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Viagem pelo

Brasil
Região Sul

Maria Angélica Maia Vieira


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Por Maria Angélica Maia Vieira

Copyright (c) 2021 Tempo em Casa

Todos os direitos reservados.

Imagens licenciadas por Freepik

Mapas: Valeriana Bataglião

Ilustrações: Isabelle Goulart Santos

É proibido reproduzir, publicar ou distribuir por qualquer

meio o todo ou parte do conteúdo desse e-book sem prévia

autorização do autor.

VIEIRA, Maria Angélica Maia. Viagem pelo Brasil

Florianópolis. Tempo em Casa, 2021

www.tempoemcasa.com.br

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SUMÁRIO

Chegando ao Brasil 1

Explorando a Região Sul 2

No Estado do Paraná 6

No Litoral do Paraná 9

Curitiba: Capital do Paraná 11

Na Foz do Rio Iguaçu 12

Usina Hidrelétrica de Itaipu 15

No interior do Paraná 19

Santa Catarina 21

Bacia do Rio Uruguai e Hidrelétrica de Itá 22

O ponto mais alto habitado do Brasil 25

Voltando ao litoral 29

Florianópolis: Capital de Santa Catarina 31

Próxima parada: Rio Grande do Sul 32

Porto Alegre: Capital do Rio Grande do Sul 34

Até a próxima! 36

Mapas 37

Estados e Capitais 38

Regiões Brasileiras 39

Relevo 40

Bacia Hidrográficas 41

Clima 42

Biomas 43

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Viagem pelo Brasil

Obrigada por adquirir o Viagem pelo Brasil! Estou muito feliz em compartilhar com
você este material!

Eu sou Anna Coutinho, mãe de 3 filhos (10, 7 e 4 anos). Fazemos homeschooling desde
2015 e tenho um perfil no Instragram onde compartilho nossa rotina de estudos, experiências e
desafios.

Este material foi desenvolvido para que meus filhos pudessem ter contato com a
geografia brasileira de maneira viva! Para isso, pedi para minha mãe - que trabalhou muitos
anos com roteiros turísticos, ama ler e viajar e escreve muito bem - criar uma história com aguns
conteúdos específicos que eu gostaria de apresentar para meus filhos neste ano. Então, essa
história foi criada por uma avó para seus netos com muito carinho!

O conteúdo se trata da geografia física do Brasil, sendo que em cada uma das 5 regiões
brasileiras a criança será apresentada a conceitos e classificações importantes como relevos,
biomas, bacias hidrográficas e climas.

Antes de começar, apresentaremos nossas personagens! Elas foram inspiradas na


autora, Maria Angélica, e sua amiga francesa, Adrienne. A querida Isabelle Goulart fez uma
linda arte delas para mim e fico muito feliz em dividir com vocês!

Espero que seja uma divertida viagem para seus filhos também!

Um abraço,

Anna

@tempo_em_casa

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Viagem Pelo Brasil - Sul

Chegando ao Brasil
Quando abri minha caixa de correio eletrônico naquela manhã, havia um e-mail
de minha amiga Adrienne. Ela é francesa e mora em Paris. No seu e-mail, Adrienne me
dizia que, aproveitando seu período de férias, estava aceitando meu convite e viria
conhecer o Brasil.

Ela estava animadíssima com a viagem. Afinal, já tinha ouvido tantas coisas a
respeito desse enorme país. Ela já sabia que o Brasil é o quinto maior país do mundo
em extensão territorial1, menor apenas que Rússia, Canadá, China e Estados Unidos,
nessa ordem. Se pensarmos em extensão territorial contínua, então seríamos o quarto
do mundo, à frente dos Estados Unidos, que só são maiores porque contam com seus
territórios que estão espalhados como o Alasca e as ilhas do Havaí e Porto Rico, no
Caribe. No Hemisfério Sul somos imbatíveis! O maior de todos! Só na América do Sul,
onde estamos localizados, ocupamos quase metade do território (47,3%).

Não admira que Adrienne estivesse curiosíssima para conhecer meu país. São
números impressionantes para uma francesa, pois a França caberia inteirinha dentro
de apenas um dos estados brasileiros, a Bahia, por exemplo.

Era a primeira vez que Adrienne também visitava a América do Sul, a parte do
continente americano que fica quase totalmente no Hemisfério Sul. E ela estava ansiosa

1
Fonte: CIA World Factbook

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Viagem Pelo Brasil - Sul

para ver o Cruzeiro do Sul, uma constelação que só pode ser vista nos céus da parte de
baixo do planeta, no Hemisfério Sul2.

Adrienne chegou ao Brasil cheia de casacos e ficou surpresa com o calor. Como
estamos no Hemisfério Sul, era início do verão. Ao contrário, no Hemisfério Norte,
onde está a França, era inverno.

Ela desembarcou em Curitiba, onde eu a estava esperando. Curitiba, no estado


do Paraná, seria o ponto de partida para nossa viagem.

Explorando a Região Sul

Com um país tão grande, as distâncias são longas e havíamos decidido que, pelo
menos nessa viagem, iríamos explorar a Região Sul do Brasil. Tive que explicar para
Adrienne que o Brasil é dividido em 5 regiões: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e
Norte.

2
O Cruzeiro do Sul é a menor (a que ocupa uma menor área no céu), de todas as 88 constelações. Antigamente o
Cruzeiro do Sul fazia parte da constelação do Centauro (que hoje o envolve). No século XVI, porém, com um maior
fluxo europeu ao hemisfério sul, o Cruzeiro do Sul foi separado de Centauro, passando a ser considerado uma
constelação própria; devido à disposição característica e brilho intenso de suas mais brilhantes estrelas.
Fonte: http://www.observatorio.ufmg.br/pas29.htm

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Viagem Pelo Brasil - Sul

Cada região é dividida em estados. A Região Norte é a maior de todas ocupando


quase a metade do país inteiro. A Amazônia, maior floresta tropical do planeta, ocupa
grande parte dessa região e por isso é onde mora o menor número de pessoas. Sete
estados fazem parte dessa região. Adrienne, que como a maioria dos estrangeiros tem
uma enorme curiosidade pela Amazônia, já me fez prometer que a levaria para
conhecer a Região Norte numa próxima viagem.

A região Nordeste tem nove estados e minha amiga também já tinha ouvido
sobre o clima de eterno verão e as praias paradisíacas do Nordeste.

— Você também vai me levar no Nordeste, certo? — piscou Adrienne.

A região Centro-Oeste tem três estados e é aqui que também está o Distrito
Federal, onde fica a capital do Brasil, Brasília. Quando falei que é no Centro-Oeste que
fica o Pantanal, Adrienne arregalou os olhos de felicidade.

A região Sudeste tem apenas quatro estados, mas é a mais rica e a mais
populosa de todas. Aqui também ficam as duas maiores metrópoles brasileiras: a
cidade de São Paulo e a cidade do Rio de Janeiro.

Mas nessa viagem, Adrienne conheceria a menor das regiões, a Sul, composta
por três estados: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Apesar de ser a menor
(ocupa menos de 7% do território nacional), é a segunda mais rica (depois da região
Sudeste) e é a que possui a maior taxa de alfabetização e os melhores níveis de saúde,
educação e bem-estar social do país.

Curiosa, Adrienne me pediu que eu


mostrasse no mapa tudo sobre o que havíamos
falado naquela noite. Ela ficou ainda mais surpresa
ao ver o tamanho que o Brasil ocupa no continente
americano.

— Me fale sobre a América do Sul — pediu


Adrienne.

— Bem, o termo América do Sul é uma


divisão geográfica do continente americano, que é
subdividido em três partes: América do Norte,
América Central e América do Sul. A América do
Norte, claro, fica ao norte e é composta por apenas
três países: Canadá, Estados Unidos e México —
respondi e continuei explicando.

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A América do Sul, que fica ao sul, abrange 12 países, incluindo o Brasil.

Entre as duas está a América Central, uma faixa de terra estreita, mas que
abriga 20 pequenos países.

Adrienne então colocou o dedo no alto do mapa, na linha divisória entre o Brasil
e a Guiana Francesa e foi deslizando-o, contornando o mapa e observando os nossos
“vizinhos”. O Brasil faz fronteira com quase todos os países da América do Sul. São
mais de 16 mil km de extensão. Os únicos países que não fazem fronteira com o Brasil
são o Equador e o Chile. Esses países ficam do outro lado do continente americano, o
lado oeste, que é banhado pelo Oceano Pacífico.

— Um país tão grande deve ter também uma quantidade enorme de paisagens
diferentes — disse Adrienne enquanto ainda observava os contornos do mapa que
estava na sua frente.

— Sim — respondi — por causa do tamanho do nosso território, temos


diferentes paisagens naturais em nosso país. E quando falo em paisagem natural, me
refiro a tudo que existe na superfície terrestre criado pela natureza.

— Como o clima, o relevo e a vegetação? — questionou Adrienne.

— Isso mesmo, Adrienne. Tudo isso junto cria diferentes paisagens. Por
exemplo, a vegetação. A vegetação é um dos elementos naturais que mais salta aos
nossos olhos. No Brasil, há quatro grandes conjuntos de vegetação que são agrupados
assim, tendo como base o porte dessa vegetação.

