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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E TURISMO - DAT
CURSO DE TURISMO

TEM GRINGO NA PRAIA: TENSÕES, CONFLITOS E DISPUTAS EM


TORNO DA PRESENÇA DE ESTRANGEIROS NA BADALADA ORLA DE
COPACABANA

LEONARDO OLIVEIRA DA SILVA

Nova Iguaçu
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E TURISMO - DAT
CURSO DE TURISMO

TEM GRINGO NA PRAIA: TENSÕES, CONFLITOS E DISPUTAS EM


TORNO DA PRESENÇA DE ESTRANGEIROS NA BADALADA ORLA DE
COPACABANA

LEONARDO OLIVEIRA DA SILVA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro - Instituto
Multidisciplinar, como requisito para a
obtenção do grau em Bacharel em Turismo
sob orientação da Prof. Dr. Euler David
Siqueira.

Nova Iguaçu
2016
LEONARDO OLIVEIRA DA SILVA

TEM GRINGO NA PRAIA: TENSÕES, CONFLITOS E DISPUTAS EM


TORNO DA PRESENÇA DE ESTRANGEIROS NA BADALADA ORLA DE
COPACABANA

Aprovada em ____/____/____

Banca examinadora

__________________ Nota:__________________

Professora Drª. Elis Regina Barbosa Angelo

__________________ Nota:__________________

Professora Drª. Elizabeth Santos de Souza


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que iluminou meu caminho durante esses anos de
estudos. A UFRRJ pela excelência no ensino.
A todos os professores, em especial ao Prof. Dr. Euler Siqueira, pela atenção, dedicação
e paciência na orientação deste trabalho.
Aos meus pais, que partiram antes que esse momento tão esperado chegasse... Percebi,
desde então como seria difícil não vê-los aqui, sinto muitas saudades. Sei que, de alguma forma
vocês estão aqui e sempre estiveram me apoiando. Sentirei a presença de vocês, suas felicidades
e verei os seus sorrisos, estou muito feliz e ao mesmo tempo triste por vocês não estarem aqui.
Ouvirei seus aplausos, e terei a certeza de que onde vocês estiverem, estarão repartindo comigo a
alegria que estou sentindo agora. Estou realizando um sonho meu e de vocês e, só consegui o
realizá-lo, porque tenho vocês dentro de mim.
A todos os amigos e familiares que torceram por mim, e sempre depositaram toda a
confiança no meu esforço, e aos tiveram o pensamento contrário a isso também, pois deram um
incentivo, sem saber deste.
Aqueles que surgiram como uma família para mim, sendo de grande importância, me
apoiando, moralmente, psicologicamente e financeiramente, obrigado por tudo André Ferreira e
Sr Agnaldo dos Santos, se não fossem vocês não alcançaria meu objetivo, vocês são muito
importantes para mim e sempre serão.
Aos meus irmãos e irmãs, que sempre demonstraram confiança em mim, e que apesar de
ser o segundo mais novo dos dez, sempre me trataram como adulto, responsável e dando grande
importância às minhas opiniões em qualquer tomada de decisão familiar, amo a todos vocês e a
nossa união.
Aos amigos de curso: Amanda, Talita, João Victor, Edu, Harlan, Priscila Silva, Márcia,
Rooney, Sandra, Bruno, Victor Hugo, Maria, Michele e a todos que me deram forças para não
desistir, meu muito obrigado!
RESUMO

SILVA; L. O. TEM GRINGO NA PRAIA: Tensões, conflitos e disputas em torno da presença


de estrangeiros na badalada orla de Copacabana. Trabalho de Conclusão de Curso (monografia).
Nova Iguaçu: UFRRJ, 2016.

A praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, é o espaço onde se desenvolve a discussão apresentada nesta
pesquisa. Um dos principais cartões postais da cidade, este espaço apresenta-se como um lugar bastante
diversificado, do ponto de vista dos bairros vizinhos, em sentido social. Dialogando o trabalho em uma
reflexão acerca do conjunto de representações sociais empregado para identificar e classificar
estrangeiros que vivem precariamente nas areias da praia de Copa, na zona sul do Rio. Trata-se
de uma pesquisa qualitativa, guiada por um olhar antropológico que busca compreender em que
medida os estrangeiros que vivem em determinados trechos (entre os postos 3 e 4) da praia de
Copacabana cartão-postal da cidade, são classificados e situados por importantes atores sociais
como a polícia, a guarda municipal e moradores do bairro. A metodologia empregada nesta
pesquisa contou com métodos de coleta de dados que privilegiam a dimensão social do
significado socialmente construído como a entrevista não diretiva e a observação participante.
Este trabalho foi realizado, no município do Rio de janeiro, na praia do bairro de Copacabana,
para observar a relação entre os latino-americanos que fazem do espaço a beira-mar suas
moradias, e também suas interações com a localidade e relações sociais. Objetiva-se realizar
uma análise para entender toda a dinâmica sociológica e suas influências para a atividade
turística da região. Considerando o desenvolvimento desta pesquisa para conclusão do curso de
bacharel em turismo, na qual será realizado um estudo sobre os estrangeiros, que fazem deste
espaço público de lazer de várias pessoas e visitantes, suas moradias, o mesmo apresenta um
favorecido campo de investigação científica, o que me despertou um grande interesse em realizar
esta pesquisa.

Palavras chaves: Copacabana; Praia; Estrangeiros; Latinos.


ABSTRACT

SILVA; L. O. THERE´S GRINGO ON THE BEACH: Tensions, conflicts and disputes around
the presence of foreigners in the trendy border of Copacabana. Undergraduate thesis
(monograph). Nova Iguaçu: UFRRJ, 2016.

The Copacabana beach, in Rio de Janeiro, is the space where it develops the discussion
presented in this research. One of the main postcards of the city, this space presents itself as a
very diverse place, from the point of view of the surrounding neighborhoods, in social sense.
Dialoguing work on a reflection on the set of social representations used to identify and classify
foreigners living precariously on Copa beach sands in the southern zone of Rio. It is a qualitative
research, guided by an anthropological approach that seeks to understand to what extent
foreigners living in certain sections (between the posts 3 and 4) from Copacabana beach postcard
of the city, are sorted and located by major stakeholders such as the police, the municipal police
and neighborhood residents. The methodology used in this research included data collection
methods that emphasize the social dimension of meaning socially constructed as non-directive
interviews and participant observation. This work was conducted in the municipality of Rio de
Janeiro, on the beach of Copacabana, to observe the relationship between the Latin Americans
who make the space the seaside their homes, and also their interactions with the locality and
social relations. The objective is to conduct an analysis to understand all the sociological
dynamics and their influence to the tourist activity in the region. Considering the development of
this research for completion of bachelor of tourism, which will be a study of the foreigners, who
make this recreational public space for several people and visitors, their homes, it presents a
favored scientific research field, and that made me a great interest in conducting this research.

Keywords: Copacabana; Beach; Foreigners; Latins.


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Praia de Copacabana, RJ..........................................................................................11


FIGURA 2 – Latinos dormindo nas proximidades de quiosques..................................................23
FIGURA 3 - Expondo artesanatos pela manhã no calçadão.........................................................30
FIGURA 4 - Argentino Lucas dormindo na praia.........................................................................32
FIGURA 5 - Latino expondo seus artesanatos no calçadão.........................................................36
FIGURA 6 - Cordão e pulseira feitos por um dos rapazes do grupo de latinos............................37
FIGURA 7 - Quiosque em obra ocupado por latinos....................................................................37
FIGURA 8 - Turistas comprando artesanatos ...............................................................................38
Sumário

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 9
1 O BAIRRO DE COPACABANA .............................................................................................. 11

2 TURISMO, CIDADE E SUBJETIVIDADE ............................................................................. 17

3 LATINO-AMERICANOS: OS NOVOS MORADORES DE COPA ...................................... 21

3.1 ESTRANGEIROS NAS AREIAS DE COPACABANA: NEGOCIAÇÃO DE


SENTIDOS...................................................................................................................................34

4 CONSIDERAÇÕES PROVISÓRIAS ....................................................................................... 44

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 47


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INTRODUÇÃO

Após a Copa do Mundo de 2014 estrangeiros de várias nacionalidades decidiram


permanecer no Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro de Copacabana. A presença desses
estrangeiros, principalmente latinos, despertou minha atenção enquanto jovem estudante de
turismo, mas também a de outros atores sociais encarregados de zelar pela ordem moral do
bairro, como a Guarda Municipal e a Polícia Militar. Também moradores de Copacabana
perceberam a presença desses estrangeiros, o que desencadeou reações algumas vezes
conflituosas. É em torno da presença desses estrangeiros, das razões que os levaram a ficar e das
reações das autoridades e moradores do bairro que minha pesquisa se desenvolve. Para todos os
fins deixo claro que minha presença em campo jamais foi neutra, ao contrário, faço parte do
quadro de uma realidade social que inclui muitos atores, seus valores, paixões, medos e anseios.
Acredito que o turismo tenha a ganhar com esse tipo de pesquisa, uma vez que pouco sabemos a
respeito dos motivos, as razões e os valores de que são portadores esses estrangeiros. À medida
que conhecemos mais sobre o universo de significados desses estrangeiros e do quadro maior de
interação social em que produzem podemos ter melhores condições de planejar e tomar decisões
com bases em informações extraídas da análise sociológica.
Tendo explicitado aspectos de meu objeto de pesquisa, deixo claro que o objetivo
principal deste TCC é investigar a forma como um grupo de estrangeiros que habitam as areias
da praia de Copacabana são mapeados e classificados com base na hierarquia social local. Para
todos os efeitos estamos lidando com aspectos de uma dinâmica social conflituosa que envolve a
relação daquele grupo para com a praia e o bairro em um contexto urbano de uma cidade
complexa.
Desde o estabelecimento da antropologia como matéria acadêmica, diversos trabalhos
têm abordado aspectos diversificados dos espaços como extensão importante da apreciação do
homem como sujeito social. Menciono alguns autores que foram importantes neste trabalho:
Gilberto Velho (1991), Georg Simmel (1973), Peter Becker (1980), Roberto DaMatta (1978) e
Euler David Siqueira (2007). Eles investiram atenção especial à pesquisa no espaço urbano e às
noções de espaços, tempo, etc., categorizando de acordo com o entendimento humano, alguns
trabalhos são hoje considerados clássicos da disciplina.
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Minha pesquisa é de natureza eminentemente qualitativa. Estou interessado em


compreender e interpretar, nos moldes da perspectiva fenomenológica, a produção de sentidos e
significados decorrentes das interações produzidas, mantidas e negociadas entre estrangeiros na
orla de Copacabana e diversos outros atores sociais. Para isso adoto uma perspectiva
antropológica e sociológica que foca na relação como produtora de sentidos e significados à vida
social e não poderia ser de outra maneira, afinal, a realidade social não se encontra pronta
bastando aos sujeitos cumprir papéis cegamente.
Minha pesquisa se move num quadro eminentemente urbano. Estudo na metrópole e isso
significa ter de lidar com uma intensa fragmentação de universos sociais ou mundos, nos dizeres
de Velho (1991), onde são tecidos e negociados os significados da vida social. É nesse sentido
que autores como Georg Simmel, Gilberto Velho, Roberto DaMatta, Howard S. Becker, Peter
Berger, Clifford Geertz, Siqueira e Siqueira, além de outros, representam escolhas capazes de
proporcionar um quadro teórico sólido à análise de uma situação social tensa e conflituosa.
Minha estratégia metodológica inclui, além do trabalho de campo, a pesquisa
bibliográfica e documental, o uso de entrevistas abertas e conversas informais, a máquina
fotográfica e o diário de campo.
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CAPÍTULO 1 - O BAIRRO DE COPACABANA

O Rio de Janeiro é uma das cidades mais visitadas da América do Sul (Tripadvisor,
2014). Conhecida como “Cidade Maravilhosa”, algo que se aproxima do que Siqueira chama de
turiscentrismo (2006), esse destino turístico é célebre por sua natureza, montanhas e praias que
despertam o interesse e atraem milhares de pessoas todos os anos.
Entre as muitas praias da cidade, uma, ganha destaque central: trata-se da praia de
Copacabana. No bairro de Copacabana dois eventos maiores se destacam: o carnaval,
considerada a maior festa popular do mundo e o Réveillon. Em ambas as festas um fluxo de
centenas de milhares de pessoas se dirige ao bairro de Copacabana, o que o torna
particularmente importante para investigações no campo das ciências humanas e sociais, como é
o caso do turismo. O bairro de Copacabana concentra o maior fluxo de visitantes da cidade,
também é um dos cartões postais mais populares e um dos mais caros e disputados da zona sul
do Rio.
Figura 1- Praia de Copacabana, RJ

Fonte: Imagem do Google (2015).

