinkedIn. representado pelos media convencio- pode deixar de assinalar que, pelo me-
As visões mais entusiastas advo- nais. A aceitação deste entendimento nos desde o início da década de 1990,
gam que novas fontes de informação não é incompatível com uma atenção são identificadas “fortes correntes de
online tornariam os cidadãos mais crítica aos seus efeitos perniciosos – populismo” acusadas de “sufocar” o
informados sobre política; novas concretamente, aos riscos de maior mundo da política e dos media. Estas
funcionalidades tecnológicas ajuda- estratificação e da sua modelação por correntes provêm da própria expansão
riam a integrar cidadãos inativos em estruturas de dominação comercial dos media, que, num mesmo tempo,
contextos de participação política; o e/ou ideológica. “criam oportunidades e armadilhas
ciberespaço tornar-se-ia um fórum Ao longo da primeira década des- para o público entrar no mundo polí-
aberto ao debate político e, particu- te século, tornou-se comum a menção tico” (Blumler & Kavanagh, 1999, p.
larmente, a abertura da Internet per- à “energia viral da blogosfera, dos 220). Mas resultam também de outros
mitiria que os cidadãos competissem sites de redes sociais e wikis [que] fatores: entre os quais, o declínio da
com os jornalistas na criação e na constituem um novo fluxo de publi- ideologia, que deixou uma espécie de
disseminação de informação política cidade em incessante circulação no vazio de legitimidade que o populismo

99
veio preencher; o crescimento do mar- muitos ao sucedido poucos meses an- vos, aproximam esses espaços da ima-
keting político como um complemento tes na campanha do Brexit. 1
gem de uma gigantesca câmara de eco
das estratégias de campanha; e a dimi- Mas a noção de “poder” surge digital das próprias vozes, imanente e
nuição, aos olhos do cidadão comum, marcada por uma outra reconfiguração indiferente à interferência dos mass
do prestígio dos políticos, dos media e importante: a que se refere às trans- media.
de outras elites. formações associadas à função de Este é um dos prismas a partir do
A perceção do poder destas novas gatekeeping (isto é, a autoridade para qual podem ser analisadas tendências
formas de comunicação sobre as for- filtrar a informação posta a circular). concretas que animam o debate sobre
mas tradicionais (imprensa, televisão, Cass R. Sunstein (2009: 5), no seu Re- a relação entre os media, a definição
rádio) tem vindo a ser reforçada por public.com 2.0, assinala aquele que, da agenda e a democracia. Muitos
vários acontecimentos, que, por sua na sua perspetiva, é “o mais impor- aplaudiram estes desenvolvimentos,
vez, têm mobilizado a atenção dos tante poder fornecido pelas novas tec- por criarem formas de relação com os
meios académicos e sociais. Um dos nologias: o poder de os consumidores media mais personalizadas, intuitivas
temas em foco tem sido, sem dúvida, o filtrarem o que veem.” À medida que e lúdicas. Ao mesmo tempo, afirma-
relevo que as novas formas de comuni- o público atribui menos autoridade às va-se todo um quadro de desconfiança
cação terão tido nos recentes momen- fontes oficiais, aos jornalistas e à co- sistémica em relação às instituições
tos eleitorais e, entre eles, na eleição municação institucional (que, embora clássicas de mediação – que atinge
de Donald Trump como presidente marcada por todas as suas ambivalên- diretamente os media convencionais.
norte-americano. É sob a inspiração cias, definia o núcleo da esfera públi- Os elementos anteriores demons-
destes acontecimentos que, numa das ca mediatizada), a informação, sobre tram como os novos media colocam à
primeiras entrevistas pós-eleitorais, qualquer que seja o tema, passa a ser prova aquele que era o entendimen-
Trump apreciava a importância das progressivamente auto-selecionada e to clássico de agendamento. Os seus
plataformas de redes sociais (Twitter, definida a partir de redes sociais vir- mais recentes desenvolvimentos e,
Facebook e Instagram): declarou que, tuais, canalizada a partir de sugestões concretamente, a lógica de funciona-
através delas, mais de 28 milhões de de “amigos” (Bennett, 2015, p. 157). mento das redes sociais virtuais veio
seguidores ajudaram-no a ganhar su- São, assim, potenciados fenómenos de ampliar este processo. O modo como a
cessivamente eleições primárias e acantonamento, de tribalização e de informação é apresentada, é percebida
gerais, com um custo muito inferior e radicalização que, em termos discursi- e é consumida nestas plataformas pos-
uma eficácia maior face aos oponen- sui diferenças importantes em relação
tes, apoiados nos (e pelos) “velhos” a outras plataformas, tradicionais ou
1 https://www.ft.com/content/827b2548-a6a-
media – num processo comparado por 6-11e6-8898-79a99e2a4de6 mesmo digitais: as publicações de no-
tícias políticas no News Feed do Fa- com níveis de utilização e de popula- renovar dos estudos sobre o interesse
cebook chegam a ser descritas como ridade elevados. dos jovens em política. Como referem
snack news – um formato muito com- Flanagan e Sherrod (1998, p. 448),
pacto de notícias que contém apenas trata-se de algo pouco surpreenden-
a informação essencial de uma notícia Interesse dos cidadãos te: “o interesse pela raiz das atitudes
política. A partir desse News Feed, os jovens por política e das identidades políticas tende a
snacks de notícias de política seguem Entenderemos por interesse em aumentar durante os períodos em que
o seu caminho até ao utilizador, mes- política a atenção dada aos temas po- aumentam as preocupações sobre a
mo que ele não procure, explicitamen- líticos e aos assuntos públicos capaz estabilidade dos regimes democrá-
te, informação política – o que se tra- de gerar ações e atitudes em conformi- ticos.” Nesta medida, o declínio da
duz numa forma completamente nova dade, por parte dos sujeitos. Nesta me- participação eleitoral a que se assiste
de consumo acidental de informação dida, um cidadão interessado atribuirá na maioria das democracias ocidentais
(Schäfer, Sülflow e Müller, 2017), e uma atenção especial a um ou vários tem levado cientistas sociais e políti-
num modelo fortemente atípico de assuntos que partilha com um espaço cos a orientarem a sua atenção para a
agendamento. público e com um interesse coletivo, identificação dos responsáveis – e, à
Contudo, um estudo desenvolvido como são o caso do meio ambiente, cabeça, encontram-se os adultos jo-
por Renita Coleman e Maxwell Mc- das políticas públicas, dos direitos vens, pelas razões enunciadas.
Combs (2007) assinala a complexi- humanos ou de um processo eleitoral, Um vasto conjunto de estudos de-
dade das formas de agendamento na entre outros. Jennings e Niemi (2014) senvolvidos no Ocidente identifica,
era dos novos media. Nele, os autores encontram-se entre os investigadores pois, os jovens como responsáveis
partem de um conjunto de perceções que mais aprofundaram os estudos pelo aumento da abstenção eleitoral.
claras: 1) a de que uma das mais acen- sobre o desenvolvimento do interesse Sublinhe-se que as preocupações com
tuadas diferenças entre gerações é a por questões políticas entre adoles- o interesse dos jovens pelas questões
que se refere ao uso que fazem dos centes e adultos jovens. Com pesqui- políticas não resultam do facto de os
media; em consequência, 2) os jovens sas desenvolvidas ao longo dos anos jovens participarem menos do que os
obtêm mais notícias de fontes não tra- 1960 e 1970, encontraram evidências mais idosos – uma circunstância que
dicionais (como a Internet) e menos de de que o interesse por assuntos polí- sempre foi notada desde que há dados
jornais ou da televisão. E assim, devi- ticos emerge durante o ensino secun- disponíveis. Como foi acima referido,
do ao grande número de fontes dispo- dário, aumentando para a maioria das o que é novo é o facto de os jovens
níveis, possuem muito mais agendas pessoas ao longo da vida. de hoje votarem significativamente
alternativas, facilmente acessíveis e Os últimos anos assistiram a um menos do que os jovens de há 20 ou

101
há 40 anos atrás. A partir de estudos como situando-se entre noções difusas mais comuns. Um domínio que mere-
desenvolvidos no Canadá, Rubenson de apoio a princípios democráticos e o ceu uma atenção especial, neste pro-
e colegas (2004) afirmam que o pon- apoio específico a atores democráticos cesso, foi o dos debates radiofónicos
to mais importante para compreender concretos. sobre política – e os seus efeitos nos
o declínio da participação eleitoral Sabe-se, contudo, que as atitudes processos democráticos e na confiança
desde 1998 é que a afluência não di- dos indivíduos em relação à política no funcionamento do sistema político.
minuiu no eleitorado em geral, mas (e às suas diversas dimensões) não Foram identificados padrões elevados
sobretudo nos canadianos nascidos possuem as suas origens apenas na de controvérsia, a utilização de ter-
depois de 1970. realidade política, e são fortemente in- mos ofensivos como modo de designar
Embora exista uma diferença clara fluenciadas tanto pelo âmbito socioe- atores políticos, e uma vasta retórica
entre o interesse político e a abstenção conómico (educação, nível económico) com o potencial de deslegitimação da
eleitoral, a ligação entre estes elemen- como por elementos de um nível macro autoridade política. De igual modo,
tos é feita muitas vezes como sendo o (etnia, condições sociais). No entanto, muita programação de entretenimen-
primeiro a causa presumida do efeito um elemento que, de forma crescen- to, no chamado horário nobre, através
medido na segunda. Se é um facto que te, veio a assumir-se como explicativo do humor, do confronto agressivo e da
os jovens tendem a ter um interesse para o declínio da confiança no funcio- apresentação de cenas de bastidores,
progressivamente menor por assuntos namento da democracia foi os media tende a criar ou a aprofundar atitudes
políticos, não existe um consenso cla- – e, particularmente, a negatividade de cinismo e de desconfiança em rela-
ro sobre as razões desse facto, e menos em relação ao campo político presente ção ao sistema democrático. Em suma:
claro é ainda que a razão seja a menor nas notícias que veiculam. Análises não restam dúvidas sobre a relação de
satisfação com a democracia. de conteúdo sucessivamente desen- um ambiente mediático de negativida-
Ao longo das últimas décadas, os volvidas revelam retratos de negativi- de com a satisfação com o funciona-
estudos sobre a satisfação com a de- dade tornados presentes pela ação dos mento da democracia (Moy & Scheu-
mocracia adquiriram uma relevância media, versando tanto figuras como fele, 2000).
muito especial no quadro da ciência instituições políticas, e o crescimento Contudo, este efeito não se obser-
política. No essencial, trata-se de um das avaliações feitas sobre os diversos va de igual modo em todos os media.
domínio de pesquisa que se refere às atores políticos – desde candidatos a Alguns estudos clássicos assinalam
avaliações que, num plano individual, eleitos –, num processo que percorre uma tendência geral segundo a qual
são feitas sobre o modo como a demo- jornais, revistas, televisão ou rádio, as notícias televisivas conduzem a
cracia funciona nas situações do quo- e que atravessa o setor das notícias, um aumento da desconfiança sobre
tidiano, e é geralmente considerado mas igualmente as posições editoriais os governantes, enquanto, num sen-
tido contrário, a leitura dos jornais As pesquisas iniciais sobre a nos media sociais em relação aos
impressos tende a conduzir a níveis relação entre a utilização das redes mais passivos?
mais elevados de confiança (Becker sociais digitais e a satisfação com o RQ2: Quando os jovens possuem
& Whitney, 1980; Miller & Reese, funcionamento da democracia apon- um maior interesse por política e
1982). tam num sentido positivo. Consta- questões sociais, os media sociais
Recentemente começou a ser ex- tou-se que os indivíduos mais ativos são o meio que mais utilizam como
plorada a medida em que as dinâmi- na pesquisa de informação sobre fonte de informação?
cas discursivas nas redes de media política possuem níveis mais baixos RQ3: À maior utilização dos me-
sociais influenciam os níveis de satis- de desagrado, possivelmente em re- dia sociais como fonte principal
fação com o sistema político e com o sultado de um maior interesse e da corresponde uma maior satisfação
funcionamento geral da democracia. O obtenção de elementos informativos com o modo como a democracia
impacto destes novos meios é inegá- mais satisfatórios (Pinkleton e Aus- funciona?
vel: os sites de redes sociais (como o tin, 2001). Outros estudos mostram
Facebook ou o Twitter) desempenham a associação entre a utilização da Espera-se que as redes sociais
um papel cada vez mais importante Internet para temáticas de natureza moldem o ambiente informativo a que
no discurso político no seio das de- pública e a eficácia e o envolvimento os indivíduos recorrem e, desse modo,
mocracias contemporâneas. Os dados políticos, que são preditores negati- contribuam para a sua perceção da
hoje existentes mostram que uma pro- vos do cinismo e da apatia (Zhang & realidade. Nesta medida, um ambiente
porção considerável dos utilizadores Pinkleton, 2009). marcado por sentimentos de negativi-
dessas plataformas confia nelas para Considerando a revisão da litera- dade (ou de positividade) nas redes so-
obter informação sobre assuntos po- tura apresentada, propomos as seguin- ciais tenderá a traduzir-se num maior
líticos e para discutir acerca desses tes hipóteses e questões de pesquisa: sentimento de negatividade (ou de
mesmos assuntos. Todo um conjunto positividade) por parte dos indivíduos
de indicadores sugere a existência de H1: O grau de satisfação dos jo- expostos a esse ambiente.
uma relação positiva entre a utilização vens com o funcionamento da de-
da Internet para fins políticos e a ação mocracia depende das fontes de H2: O nível de satisfação/insatis-
cognitiva e comportamental sobre po- informação a que recorrem. fação dos indivíduos com a de-
lítica – o que inclui um maior acesso RQ1:Os níveis de satisfação com o mocracia que publicam nas redes
a informação, a formas de interação e funcionamento da democracia são sociais é consistente com o nível
de participação (Zuñiga, Puig & Ro- comparativamente inferiores por de satisfação/insatisfação com a
jas, 2009). parte dos elementos mais ativos democracia manifestado pelos