— Ah é? Como assim? — interrompeu Adrienne com curiosidade.

— O primeiro grupo são as Florestas. Nós temos quatro tipos de Florestas no


Brasil: a Floresta Amazônica; a Floresta Tropical Atlântica, que também é conhecida
como Mata Atlântica; a Mata dos Cocais e a Mata das Araucárias. — E continuei —:
Todas as florestas são compostas por árvores altas e são densas, fechadas.

Adrienne me olhava com atenção como que registrando cada palavra.

— O segundo grupo são o que chamamos de formações arbustivas, e, como o


nome já diz, é composta por arbustos, ou seja, árvores menores, de pequeno e médio
porte. Há dois tipos desses no Brasil: a Caatinga e o Cerrado.

— Entendi — disse Adrienne mantendo a atenção.

— O terceiro grupo é formado pelos Campos, com vegetação rasteira e quase


nenhuma árvore. Como os Campos Gerais, Campos Sulinos ou Pampas Gaúchos.

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— Campos Sulinos? Esses vamos visitar nessa viagem, certo?

— Isso mesmo! — Sorri e continuei: — E por fim, o quarto grupo são as


formações complexas, que são assim chamadas por possuírem modelos diferentes de
vegetação. Aqui se encaixam o Pantanal e os Mangues Litorâneos.

Adrienne sorriu e bateu palmas como uma criança animada.

— Quero ver todos!!!

— Impossível em uma só viagem, minha amiga — respondi com um meio


sorriso. — Estão espalhados pelo Brasil inteiro! Mas alguns vamos conhecer desta vez,
sim.

— Ah, eu imaginei... esse país é enorme. — Adrienne deu um suspiro de


resignação, mas logo se animou e me deu uma piscada com o olho esquerdo. — Mas eu
volto quantas vezes for preciso pra conhecer esse país inteirinho.

— E será muito bem-vinda sempre! — respondi com sinceridade.

Exaustas depois de tanto papo, fomos dormir para no dia seguinte começarmos
a explorar a Região Sul do Brasil.

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No Estado do Paraná

Adrienne acordou ansiosa para iniciar sua aventura pela região sul do Brasil.
Enquanto tomávamos o café da manhã, ela pegou o mapa para se localizar. São três os
estados que fazem parte da Região Sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É a
menor das cinco regiões, ocupa apenas 7% do território nacional, mas é a segunda mais
populosa.

A capital do Paraná é Curitiba, de Santa Catarina é Florianópolis e do Rio


Grande do Sul é Porto Alegre. As capitais são as cidades onde está a administração de
cada estado.

Em um país tão grande como o Brasil, o clima, a vegetação e a paisagem variam


bastante. Expliquei a Adrienne que a Região Sul é a mais fria do Brasil porque é a que
está mais afastada da linha do Equador.

O clima da Região Sul é predominantemente Subtropical ou Temperado porque


ela está situada ao sul (abaixo = sub) do Trópico de Capricórnio. A temperatura média é
de 18 °C. As chuvas são regulares e bem distribuídas. Na Região Sul, as estações do ano
são bem diferenciadas e ocorrem grandes variações de temperatura. O verão é quente e
o inverno bastante frio, sendo possível a ocorrência de geada e até neve em alguns

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lugares por causa das “frentes frias”, que são massas de ar vindas do Polo Sul, da
Antártica. Essa massa de ar3 é chamada de Polar Atlântica.

— Há montanhas aqui no Sul? — indagou Adrienne.

— O Brasil é um país com poucas montanhas. Nossa montanha mais alta tem
menos de 3 mil metros de altura (2.995,30 m). É o Pico da Neblina, que fica no estado
do Amazonas, na Região Norte — respondi.

— Este é o mais alto? — surpreendeu-se Adrienne. — A mais alta montanha da


França tem 4.808 metros. É o Mont Blanc e fica nos Alpes franceses.

— Imagine! Aqui na Região Sul, a montanha mais alta fica no estado do Paraná.
É o Pico Paraná e só tem 1.877 metros! — falei resignada.

— E neva lá no inverno?

— Não. Existem pouquíssimos lugares no Brasil onde há chance de nevar e eles


ficam nos estados mais ao sul: em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul — respondi.

Adrienne, que adora esquiar e escalar montanhas, quis saber mais sobre isso.
Foi então que falei pra ela sobre as Serras da Região Sul. Chamamos de Serra, um
conjunto de montanhas cuja altitude (altura) varia entre 400 e 3.000 metros.
Normalmente, as serras são mais compridas do que largas. Na Região Sul há dois
conjuntos desses, a Serra do Mar e a Serra Geral4.

3
As massas de ar são porções da atmosfera que possuem as mesmas características de pressão, temperatura e
umidade. Elas podem ser formadas tanto na terra (Continentais) quanto nos oceanos (Marítimas). E podem quentes
(Equatoriais e Tropicais) ou frias (Polares).
4
Para mais informações sobre o relevo brasileiro, acesse:
https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_unidades_de_relevo.pdf

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— A Serra do Mar, como o nome já diz, fica bem perto do litoral — expliquei. —
Ela é muito comprida. Tem mais de 1.500 km que vão acompanhando a costa brasileira
desde o estado do Rio de Janeiro, na região sudeste, até o norte do Rio Grande do Sul,
ou seja, ela passa por 5 estados brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul. Há uma diversidade de fauna e flora muito importantes
na Serra do Mar e é nela que está o Pico Paraná, o ponto mais alto da Região Sul, que
eu já tinha comentado antes. Ah, e é aqui que está uma parte da Mata Atlântica.

— Eu já ouvi falar dessa Mata Atlântica! — interrompeu Adrienne com


curiosidade. — Me fale mais sobre isso.

— Bom, a Mata Atlântica é um dos biomas do Brasil. Você sabe o que é um


bioma, não sabe?

— Sim, um bioma é um grande espaço geográfico que possui as mesmas


características físicas, biológicas e climáticas, não é? Um ecossistema... plantas e
animais...

— Isso... A Mata Atlântica é a segunda maior floresta do Brasil. Ela cobre 15% do
território brasileiro e está presente em 17 estados, começando em Alagoas, no Nordeste
e indo até o Rio Grande do Sul, no Sul. Além disso, há trechos dela também no Paraguai
e na Argentina. A Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas em diversidade de vida
no planeta. Isso se deve principalmente por seu clima tropical e subtropical úmido
influenciados pelas massas de ar úmidas que vêm do Oceano Atlântico. Sabia que há
mais de 20 mil espécies diferentes de plantas, mais de 990 espécies de aves, 350 de
peixes, 298 de mamíferos e 570 espécies de répteis e anfíbios5?

— Tudo isso?! E em um único bioma? — Adrienne arregalou os olhos. — É mais


do que existe em toda a Europa! Na Europa inteira temos pouco mais de 12 mil espécies
de plantas!

— Então, que tal a gente pegar a estrada pra conhecer a Mata Atlântica?

— É pra já!!! — Adrienne se levantou num pulo, agarrou a bolsa e a câmera


fotográfica que estava sobre o sofá e foi direto em direção à porta. Tive que correr para
alcançá-la.

5
Fonte: SOS Mata Atlântica https://www.sosma.org.br/conheca/mata-atlantica/

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No Litoral do Paraná

Saímos da capital em direção leste. Nosso destino era a cidade de Morretes, que
fica a mais ou menos uma hora de carro de Curitiba. Para chegar até lá, escolhi seguir
pelo caminho mais comprido e passar pela Estrada da Graciosa.

A estrada da Graciosa é considerada a estrada mais bonita do Paraná. Ela


atravessa a Serra do Mar e passa pelo trecho mais bem preservado de Mata Atlântica do
Brasil. Essa estrada é muito antiga e utiliza a rota original dos tropeiros em direção ao
litoral do estado.

Adrienne quis saber o que eram “tropeiros” e eu expliquei que eram os homens
que conduziam as tropas ou comitivas de mulas e cavalos carregados com mercadorias
entre as regiões produtoras e os centros consumidores no Brasil dos séculos 17 a 19. No
caso da Estrada da Graciosa, havia primeiro uma trilha no século 18 que era usada para
escoamento da produção de café, erva-mate e madeira para serem embarcadas em
navios no porto de Paranaguá.

Hoje, a Graciosa é uma estrada turística. O porto de Paranaguá continua em


funcionamento e é um dos maiores e mais movimentados do país, mas as cargas que
chegam para serem embarcadas nos enormes navios vêm em grandes carretas que
jamais caberiam na estreita e sinuosa Graciosa. Eles hoje usam uma estrada moderna e
larga.

Os olhos de Adrienne brilhavam enquanto percorríamos bem devagar a Estrada


da Graciosa. O calçamento não é de asfalto, mas de paralelepípedos e o caminho é
repleto de curvas sinuosas envoltas em muitos tons de verde, encostas floridas, picos,
montanhas e cachoeiras. O cenário é encantador e para apreciá-lo com calma e
segurança há mirantes em locais estratégicos.

Quando chegamos em Morretes, aos pés da Serra do Mar, Adrienne já tinha


batido dezenas de fotos de bromélias, samambaias, cachoeiras, riachos, tucanos, garças
e papagaios!