Minha pesquisa tem como local privilegiado o bairro de Copacabana. Não preciso
recontar a longa história de sua ocupação e desenvolvimento, mas assim mesmo destaco o
quadro maior em que seu surgimento ocorre. O bairro de Copacabana surgiu em função do
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crescimento da cidade em direção à Zona Sul da cidade. No final do século XIX uma mudança
de mentalidade possibilita a valorização do mar como espaço terapêutico e como espaço de
entretenimento e lazer (SIQUEIRA, 2014). Com a abertura do túnel Velho o bairro irá
experimentar um crescimento sem precedentes ao longo das décadas seguintes culminando com
sua decadência nos anos 1970 e 1980 nisso que ficou conhecido como copacabanização.
Em julho de 1892, inaugurou-se uma linha de bondes do Centro do Rio de janeiro para
Copacabana. Junto ainda a inauguração do túnel Real Grandeza (atual túnel Aloar Prata, mais
conhecido como túnel Velho). De acordo com Geiger:

Copacabana está na chamada Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Diz o


geógrafo Pedro Pinchas Geiger: “Por Zona Sul é conhecida a parte da cidade
situada ao sul do bloco montanhoso. Após a abertura do Túnel Velho, esta zona
cresceu muito com a incorporação à urbanização de Copacabana, Ipanema e
Leblon, sendo que o primeiro transformou-se no mais famoso bairro da cidade.”
(GEIGER, 1963, p. 74)

A criação do acesso ao bairro e a construção do bonde ligando o a zona central da cidade


do Rio de Janeiro até a praia do bairro, atraiu em sua inauguração uma grande quantidades de
importantes autoridades políticas do estado na época. Copacabana não tinha tanta importância,
tampouco despertava o interesse dos cidadãos cariocas, a localidade era apenas reconhecida
como um balneário, bonito a ser admirado por eles, por visitantes e turistas, toda dinâmica da
cidade se resumia a região do Centro.

A primeira lenda que se conhece sobre Copacabana o bairro, que já tinha este
nome, conta que duas baleias, encalhadas segundo alguns, livres segundo
outros, teriam aparecido na praia, no final de agosto de 1858. Entre os dias 22 e
23 daquele ano, centenas de pessoas - com o imperador Pedro II e sua comitiva
à frente - deslocaram-se para vê-las. (O´DONNELL, 2013, p. 29)

Segundo O´Donnell, Copacabana permaneceria no anonimato até este acontecimento,


que levou centenas de curiosos ao local, incluindo o Imperador dom Pedro II e a Imperatriz,
dona Teresa Cristina, porém as baleias nunca apareceram. Chegar à região demandava além de
tempo muita disposição, isso por que a abertura do túnel só se deu trinta anos depois, para
chegar até a praia do bairro era necessário caminhar por toda Rua Real Grandeza, em Botafogo,
passar pelo morro da Saudade e descer a ladeira do Barroso (atual ladeira dos Tabajaras), os
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mais ricos de coches, puxados a cavalo. Começou então o interesse da população areal inóspito e
insalubre.
Copacabana começava a entrar nos discursos de investidores do mercado imobiliário da
época como uma região de vida moderna, salubre e civilizada. Em 1905, o bairro entrava
oficialmente no roteiro turístico do Rio de Janeiro. Em guia editado no mesmo ano para o 3º
Congresso Científico Latino Americano, sugere-se levar o viajante até aquele “bairro novo,
contando já considerável número de boas e bem construídas casas, sendo digno de visita pelas
belezas naturas que oferece”. O lugar, contudo, passava a representar uma experiência urbana
dissociada da “neurose” típica da vida nas zonas centrais, Nessa mesma época começam a surgir
os primeiros casebres no morro da Babilônia, em cima do túnel do Leme, criados por pescadores
e pessoas de classes mais pobres (O´DONELL, 2003).
Com as facilidades de acesso ao novo bairro torna-se moda ir à Missa do Galo, na
Igrejinha de Copacabana. Uma grande novidade: é inaugurado o primeiro cinema do bairro, na
Praça Serzedelo Correia. Nessa época, os habitantes das cerca de 600 casas do bairro podiam
divertirem-se na Cervejaria Brahma, no final do ramal do bonde do Leme, e no Cabaré Mère
Louise, próximo à Igrejinha, que funcionava dia e noite e lembrava um cabaré de far west.É
criada a paróquia de Nossa Senhora de Copacabana e Santa Rosa de Lima. No promontório da
Igrejinha é colocada à pedra fundamental para a construção de uma fortaleza, atual Forte de
Copacabana.
Nas décadas de 1960-1970 a Princesinha do mar entra em decadência. Em todo caso,
Velho destaca alguns aspectos do mito do bairro, principalmente a identificação do local de
moradia e o prestígio social:

“A criação do mito “Copacabana”, assim como “Ipanema” ou “Barra” só é possível em


um tipo de sociedade em que exista uma identificação entre local de residência e
prestígio social de tal forma acentuada que a simples mudança de bairro possa ser
interpretada como ascensão social, mesmo não havendo alteração na ocupação ou na
renda das pessoas em pauta” (1989, p.89).

As ideias expostas por Velho fazem compreender essa classificação entre os habitantes
da Zona Sul onde vive uma maior parcela da classe média, média alta e outras regiões do Rio de
Janeiro, como a zona Norte. Como sublinha Gontijo:

Em alguns momentos do ano, como durante o carnaval, para haver uma


transformação nas relações entre diversas zonas e não exatamente uma inversão
de valores, como observou DaMatta (1978): a imprensa, por exemplo,
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controlada por pessoas da Zona Sul e que, tradicionalmente, descreve a Zona


Norte por seus aspectos negativos, falariam também de seus aspectos positivos,
ainda que essencialmente ligados à cultura do samba. (GONTIJO, 2002, pag.
50)

Partindo desse contexto, percebe-se que Copacabana e a Zona sul do Rio de janeiro,
mesmo que saturadas, permanecem sendo a localidade preferencial de moradia de pessoas com
maior poder aquisitivo do município.

“Quanto ao Rio de Janeiro, no entanto, nunca se tentou fazer alusão a existência de


uma suposta carioquidade. Ao contrário, ainda há uma espécie de ideologia (sutil) da
carioquice permeando os escritos da maioria dos cientistas sociais e intelectuais
brasileiros (de todos os tempos), que generaliza os traços cariocas para o resto do
Brasil, transformando-os em traços culturais nacionais, formadores da própria
“identidade nacional brasileira” (GONTIJO, 2002, p. 74-75)

Neste sentido percebe-se que os símbolos cariocas como a mulata, o samba e entre outros
são atribuídos a uma identidade nacional, e um atrativo da cidade nos aspectos que tangem o
turismo.

Como toda cidade cosmopolita e complexa, o Rio de Janeiro reúne uma grande
diversidade de tipos sociais, grupos e subgrupos. O bairro de Copacabana, pela maneira como
figura nos discursos e práticas dos promotores de turismo, concentra uma grande parcela dos
visitantes, amplificando fenômenos sociais próprios da metrópole. Além de mendigos, camelôs,
moradores de rua, catadores de lixo, vendedores de artesanato, tem-se verificado a presença
crescente de estrangeiros em suas ruas e mesmo nas areias da praia. Porém, pouco se conhece ou
se sabe desses estrangeiros além do fato de que são em sua maioria provenientes de países
vizinhos como Argentina, Colômbia, etc. O que chama a atenção de imediato é que há um
discurso que os classifica como perigosos, sujos, drogados, enfim, uma ameaça à ordem urbana e
ao turismo. Entende-se a partir deste pensamento que existe uma classificação em relação às
pessoas em uma metrópole, estes de acordo com seus comportamentos, aceitos ou não pela
maioria ou até mesmo de acordo com a região de origem ou como se inserem no contexto da
mesma, como nas palavras de Velho (1978)

É nesse sentido que Copacabana se apresentou como um importante campo de pesquisa


que me motivou a realizar uma investigação de cunho qualitativo no campo da sociologia e da
antropologia. Esse trabalho se inscreve na linha de estudos sobre a cidade e a produção da
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diferença, assim como do sentido ou do significado. Um dos expoentes nesse campo foi o
antropólogo brasileiro Gilberto Velho, cujos trabalhos fornecem importantes pontos de
referência para investigar através de um recorte preciso as interações entre um grupo de
estrangeiros que decidiu fixar residência em Copacabana e os diferentes atores com os quais
interagem.
Um dos primeiros sociólogos a abordar a cidade como espaço complexo, em Observando
o familiar (1978), o antropólogo Gilberto Velho assinala a especificidade de lidar com a
antropologia e seus métodos:
“A antropologia, embora sem exclusividade, tradicionalmente, identificou-se com os
métodos de pesquisa ditos qualitativos. A observação participante, a entrevista aberta, o
contato direto, pessoal, com o universo investigado constituem sua marca registrada.
Insiste-se na idéia de que para conhecer certas áreas ou dimensões de uma sociedade é
necessário um contato, uma vivência durante um período de tempo razoavelmente
longo pois existem aspectos de uma cultura e de uma sociedade que não são
explicitados (grifo meu*), que não aparecem à superfície e que exigem um esforço
maior, mas detalhado e aprofundado de observação e empatia” (VELHO, 1978, p.37).

Outro antropólogo brasileiro, Rafael José dos Santos, também assinala em quê consiste o olhar da
antropologia e da pesquisa qualitativa:
“A pesquisa antropológica caracteriza-se por ser “qualitativa”. Menos que os dados de
“quantidade”- obtidos diretamente pelo emprego de questionários fechados ou
indiretamente através de consultas a bancos estatísticos - interessam ao antropólogo as
narrativas, as histórias de vida, os dados de observação direta do cotidiano” (SANTOS,
2005, p. 64).

Esta investigação também articula o turismo aqui entendido como fenômeno social total
ou complexo, Copacabana é uma região turisticamente significativa. A esse respeito, o sociólogo
e pesquisador Euler Siqueira assinala o quanto é difícil uma definição do fenômeno turístico:

“No mercado de bens simbólicos intelectuais, há uma oferta abundante de definições


para o que se convencionou chamar de turismo. Ele é definido como atividade
econômica, ação política, um misto de várias esferas sociais, “indústria” que não polui,
fenômeno típico das sociedades pós-industriais, etc. A despeito do esforço de inúmeros
analistas para colocar em bases transparentes e precisas a natureza do turismo, persiste a
grande variação de definições, orientadas pelos mais diferentes pressupostos teórico-
metodológicos” (SIQUEIRA, 2007, p.01).