103
Gráfico 1 – Distribuição por sexo

Gráfico 2 – Distribuição por idade

indivíduos que se informam, mas características distintivas relevantes, do que a média populacional. Em ter-
não publicam, nas redes sociais. como uma elevada utilização de media mos de idade, 85% possuem 23 anos
sociais e uma maior atenção a ques- ou menos, ou seja, incluem-se na faixa
tões cívicas e sociais. etária esperada para o grupo alvo do
Metodologia Variáveis demográficas de con- estudo, e apenas 2,6% possuem mais
A amostra é de conveniência, não trolo. Foram incluídas duas variáveis de 30 anos de idade.
probabilística, e foi constituída utili- demográficas de controlo, o género e Interesse político. O interesse
zando listas de emails e solicitando a a idade, também consideradas como político foi medido através de uma es-
divulgação através de redes pessoais intervenientes no processo de partici- cala de 5 pontos, em resposta à ques-
de contactos e de comunicação, como pação política (Dimitrova et al., 2014). tão “Como classifica o seu interesse
o e-mail e o MSN. Deste modo, foi Verificou-se que 35% dos inquiridos por assuntos de natureza política?”,
submetido um questionário online a são do sexo masculino e 65% do sexo com respostas entre “Nada interessa-
estudantes do ensino superior entre os feminino. Estes dados são compatíveis do” e “Totalmente interessado”, sendo
dias 18 e 27 de março de 2019, ten- com a literatura (Cf. Bakshy, Messing o ponto intermédio o “Medianamente
do sido obtidas 160 respostas válidas. & Adamic, 2015 ), que indica que a
2
interessado”.
A condição requerida era apenas a maioria dos utilizadores do Facebook Comunicação política nos me-
de que o respondente fosse estudan- tende a ser mais jovem, com um ní- dia sociais. Esta variável refere-se à
te do ensino superior, indo assim ao vel de instrução mais elevado e com criação e à publicação e partilha de
encontro da expectativa de alcançar uma maior percentagem de mulheres conteúdos pelo utilizador. Aos respon-
sobretudo, mas não exclusivamente, o dentes foi pedido que respondessem
2  O estudo abrange 10,1 milhões de utiliza-
grupo designado por millennials. Con- “sim” ou “não” à pergunta “Alguma
dores do Facebook nos Estados Unidos da
siderou-se que esta amostra possuiria América. vez fez uma publicação numa rede
Gráfico 3 – Fontes de Informação

social sobre assuntos políticos ou za com maior frequência para obter teresse por política (mediana de 3),
problemas sociais que refletia a sua informações sobre assuntos políticos seguidos dos que escolhem os sites de
opinião?” e/ou sociais”, tendo sido dadas como órgãos de informação (2,92) e dos que
Satisfação com o modo como possibilidades de resposta as opções escolhem as redes sociais (2,64). O
a democracia funciona. Aos inqui- seguintes: “Facebook”, “Instagram”, menor interesse por assuntos de natu-
ridos foi pedido que respondessem a “Twitter”, Youtube”, “WhatsApp” e reza política é manifestado pelos que
partir de uma escala de 5 pontos, en- “Outra”. escolhem a televisão como principal
tre “Nada satisfeito” e “Totalmente Intensidade do acesso/expo- fonte de informação (2,57).
satisfeito” com ponto intermédio em sição. A intensidade de acesso e de
“Medianamente satisfeito”, à ques- exposição foi medida questionando a
tão “Considero-me satisfeito/insatis- frequência de acesso à rede social di-
feito com o modo como a democracia gital principal e, noutra questão, aos
funciona.” sites dos 5 portais online de informa-
Fontes de informação política. ção mais consultados em Portugal,
Aos respondentes foi colocada a ques- com possibilidades de resposta entre
tão “Identifique a sua forma de acesso “Nunca” e “Todos os dias”.
principal a informação sobre assun-
tos políticos”, tendo sido indicadas
6 possibilidades de resposta: “Redes Resultados
sociais”, “Sites de órgãos de informa- Tendo em consideração a forma
ção”, “Jornais impressos”, “Rádio”, de acesso, são os que escolhem o jor-
“Televisão” e “Outra”. Foi ainda ques- nal impresso como principal fonte de Tabela 1 – Relação entre fontes de informação
e interesse por política
tionado “Que rede social digital utili- informação que detêm um maior in-

105
Gráfico 4 – Frequência de acesso a redes sociais

Gráfico 5 – Frequência de acesso a portais informativos

Nesta medida, verifica-se que, tes: são acedidos até 1 vez por semana meio principal utilizado, a percenta-
sendo a televisão a principal fonte por entre 69% (Público) e 90% (CM) gem baixa em relação à média, para
de informação, é-o para aqueles que dos inquiridos, dependendo do site. uma percentagem de 52%.
possuem menor interesse por assuntos Esta discrepância evidencia a forte Já 62% dos respondentes afir-
de natureza política. Ao invés, o meio exposição aos conteúdos das redes so- mam não publicar nas redes sociais
menos escolhido (os jornais impres- ciais, em detrimento do acesso direto sobre assuntos políticos ou proble-
sos) é-o pelos que manifestam ter mais a outros portais especificamente de mas sociais, contra 38% que afirmam
interesse pelos assuntos políticos. informação. publicar.
A frequência do acesso deve tam- Verificou-se a existência de uma Cruzando esta atividade com os ní-
bém ser considerada. correlação não paramétrica de Pear- veis de satisfação sobre estes assuntos
Com efeito, o acesso e a exposição son de 0,197 com uma significância (políticos ou sociais), verificamos que
às redes sociais digitais são referidos de 0,013 entre a idade e a satisfação o descontentamento é superior entre
como fazendo parte do quotidiano. com a democracia, que evidencia que, os que publicam (72% declaram-se
Aos 91% que referem aceder todos os quanto maior é a idade, menor é a sa- pouco ou nada satisfeitos) em relação
dias às redes sociais, acrescem mais tisfação com a democracia. aos que não publicam (60%).
6% que acedem entre 4 a 5 dias por Verifica-se ainda que, quando a
semana. forma de acesso principal à informa-
Em contrapartida, os principais si- ção é através das redes sociais, o nú- Discussão
tes informativos do país (os mais con- mero de pouco ou nada satisfeitos com Os dados obtidos pelo presente
sultados) são diretamente acedidos de o funcionamento da democracia sobe estudo permitem confirmar apenas
forma muito pontual pelos responden- para 72%. Já quando a televisão é o uma das duas hipóteses formuladas,
Tabela 2 – Correlação entre idade e satisfação com a democracia

Tabela 3 – Dados cruzados entre fontes de informação e satisfação com a democracia

de acordo com a literatura apresen- redes sociais tenha um nível de satis- vos nas redes sociais, menos satisfei-
tada. A primeira hipótese, relativa à fação com a democracia equiparável a tos estão os jovens com a democracia.
dependência do grau de satisfação dos quem também recorre às redes sociais A corroboração da primeira hipó-
jovens com o funcionamento da demo- para se informar, mas que opta por tese é consistente com estudos ante-
cracia das fontes de informação a que não publicar. Verifica-se que, não obs- riores que indicam que a obtenção de
recorrem, é confirmada pelos dados tante privilegiarem a mesma fonte de informações regulares sobre política
que indicam um grau superior de insa- informação (Facebook), 72% dos que através do Facebook leva a percep-
tisfação por parte dos que privilegiam publicam, expressando a sua opinião ções mais negativas sobre o funciona-
as redes sociais (72% pouco ou nada sobre assuntos da vida pública, estão mento da democracia (Bene, 2017). E
satisfeitos), que se distingue dos que “pouco ou nada” satisfeitos com o fun- que essa insatisfação se repercute nos
utilizam a televisão (52% pouco ou cionamento do regime democrático. baixos níveis de participação política,
nada satisfeitos). A segunda hipótese Por outro lado, apenas 60% dos que nomeadamente na elevada percenta-
não é dada como provada, dado que não publicam têm o mesmo nível de gem de abstenção que se regista entre
não se verifica que quem publica nas insatisfação. Ou seja, quanto mais ati- os cidadãos mais jovens, como indi-

107
Gráfico 6 – Publicação em redes sociais

cam vários estudos. Ainda assim, esta sultados do país – são-no tão-só “até produzidos maioritariamente por jor-
pesquisa identifica um elevado nível uma vez por semana”. Refira-se, aliás, nalistas, sendo antes criados, filtrados
de desinteresse pela vida pública ma- que as pesquisas indicam que a leitura e distribuídos pelos próprios utilizado-
nifestado por quase metade (47%) dos de jornais impressos tende a conduzir res (prosumers). A maioria dos jovens
jovens inquiridos. a níveis mais elevados de confiança no que se informa através do Facebook
Quem detém mais habilitações funcionamento da democracia (Becker obtém, neste contexto, a informação
académicas, possui, em geral, uma & Whitney, 1980; Miller & Reese, através dos seus pares. Trata-se do
menor confiança política, o que se 1982). Esses dados confirmam a rela- grupo constituído por cerca de um ter-
relaciona com o facto de se tratar de ção entre a exposição a um ambiente ço dos estudantes que publica na rede
pessoas mais bem-informadas (Moy & mediático mais negativo – como os social e que demonstra um elevado
Scheufele, 2000, p. 745). Nesta medi- conteúdos televisivos – e a insatisfa- índice de insatisfação com o funcio-
da, e a partir da correlação negativa ção com o funcionamento da democra- namento da democracia. Considera-
identificada entre idade e satisfação, cia (Moy & Scheufele, 2000). mos que estamos perante um conjunto
podemos sugerir que quanto mais in- Por outro lado, quem tem um me- restrito de indivíduos que atua como
formação possuem (com mais idade e nor interesse na vida pública recorre “líder de opinião” para os restantes jo-
experiências de vida), maior é a insa- à televisão e às redes sociais como vens. Estes constituem a maioria que
tisfação e o desencanto. principais fontes de informação. Ao se expõe diariamente aos conteúdos
Constata-se que apenas uma mi- contrário dos jornais, na sua versão publicados pelos “amigos”, pelos co-
noria (18%) se declara “muito ou to- impressa ou digital, as redes sociais legas, pelos familiares e pelos demais
talmente” interessada em assuntos são acedidas diariamente por 93% de membros que integram e são mais
políticos ou sociais. Verifica-se que a quem tem nestes meios a sua princi- ativos nas suas “redes sociais” – en-
fonte de informação privilegiada pelos pal fonte de informação. O Facebook tendidas, aqui, numa perspetiva mais
jovens é diferente consoante o grau destaca-se claramente como a rede propriamente sociológica. A minoria
de interesse nestas matérias. Por um social mais utilizada pelos inquiri- ativa influencia, em consequência, a
lado, quem tem mais interesse na vida dos. Saliente-se a forte exposição dos maioria menos ativa e com pouco inte-
pública recorre a jornais e a sites de estudantes do ensino superior aos resse na vida pública, o que configura
órgãos de informação como fontes de conteúdos das redes sociais em detri- um “fluxo de comunicação em dois ní-
informação. Fá-lo, contudo, escassas mento do acesso a outros portais, no- veis” (two-step flow of communication).
vezes, dado que quer o portal do “Pú- meadamente os que têm uma natureza A influência social não é uma no-
blico” (69%) quer o portal do “Correio especificamente informativa. No caso vidade nos estudos de comunicação
da Manhã” (90%) – entre os mais con- do Facebook, os conteúdos não são política (Bene, 2017, p. 2), mas esteve
Tabelas 4 e 5 – Cruzamento de dados entre publicações nas redes sociais e satisfação com a democracia

longe, durante várias décadas, de ser em relação a esse partido. Trata-se de book de políticos “suportam a asserção
o foco da atenção nas pesquisas nesta uma situação comum, dado que, em relativa à dominância da negatividade
área. O panorama mudou, porém, com geral, as pessoas não se identificam na comunicação política dos cida-
a emergência das redes sociais e, em totalmente com um partido ou um dãos” nessa rede social (Bene, 2017.
particular, com o recurso ao Facebook político; antes, apresentam uma mis- p. 6). No Facebook, os conteúdos crí-
como fonte primordial de informação. tura de opiniões positivas e negativas ticos a políticos ou a debates eleitorais
Em causa está, nomeadamente, a for- (Rudolph, 2011). Do ponto de vista do são mais partilhados e também mais
mação online de novas comunidades funcionamento da democracia, a ho- comentados do que conteúdos positi-
discursivas, que levam à criação de mofilia e as “câmaras de eco” do Fa- vos relativos às mesmas matérias.
“câmaras de eco”, caracterizadas pela cebook minimizam as possibilidades O nosso estudo indica que quanto
homofilia – a tendência de indivíduos de um genuíno discurso democrático maior é a utilização de media sociais
com opiniões semelhantes para se (englobando diferentes ideologias) e – concretamente o Facebook – como
agruparem. Os jovens abrangidos por contribuem para a polarização política fonte principal da informação, menos
este estudo tenderão a ser menos am- (Justwan et al., 2018, p. 5). Portanto, satisfeitos com o funcionamento da de-
bivalentes no que respeita às opiniões quanto mais se expõem a um ambiente mocracia estão os estudantes do ensino
políticas, desenvolvendo sentimentos discursivo negativo sobre assuntos po- superior (RQ3), o que é coerente com
mais fortes em relação às informações líticos ou sociais, mais os indivíduos a literatura. No entanto, os jovens com
que reforçam as suas conceções sobre tendem a desenvolver atitudes negati- maior interesse em assuntos políticos
a vida pública (Rudolph, 2011). A vas sobre a vida pública, contribuindo ou sociais não usam os media sociais
ambivalência em relação a um parti- também para um pior funcionamento como fonte principal de informação,
do político, por exemplo, caracteriza- da democracia. antes optando por recorrer a jornais
-se pela existência de pontos de vista Pesquisas empíricas sobre a rea- impressos ou a portais informativos
positivos e, em simultâneo, negativos ção dos cidadãos às páginas de Face- (RQ2). Conclui-se, ainda, que a mino-

109
ria mais ativa nos media sociais é com- Conclusão a outras fontes, como os jornalistas.
parativamente mais insatisfeita com o Este estudo confirma pesquisas Outro resultado a reter prende-se com
funcionamento da democracia do que anteriores relativa aos meios de infor- a relação positiva estabelecida entre a
a maioria passiva (RQ1). Estes dados mação privilegiados pelos cidadãos utilização do Facebook como fonte de
contrariam literatura que indica que a mais jovens, especificamente no caso informação e a insatisfação com o fun-
participação online tem uma relação dos estudantes do ensino superior, e cionamento da democracia. Resultado
positiva com o envolvimento político a sua relação com a satisfação com que contraria estudos que indicavam
e que pode ajudar a incluir cidadãos o funcionamento da democracia. Ve- a existência de uma relação positiva
jovens na esfera pública (Yamamoto & rifica uma relação inversamente pro- entre a utilização de media digitais e
Kushin, 2014, p. 440), um elemento porcional entre a idade e a satisfação a participação política.
fulcral da “promessa política” associa- política; constata o amplo desinteres- É ainda de registar a existência de
da à Internet (Hindman, 2009, p. 1). se dos jovens em assuntos políticos e um “fluxo de comunicação em dois ní-
Tendo em conta a elevada exposi- sociais e identifica a televisão e as re- veis” (two-step flow of communication)
ção aos conteúdos do Facebook, será des sociais como as principais fontes dado que a minoria mais ativa na rede
de considerar que os seus efeitos na de informação, embora com uma dife- social é quem informa a maioria dos
atitude política dos cidadãos verificar- rença pouco relevante entre si. Este seus pares. Essa minoria atua como
-se-ão a longo prazo, resultado de uma último resultado é congruente com “líder de opinião” em assuntos de
exposição quotidiana e cumulativa. os dados sobre o consumo dos media natureza política ou social. Identifica-
A influência dos “líderes de opinião” em Portugal, de acordo com o Digital -se, também, um ambiente discursivo
ocorre, mais precisamente, no que res- News Report 2019, do Instituto Reu- marcado pela negatividade em relação
peita ao seu contributo para a criação ters para o estudo do jornalismo, da à vida pública, explicável pelo facto
de um ambiente marcado pela negati- Universidade de Oxford, recentemen- de os prosumers serem o grupo mais
vidade, que influencia a perceção da te publicado. insatisfeito com a democracia. Essa
vida pública por parte dos seus pares. Conclui-se que o Facebook é a negatividade propicia que a maioria
Os resultados mostram que, se quiser- rede social mais utilizada pelos es- dos seus pares tenha uma perceção
mos compreender o comportamento tudantes do ensino superior para se negativa sobre assuntos políticos e
político da generalidade dos jovens, informarem sobre assuntos relativos sociais. Tal perceção está, por seu
temos também de analisar o compor- à vida pública e que os seus pares, turno, associada a fatores associados
tamento da minoria mais envolvida o terço de alunos que publicam so- à insatisfação política, como a apatia
no processo de comunicação política bre estas matérias na referida rede e o cinismo políticos. É expectável,
(Bene, 2017, p. 13). social, são privilegiados em relação em consequência, que se verifique um
comportamento que se pautará pela wer. Oxford, New York: Oxford Uni- data. Communication Research,
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113
Vária
Bibiana Garcez
Universidade de Coimbra, Portugal

bibianagarcezs@gmail.com

https://orcid.org/0000-0002-8282-8252

Objetividade jornalística Maria João Silveirinha

e perspectiva feminista: Universidade de Coimbra, Portugal

mjsilveirinha@gmail.com

por uma articulação https://orcid.org/0000-0002-0702-3366

https://doi.org/10.14195/2183-6019_10_8

Journalistic objectivity and feminist perspective:


towards an articulation

Resumo Palavras-chave: Objetividade; ética the proposition of situated knowledge to


