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Brasil
Região Sul
autorização do autor.
www.tempoemcasa.com.br
Chegando ao Brasil 1
No Estado do Paraná 6
No Litoral do Paraná 9
No interior do Paraná 19
Santa Catarina 21
Voltando ao litoral 29
Até a próxima! 36
Mapas 37
Estados e Capitais 38
Regiões Brasileiras 39
Relevo 40
Bacia Hidrográficas 41
Clima 42
Biomas 43
Obrigada por adquirir o Viagem pelo Brasil! Estou muito feliz em compartilhar com
você este material!
Eu sou Anna Coutinho, mãe de 3 filhos (10, 7 e 4 anos). Fazemos homeschooling desde
2015 e tenho um perfil no Instragram onde compartilho nossa rotina de estudos, experiências e
desafios.
Este material foi desenvolvido para que meus filhos pudessem ter contato com a
geografia brasileira de maneira viva! Para isso, pedi para minha mãe - que trabalhou muitos
anos com roteiros turísticos, ama ler e viajar e escreve muito bem - criar uma história com aguns
conteúdos específicos que eu gostaria de apresentar para meus filhos neste ano. Então, essa
história foi criada por uma avó para seus netos com muito carinho!
O conteúdo se trata da geografia física do Brasil, sendo que em cada uma das 5 regiões
brasileiras a criança será apresentada a conceitos e classificações importantes como relevos,
biomas, bacias hidrográficas e climas.
Espero que seja uma divertida viagem para seus filhos também!
Um abraço,
Anna
@tempo_em_casa
Chegando ao Brasil
Quando abri minha caixa de correio eletrônico naquela manhã, havia um e-mail
de minha amiga Adrienne. Ela é francesa e mora em Paris. No seu e-mail, Adrienne me
dizia que, aproveitando seu período de férias, estava aceitando meu convite e viria
conhecer o Brasil.
Ela estava animadíssima com a viagem. Afinal, já tinha ouvido tantas coisas a
respeito desse enorme país. Ela já sabia que o Brasil é o quinto maior país do mundo
em extensão territorial1, menor apenas que Rússia, Canadá, China e Estados Unidos,
nessa ordem. Se pensarmos em extensão territorial contínua, então seríamos o quarto
do mundo, à frente dos Estados Unidos, que só são maiores porque contam com seus
territórios que estão espalhados como o Alasca e as ilhas do Havaí e Porto Rico, no
Caribe. No Hemisfério Sul somos imbatíveis! O maior de todos! Só na América do Sul,
onde estamos localizados, ocupamos quase metade do território (47,3%).
Não admira que Adrienne estivesse curiosíssima para conhecer meu país. São
números impressionantes para uma francesa, pois a França caberia inteirinha dentro
de apenas um dos estados brasileiros, a Bahia, por exemplo.
Era a primeira vez que Adrienne também visitava a América do Sul, a parte do
continente americano que fica quase totalmente no Hemisfério Sul. E ela estava ansiosa
1
Fonte: CIA World Factbook
para ver o Cruzeiro do Sul, uma constelação que só pode ser vista nos céus da parte de
baixo do planeta, no Hemisfério Sul2.
Adrienne chegou ao Brasil cheia de casacos e ficou surpresa com o calor. Como
estamos no Hemisfério Sul, era início do verão. Ao contrário, no Hemisfério Norte,
onde está a França, era inverno.
Com um país tão grande, as distâncias são longas e havíamos decidido que, pelo
menos nessa viagem, iríamos explorar a Região Sul do Brasil. Tive que explicar para
Adrienne que o Brasil é dividido em 5 regiões: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e
Norte.
2
O Cruzeiro do Sul é a menor (a que ocupa uma menor área no céu), de todas as 88 constelações. Antigamente o
Cruzeiro do Sul fazia parte da constelação do Centauro (que hoje o envolve). No século XVI, porém, com um maior
fluxo europeu ao hemisfério sul, o Cruzeiro do Sul foi separado de Centauro, passando a ser considerado uma
constelação própria; devido à disposição característica e brilho intenso de suas mais brilhantes estrelas.
Fonte: http://www.observatorio.ufmg.br/pas29.htm
A região Nordeste tem nove estados e minha amiga também já tinha ouvido
sobre o clima de eterno verão e as praias paradisíacas do Nordeste.