Entende-se que o turismo não é um dado claro e objetivo que poderia ser diretamente
observado por um sujeito imparcial e neutro, ao contrário, sua apreensão não prescinde de um
observador socialmente posicionado que porta valores e interesses que são fundamentais para se
eleger tanto o problema de pesquisa quanto o caminho que será percorrido. Isso não nos deve
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isentar de mencionar que o pesquisador deve ter ampla consciência dos valores que utiliza para
escolher seu objeto de investigação e que deve necessariamente explicitar seus preconceitos,
única forma de melhor controlar sua influência sobre o curso da pesquisa.
Do ponto de vista da metodologia, enfatizo que esta pesquisa é de natureza qualitativa e
busca evidenciar de alguma maneira alguns dos sentidos e significados que são construídos e
negociados coletivamente em torno da interação nada consensual e, sobretudo, conflituosa entre
estrangeiros que elegeram a praia de Copacabana como seu local preferencial de estadia e
diferentes personagens sociais como policiais, guardas municipais, ambos encarregados de
manter a ordem moral no bairro, moradores, turistas e banhistas.
Como coloca em evidência, Siqueira (2007) chama a atenção para espaços e áreas da
vida social que dificilmente são merecedoras do olhar dos pesquisadores, mas que a antropologia
se interessa:
“Uma visita ao museu, ao centro cultural, a casas de cultura, mas não menos às ruas,
botequins, esquinas, galerias, shopping centers, clubes, igrejas, hotéis, boates, pontos de
taxi, rodoviárias, aeroportos, praças, cinemas, casas noturnas e supermercados, dentre
outros, pode nos revelar mundos nunca antes pensados e imaginados. Mas, isso depende
de um certo tipo de aprendizado que nos leve ao estranhamento e à descoberta ou talvez
eu devesse dizer redescoberta do outro, da diferença, enfim, da alteridade. E
imediatamente à descoberta do outro e do estranho, também tenho de forçosamente me
redescobrir. A partir da antropologia o conhecimento do outro se dá concomitantemente
ao nosso próprio” (SIQUEIRA, 2007, p.05).

Talvez essa pesquisa aborde um objeto tido como irrelevante por muitos que habitam na
região investigada. Contudo, o objetivo não é adotar o ponto de vista moral daqueles que
rotulam de forma hierárquica e preconceituosa os novos moradores de Copacabana. É nesse
sentido que esta investigação pode ajudar a ir além das fachadas, como sugere Peter Becker
(1982) assim como com as definições oficiais da realidade. Neste sentido pode-se ter novas
percepções em relação a coisas e lugares, mesmo estes sendo usuais ao nosso cotidiano.
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CAPÍTULO 2 – TURISMO, CIDADE E SUBJETIVIDADE

Procurei deixar claro na introdução que meu objeto de estudo gira em torno de como são
percebidos e classificados um grupo de estrangeiros que vieram ao Rio e resolveram ficar na
cidade, mais precisamente na praia de Copacabana. A maneira como são percebidos e
identificados pelos mais diferentes atores sociais do bairro sugere, segundo as pistas deixadas
por Velho (1978), que são alvo da forma hierarquizada e estereotipada com que são
classificados. A interação decorrente do encontro de diversos atores com os estrangeiros latinos
resulta em tensões e é fonte potencialmente de conflitos, mas também é possível encontrar
solidariedade, como o fornecimento de água ao grupo por funcionários dos quiosques,
carregamento de seus celulares e aparelhos eletrônicos, isto sempre escondido de seus patrões.
Gilberto Velho refletiu sobre essas duas formas de localização social, principalmente em
seu trabalho “Observando o familiar” (1978). Velho se valeu das investigações que outro
sociólogo, George Simmel, preocupado em pesquisar a cidade refletia, na Alemanha, sobre a
maneira como a cidade era capaz de interferir no processo de individualização ou de produção
de subjetividade. É nesse sentido que Velho chama a atenção ao fato de que o familiar não é
necessariamente conhecido, muito ao contrário:

“(...) vejo na rua um grupo de nordestinos trabalhadores de construção civil enquanto a


alguns metros adiante conversam alguns surfistas. Na padaria há uma fila de
empregadas domésticas, três senhoras de classe média conversam na porta do prédio em
frente; dois militares atravessam a rua. Não há dúvida de que todos esses indivíduos e
grupos fazem parte da paisagem, do cenário da rua, de modo geral estou habituado com
sua presença, há uma familiaridade. Mas, por outro lado, o meu conhecimento a
respeito de suas vidas, hábitos, crenças, valores é altamente diferenciado. Não só o meu
grau de familiaridade, nos termos de DaMatta, está longe de ser homogêneo, como o de
conhecimento é muito desigual”(VELHO, 1978, p.39).

A forma como classificamos os outros com os quais convivemos, mesmo durante muito
tempo, não se deve desviar do fato de que não os conhecemos somente porque nos são
familiares. A maneira como identificamos os outros e isso vale para os estrangeiros investigados
neste estudo e cujos olhares de autoridades, turistas e moradores portam preconceitos, é dada
pela rotina ou ainda pela hierarquia, aqui explicitada por Velho da seguinte maneira:

“(...) a realidade e as categorias sociais à sua volta estão hierarquizadas. A hierarquia


organiza, mapeia e, portanto, cada categoria social tem o seu lugar através de
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estereótipos como, por exemplo: o trabalhador nordestino, “Paraíba”, é ignorante,


infantil, subnutrido; o surfista é maconheiro, alienado, etc. Eu acrescentaria que a
dimensão do poder e da dominação é fundamental para a construção dessa hierarquia e
desse mapa” (VELHO, 1978, p.40).

Entendo que os estrangeiros que encontrei em Copacabana são mapeados e


hierarquizados nas mesmas bases estereotipadas e preconceituosas. Por isso a necessidade de
problematizar a forma como esquematizamos a realidade social com base em categorias
altamente classificadas:

“O que sempre vemos e encontramos pode ser familiar, mas não é necessariamente
conhecido e o que não vemos e encontramos pode ser exótico mas, até certo ponto,
conhecido. No entanto estamos sempre pressupondo familiaridades e exotismos como
fontes de conhecimento ou desconhecimento, respectivamente”(VELHO, 1978, p.39).

A vida na contemporaneidade origina-se de muitos problemas, que faz com que os


indivíduos almejem a emancipação e a individualidade de sua existência diante das
inquestionáveis forças sociais, da herança histórica, da cultura externa e da técnica de vida.
Assim, conforme Simmel:

“O século XVIII conclamou o homem a que se libertasse de todas as dependências


históricas quanto ao estado e à religião, à moral e à economia. A natureza do homem,
originalmente boa e comum a todos, devia desenvolver-se sem peias. Juntamente com
maior liberdade, o século XVIII exigiu a especialização funcional do homem e seu
trabalho; essa especialização torna o indivíduo incomparável a outro e cada um deles
indispensável na medida mais alta possível” (SIMMEL, 1973, p.11).

Na metrópole as relações são principalmente do tipo secundário. A metrópole se abre ao


indivíduo como um campo de possibilidades, mas cobra um preço elevado em termos de saúde
mental. Em grande parte tudo funciona a partir da troca monetária. É necessário que cada
cidadão tenha uma técnica que será usada como forma de ganho de capital, para sobreviver na
metrópole. Por outro lado, essas técnicas os tornam dependentes uns dos outros, num tipo de
rede de solidariedade.
O município do Rio de Janeiro evidencia todas as características de uma cidade grande,
com uma extensão territorial de 1.199,828 km e sua população constituída por 6.320.446
habitantes (IBGE 2015). Nela observamos inúmeros condicionamentos: o mudar de ruas, a
variedade econômica, ocupacional e social, etc. Isso faz da cidade um quadro oposto ao da
cidade pequena e a vida rural. Em uma pequena cidade as pessoas possuem uma familiaridade
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com toda a vizinhança, mantendo uma relação de proximidade, se não é que podemos dizer
familiar. Os estímulos na cidade pequena assim como sua sucessão são menores e mais lentos, o
que favorece a relação primária, notadamente aquela mediada por sentimentos e emoções. Na
cidade grande a velocidade e a quantidade dos estímulos é algo totalmente diferente. Para lidar
com esse quadro o citadino desenvolve um “órgão”, o intelecto ou a razão, única forma capaz de
lidar com um quadro dessa natureza. Trata-se da atitude Blasé. A metrópole se opõe totalmente a
essa característica do campo, os cidadãos que vivem uma dinâmica diferenciada, onde o
desconhecido é visto como ameaça, os moradores de apartamentos e condomínios fechados mal
tem uma relação de proximidade, mesmo que convivam no mesmo local por anos.
Até na questão econômica, os grupos menores se conhecem, produtor e consumidor, isso
devido a como interagem, quando necessitam de alguma mercadoria, na metrópole os indivíduos
muitas vezes não tem o mínimo contato pessoal com o comprador. Nas palavras de Simmel:

“A base psicológica do tipo metropolitano de individualidade consiste na intensificação


de estímulos nervosos, que resulta da alteração brusca e interrupta entre estímulos
exteriores e interiores. Sua mente é estimulada pela diferença entre a impressão de um
dado momento e a que procedeu. Impressões duradouras, impressões que diferenciam
apenas ligeiramente uma da outra, impressões que assumem um curso regular e habitual
e exibem contrastes regulares e habituais - todas essas formas de impressão gastam, por
assim dizer, menos consciência do que a rápida convergência de imagens em mudança,
a descontinuidade aguda contida na apreensão com uma única vista de olhos e o
inesperado de impressões súbitas. (SIMMEL,1973, p.12)

Em uma metrópole tudo o que é diferente a realidade cotidiana chama a atenção de todos
que estão pelas ruas da cidade, como no fato narrado por Gilberto Velho no livro Unidade e
Fragmentação em Sociedades Complexas:

“Eram dezessete horas na Av. Nossa Senhora de Copacabana, Posto Seis, perto da
esquina da Rua Francisco Sá, Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. O episódio se
passa no final da década de 1970, agosto de 1978, exatamente. Era um dia de semana.
Estava caminhando em direção a Ipanema. Notei um ajuntamento de pessoas. A
primeira hipótese foi de algum acidente ou alguém passando mal. À medida que fui me
aproximando, o ajuntamento começou a tomar forma. Notei uma espécie de fila sendo
organizada. No seu início, vi um senhor negro, forte de uns sessenta e poucos anos,
cabeça branca, com trajes modestos, sentado em um pequeno banco”. (VELHO, 1994,
p. 11).

Nota-se que a realização daquela manifestação popular religiosa possui características


conhecidas pela grande maioria presente naquele momento, ou seja, um ritual de umbanda
ocorrendo fora de seu ambiente comum, em um espaço público e turístico possibilitou a
20

interação de diferentes pessoas em classes sociais, gêneros e idades, inseridos no mesmo


contexto de uma metrópole urbana.
É, portanto nesse tipo de espaço, com todas as suas divisões, separações,
distanciamentos, fragmentações, etc., que situo o quadro de uma situação social bastante
específica se desenrolando nas areias da praia de Copacabana.
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CAPÍTULO 3 – OS NOVOS MORADORES DE COPACABANA

Copacabana é um dos bairros mais conhecidos em todo mundo tratando-se de turismo. É


um bairro que atrai turistas de diversas partes do planeta todos os anos. A popularidade do bairro
é descrita em “A invenção de Copacabana”, de Julia O´Donnel:
“Seus moradores são das variadas classes sociais, conhecido também como Princesinha
do Mar, Bairro de boemia, glamour e riqueza, Copacabana deu origem a muitas
músicas, livros, pinturas, virando referência turística do nacional. Copacabana é um dos
bairros mais belos, cosmopolita, democráticos e pujantes da cidade, atraindo grande
contingente dos turistas para os seus mais de oitentas hotéis, que ficam especialmente
cheios durante a época de Réveillon e do Carnaval. No fim de ano, a tradicional queima
de fogos que pode ser contemplada por todos na areia é um festival que atrai uma
multidão de pessoas, turistas ou não. A orla ainda é lugar de variados eventos, como
shows nacionais e internacionais durante o resto do ano”. (O´DONNEL, 2013, p.13).