Este artigo busca iniciar um diálogo sobre jornalística; feminismo; epistemologia journalism as an alternative to objectivity,
a articulação de uma perspectiva episte- standpoint; gênero e jornalismo. reflecting on new ethical possibilities from
mológica feminista com os ideais de obje- a gender perspective.
tividade jornalística. Para isto, procede a
uma revisão bibliográfica do conceito e do Abstract Keywords: objectivity; journalism ethics;
histórico da objetividade jornalística e das This article seeks to initiate a discussion feminism; standpoint epistemology; gender
críticas que recebeu. Isto serve como base about the articulation of a feminist epis- and journalism.
para problematizar a prática e discutir a temological perspective with the ideals
reprodução de desigualdades de gênero of journalistic objectivity. It starts with a
no jornalismo. Apesar de a objetividade literature review of the concept and history
ser hoje relacionada com a busca pela of journalistic objectivity and the criticis-
verdade, nem sempre foi entendida como ms it received. This is the basis for pro-
central ao jornalismo e recebe críticas blematizing the practice and discussing
desde sua adoção. Entende-se que o jor- the reproduction of gender inequalities
nalismo dito objetivo acaba por reproduzir in journalism. Although objectivity today
o senso comum, ligado fortemente aos gru- is related to the search for truth, it has
pos hegemônicos e, assim, patriarcais. No not always been understood as central to
jornalismo, é possível verificar que há uma journalism and has been questioned since
prática desigual em relação ao gênero, its adoption. It is understood that objective
seja na representação das mulheres ou no journalism ends up reproducing common
âmbito de produção do conteúdo. Ainda sense, strongly linked to hegemonic and,
que a epistemologia feminista standpoint thus, patriarchal groups. In journalism, it
(Harding, 1991, 1993, 1995, 2006; Hart- is possible to verify that there is an uneven
sock, 1981, 1983) aborde o conhecimento practice in relation to gender, either in the
científico, é possível aproximar a proposta representation of women or in the scope
de um conhecimento situado ao jornalis- of content production. We then consider
mo, uma vez que é necessário refletir sobre the feminist epistemology standpoint (Har-
novas possibilidades éticas, considerando ding, 1991, 1993, 1995, 2006; Hartsock,
uma perspectiva de gênero. 1981, 1983) and we seek to start from

117
Introdução das audiências, a reflexão sobre algo São muitas as perguntas sobre o
A objetividade é um dos princi- que define a profissão faz-se neces- impacto da adoção da objetividade
pais pilares do jornalismo tradicional sária. A defesa da objetividade como como preceito central do jornalismo e
praticado em boa parte do mundo. Em isenção ainda é produtiva? sobre seu futuro como “ética e epis-
termos simples, trata-se da busca por Aqui, entende-se a função social temologia” (Muñoz-Torres, 2012) da
um conteúdo que reporte os fatos e não da profissão baseada em Reginato profissão. Não é possível e nem se pre-
traga as opiniões do profissional, que (2018), de fiscalizar o poder e fortale- tende responder a todas elas no escopo
se distancie de ideologias políticas e cer a democracia, esclarecer o cidadão deste artigo, tratando-se, antes, de ini-
que permita que o leitor decida, por si e apresentar a pluralidade da socieda- ciar uma discussão sobre a articulação
mesmo, no que acreditar. Essa prática, de e informar, entre outros pontos. Ao de uma perspectiva feminista com os
no entanto, não está intrinsecamente eximir-se de criticar a realidade ou os ideais longamente defendidos de obje-
ligada ao jornalismo desde sempre – a pontos apresentados, o jornalista dito tividade e imparcialidade. A metodo-
mudança ocorre especialmente entre o “objetivo” acaba por manter inaltera- logia utilizada neste artigo é, pois, a de
final do século XIX e o início do sécu- do o status quo (Stoker, 1995) – o que revisão bibliográfica e documental. No
lo XX, com a industrialização do jor- passa por representar como natural o que se segue, rever-se-á a diversidade
nalismo (Schudson, 2001). discurso patriarcal vigente. As mulhe- de definições deste conceito, seu his-
Mesmo a partir dos anos 1920, res, assim como outras minorias polí- tórico na profissão, como é aplicado ao
quando é estabelecida de fato como ticas, ainda são sub-representadas nas texto jornalístico, quais as principais
uma peça central para a atuação jorna- redações (WMC, 2019) e nos textos críticas de que tem sido alvo e, por
lística nos Estados Unidos, o concei- jornalísticos (WACC, 2015). fim, far-se-á uma breve reflexão sobre
to já era questionado por intelectuais Por outro lado, entende-se que os impactos da adoção da objetividade
(Schudson, 2001). A supervalorização a organização de uma sociedade de- para o reportar do mundo em que às
da objetividade, a partir de uma lógica mocrática compreende a participa- mulheres não é dado o lugar que, efe-
empirista e positivista, passa por uma ção de todos os cidadãos e cidadãs. tivamente, elas têm.
rejeição total da subjetividade, mas é Questiona-se, assim, as limitações do
justamente a partir da ligação entre ideal jornalístico de fortalecimento
sujeito e objeto que se dá o conheci- da democracia, quando esta prática Conceitos e história da
mento. Como, então, é possível essa “isenta” continua a ser desigual e in- objetividade no jornalismo
separação? Em um momento de pós- capaz de refletir sobre a necessidade A definição da objetividade no jor-
-verdade e crise do jornalismo quanto de reportar a partir de suas próprias nalismo compreende diferentes abor-
ao financiamento e à confiabilidade desigualdades. dagens. Ainda assim, autores como
Schudson (2001), Sponholz (2003, Essa supervalorização do método preceito fundamental para o jornalis-
citado em Demenek, 2009, p. 11) e empírico como o único método mo, que data do século XIX, além de
Demenek (2009) relacionam o concei- científico possível implicou a acei- ser um fenômeno inicialmente locali-
to diretamente à atividade jornalística, tação das premissas epistemológi- zado nos Estados Unidos da América.
quer seja como um ideal moral ou va- cas centrais do positivismo e sua Até então, o jornalismo era vinculado à
lor ético, uma série de normas a serem posterior disseminação para outros partidos políticos e tinha um forte viés
seguidas, como a forma de mediar in- campos. Entre esses postulados, o opinativo. Conforme Amaral, (1996,
formações ou mesmo como um impulso mais importante é a dicotomia en- p. 26), “comprava-se [...] jornal para
epistemológico. De forma geral, enten- tre os chamados “ julgamentos de saborear a versão parcial dos aconte-
de-se que esta prática compreenderia fato” e os “ juízos de valor”. cimentos e para se ler as críticas aos
compartilhar com o público apenas os adversários”.
fatos, apresentados frequentemente No entanto, o juízo de valor está Apesar de diversos teóricos rela-
apresentado como “a verdade”, e não diretamente associado com a criação cionarem o surgimento da objetividade
opiniões ou valores. do conhecimento, na relação que se no jornalismo com o uso do telégrafo e
Wien (2006) entende que a verda- coloca entre sujeito e objeto. Como com interesses comerciais, Schudson
de e a objetividade estão diretamen- destaca Muñoz-Torres (2012, p. 573, (2001) entende que essa explicação é
te ligadas. No entanto, Muñoz-Torres tradução nossa), “fatos brutos são simples e superficial demais, baseada
(2012) defende que a procura pela completamente sem sentido, se não apenas em uma visão técnica, econo-
objetividade acabou por substituir conectados – através da subjetividade micista, e de certa forma determinista.
a procura pela verdade, o que pode individual – com conceitos que pos- Ainda que tal explicasse a mudança
ser relacionado com a compreensão sibilitem a interpretação”. Apesar da de normas sociais, como o estilo, não
de que existem diversas versões de ideia de que o jornalismo poderia ser via necessariamente o estabelecimen-
verdade, e não uma verdade absoluta, um “espelho da realidade”, “a sub- to da objetividade como uma nova
quadro exacerbado pelo movimento jetividade presente no processo de conduta moral.
da Pós-Verdade (D’Anconna, 2017). apreensão dos fatos indica que o jor- Segundo o autor, na segunda meta-
Há, aqui, uma forte relação com o em- nalismo não é o discurso da realidade de do século XVIII, com o conflito en-
pirismo e o positivismo. Wien (2006) (como diz ser), mas um discurso sobre tre Estados Unidos e Inglaterra, “prati-
liga o positivismo com a distinção a realidade” (Moretzsohn, 2001, p. 3, camente todos se sentiam compelidos
entre fatos e opiniões, assim como grifo nosso). a tomar um lado. O jornal começou sua
afirma Muñoz-Torres (2012, p. 571, Passa-se agora, então, para as ori- longa carreira como porta-voz de par-
tradução nossa): gens históricas da objetividade como tidos políticos e facções” (Schudson,

119
2001, p. 154, tradução nossa). Até o lizar e citar entrevistas nas reporta- damental ou central ao jornalismo se
final dos anos 1700, a neutralidade gens publicadas, prática que, apesar localiza inicialmente nos Estados Uni-
poderia ser um “conselho prudente”, de hoje ser comum, não era realizada dos. Conforme refere Muñoz-Torres,
mas não uma norma moral. Já pela à época. Aliado a isso, começam a de- “a objetividade é uma das caracte-
década de 1830, o jornalismo passava senvolver-se também media events, o rísticas identificadoras do jornalismo
por um “mercantilismo agressivo”, o que “pressagia a nova dedicação dos nos Estados Unidos e talvez a maior
que foi significativo para o desenvol- repórteres a um senso de habilidade contribuição do jornalismo americano
vimento da objetividade e justiça. No e a nova localização em uma cultura para o resto do mundo” (2012, p. 567).
entanto, aponta Schudson (2001, p. ocupacional com suas próprias re- Seriam pelo menos mais duas gera-
155, tradução nossa), esse movimento gras, suas próprias recompensas e seu ções até que o mesmo acontecesse na
próprio espírito” (Schudson, 2001, p. Europa (Schudson, 2001).
fomentou apenas um conceito 156, tradução nossa). O foco muda de
restrito de justiça estenográfica. promover partidos políticos, para es-
Os jornais se tornaram cada vez crever notícias. A objetividade na prática
mais orgulhosos com a velocidade É apenas na década de 1920 que a jornalística
e a precisão de sua coleta de no- “norma da objetividade” torna-se um Entendendo como diferentes teó-
tícias, mas os editores acharam “ideal ocupacional totalmente formu- ricos definem a objetividade, além do
isso perfeitamente coerente com o lado, parte de um projeto ou missão fato de que o conceito não nasce com
partidarismo político e sua esco- profissional [...] finalmente um código o jornalismo e vice-versa, pode-se
lha de cobrir apenas os discursos moral” (Schudson, 2001, p. 163, tra- passar para as aplicações desta nos
ou comícios do partido que eles dução nossa). Na década seguinte, os produtos jornalísticos. Afinal, como
preferiam. editores também passam a defender a citado anteriormente, a objetividade
objetividade, mas como uma forma de pode ser entendida também como um
No final dos anos 1890, apesar controlar a associação dos trabalhado- padrão visível nos textos (Schudson,
de já ser citada como um princípio, res aos sindicatos – “como um repórter 2001).
a objetividade “estava longe de ser poderia ser ‘objetivo’ se ingressasse na Novamente, destaca-se a ideia de
uma prática ou um ideal estabeleci- Associação de Jornais?” (Schudson, que o jornalismo objetivo busca uma
do” (Schudson, 2001, p. 156, tradu- 2001, p. 163, tradução nossa). representação “não interpretada” − ou
ção nossa). Passa-se, então, por uma É importante, aqui, relembrar seja, ausente de subjetividade − da
importante mudança neste período, também que o desenvolvimento da realidade. Nesse sentido, Ward (2004)
quando os jornalistas começam a rea- objetividade como um preceito fun- considera que trata-se de um proces-
so passivo de absorver conteúdo e determinar porque os lados entram amplamente as mulheres ou retratan-
divulgá-lo da mesma forma: “A epis- em conflito e qual reflete a realidade do-as em papéis estereotipados de
temologia da objetividade tradicional mais precisamente, avaliam e identifi- vítima e/ou consumidor, os meios de
baseia-se na persistente metáfora do cam as fontes” (Ryan, 2001, p. 5, tra- comunicação de massa aniquilam sim-
jornalista […] que aspira a ser um dução nossa). Conforme o autor, este bolicamente as mulheres” (Tuchman,
instrumento de gravação perfeito (p. profissional responde primeiramente 2000, p. 150, tradução nossa).
262, tradução nossa). É na mesma di- às audiências, depois aos códigos éti- A autora vê a objetividade como
reção que Schudson define o trabalho cos da profissão e, por último, aos seus um “ritual” e uma “estratégia”, que
do “jornalista objetivo”: “relatar algo superiores. são aceitos como naturais e têm como
chamado ‘notícias’ sem comentar, in- McNair afirma que há quase que objetivo evitar problemas legais, prin-
clinar ou moldar sua formulação de uma “fórmula pronta” para a aplica- cipalmente. Um deles é a apresenta-
qualquer maneira” (2001, p. 150, tra- ção do conceito de objetividade no ção de mais de um lado de um mesmo
dução nossa). jornalismo: “os avanços tecnológi- fato, o que é chamado pela autora de
Ryan (2001) defende a objetivi- cos e industriais, possibilitados pela “possibilidades conflituosas”. Des-
dade jornalística, respondendo a crí- ciência pós-iluminista, forneceram sa forma, pode-se utilizar diferentes
ticas pontuais, e valoriza o trabalho do um conceito mais ou menos pronto de fontes para analisar ou confrontar um
“jornalista objetivo”. No entanto, não objetividade que os jornalistas pode- dado fornecido para o jornalista. Isto
há, na reflexão do autor, consideração riam adaptar ao seu próprio projeto pode ser utilizado, por exemplo, caso
sobre o papel da cultura profissional profissional” (McNair, 2017, p. 1324, o jornalista não consiga verificar a in-
ou de realidades socioeconômicas que tradução nossa). formação recebida. Consistiria, então,
afetam os trabalhadores. A “condena- Nesse mesmo sentido, Tuchman em deixar que a audiência “decida”
ção” do jornalista “não-objetivo” apa- (1972) já havia identificado, a partir em quem acreditar. No entanto, essa
renta ser individual, uma vez que a ob- de uma análise das noções de objeti- prática pode acabar acumulando um
jetividade parece ser entendida pelo vidade dos jornalistas, quatro proce- grande número de diferentes pontos
autor como uma escolha pessoal, mas dimentos adotados por profissionais de vista, o que possivelmente resul-
na realidade diversos outros fatores a fim de manifestar a objetividade no taria em uma maior dificuldade de
incidem sobre a qualidade do traba- texto jornalístico. É importante, aqui, entendimento ou de julgamento do
lho. No entanto, na prática defendida destacar que a mesma Gaye Tuchman leitor:
por Ryan, estes “reúnem fatos e opi- escreve também sobre o aniquilamen-
niões que conflituam-se, verificam a to simbólico das mulheres através das Um emaranhado de afirmações
informação cuidadosamente, buscam representações midiáticas: “ignorando conf litantes sobre a verdade,