A região Centro-Oeste tem três estados e é aqui que também está o Distrito
Federal, onde fica a capital do Brasil, Brasília. Quando falei que é no Centro-Oeste que
fica o Pantanal, Adrienne arregalou os olhos de felicidade.
A região Sudeste tem apenas quatro estados, mas é a mais rica e a mais
populosa de todas. Aqui também ficam as duas maiores metrópoles brasileiras: a
cidade de São Paulo e a cidade do Rio de Janeiro.
Mas nessa viagem, Adrienne conheceria a menor das regiões, a Sul, composta
por três estados: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Apesar de ser a menor
(ocupa menos de 7% do território nacional), é a segunda mais rica (depois da região
Sudeste) e é a que possui a maior taxa de alfabetização e os melhores níveis de saúde,
educação e bem-estar social do país.
Entre as duas está a América Central, uma faixa de terra estreita, mas que
abriga 20 pequenos países.
Adrienne então colocou o dedo no alto do mapa, na linha divisória entre o Brasil
e a Guiana Francesa e foi deslizando-o, contornando o mapa e observando os nossos
“vizinhos”. O Brasil faz fronteira com quase todos os países da América do Sul. São
mais de 16 mil km de extensão. Os únicos países que não fazem fronteira com o Brasil
são o Equador e o Chile. Esses países ficam do outro lado do continente americano, o
lado oeste, que é banhado pelo Oceano Pacífico.
— Um país tão grande deve ter também uma quantidade enorme de paisagens
diferentes — disse Adrienne enquanto ainda observava os contornos do mapa que
estava na sua frente.
— Isso mesmo, Adrienne. Tudo isso junto cria diferentes paisagens. Por
exemplo, a vegetação. A vegetação é um dos elementos naturais que mais salta aos
nossos olhos. No Brasil, há quatro grandes conjuntos de vegetação que são agrupados
assim, tendo como base o porte dessa vegetação.
Exaustas depois de tanto papo, fomos dormir para no dia seguinte começarmos
a explorar a Região Sul do Brasil.
No Estado do Paraná
Adrienne acordou ansiosa para iniciar sua aventura pela região sul do Brasil.
Enquanto tomávamos o café da manhã, ela pegou o mapa para se localizar. São três os
estados que fazem parte da Região Sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É a
menor das cinco regiões, ocupa apenas 7% do território nacional, mas é a segunda mais
populosa.
lugares por causa das “frentes frias”, que são massas de ar vindas do Polo Sul, da
Antártica. Essa massa de ar3 é chamada de Polar Atlântica.
— O Brasil é um país com poucas montanhas. Nossa montanha mais alta tem
menos de 3 mil metros de altura (2.995,30 m). É o Pico da Neblina, que fica no estado
do Amazonas, na Região Norte — respondi.
— Imagine! Aqui na Região Sul, a montanha mais alta fica no estado do Paraná.
É o Pico Paraná e só tem 1.877 metros! — falei resignada.
— E neva lá no inverno?
Adrienne, que adora esquiar e escalar montanhas, quis saber mais sobre isso.
Foi então que falei pra ela sobre as Serras da Região Sul. Chamamos de Serra, um
conjunto de montanhas cuja altitude (altura) varia entre 400 e 3.000 metros.
Normalmente, as serras são mais compridas do que largas. Na Região Sul há dois
conjuntos desses, a Serra do Mar e a Serra Geral4.
3
As massas de ar são porções da atmosfera que possuem as mesmas características de pressão, temperatura e
umidade. Elas podem ser formadas tanto na terra (Continentais) quanto nos oceanos (Marítimas). E podem quentes
(Equatoriais e Tropicais) ou frias (Polares).
4
Para mais informações sobre o relevo brasileiro, acesse:
https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_unidades_de_relevo.pdf
— A Serra do Mar, como o nome já diz, fica bem perto do litoral — expliquei. —
Ela é muito comprida. Tem mais de 1.500 km que vão acompanhando a costa brasileira
desde o estado do Rio de Janeiro, na região sudeste, até o norte do Rio Grande do Sul,
ou seja, ela passa por 5 estados brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul. Há uma diversidade de fauna e flora muito importantes
na Serra do Mar e é nela que está o Pico Paraná, o ponto mais alto da Região Sul, que
eu já tinha comentado antes. Ah, e é aqui que está uma parte da Mata Atlântica.