É nesse bairro “inventado”, no sentido social do termo, que em 8 de agosto de 2014


iniciei um novo estágio. Fui contratado para atuar na área do turismo, no bairro de Copacabana,
mais especificamente entre os postos três e quatro e as ruas Figueiredo de Magalhães e Siqueira
Campos. Recepcionaria turistas que visitariam o centro comercial (Shopping Riosul),
encaminhando-os a partir de um serviço de ônibus gratuito. Comecei as atividades um mês
depois do fim do mundial de futebol de 2014 que havia ocorrido em nosso país.
Não sabia muito sobre a localidade, não mais do que muitos outros cariocas. Conhecia o
bairro de Copacabana apenas durante meus momentos de lazer, quando decidia ir à praia
pouquíssimas vezes aos finais de semana. Não possuía uma ligação forte com essa parte da
cidade, até mesmo por ter sido criado em Duque de Caxias, baixada fluminense do Rio de
Janeiro, onde a rotina diária é de tranquila e de familiaridade com a vizinhança, até me mudar
para o bairro do Flamengo em março de 2011. Mesmo assim, não freqüentava assiduamente
Copacabana. Um dia de praia ou uma visita ao local por poucas horas, podia-se perceber o quão
agitado e badalado este era, o mesmo evidenciava algumas características como: a diversidade
de pessoas, classes sociais, uma grande mistura de turistas nacionais e estrangeiros, idiomas,
sotaques, trabalhadores, moradores, mendigos, pequenos furtos a transeuntes, um apanhado de
todas essas características em um único lugar.
Ao começar a trabalhar em Copacabana, pude vivenciar a localidade com maior
familiaridade, todos os atores que compartilhavam aquele espaço social interagiam de forma
direta ou indireta, devido suas relações diárias. O bairro mostrou-se ser muito badalado. Isso fica
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mais explicito em épocas de grandes eventos como Réveillon e Carnaval, a todo momento,
ocorrem furtos, roubos a pedestres, turistas e comércios locais; o tráfico de drogas é bastante
discreto; os traficantes se camuflam dentre os freqüentadores da praia e pedestres pelo o
calçadão para evitarem a ação de policiais militares da região; a prostituição já não é tão
explicita. Há algumas pessoas que exerciam a atividade e conversavam abertamente sobre o
assunto comigo ou com amigos de trabalho.
Comecei assim, a me familiarizar com o bairro. Copacabana passou então, a ser visto por
mim como um lugar no qual há uma enorme interação social entre todos que vivenciam sua
rotina, mas com significados diferentes. Também via o bairro como um lugar, hospitaleiro,
badalado, às vezes perigoso por seus assaltos diários.
Em que consistia meu trabalho em Copacabana? Descrevo esse ambiente seguindo
orientações de meu orientador, professor Euler. De acordo com ele, é importante identificar o
quadro onde se está inserido ao mesmo tempo em que busca transformar o familiar em exótico.
No estágio trabalhava com uma equipe composta por quatro pessoas, sendo dois assistentes de
turismo (Maísa e Alex), plantonistas que trabalhavam em escala de 12 x 36 e dois estagiários, eu
e Yuri.
No dia 29 de agosto de 2014, a empresa que atuava como operadora no quiosque
(Creperia Chez Michou) e o mantinha aberto para vender algum produto, já que este era um dos
acordos entre a administração da orla do Rio de Janeiro e o centro comercial, decidiu finalizar
seu contrato com o shopping que era o principal responsável pelo estabelecimento.
Começava o shopping, então, a negociar uma nova firma para abrir o espaço e atuar com
no espaço. Durante esse processo contratual entre a empresa e o novo operador, o quiosque
precisou passar por uma reforma e se ajustar ao outro sócio, permanecendo fechado para obras
por cerca de três meses. Nossa equipe apenas atuava na captação de visitantes e potenciais
clientes para o centro comercial, que eram então conduzidos até o mesmo através do serviço de
transporte gratuito, chamado freebus. Então, necessitávamos somente de uma pequena mesa,
duas cadeiras, nosso material de divulgação, os bilhetes para que os turistas pudessem ingressar
no ônibus, e no deck com o estabelecimento fechado fazíamos a recepção dos visitantes
interessados em conhecer a atividade oferecida.
O trabalho se iniciava todos os dias às nove da manhã. Chegávamos, organizávamos
nossos materiais e nos posicionávamos para receber os turistas que se aproximavam. Em duas
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semanas após o fechamento do quiosque foi que se deu meu primeiro encontro com os
estrangeiros latinos. Passamos a encontrar pela manhã um grupo com cerca de quatro rapazes
dormindo no deck do quiosque. Aquilo voltou a se repetir por outros dias. Confesso que algumas
vezes a presença deles me incomodava. Na verdade, meu incômodo era baseado em uma ideia
construída não só como profissional que representava aquela empresa, mas também como futuro
turismólogo. Procurei lidar com isso, contudo, sem negar sua ocorrência.
O grupo sempre conversava em espanhol, algo que despertou bastante minha atenção,
afinal, era algo novo para mim; pensava em possibilidades de serem turistas acampando ou
mendigos ou haviam ficado sem dinheiro para voltarem para seus países de origem ou não
tinham reservado uma hospedagem. Comecei a observá-los mais de perto. Percebi que ao
acordar eles trabalhavam na montagem de artesanatos e que mais tarde os mesmos seriam
vendidos no calçadão da praia.
Na equipe em que atuava como estagiário, os dois assistentes de turismo tinham uma
visão um tanto quanto preconceituosa em relação aos rapazes, muitas vezes diziam que os
mesmos não deveriam ter saído de seus países sem dinheiro para vir ao Rio de Janeiro. Ouvia os
comentários negativos em relação aos latinos, contudo, sem concordar com eles. Na verdade eu
já estava presenciando um possível conflito erguendo-se a partir da forma como os estrangeiros
não bem vistos eram classificados com base na hierarquia e no preconceito de que nos fala
Velho. Comecei a querer entender mais sobre a presença deles na localidade, já que todos os dias
dormiam no quiosque.

FIGURA 2: Latinos dormindo nas proximidades de quiosques

Autoria: arquivo pessoal


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Foto tirada em meados de julho de 2015, mês em que estava de férias na faculdade e
troquei minha escala de trabalho, de carga diária de seis horas/dia por um horário de 12 x 36. À
esquerda, um latino com seus artesanatos e objetos pessoais se preparava para dormir em um
quiosque que estava em obras nas proximidades da Rua Santa Clara. A foto à direita, um dos
argentinos amigos do grupo, dormindo encostado na jardineira de um dos quiosques,
possivelmente, o mesmo deveria estar dormindo em baixo do deck do estabelecimento, e saído
com a chegada dos funcionários no horário da manhã para expediente, como nos primeiros dias
que encontrava o grupo em nosso quiosque e eles se retiravam do local.
O barulho da abertura da porta do quiosque pela manhã sempre despertava o grupo. Eles
tomavam café da manhã, pegavam seus materiais e começavam a criar suas artes; depois de uma
semana, já não se incomodavam mais com nossa presença ou dos transeuntes. Com o passar do
tempo e a rotina, se desinibiram; pediam água ou solicitavam ajuda para carregar algum aparelho
eletrônico, geralmente uma caixinha de som, que usavam para escutar músicas ou celulares.
Aproveitei a situação para conhecê-los e entender mais sobre sua situação. Minha tentativa de
aproximação gerou um desconforto nos rapazes. Ganhar a confiança deles foi uma tarefa
bastante complicada, assim como, descrever os acontecimentos, como assinala Gilberto Velho;

“Quando um antropólogo faz uma etnografia, uma das tarefas mais difíceis, como
sabemos, ao narrar um evento, é transmitir o clima, o tom, do que está descrevendo. A
sucessão dos fatos no tempo, o número de participantes, a reconstituição das interações,
são etapas fundamentais mas, quase sempre, fica-se com a sensação e/ou sentimento de
que falta algo crucial. No caso, o que me parece mais importante é transmitir a ideia de
que, para as pessoas envolvidas, nada particularmente anormal estava ocorrendo”.
(VELHO, 1994, p.13)

No dia 04 de setembro de 2014 cheguei ao quiosque. O assistente de turismo havia


informado por telefone que iria se atrasar, ficando sozinho na parte da manhã, eram cerca de dez
horas da manhã quando um dos rapazes do grupo se dirigiu até mim pedindo água, usando uma
roupa bem suja, cabelos de tranças dread, com uma tira preta o prendendo, olhos azuis claros e a
pele queimada pela exposição ao sol. Se aproximando do quiosque me abordou com um “bom
dia”, falando português com um sotaque bastante carregado da língua espanhola e perguntou se
poderia encher uma garrafa dessas de refrigerante pet, respondi que sim, pegando a garrafa de
sua mão. Aproveitando toda aquela circunstância para tentar um possível contato mais direto
com o grupo, então perguntei qual era seu nome, de onde ele era e se trabalhavam com
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artesanatos, que achava esta forma de arte muito interessante, foi nítido o seu olhar de
desconfiança, um tanto quanto assustado, sem estender muito a conversa, me disse que se
chamava Alez, que era colombiano, estava com três amigos, um também de seu país e outros
dois eram argentinos, e que todos trabalhavam vendendo peças feitas por eles na praia.
Tornando cada vez mais interessante querer entender suas ligações com a praia de
Copacabana, já que estavam dormindo todos os dias ali, servindo como possíveis vitimas de
assaltos, roubos e todos os perigos que as ruas de qualquer bairro de uma grande cidade podem
oferecer.
Uma metrópole proporciona diversos perigos a todos que vivem sua dinâmica: assaltos,
doenças, violência, entre outros problemas causados pelo convívio em sociedade, por outro lado,
as grandes cidades por toda a parte do mundo também oferecem ao homem qualidade e
liberdade de vida. Como assinala Simmel, na metrópole há como nos proteger zelando por nossa
subjetividade:

“A antipatia nos protege de ambos esses perigos típicos da metrópole, e indiferença e a


sugestibilidade indiscriminada. Uma antipatia latente e o estágio preparatório do
antagonismo prático efetuam distâncias e aversões sem as quais esse modo de vida não
poderia absolutamente ser mantido”. (SIMMEL,1973, p. 18).