121
como aquelas hipoteticamente na lógica da pirâmide invertida: “o como aponta Tuchman (1972), que
introduzidas, pode ser mais provei- jornalista deve relacionar suas noções as práticas não conseguem entregar
tosamente visto como um convite de conteúdo ‘importante’ ou ‘interes- o que era almejado: a remoção da
para os consumidores de notícias sante’. Até certo ponto, as dificulda- subjetividade do jornalista. Volta-se,
exercerem uma percepção seletiva des do jornalista são atenuadas pela nesse momento, para as insistentes
[...] pois cada versão da realidade fórmula familiar de que as notícias críticas que são feitas à objetivida-
reivindica igual validade poten- dizem respeito a ‘quem, o que, quan- de, desde os anos em que se inicia a
cial. (Tuchman, 1972, p. 667, do, onde, por que e como’” (Tuchman, adoção como norma moral da profis-
tradução nossa) 1972, p. 670, tradução nossa). Para a são (Schudson, 2001). Exploram-se,
autora, essa seleção de o que é mais a seguir, alguns dos argumentos crí-
Um outro fator importante na apli- importante, interessante ou que deve, ticos a este conceito como central ao
cação da objetividade, conforme pro- por outro critério de noticiabilidade, jornalismo.
posto por Tuchman, é a apresentação ter mais destaque, implica em uma Primeiramente, a separação entre
de provas auxiliares, obtidas pelo jor- visão subjetiva, do julgamento de va- objetividade e subjetividade, no de-
nalista. Em seguida, ela aponta que o lor que o próprio jornalista há de fazer senvolvimento do conhecimento, não
uso de aspas é frequente para eximir para hierarquizar os fatos. é entendida como possível. A duali-
a responsabilidade do jornalista por Gaye Tuchman (1972) conclui dade que impera entre realidade e in-
aquilo que foi dito, transferindo para que, apesar de essas práticas serem de terpretação, fato e opinião, volta para
a própria fonte: “Adicionando mais fato adotadas por jornalistas e aceitas as noções de positivismo abordadas
nomes e citações, o repórter pode por veículos como manifestação de ob- no primeiro tópico deste artigo. Para
remover suas opiniões da história fa- jetividade, elas não necessariamente Wien (2006, p. 13, tradução nossa), o
zendo com que os outros digam o que são objetivos: “existe uma discrepân- “problema não é tanto que o jornalis-
ele pensa” (Tuchman, 1972, p. 668, cia distinta entre os fins buscados e os mo aplique o conceito de objetividade
tradução nossa). No mesmo sentido, alcançados” (Tuchman, 1972, p. 676). positivista. Pelo contrário, é que gran-
Traquina (2012, p. 142) aponta que de parte do jornalismo aparentemente
“[o] uso de citações faz desaparecer a não está ciente da origem do conceito
presença do repórter”. As problemáticas da e dos problemas ligados ao seu uso
Por fim, apresentar a notícia em objetividade tradicional”.
uma certa ordem também é entendido Compreendidas as formas de apli- Dentro dessa dualidade, é interes-
como uma prática manifestação de ob- cação do preceito de objetividade aos sante abordar a defesa da objetivida-
jetividade. Seria a construção do lead, produtos jornalísticos, percebe-se, de proposta por Ryan (2001), quando
afirma que as críticas, de maneira ge- Uma vez que o mundo nos oferece às fontes de informação que devem ter
ral, são infundadas em razão de não infinitos fatos, que não podem ser prioridade.
proporem uma definição fechada do abrangidos, uma seleção deles é A apresentação de discursos con-
que é a objetividade. É nesse senti- sempre necessária. Esta seleção flitantes é fonte de crítica também.
do que fala Gauthier (1993, citado é necessariamente realizada por Para Muñoz-Torres (2012, p. 576,
em Muñoz-Torres, 2012, p. 568): “A alguém, de um ponto de vista espe- tradução nossa), essa prática pode ser
ideia que é rejeitada não é uma noção cífico, em relação a alguns valores útil, quando não há “provas suficien-
clara e facilmente identificável, mas e em vista de alguns objetivos. Sem tes disponíveis ou sendo apenas uma
uma intuição vaga: o objeto sob ata- valores e objetivos, todos os fatos questão de mera preferência […] tam-
que nunca é precisamente definido”. seriam iguais e, no final, irrele- bém é verdade que o princípio de sem-
Vê-se aqui, de forma irônica inclusi- vante. (Muñoz-Torres, 2012, p. pre apresentar opiniões opostas como
ve, que o próprio conceito de obje- 579, tradução nossa) igualmente válidas equivale a declarar
tividade é passível de compreensão implicitamente que todas as opiniões
como subjetivo. Uma forte crítica toca nas cons- possuem o mesmo valor”.
Muñoz-Torres ressalta a aplicação truções sociais as quais os membros De acordo com Friedman (1998,
de nuances ao avaliar a objetividade, da sociedade informacional estão su- citado em Ryan, 2001), a ideologia
como se fosse possível ser mais ou jeitos. De acordo com Merrill (1984, da objetividade torna invisível o real
menos objetivo. Para o autor, a razão citado em Ryan, 2001, p. 6, tradução poder da mídia de manter e fortale-
pela qual esta não é uma articulação nossa), “repórteres e editores são con- cer o senso comum. A objetividade
possível é “clara: não estamos falando dicionados por diversos fatores (por faz “parte do aparato ideológico do
de algo que pode ser possível de vá- exemplo, gênero, circunstância, edu- capitalismo. Nessa crítica, esse tra-
rias formas ou graus (como ser sábio), cação) que, quando unidos à necessi- balho ideológico é crucial para ad-
mas de uma impossibilidade absoluta” dade de selecionar histórias e detalhes ministrar o consenso e reforçar a he-
(Muñoz-Torres, 2012, p. 575, tradução para histórias, tornam impossível que gemonia nas democracias liberais”
nossa). eles sejam objetivos”. McNair (2017, (McNair, 2017, p. 1321, tradução
Na hierarquização da informação p. 1320-1) argumenta, no mesmo sen- nossa).
no texto jornalístico, como um dos tido, que os vieses estruturais e in- Haverá, então, para além dos pro-
procedimentos utilizados para atingir conscientes que se encontram enraiza- blemáticos ideais de objetividade, al-
a objetividade, os critérios de valori- dos na prática da objetividade derivam guma articulação que possa sustentar
zação e seleção são considerados, tam- de algumas ideias e pressupostos das um jornalismo ético, social e episte-
bém, manifestações de subjetividade: rotinas jornalísticas, como os relativos mologicamente responsável?

123
Objetividade jornalística e Traquina, 2013), por exemplo, desta- do por Beauvoir (2016, p. 18): “Tudo
a epistemologia feminista ca a instituição dos “valores-notícia”, o que os homens escreveram sobre as
stanpoint critérios de seleção dos fatos a serem mulheres deve ser suspeito, porque
Tendo em vista as críticas que são noticiados, como reflexo de uma estru- eles são, a um tempo, juiz e parte”.
feitas à objetividade apresentadas no tura profunda sobre o funcionamento Aqui, não se faz uma crítica no
tópico anterior, procuramos agora res- da sociedade. Esses critérios são, para sentido de que os jornalistas estão
ponder à questão aí levantada a partir o autor, um mapa cultural do mundo propositadamente sendo sexistas nas
de uma reflexão sobre o impacto para social. suas práticas profissionais. O que está
as mulheres da adoção do preceito re- Neste sentido, é imprescindível em causa é o poder do senso comum e
ferido como norma moral no jornalis- discutir uma perspectiva de gênero o não confrontamento dele – inclusive
mo e da consideração da epistemolo- dentro do jornalismo. A ideologia do pela adoção da objetividade tradicio-
gia feminista standpoint, que faz parte “senso comum”, que inevitavelmen- nal. Nessa discussão, pode enquadrar-
do conjunto das epistemologias que te será replicada nos discursos ditos -se a teoria do standpoint, proposta por
investigam a influência, as hierarquias objetivos, é determinada pela elite – Harding (1991, 1993, 1995, 2006) e
e os interesses de gênero na produção masculina, branca e heterossexual. Hartsock (1981 e 1983), entre outras
de conhecimento. Em causa estão não Essa hierarquização é citada por investigadoras (Hekman, 1997). Ain-
apenas as rotinas, os valores, as práti- Beauvoir (2016, p. 25): da que não aborde o jornalismo, e sim
cas e as premissas da produção do co- a objetividade e o conhecimento no
nhecimento, mas o modo como esses Talvez seja impossível tratar âmbito da ciência, o ponto de vista de-
elementos podem ser (re)feitos para qualquer problema humano sem fendido por estas teóricas é bastante
desfazer a opressão. preconceito: a própria maneira de relevante no escopo da profissão, como
Como vimos, são vários os teóri- abordar as questões, as perspec- refere Linda Steiner. A autora (2018)
cos que defendem que a objetividade tivas adotadas pressupõem uma mostra como a teoria standpoint pode
é impossível. Autores como Merrill hierarquia de interesses: toda ser posta em prática no jornalismo.
(1984) e McNair (2017), já citados, qualidade envolve valores. Não Ela realça que a epistemologia femi-
entendem que há um condicionamento há descrição, dita objetiva, que nista standpoint (EFS)
dos membros da sociedade de acordo não se erga sobre um fundo ético.
com sua localização e situação social, coloca em primeiro plano a expe-
além de uma ideia de “consenso” ou Há impacto disso sobre o conheci- riência em vez de pretender elimi-
senso comum, que é comandada pe- mento gerado sobre as mulheres – é o ná-la. Abraça afirmativamente a
los poderosos. Hall (1984, citado em que indica Poulain de la Barre, cita- particularidade, em contraste
com os relatos universalizadores em geral à “busca de conhecimento” É nesse sentido que Hartsock
dos empiristas, fundamentados na que tenha por base a ideia de que as (1983 citada em Heckman, 1997, p.
ilusão de um sujeito universal. A formas pelas quais os corpos de co- 343, tradução nossa) destaca a im-
EFS explora os diferentes recursos nhecimento são socialmente situados portância de um ponto de vista femi-
de distintos de grupos de diferentes e concretizados tanto limitam como nista na produção de conhecimento:
localidades para produzir projetos possibilitam o que se pode conhecer. “o grupo dominante [...] na socieda-
de conhecimento mais críticos e É importante realçar que, para de rotulará suas perspectivas como
reflexivos. Entende que todos os Harding (1993), nem o standpoint ‘reais’ e rejeitará outras definições.
métodos, incluindo os que afirmam está, em si mesmo, isento de escrutí- [...] embora a percepção da realida-
ser apolíticos são políticos; é cons- nio, nem as mulheres têm acesso au- de do grupo dominante seja ‘parcial e
ciente da desigual distribuição e tomaticamente a algum tipo unitário perversa’, a do oprimido não é”. As-
funcionamento de poder. (Steiner, de ponto de vista das mulheres – não sim, entende-se que o ponto de vista
2018, p. 1855) sendo esse ponto de vista sequer um da mulher poderia ser emancipatório,
ideal. Harding, com efeito, repudia- por fazer parte de um grupo social
A teoria do standpoint “define o va qualquer celebração acrítica de oprimido. Esse standpoint feminis-
conhecimento como particular e não estilos cognitivos supostamente femi- ta precisa ser alcançado através de
universal; abandona o observador ninos. Antes, a ideia é que iniciar o trabalho, reflexão e compreensão da
neutro da epistemologia modernista; processo de pensamento e de conhe- teoria feminista – nem todas as mu-
define os sujeitos construídos por for- cimento a partir da vida de pessoas e lheres, apenas por serem mulheres,
ças relacionais como transcendentes” grupos marginalizados induz a fazer teriam essa visão libertadora, de fato,
(Hekman, 1997, p. 356, tradução nos- perguntas mais críticas e revela mais e sabemos como, por vezes, é difícil
sa). Defende, ainda, a ideia de um co- dos pressupostos não examinados que para as próprias mulheres liberta-
nhecimento que é localizado social e influenciam os contextos de busca de rem-se do status quo.
geograficamente, ou seja, parte de um conhecimento; portanto, é mais prová- A mudança proposta é a definição
ponto de vista específico, que será di- vel que produza conhecimento mais do ponto de vista feminista como co-
ferente conforme as experiências da- útil em geral. Incluir as perspetivas nhecimento situado e engajado, “como
quela pessoa ou daquele grupo social. da vida quotidiana das mulheres é um lugar a partir do qual as feministas
Embora tenha sido usada principal- “preferível” ao conhecimento cien- podem articular um discurso contra-
mente para criticar a ciência e a me- tífico gerado de modo supostamente -hegemônico e defender uma socieda-
dicina ocidentais, os seus argumentos objetivo mas localizados em grupos de menos repressiva” (Hekman, 1997,
centrais podem ser aplicados mais dominantes. p. 363, tradução nossa).