— Isso... A Mata Atlântica é a segunda maior floresta do Brasil. Ela cobre 15% do
território brasileiro e está presente em 17 estados, começando em Alagoas, no Nordeste
e indo até o Rio Grande do Sul, no Sul. Além disso, há trechos dela também no Paraguai
e na Argentina. A Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas em diversidade de vida
no planeta. Isso se deve principalmente por seu clima tropical e subtropical úmido
influenciados pelas massas de ar úmidas que vêm do Oceano Atlântico. Sabia que há
mais de 20 mil espécies diferentes de plantas, mais de 990 espécies de aves, 350 de
peixes, 298 de mamíferos e 570 espécies de répteis e anfíbios5?
— Então, que tal a gente pegar a estrada pra conhecer a Mata Atlântica?
5
Fonte: SOS Mata Atlântica https://www.sosma.org.br/conheca/mata-atlantica/
No Litoral do Paraná
Saímos da capital em direção leste. Nosso destino era a cidade de Morretes, que
fica a mais ou menos uma hora de carro de Curitiba. Para chegar até lá, escolhi seguir
pelo caminho mais comprido e passar pela Estrada da Graciosa.
Adrienne quis saber o que eram “tropeiros” e eu expliquei que eram os homens
que conduziam as tropas ou comitivas de mulas e cavalos carregados com mercadorias
entre as regiões produtoras e os centros consumidores no Brasil dos séculos 17 a 19. No
caso da Estrada da Graciosa, havia primeiro uma trilha no século 18 que era usada para
escoamento da produção de café, erva-mate e madeira para serem embarcadas em
navios no porto de Paranaguá.
Morretes é uma cidade muito antiga, com ruas estreitas e casarões de mais de
200 anos. Depois de almoçar e passear por Morretes, começamos nosso retorno à
Curitiba. Foi só então que ela percebeu que estávamos subindo. Expliquei que Morretes
está localizada na Planície Costeira ou Litorânea, que é a região que fica entre o oceano
Atlântico e a Serra do Mar. Ao voltar a Curitiba, subiríamos a 935 m de altitude
(altura).
6
A afirmação é de Aziz Ab’Saber. Existem 3 classificações aceitas. A que consta na ementa é de Aroldo de Azevedo, e
é nela que vamos trabalhar. Ela é a mais antiga. Foi desenvolvida na década de 1940 usando como critério apenas a
altimetria. Mas ainda está em uso devido à sua simplicidade e originalidade. As outras classificações (que são
desdobramentos da primeira) são de Aziz Ab’Saber e de Jurandyr Ross.
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— Curitiba é a capital de estado mais alta do Brasil. Ela está a 935 m de altitude,
ou seja, acima do nível do mar. Mais alta que ela só Brasília, que é a capital de nosso
país e fica a mais de mil metros de altitude — expliquei.
— Sim, Curitiba é considerada uma das 5 capitais mais verdes do Brasil. Mais de
76% da cidade é arborizada. — E continuei: — É na região metropolitana de Curitiba
que nasce um dos rios mais importantes da Região Sul, o Rio Iguaçu. Este rio corta
todo o estado do Paraná até a fronteira com a Argentina.
— Sim — sorriu ela —, eu estava muito cansada, mas me lembro bem. Você disse
que é por causa dos planaltos.
— Pois bem, por causa da Serra do Mar, o relevo da Região Sul é inclinado para
o interior, em direção contrária ao mar. Assim, a maioria dos rios do Sul seguem no
sentido Leste-Oeste. Esses rios estão concentrados em duas grandes bacias
hidrográficas: a bacia do rio Paraná e a bacia do rio Uruguai — expliquei.
— Bacia Hidrográfica é como a gente chama uma área onde, por causa do relevo,
a água da chuva escorre para um rio principal e seus afluentes, rios menores que
alimentam o rio principal. A forma das terras na região da bacia faz com que a água
corra por riachos e rios menores para um mesmo rio principal que fica num ponto mais
baixo.
— Então as bacias se formam das áreas mais altas para as mais baixas, certo? —
Adrienne levantou a sobrancelha em sinal de entendimento.
11
***
Nosso voo saiu de manhã cedo. Em pouco mais de uma hora estaríamos na
cidade de Foz do Iguaçu. Adrienne conseguiu uma poltrona na janela e deixou a câmera
fotográfica pronta.
— A Serra do Mar fica mais perto do mar. A Serra Geral fica mais no interior.