Essa antipatia se evidencia em pequenos aspectos comportamentais dos habitantes em


uma grande cidade. As pessoas que vivem em um contexto metropolitano possuem uma rotina
de desconfiança para com o outro, um simples exemplo, é o fato de que em apartamentos ou
condomínios fechados, haver moradores que não sabe quem são ou às vezes nunca viram seus
próprios vizinhos que moram.
Esse comportamento faz com que se pareçam frios e sem almas, mas essa é apenas uma
característica de socialização da realidade metropolitana, e também uma maneira de evitar os
perigos da mesma, como relata Simmel (1973)
A tentativa de aproximação, as simples perguntas, causou um estranhamento,
compreensível, era apenas um desconhecido querendo saber da vida de um estrangeiro, que
estava dormindo nas ruas, poderia talvez, representar uma ameaça a ele, Copacabana é um local
perigoso, imaginem para quem dorme nas ruas. Com o passar dos dias eles passaram a pedir
água e para carregar celulares com maior freqüência, comecei então, a ter um melhor contato
com Alez, um dos colombianos.
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Os latinos formavam pequenos grupos, talvez, isso se desse como forma de se sentirem
mais protegidos da violência. Era comum presenciar brigas, roubos causados por mendigos, mas
nunca testemunhei um dos estrangeiros envolvidos em situações semelhantes, suas
características comportamentais seriam uma maneira de evitar conflitos com outras pessoas que
fazem da praia e das ruas de Copacabana suas moradias.
Para alguns moradores e comerciantes do bairro parece não haver uma diferenciação
entre os mendigos e os latinos que dormem na praia. Essa ideia é exposta em uma publicação de
um jornal de livre circulação no bairro, Posto Seis em Fevereiro de 2015:

“Em carta recente de um leitor, foi mencionado o problema do mal estado de


conservação das ruas internas do bairro. Acrescento a esse problema um outro,
necessitando de tratamento urgente e persistente, antes que se torne de natureza
permanente e de maior proporção, mais difícil por tanto de se extirpar. Trata-se dos
grupos que fazem seus dormitórios nessas ruas e até em outras de maiores movimentos,
tornando-se cada vez mais numerosos e sem qualquer cerimônia no que se trata de suas
atividades íntimas, além da imundice que deixam cada dia. Não creio que haja erro ao
afirmar que não são necessariamente mendigos, mais sim usuários de drogas,
desocupados, vadios de toda a ordem e até flanelinhas com todos os membros de suas
numerosas famílias. Fazem-se necessárias medidas urgentes da administração do bairro,
visando quanto antes a sanar o quanto antes a presença desses agrupamentos que tanto
mal e insegurança causam aos moradores de Copacabana, antes que tenhamos nossa
“cracolândia” local, a semelhança do que já vemos em diversos bairros da zona norte e
até em São Paulo, a maior e mais rica cidade (POSTO SEIS, edição 403, 2015).

A matéria foi publicada pelo informativo local, o Jornal chamado Posto Seis (Primeira
quinzena de fevereiro de 2015, edição 403, ano 20). Trata-se de um jornal..... Cuja distribuição é
gratuita pelas ruas do bairro e em pontos onde há maior circulação de fluxo de pessoas, como o
metrô. Criado em fevereiro de 1996, o principal objetivo é noticiar os problemas do bairro de
Copacabana. Em uma carta enviada por um residente do bairro a uma sessão dedicada à
vizinhança, constatamos o ponto de vista de alguns habitantes em relação a todos aqueles que
moram nas ruas de Copacabana.
Os latinos eram bastante reservados entre os horários de doze e treze horas, quando
paravam próximo ao quiosque para descansar, almoçar. Nesses momentos aproveitava para
conversar com algum deles, para saber como estavam indo as vendas, a fim de que mencionasse
algo, que me levasse a entender mais sobre as motivações que os trouxeram a Copacabana.
Alguns deles não falavam muito de si. O contato com Alez (Colombiano do grupo de latinos) foi
favorecido, por que no calçadão conheci Vitória, uma das “camelôs” do calçadão, que também
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era amiga do colombiano, que tinha maior afinidade, por estar sempre junto ao rapaz devido
ambos compartilharem o mesmo espaço de trabalho, tinha maior intimidade para falar com ele.
Vitória é uma morena de cabelos pretos cacheados. Mede em torno de um metro e
sessenta de altura e aparentava ter seus quarenta e poucos anos de idade; morava em
Copacabana, assim que comecei a trabalhar no quiosque, ela possuía uma maca de massagem,
que ficava na areia da praia, próxima a Rua Siqueira Campo, e no dia a dia de trabalhando
acabamos nos conhecendo, assim como com todos os outros com quem falava no bairro. Vitória
se tornou uma intermediária entre eu e o grupo, pois tudo o que sabia sobre os latinos me
contava.
No dia 16 de novembro 2014, por volta de onze da manhã avistei Vitória caminhando
pelo calçadão. Ela levava umas cangas em um dos braços e puxava um desses carrinhos de feira,
estava no deck e a chamei, perguntei pela maca de massagens, respondeu que os guardas
municipais que fazem o ordenamento do bairro prenderam todo seu material de massagem, pois
para exercer aquela função na praia era preciso uma licença da prefeitura, então para não ficar
sem uma ocupação ou sem um ganho extra, resolveu vender outra mercadoria, justificando que
era mais fácil fugir da ação dos guardas municipais.
Todos os dias entre dez e onze da manhã Vitória chegava puxando seu carrinho com as
cangas e parava perto do quiosque para vendê-las. Quando os latinos estavam por perto
vendendo seus artesanatos, conversávamos todos. Vitória sempre estava sacaneando o
colombiano, falando de seu cabelo, que devia estar cheio de piolhos, o mandava tomar banho,
Alez aceitava tudo aquilo como na ocasião, uma brincadeira, por outro lado isso evidenciava o
verdadeiro pensamento por de parte de uma maioria em Copacabana em relação a presença do
grupo na localidade.
A amizade com Vitória favoreceu muito na aproximação com Alez. Dessa forma pude
saber um pouco mais sobre ele. Alez tinha de 27 anos, dizia ser de uma família colombiana de
classe média, que vivia bem em Bogotá, capital da Colômbia. Ele me disse que dormia na praia
por que as hospedagens no Rio de Janeiro eram muito caras. Ela também me contou que havia
chegado à cidade para o mundial de futebol e também para vender artesanatos. Ele estava com a
pretensão de juntar dinheiro e alugar uma casa ou um quarto em algum lugar com valor mais
acessível em Copacabana, como em alguma favela. Outras vezes dizia estar juntando dinheiro de
suas vendas para voltar para Colômbia ou simplesmente desconversava o assunto. Na verdade,
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não tenho como saber se o que me dizia era verdade ou fruto de alguma estratégia para fugir a
qualquer identificação. Mas isso não era importante, pois de alguma forma o que importava era
buscar compreender tudo isso no interior de um discurso mais amplo onde mesmo fantasias e
devaneios pudessem fazer algum sentido.
Em minha pesquisa podem perceber a utilização do termo “latinos” ao mencionar o
grupo de rapazes. Este foi usado como referência à localidade de origem de cada um deles,
países latino-americanos. Deixo claro que a expressão usada foi uma forma de diferenciar os
estrangeiros dos moradores de ruas de Copacabana, pois na primeira observação direta que fiz,
pude ouvi-los dialogando em espanhol, e até o primeiro contato não sabia se tratava de mendigos
ou não. Eles nunca se demonstravam ofendidos com o uso do termo, até mesmo em uma
primeira conversa um deles se descreveu como “latino”, fazendo referência ao país vizinho, à
Argentina.
A fonte de renda dos latinos vinha principalmente da venda de suvenires e outros objetos.
Os quatro latinos sabiam produzir algo para vender; cordões, pulseiras, carteiras e bolsas de
couro, pinturas paisagísticas em cerâmicas, entre outras artes. Não saberia dizer ao certo se o
dinheiro adquirido com as vendas era propriamente para se sustentarem na cidade ou se tinham
ajuda financeira de familiares, pois achava um pouco inconveniente abordar essa questão.
Durante o mundial de futebol em 2014 as diárias em meios de hospedagens no Rio de
janeiros e em Copacabana estavam com preços muito elevados, justamente na mesma época que
o grupo de amigos latinos chegou à cidade para aproveitar o campeonato e vender seus
artesanatos.
Em 8 de março de 2015 com a reabertura do quiosque, os latinos passaram a não dormir
mais por perto. O dono e alguns trabalhadores do estabelecimento deixavam claro seu repúdio
pelo grupo, que ali sempre esteve dormindo, dizendo que com o funcionamento da loja eles não
poderiam ficar mais no deck, pois prejudicariam na captação de potenciais clientes.
Naquela mesma semana por volta de onze horas da manhã avistei Vitória vendendo
cangas no calçadão. Já fazia uns dias que não via Alez ou um dos latinos de seu grupo, então fui
conversar com ela para saber do paradeiro dos rapazes, como ela sempre estava mais próxima a
eles por utilizar o espaço para trabalhar, acabava tendo mais contato com eles. Ela me disse que
Alez havia tido um desentendimento com uma mulher com quem vinha mantendo um
relacionamento, isso devido a uma possível gravidez da moça. Então, o colombiano Alez decidiu
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que iria sair de Copacabana e ficar um tempo em Ilha grande, em Angra dos Reis na região da
Costa Verde do Rio de Janeiro, onde já havia estado por umas semanas vendendo artesanatos. A
partir daquela semana passei a não mais vê-los no calçadão.
Em um domingo de sol quente do mês de abril de 2015 fui à praia em Copacabana com
alguns amigos, já estávamos por umas duas horas na areia conversando, e decidimos comprar
algo para comer, disse que iria até um quiosque no calçadão procurar um petisco.
Saí da areia me direcionei a um quiosque, na sombra de uns coqueiros encontrei dois dos
argentinos do grupo de amigos de Alez, perguntei sobre seu paradeiro, acabaram confirmando
toda a história contada por Vitória, que ele havia de fato, ido para Ilha Grande, e que eles já não
estavam mais dormindo na praia, pois haviam alugado uma casa na Ladeira dos Tabajaras
(Favela do Bairro de Copacabana). Parece que a venda de artesanatos em Copacabana gerava
uma renda razoável para os rapazes continuarem no bairro.
Vitória era moradora de Copa e por sua vez, também vendia cangas no calçadão, e em
dias que a os fiscais não atuavam com maior freqüência, ela trabalhava com massagens, como
sua maca não havia sido recuperada, conseguiu uma emprestada. Apesar de ser amiga do
colombiano, reclamava demais em relação à presença deles no local, dizia que eles chegavam
para tomar seu espaço e outros dos trabalhadores que dependiam do bairro para garantir alguma
renda na localidade, relatou também sobre um dia que chegou ao calçadão, não havia quase
espaço para expor suas cangas, e que tinham chegado novos estrangeiros na localidade, e
estavam vendendo artesanatos por todo à orla, comentou que eles deveriam vir como turistas e
deixar dinheiro na cidade, não para vender artes nas ruas ocupando seu espaço de outros
ambulantes. Um pouco exagerado, seu ponto de vista.
A cada dia surgiam novos estrangeiros vendendo artesanatos pelas ruas de Copa e dentre
esses alguns dormiam na praia. No final de setembro (dia vinte e cinco) por volta das dez da
manhã, encontrei outro grupo, em um quiosque que estava fechado para reforma, na altura da
Rua Figueiredo de Magalhães. Resolvi conversar com uma menina que estava junto ao grupo.
Ela se apresentou como Karen, 26 anos e dizia ser de Buenos Aires, na Argentina. Ela contou
ainda que haviam chegado à Copacabana junto com seus dois amigos já havia duas semanas e
que dormiam na praia em barracas de camping. Segundo ela, havia feito uma semana que
conseguiram alugar uma casa no Morro da Babilônia. Trabalhavam com artesanatos e nunca
tiveram problema em relação à venda de seus artesanatos com as autoridades ou com moradores
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de rua. Perguntada sobre o que a tinha os trazido ao Rio de Janeiro, disse que, já tinha passado
por vários estados, vendendo suas artes, e que quis vir à cidade, pois ouvia falar muitas
informações positivas sobre a mesma; beleza natural, simpatia das pessoas, e assim conseguiria
ganhar dinheiro com seus artesanatos no calçadão de Copa. Nunca se sentiu hostilizada por
moradores e jamais teve problemas a polícia militar ou guardas municipais. Ela ressaltou que
sempre via outros camelôs sendo recolhidos. Ao procurar saber o motivo de suas mercadorias
jamais terem sido recolhidas soube que isso não acontece por que as suas eram artesanais.