Morretes é uma cidade muito antiga, com ruas estreitas e casarões de mais de
200 anos. Depois de almoçar e passear por Morretes, começamos nosso retorno à
Curitiba. Foi só então que ela percebeu que estávamos subindo. Expliquei que Morretes
está localizada na Planície Costeira ou Litorânea, que é a região que fica entre o oceano
Atlântico e a Serra do Mar. Ao voltar a Curitiba, subiríamos a 935 m de altitude
(altura).

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Expliquei a Adrienne que o Brasil é um país com muitos planaltos e poucas


planícies. Ela ficou confusa e pra esclarecer me perguntou:

— Deixa eu ver se me lembro das aulas de Geografia... Planície é quando a


altitude (altura) é até 200 metros. Acima de 200 m é planalto. É isso? — Franziu a testa
e completou —: Eu poderia dizer que planícies são terras baixas e planaltos são terras
altas.

— Bem, de maneira simples é isso mesmo. As planícies são superfícies planas


com altitudes inferiores a 200 m. Os planaltos são terrenos levemente acidentados com
mais de 200 m de altitude. Sabia que 75% do território brasileiro é ocupado por
planaltos6? São quatro as divisões dos planaltos no Brasil e a Região Sul está sobre duas
dessas divisões: o Planalto Atlântico e o Planalto Meridional. O Planalto Atlântico,
como o nome já diz, é a parte que fica mais próxima do oceano e está nos estados do
Paraná e Santa Catarina. À medida que vamos nos afastando do mar e seguimos para o
oeste, temos o Planalto Meridional. Mas quando viajarmos para o interior, vou te
mostrando essas coisas.

Adrienne ouvia com atenção, mas estávamos exaustas de tantas emoções.


Coloquei uma música suave e decidi retornar pela BR-277, uma estrada menos sinuosa
que a Graciosa. Já era noite quando chegamos em Curitiba.

6
A afirmação é de Aziz Ab’Saber. Existem 3 classificações aceitas. A que consta na ementa é de Aroldo de Azevedo, e
é nela que vamos trabalhar. Ela é a mais antiga. Foi desenvolvida na década de 1940 usando como critério apenas a
altimetria. Mas ainda está em uso devido à sua simplicidade e originalidade. As outras classificações (que são
desdobramentos da primeira) são de Aziz Ab’Saber e de Jurandyr Ross.

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Curitiba: Capital do Paraná

O dia amanheceu com um belíssimo sol de verão. Já recuperadas pela noite de


sono, decidimos sair para conhecer a capital do Paraná.

— Curitiba é a capital de estado mais alta do Brasil. Ela está a 935 m de altitude,
ou seja, acima do nível do mar. Mais alta que ela só Brasília, que é a capital de nosso
país e fica a mais de mil metros de altitude — expliquei.

— É uma cidade grande, mas tem muito verde — observou Adrienne — há


muitos parques e jardins pela cidade, e muitas árvores por todo o canto...

— Sim, Curitiba é considerada uma das 5 capitais mais verdes do Brasil. Mais de
76% da cidade é arborizada. — E continuei: — É na região metropolitana de Curitiba
que nasce um dos rios mais importantes da Região Sul, o Rio Iguaçu. Este rio corta
todo o estado do Paraná até a fronteira com a Argentina.

— Iguaçu? Das famosas quedas de água? — Os olhos de Adrienne brilharam.

Sorri e balancei a cabeça em sinal afirmativo.

— Você se lembra de ontem, quando estávamos em Morretes e começamos a


subir para voltar para Curitiba? — perguntei a Adrienne.

— Sim — sorriu ela —, eu estava muito cansada, mas me lembro bem. Você disse
que é por causa dos planaltos.

— Pois bem, por causa da Serra do Mar, o relevo da Região Sul é inclinado para
o interior, em direção contrária ao mar. Assim, a maioria dos rios do Sul seguem no
sentido Leste-Oeste. Esses rios estão concentrados em duas grandes bacias
hidrográficas: a bacia do rio Paraná e a bacia do rio Uruguai — expliquei.

— Bacias? — Adrienne fez uma careta.

Imaginei que talvez eu tivesse tropeçado no meu francês e já fui explicando.

— Bacia Hidrográfica é como a gente chama uma área onde, por causa do relevo,
a água da chuva escorre para um rio principal e seus afluentes, rios menores que
alimentam o rio principal. A forma das terras na região da bacia faz com que a água
corra por riachos e rios menores para um mesmo rio principal que fica num ponto mais
baixo.

— Então as bacias se formam das áreas mais altas para as mais baixas, certo? —
Adrienne levantou a sobrancelha em sinal de entendimento.

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— Isso mesmo — respondi —, os desníveis dos terrenos orientam os cursos


d’agua das áreas mais altas para as mais baixas. E é isso que acontece com o rio Iguaçu,
por exemplo. Ele nasce aqui no planalto Atlântico e vai descendo em direção à planície
do Pantanal, já na região Centro-Oeste. Ao longo do seu curso, ele vai aumentando
porque vai recebendo as águas dos seus afluentes até que chega na fronteira com a
Argentina e forma aquela que é considerada uma das Sete Maravilhas Naturais do
Mundo, as Cataratas do Iguaçu.

— Que está na nossa lista de visita!!! — apressou-se Adrienne em dizer.

Ela sempre se empolgava quando falávamos no que ainda iríamos visitar.

Mais um dia terminou e no dia seguinte pegaríamos um voo para conhecer as


Cataratas do Iguaçu.

***

Na Foz do Rio Iguaçu

Nosso voo saiu de manhã cedo. Em pouco mais de uma hora estaríamos na
cidade de Foz do Iguaçu. Adrienne conseguiu uma poltrona na janela e deixou a câmera
fotográfica pronta.

Na maior parte do tempo, sobrevoamos a uma altitude que dava pra


acompanhar o relevo lá embaixo. Então vimos a Serra Geral, o segundo conjunto de
montanhas que existe na Região Sul.

— Me lembro de você ter falado sobre ela — lembrou Adrienne.

— A Serra do Mar fica mais perto do mar. A Serra Geral fica mais no interior.
Ela atravessa a Região Sul de maneira diagonal desde o Paraguai até o oceano
Atlântico. Ela alcança altitudes entre 1.000 e 1.300 metros na parte leste e,
progressivamente vai diminuindo em direção a oeste, até alcançar os cursos dos rios
Paraná e Uruguai. Esse conjunto de montanhas foi formado a partir de atividades
vulcânicas intensas, há milhões de anos, e é composta por basalto, um tipo de rocha
que gera solos de grande fertilidade, chamado de “terra roxa”.

— E a terra é realmente roxa? — indagou Adrienne.

— Não, é vermelha — sorri e continuei — por causa de um mineral chamado


magnetita, rico em ferro. Sabe por que ficou com o nome de “terra roxa”?

Adrienne sacudiu a cabeça e havia curiosidade nos seus olhos.

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Viagem Pelo Brasil - Sul

— Quando os imigrantes italianos chegaram para trabalhar nas fazendas de


café, eles viram aquela terra vermelha e começaram a dizer que a terra era “rossa”.

— Ah, eu falo um pouco de italiano e “rossa” significa vermelho — interrompeu


Adrienne.

— Pois é, os brasileiros aportuguesaram o termo italiano e assim ficou “terra


roxa”.

Rimos da curiosidade. E eu continuei:

— Esse tipo de solo aparece na metade do Rio Grande do Sul, na parte oeste do
Paraná, Santa Catarina e São Paulo, no sul de Minas Gerais e em quase todo Mato
Grosso do Sul, fazendo dessa área a região mais fértil de todo o país. A agricultura aqui
é uma das principais atividades econômicas. Há grandes lavouras, principalmente de
café, cana-de-açúcar, algodão, soja, milho e laranja — concluí.

Foi então que o comandante do voo alertou para que olhássemos à esquerda
pois já podíamos ver as Cataratas do Iguaçu. Felizmente estávamos sentadas no lado
esquerdo do avião e pudemos ver as quedas em todo o seu esplendor.

O rio Iguaçu, cuja nascente havíamos visto na região metropolitana de Curitiba,


depois de percorrer 1.320 km serpenteando pelo estado do Paraná, despenca de uma
altura total de mais de 80 metros para seguir seu curso e desaguar alguns quilômetros
adiante no rio Paraná, formando a Bacia Hidrográfica do Paraná, uma das mais
importantes da América do Sul.

A visão das águas despencando em forma de ferradura é espetacular. As


gotículas que respingam no ar formam um arco-íris e Adrienne prende o fôlego
enquanto clica o botão de sua câmera dezenas de vezes.

— Foi uma das coisas mais lindas que meus olhos já viram! Como a criação
divina é maravilhosa! E como estou grata de ter a oportunidade de ver tanta beleza e
grandiosidade — falou Adrienne com um suspiro.

Ainda com o coração cheio de emoção, desembarcamos na cidade paranaense de


Foz do Iguaçu. A primeira coisa que queríamos fazer era ver as cataratas de perto.
Então, lá fomos nós para o Parque Nacional do Iguaçu. Como eu já tinha explicado a
Adrienne, as Cataratas do Iguaçu estão localizadas entre o Parque Nacional do Iguaçu,
no estado do Paraná, Brasil, e o Parque Nacional Iguazú, na província de Misiones,
Argentina. Seu nome tem origem no idioma tupi-guarani e significa “água grande”.