Ela atravessa a Região Sul de maneira diagonal desde o Paraguai até o oceano
Atlântico. Ela alcança altitudes entre 1.000 e 1.300 metros na parte leste e,
progressivamente vai diminuindo em direção a oeste, até alcançar os cursos dos rios
Paraná e Uruguai. Esse conjunto de montanhas foi formado a partir de atividades
vulcânicas intensas, há milhões de anos, e é composta por basalto, um tipo de rocha
que gera solos de grande fertilidade, chamado de “terra roxa”.
12
— Esse tipo de solo aparece na metade do Rio Grande do Sul, na parte oeste do
Paraná, Santa Catarina e São Paulo, no sul de Minas Gerais e em quase todo Mato
Grosso do Sul, fazendo dessa área a região mais fértil de todo o país. A agricultura aqui
é uma das principais atividades econômicas. Há grandes lavouras, principalmente de
café, cana-de-açúcar, algodão, soja, milho e laranja — concluí.
Foi então que o comandante do voo alertou para que olhássemos à esquerda
pois já podíamos ver as Cataratas do Iguaçu. Felizmente estávamos sentadas no lado
esquerdo do avião e pudemos ver as quedas em todo o seu esplendor.
— Foi uma das coisas mais lindas que meus olhos já viram! Como a criação
divina é maravilhosa! E como estou grata de ter a oportunidade de ver tanta beleza e
grandiosidade — falou Adrienne com um suspiro.
13
Logo na entrada do parque encontramos Rafael, que seria nosso guia durante o
passeio. Rafael nasceu e viveu toda sua vida em Foz do Iguaçu. O amor que ele tem por
esse lugar salta aos olhos.
14
— A bacia do Paraná é muito grande. Além dos estados da Região Sul, ela
também se espalha pelos estados de São Paulo e Minas Gerais na Região Sudeste, e os
estados de Mato Grosso do Sul e Goiás na região Centro-Oeste — continuou Rafael. —
Ah, e também pelo nordeste da Argentina, leste do Paraguai e norte do Uruguai —
completou nosso guia.
— Bem, Itaipu foi a maior do mundo desde sua inauguração em 1984 até 2012,
quando foi construída a Hidrelétrica de Três Gargantas, na China. Mas Itaipu ainda é a
maior em produção de energia. Com menos turbinas, ela produz mais energia que a
chinesa. Então, de fato, Itaipu ainda é a maior geradora de energia limpa e renovável do
planeta.
Rafael já foi explicando que Itaipu está na fronteira entre o Brasil e Paraguai. O
acordo assinado entre os dois países concorda que o território onde está a hidrelétrica e
todo o entorno, como lago e barragem, não pertence a nenhum dos dois, mas a ambos.
Por isso é chamada de Itaipu Binacional.
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— Sabia que a quantidade de concreto usado para construir a usina daria para
construir 210 estádios do tamanho do Maracanã? — Rafael tomou fôlego antes de
continuar: — E a quantidade de ferro e aço usados poderia construir 380 torres Eiffel?
Adrienne arregalou os olhos. Ela nunca tinha visto o Maracanã, mas conhecia a
torre Eiffel, que fica em Paris, onde ela morava. E Rafael continuou fazendo
comparações para que nós tivéssemos noção da grandiosidade que era essa usina.
Essa visita durou quase três horas e então partimos para a próxima.
Embarcamos em um ônibus panorâmico que fez algumas paradas. Uma foi no mirante
central que fica no lado brasileiro e o mirante do lado paraguaio. A outra foi no mirante
do vertedouro. Adrienne ficou um pouco decepcionada, pois não havia água no
vertedouro, como algumas fotos que ela havia visto pela Internet. O guia nos explicou
que os vertedouros são abertos apenas quando há excesso de água, por exemplo,
quando há muitas chuvas e os rios estão muito cheios. Isso acontece apenas algumas
vezes ao ano. A água do vertedouro é uma água que está sendo descartada, ou seja, não
está sendo usada para geração de energia.
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— São como grandes depósitos de água doce? — perguntei, pois eu não tinha
certeza.
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— Sim, é água que não acaba mais! — riu Rafael. — Água que daria para encher 1
milhão e 500 mil lagos iguais a esse aqui da represa de Itaipu.
Comentei com meus amigos que no nosso planeta, 97% da água é salgada e vem
dos mares, oceanos e alguns lagos salinos como o Mar Morto. Somente 3% da água
disponível no planeta é doce e potável, ou seja, própria para o consumo humano.