Figura 3: Argentinos expondo seus artesanatos pela manhã no calçadão

Autoria: arquivo pessoal

No dia 14 de julho de 2015, chegando por volta de nove da manhã, avistei um homem
dormindo em baixo de um coqueiro mais afastado, porém em frente ao quiosque. Ele utilizava
suas malas como travesseiro. Esperei ele acordar, já era por volta das nove e quarenta, fui até a
areia em direção ao mesmo, lhe desejei um bom dia, pedindo licença, por incomodá-lo.
Expliquei-lhe sobre meu TCC e se ele poderia me ajudar em minha pesquisa, me respondeu que
sim. Apresentou-se como Lucas, disse ser argentino, de Córdoba. Estava no Rio de Janeiro há
trinta dias e havia chegado de carona. Foi dessa forma que entrou no Brasil. Primeiramente ele
foi a São Paulo, permanecendo por seis meses na capital paulista, hospedando-se em hostels e
trabalhando como músico pelas ruas, bares e restaurantes. Durante esse tempo na capital paulista
teve seu violão roubado em um assalto. Decidindo assim, vir para Rio de Janeiro. Relatou que
dois dias anteriores a esta conversa havia sofrido uma tentativa de assalto enquanto dormia na
areia da praia, na altura do posto dois, no Leme. Dois homens se aproximaram enquanto ele
dormia, mas algo fez com que acordasse, pois à noite não conseguia dormir tranquilamente. Os
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ladrões chegaram pedindo dinheiro, dólares, aparelhos eletrônicos e seu celular (sabiam que ele
era estrangeiro), o mesmo respondeu que não tinha. Os rapazes o ameaçaram com uma faca,
dizendo: “Já matei duas pessoas, sou de rua, mais uma não fará diferença”. Então um segurança
de um quiosque perto dali, se aproximou e os dois bandidos se afastaram, seguimos
conversando. Perguntei se ele estava em grupo como os outros latinos que trabalhavam com
artesanatos, e que dormiam por ali também. Lucas rapidamente me respondeu que não, que não
era hippie1 (percebi em seu semblante, que a pergunta foi recebida como uma ofensa), disse que
os outros latinos eram “maconheiros” e drogados, que ele não estava no Brasil por aventura,
tinha vindo atrás de uma oportunidade de trabalho, que havia trancado seu curso de graduação
em engenharia química na Argentina, que não pretendia ficar dormindo na praia e estava
procurando um emprego formal, pois as ruas eram muito perigosas. Disse também que teve a
oportunidade de trabalhar na recepção de um hostel, mas por não falar bem o idioma inglês, não
conseguiu a vaga.
Lucas me contou sobre um grupo de assistência social da prefeitura, que ofereceu-lhe
abrigo em uma instituição chamada CREAS (Centro de Referência Especializada de Assistência
Social), localizada no bairro de Laranjeiras, responsável por abrigos moradores de rua em
unidades da prefeitura. Ele achou o local perigoso, pois outros homens do abrigo tentaram
roubar seus objetos. Além disso, havia regras no interior do lugar. Ele não podia se defender.
Disse que o lugar é como uma prisão e por isso preferiu voltar à praia. Ele ainda explicou que
“nas ruas não paro em um só lugar, durmo em diferentes locais, para evitar os perigos, tenho
feito amizade com algumas pessoas, pois isso é bom para mim, durmo perto dos quiosques, que
à noite toda tem os seguranças que trabalham por aqui, me passa a sensação de proteção. Alguns
dias atrás a polícia revistou minha mala, achando que era um traficante e que vendia drogas,
aqui, muitos estrangeiros e camelôs vivem disso, falei para os policiais que não era bandido, não
usava drogas e nem vendia” (Lucas, Argentino. Relato Oral).

1
diz-se de ou pessoa, ger. jovem, que, nas décadas de 1960 e 1970, rejeitava as normas e os valores da
sociedade de consumo, se vestia de modo não convencional (com influência da moda oriental), deixava
crescer os cabelos, desprezava o dinheiro, o trabalho formal, freq. vivia em comunidades, pregava a não
violência, a liberdade sexual e freq. a liberação das drogas.
32

Figura 4: Argentino Lucas dormindo na praia

Autoria: arquivo pessoal

Na última semana de outubro, dia vinte oito, ocorreu uma operação da assistência social
da prefeitura em Copacabana, esta faria a apreensão de mercadorias dos ambulantes, e o
recolhimento de moradores de ruas do bairro. Os agentes se posicionaram em um carro com um
grupo de guardas municipais e um ônibus (que serviria para levar os que fossem retirados das
ruas) entre as duas pistas da Av. Atlântica, outro grupo se concentrou na altura do posto seis da
praia e outro grupo na praia do Leme. Em todas estas operações atuavam também policiais
militares, que davam suporte aos agentes, caso fosse necessário. Atravessei a rua, me
aproximando de uns três guardas e procurei saber mais sobre aquela operação. Indo em direção
aos agentes, cheguei me apresentando, falando sobre minha pesquisa e se poderiam me ajudar
respondendo algumas perguntas, disseram que sim, então argumentei sobre como funcionava
aquela operação, como procediam em relação ao recolhimento de moradores de rua, e como
agiam no caso estes fossem estrangeiros.
Os guardas municipais me disseram que eles trabalham dando suporte aos agentes da
assistência social, que atuação deles era apenas aquela, depois da realização do recolhimento de
moradores de rua não sabiam ao certo como procediam, apenas que a aceitação de ajuda era de
forma voluntária, que não forçavam ninguém a sair da vida das ruas, atuavam para impedir
agressões por parte dos mendigos contra os agentes da assistência social, finalizando a conversa
me passando um número de telefone, o 1746 da Central de atendimento da prefeitura do Rio,
onde talvez, conseguiria mais informações relevantes.
No mesmo dia (8 de dezembro de 2015) ao chegar após chegar do estágio por volta de
três da tarde, liguei para a central, fui atendido por uma funcionária, que se apresentou como
33

Viviane. Expliquei sobre minha pesquisa de monografia, e falando sobre meu interesse em
entender a dinâmica da operação de recolhimento de moradores de rua e que medidas eram
tomadas no caso dos recolhidos serem estrangeiros. A funcionária me relatou que não
conseguiria me passar uma informação precisa sobre os estrangeiros, que todos os agentes
ofereciam ajuda, tentando retirar as pessoas das ruas, e levá-las para os abrigos, independente de
ser brasileiro ou estrangeiro. Também disse que nas operações não forçavam as pessoas
aceitarem o acolhimento, este era voluntário, como informado pelos agentes da guarda municipal
durante a ação de ordenamento urbano em Copacabana que havia ocorrido naquele mesmo dia,
todos eram direcionados a instituição (CREAS) onde passavam por uma espécie de triagem, e
que uma das unidades dessas instituições ficava no número 56, da Rua São Salvador em
Laranjeiras, e me passou os telefones para que entrasse em contato. Lembrei que Lucas havia me
dito algo em relação a este CREAS2, eu não tinha conhecimento sobre a mesma.

Ao entrar em contato com o CREAS de Laranjeiras informaram que todas as pessoas que
querem sair das ruas são recolhidas pelas equipes. Elas são levadas ao projeto e encaminhadas
para abrigos da prefeitura espalhados pela cidade. A unidade de Laranjeiras não era um dos
abrigos e sim a unidade de avaliação da condição dos recolhidos, um centro de triagem. No caso
dos recolhidos serem estrangeiros é feito um contato com os consulados que verificavam a
situação destas pessoas no país. Eles também são levados para os abrigos. Indaguei sobre o caso
de ilegalidade no país, se era feito um contato com a Polícia Federal ou algum órgão
responsável, disseram que essa parte era feita pelo consulado de cada um deles. Como a maioria
desses estrangeiros, são oriundos de países vizinhos ao Brasil e em seu maior número são de
argentinos, decidi entrar em contato por telefone com o Consulado do país vizinho, que tem sua
sede em Botafogo, RJ. Fiz um contato telefônico com o consulado. Solicitaram que enviasse um
e-mail para obter essas informações e que caso pudessem fornecer estes detalhes, o fariam.

2
O projeto propõe, através de duas equipes multiprofissionais itinerantes, compostas por assistentes
sociais, psicólogos e educadores sociais, a implementação do trabalho de abordagem social - com foco na
humanização, estabelecimento de vínculos e em atendimentos individualizados da população usuária de
crack e outras drogas. O CREAS Itinerante oferta escuta profissional, cuidados de higiene e
encaminhamentos para rede de serviços, dentre estes, o acolhimento institucional nas Unidades de
Reinserção Social do Município do Rio de Janeiro. De mesmo modo, atua conjuntamente com a equipe
do Consultório na Rua, dispensando cuidados de saúde, através de encaminhamentos para avaliação geral
e para tratamento da dependência química.
34

Aguardei cerca de dez dias por uma resposta sem sucesso. Então, liguei novamente e
comentei sobre o e-mail e minha pesquisa. Fui informado por um atendente, que eles não
podiam passar este tipo de informação a terceiros, pois estas eram sigilosas.

3.1 ESTRANGEIROS NAS AREIAS DE COPACABANA: NEGOCIAÇÃO DE


SENTIDOS
Em meu trabalho de campo percebi que os estrangeiros não formam um grupo coeso e
nem homogêneo. Eles não participam todos de um mesmo universo de significados. Mesmo
sendo de uma mesma nacionalidade, como os a argentina, encontrei uma variação nos motivos
que lhes trouxeram aqui e em seus planos. Também percebi que outros estrangeiros se somavam
aos latinos, como alguns africanos, refugiados de guerras civis ditatoriais que assolam parte de
países do continente africano, os mesmos também trabalham como ambulantes, que mal falavam
o português, porém estavam ali buscando fugir de todo sofrimento causado pela guerra em seu
país, e também sofrem preconceitos, como certa vez um ambulante do calçadão, ao parar perto
de nosso quiosque e esconder seus óculos (produto de suas vendas) em uma mochila para que
não fossem recolhidos, e ao avistar dois policiais em um quadriciclo na areia correndo atrás de
um africano, olhou para mim e uma funcionário dizendo: “tomara que o peguem, esses caras
vem de lá do país deles, são todos terroristas, daqui a pouco estão matando todos aqui”. Falei
para ele que muitas pessoas pensavam o mesmo em relação à presença dele ali como ambulante,
o calando. Bolivianos também são encontrados em toda Copacabana, mas principalmente na
Nossa Senhora de Copacabana. Vendem roupas e estão em situação menos dramática do que os
que habitam nas praias.

Em linhas gerais identifiquem fronteiras e distinções entre os estrangeiros. As diferenças


percebidas na cidade dizem respeito às experiências dos sujeitos que podem ou não ser
compartilhadas. Conforme Velho nos diz:

“Uma questão interessante em antropologia é, justamente, a procura de localizar


experiências suficientemente significativas para criar fronteiras simbólicas. Nos estudos
de grupos desviantes sempre é um problema crucial perceber se e quando indivíduos
partilham preferências por comportamentos condenados ou discriminados desenvolvem
uma identidade comum de solidariedade”. (VELHO, 1987, p.15
35

Seguindo as orientações de Velho, busco perceber em que medida os estrangeiros


fabricam uma identidade de solidariedade a partir de suas experiências por comportamentos
classificados como discriminados ou estigmatizados.
Também é comum em uma localidade onde a atividade turística movimenta uma grande
porcentagem da economia, acabar atraindo muitos sujeitos que buscam uma oportunidade de
fazer sua renda a partir do turismo com a finalidade de se manterem no país, pois o trabalho
formal depende de documentações que necessitam de aprovações e acordos entre seu país de
origem e o outro que será sua a nova residência, como no Brasil, a Lei de geral de condições de
entradas e permanência de estrangeiros em território nacional3. Os imigrantes inseridos neste
espaço passam a ver isso como uma maneira de obterem seu sustento, assim como os demais.
Este é também um aspecto constituinte de uma metrópole: o individualismo (em algumas
questões apenas), a busca por recurso financeiro. Manter-se em uma grande cidade requer uma
troca monetária e nesse contexto cada sujeito inserido nela necessita de técnicas que os
diferenciam para sobreviver, além de um bom raciocínio. A economia monetária e o domínio do
intelecto estão intrinsecamente vinculados, como mostra Simmel:

Da mesma maneira, a individualidade dos fenômenos não é comensurável com o


princípio pecuniário. O dinheiro se refere unicamente ao que é comum a tudo; ele
pergunta pelo valor de troca, reduz toda qualidade da individualidade, ao passo que, nas
relações racionais, trabalha-se com o homem como com um número, como um
elemento que é em si mesmo indiferente. (SIMMEL, 1973, p. 13).