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Viagem Pelo Brasil - Sul

Logo na entrada do parque encontramos Rafael, que seria nosso guia durante o
passeio. Rafael nasceu e viveu toda sua vida em Foz do Iguaçu. O amor que ele tem por
esse lugar salta aos olhos.

Entramos no parque e já dava para ouvir o barulho da água caindo. Rafael já


começou explicando que as quedas foram descobertas por acaso, no século 16, quando
o navegador espanhol Alvar Núñez Cabeza de Vaca estava descendo o rio Iguaçu numa
canoa procurando um caminho alternativo para chegar até Assunção (no Paraguai).

As cataratas estão formadas por um conjunto de cerca de 275 saltos de cerca de


80 metros de altura, alimentados pelas águas do rio Iguaçu.

— Mas dependendo da vazão do rio, o número de saltos aumenta e pode chegar


a 300 — explicou Rafael que continuou —, a vazão do rio varia conforme as chuvas na
região.

Ficamos horas vendo os saltos, caminhando pelas trilhas e observando as


plantas, pássaros e outros animais do parque até que, cansados, voltamos para o hotel
combinando o passeio do dia seguinte com o Rafael.

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Usina Hidrelétrica de Itaipu

Quando terminamos nosso café da manhã, Rafael já estava nos esperando na


recepção do hotel. Nosso primeiro passeio seria visitar a Hidrelétrica de Itaipu.

No caminho Rafael já foi nos explicando que a Bacia do Paraná possui um


grande potencial hidrelétrico por causa de seu relevo acidentado e seu grande volume
de água. O nome vem do seu principal rio, o rio Paraná, que recebe muitos outros rios,
chamados de afluentes, como os rios Tietê, Grande, Iguaçu e Paranapanema. O Rio
Paraná é um dos 10 mais extensos rios do mundo. Ele corre por 4.605 km.

— A bacia do Paraná é muito grande. Além dos estados da Região Sul, ela
também se espalha pelos estados de São Paulo e Minas Gerais na Região Sudeste, e os
estados de Mato Grosso do Sul e Goiás na região Centro-Oeste — continuou Rafael. —
Ah, e também pelo nordeste da Argentina, leste do Paraguai e norte do Uruguai —
completou nosso guia.

Adrienne franziu a testa tentando imaginar o tamanho daquilo tudo e Rafael


continuou.

— Por isso essa região é tão desenvolvida. Há muita biodiversidade, é rica em


recursos naturais, solos férteis e muita, muita água!

— Eu li que essa hidrelétrica que vamos visitar é a maior do mundo — falou


Adrienne.

— Bem, Itaipu foi a maior do mundo desde sua inauguração em 1984 até 2012,
quando foi construída a Hidrelétrica de Três Gargantas, na China. Mas Itaipu ainda é a
maior em produção de energia. Com menos turbinas, ela produz mais energia que a
chinesa. Então, de fato, Itaipu ainda é a maior geradora de energia limpa e renovável do
planeta.

Rafael já foi explicando que Itaipu está na fronteira entre o Brasil e Paraguai. O
acordo assinado entre os dois países concorda que o território onde está a hidrelétrica e
todo o entorno, como lago e barragem, não pertence a nenhum dos dois, mas a ambos.
Por isso é chamada de Itaipu Binacional.

A construção da usina levou mais de 10 anos e envolveu mais de 40 mil


trabalhadores.

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— Sabia que a quantidade de concreto usado para construir a usina daria para
construir 210 estádios do tamanho do Maracanã? — Rafael tomou fôlego antes de
continuar: — E a quantidade de ferro e aço usados poderia construir 380 torres Eiffel?

Adrienne arregalou os olhos. Ela nunca tinha visto o Maracanã, mas conhecia a
torre Eiffel, que fica em Paris, onde ela morava. E Rafael continuou fazendo
comparações para que nós tivéssemos noção da grandiosidade que era essa usina.

— Vocês sabem que em 2004, quando Itaipu completou 20 anos de operação, a


usina já tinha gerado energia suficiente para abastecer o mundo inteiro durante 36
dias? — sorriu Rafael já imaginando a cara que Adrienne e eu iríamos fazer.

Foi realmente um dado surpreendente. Hoje, Itaipu produz 15% da energia


consumida no Brasil e 90% da consumida no Paraguai.

Finalmente chegamos na usina para fazer nossa visita. Primeiro fomos


conduzidos a uma sala onde assistimos a um vídeo sobre a história da usina. Em
seguida, fomos visitar a parte interna. Começamos pela área dos Condutos Forçados
gigantescos que transportam a água do reservatório onde pudemos sentir a vibração da
água passando pela tubulação. Depois conhecemos a Sala de Supervisão e Controle
Central, as Galerias da Usina e o ponto mais emocionante que foi ver o eixo de uma
turbina em funcionamento. Foi a primeira vez que fiz a visita interna e foi
impressionante.

Essa visita durou quase três horas e então partimos para a próxima.
Embarcamos em um ônibus panorâmico que fez algumas paradas. Uma foi no mirante
central que fica no lado brasileiro e o mirante do lado paraguaio. A outra foi no mirante
do vertedouro. Adrienne ficou um pouco decepcionada, pois não havia água no
vertedouro, como algumas fotos que ela havia visto pela Internet. O guia nos explicou
que os vertedouros são abertos apenas quando há excesso de água, por exemplo,
quando há muitas chuvas e os rios estão muito cheios. Isso acontece apenas algumas
vezes ao ano. A água do vertedouro é uma água que está sendo descartada, ou seja, não
está sendo usada para geração de energia.

A última parada foi no Porto Kattamaram, um complexo turístico de onde saem


barcos para navegar pelo lago. Ali, pegamos um barco tipo catamarã e fomos esperar o
pôr do sol no lago de Itaipu.

O lago de Itaipu é artificial e foi formado para represar a água e formar o


reservatório da usina. Ele ocupa uma área de 1.350 km2, sendo que 770 km2 estão no
lado brasileiro e 580 km2 no lado paraguaio.

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No lado brasileiro, o lago banha 16 municípios brasileiros e se estende por mais


de 170 km de margem. Esses municípios aproveitaram para potencializar sua vocação
turística.

— Este lago fica sobre o Aquífero Guarani — comentou Rafael.

— Aquífero Guarani? O que é um aquífero? — perguntou Adrienne.

— Um aquífero é uma formação geológica que pode armazenar água


subterrânea. As rochas são porosas e permeáveis que são capazes de filtrar e reter a
água. São verdadeiros reservatórios subterrâneos que são abastecidos pelas chuvas que
se infiltram no subsolo. Elas fornecem água para as nascentes dos rios — explicou
Rafael.

— São como grandes depósitos de água doce? — perguntei, pois eu não tinha
certeza.

— Não. São fontes de água renováveis — respondeu Rafael e continuou: — Mas


não se trata de um lago, ou rio ou mar subterrâneo, mas de água concentrada dentro da
rocha, dentro do arenito. E isso só é possível porque o arenito nada mais é do que areia
compactada. Sendo assim, entre os microscópicos espaços dos grãos arredondados da
areia, infiltra-se a água das chuvas, renovando-se as fontes.

Rafael sorriu com nossas expressões de “Ah, agora entendi!”.

— O Aquífero Guarani — continuou ele — é o segundo maior do mundo. Ele tem


1,2 milhões de km2 sob o solo do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Mas 70% disso
está aqui em solo brasileiro. Se você perfurar o solo em Santa Catarina, Paraná, Rio
Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, vai encontrar
água do Aquífero Guarani. Essa reserva hídrica tem uma profundidade média de 250 m
e chega a 40 trilhões de m3.

— 1,2 milhões de km2?! Isso é duas vezes o tamanho da França! — retrucou


Adrienne tão alto que chamou a atenção de algumas pessoas que estavam próximas. —
E nem posso imaginar quanta água é 40 trilhões de metros cúbicos!

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— Sim, é água que não acaba mais! — riu Rafael. — Água que daria para encher 1
milhão e 500 mil lagos iguais a esse aqui da represa de Itaipu.

Comentei com meus amigos que no nosso planeta, 97% da água é salgada e vem
dos mares, oceanos e alguns lagos salinos como o Mar Morto. Somente 3% da água
disponível no planeta é doce e potável, ou seja, própria para o consumo humano.
Entretanto, desse total, quase 70% encontram-se nas calotas polares em forma de gelo
e são inviáveis para serem exploradas. Os rios e lagos correspondem por menos de 1% e
os outros quase 29% são de águas subterrâneas dos aquíferos como o Guarani.

— O Brasil guarda mais da metade da água na América do Sul (56,9%). É o


maior reservatório do mundo em um só país.

— O Brasil tem mesmo uma riqueza enorme quando o assunto é água —


admirou-se Adrienne. — Mas agora fiquei curiosa: se o Aquífero Guarani é o segundo
maior do mundo, qual e onde fica o maior de todos?

Rafael e eu nos entreolhamos e sorrimos. E foi ele quem respondeu mantendo o


sorriso no canto da boca.