125
No jornalismo, o conhecimento dos artigos, em média. Os países com questionadas em nome de uma su-
que é gerado é tendencialmente consi- maiores índices de disparidade, ainda posta e transparente objetividade. No
derado neutro, imparcial ou objetivo. de acordo com o mesmo estudo, são a entanto, os/as jornalistas, tal como os/
Uma consideração de que e como pro- Alemanha, onde somente 16% das no- as cientistas, têm corpo, mesmo que
duz, no entanto, permite, desde logo, tícias analisadas eram produzidas por reivindiquem não o ter.
ver como tal ideia é débil. Em termos mulheres, e a Itália, onde 21% eram Para além da presença das mulhe-
de produção, por exemplo, os dados produzidas por mulheres. A nível mais res na produção jornalística, também
continuam a mostrar diferenciais amplo, os resultados do Global Media é pertinente a observação de como
importantes. Monitoring Project de 2015 em 114 as mulheres são notícia, quando isto
Dados do Women’s Media Center países apontam que apenas 37% das acontece. A seleção de fontes, para
(WMC, 2019), por exemplo, referentes notícias são reportadas por mulheres, Ryan (2001), é uma das estratégias
ao gênero no jornalismo estaduniden- em média. sistemáticas utilizadas para obter um
se, apontam que as mulheres ainda Em Portugal, Subtil aponta que resultado imparcial ou objetivo nos
são minoria na produção de conteúdo a feminização do jornalismo se pode produtos jornalísticos, uma vez que
jornalístico, especialmente nas televi- descrever como um processo dinâ- seguiria normas da profissão. No en-
sões e nas agências de notícias. Elas mico, mas ainda incompleto (Subtil, tanto, conforme a mesma pesquisa
são apenas 37% dos apresentadores 2009). Mais em geral, no entanto, citada anteriormente (WACC, 2015),
e correspondentes de programas de uma compreensão das questões de gê- somente 19% dos especialistas apre-
televisão transmitidos em horário no- nero no jornalismo passa por ir além sentados em reportagens são do gêne-
bre, responsáveis por apenas 31% das da mera “contagem dos corpos” (De ro feminino. Em todos os tópicos de
matérias publicadas por agências de Bruin, 2000, p. 224). Com efeito, e notícias, as mulheres são sub-repre-
notícias, 40% das matérias publica- ainda que as mulheres jornalistas es- sentadas, sendo a categoria com me-
das em meios online e 41%, em meios tejam entrando na profissão em núme- nor representação a de “Política e Go-
impressos. ro cada vez mais próximo da paridade verno”, com apenas 16% de mulheres.
Na Europa, de acordo com levan- numérica, as decisões jornalísticas e Além disso, são poucas as cober-
tamento realizado em onze países pelo as lógicas midiáticas continuam a pro- turas feitas que desafiam estereótipos
European Journalism Observatory , 1
duzir um jornalismo maioritariamente de gênero (4%), que destacam de-
as mulheres assinavam apenas 23% masculino, em que as rotinas implan- sigualdades de gênero (9%) ou que
tadas, os valores que se atribuem aos mencionam políticas para igualdade
1  Disponível em https://pt.ejo.ch/investigacao/
acontecimentos e as prioridades re- ou instrumentos legais de direitos hu-
onde-estao-as-mulheres-jornalistas-nos-
media-europeus. lativas às fontes continuam a não ser manos e das mulheres (9%) (WACC,
2015). Ou seja, a partir destes dados, 2005, 301) pode ser o reverso da mes- de uma sociedade menos repressiva,
é possível verificar que se trata de uma ma moeda. como defende Hekman (1997), citada
prática desigual. É necessário que este novo modo anteriormente, seja ampla e acessível.
O jornalismo dito objetivo não está de questionar e reportar o mundo a O jornalismo, como a ciência, deve
observando o mundo do ponto de vista partir da diferença, da particularida- atender ao valor da diversidade cogni-
das próprias desigualdades. Também de, da reflexividade de quem questio- tiva, experiencial e institucional.
aqui os ensinamentos da epistemolo- na e reporta o nosso quotidiano seja O atual modelo de objetividade,
gia standpoint nos podem ajudar: se a adotado como uma norma moral, e criticado praticamente desde sua ado-
vida das mulheres se constituir como apela-se para que seja sensível às de- ção no jornalismo, é uma idealização
ponto de partida para criticar as rei- sigualdades sociais vigentes e ainda sem correspondência prática. Para as
vindicações científicas dominantes, reforçadas pelo próprio jornalismo. mulheres e demais grupos oprimidos,
por exemplo, tal pode sugerir novos a forma como ele é exercido também
ângulos, novas perguntas e diminuir não é benéfica. Assim, novas possi-
as distorções tanto da ciência, como Considerações finais bilidades éticas precisam ser discuti-
do jornalismo (Steiner, 2018). É comum opor-se a subjetividade das, dentro de um ideal de qualidade
As exigências de objetividade e à objetividade. No jornalismo, como do jornalismo. Stoker (1995), Ward
desapego continuam, por outro lado, a refere Wien (2006, p. 5), “o problema (2004) e Harding (1991, 1993, 1995,
ter consequências particulares para as é que o jornalista deve escolher o con- 2006) propuseram novos caminhos
mulheres jornalistas, cujas identida- texto no qual colocar os fatos. E essa para além da ideia de objetividade
des de gênero parecem estar em desa- escolha é sua própria escolha subje- tradicional, mas a mudança é lenta.
cordo com uma noção de objetividade tiva”. Com efeito, uma das lições da As reflexões e críticas ao preceito
(Van Zoonen, 1998, p. 45). Tal noção epistemologia feminista standpoint é de objetividade como central ao jor-
mina as suas experiências pessoais, que a produção de conhecimento in- nalismo, como visto anteriormente,
para que elas se possam tornar pro- clui o contexto de descoberta e sub- datam desde o período de adoção des-
fissionais respeitadas, uma estratégia jetividade. Pontuamos, desse modo, a sa prática (Schudson, 2001). O jorna-
que fica refletida na tentativa de ado- importância de um ponto de vista fe- lismo passa, hoje, por um complicado
tar traços mais masculinos no campo minista ou com perspectiva de gênero momento de redescoberta e ressignifi-
para ter mais sucesso. A ostracização no jornalismo. Tal não deve restringir- cação, com a crescente conectividade
sentida por muitas mulheres que se -se a um âmbito ativista ou militante, e as redes sociais, a desinformação e
atrevem a desviar-se do gênero social para que a construção de um poderoso a pós verdade, uma crise de confiança
e até dos códigos linguísticos (Mahtani discurso contra-hegemônico e a defesa por parte da audiência e, diretamen-

127
te relacionado à última, uma crise É necessário remover a ideia de ética no jornalismo (Camponez, 2014)
financeira. objetividade para que o jornalismo como as quais necessitamos de nos
É necessário repensar as práticas observe e relate o mundo a partir do engajar e considerar. É certamente um
para que o novo jornalismo, por forma lugar das mulheres, a fim de reduzir tópico que merece maior aprofunda-
a combater, por exemplo, a desinfor- as desigualdades entre os gêneros? mento, dentro de uma pesquisa mais
mação, seja mais responsável e ético, Será possível inserir uma perspectiva ampla e multidisciplinar.
não somente dentro das suas práticas feminista dentro da ética jornalísti-
já estabelecidas. Ele precisa realizar ca? Para responder a estas questões
sua função social, conforme identifica- cremos ter encontrado inspiração na REFERÊNCIAS
da por Reginato (2018), de fortalecer a epistemologia feminista standpoint
democracia e apresentar a pluralidade que oferece algumas pistas que nos Amaral, Luiz. (1996). A Objetividade Jor-
da sociedade. Uma democracia não é ajudam a traçar as bases para respon- nalística. Porto Alegre: Sagra.
e não será forte se diferentes grupos, der a estas perguntas. Como refere Beauvoir, S. (2016). O Segundo Sexo: Fa-
nomeadamente masculinos, heterosse- Linda Steiner (2018, p. 1858), esta é tos e mitos (3. ed.). Rio de Janeiro:
xuais e brancos, continuarem a produ- uma base que Nova Fronteira.
zir e / ou definir o conhecimento tido Camponez, C. (2014). Entre Verdade e
como senso comum. oferece uma abordagem realis- Respeito – Por Uma Ética do Cui-
Os padrões e as desigualdades ta, prática, uma descrição não dado no Jornalismo. Comunicação e
sociais, mantidos pelo sistema capi- hipócrita de como entender o co- Sociedade, 25, 110-123.
talista e, não por acaso, patriarcal, nhecimento como socialmente si- D’Ancona, M. (2017) Post-Truth: The new
influenciam fortemente, como viu-se tuado. Incorporando contextos de war on truth and how to fight back.
no desenvolvimento deste trabalho, a descoberta e justificação, as suas London: EburyPress.
prática jornalística, uma vez que a ob- noções de reflexividade e métodos Demenek, Ben Hur. (2009). Objetividade
jetividade absoluta é, de fato, impossí- constituem um recurso prático para Jornalística: O debate contemporâ-
vel. Com as conquistas dos movimen- jornalistas que trabalham, pro- neo do conceito. Dissertação (Mes-
tos feministas, as mulheres ganharam porcionando uma credibilidade, trado em Fundamentos do Jorna-
e ganham espaço na sociedade, saindo jornalismo ético, social e episte- lismo) – Centro de Comunicação e
da esfera privada a qual ficaram res- mologicamente responsável. Expressão, Universidade Federal de
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submetidas a fortes impactos da cultu- Haverá ainda outras inspirações dido a 1 de outubro de 2019, em:
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A construção Guilherme Teodoro de Lima
Universidade Federal de Mato Grosso.

discursiva do Zeitgeist guilhermeteodorolima@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8037-2565

contemporâneo no Bruno Araújo

jornalismo de moda: Universidade Federal de Mato Grosso | CEIS20/UC.

brrunoaraujo@gmail.com

uma análise de capas ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8288-2718

da revista Elle Brasil https://doi.org/10.14195/2183-6019_10_9

The discursive construction of the contemporary Zeitgeist in fashion journalism:


an analysis of the covers of Elle Brasil magazine
Resumo Abstract
Este artigo tem por objetivo principal ana- This main aim of this paper is to analyze
lisar a construção discursiva do espírito do the discursive construction of the spirit
tempo nas capas da revista de moda Elle of the age in the covers of the fashion
Brasil. Para isso, apresentaremos o con- magazine Elle Brazil. To this end, we will
ceito hegeliano de Zeitgeist, contextuali- present the Hegelian concept of Zeitgeist,
zamos o espírito do tempo contemporâneo, contextualize the spirit of contemporary
a partir da visão da pós-modernidade de time, from the postmodern view of Bauman
Bauman (2006) e Hall (2003) e também (2006) and Hall (2003), and also the cha-
as características do jornalismo de revista racteristics of magazine journalism and
e do jornalismo de moda. O trabalho pre- fashion journalism. This work aimed to
tendeu analisar, principalmente, a cons- analyze the discursive construction that
trução discursiva que expressa, por meio expresses, through different verbal and
de diferentes elementos verbais e imagé- imagistic elements – including clothing –,
ticos – incluindo o vestuário – uma série a series of values embodied
​​ in a spirit of
de valores constitutivos de um espírito do the times that the magazine constructs and
tempo que a revista constrói e compartilha shares with its public. After articulating
com o seu público. Após a articulação the data of the analysis, we can conclude
dos dados da análise, podemos concluir that the magazine Elle Brazil acted as a
que a revista Elle Brasil atuou como uma “voice of resistance” whose speech goes
“voz de resistência” cujo discurso vai na against the tyrannical nature of fashion
contramão da natureza tirânica da moda and against a conservatism that insists
e contra um conservadorismo que insiste on the non-representation of minorities.
na não representação de minorias.
Keywords: discourse; fashion jour-
Palavras-chave: discurso; jornalismo nalism; Elle Brazil; Critical Discourse
de moda; Elle Brasil; Análise Crítica do Analysis; Zeitgeist.
Discurso; Zeitgeist.

131
Introdução los, incluindo a publicação aqui ana- determinados valores em várias de
O presente artigo tem o objetivo lisada. No ano em que se despediu do suas capas. De modo específico, ana-
de entender a construção discursiva público que a acompanhou por trinta lisaremos como a publicação articulou
do Zeitgeist (espírito do tempo) con- anos, Elle se definiu como “[…] irre- estratégias discursivas que criaram
temporâneo em capas da revista Elle verente, ousada e que aposta no novo, certos sentidos em torno de temáticas
Brasil. Termo alemão, trabalhado filo- abordando a moda de forma jovem e como liberdade, igualdade, diversida-
soficamente na obra de Hegel, como inovadora” (Elle, 2018). Uma demons- de ou tecnologia, articuladas com as
discutiremos adiante, o Zeitgeist diz tração desse espírito ousado está no especificidades identitárias do sujei-
respeito ao conjunto de valores que fato de ter sido a primeira revista de to pós-moderno. Assim, discutiremos
constituem o clima sociocultural de moda editada no Brasil a trazer mo- inicialmente, o conceito de Zeitgeist,
uma determinada época. Neste traba- delos transsexuais na capa. Na edição revisitando a concepção teorizada por
lho, o conceito aparece como operador de dezembro de 2011, por exemplo, Hegel, em sua Filosofia da História.
teórico importante que guiará o nosso Lea T., famosa modelo transsexual Em seguida, recorreremos a estudos
olhar na análise do trabalho desen- brasileira, apareceu trajando um ves- de dois autores de inspiração pós-
volvido pela revista no tratamento de tido da Givenchy, marca para qual já -moderna, Zygmunt Bauman (2003)
temas com apelo à liberdade, igualda- havia desfilado em diversas ocasiões. e Stuart Hall (2006) – este mais deci-
de, diversidade e representatividade. Com efeito, em seus dois últimos anos, sivo para os estudos da comunicação
Lançada pela Editora Abril em maio principalmente, Elle Brasil tomou – para fazer alguns apontamentos a
de 1988, Elle Brasil foi o primeiro veí- parte em pautas sociais relevantes, respeito do espírito do tempo contem-
culo de moda brasileiro a tratar de as- como direito das mulheres e equidade porâneo, a partir de uma discussão
suntos como feminismo, diversidade, de gêneros e raças. Assim, segundo o sobre a identidade na era da pós-mo-
identidade de gênero e tecnologia, tor- seu mídia kit, “Elle é considerada no dernidade. É neste contexto temporal
nando-se objeto de estudo para aque- Brasil como a revista de moda mais e nesta concepção epistemológica que
les que se interessam pela análise do engajada” (Elle, 2018, p. 9). buscaremos os elementos teóricos para
jornalismo de moda como operador Encarando a moda como estrutura compreender a proposta de Zeitgeist
discursivo de articulação de sentidos de projeção de sentidos que ajudam a inscrita nas páginas de Elle Brasil.
sobre o mundo. modelar a nossa visão de mundo, este Para contextualizar o nosso objeto
Em agosto de 2018, a revista che- estudo buscará compreender de que de estudo, dedicaremos espaço a uma
gou ao fim, depois que a Editora Abril forma a revista Elle Brasil construiu contextualização do jornalismo de re-
declarou falência, levando ao fecha- discursivamente um tipo de espírito vista e do jornalismo de moda, articu-
mento da maior parte dos seus veícu- do tempo por meio da exploração de lando algumas de suas características
principais. Metodologicamente, a fruto da conjuntura daquele momento” sível verificar que, em um determina-
análise se apropriará de ferramentas (Araújo, 2015, p. 16). A tradução para do grupo social e momento histórico,
da Análise Crítica do Discurso, em o português, então, ficou como “espíri- existem muitos fatores em comum. O
particular dos estudos de Norman to da época” ou “espírito do tempo”. O Zeitgeist pode ser percebido, portanto,
Fairclough (2001), o qual nos permite Zeitgeist é, portanto, o conjunto do cli- como “força unificadora que vem do
observar a revista como um tipo es- ma intelectual e cultural de um povo contexto e impulsiona a sociedade a
pecífico de discurso dentro do qual o em uma determinada época. O espírito tomar determinadas atitudes” (Araú-
espírito do tempo se constitui. do tempo será conceituado neste tra- jo, 2015, p. 17). Para Hegel (1999),
Entre as razões que justificam a balho com base em Hegel (1999), uma o espírito do tempo é o que define os
realização desta reflexão, estão o nos- vez que o conceito ganhou notoriedade rumos da história: ele encaminha o
so interesse particular pelo jornalismo através de seu livro Filosofia da His- presente para uma determinada dire-
de moda, bem como a autodefinição tória. Na concepção hegeliana, tudo ção, agindo assim sobre o futuro. Este
da revista Elle Brasil como ousada e interfere na atmosfera de uma época: fenômeno ocorre desde as pequenas
o seu engajamento na participação de economia, religião, ideologias, tecno- coisas do quotidiano, como a cor em
debates sensíveis da sociedade brasi- logia, tradições, cultura e saberes car- voga na estação, até as grandes desco-
leira. Com isso, o estudo espera con- regados até aquele devido momento. É bertas, interesses e revoluções históri-
tribuir para perceber como as marcas a união entre o passado de um povo cas, como a Revolução Francesa ou a
identitárias que a revista reivindica com o novo contexto de um tempo que Primavera Árabe1.
para si se materializam na sua prática gera um clima social único daquela Dessa forma, são as mudanças
editorial, em particular no espaço da época e daquele grupo. Tanto o saber conjunturais que alteram o espírito
capa. coletivo desenvolvido ao longo da his- do tempo: se uma sociedade se trans-
tória (tradições, saberes, culturas etc.) forma com grande velocidade, o Zei-
quanto o contexto vigente são comuns tgeist tende a acompanhar o mesmo
O que é Zeitgeist? à sociedade. O Zeitgeist é essa atmos- ritmo. Neste sentido, é a constância do
O termo alemão Zeitgeist é resul- fera compartilhada: a união entre o contexto que o mantém inalterável. O
tado da união de duas palavras: Zeit, passado e o presente. espírito do tempo, portanto, é o fruto
que significa tempo, época ou curso de Sendo assim, é possível que duas
eventos, e Geist, que significa espírito, pessoas que não se conhecem tendam
1  Primavera Árabe foi o nome dado à onda de
essência ou alma. Esta união pressu- a possuir uma visão de mundo similar. protestos, revoltas e revoluções populares
contra os governos árabes (principalmente
põe que “uma época possui uma alma, Mesmo sem que haja um contato dire-
no Oriente Médio e no norte da África) que
uma essência própria e única que é to entre esses dois indivíduos, é pos- eclodiu em 2011.