Parece haver uma relação de valores culturais, compartilhado pelos integrantes do grupo
dito dos latinos. No ambiente metropolitano, com características tradicionais, até no que se diz a
respeito ao anonimato, tornou-se interessante e diferenciado o que juntou estes indivíduos na
praia. No caso dos latinos, estes são notados por algumas características que os diferenciam dos
demais vendedores ambulantes, e os moradores de rua, primeiramente temos que levar em
consideração o idioma, o espanhol. Alguns possuem bastante dificuldade para falar o português,
com sotaque bastante carregado, tornando difícil a compreensão em alguns momentos. Suas
mercadorias são todas fabricadas de maneira artesanal, ligadas às técnicas culturais de suas
regiões; eles não se misturam com outros habitantes de ruas local e/ou outros camelôs, como já

3
- Lei n.º 6.815, de 19 de agosto de 1980.
- Decreto n.º 86.175, de 10 de dezembro de 1981.
- Resoluções Normativas do Conselho Nacional de Imigração ("CNIg").
36

havia mencionado. Alguns dos artesanatos são tão fascinantes, que eles por si só destacam os
latinos dos demais vendedores, como por exemplo: um argentino que elabora pequenas réplicas
de motos, aranhas, cachorros, escorpiões, guitarras, bicicletas, Cristos Redentores e outros
objetos feitos de arames, alumínio e cobre seu trabalho sempre atrai muitos curiosos, que
acabam levando alguma de suas peças.

FIGURA 5: Latino expondo seus artesanatos no calçadão

Autoria: arquivo pessoal

Seu trabalho é interessante, fazendo com que todos os passantes que estão pelo calçadão
parem para olhar e grande parte acaba comprando uma de suas obras, que variam entre R$10, a
mais “barata” e R$2.500 (preço cobrado pela moto menor), a maior ele informa que não está à
venda, porém uma delas já foi vendida para um casal de alemães que o ofereceram R$4.000 pela
peça. O trabalho deste latino na praia é bastante lucrativo, basta parar por instante e ver a
quantidade de pessoas que apreciam e compram suas obras. Outros vendem cordões, pulseira,
carteiras e bolsas de couro, e também pinturas, técnicas que desenvolveram em seus países de
origem.
37

FIGURA 6: Cordão e pulseira feitos por um dos rapazes do grupo de latinos

Autoria: arquivo pessoal

FIGURA 7: Quiosque em obra ocupado por latinos

Autoria: arquivo pessoal

Outro fato que se pode perceber em relação aos latinos é que os materiais vendidos por
eles não são recolhidos pela guarda municipal, isto devido aos objetos vendidos serem
artesanais, não sendo consideradas piratarias, como de acordo com o artigo 27 da Lei municipal
Lei 1.876/19924. É comum ver camelôs correndo pelo calçadão e pela areia da praia para não
terem suas mercadorias apreendidas, isso não ocorre com os latinos, como foi informado pelos
mesmos.

A informação foi confirmada em uma conversa com guardas municipais e os mesmos


informaram que a repreensão e apreensão ocorrem apenas a materiais piratas e que artesanatos
não estão inseridos nesta categoria. Porém em época de grandes eventos, não se pode vender

4
Art. 27. É permitida a venda dos seguintes produtos e serviços: I - artigos de artesanato, de toucador, de
couro, de plástico, de armarinho, peças de vestuário, bijouteria, quinquilharia, “souvenir”, brinquedo,
sandália, tamanco e chinelo de fabricação caseira, artigos de praia, de beleza, cigarro e ficha de telefone;
38

nem mesmo os artesanatos, todos são recolhidos, sem exceções, ordem vinda da secretaria de
ordenamento urbano.

A partir da fala de Velho (1987) sobre as experiências significativas no espaço urbano,


penso que as experiências dos latinos parecem ter pontos em comum o suficiente para podermos
pensar em uma identidade de solidariedade entre eles. O grupo compartilhava tudo o que tinham;
alimentos no café da manhã, almoço. Eles se familiarizavam, talvez, seria esta a forma que
encontravam para suprir distância de seu ambiente familiar e os problemas que poderiam
enfrentar nas ruas, as características comuns entre os membros do grupo, favoreceu essa
aproximação entre eles.

Os objetos produzidos pelos latinos atuaram como mediadores com as pessoas, visitantes
e freqüentadores da praia, enfim, as pessoas com as quais se comunicam de maneira geral. O
contato com outras pessoas se dá a partir da comercialização de seus artesanatos. Isto é, quando
são expostos à venda no calçadão. No calçadão nascem vínculos de amizades e solidariedade
com outras pessoas que trabalham pela orla, alguns moradores e freqüentadores da praia.

FIGURA 8: Turistas comprando artesanatos

Autoria: arquivo pessoal


Turistas admiram as artes e acabam adquirindo alguma das peças, como pude observar.
Além da compra, laços de solidariedade podem emergir nesse momento. Os demais vendedores
que se encontram na orla, devido a sua condição social, conforme nota Velho (1987). Trata-se de
uma identidade em função do estilo de vida adotado por seus membros.
Alguns donos de comércios locais, como os quiosques que das mediações onde o grupo
dormia associavam a presença dos rapazes prejudicial a seus negócios, como, Sr. Guerra que há
39

uns meses havia assumido o quiosque do Shopping Rio Sul, ao qual sua empresa começou a
operar, espaço que também havia servido como moradia para o grupo de amigos, durante o
tempo que este ficou em fechado para obras. Quando assumiu o comércio em parceria com a
empresa a qual trabalhava, uma das primeiras coisas que Sr Guerra falou foi sobre a presença
dos estrangeiros (os que dormiam nas mediações) e de mendigos perto de seu quiosque, no
meado de maio de 2015, por volta de onze da manhã, já com maior afinidade com o novo
operador da loja, conversamos sobre a rotina do quiosque, e um dos pontos que me destacou foi
que, havia pedido aos funcionários para sempre pedir, de forma amigável, aos que os latinos não
armassem seus tapetes para expor seus artesanatos tão próximos a seu estabelecimento, pois
atrapalhavam as vendas dele. Afirmando o que alguns funcionários haviam me dito, poucos dias
antes daquela conversa, alguns colaboradores da empresa, não falavam para os latinos o que o
patrão havia pedido, por que não achavam certo o fazê-lo, diziam: a rua é pública.
Os camelôs, como Vitória, que trabalhava na orla com a finalidade de completar sua
renda mensal, e sempre que chegava no calçadão pelas dez da manhã para vender suas cangas
parava no quiosque e conversávamos, em um de nossos bate papos, por volta de junho de 2015,
debatíamos sobre a presença dos estrangeiros vendendo artesanatos em Copacabana, Vitória, que
apesar de ser amiga de Alez, não era de acordo com a presença do grupo na praia, reclamava
com grande frequência da presença deles no bairro. Ela não concordava em ter estrangeiros
dividindo o mesmo espaço e trabalharem no local. Relatava que eles deveriam vir como turistas
e gerar lucro para a cidade, não para retirar o espaço da classe de moradores mais pobres de
Copacabana e municípios vizinhos que dependiam das vendas no calçadão para sobreviver. Ela
também me narrou que estava se tornando crescente o número de latinos em toda a região.
Raimundo morador da Lapa, região central do Rio de Janeiro trabalhava há cinco anos vendendo
souvenir para turistas em Copacabana, reclama do quantitativo de latinos vendendo artesanatos
no calçadão, questionava a ação da guarda municipal com eles e não com os estrangeiros de
países vizinhos, apesar de ter conhecimento sobre sua mercadoria, que se encaixava no perfil de
pirataria e os artesanatos dos latinos não.
Para Gustavo, trinta anos, morador nascido e criado no bairro, frequentador do nosso
quiosque, sempre aparecia pela tarde por volta das cinco e meia da tarde para comer cachorro
quente no Geneal, tinha uma boa relação com os latinos, conversava e os tratava muito bem,
certa vez falando sobre perguntei sua opinião a cerca do grupo de latinos, me respondeu que eles
40

não geravam renda para o município quanto ao turismo, e por estarem morando nas ruas do
bairro, os mesmo acabavam se somando a população de rua presente em Copacabana, que para o
local era muito ruim, sendo associado a um ambiente perigoso para frequentadores e visitantes,
porém tinha discernimento em relação ao grupo, que eram estrangeiros de países vizinhos, que
trabalhavam com artesanatos e eram pessoas do bem, mas nem todos pensavam da mesma forma
afirmou o jovem.
Daniel que trabalhava no local há dois anos, dizia compreender a crescente vinda de
estrangeiros para o Brasil, isto devido a todos os eventos que ocorreriam em Copacabana, que
era normal alguns virem acampar na praia para economizar ou tentar ganhar uma renda extra
durante esse período.
Os funcionários que trabalhavam na equipe a qual fazia parte tinham opiniões com base
focada no turismo em relação à minha pesquisa conversávamos diariamente sobre o assunto,
Maísa era formada em gestão em turismo pelo Cefet/RJ, Yuri estudante do curso de bacharel em
turismo pela Unirio-Rj. Em seus discursos sempre enfatizaram as mais variadas ideias, pensando
como colaboradores da empresa a qual atuavam. Percebiam a presença do grupo de latinos como
algo negativo na captação e aproximação de turistas para usufruir do serviço gratuito de ônibus.
Mas observando o objeto estudado com um olhar de profissional turismólogo, reconheciam
falhas em sua execução e impactos que a mesma estava causando a localidade, associando as
negatividades do turismo à má organização e planejamento por parte dos governantes do Estado
e da prefeitura do Rio de Janeiro e que a atual situação econômica mundial indicava que fatores
relacionados à imigração ocorreriam, devido aos grandes eventos que estavam para ocorrer no
Brasil em entre 2014 e 2016, e que era necessário uma estratégia para diminuir os danos que
estes eventos poderiam causar na cidade. No caso, se referiam ao aumento da população de
pessoas que viriam em busca de empregos gerados a partir dos grandes eventos que ocorreriam
no estado do Rio de Janeiro, porém este contingente permaneceria na cidade após o fim desses
eventos. Esses debates acerca da presença do grupo no estabelecimento que trabalhávamos eram
diários, ocorria devido a visões diferenciadas de cada um de nós em relação ao mesmo, e
também considerava o fato de todos serem relacionados com a área do turismo, possibilitando
uma conversa mais rica sobre a temática.
Durante o tempo que estagiei em Copacabana, sempre ouvi comentários depreciativos
contra a presença dos latinos no bairro. Eles são alvo de acusações variadas e que se associam a
41