— É o Aquífero Alter do Chão7, que tem o dobro de tamanho do Guarani e fica


também no Brasil, na Região Norte, na Amazônia. Dizem que daria para abastecer o
mundo inteiro por 250 anos!

Adrienne revirou os olhos e deixou cair as mãos em sinal de rendição:

— Eu não falei?!

7
O nome oficial é Sistema Aquífero Grande Amazonia (SAGA), mas é popularmente conhecido como Aquífero Alter do
Chão.

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Rimos juntos enquanto o barco navegava silencioso pelo lago de Itaipu com
águas a perder de vista, indo ao encontro do horizonte onde o sol ia se pondo
cinematograficamente pintando o céu com cores alaranjadas. A agitação e as conversas
dos passageiros foram cessando e um silencio cheio de energia e contemplação foi se
apossando de todos nós. Foi um momento tão emocionante quanto visualizar as
cataratas.

***

No interior do Paraná

Conforme o Rafael e eu havíamos prometido a Adrienne, no dia seguinte fomos


levá-la para ver a foz do rio Iguaçu. Ela tinha ficado animadíssima porque como ela
havia visto a região onde o Iguaçu nascia em Curitiba, ela queria conhecer a sua foz. E o
lugar perfeito para isso era uma colina onde estava o Marco das Três Fronteiras.

Era o último passeio que faríamos com o Rafael, que a esta altura, já tinha se
tornado o “Rafa”. Ele passou no hotel, nos pegou e em 15 minutos estávamos no exato
ponto onde o Brasil, o Paraguai e a Argentina encontram suas fronteiras, identificadas
com obeliscos em forma de triângulo pintado com as cores das bandeiras de seus
respectivos países.

Depois de despencar nas cataratas, o rio Iguaçu segue seu curso e alguns
quilômetros à frente encontra o rio Paraná. O Iguaçu é um afluente do Paraná. As águas
do Iguaçu se juntam às do rio Paraná e se tornam um só rio, o Paraná. Assim, o Iguaçu
é um dos rios que formam a Bacia do Paraná.

Os rios marcam a fronteira natural entre os três países. O lado brasileiro fica na
margem direita do Iguaçu. Na margem esquerda está a Argentina. A partir do exato
ponto da foz, a margem direita do rio Paraná continua sendo território brasileiro
enquanto que a esquerda é território Paraguaio.

A visão é ampla e é tão fácil entender quanto olhar num mapa.

Aproveitamos para desfrutar da vista panorâmica do lugar enquanto Adrienne


tirava belas fotos. Depois retornamos ao hotel e nos despedimos do Rafa. Já estávamos
com nossa bagagem pronta quando chegou quem nós estávamos esperando: minha
amiga Sandra e seu marido Paulo.

Sandra e Paulo são um casal de amigos de longa data que moram na cidade
paranaense de Cascavel, a cerca de 140 km a leste de Foz do Iguaçu. Fazia alguns anos

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que não nos víamos e quando souberam que eu estaria em Foz com uma amiga
estrangeira fizeram questão de vir nos encontrar e passar uns dias passeando conosco.

Aceitei de bom grado, pois, além da companhia agradável de ambos, Paulo era
representante comercial e conhecia muito bem as estradas no oeste do Paraná e Santa
Catarina, para onde estávamos pretendendo ir.

Paulo e Sandra nos pegaram no hotel e aproveitamos para atravessar a Ponte da


Amizade, uma ponte que cruza o rio Paraná na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, e
fazer compras em Ciudad del Este, no Paraguai. A ponte não é muito grande (tem
apenas 78 m de extensão sobre o rio Paraná) mas tem um trânsito de carros e pedestres
intenso. Atravessar a ponte para fazer compras no Paraguai é muito conveniente para
os brasileiros, que podem encontrar produtos importados (perfumes, eletrônicos,
celulares, equipamentos fotográficos, roupas e outros) até pela metade do preço do
Brasil. Isso se deve, principalmente, aos impostos menores, menos burocracia para
importações e uma eficiente logística. Ciudad del Este é praticamente um Duty Free, ou
seja, uma área livre de impostos de importação.

Já era quase fim de tarde quando retornamos e seguimos direto para Cascavel.
Cascavel é uma cidade jovem. Ainda não tem 70 anos e isso é muito jovem para uma
cidade! É uma cidade planejada, com ruas largas e bairros bem distribuídos. É
conhecida como polo econômico do oeste do Paraná. A principal atividade econômica é
o agronegócio, assim como todo o oeste do Paraná.

Enquanto seguíamos pela rodovia, Adrienne observava pela janela os campos a


perder de vista. Ela se lembrou de que estávamos no Planalto Meridional e ficou
impressionada com a quantidade de plantação de soja. O Paraná é o segundo maior
produtor de soja do Brasil (o primeiro é Mato Grosso do Sul) e Cascavel faz parte dessa
região. O Brasil é o segundo maior exportador de soja do mundo.

Para ser exportada, a soja tem que chegar até o Porto de Paranaguá, no litoral
paranaense, onde é embarcada em enormes navios graneleiros (navios específicos para
transporte de grãos) e segue, principalmente para a China, Espanha, Tailândia e
Holanda. Para isso, é necessário um sistema viário que torne possível o transporte. A
Ferroeste é uma ferrovia que liga Cascavel à Guarapuava, perto de Curitiba. De lá,
seguem para o Porto de Paranaguá.

Finalizamos o dia tranquilos porque no dia seguinte nós quatro pegaríamos a


estrada rumo ao estado de Santa Catarina. Nosso destino era a cidade de Chapecó,
distante pouco mais de 300 km de Cascavel.

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Santa Catarina

Rodamos por cerca de 200 km até que chegamos à divisa dos estados do Paraná
e Santa Catarina. Passamos por muitas áreas cultivadas e muitos caminhões carregados
de alimentos na estrada. Essa é realmente uma área de intensa produção agrícola. A
maior parte das cidades pelas quais passamos é de pequeno porte, com população
inferior a 10 mil habitantes.

Se pensarmos em Brasil, o estado de Santa Catarina não é muito grande e só


ocupa menos de 2% do território nacional. Mas, ainda assim, é um pouco maior que
Portuga8l. Ele se estende de leste a oeste desde o oceano Atlântico até a fronteira com a
Argentina.

— O estado de Santa Catarina possui um dos relevos mais acidentados de nosso


país — comentei com Adriene enquanto ela olhava pela janela do carro. Ela virou para
mim com curiosidade e eu continuei:

— Estamos no lado oeste e aqui ficam os planaltos, que chamamos de Planalto


Meridional. Na outra ponta, próximo ao litoral, existe uma região de planícies que é
chamada de Planície Costeira. Entre o planalto e a planície, estão as serras. As serras
formam uma barreira que divide as terras do estado. Uma espécie de paredão. E há dois
conjuntos de serras: a Serra do Mar e a Serra Geral.

Adrienne pegou o mapa que tinha trazido e correu o dedo para localizar onde
estávamos. Ela sabia que estava em nossos planos chegar até o litoral e então
perguntou:

— Então vamos atravessar esse “paredão” de serras?

— Sim — respondi com um sorriso sabendo do prazer que aquela informação


para a minha amiga francesa.

— Que maravilha!!! — Ela sorriu com satisfação e voltou a olhar pela janela os
intermináveis campos cultivados.

Já era final da manhã quando chegamos à Chapecó e decidimos dar um giro


pela cidade. Chapecó é a maior e mais importante cidade do oeste de Santa Catarina. É
um centro financeiro, industrial, educacional e um grande exportador de produtos
alimentícios industrializados, com uma população de cerca de 200 mil pessoas. A
cidade tem largas avenidas e um traçado geométrico que mostra que foi planejada. É
uma cidade jovem, tem pouco mais de 100 anos.
8
Portugal: 92.212 km² / Santa Catarina: 95 733 km²

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Vinda do chamado “Velho Mundo”, com uma civilização milenar, Adrienne se


espanta como uma cidade tão grande possa ter apenas 100 anos. Lembro à minha
amiga francesinha, que meu país inteiro tem pouco mais de 500 anos e que o interior
do Brasil foi desenvolvido muito depois dos portugueses aqui chegarem.

— E por quê? — quis saber Adrienne.

— Exatamente por causa das montanhas! Uma questão da geografia — pisquei


pra ela enquanto explicava. — Lembra que eu te falei sobre a Planície Costeira? Então,
os portugueses chegaram pelo mar e quando tentaram entrar rumo ao oeste, deram de
cara com as serras: a do Mar e a Geral. Foi muito difícil. Então demorou muito tempo
até que o planalto fosse desbravado.

Ainda gastamos o resto do dia passeando pela cidade antes de irmos descansar
no hotel. No dia seguinte seguiríamos viagem rumo leste.

***

Bacia do Rio Uruguai e Hidrelétrica de Itá

O dia amanheceu quente e iluminado pelo sol do verão. Pegamos a estrada


rumo ao nosso próximo destino, uma pequena cidade a apenas 65 km a sudeste de
Chapecó chamada Itá. Foi a minha vez de assumir o volante do carro.