133
do tempo no qual ele se insere: é da si- que é certo e o que é errado, orientan- e as relações entre eles e as institui-
tuação vigente que ele se alimenta e é do, assim, o comportamento humano. ções não têm mais uma forma rígida
sobre ela que ele atua. O Zeitgeist atua Por isso, o modo de encarar a reali- e duradoura. Tudo está em constante
no tempo presente, sendo alimentado dade das pessoas num grupo social transformação, com mudanças rápidas
por tal período e, ao mesmo tempo, específico possui um enorme grau de e nada é feito para durar. Ainda segun-
intervindo sobre ele. Ele é como uma semelhança. Nesse sentido, pode-se do o autor, a velocidade das mudanças
nuvem que se forma com o vapor de afirmar que o espírito do tempo do sé- e o caráter efêmero das relações so-
água que está na superfície e precipita culo XXI surge como uma tentativa de ciais são justamente uma característi-
sobre essa mesma superfície da qual substituição do pensamento ou do cli- ca importante da modernidade líquida
obteve umidade, molhando inclusive ma cultural de épocas pretéritas, como em que nos encontramos. Para Bau-
onde antes estava seco. veremos adiante. man (2003), outra característica desse
Segundo Hegel (1999), “essa to- momento histórico é a capacidade de
talidade temporal é uma essência, o “derreter” as estruturas recebidas e
espírito do tempo. Os indivíduos per- O Zeitgeist do 21 quebrar as tradições que antes vigora-
tencem a ele; cada um é o filho de seu Segundo Zygmunt Bauman (2003), vam na sociedade.
povo e, igualmente, filho de seu tempo vivemos atualmente em uma socie- É sobre esta modernidade que
[…]” (Hegel, 1999, p. 50). Segundo o dade líquida. Essa liquidez proposta Stuart Hall (2006) também escreve.
entendimento hegeliano, ser filho de pelo autor vem do fato de que os lí- Segundo Hall, até o século XX, tínha-
um povo é compartilhar da cultura, quidos não têm uma forma, são fluidos mos uma sociedade moderna sólida
das tradições e, principalmente, do que se moldam conforme o recipiente por conta das paisagens culturais de
imaginário coletivo. Ao dizer que so- nos quais estão contidos, diferente- classe, gênero, sexualidade, etnia,
mos filhos de um povo, deve-se levar mente dos sólidos, que são rígidos e raça e nacionalidade que forneciam
em consideração o fato de que nasce- precisam sofrer uma tensão de forças sólidas localizações como indivíduo
mos e nos desenvolvemos dentro de para moldar-se a novas formas. Os ele- social. Ao final daquele tempo essas
uma cultura, com saberes e padrões de mentos líquidos movem-se com mais paisagens culturais começaram a se
comportamento pré-estabelecidos. So- facilidade, fluem, escorrem entre os fragmentar e a se modificar, transfor-
mos ensinados com base neste modelo dedos, transbordam, vazam, preen- mando também as identidades pes-
social, que possui variações de locais chem vazios com leveza e fluidez e, soais. Para o autor (2006), essas alte-
e de períodos. muitas vezes, não são facilmente con- rações abalaram a ideia que temos de
Existe uma padronização imposta tidos. Para Bauman (2003), vivemos nós mesmos como sujeitos integrados.
pelo grupo social, onde se aprende o numa sociedade em que os indivíduos Essa perda de um “sentido de si mes-
mo” é denominada pelo autor como fragmentam e com elas, e a partir de- construção de uma história conscien-
deslocamento ou descentração da las, também o sujeito. te na qual caibam todas as identifica-
identidade do sujeito, que teria pas- Essa liquidez metafórica que per- ções possíveis e constitutivas de ser
sado a ter não mais uma identidade mite compreender a sociedade e tam- de um indivíduo.
única e sedimentada, mas uma série bém a crise de identidade do sujei- Nessa perspectiva, partimos da
de identificações. Essa peculiaridade to contemporâneo abre espaço para ideia de que o jornalismo de moda
do nosso tempo logo instaurou o que a discussão de assuntos que antes pode atuar como especialização jor-
Hall chamou de crise de identidade do eram ignorados: a liberdade do sujei- nalística de extrema importância na
sujeito pós-moderno. to, igualdade de gênero, sexualidade veiculação e legitimação de costumes,
Para Hall (2006), o sujeito pós- e identidade de gênero, quebra de valores estéticos e hábitos que apon-
-moderno é aquele que possui uma padrões estéticos etc. Apesar de ain- tem para a construção de um tipo de
identidade móvel, formada e trans- da não ser maioria, vários aspectos espírito do tempo mais sintonizado
formada continuamente em relação contribuíram para uma maior abertu- com a quadra histórica em que nos en-
às formas pelas quais somos repre- ra do pensamento da sociedade con- contramos, como a revista Elle Brasil
sentados ou interpretados nos siste- temporânea. Hoje, as militâncias de parece fazer. De igual modo, o jorna-
mas que nos rodeiam (a sociedade setores da sociedade antes margina- lismo de revista, ao estabelecer um
líquida de Bauman). Ainda segundo lizados impõem a ideia de que o pen- contrato de leitura específico com o
o autor, a globalização é um dos fa- samento não seja mais sustentado em leitor, transfigura-se em enunciador de
tores ligados ao caráter de mudança ideologias pragmáticas, defendendo a um tipo de discurso que pode instituir
da modernidade. As sociedades mo- necessidade de fabricar uma realida- certas “verdades” partilhadas social-
dernas são constituídas em mudanças de que se ajuste a todos os corpos mente. Por essa razão, Scalzo (2014)
constantes, rápidas e permanentes, e (independentemente de cor, gênero, argumenta que, nas revistas, estão “os
isto as diferencia das sociedades tra- sexualidade, religião, peso etc.). É hábitos, as modas, os personagens de
dicionais. Essas transformações li- possível, no século XXI, discutir e cada período, os assuntos que mobi-
bertam os indivíduos de seus apoios quebrar ideais segregadores e pre- lizaram grupos de pessoas” (Scalzo,
estáveis nas tradições e nas estrutu- conceituosos que antes dominavam a 2014, p. 16). Assim, se o discurso pre-
ras. A concepção de descentração do sociedade. O Movimento Feminista, sente no jornalismo de revista constrói
sujeito ganha sentido, dessa forma, o Movimento Negro e a Comunidade sentidos sobre o mundo de forma len-
porque diante dos intensos fluxos LGBTQI+, cada um a sua maneira, ta, reiterada, fragmentada e emocio-
produzidos/introduzidos nas paisa- ajudam a moldar um novo jogo social, nal, como sustenta a autora, trata-se
gens culturais, estas se pluralizam/ um projeto democrático que visa a de um terreno discursivo profícuo para

135
a construção do que Hegel chamou de eventos que interessam ao indivíduo. ciona em um lugar repleto de sentidos:
espírito do tempo, como veremos. Nas revistas, o presente é estendido: o “quem sou, o que desejo, como me sa-
atual não é sinônimo de novo, e sim de tisfaço, o que venho fazendo com mi-
contemporâneo . 2
nha vida, como me planejo para o fu-
O jornalismo de revista, Entretanto, o leitor só acredita na- turo, o que julgo importante” (Benetti,
a capa e a moda quilo que lhe é apresentado porque 2013, p. 51). A fidelização do leitor
Para Robert Park (2008 apud Be- existe, entre o meio e o público, um depende da percepção de que aque-
netti, 2013), o jornalismo é uma for- “contrato de comunicação”. Como for- la publicação “foi feita para mim”,
ma de conhecimento que se situa num ma de conhecimento, o jornalismo as- “me entende”, “sabe o que eu quero”
eixo contínuo entre o senso comum senta a legitimidade da sua prática no e “informa sobre o que me importa”.
e a ciência. O jornalismo se move ao valor da credibilidade. Nesse sentido, Esses elementos compõem o contrato
longo deste eixo para falar do mundo, esse é o principal capital simbólico 3
de comunicação firmado com o públi-
estabelecendo-se como lugar de pro- do jornalismo. Este valor é instituído, co-leitor. Assim como Benetti (2013),
dução e circulação de sentidos sobre em grande medida, pela existência de Ali (2009) define o processo de fideli-
a realidade. Dessa maneira, o jornalis- um contrato tácito com os leitores. Não zação como um contrato implícito que
mo possui uma capacidade de estabe- se trata de uma qualidade autoatribuí- o leitor faz com a revista, nos seguintes
lecimento de certos saberes a partir da da, mas conferida e percebida pelo ou- termos: “prometo que se você ler esta
articulação dos seus discursos que se tro. No caso do jornalismo de revista, revista, edição após edição, encontra-
mostram presentes no meio revista. esse contrato possui especificidades. rá à sua disposição que é importante
O primeiro saber identificado por A mais importante é a de proximidade para você e do seu interesse, vai sa-
Márcia Benetti é a definição de con- com seus leitores. ber o que quer saber, e até o que não
temporâneo. Segundo a autora, “é o Ao ler uma revista, o leitor se posi- sabia que precisava” (Ali, 2009, p.
jornalismo quem diz ‘isto é atual’, 32). Ainda segundo a autora, revista
2  Segundo António Fidalgo (2004 apud Be-
‘você precisa saber disso porque isto netti, 2013, p. 46) “atual significa que algo é relacionamento: boas revistas são
é da sua época’, ‘você só estará co- acontece no tempo presente. […] A novidade aquelas que estabelecem um clima de
[…] não é propriamente um conceito tem-
nectado à sua época se obtiver esta poral, mas apenas significa que o sujeito intimidade e amizade, inspiram leal-
informação que estou trazendo’” (Be- não sabia disso. É novo tudo o que o sujeito dade e afeto.
desconhecia e que passa a conhecer”.
netti, 2013, p. 45). Sem dúvidas, o Ao se colocar frente à uma banca
3  Segundo Christa Berger (1998), o capital
jornalismo tem, entre outras funções simbólico é o bem mais caro de um campo, ou livraria, uma pessoa se depara com
aquilo que o distingue diante dos demais
principais, a de oferecer o presente dezenas de publicações. Uma revista
campos e que, intimamente, confere maior
social e reconstruir cotidianamente os ou menor distinção a seus atores. tem cinco segundos para atrair a aten-
ção do leitor potencial. Neste interva- mento importante para a venda. Para ferentes meios. Segundo Flores (2016),
lo, a capa é responsável por transmitir Cath Caldwell e Yolanda Zappaterra o jornalismo sobre moda é aquele que
a identidade da revista, o conteúdo e, (2014), para além de um importante “dá conta dos movimentos acerca do
sobretudo deter, o leitor e convencê-lo recurso de venda, “a capa também fenômeno ou da indústria da moda,
a comprar a edição. Não é por acaso fornece um meio vital de estabelecer a usualmente factuais, com linguagem e
que a capa da revista é considerada mensagem da marca” (Caldwell; & Za- recursos próprios do jornalismo diário
a página mais importante de qual- ppaterra, 2014, p. 41). Trata-se, assim – no sentido de regular ou cotidiano
quer publicação, principalmente para da primeira e mais importante parte da –, além de ser voltado para um públi-
aquelas que dependem da venda em publicação, isso porque é nela que se co mais abrangente” (Flores, 2016, p.
bancas. vão estampado a marca e os valores da 8). Em contrapartida, o jornalismo de
Para Scalzo (2014), “uma boa re- revista. Ainda segundo as autoras, a moda é o jornalismo especializado em
vista precisa de uma capa que a ajude capa deve continuar a vender os valo- moda, com suas peculiaridades e es-
a conquistar leitores e os convença a res da marca mesmo após ser compra- pecificações. Este exige, do jornalista
levá-la para casa […]. Por isso, pre- da na banca. especializado, um considerável grau
cisa ser o resumo irresistível de cada A revista nasceu como meio mono- de conhecimento em áreas afins (arte,
edição, uma espécie de vitrine para temático e continuou assim por muito cinema, comportamento, tendências e
o deleite e a sedução leitor” (Scalzo, tempo. Dessa forma a segmentação, história, por exemplo) de forma a des-
2014, p. 62). A capa, portanto, tem seja por público, seja por assunto, faz vendar e comunicar adequadamente o
uma primeira função, de natureza co- parte da essência do jornalismo de re- universo da moda para um público es-
mercial: vender a revista. vista. Neste tópico do texto focaremos, pecífico. Dessa forma, entende-se que
Para Ali (2009), a capa é um ainda, em uma de suas inúmeras es- o jornalismo de moda, diferentemen-
anúncio, que quando executado cor- pecializações: o jornalismo de moda, te do jornalismo sobre moda, trata de
retamente, leva o leitor a comprar a discussão essencial para enquadramos um conteúdo segmentado e circula em
revista, mas é também, um elemento o nosso objeto de estudo. Para com- veículos com linguagem e característi-
importante para estabelecer sua ima- preender o termo, é necessário uma cas próprias, destinado a um público
gem. Mesmo quando vendida exclusi- primeira distinção entre jornalismo específico. Uma notícia sobre um des-
vamente por assinatura, a capa tem de sobre moda e o jornalismo de moda, file na São Paulo Fashion Week veicu-
“vender” a edição ao leitor e determi- caso da revista Elle Brasil. lada no Jornal Nacional, por exemplo,
nar se o exemplar será aberto imedia- O primeiro pode ser compreendido é caraterizada como jornalismo sobre
tamente, mais tarde ou nunca. como a moda midiatizada, ou seja, a moda, já uma notícia sobre o mesmo
Mas não se trata apenas de um ele- divulgação em massa da moda em di- desfile veiculada na revista Vogue