Entretanto, desse total, quase 70% encontram-se nas calotas polares em forma de gelo
e são inviáveis para serem exploradas. Os rios e lagos correspondem por menos de 1% e
os outros quase 29% são de águas subterrâneas dos aquíferos como o Guarani.
— Eu não falei?!
7
O nome oficial é Sistema Aquífero Grande Amazonia (SAGA), mas é popularmente conhecido como Aquífero Alter do
Chão.
18
Rimos juntos enquanto o barco navegava silencioso pelo lago de Itaipu com
águas a perder de vista, indo ao encontro do horizonte onde o sol ia se pondo
cinematograficamente pintando o céu com cores alaranjadas. A agitação e as conversas
dos passageiros foram cessando e um silencio cheio de energia e contemplação foi se
apossando de todos nós. Foi um momento tão emocionante quanto visualizar as
cataratas.
***
No interior do Paraná
Era o último passeio que faríamos com o Rafael, que a esta altura, já tinha se
tornado o “Rafa”. Ele passou no hotel, nos pegou e em 15 minutos estávamos no exato
ponto onde o Brasil, o Paraguai e a Argentina encontram suas fronteiras, identificadas
com obeliscos em forma de triângulo pintado com as cores das bandeiras de seus
respectivos países.
Depois de despencar nas cataratas, o rio Iguaçu segue seu curso e alguns
quilômetros à frente encontra o rio Paraná. O Iguaçu é um afluente do Paraná. As águas
do Iguaçu se juntam às do rio Paraná e se tornam um só rio, o Paraná. Assim, o Iguaçu
é um dos rios que formam a Bacia do Paraná.
Os rios marcam a fronteira natural entre os três países. O lado brasileiro fica na
margem direita do Iguaçu. Na margem esquerda está a Argentina. A partir do exato
ponto da foz, a margem direita do rio Paraná continua sendo território brasileiro
enquanto que a esquerda é território Paraguaio.
Sandra e Paulo são um casal de amigos de longa data que moram na cidade
paranaense de Cascavel, a cerca de 140 km a leste de Foz do Iguaçu. Fazia alguns anos
19
que não nos víamos e quando souberam que eu estaria em Foz com uma amiga
estrangeira fizeram questão de vir nos encontrar e passar uns dias passeando conosco.
Aceitei de bom grado, pois, além da companhia agradável de ambos, Paulo era
representante comercial e conhecia muito bem as estradas no oeste do Paraná e Santa
Catarina, para onde estávamos pretendendo ir.
Já era quase fim de tarde quando retornamos e seguimos direto para Cascavel.
Cascavel é uma cidade jovem. Ainda não tem 70 anos e isso é muito jovem para uma
cidade! É uma cidade planejada, com ruas largas e bairros bem distribuídos. É
conhecida como polo econômico do oeste do Paraná. A principal atividade econômica é
o agronegócio, assim como todo o oeste do Paraná.
Para ser exportada, a soja tem que chegar até o Porto de Paranaguá, no litoral
paranaense, onde é embarcada em enormes navios graneleiros (navios específicos para
transporte de grãos) e segue, principalmente para a China, Espanha, Tailândia e
Holanda. Para isso, é necessário um sistema viário que torne possível o transporte. A
Ferroeste é uma ferrovia que liga Cascavel à Guarapuava, perto de Curitiba. De lá,
seguem para o Porto de Paranaguá.
20
Santa Catarina
Rodamos por cerca de 200 km até que chegamos à divisa dos estados do Paraná
e Santa Catarina. Passamos por muitas áreas cultivadas e muitos caminhões carregados
de alimentos na estrada. Essa é realmente uma área de intensa produção agrícola. A
maior parte das cidades pelas quais passamos é de pequeno porte, com população
inferior a 10 mil habitantes.
Adrienne pegou o mapa que tinha trazido e correu o dedo para localizar onde
estávamos. Ela sabia que estava em nossos planos chegar até o litoral e então
perguntou:
— Que maravilha!!! — Ela sorriu com satisfação e voltou a olhar pela janela os
intermináveis campos cultivados.
21
Ainda gastamos o resto do dia passeando pela cidade antes de irmos descansar
no hotel. No dia seguinte seguiríamos viagem rumo leste.
***
Adrienne seguia olhando pela janela, observando o vasto território à sua frente,
conhecido como Planalto dos Campos Gerais, uma região muito verde cheia de estreitos
riachos e pequenas propriedades. Cerca de uma hora, depois estávamos chegando à
simpática cidade de Itá, às margens do rio Uruguai, o principal rio que compõe a Bacia
Hidrográfica do Uruguai.