Adrienne seguia olhando pela janela, observando o vasto território à sua frente,
conhecido como Planalto dos Campos Gerais, uma região muito verde cheia de estreitos
riachos e pequenas propriedades. Cerca de uma hora, depois estávamos chegando à
simpática cidade de Itá, às margens do rio Uruguai, o principal rio que compõe a Bacia
Hidrográfica do Uruguai.

— Mais rios! Mais água! — riu Adrienne agitando as mãos em forma de ondas e
se lembrando de toda a nossa conversa em Foz do Iguaçu.

— Temos muita água nessa região — concordou Sandra que, mesmo não falando
francês, entendeu o comentário de Adrienne.

— A Bacia do Uruguai se espalha pelos estados de Santa Catarina e Rio Grande


do Sul e ainda pelos países vizinhos, Argentina e Uruguai. O rio Uruguai nasce na Serra
Geral aqui em Santa Catarina e tem um grande potencial hidrelétrico por ser um rio de
planalto — expliquei.

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Adrienne se lembrou que essa era também a característica do rio Iguaçu, no


Paraná que também corria do sentido leste para o oeste, descendo dos pontos mais
altos para os mais baixos. E arregalou os olhos quando, depois de uma curva, um
mundaréu de água apareceu na nossa frente.

— Esse é o rio Uruguai?

— Em parte sim — respondi. — Na verdade, esse é o lago formado pelo rio


Uruguai para represar a água necessária para a Hidrelétrica de Itá, que vamos visitar
ainda hoje — expliquei.

Seguimos para o ponto de encontro onde íamos pegar a van. Embarcamos com
mais alguns turistas e seguimos para a visita à usina. Foi um passeio muito bonito, pois
a região é belíssima com o lago cercado por colinas verdes. Há belos mirantes ao longo
do caminho. Num desses mirantes que paramos, foi possível tem uma visão bem
panorâmica do rio Uruguai e foi quando nosso guia nos falou um pouco mais sobre esse
rio.

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— O rio Uruguai tem mais de 1.700 km de extensão. Ele nasce da junção dos rios
Pelotas e Canoas na Serra Geral, entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do
Sul. Ao longo do seu curso, o rio é a fronteira natural entre esses dois estados e também
entre o Brasil e Argentina e entre a Argentina e o Uruguai, até que deságua no rio da
Prata. É um rio com grande potencial hidrelétrico e por isso além desta Usina
hidrelétrica aqui em Itá, há mais duas: a de Machadinho e a da Foz do Chapecó, todas
aqui em Santa Catarina. Há também uma outra, a de Salto Grande, mas essa não fica
no Brasil. Ela é uma usina binacional entre o Uruguai e a Argentina.

Todos os visitantes escutavam as explicações com atenção enquanto tiravam


fotos. E o guia continuou.

— O rio Uruguai tem um pequeno trecho navegável, que fica já no seu trecho
final, no Uruguai, perto de onde ele deságua. Aliás, vocês sabiam que nesse trecho perto
da foz do Uruguai aconteceram algumas batalhas históricas durante a Guerra do
Paraguai?

Eu traduzia as informações para Adrienne e nesse momento, ela olhou pra mim
e levantou as sobrancelhas como dizendo “depois me fale sobre isso”. Dei uma
piscadinha sinalizando que eu havia entendido e continuamos nosso passeio.

Depois do passeio seguimos para o complexo turístico para almoçar e relaxar


nas piscinas termais.

— Termais?! — surpreendeu-se Adrienne ao saber que a água das piscinas era


quente.

— Sim — respondi —, estamos sobre o Aquífero Guarani. Lembra que já falamos


dele? Então, dependendo da profundidade da água, ela tem temperaturas mais altas.
Quanto mais profunda, mais quente. Em alguns lugares chega a 50 graus! Mas aqui em
Itá, ela fica entre 32 e 34 graus.

— Água por cima, água por baixo... — riu Adrienne. — Esse é um país de águas!
Que lugar incrível!

Eu e meus amigos rimos do encantamento de Adrienne enquanto seguíamos


para aproveitar as piscinas do parque que são abertas ao público e não apenas aos
hóspedes do hotel.

No dia seguinte, fizemos um passeio de barco pelo lago cujo guia era um
senhorzinho simpático e divertido, antigo morador da Itá submersa. À medida que
navegávamos, ele ia nos contando histórias da região, da inundação e dos tempos da

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mudança da cidade. Ia também nos apontando quando passávamos sobre


determinados lugares agora submersos, como o antigo cemitério ou o antigo campinho
de futebol onde ele costumava jogar bola com os amigos. Até que chegamos a um ponto
de onde emergiam da água as duas torres da antiga igreja matriz, única parte da cidade
que ficou fora da água. As torres se erguem com 15 metros acima da água enquanto 10
metros estão submersos. O lugar agora é um ponto turístico que rende fotos incríveis.
Claro que Adrienne fez muitos cliques!

O resto do dia aproveitamos mais uma vez as piscinas e outras atividades da


cidade como uma tirolesa que corre de um lado ao outro do lago. No final da tarde
fomos para o deck do hotel e vimos um belíssimo pôr do sol sobre o lago formado pela
represa das águas rio Uruguai. Foi um momento muito especial para todos nós.

***

O ponto mais alto habitado do Brasil

No dia seguinte, continuamos nossa viagem rumo leste em direção ao oceano.


Pegamos a estrada logo cedo com destino à cidade de Urubici, no alto da Serra
Catarinense. As estradas nessa região têm muitas curvas e muitas subidas, então, nossa
viagem seria demorada. Mas estávamos cheios de energia e animação.

Os olhos de Adrienne brilhavam curiosos enquanto percorríamos nosso


caminho. No início, muitos campos ondulados por pequenas colinas, até que
finalmente começamos a subir.

— Santa Catarina é um dos estados brasileiros de maior altitude. Mais da


metade do estado está a mais de 300 m de altura — comentei.

— O planalto... — respondeu Adrienne distraidamente.

— Sim, o planalto. Mas agora vamos começar a subir. Vamos começar em 600
metros e subir até mais de 1.300 metros.

Adrienne se mexeu no assento do carona do carro demonstrando interesse.

— Vamos para as montanhas? — perguntou.

Sorri com a palavra que ela usou: montanha. Afinal, ela vive em um país onde
estão os Alpes, com montanhas que chegam a 4.500m de altura.

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— Serra. É assim que chamamos aqui — respondi. — Na verdade, não temos


grandes montanhas no sul do Brasil. O ponto mais alto de todo o país não chega a 3 mil
metros e fica na Região Norte, no estado do Amazonas.

O carro rodava tranquilo pela estrada sinuosa. As árvores se projetavam sobre a


estrada formando um túnel verde. O ar foi ficando mais fresco à medida que íamos
deixando o planalto e subíamos a serra. Foi então que Adrienne notou umas árvores
altas e diferentes de tudo que ela conhecia9.

— Que árvores diferentes! Jamais vi árvores assim — falou com a voz cheia de
encantamento.

— São araucárias, uma árvore típica da Região Sul — respondi.

— São lindas! Parecem um candelabro, ou uma taça. E como são altas!

— As araucárias são um tipo de pinheiro e podem chegar a 50 m de altura.


Estamos entrando na Mata das Araucárias.

— A araucária é a árvore símbolo do Paraná. Ela até é chamada de “pinheiro-do-


paraná” — completou Paulo.

— Sim, Paulo, você tem razão. Grande parte da Mata das Araucárias fica no
Paraná. — E me virei para Adrienne. — Não vimos porque passamos sobre ela de avião
a caminho de Foz do Iguaçu.

— Mas estou feliz de termos a oportunidade de ver essa floresta agora. É


indescritivelmente linda! — suspirou Adrienne.

— E são árvores muito antigas. Elas vivem centenas de anos — falou Paulo, que
tinha grande afinidade com as araucárias pois vivia próximo a elas. Foi ele quem nos
deu algumas informações muito interessantes sobre essas árvores. Ele falava enquanto
eu traduzia tudo para Adrienne.

— Observe que as araucárias são muito altas, mas há muitos outros tipos de
árvores mais baixas, fazendo com que a floresta seja fechada e densa. Essas árvores
mais baixas são tipos nobres de madeira, como a canela, imbuia, cedro, guabiroba e
jacarandá.

— Então, a Mata das Araucárias não tem só araucárias — Adrienne estava


curiosa.

9
Para mais informações sobre a vegetação brasileira, acesse:
https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_vegetacao.pdf

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— Não — logo respondeu Paulo que entendeu o comentário da francesinha. —


As araucárias predominam, mas há muitos outros tipos de árvore. Esta é uma floresta
subtropical, ou seja, de clima subtropical com chuvas regulares e estações do ano mais
definidas que em outras regiões do Brasil. O inverno aqui é normalmente frio, com
geadas frequentes, temperaturas negativas e até neve em alguns lugares.

— Neve? — Adrienne estava surpresa — Não achei que nevava no Brasil.

— Não é comum e nem em grande quantidade, mas temos neve aqui no Sul —
completei.

— Pois, então — continuou Paulo —, o inverno é rigoroso e o verão é


razoavelmente quente. As temperaturas chegam a 30 ºC.