137
Brasil é definida como jornalismo de O valor editorial das revistas de constitutivos de um discurso. Assim,
moda. moda está em manter o público atua- para o autor, qualquer discurso é,
Segundo Ruth Joffily (1991), a lizado em relação aos lançamentos de ao mesmo tempo, um texto (análise
moda é um fenômeno cultural. Trata- tendências de cada temporada. Mas linguística), uma prática discursiva
-se um dos principais sensores de uma está, também, em realizar uma crítica (análise da produção e interpretação
sociedade: “diz respeito ao estado de buscando critérios estéticos e prag- textual) e um exemplo de prática so-
espírito, aspirações e costumes de máticos . Está em acompanhar, pela
4
cial (análise das circunstâncias insti-
uma população” (Joffily, 1991, p. 9). perspectivada moda, a flutuação dos tucionais e organizacionais do evento
É também uma grande fonte de fatu- comportamentos, a mudança nas cor- comunicativo). Em função da natureza
ramento. Nas mídias impressas, por rentes socioculturais. Em termos ge- do nosso problema de pesquisa – que
exemplo, é o principal atrativo para o rais, a principal função do jornalismo menciona a construção discursiva – e
público feminino em um enorme nú- de moda é o de “adequar o sonho da dos objetivos deste estudo, optamos
mero de publicações. Dessa forma, a moda à realidade da leitora” (Joffily, pelo quadro analítico oferecido pela
moda torna-se uma das principais res- 1991, p. 13). Dentro desta especializa- Análise Crítica do Discurso (ACD),
ponsáveis pela vendagem de revistas. ção encontra-se a revista Elle Brasil, que encontra em Fairclough um dos
Apesar disso, o jornalismo de moda no revista cujas capas compõem o corpus seus nomes mais característicos, para
Brasil é tratado como um “jornalismo deste artigo. a análise das capas da revista Elle
secundário”, tanto no mercado quan- Brasil.
to na Academia. “Em alguns jornais, Para Fairclough (2001), é possí-
a ‘parte’ de moda não recebe o status Metodologia: análise crítica vel distinguir três aspectos dos efeitos
de uma editoria. Permanece como uma do discurso construtivos do discurso. O primeiro
seção, sem especialidade […]” (Joffily, Em seus estudos sobre discurso, deles é que o discurso contribui para a
1991, p. 10, grifo da autora). O cená- Fairclough (2001) sugere que a aná- construção das “identidades sociais”,
rio mapeado por Joffily foi o dos anos lise de qualquer formação discursiva para a “posição do sujeito” e para a
90, quando o jornalismo de moda ain- deve contemplar uma tripla aborda- construção do “eu”. Em segundo lu-
da buscava espaço e reconhecimento. gem que corresponderia aos três eixos gar, o discurso contribui para construir
Atualmente, apesar do conteúdo de as relações sociais entre as pessoas. E
moda ter conquistando maior espaço por fim, o discurso contribui para a
4  “Estéticos, pelo lado criativo e artístico
em todas as plataformas jornalísticas, da criação de moda. Pragmáticos, porque construção de crenças. Esses três as-
a roupa é para ser usada no cotidiano, porque
ainda existe uma discriminação em re- pectos correspondem a três funções da
há períodos em que o consumidor anda de
lação ao tema. bolso vazio” (Joffily, 1991, p. 12-13). linguagem nomeadas respectivamente
por Fairclough (2001, p. 92) como: crita/oral – e consumo – lido/ouvido). serão analisados também imagens e
identitária, relacional e ideacional. A última dimensão de todo discurso é aspectos gráficos. A análise discur-
A função identitária relaciona-se entendida pelo autor como uma prá- siva – segundo nível – é baseada na
aos modos pelos quais as identidades tica social. Aqui Fairclough (2001, produção, distribuição e consumo.
sociais são estabelecidas no discurso; p. 116) procura relacionar os textos É aqui que devemos considerar, por
a função relacional a como as relações com práticas sociais mais amplas. A exemplo, as características do gênero
sociais entre os participantes do dis- proposta é que sejam examinadas as revista e do chamado jornalismo de
curso são representadas e negociadas; conexões em termos de ideologia, po- moda. É uma dimensão que trabalha
por fim, a função ideacional aos mo- lítica e hegemonia. Esse nível pode com a natureza da produção e inter-
dos pelos quais os textos significam implicar uma complexidade maior que pretação textual. Trata-se, portanto, de
o mundo e seus processos, entidades as anteriores, uma vez que depende de uma análise chamada de “interpretati-
e relações (Fairclough, 2001, p. 92). teorias de outros campos de conheci- va”. Por fim, na análise social – tercei-
É a partir deste tripé que Fairclough mento para dar conta de fatos realiza- ro nível analítico – consideram-se as
constitui a concepção tridimensional dos discursivamente. circunstâncias institucionais e orga-
do discurso, que é uma tentativa de Com efeito, a ACD considera esses nizacionais do evento discursivo e de
reunir três tradições analíticas, estas três níveis de análise: textual, discur- que maneira elas moldam a natureza
que são indispensáveis na análise de siva e social. Segundo o autor (2001), da prática social. A questão cultural
discurso. não existe hierarquia entre esses ní- perpassa diretamente a análise social.
A primeira dimensão do discurso, veis, mas uma complementaridade O objetivo é, portanto, especificar a
a prática textual diz respeito à forma analítica. Assim, perante um discur- natureza da prática social da qual a
física do discurso, seja ele apresenta- so, o analista deve considerar tanto prática discursiva é uma parte, cons-
do em palavras ou imagens. Na prática os aspectos materiais do texto, quanto tituindo a base para explicar por que a
discursiva, segunda dimensão, en- as condições de sua produção e as ca- prática discursiva é como é e, também,
volvem-se os processos de produção, racterísticas formais do gênero discur- os efeitos da prática discursiva sobre
distribuição e consumo textual. Essa sivo, bem como as marcas sociais ali a social.
dimensão se realiza por meio das ativi- presentes.
dades sociocognitivas que os enuncia- A análise textual – primeiro nível
dores desempenham no curso de suas de análise – é baseada na tradição da Análise: o zeitgeist nas
interações. Assim, trata-se do funcio- análise linguística. Para este trabalho, capas de elle brasil
namento do discurso e da organização alguns tópicos terão de ser adaptados, Para a análise, foram escolhidas
do processo interativo (produção – es- uma vez que além de analisar texto, quatro capas da revista Elle Brasil,

139
Figura 1 – Capa da edição 331, dezembro de
2015, da Elle Brasil (ano 27, número 12).
Fonte: Site da Elle Brasil.

publicadas entre maio de 2015 e agos- capas que possuem uma ilustração ao É possível visualizar todos estes ele-
to de 2018. Esse recorte temporal foi centro e as chamadas ao redor, a mo- mentos na Figura 1:
escolhido porque a edição 324 (maio delo está posicionada no centro, com Na zona inferior da capa, encontra-
de 2015) teve uma enorme repercus- uma foto em preto e branco e o que -se a única chamada, que está desta-
são por conta do objetivo explícito de mais chama a atenção é o contraste cada, também, em vermelho. Segundo
dar um passo rumo a uma moda mais das faixas vermelhas com ausência de Caldwell e Zappaterra (2014, p. 72), a
inclusiva e plural. Portanto, é a partir cor da fotografia. A modelo, de cabe- extrema vibração do vermelho cria uma
deste período que notamos a constru- ça erguida e com um semblante sério, resposta emocional do leitor, aceleran-
ção de vários sentidos que vão com- olha diretamente para a câmera, com do seus batimentos cardíacos e cha-
por o espírito do tempo proposto pela uma postura firme, que demonstra po- mando sua atenção. Vermelho é tam-
publicação. A discussão dos dados der e independência. Traja um vestido bém a cor do sangue. Em um país onde
das quatro capas se divide em quatro de renda com alguns recortes das late- o machismo estrutural é tão enraizado,
eixos que representam os grandes te- rais. O vestido, que já é curto, é levan- como no Brasil, casos de feminicídio
mas identificados numa análise pre- tado por uma das mãos pela modelo. são noticiados quase diariamente nos
liminar, são eles: 1) feminismo e em- O vestido, apesar de curto e vazado, jornais. Ao permitir essa leitura, a capa
poderamento da mulher; 2) quebra de não é hiperssexualizado e o próprio de Elle evidencia uma nítida relação
padrões estéticos; 3) diversidade; e 4) “movimento” de levantar não é auto- entre a matéria do texto/imagem com
sociopolítica. Para cada eixo temático maticamente convidativo. Nas faixas uma prática social histórica no Bra-
foi escolhida uma capa que melhor re- vermelhas encontra-se a frase “meu sil. Por outro lado, o vermelho é a cor
presenta o discurso construído e com- corpo, minhas regras”. A frase con- que indica “pare”, tanto nos semáforos
partilhado por Elle Brasil. figura uma formação discursiva que quanto nas placas de trânsito. Todas as
diz respeito à emancipação do corpo leituras são aceitáveis e relacionadas,
feminino muito disseminada em redes uma vez que a mensagem principal da
Edição 331: Feminismo e sociais, assim como em protestos do capa é de que, independentemente da
Empoderamento da Mulher Movimento Feminista. O vestido da roupa ou de como a mulher se porte, o
Esta edição (331, dezembro de modelo vai ao encontro da frase, uma seu corpo pertence apenas a ela. “Cor-
2015) de Elle Brasil possui quatro vez que a renda, por ser vazada, incita po”, apesar de não estar em destaque
capas diferentes, todas, entretanto, a sensualidade e a posição da modelo ou numa tipologia maior, é a palavra
com a mesma mensagem principal: o (tanto na postura firme quanto no ato que une a fotografia e a frase. A cha-
empoderamento feminino. Como na de levantar o vestido) mostra que ela é mada inferior apresenta diversos no-
maioria das capas figurativas, isto é, dona de seu corpo e de suas escolhas. mes de escritoras e jornalistas (Juliana
de Faria, Clara Averbuck e Djamila modelo negra, figura central da capa, zado por ser uma posição ocupada por
Ribeiro, por exemplo) que produzem evidencia estes fatos e os coloca em mulheres que seguem padrões de be-
textos sobre o Movimento Feminista discussão. leza europeus: Elle quebra este para-
e o empoderamento feminino. Como digma dando à leitora o poder de estar
explicado anteriormente, esta edição em uma posição que, de qualquer ou-
da Elle Brasil foi publicada com qua- Edição 324: Quebra de tra forma, não conseguiria. As outras
tro capas diferentes. Esta foi escolhi- Padrões Estéticos chamadas presentes na capa também
da por ser a única com uma modelo A primeira característica marcante compartilham a ideia de quebra de pa-
negra. Destaque-se que o Movimento desta capa é a ausência de ilustração. drões estéticos. É a primeira chamada
Feminista engloba todos os “tipos” de
5
A capa é feita de um papel especial da direita a que exerce uma relação
mulheres, independentemente da cor, que imita um espelho, sendo assim, a mais direta com o tema central da capa:
religião, orientação sexual e identida- primeira coisa que o leitor vê ao olhar “Love-se: assuma seu rosto, seu corpo
de de gênero. As mulheres negras, en- para a capa é o seu próprio reflexo. Na e sua idade com orgulho”. Ao olhar-
tretanto, sofrem também com o racis- parte inferior da capa, é possível ler mo-nos no espelho, geralmente, en-
mo, além do machismo, e são muitas “#VocêNaCapa”: a hashtag é uma mar- contramos nossas falhas, nossos defei-
vezes “excluídas” ou pouco lembradas ca discursiva da contemporaneidade tos estéticos e, principalmente, coisas
por parte do movimento. É importante e uma linguagem quase que exclusi- que gostaríamos de mudar ou remover.
destacar que presença de uma modelo va dos meios digitais. Essa chamada Em contrapartida, o espelho proposto
negra não é gratuita: são elas os maio- é muito importante porque é através do discurso da capa de Elle é aquele
res alvos de feminicídios, da crimina- dela que Elle Brasil convinda sua lei- que sugere aceitação: aceitar seus de-
lização do aborto, da violência domés- tora a fazer parte da revista, não mais feitos, assumi-los e, principalmente,
tica, de objetificação e do assédio . A6
como uma espectadora passiva, mas orgulhar-se de ser assim. Eis a men-
como alguém que integra a publicação sagem que o discurso constrói direta-
5  É importante esclarecer que temos ciência
quanto à diversidade de feminismos com e dela faz parte. Não importa seu peso, mente, com a mobilização de símbolos
suas demandas e estratégias distintas. sua cor, seu gênero, sua orientação que só fazem sentido, para voltarmos a
6  HAJE, Lara. Mulheres negras são as sexual, sua religião, qualquer um, ao Fairclough (2001), pela relação direta
mais atingidas pelo feminicídio e pela
criminalização do aborto. Acedido a 19 olhar para a capa da edição 324, pode entre os aspectos linguísticos com o
de março de 2019, em <https://www2.
ser capa de uma revista de moda. A plano social do discurso. As palavras
camara.leg.br/camaranoticias/noticias/
DIREITOS -HUMANOS/5656 86 -MUL- Figura 2 ilustra a capa: “assuma” e “orgulho”, presentes na
HERES-NEGRAS-SAO-AS-MAIS-ATIN
Este local, a capa de uma revista chamada, sugerem a aceitação de seus
GIDAS-PELO-FEMINICIDIO-E-PELA-
CRIMINALIZACAO-DO-ABORTO.html> de moda, sempre foi muito estigmati- defeitos estéticos (sejam eles no rosto,

141
Figura 2 – Capa da edição 324, maio de 2015,
da Elle Brasil (ano 27, número 5).
Fonte: Site da Elle Brasil.

no corpo ou em decorrência da idade). se enquadra nos padrões estéticos flexivo reforça a ideia central da Elle
Etimologicamente, “assumir” significa aceitos pela sociedade e usa sua pla- de que os padrões de beleza em vigor
“tomar para si”, “apropriar-se”. O que taforma (tv e cinema) e seu peso para na sociedade devem ser revistos e, de
Elle deseja é que sua leitora aproprie- quebrar o paradigma social relativo ao certa forma, quebrados.
-se de suas falhas e que, mesmo com corpo-padrão. Wilson ficou conhecida
elas, consiga ser capa de uma revista pelo papel de Fat Amy (“Amy Gorda”,
de moda. em uma tradução literal), do filme A Edição 355: Diversidade
A chamada seguinte (“Liberte-se: Escolha Perfeita, no qual as piadas Nesta capa, o enunciador investe
menos tendência, mais estilo e atitude sobre sua personagem não eram cen- numa estratégia interdiscursiva, quan-
na moda”) sugere uma independência tradas em seu peso fora dos padrões, do dialoga com outro discurso para
da moda. Elle sugere para as leitoras mas em sua personalidade forte e ex- criar novas significações. No caso em
que parem de seguir as tendências que cêntrica. A atuação de Wilson foi tão análise, trata-se de um diálogo inter-
estão em vigor e que se concentrem memorável que lhe rendeu indica- discursivo com a pintura renascentista
em vestir-se com seu estilo pessoal. A ções a diversos prêmios, dentre eles “O nascimento de Vênus”, de Sandro
moda enquanto sistema é uma suces- o Cristics’ Choice Awards. Jout Jout, Botticelli, como ilustra a Figura 3:
são de tendências que mudam confor- por sua vez, é uma youtuber muito Vênus é a deusa romana do amor
me a temporada. O importante, para conhecida por discutir o feminismo e e da beleza, equivalente a Afrodite,
Elle, é que sua leitora vista-se de acor- o empoderamento feminino. Ganhou deusa grega. Representou, tanto para
do com sua personalidade (por isso o notoriedade com um vídeo chamado os romanos quanto para os gregos, o
uso da palavra “atitude”) e não apenas “Não tire o batom vermelho”, no qual ideal de beleza feminina. A represen-
siga uma tendência. Essa individuali- discute relacionamentos abusivos. tação de Vênus – e isso é notável na
dade, sugerida pela publicação, tem Jout Jout, assim como Wilson, não se tela de Botticelli – é de uma mulher
relação direta com a aceitação pessoal enquadra nos padrões de beleza acei- jovem, bonita e nua. Vênus é também
sugerida pela chamada anterior. Já a tos pela sociedade. As duas, segundo associada ao erotismo, isso devido ao
terceira chamada (“Divirta-se: Rebel Elle, são exemplos a serem seguidos, seu corpo escultural e com medidas
Wilson e Jout Jout, as mulheres que pois aceitam as suas “falhas” e fazem equilibradas. A deusa representada
estão quebrando a tv e a internet”) delas uma forma de empoderamento. por Botticelli tem a pele branca e pos-
cita exemplos de duas mulheres que A mensagem principal da capa (qual- sui longos cabelos lisos em tom alou-
seguem o “estilo de vida” sugerido quer um pode ser capa de uma revista rado, de acordo com os padrões estéti-
pela capa da Elle. Rebel Wilson é uma de moda) fica muito bem explicitado cos da época, o século XV, e com os da
atriz e comediante australiana que não em todas as chamadas e o papel re- contemporaneidade.
Figura 3 – Capa da edição 355, dezembro de
2017, da Elle Brasil (ano 29, número 12).
Fonte: Site da Elle Brasil.