— Mais rios! Mais água! — riu Adrienne agitando as mãos em forma de ondas e
se lembrando de toda a nossa conversa em Foz do Iguaçu.
— Temos muita água nessa região — concordou Sandra que, mesmo não falando
francês, entendeu o comentário de Adrienne.
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Seguimos para o ponto de encontro onde íamos pegar a van. Embarcamos com
mais alguns turistas e seguimos para a visita à usina. Foi um passeio muito bonito, pois
a região é belíssima com o lago cercado por colinas verdes. Há belos mirantes ao longo
do caminho. Num desses mirantes que paramos, foi possível tem uma visão bem
panorâmica do rio Uruguai e foi quando nosso guia nos falou um pouco mais sobre esse
rio.
23
— O rio Uruguai tem mais de 1.700 km de extensão. Ele nasce da junção dos rios
Pelotas e Canoas na Serra Geral, entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do
Sul. Ao longo do seu curso, o rio é a fronteira natural entre esses dois estados e também
entre o Brasil e Argentina e entre a Argentina e o Uruguai, até que deságua no rio da
Prata. É um rio com grande potencial hidrelétrico e por isso além desta Usina
hidrelétrica aqui em Itá, há mais duas: a de Machadinho e a da Foz do Chapecó, todas
aqui em Santa Catarina. Há também uma outra, a de Salto Grande, mas essa não fica
no Brasil. Ela é uma usina binacional entre o Uruguai e a Argentina.
— O rio Uruguai tem um pequeno trecho navegável, que fica já no seu trecho
final, no Uruguai, perto de onde ele deságua. Aliás, vocês sabiam que nesse trecho perto
da foz do Uruguai aconteceram algumas batalhas históricas durante a Guerra do
Paraguai?
Eu traduzia as informações para Adrienne e nesse momento, ela olhou pra mim
e levantou as sobrancelhas como dizendo “depois me fale sobre isso”. Dei uma
piscadinha sinalizando que eu havia entendido e continuamos nosso passeio.
— Água por cima, água por baixo... — riu Adrienne. — Esse é um país de águas!
Que lugar incrível!
No dia seguinte, fizemos um passeio de barco pelo lago cujo guia era um
senhorzinho simpático e divertido, antigo morador da Itá submersa. À medida que
navegávamos, ele ia nos contando histórias da região, da inundação e dos tempos da
24
***
— Sim, o planalto. Mas agora vamos começar a subir. Vamos começar em 600
metros e subir até mais de 1.300 metros.
Sorri com a palavra que ela usou: montanha. Afinal, ela vive em um país onde
estão os Alpes, com montanhas que chegam a 4.500m de altura.
25
— Que árvores diferentes! Jamais vi árvores assim — falou com a voz cheia de
encantamento.
— Sim, Paulo, você tem razão. Grande parte da Mata das Araucárias fica no
Paraná. — E me virei para Adrienne. — Não vimos porque passamos sobre ela de avião
a caminho de Foz do Iguaçu.
— E são árvores muito antigas. Elas vivem centenas de anos — falou Paulo, que
tinha grande afinidade com as araucárias pois vivia próximo a elas. Foi ele quem nos
deu algumas informações muito interessantes sobre essas árvores. Ele falava enquanto
eu traduzia tudo para Adrienne.
— Observe que as araucárias são muito altas, mas há muitos outros tipos de
árvores mais baixas, fazendo com que a floresta seja fechada e densa. Essas árvores
mais baixas são tipos nobres de madeira, como a canela, imbuia, cedro, guabiroba e
jacarandá.
9
Para mais informações sobre a vegetação brasileira, acesse:
https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_vegetacao.pdf
26
— Não é comum e nem em grande quantidade, mas temos neve aqui no Sul —
completei.
— Hoje, as áreas naturais que foram desmatadas estão cobertas por árvores que
foram plantadas pelo homem. São eucaliptos, pinus e pinheiros. Essas podem ser
cortadas, contando que outras sejam plantadas.
27
Apesar de ser verão, havia uma leve neblina nos vales entre as montanhas. A
silhueta das araucárias no meio da neblina era um espetáculo belíssimo. Pequenas
casas rústicas de madeira com chaminés de onde saía um filete de fumaça, pontilhavam
aqui e ali. Eram pequenas propriedades rurais, uma característica de Santa Catarina.