— Essa diferença de temperaturas é uma característica do clima dessa região e


contribui para o desenvolvimento desses pinheiros e dos outros tipos de árvores de
grande porte. O solo está sempre úmido e é muito fértil.

No passado, a Mata das Araucárias se estendia desde a região sudeste, mas no


século 19 e 20, houve muito desmatamento por muitos motivos, principalmente para o
plantio da erva-mate e a exportação das madeiras nobres. Perdemos uma grande parte
dessas árvores. Muitas estão em situação de perigo de extinção. Entre elas, as
araucárias.

— Que pena! — lamentou Adrienne — E agora?

— Bom, há muitas áreas de conservação e já não se pode desmatar como antes


— respondeu Paulo. — Há leis que proíbem o corte das espécies ameaçadas de extinção,
mas ainda temos problemas com desmatamento ilegal em alguns lugares. Temos que
fiscalizar isso constantemente.

Continuávamos a subir e o ar ia ficando cada vez mais fresco. O carro rodava


devagar, pois havia muitos caminhões carregados de toras de madeira pela estrada.

— Mas eles continuam cortando as árvores! — espantou-se Adrienne.

— Não — respondi —, isso é madeira de áreas de reflorestamento.

Justamente nesse momento, as filas de árvores altas e finas plantadas em


intervalos regulares apareceram em ambos os lados da estrada.

— Hoje, as áreas naturais que foram desmatadas estão cobertas por árvores que
foram plantadas pelo homem. São eucaliptos, pinus e pinheiros. Essas podem ser
cortadas, contando que outras sejam plantadas.

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Apesar de ser verão, havia uma leve neblina nos vales entre as montanhas. A
silhueta das araucárias no meio da neblina era um espetáculo belíssimo. Pequenas
casas rústicas de madeira com chaminés de onde saía um filete de fumaça, pontilhavam
aqui e ali. Eram pequenas propriedades rurais, uma característica de Santa Catarina.

Ao longo da estrada, pequenas tendas ao lado de fogões improvisados pareciam


vender alguma coisa que despertou a curiosidade de Adrienne. Eu sabia o que era e
então resolvi parar para que ela conhecesse a pinha, o fruto da araucária.

As pinhas são frutos grandes, com cerca de 20 cm de diâmetro e cada uma pode
conter até 150 sementes em forma de gota, com uns 5 cm de comprimento. Essas
sementes são chamadas de pinhões. Os pinhões são muito saborosos e extremamente
ricos em reserva energética e aminoácidos, bastante procurados por aves e animais
silvestres para alimento. Os humanos também adoram o pinhão, que depois de cozidos
ou assados fazem parte da culinária local.

As pequenas tendas ao longo da estrada vendem o pinhão cozido. Adrienne


experimentou e adorou. Me fez prometer que experimentaríamos algum prato típico à
base de pinhão.

Já estávamos perto de Urubici, que seria nossa base naquela noite. Era a partir
daqui que visitaríamos o ponto habitado mais alto do Brasil, o Morro da Igreja, que fica
a 1.822 m de altura.

Começamos a subida de cerca de 900 metros, numa estrada feita de muitas


curvas a uma distância de cerca de 30 km de Urubici. A vista foi variando de mata
fechada até um platô de formações rochosas e vegetação rasteira. Embora o dia
estivesse ensolarado e com poucas nuvens, o vento era forte e frio. Na média, há uma
diferença de temperatura entre Urubici e o Morro da Igreja de 5 ºC.

Estávamos no alto de um platô e podíamos ver os cânions de pedra cobertos de


vegetação. As ondulações das montanhas chegavam até o horizonte.

Estacionamos o carro e seguimos para o mirante de onde podíamos ver o cartão


postal de Urubici, a Pedra Furada, uma formação rochosa basáltica natural que tem um
buraco de 13 m de altura por 6 m de largura. A vista era realmente de tirar o fôlego.

— Esta é uma das vistas mais bonitas que já vi na vida! — Adrienne estava
maravilhada e depois dos momentos arrebatadores iniciais, foi tomada por um desejo
frenético de tirar fotografias.

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No final da tarde chegamos a São Joaquim e ainda deu tempo de passar pela
pequena cidade de 30 mil habitantes, que é um dos maiores produtores de maçã do
Brasil. Os invernos aqui são rigorosos, há ocorrência de geadas, neve e as árvores
congelam.

O dia foi cheio e chegamos cansados ao hotel, onde dormimos sem ar


condicionado por causa do clima fresco da região serrana.

***

Voltando ao litoral

Acordamos todos muito animados para percorrer uma estrada famosa por estar
entre as 10 mais bonitas do mundo. É a estrada da Serra do Rio do Rastro. Há muitas
nascentes e cachoeiras na região.

A estrada segue por campos planos de cima da serra, afinal, estamos num
planalto, mas de repente, a estrada começa uma descida abrupta que surpreende. Nos
12 km seguintes, há um desnível de 1.200 metros.

Antes de iniciar nossa descida, paramos no amplo mirante que fica ainda na
parte plana do topo da serra, a 1.460 m e que proporciona uma belíssima vista de parte
da estrada, da serra e da planície ao fundo. Do mirante é possível ver os contornos da
famosa estrada que parece esculpida nas encostas verdes da serra. Esse trecho de
estrada é, como já comentei, considerada uma das 10 estradas mais espetaculares do
mundo.

Mesmo no verão, a temperatura aqui é baixa e um chocolate quente foi uma


opção bem-vinda. Depois de aquecidos, seguimos para um outro mirante, de onde
podemos ter vistas fabulosas do Cânion da Ronda.

Cânions são vales profundos com paredões quase verticais que podem se
estender por centenas de quilômetros e chegam a milhares de metros de profundidade.
Esses vales profundos levam muitos milhares de anos para serem criados. Eles são
“esculpidos” principalmente pela ação da água e dos ventos.

— O Brasil tem muitos cânions em diversas regiões porque é um país com


muitos declives e muitos rios — expliquei a Adrienne —, dependendo do declive e da
quantidade de água e das fraturas do relevo, um curso d’água tem a capacidade de
entalhar as rochas do leito do rio por onde corre e dar origem aos paredões.

— Mas são tão profundos! Inacreditável a água fazer isso! — exclamou Adrienne

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— Ah, mas nesse processo, também temos que levar em conta os chamados
“soerguimentos”, que é o deslocamento de placas no interior da crosta terrestre que
elevam gradualmente o relevo da região. — Fui logo apressando em explicar.

— Como assim? — Adrienne não entendeu.

— Acontece assim... — respondi com tom de voz de professora. — A terra se


movimenta lá dentro de suas profundezas. Conforme os rios que correm na superfície
começam a ganhar velocidade e aprofundar seus leitos, a altura dos paredões aumenta.

O Cânion da Ronda tem esse nome porque na época dos tropeiros que vinham
do Rio Grande do Sul levando o gado até São Paulo, era feita uma parada na borda do
cânion. Durante a noite, um dos tropeiros sempre ficava responsável por fazer a ronda,
cuidando para que o gado não se espalhasse e nenhuma cabeça fosse perdida.

Chegamos no mirante que proporciona uma vista incrível! A paisagem


deslumbrante deixou Adrienne sem palavras, o que era engraçado já que minha amiga
era tão tagarela!

Depois de passar um tempo no cânion, retornamos para continuar nosso


caminho descendo a estrada da Serra do Rio do Rastro. Como já mencionei, são 12 km
de descida com curvas muito fechadas. O trajeto é repleto de refúgios onde é possível
parar para fotografar. Cada parada revela um ângulo diferente da estrada e da serra. A
estrada é pavimentada com concreto e é toda iluminada à noite. A energia vem do
parque eólico que visitamos lá em cima. São os ventos iluminando a estrada. A serra é
toda coberta pela Mata Atlântica e bem preservada. Há muitos tipos de animais,
principalmente felinos e macacos.

De lá, seguimos até a capital de Santa Catarina, Florianópolis. O traçado da


estrada segue ao longo da costa, embora não tão próximo ao mar ao ponto de
conseguirmos avistá-lo. Florianópolis é uma das três capitais de estados brasileiros que
está localizada numa ilha. Vitória, no Espirito Santo (região Sudeste) e São Luiz, no
Maranhão (região Nordeste) são as outras duas.

O único acesso à ilha é por meio de pontes. São três no total, uma delas é uma
ponte histórica feita de ferro, de trânsito controlado. A ponte Hercílio Luz é o cartão-
postal da cidade.

Já era noite quando chegamos ao meu apartamento em Florianópolis.


Estávamos cansados, pois o dia tinha sido longo e cheio de emoções. Era hora de um
bom sono reparador para que pudéssemos estar em forma no dia seguinte para
explorar a ilha.

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Florianópolis: Capital de Santa Catarina

A ilha onde fica Florianópolis não é tão grande. Dá pra ir de uma ponta a outra
em cerca de duas horas. Como toda a ilha, há muitas praias. No lado leste da ilha, as
praias são oceânicas, ou seja, de mar aberto, por isso são praias com muitas ondas. No
lado oeste, as praias são calmas pois estão viradas para o continente, separadas apenas
por um estreito canal.