Já a Vênus de Elle, representada ção que tanto a modelo quanto a prota- áreas. Essa aproximação pode ser vis-
pela modelo Lea T., é negra, possui gonista do livro experienciaram. ta ao fundo, todo feito de tecidos que
cabelos e olhos escuros e, acima de A capa da Elle é, antes de tudo, imitam o fundo oceânico da pintura de
tudo, é uma mulher trans. Com isso, uma reinterpretação da pintura de Botticelli. Os tecidos são a matéria-
a capa da revista exalta a diversida- Botticelli: Lea está na mesma posição -prima da principal fonte de informa-
de das mulheres, recorrendo à leitura e com o mesmo semblante de Vênus. ção das revistas de moda: as roupas.
interdiscursiva de uma pintura que Ao colocar uma modelo trans e negra Recorde-se, por fim, que a discussão
retrata valores e padrões dissemina- na posição e no lugar da deusa grega, sobre o que é arte e os seus limites es-
dos pelo mundo Ocidental ao longo de o enunciador busca quebrar padrões e tava na ordem do dia por conta de uma
séculos, e ainda hoje muito presente até preconceitos, visto que o Brasil é polêmica envolvendo a interação de
entre nós – uma estética padronizada um dos países com mais crimes trans- uma criança com um artista nu em um
para o feminino –, como que propondo fóbicos do mundo e onde se convive museu de São Paulo7. Nesse sentido,
uma releitura daqueles valores, uma com um racismo estrutural histórico. com essa capa, a revista ainda chama
transgressão semântica alinhada ago- Essa capa de Elle, assim como ou- a atenção também para os perigos da
ra com os valores do espírito do tempo tras, reafirma o discurso da revista de censura à arte, discussão que pode ser
contemporâneo expresso e construído diluição ou, pelo menos, de abertura vista na exploração da nudez de Lea,
pela publicação com base, por exem- de padrões estéticos impostos pela assim como em Vênus.
plo, na ideia de diversidade. sociedade, com o surgimento de pa-
A edição ainda estabelece um in- drões alternativos, o que implicaria o
terdiscurso com outro interdiscurso: a surgimento de uma sociedade mais in- Edição 363: Sociopolítica
capa do livro-reportagem O Nascimen- clusiva e diversa. Assim como em ou- Esta edição (363, agosto de 2018)
to de Joicy. Nele, Fabiana Moraes con- tras, esta edição da revista foi lançada de Elle é uma ode à Amazônia, com
ta a história de Joicy, ex-agricultora com 5 capas diferentes, todas foram todas as suas belezas e riquezas natu-
que procura o serviço público de saú- recriações de pinturas famosas, como rais, como ilustra a Figura 4:
de para adequar seu corpo masculino Monalisa e O Grito, o que demonstra
ao feminino, com o qual se identifica. o peso que as estratégias do interdis-
A capa traz como fundo a mesma obra curso e da construção metafórica pos-
7  G1. Interação de criança com artista nu em
de Botticelli recriada por Elle. A me- suem no discurso de Elle. Abaixo da
museu de São Paulo gera polêmica. Ace-
táfora do “nascimento” é forte porque, primeira letra E do logo da revista está dido a 15 de fevereiro 2019, em <https://
g1.globo.com/sao-paulo/noticia/interacao-
assim como Vênus, nasce uma mulher o tema principal: “moda & arte”, uma
de-crianca-com-artista-nu-em-museu-de-
no processo de transição e redesigna- estratégia que visa aproximar as duas sp-gera-polemica.ghtml>

143
Figura 4 – Capa da edição 363, agosto de
2018, da Elle Brasil (ano 30, número 8).
Fonte: Site da Elle Brasil.

A modelo, Cris Lopes, encontra-se vai ao encontro desta mesma exalta- cupação de Elle não é apenas em exal-
em pé, centralizada na capa. É impor- ção: é possível notar, no conjunto de tar a natureza, mas também incentivar
tante destacar as características da blusa e saia, ricos detalhes bordados, a sua conservação: “sustentáveis”.
modelo, que possui traços indígenas provavelmente à mão, da flora ama- Esta edição de Elle encara com
(dentre eles a cor da pele, o tamanho zônica. Todos os elementos da roupa seriedade, enquanto revista de moda,
dos olhos e o formato do nariz) repre- são muito coloridos, contrastando o papel de informar suas leitoras so-
sentando as comunidades que ainda com o tecido preto sobre o qual estão bre os impactos ambientais que a in-
existem e habitam a Floresta Ama- inseridos. Existe, na roupa, uma me- dústria da moda causa. Além disso,
zônica. Os povos nativos sofreram e táfora: o fundo escuro, que remete à a revista informa às leitoras sobre a
ainda sofrem muito preconceito no terra, como base para os desenhos da importância de saber e pesquisar a
Brasil, então, ao colocar uma modelo estampa colorida que o sobrepõe, que procedência dos produtos consumi-
com essas características, o enuncia- remete à vida que emana da terra, uma dos. A “consciência social” deve ser
dor convida a leitora a uma discussão alusão também aos sentidos de preser- destacada porque a indústria da moda
sobre o lugar que aqueles povos ocu- vação de um patrimônio natural, aqui é regularmente condenada pelo uso
pam na sociedade. A representativida- a Amazônia. Todos os elementos ima- de trabalho escravo. Indo além, Elle
de é importante aqui, porque a figura géticos são muito cheios de vida, tanto chama a atenção para os grupos de ris-
do indígena, quando representada, na roupa da modelo quanto no fundo co (como os indígenas, seringueiros,
é carregada de estereótipos que são da foto, demonstrando a nítida inten- ribeirinhos etc.) que são diretamente
transportados por gerações devido, em ção do enunciador de enaltecer as atingidos pela falta de consciência
parte, ao racismo estrutural que está belezas naturais. É visível, também, o ambiental dos produtores. Por isso, a
impregnado na sociedade brasileira seu discurso de preservação ambiental figura com traços indígenas na capa é
desde a colonização europeia. Esta é e, por meio ambiente, não se entende tão importante como elemento social
a única capa em que a ambientação é apenas a flora e a fauna, mas também do discurso que remete a leitora para
externa a um estúdio. Como se nota, as pessoas que dele tiram seu sustento uma preocupação com a necessida-
atrás da modelo é possível ver um ou pessoas em situação de risco. Isso de de conscientização da sociedade
vasto rio cuja extensão vai até o hori- fica claro no único texto presente na em geral para o respeito tanto físico
zonte. Ao fundo, enxerga-se uma mata capa: “escolhas responsáveis, proces- quanto cultural dos povos indígenas.
verde e na parte superior-direita, duas sos transparentes, consciência social: É como se o enunciador afirmasse: a
araras voando. O fundo da foto é uma por mais iniciativas sustentáveis na indústria da moda causa diversos im-
clara exaltação à riqueza híbrida, da moda”. Esta chamada exemplifica, por pactos socioambientais (poluição de
fauna e da flora. A roupa da modelo meio do léxico mobilizado, que a preo- rios, devastação ambiental, crueldade
com animais, uso de trabalho escravo dois últimos anos de publicação, pe- tempo proposto nas capas estudadas.
etc.), sendo necessário estar atento a ríodo em que circularam as edições Com isso, a revista estimula uma ação
esses impactos. analisadas neste texto, a revista Elle emancipatória por parte de suas leito-
procurou atuar como uma “voz de re- ras perante padrões e estilos de vida
sistência” cujo discurso vai na con- estabelecidos, propondo, em nosso
Considerações finais tramão de uma natureza tirânica da entendimento, uma visão de esperan-
Como vimos, Elle Brasil sempre se moda, o qual tende a impor padrões de ça quanto à possibilidade de vivermos
considerou uma revista de moda van- beleza quer pelo modo como apresen- uma sociedade mais justa e igualitária.
guardista e engajada. A publicação ta suas modelos, quer pela forma como O Zeitgeist construído e defendido
defende ter sido a primeira especiali- constrói tendências associadas ao por Elle Brasil em suas capas é, tam-
zada em moda a discutir assuntos im- vestuário. Da mesma maneira, defen- bém, o da resistência perante um con-
portantes, de cunho social e político, demos que Elle busca romper com a servadorismo que insiste em defender
como o direito das mulheres e a equi- tirania da moda porque estimula suas a não representação das minorias. De
dade de gênero e raças. No editorial/ leitoras a se vestirem de acordo com fato, é importante dar destaque, como
carta do editor de sua primeira edição, personalidade e estilos próprios, em na edição 331, ao corpo negro femi-
veiculada em maio de 1988, é possí- vez de seguirem padrões estritos que nino, que sofre diariamente com o fe-
vel perceber que essa noção de en- tendem a ser veiculados em diversas minicídio, com a objetificação e com
gajamento está muito presente: “Elle publicações especializadas em moda. o assédio e também ao corpo indígena
apaixonou as mulheres daquele perío- Isso pode ser percebido nas edições que, quando representado, é carregado
do pós-guerra, principalmente por sua analisadas neste estudo: Elle Brasil de estereótipos. Sem dúvida, a cons-
moda democrática, visual dinâmico, incentiva sua leitura a ter orgulho de trução de um discurso preenchido por
feminismo, digamos, soft – apaixonou, quem realmente é, no lugar de seguir sentidos que “resistem”, eles próprios,
enfim, pelo tom otimista num instan- padrões de beleza preexistentes e he- a estruturas vigentes, em particular no
te difícil para toda a Europa” (Elle, gemônicos, isto é, que desconsideram caso brasileiro, transforma a proposta
1988, p. 16). É possível perceber, as- a diversidade dos estilos e das formas do jornalismo de moda praticado por
sim, a ideia de ativismo perpetuado e de vida, em nome de um modelo único. Elle Brasil numa voz importante na
defendido pela publicação, que chega Essa resistência – identificada defesa da construção de um mundo
às bancas com uma mensagem de oti- nos sentidos captados na análise –, que englobe todos os seres e todos os
mismo e esperança por dias melhores. que se insurge contra a dimensão ti- corpos, independentemente de gênero,
A articulação dos dados da aná- rânica da moda, orienta o processo de cor, orientação sexual, afinidade polí-
lise nos leva a concluir que, em seus construção discursiva do espírito do tica, religião, peso etc.

145
Em suma, esperamos ter trazido Benetti, M. (2013). Revista e jornalismo: Hegel, G. W. F (1999). Filosofia da Histó-
elementos que contribuam para avan- conceitos e particularidades. In ria. Brasília: Editora Universidade
çar os estudos da comunicação e do F. Tavares & R. Schwaab, Reges de Brasília.
jornalismo interessados no tema, no (eds.), A Revista e Seu Jornalismo Joffily, R(1991). O Jornalismo e a Produ-
sentido de entender a moda como ins- (pp. 44-57). Porto Alegre: Penso. ção de Moda. Rio de Janeiro: Nova
tância simbólica de representação da Berger, C. (1998). Campos em Confronto – Fronteira.
sociedade, e o discurso jornalístico A terra e o texto. Porto Alegre: Edi- Scalzo, M (2014). Jornalismo de Revista.
sobre ela como potencial espaço de tora da UFRGS. São Paulo: Contexto.
resistência e de projeção de um espí- Caldwell, C., & Zappaterra, Y. (2014). De- Zen, R. (2018). Zeitgeist do 21: A liberda-
rito do tempo mais inclusivo e plural, sign Editorial. São Paulo: Gustavo de fora das fábricas de moer gente.
como aquele proposto nas capas de Gili. Acedido a 7 de janeiro de 2019,
Elle Brasil. Elle Brasil (1988-2018). São Paulo: Abril. em <https://omunicipio.com.br/zei-
Fairclough, N. (2001). Discurso e Mudança tgeist-21-liberdade-fora-das-fabri-
Social. Brasília: Editora Universida- cas-de-moer-gente/>
REFERÊNCIAS de de Brasília.
Flores, A. Marta M. (2016). Jornalismo de
Ali, F. (2009). A Arte de Editar Revistas – Moda: Características da prática no
Um guia para jornalistas, diretores cenário brasileiro. Anais do XXXIX
de redação, diretores de arte, editores Congresso Brasileiro de Ciências da
e estudantes. São Paulo: Companhia Comunicação. São Paulo: Intercom.
Editora Nacional. G1. Interação de criança com artista nu
Araújo, J. M. C. de. (2015). Zeitgeist e em museu de São Paulo gera polê-
Comunicação – Relações, influên- mica. Acedido a 15 de fevereiro em
cias e usos. Tese de doutoramento <https://g1.globo.com/sao-paulo/
defendida no Curso de Publicidade noticia/interacao-de-crianca-com-
e Propaganda, no Departamento de -artista-nu-em-museu-de-sp-gera-
Audiovisuais e Publicidade da Uni- -polemica.ghtml>.
versidade de Brasília, Brasília. Hall, S. (2006). A Identidade Cultural na
Bauman, Z. (2003). Modernidade Líquida. Pós-Modernidade. Rio de Janeiro:
Rio de Janeiro: Zahar. DP&A.
Apoios

UID/HIS/00460/2013

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