As pinhas são frutos grandes, com cerca de 20 cm de diâmetro e cada uma pode
conter até 150 sementes em forma de gota, com uns 5 cm de comprimento. Essas
sementes são chamadas de pinhões. Os pinhões são muito saborosos e extremamente
ricos em reserva energética e aminoácidos, bastante procurados por aves e animais
silvestres para alimento. Os humanos também adoram o pinhão, que depois de cozidos
ou assados fazem parte da culinária local.
Já estávamos perto de Urubici, que seria nossa base naquela noite. Era a partir
daqui que visitaríamos o ponto habitado mais alto do Brasil, o Morro da Igreja, que fica
a 1.822 m de altura.
— Esta é uma das vistas mais bonitas que já vi na vida! — Adrienne estava
maravilhada e depois dos momentos arrebatadores iniciais, foi tomada por um desejo
frenético de tirar fotografias.
28
No final da tarde chegamos a São Joaquim e ainda deu tempo de passar pela
pequena cidade de 30 mil habitantes, que é um dos maiores produtores de maçã do
Brasil. Os invernos aqui são rigorosos, há ocorrência de geadas, neve e as árvores
congelam.
***
Voltando ao litoral
Acordamos todos muito animados para percorrer uma estrada famosa por estar
entre as 10 mais bonitas do mundo. É a estrada da Serra do Rio do Rastro. Há muitas
nascentes e cachoeiras na região.
A estrada segue por campos planos de cima da serra, afinal, estamos num
planalto, mas de repente, a estrada começa uma descida abrupta que surpreende. Nos
12 km seguintes, há um desnível de 1.200 metros.
Antes de iniciar nossa descida, paramos no amplo mirante que fica ainda na
parte plana do topo da serra, a 1.460 m e que proporciona uma belíssima vista de parte
da estrada, da serra e da planície ao fundo. Do mirante é possível ver os contornos da
famosa estrada que parece esculpida nas encostas verdes da serra. Esse trecho de
estrada é, como já comentei, considerada uma das 10 estradas mais espetaculares do
mundo.
Cânions são vales profundos com paredões quase verticais que podem se
estender por centenas de quilômetros e chegam a milhares de metros de profundidade.
Esses vales profundos levam muitos milhares de anos para serem criados. Eles são
“esculpidos” principalmente pela ação da água e dos ventos.
— Mas são tão profundos! Inacreditável a água fazer isso! — exclamou Adrienne
29
— Ah, mas nesse processo, também temos que levar em conta os chamados
“soerguimentos”, que é o deslocamento de placas no interior da crosta terrestre que
elevam gradualmente o relevo da região. — Fui logo apressando em explicar.
O Cânion da Ronda tem esse nome porque na época dos tropeiros que vinham
do Rio Grande do Sul levando o gado até São Paulo, era feita uma parada na borda do
cânion. Durante a noite, um dos tropeiros sempre ficava responsável por fazer a ronda,
cuidando para que o gado não se espalhasse e nenhuma cabeça fosse perdida.
O único acesso à ilha é por meio de pontes. São três no total, uma delas é uma
ponte histórica feita de ferro, de trânsito controlado. A ponte Hercílio Luz é o cartão-
postal da cidade.
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A ilha onde fica Florianópolis não é tão grande. Dá pra ir de uma ponta a outra
em cerca de duas horas. Como toda a ilha, há muitas praias. No lado leste da ilha, as
praias são oceânicas, ou seja, de mar aberto, por isso são praias com muitas ondas. No
lado oeste, as praias são calmas pois estão viradas para o continente, separadas apenas
por um estreito canal.
A ilha está no nível do mar, mas há pequenas elevações com montanhas que
variam entre 300 e 500 m de altura. Junto às montanhas, surgem planícies esparsas,
principalmente no lado leste. É no lado leste que também podem ser encontradas
dunas formadas pela ação do vento. O clima no litoral catarinense é marcado por
estações do ano bem definidas, com a temperatura variando entre 7 °C (no inverno) a
36 °C (no verão). As chuvas ocorrem durante todo o ano, mas são mais frequentes nos
meses de janeiro e fevereiro.
Nos dias seguintes, Adrienne e eu saímos para passear pela ilha e num desses
passeios, ao longo de uma avenida asfaltada no lado oeste da ilha, ela observou com
surpresa:
Parei o carro e saltamos para que ela pudesse ver com calma e fotografar a
vegetação que crescia num emaranhado da galhos à beira mar e dentro da água.