preconceitos mais gerais e arraigados contra a população pobre que freqüenta esse e outros
lugares da zona sul. Assim, para alguns moradores, comerciantes e autoridades, que não
distinguem os estrangeiros de outros moradores de rua, todos se encaixam em um mesmo perfil
estereotipado socialmente. São considerados vagabundos, ladrões, sujos e uma ameaça difusa
causando desordem pelas ruas do bairro, e conseqüentemente ao turismo.
Os latinos do grupo se sentiam bastante ofendidos. Às vezes se afastavam de alguns
lugares na praia por causa por comentários negativos em relação á presença deles. Conversando
com um dos rapazes no deck do quiosque por volta de umas onze da manhã, logo nas primeiras
semanas o mesmo havia entrado em obras (meado do mês de setembro), e perguntei sobre como
era o tratamento das pessoas da localidade em relação a eles, o colombiano do grupo me disse
que era totalmente o oposto das coisas boas que a mídia divulgava ou escutava de amigos em
relação aos moradores da Cidade Maravilhosa, mas reconhecia que a forma que decidiram visitar
o Rio de Janeiro, não agradava a todos os habitantes, e que talvez incomodavam aos moradores,
pois eles se mostravam para nós, como cidadãos livres, dizendo que essas pessoas eram escravas
do sistema, já eles não, por isso a hostilidade por parte de alguns.
Essas declarações deixavam mais visíveis à hostilidade que sofriam de algumas pessoas
da localidade. Contudo, eles eram bastante unidos, ajudavam uns aos outros dividindo seus
alimentos, na preparação de suas artes e o fato de estarem em grupo faziam com que se
sentissem protegidos dos perigos que às ruas de Copacabana podiam oferecer a todos eles.
Mas essa esse preconceito e hostilidade sofridos pelo grupo de latinos, já ocorriam com
moradores de outras regiões não privilegiadas da cidade do Rio de Janeiro:
A partir das ideias de Velho pode-se compreender essa dicotomia, cara aos habitantes do
Rio de Janeiro, entre Zona Sul, onde vive uma parte da classe média e da burguesia geral,
onde o clima é suave em razão da presença das montanhas e da brisa marinha e onde
estão concentradas as principais atrações turísticas e recursos de lazer, e Zona Norte, nos
vales por onde passam os trens que descarregam cotidianamente no centro da cidade
milhares de trabalhadores que compõem a massa popular carioca, onde vive essa massa
composta de imigrantes vindos de outras regiões do país, onde o lazer gira em torno das
escolas de samba e do funk. (Contijo, 2002, pag.50-51).

A partir da ideia explicitada por Contijo, percebe-se que o parcela cidadão carioca que
vive em áreas privilegiadas possui também preconceitos com pessoas de regiões menos
favorecidas como a Zona Norte e Baixada Fluminense por exemplo. Isso não seria restrito
apenas aos latinos da praia.
42

Ao longo de meu trabalho de campo pude refletir um pouco mais profundamente sobre
conceitos tidos como “socialmente corretos”. Assim acabamos julgando de forma negativa algo
ou alguém, por simples falta de conhecimento.
A cidade faz isso se tornar mais evidente, nos fazendo ter um pensamento ambíguo e nos
força a se adaptar, todo desconhecido representa um perigo ou comparado a um padrão
estereotipado construído, Copacabana foi inventado associado à tendência da moradia a beira
mar e a praia como forma de lazer a seus moradores (parcela de ricos da região central do Rio de
Janeiro do fim da década de 1890)
A desigualdade social, a busca por melhores oportunidades, qualidade de vida, faz com
que algumas pessoas se desloquem para outros lugares buscando o melhor para si, um
diferencial em suas vidas, como no caso destes estrangeiros, porém nem sempre é fácil
recomeçar a vida em outro país, os que se aventuram nesse mundo novo, são discriminados,
julgados de forma equivocada, um verdadeiro caso de xenofobia5, e sofrem como qualquer uma
pessoa tentando se fixar em uma nova nação.
O contato com grupo chamou a atenção para conhecer um pouco de pessoas simples que
sonham e tentam ser feliz no lugar que escolherem, o julgamento negativo das pessoas da
localidade tornam o ambiente bastante hostil para os rapazes do grupo, pelos camelôs eles eram
vistos como possíveis concorrentes nas vendas, para alguns moradores e comerciantes eles eram
mendigos, ladrões, drogados e prejudiciais a seus negócios, ao turismo local, ao bairro de
Copacabana.
Os latinos do grupo eram apáticos a algumas pessoas devido a esse conceito, como
mencionado neste trabalho anteriormente. A tentativa de aproximação de um estranho gerava um
desconforto a eles, o sentimento de pertencimento pela localidade fazia com que as pessoas em
Copacabana fossem hostis e egoístas com o outro que se encontrava em uma condição precária.
Os rapazes do grupo sempre diziam ouvir de muitas pessoas: “Por que vocês não voltam para
seu país?”.
5
A xenofobia é uma forma de discriminação social que consiste na aversão a diferentes culturas e
nacionalidades. Pode estar relacionada a outros tipos de preconceitos como o racismo e a discriminação
de classe social. Dessa maneira, imigrantes e indivíduos com diferentes hábitos culturais são, muitas
vezes, desrespeitados devido a suas características físicas, sotaques e condições sócio-econômicas.
É comum a vítima sentir-se pressionada a abandonar o lugar por causa de atitudes hostis dos
discriminadores. Todavia, a proteção de todos independente de procedência nacional é um direito de
todo ser humano, expresso inclusive na legislação brasileira que determina punição a qualquer indivíduo
que praticar atos discriminatórios nos níveis culturais e regionais.
43

O grupo já não se importava tanto, pois estavam se preparando para alugar um lugar onde
pudessem morar, mas ficavam, digamos que, tristes com o pensamento construído em relação à
presença deles. Um dos colombianos dizia que daquela forma se sentiam livres; não tinham uma
obrigatoriedade como as pessoas comuns; estas eles consideravam “escravas do sistema” e a
maneira como estavam no Rio de Janeiro incomodavam aos moradores e outras atores locais.
Outros latinos vinham ao Rio de Janeiro apenas em temporadas de férias para
trabalharem vendendo artesanatos e depois retornavam a seus países de origem, como a
Argentina Caren e seus amigos encontrados por mim vendendo artesanatos no calçadão.
Diferente do grupo estudado neste trabalho, que chegaram ao bairro de Copacabana,
atraídos pela Copa do mundo de 2014, começou a vender artesanatos pelo calçadão da praia, e
perceberam nesta atividade a possibilidade de ganhar dinheiro, e se caso conseguissem se manter
com a renda ganha permaneceriam na localidade, e assim permaneceram, até alugarem uma
lugar para ficarem em um favela (Morro da Babilônia).
44

4 - CONSIDERAÇÕES PROVISÓRIAS

O intuito principal ao desenvolver este trabalho foi o de explorar um tema relativamente


não muito percebido ou ignorado pelo mercado do turismo e governantes locais, e que vem
tomando proporções grandes no que tange aos conceitos já formulados nos campos sociais e em
estudos comportamentais de cidadãos nas grandes metrópoles. O objetivo central de minha
pesquisa consistiu em compreender o intricado e complexo conjunto de relações tecidas entre
estrangeiros oriundos de países vizinhos que decidiram permanecer no bairro de Copacabana
após a Copa do Mundo de 2014, realizada os meses de julho e agosto do mesmo ano.
Através de um estudo qualitativo e orientado por um olhar antropológico procurei
investigar as razões apresentadas pelos estrangeiros latinos para sua permanência em
Copacabana assim como as reações de moradores e autoridades encarregadas de manter a ordem
moral da região. Questionamentos foram levantados para que pudéssemos iniciar a pesquisa, tais
como se poderíamos conceituar e definir a interação destes latinos com a localidade e todos os
cidadãos inseridos no bairro, pensando Copacabana em um contexto metropolitano de cidade, no
caso o Rio de Janeiro. Uma maneira de se pensar a relação do grupo com a localidade e
importantes atores sociais de Copacabana. Para que fosse possível refletir sobre a temática
utilizamos uma metodologia que procurou concentrar-se em pesquisa bibliográfica, reportagens,
entrevistas abertas qualitativas e observação participante.
A escolha do bairro de Copacabana por parte dos estrangeiros para fixar residência não é
ao acaso. Trata-se de um lugar que desde pelo menos os anos 1920 aciona o imaginário nacional
e, um pouco mais tarde, internacional. Mundialmente conhecido, o bairro de Copacabana reúne
grande variedade de equipamentos de alojamento, de restauração e de atrativos turísticos,
notadamente sua praia. Copacabana, nas palavras de O’Donnel foi inventada.
Inserido em um contexto metropolitano de cidade como o Rio de Janeiro, Copacabana se
torna potencialmente turística e formada pelas mais variadas categorias de classes sociais,
tornando mais notório essa diversidade com a presença de turistas, moradores de ruas,
trabalhadores, camelôs e estrangeiros vendedores de artesanatos. Uma região “inventada” como
descrita ao longo deste estudo tornou-se significativa turisticamente, e importante ponto turístico
brasileiro, do fenômeno das sociedades pós – industriais, ideia descrita por Siqueira (2007).
45

O grupo de latinos que foram o alvo de estudo para desenvolvimento com um cunho
antropológico, observação participante e com entrevistas qualitativas, se inseriram em um bairro
considerado um dos cartões postais mais importantes do Brasil; um lugar que evidencia uma
grande diversidade de classes sociais, em relações as localidades vizinhas. Assim, busca-se
compreender a relação desses latinos americanos com os espaços da praia de Copacabana e
importantes atores sociais do bairro, moradores, autoridades, trabalhadores e visitantes.
Este trabalho permitiu que pudéssemos apontar que há características que são definidas
pelas pessoas em relação às outras em uma metrópole. E que quase todos os moradores inseridos
em uma grande cidade, tendem a serem individualistas em alguns casos, e alguns
comportamentos podem ser não aceitos de acordo com padrões socialmente definidos, sendo
conflituoso o relacionamento entre os atores inseridos no local e os que se "autoinseriram", relata
Velho (1978). Já os latinos de fato, e em sua maioria, chegaram ao Rio de Janeiro, com a
finalidade de vender artesanatos durante o mundial, viram a oportunidade de permanecerem na
cidade com a renda ganha com as artes vendidas na localidade, e utilizar a praia como moradia
foi a maneira encontrada para economizar dinheiro, que futuramente viria a ser investido em
aluguel de uma casa para morarem, esta preferencialmente em alguma favela de Copacabana,
por ser mais econômica, e também para estarem perto do maior fluxo de turistas, onde poderiam
vender suas peças de arte. Há casos de latinos que vem apenas em épocas de alta temporada para
trabalharem com a venda de artes, e retornando para seu país de origem após esse período.
Em suma, concluímos que a chegada de grupos de latinos a cidade foi crescente, devido
ao acontecimento de grandes eventos vivenciados pelo Rio de Janeiro nos últimos três anos,
como o mundial de futebol no ano de 2014 e os jogos olímpicos de 2016.
A partir dos conceitos apresentados e das informações obtidas durante a pesquisa e aqui
expostas no trabalho, podemos refletir sobre alguns aspectos: é preciso repensar um
planejamento da atividade turística no Rio de janeiro? A presença destes estrangeiros utilizando
a praia como moradia, mesmo que temporária, poderia ser associada a um impacto negativo do
turismo e da realização de grandes eventos no país? Os atores responsáveis pelo município
trabalham com a finalidade de minimizar ou não tornar este, mais um possível problema futuro
da cidade? O turismo traz implícito um preconceito em relação ao que pode considerado turista
ou não? O carioca é hospitaleiro?
46

Questões como essas são importantes para que futuramente possamos definir (ou não) os
impactos da presença de latinos usando de forma nada consensual a praia como moradia,
analisando a relação com importantes atores de Copacabana, bem como conceituar e classificar
estes estrangeiros e suas motivações.
47

5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Rio de Janeiro no início do século XX. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo
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48

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DAMATTA, Roberto. O ofício de etnólogo ou como ter anthropological blues. In: A aventura
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