A ilha está no nível do mar, mas há pequenas elevações com montanhas que
variam entre 300 e 500 m de altura. Junto às montanhas, surgem planícies esparsas,
principalmente no lado leste. É no lado leste que também podem ser encontradas
dunas formadas pela ação do vento. O clima no litoral catarinense é marcado por
estações do ano bem definidas, com a temperatura variando entre 7 °C (no inverno) a
36 °C (no verão). As chuvas ocorrem durante todo o ano, mas são mais frequentes nos
meses de janeiro e fevereiro.

Nos dias seguintes, Adrienne e eu saímos para passear pela ilha e num desses
passeios, ao longo de uma avenida asfaltada no lado oeste da ilha, ela observou com
surpresa:

— Aquelas árvores parecem crescer dentro do mar! Nunca vi nada assim!


Podemos parar para tirar umas fotos? — exclamou ela.

Parei o carro e saltamos para que ela pudesse ver com calma e fotografar a
vegetação que crescia num emaranhado da galhos à beira mar e dentro da água.

— Lembra que no dia que você chegou, nós conversamos sobre os quatro
conjuntos de vegetação que existem no Brasil? — perguntei.

— Sim, lembro.

— Pois então, o que você está vendo aqui são parte dos Mangues Litorâneos.

— Claro! Me lembro que você disse que eram formações diferenciadas.

— Os mangues ou manguezais estão espalhados por toda a costa brasileira,


desde o norte até o sul. Dizemos que é uma vegetação de transição porque ela se
desenvolve tanto na água quanto na terra.

Adrienne notou as árvores de pouca ou média altura com seus troncos finos e
suas raízes aéreas, ou seja, raízes que não estão fincadas no solo.

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— Há muitos pássaros aqui! — ela observou.

— Os manguezais são como berçários para aves, peixes e anfíbios. É uma área
onde os animais de várias espécies se reproduzem e se alimentam. Isso porque essa
vegetação é muito rica, pois recebe muitos nutrientes tanto da terra quanto da água de
mares e rios.

— Que maravilha! Então devemos cuidar bastante dos manguezais, para


garantir a vida desses animais.

— Sem dúvida! — concordei.

***

Próxima parada: Rio Grande do Sul

Depois de alguns dias de sol e mar, era tempo de voltar à estrada. Desta vez,
seguimos para conhecer o último estado da Região Sul, o Rio Grande do Sul.

Pegamos a estrada em direção ao sul do Brasil. Como o traçado da estrada vai


seguindo a costa, algumas vezes víamos áreas de manguezais, outras vezes, passávamos
por trechos da Mata Atlântica e Adrienne lembrava de tudo que já havia aprendido
sobre o nosso país.

O Rio Grande do Sul é o maior e mais populoso estado da Região Sul. Ele faz
fronteira com a Argentina e com o Uruguai e Adrienne estava animadíssima para
conhecer o último estado do mapa. Sua capital é Porto Alegre, nosso destino naquele
dia.

— Tem praia em Porto Alegre? — perguntou Adrienne distraída.

— Tem, mas não é de água salgada porque Porto Alegre fica longe do mar.

Ela se virou para mim, curiosa e seus olhos estavam me pedindo uma
explicação.

— As praias de Porto Alegre são de água doce porque a cidade fica às margens
de um imenso lago, o Lago Guaíba. Esse lago é ligado à Lagoa dos Patos, a maior lagoa
costeira da América do Sul.

Adrienne continuava me olhando curiosa.

— Interessante...

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— A região costeira do Rio Grande do Sul é uma planície. É chamada de Planície


Litorânea e tem muitos lagos, lagoas e lagunas com solo arenoso.

— Lagos, lagoas e lagunas? Mas qual é a diferença entre uma e outra? — quis
saber Adrienne.

— Bom... tanto lago, como lagoa ou laguna são porções de água cercadas de
terra. Não há consenso universal sobre a diferença entre lago e lagoa. O critério mais
utilizado é o tamanho: lagos são maiores que lagoas.

Adrienne levantou as sobrancelhas em sinal de compreensão. Então continuei:

— Mas há uma diferença muito importante com laguna. A laguna é um lago ou


lagoa que tem algum tipo de ligação com a água do mar. As lagunas recebem ao mesmo
tempo a água doce das chuvas e dos rios e a água salgada quando ocorre a inversão das
marés. Assim, a água salgada entra em contato com a água doce da lagoa e a torna em
água salobra.

— Ah, agora ficou claro. Então a Planície Litorânea do Rio Grande do Sul tem
muitas lagoas, lagos e lagunas — riu Adrienne.

— Sim, mas devo lembrar que essa planície já começa no sul do estado de Santa
Catarina. Tem até uma cidade chamada Laguna que, por sinal, está logo aí na frente.

Uma curva na estrada e as águas da Lagoa do Mirim puderam ser avistadas.


Durante muitos minutos, a estrada seguiu ao longo das margens das lagoas da região
que se uniam umas às outras. Adrienne se deliciava com a paisagem e clicava
freneticamente o botão de sua câmera fotográfica. Ela ficou muito impressionada
quando atravessamos a Ponte de Laguna, uma ponte em curva que atravessa a Lagoa
do Imaruí, uma das lagoas da região.

Ainda rodamos por mais de meia hora pela estrada até entrar definitivamente
no Rio Grande do Sul. Da estrada, podíamos ver as muitas lagoas e lagos da região.
Paramos para tirar fotos muitas vezes.

— Quanta água... — Adrienne suspirava com encantamento.

Chegamos à Porto Alegre e fomos direto para o Cais do Porto ver o pôr do sol às
margens do Lago Guaíba.

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Porto Alegre: Capital do Rio Grande do Sul

Nos dias seguintes, exploramos a capital gaúcha. Gaúchos é como se chamam os


nascidos no estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre é ainda maior que Curitiba e é
uma cidade que possui muita história.

Era dia de deixarmos a capital e seguirmos para conhecer a Serra Gaúcha.

— Já sei! — exclamou Adrienne enquanto fechava sua mochila. — Vamos voltar


mais uma vez ao Planalto Meridional!

— Nossa! Você está aprendendo direitinho! — Sorri com satisfação. — É isso


mesmo. O Planalto Meridional está presente em todos os estados da Região Sul. A Serra
Gaúcha, como é conhecida, faz parte da Serra Geral.

A viagem à Serra Gaúcha nos mostrou mais uma vez a influência da imigração
italiana e alemã. Mais uma vez subimos a mais de mil metros e experimentamos a
diferença de clima e a mudança da vegetação da planície litorânea, onde está Porto
Alegre. Afinal, é mais frio na serra.

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Finalmente, depois de uns dias passeando pela região da serra gaúcha, seguimos
rumo ao sul para conhecer os Pampas. Nas nossas conversas, às vezes eu chamava de
Pampas, às vezes de Campos Gerais, às vezes de Pradarias e às vezes de Campanha. Isso
deixou Adrienne confusa.

— É tudo a mesma coisa — logo fui explicando —, são maneiras diferentes de se


referir às terras planas e cobertas com vegetação rasteira. É um tipo que só existe aqui,
no Rio Grande Sul.

Á medida que o carro rodava, as montanhas iam ficando para trás e a paisagem
se abria à nossa frente até o horizonte, pontilhada aqui e ali com pequenas colinas
cobertas de um verde pálido.

Adrienne estava encantada com tamanha amplitude de visão.

— É isso que caracteriza os pampas... paisagem a perder de vista, sem


obstáculos à frente — retruquei.

— Os Pampas, campos ou pradarias são áreas planas cobertas com gramíneas,


ou seja, tipos de grama — continuei —, e por isso sempre foram usadsa como pastagens,
para criação de gado ou ovelhas.

Adrienne olhava para fora, mas acompanhava meu relato com atenção.

— O clima aqui é subtropical com estações do ano bem definidas, o que não
acontece nas outras regiões do Brasil. Mais da metade do Rio Grande do Sul é composta
de pampas.

— Por isso come-se tanta carne aqui — observou minha amiga francesa. — Não
há falta de espaço aqui e há sempre bois, vacas, ovelhas e carneiros para todo lado que
se olha.

— Mas como o relevo não conhece fronteiras, o pampa também se estende por
grandes áreas da Argentina e do Uruguai.

Naquela noite, dormimos em uma estância, como são chamadas as fazendas de


criação de gado nessa região. É obvio que comemos um autêntico churrasco gaúcho e
Adrienne experimentou pela primeira vez o chimarrão, um tipo de chá tomado em uma
cuia que é parte da cultura dos pampas.

Nos dias seguintes ainda exploramos a região dos Campos Gerais até a divisa
com a Argentina.

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Até a próxima!

As férias de Adrienne estavam terminando e era hora de retornar ao seu país.


Antes de pegar seu voo de volta pra casa, Adrienne comentou sobre as semanas na
Região Sul do Brasil e no quanto ela tinha aprendido sobre nosso país.

Ela já fazia planos para voltar no ano seguinte e me fez prometer que a levaria
para conhecer a Região Sudeste.

— É uma região grande. Vamos precisar de mais tempo!

— Pode contar com isso, amiga. — Ela piscou enquanto me abraçava agradecida
pelas férias sensacionais.

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Mapas

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Estados e Capitais

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Regiões Brasileiras

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Relevo

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Bacias Hidrográficas

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Clima

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Biomas

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