— Lembra que no dia que você chegou, nós conversamos sobre os quatro
conjuntos de vegetação que existem no Brasil? — perguntei.
— Sim, lembro.
— Pois então, o que você está vendo aqui são parte dos Mangues Litorâneos.
Adrienne notou as árvores de pouca ou média altura com seus troncos finos e
suas raízes aéreas, ou seja, raízes que não estão fincadas no solo.
31
— Os manguezais são como berçários para aves, peixes e anfíbios. É uma área
onde os animais de várias espécies se reproduzem e se alimentam. Isso porque essa
vegetação é muito rica, pois recebe muitos nutrientes tanto da terra quanto da água de
mares e rios.
***
Depois de alguns dias de sol e mar, era tempo de voltar à estrada. Desta vez,
seguimos para conhecer o último estado da Região Sul, o Rio Grande do Sul.
O Rio Grande do Sul é o maior e mais populoso estado da Região Sul. Ele faz
fronteira com a Argentina e com o Uruguai e Adrienne estava animadíssima para
conhecer o último estado do mapa. Sua capital é Porto Alegre, nosso destino naquele
dia.
— Tem, mas não é de água salgada porque Porto Alegre fica longe do mar.
Ela se virou para mim, curiosa e seus olhos estavam me pedindo uma
explicação.
— As praias de Porto Alegre são de água doce porque a cidade fica às margens
de um imenso lago, o Lago Guaíba. Esse lago é ligado à Lagoa dos Patos, a maior lagoa
costeira da América do Sul.
— Interessante...
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— Lagos, lagoas e lagunas? Mas qual é a diferença entre uma e outra? — quis
saber Adrienne.
— Bom... tanto lago, como lagoa ou laguna são porções de água cercadas de
terra. Não há consenso universal sobre a diferença entre lago e lagoa. O critério mais
utilizado é o tamanho: lagos são maiores que lagoas.
— Ah, agora ficou claro. Então a Planície Litorânea do Rio Grande do Sul tem
muitas lagoas, lagos e lagunas — riu Adrienne.
— Sim, mas devo lembrar que essa planície já começa no sul do estado de Santa
Catarina. Tem até uma cidade chamada Laguna que, por sinal, está logo aí na frente.
Ainda rodamos por mais de meia hora pela estrada até entrar definitivamente
no Rio Grande do Sul. Da estrada, podíamos ver as muitas lagoas e lagos da região.
Paramos para tirar fotos muitas vezes.
Chegamos à Porto Alegre e fomos direto para o Cais do Porto ver o pôr do sol às
margens do Lago Guaíba.
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A viagem à Serra Gaúcha nos mostrou mais uma vez a influência da imigração
italiana e alemã. Mais uma vez subimos a mais de mil metros e experimentamos a
diferença de clima e a mudança da vegetação da planície litorânea, onde está Porto
Alegre. Afinal, é mais frio na serra.
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Finalmente, depois de uns dias passeando pela região da serra gaúcha, seguimos
rumo ao sul para conhecer os Pampas. Nas nossas conversas, às vezes eu chamava de
Pampas, às vezes de Campos Gerais, às vezes de Pradarias e às vezes de Campanha. Isso
deixou Adrienne confusa.
Á medida que o carro rodava, as montanhas iam ficando para trás e a paisagem
se abria à nossa frente até o horizonte, pontilhada aqui e ali com pequenas colinas
cobertas de um verde pálido.
Adrienne olhava para fora, mas acompanhava meu relato com atenção.
— O clima aqui é subtropical com estações do ano bem definidas, o que não
acontece nas outras regiões do Brasil. Mais da metade do Rio Grande do Sul é composta
de pampas.
— Por isso come-se tanta carne aqui — observou minha amiga francesa. — Não
há falta de espaço aqui e há sempre bois, vacas, ovelhas e carneiros para todo lado que
se olha.
— Mas como o relevo não conhece fronteiras, o pampa também se estende por
grandes áreas da Argentina e do Uruguai.
Nos dias seguintes ainda exploramos a região dos Campos Gerais até a divisa
com a Argentina.
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Até a próxima!
Ela já fazia planos para voltar no ano seguinte e me fez prometer que a levaria
para conhecer a Região Sudeste.
— Pode contar com isso, amiga. — Ela piscou enquanto me abraçava agradecida
pelas férias sensacionais.
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